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KÊNIA COIMBRA COSTA MEIRA

A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL COLÔNIA: DA


EDUCAÇÃO À CATEQUIZAÇÃO E EXPLORAÇÃO

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS (UNIPAM)

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS (FAFIPA)

CURSO DE HISTÓRIA

PATOS DE MINAS, NOVEMBRO DE 2003


KÊNIA COIMBRA COSTA MEIRA

A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL COLÔNIA: DA


EDUCAÇÃO À CATEQUIZAÇÃO E EXPLORAÇÃO

Monografia apresentada como exigência


parcial para obtenção do título de Graduação
em História, sob a orientação da Prof. Esp.
Sisele Maria Caixeta

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS (UNIPAM)

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS (FAFIPA)

CURSO DE HISTÓRIA

PATOS DE MINAS, NOVEMBRO DE 2003


Monografia defendida em _____ de _________________ de 2003 pela banca
examinadora.

________________________________________________________
Profa. Esp. Sisele Maria Caixeta
Orientadora

________________________________________________________
Profa. Mestranda Eunice Aparecida Caixeta
Examinadora

________________________________________________________
Profo. Esp. Marcos Antônio Caixeta Rassi
Examinador
Dedico esse trabalho as pessoas que
jamais poderei esquecer em minha vida, as quais
me ensinaram a amar e respeitar o próximo e
acima de tudo a mim mesma.
Aos melhores pais do mundo Antônio
Coimbra de Freitas e Conceição Aparecida da
Costa Freitas, pela dedicação, apoio e as
constantes orações a meu favor.
Ao esposo Altair José Meira, por
compreender minha ausência.
Para a razão da minha vida Denner
Coimbra Meira, um filho exemplar e amoroso...
Agradeço primeiramente a Deus pelo
Dom da vida e a oportunidade que me concedeu,
em concluir um curso superior.
Não poderia deixar de compartilhar esta
realização com todos os colegas, com os quais
aprendi muito durante esses quatro anos, em
especial as minhas colegas Edi Cândida
Rodrigues e Terezinha dos Reis Pereira.
Agradeço também a minha orientadora Sisele
Maria Caixeta pelo apoio e a disponibilidade em
me amparar no desenvolvimento do trabalho.
“ O dia que o capitão-mor Pedro Álvares
Cabral levantou a Cruz (...) era a 3 de maio,
quando se celebra a invenção da Santa Cruz em
que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e
por esta causa pôs nome a terra que havia
descoberta de Santa Cruz e por este nome foi
conhecida muitas anos. Porém, como o demônio
com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que
tinha sobre os homens, receando perder também
o muito que tinha em os desta terra, trabalhou
que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse
o de Brasil, por causa de um pau assim chamado
de cor abrasada e vermelha com que tingem
panos, que o daquele divino pau, que deu tinta e
virtude a todos sacramentos da Igreja...”
Frei Vicente do Salvador,
História do Brasil (1627)
SUMARIO

Resumo ...............................................................................................................09

Introdução ......................................................................................................... 11
Capítulo I ...........................................................................................................13
1.1- Uma análise cultural e a supremacia da Igreja Católica no período colonial ....... 14
1.2- O sentido da educação colonial .................................................................18

1.3- Os colonizados ........................................................................................19

1.4- A Reforma religiosa .................................................................................20

Capítulo II ......................................................................................................... 22
2.1- A colonização e o ensino jesuítico ..............................................................23

2.2- Os jesuítas ..............................................................................................24

2.3- Os ciclos que marcaram o período colonial ..................................................27

2.4- As ordens religiosas .................................................................................28

2.5- A catequese ........................................................................................... 29

2.6- Homens que se destacaram nas missões Jesuítas. ......................................... 30

Capítulo III ........................................................................................................ 32


3.1- A religião quanto cultura ......................................................................... 33

3.2- As festas religiosas ..................................................................................34

Considerações finais ......................................................................................... 39

Bibliografia ........................................................................................................41

Outras Fontes .................................................................................................... 44

Anexos................................................................................................................. 45
Este trabalho ressalta a efervescência religiosa ocorrida no século XVI. A chegada de
estrangeiros no litoral brasileiro, que cada vez mais foi se adentrando no interior da colônia. A
propagação religiosa, e a introdução de valores culturais metropolitanos sobre a colônia.
Sobretudo a conduta da Igreja sobre os seus fiéis, as táticas coercivas usadas pela Igreja na
conversão dos colonos.
INTRODUÇÃO

Tendo em vista a participação da Igreja Católica no processo colonizador no Brasil,


que já nasceu cristão a propagação da fé nas novas terras seria uma oportunidade para a
expansão da doutrina. A Igreja desde o início de sua vida histórica teve tendência missionária,
e no século XVI essa vocação tomou novo impulso, que se reafirmava como uma Igreja: Una,
Santa, Católica e Apostólica. Era uma Igreja que naquele momento aceitava adeptos, de
qualquer raça ou cultura, tendo como finalidade uma maior propagação do catolicismo, de
maneira rápida e implacável.

A metrópole sentia-se responsável pela colônia, pela vida espiritual dos colonos.
Surgem assim as Missões, a conversão, o batismo, a cristianização dos povos habitantes das
novas terras.

As missões buscavam criar uma certa unidade cultural e principalmente religiosa,


para facilitar a dominação e a subordinação a que seriam submetidos os colonos.

Como produto de uma sociedade cristã vigilante, o homem do século XVI tinha no
subconsciente, imagens formadas sobre o conceito de dois mundos: um visível e outro
invisível.

O mundo invisível comandado por Deus, uma força superior dotado de espíritos
capazes de governar e criar. Do outro lado, o mundo visível regido e governado pelos próprios
homens, ligados aos vícios que se opõe às virtudes do mundo invisível.

Trabalharemos essa consciência dualística do plano natural e sobrenatural do


homem, que nessas condições, sobretudo a preocupação com a vida eterna, emigra na
bagagem mental dos colonos, convertendo-os ao cristianismo.

A religiosidade tem forte presença na vida social e cultural do povo brasileiro.


Basta observar as festas religiosas, que levam multidões de fiéis a seguirem procissões e a
cultuarem seu Deus.

A religiosidade brasileira é um conjunto de crenças, rituais, que foram o resultado


da mistura de várias tradições religiosas: católica, judaica, africana e indígena.
Foi com a colonização que veio também a tentativa de criar a “unidade religiosa”,
ou seja, que todos os habitantes da nova colônia fizesses parte de uma mesma religião, “A
Igreja Católica”.

A atuação da Igreja Católica no processo colonizador enfatiza o trabalho


catequético e missionário da Companhia de Jesus, que procurava levar a fé católica aos
indígenas, especialmente, através da educação dos pequenos índios, que depois transmitiam
para os pais o que haviam aprendido. Por isso, essas “organizações escolares” eram instaladas
em diversos pontos da colônia.
CAPITULO I

1.1- UMA ANÁLISE CULTURAL E A SUPREMACIA DA IGREJA


CATÓLICA NO PERÍODO COLONIAL

Os séculos XV e XVI, foram momentos importantes na história do mundo ocidental.


Segundo a historiografia, o fim da Idade Média e o nascimento da modernidade.
Esse é um período que viria para romper com paradigmas e proporcionar mudanças
nas ciências e na educação. Os séculos finais da Idade Média marcaram, a um só tempo, um
reflorescimento das atividades urbanas e uma retomada das atividades comerciais, do ponto
de vista cultural, político, econômico e religioso, um questionamento da primazia da Igreja
Católica e das suas práticas religiosas, que assumiam um inegável e insubstituível caráter
educativo.
No início do século XVI a Europa viu-se marcada por grandes mudanças econômicas e
culturais. Era o momento das grandes navegações, da expansão marítima, da qual Portugal se
destacou. O momento da descoberta da América. Era um momento em que a cultura medieval
se caracterizava principalmente pela centralização do aspecto religioso na vida das pessoas e
pela grande importância da Igreja Católica em todos domínios da vida cultural, política e
econômica.
Do ponto de vista cultural, a Igreja havia reduzido todos os horizontes humanos
canalizando-os ao horizonte da fé. Uma fé que era um conjunto de regras dogmas, preceitos
religiosos, os quais eram muito pouco entendidos pela maioria da população e pouco
praticados, inclusive pelos religiosos. A Igreja afirmava sua superioridade, sobre todas as
outras dimensões humanas, e acabava podando o florescimento de outras formas de relação
entre os homens ou do próprio homem com a natureza.
Do ponto de vista político, o poderio da Igreja católica foi constituído ao longo da
Idade Média, quando se dá a desintegração do Império Romano. A unidade política foi sendo
substituída pela unidade religiosa. Todas essas mudanças que estamos assinalando
corresponde também à luta pelo poder, entre o Estado e a Igreja, os quais vinham
conquistando seus espaços.
Do ponto de vista econômico, a Igreja conquistou seus bens ao longo dos anos, com
regras que ela havia imposto à sociedade. Práticas que dariam certo no meio rural, mas que
aplicadas ao comércio e ao mundo urbano acabavam por impedir o funcionamento da
economia e o desenvolvimento comercial. Um exemplo dessas “regras” é a condenação da
usura (do lucro), elemento-chave na economia capitalista, que estava sendo gestada naquele
momento. Daí a ira e a indignação da burguesia.
Durante o século XVI, o questionamento à autoridade da Igreja Católica colocou-se no
próprio campo religioso. Havia críticas ao catolicismo, acusações à Igreja Católica por ter
abandonado sua missão evangélica para dedicar-se à busca do poder-político e econômico,
sobretudo – e que, com isso, ela acabara por transformar suas práticas, em práticas de
comércio da fé.
O Monge, Martinho Lutero, a partir desses questionamentos, dá início às chamadas
Reformas Religiosas, o momento em que surgiram várias outras religiões cristãs. Cada uma a
seu modo passou a propor a livre interpretação da palavra de Deus pelos fiéis, a tradução da
Bíblia na língua das respectivas comunidades e uma ampla reforma dos costumes e das
práticas cristãs.
Diante de todas as mudanças, a Igreja Católica não ficará parada. Ela reage com a
chamada contra-Reforma que será imediata e, como o próprio nome diz, buscará restaurar o
poderio e a centralidade da Igreja Católica na cena cultural, política, econômica e religiosa,
tendo em vista que os países colonizados pelos países europeus continuassem sob a influência
católica.
Foi à partir do século XVI, que se expandirá por toda a Europa e pelas Américas
recém-ocupadas o ideário da escolarização, ou seja, a idéia de que a escola era uma
ferramenta das mais importantes na boa educação das novas gerações.
É através da educação , que ocorre o envio missionário à América. Num primeiro
momento voltado à questão política imperial. Só mais tarde, os portugueses se preocuparam
com o contato com os índios que aqui viviam. Surge então a tentativa de criar uma unidade
cultural, principalmente religiosa.

“Os portugueses julgavam os nativos homens de boa


índole e capazes de receber a fé cristã. Pero Vaz de
Caminha, escrivão e companheiro de Cabral solicitou
logo a el – rei de Portugal que enviasse missionários para
converte-los: Não deixe de vir clerigo para os batizar”1

A carta de Caminha inscreve se, partindo da expressão cultural portuguesa que se


afirma entre o fim século XV e início do século XVI com as viagens e as descobertas
marítimas: a cultura dos descobrimentos, inserida num todo sócio-cultural que é o
Renascimento português. A expansão oceânica dos séculos XV e XVI se caracterizou por um
metódico empreendimento, tornado possível pela aplicação da ciência das artes de navegação.
Reforçavam, desta maneira, a feição sistemática e científica dos descobrimentos que afinal,
nada de fundamental ficava a dever a ciência alemã da época.
E portanto, se os degredados, que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os
entenderem, não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer
cristãos e crer em nossa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque, certo, esta gente
é boa e de boa simplicidade. E imprimir-se-á ligeiramente neles qualquer cunho, que lhes
quiserem dar. E pois Nosso Senhor, que lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons
homens, por aqui nos trouxe, creio que não foi sem causa.
Portanto Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da
sua salvação. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim. (...)”
Pelo trecho da carta podemos perceber, uma análise precipitada por parte de Pero Vaz
de Caminha em dizer que os povos que aqui habitavam não tinham crença nenhuma. Por isso
seria fácil a disciplinarização, e a assimilação religiosa por parte dos índios.
Por outro lado, a realidade tratada no filme A missão, onde mostra que a Igreja e o
Estado não se davam muito bem. Havia um contraste entre as leis da Igreja e as leis da Coroa
portuguesa, que procurava supervisionar as missões nas colônias da América (São Miguel,
São Carlos). O filme nos mostra a força da Igreja quanto a conversão dos “pecadores”, que se
redimem diante os seus pecados (exemplificado pelo personagem de Rodrigo, que era um
pervertido, matou o irmão e se converteu em um jesuíta).
O filme também nos mostra uma outra leitura, que diferencia da de Pero Vaz de
Caminha. A resistência por parte dos índios, que mataram o padre e o jogaram dentro do rio

1
DEL PRIORE, Mary. Religiao e Religiosidade no Brasil Colonial. São Paulo: Ática. 1994. p. 7
amarrado numa cruz. É uma forma de negar a imposição cultural européia, principalmente
religiosa, mas que aos poucos foi sendo aceita.
O objetivo dos portugueses ia além de uma aculturação. Eles caçavam os índios para
utilizá-los como mão-de-obra escrava para a exploração. Foi numa de suas supervisões, que o
Estado percebeu que suas expectativas não estavam sendo concretizadas, então resolveram
massacrar os indígenas. Numa luta desigual em número de combatentes e armas utilizadas. A
carnificina teve o propósito de legitimar o poder do Estado.

1. 2- O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL

Falar do nascimento das primeiras escolas no Brasil é tocar na memória histórica dos
jesuítas do século XVI, pois era onde quer que erigissem uma Igreja haveria de abrir-se uma
escola. E a primeira escola do Brasil foi em Salvador (BA).

“O mestre dessa primeira escola foi Vicente Rijo ou


Rodrigues.., historicamente o primeiro mestre escola do
Brasil”...2

O leitor pode estar se perguntando o que tem haver o nascimento das escolas com os
interesses portugueses na colônia?
É que o plano português era de levantar sobre os alicerces do ensino toda a obra de
catequese e de colonização, e se empenhara com todas as forças em realizá-lo, determinando,
desde 1550, que se construíssem casas para recolherem e ensinarem os moços dos gentios e
também dos cristãos.
Nesse sentido, a “descoberta” indígena, e sua produção como o momento considerado
o mais apropriado para que a ação educativa jesuítica inculcasse nos índios os considerados

2
AZEVEDO, Fernando de. A transmissão da cultura. 5a ed. São Paulo, Melhoramentos, 1976. p. 11.
verdadeiros valores da civilização cristã, aqueles da Igreja Católica e do reino português, foi
um dos pontos mais importante e marcante, no contato entre as duas civilizações.
Nesse contato nota-se nitidamente um ponto negativo: onde os índios são vistos como
despossuídos de cultura e de civilidade. Aos indígenas não restava outra opção senão, a de se
submeter às novas regras sociais e culturais trazidas pelos colonizadores.

1.3- OS COLONIZADOS

“A cultura indígena, não somente quanto a língua, mas na


espontaneidade e variedade de suas formas se foi
lentamente substituindo, no raio de influência dos
missionários, por um outro tipo de cultura, de acordo com
os ideais dos jesuítas e sua concepção de vida e do mundo
idêntica para todos os povos”3

A tentativa de extermínio da cultura indígena não foi aceita pacificamente. As massas


indígenas lutaram contra os massacres, físicos e culturais.
Apesar da resistência, não foi possível desviar a “invasão” cultural dos portugueses.
Mas não se pode negar as contribuições culturais deixadas pelo índio.

“Neste embate cultural, as populações indígenas


significavam um obstáculo físico e ideológico, porque a
cada momento lembravam aos europeus o quanto estes
eram infelizes e imperfeitos, e por isso mesmo foram
aniquilados. O genocídio aqui cometido, tal qual o
holocausto que acometeu aos Judeus, ceifou também
milhões de vidas e com isso, projetos humanos
depositários de milhares de anos de saber acumulado”.4

Dentro deste contexto a saída portuguesa foi a unificação da língua. De certa forma é
um fenômeno de homogeneização das diversidades da cultura indígena e foi um processo

3
IDEM p. 17
4
TAHUT. Museu do Índio. Universidade Federal de Uberlândia MG – Ano 3 v. 4 – 2000 p. 21-27.
extremamente facilitador da conversão seja porque, digamos, escamoteava as diferenças e
unificava os índios na ordem comum de grupos convertidos, seja porque tentava conquistar a
língua tupi. A tentativa da conquista aos tupis fez com que eles se mostrassem mais amigáveis
e dispostos à evangelização.
Isso ocorreu no momento de adaptação dos catequizadores, principalmente quando
José de Anchieta consegue penetrar no âmago da estruturação da linguagem indígena e
transfigurá-la na linguagem cristã.

1.4- A REFORMA RELIGIOSA

Durante a Idade Média havia uma grande unidade da fé, que era centralizada no poder
papal. Mas essa unidade esteve ameaçada muitas vezes por atitudes tomadas pela própria
Igreja. Por exemplo: a separação entre as Igrejas Ortodoxas e Romana, a eleição de dois
papas um na França e outra em Roma, a criação da Inquisição como instrumento de combate
aos desvios da fé.

“É claro que as causas desses movimentos não são


apenas de natureza religiosa. Ventos novos de rebeldia
surgem nas cidades que começam se libertar dos senhores
feudais e de restrições como por exemplo, a condenação
da Igreja ao empréstimo a juros.” 5

O caráter universalista da Igreja contrapõe-se ao ideal do nacionalismo expresso na


formação das monarquias nacionais e no fortalecimento do poder dos reis. Daí a rejeição da
teoria da supremacia do poder papal, principalmente pelos representantes do Estado
Português, ou aqueles que tinham capital.

“A crise maior da Igreja se dá, no entanto, no século XVI


com a reforma protestante que vinha ao encontro dos
5
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 1 a ed. São Paulo. Moderna, 1989 pg 107
desejos de mudança: Lutero recebe a adesão dos nobres,
interessados no confisco dos bens da Igreja, e Calvino
tem apoio da rica burguesia.
As divergências – que não eram apenas religiosas, mas
expressavam a existência de alterações sociais e
econômicas – mergulham a Europa em sanguinolentas
lutas”.6

A reformulação da Igreja visava os dois lados da religião, o teórico e teológico, e o


outro prático e moral. As mudanças começaram pela prática, corrigindo os abusos existentes
dentro da Igreja, que já sentia a necessidade de mudança, antes mesmo de começar o
movimento da reforma.
A reforma Protestante e a Reforma Católica integraram um conjunto de
acontecimentos que marcaram a transição do feudalismo para uma sociedade aos moldes
burgueses na Europa Ocidental. A Reforma Protestante foi uma crítica aos dogmas e práticas
do catolicismo, que abalaram a autoridade da hierarquia eclesiástica. O termo protestantismo
não designa uma Igreja ou seita específica, mas o movimento de reforma religiosa iniciado na
Alemanha por Martinho Lutero, que deu origem a diversos grupamentos evangélicos.
Diante da expansão da crença protestante, a Igreja Católica desencadeia uma forte
reação conhecida como Contra-Reforma, visando a recuperação do espaço perdido.

“A Contra-Reforma foi a reação contra o movimento


separatista. A inquisição, o principal meio negativo ou
represivo deste movimento reacionário e a educação seu
principal meio positivo. Esta educação foi controlada, na
maior parte, pelas novas congregações de ensino, entre as
quais a principal foi a Companhia de Jesus”.7

A Contra-Reforma foi uma reflexão, um repensar do catolicismo, que estava abalado


pelas críticas e iniciativas dos reformadores protestantes. No Concílio de Trento (1545-1563),
o papa e os cardeais chegaram a conclusão de que a doutrina católica não precisaria ser

6
Idem, pg 107.
7
MONROE, Paul. Historia da Educação: Tradução de Idel Becker. 13 a ed. São Paulo. Editora Nacional, 1978 pg
173.
modificada, precisava apenas de reforço, Roma, então, reforçou seus dogmas, criando
mecanismos eficazes para combater os movimentos contra a fé cristã.

CAPÍTULO II

2.1- A COLONIZAÇÃO E O ENSINO JESUÍTICO

A colonização deve ser compreendido, como uma necessidade de expansão, tanto


comercial quanto religiosa. As colônias ofereciam maiores possibilidades de consumo, como
também eram fornecedoras de produtos tropicais e metais preciosos.
Dentro desse contexto, percebe-se que a educação não é a meta prioritária no processo
da colonização. No entanto, as metrópoles enviam religiosos para as colônias a fim de
desenvolveram um trabalho missionário e pedagógico, um trabalho que tem a finalidade de
converter o gentio e impedir que os colonos se desviem da fé católica.
No Brasil, são os jesuítas que conseguem obter resultados mais significativos pois
empenham na atividade pedagógica, para eles função primordial.

“Os jesuítas se tornaram famosos pelo empenho em


institucionalizar o colégio como local por excelência da
formação religiosa, intelectual e moral das crianças e
jovens. Proteção e vigilância são os traços mais
marcantes dos novos internatos: controle na admissão dos
alunos disciplina rigorosa que substitui a autoridade do
pai ausente e férias bem curtas a fim de evitar que o
contato com a família afrouxasse os hábitos morais
adquiridos”.8

A instalação dos jesuítas aqui no Brasil é compreensível e conveniente. Principalmente


quando analisamos o contexto histórico do surgimento da companhia de Jesus.

8
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 1 a ed. São Paulo. Moderna, 1989. p. 108.
“A questão não é simplesmente religiosa. Numa época de
absolutismo, a Igreja, submetida ao poder real é
instrumento importante para ajudar na garantia da
unidade política, através da uniformização da fé e da
consciência. Portanto, a atividade missionária facilitará
sobremaneira a dominação metropolitana. Nessas
circunstancia, a educação na colônia assume papel de
agente colonizador”.9

2.2- OS JESUÍTAS

A vinda dos padres jesuítas, em 1549, não só marca o início da história da educação no
Brasil, mas como inaugura uma fase longa da nossa história, certamente a mais importante: a
gestação da nossa cultura e civilização, trazendo reflexos dos interesses econômicos,
culturais, políticos e sociais dos portugueses.
Os jesuítas chegaram ao Brasil na expedição de Tomé de Souza, tendo como superior
o Pe. Manuel de Nóbrega. Desembarcaram no litoral baiano, ajudaram na fundação de
Salvador, e atendiam aos portugueses fora dali, percorrendo as capitanias próximas.
A Companhia de Jesus foi aprovada pelo Papa Paulo III em 27 de setembro 1540.
Porém, em 1549 desembarcaram no Brasil colônia os primeiros jesuítas.
A ênfase à ordem religiosa dos jesuítas é por ter tido maior desempenho e
representatividade na colônia. As outras ordens franciscanas, carmelitas e beneditinos, só se
fixaram no Brasil mais tarde e não tinham os mesmos propósitos dos jesuítas, ou seja, não
tinham a função educadora como papel primordial.

“A política de catequese adotada pela companhia de


Jesus era de conversão e evangelização, partindo do
pressuposto espiritual da verdade única da fé cristã, e a
etnocêntrico da superioridade da civilização européia,
não permitiria o surgimento de qualquer forma nova que

9
IDEM p. 109.
se pudesse esperar de um encontro de diferentes
culturas.”10

Embora a principal missão, pelo mandato real fosse a conversão dos índios, a
fundação de colégios foi inevitável.
Segundo Del Priore, uma das atividades mais importantes desenvolvidas pela Igreja
Católica no Brasil colônia, foi a educação escolar, na qual a Companhia de Jesus foi
protagonista. Para ela, os jesuítas ajudaram a fazer a passagem entre a escola da Idade Média
e o colégio dos tempos modernos.
Os jesuítas começaram a trabalhar fazendo distinção de idade e sexo entre os índios,
que até então era desconhecido, utilizando métodos compatíveis à idade. Estavam munidos
de normas e regras as quais os “alunos” deveriam se submeter. Aprendiam ler, escrever,
rezar, cantar, assistiam missa, enfim o movimento jesuítico foi forte e vigoroso.
Segundo Haornaert o crescimento da província jesuítica no Brasil foi rápida e cheia de
êxito, pois chegaram na Bahia (1549) com 6 jesuítas todos estrangeiros, e em 1574 já tinham
110 jesuítas e 14% deles brasileiros. Foi uma adesão rápida e forte por parte dos brasileiros
fazendo crescer cada vez mais a companhia de Jesus.

“Os jesuítas organizavam a missão através de uma


articulação entre colégios que ficavam na faixa litorânea
e as aldeias ou aldiamentos que ficavam no interior”11

Fica claro, a organização das missões, com pontos estratégicos, para estarem
conseguindo adeptos e seguidores. Diante ao fato dos jesuítas estarem levando a música, a
religião aos colonizados, qual o verdadeiro interesse dos portugueses em estarem
alfabetizando os índios?
Com certeza não foi proporcionar o acesso aos livros, a Bíblia, mas sim uma
homogeneização da cultura, pois as “letras” é prova de uma sociedade organizada civilizada.
E esse era o interesse de Portugal provar a sua superioridade e consolidar seu poder.

10
TINHORÃO, José Ramos. As festas no Brasil Colonial. São Paulo: Editora 34, 2000 p. 23.
11
HAONAERT, Eduardo. A Igreja no Brasil-colônia. (1550-1800) 2a ed. Sao Paulo: Brasiliense, 1984. p. 31.
1984 pag 31
A história da Igreja no Brasil é assinalada por quatro períodos que marcam momentos
diferenciados:
“ 1o) 1500 – 1871
2o) 1871 – 1930
3o) 1930 – 1964
4o) 1964 – 1980”12
Enfocaremos apenas o primeiro período por conter a essência de nossa discussão. É
um período expansionista do catolicismo luso-brasileiro, numa sociedade colonial e
escravista, que utiliza a força de trabalho alheia em benefício da metrópole.
A catequese foi elemento fundamental para a integração do índio ao comando colonial
português. É através das obras missionárias que se dá a penetração da empresa colonial, pois
representavam o Estado português, que com sua presença delimitava seu espaço e mostrava
seu poder. A catequese foi organizada em ciclos, para que pudesse chegar e se espalhar por
todo território brasileiro.
Segundo HAORNAERT no período colonial destacaram-se cinco ciclos.
1- Litorâneo
2- Sertanejo
3- Maranhense
4- Mineiro
5- Paulista
Serão destacados no decorrer do trabalho os ciclos que exerceram influencia na
expansão da fé católica.

2.3- CICLOS QUE MARCARAM O PERÍODO COLONIAL

12
CARDEAL ARNS, Paulo Evaristo. O que é Igreja. São Paulo: Brasiliense, 1981 p. 122
O ciclo litorâneo veio com a conquista e a ocupação do litoral brasileiro, pela costa do
pau-brasil, zona da mata propícia ao cultivo da cana-de-açúcar, pelo clima favorável. Assim
os portugueses com uma chance faziam “três gols”: exploravam mão-de-obra, expandiam o
catolicismo e conseguiam riquezas para a metrópole. Este ciclo se fundamenta durante o
primeiro século da colonização, entra em decadência com a expulsão dos holandeses, trazem
como ícones, Nóbrega e Anchieta.
O ciclo sertanejo foi uma ocupação como o próprio nome indica, pelo interior do
sertão, efetuada como o auxílio de rios, principalmente o rio São Francisco, que é considerado
central, com vários afluentes e ramificações que abrem caminhos para outras regiões, tais
como norte e sudeste. Neste ciclo destaca-se Martinho de Nantes, o “defensor das terras
indígenas”. A ordem mais atuante durante este ciclo foram os capuchinhos.
O ciclo maranhense abrange a região amazônica, com a economia voltada para as
drogas do sertão. Atuaram os carmelitas, franciscanos e os jesuítas. A missão nesta área
esteve ligada à luta para que se findasse a exploração da mão-de-obra indígena. Era uma
condução missionária mais espiritual, dirigida pelo teólogo Vieira.
O ciclo paulista foi o da formação do catolicismo no Brasil. Partiu do colégio de
São Paulo (1554) em direção a outras regiões: Minas Gerais, Goiás, Moto Grosso. Deste ciclo
participaram, franciscanos, jesuítas e beneditinos, mais tarde os carmelitas. Essa convivência
levou a uma divisão religiosa, pois os beneditinos se dispunham ao lado dos colonos,
juntamente com os franciscanos e carmelitas, e os jesuítas ao lado dos índios. Surgiram,
assim, acirradas lutas, incluindo interesses econômicos sociais e políticos, causando uma
verdadeira devastação da raça indígena.
Dentre os ciclos comentados, como pode ser observado, houve a atuação de diferentes
ordens religiosas: jesuítas, carmelitas, beneditinos, franciscanos, além dos capuchinhos e
oratorianos que dependiam de ordens vindas de Roma. Por isso abordaremos, como cada uma
desempenhou seu papel no período.

2.4- AS ORDENS RELIGIOSAS

A ordem franciscana espalhou-se pelo litoral a partir de Olinda, 1585, implantando


conventos entre Paraíba e Alagoas, assim como Salvador, Espírito Santo, Rio de Janeiro etc.
A atuação da ordem era “menos dinâmica” do que os jesuítas, contestava menos, era mais
voltada para a “assistência religiosa”. Agiam com um sistema tripartido: conventos, fazendas
e aldeamentos no interior.
Os carmelitas entraram no Brasil em 1580, e também atuavam com um sistema
tripartido: conventos, fazenda e aldeamento. Possuíam grandes fazendas e escravos. A ordem
partiu de Olinda em 1583, e abrangeu Pernambuco, Paraíba, Maranhão, Pará, Amazonas etc.
A missão dos carmelitas não começa por um “puro” impulso religioso, mas como
conseqüência de uma política deliberada por parte do Estado colonialista português, que
procurava consolidar suas fronteiras.
Prova disso é que procuravam regiões que tinham boa representação econômica e
geopolítica.
Os beneditinos chegaram em 1581 na Bahia, depois foram expandindo para o Rio de
Janeiro, Paraíba, São Paulo, etc. A ordem trabalhou pouco com aldeamentos, atuou mais nos
mosteiros e fazendas. Sobreviviam do trabalho escravo.
A ordem jesuíta, como já foi comentada, foi a pioneira e mais importante para a
evangelização dos indígenas. Também trabalhava com fazendas, aldeias.
Os jesuítas, missionários oficiais da evangelização, estavam afastados dos verdadeiros
rumos da colonização, que incluía a prática de escravização dos indígenas, quando não sua
morte. Ao contestar essa prática, os padres eram hostilizados por parte do Estado português.

Os capuchinhos obedeciam a ordens de Roma. Eram franceses, e atuaram no interior


do Brasil sustentando o trabalho com os índios, principalmente às margens do rio São
Francisco até que as relações diplomáticas fossem cortadas entre Portugal e França. As
missões dos capuchinhos foram marcadas pela popularidade e pelo método, ambulande
conseguindo grande aceitação por parte do povo.
Os oratorianos atuaram no interior de Pernambuco. Foi um movimento breve, pois foi
posterior ao período da colonização. Ocupavam-se em dar assistência religiosa aos moradores
e seus escravos. Neste momento os índios já estavam desaparecendo.

2.5- A CATEQUESE
Após o descobrimento os índios se encontram à mercê dos interesses do colonizador.
Eram alvo principal do processo, pois significavam possibilidade de expansão do cristianismo
e de obtenção de uma mão-de-obra lucrativa. Mas não seria uma tarefa fácil. A empreitada de
instalar um sistema educacional em terra estranha e selvagem era uma desafio. De um lado, os
indígenas de língua e costumes desconhecidos pelos portugueses; De outro, os colonizadores,
rudes e aventureiros, que desafiavam os próprios hábitos religiosos.
O padre Manuel de Nóbrega, de espírito empreendedor, organizou e estruturou os
primeiros centros de catequização. Embora os jesuítas tivessem recebido uma educação
rigorosa, tiveram que enfrentar grandes desafios na adaptação das exigências locais. Uma das
dificuldades foi o contato cultural: “o tipo de linguagem”. O primeiro jesuíta a aprender a
língua dos índios foi Aspilcueta Navarro, o primeiro também que desbravou os sertões em
missão evangelizadora.
Em 1553, o noviço José de Anchieta, com apenas 19 anos, se destacou num trabalho
apostólico, formando assim segundo Fernando Azevedo a “trindade esplêndida”:
Nóbrega, o político.
Navarro, o pioneiro,
e Anchieta, o santo, símbolo da atividade extraordinária dos jesuítas no século XVI, a
fase mais bela e heróica da história da Companhia de Jesus.
Não se trata de fazer uma biografia, mas a ocasião nos permite falar um pouco da vida,
dos principais representantes das missões jesuíticas, no período da colonização.

2.6- HOMENS QUE SE DESTACARAM NAS MISSÕES JESUÍTAS

Inácio de Loyola nasceu em 1491 e faleceu 1556, espanhol, que após 1521 viu-se
envolvido por um súbito fervor religioso e se dispôs a serviços da defesa da fé e tornou-se um
verdadeiro soldado de cristo. Funda a companhia de Jesus, ordem vinculada diretamente a
autoridade papal, desligada da hierarquia comum da Igreja. Seus representantes são chamados
de padres seculares, pois não são aqueles que têm contato com seus fiéis.
O objetivo inicial da Ordem é a propagação missionária da fé, a luta contra os infiéis e
os heréticos. Por isso os jesuítas estavam por todo mundo, desde a Europa, que naquele
momento estava assolado pelas heresias, até a Ásia, a África e a recém-descoberta América.
O padre José de Anchieta que desde de criança teve um impulso para o descobrimento
de outras culturas, escolheu a carreira sacerdotal a fim de cumprir o seu destino de construir
uma obra abrangente nas “terras virgens”. Aos 14 anos foi enviado para a Universidade de
Coimbra, aos 17 anos faz o voto de castidade na Catedral de Coimbra.

“No mesmo ano em que Anchieta entrou para a


Companhia de Jesus, Manoel da Nóbrega, seu futuro
parceiro no Novo Mundo, chegava ao Brasil. a recém-
fundada Companhia surgira sob um novo signo. A era das
navegações tinha revelado à velha civilização européia
praticamente outro planeta a ser explorado. Nações antes
voltadas apenas para o Velho Mundo se convenceram de
que teriam de expandir sua influencia além de seus
limites.”13

Em 1553 Anchieta chega ao Brasil, aos 19 anos, o mais jovem dos Jesuítas que vieram
evangelizar o “Novo Mundo”.
Aos 20 anos, o Jovem Anchieta já tinha destino certo: a Capitania de São Vicente,
onde iria auxiliar o padre Manuel de Nóbrega na catequização dos nativos.
Nóbrega confiou a tarefa de decifrar o tupi (a língua indígena) à Anchieta que
dominou muito bem em um ano.

“O trabalho de Anchieta foi decisivo para a implantação


do catolicismo no Brasil. Com seu conhecimento e sua fé,
percorreu a pé, a cavalo, em embarcações, boa parte do
território brasileiro. Além de abrir caminhos que se
transformariam em estradas, contribuiu para manter
unificado o país nos séculos seguintes. Lançou os
fundamentos da catequese e educação dos jesuítas no
Brasil e começou a reverter o quadro iniciado desde o
descobrimento, em que os nativos eram vistos apenas
como propriedade da Coroa e, como tal, passíveis de ser
escravizados. Com seus dotes inatos de comunicador,

13
http://www.aloescola.com.br/historia/anchieta/anchieta4.htm
conseguiu com o indígena um amplo entendimento. O
homem de muitas faces que foi Anchieta transparece com
nitidez nas palavras do poeta paulista Guilherme de
Almeida.” 14

Inácio de Loyola, José de Anchieta, Manuel de Nóbrega, eram jesuítas que vieram ao
Brasil para evangelizarem os índios, que eram pagãos e converter os que acreditavam em
outros credos.
Mas não eram todos os “missionários” que tinham objetivos claros de “evangelizar”.
Alguns vieram por objetivos puramente político e econômico, ou seja representar o poder
exercido pela coroa, e explorar as riquezas e a mão-de-obra na colônia.
Com Anchieta e seus companheiros era diferente, estavam à serviço de “cristo”
pregando o catolicismo e ajudando os nativos. Eram elogiados pelo belo trabalho nas aldeias,
pelo sucesso de suas conquistas na evangelização e conversão.

CAPÍTULO III

3.1- A RELIGIÃO ENQUANTO CULTURA

A Igreja Católica, enquanto instituição e religião oficial do Estado português chegou


ao Brasil em 1500, juntamente com as caravanas da “descoberta”. Com ela veio também a
dominação, a exploração e a introjeção de uma cultura totalmente diversa da dos povos que
aqui viviam. A entrada da Igreja Católica aqui no Brasil é relativamente recente, e entendida
dentro de um grande processo que envolve a sua expansão mundial, associado à ascensão das
potências européias e ao pioneirismo marítimo português que teve também como
conseqüência a colonização, exploração e a escravização de muitos povos.

14
Idem, “anterior”
Quando nos deparamos com o termo “Igreja Colonial” mas um uso proposital, não que
se refira ao período de sua origem aqui no Brasil, mas por envolver interesses econômicos,
sociais, político e ideológicos.
Para Haonaert existe um discurso que sustenta e condiciona o estudo da História da
Igreja no Brasil. É a posição do Estado Colonizador. Que tinham como representante Dom
João III rei de Portugal (1521-1557).
O Estado português e a Igreja tinham estreitas relações, mas isso não quer dizer que
não faziam alianças, uma delas se deu o nome de padroado, era meio pelo qual o papa
concedia aos monarcas portugueses o poder de exercer o governo religioso e moral nas
colônias. Esse acordo deu grande vantagem para o Estado, pois além do poder político, agora
ele possuía também o poder espiritual, uma arma ideológica que facilitava ainda mais o
controle de seus colonizados.

“Essa aliança em torno de interesses religiosos, políticos


e econômicos, sob controle cada vez maior do Estado faz
parte do processo de fortalecimento das monarquias
nacionais e do poder real, prenunciando, assim os tempos
modernos”.15

Uma das grandes preocupações do governo português nas novas terras além da
dilatação da fé católica, era a expansão das fronteiras geográficas, pois quanto mais território
estivesse sob seu controle, maior seria seu poder. Isso fez com que o povoamento português
do Brasil fosse dominado por um vivo espírito cruzadista, partilhando uma mesma
mentalidade a de que o português é um cristão por direito e nascimento e o índio pagão e
infiel. Era a maneira da Igreja justificar sua atitude em relação aos índios, os cristãos lutavam
contra os selvagens perigosos e incrédulos e pagãos.
Uma das conseqüências dessa maneira de pensar é que a religião ou seja, a Igreja
passou a delimitar o seu espaço conquistado. Não interessava se os indígenas já tinham sido
convertido ou não, a Igreja, marcavam seu território com cruzes, garantindo o seu domínio
sobre essas almas que tinham que ser trazidas à força para Deus.
Uma fonte consultada que nos relata essa questão perfeitamente é o filme “Hábito
Negro”, que mostra a influência da cultura européia, e o discurso dos estrangeiros. No caso
do filme os franceses, diziam civilizar os índios, pois são incivilizados, e ao mesmo tempo
mostrar-lhes o paraíso. Mesmo diante a sedução européia, houve resistência a cultura e ao
catolicismo pregado, era uma resistência silenciosa, traduzida na irritante inconstância
indígena. Os jesuítas tinham que lidar e contornar essas resistências, eles admitiam colocar a

15
DEL PRIORE, Mary. Religiao e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Ática 1994 pg 8.
seu favor com a generalização de um sentimento que entrava em choque com a invocada
pureza cristão. Então valiam-se de conselhos que amedrontavam. Era uma maneira de
conseguir adesão mesmo que fosse forçada.

“Seria, pois dentro desse quadro de controle absoluto de


agrupamento indígenas sob sua administração espiritual e
educacional, e seguindo o princípio da superioridade da
cultura e dos costumes europeus, que os padres jesuítas
desenvolveriam durante o século XVI o seu trabalho de
catequese, determinando, inclusive, as formas possíveis de
manifestações lúdicas com caráter de folguedo popular”.16

3.2- AS FESTAS RELIGIOSAS

Foi através da música, que os padres, durante as missões se revelavam, na prática de


um requintado oportunismo ideológico-religioso, apropriando de sua cultura e dos rituais,
esvaziavam o seu conteúdo do sentido original, transformando a música em um veículo de
pregação da fé religiosa.
Neste sentido TINHORÃO argumenta que a apropriação da música, como meio de
comunicação da doutrina católica, nos revela a possibilidade de transculturação, efeito no
sentido contrário ao desejado. Era uma jogada, usar a música indígena, aproveitando o
fascínio deles pela música e aos poucos, ir fazendo adaptações incorporando os costumes e a
cultura européia.
Fazendo isso sem que fosse percebido, evitando a rejeição e a resistência, chegando
baixar guarda e deixar o inimigo entrar em suas tribos.
Os índios quando faziam festas não eram comemorações coletivas, no sentido de
manifestação puramente lúdica, durante os séculos XVI e XVII. Era apenas atrações dos
índios mais jovens através da singeleza dos folguedos populares portugueses, de origem rural,
a exemplo das folias já vivenciadas desde a época do “achamento” da terra.

“Folias, aliás, que, muito ao contrário do que o nome


parece indicar, não constituíam qualquer oportunidade
para loucuras liberadoras, mas uma forma muito bem
comportada de simples e honesta diversão popular”.17

16
TINHORÃO, José Ramos. As festas no Brasil colonial. São Paulo: Editora 34 2000 p. 26
17
IDEM pp 26 (33)
Podemos perceber que a festa tem sido celebrada ao longo da construção da nossa
história. Seja ela religiosa, social ou comemorativa. A festa também é um fato político,
religioso ou simbólico. Pois a alegria da festa ajuda a população suportar o trabalho, o perigo
e a exploração, é uma interação social, onde os indivíduos se relacionam expressando suas
especificidade e diferenças.
A festa nasce cercada de sentido cultural para celebrar, agradecer, ou pedir proteção
nos ciclos agrícolas. É uma forma de culto externo, tributado geralmente a uma divindade
protetora das plantações. Mas com o advento do cristianismo, tais solenidades receberam
novos significados.

“A Igreja determinou dias que fossem dedicados ao culto


divino, considerando-os dias de festa, os quais formavam
em seu conjunto o ano eclesiástico. Essas festas são
distribuídas em dois grupos distintos: as festas do Senhor
(Paixão de Cristo e demais episódios de sua vida) e os dias
comemorativos dos Santos (apóstolos, pontífices, virgens,
mártires, Virgem Maria e padroeiros)”.18

As cerimônias públicas ganham grande importância à partir do século XVI, nos


moldes dos rituais europeus, e se faziam marcar por novidades a cada nova reunião. Com a
Centralização precoce de jovens Estados Absolutistas, como Portugal, elas serviram para à
cristalização das idéias absolutistas emergentes, por meio da aclamação dos oficiantes mais
próximos do poder.

“Misto de Sagrado e profanas, tais festas vulgarizavam


ainda um comportamento extremamente devoto por parte
das populações coloniais, acentuando a identificação entre
Igreja e Estado. O rei e a religião, numa aliança
colonizadora, estendiam o seu manto protetor e repressor
sobre as comunidades, manto este que apenas por ocasião
de festividades coloria-se com exuberância”.19

A festa também era um meio de diminuir as tensões, inerentes à diversidade étnica e as


diferenças sociais vivenciados na colônia.
Essa retrospectiva ao passado colonial, talvez nos ajude a entender por que festejamos
tanto hoje. Podemos fazer analogias observando o que mudou? E o que conservou dentro da
cultura brasileira.

18
DEL PRIORE, Mary Lucy. Festas e Utopias no Brasil Colonial. São Paulo: Brasiliense 2000 p. 13.
19
IDEM. p. 14. 15
Os índios adotaram e propagaram as festas religiosas um ato devocional de caráter
penitencial ou festivo, para atrair índios e edificar os colonos. A primeira solenidade
celebrada com esplendor, em salvador, foi a procissão do Corpo de Deus.

“O padre Manoel da Nóbrega escrevia em 9 de agosto de


1549 a Companhia de Jesus em Roma anunciando haver
realizado duas procissões solenes com cânticos públicos e
trombetas tanto no Dia do Anjo Custódio quanto no de
Corpus Christi. Com danças, “invenções à maneira de
Portugal” e toda a “artilharia que estava em terra” tais atos
devocionais irradiaram-se da Bahia, pelas mãos dos
missionários e inundaram a colônia”.20

As procissões religiosas em dias de festa, colocavam em evidência a mentalidade das


populações, que viam no rito processional uma função protetora tranqüilizante, percebemos a
necessidade, e carência dos nativos em acreditarem numa força maior.
À partir do Concílio de Trento cresce a importância das festas religiosas, evidenciando
o investimento catequético e pastoral na colônia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cristianização do Brasil no século XVI ocorreu dentro do contexto de expansão


global. Num momento de conquistas territoriais, políticas, sociais e econômicas, onde os
interesses da coroa portuguesa e da Igreja católica não se cruzavam, não se davam muito bem,
levando ambas a terem estreitas ligações. A colonização do Brasil foi orientada pelo espírito
de expansão da fé católica pelo mundo.

A Educação teve papel fundamental na colonização e na propagação religiosa. Os


jesuítas procuravam levar a fé católica aos nativos através da educação. Por isso o interesse
em organizarem escolas em diversos pontos da colônia. A catequese era a justificativa moral
da colonização portuguesa.

A religiosidade é um dos fortes componentes, que está presente em nossa cultura. As


festas religiosas reúnem multidões, que se unem pela fé, crença e pela necessidade de
20
IDEM. p. 22. 23
acreditarem numa força maior, que é Deus. A religiosidade é uma herança que herdamos do
período colonial. E que faz parte do nosso cotidiano.

BIBLIOGRAFIA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 1a ed. São Paulo: Moderna, 1989.

AZEVEDO, Fernando de. A transmissão da cultura. 5a ed, São Paulo: Melhoramentos,


1976.

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DEL PRIORE, Mary. Religião e Religiosidade no Brasil Colonial. São Paulo, Ática 1994.

DEL PRIORE, Mary Lucy. Festas e Utopias no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2000.

HOORNAERT, Eduardo. A Igreja no Brasil – colônia (1550-1800). 2a ed. São Paulo:


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HOORNAERT, Eduardo et. al., coords. História Geral da Igreja no Brasil. São Paulo/
Petrópolis: Paulinas/ Vozes. T. II/I.
________________. A Igreja no Brasil Colônia. São Paulo: Brasiliense. 1982.

LA COMBE, Américo Jacobina. A Igreja no Brasil Colonial. In: HOLLANDA, Sérgio


Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: Difusão Européia do
Livro. T. II.

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa/ Rio de Janeiro:


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SOUZA, Laura de Melo e. O diabo e a terra de Santa Cruz: Feitiçaria e religiosidade


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TAHUT. Museu do Índio. Universidade de Uberlândia – MG- Ano 3 u. 4 – 2000 p.21-27.

TINHORÃO, José Ramos. As festas no Brasil Colonial. São Paulo: 34, 2000.

Outras fontes

INTERNET
http://www.aloescola.com.br/historia/anchieta/anchieta4.htm

FILMES

A Missão

Hábito Negro

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