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ERECHIM
2018
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C.D.U.: 37.011.31
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Catalogação na fonte: bibliotecária Sandra Milbrath CRB 10/1278
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PREFÁCIO
desencontros que permitem pensar como nos diz Saramago de que “a vida é uma
aprendizagem diária.” E é com fundamento na memória do vivido e revivido
diariamente, constantemente com os alunos que o autor apresenta reflexões e
problematizações acerca do SER EDUCADOR, na contemporaneidade. Tornando
a vida mais doce, bela e agradável.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................8
REFERÊNCIAS.....................................................................................................73
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1 INTRODUÇÃO
oprimida para uma consciência crítica. Em vista disso, no ano de 1964, com o
Golpe Militar, Paulo Freire foi destituído de suas funções, ficando preso durante
70 dias, tendo que responder a inquérito policial.
Insistentemente perseguido por diferentes autoridades, sentiu-se
ameaçado, “optando” pelo exílio, inicialmente na Bolívia e posteriormente em
outros países, como por exemplo, no Chile, Estados Unidos, Suíça, Guiné-Bissau,
São Tomé e Príncipe, Austrália. Ficou exilado durante 15 anos. Somente em
1979, ganha seu primeiro passaporte brasileiro de retorno a seu país.
O trabalho de Paulo Freire foi marcado pela incessante busca do diálogo
em sua práxis educacional para e na construção de um ser humano novo, bem
como, de uma sociedade que não o limite, que não lhe subtraia as possibilidades
e que não subestime seu poder de inovar, de recriar a si próprio e os seus
contextos.
Estamos convictos que, na atualidade, há razões pelas quais, pode-se ficar
com Freire ou contra Freire, mas jamais sem Freire. É importante destacar que,
numa sociedade de diferenças e de injustiças, Paulo Freire nunca será
unanimidade, pois seu trabalho está compromissado com as vítimas.
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Conta-se que certo dia um avô, já idoso, foi procurado por seu neto, que
estava com raiva de um amigo que o havia ofendido. E após ouvir atentamente a
explanação rancorosa de seu neto, o sábio velhinho acalmou-o e afetuosamente
prosseguiu dizendo:
- Deixe-me contar-lhe uma história!
Transparecendo um alto grau de introspecção e com voz aveludada, num
tom mais grave, continuou:
- Eu mesmo, algumas vezes, senti muito ódio daqueles que me ofenderam
tanto, sem arrependimento. Todavia, o ódio corrói a nossa intimidade, mas não
fere nosso inimigo...
Fez uma pausa e exclamou:
- É o mesmo que tomar veneno desejando que o inimigo morra!!!
E resoluto confessou:
- Lutei muitas vezes contra esses sentimentos.
O neto atenciosamente ouvia as prudentes considerações de seu avô que
com uma convicção contagiante afirmou:
- É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom. Não
magoa ninguém. Vive em harmonia com todos e não se ofende. Ele só lutará
quando for certo fazer isto e da maneira correta. Mas, o outro lobo, ah!, esse é
cheio de raiva. Mesmo as pequenas coisas desagradáveis o levam facilmente a
um ataque de ira! Ele briga com todos, o tempo todo, sem qualquer motivo. É tão
irracional que nunca consegue mudar coisa alguma!
E com sua voz embargada de emoção concluiu:
- Algumas vezes é difícil de conviver com estes dois lobos dentro de mim,
pois ambos tentam dominar meu Espírito.
Os dois, em silêncio, contemplaram-se reciprocamente. E neste ínterim o
garoto olhou intensamente nos olhos marejados de seu avô e perguntou:
- E qual deles vence, vovô?
O avô esboçou um sorriso e respondeu paulatinamente:
- Aquele que, frequentemente, eu alimento mais.
Existe uma linha muito tênue que separa, no ser humano, seus elementos
antagônicos, paradoxais, como por exemplo: a humanidade da animalidade. Por
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10 EDUCAÇÃO E CONTRADIÇÃO
Família e Escola. Duas instituições sociais que, pela sua função de educar,
marcam a vida dos indivíduos. Sim, quem educa deixa “marcas” no outro! Dito
doutra forma: a educação que vivenciamos nos influencia por toda a vida.
Os estudantes que, na escola, são acompanhados/orientados por seus
pais ou responsáveis revelam melhores resultados quanto ao processo de ensino-
aprendizagem. Esse registro, passível de observação, permite-nos concluir,
assertivamente, que é praticamente impossível a escola educar seus pupilos,
sozinha; de modo que a responsabilidade educacional familiar é única, sem
substituição.
Perguntemo-nos: o que todos ansiamos, desejamos acima de tudo? Na
condição de pais, o que mais queremos, desejamos para nossos filhos(as)? A
resposta óbvia é: a felicidade, isto é, que sejam afortunados, humanos
autenticamente realizados.
A provocação acima encaminha para outra indagação: o que é essencial
para existirmos jubilosamente, para vivermos bem e felizes? É plausível apontar
que o essencial esteja no respeito, na união fraterna, na paz, no trabalho, na
religiosidade, na liberdade, em ter saúde, dinheiro... No entanto, conforme
atestara o filósofo alemão Martin Heidegger (um dos pensadores fundamentais do
século XX), em Ser e Tempo (1927) e reiterado pelo teólogo brasileiro, escritor e
professor universitário, Leonardo Boff (expoente da Teologia da Libertação no
Brasil), na obra Saber Cuidar (2004), a essência da vida humana encontra-se
basicamente no cuidado. O cuidado é o suporte para a saúde, a paz, a liberdade,
o respeito... pois denota responsabilização, preocupação, zelo, envolvimento.
Possivelmente, esteja você se perguntando: mas qual a relação do cuidado
com o tema proposto nesta reflexão? Para responder a essa interpelação basta
compreender que o ato de educar é um ato de cuidado. A ação educativa, em
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16 FORMA[R]ÇÃO X TREINA[R]MENTO
“Ano Novo, Vida Nova!”. Expressão corriqueira que, por se acreditar de sua
obviedade é assumida por muitos com naturalidade, sem a pretensão em
problematizar sua veracidade. Sempre que estamos diante de um novo ano letivo
e, por essa razão, estamos também, diante de novas expectativas, novos
objetivos, novos rumos, novas estratégias. Portanto, período marcado por tensões
diversas, porém, revestidas pela boniteza da esperança.
Reiniciar, palavra que acentua um novo começo. Um momento de pensar e
de prover. É o exercício de planejar, de ousar e de criar. Especificamente, em
relação à educação formal, é no início do ano letivo que a escola renasce com
toda a sua exuberância, repleta de vida, de sonhos, de alegrias.
O reinício letivo é cuidadosamente pensado por diferentes sujeitos
escolares. E não poderia ser de outra forma! “Pensa-se em tudo”, afirmara uma
professora ao ser indagada sobre seu trabalho nesse período. Porém, ao ser
interpelada o que está se pensando em relação ao Ser Professor(a), o silêncio
constrangedor roubou a cena, instalando-se fortuitamente. E nesse momento, o
“tudo” deixou de ser “tudo”...
Ouso, mesmo que brevemente, contribuir, neste início de ano letivo, com
algumas ideias para poder iniciar ou desencadear um possível pensar sobre o ser
professor(a) e/ou suas implicações.
Não importa a função desempenhada na instituição escola, quer seja na
sala de aula, quer seja na coordenação ou direção, o professor(a) tem a
oportunidade de desencadear múltiplas ações na perspectiva de uma sociedade
melhor, mais democrática, humana, sustentável... Para isso, inúmeros são os
desafios, que assumidos com responsabilidade e competência, convertem-se em
possibilidades.
A sociedade contemporânea demanda profissionais que dominem saberes
muito além do saber fazer, comprometidos com a inovação e a criação de novos
conhecimentos, pois o tempo atual é o tempo do conhecimento em evidência.
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Brecht (apud ROSSATO, 2017, p. 01) “[...] aquele que ensina semeia nas almas e
escreve no espírito”. E por semear nas almas e escrever no espírito, o
professor(a), verdadeiramente, é o protagonista de uma vida nova em cada novo
ano letivo, o espetáculo primaveril da “natureza escolar”.
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causa que ele defendeu como reitera, incansavelmente, Moacir Gadotti, um dos
diretores do Instituto Paulo Freire - SP. Necessitamos continuar estudando a sua
obra, não para venerá-lo, nem para ser seguido como um guru, mas para ser lido
como um dos maiores educadores críticos do século XX. Além disso, os escritos
freireanos continuam motivando muitos estudos nos vários campos do saber,
devido aos desdobramentos que potencializam.
A amplitude da obra de Freire, bem como sua contribuição em diferentes
contextos culturais e em diferentes campos do conhecimento tem sido destaque
em inúmeras publicações efetivadas por estudiosos e intérpretes da teoria
freireana. Portanto, urge revisitar o “cidadão do mundo”, pela sua valiosa
contribuição pedagógica, pois o “impacto” de seu trabalho vai além da
alfabetização e da educação de adultos, iluminando a necessidade de
desenvolver uma “pedagogia ética” e “utópica”, na perspectiva da superação de
situações limitadoras.
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mais coisas, sua descrição do mundo também mudava. Até que um dia, um
grande terremoto abalou toda a região onde ele morava e os tijolos foram todos
ao chão. O homem olhou ao redor e viu muita coisa que nunca tinha visto antes:
lagos, animais, pessoas, povoados, plantas, flores, uma infinidade de coisas.
Então, ele exclamou espantado: como o mundo mudou!
Absolutamente, o modelo (paradigma) que utilizamos para olhar o mundo,
faz o mundo que olhamos. Para desencadear processos de transformação, urge
mudar. Modificar o quê? Cambiar a forma de pensar, de ver o mundo. Alterar a
forma de construir estratégias... em suma, mudar a forma.
Atenção: é a forma que condiciona nossas ideias e aprisiona limitadamente
nossas ações. E para compreender por que pensamos do modo como pensamos,
há que se rever crenças que professamos, identificar preconceitos subjacentes às
nossas construções intelectuais, raciocínios e, mais que examinar nossa prática,
reconhecer os princípios balizadores que se constituem em fundamentos para
nosso agir, independente do espaço em que implementarmos iniciativas.
Inquestionavelmente, as teorias, as crenças, os pensamentos movem-nos
e têm o poder fenomenal de definir o que somos.
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ano letivo, para “fazer formação”. Outrossim, para produzir conhecimento e cuidar
da aprendizagem do outro, cabe ao professor, primeiramente, sólida formação e
um fiel compromisso para com a própria aprendizagem. Neste particular, merece
destaque a declaração, disponível na Web, de Michel Montaigne, filósofo francês
do século XVI: “uma cabeça bem-feita vale mais que uma cabeça cheia.” Em
suma, faz-se necessário ser competente. A propósito, competência profissional e
conhecimento estão umbilicalmente ligados.
Gostar daquilo que se faz é uma das premissas para o triunfo profissional,
pois acima de tudo constitui-se num elemento de motivação, independente das
circunstâncias. Paulo Freire registrou em suas obras e testemunhou que a
amorosidade é uma das virtudes que deve pautar a conduta docente. E Mário
Sérgio Cortella (2013, p. 06), por sua vez, no texto Paulo Freire: utopias e
esperanças, afirma, de forma contundente que: “Não basta gostar, tem de gostar
sabendo fazer. Isto é, tem de dar competência à amorosidade.”
A remuneração salarial é tão importante quanto o conhecimento e a
motivação para os que têm o educar como ofício, pois dela depende além, das
condições materiais para viver dignamente, o prestígio profissional. Aliás, a pouca
atratividade da carreira docente pode ser explicada, também, pelos salários pouco
convidativos. E estudos apontam que o desencanto de docentes para com seu
“ganha-pão”, em parte, relaciona-se aos seus honorários.
Concluo, pois, exclamando à moda de Arquimedes, um dos principais
cientistas da Antiguidade Clássica: HEÚREKA!! O texto expõe, objetivamente,
uma possível pauta de reivindicação para profissionais da educação: a
“santíssima” trindade – cabeça, coração e bolso - como condição fundamental
para o êxito no exercício da docência.
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30 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. 11. ed.
Petrópolis: Vozes, 2004.
FREIRE, P. Cartas à Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis. 2. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2003.