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Disciplina: Multiletramentos

Autora: Esp. Samira Alves de Souza

Revisão de Conteúdos: Esp. Laís Ribeiro Guebur / M.e Luís Gabriel Venancio

Designer Instrucional: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm

Revisão Ortográfica: Esp. Lucimara Ota Eshima

Ano: 2021

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


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Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança
de direitos autorais.

1
Samira Alves de Souza

Multiletramentos
1ª Edição

2021

Curitiba, PR

Faculdade UNINA

2
Faculdade UNINA
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000

Coordenador Técnico Editorial


Marcelo Alvino da Silva

Conselho Editorial
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias /
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno /
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia

Revisão de Conteúdos
Laís Ribeiro Guebur / Luís Gabriel Venancio

Designer Instrucional
Alexandre Kramer Morgenterm

Revisão Ortográfica
Lucimara Ota Eshima

Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério

Desenvolvimento da Capa
Carolyne Eliz de Lima

FICHA CATALOGRÁFICA

SOUZA, Samira Alves de.


Multiletramentos / Samira Alves de Souza. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2021.
96 p.
ISBN: 978-65-5944-162-4
1. Escrita. 2. Leitura. 3. Letramento.
Material didático da disciplina de Multiletramentos – Faculdade UNINA, 2021.

Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier,


nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão
Universitária.
A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas
também brasileiros conscientes de sua cidadania.
Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e
estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade UNINA

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Sumário
Prefácio ..................................................................................................... 07
Aula 1 – Aprender e ensinar letramentos ................................................... 08
Apresentação da aula 1 ............................................................................ 08
1.1 Novos tempos, novas teorizações ................................................. 08
1.2 Antigos e novos fundamentos ....................................................... 10
1.3 Os aprendizes de hoje e os professores de amanhã .................... 14
Conclusão da aula 1 .................................................................................. 17
Aula 2 – Letramento ................................................................................... 18
Apresentação da aula 2 ............................................................................. 18
2.1 Primeiras línguas: como e por que elas são tão diferentes,
primeira globalização ................................................................................. 18
2.2 Primeiras línguas: comunicações multimodais – primeira
globalização ............................................................................................... 22
2.3 Começando a escrever: uma segunda globalização ..................... 23
2.4 Novas mídias e novos letramentos: a terceira globalização .......... 26
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 27
Aula 3 – Historicidade da escola na aula de linguagem .............................. 28
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 28
3.1 A disciplina de Língua Portuguesa na escola ................................ 28
3.2 Sociedade do conhecimento ......................................................... 34
3.3 Novos letramentos para a vida comunitária contemporânea ......... 36
Conclusão da aula 3 .................................................................................. 38
Aula 4 – Pedagogia dos letramentos .......................................................... 39
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 39
4.1 Conceito de letramento ................................................................. 39
4.2 Práticas sociais de leitura e escrita ............................................... 42
4.3 Letramento aos letramentos ......................................................... 46
Conclusão da aula 4 .................................................................................. 48
Aula 5 – Pedagogia do multiletramento ...................................................... 49
Apresentação da aula 5 ............................................................................. 49
5.1 Sistema de significados e semiose ................................................ 49
5.2 Conceito de multiletramento ......................................................... 51
5.3 Novas mídias e multimodalidade .................................................. 54
5.4 Novos (multi)letramentos .............................................................. 58

5
Conclusão da aula 5 .................................................................................. 60
Aula 6 – Mídias .......................................................................................... 61
Apresentação da aula 6 ............................................................................. 61
6.1 Mídia como meio de comunicação ................................................ 61
6.2 Mídia, multimídia, hipermídia ........................................................ 64
6.3 Um mundo transmídia ................................................................... 65
Conclusão da aula 6 .................................................................................. 69
Aula 7 – Da leitura analógica ao letramento digital ..................................... 70
Apresentação da aula 7 ............................................................................. 70
7.1 Faces da leitura e materialidade do livro ....................................... 70
7.2 Letramento digital .......................................................................... 75
Conclusão da aula 7 ................................................................................... 81
Aula 8 – Atividade didática ......................................................................... 81
Apresentação da aula 8 ............................................................................. 81
8.1 Tecnologia: potencializando as práticas discursivas ..................... 82
8.2 Prática 1: mapa como monitoramento ........................................... 83
8.3 Prática 2: reportagem audiovisual ................................................. 85
8.4 Prática 3: imagem-manchete em vídeos ...................................... 86
8.5 Prática 4: reescrita de textos ......................................................... 88
Conclusão da aula 8 ................................................................................... 90
Índice Remissivo ........................................................................................ 91
Referências ............................................................................................... 93

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Prefácio

Olá, estudante!
Seja bem-vinda(o) à disciplina de Multiletramento.
Nesta disciplina, vamos refletir sobre as práticas sociais de linguagem que
se alteraram e com isso os modelos de produção e circulação de textos sofreram
mudanças ao longo do tempo, tudo em decorrência das Tecnologias Digitais de
Interação e Comunicação (TDICs).
Além disso, você vai aprender também como se dá a construção dos
conceitos de Letramento/Letramentos e Multiletramentos e atualizar os conceitos
de leitura e escrita, considerando a recepção e a produção de textos em
ambientes digitais.
Sugiro que acesse os links indicados ao longo do texto e assista, também,
aos vídeos das aulas. Todos eles se complementam para que você tenha o
máximo de aprendizado e sucesso nesta disciplina.
Espero que seja tão prazeroso para você estudar quanto foi para mim ao
longo da escrita e do preparo dessas aulas.
Desejo desde já um bom estudo e muito sucesso na sua caminhada
acadêmica.
Professora Samira.

Boa escrita!

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Aula 1 – Aprender e ensinar letramentos

Apresentação da aula 1

Prezado(a) aluno(a), nesta primeira aula iremos ponderar questões


relacionadas à Linguística Aplicada (LA), depois pensaremos sobre o modelo de
produção e circulação de textos na contemporaneidade com abordagens
multimodais e de que forma os documentos oficiais tratam deste assunto.

1.1 Novos tempos, novas teorizações

Para que você, aluno(a), possa compreender os estudos e a noção de


multiletramento, intermidialidade, multimodalidade, hibridismo, é necessário
discutirmos o papel da Linguística Aplicada e a contribuição de pesquisas para
a concepção de multiletramentos.
O ponto principal que explica a necessidade de pensar novos percursos
para a L.A (usaremos a sigla L.A para nos referirmos à Linguística Aplicada) diz
respeito ao impacto produzido nas ciências sociais e nas humanidades por
teorias que têm interrogado a modernidade (MOITA LOPES, 2006).

Saiba mais

SUGESTÃO DE LEITURA
“A modernidade é em Baudelaire uma conquista”, eis aqui a
definição de Benjamin, no livro Baudelaire e a Modernidade.
Já no primeiro poema de As flores do mal, Baudelaire
convoca o leitor à ruptura da apatia. Benjamin aponta o
método da aventura, a captura do presente, a intenção do
poeta de revidar os atordoantes choques na grande cidade.
“É essa a natureza da vivência a que Baudelaire atribuiu a
importância de uma experiência”.

São tempos em que os ideais da modernidade têm sido questionados e


reescritos, principalmente aqueles referentes “à definição do sujeito social como
homogêneo, trazendo à tona seus atravessamentos identitários, construídos no

8
discurso” (MOITA LOPES, 2006, p. 22), ou seja, proporcionar um apagamento
deste sujeito, seu gênero, classe social, raça e sua etnia.
Por isso a L.A precisa dialogar com outras teorias na tentativa de
compreender nossos tempos e de abrir espaço para visões alternativas ou para
ouvir outras vozes que possam revigorar nossa vida social. É por isso que a L.A
se encontra em um momento de revisão de suas bases epistemológicas,
vejamos:

1. a linguagem é uma prática social;

2. nossas práticas discursivas não são neutras e envolvem escolhas


ideológicas e políticas, atravessadas por relações de poder que provocam
diferentes efeitos no mundo social;

3. há uma multiplicidade de sistemas semióticos em jogo no processo de


construção de sentido.

Vocabulário

Semiótico: é o adjetivo da palavra semiótica. Esta é a ciência que estuda a


relação entre os signos, linguísticos ou não, e seus significados.

Desta forma, vem ganhando espaço os estudos para situar as práticas


discursivas e associá-las às suas condições de produção, circulação e
interpretação. Por essa razão, a linguagem deve ser entendida como atividade,
como sistema de ações simbólicas realizadas em determinados contextos
sociais e comunicativos que produzem efeitos e consequências semânticas
convencionais, ou seja, o significado de uma palavra é o uso da linguagem. Moita
Lopes completa:

O sentido, assim, não é algo que acompanha a palavra, pois uma


palavra só se torna significativa no seu uso em determinadas
circunstâncias e contextos de comunicação. Isso quer dizer que a
significação não é algo anterior às práticas discursivas vigentes em

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uma comunidade das quais aprendemos a participar. Haveria, então,
vínculo indissociável entre linguagem, produção de sentido, contexto,
comportamento social e atividades humanas, o que aponta para o
entrelaçamento entre cultura, práticas discursivas, conhecimento e
visão de mundo (MOITA LOPES, 2006).

Esse percurso é essencial, porque tais vozes podem não só apresentar


alternativas para entender o mundo contemporâneo, como também colaborar na
construção de um mundo globalizado e ao mesmo tempo redescrever a vida
social e as formas de conhecê-la.
Agora, aluno(a), convido você a refletir um pouco sobre esta temática.

Reflita

A linguagem é uma prática social e as nossas escolhas envolvem pontos


ideológicos e políticos que provocam diferentes efeitos no mundo social, então
aluno(a), o que mudou? O mundo social ou a forma de produzir conhecimento
sobre ele?

Depois da reflexão, iremos pensar juntos sobre os antigos e novos


fundamentos que alteraram o processo de produção e circulação de textos.

1.2 Antigos e novos fundamentos

Se as práticas sociais de linguagem se alteraram, os modelos de


produção e circulação de textos também sofreram alterações ao longo do tempo,
tudo em decorrência das Tecnologias Digitais de Interação e Comunicação
(TDICs). Neste exato momento, aluno (a), você precisa refletir que a leitura e a
produção, hoje, são experiências diversas daquela de tempo atrás. Vocês
circulam por universos que variam do manuscrito ao digital, passando pelo
impresso. Exemplos podem ser muitos, como: as revistas, jornais, livros
didáticos, apostilados, tudo compõe um mosaico de produções que são afetadas
pelas condições atuais de produção de texto. Vejamos:

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Exemplo de uma composição multimodal
Fonte: https://maestrovirtuale.com/wp-content/uploads/2019/10/diario-digital-new-york-
times-min.jpg

Para esta composição multimodal temos: verbo, imagem, projeto gráfico,


diagramação, template, programação, seleção de elementos para a composição
etc. Todo esse design da página é pensado para você ler e interagir enquanto
leitor.
Uma vez que o texto muda em sua concepção, forma e existência, em
suas tecnologias, materialidades, difusão e circulação, muda também o processo
de produção e a leitura que o atualiza. Todo o texto, quando composto, carrega
em si um projeto de inscrição, isto é, sua materialidade ajuda a compô-lo,
instaurando uma existência, desde a origem, multimodal (RIBEIRO, 2021, p.
2021).
Até este momento citamos o termo multimodal, mas qual é a sua origem?
Surgiu, pela primeira vez, em um grupo de pesquisadores chamado The New
London Group (NLG). Este grupo fazia diversas discussões tentando capturar
algumas das enormes mudanças nas maneiras como as pessoas estavam
construindo e participando de significados. Todas essas discussões resultaram
na elaboração de um manifesto do grupo, publicado em 1996, chamado A
pedagogy of multiliteracies: Designing social futures.
O interesse comum do NLG voltava-se à discussão de uma pedagogia
direcionada para os multiletramentos, que tentasse explicar o que ainda era

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importante em abordagens tradicionais de leitura e escrita. Nesse sentido, tal
pedagogia propunha uma redefinição de textos e práticas, movendo o campo do
letramento (no singular) para letramentos (no plural), ao “reconhecer múltiplas
formas de comunicação e construção de sentidos (KALANTZIS; COPE;
PINHEIRO, 2020, p. 19).
Assim, o termo multiletramento cunhado pelo NLG, refere-se à
diversidade social ou à variabilidade de convenções de significado em diferentes
situações culturais e sociais. Essas diferenças são muito significativas nos
modos como interagimos em nossa vida cotidiana. O segundo aspecto da
construção é a multimodalidade, porque os textos estão integrados em relação
ao visual, ao áudio, ao espacial e ao comportamental etc. Ilustraremos:

Contextual: Modal:
Escrito
Ambiente comunitário
Visual
Papel social
Multi Espacial
Relações interpessoais Tátil

Identidade Gestual
Áudio
Assunto
Oral
Os dois “multis” dos multiletramentos
Fonte: (KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020).

Hoje, ler e escrever têm se tornado, cada vez mais, uma ação integrada.
Textos escritos são criados e divulgados cada vez mais multimodal, envolvendo
palavras, imagens estáticas, sons e vídeos. Por isso, o processo de
alfabetização precisa ser complementado por uma aprendizagem sobre o design
multimodal de textos. Como também aprender os usos de diferentes linguagens
em contextos diversos.
Essa valorização cultural e linguística é destacada na Base Nacional
Curricular Comum (BNCC, 2018), ao apontar que os estudantes possam
vivenciar experiências significativas com práticas de linguagem em diferentes
mídias, situadas em campos de atuação social diversos.

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Os jovens têm se engajado cada vez mais como protagonistas da
cultura digital, envolvendo-se diretamente em novas formas de
interação multimidiáticas e multimodal e de atuação social em rede,
que se realizam de modo cada vez mais ágil (BRASIL, 2018, p. 61).

Ao longo do documento parametrizador, isto é, caráter normativo, a BNCC


apresenta um quadro que resume competências a serem desenvolvidas ao
longo da educação básica, entre elas:

Refletir sobre diferentes contextos e situações sociais em que se


produzem textos orais e sobre as diferenças em termos formais,
estilísticos e linguísticos que esses contextos determinam, incluindo-se
aí a multimodalidade e a multisemiose (BRASIL, 2018, p. 61).

O documento não se detém sobre uma teoria para os textos multimodais,


mas inclui novas formas de interação entre os elementos mais importantes a
serem trabalhados pela escola, esclarece a BNCC:

Considerando que uma semiose é um sistema de signos em sua


organização própria, é importante que os jovens, ao explorarem as
possibilidades expressivas das diversas linguagens, possam realizar
reflexões que envolvam o exercício de análise de elementos
discursivos, composicionais e formais de enunciados nas diferentes
semioses – visuais (imagens estáticas e em movimento), sonoras
(música, ruídos, sonoridades), verbais (oral ou visual-motora, como
Libras e escrita) e corporais (gestuais, cênicas, dança). Afinal, muito
por efeito das novas tecnologias digitais da informação e da
comunicação (TDIC), os textos e discursos atuais organizam-se de
maneira híbrida e multissemiótica, incorporando diferentes sistemas de
signos em sua constituição (BRASIL, 2018, p. 486).

Nesse sentido, o documento enfatiza a necessidade de incorporar a


cultura digital, as diferentes linguagens e os diferentes letramentos, a fim de
completar o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura
das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir
uma ampliação de repertório e uma interação e trato com o diferente. Nesse
contexto, a produção de textos multimodais precisa estar tão à nossa disposição
quanto a leitura. As novas tecnologias podem incrementar nossas habilidades, o
que não dispensa desenvolver essas habilidades de seleção de modos e
recursos expressivos tanto quanto em qualquer época, “fazendo o tempo de
escrever em múltiplas linguagens” (RIBEIRO, 2021, p. 17).

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1.3 Os aprendizes de hoje e os professores de amanhã

Se a comunicação e a construção de significados mudaram, nós


precisamos pensar sobre os aprendizes de hoje. Estes têm familiaridade com
personagens de histórias de videogame e de fanfics online, podendo atuar no
próprio modo como essas histórias terminam. Como também constroem suas
próprias playlists em seus smartphones, cujas músicas variam de acordo com as
preferências de cada usuário. Além disso, aprendem mais em ambientes
semiformais e informais, a partir de uma variedade de fontes, por exemplo, em
rotinas de autoaprendizagem por meio de aplicativos de aparelhos eletrônicos e
por meio de interações sociais em diversas comunidades online.
Como resultado de todas essas mudanças, essa nova geração dá sinais
de que estão frustrados com um currículo escolar voltado para a leitura, apenas
verbal, e a escrita e, por isso, novos tipos de ambiente escolar e de design de
aprendizes de leitura e escrita estão surgindo. Os currículos desses novos
ambientes escolares encorajam estudantes a se tornarem sujeitos ativos e
engajados em processos de aprendizagem, ao inseri-los em desafios intelectuais
e práticos.

Aula de robótica
Fonte: https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/Zs4RRVrmfN6MaWnJ43yB8y
YQMeVEFxUtMaJuPhmMAQFqk2JZQSng9svQVd89/robotica-getty-images.jpg

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Os aprendizes efetivamente trabalham em pares ou grupos em projetos
de conhecimento colaborativo, cuja autoria se constrói conjuntamente e é
partilhada entre todos, por exemplo, a aula de robótica citada na imagem,
mostrando engajamento e parceira para montar um projeto. Também eles
continuam a aprender em ambientes que vão além da sala de aula, usando
mídias sociais para expandir sua leitura e sua escrita para qualquer lugar e
tempo.
Você já ouvir falar de escrita colaborativa? As chamadas Fanfics?
As fanfics podem ser um belo exemplo dessas linguagens líquidas. Esse
gênero textual engloba a escrita criativa, a metalinguagem e o pertencimento a
uma base de fãs (fandom) em meios eletrônicos e por uma experiência de escrita
colaborativa em ambiente escolar feita com o suporte do Google Docs.
De uma forma generalizada, fanfic (termo reduzido para as fanfiction, i.e,
“ficção de fã”) é uma história escrita por fãs, a partir de um livro, quadrinho,
animê, filme ou séries de tv. Este gênero pode ainda ser inspirado em bandas
ou atores favoritos. Geralmente, usam ambientes como blogs ou páginas
eletrônicas para a mídia escrita, mas navegam também por outros meios, como
os vídeos (fanvids) ou quadrinhos e audiofics. Os escritores desse gênero
hibridizam “o discurso do autor e do sujeito” quando a estória é recontada e re-
escrita, movendo-se para além do que foi dado.
Se queremos ter “novos aprendizes”, precisamos de “novos professores”,
que sejam designers de ambientes de aprendizagem para alunos engajados, em
vez de indivíduos que trabalham apenas com o conteúdo do livro didático;
profissionais capazes de criar as condições nas quais os aprendizes assumirão
maior responsabilidade pelo próprio aprendizado; que permaneçam como fontes
de conhecimento que de fato são, na condição de autoridade, sem que se tornem
autoritários; que se sintam confortáveis com o design de aprendizagem da
internet, os espaços de instrução que não se limitam a planos de aula, livros
didáticos ou manuais de estudante.
Ressaltamos que a evolução das práticas de ensino envolve uma grande
mudança na identidade profissional, “uma vez que o ato de ensinar é cada vez
menos expositivo, tornando-se progressivamente uma profissão híbrida de
documentação e geração de dados (KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020, p.
28).

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Curiosidade

Você sabia que o termo híbrido e suas variações são usados para descrever
processos interétnicos e de descolonização, globalizadores, viagens e
cruzamentos, fusões artísticas, literárias e comunicacionais? No livro Culturas
Híbridas o autor Nestor Canclini define: “entendo por hibridação processos
socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma
separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”
(GARCIA CANCLINI, 2015, p. 19).

Nesse sentido, o ambiente online expande o alcance da aprendizagem


por intermédio do tempo e do espaço para além das paredes que confinam
alunos em uma sala de aula e do ensino que restringe os horários de
aprendizagem a um determinado número de minutos para cada aula. Vamos
tabelar as informações sobre os novos alunos e os novos professores para que
você veja e consiga perceber todo este novo processo.

Nova aprendizagem
Novos alunos Novos professores

Pesquisar informação usando Engajar os alunos como ativos construtores


de significados.
múltiplas fontes e mídias.
Analisar ideias a partir de Projetar ambientes de aprendizagem em vez
de apenas trabalhar com os livros didáticos.
múltiplas perspectivas.
Trabalhar em grupos como Fornecer aos alunos oportunidades de usar
construtores de significados novas mídias.
colaborativos.
Usar novas mídias para um design de
Enfrentar questões difíceis e
aprendizagem e facilitar o acesso do
resolver problemas.
estudante à aprendizagem a qualquer
momento e de qualquer lugar.

Assumir responsabilidade Ser capaz de dar mais autonomia aos alunos


quando estes passarem a assumir mais
pela sua aprendizagem.
responsabilidade por sua aprendizagem.

Continuar seu aprendizado de Oferecer uma variedade de caminhos de


forma independente e para aprendizagem para diferentes alunos.
além do livro didático e da
sala de aula.

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Trabalhar de perto com os Colabora com outros professores,
outros colegas em um compartilhando designs de aprendizagem.
ambiente que fomente a
inteligência coletiva.
Criticamente autoavaliar seu Avaliar continuamente a aprendizagem e o
próprio pensamento e progresso dos alunos, usando essa
informação para criar experiências de
aprendizagem.
aprendizagem mais apropriadas para
diferentes aprendizes.
Fonte: KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 28

Se conseguirmos pensar no coletivo, esses novos professores serão


profissionais colaborativos, reutilizando e adaptando os projetos de
aprendizagem, em outras palavras, estarão imersos em uma cultura profissional
de suporte e compartilhamento mútuo.

Conclusão da aula 1

Ao final dessa aula, aluno(a), você aprendeu que a Linguística Aplicada


dialoga com outras teorias na tentativa de compreender nossos tempos e de
abrir espaço para visões alternativas ou para ouvir outras vozes que possam
revigorar nossa vida social. Depois, fizemos juntos uma reflexão sobre as
mudanças dos textos na contemporaneidade e observamos que todos os textos
são multimodais, já que, hoje, os textos são produzidos para serem lidos pelos
sentidos. E, por último, o papel social do aluno, com potencial inovador e criativo
e o professor engajado em avaliar continuamente a aprendizagem.

Atividade de Aprendizagem

Ler é, certamente, a competência sobre a qual a escola mais se debruça,


desde a alfabetização até a formação média dos estudantes, isso, no entanto,
não tem garantido boa formação leitora aos alunos. Assim, reflita sobre quais
são as principais dificuldades encontradas pelos alunos para realizar esta
prática.

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Aula 2 – Letramento

Apresentação da aula 2

Olá, aluno(a). Nesta segunda aula vamos nos concentrar em analisar


como nós, seres humanos, temos construído significado em três momentos
históricos. Começaremos pelas “primeiras línguas”, aquelas utilizadas antes da
escrita, depois discutiremos algumas consequências do desenvolvimento da
escrita e por último como os novos aspectos da era moderna contribuíram para
a terceira globalização.

2.1 Primeiras línguas: como e por que elas são tão diferentes, primeira
globalização

A escrita não é mera transcrição ou reprodução de pensamento,


tampouco um registro direto ou cópia da fala. A escrita é uma “tecnologia” ou
“artefato”, desenvolvida para modos específicos de pensar e de estar no mundo,
que permeia diferentes culturas e de diferentes maneiras. Colmas, no livro
Escrita e Sociedade, traz para reflexão que “a língua escrita é um atributo de
poder, escrever é potencialmente um meio de empoderamento” (COLMAS,
2014, p. 134).
Aluno(a), todas essas informações sobre a escrita que foram colocadas
para você neste início de aula têm grande relevância para o processo de ensino-
aprendizagem de leitura e escrita na contemporaneidade.

Saiba mais

Para saber sobre essa maravilhosa invenção, acesse:


https://www.mercado-de-letras.com.br/resumos/pdf-06-09-14-0-37-04.pdf

Nossa narrativa tem como foco uma breve e esquemática história dos
sistemas de significação. Tomaremos como medida histórica uma escala do
tempo de 100 mil anos, que é aproximadamente o período que marca o início da

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existência da espécie humana. Olharemos para os primeiros 95 mil anos, em
seguida, de forma particular, para os últimos 5 mil anos, que marcam o
surgimento da escrita e, por fim, para os 50 anos mais recentes, começando três
momentos históricos que chamaremos de três globalizações.
Aluno(a), a primeira globalização é um processo iniciado pelos falantes a
partir da África Subsaariana, uma população inicialmente pequena que se
espalhou pelo planeta, vejamos:

África Subsaariana: início das primeiras línguas


Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d1/Africae_tabula_nov
a.jpg/1200px-Africae_tabula_nova.jpg

No relativo isolamento (acidental) entre uma tribo e outra do deserto do


Saara, nossos modos de falar teriam derivado para direções variadas. Assim,
um dos principais atributos da linguagem é a “colaboração no processo
comunicativo e interativo entre indivíduos em sociedade” (KALANTZIS; COPE;
PINHEIRO, 2020, p. 36), que lhes é ensinado desde que nascem por meio de
um conjunto de convenções socialmente compartilhadas que permitem a
compreensão entre si.

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Importante

Ao nascer o bebê recebe um nome e socialmente é conhecido como tal, o nome


é um símbolo, então o ser humano nasce nessa cadeia simbólica ou universo
simbólico que diz respeito à linguagem, literalmente o sujeito se constitui por
meio da linguagem.

Depois de um olhar poético para a constituição do sujeito, vejamos que


por meio de uma linha do tempo é possível observar como foi a trajetória das
primeiras línguas até a inserção das comunicações multimodais.

Linha do tempo de sistema de significação


Fonte: elaborado pelo autor (2021).

Embora muito antigas, é possível ter um vislumbre do caráter das


primeiras línguas, porque elas ainda são faladas por povos indígenas em todo o
mundo. Por exemplo, entre os milhares de falantes da língua yolnu matha, uma
primeira língua do nordeste da Austrália, muitos falam de formas de língua
diferentes: língua infantil, língua adulta, língua das mulheres, língua sagrada dos
anciãos e os dialetos de diferentes clãs ou grupos de família. Caro aluno(a),
adicione a essa complexidade o fato de que a mesma palavra pode ser usada
para significar um totem (animal sagrado), um lugar e uma pessoa viva, porque
as pessoas podem nomear um lugar de formas diferentes, tudo dependerá das
relações de propriedade e pertencimento com esse lugar.

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Nossa espécie humana espalhou pelo mundo algo em torno de 10 mil
sistemas de símbolos, como resultado temos uma diversidade linguística muito
ampla e profunda, tendo em vista as peculiaridades dialetais de diferentes
ordens. Ainda hoje existem cerca de 7 mil línguas no mundo, mas com o
surgimento da cultura da escrita este número declinou. Segundo o Censo 2010
do IBGE, no Brasil, foram identificadas apenas 274 línguas indígenas faladas por
indivíduos de 305 etnias distintas. Dos indígenas com cinco anos ou mais de
idade, 37,5% falavam uma língua indígena e 76,9% falavam português.
Um exemplo é a língua tupi, que era falada por povos tupi-guarani que
habitavam a maior parte do litoral no começo da colonização do Brasil. O tupi
chegou a ser a língua mais usada no território brasileiro até meados do século
XVIII. Atualmente, sua forma “original” não existe mais, apenas uma variante do
tupi, nheengatu (“fala boa”, em tupi) e é ainda falada por cerca de 30 mil
indígenas e caboclos na região da Amazônia. A seguir analise o gráfico sobre os
falantes da língua tupi e depois assista ao vídeo sobre o nheengatu.

Distribuição percentual das pessoas indígenas de cinco anos


ou mais de idade que falavam a língua indígena
Fonte: https://www.ibge.gov.br/arquivo/noticias/images/2360_3481_113920_356480.gif

21
Mídias

Veja: “Nheengatu: o tupi moderno”. Acesse o link:


https://www.youtube.com/watch?v=L73GUWZS8NM

2.2 Primeiras línguas: comunicações multimodais e primeira globalização

Aluno(a), com o auxílio de uma linha do tempo, você descobriu as


primeiras línguas e a diversidade linguística, aprendeu que a língua tupi era a
mais falada, visitou o “Nheengatu” e notou que há um dinamismo e que as
línguas eram flexíveis e mutáveis.
Segundo KALANTZIS; COPE e PINHEIRO (2020), no decorrer do século
XX, linguistas e historiadores tentaram descrever as características da
comunicação humana antes da escrita, porém o fizeram em termos da ausência
de escrita nas suas formas modernas. Analisaremos, na tabela adiante, estes
registros das primeiras línguas à escrita. Depois, convido você a ler uma matéria
sobre as línguas e os dialetos falados pelos povos indígenas no Brasil.

Das primeiras línguas à escrita


Primeiras línguas Línguas escritas

Populações pequenas. Populações muito maiores falando uma


única língua, deslocando pequenas
línguas.

Muitas diferenças entre as Fortes relações familiares entre as


línguas, mesmo entre aquelas línguas, tais como entre os grupos de
mais próximas. línguas indo-europeias e os de língua
chinesa.

Diferenças internas Pressões para o monolinguismo,


consideráveis: por idade, gênero aprendizagem de línguas faladas por um
ou clã, por exemplo. número de falantes.

Grande presença de Dependência de significados consistentes


multilinguismo e de línguas e estáveis para que estrangeiros, até
francas ou línguas de mesmo os mais distantes, possam
comunicação compartilhada.

22
entender os falantes de uma determinada
língua.

Significado que estão mudando Significados escritos recebem maior


todo o tempo em função de prestígio do que outros modos de
línguas dinâmicas. significado.

Significados multimodais que Tendência ao grafocentrismo


usam língua escrita, imagem, (comunicação centrada na escrita).
gesto, tato e espacialidade.
Fonte: KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 41

Saiba mais

Veja: Línguas e dialetos falados pelos povos indígenas no Brasil. Acesse o


link: https://pib.socioambiental.org/pt/L%C3%ADnguas

2.3 Começando a escrever: uma segunda globalização

A segunda globalização é marcada pela escrita. Algumas línguas eram


registradas graficamente com símbolos alfabéticos e outras com símbolos
baseados em caracteres.
Aluno(a), saiba que a escrita emergiu em quatro lugares distintos do
planeta: na Mesopotâmia, há cerca de cinco mil anos e, mais tarde, na Índia, na
China e na América Central. Nós não sabemos se houve alguma conexão direta
entre esses quatro lugares, embora a escrita tenha surgido em momentos de
assentamentos urbanos apoiados pela agricultura. “Nós, povos das sociedades
modernas, chamamos essa era de “o começo da história” ou “o alvorecer da
civilização” (KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020, p. 41).
Para ilustrar a segunda globalização veremos um ritual comunicativo
multimodal: uma festa de atuxuá (um espírito), realizada pelos indígenas
Mehinaku, de origem Aruak, que habitam a região do Alto Xingu, Brasil. Nesse
ritual são usadas máscaras que representam espíritos xamânicos da cultura
indígena Mehinaku.

23
Ritual comunicativo multimodal
Fonte: KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 41

O longo período anterior, antes do advento da escrita, foi classificado


como “Pré-História” e seus habitantes, como povos “não civilizados”. Agora
assista ao vídeo A construção da escrita – Parte 1, Módulo I do Programa de
Formação de Professores Alfabetizadores, realizado pelo MEC em 2001. Nesta
primeira parte, você conhecerá os diversos sistemas de escrita criados pela
humanidade ao longo de sua história e vai perceber que o sistema alfabético que
usamos é apenas um dos sistemas possíveis.

Mídias

Veja: A construção da escrita – Parte 1. Documentário do MEC –SEB/Seed.


Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=oXoGEHyGQzY&feature=you
tu.be

É importante salientarmos que a segunda globalização trouxe


desigualdades: a agricultura possibilitou o acúmulo de riquezas e usou
excedentes para projetos não mais ligados apenas às necessidades básicas do
cotidiano. Nesse sentido, a escrita foi usada desde o início como um instrumento
de controle elitista, como um meio para manter registros de propriedades, que

24
poderiam ser tributadas ou alugadas, como um instrumento de governos
burocráticos e como forma de redigir textos relacionados à lei ou à religião, que
contribuíram para legitimar o status quo de ordem social desigual e
escravocrata.

Vocabulário

Status Quo: ou statu quo é uma expressão do latim, que significa “estado atual”.
O status quo está relacionado ao estado dos fatos, das situações e das coisas,
independente do momento. O termo status quo é geralmente acompanhado por
outras palavras como manter, defender, mudar etc. Neste sentido, quando se diz
que “devemos manter o status quo”, significa que a intenção é manter o atual
cenário, situação ou condição, por exemplo.
Fonte: https://www.significados.com.br/status-quo/

A propagação da segunda globalização se deu em virtude do


deslocamento em massa das línguas da primeira globalização, que ocorreu com
línguas indo-europeias, na Europa e na Índia Central, com as línguas chinesas
e suas derivadas, no leste da Ásia. As línguas dos agricultores deslocaram
muitas das línguas faladas na primeira globalização, o que alicerçou a
supremacia da escrita. O imperialismo moderno apenas acelerou esse processo
por meio do qual países poderosos conquistaram grandes partes do mundo e
espalharam suas línguas, com destaque para os impérios chinês, árabe,
espanhol, português e inglês.
O surgimento da escrita impactou os modos como os seres humanos
viviam e pensavam, pois, durante a maior parte de sua existência, a escrita foi
uma maneira de manter a propriedade e a riqueza. Nesse sentido funcional, por
exemplo, os quipus, feitos da união de cordões, eram utilizados por governantes
incas como uma forma de armazenar informação e como um sistema de escrita,
não apenas para registro de histórias, cantos e contagem de rebanhos e
pessoas, mas também para falar sobre poder autoritário, redistribuição de
riqueza e conformismo religioso. Assim, a escrita se tornou útil não somente para
expansão de uma “educação coletiva”, mas também para institucionalização e

25
manutenção da desigualdade, pois seu surgimento foi, de certa forma, um sinal
do fim dos modos de vida relativamente igualitários dos primeiros povos.
Podemos pensar que uma nova fase começou com a história da escrita
a partir da invenção da imprensa, por Gutenberg, em 1450, com isso a leitura e
a escrita se tornaram uma forma de registrar e ordenar o mundo. A escrita torna-
se:

[...] um modo de significação e as culturas letradas tendem a separar


os modos de significação. O letramento moderno separa a palavra
escrita da imagem, do gesto e do som. Isso resulta em parte da própria
maneira com que produzimos cada modo de comunicação: a
separação entre imagem e fonte na composição e na impressão
tipográfica, assim como a separação entre o oral e outros modos
relacionados ao áudio presentes em tecnologia posteriores, como o
telefone e o rádio (KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 46).

Importante

A escrita se tornou útil para a expansão de uma educação coletiva e para a


criação da desigualdade, pois os modos de vida eram igualitários. O domínio da
leitura e da escrita tornou-se uma chave para entrar nos novos mundos.

2.4 Novas mídias e novos letramentos: a terceira globalização

E, por fim, chegamos ao novo mundo: a terceira globalização, marcada


por transformações na maneira como nos comunicamos, fruto de mudanças nas
tecnologias de comunicação, na relação entre a escrita e outros modos de
construção de significado, nas maneiras pelas quais as diferenças linguísticas
são negociadas e na acessibilidade crescente a novos meios de comunicação.
Da fotografia, passamos à impressão litográfica, ao cinema, à televisão
analógica, que aproximaram mais imagens e textos escritos. Contudo, o ritmo de
mudança se acelerou com a aplicação generalizada das tecnologias digitais para
a construção e a comunicação de significados no final do século XX e o início do
século XXI.
Depois de cinco milênios, em que a palavra escrita foi se constituindo
em fonte de poder em muitas sociedades, então, em meio milênio, esse poder
foi multiplicado pela imprensa. Colmas enfatiza que “o domínio da língua escrita,

26
mais que uma mera habilidade técnica, sempre foi e continua sendo um
marcador de distinção social” e completa “na era industrial, contudo, trouxe
exigências de regulação, conformidade e padronização mais restritas,
transformando a língua escrita em um bem público” (COLMAS, 2014, p. 134).
Segundo Kalantzis, Cope e Pinheiro:

[...] as línguas sociais de subculturas, culturas underground, culturas


juvenis, comunidades diaspóricas de falantes de segunda língua e
comunidades que falam dialetos locais e regionais estão se tornando
cada vez mais diferentes entre si. Todas essas formas de falar inglês
são transmitidas por um número aparentemente interminável de canais
de televisão, rádio, comunidades de web e por meio das próprias
interações pessoais, retratando novas lógicas de identidade e de
pertencimento e desafiando cada vez mais os esforços de
homogeneizadores do Estado-nação. Estamos, com isso, retornando
a uma lógica profunda de divergência e diversidade linguística, social
e cultural (KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020, p. 48).

Aluno, cá estamos nós, cinco mil anos após a invenção da escrita,


refletindo sobre todas estas divergências e diversidades que estamos vivendo.
Podemos ter uma única certeza: aprender com as formas de construção de
significado incorporadas às primeiras línguas e suas culturas de representação
e comunicação. Para pensarmos sobre todas estas questões, sugiro a leitura do
livro Cultura de convergência de Henry Jenkins, publicado pela Editora Aleph.

Saiba mais
Veja: Cultura de Convergência, segue o link para a leitura da introdução do
livro. http://www2.eca.usp.br/Ciencias.Linguagem/L3JenkinsConvergencia.pdf

Conclusão da aula 2

Aluno(a), ao final desta segunda aula, com o auxílio de uma linha do


tempo, você descobriu as primeiras línguas e a diversidade linguística, aprendeu
que a língua tupi era a mais falada, visitou o Nheengatu e notou que há um
dinamismo e que as línguas eram flexíveis e mutáveis. Também refletiu sobre o
surgimento da escrita que impactou os modos como os seres humanos viviam e
pensavam, pois, durante a maior parte de sua existência, a escrita foi uma

27
maneira de manter a propriedade e a riqueza. E, por fim, descobriu que a terceira
globalização é fruto de mudanças nas tecnologias de comunicação e na relação
entre a escrita e outros modos de construção de significado.

Atividade de Aprendizagem

Conceitualizar com teoria: pesquise e reflita sobre os conceitos de


“padronização”, “homogeneização”, “nacionalismo” e “assimilação”. Combine
essas palavras na elaboração de uma teoria a respeito da forma como as
sociedades modernas anteriores exerceram seu poder.

Aula 3 – Historicidade da escola na aula de linguagem

Apresentação da aula 3

Olá, aluno(a). Nesta terceira aula exploraremos as mudanças sociais


contemporâneas, incluindo os propósitos dos letramentos na vida cotidiana. Para
isso vamos propor uma linha do tempo que apresente a historicidade da escola
na aula de linguagem, porque historicamente a escola foi tida como um lugar que
prepara para o mercado de trabalho, principalmente na Revolução Industrial. As
aulas de Língua Portuguesa tinham como foco principal alfabetizar e letrar as
pessoas, o mais rápido possível, para lidar com as máquinas, por isso a escola
surge como cenário para o mercado de trabalho. Desta forma contrapõe com os
estudos dos novos letramentos, porque esses estudos ampliam a nossa visão
de mundo e em todos os campos da vida social e não somente a competência
de ler e escrever.

3.1 A disciplina de Língua Portuguesa na escola

A retomada da história da disciplina de Português se faz importante para


compreender o atual estatuto da disciplina hoje. Nesta seção vamos abordar de

28
que forma a disciplina curricular surgiu e como a escola, tida como uma
instituição de saberes, criou o espaço de ensino e o tempo de aprendizagem.
Segundo Magda Soares (2004), a diferença entre o aprendizado
corporativo medieval e o escolar se difundiu no mundo ocidental a partir do
século XVI. Com a invenção de um espaço de ensino, houve a necessidade de
criação de um tempo de ensino: “uma vez que os alunos encerrados em um
grande espaço, a ideia de sistematizar o seu tempo iria se desenvolver”
(PETITAT, 1992, p. 144). Essa forma de sistematizar o tempo criou uma
organização e um planejamento de atividades, como também ampliou o
conhecimento a ser ensinado e aprendido. Desta forma, surgem “graus
escolares, as séries, as classes, o curriculum, as matérias e disciplinas, os
programas” (SOARES, 2004, p. 156), tudo que hoje constitui a escola.
Para efetivar todo esse processo de criação se fez necessário, segundo
ainda Petitat (1992), “uma nova estrutura de poder”: essa nova estrutura de
poder se organiza em “hierarquias burocráticas, que substituem as estruturas
corporativas tradicionais” (p. 144). A professora Soares (2004) completa: “no
quadro dessa instituição burocrática que é a escola, também o conhecimento é
burocratizado” (p. 156), porque há uma seleção de conteúdos por área e depois
uma ordenação e sequenciação desses conteúdos, assim são instituídos os
saberes escolares.
Essa perspectiva histórica nos revela o surgimento de cada disciplina
escolar, como também suas transformações ao longo do tempo. Hoje, nós
conhecemos e estamos familiarizados com a presença da disciplina de “Língua
Portuguesa” ou “Português” nas escolas, mas a inclusão desta disciplina foi no
século XIX, já no fim do Império.
Soares (2004) nos explica que a língua portuguesa não tinha tanto
destaque porque na época do império prevalecia: o português trazido pelo
colonizador, a língua geral (recobria as línguas indígenas faladas no território
brasileiro) e o latim, pois nele se fundava todo o ensino secundário e superior
dos jesuítas. No convívio social cotidiano, por imposição das necessidades de
comunicação entre os portugueses e os indígenas prevalecia a língua geral. O
português, embora fosse a língua oficial, tinha, como língua falada, “caráter de
insularidade nos centros urbanos emergentes” (HOUAISS, 1985, p. 49): com a
língua geral – os jesuítas escreveram as peças dramáticas para a catequese, os

29
bandeirantes se comunicavam e era a primeira língua com que as crianças, filhos
de colonizadores e indígenas, tinham contato. Somente os meninos (os poucos
privilegiados que se escolarizavam) iam à escola para ler e escrever em
português, “este não era, pois, componente curricular, mas apenas instrumento
para a alfabetização” (SOARES, 2004, p. 158).
Essa “alfabetização” ocorreu até a metade do século XVIII quando
aconteceu a Reforma de Estudos implantada em Portugal pelo Marquês de
Pombal. Essa implantação no ensino de Portugal e suas colônias nos anos 1750
do século XVIII, tornou obrigatório o uso da língua portuguesa no Brasil, assim
se justificando:

Sempre foi máxima inalteravelmente praticada em todas as nações que


conquistaram novos domínios, introduzir lodo nos povos conquistados
o seu próprio idioma, por ser indispensável, que este é um meio dos
mais eficazes para desterrar dos povos rústicos a barbaridade dos
seus antigos costumes e ter mostrado a experiência que, ao mesmo
passo que se introduz neles o uso da língua do Príncipe, que os
conquistou, e lhes radica também o afeto, a veneração e a obediência
ao mesmo Príncipe (SOARES, 2004, p. 159).

Assim, as medidas impostas pelo Marquês de Pombal contribuíram para


a consolidação da língua portuguesa no Brasil e “para sua inclusão e valorização
da escola” (SOARES, 2004, p. 160). A reforma pombalina introduziu o estudo da
gramática portuguesa, que passou a ser componente curricular, ao lado da
gramática latina, que manteve sua posição de “componente curricular”, como
também a retórica se manteve no sistema educacional.

Saiba mais

Para saber um pouco mais sobre a Reforma Pombalina, leia o texto disponível
neste link: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/reformas-pombalinas.ht
m

Aos poucos, o latim perdeu seu uso e o valor social e a gramática


portuguesa ganhou um destaque e uma autonomia. Já em 1808, a Impressão
Régia no Rio de Janeiro cria condições para a edição de obras de autores
brasileiros e logo surgiram as várias gramáticas, como também a língua

30
começou a ser vista pelos estudiosos, como um sistema, uma área do
conhecimento. Também é importante ressaltar que a retórica persistiu como
componente curricular porque inicialmente a retórica tinha preceitos relativos “à
arte de falar bem, à arte de elaboração dos discursos, à arte da elocução”
(SOARES, 2004, p. 163), incluía também a poética e o estudo da poesia, das
regras de métrica e versificação, dos gêneros literários, da avaliação da obra
literária, tudo que hoje chamaríamos de literatura. Mais tarde, a poética
desprendeu-se da retórica e tornou-se componente curricular independente.
Segundo Soares (2004), a retórica, a poética e a gramática compunham
o ensino da língua portuguesa até o fim do Império, só, então, foram unificadas
em uma única disciplina que passou a se chamar Português.

Curiosidade

Interessante é o fato, de que só em 1871, foi criado no país, por decreto imperial,
o cargo de “professor de português”; segundo Pfromm Neto et al (1974, p. 191),
“vários estudiosos apontam esse decreto como o marco inicial do ensino oficial
da língua vernácula”.

Assim, na disciplina de português, nesse período, continuou a estudar a


gramática da língua portuguesa e analisar textos de autores consagrados, não
incluindo, nada além deles (nem comentários ou explicações, nem exercícios ou
questionários), o que evidencia a concepção de professor da disciplina
português que se tinha à época: “aquele a quem bastava que o manual didático
lhe fornecesse o texto, cabendo a ele, e a ele só, comentá-lo, discuti-lo, analisa-
lo, e propor questões e exercícios aos alunos” (SOARES, 2004, p. 166). Vamos
lembrar que o professor, nesta época, não tinha formação do professor (as
faculdades de filosofia surgem apenas nos anos 1930); “o professor de
português era, quase sempre, um estudioso da língua e de sua literatura que se
dedicava também ao ensino” (SOARES, 2004, p. 166).
É a partir dos anos 1950 que começa a ocorrer uma modificação no
conteúdo da disciplina de Português, em primeiro lugar o alunado, porque as
camadas populares e os filhos dos trabalhadores reivindicavam o direto à

31
escolarização e, com isso, houve uma multiplicação de alunos. E em segundo
lugar, ocorreu um recrutamento de mais professores para atender toda essa
demanda.
Soares (2004) afirma que as condições escolares e pedagógicas, as
necessidades e exigências culturais impulsionaram mudanças significativas,
assim ou se estuda a gramática a partir do texto ou se estuda o texto com os
instrumentos que a gramática oferece.
Além disso, os manuais didáticos passam a incluir exercícios de
vocabulário, de interpretação, de redação e de gramática. Então, o professor não
é mais responsável pela tarefa de formular os exercícios, passou a ser do autor
do livro didático essa responsabilidade e com isso se intensifica o processo de
“depreciação da função docente: a necessidade de recrutamento mais amplo
para atender a demanda vai conduzindo a um rebaixamento salarial e,
consequentemente, a precárias condições de trabalho” (SOARES, 2004, p. 167).
Fazendo um contraponto com a nossa vivência no período da pandemia
por coronavírus/Covid-19, a sociedade foi impactada pelas consequências da
pandemia, as pessoas ficaram isoladas em casa e o ensino presencial foi
adaptado para um remoto emergencial e o docente “passou a exercer funções
diluídas em diversos atores da EaD, como: tutor, editor, câmera man, professor
conteudista etc.” (VENANCIO SOUSA; INTIPE, 2022, s/p). A sociedade de modo
geral começou a promover “discursos depreciativos em relação à identidade e à
atuação do professor [...], questionando as aulas e culpando o professor pela
ineficácia da aprendizagem, julgando a falta de domínio de técnicas de
aplicativos e plataformas digitais” (VENANCIO SOUSA; INTIPE, 2022, s/p). Em
qualquer contexto, pandêmico ou no período da década 1950, é possível
observamos uma depreciação do trabalho docente.

Reflita

Geraldi (2010) ressalta que, ao longo da história, a identidade docente foi sendo
alterada para atender às mudanças tecnológicas e às demandas sociais. Desse
modo, reflita: qual é o real papel do professor no cenário escolar?

32
Depois dessa reflexão, vamos seguir com a nossa linha do tempo para
pensarmos sobre todas as mudanças contínuas da disciplina de Português.
Nos anos 1970, em decorrência da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (Lei n.º 5692/71), reformulou-se o ensino primário e médio, segundo
os objetivos e a ideologia do regime militar. Soares (2004) esclarece que a
denominação da disciplina foi alterada: “não mais português, mas comunicação
e expressão, séries iniciais do então criado 1.º grau, e comunicação em língua
portuguesa, nas séries finais desse grau; e no 2.º grau, que passou a ser Língua
portuguesa e literatura brasileira” (p. 169).
Com essa mudança de caráter político e ideológico, surge na década de
1970 a análise da língua, transposta da área dos meios eletrônicos de
comunicação, a teoria da comunicação. “A concepção da língua como sistema
prevalece no ensino da gramática e, posteriormente, no estudo do texto, são
substituídas pela concepção da língua como comunicação” (SOARES, 2004, p.
169), ou seja, já não se trata mais de estudo sobre a língua ou de estudo da
língua, mas de desenvolvimento do uso da língua.
Por isso, os materiais didáticos minimizam a gramática e os textos são
escolhidos por critérios de intensidade de sua presença nas práticas sociais:
textos de jornais e revistas, histórias em quadrinho, publicidade e humor passam
a conviver com os textos literários, afirma Soares (2004). Com essas mudanças
amplia-se o conceito de leitura: “não só a recepção e interpretação do texto
verbal, mas também do texto não-verbal” (SOARES, 2004, p. 170).
Por volta da década de 1980 (época da redemocratização do país), as
ciências linguísticas começam a chegar ao campo do ensino da língua materna
fazendo mudanças significativas na disciplina de Português. E são várias as
interferências delas na disciplina de Português, todas ainda em curso. Segundo
Soares (2004), a sociolinguística alertou a escola para as diferenças entre as
variedades linguísticas efetivamente faladas pelos alunos e a variedade de
prestígio, o “padrão culto”. Em segundo lugar, a linguística desenvolveu estudos
de descrição da língua portuguesa e em terceiro lugar, a linguística textual vem
ampliar essa nova concepção da função e natureza da gramática para fins
didáticos.
Visto que todas essas contribuições, como também a pragmática, teoria
da enunciação e a análise do discurso veem a língua como enunciação e não

33
apenas como comunicação, incluindo as relações da língua com aqueles que a
utilizam, com o contexto e as condições sociais e históricas de sua utilização.
Soares (2004) sugere refletirmos sobre os parâmetros curriculares para a
disciplina de Português, a reformulação dos cursos de formação de professores
desta disciplina e a avalição dos livros didáticos.
Na próxima seção, iremos refletir sobre o mercado de trabalho. Este é um
exemplo de letramento, porque trabalhar faz parte das nossas relações sociais
humanas, mas não é o foco de ensino das escolas.

3.2 Sociedade do conhecimento

Atualmente é comum argumentar que nossos sistemas educacionais não


estão voltados para as necessidades de uma economia em sociedade em
rápidas mudanças e que talvez as pessoas não estejam preparadas e nem
apresentam as habilidades consideradas essenciais à sociedade global e
competitiva contemporânea. Não há dúvida de que ler e escrever continuam
sendo as habilidades mais importantes para as relações sociais contemporâneas
e pós-modernas, no entanto, o que o mercado moderno quer são trabalhadores
que sejam capazes de ter pensamentos críticos, de trabalhar colaborativamente
e de influenciar colegas. No quadro a seguir, analisaremos os trabalhadores da
era industrial e da era do conhecimento.

Trabalhadores na era industrial e do conhecimento

Trabalhadores na era industrial Trabalhadores na era do conhecimento

➢ Bem disciplinados e ➢ Capazes de assumir


confiáveis; responsabilidades.
➢ Capazes de entender e ➢ Capazes de resolver problemas e
receber ordens; inovar.
➢ Apresentam níveis básicos de ➢ Capazes de trabalhar e influenciar
letramento e numeramento. colegas.
➢ Capazes de acessar informações,
conforme necessário e se comunicar

34
efetivamente em uma variedade de
ambientes (profissionais, técnicos,
culturais e sociais).
Fonte: KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 53.

Esses trabalhadores na era do conhecimento seriam ágeis e adaptáveis,


curiosos e imaginativos, empreendedores tomariam iniciativas, saberiam
acessar e analisar informações e teriam habilidades efetivas em comunicação
oral e escrita.
Essa forma de exemplo de letramento aponta para o surgimento da
chamada “sociedade do conhecimento”, tendo como um de seus aspectos
fundamentais a crescente economia dada aos sistemas de conhecimento,
acessados por meio de espaços de leitura e escrita de dispositivos digitais. Toda
essa interface exige letramentos multimodais e moldam quase todos os aspectos
de produção de bens e serviços, como: a marca, a reputação e o design do
produto, a qualidade do serviço, a fidelidade do cliente, os sistemas de negócio,
a criação de propriedade intelectual, o uso da tecnologia e o gerenciamento de
recursos humanos. O resultado geral dessas mudanças é chamado de
“sociedade de informação”.
Com uma nova forma de trabalho vem uma nova linguagem, resultado de
novas tecnologias, cada vez mais multimodais e digitais de interação e, até
mesmo, de controle de máquinas de trabalho. Por isso, as exigências
comunicacionais sobre os trabalhadores são impulsionadas por novas relações
sociais de trabalho. Kalantzis, Cope e Pinheiro (2020) refletem sobre as
realidades econômicas sociais,

[...] o trabalho em equipe, o senso de “visão” e de “missão” e o


sentimento de pertencimento à cultura corporativa podem, na verdade,
fazer com que as pessoas trabalhem mais e se tornem menos críticas.
Nesse sentido, sob sua superfície aparentemente mais agradável,
opera o discurso atual que prioriza o autoempreendorismo, em que as
velhas hierarquias persistem, e, com elas, suas vastas disparidades de
poder e riqueza, o que, de fato, vem intensificando as desigualdades
no mundo do trabalho (KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 56).

Para combater isso, nossa pedagogia de letramento tem que dar um


passo adiante e ajudar a promover uma compreensão crítica dos discursos do

35
trabalho e do poder. Para tanto, precisamos considerar os tipos de aprendizagem
e de letramentos que alimentem mais produtividade e as condições de trabalho
mais igualitárias. Na próxima seção abordaremos questões relacionadas com os
novos letramentos.

Saiba mais

Para contribuir com as discussões sobre trabalhadores na era do conhecimento,


sugiro a leitura o texto: Na era das máquinas, o emprego é de quem?
Estimação da probabilidade de automação de ocupações no Brasil –
Instituto de Pesquisa Aplicada – IPEA 2019.
Acesse: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9930/1/bmt_66_NT_era_das_ma
quinas.pdf
Outra sugestão é o livro do Ricardo Antunes: O privilégio da servidão.

3.3 Novos letramentos para a vida comunitária contemporânea

Vivemos em um ambiente onde as diferenças culturais estão se tornando


cada vez mais significativas. Gênero, etnia, geração e orientação sexual são
apenas alguns dos marcadores dessas diferenças, que, entre outros fatores,
estão relacionados a diferenças quanto ao local de nascimento, à aparência ou
à circunstância socioeconômica, constituindo elementos de desigualdade
histórica e de padrões de discriminação. O mundo da vida cotidiana é, portanto,
“o fundamento de nossa existência, a experiência já aprendida, e continuamente
aprendida, da vida cotidiana, o local de nossa subjetividade e identidade e a fonte
de nossa motivação. É intuitivo, instintivo e profundamente sentido”
(KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 352).
É esse conhecimento do mundo de vida cotidiana que os alunos trazem
para o ambiente de aprendizagem, constituindo-se em pano de fundo para seu
próprio aprendizado, os tipos de aprendizes que se tornaram da influência de
sua família, da comunidade local, de seus amigos, colegas e das partes
específicas da cultura popular ou local com a qual se identificam. É um lugar
onde as compreensões e ações cotidianas dos alunos parecem funcionar, de tal

36
modo, que sua participação ativa é quase instintiva, algo que requer pouco
pensamento consciente ou reflexivo, algo que os moldou, de que gostam e/ou
não gostam de maneira não reflexiva; é, em última instância, aquilo que eles e
as identidades carregam consigo para todos os outros contextos.
Narrativa, personalidade, afinidade e orientação são os principais
atributos do mundo da vida cotidiana. O uso dessas categorias para explorar as
diferenças dos alunos se concentra nas especificidades da experiência de vida
de cada pessoa em particular. Você traz consigo um repertório linguístico cultural
de significado em vários modos e pode contribuir muito para este processo de
ensino-aprendizagem.
Desta forma, aluno(a), é tão importante, quando pensarmos em
educação, direcionarmos o nosso olhar para as abordagens dos novos
letramentos, porque você não é mais receptor passivo da cultura de massa e,
sim, criador ativo de informação, quer ver: você em vez de apenas assistir a
vídeos, pode filmar e editar seu próprio vídeo em um dispositivo e transmiti-lo ao
mundo pela internet. Redes sociais, como Facebook, Twitter, Youtube e
Instagram, abrem novas formas de participar como criadores ativos de
informações, ao mesmo tempo que nos expõem cada vez mais às fake news, o
que faz você se reconstruir e se (re) apresentar para o mundo.
Esta nova abordagem de letramento, a pedagogia dos multiletramentos,
enxerga que o aluno pode negociar a alternância da sequência dos processos
de conhecimento ou seus modos preferidos de expressão de significado,
podendo, assim, começar com um tipo de atividade com o qual se sinta mais
confortável, porque alguns estudantes compreendem textos por meio de
palavras escritas, alguns em um diagrama, outros em uma demonstração
gestual e tátil, outros em uma explicação oral. Então precisamos nos afastar do
ensino do letramento da abordagem didática que tende a assumir que a língua
é apenas um conjunto de regras a serem apreendidas e nos debruçarmos para
compreender os avanços tecnológicos, de forma a reelaborar as práticas
educativas e reorganizar o espaço-tempo escolar de modo a responder às
demandas contemporâneas.
Cabe à escola potencializar o diálogo multicultural, trazendo para dentro
de seus muros não somente a cultura valorizada, dominante, mas também as
culturas locais e populares e a cultura de massa, para torná-las vozes de um

37
diálogo. É importante ressaltar que não é uma tarefa fácil, como discutiremos
nos próximos capítulos.

Importante

Ao pensarmos em educação, direcionaremos o nosso olhar para as abordagens


dos novos letramentos, porque os alunos não são mais receptores passivos da
cultura de massa e, sim, criadores ativos de informação.

Conclusão da aula 3

Chegamos ao final de mais uma aula. Aprendemos, com o auxílio de uma


linha do tempo, a historicidade da escola na aula de linguagem. As aulas de
Língua Portuguesa tinham como foco principal alfabetizar e letrar as pessoas, o
mais rápido possível, para lidar com as máquinas, por isso a escola surge como
cenário para o mercado de trabalho. Desta forma contrapõe com os estudos dos
novos letramentos, porque esses estudos ampliam a nossa visão de mundo, e
em todos os campos da vida social e não somente a competência de ler e
escrever.
Também refletimos sobre o surgimento de uma “economia do
conhecimento” que proporciona aos trabalhadores navegar por uma variedade
de modos de comunicação em ambientes de trabalho e em interações com seus
clientes, fazendo uso de um leque multimodal de meios de comunicação. E na
vida comunitária, como as mídias posicionam os usuários em um papel mais
participativo, se comparadas com a mídia de massa televisiva, do rádio ou da
revista impressa.

Atividade de Aprendizagem

Conceitualizar uma teoria


Veja os termos a seguir e use-os para refletir sobre a influência das mudanças
sociais em nossos ambientes comunicacionais nas últimas décadas.

38
Mensagens assíncronas: mensagens que não são comunicadas em tempo
real; são gravadas para outra pessoa receber em outro momento.
Cosmopolitanismo: ideologia e prática de valorizar as diferenças e lidar com
a diversidade.
Fordismo: o sistema de produção em série (linha de produção) e de gestão,
idealizado por Henry Ford no começo do século XX.
Hipertexto: um link de computador de um lugar em um determinado texto
digital para outro texto ou lugar nesse mesmo texto.

Aula 4 – Pedagogia dos letramentos

Apresentação da aula 4

Olá, aluno(a). Nesta quarta aula exploraremos as mudanças sociais


contemporâneas, incluindo a pedagogia dos letramentos. Iremos delinear o
conceito do termo letramento, das práticas sociais de leitura e escrita, como
também abordar a pluralização da palavra letramento (singular) para letramentos
(plural).

4.1 Conceito de letramento

“As novas tecnologias são consideradas as responsáveis pelos novos


letramentos e impulsionaram a renovação de gêneros na comunicação,
consumo e produção de textos” (KLEIMAN, 2016, p. 170). Aluno(a), isto significa
que as tecnologias, cada vez mais, vêm assumindo um lugar de destaque na
organização da cultura pós-moderna, produzindo não só mudanças nas formas
de interagir e produzir conhecimento, mas também nos modos de ler e escrever
nos diferentes espaço-tempos favorecidos pela cibercultura.

Vocabulário

Cibercultura: para W. Mitchell (Mitchell, 2003), o termo Cibercultura tem vários


sentidos, mas se pode entender como a forma sociocultural que advém de uma

39
relação de trocas entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base
micro-eletrônicas, surgidas na década de 1970, graças à convergência das
telecomunicações com a informática. A cibercultura é um termo utilizado na
definição dos agenciamentos sociais das comunidades no espaço eletrônico
virtual. Estas comunidades estão ampliando e popularizando a utilização da
Internet e outras tecnologias de comunicação, possibilitando, assim, maior
aproximação entre as pessoas de todo o mundo, seja por meio da construção
colaborativa, da multimodalidade e/ou da hipertextualidade.

Segundo Silveira, Rohling e Rodrigues (2012) utilizamos “letramentos (no


plural) para marcar a diversidade dos usos sociais da escrita (p. 76). Na última
década, precisamos de uma redefinição do termo letramento em virtude de duas
dimensões: a diversidade de sistemas semióticos e de modalidade de
comunicação e a diversidade linguístico cultural (KLEIMAN; SITO, 2016), ou
seja, as interações sociais, influenciadas pela expansão tecnológica, afetaram
os processos de produção de sentido.
Assim, aluno(a), perceba que houve a necessidade de um resgaste do
conceito de letramento com o intuito de melhor compreensão deste frente às
tecnologias digitais de leitura e escrita.
A ideia de que o espaço da escola deve contemplar diferentes linguagens
e mídias já estava presente nas discussões, conforme Fantin (2013), na LDB
9394/96 (BRASIL, 1996). Como também, a publicação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998), que vai colocar em relevo o
importante papel do texto nas aulas de Língua Portuguesa.
Esse documento, na base dos estudos do letramento (STREET, 1984),
traz para o ensino a ideia de que é necessário compreender o letramento, “como
produto da participação em práticas sociais que usam a escrita como sistema
simbólico e tecnológico” (BRASIL, 1998, p. 19).
É importante para que você saiba, aluno(a), que o conceito de letramento
surge no Brasil pela primeira vez em 1986, na obra de Mary Kato, no Mundo da
Escrita, segundo Rojo (2019). Etimologicamente, a palavra literacy vem do latim
littera (letra), com o sufixo – cy, que denota qualidade, condição, estado e fato
de ser. Literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e
escrever e envolve-se em práticas sociais dos usos da escrita.
A palavra surge para estabelecer um contraponto com o conceito de
“alfabetização”, que se caracteriza pela internalização dos aspectos inerentes ao

40
sistema alfabético, no aprendizado da escrita e leitura. Os estudos sobre o
letramento vão voltar o seu olhar para refletir e compreender como o aprendizado
da leitura e escrita tem consequências sociais sobre o indivíduo e altera seu
estado ou condição em aspectos sociais, culturais, políticos, cognitivos e/ou
linguísticos.
Do ponto de vista social, a introdução da escrita em um grupo, até então
ágrafo, tem sobre esse grupo efeitos. Letramento é, pois, o resultado da ação de
ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um
grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita
(SOARES, 1998).
Como já foi mencionado, o conceito de letramento começou a ser usado
nos meios acadêmicos como tentativa de separar os estudos sobre o “impacto
social na escrita” (KLEIMAN, 1991), dos estudos sobre a alfabetização, cujas
conotações escolares destacam as competências individuais no uso e na prática
da escrita. Rojo (2009, p. 98) lembra que “os vários sentidos da palavra literacy
em inglês (alfabetismo e letramento) têm um papel nessa aparente sinonímia”,
mas frisa a distinção entre os termos:

[...] o termo alfabetismo tem um foco individual, bastante ditado pelas


capacidades e competências (cognitivas e linguísticas) escolares e
valorizadas de leitura e escrita (letramentos escolares e acadêmicos),
numa perspectiva psicológica, enquanto o termo letramento busca
recobrir os usos e práticas sociais de linguagem que envolvem a escrita
de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados ou não
valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais diversos
(família, igreja, trabalho, mídias, escola etc.), numa perspectiva
sociológica, antropológica e sociocultural (ROJO, 2009, p. 98).

O fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual


ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente
os sujeitos no mundo da escrita.
Essas discussões que se avolumaram no Brasil a partir das reflexões e
das pesquisas de KLEIMAN (1995), TOUFONI (1995) e SOARES (1998), tiveram
origem na década de 1980, com pesquisadores como Street, Barton, Ivanic,
Hamilton e Gee, que se dedicaram a estudar as práticas sociais de leitura e
escrita mais amplas do que a codificação e decodificação (“alfabetização”),
ressaltando seus aspectos ideológicos. No próximo item, abordaremos as
questões sobre as práticas sociais de leitura e escrita.

41
4.2 Práticas sociais de leitura e escrita

A partir dos novos estudos do letramento (STREET, 1984, STREET, 2007,


GEE, 1999) as palavras alfabetismos e letramentos foram usadas como
sinônimos em textos e pesquisas da década de 1980, depois outros termos
passaram a ser utilizados. Street propunha uma divisão entre dois enfoques de
letramento nos estudos, para os quais ele escolheu as denominações de
enfoque autônomo e ideológico.
O modelo autônomo de letramento definido por Street estabelece
equivalência com o conceito de alfabetismo, referindo-se a um âmbito individual,
validado por habilidades e competências envolvidas nos atos de leitura ou de
escrita por indivíduos. A escrita seria um produto completo em si mesmo, que
não estaria preso ao contexto de produção para ser interpretado, este estaria
determinado pelo funcionamento lógico interno ao texto escrito, não dependendo
das reformulações estratégicas que caracterizam a oralidade, pois nela, em
função do interlocutor, mudam-se rumos e improvisa-se, enfim, utilizam-se
outros princípios que os regidos pela lógica, a racionalidade ou a consistência
interna, que acabam influenciando a forma da mensagem.
Outro modelo de letramento proposto é o modelo ideológico. Street
(1984; 1993) denomina o modelo de letramento ideológico para destacar
explicitamente o fato de que todas as práticas de letramento são aspectos não
apenas da cultura, mas também das estruturas de poder em uma sociedade.
Segundo Street,

Qualquer estudo etnográfico do letramento atestará, por implicação,


sua significância para diferenciações que são feitas com base no
poder, na autoridade, na classe social, a partir da interpretação desses
conceitos pelo pesquisador. Assim, já que todos os enfoques sobre o
letramento terão um viés desse tipo, faz mais sentido, do ponto de vista
da pesquisa acadêmica, admitir e revelar, de início, o sistema
ideológico utilizado, pois assim ele pode ser abertamente estudado,
contestado e refinado (1993, p.9).

42
Vocabulário

Modelo autônomo: nesse modelo de letramento a característica de “autonomia”


refere-se ao fato de que a escrita seria um produto completo de si mesmo, que
não estaria preso ao contexto de produção para ser interpretado.

Modelo ideológico: já, esse modelo de letramento, Street (1993) denomina o


modelo alternativo de letramento ideológico para destacar explicitamente o fato
de que todas as práticas de letramento são aspectos não apenas da cultura, mas
também das estruturas de poder em uma sociedade.

Na esteira de Street (1993), Rojo (2009) vai defender que o modelo de


letramento ideológico passa a significar letramento, considerando que

[...] busca recobrir os usos e práticas sociais de linguagem que


envolvem a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados
ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais
diversos, numa perspectiva sociológica, antropológica e sociocultural
(ROJO, 2009, p. 98)

De modo geral, é possível afirmar que o conceito de letramento no


contexto escolar se associou por mais tempo ao modelo autônomo, “um
processo neutro, independente de considerações contextuais e sociais”
(KLEIMAN, 2003, p. 44). Moita Lopes (1994) afirma que esse modelo autônomo
de letramento pode ser definido como uma ruptura entre linguagens e vida sócio-
histórica do sujeito, em que a primeira anula a segunda.
É também nesse contexto educacional que o termo letramento,
primeiramente será associado apenas à alfabetização e só depois associado às
práticas sociais de uso da leitura e da escrita (SOARES, 2015). A partir desses
estudos, verifica-se, nos anos conseguintes, o surgimento de uma variedade de
termos usados em relação ao letramento, tais como “eventos de letramento”,
“práticas de letramento” e “modelos de letramento”.

43
Momento de roda de leitura – Educação infantil
Fonte: https://www.unicef.org/brazil/sites/unicef.org.brazil/files/styles/two_column/public
/br_pei_liborio05.jpg?itok=p62PZY4a

Para ilustrar estas práticas de letramentos escolhemos estas crianças em


um momento de aprendizagem, em uma de roda de leitura. Todas essas
crianças estão inseridas em uma prática social e usam o sistema simbólico para
ler e interpretar as histórias e não somente decodificar símbolos. Assim, o
resultado da educação é transformação pessoal e social, não menos do que isso,
pois encontramos a vida como algo dado, vivenciamos momentos de descoberta
e surpresa e ganhamos energia a partir de reorganização e remodelação; então,
novas formas de conhecer e agir, horizontes expandidos e novas possibilidades.
E o educador Paulo Freire completa:

na medida em que possibilita uma leitura crítica da realidade, se


constitui como um importante instrumento de resgate da cidadania e
que reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que
lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social
(FREIRE, 1991, p.68).

Saiba mais

Sugiro a leitura do texto sobre alfabetização de Paulo Freire: Ler palavras e ler
o mundo.
Acesse o link: http://biblioteca.clacso.edu.ar/Brasil/ipf/20130619042331/Freire.pdf

44
A pedagogia dos letramentos críticos não se concentra nas habilidades
mecânicas ou em aprender fatos ou regras separadas de seu uso, como
acontece na pedagogia do letramento na abordagem tradicional. A pedagogia
crítica envolve os estudantes como atores sociais com que possam identificar
problemas e desafios atuais.

Educação transformadora – Paulo Freire


Fonte: http://biblioteca.clacso.edu.ar/Brasil/ipf/20130619042331/Freire.pdf

Nos anos subsequentes, houve uma ampliação do termo letramento, tais


como: letramento visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 1996); letramento eletrônico
(BUZATO, 2001); letramento metamidiático (LEMKE, 2010); letramento digital
(COSCARELLI, 2011); letramentos críticos (ROJO, 2009, 2012); letramentos
sociais (STREET, 2014); letramento literário (COSSON, 2016); multiletramentos
(NEW LONDON GROUP, 2000; COPE; KALANTZIS, 2000, 2009a; KALANTZIS;
COPE, 2008; ROJO, 2012, 2013).
Essa amplitude na expressão identifica a variação, no tempo e no espaço,
das diferentes tendências e relações de configuração das práticas de leitura e
de escrita nas sociedades letradas. A partir dessa capilarização do termo, é
importante ressaltar o caminho percorrido do conceito letramento (singular) para
letramentos (no plural).

45
4.3 Letramento aos letramentos

Segundo Magda Soares (2002), o espaço da escrita, na definição de


Bolter (1991), está relacionado a como a tecnologia da escrita define área física
e visual e condiciona as relações entre escritor e leitor, entre escritor e texto e
entre leitor e texto. No texto escrito, há limites que são controlados pelo autor e
leitor, permitindo releituras, retomadas, avanços, como também possibilitam as
leituras programadas (divisão do texto em partes e em capítulos) e lidas
linearmente.
Já na escrita na tela, segundo Lévy (1999, p. 56), “um texto móvel,
caleidoscópio, que apresenta suas facetas, gira, dobra-se e desdobra-se à
vontade frente ao leitor”. “O texto na tela, o hipertexto, é escrito e é lido de forma
multilinear e multi-sequencial, acionando-se links ou nós que vão trazendo telas
em uma multiplicidade de possibilidades, sem que haja uma ordem predefinida”.
(SOARES, 2002, p. 8).
Resumindo, a tela, como novo espaço de escrita, traz significativas
mudanças sociais, cognitivas e discursivas, nas formas de interação
texto/escritor/leitor, assim configurando “um letramento digital, isto é, uma certa
condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e
exercem práticas de leitura e de escrita na tela” (SOARES, 2002, p. 9).

Captura da tela do site do MEC – BNCC


Fonte: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/

46
Aluno(a) imagine como você poderia interagir com esta imagem na tela
de seu computador: uma das possibilidades era começar a ler pelas letras
maiores que enfatizam a nova proposta de ensino - BNCC ou se optasse poderia
navegar pelo espaço e desvendar os botões que estão dispostos em abas como,
início, a base, histórico e implementação. Também teria a oportunidade de clicar
na imagem e ser direcionado para um tour virtual para uma sala de
aprendizagem. Você observou que abre um leque de oportunidade para explorar
a tela e a sua leitura não terá uma linearidade e, sim, será seriada e multi-
sequencial.
Assim, Lévy (1999) cita que a cibercultura traz uma “mutação da relação
com o saber” (p. 157). Para este autor, “o ciberespaço suporta tecnologias
intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções
cognitivas humanas”. Desta forma, a tela como espaço de escrita e de leitura
traz não apenas “novas formas de acesso à informação, mas também novos
processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas maneiras de ler e
escrever, enfim, um novo letramento” (SOARES, 2002). Acrescenta Soares:

Atualmente, a cultura do texto eletrônico traz uma nova mudança no


conceito de letramento. Esta nova cultura do texto eletrônico traz de
volta característica da cultura do texto manuscrito: como o texto
manuscrito, e ao contrário do texto impresso, também o texto eletrônico
não é estável, não é monumental e é pouco controlado. Não é estável
porque, tal como os copistas e os leitores frequentemente interferiam
no texto, também os leitores de hipertextos podem interferir neles,
acrescentar, alterar, definir seus próprios caminhos de leitura; não é
monumental porque, como consequência de sua não-estabilidade, o
texto eletrônico é fugaz, impermanente e mutável: é pouco controlado
porque é grande de liberdade de produção de textos na tela e é quase
totalmente ausente o controle da qualidade e conveniência do que é
produzido e difundido.

No texto eletrônico, a distância entre autor e leitor se reduz, porque o leitor


se torna, ele também, autor, tendo liberdade para construir, ativa e
independentemente, a estrutura e o sentido do texto. Na verdade, o hipertexto é
construído pelo leitor no ato mesmo da leitura, optando por várias alternativas
propostas, é ele que define o texto, sua estrutura e o sentido.
A reflexão de Soares (2002, p. 155) sobre a escrita na tela sugere: que se
pluralize a palavra letramento e que “se reconheça que diferentes tecnologias de
escrita criam diferentes letramentos”.

47
Essa ideia de que era necessário considerar a palavra letramento
pluralizada para delinear os usos da escrita mudaram na contemporaneidade,
incluindo a hibridização de linguagens, que levou a redefinir esta palavra
acrescendo a ela um prefixo (multi)letramentos, em 2018 ela passa a constar na
BNCC para significar o trabalho com as multisemioses e com a multiplicidade de
culturas.

Dessa forma, a BNCC procura contemplar a cultura digital, diferentes


linguagens e diferentes letramentos, desde aqueles basicamente
lineares, com baixo nível de hipertextualidade, até aqueles que
envolvem a hipermídia. Da mesma maneira, imbricada à questão dos
multiletramentos, essa proposta considera, como uma de suas
premissas, a diversidade cultural. Sem aderir a um raciocínio
classificatório reducionista, que desconsidera as hibridizações,
apropriações e mesclas, é importante contemplar o cânone, o marginal,
o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura
digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir uma ampliação
de repertório e uma interação e trato com o diferente (BRASIL, 2018,
p. 70).

Antes de ser inserido na BNCC, demarcando a sua visão afirmativa das


tecnologias e das mídias, o termo multiletramento vinha ganhando espaço nas
pesquisas sobre letramento, sobretudo, aquelas realizadas pelo New London
Group (NGL). Este grupo, composto por pesquisadores da Inglaterra, Austrália
e Estados unidos, reuniu-se em 1996, com o objetivo de interrogar-se sobre dois
aspectos: “o contexto de nossa sociedade globalizada cultural e linguisticamente
diversa e crescente [..] a variedade crescente de formas de texto associadas às
tecnologias de informação e multimídia” (NEW LONDON GROUP, 1996, p. 61).
Para o NGL, portanto, o termo multi se relaciona à multiplicidade cultural e
multisemiótica. Assim, o NGL afirma que novos meios de comunicação estão
remodelando a maneira como usamos a linguagem.

Conclusão da aula 4

Aluno, chegamos ao final da quarta aula e refletimos sobre a pedagogia


do letramento, como também fizemos comentários da pedagogia crítica que lida
com a ideia de que os letramentos estão no plural, reconhecendo as múltiplas
vozes que os aprendizes trazem para a sala de aula. Também pudemos
perceber que o texto eletrônico traz mais dinamicidade para a leitura e o leitor

48
pode ter liberdade para construir, a partir do hipertexto, várias alternativas de
propostas.

Atividade de Aprendizagem

Reflita quais práticas de leitura são mobilizadas na escola, considerando o uso


das tecnologias digitais. O ambiente escolar contribui para tal abordagem?
Quais as dificuldades enfrentadas pelos professores?

Aula 5 – Pedagogia do multiletramento

Apresentação da aula 5

Olá, aluno(a). Nesta quinta aula exploraremos os letramentos como


design multimodais de significado. Abordaremos o conceito de multiletramento e
como as TDICs propiciam uma hibridização de modos e semioses. Nesse
contexto, novos letramentos emergem, centrados nas possibilidades dessas
novas tecnologias para a expressão híbrida e multimodal.

5.1 Sistema de significados e semiose

Os letramentos são processos de construção de significado, às vezes


chamados de “semiose” ou o processo de usar signo. O campo acadêmico de
estudo de sistemas de signo é o da semiótica, que se constitui de forma
multidisciplinar, traçando as conexões entre um significante (uma palavra, por
exemplo) e aquilo que significa (aquilo que se refere) e entre os significantes em
sistemas de signos (por exemplo, entre línguas).
Assim, em um sistema de signos, os significados que criamos entre os
significantes são projetados para corresponder às conexões entre as coisas que
estamos vivenciando. Nessa perspectiva, tanto os nossos significados
simbólicos quanto os nossos significados experienciados formam um sistema
coerente.

49
Ensinar e aprender em todas as áreas do conhecimento nos obrigam a
conhecer e compreender os processos distintos envolvidos na representação e
na comunicação.
A representação se inicia com o nosso interesse, algo que no momento
capturou nossa atenção ou para o qual direcionamos nosso foco mental. A
neurocientista Marianne Wolf, no livro O cérebro no mundo digital afirma que “a
atenção é central para cada função que realizamos e que formas múltiplas de
atenção são acionadas, antes mesmo que nossos olhos comecem a ver a
palavra” (WOLF, 2019, p. 33). E a palavra formada contém e ativa
momentaneamente um repositório inteiro de sentidos associados, memórias e
sentimentos, mesmo quando não fica determinado o sentido dentro de um
contexto.
Sugiro a você um exercício retirado do livro da Wolf (2019), leia o
microconto:

Vendem-se: sapatos de bebês nunca usados.

São apenas 6 palavras que conseguiu despertar em você uma infinidade


de significados. Percebemos com intuitiva certeza porque os sapatos nunca
foram usados. Antes da tomada de consciência, você terá visto com os olhos de
sua mente a imagem de um par de sapatinhos de bebê largados em um canto,
provavelmente com lacinhos vermelhos, a lenda do sapatinho vermelho é um
costume de origem cigana. Sendo assim, quando a mãe do bebê é presenteada
com um sapatinho de bebê nesta cor, quer dizer que poderá ter sorte, proteção,
saúde e felicidade.
Também pode ser que talvez a imagem que conseguirá ter acesso será
triste, porque acionou um repositório de sentidos que o ajudou a inferir todo um
roteiro por trás da informação superficial de venda. Ao mesmo tempo, as
interações com seu próprio conhecimento, imagens e processos inferenciais de
fundo ajudaram você a passar de sua própria perspectiva a perspectiva de
outros, com todo o emaranhado de emoções que isso possa ter acrescentado.

50
Segundo Wolf (2019), as imagens nos ajudam a adentrar as múltiplas
camadas de sentido que podem haver em um texto e por essa perspectiva, os
letramentos se constituem em ferramentas para construir esse significado para
nós mesmos, por meio do trabalho cognitivo de representação que fazemos com
nossas mentes, a matéria-prima do pensamento.

5.2 Conceito de multiletramento

Como vimos na seção anterior, a leitura de uma frase composta por 6


palavras pode acionar um repositório de sentidos e a cada prática letrada, em
seu contexto específico, tem seu próprio regime: seus participantes, suas
funções, sua linguagem, seu contexto e sua distribuição de poder.
Com o desenvolvimento dos meios e máquinas de produção e distribuição
de escrita, temos não só a alteração dos textos, como dos letramentos, mas
também a diluição da separação e das diferenças entre as diversas linguagens
e letramentos.
Assim, os textos/discursos produzidos, ao saírem dos escritos impressos
e passarem a contar com novas mídias, como meios de distribuição, circulação
e consumo, como a transmissão radiofônica ou fonográfica, as imagens
televisivas e cinematográficas e, posteriormente, maneiras de o receptor
consumidor registrar e reproduzir por sua conta e a seu gosto as mensagens:
como fitas K7, VHL, Cds e DVDs, em plena cultura das mídias, não somente os
meios, mas também as mensagens se alteraram, podendo, aos poucos, passar
a combinar múltiplas linguagens que não somente a oral e a escrita, mas também
imagens estáticas e em movimento, músicas e sons variados.
Nesse contexto de mudanças, a linguagem migrou do caráter monomodal
(ou monossemiótico) para o multimodal (ou multissemiótico) e isso possibilitou a
convergência de mídias e a interação de linguagens. “Todos os aspectos da
materialidade e todos os modos reunidos em um objeto/fenômeno/texto
multimodal contribuem para o significado” (KRESS, 2001, p.28), ou seja, a
multimodalidade implica o uso de vários modos de representação para expressar
sentidos em textos de variados gêneros na modalidade oral e escrita, e isso
tornou-se possível também por meio das tecnologias digitais que possibilitaram

51
a hibridização de linguagens, propiciando que textos fossem compostos por
palavras, sons, movimentos e imagens, ou seja, múltiplas semioses.

Importante

O conceito de multiletramentos, cunhado pelo NGL, quer explicitar por meio do


prefixo “multi”: a multiplicidade de linguagens, semioses e mídias envolvidas na
criação de significação para os textos multimodais contemporâneos e, por outro
lado, a pluralidade e a diversidade cultural trazida pelos autores (ROJO, 2012).

Este grupo, na sua maioria, originários de países em conflito cultural com


massacres, perseguições e intolerâncias questionam o porquê de algumas
questões não serem trabalhada em sala de aula e como isso contribuía para um
aumento da violência social. Aliando a multiculturalidade característica das
sociedades globalizadas e a multimodalidade dos textos por meio dos quais a
multiculturalidade se comunica e informa, o NGL atribuiu um conceito novo:
multiletramentos.
Assim, para os autores hoje, como antes, o termo “multiletramento”
remete às duas ordens de significação: a da multimodalidade e a das diferenças
socioculturais. Isso quer dizer: estamos diante de um conceito que não se traduz
diretamente. Multiletramentos igual a muitos tipos de letramentos que poderiam
estar ligados à recepção e produção de textos/discursos em diversas
multisemiose ou multimodalidade, devidas, em grande parte, às novas
tecnologias digitais e à diversidade de contextos e culturas em que esses
textos/discursos circulam.
Aluno(a), para ajudá-lo a compreender a multimodalidade, escolhemos o
infográfico Como a informação circula na internet, vejamos:

52
Exemplo de texto multimodal
Fonte: https://1.bp.blogspot.com/-4RelgyorVto/YVi40DIk1uI/AAAAAAAAI9w/VNiXLpTjV
B8v5hDHJAgqWpT8hY7dVtoLgCLcBGAsYHQ/s947/posetti_2021_infodemia2.jpg

Este exemplo traz informações do comportamento do usuário no ambiente


digital. Com o contexto sobre o COVID-19, a busca por informações,
compartilhamento, referências e notícias chegaram por volta de 81% da
população usando os meios eletrônicos, como: mensagens instantâneas, vídeo
chamada, compartilhamento de conteúdo e a utilização das redes sociais. Além
disso, o infográfico tem uma representação do lugar de armazenamento de
informações, a “nuvem”. Hoje, esta é responsável por arquivar todos os tipos de
dados e quando o usuário precisa buscá-los, basta acessá-la. E se vocês
observaram o desenho da “nuvem”, ela está centralizada e todos os outros
elementos se tornaram periférico, e tem mais: há um desenho de uma linha e ao
final uma seta, esta representa a direção do fluxo de informação e, como vocês
podem perceber, compõe um círculo, dando a ideia de que as informações se
retroalimentam.
Por isso, escolhemos o gênero infográfico, porque: em primeiro lugar,
trata-se de um texto multimodal por excelência, já que seu planejamento o
constrói com, pelo menos, palavras e imagens em um leiaute, um segundo,

53
porque é um gênero que circula amplamente em jornais e revistas impressos,
digitais e mesmo na TV, nas previsões do tempo, nas explicações e nas
demonstrações de fatos, causas, efeitos, trajetórias etc.; outro aspecto relevante
é que a infografia resulta de um planejamento interessante, executado por
diversos profissionais.
A questão é que, diante de tantas possibilidades perceptivas e cognitivas
do uso de materiais diferentes, o que cada um deles quer significar? Para quem
produz os textos, trata-se de trabalho e planejamento. Já para o/a leitor/a é
considerada sempre ativa. Em relação ao leitor e à leitora, quem produz sentido
com base no que leem, a leitura sempre “envolve trabalho mental ativo” (KRESS,
2001, p. 68)
Para Kress, há uma multiplicidade de recursos semióticos à mão do/a
produtor/a de textos e a multimodalidade se tornará o centro das práticas
comunicativas. O texto não pode mais ser visto como uma agregação de
modalidades, mas como a integração de recursos e práticas. Na próxima seção
vamos entender como o GLN construiu a teoria dos multiletramentos.

Importante

O prefixo multi significa: multiplicidade de linguagens, semioses e mídias, como


também a pluralidade e a diversidade cultura.

5.3 Novas mídias e multimodalidade

Considerando que as TIDCs propiciaram uma hibridização de modos e


semioses, o GLN compreendeu que a leitura/produção de novos textos
envolvem não mais somente o letramento da letra, mas era necessário
considerar diversos elementos: escrito, visual, espacial, tátil, gestual, auditivo e
oral (KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020), conforme é possível observar na
imagem a seguir.

54
Modos de significação em uma teoria multimodal de representação e
comunicação.
Fonte: Letramentos (KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020).

Na teoria dos multiletramentos, estes modos de significação citados estão


interconectados em nossas práticas de representação e escrita (KALANTZIS,
COPE; PINHEIRO, 2020).

Por mais que tentemos separar o modo escrito para lidar com o
letramento na abordagem didática – aprender a ler e escrever na
perspectiva tradicional -, toda representação e toda comunicação são
intrinsecamente multimodal. Por exemplo, o uso na escrita pressupõe
um estágio de visualização e de conversa sobre o que se está
escrevendo, seguido por um estágio de toque e movimento da caneta
no papel ou de digitação do texto em um computador, o que é também
um processo visual, tátil e linguístico. Durante a leitura: a pessoa
rerrepresenta significados em um discurso silencioso, imagina
visualmente como as coisas são na escrita e conversa consigo mesma
sobre pensamentos tangenciais causados por sua interpretação do
que está lendo (KALANTZIS, COPE; PINHEIRO, 2020, p. 182).

Essa alternância de um modo para outro é justamente o que nos ajuda a


representar significados, a comunicar e a aprender. Vale ressaltar que a ideia de
letramento expandiu para letramentos multimodais em virtude do surgimento da
mídia digital.
Nesse contexto, novos letramentos emergem, centrados nas
possibilidades dessas novas tecnologias para a expressão híbrida e multimodal.

55
Com as tecnologias digitais, imagem e texto se tornam ainda mais interligados e
uma mídia multimodal verdadeiramente integrada emerge.
Na proposta de Pedagogia do Multiletramento, o GNL identifica quatro
dimensões a serem contempladas: usuário funcional, criador de sentidos,
analista crítico e o transformador. Esses princípios se encontram e estão
configurados no diagrama a seguir:

Mapa dos multiletramentos


Fonte: adaptado de DECS & UniSA, 2006.

O usuário funcional tem a competência de “saber fazer”, ou seja, reflexão


das experiências atreladas ao conhecimento de mundo, ao analista crítico,
atribuir juízo de valor, para o criador de sentidos, questionar o mundo real e, por
fim, o elemento transformador: interagir com o mundo real, criar e inovar. “Se
nossos aprendizes forem capazes de navegar por diferentes contextos de uso
da língua, também serão capazes de atuar em um mundo multicultural altamente
interconectado e globalizado” (KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020, p. 53).
E desta forma é importante destacarmos que os multiletramentos
incorporam esse prefixo para indicar que são múltiplos, multimodais e
multifacetados, nessa perspectiva, o uso de ambientes multimodais de

56
aprendizagem e a assimilação de projetos multiculturais tornam-se fundamentais
para a composição de uma nova identidade para o ensino, concebido como
práticas para os multiletramentos. Vejamos um exemplo de um espaço
multimodal:

Sala Maker – exemplo de espaço de aprendizagem multimodal


Fonte: https://educamidia.org.br/api/wp-content/uploads/2020/11/WhatsApp-Image-202
0-11-18-at-13.48.25-770x359.jpeg

Neste espaço de aprendizagem, os alunos poderão idealizar projetos e


receber mentoria no hub de inovação; trabalhar com cultura maker, programação
e robótica; ou ainda, utilizar a modelagem 3D para fazer protótipos com temas
transversais. O objetivo do equipamento, segundo o projeto do governo de São
Paulo, é desenvolver o protagonismo dos estudantes no processo de ensino-
aprendizagem com atividades “mão na massa”, além de ressignificar os espaços
ociosos em escolas.
Para auxiliar nesse projeto, o documento oficial - BNCC encoraja
explicitamente a abordagem dos textos multimodais e das mídias, na leitura e na
produção (RIBEIRO, 2021). Sem dúvida, o documento parametrizador como a
BNCC (BRASIL, 2018) norteia o trabalho na escola, mas segundo KRESS
(2001), o professor e a escola terão de aderir às novas tecnologias não por
questões políticas, mas por razões semióticas. Embora a multimodalidade não
seja um fenômeno novo, ela “sempre foi um elemento das semioses sociais”
(Kress, 2001, p. 124).
E com o advento de novas tecnologias, por meio das quais se
estabelecem novas relações com a detenção da informação, difusão e mesmo

57
com a durabilidade desse conhecimento, torna o papel de professor algo sujeito
a reflexões e reinvenções.
Além disso, em uma sociedade digital, na qual a dimensão espacial
representa cada vez menos obstáculo, assim como a dimensão temporal, para
se “estar” em algum lugar ou interagir com pessoas, percebemos que duas das
bases fundamentais da escola ocidental moderna tornam-se, aos poucos,
sujeitas a ressignificações.
Ressignificações também necessárias à seleção de conteúdos e aos
processos metodológicos, pois, na contemporaneidade, é permitido ao aluno
fazer travessias (LEMKE, 2002), por meio do hipertexto e da hipermídia, a partir
das quais ele mergulha em uma rede de informações materializadas em forma
de textos, imagens estáticas ou em movimento e sons. A partir de suas
travessias, o aluno poderá criar seus próprios caminhos, sempre permeados por
diversas vozes sócias (BAKHTIN, 1981 [1935] apud LEMKE, 2002, p. 323), das
quais emergirão significações diversas.

5.4 Novos (multi)letramentos

Não por acaso, cerca de uma década depois de cunhado o termo


“multiletramentos” pelo Grupo de Nova Londres, outros pesquisadores voltam a
sentir a necessidade de adjetivar os letramentos, desta vez, como “novos
letramentos” (KNOBEL; LANKSHEAR, 2007).
O que estava nesse momento em questão para se convocar o adjetivo
“novo” como qualificativo de um conjunto de letramentos? O universo aberto
pelas novas tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC). Em artigo
relativamente recente, Leu, Coiro et al. (2007) observam: a internet mudou a
natureza dos letramentos e muitos pesquisadores nos últimos tempos foram
levados a estudar o assunto e a descrever as mudanças recentes na prática.
Entre tais mudanças, os autores elencam as seguintes:

1. A internet foi a tecnologia que essa geração definiu para o letramento


e a aprendizagem na nossa comunidade global;
2. A internet e as tecnologias a ela relacionadas requerem novos
letramentos adicionais para se poder ter pleno acesso a seu potencial;

58
3. Os novos letramentos são dêiticos;
4. Os novos letramentos são múltiplos, multimodais e multifacetados;
5. Os letramentos críticos são centrais para os novos letramentos;
6. Os novos letramentos requerem novas formas de conhecimentos
estratégico;
7. As novas práticas sociais são um elemento central dos novos
letramentos;
8. Professores tornam-se mais importantes, embora seu papel mude em
sala de aula de novos letramentos (LEU; COIRO et al., p. 5).

Todas essas mudanças provocadas nos letramentos pelas TDIC também


eram a razão do adjetivo “novo”. Os autores observavam que, por um lado, as
tecnologias eram novas: havia mudanças nos códigos-fonte, com novos
aplicativos de texto, som, imagem, animação, novas ferramentas de
comunicação etc. Também havia uma multiplicação de novos dispositivos
digitais, além das bandas de conexão e, por isso, convocava novas habilidades
técnicas da parte do usuário como clicar, cortar, colar, arrastar, ampliar, lidar com
muitas janelas. Por tudo isso, os novos letramentos são mais participativos,
colaborativos e distribuídos, ou seja, menos individualizados e autorados, eles
dependem menos de licenças de publicação.
Segundo Rojo (2019), as novas tecnologias, aplicativos, ferramentas e
dispositivos viabilizaram e intensificaram novas possibilidades de texto/discurso
– hipertexto, multimídia e hipermídia, todos ampliaram a multisemiose ou
multimodalidade dos próprios textos/discursos, passando a requisitar novos
(multi)letramentos.

Vocabulário

Dêiticos: segundo vários autores: “dêixis é um termo usado pelos linguistas [...]
para definir palavras cujo significado muda rapidamente, conforme muda o
contexto. Amanhã, por exemplo, é um termo dêitico, o significado de “amanhã”
se torna “hoje” a cada 24 horas. O significado de letramento também se tornou
dêitico, porque vivemos em uma era de rápidas mudanças nas tecnologias de

59
informação e comunicação, cada uma delas requerendo novos letramentos
(LEU, 1997; 2000)” (LEU; COIRO et al., p. 1).

Mídias

Sugiro o documentário O Dilema das Redes. Nele, especialistas em tecnologia


e profissionais da área fazem um alerta: as redes sociais podem ter um impacto
devastador sobre a democracia e a humanidade.
Acessem o trailer oficial: https://www.youtube.com/watch?v=uaaC57tcci0
Para assistir a ele na íntegra, o documentário encontra-se no Netflix.

Conclusão da aula 5

Construir significado é um processo de representação (fazer sentido) e de


comunicação (fazer com que uma mensagem possa ser interpretada por outra
pessoa). Embora sejam frequentemente semelhantes, os significados que estão
criados nunca são os mesmos que os anteriores, pois se tornam significados
retrabalhados ao entrarem no mundo.
É comum que nas escolas haja uma separação das práticas de
letramentos que lidam com a mecânica da leitura e da escrita, nossos processos
de construção de significação são sempre multimodais, posto que reúnem
modalidades escritas, visuais, espaciais, táteis, gestuais, sonoras e orais. Isso é
ainda mais evidente na contemporaneidade, pois os dispositivos ampliaram e
intensificaram novas possibilidades de texto/discurso e requisitaram novos
(multi)letramentos.

Atividade de Aprendizagem

Depois de assistir ao vídeo O Dilema das Redes, quais são as reflexões e os


alertas dados pelos especialistas sobre este ambiente de interações
midiáticos?

60
Aula 6 – Mídias

Apresentação da aula 6

Olá, aluno(a), nesta sexta aula convido você a refletir sobre os modelos
de produção e circulação de textos que sofreram alterações ao longo do tempo,
também em decorrência das Tecnologias Digitais de Interação e Comunicação
(TDICs). Hoje estamos imersos e vivendo intensamente na/a cultura digital,
passando por um processo de reorganização de todas as esferas da ação
humana, mediadas pelas tecnologias digitais. Também vamos elaborar o
conceito de mídia para multimídia, o hipertexto e a hipermídia.

6.1 Mídia como meio de comunicação

O conceito de mídia chega até nós por meio do inglês media (que
pronunciamos mídia). Costumamos dividir as mídias em mídia impressa (jornais
e revistas), mídia eletrônica (rádio e TV) e mídia digital (internet), embora a
distinção possa estar ultrapassada pelo fato de que, hoje, foi digitalizado (o
impresso, o rádio e a TV).
Para Martinho (2016), a primeira definição de mídia é como “determinado
aparato de caráter artificial produzido dentro de um contexto histórico,
econômico e social, por intermédio do qual se estabelecem relações”, ou seja,
um elemento capaz de agenciar as ações e condições de realização de um
determinado fato.
Santaella (2003) propõe que podemos entender as mudanças culturais,
pelo menos em parte a partir das mudanças nas mídias. Assim, vai propor seis
eras culturais das mídias:

1. a cultura do oral;
2. a cultura da escrita;
3. a cultura do impresso;
4. a cultura de massa;
5. a cultura das mídias;
6. e, finalmente, a cibercultura ou cultura digital.

61
Aluno(a), pela lista você irá notar que o motor de mudanças entre essas
culturas é tanto as linguagens quanto as mídias de que se valem e suas
possibilidades inerentes de reprodução, distribuição e controle. Segundo
Santaella, a cultura das mídias é que caracteriza a passagem da cultura da
escrita e do impresso para a cibercultura, “uma cultura intermediária entre as
duas” (SANTAELLA, 2003, p. 24).
A autora enfatiza que os meios de comunicação são canais para a
transmissão de informação e que devemos crer que as mudanças culturais e
sociais se dão meramente pelo aparecimento de novos meios de comunicação
ou de novas tecnologias, mas que eles propiciam novos tipos e modos de
circulação e de controle de mensagens e das linguagens, que podem influenciar
as mudanças culturais.
Esse conceito da autora (cultura das mídias), alguns alunos podem
recordar, como no meu caso (risos), que no início dos anos 1990, em que era
natural, ao viajarmos de férias, prepararmos fitas K7 gravadas para embalar
nossa viagem. Caso não tenha lembrado, não se preocupe, também não passou
raiva quando a fita K7 ficava presa no toca-fita e ao tirar o K7, a fita ficava toda
emaranhada e não podíamos mais usar aquele K7.

Saiba mais

No link a seguir, você pode assistir ao documentário que conta o surgimento


dos meios de comunicação em massa na história. Não deixe de assistir.
https://www.youtube.com/watch?v=YoxGlwyZjus&ab_channel=TVBrasilGov

Aluno, desculpe o momento nostálgico, mas o importante é que Santaella


afirma que, na cultura de massa, o consumidor passa a ter alguma escolha,
momento em que passa a montar suas próprias “coleções”, como diria García-
Canclini. Assim, podemos fazer um quadro ilustrativo de todas essas relações,
então teremos:

62
Quadro das seis eras culturais das mídias

Eras Mídias Tecnologias Semioses


culturais educacionais

Aparelho
Cultura oral fonador e ondas Línguas orais
sonoras

Paredes/ Línguas
Cultura Diversos instrumentos de
tabuinhas de escritas
escrita gravura
barro/ códex iluminuras

Língua escrita
Cultura Prensa/litografia/impressão
Impressos imagens
impressa offset/impressão digital
estáticas

Língua escrita
Gramofone Música
Rádio
Cultura de Rádio Imagens
Cinema
massa Projetores Estáticas
TV
Televisores analógicos e em
movimento

Língua escrita
Videogames Fotocopiadoras
Música
Videoclipes Videocassetes
Cultura das Imagens
Filmes em Gravadores de áudio
Mídias Estáticas
vídeo Walkman
e em
TV a cabo Fitas K7
movimento

Língua escrita
Computadores Programas Música
Laptops
Cultura Softwares Imagens
Tablets
Digital Apps de edição e Estáticas
Celulares reprodução de texto,
áudio, imagem e vídeo e em
TV digital
movimento
Fonte: a partir de Santaella, 2003, por Rojo (2019, p. 34).

Depois do quadro ilustrativo, fica perceptível que a revolução das


tecnologias e das mídias é contínua, rápida e tem determinado mudanças

63
acentuadas no consumo e na recepção/produção das linguagens e dos
discursos. No próximo tópico apresentaremos a passagem da multimídia para a
hipermídia.

6.2 Mídia, multimídia, hipermídia

Vamos apresentar questões das mudanças históricas nos textos e


enunciados digitais contemporâneos e seus impactos sobre os novos
letramentos.
A partir da ideia de que

hoje nossas tecnologias estão nos movendo da era da escrita para a


da autoria multimidiáticas”, em que documentos e imagens de
notações verbais e textos escritos propriamente ditos são “meros
componentes de objetos mais amplos de construção de significados
(LEMKE, 2002, p. 456).

Vai nos alertar que, à época em que escrevia, as mudanças nos textos
digitais com o surgimento do hipertexto, aliadas às possibilidades abertas no
universo digital pela multimídia (combinação, na tela, de textos escritos e
imagens estáticas), iriam nos abrir a realidade futura da hipermídia.

Portal do MEC – um exemplo de site composto por hipertexto


Fonte: http://portal.mec.gov.br/

64
O portal do MEC é um exemplo de site composto por hipertextos. Nele
tem um QRCODE para acessar outra página: precisa somente posicionar a
câmera do celular para ser direcionado a outro ambiente virtual, neste caso, para
outra plataforma do Governo Federal. Há também botões que nos remetem às
redes sociais e links de acesso a outros serviços do governo.
Ficou mais claro, aluno(a), agora vamos contextualizá-lo: o hipertexto
surge quando o texto passa ao digital, não mais como uma imagem em bitmap
de página, aqueles PDFs em que você não consegue selecionar uma palavra ou
frase porque a imagem do texto está reproduzida como um todo, em blocos de
páginas que, hoje, você pode transformar, por meio da ferramenta Adobe OCR
Text Recognition. Para Lemke, esse processo de digitalização do texto
possibilitará o surgimento do hipertexto, pois, a partir do momento em que o texto
digital, assim se apresenta, ele pode ser pesquisável, indexado e estabelecer
referências com outros textos.
E completa:

A próxima geração de ambientes de aprendizagem interativos adiciona


imagens visuais, e sons e vídeos, além de animação, o que se torna
muito prático quando a velocidade e a capacidade de armazenamento
podem acomodar estes significados densos de informação (LEMKE,
2002, p. 472).

Assim, surge a multimídia. E como será o mundo transmídia?

6.3 Um mundo transmídia

Bem-vindo à cultura de convergência, onde as velhas e as novas


mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam,
onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem
de maneiras imprevisíveis (JENKINS, 2006, p. 29).

É muito importante enfatizar que os modelos de produção e circulação de


textos sofreram alterações ao longo do tempo também em decorrência das
Tecnologias Digitais de Interação e Comunicação (TDICs). Hoje estamos
imersos e vivendo intensamente na/a cultura digital, passando por um processo
de reorganização de todas as esferas da ação humana mediadas pelas
tecnologias digitais.

65
Já em sua introdução ao livro Cultura da convergência, Jenkins (2009) dá
as boas-vindas a um funcionamento sociocultural que faz convergir e interagir
de maneira inusitada as mídias, mais fãs (mídias alternativas) e corporações
(mídia corporativa), produção e consumo.
Rüdiger (2011) aponta que a cibercultura tem menos relação com a
tecnologia do que com as narrativas que se desenvolvem nesse meio,
entendendo as narrativas não apenas como aquilo que se produz e se propaga
nos dispositivos convergentes da comunicação contemporânea, mas também as
narrativas que carregam uma série de configurações simbólicas do imaginário
social e tecnocultural. Tomando como exemplo a franquia Matrix, o autor cunha
o conceito de “narrativa transmídia” para definir a relação entre as mídias de
entretenimento e consumo.

As distrações do sistema e a Matrix


Fonte: https://i1.wp.com/dunapress.org/wp-content/uploads/2020/08/matrix-e-distra%C
3%A7%C3%A3o.jpg?fit=541%2C319&ssl=1

O imaginário é o que legitima certas práticas sociais, na medida em que


se apresenta como pano de fundo da vida em comum, neste caso, um mundo
fictício.
Assim, os textos transmidiáticos, como são denominados, por agenciarem
diferentes mídias em torno de uma (quase) mesma história, tornam-se
“ambientes atraentes que não podem ser completamente explorados ou
esgotados em uma única obra ou, mesmo, em uma única mídia” (Jenkins, 2009,
p.161).

66
Jenkins analisou vários fenômenos midiáticos e percebeu, por exemplo,
que os cineastas adolescentes e jovens estão filmando em estúdios de garagem,
reproduzindo efeitos especiais em computadores caseiros e desta forma estão
determinados a reescrever a história a seu modo, talvez até representar
personagens que não estejam na versão cinematográfica. Um grupo de
nigeriano é um exemplo destes fenômenos descritos por Jenkins.

Narrativa transmídia: jovens nigerianos fazem filme com o celular


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=YQQ9ZH1qStE

Um grupo de jovens, The Critics, traduzindo para o português, Os


críticos, da Nigéria, amantes do cinema, criam uma produtora para fazer filme de
curta-metragem de um jeito prático e simples, usando apenas o celular.

Mídias

Para saber mais sobre “The Critics”, acesse o link:


https://www.youtube.com/watch?v=YQQ9ZH1qStE

Nas palavras de Jenkins (2009):

A narrativa transmidiática refere-se a uma nova estética que surgiu em


resposta à convergência das mídias – uma estética que faz novas
exigências aos consumidores e depende da participação ativa de
comunidades de conhecimento. A narrativa transmidiática é a arte da
criação de um universo. Para viver uma experiência plena num
universo ficcional, os consumidores devem assumir o papel de

67
caçadores e coletores, perseguindo pedaços da história pelos
diferentes canais, comparando suas observações com as de outros
fãs, em grupos de discussão on-line, colaborando para assegurar que
todos os que investiram tempo e energia tenham uma experiência de
entretenimento mais rica (Jenkins, 2009, p. 49).

Pensando nesta experiência, Jenkins (2009) trata da narrativa transmídia,


assim definida,

Uma história transmídia, desenrola-se através de múltiplas plataformas


de mídia, com cada novo texto, contribuindo de maneira distinta e
valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio
faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser
introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romances e
quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou
experimentado como atração em um parque de diversão (Jenkins,
2009, p. 138).

De acordo com Jenkins, a solidez da noção de narrativa evidencia que,


diante das ferramentas tecnológicas e dos apelos mercadológicos
contemporâneos, tornam-se complexos os ambientes multimidiáticos, como
também esse fluxo de conteúdo por meio de múltiplos canais de mídia é quase
inevitável nesta era de convergência. Essas diversas formulações formam o que
Scolari chama de “galáxia semântica”:

Como temos indicado, o conceito de narrativa transmidiática não está


só: conceitos como cross-media, plataformas múltiplas, meios híbridos,
intertextual commodity, mundos transmídias, interações transmídias,
multimodalidade ou intermídia fazem parte da mesma galáxia
semântica. Cada um desses conceitos ilumina alguma dimensão das
narrativas transmidiáticas: se mercadoria intertextual nos obriga a
pensar em termos de uma economia política do texto – um texto que é
produzido, distribuído e consumido -, o conceito de mundo transmídias
nos leva a uma teoria dos mundos narrativos. Grosso modo, cada um
dos conceitos trata de nomear uma mesma experiência: uma prática
de produção, sentido e interpretação baseada em histórias que se
expressam através de uma combinação de linguagens, meios e
plataforma (SCOLARI,2013, p. 4-5).

Em outras palavras, intermidialidade, multimodalidade, hibridismo e cross-


media são termos que juntos procuram explicar como se dão as relações entre
mídia e linguagens. É preciso não confundir o processo crossmedia com o
processo transmídia. O conceito de transmidialidade é marcado pela ideia de
deslocamento, do ponto de vista da semiótica, a imagem de um enunciatário em

68
ação. No entanto, na estratégia crossmedia, a tática é distribuir o mesmo
conteúdo em diversas mídias.
No processo transmídia, veja, aluno(a), como as esferas dos campos
sociais diversos (como a publicidade e a indústria do entretenimento) e as
diferentes mídias e linguagens (imagem em movimento, cinema e vídeo) podem
se unir e misturar para criar discursos em gêneros híbridos.

Conclusão da aula 6

Alunos, chegamos ao final da nossa aula. Aprendemos que estamos


imersos e vivendo intensamente na/a cultura digital, também vimos as mudanças
dos textos digitais com o surgimento do hipertexto, aliadas às possibilidades
abertas no universo digital pela multimídia (combinação, na tela, de textos
escritos e imagens estáticas) que iriam nos abrir a realidade futura da hipermídia.
Descobrimos que os cineastas adolescentes e jovens estão filmando em
estúdios de garagem, reproduzindo efeitos especiais em computadores caseiros
e, desta forma, estão determinados a reescrever a história a seu modo, talvez
até representar personagens que não estejam na versão cinematográfica.
Assim, surge a transmídia, de acordo com Jenkins, a noção de narrativa
evidencia que, diante das ferramentas tecnológicas e dos apelos mercadológicos
contemporâneos, tornam-se complexos os ambientes multimidiáticos, como
também esse fluxo de conteúdo por meio de múltiplos canais de mídia é quase
inevitável nesta era de convergência.

Atividade de Aprendizagem

De que forma os textos transmidiáticos podem contribuir com o ensino-


aprendizagem dos alunos?

69
Aula 7 – Da leitura analógica ao letramento digital

Apresentação da aula 7

Olá, aluno(a), nesta sétima aula convido todos a explorar as faces da


leitura e a materialidade do livro. A forma de composição do livro (distribuição do
texto na página, a hierarquização de informações, a escolha das fontes, cores e
a escolha do papel) interfere na construção de sentido. Também abordaremos a
leitura e a escrita em ambientes digitais e como esse letramento pode auxiliar
professores a planejar situações didáticas de ensino-aprendizagem, utilizando
os recursos tecnológicos.

7.1 Faces da leitura e materialidade do livro

Chega mais perto e contempla as palavras


Cada uma
Tem mil faces secretas sob a face neutra
E te pergunta, sem interesse pela resposta,
Pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
ANDRADE, Carlos Drummond de: Antologia poética.

Hoje os textos são produzidos para serem lidos pelos sentidos,


contemplar as palavras como Drummond insere em sua poesia e é um exercício
de imaginação. Pensamentos e interações se moldam em gêneros textuais e a
história do indivíduo letrado começa com a imersão no universo em que o
sistema linguístico é apenas um dos modos de constituições dos textos que
materializam as ações sociais.
Nessa perspectiva, as práticas de leitura e escrita sofrem alterações, a
leitura se tornou o fator catalizador de transformações do desenvolvimento dos
indivíduos e nas culturas letradas, afirma Wolf (2019). Mas o que é estudar a
leitura? A leitura é uma atividade complexa e plural, que se desenvolve em várias
direções. Entre as numerosas sínteses propostas, vamos nos fundamentar em
Gilles Thérien (1990, p. 1-4) “por uma semiótica da leitura”, que vê na leitura um
processo de cinco dimensões.

70
➢ Um processo neurofisiológico: a leitura é inicialmente um ato
concreto e observável, que recorre a faculdades definidas do ser
humano;
➢ Um processo cognitivo: depois que o leitor percebe e decifra os
signos, ele tenta entender do que se trata. A conversão das
palavras e grupos de palavras em elementos de significação supõe
um importante esforço de abstração;
➢ Um processo afetivo: o charme da leitura provém em grande
parte das emoções que ele suscita. As emoções estão de fato na
base do princípio de identificação, motor essencial da leitura de
ficção, por exemplo;
➢ Um processo argumentativo: a intenção de convencer está, de
um modo ou de outro, presente em toda narrativa. Qualquer que
seja o tipo de texto, o leitor de forma mais ou menos nítida, é
sempre interpelado;
➢ Um processo simbólico: o sentido que se tira da leitura vai se
instalar imediatamente no contexto cultural em que cada leitor
evolui. Toda leitura interage com a cultura e os esquemas
dominantes de um meio e de uma época.

Reflita

Depois de ler sobre os processos, aluno(a), você notou que a poesia é um


exercício de imaginação?

Ao ler a poesia, você fez uma pausa, pensou e experimentou algo, aquilo
que Proust chamava de “o milagre fértil da comunicação”. As conexões entre
como o que lemos e o que está escrito têm importância crucial para a sociedade
de hoje. Em um meio que nos defronta continuamente com um excesso de
informações, a grande tentação de muitos é se retirar para depósitos conhecidos
de informações facilmente digeríveis, menos densas e intelectualmente menos
exigentes.

71
Por isso, a compreensão de textos é um processo complexo em que
interagem diversos fatores, como conhecimentos linguísticos, conhecimento
prévio a respeito do assunto do texto, conhecimento geral a respeito do mundo,
motivação e interesse na leitura, dentre outros.
O leitor, para CHARTIER (2002, p. 101-102), é “este alguém que mantém
reunidos em um mesmo campo todos os traços que constituem o escrito”.
Segundo Calvino (1999):

Os prazeres que o uso da espátula reserva são táteis, auditivos, visuais


e, sobretudo mentais. Para avançar na leitura, é preciso um gesto que
atravesse a solidez matéria do livro e dê a Você um acesso à
substância incorpórea dele. Penetrando por baixo entre as folhas, a
lâmina sobe impetuosa e abre um corte vertical numa fluente sucessão
de talhos que investem contra as fibras uma a uma e as ceifam. Com
uma crepitação hilária e amigável, o papel de boa qualidade acolhe
esse primeiro visitante que prenuncia inúmeras viradas de páginas
impelidas pelo vento ou pelo olhar. [...] Abrir uma passagem com o fio
da espada na fronteira das páginas uma densa floresta (Calvino, 1999,
48).

No ato de ler é atribuída certa valoração e amplitude, uma prática seguida


de ações coordenadas e movimentos regrados, que requerem uma atitude
respeitosa, uma prática acompanhada pela oralidade da escrita, por gestos e
expressões corporais, o que atribui ao leitor autoridade sobre o texto, torna-se
uma atitude imponente para aquele que a executa.
As materialidades do livro provocam sentimentos: de tédio, angústia, ódio,
lembranças prazerosas e podem colaborar ou atrapalhar uma leitura
programada. Mais do que isso, provoca no leitor gestos de quem como, em uma
floresta, sente o que significa desbravar algo pouco explorada. Nesse caso, o
narrador expressa seus sentimentos e cria situações ao longo da narrativa que
provocam um embate com os aspectos tipográficos do livro. As ações da
narrativa retardam suas leituras,

[...] Você experimenta saltar a lacuna, retomar a história agarrando-se


ao trecho de prosa que vem depois, desfiado como a margem das
folhas cortadas pela espátula. Você não se encontra mais: as
personagens mudaram, os ambientes também, não dá para entender
do que se trata, você só encontra personagens que não conhece [...]
sobrevém a impressão de tratar-se de outro livro, talvez o verdadeiro
romance [...] e nesse caso, o trecho que você já leu poderia pertencer
a outro livro ainda, sabe-se lá qual (Calvino, 1999, 48).

72
A narrativa lida pelo leitor, torna-se um objeto-livro, materializado por um
encadernamento de folhas, capa, tinta e cor, que persiste e se entranha nas
memórias do leitor. Inovador, o objeto livro põe à prova, desta forma, na
contemporaneidade, não meramente os formatos mais tradicionais, mas a
própria forma de leitura, contribuindo para a construção de um novo tipo de leitor
do qual se demanda não apenas o virar das páginas, mas a efetiva manipulação
do livro; de quem se espera não, meramente a leitura com os olhos, mas com os
diferentes sentidos, ou seja, um papel mais ativo e participativo.
Outro exemplo para ilustrar a materialidade é o livro de Gustavo Piqueira
Bibi. Vejamos a capa e a proposta do autor para os possíveis títulos da obra.

Capa do livro Bibi (PIQUEIRA, 2009)


Fonte: https://www.gustavopiqueira.com.br/bibi

A capa do livro tem o título Bibi centralizado e impresso em serigrafia na


cor branca. Essa tipografia remete a uma linguagem infantil pela composição
silábica de consoantes e vogais, um resgate da infância, um convite à leitura,
porque ao ler o título, o leitor levanta hipóteses de leitura sobre a narrativa que
será contada.
O formato do livro, retrato, retangular vertical (21cm x 25,8cm) e a cor da
composição do papel na capa é a coloração colorplus Costa Rica (papel
especial, cor salmão), com a gramatura de 240g. Ainda na capa, o leitor percebe
que existem 4 cortes, estes são feitos com uma faca especial e duas lâminas
soltas, assim, os cortes, servirão de base para a troca do título por: Pendure seus
horizontes na parede da sala e depois por: “[...]”, todas as trocas são sinalizadas
pelo enunciador da narrativa.
O nome do autor está disposto ao fundo do título, menor, na cor preta e a
tipografia concisa, o que nos leva a refletir sobre o lugar de Piqueira na narrativa.

73
E o nome da editora encontra-se no lado, abaixo, de forma discreta e não menos
importante.
Puderam perceber que cada materialidade, nesse exemplo, a capa da
obra Bibi, há uma multiplicidade de sentidos que se revela ao leitor no ato de ler,
isso porque, junto do prazer intelectual, o leitor tem a possibilidade de
experimentar o prazer tátil e visual. A leitura deixa de ser apenas um ato cognitivo
para tornar-se um ato performático, que envolve o leitor, inclusive, fisicamente,
ao demandar a manipulação distinta das páginas, o movimento do livro e a
mudança na orientação de leitura.

Importante

A materialidade do livro e a forma como o livro é composto (distribuição do texto


na página, a hierarquização de informações, a escolha das fontes, as cores e a
escolha do papel) interfere na construção de sentido.

Segundo Ribeiro (2014), o leitor se adapta aos novos suportes, ao novo


objeto de ler. Trata-se, então, de um “ciclo inteligente e versátil, ao qual qualquer
ser humano deve estar acostumado.
E se pensássemos nestes suportes: celulares, computadores, ipods, e-
readers, e-books, TV digital, chat vídeo, fóruns virtuais, hipertextos, redes sociais
(twitter, facebook, instagram, skoob [...]), skype, webconferências, softwares,
jogos digitais, second life, google docs, google talk e google earth; será que o
leitor se adapta a esses novos suportes? Como será ler e escrever neste
ambiente digital?
As TDICs estão exigindo leitores e produtores de textos criativos,
dinâmicos e participativos, capazes de interagir com a diversidade de mídias e
com a superabundância de informações do mundo digital. Nesse contexto de
inovações tecnológicas, ler e escrever tornam-se atividades ainda mais
requisitadas.

74
Curiosidade

Hoje, usa-se Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) por


causa do ambiente digital.
No ambiente com contexto analógico, a utilização da nomenclatura muda e
pluraliza, TICs.

Aos textos impressos, somam-se os hipertextos e os suportes eletrônicos


que demandam diferentes estratégias de leitura e escrita. O letramento digital
surge como novo desafio para os professores que precisam planejar situações
didáticas de ensino-aprendizagem, utilizando os recursos tecnológicos. Assim,
na próxima seção abordaremos o letramento digital.

7.2 Letramento digital

Letramento digital é um conceito amplamente referenciado em função das


crescentes demandas em relação ao desenvolvimento de competências e
habilidades de leitura e escrita em novos suportes tecnológicos. Diferentes
autores discutem o tema, como Marcuschi e Xavier (2004b), Buzato (2003),
Soares (2002) e Coscarelli (2005).
Conforme Buzato (2003, p. 3), letramento digital pode ser compreendido
como: “conjunto de conhecimentos que permite às pessoas participarem nas
práticas letradas mediadas por computadores e outros dispositivos eletrônicos
no mundo contemporâneo”.
Nesse sentido, leitores e autores assumem novos contratos
comunicativos, praticando a leitura e a escrita de modo multissequencial,
acessando homepages, ambientes virtuais e interfaces digitais, clicando nos
links que abrem novas possibilidades de leitura, construindo blogs, escrevendo
comentários e recados nas redes sociais, além de uma infinidade de situações
que redimensionam o ler e o escrever no ciberespaço.
A leitura e a escrita na tela do computador requerem um sistema de
convenções diferentes daquele que regula as atividades em folha de papel. O
modo como o texto se estrutura no computador dimensiona a materialidade do

75
texto de um modo diferente, a própria maneira como “manuseamos”, indo e
voltando, fazendo destaques, inserções, entre outras ações, obriga-nos a novos
conhecimentos e novas estratégias de leitura e escrita.
Como observa Marinho (2001, p. 209), com as TIC, surgem textos e
gêneros digitais que implicam outras práticas de leitura e escrita, em virtude da
articulação de diferentes linguagens na composição de hipertextos.
Para Soares (2002), o letramento digital caracteriza certo estado ou
condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e realizam
práticas de leitura e escrita na tela, diferente do estado ou condição do
letramento, dos que exercem práticas de leitura e de escrita no meio impresso.
Ainda, segundo Soares (2002), não é apenas a tela do computador que gera um
novo tipo de letramento, mas todos os mecanismos de produção, reprodução e
difusão da escrita e da leitura no mundo digital.

Importante

Segundo Soares (2002), não é apenas a tela do computador que gera um novo
tipo de letramento, mas todos os mecanismos de produção, reprodução e difusão
da escrita e da leitura no mundo digital.

Nesse sentido, vamos refletir sobre alguns recursos que podem ser
utilizados pelos professores na organização de situações didáticas de ensino-
aprendizagem voltadas para as práticas de letramento digital dos educandos.
Escolhemos alguns recursos, como: as salas de bate-papo, chats, fóruns, redes
sociais, blogs e google docs.
Os chats são importantes no processo de comunicação síncrona,
permitindo que os participantes se comuniquem em tempo real. Eles podem ser
utilizados dentro e fora da sala de aula como recursos importantes para
organização de trabalhos em grupo, sessões tira-dúvidas, com a participação do
professor ou de convidados, comunicação entre alunos, professores e gestores
da escola, a fim de organizar planejamentos participativos e coletivos.

76
Exemplo de chat de voz
Fonte: https://telegram.org/file/464001205/2/x-e9U5kKGY.146619/21bff9f3f33230d66d

A imagem ilustrativa para exemplificar o chat é do software Telegram,


usado para troca de mensagens escritas e de voz. Diversos sites de jornais,
revistas e bibliotecas virtuais já permitem a ferramenta chat, no sentido de
ampliar a interação entre leitores, escritores e profissionais diversos, com o
objetivo de discutir temas polêmicos e trocar informações.
Outro recurso são os fóruns de discussão, utilizados nos processos de
comunicação assíncrona e que podem ser recursos facilitadores na construção
colaborativa nos ambientes virtuais de aprendizagem.
Suas interfaces podem ser utilizadas em ambientes virtuais de acesso
restrito ou em páginas abertas da Internet, visando ao debate assíncrono por
meio de mensagens sobre redes temáticas ou tópicos de discussão que são
colocados pelos participantes do fórum.
O fórum funciona como um grande debate virtual e pode se revelar como
recurso interessante. Na imagem ilustrativa abaixo, segue o fórum do sistema
integrado das atividades acadêmicas SIGAA - Cefet MG.

77
Fórum do SIGAA – CEFET MG
Fonte: https://sig.cefetmg.br/sigaa/ava/index.jsf

Esse exemplo é uma interface com ambiente restrito, apenas os alunos


da disciplina têm acesso ao conteúdo. A disciplina para o exemplo é Tópicos
Especiais em Estudos em Linguagem: Edição e Tecnologia com uma abordagem
Multimodal, ministrada pela professora doutora Ana Elisa Ribeiro. Ela é
responsável pela organização da disciplina e pelas postagens do conteúdo no
fórum, na página SIGAA. Ela lança uma pergunta provocadora sobre o assunto
da disciplina e os alunos, na sequência, interagem com respostas ou outras
indagações sobre a questão lançada, assim, se estabelece uma escrita
colaborativa e uma prática multiletrada.
Também temos como recurso as redes sociais. A participação nas redes
sociais tornou-se uma prática bastante comum na sociedade tecnológica. Novas
redes surgem constantemente no ciberespaço e conquistam a adesão dos
internautas interessados no dinâmico mundo de informações da Internet. A
escola pode aproveitar o fascínio dos alunos diante das redes sociais, no sentido
de desenvolver projetos didáticos, considerando vários temas importantes que
desafiam os educandos em tempos do turbilhão digital. Segue algumas redes
sociais disponíveis e mais usadas na internet:

78
Lista de redes sociais mais usadas e disponíveis no ambiente digital

Redes sociais

Permite que os internautas naveguem e mantenham contato


com um número ilimitado de usuários. Os internautas podem
Facebook deixar recados, organizar o mural com fotos e perfil, além de
compartilhar suas ideias com a comunidade virtual. Disponível
em: http://www.facebook.com

Rede social cujo objetivo principal é compartilhar fotos com


outras pessoas.
Flickr Muitos fotógrafos amadores e profissionais utilizam essa rede
para divulgar fotos, vídeos, notícias e para compartilhar suas
experiências. Disponível em: http://www.flickr.com

É um programa para as pessoas realizarem perguntas.


Formspring Apresenta também os seguidores (followers), como ocorre no
Twitter. Disponível em: http://formspring.me

Espécie de blog que prioriza a divulgação de fotos, ou seja,


funciona como um fotoblog. O usuário pode publicar fotos
Fotolog
diariamente e pode escrever adicionando comentários.
Disponível em: http://www.fotolog.com

Rede social por meio da qual o internauta pode criar looks de


Looklet moda e outras pessoas podem votar e dar suas opiniões.
Disponível em: http://www.looklet.com

É uma página que reúne todas as demais redes sociais.


Meadiciona serve para facilitar quando alguém quiser encontrá-
Meadiciona
lo em alguma dessas redes. Disponível em:
http://meadiciona.com

Rede social sobre livros e preferências de leituras. O internauta


adiciona os livros que leu, comenta, dá nota, faz resenhas,
Skoob adiciona os livros que pretende ler, aqueles que abandonou,
bem como os livros que deseja trocar. Disponível em:
http://www.skoob.com.br

É uma rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos


entre seus usuários, que permite aplicar filtros digitais e
Instagram compartilhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais,
como Facebook, Twitter, Tumblr e Flickr. Disponível em:
https://www.instagram.com/

Nesta rede social do momento, é possível visualizar, curtir,


TikTok comentar, produzir e compartilhar vídeos. Além disso, você
pode seguir e interagir com outros usuários, enviando

79
mensagens privadas ou editando clipes com funções de costura
e duetos. Disponível em: https://www.tiktok.com/pt-BR//

É uma plataforma de compartilhamentos de vídeos. Disponível


Youtube
em: http://youtube.com.br

É a maior rede profissional que existe. Nesta rede é possível


Linkedin estabelecer contatos profissionais e procurar emprego.
Disponível em: https://br.linkedin.com/

É uma rede que ajuda a encontrar receitas, looks, projetos para


Pinterest sua casa e outras ideias. Disponível em:
https://br.pinterest.com/pinterestbr/

Trata-se de uma ferramenta que permite que sejam escritas


mensagens de até 140 caracteres e enviadas a pessoas pré-
cadastradas para tal. Os usuários escolhem de quem gostariam
Twitter de receber mensagens e convidam amigos para compartilhá-
las. Os textos, conhecidos por twitts, podem ser publicados na
internet ou em mensagens SMS via celular. Disponível em:
https://twitter.com/?lang=pt-br
Fonte: elaborado pelo autor (2021), adaptado pelo DI (2021).

Há também para auxiliar as atividades pedagógicas os blogs. Estes


funcionam como diários virtuais, de cunho público, com várias informações
autobiográficas que são disponibilizadas para qualquer internauta que tenha
acesso aos blogs no ciberespaço. A contribuição dos leitores é muito
colaborativa, por meio de recados, avisos, bilhetes, notícias e poemas,
ratificando a interatividade entre os processos de leitura/escrita na web. A autoria
compartilhada parece ser uma característica fundamental na constituição dos
blogs, os quais se revelam como “vitrines eletrônicas”, mostrando a privacidade
dos indivíduos, por meio de dados que fazem parte do cotidiano das pessoas.
E como o último recurso, o Google Docs. É um ambiente gratuito de
escrita colaborativa online, construído a partir da tecnologia Wiki, em que é
possível alojar um documento e permitir que sua edição seja aberta ao público
ou a um grupo restrito de alunos.
O conteúdo, inicialmente exposto, pode ser modificado pelos alunos
quantas vezes forem necessárias. Todas as versões são organizadas
cronologicamente e podem ser armazenadas e recuperadas a qualquer
momento por qualquer aluno. Em sala de aula, o professor pode usar o Google

80
Docs para motivar as práticas de leitura e escrita na tela do computador, assim,
o Google Docs irá proporcionar a construção textual coletiva, motivando os
alunos à produção de textos em que cada um pode ir acrescentar novas
informações no sentido de aprimorar a produção textual.

Vocabulário

Wiki: ferramenta de colaboração na produção textual

Conclusão da aula 7

Alunos, chegamos ao final da nossa sétima aula. Exploramos as faces da


leitura com propostas da semiótica, vimos que a composição do livro interfere na
construção de sentido, também propusemos uma análise sobre o letramento
digital e algumas práticas para auxiliar professores a planejar situações didáticas
de ensino-aprendizagem, utilizando os recursos tecnológicos.

Atividade de Aprendizagem

O aluno precisa estar preparado para lidar com os ambientes digitais, seja
para lazer, seja para trabalho, em instâncias públicas e privadas. Reflita sobre
a ideia de desenvolver o letramento digital dos alunos e responda: as escolas
estão contribuindo para lidar com uma noção de letramento mais
contemporânea e que vai estimular a formação de cidadãos críticos e
participativos?

Aula 8 – Atividade didática

Apresentação da aula 8

Olá, aluno(a), nesta última aula vamos aprender de que forma a tecnologia
potencializa as práticas discursivas com a aplicação de vivências e práticas de
atividades multimodais.

81
8.1 Tecnologia: potencializando as práticas discursivas

Ribeiro (2018) afirma que a tecnologia é vinculada a objetivos e deve se


integrar às linguagens e semioses. O ensino pela multimodalidade, com o uso
de rádio e quadro negro, por exemplo, não se trata de apenas mais uma
possibilidade de se reconhecer ou não a importância de mobilizar recursos
digitais. É preciso que o professor se interrogue sobre como e quais ferramentas
cumprirão os objetivos e funções propostas, a partir do trabalho com diferentes
linguagens integradas no texto, ou seja, multissemióticos ou multimodais.
Como salienta Rojo (2013), a mudança histórica dos textos e dos
discursos nas práticas sociais exige uma mudança nas práticas de sala de aula.
Sobre a tecnologia digital na educação, a autora ressalta que a escola deve se
apropriar das diversas linguagens (literárias, visuais, digitais e midiáticas), de
forma crítica, para que os estudantes leiam e produzam textos multimodais. Não
podemos deixar de pontuar e acrescentar: o Estado precisa garantir meios e
recursos para essa apropriação por parte de professores e alunos.
Nessa direção da apropriação das diversas linguagens, Ribeiro (2018)
ensina que, ainda que o professor saiba quais são os caminhos possíveis para
o cumprimento de objetivos que devem dispor de recursos digitais, os estudantes
têm um papel que, muitas vezes, faz ressignificar o que tradicionalmente se
compreende por apropriação das linguagens:

No entanto, mais que o manejo da palavra (e da tipografia ou das


modalizações do texto), é possível acessar a modulação de outras
linguagens para compor um mesmo texto. E isso está ao alcance de
qualquer pessoa que tenha um computador. As escolhas sobre isso
fazem parte das preocupações de Kress, assim como da prática dos
alunos de ensino médio com os quais lido (RIBEIRO, 2018, p. 93).

A autora esclarece, contudo, que o agenciamento do professor, que


precisa tomar para si a tarefa do que aqui temos nos referido como orientação:
contar, mostrar, expor, propor, indicar, recomendar, avaliar, ler cuidar e tantos
outros verbos balanceados conforme a mistura de que se necessite, integra-se
na palavra ensinar, sem que se omitam possibilidades do estudante Ribeiro
(2018). Nessa perspectiva, acrescenta: nem aos jovens é garantida a

82
competência máxima no uso das ferramentas digitais, mesmo que se tenha
acesso a elas.
De fato, a BNCC (2018) propõe que:

a compreensão e análise mais aprofundadas e sistemáticas do


funcionamento das diferentes linguagens, como veremos nas etapas
de preparação e desenvolvimento da atividade, as quais permitiram
que os estudantes explorem o modo como elas se combinam de
maneira híbrida em textos complexos e multissemióticos.

Assim, a atividade envolveu a produção/edição de objetos digitais de


aprendizagem, no exercício da mediação cultural, ao buscar

compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder


que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitar as
diversidades, a pluralidade de ideias e posições e atuar socialmente
com base em princípios e valores assentados na democracia, na
igualdade e no Direitos Humanos, exercitando a empatia, o diálogo, a
resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de
qualquer natureza (BRASIL, 2018, p. 481).

8.2 Prática 1: mapa como monitoramento

Material necessário: computador com acesso à internet.


Tempo estimado: 4 horas.

Abaixo a competência e as habilidades que serão mobilizadas para a


execução desta atividade.

Competência específica 7
Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as
dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as
formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas e
de apreender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida,
pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p. 497).

Habilidades (EM13LGG701)
Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC),
compreendendo seus princípios e funcionalidades e utilizá-las de modo ético,
criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes
contextos (BRASIL, 2018, p. 497).

83
Habilidades (EM13LGG704)
Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de informação,
por meio de ferramentas e dos novos formatos de produção e distribuição do
conhecimento na cultura da rede (BRASIL, 2018, p. 497).

Atividade proposta

Reflita sobre como o gênero “Mapa em tempo real” pode contribuir para
o desenvolvimento das habilidades a serem trabalhadas.

Monitoramento de focos de incêndio em tempo real nos Biomas da


Caatinga
Fonte: https://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/bdqueimadas#mapa

A fim de levar o aluno a dominar o tema, você pode propor a ele:

1. Construção de um arquivo com notícias e reportagens jornalísticas


sobre o mesmo período, apresentando diferentes abordagens e
posições sobre as causas e consequências dos incêndios;

2. Busca de posicionamentos dissonantes, nas diferentes mídias, em


relação à existência ou não de queimadas no Brasil;

3. Identificação de desinformação relacionadas às queimadas;

4. Pesquisa sobre as ações de contenção do desmatamento da


sociedade civil, ONGs, governo etc.;

84
5. Entrevista com pessoas que morem em diferentes regiões, próximas e
mais distantes dos focos de incêndio, sobre a posição delas acerca do
desmatamento e queimadas no Brasil.

8.3 Prática 2: reportagem audiovisual

Material necessário: computador ou celular com acesso à internet.


Tempo estimado: 4 a 6 semanas.

Abaixo a competência e as habilidades que serão mobilizadas para a


execução desta atividade.

Competência específica 2
Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que
permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a
pluralidade de ideais e posições, atuando socialmente com base em princípios
e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos,
exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflito
e a cooperação, combatendo preconceitos de qualquer natureza (BRASIL,
2018, p. 492)

Habilidades (EM13LGG202)
Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos
das diversas práticas de linguagem, compreendendo criticamente o modo
como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
(BRASIL, 2018, p. 492).

Atividade proposta

A fim de se compreender as funções e as habilidades possíveis de serem


trabalhadas em uma reportagem audiovisual que aborde o tema em questão:

1. Estabeleça um período ao longo do ano. Faça uma busca na sua


página ou na de algum colega nas redes sociais e veja as postagens
que foram compartilhadas naquela timeline no período estabelecido.

2. Assista ao vídeo A busca de animais feridos em meio ao fogo, The


Intercept Brasil, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=fmK4raw1pO8

85
3. Veja as imagens representativas de vídeos sobre as queimadas e
as respectivas datas de publicação no Youtube.

4. Que aspectos do texto audiovisual e imagético interferiram no seu


gesto de interpretação e no modo como o problema das queimadas
lhe afeta? Faça um diário de bordo com anotações de suas
percepções.

5. Você acredita que o aluno pode ser afetado do mesmo modo que
você? Justifique a partir do que sabe sobre seus alunos. Este pode
ser um bom momento para propor uma roda de conversa e discutir
a impressão que tiveram sobre o vídeo. Ou podemos sugerir
também um mural virtual colaborativo, utilizando o software Padlet.
Caso não conheçam, acessem o link para criar e configurar um
mural colaborativo:
https://www.youtube.com/watch?v=CgF3D90rZb4

6. Quais trechos do texto se referem a aspectos geopolíticos? Em que


medida você reconhece que está trabalhando com uma questão de
interesse da sociedade em que seus alunos vivem?

7. Proponha uma atividade interdisciplinar com o professor de


Geografia, a fim de discutir sobre os aspectos geopolíticos dos
diferentes gêneros trabalhados com suas turmas.

8. Em termos argumentativos, como você justificaria a importância de


se trabalhar com o gênero debate?

8.4 Prática 3: imagem-manchete em vídeos

Material necessário: computador ou celular com acesso à internet, jornais ou


revistas impressos ou digitais.
Tempo estimado: 4 horas.

Abaixo a competência e as habilidades que serão mobilizadas para a


execução desta atividade.

Competência específica 1

86
Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais
e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos
diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as
formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de
explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.
(BRASIL, 2018, p. 491)

Habilidades (EM13LGG103)
Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir
criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais,
sonoras e gestuais) (BRASIL, 2018, p. 491).

Competência específica 7
Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as
dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as
formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas e
de apreender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida
pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p. 497).

Habilidades (EM13LGG701)
Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC),
compreendendo seus princípios e funcionalidades e utilizá-las de modo ético,
criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes
contextos (BRASIL, 2018, p. 497).

Habilidades (EM13LGG704)
Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de informação,
por meio de ferramentas e dos novos formatos de produção e distribuição do
conhecimento na cultura da rede (BRASIL, 2018, p. 497).

Agora você precisará fazer uma busca no youtube com as seguintes palavras:
Queimadas 2021, Brasil. Selecione as imagens-manchetes que fazem
chamada para os vídeos e faça uma lista. O conjunto dessas imagens-
manchete será figura queimada a partir da qual você fará as reflexões a seguir.

Para refletir sobre a compreensão e a sistematização dos objetos de


conhecimento, como é o caso dos diferentes gêneros, vamos pensar acerca
das imagens:

1. De que modo você foi afetado pelas diferentes semioses e fontes?


Você acredita que seus alunos podem ser afetados de modo
diferente? Por quê?

87
2. Em relação às marcas referentes aos aspectos geopolíticos e
informativos dos textos, como é possível associá-las aos diferentes
gêneros (debate, notícia-opinião, mapa e videorreportagem)?

3. Agora mude o gênero. Faça a leitura de artigos de opinião em que


diferentes opiniões sejam expostas. Que aspectos linguísticos-
discursivos do texto você considera que possui efeito persuasivo?
Quais outros aspectos de conhecimento poderiam ser trabalhados
com o artigo de opinião e outros gêneros?

8.5 Prática 4: reescrita de textos

Material necessário: computador com acesso à internet.


Tempo estimado: 2 horas.

Abaixo a competência e as habilidades que serão mobilizadas para a


execução desta atividade.

Competência específica 1
Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais
e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos
diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as
formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de
explicação, interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo
(BRASIL, 2018, p. 491).

Habilidades (EM13LGG103)
Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir
criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais,
sonoras e gestuais) (BRASIL, 2018, p. 491).

Competência específica 7
Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as
dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as
formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas e
de apreender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida
pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p. 497).

Habilidades (EM13LGG701)
Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC),
compreendendo seus princípios e funcionalidades e utilizá-las de modo ético,

88
criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes
contextos (BRASIL, 2018, p. 497).

Atividade proposta

A sugestão proposta na prática 4 é uma correção coletiva usando o


Google Docs – excel online. Vejamos a imagem ilustrativa,

Excel online – página inicial


Fonte: https://docs.google.com/spreadsheets/u/0/

Os textos produzidos pelos alunos são digitados nas pastas de um único


documento e, com isso, os alunos e o professor conseguem ter acesso a todos
os textos. Depois, cada aluno elege um monitor e coloca o nome do monitor
em uma coluna e na próxima coluna o nome do professor. O professor tem
acesso ao texto original do aluno, a leitura do monitor com comentários e cabe
ao professor ler a sugestão do monitor e fazer as considerações necessárias
do texto original. Vejamos na próxima imagem:

Excel online – texto com comentários do monitor e do professor


Fonte: https://docs.google.com/spreadsheets/u/0/

89
Com toda esta dinâmica proporcionada pela ferramenta online, a
produção dos textos dos alunos estimula a colaboração, trabalha a escrita em
esfera escolar apoiada pelas novas tecnologias e favorece o ensino-
aprendizagem sob uma perspectiva dos multiletramentos, porque facilita a
construção multimodal e a diversificação de diferentes situações de interação
sociocultural.

Conclusão da aula 8

Aluno(a), chegamos ao final da nossa última aula. Aqui você foi inserido
nas vivências e práticas de atividades multimodais e com o auxílio da tecnologia
potencializou as suas práticas discursivas.

Atividade de Aprendizagem

“Muitas são as evidências de que o jornalismo digital está ganhando cada vez
mais espaço no mundo, em detrimento do jornal de papel, o telejornalismo e
o jornalismo digital, por exemplo, tomaram o espaço do jornalismo impresso
e, hoje, são os maiores fornecedores de conteúdo jornalístico. A nova geração
quer rapidez, agilidade, praticidade e interação, e, nem sempre, o “velho”
jornal impresso pode suprir tais necessidades”.

PERISSÊ, Juliana. O jornalismo impresso está com os dias contados? Acessado em:
21 nov. 2021. Adaptado.

Sempre que surgem novas tecnologias, os antigos meios parecem


condenados à morte. No entanto, o teatro sobreviveu ao cinema; o cinema, ao
videocassete e ao DVD; e o rádio, à televisão. A reflexão de hoje é: o jornal
impresso sobreviverá na era da internet?

90
Índice Remissivo

A disciplina de Língua Portuguesa na escola ............................................ 28


(Disciplina; história Língua Portuguesa)

Antigos e novos fundamentos .................................................................... 10


(Antigos; fundamentos; linguagem)

Aprender e ensinar letramentos ................................................................. 08


(Aprender; ensinar; letramentos)

Atividade didática ....................................................................................... 81


(Atividade; didática; letramento)

Começando a escrever: uma segunda globalização ................................. 23


(Escrever; escrita; globalização)

Conceito de letramento .............................................................................. 39


(Conceito; letramento; tecnologias)

Conceito de multiletramento ...................................................................... 51


(Conceito; educação; multiletramento)

Da leitura analógica ao letramento digital ................................................... 70


(Digital; leitura analógica; letramento digital)

Faces da leitura e materialidade do livro .................................................... 70


(Digital; leitura; livro)

Historicidade da escola na aula de linguagem ........................................... 28


(Escola; história; linguagem)

Letramento ................................................................................................ 18
(Análise; escrita; língua)

Letramento aos letramentos ..................................................................... 46


(Educação; escrita; letramento)

Letramento digital ...................................................................................... 75


(Conceito; digital; letramento)

Mídia como meio de comunicação ............................................................. 61


(Comunicação; meio; mídia)

Mídia, multimídia, hipermídia ..................................................................... 64


(Hipermídia; mídia; multimídia)

Mídias ........................................................................................................ 61
(Educação; letramento; mídias)

Novas mídias e multimodalidade ............................................................... 54


(Letramento; mídias; multimodalidade)

91
Novas mídias e novos letramentos: a terceira globalização ...................... 26
(Globalização; letramentos; mídias)

Novos (multi)letramentos ........................................................................... 58


(Letramento; mídias; multimodalidade)

Novos letramentos para a vida comunitária contemporânea ..................... 36


(Comunidade; letramentos; vida)

Novos tempos, novas teorizações ............................................................. 08


(Estudos; hibridismo; multimodalidade)

Os aprendizes de hoje e os professores de amanhã ................................. 14


(Aprendizes; comunicação; professores)

Pedagogia do multiletramento ................................................................... 49


(Educação; multiletramento; pedagogia)

Pedagogia dos letramentos ....................................................................... 39


(Educação; letramentos; pedagogia)

Prática 1: mapa como monitoramento ........................................................ 83


(Mapa; monitoramento; prática)

Prática 2: reportagem audiovisual .............................................................. 85


(Audiovisual; prática; reportagem)

Prática 3: imagem-manchete em vídeos .................................................... 86


(Imagem-manchete; prática; vídeos)

Prática 4: reescrita de textos ...................................................................... 88


(Prática; reescrita; textos)

Práticas sociais de leitura e escrita ............................................................ 42


(Escrita; leitura; práticas sociais)

Primeiras línguas: como e por que elas são tão diferentes, primeira
globalização ............................................................................................... 18
(Escrita; globalização; línguas)

Primeiras línguas: comunicações multimodais – primeira globalização ..... 22


(Comunicações multimodais; globalização; línguas)

Sistema de significados e semiose ............................................................ 49


(Semiose; significados; sistema)

Sociedade do conhecimento ...................................................................... 34


(Argumento; economia; educação)

Tecnologia: potencializando as práticas discursivas .................................. 82


(Discursos; práticas; tecnologia)

Um mundo transmídia ................................................................................ 65


(Hipermídia; mídia; transmídia)

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