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São Paulo
2002
ANABELA ALMEIDA COSTA E SANTOS
São Paulo
2002
Ficha Catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca
e Documentação do Instituto de Psicologia da USP
Santos, A. A. C. e
Cadernos escolares na primeira série do ensino fundamental: funções
e significados / Anabela Almeida Costa e Santos. – São Paulo: s.n.,
2002. – 152p.
BANCA EXAMINADORA
(Nome e Assinatura)
(Nome e Assinatura)
(Nome e Assinatura)
A José Artur Fernandes pelo interesse constante, por minhas idéias e meus
escritos, que me ajudou a acreditar e persistir; por suas contribuições teóricas e de
ordem prática, e por ter sido sempre companheiro, nas presenças e nas ausências.
A minha mãe e a minha avó, M aria José Almeida Costa e Santos e Mavilde
Ferreira Dias dos Santos, pelo apoio logístico e afetivo.
ANEXOS 138
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 150
RELAÇÃO DE FIGURAS
Figura n. Página
SANTOS, Anabela Almeida Costa e. Notebooks in the first grade of the Elementary
school: functions and meanings. 2002. 152 f. Thesis (Master). Institute of Psychology.
Univ ersity of São Paulo, São Paulo.
This research aims to study the functions and meanings of the notebooks in
the first grade of an Elementary Public school. The theoretical and methodological
approach was based on an ethnographic perspectiv e. The fieldwork was
performed for one year when the researcher did participant observ ations in the
classroom, meetings with the teacher and students and analyzed some student’s
notebooks. The research focused on the v ery beginning of notebooks utilization and
the learning process relating to the use of this school material. We realized that the
notebook is an important didactic instrument which is frequently used in the
beginning of the literacy process.
In the school context one could identify the functions attributed to the
notebooks such as: foundation for dev eloping school activ ities; record for activ ities
and relationships; control of students, teacher and parents; communication
between school and family. For the students, the notebooks hav e the meanings
such as: material associated to copy activ ities; material which needs always to
hav e a v ery good appearance; a material which inv olv es knowledge which the
majority of the students do not hav e the possibility of appropriating in this lev el of
schooling; instruments for training, of which utility dwells more in the blank pages
than in the registered contents.
lado, informav am ao menino e à sua família, sobre quem era ele como
aprendiz, e como se dav am algumas relações na escola.
1
Projet o de avaliação ps icológica realizado em parceria com a 14a Delegacia de Ens ino da cidade de São
Paulo, e que foi expos t o na t es e de dout orado de Adriana M arcondes M achado int it ulada Reinventando
a Avaliação Psicológica, e em art igo pres ent e no livro Educação Especial em Debate, publicado pela
Cas a do Ps icólogo em 1997.
APRESENTAÇÃO x iv
2 Trabalho des envolvido durant e part icipação no Programa de Aprimorament o Profis s ional em
Ps icopedagogia I ns t it ucional res ult ado de convênio ent re a FU NDAP e a PU C-Campinas .
APRESENTAÇÃO xv
INTRODUÇÃO
...Aí, chegô uma época eu fui estudá, foi por eu e minha irmã, aí
nós fomo pro primeiro ano, acho que o primeiro ano eu repeti
bem uns dois ou três anos, depois eu passei pro segundo, eu até
trabalha pra morrê e compra feix e de lenha quando ela não qué
i buscá, mas ela nunca deix ou nós i no mato buscá lenha. Então
eu não posso fazê nada”. Até falei bastante palavrão com ela,
Eu falei assim: “Ói, mãe, Iracema vai vim aqui em casa reclamá
1 Relat o feit o por Nilza, 26 anos, moradora da Vila Helena, bairro pobre da cidade de São
Paulo.
I NTRODUÇÃO 3
Por meio dessa estratégia foi possív el observ ar uma série de aspectos
relativ os às funções e significados dos cadernos em uma sala de primeira
série. A atenção e o cuidado marcav am fortemente a relação dos alunos
com seus cadernos. Esse procedimento contrastav a com o conteúdo das
freqüentes queixas das professoras, que relatav am o fato de seus alunos
não cuidarem dos cadernos, os quais acabav am por ficar sujos, amassados
e por serem preenchidos sem o esperado capricho. Ainda que tenha sido
v erificado que muitas v ezes os cadernos apresentav am-se conforme a
descrição das professoras, era perceptív el que não hav ia, de modo algum,
uma despreocupação dos alunos no cuidado com seus cadernos. Os
alunos preocupav am-se com o modo como dev iam transportá-los e
2 O est udo ex plorat ório foi realizado no segundo semest re de 1999, sendo part e int egrant e
quanto muitas das ativ idades desenv olv idas nessa sala de aula
baseav am-se em cópias. Ainda quando se fazia necessário que o aluno
resolv esse algum exercício, ao final era-lhe apresentada, na lousa, a
solução que podia ser copiada. Dessa forma, um bom “copista” pode ter
um ótimo caderno, apesar de não dominar os conteúdos ensinados na
escola.
1.1. OBJETIVOS
Objetivos gerais:
• descrev er, contextualizar e analisar as funções e os significados
ocupados pelo caderno em sua utilização pelos alunos dentro de uma
sala de aula de primeira série.
Objetivos específicos:
debrucem sobre essa questão. Gv irtz comenta que a grande maioria dos
trabalhos que têm como objeto os recursos auxiliares de ensino nem ao
menos cita os cadernos. Faria (1988) refere-se a isso dizendo que a falta de
estudos nessa área criou-lhe dificuldades para iniciar a inv estigação,
dificuldade que procurou suprir tomando contato com o maior número e
v ariedade possív el de cadernos.
MÉTODO DE PESQUISA
2.1. O CAMPO
3 Organização de pessoas que t êm como objet iv o ocupar áreas desabit adas v isando
est abelecer moradia. Diferent es grupos ocuparam a região em quest ão, formando quat ro
bairros; alguns grupos, mais organizados, inst it uíram regras, e buscaram recursos para que as
pessoas pudessem est abelecer-se em melhores condições, fat o que at ualment e rev ela-se
nas diferenças urbaníst icas ent re os bairros. Desse modo, há bairros que t êm
predominant ement e casas de alv enaria, enquant o em out ro são freqüent es os barracos de
M ÉTODO DE P ESQUISA 16
pesquisadora acompanhou as at iv idades desenv olv idas nessa escola comunit ária.
I nicialment e hav ia em t orno de 35 alunos, porém, dev ido a dificuldades econômicas da
escola, em 1999 o número de alunos foi reduzido para cerca de 20.
M ÉTODO DE P ESQUISA 17
5 Todos os nomes present es nest e t rabalho são fict ícios. O nome da professora,
part icularment e, foi escolhido por ela própria, sendo que os demais foram t rocados pela
pesquisadora. Essa medida t em como objet iv o prot eger e resguardar a ident idade daqueles
que t ão gent ilment e se dispuseram a ajudar, e que se ex puseram, ao permit ir o
M ÉTODO DE P ESQUISA 18
aulas. Ao final dos primeiros dois meses letiv os a classe tinha 33 alunos, dos
quais 3 foram transferidos para outras escolas, e outros 7 foram incluídos, até
o final do ano letiv o. Essas saídas e entradas foram acontecendo ao longo
de todo o ano, e até mesmo no mês de nov embro houv e a inclusão de um
aluno à classe. Em geral, as transferências de alunos ocorriam dev ido às
mudanças de residência das famílias das crianças, ou por necessidade de
mudança de horário em que o aluno freqüentav a a escola.
Os lugares dos alunos em sala de aula não eram fixos, assim a cada
observ ação os alunos estav am posicionados de modo diferente. Hav ia
empenho por parte da professora em garantir que os alunos com
problemas de v isão estiv essem sentados mais à frente. Em alguns momentos
os alunos que estav am mais atrasados em relação à aquisição dos
conteúdos escolares, ou que eram considerados indisciplinados também
eram colocados à frente. Exceto nesses casos, eram os próprios alunos que
escolhiam os seus lugares.
2.2. PROCEDIMENTOS
6 A relação das observ ações realizadas, cont endo as dat as e a duração de cada uma das
dentro de sala de aula, puderam ser observ adas, mas também momentos
de brincadeira, de jogos ou de desenv olv imento de outras ativ idades que
utilizav am materiais diferentes do caderno. Apesar de tais observ ações não
contribuírem diretamente para a compreensão das funções e significados
dos cadernos para os alunos dessa classe, possibilitaram que a
pesquisadora estabelecesse relações mais próximas com os sujeitos da
pesquisa e conhecesse melhor a dinâmica das relações e do
funcionamento da sala de aula.
detalhes que não poderia ser obtida em uma entrev ista feita
posteriormente.
OS CADERNOS ESCOLARES
Logo no início do ano, foi entregue aos pais de alunos uma lista de
materiais a serem comprados, incluindo itens div ersos tais como papéis,
cola, lápis, e também os cadernos. Todo esse material dev eria ser deixado
na escola aos cuidados da professora. Quanto aos cadernos, não hav ia
recomendações a respeito do tamanho ou tipo que dev eria ser adquirido.
Dev ido às dificuldades financeiras, tão presentes na v ida da população
estudada, muitos pais compraram apenas uma parte daquilo que hav ia
sido solicitado, outros foram adquirindo a totalidade dos materiais aos
poucos.
fato bastante raro. Mesmo em dias nos quais não seria desenv olv ida
nenhuma ativ idade formal, como por exemplo, no último dia de aula
dedicado à ativ idade lúdica, os cadernos estav am presentes. Desse modo,
pode-se afirmar que ir à escola para assistir aulas significav a ir com o
caderno.
“29/11/00
QUARTA-FEIRA
‘É TÃO BOM AM AR A NATUREZA’”
Por meio das observ ações realizadas, nessa classe de primeira série,
ao longo do primeiro ano de utilização formal dos cadernos, foi possív el
v erificar outros saberes que passav am a ser exigidos, dos alunos, para a
utilização desse material. O caderno tem páginas iniciais e finais, assim
como cada folha tem as primeiras e as últimas linhas. Cada tarefa dev e ser
feita seqüencialmente à anterior. Algumas linhas dev em ser deixadas em
branco, outras dev em ser usadas em sua totalidade. Há ainda linhas nas
quais apenas algumas palav ras dev em ser registradas. Esses procedimentos
div ersos ilustram o fato de a utilização do caderno exigir que a todo
momento sejam executadas ações de organização e tomadas decisões a
respeito de como utilizar o espaço.
(RA-10)
3.2.1. A cópia
(RA-17)
(RA-8)
OS C ADERNOS ESCOLARES 37
“Ana diz: ‘Agora nós vamos falar sobre uma coisa muito legal’ Vai
escrevendo na lousa a palavra ANIM AL. Renato imediatamente
pergunta: ‘É para copiar?’ Ana responde: ‘É, mas calma.’ Ana
continua falando. Os alunos começam a copiar, e ela diz séria:
‘Ninguém copiando, fecha o caderno, e coloca em baix o da
mesa... Só quem não copiou a data continua.’ Seguindo a
recomendação os alunos guardam os cadernos. Aqueles que
ainda copiam a data mantêm o caderno na mesa (Toni, M ateus,
Vando). No caso de M ateus e Vando, percebo que muitas vezes
deix avam de prestar atenção e participar daquilo que estava
sendo discutido para concluir a cópia.”
(RA-18)
(RA-27)
(RA-15)
(RA-27)
7
Nest e t recho, assim como em v ários t rechos apresent ados a seguir, a let ra P represent a
falas da pesquisadora.
OS C ADERNOS ESCOLARES 40
8 O cont role ex ercido pelos pais e profissionais da escola por meio dos cadernos escolares,
bem como as conseqüências que esse cont role t raz ao desenv olv iment o do t rabalho
pedagógico, encont ra-se mais det alhadament e descrit o a seguir, no it em ‘O caderno como
inst rument o de cont role’.
OS C ADERNOS ESCOLARES 41
v ezes em que a cópia foi proposta, bem como a elev ação no grau de
exigência aplicado a essa ativ idade.
Elizarrarás (1990) ressalta que a ativ idade de cópia é algo que dev e
ser aprendido, sendo um dos importantes aprendizados da primeira série.
Em suas notas de campo, a autora registra como, nessa etapa de
aprendizado, é comum que o professor reproduza na lousa a estrutura física
do caderno, dando indicações aos alunos de como dev e ser feito o seu
trabalho nos cadernos. Isso também pôde ser observ ado na presente
pesquisa.
Logo nos primeiros dias de aula a lousa foi preparada para serv ir
como modelo para a cópia no caderno. Nela foram riscadas linhas e
margens, reproduzindo a folha de um caderno. Até julho, foi essa a lousa
utilizada pelos alunos; a partir de então, com a mudança de prédio da
escola, e conseqüente mudança de lousa, passou-se a ter uma situação
um pouco diferente. A maioria dos alunos já dominav a a tarefa de cópia e,
portanto, a lousa não foi preparada para se parecer com um caderno.
Ainda assim, a professora empenhav a-se em dar necessárias indicações
feitas na lousa e/ou instruções v erbais que pudessem auxiliar os alunos a
realizar a cópia: “Esta é a linha da margem do caderno. Aqui [na lousa] é
azul, no caderno é v ermelha” (RA-20). Ana referia-se à linha feita por ela na
lousa, div idindo conteúdos que dev eriam ser colocados em páginas
OS C ADERNOS ESCOLARES 42
“Dinorah comenta: ‘Eu nunca levo bilhete.’ Fala isso com orgulho,
como se fosse um grande mérito. Pergunto: ‘Quem leva bilhete?’
Ela responde: ‘M ateus, João, Bernardo...’”
(RA-17)
9 Conforme será apresent ado no it em ‘Bilhet es’, o recebiment o de bilhet es é v ist o pelos
alunos como algo est rit ament e negat iv o, já que est es cost umam ser direcionado aos alunos
que não cumprem suas t arefas e/ou prat icam ações consideradas de indisciplina.
OS C ADERNOS ESCOLARES 43
Nessa posição, fazer a cópia implica em que ele se v ire para trás, a
fim de olhar para a lousa, além de que faça as letras inv ertidas e
espelhadas, para que saiam conforme o esperado. Os trabalhos resultantes
desse intrincado procedimento não diferem sensiv elmente dos que Mateus
realiza sentado à sua mesa. Tanto quando está sentado, como quando
realiza as ativ idades em pé, de costas para a lousa e com o caderno
inv ertido, é possív el encontrar cópias feitas com letras bastante grandes,
razoav elmente compreensív eis, e contendo algumas letras inv ertidas. Algo
que indica que Mateus é capaz de copiar, de modo razoav elmente legív el,
letras colocadas na lousa, bem como, que tem boa coordenação v iso-
motora, e boa capacidade de rev erter figuras.
(RA-18)
Figura 2 – Cópia, realizada por Mat eus em seu caderno, de cont eúdo apresent ado
na lousa.
Figura 3 – Cópia, realizada por Solange em seu caderno, de cont eúdo apresent ado
na lousa.
A DE ABEL HA AGU I A
B DE B E I J A-F L O R
C DE CABRA CAVALO
D DE DRAGÃO
E DE ELEFANT E
OS C ADERNOS ESCOLARES 47
Utilizando como exemplo a cópia de Mateus, caso ele tiv esse elegido
as linhas como unidades de cópia, pouco afetaria o resultado a mudança
no espaçamento das letras; no entanto, por ter feito a cópia em colunas a
irregularidade do espaçamento compromete a compreensão do
conteúdo; por exemplo, para que se encontre a palav ra “abelha” é preciso
mudar para linha inferior após a letra L. O resultado final de seu trabalho é
algo confuso, incompleto e incompreensív el. A lógica utilizada por Mateus
OS C ADERNOS ESCOLARES 48
Sev erino10 foi um dos alunos dessa sala de aula que v iv eu com
maiores dificuldades a aprendizagem dos saberes relativ os ao uso dos
cadernos. Por div ersas v ezes, durante as observ ações, foi possív el observ ar
que ele chegav a a passar mais de uma hora tentando copiar a data e a
frase do dia. Por meio do acompanhamento de seus procedimentos e de
conv ersas com Sev erino, foi possív el identificar que a demora dev ia-se ao
fato do aluno pretender copiar as informações exatamente como eram
apresentadas na lousa. Desse modo, quando a data era apresentada em
uma única linha ele tentav a múltiplas estratégias para fazer do mesmo
modo em seu caderno. Na maioria das v ezes, especialmente no início do
ano, os resultados obtidos pelo aluno afastav am-se bastante do objetiv o
eleito por Sev erino: copiar exatamente conforme o modelo. A percepção
de que o resultado de seu trabalho não estav a adequado, lev av a Severino
a fazer, apagar e refazer suas cópias inúmeras v ezes. Ana comentou em
entrev ista informal, acreditar que, se Sev erino iniciasse a primeira série após
os meses lev ados para aprender a trabalhar com o caderno, poderia
efetiv amente fazer as lições propostas e aprender mais. Ev identemente,
Sev erino deixav a, muitas v ezes de realizar as ativ idades propostas pela
professora pelo fato de estar excessiv amente dedicado a reproduzir no
caderno aquilo que estav a escrito na lousa. Isto o impossibilitou de
apropriar-se de outros saberes ensinados na escola. Aprender a ler e a
escrev er acabou ficando em segundo plano, para o momento posterior à
cópia da data e da frase do dia. Ana, percebendo isso, liberou Sev erino
10 A descrição mais det alhada a respeit o desse aluno, de sua escolarização, e de sua
algumas v ezes dessa ativ idade que lhe tomav a muito tempo, esforço e
dedicação, para que ele pudesse fazer outras, direcionadas a
aprendizados tais como leitura, escrita e matemática.
Algo que aparece, de modo sutil, nos casos de Sev erino e Mateus,
mas que merece mais atenção e detalhamento é o fato de hav er,
freqüentemente, ambigüidade e falta de clareza nas instruções que são
dadas para que os alunos realizem a cópia de conteúdos da lousa em seus
cadernos. Por exemplo, foi bastante comum que Ana desse indicações que
informav am aos alunos que o correto seria reproduzir exatamente aquilo
que estav a na lousa: “Assim que alguns copiam da lousa, lev antam-se para
mostrar à professora. Ana diz: ‘Não precisa me mostrar, se está igual ao da
lousa está certo’.” (RA-12).
(RA-13)
(RA-9)
“Um menino traz seu trabalho para mostrar a Ana, que olha e diz:
‘Já sei de quem a Tainara copiou. Não é para deix ar a Tainara
copiar.’”
(RA-13)
OS C ADERNOS ESCOLARES 52
“AICÍRTAP
Uma das estratégias utilizada pela professora para que isso fosse
superado, possibilitando que se compreendesse melhor a escrita de Patrícia,
foi associar o início da escrita à margem esquerda do caderno:
(RA-09)
(RA-11)
OS C ADERNOS ESCOLARES 55
“Ana diz a um aluno que colou a folha no lugar errado, deix ando
uma em branco: ‘Não pode ficar pulando folha.’”
(RA-11)
(RA-13)
(RA-8)
(RA-13)
“Isabel foi até a frente da sala mostrar a Ana o que havia feito.
Após olhar o caderno, Ana diz: ‘Você copiou de alguém, você não
sabe escrever... Copiou de alguém que ainda nem sabe direito... Eu
sei como cada um aqui escreve.’”
(RA-21)
“Pergunto a ela (Ana) sobre Severino. Ana diz não saber o que
acontece com ele: ‘Não faz, não gosta de estar aqui, não queria
estar aqui.’ Sempre que Ana olha seu ‘caderno está em branco’.”
(RA-17)
Entrev istas informais com Ana possibilitaram identificar que os pais dos
alunos utilizam os cadernos como instrumento primordial para terem acesso
ao trabalho da professora. É importante ressaltar que os pais não
OS C ADERNOS ESCOLARES 61
Aquilo que era observ ado pelos pais era comunicado à escola nas
esporádicas reuniões de pais ou atrav és de reclamações feitas diretamente
à equipe técnica – pedagógica e administrativ a. Nessas ocasiões,
predominav a a comunicação de aspectos considerados, pelos pais, como
negativ os. Tais aspectos referiam-se:
• ao conteúdo:
• à quantidade:
Essas reclamações dos pais não foram consideradas justas por Ana,
que alegou desenv olv er muitas ativ idades que não ficav am registradas nos
cadernos, tais como leitura e jogos. Na primeira reunião de pais, Ana hav ia
chamado a atenção dos pais para o fato de que desenv olv eria muitas
ativ idades sem o uso do caderno.
3.4. Os bilhetes
“M ãe, a Catarina não está fazendo suas lições direito, não tem feito
a lição de casa, seu caderno não tem capricho, fica brincando o
Ana”
(RA-27)
Ana”
P: ‘É, quando que ela escreve, quando você tá doente... Tem mais
alguma hora que ela escreveu?’
(RA-27) 13
(RA-22)
13 É int eressant e ressalt ar que Luís era o aluno que, nessa sala de aula, encont rav a-se mais
adiant ado no que se refere à aprendizagem de cont eúdos escolares. Assim sendo, não
cost umav a encont rar dificuldades para realizar as t arefas, cumprindo-as pont ualment e.
Dessa forma, compreende-se o fat o de ele não se referir ao uso de bilhet es para a não
realização de t arefas escolares.
OS C ADERNOS ESCOLARES 68
andando pela sala, Ana disse: “se os dois não fizerem (a tarefa) v ão lev ar
bilhete” (RA-14); em outra ocasião os alunos estav am de pé, conv ersando
alto, Ana repreendeu perguntando: “Hoje é festiv al de bilhete?” (RA-20). As
ameaças de Ana tinham conseqüências sobre as ações dos alunos. Um
exemplo ocorreu com Eduardo (RA-27), que não hav ia concluído as lições
de casa solicitadas no dia anterior, e que passara quase a totalidade do
período de aulas recortando palav ras de rev istas e colando-as no caderno:
(RA-27)
(RA-27)
(RA-27)
(RA-26)
(RA-17)
(RA-03)
(RA-03)
OS C ADERNOS ESCOLARES 71
Ainda que o acordo tenha sido proposto por uma mãe, raras foram
as situações em que os pais se utilizaram dessa forma de comunicação. A
professora, por sua v ez, utilizou-se com freqüência dos cadernos para
comunicar-se com os pais de seus alunos.
“Srs Pais,
OS C ADERNOS ESCOLARES 72
Peço a gentileza de que converse com sua filha, ela não está se
comportando bem às aulas de Educação Física, atrapalhando seu
desenvolvimento. Obrigada.”
“M ãe
A Sueli não está fazendo suas lições, seu caderno está uma
bagunça. Não fez a lição de casa e fica brincando na hora que
deveria fazer a lição
Ana”
“Shra Professora
Eu não sei que lição é essa do filme que ela assistiu, eu não assisti.
Se ela não sabe eu é que não sei.
Ela vai apanhar aqui hoje por isso, é a shra. pode ficar brava com
ela pega no pé dela não dá moleza não
Obrigada
OS C ADERNOS ESCOLARES 73
Silvia”
“Ana conta: ‘A mãe de Renato bate nele quando ele leva bilhete.’
Ana prossegue contando que, depois que ela mandou um bilhete,
a mãe mandou outro perguntando: ‘O Renato melhorou?’ Esse
ant eriorment e, e o dit ado de 05/12, que será coment ado mais det alhadament e a seguir.
OS C ADERNOS ESCOLARES 74
bilhete Ana não respondeu por escrito: ‘Não tive tempo.’ Falou
com Renato, e pediu que ele transmitisse o recado à mãe: ‘Mandei
falar que ele estava melhorando.’”
(RA-24)
Algum tempo depois, já nos últimos dias de aula (05/12), Ana utilizou-
se dos bilhetes de forma única e diferenciada. Hav ia sido feito um ditado e
Ana av aliou que, de modo geral, os alunos tinham tido um desempenho
bom. Iniciou escrev endo um bilhete elogioso no caderno de Luciano. Ana
contou que o bilhete dizia “muito bem”, e foi escrito em letra de forma.
Após escrev er, a professora incentiv ou que o aluno lesse. Prosseguindo a
correção, Ana encontrou outros alunos que estav am tendo progressos no
processo de letramento, e procedeu da mesma forma: escrev endo bilhetes
elogiosos, em letra de forma, para que pudessem ser melhor
compreendidos pelos alunos e incentiv ando que estes os lessem.
“Em seguida, Ana pergunta o que a frase quer dizer e ex plica: ‘quer
dizer que se a gente acreditar muito em uma coisa...”
(RA-26)
“Ana diz: ‘Luís, lê a frase do dia para mim.’ Luís levanta-se e vai até
a lousa e lê, em voz alta, apontando para a lousa. Algum aluno
pede para ler, e Ana diz que já pediu a Luís. Assim que Luís termina
Ana pergunta, referindo-se ao conteúdo da frase (‘sou muito
caprichoso e atencioso com meu caderno e minhas lições’): ‘Todo
mundo é assim?’ A classe responde em coro: ‘Não.’ Ou seja, a
maioria dos alunos afirma não ser atenciosa e caprichosa com seus
OS C ADERNOS ESCOLARES 78
Essas frases indicav am aos alunos como a escola esperav a que eles
fossem e procedessem: dev iam ser educados, atenciosos, caprichosos,
responsáv eis, prestar atenção às aulas, cuidar de seus materiais escolares.
Dev iam amar a natureza, respeitar seus amigos, gostar de estudar e
acreditar em Deus, bem como, ser educados e inteligentes. Não dev iam
mentir e nem brigar com seus colegas.
‘dev eres’, com suas v inculações, sejam essas econômicas, políticas, morais
ou de outro tipo”.
(RA-13)
“Pergunto a Ana quais são os critérios que ela tem utilizado para
decidir o que irá colar e escrever no caderno de seus alunos Ana
pensa um pouco e admite que acaba observando mais a questão
da estética ao avaliar os cadernos, logo acrescenta que não é a
estética o mais importante: ‘A criança não tem que ter letra bonita,
tem que ter letra legível.’”
(RA-14)
“Pergunto a Hugo como deve ser um caderno. E ele diz: ‘Tem que
ser bem cuidado.’”
(RA-23)
(RA-27)
P: ‘Se encapar ele vai ficar bom? (ele faz sinal afirmativo com a
cabeça)
(RA-27)
OS C ADERNOS ESCOLARES 82
(RA-23)
O fim dos cadernos: esta foi uma situação bastante rev eladora sobre
os significados construídos para esses objetos, ao longo de sua utilização. Os
cadernos chegav am ao fim quando as suas folhas estav am todas
preenchidas, quando eram perdidos ou inutilizados.
OS C ADERNOS ESCOLARES 83
(RA-17)
“Pergunto, ainda, a Toni para que ele usará o caderno antigo,e ele
me responde que vai mostrar para o primo. Pergunto o que ele
mostrará, e ele conta que vai mostrar a letra de mão que fez, diz
que houve uma vez em que fez uma letra de mão tão boa, que
acha que nunca mais conseguirá fazer igual. Pergunto por que ele
quer mostrar isso ao seu primo, e ele diz que talvez ajude o primo a
fazer letra de mão.”
(RA-25)
(RA-27)
Eduardo e Sev erino eram crianças diferentes entre si. Suas trajetórias
na primeira série também foram bastante desiguais, chegando a ser
opostas. O primeiro era bastante extrov ertido, falante e destacou-se por ser
um dos melhores alunos da sala de aula; o segundo, por sua v ez, mostrou-se
muito introv ertido, introspectiv o, calado, e tev e baixo aprov eitamento
acadêmico.
(RA-19)
16
As informações que se seguem foram obt idas a part ir das observ ações realizadas em sala
de aula, e da análise de cadernos do aluno, que abrangem o período de 5 de junho a 10 de
agost o, e de 8 de nov embro a 13 de dezembro.
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 88
Para ilustrar como Eduardo era v isto pela professora, cabe relatar
uma situação na qual Ana expressou v erbalmente algo sobre ele. Em um
dos últimos dias de aula, outra professora da escola, Lilian, entrou na sala de
aula de Ana para dar um recado. Eduardo chamou Lilian para mostrar-lhe
seu caderno. Ao perceber essa situação, Ana disse algo a Eduardo que
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 89
parece ser rev elador a respeito de sua opinião sobre ele: “Nada de cair
com a Lilian na segunda, v ai ficar comigo pra não me dar trabalho.” (RA-
29). Fica ev idente o quanto Ana gostav a de ter Eduardo como aluno, ao
manifestar a intenção de continuar a ser sua professora no próximo ano.
Chamav a a atenção, especialmente, a característica de Eduardo
ressaltada pela professora: ser um aluno que não “dá trabalho”.
“O TRÂNSITO
O TRÂNSITO É O MOVIMENTO
ESTRADAS.
OS SINALEIROS OU SEMÁFO-
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 91
ACIDENTES.”
Figura 6 – Coment ários escrit os pela professora no caderno de Eduardo, sobre seu
desempenho em um dit ado.
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 93
17No caderno de alguns out ros alunos t ambém foram encont rados bilhet es escrit os pelos
pais. No ent ant o, est es se diferenciav am dos encont rados no caderno de Eduardo, por
consist irem basicament e em respost as a algo escrit o, ant eriorment e, pela professora.
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 94
Para que serv e um caderno quando acaba? Esta foi uma das
perguntas mais freqüentemente feita aos alunos ao longo da pesquisa. O
destino dado pelos alunos ao caderno, após o fim de sua utilização, parece
ser bastante rev elador a respeito das funções e significados construídos, ao
longo do uso e preenchimento, em relação a esse material. Eduardo
respondeu a essa pergunta de forma peculiar e rev eladora:
“Converso com Eduardo sobre os nomes dos alunos da sala que ele
escreve na contracapa de seu caderno; ele continua
completando com os nomes que faltam, vai olhando para a sala e
anotando:
P: ‘Pra quê vai servir fazer assim?’
E: ‘Quando... Quando eu tiver... Quando eu sair da escola,
pra eu lembrar deles.’
P: ‘Ah... O que você vai fazer com esse caderno quando
você sair da escola?’
E: ‘Vou guardar ele.’
P: ‘Vai guardar... E como você vai fazer para lembrar dos
seus colegas?’
E: ‘É... Tá escrito aqui, eu lembro o nome deles.’
P: ‘Você vai olhar? (Ele acena afirmativamente com a
cabeça.) Onde você vai guardar?’
E: ‘No meu guarda-roupa. Quando eu sentir saudade... (ele
continua escrevendo o nome de um colega dizendo em voz alta as
letras) Como é o seu nome?’
P: ‘Anabela. (Eduardo escreve meu nome em seu caderno,
também) Quando você sentir saudades de mim você vai olhar aí
também?’
E: ‘Vou... Legal.’ (ele começa a escrever o nome da
professora, vai soletrando em voz alta).
P: ‘E quando você guardar seu caderno lá no guarda-
roupa, você vai olhar ele pra mais alguma coisa, além de você
lembrar dos seus colegas?’
E: ‘Vou... Posso lembrar do que eu escrevi.’
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 95
P: ‘Hum...’
E: ‘Lembrar o que eu aprendi... Aqui tá o nome da minha
namorada, sabe?’ (Eduardo mostra algo que eu já havia visto em
outra ocasião: há o nome de uma menina da sala e uma
declaração de amor)
P: ‘Ah, mas... É aqui da sala?’
E: ‘É.’ (resposta rápida)
P: ‘Tá aí?’
E: ‘Tá ali.’ (Eduardo indica que ela está um pouco atrás de
nós)
P: ‘Ela sabe que é sua namorada? (ele estala a língua em
sinal negativo) Não?’
Eduardo continua escrevendo o nome de alguns colegas,
sempre falando em voz alta os nomes: Jéssica, Angélica...
E: ‘É bem legal lembrar dos amigos, né?’
P: ‘O quê?’
E: ‘É legal lembrar dos amigos.’
P: ‘Eu acho que é bem legal lembrar.’
E: ‘Jéssica...’ (continua escrevendo os nomes dos colegas)”
(RA-27)
18 A imagem da cont racapa do caderno de Eduardo, assim como out ros t rechos que
incluíam nomes de pessoas, foram omit idos para que se preserv asse a ident idade dos
part icipant es da pesquisa.
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 97
preocupação não foi manifestado por nenhum dos outros alunos que
também cederam temporariamente seus cadernos à pesquisadora.
Fisicamente Sev erino rev elav a suas origens nordestinas. Chegou a ser
apelidado por seus colegas de classe de “cabeça amassada” e de
“cabeça de panela”. Não fosse pela pequena estatura, sua aparência
pouco lembraria uma criança de 7 anos. Sua fisionomia rev elav a seriedade,
e sua postura, sobriedade. Raramente conv ersav a com os colegas, ou
env olv ia-se em brincadeiras. Passav a a maior parte do tempo só. Em sala
de aula estav a sempre sentado à sua mesa, tendo à frente os materiais
escolares env olv idos nas tarefas propostas. Raramente adotav a o
procedimento, bastante comum nessa classe, de mostrar à professora o
resultado de cada ativ idade cumprida. No recreio fazia as refeições,
andav a pelo pátio e, muito raramente, brincav a com os colegas. Falav a
pouco, sua v oz era rouca e grav e. Em geral, Sev erino respondia de forma
brev e quando alguém lhe dirigia a palav ra.
Até mesmo quando participav a de brincadeiras nas quais tinha uma
participação bem sucedida, sua seriedade era mantida. Algo bem
exemplificado na cena que apresentamos a seguir, na qual os alunos da
sala de aula foram div ididos em dois times. Um aluno por v ez dev eria quicar
uma bola de basquete por alguns metros. O grupo que terminasse primeiro
19
As informações que se seguem foram obt idas a part ir de: observ ações realizadas em sala
de aula; v isit a realizada à casa de Sev erino; e análise de cadernos do aluno.
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 98
seria o v encedor. Sev erino foi o último do grupo v encedor, sendo, portanto,
responsáv el pela concretização da v itória de sua equipe:
Ainda que nesse primeiro contato com a escola seu sofrimento fosse
ev idente, Sev erino cumpria, e participav a das ativ idades propostas, que
consistiam basicamente em desenhos e jogos.
Depois de alguns dias, os momentos de choro foram ficando mais
raros, a tristeza parecia ter diminuído, mas a sua expressão mantev e-se, até
ao final do ano, bastante séria; em raros momentos de descontração, era
possív el v ê-lo sorrir. O sofrimento, ainda que expresso de formas menos
explícitas, foi algo que marcou o primeiro ano de Sev erino na escola.
Aos poucos, Sev erino deixou de ser o aluno que mais chamav a a
atenção para ser um dos mais discretos da sala.
Seu desempenho acadêmico foi bastante fraco; ao final do ano, foi
classificado pela professora em relação à aquisição de conhecimentos de
leitura e escrita como silábico. Em relação à aquisição de conteúdos de
matemática a situação não foi melhor. No final do ano, Sev erino ainda não
conhecia a representação gráfica dos números de 1 a 10, como pode ser
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 100
não foi buscar o filho à escola, foi necessária a ida da pesquisadora até a
residência do aluno para que o caderno lhe fosse cedido.
Nos cadernos de Sev erino não foi possív el encontrar dias em que as
lições foram feitas de modo completo e correto. Em geral, hav ia
cabeçalho, ou pelo menos uma tentativ a do aluno para copiá-lo da lousa.
Algumas das folhas mimeografadas entregues aos alunos para serem
preenchidas e afixadas nos cadernos também foram coladas ao caderno,
mas nem sempre hav iam sido preenchidas. O dia 26 de junho será utilizado
para exemplificar a forma como as ativ idades elaboradas por Sev erino
costumav am ficar registradas em seu caderno.
Figura 8 – Trabalho realizado no caderno por Sev erino no dia 26 de junho de 2000.
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 103
Após esse conteúdo, dev eria ter sido copiada da lousa a seguinte
ativ idade a ser realizada:
LIGUE:
UM 12
VINTE 40
DOZE 20
QUARENTA 1
Ana chega depois de alguns minutos que estou sentada. M e diz oi,
quando entra na sala, e dá prosseguimento ao seu trabalho.
Pergunta aos alunos se conseguiram ler a frase. Luís diz que leu.
Ana aprox ima-se de mim com um papel na mão e diz: ‘Eu não
esqueci hoje’, e me entrega a prometida mensagem. Leio. A
21 Essa narrat iv a result ou de uma seleção de t rechos do relat o ampliado número 15,
elaborado a part ir de observ ação em sala de aula realizada em 30 de maio de 2000. Desse
relat o foram omit idos alguns t rechos por serem considerados pouco relev ant es para a
apresent ação de Sev erino.
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 107
Ana fala sobre as coisas que os alunos devem trazer para a festa
junina: prendas e alimentos. Cada aluno trará aquilo que puder,e a
cada coisa trazida será atribuída uma pontuação previamente
definida, e que Ana comunicou agora aos alunos. A classe que
obtiver a melhor pontuação terá direito a um passeio grátis.
Parece-me que ainda não está definido para onde será o passeio,
mas quando o prêmio é comunicado diversos alunos dão
sugestões: bosque, zoológico, Parque da M ônica.
Luís pergunta se o passeio vai ser de carro. Ana diz que vai ser de
ônibus.
(...)
Quase todos ajudam Ana a ler, todos olham. Severino não, apaga
de novo algo e continua copiando. Olha de perto, vira o caderno
prá lá e prá cá. Olha para a lousa. Olha para o caderno, apaga.
Pergunto a ele: ‘Posso ver?’ Ele me deix a ver. Pergunto: ‘Por que
você apagou o que tinha feito?’ Severino responde baixinho,quase
sem me olhar, sério: ‘Por que não deu certo.’ Pergunto: ‘Agora deu
certo?’ Faz que sim com a cabeça.
Olha para trás, vê que Toni pinta, e volta para seu caderno. Fica
longo tempo ‘desenhando’ o S, que ao final fica parecendo um Z
invertido, faz o O e o U rápido. Olha para sua própria folhinha.
Severino volta ao caderno que vira pra cá, vira pra lá, copiando.
Renato pinta a folhinha. Horácio também pinta, mas mantém o
caderno aberto. (...)
Renato vai até Ana, que lhe diz que ele é responsável por Severino.
Renato se aprox ima de Severino e pergunta a ele onde está sua
folhinha, passam a procurar a folhinha que havia sumido. Renato se
afasta e Severino continua procurando.
Ana vai ler o tex tinho com os alunos. Começa letra a letra. Severino
encontra sua folhinha. Não acompanha a leitura, continua
copiando.
Horácio escuta.
Tainara traz dois papéis para Ana, que diz para a classe: ‘Acharam
duas lições’.
Ana fala com a classe: ‘Nós vamos colar esta lição no caderno...
Embaix o da data.’
“_HOTROL__________________________________DE 200”
(RA-17)
Ana chegou a afirmar que seria interessante que Sev erino pudesse
fazer nov amente a primeira série, assim ao iniciar o ano “já saberia mexer
no caderno”. (RA-21).
“Severino chora. Eduardo: ‘Tia leva ele para casa dele. Ana
responde: ‘Não, não pode. Ele vai ficar sem estudar?’ Carinhosa,
passa a mão na cabeça de Severino. Ana diz: ‘Ele está chorando
porque não tem amigos ainda na escola.’”
(RA-2)
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 114
“Ana: ‘Eu vou dar um pedacinho de papel crepom e vai fazer uma
bolinha...’
Aluno pergunta: ‘Tia, para que vai servir?’
Ana: ‘A gente vai brincar de bingo agora. Bingo das Letras’...‘Vamo
lá! Tá fazendo a bolinha, Severino?’”
(RA-3)
“No caderno:
HORTOLÂNDIA 15 DE JU
JUNHO DE 200
QUINTA FEIRA
EU SOU UM A PESSGA M UTO
ESPECIAL POIS IGUALAM
NINGUÉM
Ainda que se perceba que nem tudo está copiado
corretamente, há uma sensível melhora. Severino passou a
mudar de linha, quando isto se fazia necessário, conseguindo
concluir a cópia, e ficando liberado para fazer as demais
atividades.”
(RA-17)
22 É import ant e lembrar que a let ra H é muit o familiar para esses alunos, já que o nome da
Sev erino associa o som da letra H, tão presente no dia-a-dia dos alunos de
Hortolândia, com o início da palav ra “galinha”.
Em alguns momentos, as tentativ as de fazer as tarefas diárias eram
interrompidas para fazer desenhos. Para isso, o caderno, a mesa, a régua
ou a borracha serv iam como suporte:
“Pergunto se falta muito para acabar de copiar, ele diz que sim.
P: ‘Será que vai dar para terminar?’
S: ‘Acho que não.’
P: ‘Por quê?’
S: ‘Porque vai bater o sinal.’
Ana pergunta à sala: ‘Posso apagar?’ A classe diz em coro:
‘Não.’ Severino tapa os ouvidos, com força. Pergunto a ele: ‘O
que foi?’ E ele responde: ‘Eles gritam.’”
(RA-19)
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 120
23
Os t ermos cot idianidade e não-cot idianidade são ut ilizados por Heller (2000).
A C RIANÇA E SEU C ADERNO: DUAS H ISTÓRIAS DESSA RELAÇÃO 121
Esse aluno, apesar de pouco ter usufruído os conteúdos prev istos para a
primeira série, foi conduzido à progressão seqüencial do ensino,
defrontando-se com as dificuldades decorrentes disso. Dessa forma, apesar
de manter-se na escola, Sev erino permaneceu em condição progressiv a de
exclusão em relação aos saberes que ali circulav am e eram exigidos.
A forma como esse prenúncio de fracasso escolar começou a tomar
forma pôde ser acompanhada nesta pesquisa. Sev erino recebeu, ao longo
da primeira série, mediações pedagógicas inferiores, em quantidade e
qualidade, às necessidades por ele apresentadas. Algo que tomou maior
dimensão somado às características pessoais do aluno, que era reserv ado e
tímido. Essa conjunção de fatores proporcionou que Sev erino passasse
grande parte do tempo fazendo hipóteses e conjecturando sobre quais
seriam os procedimentos corretos. Não conseguindo compreender a lógica
das ativ idades que lhe eram propostas, ficav a submetido a exigências que
pouco contribuíam para a aprendizagem dos conteúdos prev istos para a
primeira série.
Eduardo e Sev erino mostraram diferentes possibilidades e caminhos
para a utilização dos cadernos. O primeiro mostrou possibilidades de que o
caderno fosse um recurso auxiliar de ensino, que possibilitasse a expressão
indiv idual do aluno, adquirindo significados importantes e positiv os que
compactuassem com a proposta da escola, que é ensinar. Enquanto o
segundo mostrou uma forma alienante, e limitante das possibilidades e das
aprendizagens.
CAPÍTULO 5
7 16
Ut ilizamos o conceit o de discurso compet ente conforme definido por Marilena Chauí em
seu liv ro Cultura e Democracia.
OS C ADERNOS ESCOLARES 125
copiado rev elam-se, nos cadernos, sob a forma de cópias feitas com
correção e perfeição estética.
Em relação ao trabalho docente, também não ficam registrados
aspectos relativ os às media ções, à qualidade da relação professor-aluno,
tampouco ativ idades desenvolv id as sem o uso do caderno como suporte.
É possív el supor que, muitas v ezes, aspectos relativ os aos bastidores
do preenchimento dos cadernos podem ser determinantes para a
interpretação e a utilização das informações contidas nesses materiais
escolares. Tais informações podem confirmar, desmentir ou relativ izar aquilo
que é observ ado nos registros das páginas dos cadernos.
Diante disso, o caderno rev ela-se um instrumento de controle que,
mais do que efetiv amente prestar-se ao conhecimento total das ações e
aprendizagens ocorridas em sala de aula, rev ela-as apenas parcialmente.
Não se pretende, com essas afirmações, desconsiderar a utilidade e
o v alor do caderno enquanto material de avaliação da aprendizagem, de
registro do trabalho pedagógico e fonte de informações para pesquisas.
Ressaltamos que, ev identemente, o caderno contém grande quantidade
de informações, cuja análise e interpretação pode lev ar a importantes
conclusões; porém, chamamos a atenção para relevância de que esses
registros não sejam tomados como produtos que rev elam com exatidão os
processos que lhe deram origem. Considera-se que há, muito além daquilo
que as folhas dos cadernos eternizam, uma complexidade e multiplicidade
de fatores que precisam ser considerados quando se pretende conhecer o
cotidiano escolar.
Os cadernos contêm informações que podem ser capazes de
lev antar questões, tais como: Por que Sev erino copia apenas a data? Ou,
ainda, por que não há nenhuma ativ id ade registrada nos cadernos dos
alunos em determinado dia ? Perguntas como essas, levantadas a partir de
cuidadosa observação dos registros dos cadernos podem conduzir a uma
compreensão mais ampla do contexto escolar. A primeira questão pode
ajudar a compreender que Sev erino criou, ao longo do ano, hipóteses
equiv ocadas a respeito de como deveria proceder; enquanto a segunda
questão possibilita perceber que há dias em que são desenv olv id as
OS C ADERNOS ESCOLARES 127
Identificamos nos cadernos uma série de conteúdos div ersos: exercícios, textos
faz com que não se possa discutir a autoria do caderno como um todo, mas
OS C ADERNOS ESCOLARES 128
implica em que se faça uma reflex ão específica para cada tipo de conteúdo
registrado.
cada vez menos sustentável. Desde há alguns anos, toda uma série
Identificou-se que o uso dos cadernos não é algo intuitiv o, mas que
exige aprendizagens. Para que as crianças utilizem os cadernos, faz-se
necessário o domínio de saberes específicos à utilização desse material, tais
como: seguir a seqüência das folhas e das linhas; ou reproduzir conteúdos
apresentados na lousa. Apesar de muitos serem os aprendizados
necessários para que seja feito o preenchimento dos cadernos, v erificou-se
serem poucas as práticas pedagógicas planejadas para a iniciação dos
alunos nesse conjunto de habilidades. As mediações pedagógicas dão-se,
predominantemente, à medida que os alunos se desv iam do esperado.
C ONSIDERAÇÕES E P ROPOSIÇÕES FINAIS 133
que foi feito. Procedimentos como esse podem proporcionar que o aluno
tome consciência de quais foram as aprendizagens e progressos atingidos,
fav orecendo o processo de ensino-aprendizagem.
ANEXO A
RELAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES EM SALA DE AULA
Data Duração
RA-1 10/02/2000 1h30
RA-2 14/02/2000 1h20
RA-3 15/02/2000 1h35
RA-4 18/02/2000 1h40
RA-5 22/02/2000 1h30
RA-6 29/02/2000 1h30
RA-7 14/03/2000 1h45
RA-8 21/03/2000 1h40
RA-9 28/03/2000 2h20
RA-10 11/04/2000 1h50
RA-11 02/05/2000 2h40
RA-12 09/05/2000 1h50
RA-13 16/05/2000 2h
RA-14 23/05/2000 2h
RA-15 30/05/2000 1h40
RA-16 06/06/2000 1h30
RA-17 20/06/2000 3h
RA-18 03/07/2000 3h
RA-19 10/08/2000 3h
RA-20 04/09/2000 1h10
RA-21 20/09/2000 1h
RA-22 25/09/2000 1h
RA-23 17/10/2000 1h
RA-24 24/10/2000 2h30
RA-25 09/11/2000 1h30
RA-26 14/11/2000 1h
RA-27 29/11/2000 3h
RA-28 06/12/2000 3h
RA-29 13/12/2000 3h30
140
ANEXO B
RELATO AMPLIADO
Segue relato ampliado que inclui observ ação das ativ idades
desenv olv idas em sala de aula, conv ersa com alunos, algumas reflexões
suscitadas pelo conteúdo das observ ações (destacadas em negrito).
Relato Ampliado – n º 15
30/05/00
Ana chega depois de alguns minutos que estou sentada. M e diz oi, quando
entra na sala, e dá prosseguimento ao seu trabalho. Pergunta aos alunos se
conseguiram ler a frase. Luís diz que leu.
Ana aprox ima-se de mim com um papel na mão e diz: ‘Eu não esqueci
hoje’, e me entrega a prometida mensagem. Leio. A mensagem é bastante
carinhosa e fala sobre as pessoas que passam pela vida de outras, comparando-as
a folhas de árvores. Ana escreveu: ‘Obrigada por ser mais uma folha a enriquecer a
minha árvore. 1.956.3498.702 beijos’
Severino apaga novamente, me aprox imo, e verifico que o que resta escrito
no caderno é: M AO 2000. Quando me aprox imo ele fica muito sério enquanto eu
tento uma oportunidade para conversar com ele. Continua virando muito o
caderno. Faz, apaga. Parece um trabalho ex austivo. Lucas copia, levanta-se.
Renato já terminou, seu caderno está embaix o da carteira.
apaga aqui, ora apaga ali, ainda está na primeira linha e não apaga somente
coisas que acabou de fazer, mas também algumas do começo.
Rebeca se aprox ima de Ana para mostrar-lhe o seu caderno, Ana diz: ‘Isso
aqui tá parecendo A em vez de O... Senão fica SAU em vez de SOU.’
Severino tem um lápis em cada mão. Ana vai dizendo quantos pontos vale
cada coisa. Fala das bebidas, pinga para o quentão, vinho para o vinho quente.
Alunos fazem um som e uma cara de repugnância. Ana esclarece que não é para
as crianças, apenas para os adultos beberem ‘só um pouquinho’. Severino continua
copiando sentado, não se manifesta em nenhum momento, ao contrário da
maioria dos alunos que faz comentários, diz o que vai trazer, comenta sobre o
passeio. Ele vira o caderno, parece estar desenhando. Levanta o caderno e
observa mais de perto, apaga uma letra, sopra, termina a palavra HORTOLÂNDIA.
Horácio está com o caderno aberto, mas não copia, presta atenção em
Ana. Ninguém, ex ceto Severino, está copiando.
Luís pergunta se o passeio vai ser de carro. Ana diz que vai ser de ônibus.
143
..............
Ana passa a ler com os alunos a data. Primeiro os alunos vão nomeando as
letras, e depois Ana passa a perguntar como ficam algumas letras juntas: ‘ ‘E o L e o
A? LA. Quando junta o N o que dá?’ Severino continua ainda apagando a primeira
linha. Parece muito ex igente e/ou crítico com seu próprio trabalho.
Quase todos ajudam Ana a ler, todos olham. Severino não, apaga de novo
algo e continua copiando. Olha de perto, vira o caderno prá lá e prá cá. Olha
para a lousa. Olha para o caderno, apaga.
8h30. Severino passa para a próx ima linha e escreve o T. M e aproximo para
ver qual foi o resultado da primeira linha: HOTROLNDIA M AI DE 2000.
Pergunto a ele: Posso ver? Ele me deix a ver. Pergunto: ‘Por que você
apagou o que tinha feito?’ Severino responde baix inho, quase sem me olhar,sério:
‘Por que não deu certo.’ Pergunto: ‘Agora deu certo?’ Faz que sim com a cabeça.
Severino olha para fora. As crianças do pré estão saindo da sala. Sorri (algo
muito raro).
A segunda linha prossegue bem mais rápido o resultado é: TE FEAR. Por quê
será que Severino não apaga tanto, será por que o número de letras a copiar era
menor, será que já estava cansado?
144
Um aluno começa distribuir uma folhinha com um tex to e duas figuras para
pintar.
Olha para trás, vê que Toni pinta, e volta para seu caderno. Fica um tempão
‘desenhando’ o S, que ao final fica parecendo um Z invertido, faz o O e o U rápido.
Olha para sua própria folhinha.
Severino volta ao caderno que vira pra cá, vira pra lá, copiando. Renato
pinta a folhinha. Horácio também pinta, mas mantém o caderno aberto. M e
aprox imo para ver como foi que ele fez a cópia de hoje:
HORTLÂNDA 29 DE M AE
TEDRGAFGQA
EU SOU CAA
Pergunto a ele: ‘Terminou de copiar?’ E ele faz que sim com a cabeça.
Vai mostrar seu desenho, que está pintando, a Ana que elogia: ‘Cada vez
melhor, né?’ Quando ele volta eu pergunto se ele achou que ficou bom. Ele diz que
sim. Aponto para o caderno e pergunto: ‘E esse ficou legal?’ Faz que sim com a
cabeça. Pergunto qual ficou mais legal, e ele aponta o desenho. Renato se
aprox imou de nós mais ou menos a essa altura da conversa. Pergunto qual ele
achou que era o mais difícil. Renato diz que achou mais difícil pintar o desenho.
Quando pergunto a Horácio ele aponta o caderno, a cópia da data e da frase.
Renato diz que para Horácio aquele (do caderno) seria o mais difícil. Pergunto ‘Por
quê?’ E Renato diz algo cujo significado não compreendi muito bem: [‘Por que eu
vi ele corrigindo.’]
até Ana, que lhe diz que ele é responsável por Severino. Renato se aprox ima de
Severino e pergunta a ele onde está sua folhinha, passam a procurar a folhinha que
havia sumido. Renato se afasta e Severino continua procurando.
Ana vai ler o tex tinho com os alunos. Começa letra a letra. Severino
encontra sua folhinha. Não acompanha a leitura, continua copiando.
Horácio escuta.
Renato insiste, alegando: ‘eu copio rápido’ Ana mantém sua decisão.
Pergunto a Renato: ‘Você queria copiar?’ Ele diz: ‘Queria.’ ‘Por quê?’ E ele
diz: ‘Eu gosto de copiar.’ M e intriga saber se para ele era mais interessante o ato de
copiar, ou ter o registro feito por ele no caderno, então pergunto: ‘O que você
gosta mais de copiar ou de ver pronto depois?’ Ele diz: ‘De copiar.’ Um pouco
depois acrescenta: ‘Eu copio rápido.’ E pergunto: ‘E fica bonito?’ Ele fez que sim
com a cabeça, e diz: ‘De letra de mão fica mais bonito.’ (Renato está fazendo letra
de mão). Eu pergunto: ‘E se for a outra letra?’ ‘Também fica.’ Copiar pode ser um
desejo ou algo ex tremamente trabalhoso, penoso. Pergunto ainda: ‘Como fica
mais bonito: se copiar ou colar no caderno?’ Ele responde: ‘Se copiar... Se copiar
aprende mais.’
Ana passa na lousa o tex to, e Luís lê para a classe apontando na lousa.
Tainara traz dois papéis para Ana, que diz para a classe: ‘Acharam duas
lições.’
Ana fala com a classe: ‘Nós vamos colar esta lição no caderno... Embaix o
da data.’
146
Ana fica à frente da sala e diz que quer que os alunos cantem a música
cuja letra acabaram de colar no caderno. Ela canta a primeira vez e os alunos
ouvem. A partir da segunda vez pede que eles a acompanhem. Cantam várias
vezes, Ana reclama da participação dos alunos que considera pequena. Nem
todos cantam, porém isso é razoavelmente compreensível, afinal a letra é
desconhecida, e não é tão curta. Como eles ainda não lêem podem apenas
contar com a memória para acompanhar o canto. Ana lembra que o ritmo da
música é o mesmo de ‘pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu’. Algumas
crianças passam a cantar essa música. Espero que acabem de cantar para me
despedir de Ana e ir embora. Agradeço pela mensagem, e digo que gostei
bastante.
ANEXO C
FRASES DO DIA
16/08/00 “Água mole e pedra dura tanto bate até que fura”
17/08/00 “Quem ama o feio belo lhe parece”
18/08/00 “Quem tudo quer tudo perde”
21/08/00 “Quem vê cara não vê coração”
22/08/00 “De médico, poeta e louco, todo mundo tem um pouco”
23/08/00 “Em terra de cego que tem um olho é rei”
24/08/00 “A cavalo dado não se olha os dentes”
29/08/00 “Quando a esmola é demais o santo desconfia”
31/08/00 “Devagar se vai ao longe”
01/09/00 “Nem só de pão vive o homem”
04/09/00 “Devo prestar mais atenção e conversar menos”
05/09/00 “Faço as minhas lições e só depois converso”
11/09/00 “Faço todas as minhas lições”
12/09/00 “Gosto muito de meus amigos”
13/09/00 “É bom fazer um novo amigo como você”
14/09/00 “Sou muito atencioso e caprichoso com minhas lições”
15/09/00 “Amigos são a verdadeira riqueza do mundo”
19/09/00 “Não tenho preguiça de fazer as minhas lições”
20/09/00 “Não faça aos outros o que você não quer que façam com você”
22/09/00 “Esportes fazem bem á saúde”
25/09/00 “Somos criaturas de Deus”
26/09/00 “Ame a natureza”
29/09/00 “Devemos conviver em paz”
02/10/00 “A vida é uma benção de Deus”
09/10/00 “A amizade é um dom de Deus”
10/10/00 “O seu estrelado me faz apaix onado” (sugestão de um aluno)
16/10/00 “Deus nos ama!”
17/10/00 “Sou feliz e Jesus me ama” (sugestão de um aluno)
18/10/00 “Respeito a professora e meus colegas”
27/10/00: “Somos uma benção de Deus”
30/10/00 “Para que sujar o chão, isto é poluição” (sugestão de um aluno)
06/11/00 “Sou um bom aluno e capricho em minhas lições”
07/11/00 “Não devo mentir”
10/11/00 “Cuido de meus materiais e minhas lições”
16/11/00 “Aprender é muito gostoso”
20/11/00 “Não há de ser forte, há de ser flex ível”
21/11/00 “Abaix o a poluição”
149
REFERÊNCIAS