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INDISCIPLINA NA ESCOLA E OS
LIMITES DA AÇÃO EDUCATIVA
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Sorocaba/Jaboticabal – 2005
INDISCIPLINA NA ESCOLA E OS
LIMITES DA AÇÃO EDUCATIVA
Agradeço primeiramente a Deus, que deu -me a vida, capacitou-me através de Seu
Espírito Santo, dando-me discernimento e confiança para a realização deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Manoel Evaristo Ferreira, por sua competência, dedicação e
disponibilidade como orientador desta obra.
A todos os que me foram queridos e importantes durante esta jornada.
Dialogar é descobrir. Quanto mais avançarmos
na descoberta dos outros, tanto mais substituiremos as
tensões por laços de paz.
João Paulo II
RESUMO
RESUMO ...................................................................................................................
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................01
CONTEXTO ESCOLAR.....................................................................................................13
3. A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA.............................................................................20
21
porquê?...................................................................26
3.2.1.1. A relação de
poder....................................................................................................29
3.2.1.2. A relação
ideológica.................................................................................................30
histórica.........................................................................................31
espontaneismo................................................................................32
3.2.2.2. Ascensão
social.......................................................................................................33
3.2.2.3. Tipos de
sanções.......................................................................................................33
3.2.2.4. Avental do
professor................................................................................................34
3.2.3.1. Sentimento de
vergonha...........................................................................................34
3.2.4.1. Postura do
professor.................................................................................................35
aluno..........................................................................................36
3.2.5.1. Olhar
psicológico.....................................................................................................36
3.2.5.2. Culto à
criança..........................................................................................................37
“CULPADOS”................................................................................37
3.4. AFINAL, QUAL A DISCIPLINA
DESEJADA?.........................................................41
CONCLUSÃO......................................................................................................................45
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................49
INTRODUÇÃO
instituição escolar a repensar o processo disciplinar, uma vez que esse fenômeno pode
Assim, o tema que se propõe neste trabalho poderá ter sua relevância confirmada
em virtude desta constatação, uma vez que vivencia-se esse problema, cotidianamente
municipais e estaduais. Além disto, pode ser visto que a indisciplina de maneira geral vem
cada dia mais difícil de se executar o trabalho pedagógico. Pode-se afirmar que isto ocorre
não só pela indisciplina dos alunos mas também pela falta de discernimento e
de La Taille: “Porém, parece ser esta a queixa atual, traduzida notadamente pelo
vocábulo ‘limite’: as crianças, hoje, não teriam limites, os pais não os imporiam, a escola
1996: 09)
Segundo Rego (1996), é difícil delimitar exatamente o que seja indisciplina sem
abordar o próprio conceito de disciplina, que por sua vez enquanto criação cultural não é
estático nem universal. Diante dessa realidade, buscar-se-á ressaltar a importância do papel
explicaria pela amplitude do assunto, sendo este um tema transversal àqueles utilizados
como um problema teórico e prático que necessita de ampla abordagem nas mais diferentes
A partir disto, a discussão do problema será dividida em quatro partes na qual será
discutido: o que é (in)disciplina; onde, como e porque esse processo se concretiza; quais
seriam os possíveis culpados dessa situação e qual a disciplina desejada. Para isto propõe-
se que o processo indisciplinar, seja dissecado em partes que poderão levar à compreensão
do todo.
dimensão psicológica da questão da disciplina na escola deve ser analisada sob o prisma da
psicopedagógicas, pois está em jogo o lugar que a escola ocupa hoje na sociedade, o
lugar que a criança e o jovem ocupam, o lugar que a moral ocupa”. (LA TAILLE, 1996:
22)
indisciplina no contexto escolar, podendo definir-se sua linha de ação. Assim, pretende-se
observando que estas podem assumir muitas conotações e que essas podem implicar em
diferentes ações; “constatação do fato: onde, como e por quê?”, cuja intenção será de
embasar a constatação do problema disciplinar, por meio de vários recortes sobre o tema;
elemento do processo educativo frente a questão; “afinal, qual a disciplina que tanto
desejamos?”, em que partindo das reflexões dos tópicos anteriores, poderá ser suscitado
Apesar da sugestão desses tópicos para reflexão, não haverá a pretensão de esgotar
o assunto, nem de propor receitas para resolvê-los, porém pretende-se que a partir dele se
possa não ser esquecido, nem tratado superficialmente e sim juntamente com estas notas
ser aprofundado, visando sempre o desenvolvimento integral do cidadão. Parafraseando La
perplexa diante desse problema, perplexidade esta que ultrapassa os muros escolares,
conflitos, que muitas vezes ultrapassam a linha divisória entre indisciplina e violência
como alerta Aquino (1996): “A linha divisória entre indisciplina e violência pode se
tornar muito tênue, esgarçando os limites da convivência social”, (AQUINO, 1996: 07).
A violência, que entre as crianças está cada vez mais freqüente, ocorrendo das mais
sendo igual e nem ocorrendo na mesma intensidade em todas elas, mas ocorrendo inclusive
maneira como nas séries iniciais o assunto seja tratado , como afirma Vasconcelos (1998):
(...) “Nas séries iniciais o problema parece menor, mas isto pode ser, de fato, só
aparência, pois, por um lado, aí justamente pode estar sendo gestado, só não
tendo se manifestado ainda em função da pouca idade; por outro lado,
paulatinamente, temos ouvido cada vez mais queixas também destes professores.
(VASCONCELOS, 1998: 21).
Porém, seria possível afirmar que nem sempre foi assim. Há algumas décadas atrás,
a escola era vista como oportunizadora do status social, propiciava a detenção do saber, do
poder, despertando assim maior interesse em aprender, por parte do alunos. Nesse tempo, o
críticas a esse sistema foram se intensificando e aos poucos foi surgindo a pedagogia nova,
que dava mais importância ao aprender a aprender do que ao conteúdo, dando lugar a uma
prática que necessitava de material especializado e caro, originando assim uma escola
Sendo deixado de lado o conteúdo, este foi se diluindo, refletindo esse fato
uma vez que a falta da teoria vem dificultar o entendimento, por parte do professor, do
processo indisciplinar. Essa teoria que falta ao professor vem acarretando, a esses
profissionais, um certo embaraço, pois, muitas vezes, por não compreenderem ao certo a
natureza desse problema, consideram-no ora como problema psicológico, ora como
ser o aluno, da escola nova, gerando assim, uma dialética: autoritarismo x espontaneismo,
pois passou de um extremo ao outro, onde tudo, ao aluno, passou a ser permitido.
mudou. De acordo com Passos (1996), as mulheres começaram a trabalhar fora de casa, a
do poder, que usaria a escola como um aparelho ideológico, onde através do mau ensino,
condições de reagir, e assim a escola garantiria o poderio da classe dominante. Como cita
Tiba (1998), “Os grandes responsáveis pela educação dos jovens, a família e a escola,
não estão sabendo cumprir o seu papel. O que se observa hoje é a falência da autoridade
dos pais em casa, do professor em sala de aula, do orientador na escola”. (TIBA, 1998:
11)
todo, entrelaçando a indisciplina gerada no seio familiar, na escola e fora dela, formando-
se assim uma teia de relacionamentos onde torna-se difícil encontrar quem produz o que.
escola e vice-versa, devendo o problema ser estudado na sua totalidade. Conforme Rego
(1996):
(...) “estas posições devem ser revistas, já que as explicações, mitos e crenças
sobre o fenômeno da indisciplina na sala de aula difundidos no meio
educacional (...) se embasam em pressupostos preconceituosos, superados e
equivocados (...) sobre as dimensões biológica e cultural envolvidas na
formação de cada pessoa”. (REGO, 1996: 91)
Diante dessa situação (indisciplina), muitos são “ditos” culpados, responsáveis, ora
caindo a culpa sobre a família e a sociedade, ora sobre a escola, o professor e o aluno. A
escola sentindo-se injustiçada por ter que assumir o papel disciplinar que antes era
delegado à família, exime-se da culpa, acusando a família; esta encontrando-se cada dia
mais insegura, com menos tempo para assumir o seu papel, empurra o problema para a
escola, como pode-se verificar: (...) “os professores dizem que os responsáveis pela
indisciplina em sala de aula são os pais (que não dão limites) que culpam os professores
(que não são competentes) e a escola (que não tem pulso firme), que culpa o sistema (que
sua proliferação, não encontrando adversários a sua altura, tornado-se necessária portanto a
ESCOLAR
“A saída está no coração mesmo da relação professor-aluno, isto é, nos nossos vínculos
Para que se possa atuar frente ao desafio indisciplinar, torna-se essencial realizar
constantemente.
das práticas geradas a partir disto; transformando a ação da escola. Assim, segundo Aquino
Por meio da ação do educador poderá ser possível a intervenção, que caracterizar-
se-á pela interação deste com o universo escolar, ou seja, com os profissionais da
instituição, com os alunos e seus pais, e também com outros profissionais, através de
por essa interação. Pois, segundo Tiba (1998): “Para ser um mestre (...) é preciso: estar
Pode-se afirmar segundo Aquino (1996) que, cabe ao professor a difícil missão de
e no manejo disciplinares, de uma conduta dialógica por parte do educador, pois é ele
o aluno como elemento essencial na construção dos parâmetros relacionais, para o que
Aquino (1996) considera como quesitos básicos: (...) “ o investimento nos vínculos
Deste modo a criação de uma nova ordem pedagógica se faz necessária na medida
em que o educador esteja disposto a discutir a questão disciplinar enquanto desafio, como
sejam os profissionais da instituição escolar, visto que eles são o alicerce da instituição e
aprendizagem.
junto aos alunos e seus pais, visto que eles fazem parte do universo escolar e interagem
Após essas considerações, pode-se afirmar que o pedagogo, num segundo momento
Por meio deste contexto alguns tópicos deverão ser levados em conta em relação ao
vezes contenta-se com um conhecimento superficial das coisas, de senso comum, pouco
aturdidos e perplexos com o fenômeno da indisciplina, tentam buscar, ainda que de modo
freqüentemente vêem a disciplina como um sinal dos tempos moderno”. (REGO, 1996: 88)
Lajonquiére (1996): “Pois bem, se continuamos mais um pouco o diálogo iniciado com
considerados sob uma rubrica ora sob a outra”. (LAJONQUIÈRE, 1996: 26)
não saber sobre o acontecimento – e esse tipo de saber não produz um saber explicativo,
se perceber nesta citação: (...) “cabe afirmar que a recuperação do saber-não-sabido que
necessária para a ação educativa. Será necessário lembrar-se porém, que há muita polêmica
significado desse termo. Essa dificuldade é expressa não somente por sua complexidade
mas também por sua ambigüidade e pela carência de estudos e pesquisas nesse campo.
Pode-se melhor expressar essa dificuldade, nas palavras de Rego (1996): (...) “o próprio
conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme, nem
tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam
ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade” (...). (REGO,
1996: 84).
entanto esgotá-lo.
existência de que, uma poderá significar a ausência da outra: “disciplina: s.f. 1.“Regime de
tema, mas sem dúvida não a encerra, pois o este é delicado, e visto sob o olhar humano,
que vê o problema de acordo com sua construção de mundo, o assunto pode ser
interpretado sob várias formas. Pode-se dizer que devido a construção de mundo que o ser
humano realiza ao longo de sua vida, cada pessoa tem a sua concepção de indisciplina, que
Se faz possível discorrer-se sobre o assunto, sem no entanto ditar uma definição
dicionário, onde diz que esta é um “regime de ordem imposta ou livremente consentida” e
indisciplina é a falta dessas ordens e normas, pode-se concluir que uma pessoa disciplinada
é aquela que segue, observa preceitos ou normas estabelecidas e indisciplinada aquela que
não as segue, não as cumpre. Mas, como pode-se notar nesta citação a definição de
não cumprimento das normas estabelecidas, mas que o indivíduo não as cumpre por
desconhecimento ou por sua revolta contra essas normas, estabelecendo-se , assim, dois
comportamento.
verificarmos a natureza das regras atribuídas, por isso, é necessário muito cuidado ao se
“taxar” alguém de indisciplinado, pois há que se discutir quais são as regras. Teria que se
examinar as razões das normas impostas, dos comportamentos esperados e a idade dos
são aplicadas, pois a interpretação que se faça de indisciplina, poderá levar várias
se verificar em duas visões pedagógicas diferentes (tradicional e liberal), mas que podem
levar ao mesmo resultado: indisciplina. Nessas duas visões, muito difundidas no meio
educacional, a disciplina está associada à tirania, elas diferem pelos métodos aplicados,
mas ambas valem-se da tirania. Uma delas está relacionada à tirania escolar, a escola
submete o aluno e a outra a tirania dos alunos, a escola submete-se a ele, estimulando uma
traduzir essa afirmação na seguinte fala: “A disciplina parece ser vista como obediência
comportamento esperados.” (REGO, 1996: 85) Desta forma as crianças seriam obrigadas a
fazerem o que lhes é imposto como pode-se perceber na idéia: “Geralmente disciplina é
Na segunda associação, tirania dos alunos, vemos uma disciplina manipulada pelos
alunos, onde qualquer tentativa de elaborar normas é vista como autoritarismo. As normas
e regras na escola, nesse pensamento, devem ser abolidas, para não contrariar o aluno. A
indisciplina pode ser até estimulada, uma vez que “ousar” significa desobedecer, esse ato é
tido como iniciativa do aluno; uma espécie de tirania às avessas. Fato comprovado na visão
de Rego (1996):
(...) “qualquer tentativa de elaboração de parâmetros ou definições de diretrizes
é vista como prática autoritária, deformadora ou restritiva, que ameaça o
espírito democrático e cerceia a liberdade e espontaneidade das crianças e
jovens. Sendo assim, apresentar condutas indisciplinares pode ser entendida
como uma virtude, já que pressupõe a coragem de ousar”(...) (REGO, 1996:
86)
nessas duas maneiras de entender indisciplina, que elas encontram-se em pólos opostos e
autoritarismo, mas ambas gerando indisciplina. Esta reflexão poderá levar a concluir que,
denotará um ato indesejável, ela poderá ser bem-vinda, sendo considerada um ato legítimo.
pedagógico, sendo assim indesejável. Porém, quando reflete-se sobre essa indisciplina e
investiga-se suas causas, verifica-se que, ela poderá ser considerada necessária quando esta
for conseqüência da disciplina imposta, quando for gerada por forças antagônicas que
(1996):
(...) “no entanto, o que fica demonstrado é que esta (indisciplina), é uma das
decorrências da disciplinarização: então, as coisas não se passam de fora para
dentro, com um ato de poder reprimindo uma conduta indisciplinada. Pelo
contrário, a indisciplina faz parte da própria estratégia de poder, é gerada pelos
mesmos mecanismos que visam o seu controle.(...) a rede de relações
disciplinares faculta a indisciplina”. (GUIRADO, 1996: 67, 68)
Definir indisciplina, portanto, parece fácil mas não o é, pois é uma ação que
envolve fatores externos ao ato em si, tais como: lugar em que ocorre, como e porque
ocorre.
O problema indisciplinar existe e, atualmente nas salas de aula, bem como em todo
contexto escolar, é um dos temas que mais preocupam os professores, isso é claro, como
mostra Pimenta (1996): “Uma das principais temáticas que preocupam os professores é a
pertinente aos técnicos, pais e até mesmo aos alunos, como pode-se perceber nesta
origem do fato, como, onde e porque ocorrem. Segundo esses autores, a indisciplina
poderá ser indesejável ou desejável, ser considerada necessária ou não, de acordo com a
sua causa.
Deste modo, é possível dizer que a indisciplina não é um fenômeno puramente
não poderia ficar de fora desse problema, afinal (...) “não é possível supor a escola como
as outras instituições), não é lícito supor que o que ocorre em seu interior não tenha
escola, “no corredor, no pátio, nas imediações da escola, nas festas e eventos da escola e
fenômeno que ocorre em escolas públicas e particulares fato comprovado por Aquino: (...)
passando pelo ensino fundamental chegando até o ensino médio, pois segundo
Vasconcelos (1998), “Se há alguns anos o grande problema da disciplina era, por
não mais obedeceriam, respeitariam e assim por diante. Esse fato poderia ser expresso pela
“conversas paralelas; dispersão; professor entra em sala de aula e é como se não tivesse
entrado; dá lição e a maioria não faz” (...) (VASCONCELOS, 1998: 13) Mas, a
professores, sociedade, direção escolar, e muitas vezes, esses atos podem levar à
indisciplina dos alunos, das crianças. Como verifica-se na seguinte citação: “Desse modo,
estourando nas escolas” (...) (TIBA, 1998: 158). A falta de comprometimento dos
envolvidos no processo educacional, muitas vezes pode ser constatada em atitudes simples
A indisciplina mais focalizada pelos adultos pode ser a do aluno, mas com certeza
não é a única. Atos indisciplinares sempre provocam a busca de uma razão para o fato, um
motivo. Torna-se necessário analisar essa questão da indisciplina, levando em conta vários
É possível que todos dentro e fora da escola, contribuam para que a indisciplina
contexto escolar sem no entanto ninguém admitir possuí-las, sendo assim, como solucionar
Cada indivíduo constrói seu conceito de indisciplina de acordo com as relações que
tem com o meio em que vive, portanto o ato indisciplinar será interpretado de acordo com
determinada visão de mundo, onde os atos poderão ser relevados, pois muitas vezes,
escolar, a dos alunos. Desta forma, a indisciplina geralmente é atribuída aos alunos.
A escola encontra-se num contexto sócio-histórico, pode não ser um reflexo
imediato das relações extra-escolares, mas gradualmente as traduz, e por sua vez, gera uma
relação que será incorporada à sociedade como diz Guimarães (1996): (...) “É importante
exclusão” (FOUCAULT, citado por GUIRADO, 1996: 57). Segundo Foucault, citado por
Guirado (1996), (...) “poder é verbo, é ação. É relação de forças” (...). Na visão deste
autor, poder é uma relação de forças, onde os parceiros desse jogo, estão sempre em
De acordo com Guirado (1996) “Isso significa que poder não é uma coisa, um algo
a mais que alguém tem, ou que algum grupo tenha, em detrimento de outro.” (GUIRADO,
1996: 59). Poder-se-ia então afirmar que, o poder disciplinar gera indisciplina para
combater, para jogar com a disciplina. Portanto o ato indisciplinar seria legitimado de
“Uma qualidade das idéias de Foucault é que elas retiram o discurso do eixo
das ‘culpabilizações localizadas’. Nem os professores (braços do poder do
Estado, como querem algumas teorias), nem os alunos (por natureza indolentes
e irresponsáveis, como sugerem outras) são os causadores dos embates do
ensino. A rede de poder é uma estratégia sem sujeito, para esse autor. Isto é, por
efeito dessa rede é que se desenha o perfil da relação. Quando pensamos com
ele, fica difícil caracterizar bandidos e mocinhos, como grupos em ação no
cenário institucional.(FOUCAULT, citado por GUIRADO, 1996:
70,71)
Portanto segundo Foucault citado por Guirado (1996) não existiria um culpado,
pois a indisciplina seria necessária, um ato considerado natural e até essencial na rede de
Pode-se dizer que a indisciplina não seria levada em conta no discurso pedagógico
hegemônico, mas seria facilmente constatada nas conversas dos professores. Estes por não
saberem ao certo qual a causa do problema de aprendizagem, define-o ora como problema
de falta de capacidade psicológica das crianças, ora como problema de indisciplina, ora
psicologização do processo pedagógico - processo este que tenta explicar os atos das
crianças pela psicologia), estariam buscando um saber a posteriori. Assim cada vez mais a
ideal, sem levar em conta a criança real. Nesse enfoque, a criança disciplinada seria aquela
que se encaixar no molde de uma criança ideal e a indisciplinada aquela cuja imagem
Essa psicologização que leva à indisciplina, pois a disciplina nesse caso é ilusória,
seria inserida no contexto escolar pelo discurso pedagógico hegemônico. Portanto, pode-se
concluir que a causa da indisciplina, nesse caso, seria o discurso pedagógico hegemônico,
que a usa para manter a hegemonia. A indisciplina poderá ser considerada necessária, uma
históricas. De acordo com Aquino (1996), a escola do passado em que a disciplina era
uma nova geração se criou, surge um novo aluno, mas a escola ainda funciona para o aluno
submisso e temeroso.
Por outro lado, teorias psicológicas e suas concepções pedagógicas definem como a
obrigatório.
Neste contexto, verifica-se que a escola não teria acompanhado esse processo
histórico, estando despreparada para assumir esse novo aluno, exigindo do aluno novo, o
Estudos mostram que essas são duas práticas escolares muito utilizadas, inclusive
atualmente, no contexto escolar. Sendo que a primeira delas estaria relacionada à “Escola
rigidez das regras, caracterizada pelo autoritarismo e a segunda pela falta de regras,
necessária para a ascensão social, o aluno entendia a escolarização como uma maneira de
“subir na vida”. Conforme Vasconcelos (1998), “Atualmente, com a queda deste mito
(ascensão social), fica muito mais difícil para o professor conseguir um comportamento
Muitos autores têm se dedicado a observar que a escola poderá querer disciplinar
seus alunos, pelo uso de sanções. Dependendo do tipo de sanção que a escola aplicar, ela
poderá estar ajudando a criança a ser autônoma (ser governada por si própria) ou
Por meio da sanção expiatória, por exemplo, procura-se obter a disciplina por
coação, usa-se a punição como ameaça. Neste caso a punição poderá acarretar três tipos de
conseqüências: o cálculo de risco (da próxima vez a criança tentará evitar ser descoberta),
a conformidade cega (não precisa mais tomar decisões, basta obedecer) ou a revolta
Na sanção por reciprocidade, da qual a escola pode vir a fazer uso, o objetivo seria
fazer a criança compreender que cometeu a falta e que o “elo de solidariedade foi
rompido”.
Conforme indica Vasconcelos (1998): “ É muito comum a criança ser punida e não
saber o porquê; o motivo pode estar claro para o adulto, mas se não tiver para a criança,
não haverá efeito educativo” (VASCONCELOS, 1998: 50), ou seja, torna-se necessário
que a criança compreendesse porque está sendo punida, do contrário a sanção, perde sua
finalidade.
escolares, acaba expondo o professor. Torna-se necessário que a escola estabeleça regras
mínimas para proteger a integridade dos funcionários. Pois, “A falta de regras claras por
parte da escola favorece o abuso dos alunos em proveito próprio e acaba expondo
pessoalmente o professor.” (TIBA, 1998: 119). Tiba, sugere que a escola estabeleça regras
comportamental” para o professor, que o protegerá e tornará mais fácil sua convivência
com o aluno.
Segundo Sartre, citado por La Taille, “a vergonha pura não é o sentimento de ser
tal ou tal objeto repreensível, mas, em geral de ser um objeto, de me reconhecer neste ser
decaído, dependente e imóvel que sou para outrem”. (SARTRE, citado por LA TAILLE,
1996: 11).
Desta forma, vergonha no seu sentido puro, seria o sentimento de ser objeto da
percepção de outros. Essa percepção em uma forma mais elaborada, estaria relacionada a
negativos. Assim, cometer um ato indisciplinado poderia ser visto como um algo
Conforme La Taille (1996), a vergonha seria poderia ser encarada sob dois
por um controle interno, já no segundo sua origem estaria na relação do indivíduo com
A indisciplina nesse caso seria produzida pelo aluno que não possui a moralidade
coadjuvantes do processo.
Diversos autores sinalizam que a metodologia adotada pelo professor definiria sua
pedagógico, deveria ser a relação professor-aluno na qual deveria existir o “estar entre”. O
conhecimento deveria “estar entre” o que ensina e o que aprende, é o “entre pedagógico”.
De acordo com Aquino (1996), (...) “não é possível conceber a instituição escola
como algo além ou aquém da relação concreta entre seus protagonistas. Ao contrário a
Deste modo, segundo Aquino (1996), essas relações ora mostram-se divergentes,
ora complementares mas sempre suportadas pela rede de relações entre seus atores
cumprir seu papel educacional, não garantindo a infra-estrutura psicológica para a criança,
“Objetivamente a família não está cumprindo sua tarefa de fazer a iniciação civilizatória:
Deste modo, torna-se prioritário a parceria escola-família, pois como afirma Aquino
(1996):
com isso, a família antes organizada em função dos adultos, passou a ser organizada em
adulto, no qual não mais se acredita. Os pais, teriam deixado de lado o papel de educadores
(...) “Os pais engatinham na frente de seus filhos, brincam de negar as diferenças e de ser
apenas “amigos” de suas progenituras, escondem seus valores por medo de contaminá-
los, aceitam seus desejos por medo de frustrá-los”. (LA TAILLE, 1996: 22).
De acordo com La Taille (1996), por não acreditarem mais em seus próprios
reis absolutos de suas próprias vidas, onde não há espaço para o saber e a disciplina.
Tendo por base essas causas, é possível refletir um pouco mais sobre a indisciplina,
Uma vez apontados os porquês da indisciplina, suas possíveis causas, não se pode
deixar de refletir sobre os supostos culpados, que de certa forma já foram apontados.
sinalização dos culpados para o ato indisciplinar seria de profunda ambigüidade. Como já
específico, a “culpa” estaria na relação natural entre os sujeitos da ação. Sob outros olhares
que admitem culpados, estes poderiam ser: o discurso pedagógico hegemônico, a escola, o
segundo Lajonquière (1996), exerceria seu poder a partir de um discurso hegemônico, onde
todos os personagens envolvidos, nesta sociedade, seriam “usados” por essa classe
dominante. A escola seria usada para perpetuar esse domínio, através de métodos
por seus educadores (pais e professores), seriam as maiores vítimas, e se rebelariam contra
professor mal remunerado, mal formado, perplexo com a situação assumiria várias
sustento dos seus, não assumindo seus filhos com autoridade e não orientando-os para uma
Valeria refletir que nessa história, os personagens ora são vítimas, ora culpados.
Pode-se dizer que, os culpados podem tornar-se vítimas do sistema, ou de si mesmo, por
desinformação e culpados por convicção, pois como aponta Guirado (1996), “Nem os
professores (braços do poder do Estado, como querem algumas teorias), nem os alunos
(por natureza indolentes e irresponsáveis, como sugerem outras) são os causadores dos
embates do ensino. A rede de poder é uma estratégia sem sujeito”. (GUIRADO,1996: 70).
Afinal, quem deveria responder pela indisciplina? Ora vítimas, ora culpados, a
cabia aos pais, hoje estaria sendo dividida com a escola. As crianças estão começando a
freqüentar a escola cada dia mais cedo, como descreve Tiba (1998): “É o reconhecimento
de que as crianças estão indo cada vez mais cedo para a escola e da força que essa
instituição assume na educação das novas gerações.”(TIBA, 1998: 157). Os pais têm cada
“Entretanto, algumas funções adicionais lhe vêm sendo delegadas (à escola) no decorrer
a da família: não estariam capacitados para assumirem essa nova situação e sua formação
profissional também deixaria a desejar. Devido a trama social que envolve escola/família,
Por tudo que foi exposto, pode-se verificar que a instituição escolar (nas pessoas de
quem a compõe) estaria igualmente atônita, sem saber o que fazer, uma escola com
moldes antigos, autoritária, preparada para um tipo de aluno, imaginário, e não real. Quais
significados, então, poderia se subtrair dos fenômenos que rondam esta nova escola,
incluída aí a indisciplina? Nas palavras de Aquino (1996), “Ela poderia estar indicando o
impacto do ingresso de um novo sujeito histórico, com outras demandas e valores, numa
Para essa escola, que já não corresponde aos anseios da sociedade (ascensão social),
com sanções descabidas, que não estabelecem regras comportamentais para transgressões
avental, contribuem para que o corpo docente se organize perante a falta de educação e
disciplina dos alunos.” (TIBA, 1998: 123). Esse avental comportamental, que seriam as
normas escolares, apontaria regras para ajudar na estruturação da escola, e para tal, torna-
O aluno, poderia ser considerado a maior vítima do processo indisciplinar, uma vez
que seus educadores (pais, professores, diretores) não estariam cumprindo seus papéis, e
mesmo assim, estariam sendo considerados os vilões, pois seus atos indisciplinares são
Realmente Tiba (1998) aponta que estariam ocorrendo falhas, tanto na família,
quanto na escola, em relação a educação das crianças, “Os grandes responsáveis pela
educação dos jovens, a família e a escola, não estão sabendo cumprir o seu papel. O que
se observa hoje é a falência da autoridade dos pais em casa, do professor em sala de aula,
Porém, essa situação pode ser apontada como resultante de uma macro estrutura,
onde todas as instituições envolvidas no processo disciplinar, seriam regidas, pelo processo
hegemônico da classe dominante, para disciplinar de acordo com sua vontade. Assim,
temática para que seja possível revertê-la. Como aponta Vasconcelos (1998):
“É preciso termos consciência de que estamos numa grande luta. A luta contra a
brutalização, a alienação, a destruição do homem. Não podemos esquecer isto e
reduzir o problema apenas à relação professor-aluno, aluno-escola. O inimigo é
muito maior do que se imagina num primeiro momento (e não é o aluno).O
trabalho da escola tem uma repercussão muito maior também. Não se trata
simplesmente de transmitir determinados conteúdos acumulados pela
humanidade; trata-se além disso de inserir o sujeito no processo civilizatório,
bem como na sua necessária transformação, tendo em vista o bem comum .
(VASCONCELOS, 1998: 33)
maneira completa, ou seja, analisa o fenômeno e propõe uma teoria para ajudar o professor
a minimizá-lo, pois diz que, “podemos ter páginas e páginas escritas sobre disciplina mas
Verifica-se que muitos sonham com a disciplina, mas será que ela aparece da
constrói sua visão dos fatos de acordo com a interação que tem com o mundo, sendo assim,
a disciplina, tão desejada, poderá assumir várias facetas, ora aparecendo como libertadora,
ora como opressora. Então a disciplina desejada, poderá não ser a mesma para todos, pois
dependendo de quem a deseje, ela poderá tornar-se normas autoritárias ou ordem
consentida livremente.
( PIMENTA, 1998:09).
livremente, poder-se-ia afirmar que ela seria necessária para colocar-se em prática o
trabalho pedagógico como se verifica nesta citação: (...) “a verdade é que há um consenso
sobre o fato de que sem disciplina não se pode fazer nenhum trabalho pedagógico
Sendo a disciplina necessária, resta refletir sobre o que se entende por disciplina,
pois dessa visão vai depender a intervenção pedagógica. A visão de disciplina muitas vezes
pode não ser direcionada para o bem comum, deixando transparecer desejos pessoais,
nos diz Pimenta (1998): “A dificuldade em se lidar com a disciplina na escola deve-se,
(PIMENTA, 1998:9)
envolvidos nesse processo e uma possível saída para a situação, por meio da
tal conscientização ele propõe a dialética, ação-reflexão-ação, e explica: “Temos pois, que
partir da realidade, refletir sobre ela de forma a despertar o desejo, a vontade política, o
compromisso de se construir algo diferente, buscar junto o que seria isto e colocar em
1998: 17)
O medo das “receitas pedagógicas”, pode ser apontado como fator de geração de
falta de compromisso para com os professores. Vasconcelos (1998) não oferece receitas,
realidade.(...) O desafio, pois, é construir uma teoria que efetivamente possa ajudar a
indisciplinar embasado numa teoria que poderá vir ajudá-lo a ter consciência da existência
do problema, em toda sua amplitude, analisando a sua realidade, propondo uma solução
para sua prática, transformando-a e voltando a refletir sobre essa prática, numa linha
dialética. Assim o educador poderá estar ajudando, “A construir uma nova hegemonia, a
hegemonia das classes populares. A realidade está assim mas pode ser mudada; a partir
natureza extremamente ambígua e complexa, que demanda ampla reflexão e ação, como
A disciplina da forma como Vasconcelos (1998) a coloca, aponta para o fato de que
existe grande dificuldade em se encontrar uma única solução para o problema, devido as
próprias diferenças entre os seres humanos. Porém, ousa-se dizer que é esta mesma
antítese que engrandece a criação Divina. Cada ser humano, sendo parte nesse processo,
Do que foi apresentado, pode-se concluir que o educador pode vir a capacitar-se
gerada, existem, com certeza, pensamentos convergentes quanto ao fato de sua existência.
A indisciplina não seria ocorrência escolar apenas, ela viria manifestar-se em toda a
sociedade e não se pode acusar somente esta ou aquela instituição social pelo problema
indisciplinar, pode-se até dizer que elas são cúmplices nesse processo.
A indisciplina é um problema que poderá vir a ser maior ou menor para esta ou para
aquela instituição, mas sem dúvida é um problema que vem aumentando e fazendo, no
assunto, pois o conhecimento superficial do problema indisciplinar poderá gerar uma certa
ambíguo e complexo (que não é estático e nem uniforme) e, por isso, há a necessidade de
se olhar o assunto sob vários pontos de vista, para chegar-se a uma conclusão sempre
partindo da realidade.
sendo, por isso, importante a reflexão de onde, como e porque o fenômeno ocorre.
Por meio deste estudo torna-se possível verificar que a indisciplina não tem um
culpado em potencial, que todos os envolvidos teriam sua cota de responsabilidade e que
escolar. A solução parece clara: partindo-se de nossa realidade, não valendo-se apenas do
comprometida de tudo o que foi exposto, será possível vislumbrar a disciplina desejada,
A construção de um ser que afirme ações éticas e políticas não é simples. Exige um
e meios que apontem para a superação do mesmo, é necessário vislumbrar-se o futuro, mas
que podem sim, agravar mais ainda o problema. Para isso, contudo é necessário que a sala
de aula se firme como espaço público, lugar de produção das realizações coletivas e
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