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Ano: 2022
1
Lucas Schenoveber dos Santos Junior
Linguística aplicada
1ª Edição
2022
Curitiba, PR
Faculdade UNINA
2
Faculdade UNINA
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000
Conselho Editorial
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias /
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno /
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia
Revisão de Conteúdos
Laís Ribeiro Guebur Pimentel
Designer Instrucional
Alexandre Kramer Morgenterm
Revisão Ortográfica
Lucimara Ota Eshima
Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério
Desenvolvimento da Capa
Carolyne Eliz de Lima
FICHA CATALOGRÁFICA
3
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!
4
Sumário
Prefácio ..................................................................................................... 07
Aula 1 – Linguística aplicada: cenário atual ............................................... 08
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 08
1.1 Cenário atual da Linguística Aplicada ........................................... 08
1.2 Transdisciplinaridade, o que é? .................................................... 11
1.3 O papel do professor de língua ..................................................... 13
Conclusão da aula 1 ................................................................................... 15
Aula 2 – Linguística Aplicada: conceitos ..................................................... 15
Apresentação da aula 2 ............................................................................. 15
2.1 Língua e linguagem ...................................................................... 16
2.2 O dialogismo construtivo da linguagem ......................................... 18
2.3 Polifonia ........................................................................................ 21
2.4 Gêneros discursivos ...................................................................... 21
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 23
Aula 3 – Linguística aplicada: língua materna ............................................ 23
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 23
3.1 Por que aprender Língua Materna? ............................................... 24
3.2 O que aprender? ........................................................................... 26
3.3 Linguística Aplicada: (re)construindo sentidos ............................. 28
Conclusão da aula 3 .................................................................................. 29
Aula 4 – Linguística aplicada: língua estrangeira ........................................ 30
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 30
4.1 Língua estrangeira: concepções de ensino da linguística aplicada 31
4.2 Perspectivas atuais da linguística aplicada para o ensino de
língua estrangeira ...................................................................................... 34
Conclusão da aula 4 .................................................................................. 38
Aula 5 – Linguística aplicada: Libras .......................................................... 39
Apresentação da aula 5 ............................................................................. 39
5.1 Libras: breve contextualização histórica ........................................ 40
5.2 Em que consiste o ensino de Libras? ........................................... 43
Conclusão da aula 5 .................................................................................. 48
Aula 6 – Linguística aplicada: alfabetização e letramento .......................... 49
Apresentação da aula 6 ............................................................................. 49
6.1 Alfabetização ................................................................................ 49
5
6.2 Letramento .................................................................................... 51
6.3 Alfabetização e Letramento ........................................................... 54
Conclusão da aula 6 .................................................................................. 56
Aula 7 – Linguística aplicada: análise do discurso e tradução ................... 57
Apresentação da aula 7 ............................................................................. 57
7.1 A linguística aplicada e possíveis conceitos sobre a tradução ...... 57
7.2 Análise do discurso: caminhos possíveis para os estudos da
tradução ..................................................................................................... 61
Conclusão da aula 7 ................................................................................... 65
Aula 8 – Linguística aplicada: conceitos importantes ................................. 66
Apresentação da aula 8 ............................................................................. 66
8.1 Revisando conceitos ..................................................................... 66
8.1.1 Aula 1: cenário atual ................................................................... 66
8.1.2 Aula 2: língua e linguagem ........................................................ 67
8.1.3 Aula 3: língua materna ............................................................... 69
8.1.4 Aula 4: língua estrangeira .......................................................... 70
8.1.5 Aula 5: Libras ............................................................................. 71
8.1.6 Aula 6: alfabetização e letramento .............................................. 72
8.1.7 Aula 7: tradução ......................................................................... 74
Conclusão da aula 8 .................................................................................. 75
Índice Remissivo ........................................................................................ 77
Referências ............................................................................................... 79
6
Prefácio
7
Aula 1 – Linguística aplicada: cenário atual
Apresentação da aula 1
➢ Parágrafo Introdutório
8
Em um primeiro momento, a Linguística Aplicada centrava-se no estudo
da língua, em situações de sala de aula, ou seja, no processo formal de ensino-
aprendizagem de uma língua. Em um segundo momento, ganhou notoriedade
por estudar as questões relativas à formação do sujeito em outras áreas do
conhecimento, tornando-se um estudo interdisciplinar.
Essa área de conhecimento começou a se reinventar a partir de 1990,
período em que a Linguística Aplicada expandiu seus horizontes para além dos
limites da sala de aula e do estudo da língua por meio da compreensão das
especificidades das línguas estrangeiras, para focar seus conhecimentos na
análise de contextos institucionais.
Com a pós-modernidade, a reformulação da Linguística Aplicada
apresentou-se complexa, porque tudo nesse período parecia ser dotado de
maleabilidade e não materialidade, o que influenciou a Linguística Aplicada a
tornar-se uma disciplina presente no campo das convergências e divergências,
entre as outras áreas das ciências humanas.
Portanto, a investigação, da qual a Linguística Aplicada é detentora,
precisa considerar as características do sujeito pós-moderno, que não possui
mais uma identidade acabada e pronta, mas, sim, em constante estado de
construção e reconstrução, a partir das interações com outros sujeitos e
contextos sociais.
9
A transdisciplinaridade pode ser um atributo constitutivo do caráter da
Linguística Aplicada, mas não necessariamente deve fazer parte dela. A
dimensão de uma pesquisa transdisciplinar faz com que os pesquisadores
encontrem um resultado não previsto inicialmente, que acaba por envolver
outras áreas do conhecimento, configurando-se como um projeto da Linguística
Aplicada.
A articulação com os múltiplos domínios de saber contribuiu para o avanço
teórico da Linguística Aplicada, pois além de se fundamentar em conhecimentos
provenientes de outras áreas, também criava seus próprios modelos teóricos.
Essa característica dialógica de pesquisa tem sido objeto de diferentes estudos
que discorrem sobre a natureza da Linguística Aplicada, enquanto disciplina
acadêmica.
Mídias
10
“indisciplinaridade” (MOITA LOPES) e na “desconstrução” (MAKONI;
MEINHORF), “saindo do armário” (NELSON) para um campo de atuação que
não se constitua apenas como “instância mediadora” (RAJAGOPALAN).
A “legitimidade” (SIGNORINI) de uso da língua nos estudos
contemporâneos em Linguística Aplicada aponta para caminhos nos quais os
constructos “ser fluente, correto e colaborativo” (RAMPTON) são insuficientes.
Os linguistas aplicados contemporâneos afirmam ser imprescindível que a
Linguística Aplicada se submeta à “transformação disciplinar”
(KUMARAVADIVELU) e que responda às demandas atuais, passando de
derivante para autônoma, de moderna para pós-moderna e de colonial para pós-
colonial.
Embora a opinião dos linguistas aplicados contemporâneos seja
manifestada por atribuições lexicais que dialogam entre si e que semanticamente
ensejam que a transdisciplinaridade, faz-se presente, nos estudos em
Linguística Aplicada, a afirmação categórica sobre ser a natureza transdisciplinar
um elemento constituinte do caráter da Linguística Aplicada.
Saiba mais
11
ultrapassando o cognitivo e atingindo a interação com a sociedade,
relacionando-se com o meio. Portanto, transdisciplinaridade é o formato que
transcende às disciplinas trabalhando dimensões humanas pouco instigada
pelos modelos atuais, como a intuição, o sentimento e os insights.
12
constantes transformações, devido às inúmeras inovações tecnológicas
advindas da globalização.
Portanto, pode-se afirmar que a Linguística Aplicada ousa ao pensar
diferente da Linguística, ao ir além dos paradigmas já consolidados e
consagrados. Porém, ela não ignora as importantes visões das outras áreas de
conhecimento, ao contrário, ela investiga e contextualiza, criando perspectivas e
encarando os indivíduos que fazem parte de sua pesquisa como seres
heterogêneos e sujeitos que estão inseridos em um contexto sociocultural.
13
fundamentados em um pensamento complexo, que abrange o contexto social,
cultural, histórico, econômico, político, ecológico, espiritual, místico e cósmico.
Portanto, o professor que adota uma abordagem transdisciplinar também
faz uso da Linguística Aplicada.
Saiba mais
14
Conclusão da aula 1
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 2
➢ Parágrafo Introdutório
15
Nessa aula aprenderemos sobre como a linguagem é importante para a
comunicação e como o dialogismo está presente no ensino e na forma de
trabalhar com a polifonia e os gêneros do discurso no ensino da língua.
16
Para Piaget, o papel da linguagem é auxiliar na construção do
conhecimento, porque a raiz do pensamento está na ação e no mecanismo
sensório-motor,
17
movimento dialógico que exija atitudes responsivas do leitor, isto é,
gestos de respostas à teoria em um movimento de aproximação e/ou
distanciamento entre o que apreendemos e o que é apreendido (DI
FANTI, 2003, p. 97)
Mídias
18
ainda não foi dito, discurso, porém, que foi solicitado a surgir e que já
era esperado (BAKHTIN, 1998 [1934-1935], p. 89).
José
Carlos Drummond de Andrade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou.
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
19
Você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?
[...]
Drumundana
Alice Ruiz
e agora, Maria?
o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia
e agora, Maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria
20
2.3 Polifonia
21
comunicação, ou seja, o uso da língua se efetua na forma de enunciados, que
podem ser orais ou escritos.
Mídias
22
Conclusão da aula 2
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 3
Palavra do professor-autor
23
➢ Parágrafo Introdutório
24
nossa volta. Ela também nos permite ter a criatividade, viajar na imaginação e
nos conectar com os outros, fazendo-nos conhecer melhor os novos indivíduos
e nós mesmos.
Como nota-se, a língua é o que permite expressarmo-nos diante do
mundo, logo o sentimento, o pensamento e as opiniões veem a público por meio
do ato de se expressar pela linguagem que, no caso, é feita pela Língua
Portuguesa no Brasil e em outras regiões que possuem essa língua como
materna. Portanto, é necessário conhecer, estudar e aprender como a Língua
Materna funciona, dominá-la, justamente para conseguir expressar de forma
clara a tradução desses pensamentos e opiniões.
Sabe-se que a língua portuguesa é uma língua muito difícil de
compreender todas as regras e questões gramaticais, o que gera muitas dúvidas
quanto ao uso, entretanto, é fundamental, como em nosso caso, por sermos
moradores do Brasil, que aprendamos a dominá-la, utilizando ao menos o básico
da língua portuguesa, diminuindo muitos problemas e inconvenientes. Saber se
comunicar corretamente pode evitar de sermos manipulados, pode nos auxiliar
para entender os contratos que estamos assinando, entender qual a orientação
correta para utilizar um produto etc. Saber e dominar ao menos um pouco o
português inibe grandes equívocos na nossa vida pessoal e profissional.
Falar e escrever errado nos trazem constrangimentos e todos que já
passaram por uma situação em que perceberam um sorrisinho irônico ao se falar
errado em público sabem o quanto essa situação é desconfortável. E o medo
que existe no momento de escrever uma redação, um poema ou qualquer coisa
e apresentar para outras pessoas?
Há uma infinidade de palavras, regras gramaticais e construções que
tornam o idioma complexo em sua essência. Entender por completo o português
ou qualquer outra língua é um desafio que deve ser encarado constantemente,
pois sempre é tempo de se aprimorar.
A língua portuguesa é fundamental para quem mora no Brasil, sendo uma
ferramenta importante de comunicação para todas as pessoas, sejam elas
surdas ou ouvintes. Aprender e conhecer bem a sua língua materna (seja ela o
português ou Libras) é muito importante, porque ao dominá-la o indivíduo passa
a se expressar com facilidade, aprofunda-se no uso de diferentes manifestações
culturais; adquire o gosto pela leitura; compreende os enunciados dos textos em
25
seus diversos tipos e tem a oportunidade de realizar escolhas mais assertivas,
pois o conhecimento transpassado pelo discurso falado e escrito é interminável,
portanto considera-se a mais importante ferramenta de qualquer cidadão.
E ao utilizar a língua materna de forma correta é possível compreender e
ser compreendido; expressar os sentimentos com clareza; compreender e
interpretar documentos; ter acesso à cultura; etc.
O domínio da língua comprova e denota o quanto somos cultos e estamos
atualizados em relação ao que está ocorrendo dentro da sociedade e no mundo.
Quem tem domínio de sua língua materna pode desenvolver ideias com mais
clareza e apresentá-las com objetividade.
26
Muitos pesquisadores do campo da linguística têm defendido o ensino de
língua materna como um espaço de riqueza linguística e de diversidade de
textos, que torne mais rica e significativa a experiência com a linguagem, pois a
Linguística Aplicada tem contribuído para minimizar a lacuna que existe entre a
teoria e a produção efetiva que existe dentro da sala de aulas, uma vez que os
seus trabalhos estão voltados para a aplicação da teoria no processo de ensino-
aprendizagem:
[...] é preciso que o professor fique a atento, pois, não é o seu papel
ensinar o aluno a falar, pelo contrário, isso é algo que a criança aprende
muito antes da idade escolar. Os Parâmetros ressaltam que talvez por
isso, a escola não tenha tomado para si a tarefa de ensinar quaisquer
usos e formas da língua oral. E quando o fez foi de maneira
inadequada: tentou corrigir a fala “errada” dos alunos por não ser
coincidente com a variedade linguística do prestígio social (SANTOS
SOBRINHA; MESQUITA FILHO, 2001).
27
A sala de aula tem que ser um espaço onde o aprendizado seja
prazeroso e faça toda a diferença na vida do educando. Para tanto, é
necessário que o professor esteja constantemente buscando
metodologias para que esse momento de aprendizagem desperte no
aluno o interesse em aprender, sem que o ensino seja cansativo e
desestimulante (SOUSA, 2012).
28
conscientes, resultantes da aplicação de conceitos na resolução de problemas
contextualizados e relevantes.
Saiba mais
O professor precisa compreender que não entra em uma sala de aula para
ensinar apenas a língua portuguesa ou apenas a Libras, afinal, a língua é uma
capacidade inata do indivíduo, ou seja, é geneticamente determinada. Portanto
é interessante repensar no termo “ensinar a língua”, para que o docente
compreenda que seu papel é desenvolver as habilidades que o falante já possui
e domina, desenvolver em seus alunos os conhecimentos em uma variedade
linguística que é considerada de prestígio ou padrão, que seja realmente de uso
consciente e com intencionalidade e que possa utilizar esses elementos e
recursos aprendidos em diversos contextos, adequando a linguagem quando
necessário.
Conclusão da aula 3
Conclui-se que a língua materna é inata aos indivíduos e eles não vão
para a sala de aula aprender a falar uma língua de que já possuem domínio.
Logo, o professor precisa aprender a desenvolver nos estudantes capacidades
de moldar o uso das diversas formas sociais em que a língua se apresenta, além
de desenvolver a habilidade de dominar a norma padrão, que deve ser utilizada
em contextos formais e informais.
29
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 4
➢ Parágrafo Introdutório
30
4.1 Língua estrangeira: concepções de ensino da linguística aplicada
31
1238), ou seja, contrapondo-se aos behavioristas, para os mentalistas, o erro é
necessário e faz parte do processo de aprendizado.
Como indica Lima (1981), há ainda o Método do Exército e o Audiolingual.
O primeiro surgiu em decorrência da Segunda Guerra Mundial e com o propósito
de que os indivíduos aprendessem rapidamente um segundo idioma, o ensino
pautava-se em um conjunto de técnicas e muitas horas de estudos. O segundo,
em virtude do crescimento dos meios de comunicação, propõe ensinar os alunos
a ouvir, falar, ler e escrever, respectivamente nessa ordem. Segundo Spada
(2004), a combinação da concepção da linguística estrutural com a teoria
behaviorista levou ao desenvolvimento do método audiolingual, pois este era
mais um método baseado em hábitos condicionados, ou seja, as respostas
certas eram reforçadas e as erradas rechaçadas.
Devido às falhas desse método, uma vez que o indivíduo era treinado
mecanicamente, “como um papagaio” (CONEJO, 2007, p. 1239), surge a
metodologia Audiovisual, a qual considera a fala em situação de comunicação.
Esse novo aspecto, para o ensino-aprendizagem, abre caminho para uma
metodologia comunicativa dentro do ensino de língua estrangeira.
Em termos mais específicos, o aluno é instigado a descobrir o
funcionamento da língua por intermédio da reflexão e elaboração de hipóteses.
É importante destacar que esse conceito passou a ser desenvolvido a partir das
noções de competência e desempenho postuladas por Chomsky, pois, para ele,
conforme Spada (2004), as crianças têm um mecanismo inato, o “que as torna
capazes de "decifrar o código" da linguagem que elas eventualmente irão
aprender como língua materna, por meio de um processo de formulação de
hipóteses e testes” (SPADA, 2004, p. 2). Com o intermédio de postulados da
Gramática Universal, Chomsky pressupõe que a linguagem humana se baseia
em manifestações de estruturas cognitivas universais, tornando possível a
aprendizagem de sistemas específicos de língua. É nesse sentido que a teoria
chomskyana conseguiu influenciar o ensino de língua estrangeira.
Ainda que alguns estudos questionem as afirmações feitas por Chomsky,
Mitchell e Myles (1998, p. 70) defendem que esse método “tem sido bastante útil
enquanto ferramenta sofisticada para análise linguística, permitindo aos
pesquisadores formularem hipóteses bem definidas que podem ser testadas em
pesquisas empíricas”.
32
Tal como a Monitor Theory, de Krashen (1982), que a partir dos
pressupostos da Gramática Universal postulados por Chomsky, supõe que pelo
fato de haver similaridade de aprendizagem entre a primeira e uma segunda
língua, aprendizes de segunda língua quando expostos a um "input
compreensível", seriam capazes de adquirir sua segunda língua de forma
parecida com que os aprendizes de uma primeira língua aprendem sua língua
materna.
Como afirma Spada (2004), a Monitor Theory disponibilizou um
considerável apoio para o ensino de língua estrangeira e segunda língua,
entretanto, esse modelo também apresentou falhas, dentre as quais, de acordo
com Bezerra (2003, p. 7), “o fato de não considerar o contexto social em que o
processo de aquisição-aprendizagem acontece, nem as influências que poderia
acarretar para isso”.
No começo dos anos setenta, 1970, surge a Teoria da Competência
Comunicativa, proposta pelo sociolinguista Dell Hymes, a qual defende que a
compreensão de uma língua inclui muito mais do que saber regras gramaticais,
posto que também é importante conhecer regras de uso linguístico. Em outros
termos, é necessário que o indivíduo desenvolva certa competência
comunicativa. Segundo Spada (2004), essa concepção de ensino, inspirada
pelas novas teorias de psicologia cognitiva de Piaget e Chomsky, levou a
diversos desenvolvimentos no campo do Communicative Language Teaching,
incluindo a criação de currículos comunicativos, materiais de ensino de línguas
e metodologias.
Essa nova perspectiva de ensino, a partir da década de 1980, passa a
requerer um ensino de línguas que contemple a função social da linguagem. O
ensino passa a ser embasado em uma concepção teórica sociointeracionista, a
qual propõe uma reflexão no ensino de línguas, pois parte da ideia de que o
indivíduo é um ser social e que a sua interação com o ambiente em que vive e
com as relações interpessoais é fundamental para a construção do
conhecimento. Esse embasamento teórico é desenvolvido a partir da perspectiva
histórico-cultural, defendidas pela teoria sociointeracionista de Vygotsky e
Bakhtin, as quais serão evidenciadas a seguir.
33
4.2 Perspectivas atuais da linguística aplicada para o ensino de língua
estrangeira
34
diferentes instituições sociais para a compreensão do funcionamento linguístico.
De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Brasil, 2008),
35
[...] o componente sociocultural e a dimensão enunciativa da língua
costumam ocupar lugares acessórios na maioria das grades
curriculares, e que os enfoques interculturais que contemplam a
diversidade de modo efetivo são muito escassos em programas e
ementas.
36
Um aspecto relevante no ensino é apontado por Spada (2004), que
sinaliza para a importância do professor de língua estrangeira possuir também
uma formação linguística, pois só assim poderá compreender com propriedade
as inadequações cometidas pelos alunos e outras características que envolvem
o ensino-aprendizagem.
37
Como bem observado pela autora, o ensino de língua estrangeira deve
referir-se a questões mais globalizantes e não ser um mero processo de
aprendizado voltado para situações específicas de comunicação. Essa
característica também é enfatizada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. O
documento elucida que ao estudar uma língua estrangeira, o aluno "aprende
mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural, marcado por valores culturais
diferentes e maneiras diversas de organização política e social" (BRASIL, 1998,
p. 19). Comprova-se, portanto, a necessidade de se discorrer acerca da
diversidade cultural, que está presente tanto em língua estrangeira quanto em
língua materna.
Por fim, diante do exposto, podemos afirmar que a Linguística Aplicada
se refere ao uso real da língua, a qual propõe para os docentes e alunos, no
atual momento histórico, novas concepções e novas abordagens de ensino de
língua estrangeira.
Mídias
Conclusão da aula 4
38
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 5
➢ Parágrafo Introdutório
39
esferas sociais, porém esse modelo tornou-se falho, posto que não propiciava a
construção de uma nova linguagem, apenas uma adaptação linguística, no qual
o foco principal era a oralidade.
Eis que surgem novas abordagens pedagógicas voltadas para um ensino
bilíngue. No entanto, como evidenciaremos, o ensino de Libras ainda é
deficiente, no que tange ao acesso, uma vez que mesmo já havendo legislações
pertinentes, essa não é difundida e promovida como deveria, sendo assim,
dificultando o desenvolvimento de uma aplicação sociointeracionista.
40
seja, a fala oral como sinônimo de expressão do pensamento e meio de
participação cultural”.
Mesmo não sendo um método de ensino satisfatório, a Comunicação
Total proporcionou aos surdos, via a Língua de Sinais, certa melhora na
comunicação. O entrave principal ocorria em ambiente escolar, uma vez que
muitos docentes, objetivando desenvolver a língua oral auditiva,
descaracterizavam a Língua de Sinais ao fazerem uma adaptação dessa com a
Língua Portuguesa, ou seja, “os professores utilizavam sinais na estrutura da
Língua Portuguesa, para que as palavras pronunciadas oralmente, de forma
concomitante, fossem compreendidas e o sinal auxiliasse na construção dos
significados” (RODRIGUES-MOURA, 2008, p. 25).
Partindo desse atraso no ensino da Língua de Sinais, surgem, a partir de
1980, novas propostas de ensino que orientam para uma educação bilíngue,
uma vez que o uso da Língua de Sinais configura-se como língua natural,
materna e a língua oficial do país, que também passa, em virtude de aspectos
de aprendizagem, a ser considerada em alguns estudos como sendo língua
estrangeira.
Segundo Carvalho et al. (2013, p. 318),
É importante destacar que foi apenas no final dos anos oitenta (1980) que
houve um movimento de oficialização da Língua Brasileira de Sinais - Libras, o
qual ganhou força e deu início à legalização e regulamentação da Língua de
Sinais a partir dos anos noventa. Segundo a definição de Quadros (2006, p.160),
“a Língua Brasileira de Sinais é uma linguagem espacial articulada através das
mãos, das expressões faciais e do corpo. É uma língua natural usada pela
comunidade surda brasileira”.
Além disso, a Língua Brasileira de Sinais, dentro de um contexto bilíngue,
engloba a compreensão de outros caracteres, tais como históricos, ideológicos
e políticos, bem como interesses individuais e coletivos da sociedade. Ademais,
muitas definições acerca de uma educação bilíngue concentram-se na escola e
41
nas alternativas de ensino, as quais se moldam conforme os contextos, os
objetivos de aprendizagem, as abordagens pedagógicas, os aspectos
linguísticos e as diferentes características dos alunos.
Dessa forma, torna-se complexa a tarefa de identificar apenas uma
definição para bilinguismo, uma vez que há vários modelos e tipos de educação
bilíngue. De acordo com Gesser, Costa e Viviane (2009, p. 47), “pode-se afirmar
que os surdos são indivíduos bi/multilíngues e interculturais, uma vez que eles
estão inseridos em um contexto majoritário ouvinte”.
Dito de outra forma, o sujeito surdo é dotado de uma língua de modalidade
visuoespacial e possui uma cultura própria, por isso a sua alfabetização deve ser
bilíngue. A abordagem bilíngue defende que a educação para surdos aconteça
em duas línguas: L1 – Língua Brasileira de Sinais (Libras) e L2 – Língua
Portuguesa, isto é, a Língua Portuguesa, para os surdos, é ensinada de forma
sistemática na modalidade escrita, desempenhando o papel de segunda língua.
No entanto, como aponta Gesser (2006), o bilinguismo dos surdos pode também
envolver o uso de outras línguas e outras formas comunicativas que não o
português (Gesser, 2006).
Rodrigues-Moura (2008) aponta para a importância do conceito de
bilinguismo para surdos e a necessidade desta abordagem na promoção da
inclusão social e escolar dos alunos portadores dessa diferença. Segundo
Rodrigues-Moura (2008), surdo é uma pessoa:
que se organiza por uma língua visual, que compartilha uma cultura
também visual com os demais surdos. Isso não o afasta do mundo
ouvinte, mas promove sua inclusão como bilíngue e bicultural. Neste
sentido, o surdo é visto em uma perspectiva de diferença e não de
deficiência (RODRIGUES-MOURA, 2008, p. 22).
42
I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos,
surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras
para a língua oral e vice-versa;
II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as
atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas
instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de
forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;
III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino
e nos concursos públicos;
IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim
das instituições de ensino e repartições públicas; e
V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos
administrativos ou policiais. (BRASIL, 2010, p. 2).
Mídias
43
resultado de um processo sociointeracionista, o qual se contrapõe à ideia de que
aprender uma língua consiste em um hábito mecânico de repetição.
Segundo aponta Albres (2012, p. 128), apesar de a gramática continuar
tendo seu papel no ensino de línguas estrangeiras, ela passa a ser vista como
algo subordinado à função comunicativa. Contudo, tal como observa Pereira
(2009), estudos linguísticos apontam que essa perspectiva comunicativa é pouco
recorrente no ensino de Libras, uma vez que os materiais adotados, embora
sinalizem para o contexto de uso da língua ainda focalizam unicamente o ensino
da gramática, deixem de lado as situações reais de comunicação, ou seja,
apesar de o ensino de Libras ter influência da Linguística Aplicada, a partir de
uma abordagem sociocultural, baseada em Vygotsky e Bakhtin, a sua aplicação
continua sendo controversa e mal compreendida.
Para exemplificar melhor isso, quando se busca conteúdo para aprender
Libras como uma segunda língua, língua estrangeira, por exemplo, os materiais
encontrados na Internet geralmente se encontram em blocos de vocabulários
(frutas, cores, materiais escolares, meios de transporte, etc.) e não baseados em
um uso real e significativo de ensino-aprendizagem.
Conforme aponta Albres (2005), é a partir da regulamentação do Decreto
nº 5.626 que há o crescimento de um aumento de cursos de formação de
professores e de material didático nessa área de linguagem. Entretanto, ainda
que o documento considere em seu Art. 2º “pessoa surda aquela que, por ter
perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências
visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira
de Sinais - Libras”, há, por conta de pesquisas linguísticas insuficientes na área
e por se tratar de uma modalidade visuogestual, pouco conhecimento acerca do
um ensino-aprendizagem da língua de sinais.
Como bem destaca Gesser (2010), há poucas investigações acerca de
metodologias para o ensino de Língua de Sinais como L2. William Stokoe, por
volta de 1960, ao pesquisar sobre a Língua de Sinais Americana, fez uma análise
descritiva em nível fonológico e morfológico da Língua de Sinais, que
revolucionou conceitos linguísticos existentes na época. A partir de seus
estudos, a Língua de Sinais passa a ser compreendida como sendo uma língua
de fato. Como apontam Carvalho et al. (2013), no Brasil, no campo da linguística
aplicada, há também poucas investigações que tratam acerca do ensino-
44
aprendizagem de Libras, porque grande parte dos estudos sobre ensino de
segunda língua ou de língua estrangeira remete ao ensino do inglês. Com
relação ao ensino de Libras, alguns pesquisadores destacam o livro Libras em
Contexto: Curso Básico, de autoria de Tania Felipe (1993). A obra elucida
algumas orientações metodológicas tanto para alunos quanto docentes, dentre
elas,
45
Dessa forma, referente ao ensino de Libras, o mesmo também segue as
concepções de aprendizagem postuladas pela Linguística Aplicada. Contudo,
por se tratar de uma modalidade de ensino visuogestual, o professor precisa
estar atento à aplicabilidade de seus métodos pedagógicos, ou seja, no ensino
de Libras, o aluno deve ser levado a desenvolver habilidades durante o processo
de aprendizagem, tais como a sinalização e a compreensão visual.
Quanto às habilidades de escrita e leitura, na Língua de Sinais, da mesma
forma que ocorre com a assimilação de outras línguas, além do conhecimento
lexical, o aluno precisa também entender as outras partes de funcionamento da
língua para poder incorporar as palavras em seus discursos, ou seja, além da
estrutura sintática, é necessário compreender a semântica (significados) e a
pragmática (contexto) que rege o sistema linguístico. Dessa forma, a Língua de
Sinais servirá como base para a aquisição de uma segunda língua,
especialmente na modalidade escrita.
Portanto, conforme concluem Quadros e Karnopp (2004, 36-37), “as
investigações mostram que as línguas de sinais, sob o ponto de vista linguístico,
são completas, complexas e possuem uma abstrata estruturação em todos os
níveis de análise”, isso decorre do fato de a Língua de Sinais ser autônoma e
apresentar o mesmo estatuto linguístico identificado nas línguas faladas. Como
defendem Quadros, Pizzio e Rezende (2009, p. 13), “a língua de sinais não é
inferior a nenhuma outra língua, mas, sim, tão linguisticamente reconhecida
quanto qualquer outra língua”.
Seguindo as ideias de Brown (1994), Gesser (2010), ao tratar sobre
metodologias de ensino de Libras, destaca que em qualquer língua a
compreensão pode ser desempenhada pelo aluno a partir de seis formas
distintas:
46
ser variadas, e compõem comandos simples como apague o quadro,
busca por clarificação como que sinal é este?, e perguntas pessoais
como em o que você fez no final de semana?
4. Seletiva – seria aqueles momentos de compreensão onde o aluno
foca em detalhes, ou busca por informações especificas para resolver
uma questão. Este tipo difere da compreensão intensiva, pois o aluno
será exposto a discursos relativamente longos, como por exemplo,
estórias, reportagens, piadas, diálogos.
5. Extensiva – envolve mais atenção do aluno na compreensão visual
para reter mais informações e mais detalhes possíveis do que está
sendo sinalizado.
6. Interativa – este tipo supõe a integração dos quatro tipos de
compreensão (visual) listados até aqui, e é seguindo de momentos de
expressividade (sinalização). (BROWN, 1994, 242-244 apud GESSER,
2010, p. 67).
47
linguagem, isto é, do ensino de Libras, privilegiando ambientes em que ocorram
trocas dialógicas que favoreçam o sociointeracionismo.
E pelo fato de as Línguas de Sinais serem produtivas de significação, assim
como qualquer outra língua, é extremamente necessário que o seu ensino,
articulado com concepções da Linguística Aplicada, passe também a ser
teorizado a partir de perspectivas da cultura surda e dos contextos que a
envolvem, isto é, seja bilíngue de fato.
Importante
Para saber mais sobre a Língua de Sinais, bem como sobre algumas
concepções fundamentais acerca de como o indivíduo processa essa linguagem,
leia o texto Língua Brasileira de Sinais I (2009), elaborado por Ronice Muller de
Quadros, Aline Lemos Pizzio e Patrícia Luiza Ferreira Rezende. Disponível em:
<http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/linguaB
rasileiraDeSinaisI/assets/459/Texto_base.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2022.
Conclusão da aula 5
Atividade de Aprendizagem
48
estratégias são possíveis tendo em vista o contexto atual em que vivemos e
os recursos digitais que possuímos nesse momento.
Apresentação da aula 6
➢ Parágrafo Introdutório
6.1 Alfabetização
49
grafia (riscos e traços), ou seja, a alfabetização é o processo de aprendizagem
do código escrito. E o professor precisa compreender como o estudante constrói
o conhecimento desse sistema de representação complexo e abstrato.
Fala-se em processo de aprendizagem por necessitar de um professor ou
outra pessoa para fazer a mediação dos conhecimentos. E quando se fala em
código escrito, referimo-nos à codificação e decodificação, ou seja, ler o que está
escrito e escrever o que se quer falar.
Apesar de a aprendizagem da leitura e da escrita ocorrerem
simultaneamente, aprende-se primeiramente a ler, pois tudo já está pronto para
que a leitura seja praticada, uma vez que as palavras já estão dispostas de forma
correta, os espaços em branco na folha já estão sinalizados e a pontuação da
língua já está certa, basta apenas transformar essas letras em fonemas.
Já, em relação à escrita, a complexidade é maior, visto que há uma folha
em branco em que é necessário completá-la com fonemas que devem ser
transformados em letras, respeitando os espaços em branco entre as palavras,
a concordância da língua e as regras ortográficas.
Para possuir essa compreensão, o educador necessita conhecer os
fundamentos psicológicos, fonológicos (que é ouvir o som da palavra e
representar esses sons por meio dos grafemas) e linguísticos, sociolinguísticos
(porque falamos de jeitos diferentes, utilizando-se de diversos dialetos) que
envolvem o processo de alfabetização.
O termo “alfabetização” conceitua o que se faz ao ensinar às pessoas a
língua escrita, ou seja, define como um processo de aprendizagem em que se
desenvolve a habilidade de ler e escrever, de forma adequada e a utilizar essa
habilidade como um código de comunicação com o seu meio.
Os educadores visam à alfabetização como o desenvolvimento de
atividades que envolvem o aprendizado do alfabeto e dos números, o
refinamento da coordenação motora e a formação de palavras, sílabas e
pequenas frases. A alfabetização é um instrumento de cultura que desenvolve a
capacidade de socialização do indivíduo, porque possibilita novas trocas
simbólicas com a sociedade, o acesso a bens culturais e outras facilidades das
instituições sociais.
A alfabetização pode ser considerada como a aprendizagem de como
utilizar os elementos de uma nova tecnologia que envolve aprender a utilizar o
50
lápis, para não colocar muita pressão em cima da folha, evitando rasgá-la,
compreender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita
etc. Logo, o professor, presente nessa etapa do processo de aprendizagem
inicial da língua escrita, deve dominar essas técnicas, compreender as
necessidades individuais de seus estudantes e guiá-los nesse caminho de
aprendizagem a ser percorrido.
Portanto, o processo de alfabetização se dá ao aprender quais são as
relações que há entre a língua falada e escrita, aprender a ler e escrever as
palavras, ler e escrever sentenças e ler e escrever um texto, seguindo uma
metodologia e fundamentos linguísticos, fonológicos e cognitivos diferentes
daqueles voltados para o desenvolvimento de estratégias de leitura e escrita, o
gosto pela leitura e a compreensão dos gêneros que circulam na sociedade.
Entretanto, não basta saber aprender a codificar e decodificar os signos
para dominar a língua escrita, pois ela serve para que as pessoas possam
interagir, fazer um registro da memória e para funções sociais. Essa
aprendizagem da função social da escrita é conhecida como letramento.
Importante
6.2 Letramento
51
Para melhor ilustrar essa explicação, acompanhe o poema de Magda Soares,
uma referência no assunto.
O que é letramento?
Letramento é diversão.
é leitura à luz de vela
ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente,
o tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.
É um Atlas do mundo,
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
52
e orientações em bula de remédios,
para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo,
um mapa do coração do homem,
um mapa de quem você é,
e de tudo que você pode ser.
53
escrita. Portanto, o letramento preocupa-se em fazer com que o aluno se
alfabetize utilizando-se desse conhecimento prévio e do que ele já conhece, mas
não compreende (ainda).
É importante que o professor tenha consciência de que deve trabalhar
com algumas atividades voltadas para o código escrito e outras voltadas para as
práticas sociais de leitura e de escrita. Em relação à alfabetização, é possível
realizar atividades que usem alfabeto móvel, estimulem a reflexão com base no
uso das rimas para desenvolver a consciência fonológica, atividades de junção
de letras e sílabas, entre outras.
Para se trabalhar o letramento é possível utilizar a visitação à biblioteca
da escola, local onde os alunos poderão ter contato com diversos materiais
escritos e poderão emprestá-los com o intuito de praticar a leitura. A partir dessa
prática, os educandos compreenderão a função social da biblioteca e estarão
sendo inseridos dentro dessa prática social.
A escrita de bilhetes, convites e listas de compras do supermercado são
exemplos de gêneros discursivos que podem ser trabalhados com os alunos no
processo de alfabetização, pois além de compreender a função social da escrita
desse gênero na esfera social, o professor poderá trabalhar questões do
aprendizado do código escrito, de forma a unir o letramento e a alfabetização.
Importante
54
de 1980 que se dá, simultaneamente, a invenção do letramento no
Brasil, do illettrisme, na França, da literacia, em Portugal, para nomear
fenômenos distintos daquele denominado alfabetização,
alphabétisation (SOARES, 2003).
55
forma contextualizada, inserindo o aluno em um ambiente do qual ele já possui
um conhecimento prévio e partindo desse ponto para efetivar o processo de
alfabetização por meio do letramento.
Portanto, o educador precisa compreender e dominar as especificidades
dos dois processos para exercer o seu papel por meio das interlocuções, que
seria o de leitor de textos mais longos que interessem aos alunos, visto que eles
ainda não dominam o código escrito, assim como o de utilizar o quadro ou outros
materiais para escrever o que os alunos querem expressar e, por meio dessas
atividades, aprimorar o processo de alfabetização.
Logo, para conciliar a alfabetização e o letramento em sala de aula, o
professor precisa compreender o contexto social e cultural em que seus alunos
estão inseridos, mas lembrando que como educador, ele não pode limitar-se
somente ao contexto social e cultural de seus alunos, mas, sim, abrir novos
caminhos que possibilitem o conhecimento de novas realidades sociais Pensar
em linguística aplicada nada mais é que pensar também nas questões de
letramento e alfabetização, pois a língua perpassa por elas.
Conclusão da aula 6
Atividade de Aprendizagem
56
Aula 7 – Linguística aplicada: análise do discurso e tradução
Apresentação da aula 7
➢ Parágrafo Introdutório
57
Em outras palavras, enquanto sujeitos de linguagem, buscamos via uma
construção discursiva e de forma negociada a compreensão de determinada
língua. Este processo, sem dúvida, vai além de mera decodificação linguística e
de transferência de textos de uma língua para outra. Nas palavras de Umberto
Eco (2007, p. 190),
uma tradução não diz respeito apenas a uma passagem entre duas
línguas, mas entre duas culturas, ou duas enciclopédias. Um tradutor
não deve levar em conta somente as regras estritamente linguísticas,
mas também os elementos culturais, no sentido mais amplo do termo.
58
Segundo MITTMANN (2003), o sujeito que traduz é apenas quem
transfere os sentidos do texto e, nesse caso, está fadado à invisibilidade, uma
vez que deve ser fiel ao autor do texto e ao leitor da tradução. Dessa forma, os
preceitos de tal perspectiva tradicionalista negam todo o processo gerador da
Tradução e, consequentemente, negam a própria presença do tradutor no
processo e no texto (MITTMANN, 2003).
Contrapondo-se a Perspectiva Tradicional, a Perspectiva Pós-Moderna ou
Contestadora da Tradução desmitifica a concepção de original, pois concebe o
processo tradutório como sendo uma criação de significados que
obrigatoriamente vincula-se à história e às circunstâncias do contexto dessa
produção. Nesta concepção, a Tradução deixa de ser vista apenas como um
mecanismo de transposição de significado de uma língua para outra, torna-se
um processo de construção e relações de sentido.
Dessa forma, a Tradução, além de ser vista como atividade interpretativa,
refere-se também, conforme Derrida (2002), a fatores histórico-sociais, culturais
e ideológicos em que os significados são produzidos por um sujeito-tradutor, que
se situa no entre-lugar e entre-línguas, dentro de contextos específicos de
produção.
Todavia, ainda que exista uma dicotomia ao se tratar a Tradução do ponto
de vista Tradicional ou Pós-moderno, há também de se considerar a existência
bem-vinda de uma pluralidade de conceitos, a partir de bases teóricas e
abordagens linguísticas. Para Zavaglia (2002, p. 85):
59
o processo tradutório, tais como Zavaglia (2002), que afirma haver em ambos os
domínios um entrecruzamento acerca da relação entre a atividade de linguagem
e as línguas: “enquanto a linguística tenta observá-la, a tradução a coloca em
prática, pois é nessa relação fugaz, dinâmica e plástica que se dá, também de
forma viva e plural, a tradução” (ZAVAGLIA, 2002, p. 88).
Em outros termos, a Linguística Aplicada procura entender a partir do
aspecto enunciativo a associação existente entre a atividade de linguagem e as
línguas, a Tradução também pode ser incluída nesse processo, posto que é
considerada uma “prática criativa” dessa relação.
Nesse sentido, a relação entre a Linguística Aplicada e a Tradução são,
antes de tudo complementares, uma vez que ambas convergem para o uso real
da linguagem. Além do mais, a Tradução depende de um sujeito-tradutor, o qual
também, em sua tarefa de transpor uma linguagem para outra língua, faz uso de
um processo interacionista, uma vez que está imerso em outro contexto
sociocultural e histórico.
De acordo com Irandé Antunes (2007, p. 151), “a construção de sentido
de um texto, a expressão de suas intenções só é possíveis porque mobilizamos,
entre outras, as possibilidades que o léxico e a gramática da língua nos
oferecem”. No caso do processo tradutológico, há ainda outro aspecto
fundamental: a interpretação, a qual, dentro dos conceitos da Tradução, segundo
Roman Jakobson (1995, p. 64-65), pode ser concebida de três formas: a
tradução intralingual ou reformulação, que se refere à interpretação dos signos
verbais por meio de outros signos da mesma língua; tradução interlingual ou
tradução propriamente dita, que diz respeito à interpretação dos signos verbais
por meio de alguma outra língua e a tradução intersemiótica, que consiste na
interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais.
Conforme expõe Oustinoff (2011), o campo da intersemiótica é um dos
mais criticados, pois defende a ideia de transposição “nas quais a parte de
‘imitação’ é tão grande que não se pode mais falar facilmente de tradução no
sentido em que geralmente se entende este termo”. Em outros termos, a
tradução intersemiótica reconhece a especificidade das várias linguagens
existentes, tais como pintura, música, cinema etc. As próprias palavras escritas
são consideradas como significantes visuais, que podem ser traduzidas na fala
por significantes auditivos, gestos ou significantes táteis. Essa atividade de
60
tradução é tão natural e espontânea que passa infelizmente a ser ignorada no
cotidiano.
E o que existe de comum entre os três tipos de tradução propostos por
Jakobson (1995) é o fato de que para serem compreendidos pelo leitor, além de
possuírem uma mensagem original, é necessário que ocorram mediante critérios
de equivalência. Ainda que os leitores da língua-alvo tenham a liberdade para
interpretar, cabe ao tradutor a escolha de como o texto-fonte será traduzido.
Oustinoff (2011), em seu livro Tradução: História, Teorias e Métodos,
discorre sobre três etapas da interpretação: rejeição do termo a termo; restituição
do sentido; e a forma que a restituição deve tomar, ou seja, deve-se recorrer a
um processo de desverbalização, livrando-se dos significantes, a fim de se
trabalhar com os sentidos para que seja possível proceder à interpretação.
Nesse sentido, a tradução torna-se uma operação cognitiva, aspecto que
corrobora com a tradução intralingual de Jakobson, pois “é preciso ter toda
experiência na prática de sua própria língua”.
Considerando que a Tradução envolve um conjunto de valores, teorias,
discursos e referências enunciativas, importa agora considerarmos os principais
aspectos apontados pela Análise do Discurso à arte de traduzir.
Saiba mais
Tudo pode ser compreendido ou, mais precisamente traduzido por algo
mediante outra coisa que possa representá-la; assim como o grão de
pólen é, para o óvulo que penetra, a planta da que vem, porque
transmite suas características. Mais ou menos no mesmo sentido,
embora não com o mesmo grau, tudo é um meio entre algo e algo
(PIERCE, WRITINGS, 1982, p. 333).
61
Quando se trata de traduzir, ainda hoje nos deparamos com discussões
acerca de qual seria a melhor forma: a tradução livre ou a literal? De qualquer
forma, a Tradução vai além dessa inquietação, porque “antes de se transformar
em assunto para tradutores e intérpretes, ela constitui, em seu próprio princípio,
uma operação fundamental da linguagem” (OUSTINOFF, 2011, p. 7).
As teorias acerca da Tradução partem de uma definição a priori como
“processo de comunicação interlinguístico”, providos de especialistas que não
são tradutores, além do mais, fundam-se na ideia de que se pode construir uma
“teoria global e única do traduzir”, negligenciando a heterogeneidade do espaço
da Tradução (BERMAN, 2009, p. 344).
Como pudemos observar nas discussões das aulas anteriores, a língua
não é um mero instrumento de comunicação, posto que ela propicia trocas
culturais e mobiliza a interação sócio-histórica entre os indivíduos. Nesse
sentido, a noção de linguagem passa obrigatoriamente a auxiliar na constituição
do significado. De forma simplificada, a língua é um modo de produção social,
em que há várias manifestações de ordem cultural, histórica, política etc. Mas é
também um lugar de conflito ideológico e, dessa forma, a Análise do Discurso
estuda as condições de sua produção. Dentro dessas concepções, também se
insere a Tradução, uma vez que ela também é, de acordo com Mittmann (2003),
um processo de transformação, de construção social, cultural e ideológica, um
texto novo, apesar de vinculado a um texto de partida.
Berman (2009, p. 341) afirma que desde os tempos mais remotos “a
atividade tradutória é acompanhada de um discurso-sobre-a-tradução”. Aqui
entende-se que o Discurso pode ser compreendido como efeito de sentidos que
se dá em uma relação entre sujeitos, os quais não os controlam totalmente,
porque, na condição de sujeitos de linguagem, estão submetidos a
determinações sócio-históricas e ideológicas (MITTMANN, 2003). Assim, o
discurso deve ser compreendido como unidade significativa da linguagem em
uso e, de acordo com a Análise do Discurso, a língua torna-se o lugar de
produção desses processos discursivos, isto é, ela é quem possibilita o discurso.
Ademais, a concretude do discurso é, ao mesmo tempo, histórica e linguística.
62
A História – isto é, o fator ideológico – não é algo que está lá fora, em
segundo plano, exercendo determinação sobre o discurso, mas é
constitutiva do discurso e intervém na sua textualidade. As
sistematicidades linguísticas são a base material sobre a qual se
produz o discurso. O discurso é o lugar onde se dá a relação entre a
língua e a história. O objeto teórico da Análise do Discurso é o discurso,
o lugar por onde o analista de discurso chega até ele é através do texto.
O texto é a unidade de análise que permite ter acesso ao discurso, ou
seja, o analista percorre o texto para compreender o funcionamento do
discurso (MITTMANN, 2003, p. 45).
63
eventualmente reger essa atividade. A experiência realizada na
tradução tem uma tripla dimensão. Em primeiro lugar, o tradutor
experiencia a diferença e o parentesco das línguas, em um nível que
ultrapassa aquilo que a linguística ou a filologia podem empiricamente
constatar nesse sentido, porque esse parentesco e essa diferença
manifestam-se no próprio ato de traduzir. Em segundo lugar, ele
experiencia a traduzibilidade e a intraduzibilidade das obras. Em
terceiro lugar, ele experiencia a própria tradução, estando marcada por
duas possibilidades antagônicas: ser restituição do sentido ou
reinscrição da letra (BERMAN, 2009, 347-348).
64
se a tradução intralingual, ou seja, ao traduzir é preciso prestar atenção ao jogo
dos significantes e concentrar-se na língua em ato e não na entidade abstrata.
Diante do exposto, a Tradução deve ser concebida como um processo
fundamental da linguagem, bem como da diversidade, portanto é fundamental
conhecermos as teorias, as novas abordagens (lembrando que elas podem
mesclar-se) e escolher, considerando o contexto e a situação, aquela que melhor
se adequa a determinado trabalho de tradução, pois como afirma Derrida (2002),
uma das funções da tradução é assegurar a sobrevivência de um texto. Ademais,
embasados nos três tipos de tradução propostos por Jakobson (intralingual,
interlingual e intersemiótico) e pelas abordagens sugeridas por Berman (2009),
devemos considerar que há uma variedade de possibilidades de se traduzir.
Conclusão da aula 7
Atividade de Aprendizagem
65
Aula 8 – Linguística aplicada: conceitos importantes
Apresentação da aula 8
66
Além da Linguística Aplicada ter um caráter interdisciplinar, atualmente, a
transdisciplinaridade também delimita sua área de atuação, posto que ela se
refere à convivência de saberes e à construção de conhecimentos
fundamentados nos contextos reais de uso da linguagem, tais como: social,
cultural, histórico, econômico, político, entre outros.
Sendo assim, a Linguística Aplicada, visando ao avanço do conhecimento
teórico, deve nortear o ensino da língua materna e da língua estrangeira, uma
vez que ao falarmos sobre o ensino de línguas somos obrigados a refletir sobre
o que é linguagem, língua e a sua relação na constituição do sujeito. Para tal, é
fundamental considerarmos que o indivíduo é social e interativo e que a
linguagem é um reflexo das relações sociais.
Ao discutirmos sobre os rumos da Linguística Aplicada, somos,
inevitavelmente, levados a refletir sobre o papel do professor para que haja, de
fato, um ensino transdisciplinar, ou seja, o professor deve adotar um método de
ensino que tenha embasamento em alguma teoria linguística. Ademais, é
importante haver uma relação entre a sua prática de ensino e uma metodologia
de ensino que possua uma explicação científica para que, dessa forma, a sua
prática proporcione uma transformação social, além da simples aplicação de
uma teoria linguística que possua regras e metodologias conservadoras.
Respaldado pelos preceitos da Linguística Aplicada, o professor deve
auxiliar no desenvolvimento de novos rumos para a prática de ensino da língua
materna e estrangeira.
67
Piaget, o papel da linguagem é auxiliar na construção do conhecimento, porque
ela transmite ao indivíduo conceitos que se reconstroem em cada indivíduo.
Nesse sentido, compreender a linguagem é fundamental para que
entendamos mais acerca da Linguística Aplicada, porque a linguagem ocupa um
lugar central na vida do ser humano e é seu uso que permite a simbolização do
real, a expressão de conceitos e a organização cognitiva das representações do
mundo. Além disso, a linguagem é responsável pela interação social, condição
fundamental para viver em sociedade.
Até aqui você deve ter percebido que quando nos referimos ao ensino de
línguas, obrigatoriamente, precisamos também refletir a respeito da linguagem e
seu papel na constituição do indivíduo. Em outros termos, como bem definiu
Bakhtin, a linguagem é um produto vivo da interação social, ou seja, a linguagem
é dialógica, ocorre na interação entre locutor e interlocutor, resultando em
diferentes formas de construção de um discurso.
Para Bakhtin, a interação com o outro é inevitável, já que o dialogismo é
o princípio básico da existência humana. Vygotsky também atribui um papel
fundamental à interação social, afirmando que é no contato com a cultura e o
grupo social que o sujeito biológico se transforma gradativamente em sujeito
sócio-histórico.
E, dentro dessa concepção, é importante destacar a polifonia, isto é, todo
texto possui um caráter dialógico. Conforme Bakhtin, o dialogismo representa o
princípio da linguagem, ou seja, a comunicação verbal que pode surgir nos textos
polifônicos, pois estes caracterizam-se pela pluralidade de vozes presentes nos
textos, os quais estão fundamentados em outros.
Em cada situação de comunicação, de acordo com nossas intenções,
produzimos textos variados, que apresentam características próprias. A essas
espécies de textos damos o nome de gêneros discursivos, os quais são formas
infinitas de enunciados produzidos historicamente em decorrência da atividade
humana.
Portanto, como vimos, compreender a linguagem é importante para
refletirmos sobre a Linguística Aplicada, porque a linguagem ocupa um lugar
central na vida do ser humano e é seu uso que permite a simbolização do real,
a expressão de conceitos e a organização cognitiva das representações do
mundo.
68
8.1.3 Aula 3: língua materna
69
linguística, assim como desenvolver as habilidades que o falante já possui e
domina. Logo, a expressão “ensinar a língua portuguesa” deve ser repensada.
70
8.1.5 Aula 5: Libras
71
mal compreendida. Em parte, isso decorre pelo fato das pesquisas linguísticas e
metodologias serem insuficientes na área. Tal dificuldade é justificada pelo fato
de a Língua de Sinais apresentar as mesmas regras linguísticas identificadas
nas línguas faladas.
Portanto, para que ocorra um ensino de Libras bilíngue, é necessário que
a escola possua métodos que explorem a capacidade dos alunos surdos em
todos os sentidos, especialmente no que se refere ao desenvolvimento da
linguagem, às trocas dialógicas que favoreçam o sociointeracionismo, à cultura
surda e aos contextos que a envolvem.
72
tornava capazes de decifrar o código linguístico via um processo de formulação
de hipóteses e testes.
Seguindo os pressupostos chomskyanos, a Monitor Theory disponibilizou
um considerável apoio para o ensino de língua estrangeira e segunda língua,
entretanto, esse modelo também apresentou falhas, dentre as quais, o fato de
não considerar o contexto social em que o processo de aquisição-aprendizagem
acontece. Por fim, surge a Teoria da Competência Comunicativa, a qual defende
que a compreensão de uma língua inclui muito mais do que saber regras
gramaticais, posto que também é importante conhecer regras de uso linguístico.
Em outros termos, é necessário que o indivíduo desenvolva certa
competência comunicativa. Essa nova perspectiva de ensino passa a ser
embasada em uma concepção teórica sociointeracionista, partindo da ideia de
que o indivíduo é um ser social e que a sua interação com o ambiente em que
vive e com as relações interpessoais é fundamental para a construção do
conhecimento.
Após evidenciarmos as principais concepções que vêm norteando o
ensino da língua estrangeira, chegamos a um questionamento crucial: quais
métodos de ensino de língua estrangeira devem ser privilegiados? Para
respondê-lo, vimos que o professor deve considerar fatores externos da língua,
tais como a sua função social, ou seja, é preciso aceitar a concepção de
linguagem como prática interativa, discursiva e interdiscursiva, situada em
contextos culturais e históricos. Em resumo, deve-se considerar o indivíduo
como um ser social. Essa visão reflete a necessidade de a sala de aula constituir-
se como um espaço para a prática social, bem como para a construção de
conhecimento.
Além do currículo e de políticas eficazes voltadas à formação docente, é
preciso que o professor crie reais oportunidades de aprendizagem, as quais
estimulem o aluno à autonomia para se comunicar. Ademais, é fundamental o
professor de língua estrangeira possuir também uma formação linguística, pois
só assim poderá compreender com propriedade as inadequações cometidas
pelos alunos e outras características que envolvem o ensino-aprendizagem.
Também é fundamental que os alunos sejam expostos a múltiplos aspectos
culturais por intermédio de diferentes textos e gêneros discursivos. Outro fator
importante é considerar o contexto, a diversidade cultural e questões mais
73
globalizantes. Em outras palavras, o ensino de língua estrangeira deve referir-se
ao uso real da língua.
74
Também vimos que a atividade tradutória é acompanhada de um discurso
sobre a tradução, o qual se refere à unidade significativa da linguagem em uso,
em outros termos, o discurso pode ser compreendido como efeito de sentidos
que se dá em uma relação entre sujeitos, os quais não os controlam totalmente,
porque, na condição de sujeitos de linguagem, estão submetidos a
determinações sócio-históricas e ideológicas.
Para auxiliar em nossa compreensão, recorremos a Berman (2009), o
qual cita algumas vertentes conceituais da Análise do Discurso que devem ser
consideradas ao nos referirmos à Tradução: Descritivismo da Escola de Tel Aviv,
a Filosofia, a Psicanálise e a Traductique. Contudo, devido à não aplicabilidade
desses discursos, Berman (2009, p. 347) propõe uma nova abordagem no que
se refere ao ato tradutório: a tradutologia, a qual, segundo o autor, consiste em
uma “reflexão da tradução sobre ela mesma, a partir de sua natureza de
experiência”.
Aproximando-se do fim de nossa discussão, também observamos que
não há uma teoria global e única de Tradução, pois ela atualmente passa por um
processo de ampliação e diversificação, em que já não cabe reduzi-la a
dimensões linguísticas, posto que ela já adquiriu o status de recriação da obra
original.
E, por último, não podemos esquecer de que a função do tradutor é crucial
para que o processo tradutório ocorra, uma vez que ele também está envolto por
discursos variados, bem como os reproduz e, pelo fato da Tradução não ser
uniforme, cabe ao tradutor assegurar a sobrevivência de um texto.
Conclusão da aula 8
75
recriação e interpretação em que se mantém certos aspectos da estrutura
original.
Atividade de Aprendizagem
76
Índice Remissivo
Alfabetização ............................................................................................. 49
(Alfabetização; aprendizagem; sistema)
Letramento ................................................................................................ 51
(Letramento; desenvolvimento; habilidades)
77
Língua estrangeira: concepções de ensino da linguística aplicada ........... 31
(Concepções; ensino; linguística aplicada)
Polifonia ..................................................................................................... 21
(Combinação; diálogo; polifonia)
78
REFERÊNCIAS
79
a.files.wordpress.com/2013/07/ensino-de-lc3adnguas1.pdf>. Acesso em: 2 ago.
2017.
80