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Universidade de Lisboa

A Importância da Leitura no Processo de Aprendizagem

Jéssica de Jesus Abreu Namora

Mestrado em Ensino de História no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino

Secundário

Relatório da Prática de Ensino Supervisionada orientado pelo Professor Doutor

Miguel Corrêa Monteiro

2021
“Quando ensinamos algo a uma criança, tiramos para sempre a oportunidade de ela
descobrir por conta própria.”
(Jean Piaget)
Agradecimentos

Chegando agora ao final do mestrado não posso deixar de agradecer às pessoas que
tornaram esta jornada muito mais suportável:

À minha querida mãe Florinda, uma das pessoas mais fortes que conheço. Dedicou a
sua vida inteira a educar-me a mim e aos meus irmãos, privando-se dos seus sonhos.
Apesar de tudo, exibe sempre um sorriso no rosto e uma doçura que tão bem a
carateriza. Obrigada mami.

Aos meus irmãos Cláudio, Carina, Patrícia e Mónica, compinchas de uma vida inteira!
Obrigada pelo apoio e pelos vossos conselhos. Sem vocês não seria a pessoa que sou
hoje.

À minha grande amiga Mélanie, “Mel”, que foi um enorme pilar ao longo dos últimos
cinco anos. Palavras não são suficientes para descrever tudo aquilo que passamos.
Obrigada por não me deixares desistir, pelo apoio nos momentos mais difíceis, pela
força e motivação que contagiam qualquer pessoa.

Ao professor Miguel Monteiro, pelas conversas reconfortantes, pela boa disposição


durante as aulas, pelas palavras sábias e pela orientação no decorrer destes dois anos.
Recordá-lo-ei com muito carinho.

Aos meus colegas de mestrado, pela ajuda e partilha de conhecimentos.

A todos, um enorme obrigada.

I
Siglas, abreviaturas e normas

Lista de abreviaturas
Cap. Capítulo
Consult. Consultado
Doc. Documento
Nº Número
P. Página
PP. Páginas
S.N. Sem Nome

Lista de siglas
ESRDA Escola Secundaria Rainha Dona Amélia
IPP Iniciação à Pratica Profissional
TPC Trabalhos Para Casa
UC Unidade Curricular

Norma:
As referências bibliográficas e as citações presentes neste relatório de prática
supervisionada foram redigidas de acordo com as normas APA - American
Psychological Association.

II
Índice Geral

Agradecimentos ................................................................................................................. I
Siglas, abreviaturas e normas ........................................................................................... II
Índice de Ilustrações .........................................................................................................V
Índice de Gráficos .............................................................................................................V
Índice de Documentos .................................................................................................... VI
Índice de Tabelas ............................................................................................................ VI
Índice de Anexos ............................................................................................................ VI
Resumo .......................................................................................................................... VII
Abstract .........................................................................................................................VIII
Introdução ..........................................................................................................................1
Parte I - Enquadramento Teórico ..................................................................................2
1. A Importância da Leitura ...........................................................................................3

1.1. A Leitura e a Instituição Escolar .........................................................................5


1.2. O Papel da Escola e os Seus Atuais Desafios .....................................................9

2. A Tecnologia: Obstáculo ou Incentivo à Leitura e à Socialização? .........................12


3. O Docente como Promotor da Leitura .....................................................................16
4. Análise dos Inquéritos sobre Hábitos de Leitura .....................................................21
Parte II - Contexto Escolar ...........................................................................................28
1. Escola Secundária Rainha Dona Amélia ..................................................................29

1.1. Caraterização Geográfica ..................................................................................29


1.2. Caraterização da Escola ....................................................................................30

2. Caraterização da Turma 10º H2 ...............................................................................33


3. A Professora Cooperante ..........................................................................................36
4. Idas à Escola / Reflexão sobre as Aulas Observadas ...............................................37
5. O Primeiro dia de Estágio ........................................................................................39
Parte III - Prática de Ensino Supervisionada .............................................................40
1. Porquê Ensinar/Aprender História? .........................................................................41
2. Teorias de Aprendizagem.........................................................................................43
3. Enquadramento Científico........................................................................................51

III
3.1. Unidade Didática - O Modelo Romano ............................................................51
3.2. Escolha do Tema ...............................................................................................55

4. Descrição das Aulas Lecionadas ..............................................................................56

4.1. Primeira Aula ....................................................................................................56


4.2. Segunda Aula ....................................................................................................62
4.3. Terceira Aula ....................................................................................................69
4.4. Quarta Aula .......................................................................................................75
4.5. Quinta Aula .......................................................................................................81

Considerações Finais .......................................................................................................87


Referências Bibliográficas ...............................................................................................88
Anexos .............................................................................................................................93

IV
Índice de Ilustrações

Ilustração 1 - ESRDA ......................................................................................................32


Ilustração 2 - Páteo da ESRDA .......................................................................................32
Ilustração 3 - O Império Romano ....................................................................................58
Ilustração 4 - "A Ara Pacis Augustae, o Altar da Paz Augusta". Doc. 4, presente no
manual (p. 80) ..................................................................................................................66
Ilustração 5 - "A progressiva extensão da cidadania". Doc. 10, presente no manual
(p.85) ...............................................................................................................................72
Ilustração 6 - O fórum romano. Doc. 14.1, presente no manual (p.91) ...........................77
Ilustração 7 - "Planta da cidade de Timgad". Doc.2, retirada do manual (p. 90) ............77

Índice de Gráficos

Gráfico 1 - Respostas dos alunos à pergunta "Gostas de ler?" ........................................21


Gráfico 2 - Respostas dos alunos à questão "Lês com que frequência?" ........................21
Gráfico 3 - Respostas dos alunos à pergunta "O que mais gostas de ler?"......................22
Gráfico 4 - Respostas dos alunos à pergunta "Consideras a leitura importante?" ...........23
Gráfico 6 - Respostas dos alunos à pergunta "Achas importante ler textos em sala de
aula com o auxílio do professor?" ...................................................................................25
Gráfico 7 - Respostas dos alunos à questão "Achas que as aulas têm-te ajudado a
melhorar a leitura e a compreensão de textos?" ..............................................................25
Gráfico 8 - Respostas dos alunos à questão "Os teus pais têm o hábito de ler?" ............26
Gráfico 9 - Referente à faixa etária dos alunos do 10º H2 ..............................................34
Gráfico 10 - Alusivo aos períodos históricos favoritos dos alunos .................................34
Gráfico 11 - Relativo ao grau de escolaridade dos pais ..................................................35

V
Índice de Documentos

Documento 1 - Excerto da obra "História de Roma", de Tito Lívio ...............................57


Documento 2 - "O Culto a Augusto". Doc. 5A, presente no manual (p.81) ...................66
Documento 3 - "O Direito". Doc. 6, retirado do manual (p.82) ......................................71

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Quadro síntese da matéria lecionada nas cinco aulas .....................................85

Índice de Anexos

Anexo 1 - Questionário sobre leitura aplicado à turma do 10º H2 ..................................95


Anexo 2 - Planificação a curto prazo da primeira aula....................................................96
Anexo 3 - Planificação a curto prazo da segunda aula ....................................................97
Anexo 4 - Planificação a curto prazo da terceira aula .....................................................98
Anexo 5 - Planificação a curto prazo da quarta aula .......................................................99
Anexo 6 - Planificação a curto prazo da quinta aula .....................................................100

VI
Resumo

Dada a importância da leitura para a aquisição de conhecimentos em qualquer


área científica e principalmente para o desenvolvimento da cognição humana, resolvi
desenvolver este tema com afinco pois é essencial perceber e dar a conhecer os seus
vários benefícios, tais como o desenvolvimento da escrita, do raciocínio, da capacidade
argumentativa e comunicativa, do senso crítico, entre outros. Ler aumenta a nossa
aptidão para interpretarmos qualquer texto e amplia não só os nossos conhecimentos
gerais como também o nosso vocabulário. Quantas mais palavras conhecermos mais
fácil será expressarmo-nos. Porém, há uma problemática que ressurge de tudo isto que é
a fragilidade de várias instituições de ensino público e a falta de estímulos que
sustentem o hábito e a importância da leitura na comunidade escolar. É exatamente
sobre este cenário que versará a primeira parte do meu relatório de Introdução à Prática
Profissional III.
Deste modo, a segunda parte deste trabalho versa sobre o relato detalhado do
estágio ao longo destes dois anos de mestrado. Essencialmente, irão ser descritas com
minuciosidade todas as atividades elaboradas ao longo destes meses na escola onde
estagiamos. É pretendido também referir e expor algumas das nossas experiências
acerca da prática supervisionada.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Cognição, Cultura, Instrução, Perceção

VII
Abstract

Given the importance of reading for the acquisition of knowledge in any


scientific area and especially for the development of human cognition, I decided to
develop this topic with great care because it is essential to understand and make known
its various benefits, such as the development of writing, reasoning, argumentative and
communicative capacity, and critical sense, among others. Reading increases our ability
to interpret any text and expands not only our general knowledge, but also our
vocabulary. The more words we know, the easier it is to express ourselves. However, a
problem that arises from all this is the fragility of many public educational institutions
and the lack of incentives that support the habit and importance of reading in the school
community. It is exactly on this scenario that the first part of my Introduction to
Professional Practice III report will be focused.
Thus, the second part of this work is about the detailed report of the internship
over these two years of my master's degree. Essentially, all the activities developed
during these months in the school where I did my internship will be thoroughly
described. It is also intended to refer and expose some of my experiences about the
supervised practice.

Keywords: Development, Cognition, Culture, Instruction, Perception.

VIII
Introdução

O seguinte Relatório de Prática de Ensino Supervisionada foi realizado no


âmbito da U.C. de Iniciação à Prática Profissional III, dirigida pelo Prof. Dr. Miguel
Corrêa Monteiro. A nossa prática profissional foi orientada pela professora Natércia
Fialho, na Escola Secundária Rainha Dona Amélia (ESRDA).
Este trabalho representa uma pequena viagem pelos dezassete meses de estágio
na Escola Secundária Rainha Dona Amélia, que nos viu crescer ao longo destes dois
anos de mestrado.
O relatório divide-se em três grandes partes. A primeira versa sobre o tema A
Importância da Leitura no Processo de Aprendizagem, que aborda a relevância da
leitura no processo de aquisição de conhecimento. É sabido que a leitura é um dos
principais meios de aprendizagem, sendo através dela que desenvolvemos uma série de
capacidades inerentes para comunicar, escrever e alcançar a agilidade de pensamento.
Assim sendo, pretende-se demonstrar o quão importante é a leitura para o processo de
aprendizagem, destacando alguns motivos que incitam o crescente desinteresse das
crianças para com a leitura
A segunda parte refere-se a uma breve apresentação do estabelecimento escolar
onde estagiamos; à caraterização da turma que nos acolheu, seguida de uma curta
exposição sobre a importância do estágio e seus benefícios.
A terceira e última parte deste relatório estende-se sobre as teorias de
aprendizagem que mais influenciaram a nossa prática pedagógica; aporta o
enquadramento científico referente ao tema que lecionamos, bem como a descrição
pormenorizada de todas as aulas lecionadas. Este segmento incide maioritariamente nas
cinco aulas lecionadas, sobre o Modelo Romano, tema que nos suscita grande interesse
e que se insere no módulo 1 - Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade,
cidadania e império na Antiguidade Clássica.

1
Parte I - Enquadramento Teórico

2
1. A Importância da Leitura

A primeira parte deste relatório visa destacar a importância da leitura no


processo de ensino-aprendizagem e demonstrar os seus inúmeros benefícios, tais como,
o aumento do senso crítico, a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento
cognitivo.
A leitura é uma prática que sempre esteve bem presente no nosso quotidiano,
tendo sido introduzida nas nossas vidas desde tenra idade. Por ser um bem essencial, a
leitura possibilita-nos aprender, desenvolver a nossa capacidade crítica, adquirir e
amplificar conhecimentos, para assim, nos tornarmos cidadãos mais informados e ativos
na nossa sociedade. Se repararmos bem, o ato de ler já é algo intrínseco no nosso dia-a-
dia, nas nossas práticas diárias, tais como, estar nas redes sociais, ler o diário de
notícias, ver televisão, ler as etiquetas dos produtos de supermercado e até mesmo trocar
emails ou mensagens, entre outros. (Gonçalves, 2013, p.11). Segundo Débora
Gonçalves:

“A leitura é um dos meios mais importantes para a construção de novas


aprendizagens, possibilita o fortalecimento de ideias e ações, (…), possibilitando
a ascensão de quem lê a níveis mais elevados de desempenho cognitivo, como a
aplicação de conhecimentos a novas situações, a análise crítica de textos e a
síntese de estudos realizados. (…) é através da leitura que podemos enriquecer
nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação.
Com a leitura, o leitor desperta para novos aspectos da vida em que ainda não
tinha pensado, desperta para o mundo real e para o entendimento do outro ser.”
(Gonçalves, 2013, p. 11)1

Ler traz inúmeros benefícios ao ser humano pois oferece-nos novas perspetivas
sobre o mundo que nos rodeia e dá-nos, sobretudo, uma vasta bagagem que nos é
essencial para compreender não só os outros como a nós próprios. Quando lemos um
livro estamos, muitas vezes, em contacto com outro ponto de vista, o do escritor, e
percebemos, através das suas experiências de vida, o porquê de ter adotado

1
Gonçalves, D. (2013). A Importância Da Leitura Nos Anos Iniciais Escolares, São Gonçalo:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, p.11.

3
determinados comportamentos. Deste modo, nós como leitores e estando do lado de
“fora” mais facilmente nos colocamos no lugar do outro, fazendo nascer um sentimento
de compreensão e tolerância para com as outras pessoas.
Para a maior parte das crianças a leitura é vista como algo aborrecido ou
entediante pois é uma prática que exige paciência, tempo e concentração, tudo aquilo
que a geração atual não possui devido à rapidez com que hoje adquirem algo. Ora, os
meios tecnológicos, embora extremamente vantajosos, estão a provocar nas crianças
uma certa preguiça mental e dificuldade no raciocínio, que lhes afeta a perceção e a
aprendizagem. Por esta razão, o hábito da leitura deve ser incitado desde a infância de
maneira a que a criança adquira gosto pelos livros e se divirta, juntando palavra a
palavra. Este exercício deve ser frequente na vida de cada criança pois, conforme Alba
Arana “a leitura tem o poder de desenvolver a capacidade intelectual e crítica das
pessoas, devendo assim, fazer parte do seu dia-a-dia e desenvolver a criatividade em
relação ao seu próprio meio e o meio externo” (Arana, & Klebis, 2015, p. 13). 2
Para aprender a gostar da leitura é preciso ler frequentemente, ser persistente,
querer aprender e adquirir conhecimento. Ninguém nasce a gostar de ler, é preciso
prática e, só através dela é que as crianças se tornarão futuras leitoras. Arana, & Klebis
sugerem que:

“uma das formas de incentivar as crianças a lerem é apresentá-las a livros que


estimulem o hábito de ler pelo prazer. A partir daí elenca-se diversas vantagens,
como a de que elas conheçam mundos novos e realidades diferentes para que,
desta forma, elas possam construir sua própria linguagem, oralidade, valores,
sentimentos e ideias, essas tais, que a criança levará para o resto da vida.”
(Arana, & Klebis, 2015, p. 3) 3

O contacto com a leitura deve acontecer desde muito cedo, através da escola ou
através da própria família, porque necessitamos de saber ler para aumentar o nosso

2
Arana, Alba. & Klebis, A. (2015, Outubro). A Importância do Incentivo à Leitura para o Processo de
Formação do Aluno, p. 13.
3
Arana, Alba. & Klebis, A. (2015, Outubro). A Importância do Incentivo à Leitura para o Processo de
Formação do Aluno, p.3.

4
poder argumentativo e de interpretação dos assuntos e problemáticas de uma sociedade
tão complexa como a nossa.

1.1. A Leitura e a Instituição Escolar

Como já dito anteriormente, a leitura é-nos introduzida desde muito cedo porque
é durante a infância que desenvolvemos mais rapidamente as nossas aptidões. Por essa
razão é que a leitura deve ser incutida e trabalhada desde a creche e durante o básico,
uma vez que são anos determinantes na construção da personalidade e das preferências
de cada um. Uma criança que lê e que desenvolve o gosto pela leitura será com certeza
um adulto informado, instruído e consciente.
As instituições escolares representam meios fundamentais através dos quais as
crianças desenvolvem a sua leitura e aprendem a interpretar aquilo que leem,
aumentando, dessa forma o gosto pelos livros. Quando a criança lê é importante que
procure compreender o que está a ser lido, para que possa dar início à construção do seu
próprio conhecimento. Este exercício não é simples de ser passado para a prática, por
isso, cabe às escolas orientarem as crianças nesse sentido. De acordo com Debora
Gonçalves “não basta identificar as palavras, mas fazê-las ter sentido, compreendendo,
interpretando, relacionando o que se lê com a própria vida, ações, sentimentos. As
crianças leem quando os textos apresentam significados para elas” (Gonçalves, 2013, p.
13). 4
Debora Gonçalves ressalta também algo bastante relevante que é a ideia de as
crianças lerem algo somente quando lhes suscita interesse (Gonçalves, 2013). Pegando
neste pensamento como forma de incentivar nas crianças o gosto pela leitura, os
docentes devem, em contexto de sala de aula, apresentar aos seus alunos bibliografia
relacionada com os conteúdos programáticos lecionados, de maneira a motivá-los a
aprofundar temas a partir da leitura de livros.
As instituições educacionais devem tentar sempre arranjar novas estratégias que
potenciem a evolução dos alunos ao nível da leitura, tais como a divulgação dos livros

4
Gonçalves, D. (2013). A Importância da Leitura nos Anos Iniciais Escolares, São Gonçalo:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. p.13.

5
existentes na biblioteca da escola, projetos de leitura, clubes de leitura, para assim,
proporcionar aos alunos momentos de reflexão, aprendizagem, descoberta e também
reforçar hábitos de leitura.
Para além das escolas os pais têm a obrigação de instruir os seus filhos para a
importância da leitura, dando o seu exemplo. Se as crianças verem os seus progenitores
a lerem livros terão interesse e motivação para o fazer também. Por essa razão os pais
são peça fundamental capaz de inspirar as crianças para o ato de ler e fazer da leitura
um hábito diário. Contudo, nem todos os pais possuem o hábito da leitura nem os meios
necessários para poder incentivar as suas crianças a ler. Isabel Solé reforça esta ideia
quando afirma e bem que:

“muitos alunos talvez não tenham muitas oportunidades fora da escola, de


familiarizar-se com a leitura; talvez não vejam muitos adultos lendo; talvez
ninguém lhes leia livros com frequência. A escola não pode compensar as
injustiças e as desigualdades sociais que nos assolam, mas pode fazer muito para
evitar que sejam acirradas em seu interior. Ajudar os alunos a ler, a fazer com
que se interessem pela leitura, é dotá-los de um instrumento de aculturação e de
tomada de consciência cuja funcionalidade escapa dos limites da instituição.”
(Solé, 1998, p. 51) 5

Muitos fatores podem estar na origem do insucesso escolar das crianças e, nestes
casos, a escola deve ter o cuidado de comunicar com os pais e orientá-los de maneira a
que a criança seja beneficiada. Uma boa comunicação entre os pais e a escola irá
favorecer e aumentar a produtividade de cada criança.
A relação escola-família é uma relação de inter-dependência onde um influencia
o outro. O ambiente familiar determinará o desempenho das crianças na escola, daí a
importância dos pais e dos docentes trabalharem em conjunto. Para além do trabalho
evidente do professor, os pais têm um outro papel muito mais importante, o de amparar
e orientar os seus filhos, ajudando-os nas suas dificuldades e mostrando-lhes que os
obstáculos podem ser superados. A relação de mútua ajuda entre as instituições
escolares e a família acaba por ser extremamente vantajosa para ambos os lados na

5
Solé, I. (1998). Estratégias de Leitura; Porto Alegre: ARTMED. p. 51.

6
medida em que, cada membro presta o seu contributo com vista a uma escola mais
equilibrada e mais bem preparada para lidar com as adversidades que venham a surgir,
contribuindo, assim, para um maior sucesso educativo. Deste modo, os pais têm também
uma grande responsabilidade no que toca à promoção da leitura na vida dos seus
educandos pois são eles que também, embora não aconteça sempre, acompanham a vida
escolar dos seus filhos. Algumas maneiras de o fazer seriam dedicar uma ou duas horas
de tempo para auxiliá-los nos TPC’s, ler com eles e tirar-lhes dúvidas de maneira a
ajudá-los a ultrapassar as suas dificuldades. Os pais são os grandes influenciadores da
leitura e os filhos, o reflexo dos seus pais.
Relativamente às instituições educacionais em Portugal, estas têm, ainda, um
longo caminho a percorrer de modo a restringirem a distância que separa a família da
escola. Segundo Ilda Amoreira

“Numa escola onde existe a participação dos pais no seu conselho, na redação do
jornal, na biblioteca, nos clubes, em projetos de sala de aula, ao lado dos
professores e das crianças, cria-se uma excelente dinâmica na qual evoluem as
representações, os estatutos e os papéis de cada um dos participantes.” (Moreira,
2014, p. 36) 6

Se a escola é um meio que induz o aluno para a leitura através do acesso livre à
biblioteca, projetos de leitura ou outras iniciativas que promovam as práticas de leitura,
o professor é a peça chave visto que é ele que acompanha o aluno em todo o seu
percurso escolar. Como tal, o docente é um dos principais responsáveis pela evolução
de cada aluno.
Os professores devem ler juntamente com os seus alunos, regularmente, para que
eles criem hábitos de leitura e os transportem para outros locais além da sala de aula.
Ler frequentemente com as crianças faz estimular a sua imaginação e ajuda-as a
articular de maneira mais clara e percetível pois o seu vocabulário tornar-se-á muito
mais vasto.
Apesar de não ser tarefa fácil, muito menos nos dias que correm, motivar os
alunos para a leitura através da análise conjunta de documentos, contos, lendas, e
6
Moreira, I. (2014). Motivação para a Leitura. (Relatório de mestrado, Instituto Superior Politécnico
Gaya), p. 36.

7
histórias, é uma maneira eficaz de levar o aluno a desenvolver as suas capacidades
interpretativas e comunicacionais. Apresentar aos alunos bibliografia diversificada
através da qual eles possam adquirir informação e conhecimento é uma forma de
incentivar a busca e a descoberta de outros livros que realmente lhes suscitem interesse
e os motive a ler cada vez mais, tornando-se voz ativa na sua própria aprendizagem. Isto
funciona como uma lufada de ar fresco para os alunos, muitas vezes obrigados a ler algo
para complementar os conteúdos programáticos de maneira a poderem ser avaliados.
Ilda Moreira salienta:

“o facto de, em contexto escolar, os alunos estarem sempre a ter de provar que
leram, estarem constantemente a ser avaliados, o que leva muitas vezes a que os
alunos simulem os seus discursos. Para além disso, os alunos vão construindo a
sua leitura para cada disciplina, obrigando-os a criar as suas próprias estratégias,
muitas vezes classificadas como “fáceis” e “decorativas.” (Moreira, 2014, p.
37)7

7
Moreira, I. (2014). Motivação para a Leitura. (Relatório de mestrado, Instituto Superior Politécnico
Gaya), p. 37.

8
1.2. O Papel da Escola e os Seus Atuais Desafios

A instituição escolar é considerada um meio formador de cidadãos autónomos,


que tem como principal função incentivar e estimular o pensamento crítico e autónomo
nos alunos, com vista à sua inserção na sociedade. Émile Durckeim determina a escola
como sendo uma instituição fundamental dentro do meio social visto que é através dela
que os indivíduos são educados e preparados para a vida adulta, ou seja, para uma vida
mais independente. Para além disso, a escola é também um espaço de apropriação do
saber sistematizado, mais organizado, contextualizado e planeado no âmbito do
currículo escolar, sendo por essa razão que possui a utilidade de ensinar e orientar os
alunos na construção do seu próprio conhecimento. Deste modo, ensinar é a função
específica da escola que consiste em auxiliar os alunos a desenvolverem, por meio da
leitura e não só, as suas capacidades intelectuais e reflexivas.
Nos dias que correm, tentar incentivar os alunos a ler tem sido uma tarefa árdua
devido ao progresso das tecnologias e dos “media” que possuem uma vasta informação
a que os alunos recorrem muitas vezes. Como consequência da falta de leitura de fontes
fidedignas, os educandos acabam por não conseguir filtrar a informação a que têm
acesso na internet, tornando-se depois difícil aplicar o conhecimento que daí retêm. É
aqui que a escola intervém, como uma instituição que estimula o espírito crítico e a
autonomia intelectual através da prática da leitura e análise em sala de aula o que, por
sua vez, formará indivíduos mais bem preparados e capacitados de aplicar os
conhecimentos adquiridos num contexto mais social. É função da escola formar
cidadãos capazes de exercer um papel mais analítico e mais presente na sociedade.
Atualmente, ainda se verificam instituições escolares que dão maior destaque à
avaliação sumativa em que os alunos são avaliados apenas pelos conteúdos adquiridos.
As aulas têm que ser mais dinâmicas e, por essa razão, a escola tem que reinventar
novas maneiras de transmissão de conhecimento e não apenas limitar-se a ser o local
tradicional de instrução. A sala de aula deve ser um lugar de leitura, debate e
socialização, com vista a provocar nos alunos o interesse em aprender e a participar. A
escola hoje deve preocupar-se também em preparar os educandos para se integrarem
numa sociedade complexa e, acima de tudo num mercado global em constante mutação,

9
onde cada vez mais lhes é exigido a adaptação a novas situações, a agilidade de
raciocínio e, acima de tudo, perseverança.

“Este novo papel da escola implica uma nova maneira de ser professor. O
professor como autoridade suprema, que sabe tudo, incumbido de ensinar o
aluno, que nada sabe, é cada vez mais um modelo do passado. Assim, a principal
função do professor já não é dar o programa todo mas é a de interpretar, gerir e
adaptar o currículo às características e necessidades dos seus alunos, criando
contextos de aprendizagem tão fecundos quanto possível. O professor não se
pode limitar a seguir o livro de texto mas tem de usar materiais diversificados e
estimular os alunos a consultar diversas fontes de informação.” (Costa, 1999, p.
4) 8

De entre estes materiais estão os documentos e excertos de livros que, embora


pareçam banais, podem ser tratados de maneira apelativa entre os alunos. Apresentar
aos alunos bibliografia diversificada dará a cada um deles a oportunidade de contactar
com livros que desconheciam e, quem sabe, suscitar-lhes o interesse pela descoberta de
um mundo sem fim que é o dos livros.
Para que as instituições educativas possam triunfar, estas têm que se desapegar
do tradicional modelo pedagógico e adaptar-se ao complexo ambiente socio-político
atual. Se antes, nos estabelecimentos educativos do século passado, imperava um
ambiente de maior rigidez e violência, focada numa aprendizagem assente na
memorização, atualmente as escolas atuais devem ter em conta as particularidades de
cada aluno, compreender o seu historial e proporcionar-lhes uma maior e variada
formação com o objetivo de estimular os seus interesses. A escola não deverá
sobrecarregar os seus alunos com TPC´s pois o tempo livre em casa, com a família ou a
praticar atividades extracurriculares é precioso e indispensável ao desenvolvimento das
crianças a todos os níveis. Não é somente na escola que as crianças adquirem
conhecimentos, aliás atrevo-me a dizer que é fora dela que as crianças aprendem mais e
muito melhor, através do contato com a realidade.

8
Costa, J. (1999). O papel da escola na sociedade atual: Implicações no Ensino das Ciências. Millenium.
p. 4.

10
Mais importante do que aprender é sermos felizes e sentirmo-nos bem no espaço
onde estamos. As escolas necessitam apostar no bem-estar físico e psicológico dos
educandos, proporcionando-lhes atividades dinâmicas e o contacto com diversas áreas,
tais como a arte, a leitura, a meditação, os jogos e até mesmo com a natureza. Esta
última tem um poder enorme contra o stress e ansiedade que poderá ser benéfico para os
alunos e para o seu desempenho escolar.
As escolas devem preparar os alunos, sobretudo, para a constante mudança do
mundo laboral que lhes exige serem multifacetados e estarem preparados para qualquer
adversidade. Para auxiliar nesta tarefa os planos curriculares devem estar mais focados
nas ferramentas artísticas e de leitura como potencializador do desenvolvimento do
caráter, da criatividade e do espírito crítico. Estimular a criatividade e o debate através
da leitura fará com que as crianças tenham gosto em aprender, o que por sua vez,
permitirá o desenvolvimento das suas aptidões de modo a conseguirem ultrapassar
problemas que poderão encontrar numa sociedade cada vez mais globalizada.
Os estabelecimentos de ensino atravessam um período de rápida e constante
mudança com o objetivo de atenderem às novas caraterísticas dos alunos do século XXI.
Acima de tudo, hoje, a escola deve formar cidadãos mais independentes, que sejam
capazes de criar, de solucionar problemas e de reagir às adversidades da vida e da
sociedade que lhes obriga a tornarem-se multifacetados. Por conseguinte, é cada vez
mais desafiador para as instituições escolares adaptarem-se de acordo com o constante
desenvolvimento da sociedade. Ensinar nos dias que correm não se pode limitar à
simples transmissão de conteúdo, sendo necessário reinventar os métodos educativos
com vista a adaptá-los às caraterísticas dos alunos e da sociedade que os rodeia.
Assim sendo, com base no livro de Ilídia Cabral e José Matias Alves: Inovação
Pedagógica e Mudança Educativa (2018, p. 9)

“a escola é uma organização híper complexa, na qual se cruzam múltiplas


lógicas de ação e diferentes dimensões que influenciam os processos e os
resultados escolares. Assim sendo, as dinâmicas de inovação pedagógica e
melhoria das aprendizagens devem ser estudadas e interpretadas à luz de um
modelo compósito e holístico que permita o cruzamento e a integração das

11
diferentes dimensões que podem tornar possível (ou obstaculizar) essa mesma
inovação.” (Cabral & Alves, 2018, p. 9) 9

2. A Tecnologia: Obstáculo ou Incentivo à Leitura e à Socialização?

Como tornar as crianças leitoras assíduas com toda a tecnologia que possuem à
sua volta? Será que os meios tecnológicos ajudam a fomentar a leitura ou constituem
um dos principais empecilhos?
Ensinar a ler é cada vez mais desafiante perante os avanços tecnológicos e a
nova geração de alunos verifica-se cada vez mais impaciente, fruto da eminente
“transformação digital”. Diante desta nova perspetiva, as instituições educacionais
devem adaptar-se de maneira a poderem acompanhar a evolução das crianças e,
sobretudo, auxiliar os alunos na criação das suas próprias opiniões e pensamento crítico,
por meio da leitura regular e acompanhada em sala de aula.
Atualmente, devido ao acesso imediato a qualquer tipo de informação na
internet, os alunos tomam-na como garantida acabando por não refletir sobre a mesma
nem criar as suas próprias conceções. As crianças estão a tornar-se cada vez menos
críticas e a sua capacidade argumentativa verifica-se cada vez mais reduzida.

“A educação no mundo moderno não conta apenas com a participação da escola


e da família. Outras instituições, como a mídia, despontam como parceiras de
uma ação pedagógica. Para o bem ou para o mal, a cultura de massa está
presente nas nossas vidas, transmitindo valores e padrões de conduta,
socializando muitas gerações.” (Setton, 2002, p. 109) 10

O uso da tecnologia pode incitar positivamente as crianças para a leitura se for


bem utilizada. É por aqui que devemos começar, ou seja, por ensinar as crianças a fazer
um uso correto da internet, ajudá-las a identificar informação fidedigna e fontes seguras
para que depois ganhem autonomia intelectual para o fazer sozinhas. O grande

9
Cabral, I. & Alves, J. (2018, Novembro). Inovação Pedagógica e Mudança Educativa - Da teoria à(s)
prática(s). Porto: Faculdade de Educação e Psicologia. p. 9.
10
Setton, M. (2002, Junho). Família, escola e mídia: um campo com novas configurações, Educação e
Pesquisa. São Paulo, 28. p. 109.

12
problema que se verifica hoje é, precisamente, a quantidade de informação falsa que as
crianças têm ao seu dispor e que facilmente lhes influencia e as leva a acreditar que
estão certas, causando-lhes alguma dificuldade em peneirar esse conhecimento.
Contudo, a escola constitui um dos meios que orienta as crianças nesse sentido, de fazer
um uso correto da internet, de saber comparar e desenvolver o seu espirito crítico em
relação à informação que as rodeia. Esta ideia é apoiada pela Jocelaine Prevedello que
considera que:

“a leitura virtual (…) é um bom exemplo da linguagem utilizada nos tempos


modernos, a chamada leitura digital. Sabe-se que as escolas oferecem
computadores e laboratórios de informática aos alunos para ter acesso às novas
maneiras de ler e escrever.” (Prevedello, p. 6) 11

A instituição escolar desde sempre fez parte do nosso quotidiano, com o intuito
de nos ensinar a ler, a pensar, a comunicar, a evoluir e a ampliar os nossos
conhecimentos, bem como a socializar e a conviver uns com os outros. Cada vez mais o
convívio em sociedade vai-se tornando escasso e verifica-se a falta de presença ativa
das pessoas no meio social. Esta problemática deve-se ao facto de tudo estar à distância
de um clic e de termos acesso a todo o tipo de informação e serviços sem ser necessário
sairmos de casa. Segundo afirma Camila de La Rocha,

“importar-se com o outro existia, e tinha grande valor. Hoje em dia, essas
vontades se reduziram a sentar na frente da TV ou de um computador para
absorvermos verdades prontas, e nos manifestarmos de acordo com a massa
virtual, sem a necessidade de pensar, sem a necessidade de nos movermos, sem a
vontade de olhar para trás e sem a vontade de olhar para o outro. A mídia hoje
assumiu o papel de formadora de opinião, passando à sociedade contemporânea
uma visão de mundo a partir de um ponto de vista pronto. Informações
veiculadas em jornal, televisão, internet passaram a ser verdades absolutas e
incontestáveis, não porque não podemos contestá-las, mais porque no mundo

11
Prevedello, J. P. (2010) A Importância da Leitura e a Influência das Tecnologias. Coleção de trabalhos
de conclusão do Curso de Especialização em Mídias na Educação - EaD. p. 6.

13
atual se tornou mais fácil não contestar nada e aceitar o que é dito. É mais fácil
aceitar a verdade pronta do que pensar.” (De La Rocha, pp. 11-12) 12

A escola perde para toda a tecnologia que tende a evoluir cada vez mais e que
acaba por prejudicar o raciocínio dos cidadãos, impondo-lhes ideias já formadas. Maior
parte dos alunos desconhecem os seus direitos enquanto cidadãos, por isso é imperante
que estejam a par dos benefícios da convivência no meio social para o seu
desenvolvimento. É neste aspeto que a instituição escolar deve ter um papel mais ativo.
Temos tudo ao nosso dispor, a internet pensa por nós sem ser preciso qualquer tipo de
esforço mental da nossa parte e é este facto que tem de ser alterado com emergência
pois uma sociedade ativa e ao corrente dos seus direitos estará mais bem preparada para
o mundo que a rodeia.
A educação para a cidadania surge exatamente por esse motivo, para despertar
os alunos acerca dos conteúdos sociais, para fazê-los perceber que a sua opinião importa
e que é estritamente necessário terem um papel ativo no meio que os rodeia. Sobretudo,
visa auxiliá-los na busca pela sua posição social e papel a desempenhar. Deste modo, se
a escola prepara os alunos para o ingresso à universidade ou para o mundo do trabalho é
necessário também prepará-los para viver em sociedade.
O papel da escola não é controlar a influência dos “media” na vida dos alunos,
ao invés disso terá que ensinar o aluno a questionar aquilo que vê e lê, para que daí
forme a sua própria conceção e consequentemente desenvolva a sua autonomia pessoal
e participação social. Esta é uma problemática que necessita de especial atenção por
parte das escolas, que terão que preparar os educandos para a vida em sociedade. Esta
preparação consiste em ressaltar, por meio do ensino, os direitos do ser humano e do
cidadão.
Por outro lado, Viviane Guimarães oferece um outro ponto de vista sobre o
mundo digital e afirma que desprover os alunos dessas mesmas tecnologias que
facilitam bastante as tarefas escolares diárias parece-nos ingrato, visto que podem ser
vantajosas e trazer inúmeros benefícios se forem bem utilizadas. Viviane afirma
também que:

12
Rocha, C. R. (2017). Papel da escola na construção de uma formação cidadã: vertentes reflexivas a
partir da intervenção dos meios de comunicação em massa no quotidiano dos alunos. pp. 11-12.

14
“dar a oportunidade ao aluno de realizar a leitura de múltiplos géneros textuais
em diversos suportes é um meio de incluir os novos aprendizes em ampla
variedade de canais de conhecimento e treiná-los para que possam empregar,
com agilidade e versatilidade, diferentes formas de linguagem.” (Guimarães, p.
136) 13

Neste sentido, o docente deve, sempre que possível, incluir nas suas aulas meios
digitais com o objetivo de auxiliar os seus alunos no uso desses mesmos meios, ou seja,
ajudá-los a filtrar e a comparar informação, a distinguir fontes fidedignas das não
verdadeiras e a tornarem-se mais críticos quanto aquilo que leem.
A tecnologia veio também tornar as aulas mais dinâmicas e facilitar a tarefa do
professor que faz uso da rapidez da internet para proporcionar aos seus alunos um
ensino mais variado, constituído por vídeos, “várias formas textuais, sendo elas cartas,
artigos de jornais, banda desenhada de carater humorístico,” entre outros (Guimarães, p.
138).

13
Guimarães, V. M. (Uma Reflexão sobre Leitura e Novas Tecnologias no Ensino de L.E, (Relatório de
mestrado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro). p. 136.

15
3. O Docente como Promotor da Leitura

É cada vez mais desafiador para o docente manter os seus alunos interessados e
envolvidos dentro da sala de aula, sendo necessário o invento de técnicas que
solucionem essa falta de interesse e que potencializem uma educação de qualidade.
O uso de atividades relacionadas com a leitura é uma boa técnica a ser utilizada
pelos docentes, de modo a complementar os conteúdos que estão a ser lecionados. A
ação dos professores em consonância com o acompanhamento regular dos pais é
primordial para incitar as crianças a lerem mais.
Os pais são peça importante na educação dos seus filhos. Como tal, a falta de
envolvimento por parte dos encarregados de educação carrega o professor com funções
que não são as suas. O professor ensina, não educa. Os pais têm que participar mais na
vida dos seus educandos, incentivá-los a ler e a desenvolver as suas capacidades críticas
e interpretativas. A escola é um meio que complementa a educação e transmite aos
jovens um saber mais sistematizado. O resto cabe ao seio familiar proporcionar à
criança.
A problemática que pode estar a causar a ausência da leitura em sala de aula é a
falta de professores, que prejudica e muito a instrução dos educandos. A carência de
professores nas escolas, o excesso de alunos em sala de aula e a dissemelhança dos
ritmos de aprendizagem faz com que muitos alunos passem para um nível superior sem
terem adquirido os conhecimentos básicos e necessários às novas aprendizagens. Por
esta razão é que se confirma muitos alunos com dificuldades na leitura e na articulação
de palavras, bem como na compreensão de textos simples. Turmas numerosas tornam
difícil o atendimento individualizado a muitas crianças com extremas dificuldades de
aprendizagem. Esta problemática afeta o desempenho do professor, que acaba por não
ter oportunidade para conceder especial atenção aos alunos com mais dificuldades ou
com necessidades educativas especiais. Este cenário torna complicada a tarefa de
trabalhar e estimular a leitura juntamente com os alunos, o que irá provocar
consequências significativas.
É importante que os alunos treinem regularmente a leitura na escola, sob a
orientação do docente, com vista a adquirirem uma leitura mais analítica e apreciativa.
De acordo com Geraldi:

16
“Ao ler, o leitor trabalha produzindo significações e é nesse trabalho que ele se
constrói como leitor. Suas leituras prévias, sua história de leitor, estão presentes
como condição de seu trabalho de leitura e esse trabalho o constitui leitor e
assim sucessivamente.” (Geraldi, 1988, p. 80)

Os jovens leem cada vez menos e isso deve-se se, em grande parte, às múltiplas
distrações que possuem à sua volta como por exemplo o telemóvel, a televisão, os
videojogos, o computador, entre muitos outros. A leitura deixou de ser um hábito para
muitas crianças, por isso é urgente que se encontre mecanismos capazes de incentivar os
alunos para a leitura e, por conseguinte, para a evolução e aperfeiçoamento da
comunicação e do pensamento. Sendo assim, cabe aos docentes a tarefa infindável de
trabalhar com os seus alunos a leitura, fazendo dela uma constante em sala de aula. A
leitura é o principal meio de aquisição de conhecimento daí ser essencial usufruir desta
prática para poder alcançar um bom rendimento escolar. Segundo Marisa Lajolo (1993,
p. 105)

“O ato de ler foi de tal forma afastado da prática individual que a tarefa que hoje
se solicita aos profissionais da leitura como professores, bibliotecários e
animadores culturais, é exorcizarem o risco da alienação, muito embora eles
possam acabar constituindo elo a mais na longa e agora inevitável cadeia de
mediadores que se impõem entre o leitor e o significado do texto.” 14

Refletindo um pouco sobre a teoria de Albert Bandura, que consiste na


aprendizagem humana através da observação, esta comprova que os alunos começam a
adquirir comportamentos ou a aprender algo através daquilo que vêm. Deste modo, se a
leitura for um hábito na escola ou na sala de aula e se o professor trabalhar juntamente
com os seus alunos a análise de diferentes formas de textos, os educandos vão,
inconscientemente, adotar esses comportamentos e aplicá-los no seu dia-a-dia.
Como sabemos que os encarregados de educação podem ser um pouco
negligentes em relação à educação dos seus filhos, ao estímulo diário de atividades que
os ajude a desenvolver as suas capacidades percetivas, essa tarefa acaba por “cair”
14
Lajolo, M. (1993). Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo. Revista do Centro de Estudos
Portugueses. p. 105.

17
inteiramente em cima dos professores que, sobrecarregados com tantas outras coisas,
não conseguem chegar a todos os alunos individualmente. Os professores têm a
principal função de incentivar a leitura crítica e argumentativa para que a partir daí os
alunos formem as suas opiniões e personalidades individuais. Todos nós estamos
inseridos numa sociedade, possuímos a nossa própria história de vida e a leitura de cada
um será feita sob a sua própria perspetiva. Esta conceção é fundamentada por Simone
França (2019, p.5.) que afirma que “não temos como distanciarmos a leitura do aspecto
social, o leitor é um ser social, que possui uma história individual, e a sua leitura de
mundo é feita sob a ótica de suas experiências.” 15
Simone França alerta também para um assunto cada vez mais atual que é a
facilidade com que os alunos encontram na internet resumos de livros, “leituras
superficiais” e “versões simplificadas” de maneira a evitar lê-los na íntegra. Os
discentes, muitas vezes, não percebem aquilo que leem e retiram simplesmente a
informação da internet, sem adquirirem senso crítico nem a capacidade de interpretar e
extrair as suas próprias conclusões, precisamente por causa dessas “leituras
superficiais”. É esta extrema facilidade de acesso aos mais variados conteúdos que torna
a profissão de um professor cada vez mais desafiante, na medida em que, cada docente
se vê obrigado a reinventar-se e adaptar-se à nova geração de alunos. Um professor hoje
tem que dar uso a novos instrumentos, tem que ser criativo e tentar captar a atenção dos
discentes a partir de meios audiovisuais. Trabalhar a leitura em sala de aula pode ser
problemático nos dias que correm, pois ao invés de livros os alunos recebem
computadores e neles passam a maior parte do tempo.
A grande maioria dos professores, ainda muito ligados ao ensino tradicionalista,
confrontam-se frequentemente com a drástica mudança que se fez sentir não só na
tecnologia como também na sociedade. Muitos deles ainda tentam reajustar-se às novas
circunstâncias que lhes exige inovação, criatividade e mudança. É importante termos
bem presente que “é imprescindível a atuação do docente comprometida e responsável,
e assim a comunicação e o conhecimento da mesma forma que o hábito de ler passa a
ser motivo de colaboração entre alunos e com o professor” (França, 2019, p. 7).16

15
França, S. (2019). O Importante Papel do Professor como Formador de Leitores: Prática ou Desafio?.
Revista Saberes da UNIJIPA. p. 5.
16
França, S. (2019). O Importante Papel do Professor como Formador de Leitores: Prática ou Desafio?.
Revista Saberes da UNIJIPA. p. 7.

18
Respetivamente ao desinteresse dos alunos pela leitura, este pode ser provocado
por diversas razões e é necessário que o docente as saiba detetar para que possa atuar
mais eficazmente. Grande parte da indiferença que os alunos nutrem pelo ato de ler
pode estar ligado ao facto de lhes ser imposto lerem certos livros, não tendo muito poder
de escolha em relação aos seus conteúdos e géneros. Basicamente, e a meu ver, os
alunos leem porque são obrigados a ler e porque o programa assim o exige. Deste modo,
a leitura é vista como uma obrigação ou como uma imposição pelos alunos, estando
quase sempre associada a algo desagradável, maçador e desinteressante. Esta
obrigatoriedade acaba por retirar a essência da própria prática da leitura, causando nos
alunos o tal desinteresse por ler e por descobrir o mundo da leitura. Ler deveria ser algo
orgânico, algo prazeroso, mas acaba por não o ser para grande parte dos alunos.
Perante este elevado desinteresse dos alunos, os professores vêm-se com muitas
dificuldades para reverter este cenário. De que maneira os docentes podem despertar o
interesse dos alunos pelos livros ou até mesmo pelos conteúdos lecionados? Quais as
estratégias de ensino mais eficientes para ajudarem os alunos a obter o sucesso escolar?
Estas são algumas questões que os professores levantam constantemente, de maneira a
poderem reinventar-se e ajustar-se ao tipo de alunos que têm na sua sala de aula.
Contudo, não há receitas eficazes a serem postas em prática em sala de aula,
muito menos quando os alunos simplesmente não querem aprender ou não se mostram
recetivos ao conhecimento. Segundo Simone França:

“em nosso entendimento, o papel do docente como mediador que desempenha, é


indispensável no despertar para a leitura, no entanto, para este despertar
acontecer não existe receita pronta, o que encontramos são apontamentos, cada
professor precisa buscar sua metodologia.”17 (França, 2019, p.9)

No entanto, o professor pode começar por ouvir os seus alunos, conversar mais
com eles e perceber as suas inclinações. Dar-lhes “voz”, espaço e a oportunidade de
partilharem algumas atividades que gostariam de por em prática nas aulas, bem como o

17
França, S. (2019). O Importante Papel do Professor como Formador de Leitores: Prática ou Desafio?.
Revista Saberes da UNIJIPA. p. 9.

19
tipo de livros que mais estimariam trabalhar. A partir daqui, o docente pode ajustar as
suas aulas com base nas sugestões e propostas dos seus alunos.
Em suma, a leitura é “um veículo de formação e transformação” através do qual
o docente pode dar uso como estratégia de ensino ao longo das aulas. A leitura não deve
ser praticada apenas nas aulas de português, mas sim em todas as disciplinas por ser um
método de aprendizagem eficaz (França, 2019, p. 8).

20
4. Análise dos Inquéritos sobre Hábitos de Leitura

Para melhor compreendermos os hábitos de leitura adotados pelos alunos da


turma de 10º H2, elaboramos um inquérito (confidencial) onde constam dez perguntas
de resposta rápida. Neste inquérito participaram apenas 23 alunos dos 28 que integram a
turma.

Gostas de ler?

17%

Sim
Não

83%

Gráfico 1 - Respostas dos alunos à pergunta "Gostas de ler?"

Lês com que frequência?


4%
Todos os dias

13%
31% Uma vez por
semana
22% Uma vez por
mês
30% De 15 em 15
dias

Gráfico 2 - Respostas dos alunos à questão "Lês com que


frequência?"

21
Ao observarmos o primeiro gráfico circular, referente às respostas dos alunos à
simples questão “gostas de ler?” denotamos que a grande maioria (83%) respondeu que
sim. Estamos perante um cenário positivo visto que somente 17% dos 23 alunos
responderam que não gostam de ler, o que equivale a quatro alunos.
Em relação à frequência com que leem, grande parte dos alunos replicaram
“todos os dias” (31%) e “uma vez por semana” (30%). 13% dos alunos afirmam que
leem de 15 em 15 dias e 22% uma vez por mês. Apenas um aluno respondeu que nunca
lê. Perante estas percentagens está claro que, de um modo geral, os alunos gostam e
praticam a leitura, uns mais que outros. Embora nem todos os alunos leiam
regularmente, é visível, através do segundo gráfico, que a maioria lê todos os dias ou
semanalmente e que se esforça em tentar implementar o hábito da leitura nas suas
práticas diárias.
Quando questionados acerca dos seus géneros literários favoritos as respostas
variaram significativamente. Muitos elegeram os romances e a poesia como leituras
preferidas. Outros mostraram ser mais apreciadores de policiais, banda desenhada,
poesia, contos e outros estilos literários não especificados. Entre os menos escolhidos
como favoritos estão as enciclopédias e as fábulas.

O que mais gostas de ler?

4% Romances
4% 22% Outros
10%
10% Poesia
Banda Desenhada
12% 24%
Policiais
14%
Contos
Enciclopédias
Fábulas

“O que mais gostas de ler?"


Gráfico 3 - Respostas dos alunos à pergunta "O ler?”

22
Sendo assim, é percetível a diversidade de gostos literários existentes na turma.
Entre os romances e a poesia constata-se apenas uma ligeira diferença de apenas 2
alunos. Já os contos e os policiais apresentam-se no gráfico com a mesma percentagem
e grau de preferência por parte dos alunos. A banda desenhada encontra-se mais ou
menos num meio-termo, o que é inesperado, dada a faixa etária dos alunos (16/17 anos).
24% dos alunos elegeram outros géneros literários que não foram especificados aqui
neste questionário. No entanto essa percentagem foi bastante significativa e corresponde
a 12 alunos dos 23 que participaram neste questionário. As enciclopédias e as fábulas
são os estilos literários que menos os atraem, juntamente com os contos e os policiais.
Podemos observar que as preferências literárias dos alunos estão muito bem
delineadas, havendo uma distribuição não muito díspar entre as várias categorias.
Os alunos foram também questionados sobre a importância da leitura e as
respostas foram as seguintes:

Consideras a leitura importante?


0%

Sim
Não

100%

Gráfico 44 –- Respostas
Gráfico Respostas dos
dos alunos
alunos àà pergunta
pergunta "Consideras
“Consideras aa leitura
leitura importante?"
importante?”

Através do gráfico podemos conferir que todos os alunos inquiridos declaram


que a leitura é importante. No entanto, no gráfico 1 verifica-se que quatro alunos
replicaram que não gostam de ler, mas nesta questão relativa à importância da leitura
responderam que sim. Deste modo, esses quatro alunos, embora não gostem de ler, têm
a noção de que a leitura concede-lhes inúmeros benefícios.
Mas por que razão é que os alunos afirmam que a leitura é importante? Foi essa
a pergunta que fizemos de seguida, tendo obtido as mais diversas perguntas que
passamos a citar:
23
“É importante para desenvolver a escrita, a leitura e o conhecimento”;

“Desenvolvimento pessoal”;

“Porque se aprende novos conhecimentos”;

“Para desenvolver capacidades mentais”;

“Para o desenvolvimento do cérebro, compreensão de textos, etc.”;

“A leitura é importante pois podemos melhorar a criatividade e aprender coisas


novas”.

Estas foram algumas das respostas dadas pelos alunos, que se mostraram cientes
quanto às vantagens da leitura para o desenvolvimento cognitivo.
Mais à frente no questionário pedimos também que os alunos avaliassem a sua
leitura de 1 a 5. Como consta no seguinte gráfico de barras quatro alunos atribuíram um
5 à sua leitura e quinze alunos autoavaliaram-se com um 4. Está bem evidente a
disparidade das respostas dos alunos, tendo a maior parte deles avaliado a sua leitura
com um Muito Bom (4) e um único aluno avaliado com um 1. Dois alunos
autoavaliaram-se com um 3 e um aluno com um 2. De um modo geral grande parte dos
educandos considera ter uma boa leitura, sem grandes dificuldades de compreensão.

De um a cinco, como avalias a tua leitura?


16
14
12
10
8 De um a cinco, como
6 avalias a tua leitura?
4
2
0
1 2 3 4 5

Gráfico 5 - Respostas dos alunos à pergunta "De um a cinco, como avalias a tua
leitura?"

24
Perante a questão “Sentes dificuldade em perceber / interpretar aquilo que lês?”
nove alunos responderam “raramente” e oito replicaram “algumas vezes”. Quatro
discentes referiram que não sentem quaisquer dificuldades em compreender aquilo que
leem e dois discentes responderam “muitas vezes”.
Através da análise das respostas denotamos que 10 em 23 alunos sentem grandes
dificuldades na interpretação e compreensão de texto. Para podermos reverter este
panorama, a leitura deve ser uma constante em sala de aula. O docente deve procurar
ajudar os seus alunos a adquirirem uma leitura mais crítica e mais autónoma.

25 22
20

15

10

5
1
0
Sim Não

Achas importante ler textos em sala de


aula, com o auxílio do professor?

Gráfico 5 - Respostas dos alunos à pergunta "Achas


importante ler textos em sala de aula com o auxílio do
professor?"

25
20
20
15
10
5 3

0
Sim Não

Achas que as aulas têm-te ajudado a


melhorar a leitura e a compreensão de
textos?

Gráfico 6 - Respostas dos alunos à questão "Achas que as


aulas têm-te ajudado a melhorar a leitura e a compreensão
de textos?"

25
No que concerne à importância da leitura em sala de aula, acompanhada pelo
professor, a esmagadora maioria dos alunos respondeu que sim. Assim sendo, apenas
um aluno respondeu que não acha importante praticar a leitura em sala de aula, como se
pode verificar no gráfico 6.
Com base nestes resultados percebemos que os alunos valorizam e prestam
maior atenção às leituras acompanhadas pelos docentes em sala de aula, através das
quais evoluem as suas capacidades interpretativas. Ler sozinho pode tornar-se muito
mais desafiador do que ler em conjunto, em contexto de sala de aula, onde é possível a
partilha de pontos de vista e diferentes maneias de interpretar o mesmo texto. Talvez
por esta razão os alunos valorizem e aprendam mais com a leitura conjunta e orientada
pelo docente, que os encaminha e os ajuda a obter uma leitura mais atenta e mais
analítica.
No gráfico 7 relativo à pergunta “Achas que as aulas têm-te ajudado a melhorar
a leitura e a compreensão de textos?” vinte alunos responderam que sim e 3 que não.
Ora a maioria dos discentes reconhece que é realmente importante haver uma leitura
frequente nas aulas e confirma também que ler com o apoio do professor é
indispensável para o desenvolvimento do vocabulário e aquisição de conhecimentos.
Seguidamente, os alunos foram questionados sobre os hábitos de leitura dos pais,
ao qual responderam:

Os teus pais têm o hábito de ler?


20
18
16
14
12
10 Os teus pais têm o
8 hábito de ler?
6
4
2
0
Sim Não

Gráfico 887 –- Respostas


Gráfico Respostas dos
dos alunos
alunos àà questão
questão "Os
“Os teus
teus pais
pais têm
têm oo hábito
hábito de
de ler?"
ler?”

26
Como se pode observar pelo gráfico, dezoito alunos responderam que sim e
cinco que não. É um cenário surpreendentemente positivo onde se verifica que grande
parte dos pais possui o hábito da leitura.
Como já dito anteriormente os progenitores são peça fundamental no
desenvolvimento dos seus filhos e, como tal, devem tentar incutir desde cedo o gosto
pela leitura, dando o seu exemplo para que os seus filhos se sintam motivados a ler
também.
À pergunta “costumas trocar ideias com os teus amigos sobre algo que tenhas
lido?”, dez alunos responderam que sim e treze que não. Mais de metade replicou que
não discute com os amigos acerca do que costuma ler, o que não é muito positivo visto
que essas discussões constituem um fator motivacional que leva a outra pessoa a querer
ler.
Para concluir esta análise sobre hábitos de leitura, os alunos foram questionados
acerca da frequência com que costumam ler ou requisitar livros na Biblioteca da escola.
Treze responderam que “não” e cinco “raramente”. Nesta turma verifica-se que os
educandos não têm o hábito de requisitar livros nem frequentar a Biblioteca da escola,
pois apenas três alunos responderam “algumas vezes” e dois que “sim”.

27
Parte II - Contexto Escolar

28
1. Escola Secundária Rainha Dona Amélia

1.1. Caraterização Geográfica

A Escola Rainha Dona Amélia situa-se na rua Jau, no Alto de Santo Amaro, em
Alcântara – Lisboa, e descobre-se rodeada pelo imenso verde das árvores. Ao longo da
rua encontra-se o agradável jardim da freguesia, e um pouco mais à direita a Capela de
Santo Amaro. Localizada à beira do rio Tejo, Alcântara é uma freguesia que se estende
ao longo de 4,39 km2 e que possui um total de 13.911 residentes. O nome Alcântara
provém do vocábulo árabe al-quantãrã (ponte) que se referia a uma antiga ponte
existente “sobre a ribeira de Alcântara”.
No início do século XVII começou a ser edificado o Paço Real de Alcântara,
residência régia de campo e à qual foi acrescentada também a Quinta Real. Após ser
vendido, no século XIX, o Paço desvaneceu-se ao longo dos tempos, não havendo quase
vestígios do mesmo. (junta de freguesia de Alcântara, s.d.).
Após o terramoto de 1755 as zonas de Alcântara, Ajuda e Belém tornaram-se o
centro da vida social por serem zonas com baixa atividade sísmica. Não tendo sofrido
grandes estragos com o abalo sísmico, o Alto da Ajuda tornou-se no local de eleição do
rei. Assim sendo, a Casa Real muda-se para Ajuda, concedendo a toda esta zona e
arredores um maior dinamismo e afluência. (junta de freguesia de Alcântara, s.d.).
Na segunda metade do século XIX foram construídas fábricas de curtumes,
indústria química, fábricas de moagens, indústria de lanifícios e têxteis, entre as quais se
destaca a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense. Estas fábricas contribuíram
significativamente para a “dinâmica espacial de Alcântara e para o evoluir da
implantação industrial” (junta de freguesia de Alcântara, s.d.). Por ser uma zona rica em
calcários, efetuava-se a extração de pedra para a construção e fabrico de cal, que depois
era utilizado nas próprias construções da freguesia. Com toda esta “dinâmica industrial”
que se fez sentir em Alcântara nesta altura, tornou-se urgente a formação de melhores
infraestruturas que se adequassem à nova realidade desta freguesia.

29
1.2. Caraterização da Escola

Em 2002 a Escola Rainha Dona Amélia fundiu-se com a escola Secundária


Ferreira Borges e em 2009 foi alvo de uma intervenção pela “Parque Escolar” que
amplificou e alterou drasticamente o edifício. O seu nome foi dado em homenagem a
nossa última rainha, Dona Amélia, que desempenhou um papel relevante no reino ao
fundar várias instituições de solidariedade social. Teve, desde sempre, um grande
interesse pela ciência tendo criado várias instituições bastante conhecidas como o
Instituto Câmara Pestana, o Museu de Coches Reais, a Assistência Nacional aos
Tuberculosos e o Instituto de Socorros e Náufragos. Em 1910, com a proclamação da
República, a rainha Dona Amélia partiu para o exílio com o seu filho D. Manuel.
A Escola Secundária Rainha Dona Amélia contém imensas turmas desde o
sétimo ao décimo segundo ano, ótimas instalações com equipamentos tecnológicos que
facilitam bastante o trabalho dos professores e que os ajuda a darem as suas aulas de
uma maneira mais dinâmica e criativa. Possui também trinta e nove salas de aula e
outros “espaços específicos” destinados às várias áreas de estudo, tais como ginásio,
laboratório de física, ateliê de artes, sala multimédia, entre outros.
No que concerne às estruturas de apoio pedagógico, a escola Rainha Dona
Amélia dispõe de alguns serviços que visam auxiliar os alunos a alcançar o sucesso
escolar, sendo eles o Centro de Apoio à Aprendizagem (CAA); Educação Especial
(EE); Gabinete do Aluno com as vertentes de Ética Escolar e de Educação para a Saúde;
Sala de Estudo (SE) e os Serviços de Psicologia e Orientação Escolar (SPO).
De acordo com o documento que consta na página da escola, referente ao projeto
educativo, podemos afirmar que mais de 80% dos alunos matriculados residem no
concelho de Lisboa, mais concretamente nas freguesias mais próximas, como é o caso
de Alcântara, Ajuda, Belém e Algés. As percentagens mais baixas correspondem a 10%
dos alunos que habitam em Oeiras e 5% na Amadora. No total a escola abarca 1061
alunos e 41 turmas no ano letivo 2020/2021, bem como 95 professores ao todo.
A escola visa desenvolver as aptidões para a aprendizagem através de um ensino
coeso e ajustável. Pretende, também, impulsionar uma maior envolvência dos
encarregados de educação no ambiente escolar e, por conseguinte, ajudar no
desenvolvimento da comunidade onde se insere a escola. Deste modo, apresenta como
principal missão:
30
“responder às necessidades do seu território educativo, oferecendo respostas
adequadas aos interesses dos alunos do 3.o Ciclo do Ensino Básico e do Ensino
Secundário, promotoras das dimensões científica, tecnológica, artística e
humanista, da equidade e da inclusão, da educação para a cidadania, da
educação para a saúde e para o ambiente, da inovação pedagógica e da inovação
tecnológica.” (ESRDA, Projeto Educativo, 2020, p.10)

No que diz respeito aos valores da escola, a partir dos quais a sua missão se baseia, são
os seguintes:

 Autonomia
 Cidadania
 Equidade
 Excelência
 Perseverança
 Responsabilidade
 Solidariedade

A escola Rainha Dona Amélia apronta alguns objetivos estratégicos que


pretende ver desenvolvidos entre os anos 20/23, conectados aos “domínios previstos no
Quadro de Referência para a Avaliação Externa das Escolas”. (ESRDA, projeto
educativo, p.11) Esses objetivos visam aperfeiçoar o desempenho do serviço educativo,
alicerçar os “resultados académicos, escolares e sociais”, apostando numa maior
orientação, fortalecer o “impacto das práticas de autoavaliação” e propiciar uma maior
comunicação e participação de todos na vida escolar.
A escola também dispõe de dois projetos interessantes que constituem uma fonte
de aprendizagem e, por isso, são uma mais-valia para os alunos. Esses projetos são a
“Cozinha Experimental”, direcionado aos alunos de sétimo ano e que pretende
“conjugar os saberes científicos com a experimentação transportada para o ambiente do
quotidiano, numa perspetiva da prática culinária.”; e a Horta Pedagógica que se propõe
a fomentar o “ensino experimental das ciências dentro e fora da sala de aula”. (ESRDA,
regulamento interno, 20/21, p. 22) Iniciativas como estas simbolizam uma lufada de ar

31
fresco para o ensino, que se quer mais dinâmico e diversificado. Ensinar através da
prática tem-se verificado cada vez mais eficaz na aquisição de conhecimento pois é
através dela que os alunos aplicam aquilo que aprenderam em sala de aula. Ao
aplicarem esse conhecimento estão também a desenvolver a sua autonomia e cognição,
na medida em que, na prática os alunos tomam o controlo da sua própria aprendizagem.
Em suma, é importante compreender o principal objetivo da Escola Secundária
Rainha Dona Amélia que consiste em “afirmar-se como uma instituição de ensino
público, reconhecida pela sua ação educativa de excelência aliada ao humanismo da sua
intervenção, através do desenvolvimento integral dos seus alunos como futuros cidadãos
do mundo” (ESRDA, projeto educativo, p.10).

Ilustração 1 - ESRDA

Ilustração 2 - Páteo da ESRDA

32
2. Caraterização da Turma 10º H2

Por termos escolhido lecionar sobre Roma Antiga, foi-nos atribuída a turma do
10º H2, que conhecemos nesse mesmo semestre em que lecionamos as aulas. Como
desconhecíamos as características dos alunos, tornou-se complicado estabelecer uma
boa comunicação com eles, uma vez que também não sabíamos os seus nomes.
A turma do 10º H2 é muito pouco participativa, extremamente silenciosa e,
quando questionada, raramente respondia. É constituída por 28 alunos, dez rapazes e
dezoito raparigas, alguns deles com muitas dificuldades de aprendizagem e outros (3)
com necessidades educativas especiais. Desta maneira, a tarefa de lecionar tornou-se
muito mais complicada e desafiante pois, para além de não conhecermos muito bem a
turma, tivemos que arranjar mecanismos para que os alunos pudessem acompanhar os
conteúdos programáticos.
O 10º H2 é uma turma muito heterogénea, constituída por alunos com muitas
dificuldades, alunos com NEE e outros muito introvertidos. Por outro lado há também
alunos muito participativos, esforçados e interessados, que expõem dúvidas com ar de
curiosidade e atenção. Ao longo das aulas tínhamos o hábito de questionar os alunos
sobre a matéria lecionada para que pudessem melhorar a sua participação mas as
respostas eram poucas. Alguns recusavam-se a responder, a fazer as atividades ou as
questões do manual, mesmo depois de termos insistido múltiplas vezes. Normalmente,
participavam sempre os mesmos alunos.
É uma turma muito audiovisual, ou seja, muito presa às tecnologias. Por essa
razão, procuramos introduzir nas nossas aulas elementos multimédia (vídeo ou
documentário) para que os alunos se mantivessem despertos a aprender. Foi, sem
dúvida, uma turma desafiante e muito difícil com quem trabalhar pois raramente davam
feedback ou expunham dúvidas. Sentimos muitas dificuldades em perceber realmente se
estavam a acompanhar os conteúdos programáticos.
No inquérito mencionado anteriormente, constam também algumas perguntas de
cariz pessoal. Sendo assim, a faixa etária da turma do 10º H2 varia entre os quinze e os
dezassete, como podemos verificar através do seguinte gráfico circular:

33
Faixa etária dos alunos do
10ºH2

22% 16
48%
17
30% 15

Gráfico 98 - Referente à faixa etária dos alunos do 10º H2

Maior parte dos alunos desta turma tem 16 anos de idade. Trinta por cento
apresenta-se com 17 anos e vinte e dois por cento com 15. Desta forma, verifica-se que,
grande parte dos educandos que integram esta turma encontram-se na idade “normal” ou
mais comum para o ano de escolaridade a que pertencem.
Nesta turma há onze alunos, dos 23 inquiridos, que apresentam retenções ao
longo da escolaridade. Doze educandos afirmam que nunca reprovaram de ano.
No que concerne aos períodos históricos mais apreciados pelos alunos, a Idade
Moderna revelou ser o período que mais os agrada, bem como a Pré-História e a
História Clássica.

Época Histórica Favorita


4%
História Moderna

17%
35% Pré-História

História Clássica
22%
História Medieval
22%

Gráfico
Gráfico 9 -––Alusivo
Gráfico10
10 Alusivo
alusivo aos
aos
aosperíodos
períodos
períodoshistóricos
históricos
históricosfavoritos
favoritos
favoritosdos
dos
dosalunos
alunos
alunos

34
Como consta no gráfico de barras abaixo representado, o grau de escolaridade
dos pais compreende-se acima do sétimo ano. Muitos dos pais e mães possuem o grau
de licenciado e outros completaram o 12º ano de escolaridade, o que constitui uma
motivação para os próprios filhos, de finalizarem a escola e ingressarem também no
ensino superior.
Porém, durante o preenchimento dos inquéritos apercebemo-nos que muitos
alunos não estavam ao corrente do grau de escolaridade dos pais e, por essa razão, não
responderam.

Grau de escolaridade dos pais


9
8
7
6
5
4
3
2 Pai
1
0 Mãe

10 –- Relativo ao grau de escolaridade dos pais


Gráfico 11

35
3. A Professora Cooperante

A professora Natércia Fialho foi indispensável em todo este processo pois, desde
o início, mostrou-se prestável e disponível a ajudar-nos, a mim e ao meu colega, sempre
com uma grande simpatia que tão bem a caracteriza. É muito suave a dar as suas aulas e
possui uma boa relação com os seus alunos, de respeito e compreensão.
As aulas da professora Natércia Fialho são baseadas na leitura e compreensão de
textos/documentos, seguidos de uma boa explicação dos conteúdos. Faz uso de vários
elementos audiovisuais tais como vídeos, power points e documentários para captar a
atenção dos seus alunos e utiliza um discurso suave, simples e claro. Enquanto
assistíamos às suas aulas retiramos imensas ideias para depois as pôr em prática.
Ajudou-nos imenso relativamente às planificações de aulas e elaboração de testes
de avaliação. Sempre disposta a apoiar e a responder a todo o tipo de questões e receios
que demonstramos ter ao longo de todo este processo. Preocupa-se connosco e
interessa-se pelo nosso bem-estar e pelo nosso percurso académico. Para além de ser
nossa orientadora de estágio é também nossa amiga, dá-nos conselhos e partilha
connosco as suas experiências de vida.
O orientador é a peça fundamental em todo o estágio. Como o próprio nome
indica, deve orientar e supervisionar o trabalho dos estagiários para que estes se possam
tornar melhores profissionais. Neste mestrado de ensino de história a professora
Natércia Fialho teve essa função, a de supervisionar os nossos planos de aula, orientar e
apoiar as nossas ideias e o nosso trabalho ao longo destes dois anos.

36
4. Idas à Escola / Reflexão sobre as Aulas Observadas

As aulas assistidas na escola Rainha Dona Amélia serviram-me de exemplo e de


preparação para a minha prática pedagógica. Observamos imensas aulas, do 11º e 12º
ano e também algumas de 8º e 9º. As turmas diferem muito umas das outras, em todos
os aspetos, devido a diferença de idades.
Foi interessante assistir às dinâmicas em sala de aula, aos diferentes métodos de
ensino dos diferentes professores e às atividades preparadas por eles. Ao longo das
minhas observações percebi que um professor, acima de tudo, tem que ser um bom
comunicador, tem que saber cativar os seus alunos por meio das palavras. Se o fizer, é
meio caminho andado para que consiga trabalhar com eles e para que eles respondam
positivamente ao que é pedido.
Em todas as aulas que observei os professores fizeram uso de power points,
documentários e mini vídeos para facilitar a transmissão da matéria e para que os seus
alunos se mantivessem atentos à aula. Não há dúvidas quanto à eficácia destes
instrumentos em sala de aula pois todos os alunos se mantiveram em silêncio e com
muita atenção sempre que era exposto um vídeo ou filme sobre a matéria.
Gostamos especialmente da aula de 9º ano lecionada pelo professor Heitor
Rodrigues em que, para explicar os loucos anos 20 e a sociedade da época, expôs o
filme “The Great Gatsby”. A turma, no início da aula, estava muito irrequieta, agitada e
não prestava muita atenção ao que o professor dizia. Assim que o filme iniciou a turma
transformou-se, não parecia a mesma. Fez-se silêncio absoluto na sala de aula, e todos
os alunos se encontravam atentos ao filme. Isto para dizer que estamos perante uma
geração que necessita de dinamismo em sala de aula, de audiovisuais e de algo que
possam ver e pôr em prática.
Como em todas as turmas, há sempre uma disparidade nos comportamentos. Há
alunos mais sociais, participativos, outros que só falam quando lhes é pedido e outros
muito introvertidos e que raramente falam. Ao longo da observação das aulas percebi
que uma das funções do docente é conseguir chegar a todos os alunos, puxar por eles e
fazer com que todos participem na aula e deem o seu contributo para que haja interação
e cooperação.

37
No geral estas turmas não possuem problemas de rebeldia, hiperatividade, nem
se verificam problemas de violência ou indisciplina.
A dinâmica e a maneira como a professora Natércia Fialho dá as suas aulas não
mudam muito de uma para a outra visto que só tem 3 turmas. O que muda são as turmas
e a forma como os alunos se comportam, interagem e recebem a informação transmitida
pelo professor. No caso das turmas mais agitadas e impacientes, como é o caso da de 9º
ano, é necessário usar técnicas mais dinâmicas e criativas para que os alunos ganhem
interesse e gosto na aprendizagem.
Porém, tive a oportunidade de participar numa visita de estudo, no âmbito da
disciplina de português, juntamente com o 12º H1. Foi uma visita muito agradável que
tinha como objetivo conhecer a vida e obra de Fernando pessoa. A visita teve início no
Largo de são Carlos por ter sido nesse local a primeira morada do escritor e poeta.
Passámos por vários sítios com o intuito de conhecer as várias moradias de Fernando
Pessoa e os locais que costumava frequentar, como por exemplo o famoso café “A
Brasileira”. Gostei bastante porque não conhecia muitos dos sítios pelos quais passamos
e foi também uma oportunidade para aprender mais sobre a vida pessoal e literária do
grande Fernando Pessoa.

38
5. O Primeiro dia de Estágio

Lembro-me perfeitamente do primeiro dia em que me dirigi à escola Secundária


Rainha Dona Amélia e do misto de sensações que fui sentindo ao longo da caminhada
até lá. Foi numa quarta-feira, dia 02 de outubro, às 11 e meia da manhã. Cheguei cedo
porque não me queria atrasar na primeira reunião com a orientadora, tal igual como se
fosse o meu primeiro dia de aulas. Foi estranho e ao mesmo tempo desafiador pois,
desde que acabei o secundário, em 2014, nunca mais tinha entrado numa escola e de,
repente, dou por mim a voltar, mas desta vez, como mestranda em ensino de História.
Cheguei à escola, dirigi-me ao PBX e pouco tempo depois encontrei o meu
colega de estágio. A professora Natércia Fialho, sempre simpática, cumprimentou-nos e
rapidamente mostrou-nos a escola e as suas instalações. Posteriormente, dirigimo-nos à
sala de professores onde conversamos confortavelmente sobre tudo. Sobre cada um de
nós, sobre a razão de termos escolhido estudar História, sobre o presente e,
principalmente, sobre o futuro.
A determinada altura dei por mim a pensar que, quando era aluna de secundário,
nunca me tinha passado pela cabeça enveredar pela área do ensino, mas aqui estou eu!
Gostei imenso de tudo aquilo que o estágio me proporcionou, de ter tido o privilégio de
aprender com as aulas de ótimos professores, que sempre se mostraram disponíveis para
nos ajudar.
Deste modo, guardarei este primeiro dia na minha memória como símbolo de
evolução, do antes e do depois, para nunca me esquecer do quão difícil foi o começo
nem do medo e receio que senti. Apesar de as coisas serem difíceis e, muitas vezes
parecerem impossíveis de alcançar, vale sempre a pena tentar!

39
Parte III - Prática de Ensino Supervisionada

40
1. Porquê Ensinar/Aprender História?

Ensinar ou aprender História é importante enquanto matéria ou disciplina pois


dá-nos uma bagagem cultural vastíssima, uma certa fluidez sobre o tempo. Dá-nos,
sobretudo, experiência e noção acerca dos vários períodos históricos, possibilitando-nos
comparar, com maior facilidade, o presente com o passado. Isto aliado a um juízo
crítico permite-nos confrontar e relacionar analiticamente as diferentes épocas históricos
com o presente, com o que está a ser vivido atualmente, para que não se repitam os
mesmos erros e para que haja esperança no amanhã. É com este intuito que ensinamos
História, para despertarmos interesse nos alunos acerca dos tempos remotos e para que
neles nasça o sentimento crítico sobre as coisas, sobre o passado, sobre o presente e
principalmente sobre o futuro. (s.n. 2019)
Ensinar história é construir, juntamente com os alunos, uma consciência e um
conhecimento histórico com vista a fomentar neles o espírito crítico acerca daquilo que
os rodeia. O juízo crítico é de extrema importância no processo de ensino-aprendizagem
pois contribui, através do diálogo, para a interligação da disciplina de História com
outras áreas do conhecimento a fim de expandir-se e desenvolver-se cada vez mais. É
através da História que, de certa forma, nos tornamos diferentes daquilo que somos e
daquilo que seremos no futuro. George Orwell, no seu romance “1984” resume numa
simples frase o verdadeiro significado de aprender História: “Quem controla o passado,
18
controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.” Deste modo, esta
ciência social permite-nos saber de onde viemos para, assim, sabermos para onde
vamos! Ensinar História também é aprender ao mesmo tempo que transmitimos o
conhecimento para as novas gerações. Ao comunicarmos estamos a compreender a sua
importância para a formação de uma sociedade mais bem preparada e informada. Todos
nós temos a nossa história de vida, erros que cometemos e que jamais iremos repetir.
Assim é a História. Termos um bom conhecimento acerca dos nossos erros históricos é
o primeiro passo para tentarmos evitá-los no presente.
O nosso mundo político contemporâneo exige-nos abrir os campos do diálogo,
da comunicação, da exposição de ideias, de opiniões e a história tem essa caraterística, a

18 Orwell, G. (1949). 1984.

41
de instruir, formar, de fazer pensar e questionar sobre o passado e sobre o mundo
contemporâneo de hoje. O ensino da história tem que, da alguma maneira, orientar as
pessoas na vida e é neste aspeto que é fundamental a ação dos docentes. O docente deve
investir na formação de uma nova geração que aceite a diferença, que reflita, que duvide
e que questione em vez de se regozijar nas certezas e nas respostas já existentes.
Aprender História contribui para a formação de uma consciência histórica que
vai muito além daquela que se obtém nas escolas, ou seja, menos mecanizada,
positivista e cronológica. “A História fornece um reservatório das múltiplas
experiências humanas em espaços e tempos diferentes – a única base de evidências reais
de que como as sociedades se comportam. Se a nação está em paz, como avaliar o
impacto de uma guerra sem recorrer à História? Como avaliar a ameaça contra a
democracia sem usar os nossos conhecimentos ou experiências acerca dos regimes
ditatoriais do passado?” 19 É ao passado que recorremos quando pretendemos desvendar
o presente e melhor compreender os problemas atuais. A função da História é,
precisamente, elucidar-nos relativamente à nossa herança cultural para que possamos
agir de modo a preservar e valorizar o património cultural da humanidade e para isso
precisamos de conhecê-lo. O ensino da História ajuda a desmistificar as mudanças e as
permanências ocorridas ao longo do tempo, a conhecer o outro e, num sentido mais
amplo, a diminuir preconceitos. (Blanco, 2017)
Em suma aprender história é entender o conceito de tempo, da passagem do
tempo da humanidade e perceber também que somos fruto de diferentes gerações que
constituíram a sociedade em que nós vivemos. Necessitamos de apreender que somos
sujeitos históricos e entender o nosso papel na atualidade, na História do presente,
através do amadurecimento e da experiência. (Blanco, 2017)

19
Domingues, J. E. (2018, Novembro) Ensinar História: Para que serve a História? Por que os alunos do
século XXI devem estudar História?

42
2. Teorias de Aprendizagem

Nas aulas que lecionamos, a teoria construtivista teve um papel de destaque,


tendo sido a partir dela que elaboramos os planos de aula. Pela nossa ótica, o
construtivismo é o modelo que mais beneficia os educandos visto que privilegia a
aprendizagem pela descoberta autónoma e valoriza as particularidades de cada aluno.
Por inspirar-se nas teorias cognitivas e de desenvolvimento, o Construtivismo defende
que a aprendizagem é constante, evolutiva e acontece através da interação do individuo
com o meio envolvente. A criança quando chega à escola pela primeira vez não é uma
página em branco, ela possui já aprendizagens adquiridas através do contacto com o
meio social. São essas aprendizagens adquiridas anteriormente que necessitam de
especial atenção no momento de ensinar, pois esse conhecimento terá de ser
questionado e moldado com a ajuda do professor que dispõe da tarefa de orientar o
aluno na sua descoberta. Cada individuo assimila o seu saber e adapta-o à “estrutura
mental” que já possui, modificando-o e moldando-o à sua maneira porque “nenhum
conhecimento chega do exterior sem que sofra alguma alteração pelo indivíduo, sendo
20
que tudo o que se aprende é influenciado por aquilo que já havia sido aprendido”
(Abreu, 2010, p.361). Sendo assim, o Construtivismo é

“ (…) a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que,


especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo
terminado. Ele se constitui pela interação do Indivíduo com o meio físico e
social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se
constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem
hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não
21
há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento.” (Becker, 2009,
p. 4)

Jean Piaget, um dos grandes nomes associados à psicologia evolutiva, dedicou


grande parte da sua vida aos estudos sobre o desenvolvimento humano e sobre todo o
20
Abreu, L. C. (2010) A epistemologia genética de Piaget e o construtivismo. Rev. Bras. Crescimento e
Desenv. Humano, 20, n.2. p. 361.
21
Becker F. (2009). Desenvolvimento e Aprendizagem sob o Enfoque da Psicologia II, UFRGS - PEAD.
p. 4.

43
processo de aquisição de conhecimento, advertindo sempre para a inexistência de
“saberes absolutos”. (Abreu, 2010, p. 362) Sendo as suas pesquisas de cariz
epistemológico, não podem nunca estar ausentes da “reflexão sobre os temas educativos
contemporâneos”, pois constituem um exímio contributo para a compreensão “dos
processos de formação do conhecimento”. (Montoya, 2011, p. 1)
Jean William Piaget nasceu em Neuchâtel, na Suíça, no dia 9 de agosto de 1896.
Os seus ensaios sobre o pensamento infantil impulsionaram a alteração dos ideais da
educação tradicional. Voluntariou-se para trabalhar como assistente no Museu de
Ciências Naturais de Neuchâtel e durante esse período publicou inúmeros artigos sobre
moluscos e variadíssimos outros temas como zoologia, religião, sociologia e filosofia.
No ano de 1915, licenciou-se em Biologia na Universidade de Neuchâtel e em
1918 doutorou-se, dedicando a sua dissertação ao estudo dos moluscos de Valois.
(Montoya, 2011, p. 1)
Por meio de muitas avaliações, Jean Piaget chegou à conclusão que a
inteligência infantil desenvolvia-se gradualmente e aos poucos. Esta ideia surgiu depois
de verificar que as crianças com a mesma idade possuíam, geralmente, as mesmas
dificuldades e cometiam os mesmos erros. (Frazão, 2020) Deste modo, a evolução
mental da criança, segundo Piaget, divide-se em quatro estágios “nos quais os sujeitos
são quiescentes para evoluírem, de um estado de total desconhecimento do mundo que o
cerca até o desenvolvimento da capacidade de conhecer o que ultrapassa os limites do
que está a sua volta.” 22 (Abreu, 2010, p. 363)
O estágio 1, “estágio sensóriomotor” estende-se desde o nascimento até os dois
anos de idade e carateriza-se pela existência de simples reflexos. Nesta etapa a criança
atinge “um nível de equilíbrio biológico e cognitivo” que lhe possibilita conceber uma
disposição linguística. (Abreu, 2010, p. 363)
O estágio 2 corresponde à fase “pré-operátoria”, que se prolonga até aos sete
anos de idade. Este estágio carateriza-se pelo aparecimento da representação e da
capacidade de distinguir o significante, capacidade esta denominada como “função
simbólica.”

22
Abreu, L. C. (2010) A epistemologia genética de Piaget e o construtivismo. Rev. Bras. Crescimento e
Desenv. Humano, 20, n.2. p. 363.

44
O estágio 3, “operatório completo”, inicia-se aos 8 anos de idade e dura até aos
doze. Esta fase equivale à capacidade assimilativa e coordenativa que conduz “ao
progresso da cognição.” (Abreu, 2010)
O estágio 4, correspondente ao “operatório formal”, começa aos doze anos de
idade e prolonga-se durante a vida adulta, “no qual o individuo atinge um estado de
equilíbrio próprio por volta dos 14 – 15 anos de idade.” (Abreu, 2010, p. 363)
Jean Piaget possui ideais muito diferentes dos que se verificava no ensino
tradicional, tendo, por isso, contribuído para o ressurgir de uma educação mais inclusiva
e centrada no aluno. Piaget defende o uso de métodos de ensino mais ativos tais como
os trabalhos de grupo, a livre discussão de temas onde é possível os alunos
expressarem-se e partilharem os seus conhecimentos, entre outras atividades que elevam
a criança a um patamar que lhe permita descobrir e controlar a própria aprendizagem
(Naves, 2010, p.6). Para que tal aconteça é imperativo que os professores compreendam
a natureza do pensamento infantil para que possam adequar as suas estratégias de
ensino, e por conseguinte, contribuir para a formação intelectual e moral dos seus
alunos. Sendo assim, Jean Piaget:

“privilegia a discussão sobre os métodos e as técnicas de ensino. É que, além de


pensar que os professores deveriam compreender muito bem a natureza própria
do pensamento da criança e as leis de constituição psicológica do sujeito que
conhece, ele estava certo da importância dos métodos de ensino, não como
técnicas em si mesmas, já adiantamos, mas como instrumentos sem os quais o
professor não poderia trabalhar.” 23 (Naves, 2010, p.9)

Embora não haja um modelo pedagógico piagetiano, Jean Piaget olhava para a
educação sobre uma ótica construtivista e foi a partir dela que nos regemos no momento
de lecionar as nossas aulas. No decorrer de cada lição tentamos aplicar, sempre que
possível, a teoria do construtivismo por meio de atividades que enaltecessem o espírito
critico, a partilha de ideias, pontos de vista e que ajudasse os alunos a desenvolver a sua
autonomia. A aquisição de conhecimento ocorre de forma construtiva, mas não de igual

23
Naves, M. L. (2011, Jul/Dez). Piaget e as Ideias Modernas Sobre Educação: um Estudo dos Escritos
Educacionais de Jean Piaget Publicados entre os anos de 1920 a 1940, Cadernos de História da Educação,
v. 9, n. 2. p. 9.

45
forma pois cada aluno possui o seu próprio ritmo de aprendizagem. O conhecimento
ocorre por meio da partilha entre o aluno e o professor, que adota uma posição de
mediador do saber já adquirido e que providencia um ensino interativo através do qual o
aluno construirá o seu próprio conhecimento. É importante salientar que o docente “não
é dono do saber, mas um orientador, um incentivador, um viabilizador do processo
ensino-aprendizagem, um desequilibrador, provocador de situações problemáticas, de
conflitos cognitivos, um regulador destes conflitos.” (2016, p. 7)
No decorrer das nossas aulas procurámos trabalhar com os alunos a leitura
crítica de documentos a partir dos quais foram feitos diálogos. Questionamos os
educandos com alguma frequência de maneira a estimular a participação de cada um
deles.
Requisitamos também aos nossos alunos uma atividade executada sempre no
final da aula e que consistia no registo escrito de tudo aquilo que tinham aprendido. Esta
atividade teve como objetivo dar-lhes a oportunidade de escreverem o que quisessem
sobre a aula e funcionou, sobretudo, como um espaço de reflexão e de potencializador
de autonomia. Para Piaget “um dos principais objetivos da educação (…) é a construção
da autonomia, tanto moral como intelectual do aluno. A escola deve ensinar de modo a
levar o aluno à autonomia, à autoconfiança e à capacidade de decisão.” (2016, p.6) É
fundamental que as instituições educacionais auxiliem os alunos a alcançar a sua
autonomia e a confiarem mais em si próprios e nas suas capacidades.
No modelo construtivista o professor deve proporcionar aos seus alunos
momentos de autonomia, onde estes possam ser voz ativa no próprio processo de
aprendizagem. Para além disso, o docente deve observar cada aluno como um ser
individual, autêntico, com características próprias e, como tal, com o seu próprio ritmo
de aprendizagem. (escola da inteligência, 2017)
A teoria construtivista assenta em completar o saber que a criança já possui e
nunca menosprezar a sua opinião sobre o conteúdo que está a ser estudado, mas sim dar-
lhe a oportunidade de refletir, assimilar e moldar o seu conhecimento autonomamente.
O seguinte exemplo integrado no artigo “O Caminho do Construtivismo” carateriza
belíssimamente os ideais do modelo construtivista:

46
“um aluno da primeira série do ensino fundamental, afirmou que o “sol tratava-
se de uma mancha amarela que enfeita o céu”. Um professor construtivista
apenas acrescenta: “que além de enfeitar o céu, o sol também ilumina e aquece a
terra”. Enquanto que, na escola tradicional, a resposta do aluno estaria errada,
pois ele não seguiu o livro.” 24 (Santos, 2016, pp. 1-2)

Neste sentido, a teoria construtivista alude para a valorização do saber que cada
criança possui e que funciona como ponto de partida para o professor, que deve tentar
complementar, enriquecer e ampliar esse mesmo conhecimento. O aluno encontra-se
numa sucessiva construção, influenciada pela sua ação no ambiente que o envolve. É
através do contacto com o meio social, das experiências pessoais e interações sociais
que a criança absorve e constrói o seu conhecimento. Deste modo, o docente deve
orientar os seus alunos na edificação do saber, devendo também “construir os seus
próprios conceitos”, questionando os conteúdos que possui e alterando-os de maneira a
estarem mais direcionados para as características e ritmos de aprendizagem de cada
aluno. (Santos, 2016, p.6)
As “pedagogias construtivistas” estão na base das alterações educacionais que se
têm verificado ao longo do ocidente e visam, sobretudo melhorar o ensino, dando um
novo rumo às escolas e orientando os professores “para uma prática pedagógica mais
inovadora, criativa e que leve o aluno a construir o conhecimento, a sua autonomia
moral e intelectual.”
Nas escolas construtivas os erros dos alunos são valorizados porque fazem parte
do processo de evolução. É preciso errar múltiplas vezes para ser possível aprender e é
errando que as crianças aprendem a ler ou a escrever por exemplo. É a partir do erro que
se alcança o pretendido. (Santos, 2016, p.7)
Nesta sequência, a teoria social da aprendizagem, de Lev Vygotsky, vai de
encontro à teoria construtivista pois defende que a aprendizagem ocorre por meio da
“interação entre o sujeito, o objeto e outros sujeitos (colegas ou professores)” (Marques,
1896-1934, p.2). No entanto, Lev Vygotsky discorda das fases do desenvolvimento
cognitivo sustentadas por Jean Piaget e afirma que nada é tão estático e definitivo como
Piaget quis demonstrar. Vygotsky, ao contrário de Piaget, acredita “que o ambiente
24
Santos, A. & Ferreira, H. & Santos, M. & Souza, T. (2016, Dezembro) O Caminho do Construtivismo:
Atitudes que Diferenciam o Ensino Aprendizagem. pp. 1-2.

47
social da criança influenciará no nível do seu desenvolvimento, ou seja, não se pode
aceitar uma visão única do desenvolvimento humano” 25 (Demizu, 2015, p. 3466).
Estas duas teorias pedagógicas defendem precisamente que o aluno é a figura
principal no processo de ensino aprendizagem e o professor é um guia que o orienta e
que gera situações favoráveis à sua aprendizagem, para que depois o aluno seja capaz de
construir o seu próprio conhecimento e desenvolver a sua autonomia intelectual. Não
obstante, o professor é também determinante no processo de aprendizagem dos alunos
pois é ele, juntamente com o meio social, que irá estimular, fomentar e procurar
desenvolver estratégias que auxiliem os educandos a aumentar as suas aptidões e a sua
autonomia mental.
Lev Vygotsky nasceu em 1986, na Bielorrússia. Entre 1923 e 1934 trabalhou no
Instituto de Psicologia de Moscovo onde aprimorou “as suas teorias sobre o
desenvolvimento cognitivo e a relação entre o pensamento e a linguagem.” Morreu aos
38 anos devido à tuberculose. (Marques, 2007, p.1)
Vygotsky, psicólogo e grande intelectual do século XX, ressalta a interação
social como o principal fator na construção da aprendizagem e no desenvolvimento
mental. Defende também que as crianças aprendem mais facilmente quando são
desafiadas cognitivamente e vão para além da sua “Zona de Desenvolvimento
Proximal” (ZDP). Esta ZDP é uma zona que propicia o desenvolvimento cognitivo
através da qual a criança atinge o seu “desenvolvimento potencial” e aprende a
solucionar problemas. Vygotsky mostrou o quão importante e eficaz é desafiar as
crianças e tirá-las da sua zona de conforto para que possam atingir o seu
“desenvolvimento potencial”, com o auxílio e orientação do docente. Lev Vygotsky
destaca também a importância de trabalhar em grupo e “em colaboração com pares mais
capazes” como forma de adquirir conhecimentos e desenvolver a cognição, fazendo uso
da linguagem e da interação social, “na qual ocorre a resolução de um problema em
conjunto, sob a orientação do participante mais apto a utilizar as ferramentas
intelectuais adequadas” (Fino, p. 5)
Leo Vygotsky enfatiza a união entre o pensamento e a linguagem, união esta que
surge “pela necessidade de comunicação, expressão e compreensão entre os indivíduos
de uma mesma sociedade” (Demizu, 2015, p. 3463). É a partir da interação social e das
25
Demizu, F. & Santos. D. & Mataruco, S & Royer, M. (2015, Outubro). Reflexões sobre teorias da
aprendizagem para o ensino de ciências: Piaget X Vygotsky.

48
relações que estabelecemos ao logo da nossa vida que adquirimos o “desenvolvimento
humano.”
Escusado será dizer que Vygotsky discorda do ensino tradicional, rígido, onde os
alunos não possuíam voz ativa. Lev Vygotsky era mais apologista da socialização e
partilha de ideias como meios para alcançar o desenvolvimento individual (Demizu,
2015, p. 3463).
Vygotsky evidencia que a escrita funciona como motivação ou estímulo para as
crianças, através da qual o desenvolvimento e a aprendizagem acontecem. É por meio
da leitura e da escrita que conseguimos assimilar as nossas ideias, tornando-se, assim,
mais fácil de as partilhar. Oliveira complementa este pensamento ao afirmar que “os
signos representam outra realidade; isto é, o que se escreve tem uma função
instrumental, funciona como um suporte para a memória e a transmissão de ideias e
conceitos” (Oliveira, 1993, p. 68).
Quando comparamos as teorias destes dois pensadores destacamos algumas
diferenças. Enquanto Piaget centra-se mais nas várias fases de maturação, nas
“experiências físicas e transmissões culturais e sociais” através das quais atingimos o
desenvolvimento cognitivo, Vygotsky destaca a interação social como forma de
estimularmos as nossas “funções mentais” (2015, p. 3467). Todavia, Marta Oliveira
salienta que:

“Tanto Piaget como Vygotsky são interacionistas, postulando a


importância da relação entre indivíduo e ambiente na construção dos processos
psicológicos; nas duas abordagens, portanto, o indivíduo é ativo em seu próprio
processo de desenvolvimento: nem está sujeito apenas a mecanismos de
26
maturação, nem submetido passivamente a imposições do ambiente.”
(Oliveira, 1993, pp.103-104)

Vygotsky alude para a reciprocidade entre o desenvolvimento e a aprendizagem,


ou seja, quando a aprendizagem ocorre inevitavelmente haverá desenvolvimento.

26 Oliveira, M. K. (1993). Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento - um processo socio-histórico. São


Paulo: Scipione. 103-104.

49
Contrariamente, Piaget afirma que nem sempre acontece dessa forma. Muitas vezes a
aprendizagem submete-se ao desenvolvimento, havendo pouco efeito sobre este último.
Jean Piaget e Lev Vygotsky foram dois grandes teóricos do século XX que
contribuíram significativamente para uma melhor compreensão dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento. Embora a teoria do construtivismo e a teoria social da
aprendizagem não sejam métodos de ensino mas sim teorias referentes ao processo de
construção do conhecimento, é primordial estar ciente dos seus ideais e dos seus
benefícios e tentar aplicá-los em sala de aula.

50
3. Enquadramento Científico

3.1. Unidade Didática - O Modelo Romano

O Modelo Romano é a unidade didática correspondente à Roma Antiga e às suas


várias fases estadistas. Desta forma, a história política de Roma divide-se em três
períodos governativos: Monarquia (753 a.C. - 509 a.C.), República (507 a.C. - 27 a.C.)
e Império (27 a.C. - 476 d.C.). Durante o período monárquico, Roma era apenas uma
vila e quem governava era o rei, em consonância com o senado.
A cidade de Roma foi governada por sete reis no total, entre eles latinos e
etruscos, sendo que o último deles, Tarquínio o soberbo, tentou governar acima da
instituição mais sólida, o senado. Por essa mesma razão Tarquínio, o soberbo, é deposto.
Após a sua fuga o senado proclama a república em 509 a.C.
O período republicano carateriza-se por ser uma época de grande e significativa
expansão territorial. Roma começa a dominar vários territórios estratégicos, como por
exemplo o mar Mediterrâneo, o que irá desencadear uma expansão crescente a partir do
então chamado “Mare Nostrum”.
A cidade de Roma torna-se numa grande potência através de dois movimentos
expansionistas, a expansão interna e externa. A expansão interna romana diz respeito à
conquista de toda a península itálica. Uma vez conquistada toda a Itália, dá-se o início
da expansão externa, ou seja, da expansão para além das fronteiras da Península Itálica.
Deste modo, o primeiro território a ser cobiçado foi o mar mediterrâneo que na época
era controlado pelos cartagineses. Como tal, inicia-se, assim, uma disputa pelo controlo
do Mediterrâneo entre os cartagineses e os romanos, denominada por Guerras Púnicas.
Estas guerras vão ser travadas ao longo de várias anos resultando na vitória e no
controlo de todo o litoral do mar Mediterrâneo pelos romanos. Após vencerem Cartago
os romanos conquistaram a Península ibérica, a Gália, o Egipto, a Britânia, a Dácia
(Roménia), a Macedónia e diversos territórios da Ásia Menor. Desta forma,

“Roma afirma-se claramente num mundo que se abre ao Mediterrâneo oriental e


ocidental. (…) As Guerras Púnicas são o corolário desse movimento
expansionista, que coloca Roma em contacto com terras, culturas e tradições

51
27
longínquas e bem diferentes, na Sicília, nas Hispânias e na África.” (Brandão
& Oliveira, 2015, p. 5)

Com a consequente expansão e o crescimento territorial a população começou a


crescer drasticamente. O aumento dos plebeus e dos escravos gerou problemas
económicos e muita fome no império. A plebe não tinha quaisquer direitos políticos,
para além de ser obrigada a exercer os trabalhos mais pesados. Nesta sequência inicia-
se uma revolta entre os plebeus e o senado. A plebe recusa-se a participar no exército,
começa a exigir melhores condições de vida e a reivindicar direitos políticos. Deste
modo, o senado é obrigado a implementar algumas medidas a favor da plebe, sendo elas
a Lei das XII Tábuas, a Lei Canuleia e a formação da Tribuna da Plebe. A Lei das XII
Tábuas foram as primeiras leis a serem escritas que garantiam igualdade na justiça; a
Lei Canuleia permitia o casamento entre patrícios e plebeus e os Tribunos da Plebe
representavam e defendiam os direitos da plebe, podendo até vetar leis que iam contra
os interesses dos plebeus.
A lei das XII tábuas foi o primeiro conjunto de leis escritas em Roma, gravadas
em doze tábuas e que deu origem ao primeiro Código do Direito Romano, em 452 a.C.
Anteriormente as leis não eram redigidas, eram apenas transmitidas oralmente e de
geração em geração, o que causava, muitas vezes, abusos de poder. Assim sendo, este
primeiro código foi revolucionário porque a partir desse momento todas as leis
começaram a ser redigidas, tornando-se mais percetíveis e funcionais, o que ajudou e
muito na administração do império. Estas leis começaram a evoluir e a dar lugar a
outras mais eficazes, sendo sempre redigidas tendo em conta três princípios básicos da
justiça: viver honradamente, atribuir a cada um o que é seu e não prejudicar ninguém.
No que concerne à sociedade romana, esta era extremamente desigual e
permaneceu a mesma ao longo dos três períodos governativos. Dividia-se em patrícios,
plebeus, clientes e escravos. As camadas sociais eram estáticas, havia pouca mobilidade
social, pelo que era muito difícil subir de estatuto. Porém, alguns grupos sociais
conseguiam alcançar direitos políticos e sociais, como é o caso dos plebeus e de chefes
militares que se destacavam nas guerras de expansão.

27
Oliveira, J. L., (2015, Junho). História de Roma Antiga volume I: das origens à morte de César.
Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 5.

52
Os patrícios eram os ricos proprietários de terras. Desfrutavam de grandes
riquezas, escravos e exerciam cargos públicos muito importantes. Constituíam a
percentagem mais reduzida da população e eram tidos como cidadãos romanos
(nascidos em Roma), pertencentes às famílias mais antigas.
A camada social dos plebeus era constituída por pequenos comerciantes,
artesãos, oleiros, camponeses, entre outros. Não tinham muitos direitos políticos e
raramente podiam participar na vida religiosa. Constituíam a maioria da população.
Relativamente aos clientes, estes eram formados por estrangeiros refugiados que
prestavam serviços aos patrícios e dispunham de uma relação de subordinação para com
eles pois tinham apoio económico e jurídico.
Os escravos eram os mais desafortunados pois não tinham qualquer tipo de
direitos e Roma. Geralmente os escravos eram presos de guerra que executavam tarefas
árduas e não recebiam pagamentos pelo seu trabalho, apenas roupa ou comida. Eram
considerados mercadoria para os patrícios e para os plebeus.
As instituições políticas de Roma eram particularmente controladas pelos
patrícios. Durante grande parte do período republicano a plebe era representada pelos
tribunos da plebe, que eram eleitos anualmente e tinham o poder de vetar as leis que
prejudicavam os plebeus. Sendo assim, as instituições políticas romanas dividiam-se em
Senado, Magistraturas e Comícios. O Senado e os Comícios eram as instituições com
mais poder, embora o Senado tivesse sempre o poder máximo.
Os plebeus conseguiram adquirir alguns direitos por meio da resistência e da
revolta. No entanto, as leis implementadas pelo senado em prol da plebe não eram
respeitadas a cem por cento. Para acalmar este clima de tensão e instabilidade, o Senado
decide criar o primeiro triunvirato (poder a três homens) constituído por Júlio César,
Pompeu e Crasso. Esta aliança

“tratava-se mais de um acordo de cavalheiros para lograrem atingir objetivos


que não alcançariam sozinhos: uma espécie de «conspiração» levada a cabo
pelos três príncipes, segundo Tito Lívio (Per. 103); ou um «monstro de três
cabeças» satirizado 392 por Varrão8. Constituíram tal aliança (societas) para que
se não fizesse nada na res publica que prejudicasse qualquer um deles, (…).
Pompeio esperava ver ratificadas pelo senado as mudanças administrativas que

53
operara nas províncias do Oriente e dos estados clientes.” 28 (Oliveira, 2015, pp.
391-392)

Por conseguinte, é estabelecido o segundo triunvirato, integrado por Octávio,


Marco António e Lépido. A cada triúnviro foi atribuído um território para que
administrassem e resolvessem os problemas existentes. A Octávio foi concedida a
Europa, a Marco António a Ásia e a Lépido o Norte de África. Como já era de prever,
tendo em conta o desfecho do primeiro triunvirato, Marco António saiu da Ásia e entrou
em combate com Lépido, tomando posse dos seus territórios. Octávio quando soube do
sucedido derrotou Marco António, juntamente com o seu exército e torna-se no único
triúnviro. Este põe fim a república, implementa o império e proclama-se o primeiro
imperador, passando-se a chamar Octávio Augusto (divino). Octávio Augusto foi
bastante relevante pois implementou um conjunto de medidas que iriam estabelecer a
paz e a prosperidade em todo o império. De entre essas medidas estão a política do pão
e circo e a reorganização da estrutura política que possibilitou a todo o império viver um
imenso período de paz que ficou conhecida como “Pax Romana”. Esta paz romana
correspondia:

“Sob a perspectiva dos interesses imperiais, a forma administrativa pela qual


Roma viabilizava a sua unidade territorial e política. O fim primeiro dela era o
bem estar dos dominantes e a manutenção de toda a estrutura de poder
implementada pelos romanos. Neste sentido, a pax era dos romanos e para
estes.” 29

Posto isto, é de perceber o quão vasto e complexo foi o Império Romano nos
seus três períodos governativos e, essencialmente, no período republicano, período este
que impulsionou Roma ao nível que hoje conhecemos. Através de várias crises, várias
guerras, conflitos e vitórias, Roma fez-se, progrediu e tornou-se nesta grande potência
que até hoje está bem presente, quer seja por meio da filosofia, do direito, e
principalmente pela sua belíssima arquitetura espalhada por toda a Europa

28
Oliveira, J. L., (2015, Junho). História de Roma Antiga volume I: das origens à morte de César.
Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. pp. 391-392.
29
Serique, I. (2011, Jan./Mar). Pax Romana e a Eirene Do Cristo, Fragmentos De Cultura, 21 (1). p. 122.

54
3.2. Escolha do Tema

No semestre passado decidi lecionar sobre Roma Antiga, tema que integra o
plano de estudos do 10º ano. A escolha deste módulo foi feita por exclusão de partes e
de acordo com os temas que tinha mais interesse e que me daria mais gosto em lecionar.
Desde sempre que sinto um grande entusiasmo e fascínio pela mitologia, arquitetura e
cultura do período clássico, e, mais concretamente, da Roma Antiga. Outra das razões
que me fez escolher esta temática foi para poder aprofundar mais sobre esta época
histórica incrivelmente vasta.
Como tal, a história de Roma Antiga divide-se em três grandes períodos
históricos: monarquia, república e império. A crise entre reis e patrícios faz surgir a era
republicana, instaurada pelo senado. Foi durante a república que houve uma maior
expansão territorial, o que fez de Roma a cidade estado, a cidade modelo para todas as
outras. Com o destaque progressivo do chefe militar Octávio Augusto, sobrinho de Júlio
César, Roma vê surgir uma nova era, a imperial. Com o início da governação de César
Augusto, o império vive um longo período de paz designada como “pax romana”. Essa
paz deu-se graças ao conjunto de medidas adotadas pelo primeiro imperador que
possibilitou à Roma e a todo o império viver uma era mais pacífica.
Os romanos sempre se mostraram recetivos quanto à cultura dos territórios que
iam conquistando, especialmente o dos gregos. Como possuíam uma grande admiração
pela civilização grega, os romanos absorveram e assimilaram muito da sua cultura,
nomeadamente a literatura, a filosofia, a arquitetura e inclusive copiaram o panteão
grego e alteraram-lhes os nomes.
O período clássico está repleto de misticismo e lendas que não sabemos ao certo
se são verídicas ou fictícias, passadas de geração em geração através da escrita de
grandes intelectuais. É talvez por essa razão que este tema fascina e magnetiza tanto os
alunos como o professor que o leciona.

55
4. Descrição das Aulas Lecionadas

4.1. Primeira Aula

Módulo 1: Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade, cidadania e império


na Antiguidade Clássica
Unidade 2: O Modelo Romano
Subunidade Didática: Roma, cidade ordenadora de um império urbano

Sumário:
- Introdução à Fundação de Roma
- O espaço imperial romano
- Evolução das estruturas políticas desde a República até ao Império

Objetivos específicos:
- Referir a Fundação lendária de Roma
- Localizar o espaço imperial romano
- Referir a evolução das instituições governativas

Conceitos: Império; Urbe; Magistratura

Avaliação:
- Registo e observação da aula
- Participação oral dos alunos
- Realização dos exercícios propostos

Recursos: Computador e Projetor, Manual, PowerPoint, vídeo e quadro

56
A nossa primeira aula teve início às 10:50 do dia 20 de outubro de 2020 e, como
já era habitual, chegamos quinze minutos mais cedo à sala 9 para podermos preparar os
materiais que iríamos utilizar nessa aula. Pouco a pouco os alunos iam chegando com ar
de admiração por sermos nós ali sentados na secretária ao invés da professora Natércia
Fialho. Quando finalmente chegaram todos os alunos demos início a aula com uma
breve apresentação nossa e pedimos que cada um dissesse muito rapidamente o seu
nome para que nós pudéssemos memorizar mais facilmente. De seguida ditamos o
sumário e demos a conhecer os objetivos da aula, dando depois início ao tema do mito
da fundação de Roma com o auxílio de uma apresentação PowerPoint. Para melhor
perceberem sobre este mito clássico pedimos que lessem um excerto do livro “História
de Roma” de Tito Lívio:

“Segundo uma antiga lenda da tradição romana, a cidade de Roma


foi fundada pelos gémeos Rómulo e Remo, filhos do deus Marte
com a vestal Reia Sílvia, filha de Númitor, rei de Alba Longa. De
acordo com a lenda, os irmãos gémeos, ainda bebés, foram
sequestrados, colocados num cesto e jogados no rio Tibre por
Amúlio, irmão de Númitor e que cobiçava o poder. A corrente
forte do rio levou-os até a região do Monte Palatino, onde foram
encontrados por uma loba. A loba tê-los-ia amamentado e,
posteriormente, teriam sido encontrados, recolhidos e criados por
pastores. Quando cresceram, lutaram pela recuperação do trono e
decidiram fundar uma cidade no local onde a loba os teria
encontrado e amamentado. No entanto, tempos depois, ocorreu
uma disputa entre eles pelo trono da cidade. Remo, com ciúmes da
preferência dos deuses por Rómulo, atravessou os limites sagrados
da cidade e atacou-o. Rómulo, então, matou o seu irmão Remo e
tornou-se o primeiro rei de Roma. Isto teria acontecido no ano de
753 a.C..”

(Tito Lívio, 59 a.C. – 17 d.C.)

Documento 1 - Excerto da obra "História de Roma", de Tito Lívio

Por conseguinte, solicitamos que nos dissessem o que tinham percebido da


leitura daquele texto. Alguns alunos responderam, o que é muito raro pois esta turma
não costuma ser muito participativa. De seguida passamos a explicar com mais afinco o
texto projetado que menciona o território de Alba Longa governado por um rei chamado

57
Númitor. O seu irmão Amúlio, querendo os poderes só para si, assassina Númitor e
abandona os filhos da sua sobrinha, Reia Silva, para que não houvesse descendência.
Rómulo e Remo são salvos e amamentados por uma loba e depois criados por
camponeses. Anos depois, por ciúmes e desavenças, Rómulo mata o irmão Remo e
funda a cidade de Roma em 753 a.C., tornando-se primeiro rei.
Começamos, assim, por lhes apresentar a fundação mítica de Roma para depois
lhes explicar sobre a fundação histórica da mesma, baseada em estudos científicos e
investigações, para que conseguissem distinguir o mito da realidade, ou seja, daquilo
que realmente aconteceu.
De seguida, projetamos um mapa do império de Roma, igual ao que eles tinham
no manual, para que tivessem uma clara perceção acerca da grande dimensão do
Império Romano e também para que percebessem como se deu a sua evolução.

Ilustração 3 - O Império Romano

Demos a conhecer os primeiros territórios a serem conquistados bem como a


conquista do mar Mediterrâneo, acontecimento este que despoletou uma ambição
crescente dos romanos por outros territórios. Após a análise e discussão conjunta do
mapa explicamos de que forma é que as cidades romanas se distribuíam e se

58
organizavam até se tornarem grandes centros urbanos, tendo sempre Roma como
exemplo máximo de excelência. Para assimilarem esta parte da matéria mostrei-lhes um
vídeo da escola virtual sobre a extensão do império.
Ao longo da aula tentamos fazê-los perceber melhor o significado de alguns
conceitos importantes tais como império e urbe, indispensáveis ao estudo da Roma
Antiga. Posteriormente elaboraram a questão 4 da página 75 sobre a importância das
cidades no mundo romano.
Após os alunos terem lido as suas respostas e termos corrigido, explicamos
detalhadamente acerca dos três períodos governativos de Roma Antiga – monarquia,
república e império - mencionando os acontecimentos mais relevantes de cada um.
Por conseguinte registamos no quadro os nomes dos vários grupos sociais de
Roma e descrevemos cada um deles, questionando sempre os alunos de modo a torná-
los mais ativos em sala de aula e envolvidos na matéria que está a ser lecionada.
De seguida falamos sobre as instituições republicanas e os cargos que as
integram, bem como as suas respetivas funções, com o auxílio do documento 2 e dos
textos das páginas 76 e 77.
Foi-lhes explicado que, com o crescimento do império a população aumentou
drasticamente. O aumento dos plebeus e dos escravos gerou problemas económicos e
muita fome no império, conduzindo assim, a uma revolta social que só foi amenizada
com a formação do primeiro triunvirato, constituído pelo grande chefe militar Júlio
César. Falamos em pormenor sobre o primeiro e segundo triunviratos, das leis
implementadas em prol dos plebeus e dos feitos de Octávio Augusto como triúnviro.
Com a ascensão de Octávio Augusto como primeiro imperador de Roma, deu-se o
início do principado. Este imperador teve grande relevância pelo conjunto de leis que
implementou, possibilitando a todo o império viver um longo período de paz.
Depois pedimos aos educandos que comparassem dois quadros do manual, um
sobre as instituições republicanas e outro sobre a nova reorganização política –
instituições imperiais. Comparamos em conjunto os quadros 2 e 3 das páginas 76 e 77, à
medida que íamos fazendo questões aos alunos, de modo a que estes compreendessem
que as instituições políticas sofreram grandes alterações com a subida de Augusto ao
poder.

59
Como docentes em formação valorizamos bastante a participação dos educandos
e damos sempre o tempo necessário para pensarem e refletirem antes de responderem a
uma questão feita por nós. É primordial dar-lhes tempo para que possam pensar sem
qualquer tipo de pressão e chegar a uma conclusão por eles mesmos, visto que são os
principais responsáveis pela própria construção e desenvolvimento pessoal. Ao longo da
nossa prática pedagógica fomos fortemente influenciados pela teoria construtivista,
apoiada pelo psicólogo Jean Piaget, por ser um modelo que favorece os educandos, na
medida em que lhes dá a oportunidade de tomarem o controlo do seu próprio saber e de
acordo com o seu ritmo de aprendizagem. Desta maneira, Mario Carretero presenteia-
nos com uma definição esclarecedora sobre o Construtivismo, que é a seguinte:

“ (…) a ideia que sustenta que o indivíduo - tanto nos aspetos cognitivos
quanto sociais do comportamento como nos afetivos - não é um mero produto do
ambiente nem um simples resultado de suas disposições internas, mas sim, uma
construção própria que vai se produzindo, dia a dia, como resultado da interação
entre esses dois fatores. Em consequência, segundo a posição construtivista, o
conhecimento não é uma cópia da realidade, mas, sim, uma construção do ser
humano." 30 (Carretero, 2002, p.10)

Após os alunos terem analisado os quadros visualizaram um vídeo da escola


virtual intitulado como “Das magistraturas republicanas ao poder do imperador” que
veio introduzir um pouco a matéria da aula seguinte sobre a era imperial e o poder
centralizado na figura do imperador/príncipe.
Nos últimos 10 minutos da aula pedimos que escrevessem numa folha tudo
aquilo que lhes tinha ficado na memória desta aula, tudo aquilo que tinham aprendido,
por meio de esquemas, parágrafos, desenhos, entre outros, para depois entregarem ao
professor. Elaboraram esta atividade no final de todas as aulas que lecionamos para que
depois pudesse servir como esquemas de estudo ou auxiliares de memória para o teste
de avaliação.
Para concluir, pedimos como T.P.C uma breve pesquisa sobre Octávio Augusto.

30
Carretero, M. (2002). Construtivismo e Educação, Porto Alegre, Artmed Editora S.A. p. 10.

60
Reflexão Crítica da Aula 1

Esta aula teve grande relevância para nós porque foi a primeira que lecionamos!
Foi impactante estar à frente de quase trinta alunos a olhar para nós com ar de
curiosidade e expetativa. Embora o medo fosse uma constante durante toda a aula,
tivemos que o pôr de lado para que pudéssemos obter um bom desempenho.
O nervosismo era imenso e, como já era de esperar, refletiu-se no nosso
desempenho. Em conversa com a nossa professora cooperante apercebemo-nos que a
aula tinha sido demasiado expositiva, faltando assim, a interação com os alunos.
Raramente questionamos os educandos acerca da matéria lecionada e nem
disponibilizamos o devido tempo para que eles pudessem expor dúvidas. Estávamos
demasiado preocupados em lecionar, o melhor possível, os conteúdos que tínhamos
preparados para a aula, que nem facultamos aos alunos a oportunidade de participar
também na aula.
Para além deste erro significante não há muito mais a apontar. Conseguimos
lecionar tudo aquilo a que nos propusemos, de acordo com o plano de aula que pode ser
consultado nos anexos e, cientificamente, a aula foi bem conseguida.
Esta primeira aula constituiu uma preparação para as que viriam a seguir, o que
nos ajudou imenso a evitar cometer os mesmos erros. No entanto, os erros fazem parte
da aprendizagem e é através deles que nos tornámos bons professores.
As cinco aulas que lecionamos foram momentos muito intensos. Há um medo
constante que nos assola, o medo de errar, de não estar à altura do desafio e de ter um
bloqueio a meio de uma aula. Porém, todos estes medos são legítimos e sentimo-los
porque estamos fora da nossa zona de conforto.

61
4.2. Segunda Aula

Módulo 1: Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade, cidadania e império


na Antiguidade Clássica
Unidade 2: O Modelo Romano
Subunidade Didática: Roma, cidade ordenadora de um império urbano / A unidade do
mundo imperial

Sumário:
- Os poderes de Octávio Augusto
- O culto a Roma e ao Imperador

Objetivos Específicos:
- Explicitar os títulos e poderes acumulados por Octávio Augusto
- Referir a importância do imperador como elemento de coesão
- Expor a importância da divinização de Roma e do Imperador

Conceitos: Paz Augusta, Culto Imperial, Divinização

Avaliação:
- Registo e observação de aula
- Participação oral dos alunos
- Realização dos exercícios propostos

Recursos: Computador e projetor, Manual, Quadro, Vídeos

62
A 21 de outubro de 2020 demos a nossa segunda aula! Chegamos quinze
minutos mais cedo à sala 9, como de costume, para podermos preparar tudo antes dos
alunos chegarem. À medida que iam chegando fomos distribuindo a atividade que
tinham feito no final da aula anterior, ao mesmo tempo que íamos dando um breve
feedback sobre a mesma, para que os alunos pudessem melhorar na próxima atividade.
Ao longo de todo o estágio a nossa orientadora alertou-nos com frequência para
a importância de dar feedback aos alunos após realizarem qualquer tipo de trabalho, por
mais pequeno que fosse. Desta maneira, os alunos passam a estar mais cientes dos seus
erros, tentando melhorar na próxima atividade. O feedback, no fundo, é uma forma de
ajudar os educandos a evoluir e a desenvolver as suas capacidades, visto que são
confrontados com os aspetos positivos e negativos dos seus próprios trabalhos, através
de críticas construtivas. Sendo assim, o feedback “(…) é fundamental para o progresso
das aprendizagens dos alunos, contribuindo para que se tornem mais autónomos na
avaliação e regulação dos seus desempenhos e possam encontrar formas de os
melhorar.” 31 (Avões, 2015, p.11)
Prosseguindo na descrição da aula, após termos dado feedback sobre a atividade,
ditamos o sumário para que os alunos registassem no caderno. Dialogamos um pouco
acerca da matéria da aula anterior à medida que íamos fazendo perguntas para verificar
se ainda tinham bem assentes os conteúdos da aula passada. De seguida expusemos os
objetivos da aula.
É primordial, na nossa opinião, ajudar os alunos a estabelecer uma espécie de
“ponte” entre a matéria da aula anterior e a matéria da aula atual, para que consigam
sequenciar os conteúdos lecionados. Deste modo, o diálogo inicial entre professor-
alunos, com questões estratégicas feitas pelo docente, é uma ótima opção para promover
a interação e o dinamismo em sala de aula, a partir dos quais dá-se a construção do
conhecimento. Esta estratégia vai de encontro com o método construtivista defendido
por Jean Piaget e pela qual nos regemos durante toda a nossa prática pedagógica. Esta
lógica educacional destaca e bem a construção do saber por meio da interação e diálogo
que irá fomentar o espírito crítico, a constante interrogação e interesse em aprender
mais, conduzindo, assim, ao sucesso escolar. De acordo com Tânia Dias Queiroz o
diálogo é:
31
Avões, P. M. (2015). O Feedback dos professores e o Envolvimento dos alunos na escola: Um estudo
com alunos do 9º ano. (Dissertação de mestrado, Universidade de Lisboa). p. 11.

63
“simultaneamente, uma forma de aprendizagem infantil e um dos
instrumentos didáticos centrais do educador para a promoção do ensino. O
profissional necessita propiciar situações que garantam a troca entre as crianças,
num ambiente que propicie a confiança e a auto-estima. A interação supõe
conflitos, disputas e divergências. As crianças aprendem quando interagem com
seus pares.” 32 (Queiroz, 2003, pp 153-154)

Posteriormente, pedimos que cada aluno partilhasse a sua frase sobre Octávio
Augusto, de acordo com a pesquisa que pedimos que fizessem em casa, e fomos
registando no quadro para que os alunos depois escrevessem no seu caderno diário.
Após este registo acrescentamos mais alguma informação e transmitimos-lhes alguns
aspetos sobre a vida e obra de Octávio Augusto. De seguida mostramos-lhes um vídeo
do Youtube intitulado como: “Octávio vs Senado” tirado da série “Roma” onde
puderam ver um discurso feito por Octávio Augusto perante o senado, após a morte do
seu tio Júlio César. Nesse discurso Octávio exige a morte dos dois assassinos do seu tio,
Brutus e Cassius.
Seguidamente, analisamos em conjunto os documentos A, B, D e G do dossier
das páginas 78 e 79 sobre a figura e divinização do primeiro imperador de Roma –
Octávio Augusto. Foi feita uma leitura intensiva, frase a frase, onde esmiuçamos cada
palavra dos textos pois neles estavam presentes terminologias e significados
importantes de serem apreendidos pelos alunos. À medida que íamos lendo os
documentos em conjunto tentamos questioná-los acerca dos significados, das
expressões e das ideias presentes em cada parágrafo. Logo, os alunos elaboraram as
questões 3, 5 e 7 da página 79 sobre os poderes e carreira política de Octávio e, após
finalizarem, alguns alunos leram as suas respostas e fizemos a respetiva correção em
conjunto.
Foi muito difícil trabalhar com a turma de 10º H2 pois são alunos com baixo
nível de conhecimento e, por isso, raramente participavam, recusando-se muitas vezes a
responder, pelo que retribuíam de imediato com um “não sei”. Ao longo destas cinco
aulas lecionadas sentimos enormes dificuldades em despertar o interesse dos alunos pela
História porque, para além de serem muito poucas aulas para poder estabelecer qualquer

32
Queiroz, T. D. (2003). Dicionário prático de pedagogia. São Paulo: Riddel. p 153-154.

64
tipo de relação com os educandos, estes também manifestam um colossal desinteresse
pela disciplina, bem como pelo estudo no geral e isso reflete-se no seu desempenho. As
crianças de hoje não são as mesmas que as do século passado. O mundo evoluiu, a
tecnologia progrediu drasticamente e as escolas viram-se obrigadas a reajustar os seus
métodos educativos para atender as novas necessidades das crianças. Os educandos
valorizam cada vez mais a utilização dos audiovisuais e dos dispositivos tecnológicos
em sala de aula, sendo-lhes já muito difícil permanecerem 90 minutos a ouvir
simplesmente o professor a articular. Por essa mesmíssima razão, os docentes devem
fazer uso desses aparelhos tecnológicos como estratégia de ensino. De acordo com
Jéssica Nicola:

“Para que os alunos demonstrem maior interesse pelas aulas, todo e


qualquer recurso ou método diferente do habitual utilizado pelo professor é de
grande valia, servindo como apoio para as aulas. (…) Com a utilização de
recursos didáticos diferentes é possível tornar as aulas mais dinâmicas,
possibilitando que os alunos compreendam melhor os conteúdos e que, de forma
interativa e dialogada, possam desenvolver sua criatividade, sua coordenação,
suas habilidades, dentre outras.” 33 (Nicola, 2016, p. 359)

Deste modo, depois de termos corrigido as questões falamos um pouco acerca da


importância do culto a Roma e à figura do imperador, que detinha o poder absoluto na
era imperial. Estudamos o documento 5A da página 81 para aprofundar mais esta
questão da divinização do imperador e dos benefícios que cada governação trouxera
para o mundo romano.

33
Nicola, J. A. (2016). A importância da utilização de diferentes recursos didáticos no ensino de ciências
e biologia, Rev. NEaD-Unesp, 2, n. 1. p. 359.

65
Documento 2 - "O Culto a Augusto". Doc. 5A,
presente no manual (p.81)

Vários monumentos foram erguidos em homenagem aos imperadores e seus


feitos, entre eles a Ara Pacis Augustae (altar da paz) mandado construir pelo senado em
homenagem a Octávio Augusto e ao período de paz que caracterizou a sua governação.
Os alunos visualizaram um vídeo do Youtube sobre a Ara Pacis Augustae, a sua
arquitetura e grande importância para a eternização daquele que foi o primeiro príncipe
de Roma.

Ilustração 4 - "A Ara Pacis Augustae, o Altar da Paz Augusta".


Doc. 4, presente no manual (p. 80)

66
Foi mostrado aos alunos a Ara Pacis Augustae por meio da imagem e do vídeo
para que melhor percebessem a grandiosidade destas obras de culto e o quão importante
e presente estavam na cultura da época. Foi-lhes também explicado um pouco da sua
arquitetura e dos materiais usados na sua construção. Este altar fora edificado todo em
mármore e possuía vários relevos decorativos que representavam a família de Octávio
Augusto, bem como diferentes alegorias relativas ao mito da fundação de Roma, plantas
e formas de animais que remontam para a simplicidade e perfeição da mãe natureza,
entre outros.
Nos últimos dez minutos da aula pedi-lhes novamente que escrevessem numa
folha tudo aquilo que lhes tinha ficado na memória desta aula, tudo aquilo que tinham
aprendido, por meio de esquemas, parágrafos, desenhos, entre outros.

67
Reflexão Crítica da Aula 2

Esta segunda aula foi mais dinâmica e fluiu naturalmente devido às intervenções
dos alunos. Ao contrário da aula anterior, demos espaço aos educandos para que
pudessem participar e expor as suas questões.
Como nos encontrávamos mais confiantes, a aula decorreu muito bem,
começando por ser expositiva e, de seguida, mais interativa. Procuramos dar voz aos
alunos por meio da leitura e interpretação de documentos.
Na reunião com a professora cooperante, esta chamou-nos a atenção para o tom
de voz, que mal se ouvia no fundo da sala de aula. Em salas grandes é complicado
projetar a voz de maneira a que todos oiçam, principalmente se estivermos a utilizar
máscaras de proteção contra a Covid 19. Outro aspeto apontado pela orientadora foi a
necessidade de se explorar mais detalhadamente os vídeos e os documentos expostos
em sala de aula, para que os alunos os consigam interligar com os conteúdos lecionados.
De um modo geral, esta aula decorreu muito bem, apesar dos pequenos lapsos
cometidos ao longo da lição, que não constituíram nenhum obstáculo no fluir da aula.
Olhando para trás em retrospetiva, é evidente a evolução da primeira aula para a
segunda, na medida em que, tentamos ouvir mais os alunos e interrogá-los
frequentemente sobre a matéria dada, para que se mantivessem mais atentos.
Foi gratificante perceber que os alunos estavam a gostar da aula e que, por essa
razão, participavam mais regularmente quando os questionávamos. Para um professor
iniciante é recompensador ver que os seus alunos estão a usufruir da aula e, perceber
isso, torna-nos mais confiantes na tarefa de lecionar.

68
4.3. Terceira Aula

Módulo 1: Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade, cidadania e império


na Antiguidade Clássica
Unidade 2: O Modelo Romano
Subunidade Didática: Roma, cidade ordenadora de um império urbano

Sumário:
- A Codificação do Direito Romano
- A progressiva extensão da cidadania

Objetivos Específicos:
- Explicitar a riqueza e a utilidade do Direito Romano
- Referir as etapas da extensão da cidadania no império
- Reconhecer o processo de integração dos territórios dominados, aquando da extensão
da cidadania

Conceitos: Direito, Cidadania, Integração

Avaliação:
- Registo e observação de aula
- Participação oral dos alunos
- Realização dos exercícios propostos

Recursos: Computador e projetor, Manual e Quadro

69
No dia 23 de outubro de 2020 lecionamos a nossa terceira aula Quando os
alunos chegaram, distribuímos a atividade da aula passada e demos um feedback geral
sobre a mesma. Falamos um bocadinho sobre a matéria da aula anterior, como
costumamos fazer sempre no início de cada aula, e ditamos o sumário. De seguida
expusemos os objetivos da aula para que os alunos ficassem com uma pequena noção
daquilo que iria ser abordado durante os 90 minutos.
Posteriormente explicamos detalhadamente sobre a evolução da codificação do
direito romano, ou seja, sobre as primeira leis a serem redigidas e que deram origem a
outras mais percetíveis, funcionais e eficazes. Essas primeiras leis escritas foram
denominadas como leis das XII Tábuas e deram origem ao primeiro Código do Direito
Romano, em 452 a.C. Assim sendo, este primeiro Código serviu como ponto de partida
para que as leis começassem a ser escritas, tornando-se mais compreensíveis e viáveis, o
que ajudou e muito na gerência do império. O Código mais completo a ser redigido foi
o Código de Justiniano, o “Corpus Júris Civilis”, já no século VI d.C., que serviu de
apoio para a elaboração das legislações dos séculos seguintes e até a atualidade.
Ao longo deste esclarecimento acerca da evolução do Direito Romano fomos
compondo uns esquemas no quadro para melhor ilustrar aquilo que íamos lecionando.
Elaboramos vários esquemas no quadro à medida que íamos explicando a matéria. No
entanto, não correu como esperado pois os alunos acabaram por não perceber o que
estava escrito devido à rapidez com que foi redigido. Apesar destes percalços, é sempre
uma boa opção recorrer ao uso de esquemas para resumir e simplificar a matéria.
De seguida os alunos leram e interpretaram, com o auxílio do docente, o
documento 6 da página 82 para que depois pudessem elaborar as questões 1 e 2 da
página 83 sobre as qualidades reconhecidas por Cícero na lei das XII tábuas e sobre os
valores fundamentados pelo Direito Romano.

70
Documento 3 - "O Direito". Doc. 6, retirado do manual (p.82)

Após a leitura e análise conjunta dos documentos do manual apercebo-nos da


enorme dificuldade dos alunos na leitura e interpretação de textos simples, causado pela
falta de hábitos de leitura. Tomamos conhecimento desta dificuldade logo na primeira
aula que lecionamos e, por isso, decidimos trabalhar com eles frequentemente a leitura e
compreensão dos documentos do manual. Assim sendo, pediamos a um aluno
aleatoriamente que lesse com clareza e sem pressa os textos e, de seguida,
perguntávamos a toda a turma que ideias estavam presentes. Alguns alunos respondiam,
outros mantinham-se em silêncio mas lá conseguiam partilhar a sua opinião sobre o que
fora lido, com esforço, concentração e alguma insistência. Após algum tempo de prática
pedagógica, verificamos uma pequena evolução por parte da turma relativamente à
compreensão dos textos. Estava claro que, quando dedicávamos mais tempo em
conjunto a “esmiuçar” cada texto, os alunos mostravam-se mais predispostos e davam
mais de si. A leitura é essencial não só para compreendermos a História mas também
para evoluirmos cognitivamente. Como tal, deve ser presença assídua em sala de aula.
Segundo os PCN:

“Se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes textos


com os quais se defrontam, é preciso organizar o trabalho educativo para que
experimentem e aprendam isso na escola. Principalmente quando os alunos não
têm contato sistemático com bons materiais de leitura e com adultos leitores,

71
quando não participam de práticas onde ler é indispensável, a escola deve
oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores proficientes e práticas de
leitura eficazes. Essa pode ser a única oportunidade de esses alunos interagirem
significativamente com textos cuja finalidade não seja apenas a resolução de
pequenos problemas do cotidiano.” 34 (1997, pp.41-42)

Logo, foi abordado o tema da progressiva extensão da cidadania no Império


Romano à medida que íamos pedindo aos alunos que lessem e interpretassem os
documentos 8 e 10 das páginas 84 e 85.

Ilustração 5 - "A progressiva extensão da cidadania". Doc. 10, presente no manual (p.85)

A atribuição da cidadania a todo o território romano é um conteúdo estruturante


de 10º ano e, por essa razão, tivemos que aprofundá-lo da melhor forma, interlaçando
com algumas atividades para que os alunos pudessem pôr em prática aquilo que
ouviram. É essencial que os alunos percebam que a atribuição da cidadania foi um
processo muito lento até ser alargado a todos os indivíduos do império e que,
inicialmente ser-se cidadão romano era um título exclusivo apenas às pessoas de
estatuto mais elevado.
Por falta de tempo os alunos não puderam fazer a atividade dos últimos 10
minutos da aula mas levaram como T.P.C a elaboração das questões 3, 5 e 9 da página
87.
Relativamente aos trabalhos de casa confessamos serem desnecessários, na
medida em que sobrecarregam os alunos com mais tarefas do que aquelas que já têm
34
Brasil, Ministério da Educação, (1997). Secretaria da Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares
Nacionais: 1.ª a 4.ª série - Língua Portuguesa, Brasília: MEC/SEF, v.1, p. 41 e 42.

72
diariamente nas escolas, pois muitos deles despendem de 90 minutos de aula, o que é
tempo suficiente para trabalhar os conteúdos programáticos. Ao longo das nossas aulas
tentamos evitar sobrepesar os educandos com T.P.C’s pelo que só requisitamos apenas
duas vezes em 5 aulas lecionadas. No caso das aulas de 45 minutos é compreensível o
uso dos trabalhos de casa (mas não em excesso) como forma de os alunos aprofundarem
conteúdos que não puderam ser estudados com mais afinco durante a aula.
De acordo com Eduardo Sá, psicólogo clínico e professor na Universidade de
Coimbra “as crianças trabalham demais. Têm um exagero de horas de aulas por semana.
As escolas que frequentam têm vindo a encolher, assustadoramente, o tempo dos
recreios. As aulas são, sobretudo, expositivas. E o ensino acaba por ser mais amigo do
reproduzir e do repetir do que do recriar e do repensar. Como se nada disto já não fosse
demais, as escolas prolongam as atividades letivas pela tarde. E, antes das crianças
terem atividades lúdicas ou desportivas, muitas delas ainda passam pelo “estudo”, por
explicações ou por ateliês de tempos livres (“tempos livres”, leu bem) para que façam
os trabalhos de casa antes do jantar. Às vezes, reconheço, é com surpresa que reparo que
ninguém pare e pergunte se o cansaço ajuda a aprender. Se as aulas (intermináveis) de
90 minutos estimulam a atenção. Ou se um “comboio de conteúdos” expostos sem
espaço para os conversar, para trocar dúvidas e para que, a propósito deles, se ponham
perguntas ajuda a curiosidade e aprofunda o conhecimento.” 35
Para além da carga horária escolar as crianças têm ainda outras atividades
extracurriculares em que participam e ainda mais os trabalhos de casa, quando chegam à
casa completamente arrasados. Não estaremos a exigir demasiado dos alunos? Não os
estaremos a privar dos seus tempos livres que tanto precisam para experimentar outras
coisas e descobrir o mundo? Os T.P.C são importantes sim, mas não devem ser, de todo,
uma constante.

35
Sá, E. (s.d.). A Escola toda: Deixem os trabalhos de casa em paz!

73
Reflexão Crítica da Aula 3

Esta aula foi muito pacífica e correu como a tínhamos planeado. Contudo, a
elaboração de esquemas no quadro verificou-se pouco eficaz porque muitos dos alunos
não perceberam o que estava escrito, interrompendo frequentemente a aula. A letra não
estava muito percetível devido a rapidez com que redigimos no quadro, e por essa razão,
a dinâmica da aula saiu prejudicada.
Nesta aula trabalhamos com os alunos a análise de documentos, como em todas
as aulas que lecionamos. A compreensão de textos foi a principal dificuldade detetada
logo na primeira aula lecionada, na maior parte dos alunos da turma, daí termos
decidido atuar nesse aspeto, juntamente com eles.
Outro aspeto que dificultou um pouco o fluir da aula foi a pouca
participação por parte dos alunos. Geralmente, participavam sempre os mesmos alunos
ou então mantinham-se todos em silêncio quando eram questionados por nós. No
decorrer das aulas haviam muitos “momentos mortos”, que tentamos contornar com um
pouco de insistência, com vista a obter feedback dos alunos.
Pela nossa perspetiva, a aula correu normalmente, sem grandes percalços. Já nos
encontrávamos mais confiantes e capazes na nossa prática pedagógica. Olhando para
trás, é gratificante percebermos o quanto evoluímos e aprendemos em todo este
processo.

74
4.4. Quarta Aula

Módulo 1: Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade, cidadania e império


na Antiguidade Clássica
Unidade 2: O Modelo Romano
Subunidade Didática: A afirmação imperial de uma cultura urbana pragmática

Sumário:
- Correção do TPC
- A Cultura Romana
- A padronização do urbanismo

Objetivos Específicos:
- Referir as caraterísticas da cultura romana;
- Reconhecer o sentido pragmático dos romanos;
- Explicitar o processo de formação e organização das cidades.

Conceitos: Pragmatismo, Fórum, Urbanismo

Avaliação:
- Registo e observação de aula;
- Participação oral dos alunos;
- Realização dos exercícios propostos.

Recursos: Computador e Projetor, Manual, PowerPoint e Vídeos

75
A nossa quarta aula foi lecionada no dia 28 de outubro de 2020 na sala do
costume (9). Chegamos 15/20 minutos mais cedo para podermos receber o professor
Miguel Monteiro, que nos deu a honra da sua presença. Como quase todos os dias a
maior parte dos alunos já se encontravam na sala de aula sentados, alguns deles eram
muito pontuais. Antes mesmo do toque de entrada era habitual conversarmos com os
alunos que já se encontravam nas suas carteiras para saber um pouco sobre o seu dia, as
suas notas e sobre a sua opinião relativamente às nossas aulas. Apreciávamos estes
pequenos momentos de descontração entre professor-aluno que nos possibilitava
conhecê-los um pouco melhor.
Após terem chegado todos os alunos, fizemos um breve apanhado sobre a
matéria da aula anterior e expusemos os objetivos da aula. De seguida ditamos o
sumário para que os alunos passassem para o caderno diário e corrigimos em conjunto o
trabalho de casa, a questão 1 e 2 da página 83, em que alguns alunos leram as suas
respostas.
Depois de corrigirmos o T.P.C, projetamos um vídeo da escola virtual sobre a
extensão da cidadania romana, seguido de uma breve explicação do professor, para
finalizar o tema do alargamento da cidadania.
Posteriormente, demos início ao estudo da cultura romana com o auxílio de um
PowerPoint, focando em três das suas caraterísticas principais: o pragmatismo, o
urbanismo e a grande influência helénica. Os romanos admiravam bastante a civilização
grega por isso absorveram muito da sua cultura. Ao contrário dos gregos que prezavam
pelo belo e pelo estético, os romanos tinham um grande sentido prático e funcional, para
eles todas as coisas tinham que ser úteis. Podemos verificar a practicidade dos romanos
em construções como aquedutos que conduziam a água para as habitações e para as
termas, as pontes e redes de estradas que ligavam os vários territórios e facilitavam a
acessibilidade.
Por conseguinte falamos detalhadamente sobre um dos conteúdos estruturantes
de 10º ano - a organização e importância das cidades. Foi fundamental dar a conhecer
aos alunos o caráter urbanístico da Civilização Romana pois a cidade era o centro
económico, político, social, administrativo e cultural. Dentro das cidades encontravam-
se as termas, os locais de culto e, principalmente, o fórum - centro político e religioso da

76
cidade. Os fóruns situavam-se mesmo no centro das cidades e era o principal ponto de
encontro de toda a população.

Ilustração 6 - O fórum romano. Doc. 14.1, presente no manual (p.91)

A edificação das cidades implicava sempre um cuidadoso planeamento. Eram


ligadas por duas ruas principais, o Cardo e o Decumanos, ao longo das quais se
desenvolvia a cidade. Deste modo, constituíam grande importância pois eram o centro
da vida política, administrativa, cultural e religiosa do império, dotadas de instituições
governativas próprias.

Ilustração 7 - "Planta da cidade de Timgad". Doc.2, retirada do


manual (p. 90)

77
A Urbe não era um simples conjunto de edifícios, mas uma associação destinada
a satisfazer hábitos, necessidades e interesses comuns daqueles que a habitavam. Roma
era o centro do poder e o coração do império, tudo a ela estava ligado por meio de
estradas e pontes. Este era o modelo a seguir e estendia o seu modo de organização a
todo o império.
Após termos falado sobre a organização das cidades os alunos visualizaram um
vídeo do Youtube sobre o fórum romano, principal centro político e cultural de uma
cidade, à medida que íamos instruindo sobre alguns edifícios existentes nesse centro e
suas funções. Após o vídeo solicitamos aos alunos que fizessem uma breve comparação
e que identificassem algumas semelhanças entre a arquitetura grega e a arquitetura
romana. O silêncio imperou mas, segundos depois, alguns alunos, os mais
participativos, partilharam alguns aspetos comuns às duas arquiteturas.
Posteriormente, abordamos acerca das habitações em Roma Antiga, que se
dividiam em Domus e Insualae. As Domus eram as casas particulares onde moravam os
cidadãos mais ricos. Tinha apenas um piso e continham várias áreas como jardim
interior, piscina, sala de jantar, vários quartos, sala e reuniões, entre outros. Já as Insulae
eram habitações mais modestas e tinham o aspeto semelhante aos prédios que vemos na
atualidade. Eram construídas com materiais que facilmente se degradavam e nelas
viviam as pessoas de condição menos favorável.
Seguidamente os alunos leram e analisaram o documento da página 91 para
depois elaborarem a questão 3 e 4. Após termos corrigido as questões em conjunto
pedimos a um aluno que lesse o documento da página 89 para que depois fizessem
também a pergunta 2 acerca da admiração de Cícero pela acultura grega.
Nas aulas que lecionamos, tentamos sempre ajudar os meus alunos a
desenvolver as suas capacidades interpretativas por meio da análise de documentos. Foi
com o auxílio de textos e fontes escritas que os educandos dialogaram sobre várias
temáticas e complementaram conhecimentos, ao mesmo tempo que aguçavam a sua
perspicácia e aperfeiçoavam a leitura, pois muitos deles demonstravam dificuldades em
articular imensas palavras. Outra atividade que propúnhamos aos nossos alunos era a de
registar numa folha, no final de cada aula, tudo o que tinham aprendido ou que lhes
tinha ficado na memória por meio de esquemas, parágrafos, desenhos, entre outros. Esta
atividade teve como objetivo ajudá-los a desenvolver o seu poder de síntese e de

78
assimilação. À medida que iam elaborando esta pequena atividade no final de cada aula
a atenção e o foco dos alunos nos conteúdos aumentava, estavam mais despertos e mais
bem preparados para depois conseguirem fazer a atividade. O construtivismo sustentado
por Jean Piaget valoriza precisamente a afetividade e as emoções dos alunos e procura
facilitar a participação de todas as crianças nas mesmas atividades, mesmo que possuam
ritmos diferentes de aprendizagem. Esta teoria destaca, sobretudo, a importância do
espírito crítico e o diálogo para o progresso cognitivo de cada criança. Deste modo,
através do diálogo e troca de ideias a criança perceberá que há muitas outras formas de
interpretar a mesma situação e isso irá favorecer a sua capacidade de explorar a mesmo
problemática através de ângulos diferentes. No construtivismo:

“O professor é considerado como um mediador e motivador das


interações entre os alunos e o meio. O educador busca criar situações
que estimulem a construção do aprendizado. Para além disso, o docente
compreende que cada aluno possui o seu próprio processo de aquisição de
conhecimentos e, por isso, propõe várias formas de aprender um determinado
conteúdo.” 36

Para finalizar este tema da Cultura Romana projetamos um pequeno


excerto/cena do filme “O Gladiador” para que os alunos pudessem ver toda a pompa e
circunstância dos espetáculos da luta de gladiadores que ocorriam nos coliseus.
Nos últimos 10 minutos solicitamos aos educandos que fizessem a atividade
habitual de registar o que aprenderam na aula, por meio de esquemas, parágrafos,
desenhos, entre outros.

36
Escola da Inteligência, educação socio emocional. (2017, Novembro). O que é a proposta pedagógica
construtivista?

79
Reflexão Crítica da Aula 4

Nesta aula, o professor Miguel Monteiro deu-nos a honra da sua visita, o que nos
causou alguma ansiedade. A presença do coordenador do mestrado desencadeou em nós
um nervoso miudinho pois queríamos corresponder às expetativas. Não obstante, a aula
fluiu naturalmente, embora tenha sido muito pouco dinâmica.
Pela nossa ótica, a aula teve muitos “momentos mortos” e o tempo
disponibilizado aos alunos para a elaboração das atividades fora demasiado. Por ter sido
uma aula mais prática, passamos algum tempo sentados na secretária enquanto a turma
executava as atividades. Logo depois de a aula terminar, percebemos que não fora o
mais correto, visto que o docente tem que circular pela sala de aula e estar atento a
possíveis questões.
As principais falhas apontados pelo professor monteiro e a professora
cooperante foram: o tempo exagerado em que estivemos sentados na secretária durante
a aula e a pouca dinâmica que se fez sentir ao longo dos 90 minutos.
Esta quarta aula não foi das melhores que lecionamos mas, ainda assim, foi bem
conseguida cientificamente. A dinâmica é que ficou aquém do que era expectável
devido ao tempo excessivo que atribuímos a cada atividade.
Após a aula ter terminado, sentimo-nos desmotivados ao saber que o nosso
desempenho não tinha sido o melhor. É deveras frustrante quando a aula não nos corre
como a idealizamos mas, faz parte de todo o processo de aprendizagem.

80
4.5. Quinta Aula

Módulo 1: Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade, cidadania e império


na Antiguidade Clássica
Unidade 2: O Modelo Romano
Subunidade Didática: A afirmação imperial de uma cultura urbana pragmática

Sumário:
- Elaboração de uma ficha formativa e respetiva correção
- Distribuição de um quadro-síntese e explicação sobre o mesmo

Objetivos Específicos:
- Referir os grupos sociais da Roma Antiga
- Reconhecer os vários períodos governativos
- Saber a relevância das primeiras leis escritas romanas
- Explicitar a importância do Fórum como sendo um espaço político e religioso das
cidades romanas

Conceitos: Urbe, Fórum, Lei das XII Tábuas e Urbanismo

Avaliação:
Registo e observação de aula
Participação oral dos alunos
Realização dos exercícios propostos

Recursos: Ficha Formativa, Quadro-síntese e Quadro

81
No dia 30 de outubro de 2020 demos a nossa última aula. Como em todas as que
lecionamos, chegamos 15 minutos mais cedo. Quando os alunos já se encontravam
todos nas suas mesas ditamos o sumário para que pudessem passar para o caderno.
Seguidamente, distribuímos a cada aluno uma ficha formativa sobre a matéria
lecionada nas quatro aulas anteriores. Esta ficha funcionou como revisão da matéria de
forma a verificar os conhecimentos adquiridos pelos alunos até então. Segundo Jean
Piaget as atividades propostas pelo docente têm que possuir como ponto de partida algo
que os alunos já conheçam e que compreendam sem grande dificuldade. Devem integrar
também algum aspeto desafiador de modo a incentivar a investigação e a descoberta por
parte dos próprios educandos. Esta estratégia procura motivar os alunos para a
descoberta e pesquisa, o que irá ajudá-los a desenvolver a sua autonomia e as suas
capacidades intelectuais. Numa pedagogia construtivista a aprendizagem envolve
sempre algum elemento de descoberta, sendo que, o professor deve dar a oportunidade
ao aluno de descobrir por si, através do próprio esforço.
Lemos as perguntas em voz alta e depois os alunos começaram a elaborar a
ficha. Ao longo dos 45 minutos que estipulamos para a elaboração da ficha, os alunos
foram expondo dúvidas e perguntando o significado de algumas palavras. Nesta aula em
particular os alunos mostraram-se muito energéticos, barulhentos, tentavam perguntar as
respostas aos colegas do lado. De 5 em 5 minutos tivemos que chamá-los à atenção e
pedir para ficarem em silêncio a fazer a ficha individualmente.

A ficha distribuída pelos alunos foi a seguinte, elaborada por nós:

82
Ficha de Trabalho de História A – 10º ano – Unidade 2 – o modelo romano

Grupo I Édito de Caracala (212 d.C.)

Doc.1

1. Escreve, à frente de cada frase, o nome do grupo social correspondente.


a) Era constituído pelos aristocratas mais ricos e poderosos.
b) Presos de guerra e vendidos como mercadorias.
c) Pequenos proprietários de terras, artesãos e comerciantes.
d) Ex-escravos que obtinham a liberdade através do seu senhor.

2. Ordena corretamente os seguintes acontecimentos


a) República d) Império
b) Monarquia e) Pax Romana
c) Morte de Júlio César

3. Em que consistia a Pax Romana?

4. Reportando-se à Roma Antiga o termo Urbe designa:


a) o Circo Máximo onde ocorriam as corridas de cavalos
b) uma cidade que se diferenciava do seu território ou distrito rural

5. Quais das opções abaixo constituem as principais instituições republicanas?


1. Senado 4. Magistraturas
2. Conselho Imperial 5. Comícios

6. Identifique as primeiras leis romanas escritas. Que importâncias tiveram?

83
7. O que determina o Édito de Caracala (doc.1)?

Grupo II

Fig. 1 Fig. 2

1. De acordo com a figura 1 Cardo e Decumanus Maximus assinalam:

a) os principais edifícios da cidade;


b) os edifícios erguidos pelo imperador Octávio Augusto;
c) as duas vias por onde passavam os cortejos imperiais;
d) as duas vias em torno das quais se estruturava a cidade.
2. Que espaço está representado na figura 2?

3. Associe as construções romanas que constam da coluna A às funções que lhe


correspondem (coluna B)

Coluna A Coluna B

a) Basílica 1. Local de culto


2. Local de reunião do Senado
b) Domus 3. Recinto destinado a corridas de cavalos
c) Cúria 4. Sala de reuniões e tribunal público
5. Casa de habitação unifamiliar
d) Circo 6. Recinto destinado às lutas de gladiadores
e) Anfiteatro 7. Construção destinada a representações teatrais
8. Espécie de estalagem

4. Das construções que se seguem selecione a que se encontrava no fórum da cidade.

84
1. Termas 3. Templos
2. Estádios

Passados 45 minutos corrigimos a ficha em conjunto e fizemos o registo de


algumas respostas no quadro.
Posteriormente, distribuímos um quadro-síntese a cada aluno com a matéria
simplificada de todas as aulas lecionadas, de maneira a facilitar-lhes o estudo para o
teste de avaliação. Lemos em voz alta os conteúdos expostos em cada coluna, à medida
que íamos explicando e aprofundando cada um deles.

Tabela 1 - Quadro síntese da matéria lecionada nas cinco aulas

Como era a nossa última aula deixamos os alunos saírem uns minutinhos mais
cedo pois também era a última aula deles de uma sexta-feira.

85
Reflexão Crítica da Aula 5

A quinta aula foi a última que lecionamos e, como tal, projetamos fazer um
apanhado de toda a matéria dada ao longo das cinco aulas, através de uma ficha
formativa. Não há muito a acrescentar sobre esta lição, visto que os alunos se
mantiveram em silêncio a fazer a ficha, durante cerca de quarenta minutos. Após terem-
na concluído, passamos à sua correção.
Toda esta aula foi dedicada à revisão dos conteúdos programáticos lecionados
nas aulas anteriores, com o objetivo de ajudar os educandos a sequenciar os
acontecimentos históricos e a prepararem-se para o teste de avaliação.
Surpreendentemente, a participação nesta aula foi mais constante, principalmente no
momento da correção da ficha.
Esta última lição foi mais pacífica, dedicada às dúvidas dos alunos e à revisão de
conteúdos. Sob a nossa perspetiva, esta aula foi determinante para os alunos, pois serviu
para aprofundar certos assuntos que não fora possível detalhar nas aulas anteriores.
Em suma, a aula correu da maneira que tínhamos planeado, sem grandes
lacunas, o que nos deixou realizados por acabar de forma satisfatória.

86
Considerações Finais

Neste último ponto apresentamos uma reflexão geral acerca da nossa prática
supervisionada, destacando alguns obstáculos, dificuldades e aprendizagens adquiridas
ao longo destes dois anos.
Olhando para trás em retrospetiva é impossível não fazer menção ao surto
pandémico que limitou excessivamente a nossa prática pedagógica. Como consequência
da pandemia lecionamos apenas metade das aulas que tínhamos previsto lecionar, num
total de apenas cinco aulas. No entanto, tivemos que nos reajustar às novas
circunstâncias e descobrir novas formas de lecionar.
Pretendíamos fazer uso do trabalho em grupo como forma de estimular a
autonomia dos alunos, mas não fora possível devido ao distanciamento social que
tínhamos que estabelecer para evitar a propagação do vírus. Por esse motivo, a
elaboração das planificações de aula foram desafiantes devido às inúmeras restrições.
Decidimos trabalhar junto com os alunos a análise e compreensão de documentos visto
que eram essas as maiores dificuldades que eles dispunham. Esse foi um dos nossos
grandes focos na elaboração das planificações, tendo sido por essa razão que decidimos
aludir para a importância da leitura em sala de aula, na primeira parte deste relatório.
Por conseguinte, foi-nos atribuído uma nova turma. Não tínhamos conhecimento
em relação aos graus e ritmos de aprendizagem de cada aluno e desconhecíamos as suas
características e dificuldades. As aulas que observamos da professora Natércia Fialho
não foram suficientes para conhecer o perfil da turma e, por isso, dificultou bastante a
nossa prática pedagógica.
O caminho percorrido foi atribulado mas, ao mesmo tempo, cheio de
aprendizagens. A elaboração deste relatório fez-nos refletir com maior atenção e afinco
sobre as vantagens de toda esta experiência de estágio. A Prática Letiva Supervisionada
foi uma mais-valia para a nossa formação profissional pois permitiu-nos estabelecer
contacto direto com aquela que será a nossa profissão futura. O convívio com os alunos,
os momentos de partilha e cooperação ajudou-nos a descobrir o tipo de perfil que
pretendemos adotar enquanto docentes.

87
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92
Anexos

93
Questionário sobre leitura

Este questionário é estritamente confidencial e é para ser preenchido


individualmente.

Nome:
Idade:
Já alguma vez repetiste o ano?
Se sim, qual:
Qual o período histórico que mais gostas?
Pré-História História Medieval História Contemporânea

História Clássica História Moderna

Profissão: Pai- Mãe-


Grau de escolaridade: Pai- Mãe-

1. Gostas de ler?
Sim Não

2. Lês com que frequência?

Todos os dias De 15 em 15 dias Nunca


Uma vez por semana Uma vez por mês

3. Assinala o que mais gostas de ler


Jornais Banda Desenhada Romances Poesia Contos
Revistas Enciclopédias Policiais Fábulas Outros

4. Consideras a leitura importante?


Sim Não
4.1. Porquê?

94
5. De um a cinco, como avalias a tua leitura?
1 2 3 4 5

6. Sentes dificuldade em perceber / interpretar aquilo que lês?


Sim Muitas vezes Algumas vezes
Não Raramente

7. Achas importante ler textos em sala de aula, com o auxílio do professor?


Sim Não

8. Achas que as aulas têm-te ajudado a melhorar a leitura e a compreensão de


textos?
Sim Não

9. Os teus pais têm o hábito de ler?


Sim Não

10. Costumas trocar ideias com os teus amigos sobre algo que tenhas lido?
Sim Não

11. Costumas ler ou requisitar livros na Biblioteca da escola ou noutra Biblioteca?


Sim Muitas vezes Algumas vezes
Não Raramente

12. Indica o nome do último livro que leste.

Anexo 1 - Questionário sobre leitura aplicado à turma do 10º H2

95
Anexo 2 - Planificação a curto prazo da primeira aula

96
Anexo 3 - Planificação a curto prazo da segunda aula

97
Anexo 4 - Planificação a curto prazo da terceira aula

98
Anexo 5 - Planificação a curto prazo da quarta aula

99
Anexo 6 - Planificação a curto prazo da quinta aula

100

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