Você está na página 1de 97

Disciplina: Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Física

Autor: Esp. Raphael Sicuro Leite

Revisão de Conteúdos: Esp. Guilherme Natan Paiano dos Santos

Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior

Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki

Ano: 2020

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de
Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança
de direitos autorais.

1
Raphael Sicuro Leite

Fundamentos Teóricos e
Metodológicos da Educação Física
1ª Edição

2020

Curitiba, PR

Faculdade UNINA

2
Faculdade UNINA
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000

Coordenador Técnico Editorial


Marcelo Alvino da Silva

Conselho Editorial
D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu /
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros /
D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias /
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno /
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia

Revisão de Conteúdos
Guilherme Natan Paiano dos Santos

Designer Instrucional
Sérgio Antonio Zanvettor Júnior

Revisão Ortográfica
Juliano de Paula Neitzki

Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério

FICHA CATALOGRÁFICA

LEITE, Raphael Sicuro.


Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Física / Raphael Sicuro
Leite. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020.
97 p.
ISBN: 978-65-86092-86-8
1. Ações pedagógicas. 2. Cultura histórica desportiva. 3. Inclusão no esporte.
Material didático da disciplina de Fundamentos Teóricos e Metodológicos da
Educação Física – Faculdade UNINA, 2020.

Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870

3
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier,


n. 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria n. 299 de 27 de
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão
Universitária.
A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas
também brasileiros conscientes de sua cidadania.
Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e
estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade UNINA

4
Sumário
Prefácio........................................................................................................ 08
Aula 1 – Introdução ao fundamento teórico e metodológico da Educação
Física .......................................................................................................... 09
Apresentação da aula 1 ............................................................................... 09
1.1 - Importância da Educação Física na escola ................................... 09
1.2 - Vantagens da aplicação na saúde de uma boa aula de Educação
Física .......................................................................................................... 11
1.3 - A Educação Física e a socialização .............................................. 12
1.4 - Organização do trabalho pedagógico ........................................... 14
1.5 - Abordagens da Educação Física .................................................. 15
1.6 - A ação pedagógica da Educação Física na escola ....................... 17
Conclusão da aula 1 .................................................................................... 19
Aula 2 – Cultura do movimento .................................................................... 19
Apresentação da aula 2 ............................................................................... 19
2.1 - Educação Física e a cultura do movimento ................................... 20
2.2 - Contribuições da Educação Física para escola ............................ 22
2.3 - Finalidades da Educação Física ................................................... 23
2.4 - Metodologia e estratégias ............................................................. 27
2.5 - Princípios Metodológicos ............................................................. 28
2.6 - Avaliação ...................................................................................... 29
Conclusão da aula 2 .................................................................................... 30
Aula 3 – Ginástica escolar: do lúdico ao esportivo ....................................... 31
Apresentação da aula 3 ............................................................................... 31
3.1 - Breve histórico da ginástica .......................................................... 31
3.2 - A ginástica nas aulas de Educação Física .................................... 32
3.3 - Ginástica como prática científica .................................................. 34
3.4 - Ginástica, Educação Física e o desenvolvimento das crianças ... 35
3.5 - Realidades da ginástica na escola ................................................ 37
3.6 - Ginástica escolar em sua prática atual ......................................... 38
Conclusão da aula 3 .................................................................................... 39
Aula 4 – Dança, brinquedos, brincadeira e jogos ......................................... 40
Apresentação da aula 4 ............................................................................... 40
4.1 - A dança e o universo escolar ........................................................ 41
4.2 - A dança e a sua importância na Educação Física ......................... 41

5
4.3 - Formação do professor para aulas de dança na escola ................ 43
4.4 - O brincar nas aulas de Educação Física ....................................... 44
4.5 - O jogo, o brinquedo e a criança na escola ..................................... 45
4.6 - Educação Física e ludicidade ....................................................... 46
4.7 - Esportes e a dança nas aulas de Educação Física ....................... 47
4.8 - O jogo competitivo e a Educação Física escolar ........................... 49
Conclusão da aula 4 .................................................................................... 50
Aula 5 – Interdisciplinaridade e eventos esportivos ..................................... 51
Apresentação da aula 5 ............................................................................... 51
5.1 - A importância da interdisciplinaridade na escola .......................... 51
5.2 - A Educação Física e a interdisciplinaridade .................................. 52
5.3 - A interdisciplinaridade, a inclusão e a diversidade ........................ 53
5.4 - Reflexões pedagógicas do esporte na escola ............................... 54
5.5 - Jogos interclasses ........................................................................ 55
5.6 - Realização de eventos esportivos de caráter educacional ............ 57
Conclusão da aula 5 .................................................................................... 60
Aula 6 – Metodologia do corpo em movimento; as questões relacionadas
com o crescimento cognitivo ....................................................................... 61
Apresentação da aula 6 ............................................................................... 61
6.1 - O conhecimento específico abordado na Educação Física ........... 61
6.2 - A Educação Física e a pré-escola ................................................. 63
6.3 - Orientações didáticas na aula de Educação Física ....................... 65
6.4 - Corpo em movimento, concepções e prática na educação infantil 65
6.5 - Participação da Educação Física no desenvolvimento cognitivo... 67
6.6 - O desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento da criança .... 68
Conclusão da aula 6 .................................................................................... 70
Aula 7 – Planejamento da Educação Física escolar .................................... 70
Apresentação da aula 7 ............................................................................... 70
7.1 - Atitudes e valores da Educação Física escolar ............................. 71
7.2 - Os professores e a escola ............................................................ 72
7.3 - Reflexões sobre a Educação Física e suas ações ........................ 73
7.4 - Dificuldades encontradas pelos professores ................................ 74
7.5 - O planejamento no ensino da Educação Física ............................ 75
7.6 - Avaliações das aprendizagens dentro da Educação Física .......... 76
7.7 - A didática na Educação Física ...................................................... 79
Conclusão da aula 7 .................................................................................... 80

6
Aula 8 – Introdução à corporeidade, uma fala breve sobre as valências
físicas eu desenvolvimento infantil .............................................................. 81
Apresentação da aula 8 ............................................................................... 81
8.1 - A corporeidade na prática pedagógica da educação .................... 81
8.2 - A Educação Física e a consciência corporal ................................. 83
8.3 - Psicomotricidade na Educação Física .......................................... 84
8.4 - Abordagens filosóficas quanto à corporeidade ............................. 86
8.5 - O desenvolvimento infantil ............................................................ 87
8.6 - A Educação Física e a educação inclusiva ................................... 89
Conclusão da aula 8 .................................................................................... 91
Índice Remissivo ......................................................................................... 93
Referências ................................................................................................. 97

7
Prefácio

Nesta disciplina, veremos como a educação física é importante para a


educação escolar e quais processos são trabalhados na educação tanto para
crianças como para adolescentes. Também veremos as mudanças que a
Educação Física sofreu com o passar do tempo.
Veremos a transformação que a ginástica teve nas escolas com passar do
tempo, sua importância na aprendizagem dos alunos e como ela pode ser
trabalhada pelo professor tanto na parte lúdica quanto na esportiva.
Você vai ver um pouco a respeito de como a dança é trabalhada dentro da
Educação Física, como podemos estimular a criatividade das crianças durante
nossas aulas por meio das brincadeiras e dos brinquedos; outro ponto específico
que você também verá adiante é como os jogos esportivos são trabalhados
dentro das aulas de Educação Física.
Para que ocorra a interdisciplinaridade, não devemos pensar em eliminar
as disciplinas, mas, sim, torná-las comunicativas entre si, concebê-las como
processos históricos e culturais, além de nos atualizarmos nas práticas do
processo de ensino-aprendizagem.
Também veremos a importância das aulas de Educação Física no
desenvolvimento cognitivo das crianças e como o professor pode avaliar o
desenvolvimento de seus alunos.
Você também vai ver a importância do planejamento para as aulas de
Educação Física; como o professor deve trabalhar na elaboração de suas aulas
para estar em sintonia com a escola; como devem ser realizadas as avaliações
dessas aulas. Saberá o que é a corporeidade e qual a importância de ser
trabalhada dentro das aulas de Educação Física. Por fim, verá como essa
disciplina tem participado na inclusão dos alunos dentro das escolas.

8
Aula 1 – Introdução ao fundamento teórico e metodológico da Educação
Física

Apresentação da aula 1

Prezado estudante! Neste primeiro momento, veremos como a educação


física é importante para a educação escolar e quais processos são trabalhados
na educação tanto para crianças como para adolescentes.
Para iniciarmos, é importante você saber que a Educação Física, de
acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996),
“[...] é componente curricular da Educação Básica, ajustando as faixas etárias e
as condições da população escolar [...]”. No ano de 2003, foi alterada a redação
dessa lei para a afirmação de que a Educação Física é componente curricular
obrigatório da Educação Básica, por meio da Lei n. 10793/03.
Portanto, a fim de que você compreenda a Educação Física como um
componente curricular obrigatório que, segundo Garanhani (2008), “deverá se
ajustar às especificidades de educação da criança e do processo de
escolarização da infância nos seus diferentes níveis de ensino”, será
apresentado um breve histórico de como a Educação Física se constituiu em
uma disciplina do currículo da educação escolar infantil.

1.1 Importância da Educação Física na escola

De acordo com Bracht (1999), a partir da última década do século XIX, o


termo “ginástica” surge para determinar a aula que trata das atividades físicas.
Ainda é amplamente utilizado, mas logo ficou definido um termo mais técnico,
que utilizamos até hoje: Educação Física. Esse termo tem acompanhado um
refinamento no mundo da pesquisa científica. Nesse meio, aparece a educação
do gesto, a qual é baseada em análises laboratoriais, além de conteúdos de
natureza esportiva. O modelo de aula desta disciplina é buscado nos parâmetros
oferecidos pelos métodos de treinamento, em que as partes das aulas são
ditadas pela fisiologia.

9
Para que essa tarefa possa ser realizada, a Educação Física deve
preservar, aprofundar e manter sua especificidade na escola e isso deve ser feito
em conjunto, sem ser disciplina isolada ou mantida à parte.
Neto (1992) diz que a importância das aulas de Educação Física na escola
está em todos os segmentos, devido a ela proporcionar o desenvolvimento
integral do aluno, tais como: uma vida saudável, socialização, espírito de equipe,
entre outros. Os estudantes acabam participando de diferentes experiências
corporais para as quais são desafiados.
Muito significativa na educação do indivíduo, a Educação Física não tem
recebido o devido valor por diversas vezes na grade curricular. Ela insere, adapta
e incorpora o aluno no saber corporal de movimento. Sua função é formar o
cidadão que, segundo Betti (2002), irá produzi-la, reproduzi-la e transformá-la,
aprimorando-a, instrumentalizando-a para usufruir do jogo, do esporte e das atividades
rítmicas e danças, do exercício crítico dos direitos e deveres do cidadão para a
benfeitoria da qualidade de vida humana.
A Educação Física apareceu para somar e dar sua participação na
construção de uma educação intelectual e moral nas escolas, tendo como uma
de suas responsabilidades instruir e instigar o aluno a ter sua própria formação
de opiniões e se posicionar diante das atuais linhas de cultura corporal de
movimento.
É interessante que você saiba que a atividade física pode fazer parte da
vida do indivíduo e interferir em seu comportamento pessoal, mas isso só será
possível por meio da prática de exercícios e jogos, quando os estudantes serão
desafiados e exercitados a entender que só poderão vencer se estiverem se
divertindo.

Curiosidade
A vitória não pode ser a condição para o divertimento. Caso seja, as atividades
não são lúdicas. O divertimento deve estar presente no jogo e não no seu final
(FALKENBACH, 2002).

10
Crianças participando de atividade lúdica na Educação Física
Fonte: https://i.pinimg.com/474x/1e/90/75/1e90750b8e66f3d53df3929aadb1916a.jpg

A Educação Física escolar coloca em evidência a liberdade, cognitiva ou


emocional, dos alunos para a aprendizagem. Portanto, ela é essencial para que
exista um ambiente de convívio em que o respeito e a tolerância devem coexistir.
Contudo, profissionais têm dificuldade em colocar em pauta aspectos das
condições pedagógicas e aplicá-los em aula.

Importante
Segundo Lovisolo (1995), a posição do professor ou professora nos leva a ver
que sua fundamentação teórico-metodológica refletirá na forma que ele(a)
conduzirá a prática pedagógica.

Quando vivenciamos a escola, podemos observar que ela não é receptiva


a concepções únicas de mundo e de sociedade, por, em seu cotidiano, serem
constituídos regimes de verdade e resistências pré-estabelecidos.

1.2 Vantagens da aplicação na saúde de uma boa aula de Educação Física

Agora que você já sabe mais a respeito da importância da Educação


Física, vamos ver as vantagens que ela traz à saúde. A primeira delas é a de
que proporciona muitos benefícios, iniciando pelo incentivo à prática de atividade
física, além de favorecer o aprimoramento do desenvolvimento motor, também
contribui para a integração social tanto da criança como do adolescente,
aumenta a autoconfiança do indivíduo e sua autoestima, ajuda o aluno a se

11
expressar melhor, auxilia nas questões e vivências que o mundo em que vive,
ajuda a compreender as mudanças e limites do próprio corpo, coopera para que
o estudante tenha um estilo de vida melhor.

Importante
Ao praticar atividade física, o aluno tem a vantagem de melhorar a sua saúde
por diminuir as chances de ser sedentário, de ter obesidade, hipertensão arterial,
colesterol alto e doenças respiratórias, dentre outros problemas de saúde (NETO,
1992).

É na escola que o discente aprende a ter um estilo de vida mais saudável


e equilibrado, por isso tamanha a importância do professor de Educação Física,
pois é ele quem vai interceder e conduzir o aluno ao estilo vida mais saudável.

1.3 A Educação Física e a socialização

Paulo Freire (2000) diz que “a criança e o adolescente quando estão na


escola têm a oportunidade de se socializar com outros da mesma faixa etária por
meio de jogos, recreação e brincadeiras”. A Educação Física, portanto, tem a
função de contribuir para que tanto a criança quanto o adolescente desenvolvam
autoconfiança, interagindo com os colegas e suas habilidades motoras.
Nossa disciplina de estudo é uma das bases para as formações sociais e
de princípios do aluno, ajudando a transformar o meio em que ele vive. Logo, o
professor lida com o diferente e as limitações físicas e psíquicas dos indivíduos,
por isso a importância de ele ter autonomia para administrar e despertar valores
individuais dos estudantes, a fim de que levem para a vida o saber conviver e o
saber respeitar a diversidade que faz parte da sociedade.

Reflita
Por que ensinar Educação Física?

12
Para responder à pergunta, é necessário você saber que desde que o
indivíduo nasce, ele vive experiências socioculturais com o seu corpo,
possibilitando o conhecimento e o domínio dos seus movimentos. O corpo em
movimento é um recurso utilizado pelo indivíduo para experimentar relações com
pessoas e objetos, aprender sobre si mesmo, expressar e comunicar o seu
pensamento, desenvolver suas capacidades e aprender habilidades.

Curiosidade
O movimento é muito mais do que mexer o corpo ou deslocar-se no espaço,
considera-se que toda movimentação da criança tem um significado e uma
intenção.

Com base nessa afirmação, podemos entender que os movimentos


corporais não são apenas ações mecânicas ou técnicas, mas “[...] ações
conscientes devido ao fato de que a criança e o adolescente transformam em
símbolo aquilo que podem experimentar corporalmente e de que o seu
pensamento se constrói, primeiramente sob a forma de ação” (GARANHANI,
2004, p. 124). Portanto, o movimento do corpo é linguagem.
A Educação Física é o responsável por esse trabalho na educação da
criança e do adolescente e, por isso, não pode ser considerada uma prática
pedagógica que trabalha somente com a aplicação de técnicas e regras
relacionadas às formas de se movimentar ou apenas vivenciar jogos e
brincadeiras, conforme explica Freire (2000). Na escola, a Educação Física
oportunizará o trabalho educativo do movimento, possibilitando tanto à criança
quanto ao adolescente, o conhecimento, a ressignificação e a sistematização
das manifestações corporais configuradas em práticas de movimentos
construídas historicamente pela sociedade.
Sendo assim, na escola, a Educação Física proporcionará práticas de
movimentação corporal para que os alunos possam se desenvolver e, ao mesmo
tempo, serem levados a compreender que esses movimentos têm significados e
expressam e comunicam uma intenção. Poderão compreender, também, que os
movimentos do corpo se manifestam em diversas práticas, como, por exemplo:
os jogos e as brincadeiras, as ginásticas, as danças, as lutas e os esportes.

13
1.4 Organização do trabalho pedagógico

A partir de agora, você vai conhecer mais do trabalho pedagógico da


Educação Física dentro da escola. O essencial, nesse primeiro momento, é você
saber que ele deverá ser organizado em três eixos. Veja quais são eles:

➢ Autonomia e Identidade Corporal: são aplicados os aprendizados


que envolvem movimentações corporais para o desenvolvimento
físico e motor, proporcionando o conhecimento, o domínio e a
consciência do corpo, condições necessárias para a autonomia e
formação da identidade corporal;

➢ Socialização: são aplicados os aprendizados que levem à


compreensão dos movimentos do corpo como uma linguagem
utilizada na interação com o meio, tendo como base a socialização;

➢ Ampliação do conhecimento de práticas corporais: são aplicados


os aprendizados que levem à sistematização e à ampliação de
práticas de movimentos historicamente produzidas na e pela
cultura em que a criança se encontra.

Importante
Vale destacar que, independentemente das características presentes em cada
idade e do nível de aprendizado do indivíduo, os três eixos se integram e se
relacionam na prática da Educação Física na Educação, ou seja, um não exclui
o outro, podendo ocorrer uma predominância de um sobre o outro durante a
elaboração e efetivação do plano de trabalho do professor.

As abordagens pedagógicas da Educação Física podem ser definidas


como movimentos envolvidos na renovação teórico-prático, com o objetivo de
estruturação do campo de conhecimento que são específicos dessa área de
ensino.

14
1.5 Abordagens da Educação Física

De acordo com Bracht (1999), no ensino da Educação Física existem


algumas abordagens que se interpõem na sua didática. Vamos considerar
algumas dessas abordagens a seguir.
A primeira delas é a abordagem de concepção de aulas abertas, a qual
considera a possibilidade da codecisão no planejamento, objetivos, conteúdos e
formas de comunicação no ensino. Ela foi criada com o objetivo de que esta nova
visão de aula fosse mudar a preparação profissional, proporcionando outros
modos de aulas para as crianças e adolescentes no que se refere ao jogo,
movimento, esporte.

Curiosidade
Concepção de aulas abertas: está fundamentada na vida de movimento das
crianças, na história de vida e na construção da biografia esportiva dos alunos,
na concepção de esporte e movimento que a sociedade constrói ao decorrer da
história e da realidade nas aulas de Educação Física escolar.

A outra abordagem da atividade física é para a promoção da saúde, a fim


de conscientizar a população escolar para pesquisas que demonstram os
benefícios da atividade física. É considerada de suma importância a adoção
pedagógica dos professores em assumirem um novo papel mediante a estrutura
educacional, procurando adotar em suas aulas não mais uma visão exclusiva de
prática desportiva, mas proporcionar aulas aos alunos que promovam a saúde,
possibilitando experiências que os tornem crianças e adolescentes mais ativos
fisicamente, mas que também os conduza a uma vida mais saudável quando
adultos.
Já na abordagem construtivista-interacionalista, temos a intenção de
construir o conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, em que
respeitaremos o universo cultural do aluno, explorando as várias possibilidades
educativas de atividades lúdicas espontâneas, além de propor tarefas cada mais
complexas e desafiadoras, com o intuito da construção do conhecimento. Bracht
(1999) aponta algumas abordagens voltadas ao ensino da Educação Física.

15
Dentre essas, uma delas apresenta como característica: “privilegiar o jogo como
um instrumento pedagógico, ou seja, a principal forma de ensinar”. Nesta
proposta, o jogo é privilegiado como um instrumento pedagógico, ou seja, a
principal forma de ensinar.
Enquanto a abordagem crítico-emancipatória está centrada no ensino dos
esportes e foi idealizada, especificamente, para a Educação Física escolar.
Busca-se uma ampla discussão a respeito das possibilidades de se ensinar os
esportes por sua transformação didático-pedagógico, tornando o ensino escolar
em uma educação de crianças e adolescentes para uma competência crítica e
emancipadora.
Outra a abordagem a ser destacada aqui é a crítico-superadora,
embasada do discurso da justiça social no contexto de sua prática. Tem como
objetivo levantar questões de poder, interesses e contestação; é realizada uma
leitura dos dados da realidade à luz da crítica social dos conteúdos. A Educação
Física, aqui, é entendida como uma disciplina que trata do jogo, da ginástica, do
esporte e da dança como área de conhecimento da cultura corporal de
movimento.
A abordagem desenvolvimentista tem como meio e fim principal da
Educação Física o movimento. Ela tem como campo de atuação especialmente
a criança entre a idade de quatro anos a quatorze anos, buscando processos de
aprendizagem e desenvolvimento de fundamentação para a escola. Nesta
abordagem, é trabalhada a tentativa de se caracterizar a progressão normal do
crescimento físico, desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo social
do aluno.
Na abordagem Educação Física Plural, é encarado o movimento humano
como técnica corporal construída culturalmente e definida por características de
determinados grupos sociais, considerando todo gesto como uma técnica
corporal justamente por ele ser uma técnica cultural. A Educação Física Plural
considera que os alunos são diferentes e que, em uma aula, para que possa ser
alcançado todos os alunos, devemos considerar essas diferenças, ou seja,
combater a ideia de que determinados esportes são exclusivos de um único
gênero.

16
Importante
A pluralidade das ações é aceitar que o que torna os alunos iguais é justamente
a capacidade de eles se expressarem diferentemente.

Um outro tipo de abordagem de ensino da Educação Física é a humanista,


cuja fundamentação está pautada nos princípios filosóficos em torno do ser
humano, priorizando o valor e a identidade, e o crescimento é de dentro para
fora. Nesta abordagem, apropria-se do jogo, do esporte, da dança e da ginástica
como meios para cumprir os objetivos educacionais. O professor busca contribuir
na ampliação das conscientizações social e crítica dos alunos, tendo em vista a
sua participação ativa na prática social.
Na abordagem psicomotricista, se utiliza de atividade lúdica como
motivadora de desenvolvimento e aprendizagem. Nesta abordagem, fala-se de
aprendizagens significativas, espontâneas e exploratórias da criança e de suas
relações interpessoais. Tem na psicomotricidade seus objetivos funcionais em
que os mecanismos de regulação entre o sujeito e o seu meio permitem o jogo
da adaptação, o qual implica nos processos de assimilação e acomodação.
Para finalizar, temos a abordagem sistêmica, em que sua essência está
no entendimento de que ela é um sistema aberto que sofre e interage,
influenciando a sociedade, procurando definir a vivência corporal de
movimento, e apresenta ao aluno os conteúdos oferecidos na escola,
oportunizando a experiência da cultura de movimentos.

1.6 A ação pedagógica da Educação Física na escola

Os objetivos e propostas da Educação Física na escola têm se modificado


ao longo deste último século, e todas as suas tendências se modificam de
alguma forma e têm influenciado a formação do profissional e as práticas
pedagógicas dos professores.

17
Reflita
Quando falamos em ação pedagógica na escola, surgem algumas questões, tais
como: Como está a prática pedagógica da Educação Física na escola? Como a
Educação Física é compreendida no espaço pedagógico da escola? Que
relações são efetuadas com a Educação Física nos diferentes níveis de ensino?

Com base nas reflexões organizadas, podemos relacionar alguns focos


centrais no estudo: a organização pedagógica da Educação Física na escola; a
compreensão dos professores a respeito da Educação Física ser uma prática
pedagógica integrada aos processos educacionais da escola, de acordo com
Garanhani (2008).
Um grande aspecto da Educação Física na escola é o brincar. Por meio
do brincar, a criança conhece os papéis sociais e a cultura humana, bem como
consegue compreender e intervir com suas ações.

Saiba mais
A Educação Física dentro do contexto da educação escolar brasileira surgiu da
necessidade social de se conservar o corpo infantil, pois era necessário cuidar
do corpo para melhorar o desempenho na evolução da sociedade. Tinha-se a
ideia de que cuidar do corpo era cuidar da nova sociedade em construção.

No início do século XIX, os brinquedos e os jogos infantis foram utilizados


na sistematização pedagógica da Educação Física de crianças pequenas que
frequentavam as escolas. Dessa forma, surgiu a recreação como forma de
sistematizar, pedagogicamente, atividades que estivessem relacionadas ao
movimento do corpo das crianças.
Nas aulas de Educação Física, os aspectos procedimentais são
observáveis com maior facilidade, devido à aprendizagem desses conteúdos
estarem vinculadas à prática. Além de buscar meios para garantir a vivência
prática da experiência corporal, ao incluir o aluno na elaboração das propostas
de ensino e aprendizagem, devem ser consideradas suas realidades social e
pessoal; sua percepção de si e do outro; suas dúvidas e necessidades de
compreensão dessa mesma realidade.

18
Conclusão da aula 1

Chegamos ao final da nossa primeira aula. Podemos sintetizar, portanto,


que a Educação Física na escola é uma oportunidade de aprendizagem e ensino.
Por meio dela, professores têm ensinado o jogo, a ginástica, as lutas, a dança,
os esportes que são afirmativamente conteúdos clássicos e permaneceram
durante esses períodos transformando diversos de seus aspectos para se
afirmar como elementos de cultura, como linguagem singular do indivíduo no
tempo. A contribuição da Educação Física, nesse caso, é de colocar os alunos
em frente ao patrimônio da humanidade, chamado por alguns estudiosos como:
cultura física, cultura de movimento, ou cultura corporal.

Atividade de aprendizagem

Descreva com suas palavras sobre a contribuição da Educação Física nas


escolas.

Aula 2 – Cultura do movimento

Apresentação da aula 2

Olá, aluno! Nesta aula veremos a importância do trabalho do movimento


dentro das escolas e qual é a relação do professor para essa prática. Também
veremos as mudanças que a Educação Física sofreu com o passar do tempo.

Curiosidade
Nenhum movimento pode ser estudado ou analisado como algo em si. Ninguém
pode isolar o movimento, seja dos objetos ou do ser que se movimenta. Sempre
são coisas, objetos, pessoas e animais que se movimentam, seja por forças
próprias ou impulsionados por algo.

19
De acordo com Betti (2002), em torno do movimento, existe uma
referência que, para o caso dos esportes, podem ser destacados os atributos do
próprio movimento, os atributos do iniciador ou produtor do movimento, as
condições do meio, bem como as próprias regras já estabelecidas para o próprio
movimento.

2.1 Educação Física e a cultura do movimento

A Educação Física é uma expressão que apareceu desse a época do


século XVIII em obras de escritores e estudiosos que estavam preocupados com
a educação e a formação das crianças da época. Essa formação era concebida
de uma forma integral, a qual tinha como objetivo ser trabalhado o corpo, a mente
e o espírito. Ela englobou o campo da educação moral e da educação intelectual,
e adjetivação da palavra educação demonstra uma particularidade ainda mais
fragmentada do ser humano.
De acordo com Freire (2000), podemos compreender que a tradição
educacional brasileira se situou desde a década de 1920, em que a Educação
Física era vista como uma atividade complementar e relativamente isolada
dentro do currículo escolar, muitas vezes com objetivos determinados de fora
para dentro, como: treinamento pré-militar, eugenia, nacionalismo, preparação
de atletas etc.
Betti (2002) diz que o esporte, as ginásticas, a dança, as artes marciais e
as práticas de aptidão física tornam-se cada vez mais produtos de consumo
(mesmo que apenas por imagens) e objetos de conhecimento e informações
bem divulgados para o público em geral. É possível perceber que rádios, jornais,
televisão videogames e outros meios de comunicação difundem ideias a respeito
da cultura corporal de movimento, e existem muitas informações dirigidas
diretamente ao público adolescente e às crianças que fazem com que estes
tenham contato precocemente com práticas corporais e esportivas do mundo
adulto.
O estilo de vida gerado pelas condições socioeconômicas como a
urbanização descontrolada, o consumismo, o desemprego crescente,
informatização dentre outros, tem levado um grande número de pessoas ao
sedentarismo, à alimentação inadequada e ao estresse. O crescente número de

20
horas em frete à televisão, especialmente por parte das crianças e adolescentes,
tem diminuído a atividade motora, levando ao abandono da prática de jogos
infantis, acarretando, por sua vez, em substituir a experiência de praticar o
esporte pela de assistir ao esporte.

Crianças em treinamento de escolinha de futebol


Fonte: acervo do autor (2020).

Menina assistindo à televisão


Fonte: acervo do autor (2020).

A criação de academias de ginástica e escolinhas de esportes têm


atendido às camadas altas e médias da sociedade, mas os centros esportivos e
de lazer público oferecem, ainda que de forma insatisfatória, programas de
práticas corporais à população em geral.
A cultura corporal do movimento tem sido partilhada de forma social ou de
prática ativa por simples informação. Conforme coletivo de autores (1992), essa
valorização social das práticas corporais do movimento legitimou o aparecimento

21
da investigação científica e filosófica em torno da atividade física, da motricidade,
ou do homem em movimento. Inicialmente, restrito ao domínio da fisiologia do
exercício e da medicina, esse campo de pesquisa está presente atualmente em
diversas áreas da ciência, tais como: História, Psicologia, Sociologia e Filosofia.
Em meados de 1960, nos Estados Unidos e na Europa, e na década de 1980,
no Brasil, a Educação Física passou a fazer parte dos estudos e cursos nas
universidades como uma área acadêmica organizada em torno da produção e da
sistematização desses conhecimentos. A partir disso, surgiram estudos para
mostrar a importância dessa disciplina na educação. Afinal, quais são as
contribuições da Educação Física para a escola e formação do aluno?

2.2 Contribuições da Educação Física para escola

Quando consideramos o corpo humano em movimento como um objeto


de estudo e o colocamos dessa forma para a compreensão das questões
norteadoras do processo pedagógico na Educação Física, isso torna-se
essencial para que ele possa ser destacado em alguns aspectos históricos, em
suas principais abordagens pedagógicas na área, e, assim, consideramos o
corpo como foi visualizado e considerado em diferentes períodos da história.
Quando tratamos o corpo humano em movimento como objeto em uma
só discussão, tratando-se em Educação Física, consideramos a junção das
concepções com a prática cotidiana, em que a teoria e a prática se desencontram
devido à velocidade em que elas acontecem, pois nessas concepções não
existem hegemonia, assim como a aceitação dos professores de Educação
Física que já atuam não são acessíveis às mudanças da prática pedagógica
(FINCK, 2012).
Você já viu que a Educação Física no século XVIII e XIX era estritamente
influenciada pela medicina e militarismo, com o intuito de formar corpos
saudáveis. Portanto, abordar a Educação Física na escola não é fácil porque ao
mesmo tempo que muitos alunos gostam participam das aulas, esta disciplina
continua sendo pouco valorizada em relação às demais.
Finck (2012) diz que as aulas antigamente eram apenas uma extensão do
treinamento físico realizado pelos soldados da época. Os exercícios realizados
dentro das aulas eram baseados em métodos ginásticos estrangeiros, dando

22
uma extrema ênfase a eles. Outro problema é que nunca houve um consenso
entre os professores quanto ao tipo de aula que deveria ser ministrada. Em
meados da década de 50, a Educação Física brasileira foi influenciada pelo
método desenvolvido pelo Instituto Nacional de Esporte, na França, que foi
denominada de Educação Física Generalizada.

Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos a respeito da Educação Física
Generalizada, acesse o link: http://www.educacional.com.br/educacao_fisica/ed
ucadores/educadores.asp

Por meio de tais eventos históricos, constatamos que a Educação Física


é oferecida nas escolas já a algum tempo e que a sua prática foi baseada na
ginástica e na recreação, tendo como objetivos direcionados para a construção
de uma cultura que induzisse o aluno a compreender a importância da prática
oferecida.
Na década de 1980, a disciplina começou a fazer parte da discussão das
alterações na educação brasileira e a ser transformada em um importante
referencial teórico-científico, iniciando novos entendimentos que resultaram em
propostas inovadoras.

2.3 Finalidades da Educação Física

Falkenbach (2002) relata que a Educação Física deve assumir a


responsabilidade de formar um cidadão capaz de posicionar-se criticamente em
frente a novas formas de cultura corporal de movimento, tais como: o esporte-
espetáculo dos meios de comunicação, as atividades de academia, práticas
alternativas. Mas é preciso estar bem claro que a escola brasileira, mesmo se
quisesse, não poderia se equipar em estrutura e funcionamento das academias
e clubes até porque é outra sua função.

23
Mídias
Assista ao vídeo, o Professor Reikson Khun fala exatamente a respeito da
importância e finalidade da Educação Física na escola. Disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=r5d8zf2QNBo

É importante que você saiba, também, que não basta aprender


habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas e aprendizagens
necessárias, mas não suficientes. O aluno aprendendo os fundamentos técnicos
e táticos de um esporte coletivo precisa também aprender a se organizar
socialmente para praticá-lo; para isso, ele precisa compreender as regras como
um elemento que torna o jogo possível. O aluno deve aprender a interpretar e
aplicar as regras por si próprio, vendo o adversário não como um rival, mas sim
como um companheiro essencial para a competição esportiva.
A Educação Física tem como tarefa preparar o aluno para ser um
praticante lúcido e ativo, que incorporará o esporte e os demais componentes da
cultura corporal em sua vida para tirar deles o melhor proveito possível.
Finck (2012) diz que é preciso instrumentalizar o aluno para uma
apreciação estética e técnica, além de fornecer a ele informações políticas,
históricas e sociais para que este analise criticamente a violência, o doping e os
interesses políticos e econômicos do esporte. Essa é a contribuição que a
Educação Física dá para o melhor usufruto do esporte-espetáculo veiculado pela
televisão, por exemplo.
A Educação Física precisa preparar o cidadão que vai aderir aos
programas de ginástica aeróbica, musculação, natação etc. em instituições
públicas e privadas a fim de ele que possa ser avaliada a qualidade do que é
oferecido e identificada as práticas que melhor promovam sua saúde e bem-
estar.
Em um processo de longo prazo, a Educação Física deve levar o aluno a
descobrir motivos e sentidos nas práticas corporais que favorecerão o
desenvolvimento de atitudes positivas para com elas, levando, assim, ao
aprendizado de comportamentos adequados à sua prática, além de conduzir ao
conhecimento e à compreensão e análise do seu intelecto os dados tanto
científicos e filosóficos, relacionados à cultura corporal do movimento, dirigindo

24
sua vontade e sua emoção para a prática e apreciação do corpo em
movimento(FINCK, 2012)
A Educação Física propicia, assim como os outros componentes
curriculares, um tipo de conhecimento aos alunos. Contudo, conforme Enguita
(1989), esse conhecimento não pode ser incorporado dissociado de uma
vivência concreta, pois essa disciplina não pode ser transformada em um
discurso sobre a cultura corporal de movimento a ponto de perder a riqueza de
sua especificidade, mas ela se constitui como sendo uma ação pedagógica com
aquela cultura.
A dimensão cognitiva se faz sempre sobre esse substrato corporal. O
professor de Educação Física deve sempre auxiliar o aluno a entender o seu
sentir e o seu relacionar-se dentro da esfera da cultura do movimento corporal.
A Educação Física deve guiar o aluno de forma progressiva e cuidadosa
a uma reflexão crítica que o conduza à autonomia quanto ao usufruto da cultura
do movimento corporal. Esse é um processo realizado em fases que existem
objetivos específicos os quais devem respeitar os níveis de desenvolvimento do
aluno e suas características e interesses.
Betti (2002), em seus estudos, mostrou que na primeira fase do ensino
fundamental: do 1.º ao 4.º ano, é preciso considerar que a atividade corporal é
um elemento fundamental no desenvolvimento da vida infantil e deve ter uma
estimulação psicomotora adequada e diversificada quando terá uma estreita
relação com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança. Nesse
momento, deve-se primar com o desenvolvimento das habilidades motoras
básicas, jogos e brincadeiras diversos e atividades de autotestagem.
A partir do 5.º e 6.º ano do ensino fundamental, são aplicados os
fundamentos do esporte, das atividades rítmicas/dança e das ginásticas. Nessa
fase, a aprendizagem de uma habilidade técnica deve ser secundária à
concretização de um ambiente lúdico e prazeroso e sempre levar em
consideração o potencial psicomotor do aluno.
Enquanto que no 7.º e 8.º anos são buscados os aperfeiçoamentos em
habilidades específicas e a aprendizagem de habilidades mais complexas. Nessa
fase, inicia-se o trabalho voltado para a aptidão física, entendida como
desenvolvimento global, em que são equilibradas as capacidades físicas, tais
como: a resistência aeróbia, resistência muscular localizada e flexibilidade.

25
Nessa fase, também procura-se trabalhar a sistematização de conceitos teóricos
sobre a cultura do movimento corporal, buscando sempre uma associação entre
a vivência e o conhecimento.

Importante
No ensino médio, devemos ter uma atenção especial.

Estudos têm demonstrado grande desmotivação em relação à Educação


Física desde os anos finais do ensino fundamental. Os adolescentes têm
adquirido uma opinião mais crítica em outras disciplinas, deixando de atribuir
valor à Educação Física. A atividade física que fazia parte de suas vidas até os
12 anos mais ou menos dá lugar a outros interesses, como a sexualidade, o
vestibular, o trabalho, etc.

Curiosidade
Nessa fase da vida dos jovens, a Educação Física deve propiciar novos
interesses e não reproduzir simplesmente o modelo anterior, ou seja, repetir, às
vezes, apenas de um modo um pouco mais aprofundado, os conteúdos dos
últimos quatro anos do ensino fundamental.

Nessa fase de ensino, a Educação Física deve ter características próprias


e inovadoras que levem em conta a nova fase cognitiva e afetiva do adolescente,
não perdendo o foco de incluir o aluno na cultura do movimento corporal,
proporcionando a ele, por meio de práticas, que considere como essas
atividades essenciais para si próprio.
E quais estratégias devem ser seguidas no ensino da Educação Física na
escola? No próximo tópico, você vai saber exatamente um pouco mais de como
ensinar essa disciplina aos seus alunos.

26
2.4 Metodologia e estratégias

A Educação Física tem a tradição técnico-pedagógico, há pelo menos um


século e meio, em estratégias de ensino no campo das ginásticas, recreação,
esportes e atividades rítmicas, jogos, de competição e cooperação etc.
Logo, de acordo com Falkenbach (2002), podemos observar que essa
disciplina não tem delimitações claras entre conteúdos e estratégias de ensino,
muitas vezes esses quesitos até mesmo nos confundem quanto à sua aplicação.
Como exemplo disso, para que fique mais claro para seu entendimento, é
possível destacar o jogo, ele pode ser visto como uma metodologia de ensino
lúdica, mas também como uma estratégia de ensino. O professor, ao utilizar esse
rico acervo de estratégias e conteúdos, possibilita à Educação Física a
construção de metodologias de ensino singular comparado às outras disciplinas,
favorecendo, assim, o aluno quanto ao seu desenvolvimento afetivo, social e
motor.
Enguita (1989) traz alguns questionamentos para que possamos
considerar o quanto de prazer e de satisfação podem estar presentes na
aprendizagem de técnicas específicas; e o quanto de técnica de ensino do
professor pode contribuir para uma melhor movimentação do corpo do aluno; e
como os interesses do aluno contribuem para melhorar e satisfazer a
movimentação e o desenvolvimento do processo de ensino. Para responder a
esses questionamentos, Enguita sugere três eixos motivacionais para a
aprendizagem e o ensino da cultura corporal do movimento: a resolução de
problemas; o exercício de soluções por prazer funcional e de manutenção; a
inserção nos grupos de referência social.
Nos dois primeiros, está como ênfase maior a busca da eficiência e da
satisfação presente na aprendizagem de aspectos procedimentais e conceituais
como consequência à possibilidade de usufruir as conquistas realizadas. Já no
terceiro, temos a predominância da valorização da aprendizagem por meio da
possibilidade da utilização de sua produção, como instrumento de inserção
social, de comunicação e diálogo, de expressões de afeto e sentimento.
Na aprendizagem da cultura corporal do movimento é tratado
basicamente o acompanhamento de experiências prática e reflexiva de
conteúdos na aplicação dentro de contextos significativos. Para Betti (2002),

27
durante o acompanhamento, são diversas as ideias e as estratégias de
abordagem dos conteúdos, em que o professor e o aluno participam de uma
integração cooperativa de construções e descobertas. O papel do professor,
portanto, é promover uma visão organizada do processo de aprendizagem, com
possibilidades reais de aplicabilidade, e o aluno contribui com o elemento novo
que é o seu estilo pessoal de executar e refletir no aprender.
Betti (1986) também afirma que sempre que falamos de ensino e
aprendizagem de alguma técnica corporal, devemos ter bem claro qual universo
de conhecimento está se elegendo como referencial, e, qualquer que seja este
referencial, esconder a técnica é obrigar o sujeito a “reinventar a roda”, deixando-
o alienado dos conhecimentos socialmente construídos.

2.5 Princípios Metodológicos

Agora que você já viu algumas metodologias e estratégias, é importante


que saiba, também, que existem alguns princípios, os quais são trabalhados
dentro da metodologia da Educação Física, descritos por Falkenbach (2002).
Veja a seguir quais são eles:

➢ Princípio da inclusão: quando os conteúdos e estratégias


escolhidos devem sempre propiciar a inclusão de todos os alunos;
➢ Princípio da diversidade: a escolha dos conteúdos deve ser,
assim que possível, sobre a totalidade da cultura do movimento
corporal, incluindo jogos, esportes, atividades rítmicas/expressivas
e danças, lutas e artes marciais, ginásticas etc.;
➢ Princípio da complexidade: os conteúdos devem ser complexos e
de forma crescente com o nível dos anos de ensino, seja do ponto
de vista motor quanto do ponto de vista cognitivo;
➢ Princípio de adequação ao aluno: Em todas as fases do ensino,
são levadas em conta as características, capacidades e interesses
de cada aluno, seja na perspectiva motora, social, afetiva e
cognitiva.

28
2.6 Avaliação

O mais importante agora é você saber que existem dois tipos de avaliação
na Educação Física: a tradicional e a progressista ou construtiva. Além disso, é
essencial que você saiba diferenciá-las. Vamos ver a seguir cada uma delas
separadamente!
Na Avaliação Tradicional, o professor transmite conhecimentos ao
aluno, que, por sua vez, aprenderá de forma passiva. Essa avaliação utiliza o
formato de prova, atribuindo ao aluno uma nota fria e medindo apenas
habilidades cognitivas.
Na Avaliação Progressista, o professor faz diagnósticos e considera a
capacidade de aprendizagem do aluno, além de se autoavaliar, pois o estudante
é mais crítico e também faz essa autoavaliação.
A mediação que transforma as informações disponíveis em conceito
bimestral é um processo cognitivo-profissional inerente a cada professor, em que
seus critérios são difíceis de explicar, pois envolve crenças e valores.
O rendimento do aluno na avaliação não deve ser só intelectual, é preciso
considerar, também, os aspectos da personalidade dele de forma mais
abrangente, tais como: afetivos, social e corporal (Freire, 2000).
A Educação Física já tem lidado com esse tipo de avaliação há muito
tempo, porque ela propõe há algumas décadas alcançar os aspectos afetivos e
sociais na formação do aluno.

Reflita
Contudo, surge uma questão quando falamos em avaliação: será que o
progresso do aluno se deu devido ao seu amadurecimento físico, mental e motor
ou foi devido à intervenção do professor no processo de ensino- aprendizado?

Essa é uma questão muito importante que a Educação Física tem


procurado responder, pois a melhoria em algumas habilidades motoras pode ser
devido ao crescimento físico do aluno, algo que ocorre naturalmente, como
também pode ser um aperfeiçoamento adquirido nas aulas.

29
A avaliação deve ser realizada em duas formas, a primeira delas é
diagnosticar ou detectar em que fase de aprendizagem o aluno está para que o
professor possa avaliar o processo de ensino; a segunda é classificar ou
hierarquizar os estudantes com o objetivo de promoção.
Quando avaliamos os alunos, devemos ter o cuidado de não utilizar essas
formas de avaliação para dominá-los, pois o processo avaliativo deve ser
realizado a fim de resolver problemas nas ações pedagógicas e facilitar a
autoavaliação do professor.

Conclusão da aula 2

Nesta aula cabe a reflexão de que, atualmente, com rápidas e profundas


transformações sociais as quais repercutem de forma dramática nas escolas, a
Educação Física e seus professores precisam se fundamentar de forma teórica
para justificar à comunidade escolar e à própria sociedade, o que já existe de
estudo e conhecimento desta área de atuação pedagógica. Dessa forma, o
professor estreita as relações entre teoria e prática pedagógica, inovando ou
experimentando novos modelos, estratégias, metodologias, conteúdos em que a
Educação Física contribuirá para a formação integral das crianças e
adolescentes e para apropriação crítica da cultura contemporânea.

Atividade de aprendizagem

Descreva com suas palavras sobre a relação entre teoria e prática pedagógica
na Educação Física, as experiências de novos modelos estratégicos e
metodológicos utilizados.

30
Aula 3 – Ginástica escolar: do lúdico ao esportivo

Apresentação da aula 3

Caro estudante, nesta aula, veremos a transformação que a ginástica teve


nas escolas com passar do tempo, sua importância na aprendizagem dos alunos
e como ela pode ser trabalhada pelo professor tanto na parte lúdica quanto na
esportiva.
Os docentes de Educação Física têm à sua disposição diferentes formas
de trabalhar sua metodologia nas aulas, utilizando como recursos materiais,
atividades e modalidades de práticas corporais que lhe são oferecidos. De acordo
com Souza (1997), a introdução à ginástica na escola deve ser tratada de forma
que seja o ponto crucial no planejamento do professor, pois a ginástica
competitiva ou de qualquer outra forma tem sido desenvolvida, muitas vezes,
como uma modalidade de pouco acesso aos alunos, tendo como foco a
formação de atletas.

3.1 Breve histórico da ginástica

A ginástica vem desde seu surgimento sendo transformada, existindo há


muito tempo como forma para obtenção de força, corpos saudáveis e ágeis. A
ginástica, conforme citado por Darido e Rangel (2005), hoje tem um objetivo
diferenciado do que fora proposto ao longo da história e esta mudança aconteceu
quando foi implementada na escola, pela educação física, denominada Ginástica
Escolar.

Saiba mais
Leia na integra o artigo “A importância da ginástica enquanto conteúdo da
Educação Física escolar”, de Martha Bezerra Veira, que fala sobre a ginástica e
o desenvolvimento da criança. Disponível no link: http://www.efdeportes.com/
efd180/a-importancia-da-ginastica.htm

Na antiguidade, não se conhecia a palavra “ginástica”, pois as atividades


físicas tiveram diversas características e manifestações, tais como: a educação
31
corporal, eficiência fisiológica, terapêutica, estética e moral. Isso tudo sem perder
o foco na preparação militar.
De acordo com Darido e Rangel (2005), o exercício físico utilitário e
sistematizado de forma rudimentar era transmitido pelas gerações por meio de
jogos, rituais e festividades. Antigamente, os exercícios físicos apareciam nas
várias formas de lutas, natação, remo, hipismo, arco e flecha, exercício utilitário,
jogos, rituais religiosos e, também, como preparação militar de maneira geral.
Os autores descrevem, ainda, que, no Brasil, o início da ginástica ocorreu
em diferentes momentos: a primeira influência foi a do método alemão, que
chegou ao país em 1860 com a vinda de muitos imigrantes alemães que tinham
a ginástica como hábito em suas vidas, permanecendo como oficial na escola
militar até 1912, quando adotou-se o método pedagógico sueco nas escolas,
tendo como grandes defensores, primeiramente, Rui Barbosa e, em seguida,
Fernando de Azevedo; depois, temos o método francês, implantado no contexto
escolar em 1921, integrado ao currículo escolar e obrigatório nas escolas
normais, enquanto os professores de Educação Física, capacitados ou não,
eram os responsáveis por ministrar essas aulas. A trajetória da história da
ginástica nas escolas com seus diferentes métodos foi de grande influência para
a criação da disciplina de Educação Física escolar no país.

3.2 A ginástica nas aulas de Educação Física

Agora que você já sabe um pouco mais sobre a história da ginástica,


vamos aprofundar nosso conhecimento em como ela é aplicada nas aulas de
Educação Física. Primeiro, é importante que você saiba que ela, fazendo parte
de uma manifestação corporal, tem cinco campos de atuação: o saber da
competição; o saber da demonstração; o saber do condicionamento físico; o
saber da consciência corporal; e o saber da reabilitação (SOUZA, 1997). Esses
diferentes campos dão diversas possibilidades pedagógicas para serem
trabalhadas na aula de Educação Física. A seguir, você vai saber quais são
essas possibilidades.
A ginástica dentro da escola se preocupa com o desenvolvimento integral
dos alunos, considerando seus progressos na aprendizagem motora, cognitiva,
social e afetiva. Para que se possa obter o resultado que tanto se deseja, deve

32
ser levado em consideração todo o trabalho que está sendo realizado em
paralelo com o desenvolvimento do objetivo central. É importante, por exemplo,
reconhecer a relevância de cada movimento aprendido pelo aluno e conseguir
aproveitar ao máximo a bagagem cultural que já está previamente enraizada no
contexto social daquele ambiente (DAOLIO, 1995).
A ginástica vai além de beneficiar os alunos na fisiologia, ela ajuda a
melhorar a questão cognitiva dos alunos envolvidos nessa atividade de forma
regular. Ela pode oferecer ao aluno, além de divertimento e satisfação, que é
proporcionada pela própria atividade, o desenvolvimento da criatividade, da
ludicidade, da participação e apreensão por parte dos alunos quanto às inúmeras
interpretações da ginástica (AYOUB, 2003).
Dentro da Educação Física escolar, nosso entendimento a respeito da
ginástica é que ela se constitui como uma prática pedagógica que visa trabalhar
a expressão corporal como uma linguagem, contribuindo para a formação de
indivíduos críticos e criativos, além de intervir de forma significativa na realidade
social deles.
Podemos compreender que a ginástica, dentro da esfera social, influencia
e é influenciada pela sociedade. Dessa forma, não podemos isolar a ginástica
das outras atividades da vida humana, para não formarmos conceitos parciais e
simplistas sobre o assunto.
De acordo com Ayoub (2003), temos diversas modalidades de ginásticas
consideradas como forma de competição, tais como: a ginástica rítmica,
ginástica artística, dentre outras. Já a ginástica escolar está orientada para as
questões educacionais e do lazer, sem fins competitivos, dando primazia à
demonstração.
O principal alvo da ginástica é que ao ser praticada, sejam visadas à
promoção e à integração das pessoas e grupos e que seu desenvolvimento
dentro das aulas seja realizado com prazer e criatividade, para isso se tornam
pontos cruciais a ludicidade e a expressão criativa.

33
Ginástica sem fins competitivos
Fonte: acervo do autor (2020).

Conforme nos mostra Soares (1998), a ginástica escolar não tem regras
rígidas preestabelecidas, pois ela estimula a amplitude e a diversidade, abrindo
um leque de possibilidades para a prática da atividade corporal, sem distinção
de gênero, idade, número e condições físicas dos participantes; diferentemente
das ginásticas competitivas, que, por sua vez, dentre as suas principais
finalidades, estão a seletividade e as regras rígidas preestabelecidas, que
caminham no sentido da especialização, comparação formal, classificatória ou
por pontos. Ayoub (2003) aponta que as diferenças entre a ginástica escolar e a
ginástica competitiva não podem ser vistas de forma rígida, pois elas convivem
interligadas na sociedade e exercem influências recíprocas.

3.3 Ginástica como prática científica

Vamos prosseguir nosso estudo abordando a ginástica como prática


científica. Mas como a ginástica pode ser considerada como uma prática
científica?
A ginástica, quando é considerada como prática científica, é construtiva
da mentalidade burguesa em que se destacou pelo seu caráter de ordem,
disciplina e metódico, além do discurso da preservação da saúde. De acordo
Soares (1998), ao longo do século XIX, tivemos diversas tentativas de estender
sua prática para a grande massa trabalhadora urbana, que para os interesses
do capital se tornava cada vez mais numerosa.

34
Curiosidade
O autor diz, ainda, que é na aceitação progressiva dos princípios de ordem e
disciplina formulados pelo movimento ginástico europeu, assim como o
afastamento de seu núcleo primordial que era o divertimento, que aos poucos a
ginástica se afirmou como parte da educação dos indivíduos, como prática capaz
de potencializar a utilização de gestos e oferecer um espetáculo controlado
institucionalizado do uso do corpo.

No Brasil, os métodos ginásticos influenciaram de tal forma a constituição


da Educação Física que passaram a estar presentes nos discursos políticos,
médicos e pedagógicos. Por ser precursora da Educação Física, a ginástica
científica se estabeleceu ao longo do século XIX como um resumo do
pensamento científico no Ocidente europeu e parte integrante dos novos códigos
de educação, justificando a sua inclusão no currículo escolar.
Devido a isso, no século XIX tem início o projeto de institucionalização da
Educação Física no Brasil, mas ainda com o nome de ginástica, sendo uma
disciplina obrigatória nas escolas, em que os ideais eugênicos e higiênicos se
faziam presentes na educação (SOARES, 1998).
A Educação Física brasileira destacava-se por meio de seus conteúdos e
métodos de ensino, assim como os assuntos relacionados à formação da ordem,
disciplina e moral, frutos das concepções advindas dos métodos ginásticos
europeus, estes, por sua vez, ancorados nos preceitos e contextos de seus
países de origem.

3.4 Ginástica, Educação Física e o desenvolvimento das crianças

Você já viu, nas aulas anteriores, que a ginástica é uma ótima promotora
do desenvolvimento físico e motor, ou seja, é uma das melhores modalidades
que mais contribui para as crianças em desenvolvimento. Ela pode ser analisada
por diferentes vertentes, mas para nosso estudo vamos considerar apenas duas
delas: a escolar e a de alto rendimento.
Segundo Souza (1997), durante a infância, as crianças produzem
rapidamente uma sequência de habilidades fundamentais para o seu
desenvolvimento, tais como: os movimentos unilaterais e bilaterais. Sendo

35
assim, as habilidades motoras básicas a serem trabalhadas nesse período de
vida do aluno são: o rolar, o equilibrar-se, o saltar e o girar. Quando a criança
aprende essas habilidades e as combina em sequências de movimento, facilitará
o aprimoramento das capacidades mais complexas, ampliando as possibilidades
do desempenho das habilidades motoras.

Pular corda
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTQIONhSfWLms
_VS79Wpv7li0gLR7WewvYGM5tk8FMpLgHm5blw&usqp=CAU

Para Brochado (2005), a criança quando cresce e começa a se


desenvolver, de forma gradual, passa a descobrir e conhecer as possibilidades
de ações que seu corpo lhe oferece. Por estar envolvida em diversos estímulos
e inserida em um meio de largo universo de movimentos os quais os vivencia a
cada momento, a criança terá, então, o desenvolvimento de sua capacidade
cerebral.
Ao viver a infância brincando e aprendendo por meio das atividades, a
criança adquire automaticamente maiores experiências, resultando no
desenvolvimento do sistema motor, e, ao brincar, ela avança em relação aos
seus níveis reais de desenvolvimento.
Galahue (2001) destaca que o aumento do tamanho do corpo da criança
acontece de forma lenta, pois faz parte do desenvolvimento e crescimento
dela. Esses processos estão inter-relacionados, e apesar de serem
considerados sinônimos, cada um tem suas características próprias.

Vocabulário
Crescimento: refere-se à totalidade da alteração física, aumento do tamanho do
corpo, causado pelo aumento das células. Desenvolvimento: são alterações de
níveis de funcionamento físico que ocorrem no decorrer do tempo e significa que,

36
ao longo da vida, é necessário ajustar, compensar ou mudar para se obter e
manter a habilidade.

3.5 Realidades da ginástica na escola

A ginástica, que no século XIX estava conquistando o status científico,


aparece como instrumento que se adapta de forma exemplar a tais propósitos,
pois os próprios métodos ginásticos trazem marcadamente a possibilidade de
enaltecer o indivíduo abstrato, descolado das relações sociais, e serem porta-
vozes de uma prática neutra, cultuando ainda mais “o mito do homem natural e
biológico”, como afirma Soares (1998).
No Brasil, ao longo do século XIX, pôde ser constatado que a Educação
Física, sendo parte integrante da educação, se tornou alvo de grande atenção,
pois, por seguir as orientações da concepção europeia, a sua vinculação com a
educação moral e intelectual era frequentemente exaltada.
O exercício ginástico, principalmente o de orientação militarista, se
constituía como referência básica para o desenvolvimento da Educação Física
nas escolas. Até os anos de 1940, a ginástica predominava nas escolas dentro
das aulas de educação física e a partir desse período o esporte passa ser de
forma progressiva.
De acordo com Ayoub (2003) atualmente, na escola brasileira, a ginástica
deixou de existir enquanto conteúdo obrigatório de ensino. A aula de Educação
Física passou a ser aula de esportes. Esta realidade não se resume só ao Brasil,
mas também a outros países, inclusive aos da Europa que eram o “berço” dessa
prática corporal.
Devido à visão de a Educação Física estar muito voltada ao esportivismo,
surgiram alguns preconceitos quanto a essa prática corporal a qual pode estar
ligada a dois aspectos: à tradição histórica; à associação à ginástica espetacular.
Logo, analisando essas duas variáveis, elas são questões significativas
que, aliadas ao processo de esportização da cultura corporal, contribuíram para
que a ginástica fosse descartada da Educação Física escolar. O “tom pejorativo”
que alguns profissionais da disciplina utilizam para se referirem à ginástica acaba
revelando e reforçando esses preconceitos.

37
Para Souza (1997), a ginástica, enquanto for parte integrante do conjunto
dos conteúdos que compõem a disciplina de Educação Física, caracteriza-se
como um conhecimento de importância indiscutível e que não pode ser
simplesmente abandonado ou colocado em segundo plano pela instituição
escolar.
Ayoub (2003) reforça essa ideia, afirmando que não podemos negar que
o processo de limitação que tem ocorrido na Educação Física escolar brasileira
está restringindo o seu conteúdo ao esporte e deixando de lado a ginástica,
dentre outros temas da cultura corporal. Esse é um assunto muito sério e
preocupante.
Contudo, “devemos romper esta visão” (DAIOLO, 1995). Precisamos
urgentemente assumir a responsabilidade de ampliar e ultrapassar essa ideia
restritiva e equivocada da Educação Física escolar e compreender que a
ginástica, assim como outras formas de expressão da cultura corporal, deve ser
trabalhada com mais profundidade.

3.6 Ginástica escolar em sua prática atual

Desde que foi criada, a ginástica é marcada como sendo o corpo em


movimento. Esse movimento é desenvolvido em diferentes manifestações
corporais e em diversas culturas criadas pelo homem. Ela tem sido transformada
desde sua invenção, mas quando ela é implantada no contexto da Educação
Física como conteúdo é que as transformações se ampliam.
É fundamental destacar que a cultura corporal é produzida pelo homem
durante toda sua história, e que a ginástica vem acompanhando os avanços da
humanidade na busca de integrar o ser humano ao ambiente que o cerca
diferenciando cada corpo.
Hoje em dia, a ginástica é pouco explorada ou vivenciada nas escolas,
pois ela, sendo competitiva ou não, em geral, é vista como uma modalidade
pouco acessível às aulas de Educação Física escolar, tendo como base uma
visão elitista, como o intuito de formar ginastas em níveis de competição, por
exemplo.
De acordo com Darido e Rangel (2005), um fator relevante para que a
ginástica não esteja sendo trabalhada de maneira satisfatória nas escolas esteja

38
acontecendo é a falta de conhecimento dos professores em como trabalhar a
ginástica no âmbito escolar.
Soares (1998) afirma que podemos investigar como a ginástica pode ser
desenvolvida na Educação Física escolar a partir da metodologia crítico-
superadora, quando podemos identificar as possibilidades de intervenção.

Curiosidade
A metodologia crítico-superadora surgiu em meados de 1980, época em que se
teve que repensar a Educação Física para além da esportização. Entretanto,
essa metodologia se configurou na década de 90 e ela expõe e discute questões
teórico-metodológicas da Educação Física, tornando-a matéria escolar, a qual
trata, pedagogicamente, de temas da cultura corporal (SOARES, 1998).

A ginástica como forma de exercitação provoca experiências corporais


enriquecedoras da cultura corporal do indivíduo, por isso tamanha importância e
necessidade de ela ser uma prática que envolva a tradição histórica, permitindo
aos alunos darem sentido às suas “exercitações” ginásticas.

Mídias
Assista ao vídeo da ex-atleta Luísa Parente, atualmente professora de Educação
Física, dando dicas de como abordar a ginástica no contexto escolar. Disponível
no link: https://www.youtube.com/watch?v=_Z-jjO0Pumw

Conclusão da aula 3

Após esta aula, é interessante você refletir sobre a perspectiva de se


programar uma prática coerente, efetiva e significativa dentro da ginástica que
contenha os objetivos específicos capazes de proporcionar ao aluno momentos
de prazer, criativos, interessantes que o cativem de tal forma que ele possa
expressar grande interesse por ela.
Ainda há muito trabalho à frente para tornar as aulas de ginástica efetivas
dentro do conteúdo programático nas aulas de Educação Física, mudanças

39
essas que não acontecem em um passe de mágica, mas que demandam tempo,
persistência e trabalho coletivo.

Atividade de aprendizagem

Diante das circunstâncias, como tornar as aulas de ginásticas efetivas nas


aulas de Educação Física?

Aula 4 – Dança, brinquedos, brincadeira e jogos

Apresentação da aula 4

Chegamos à metade do nosso estudo, e nesta aula você vai ver um pouco
a respeito de como a dança é trabalhada dentro da Educação Física, como
podemos estimular a criatividade das crianças durante nossas aulas por meio
das brincadeiras e dos brinquedos. Outro ponto específico que você também verá
adiante é como os jogos esportivos são trabalhados dentro das aulas de
Educação Física.
Daremos início destacando que a dança é reconhecida pelo ministério da
educação como um curso superior com suas próprias diretrizes desde a década
de 1970, e sua fiscalização é realizada por profissionais formados na área de
teatro ou educação. Já na educação escolar, ela está presente como conteúdo
das aulas de Educação Física, conforme nos indica os Parâmetros Curriculares
Nacionais de 1997 (PCNs) da área dessa disciplina.
Quanto ao brincar, ele é uma importante forma de comunicação e é por
meio dessa ação que a criança pode reproduzir o contexto o qual está inserida,
de forma lúdica e imaginária. O ato da brincadeira facilita o processo de
aprendizagem da criança, auxiliando a construção da reflexão, da autonomia e
da criatividade, estabelecendo relação estreita entre o jogo e a aprendizagem.

40
4.1 A dança e o universo escolar

Gehres (1997) afirma que a dança é abordada nas escolas do Brasil como
atividade extracurricular, estabelecida de forma diversificada, ainda que, do
ponto de vista curricular, faça parte do conteúdo de Educação Física desde 1971.
Quando recorremos à literatura existente, observam-se alguns fortes
argumentos para a inexistência do conteúdo da dança nas aulas de Educação
Física, destacando-se as questões estruturais e as de conhecimento – esta
última por parte de aceitação dos alunos, principalmente os do gênero
masculino.
Quanto à questão estrutural, ao pensar em dança, é possível remeter a
uma sala ampla, com pisos lisos e espelhos por todos os lados e um som de boa
qualidade; assim como quando pensamos em esportes é possível remeter a
quadras sem buracos, com coberturas e demarcações para todas as
modalidades esportivas.
Mesmo quando falamos em esportes, apesar das condições
desfavoráveis, continuamos a tratar o conteúdo esportivo, com seus limites,
mesmo com a quadra tendo se tornado sinônimo de aula de Educação Física.
Mesmo que muitas escolas nem quadra tenham, ficando as aulas limitadas aos
pátios, às ruas ou às praças.
O espaço físico ou arquitetônico das escolas é estruturado com base nas
proposições pedagógicas, tendo assim a necessidade de uma reflexão ampla
sobre como a escola, principalmente a Educação Física, utiliza esse espaço.

Saiba mais
No artigo a seguir, de Sousa, Hunger e Caramaschi, você vai poder aprofundar
ainda mais seu conhecimento a respeito da “Dança na Escola: um sério
problema a ser resolvido”. Disponível no link: https://repositorio.unesp.br/
bitstream/handle/11449/8356/WOS0002847825000 24.pdf?sequence=3

4.2 A dança e a sua importância na Educação Física

De acordo com Marques (1999), a dança é uma arte constituída de


movimentos rítmicos. Enquanto linguagem, ela favorece a expressão,
41
consciência do corpo, conhecimento de si e do meio, possibilitando descobertas,
sensibilidade, emoção e envolvendo símbolos. Ela está presente em todas as
culturas, se tornando uma grande fonte de informação e formação do ser
humano, auxiliando a criança a construir sua autoimagem e a conhecer o mundo
em que vive, contribuindo, portanto, para a construção de uma imagem social.
A dança pode ser observada por diferentes ângulos e trazer diversos
benefícios para os indivíduos, seja em relação aos aspectos físicos, emocionais,
intelectuais e sociais, que contribuem para a integração e formação do senso
crítico em cuidados com sua saúde e com o corpo, além de ser um meio
educativo de ajuda na promoção da saúde que aborda temas transversais, tais
como: sexualidade, puberdade, prevenção de doenças, entre outros temas.
Quando o indivíduo se movimenta ao dançar, ele vivencia informações
que reforçam a ideia de orientação psicodinâmica predominante no movimento
inconsciente, que o beneficiará por dar o entendimento das emoções que se
relacionam com seu estado de saúde atual e também pode ser vista como uma
expressão que representa diversos aspectos da vida humana, considerada como
linguagem social que transmite sentimentos, emoções vividas, trabalhos e
hábitos ou costumes(GIGARAN, 2009).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram criados para que
houvesse uma unificação na Educação Física em todo território nacional, esta
disciplina é unicamente direcionada à corporeidade e tem como bloco de
conteúdo conhecimentos sobre: corpo, esportes, jogos, lutas, ginástica,
atividades rítmicas e expressivas, essas últimas responsáveis pelas brincadeiras
cantadas e danças.
A dança deve ser um conteúdo fundamental a ser tratado na escola, pois
é uma forma prática adequada e divertida para se ensinar todo o potencial de
expressão do corpo. Independentemente de sua modalidade, ela tem como
objetivo buscar a expressão individual de pensamentos e sentimentos, além de
desenvolver a psicomotricidade do indivíduo.

Vocabulário

42
Psicomotricidade: percepção motora que influência tanto os fatores
intelectuais, afetivos e culturais.

A dança precisa ser trabalhada com o objetivo de os alunos melhorarem


a coordenação motora e a relação com os outros. Isso deve começar nas séries
iniciais, pois só assim podemos estimular os alunos a gostarem dessa prática.
Um grande exemplo para aplicar a dança no contexto escolar e nas aulas
de Educação Física são as festas escolares, explorando a linguagem corporal
dos alunos. Nelas pode-se empreender situações didáticas que ajudem os
alunos a lerem e interpretarem a gestualidade que caracteriza as danças
folclóricas e populares, por exemplo. Essas ocasiões podem ser tratadas de
forma muito importante para compreender as identidades dos diversos grupos
que produziram a manifestação cultural.
Para Silveira (2008), por ser um meio de empreender situações didáticas,
a dança se torna um rico instrumento pedagógico que auxilia o professor a
aguçar e despertar no aluno o desejo de aprender muito mais além do que
sempre tem visto no meio em que este vive. Por meio de danças culturais e
folclóricas, podem aprender não só a reproduzir o passado, mas também abre
uma porta para que possam fazer novas descobertas por meio das ideias e dos
movimentos, sempre levando em consideração os sentimentos e emoções.

4.3 Formação do professor para aulas de dança na escola

Os professores precisam se qualificar para poder desenvolver trabalhos


com a dança, pois não basta somente colocar os alunos para dançar, é
necessário que o valor da dança seja reconhecido por ambos, tanto professor
quanto aluno.

Importante
Quando a dança é ensinada com metodologia, os alunos passam a reconhecer
o verdadeiro valor dela.

43
Para Silveira (2008), a dança deve estar presente na escola para
formar e não ser incluída somente nas festas comemorativas. Dessa forma,
podemos perceber a importância da qualificação do professor em Educação
Física para trabalhar a dança como conteúdo dessa disciplina.
Sendo assim, quando o professor de Educação Física pensa e quer um
desenvolvimento em suas aulas, ele busca conhecimento para poder dar apoio
aos seus alunos. Assim que se adquire o conhecimento, o professor precisa
colocá-lo em prática, buscando melhorar os aspectos cognitivos de seus alunos.
Outro fator de suma importância no trabalho da disciplina de Educação
Física direcionado à dança é a interação do professor com o cotidiano do aluno.

4.4 O brincar nas aulas de Educação Física

Quando definimos o brincar, ressaltamos a importância que isso tem para


o desenvolvimento do ser humano, seja no aspecto físico, social, cultural, afetivo,
emocional ou cognitivo. Por isso, é necessário conscientizar os pais, os
educadores e a sociedade em geral sobre a importância que a ludicidade tem e
como ela deve ser vivenciada na infância, ressaltando que o brincar faz parte de
uma aprendizagem prazerosa e não apenas um lazer.
Nesse contexto, Antunes (2003) afirma que o brincar na educação infantil
proporciona à criança a chance de estabelecer regras constituídas por si e em
grupo, em que contribui para a integração do indivíduo na sociedade. Sendo assim,
a criança resolve conflitos e hipóteses de conhecimento ao mesmo tempo em
que desenvolve a capacidade de compreender pontos de vista diferentes e de
demonstrar sua opinião aos outros.
Diversos estudiosos abordaram, direta ou indiretamente, a questão do
brincar, do jogo, do brinquedo e da brincadeira. Oliveira (2000), por exemplo, diz
que o brincar não tem que significar somente recreação, mas também o
desenvolvimento de forma integral.

Importante
Essa atividade se caracteriza como uma das formas mais complexas que a
criança utiliza para se comunicar, seja consigo mesma ou com o mundo.

44
É por meio do brincar, como afirma Oliveira (2000), que a criança pode
desenvolver capacidades importantes, tais como: a atenção; a memória; a
imitação; a imaginação que proporcionará à criança o desenvolvimento de áreas
da personalidade como a afetiva, a motricidade, a inteligência, a sociabilidade e
a criatividade.

Mídias
Assista ao vídeo a seguir, você vai poder ver educadores falando mais sobre a
importância do brincar no aprendizado da criança. Disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=PCNvAFhx4H4

4.5 O jogo, o brinquedo e a criança na escola

Agora que você já viu um pouco sobre a recreação, vamos aprofundar


nosso conhecimento a respeito do jogo, do brinquedo e como eles podem ser
úteis para o aprendizado da criança na escola.
O jogo se observado pelo ponto de vista educacional, de acordo com o
Antunes (2003), significa divertimento, brincadeira, passatempo; diferentemente
do que confundimos muitas vezes como competição.

Curiosidade
Os jogos infantis podem até incluir uma ou outra competição, mas visando
sempre a estimular o crescimento e a aprendizagem com foco interpessoal, entre
duas ou mais pessoas, realizadas por meio de determinadas regras, ainda que
o jogo seja uma brincadeira que envolva regras.

Para Kishimoto (2002), o brinquedo é diferente do jogo. O brinquedo é


uma ligação íntima com a criança, na ausência de um sistema de regras que
organizam sua utilização. Ele é o objeto com intuito de divertir a criança ou um
suporte para a brincadeira, pois estimula a representação e expressão de
imagens que evocam aspectos da realidade.

45
Ilustração de crianças utilizando brinquedos e jogos
Fonte: acervo do autor (2020).

A palavra “brinquedo” não pode ser reduzida à pluralidade de sentido de


jogos, pois conota criança e tem dimensão material, cultural e técnica. Este
objeto é o suporte da brincadeira, é a ação que a criança desempenha ao brincar.
Portanto, brinquedo e brincadeira estão relacionados diretamente à criança
(sujeito) e não ao jogo em si (KISHIMOTO, 2002).

4.6 Educação Física e ludicidade

O professor pode fazer o uso de jogos, brincadeiras, histórias e outros


artifícios para que, de forma lúdica, a criança seja desafiada a pensar e a resolver
situações. O lúdico pode e deve ser utilizado como uma estratégia de ensino e
aprendizagem (SANTOS, 2002).
O professor pode utilizar a brincadeira para facilitar conteúdos teóricos e
conseguir ensinar e sensibilizar o aluno sobre a importância dessa atividade para
sua aprendizagem e desenvolvimento físico, intelectual e social.
O jogo tem se tornado cada vez mais importante no processo de ensino-
aprendizado, deixando de ser um simples divertimento para se tornar essencial
na transição do aluno entre a infância e a vida adulta. Alguns autores afirmam
que o jogo infantil transforma a criança graças à imaginação e ao seu objetivo
produzido socialmente.
O jogo e a brincadeira estão presentes em todas as fases da vida do ser
humano, fazendo com que a ação lúdica dessas atividades seja um componente
indispensável na relação entre as pessoas e possibilita despontar a criatividade.

46
Antunes (2003) diz que, com as brincadeiras, a criança se envolve no jogo
e sente a necessidade de partilhar com o outro, mesmo que seja como
adversário, a parceria/rivalidade é um estabelecimento de relação. Essa relação
expõe as potencialidades dos participantes, afetando as emoções, colocando em
prova as aptidões e testando os limites.
Quando está brincando ou jogando, a criança desenvolve as capacidades
indispensáveis para sua futura profissão, tais como: atenção, afetividade,
concentração, entre outras habilidades psicomotoras.

4.7 Esportes e a dança nas aulas de Educação Física

A escola adotou o esporte como sendo sua única estratégia de ensino e


esta é uma constatação fácil de se perceber em todas as instituições escolares,
tendo ela ou não estrutura para praticar as modalidades esportivas. A Educação
Física tem lançado mão de um amplo leque de objetivos, como o
desenvolvimento do sentimento de grupo, a cooperação, dentre outros
(BRACHT, 1992).
O objetivo da escola nas aulas de Educação Física, atualmente, é apenas
o ensino-aprendizado de esportes, transformando a corrida e a ginástica em
aquecimento, assim como transformou os jogos populares em jogos pré-
desportivos. O esporte passou as ser o conteúdo hegemônico dessa disciplina.

Curiosidade
Os sentidos, como o criativo e o comunicativo, por exemplo, os quais são
desenvolvidos em outras atividades de movimento, deixam de ser explorados
quando o conteúdo é somente o esportivo.

A função do professor de Educação Física, portanto, é a de promover ao


aluno o entendimento dos vários sentidos que os jogos esportivos possam ter, a
resolução de conflitos que possam surgir, ajudar os alunos a compreender e até
mesmo adaptar regras. É necessário ensinar e discutir o que acontece no
esporte, como, por exemplo, a questão política dos boicotes olímpicos e os
ídolos esportivos.

47
Reflita
Porcher (1977) levantou uma questão a respeito do esporte na Educação Física:
será se é possível compreendermos nosso corpo e nossa expressão somente
com a cultura esportiva?

Para o autor, parece que não; falta aos professores adquirirem novas
formas didáticas de ensinar o esporte, em que abordem teoria (cognitiva, social
e cultural) e prática. Falta também introduzirem novas modalidades esportivas,
os diferentes tipos de dança e as atividades expressivas.
Nas escolas, o ano letivo é dividido em bimestres letivos e, normalmente,
no 1.º bimestre é ensinado o futebol; no 2.º, handebol; no 3.º, basquetebol; no
4º, voleibol. De acordo com Betti (1992), se essa programação é cumprida, os
alunos conseguem, dentro do ano letivo, ver as quatro modalidades, mas o
problema é quando ela é repetida para todos os alunos independentemente da
faixa etária ou quando ela se repete todos os anos escolares.

Reflita
Surgem algumas questões, tais como: em que ficam as outras modalidades,
como, por exemplo, a dança de salão, a capoeira, a ginástica aeróbica a
musculação, a ginástica artística, o folclore e o atletismo?

De acordo com Betti (1992), isso acontece porque alguns professores têm
o receio de mudar, com medo de assumir alguma disciplina que não tenham
conhecimento do conteúdo e, dessa forma, trabalham com o que têm mais
afinidade. Outro motivo é que podem argumentar que a escola não tem espaço,
material apropriado ou ainda acham que os alunos podem não querer aprender
outras modalidades.
A questão do espaço nas escolas é um assunto um pouco delicado, pois
várias delas não dispõem de espaço ideal para a prática de atividade física. O
professor não pode se prender a um espaço físico ideal, ele deve se adaptar a
dar aula no espaço que tem. E o mesmo acontece em relação aos materiais, pois
muitas escolas não têm um orçamento que consiga manter materiais caros

48
disponíveis para as aulas, por causa da pouca durabilidade, como, por exemplo,
as bolas.
Caso a escola não disponha de recursos para conseguir os materiais para
cada modalidade esportiva e tenha somente bolas de voleibol, as outras
modalidades não serão trabalhadas sem problemas. Mas existem modalidades
que não necessitam de material específico. Um exemplo é a dança de salão,
pois para sua realização é necessário apenas um espaço e um gravador/rádio.
O professor não precisa conhecer todas as danças existentes, o que seria
impossível, esse tipo de aula pode ser realizado até mesmo com a participação
dos alunos, em que eles podem contribuir com um passo ou outro de dança.

Mídias
Assista ao vídeo a seguir em que professores de escolas públicas relatam como
eles driblaram imprevistos para transformar as aulas de Educação Física na
escola onde atuam. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v
=nEAeWWoukUo

4.8 O jogo competitivo e a Educação Física escolar

Competir, de acordo com Antunes (2003), significa enfrentar desafios e


demandas que podem, conforme muitos aspectos individuais e situacionais,
representar uma considerável fonte de estresse para os alunos, dependendo de
seus atributos físicos, técnicos e psicológicos.
Normalmente o termo competição se refere à ocasião em que o indivíduo
tem a oportunidade de demonstrar seus atributos, seja em um jogo, em uma
prova ou em confronto entre dois ou mais competidores.

Vocabulário
Competição: em sua forma mais simples de interpretação, a competição pode
ser considerada como o momento em que indivíduos ou equipes se confrontam
para buscar o mesmo objetivo: a vitória.

49
Qualquer que seja o nível do aluno ou do esporte a ser disputado, a
competição torna-se um constante desafio, que por, muitas vezes, ou por
características individuais ou situacionais, acaba sendo uma grande ameaça
aluno.
Existe um conjunto de fatores que atuam e podem levar o aluno a um
rendimento adequado ou não, de acordo Betti (1992), pois cabe a eles e aos
professores terem conhecimento desses fatores e dos seus atributos para que
possam lidar com tantas variáveis e mantenham um nível de desempenho que
lhes permita atingir os objetivos determinados, sejam eles coletivos ou
individuais.

Conclusão da aula 4

Concluímos mais uma parte do nosso estudo. Apesar de a dança ser


pouco trabalhada como conteúdo, é preciso continuar avançando, pois ela é um
dos temas que está sempre se inovando na prática de Educação Física. Por esse
motivo é de grande importância que o professor continue se especializando, pois
a realidade educacional não nos permitiu ver além do que já se conhece no
consenso do dia a dia escolar.
Quanto ao brincar e aos jogos, além da interação que eles proporcionam,
auxiliam a desenvolver a memória, a linguagem, a atenção, entre outros fatores
nas crianças. Dessa forma, tanto a dança quanto os jogos e as brincadeiras são
fundamentais para que o professor possa identificar e intervir positivamente nas
dificuldades que as crianças têm, auxiliando-as a uma melhora em suas vidas
dentro e fora da escola.

Atividade de aprendizagem

Descreva com suas palavras sobre brincar e aos jogos, além da interação que
eles proporcionam, como auxiliar a desenvolver a memória, a linguagem, a
atenção.

50
Aula 5 – Interdisciplinaridade e eventos esportivos

Apresentação da aula 5

Caro estudante, nesta aula veremos a importância da interdisciplinaridade


na formação dos alunos e como a Educação Física tem sua participação nesse
processo. Veremos também a importância das competições e o que é necessário
para que possamos realizar um evento esportivo.
Para que ocorra a interdisciplinaridade, não devemos pensar em eliminar
as disciplinas, mas sim torná-las comunicativas entre si, concebê-las como
processos históricos e culturais, além de nos atualizarmos nas práticas do
processo de ensino-aprendizagem.
A competição, principalmente no ambiente escolar, tem gerado muitas
contradições e, consequentemente, afastado possibilidades de debates. Os
polos que alimentam as discussões sobre competições, em diferentes
abordagens, viveram ou vivem reféns da apresentação de seus aspectos
positivos de um lado e de seus aspectos negativos do outro.
A competição é um elemento fundamental do esporte que dá sentido a
sua existência e é nela que a manifestação do esporte se concretiza em sua
plenitude. Desse modo, de acordo com Gomes (2005), qualquer ação que seja
orientada para o ensino e aprendizagem do esporte não está desvinculada da
necessidade de se aprender a competir, isso pode ser aprendido nas aulas de
Educação Física (ensino formal) ou nas escolinhas desportivas (ensino não
formal).

5.1 A importância da interdisciplinaridade na escola

Para Piaget (1981), a interdisciplinaridade é um intercâmbio mútuo e a


integração entre várias disciplinas, tendo como resultado um enriquecimento
recíproco. As disciplinas escolares muitas vezes são divididas em partes fazendo
com que os alunos não consigam perceber a interação entre os diversos
conteúdos trabalhados em cada disciplina, nem a inter-relação entre os
conteúdos da própria disciplina, fazendo com que a aquisição do conhecimento
seja uma experiência escolar fragmentada.

51
A interdisciplinaridade favorece ao aluno reconhecer que os conteúdos
estão articulados e, dessa forma, podem contribuir para seu desenvolvimento,
obtendo um conhecimento integrado, contextualizado, amplo e propulsor de
novas inter-relações.
Os PCNEM (BRASIL, 1999) definem que a interdisciplinaridade auxilia no
processo de ensino-aprendizagem e contribui para que o aluno, ao assumir uma
posição mais participativa, possa atingir os objetivos propostos à educação no
Brasil. A interdisciplinaridade visa, também, ir além da simples justaposição de
disciplinas e ao mesmo tempo diluir delas suas generalidades, por que todo
conhecimento possibilita um diálogo permanente com outros conhecimentos, ou
seja, olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes.
As Diretrizes Curriculares Nacionais sugerem uma gestão centrada na
abordagem interdisciplinar e organizada por eixos temáticos, mediante
interlocução entre os diferentes campos de conhecimento, o qual visa superar o
isolamento das pessoas e o compartilhamento de conteúdo rígidos. As Diretrizes
desafiam os professores, sob o ponto de vista da interdisciplinaridade, a
desenvolverem uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento.

Importante
Segundo Scortegagna e Eckel (2015), existem dois aspectos fundamentais a
serem consideradas a respeito desse assunto que são: o diálogo constante entre
professores e a humildade em aprender sempre, ou seja, uma formação
continuada permanente.

5.2 A Educação Física e a interdisciplinaridade

Zattar Coelho (2013) propõe que a disciplina de Educação Física trabalhe


a interdisciplinaridade. Dessa forma, poderemos valorizar ainda mais essa
disciplina nos aspectos de ensino e aprendizagem.
A Educação Física, por estar em universo mais amplo de atuação,
chamado de cultura corporal do movimento, é uma área rica para o
desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar. Por trazer conteúdos
relacionados à qualidade de vida, ela favorece muito um aprendizado

52
significativo, porque todas as pessoas já trazem em si uma bagagem de
conhecimento importante para que possa ser realizada a interdisciplinaridade.
A autora Fazenda (2001) observa que qualquer trabalho interdisciplinar
deve ir muito além do que simplesmente misturar Geografia, Química,
Matemática e Português, por exemplo. Para a autora, ser interdisciplinar é
tentar formar alguém a partir de tudo que você estudou em sua vida. O
objetivo dessa metodologia é bem maior do que procurar interconexões entre
diversas disciplinas, ela serve para dar visibilidade e movimento aos talentos que
estão escondidos em cada ser humano.
É interessante ressaltar a importância de um ensino integrado que possa
ultrapassar a barreira do conhecimento fracionado e seja incorporado à prática
diária do professor. Por esse motivo, é de suma importância a comunicação entre
os professores de forma contínua, fazendo com que adotem a postura de
educadores interdisciplinares. Essa metodologia fortalecerá o entendimento da
função social do professor e faz com que o aluno se sinta como parte integrante
e importante do processo educativo, em que buscará compreender questões
complexas do dia a dia, por meio da multiplicidade dos enfoques fornecidos nas
aulas.

5.3 A interdisciplinaridade, a inclusão e a diversidade

Vamos considerar estes dois aspectos da educação: a inclusão e a


diversidade. Quando fala-se em inclusão, entende-se que nenhum aluno pode
ser excluído de qualquer aula e é preciso garantir o acesso a todos os estudantes
às atividades propostas. A diversidade complementa o princípio da inclusão,
tendo em vista a proposta de aulas de conteúdos diversificados, como no caso
da Educação Física, que não privilegia apenas algumas modalidades esportivas.
O conceito de inclusão dentro da educação não pode se resumir somente
à introdução de deficientes no sistema educacional, ele se refere a um contexto
mais amplo, em que são englobadas todas as pessoas que experimentam as
barreiras existentes quanto à aprendizagem e à participação (SANTOS, 2003).
A inclusão não pode ser considerada somente como a presença física do
aluno nas aulas, mas sim como uma participação ativa dele nas interações com
os demais estudantes, logo, as intervenções do professor no processo de

53
ensino-aprendizagem garantirão as relações sociais do aluno com o propósito de
manifestar os sentimentos e os conhecimento deste.
Portanto, é importante criar culturas de inclusão que favoreçam o
recebimento do outro não pelo que ele produz ou pelas formas que ele exibe,
mas pelo que ele é, independentemente de suas diferenças.

Importante
É nessa hora que entra a Educação Física, pois ela contribui para a construção
dessas culturas de inclusão em uma prática voltada e orientada para a
reestruturação do olhar para a diversidade.

Quando toda a comunidade escolar busca o mesmo objetivo, o


desenvolvimento do respeito às diferenças, podemos dizer que existe a
interdisciplinaridade. Esse é um grande exemplo de interdisciplinaridade atuando
na escola e lutando pela inclusão.

5.4 Reflexões pedagógicas do esporte na escola

Você já viu no tópico anterior a respeito das contradições que guiaram os


debates das competições escolares até agora, gerando grande impasse para o
debate de melhorias.
Agora você vai conhecer que entre os principais fatores que contribuem
para as contradições dessa discussão está a própria negação da Educação
Física quando analisa-se o número de obras que discutem sobre as competições
no meio escolar, da mesma forma como acontece com a pedagogia do esporte,
que, mesmo reconhecendo o significativo crescimento promovido pelas
principais abordagens atuais, ainda são poucos os autores que se dedicam ao
estudo, seja da teoria ou da prática da competição ou da pedagogia escolar.
Contudo, de acordo com Reverdito e Scaglia (2006), foram encontradas
propostas metodológicas para o ensino e aprendizagem dos esportes, como, por
exemplo, aulas de jogos educativos. Mas nada muito aprofundado no tema até
então.

54
A competição é um elemento fundamental do esporte, justamente por dar
sentido à sua existência e por ser durante ela o esporte se realiza em sua
plenitude. Qualquer ação orientada para o ensino e aprendizagem do esporte,
não está necessariamente vinculada à necessidade de se aprender a competir,
seja nas aulas de Educação Física ou nas escolinhas de esporte (SOUZA, 2001)
Portanto, quando abordamos a temática “competição escolar”, devemos
observar o compromisso dessa área com a educabilidade do sujeito e termos
consciente das suas particularidades e função.
A competição não se encerra nas fronteiras das práticas corporais e
esportivas, mas assume e ultrapassa a plenitude da própria condição humana
ao reconhecer os competidores. De acordo com Souza (2001), a competição
não é boa ou má, ela é o que fazemos com dela. De acordo com o proposto
pelo autor, compreende-se que a competição na aula de educação física é
positiva ou negativa, tudo depende da abordagem utilizada.

5.5 Jogos interclasses

Os jogos interclasses são eventos realizados e promovidos entre turmas


e séries dentro do âmbito escolar. Cada escola detém particularidade na
organização do evento, o qual varia de acordo com o espaço, recursos
financeiros, materiais e calendário disponíveis.
De acordo com Paes (2001), uma das principais dificuldades relacionadas
à manifestação do esporte escolar são as dúvidas quanto à sua função
educacional, principalmente pelo fato de não se perguntar para quem é o
esporte e pela falta de um enfoque educativo claro. Essas dúvidas estão
geralmente relacionadas ao modelo de competição esportivizada, reproduzida
no interior da escola, resultando em sérias críticas ao esporte escolar.
Na tentativa de reproduzir nas escolas o modelo de esporte de
rendimento, no qual se depara com uma série de fatores que não permitem seu
inteiro desenvolvimento, acaba sendo sustentada apenas uma atividade
esportivizada, com um fim em si mesmo.

55
Jogos interclasses de futebol
Fonte: acervo do autor (2020).

O problema desse modelo está geralmente associado à visão do adulto


em detrimento dos anseios do próprio aluno, tendo que se adaptar aos padrões
estruturais e organizacionais de grandes eventos esportivos.
Para Souza (2001), nesse modelo existe uma grande ênfase na
competição, tendo como mecanismo avaliativo a vitória, acarretando em
desgaste e intrigas entre as turmas e os alunos.
Outro tipo de situação negativa que pode acontecer é de os alunos
utilizarem as aulas de Educação Física como horário de treinamento das
equipes. Os protagonistas dos eventos são tratados de forma exclusiva, quase
sempre sendo reduzidos a um grupo seleto, acarretando a eliminação de
qualquer participação de outros alunos, isto é, aqueles que não integram as
equipes participantes são excluídos dessas aulas e do evento esportivo.
Outro grande problema que pode surgir é a importância dada às aulas de
Educação Física e os eventos relacionados aos seus conteúdos que ficam quase
sempre fora do Projeto Político-Pedagógico da escola e tratados como atividades
extracurriculares.
Paes (2001) afirma que é necessário transformar o cenário em que estão
as competições escolares, especialmente no interior das escolas. É preciso uma
reflexão sustentada na ação para ser capaz de romper com esse modelo obsoleto
de competição.
É muito importante que você saiba diferenciar que o problema não está
diretamente nas competições esportivas, mas nas mãos daqueles que a partir
dela estabelecem seus fins, pois, por meio dos eventos esportivos, é possível

56
promover a restauração do humano, em face de construirmos um mundo melhor,
em cima das virtudes educativas existentes na competição pedagógica.

5.6 Realização de eventos esportivos de caráter educacional

De acordo com as Diretrizes Gerais (2016), quando falamos em eventos


esportivos devemos pensar na sua estruturação e desenvolvimento, seja ela de
abrangência local, regional, nacional ou internacional. Ao organizar a competição
ou quando vamos viabilizar a participação de delegações, devemos também
contribuir para o desenvolvimento da política de esporte estudantil, articulando
as ações voltadas para a formação esportiva (múltiplas vivências), iniciação
desportiva e competições estudantis de forma assistemática de educação e de
calendários esportivos oficiais, com foco em alcançar o desenvolvimento integral
do indivíduo e a sua formação para a vivência esportiva, evitando a
hiperseletividade e a hipercompetitividade dos participantes.
Para compor o evento esportivo, devemos pensar em alguns itens e
fatores essenciais para a realização dele. Saiba quais são esses itens a seguir:

➢ Recursos humanos;
➢ Material Esportivo;
➢ Material de consumo;
➢ Locação do espaço físico;
➢ Locação de equipamentos;
➢ Hospedagem;
➢ Alimentação;
➢ Arbitragem;
➢ Premiação;
➢ Passagens rodoviárias e aéreas nacionais ou internacionais;
➢ Locação de transporte para pessoas, equipamentos e outros, os
quais são necessários à prática das modalidades esportivas
envolvidas na competição.

57
Devem ser elaborados documentos de acordo com a portaria
Interministerial n. 507/2011, conforme descritos a seguir:

➢ Projeto de convênio: constituição formal e associada de: (a)


proposta de trabalho de acordo com art. 19 da Portaria
Interministerial MPOG/MF/CGU n° 507, de 24 de novembro de
2011, (b) plano de trabalho conforme o art. 25 da Portaria
Interministerial MPOG/MF/CGU n° 507, de 24 de novembro de
2011, (c) termos de referência de acordo com o art. 1°, § 2°, Inciso
XXVI da Portaria Interministerial MPOG/MF/CGU n° 507, de 24 de
novembro de 2011, (d) documento técnico de projeto e (e)
documentação obrigatória que será realizada, processada e
registrada junto ao Sistema de Convênios e Contratos de Repasse
do Governo Federal – SICONV;
➢ Capacidade técnica e operacional do proponente: é a
demonstração da capacidade que propõe a realizar o projeto sob
seus aspectos técnicos e finalísticos, via declaração, com
referência e possibilidade de todos os meios de prova, com
destaque às qualidades, habilidades, expertises, experiência,
estrutura e atributos específicos do proponente que o potencializa
como parceiro apto para o alcance do objeto proposto;
➢ Termo de referência: Se trata do documento que é apresentado
quando o objeto do convênio envolver aquisição de bens ou
contratação de serviços, este deverá conter elementos capazes de
propiciar a avaliação do custo pela Administração, mediante o
orçamento detalhado, deve conter pelo menos três (03) propostas,
considerando os preços praticados no mercado da região em que
será executado o evento, a definição dos métodos e o prazo de
execução do objeto;
➢ Avaliação do custo: deverá conter a metodologia empregada pela
Administração Pública Federal para análise das despesas a ser
suportada pela Administração na aquisição dos bens ou na
contratação dos serviços, tendo como princípios a legalidade,
competitividade, a economicidade, a vantajosidade, a efetividade,

58
a razoabilidade, a regionalidade, a especificidade da política e a
tempestividade;
➢ Documento técnico de projeto: devem ter informações técnicas,
administrativas, sociopolíticas e pedagógicas, prestadas de forma
objetiva, conforme o padrão proposto pelo concedente, que tem
como objetivo estabelecer um resultado mínimo do cenário de
intervenção do projeto, bem como proposição pontual dos eventos,
dos calendários e das atividades a serem desenvolvidas no escopo
de metas e etapas do plano de trabalho;
➢ Banco de projetos: Este é um instrumento de registro e
homologação de projetos de convênio classificados, não
selecionados, aptos para a execução e não celebrados, em
decorrência de motivo de limite orçamentário, que constituirá
ordem de preferência, conforme classificação, em um possível
processo de celebração reaberto pelo concedente, enquanto válida
a ata de publicação do banco de projetos.

Para realizarmos um evento esportivo, a organização deve corresponder


a todo um processo de periodização, especificando a execução do cronograma
de atividade em cada período em que será realizado.
A organização da competição não pode ter como objetivo ela por si só,
mas ter como fim a educação. Por isso ela não tem início apenas quando o
árbitro apita para começar ou encerrar uma partida, ela tem início desde a
preparação do evento, marcando o sentido de congraçamento e
responsabilidade entre os alunos, passando por uma série de manifestações e
relações sociais e culturais, garantindo a participação ativa e motivacional de
todos os envolvidos.

Vocabulário
Congraçamento: ato ou efeito de congraçar-se; ato ou resultado de conciliar;
conciliação; reconciliação.

59
A organização desses eventos deve levar em consideração as
necessidades da comunidade em que a escola está localizada. Pois, desse
modo, teremos maior participação da comunidade em geral e de outras
disciplinas, como, por exemplo, ao levar os jogos internos para fora da escola,
trazemos a comunidade para dentro dela, isto é, vai além do jogar por jogar.

Conclusão da aula 5

Concluímos mais uma aula. Aqui, pudemos aprender que a


interdisciplinaridade oferece uma nova postura mediante o processo de ensino-
aprendizagem, uma mudança nas atitudes quanto à busca do contexto do
conhecimento global, rompendo com os limites das disciplinas. Para que isso
ocorra é necessário que o professor assuma uma postura interdisciplinar.
A escola está dando aos seus professores de Educação Física a
oportunidade de nivelar, em importância, sua disciplina às outras do ambiente
escolar, uma vez que dentro do processo interdisciplinar todos os saberes são
responsáveis pela formação dos alunos.
Quanto aos eventos esportivos, é na escola que encontramos a maior
manifestação das práticas esportivas, por isso ela não pode ocultá-los. Um
grande problema é que as escolas ainda não acreditam na possibilidade e função
educativa do esporte, sobretudo da competição.
A escola não pode negar o esporte nem a competição, porque ambos
emanam e compõem a essência complexa de um fenômeno sociocultural. Se
queremos ensinar nossos alunos a praticar o esporte em sua plenitude, devemos
também ensiná-los a competir. Dessa forma, a competição não é nem boa nem
ruim, ela é aquilo que especificamos para seus fins, nos tornando responsáveis
pelo ambiente pedagógico que satisfaça às necessidades das crianças e dos
adolescentes.

Atividade de aprendizagem

A escola está dando aos seus professores de Educação Física a oportunidade


de nivelar, em importância, sua disciplina às outras do ambiente escolar. De
acordo com o que foi estudado nesta aula, descreva sobre a oportunidade e
importância da disciplina de educação física no ambiente escolar.

60
Aula 6 – Metodologia do corpo em movimento. As questões relacionadas
com o crescimento cognitivo

Apresentação da aula 6

Prezado estudante, nesta aula veremos a importância das aulas de


Educação Física no desenvolvimento cognitivo das crianças e como o professor
pode avaliar o desenvolvimento de seus alunos.
Antes de aprofundamos nosso conhecimento, é importante que você
saiba que, a partir do momento em que a escola existe como instituição, diversos
programas pedagógicos foram propostos. Betti (1992) diz que apesar da grande
variedade de programas que encontramos, eles refletem diferentes funções da
escola ao longo de sua história.
Atualmente a escola tem papel fundamental no desenvolvimento e na
questão social das crianças, devido à necessidade que as famílias têm de
compartilhar com as instituições os cuidados de seus filhos; outro ponto
importante da escola é a formação política dos cidadãos.

6.1 O conhecimento específico abordado na Educação Física

Para os que estão envolvidos com a educação, o reconhecimento geral


dessas funções já ditas em outras aulas não são tão simples, pois surgem
questões, tais como: “Qual é o objetivo desse ensino? “Acumular conhecimentos
úteis?”; “Úteis para quem e para quê?”; “Aprender a aprender?”; “Aprender a
controlar, a repetir?”. Essas questões têm sido tema central de diversas
discussões, tanto acadêmicas quanto entre profissionais da educação.
Quando observamos a realidade da Educação Física na escola, de acordo
com Tani, Manoel, Kokubun e Proença (1988), ela constata como um
componente curricular sem uma clara definição de sua função no contexto
educacional. Isso tem gerado uma prática pedagógica sem sua especificidade
devidamente caracterizada, por esse motivo, tem a dificuldade de interagir com
outras disciplinas do currículo.
Apesar de a Educação Física ser instituída legalmente como um
componente curricular e ser também reconhecida como fundamental para o

61
desenvolvimento do aluno, ela parece estar presente na escola apenas como
uma simples atividade.
O posicionamento básico da disciplina de Educação Física é de que existe
um conhecimento teórico e prático sobre a motricidade humana, tendo como
objetivo otimizar as possibilidades e potencialidades do aluno para se
movimentar. Esse conhecimento deverá capacitar o aluno para a regulação,
interação e transformação em relação ao meio em que vive.
Quando analisamos a natureza desse conhecimento, convém esclarecer
o significado dos termos regulação, interação e transformação empregados
nesse contexto.
De acordo como Freudenheim (1993), quanto à regulação, nós estamos
nos referindo a um duplo desafio na motricidade humana que são: operar
variáveis comportamentais e fisiológicas que constituem os sistemas
fundamentais para a qualidade de vida no sentido de equilíbrio homeostático, ou
seja, se transformar em direção ao que corresponde uma referência vital, operar
essas variáveis em direção às transformações que asseguram formas de
interação a uma referência variável no processo de desenvolvimento.
A interação e a transformação podem ser caracterizadas quando, por
exemplo, as funções motoras são fundamentadas na compreensão de
princípios biomecânicos que controlam a postura corporal. Vamos ver este
exemplo: Carregar um objeto pesado bem próximo de seu corpo em vez de
levantá-lo distante dele tem a finalidade de minimizar a sobrecarga para a
coluna, pois dessa forma o braço de alavanca será menor quanto mais perto o
braço estiver do corpo.
Daolio (1992) descreve que o esporte tem se constituído em um fenômeno
social de proporções mundiais, o que quer dizer que o aluno pode não gostar de
praticar determinadas expressões da cultura do movimento, como jogo, esporte,
dança e ginástica, mas ele pode ter sua opinião formada após conhecê-los, ou,
ainda, mesmo não praticando, poderá ser um expectador com capacidade de
apreciar essas manifestações que compõem a cultura de movimento.
Dentro do que foi considerado, é possível discutirmos a respeito das
dimensões: procedimental, simbólica e atitudinal. De acordo com Betti (1992), a
dimensão procedimental nos diz respeito ao saber fazer, a capacidade de se
mover em uma diversidade de atividades motoras crescentemente complexas

62
de forma mais efetiva e graciosa. Nessa concepção, o aprender a mover-se
envolve atividades como tentar, praticar, pensar, tomar decisões e avaliar, ou
seja, significam muito mais que do que respostas motoras estereotipadas.
Agora, quando falamos em dimensão atitudinal, estamos nos referindo a
uma aprendizagem que implica em utilizarmos do movimento como meio para
chegarmos a um fim, que não precisa, necessariamente, estar relacionado a uma
melhora na capacidade de se mover efetivamente. O movimento é, para o aluno,
um meio de aprender sobre seu potencial e suas limitações, além de aprender
sobre o meio ambiente.
O aluno pode se expressar pelo gesto, som, mímica, jogos e perceber que
o corpo é um instrumento de comunicação, ou seja, por meio dessas explorações
e observações poderá estabelecer comparações com outras crianças, adultos
animais, construindo seu autoconceito e compreensão da realidade.

6.2 A Educação Física e a pré-escola

De acordo com Cisneiros (1995), todas as crianças, independente do


sexo, raça, cultura ou potencial físico têm direito a oportunidades que maximizem
o seu potencial e o seu desenvolvimento. Dentro dessa premissa, o movimento
tem papel fundamental no desenvolvimento humano (cognitivo, psicomotor,
afetivo-social), e a Educação Física na escola deve considerar todos esses
aspectos como aspectos independentes e interdependentes.
O currículo de Educação Física pré-escolar implica em estruturação de
um ambiente que possa auxiliar as crianças a incorporar a dinâmica em
solucionar os problemas, a descoberta nos domínios da cultura do movimento.
Sendo assim, são propostas algumas metas educacionais, confira a
seguir quais são elas:

➢ Competência: serve para auxiliar o aluno a utilizar suas próprias


habilidades, conhecimentos e potencial em uma interação positiva
com desafios, dúvidas, pessoas e os problemas de seu ambiente;

➢ Individualidade: serve para auxiliar o aluno por meio de um


funcionamento autônomo a tomar decisões, desenvolver

63
preferências, se arriscar ao fracasso, estabelece uma dinâmica
independente para resolver problemas e aceitar auxílio sem o
sacrifício da independência;

➢ Socialização: serve para auxiliar o aluno a desenvolver sua


capacidade de se comprometer nas relações de mutualidade com
outras pessoas.

Piaget (1985) identifica uma arquitetura do conhecimento que nos facilita


a compreensão dos mecanismos que controlam a aquisição desse
conhecimento, pois se o aluno estiver diante de um problema específico, o
conhecimento que engloba condutas sensório-motoras até representações
mentais será ativado. Para o autor, a aquisição desse conhecimento se dá por
meio de três tipos de esquemas: o presentativo, o procedural e o operatório.
Os presentativos estão interligados às propriedades permanentes e
simultâneas de objetos comparáveis, como, por exemplo, os quadrados e bolas.
Englobam, também, grande número de esquemas sensório-motores, como, por
exemplo, reconhecer e alcançar uma bola em movimento durante uma situação
de jogo ou um objeto suspenso em um fio.
Outra característica dos esquemas presentativos é que eles podem ser
facilmente generalizados e abstraídos de seu contexto, isso implica diretamente
nos esquemas sensório-motores, uma vez que o esquema de agarrar uma bola
será utilizado em várias outras situações com diversos tipos e tamanhos de
bolas.
Piaget (1985) diz também sobre os esquemas procedurais que constituem
as ações sucessivas e servem como meio para alcançar um fim. Esses
esquemas, ao contrário dos presentativos, são difíceis de abstrair de seus
contextos, devido a serem relativos a situações, sejam particulares ou
heterogêneas, portanto, específicos. Eles têm a função do fazer, do êxito, da
ação eficiente.
Os esquemas operatórios integram e sintetizam os dois tipos de
esquemas anteriores constituindo-se em um terceiro. Este tipo de esquema
organiza o objeto dando forma a ele e o estruturando por meios regulados e
gerais que buscam garantir um objetivo.

64
6.3 Orientações didáticas na aula de Educação Física

Para que o desenvolvimento das habilidades básicas de locomoção,


manipulação e equilíbrio sejam construídos com base em um acervo motor de
ampla diversificação de movimentos, o professor deverá organizar as tarefas de
aprendizagem considerando os aspectos do movimento, segundo Daolio (1992),
como:

➢ Espaço:
➢ Direção: frente, atrás, lado, subindo, descendo;
➢ Níveis: alto, médio, baixo;
➢ Planos: sagital, frontal, horizontal;
➢ Extensões: pequena, grande;
➢ Tempo: lento, rápido, acelerando, desacelerando;
➢ Esforço: forte, fraco;
➢ Objetos: corda, bola, arco, jornal etc.;
➢ Capacidades físicas: resistência, força, flexibilidade, velocidade;
➢ Núcleos do movimento: articulações de ombro, joelho, cotovelo
etc.;
➢ Relacionamento: duplas, trio, grupo.

Para Tani, Manoel, Kokubun e Proença (1988), mesmo que o currículo


esteja devidamente organizado, resultando em um excelente programa, terá
pouca eficiência se o ambiente de aprendizagem não for devidamente
organizado e se não forem tomados os devidos cuidados no planejamento e
implementação das aulas.

6.4 Corpo em movimento, concepções e prática na educação infantil

A importância do movimento na educação da criança pequena se torna


evidente quando examinamos o Referencial Curricular Nacional para educação
Infantil (1998), porque é no movimento que a criança se expressa e se comunica
com o mundo, por meio das expressões corporais e faciais, ao empregar o corpo
como uma ferramenta de interação.

65
Quando consideramos que o movimento está integrado ao conjunto das
atividades da criança por estar vinculado à expressão, ou seja, permite os
desejos e os estados íntimos e necessidades se apresentem, destacamos que o
corpo da criança tem papel fundamental durante a infância, justamente por ser
umas das linguagens de expressão e vinculação dela com o mundo.
Na imagem a seguir, crianças participam de circuito de Educação Física,
um dos exemplos de atividades para o professor trabalhar a fim de estimular a
motricidade e a expressão corporal dos alunos.

Crianças participando de circuito de Educação Física


Fonte: acervo do autor (2020).

Com base nessa informação, é preciso que os profissionais de Educação


Física tenham atualizações constantes em sua área de conhecimento, a fim de
que estejam capacitados para proporcionar às crianças experiências
psicomotoras que mostrem a elas a importância do corpo, do movimento, da
expressão e do afeto (VAZ; TAVARES, 2011).
Para Arribas (2004), é necessário que exista uma intencionalidade
educativa que exija cuidado na elaboração dos planejamentos e que dê uma
abertura aos interesses e iniciativas das crianças. Deve ter também
envolvimento dos adultos para direcionar as atividades, estimulá-las em prol do
conhecimento do corpo e da motricidade como relevantes, em qualquer proposta
educativa, em todas as áreas de aprendizagem e desenvolvimento.
Dessa forma, deve existir uma organização proveniente dos professores
ao refletir e considerar em seus planejamentos o movimento como conteúdo de
relevância na rotina educacional das crianças, envolvendo a família e outros
contextos que possam enriquecer e oportunizar outras vivências motoras,

66
colaborando para o desenvolvimento integral da criança e proporcionando a elas
aprendizagens significativas.
Arribas (2004) também destaca que tais experiências precisam ter
finalidades voltadas a acompanhar, orientar e estimular o desenvolvimento
psicológico e motor do aluno por meio de diferentes experiências educativas que
levem a um desenvolvimento integral.

6.5 Participação da Educação Física no desenvolvimento cognitivo

A Educação Física é uma atividade realizada de forma dinâmica que


contribui para a formação ampla do indivíduo, tanto em seu aspecto social
quanto no desenvolvimento individual, por meio de atividades lúdicas que lhes
proporcionam equilíbrio entre corpo, mente e espaço. De acordo com Arribas
(2004), a Educação Física desenvolve as habilidades motoras de qualquer
sujeito, além de manter elementos terapêuticos, sejam eles emocionais ou
físicos.

Mídias
Assista ao vídeo a seguir, no qual você vai poder ver um exemplo prático de
aplicação didática do ensino de desenvolvimento cognitivo da criança na aula de
Educação Física. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=Nj
7zKeZQ9eo

O trabalho pedagógico desenvolvido dentro dessa disciplina deve estar


direcionado para a construção da cidadania do indivíduo, formando elementos
críticos e participativos dentro do meio social em que estão inseridos.

Curiosidade
O objetivo principal deve ser de que o aluno adquira a qualificação socio-
histórico-cultural necessária para desenvolver uma racionalidade crítica,
autônoma e participativa.

67
É necessário existir uma relação teórico-prática na metodologia de ensino.
Durante muito tempo, pesquisadores têm discutido qual seria a melhor definição
para essa disciplina. Foi pensado em Educação do físico, mas ela não se limitava
apenas na educação do corpo físico, músculos e ossos. Os pesquisadores
acreditavam que essa definição negava valores importantes, como o respeito, a
moral, a ética, a cidadania, entre outros.
Vieram novas pesquisas que trouxeram a definição de “educação pelo
físico” e nelas os pesquisadores analisavam o desenvolvimento educacional do
aluno. Cisneiros (1995) diz que não seria somente o físico o responsável pela
educação, mas também era necessário considerar a capacidade de raciocínio
que ocorre no momento da atividade física. Anos depois surgiu o termo
“Educação Física” cujo significado é “corpo em movimento”.
Daolio (1992) explica que quando o professor planeja sua aula, ele deve
sempre levar em consideração a bagagem de conhecimento da criança; a reação
do grupo diante da atividade, como aspecto social; procurar respeitar cada aluno
como um ser único, em que cada um tem suas limitações e particularidades; e
sempre estimular os estudantes para que eles queiram aprender mais e mais com
as aulas de Educação Física, colaborando, assim, para os aspectos psicológicos.
O professor deve sempre se lembrar que tais aspetos devem estar em
constante sintonia, pois a aula, que para muitos pensam ser uma perda de
tempo, é de fundamental importância, principalmente para crianças que estão
em fase de desenvolvimento, porque podemos aliar a Educação Física à
educação moral e intelectual, formando um indivíduo como um todo.

6.6 O desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento da criança

Piaget (1985) explica que o desenvolvimento de uma criança pode e deve


ser acompanhado normalmente como uma das estratégias de prevenção de
saúde, tanto na infância como na adolescência. Podemos observar esse
desenvolvimento em vários eixos, tais como: motor, linguagem, social, afetivo,
adaptativo e também o cognitivo. A diferença entre eles ou o atraso em um ou
mais esses eixos deve chamar a atenção e direcionar a criança para medidas de
intervenção precoce.

68
Nesta aula, vamos focar nosso estudo no desenvolvimento cognitivo.
Contudo, é importante que você saiba, primeiro, o que é cognição. A definição
de cognição é qualquer coisa que esteja ligada ao cérebro.

Mídias
Assista ao vídeo a seguir, você vai ver mais detalhes a respeito de como Piaget
explica o desenvolvimento cognitivo. Disponível no link: https://www.youtube.
com/watch?v=_CGu08gXTC4

Já a cognição se refere a um conjunto de habilidades cerebrais ou mentais


necessárias para a obtenção de conhecimento do mundo. Essas habilidades
envolvem pensamento, abstração, linguagem, memória, atenção, criatividade,
capacidade de resolução de problemas, entre outras funções.
De acordo com Vaz e Tavares (2011), desenvolvimento cognitivo é
entendido como um processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimento de
mundo ao longo da vida. Adquirir conhecimento ao longo da vida equivale dizer
que estamos sujeitos a adaptação ao meio o tempo todo. Então, não é errado
dizer que estamos nos desenvolvendo cognitivamente todos os dias, enquanto
vivemos.
De acordo com Piaget (1985), cognição significa processar informações
com a finalidade de perceber, integrar, compreender e responder
adequadamente aos estímulos do ambiente, que levará o indivíduo a pensar e a
avaliar como cumprir uma atividade ou tarefa social. Para que isso seja
processado, é necessário o envolvimento de diversas áreas cerebrais, isto é,
fontes de determinadas funções em conjunto que expressam uma habilidade
específica.
O desenvolvimento cognitivo depende do envolvimento de diversas outras
funções para a boa desenvoltura delas. Viver em um ambiente biológico e afetivo
saudável é de suma importância para o desenvolvimento da criança.
Disponibilizar materiais e espaços para fazer com que a criança se
aproprie de estímulos cognitivos é primordial. Dessa forma, podemos observar
como a criança reage e como ela adquire habilidades ao ser estimulada, nos
permite também avaliar como estão suas competências e ao mesmo tempo se

69
pode ou não ter algum transtorno que está atrapalhando seu desenvolvimento
(VAZ; TAVARES, 2011).

Conclusão da aula 6

Concluímos mais uma parte do nosso estudo. Você viu nesta aula a
importância da Educação Física no desenvolvimento cognitivo da criança; qual
o papel do professor dessa disciplina no aprendizado do aluno; e quais
estratégias devem ser adotadas na parte pedagógica da Educação Física.

Atividade de aprendizagem

Nesta aula foi visto sobre a importância da educação física no


desenvolvimento cognitivo da criança. Qual o papel do professor e quais
estratégias?

Aula 7 – Planejamento da Educação Física escolar

Apresentação da aula 7

Nesta aula, você vai ver a importância do planejamento para as aulas de


Educação Física; como o professor deve trabalhar na elaboração de suas aulas
para estar em sintonia com a escola; como devem ser realizadas as avaliações
das aulas de Educação Física.
As aulas de Educação Física estão quase que inteiramente voltadas para
as práticas esportivas, tendo como principal foco as suas técnicas. Sendo a
criança um ser sociocultural, podemos observar que essas aulas acabam
fragmentando a formação da criança, deixando de lado fatores essenciais, como
você já viu nas aulas anteriores, tais como: respeito mútuo, cooperação e
afetividade (BRACHT, 1992).

70
7.1 Atitudes e valores da Educação Física escolar

Ao longo de sua história, a Educação Física tem sido usada como um


instrumento ideológico e de manipulação. Esteve estreitamente ligada às
instituições militares e à classe médica, tendo esses vínculos como
determinantes para a concepção da disciplina e suas finalidades.
Ghiraldelli Júnior (1991) diz que a Educação Física visa à educação do
corpo, e a construção de um físico saudável e equilibrado organicamente esteve
ligada aos médicos higienistas que buscavam modificar os métodos de higiene
da população. Por volta dos anos 50 houve um esforço de tornar a Educação
Física uma disciplina comum aos currículos escolares.
A Educação Física pedagogicista surge, então, para questionar e a
sociedade da necessidade de se encarar essa disciplina não somente como uma
prática capaz de promover a saúde, mas também como aspecto educativo.
A partir dos anos 70, surgiram novas tendências na Educação Física
escolar, elas eram resultadas da junção de diversas teorias psicológicas,
sociológicas e filosóficas. A partir disso, surgiu a definição da psicomotricidade
nessa área, responsabilizando-a pelo desenvolvimento da criança, por meio de
processos cognitivos, afetivos e psicomotores que buscavam garantir a formação
integral dela.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,1998) definem que a
Educação Física se torna uma forma de ensinar Matemática, Língua Portuguesa,
sociabilização, entre outros. Portanto, ela deixa de ter o foco no ensino técnico
do esporte e passa a não ter um conteúdo único.
É importante você não esquecer o que já foi abordado em aulas anteriores
que o movimento é considerado o principal meio e fim da Educação Física,
estando presente durante as aulas com outras aprendizagens, no sentido social,
cognitivo e afetivo, tendo como consequência a prática das habilidades motoras
(GHIRALDELLI JÚNIOR, 1991).
Betti (1992) afirma que a Educação Física, assim como outras disciplinas,
tem a responsabilidade de concretizar o processo de formação de valores e
atitudes.

71
7.2 Os professores e a escola

Importante
É sabido que toda instituição de ensino não é somente um instrumento de
organização, regulação e controle social, mas também um mecanismo de
regulação e de equilíbrio de personalidade.

A escola tem a responsabilidade de promover a socialização dos


indivíduos, pois é constituída de regras e normas estabelecidas, e deve
proporcionar aos alunos a oportunidade de questionamentos em seu contexto
geral.
O responsável em desenvolver a cidadania na escola é o professor, por
que ele, dentro da instituição, tem mais contato com os alunos, dispõe de vários
meios de reforços, estabelece um vínculo afetivo que serve de modelo e de
referência para o estudante.
O professor tem os conteúdos específicos de cada disciplina como objeto
da discussão ética e dispõe de espaço para administrá-la, ou seja, ele representa
as normas e expectativas que existem sobre os alunos na escola (BETTI, 1992).
Bracht (1992) afirma que o docente é um fomentador de valores e o elo
entre a forma de ensino e o conteúdo. Ele não é apenas autoridade adulta, mas
também o guia para aquisição de conhecimento. Portanto, é preciso que o
professor tenha iniciativa para proporcionar situações que, dentro de seu
planejamento, aproveite as oportunidades para educar, formar e desenvolver
valores e atitudes consideradas desejáveis.

Mídias
Assista ao vídeo da Filósofa Viviane Mosé falando a respeito dos diferentes
papéis da escola, do professor e do aluno na educação. Disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=EigUj_d5n80&t=2005s

72
7.3 Reflexões sobre a Educação Física e suas ações

Franco (1994) destaca que a escola está ligada ao mundo do trabalho,


mas não em relação linear. Seria limitante o papel da escola, se fosse concebido
a ela apenas a função de “adestramento”, em que o domínio das técnicas
ganharia primazia sobre as atividades voltadas para a formação integral do
aluno.
A Educação Física, de acordo com Daolio (1986), deve ser para o aluno
uma oportunidade de atividade pessoal, que permita a ele um momento em que
perceba seu corpo e possa ser capaz de controlá-lo. Essa disciplina deve
proporcionar a prática de atividades prazerosas que permitam ao aluno a
convivência em grupo e realizem uma aprendizagem global a qual alie o
cognitivo ao afetivo-vivencial.
Correia (1993) destaca que as aulas de Educação Física podem e devem
partir da ideia de um planejamento participativo. O autor considera que as
vantagens são: os níveis de participação e de motivação dos discentes nas
atividades propostas; a valorização da disciplina pelos alunos; a repercussão da
proposta diante de outros grupos de alunos, face ao caráter participativo da
proposta.
Quanto à desvantagem, Correia (1993) diz que existe um desgaste maior
por parte do professor no sentido de este ter que providenciar recursos materiais
e teóricos, diante da necessidade de coordenar diferentes programações em
diferentes turmas. Outro problema a ser mencionado aqui é a limitação
intelectual de alguns professores devido à sua formação e à dificuldade em
encontrar subsídios teóricos para desenvolver discussões sobre as implicações
do movimento nos níveis socioculturais.

Curiosidade
A Educação Física implica na promoção da reflexão do conhecimento
sistematizado; existe um conjunto de conhecimento e de práticas corporais,
assim como uma série de conceitos desenvolvidos que devem ser assegurados.

73
Para Verenguer (1995), o professor de Educação Física deve valorizar os
conteúdos que propiciem aos alunos pensar suas possibilidades motoras e a
influência que recebem no contexto social.

7.4 Dificuldades encontradas pelos professores

Uma das grandes dificuldades que os professores têm encontrado


durante as aulas é a falta de interesse dos alunos. Um dos fatos, atualmente,
que gera esse desinteresse na educação é a indefinição profissional que os
estudantes terão no futuro. A preocupação em investir no futuro, representado
pelo vestibular, tem se tornado uma exigência cada vez maior na sociedade. Por
esse motivo, as expectativas quanto à Educação Física ficam em segundo plano.
De acordo com Franco (1997), o docente não deve se eximir de motivar o
aluno e é preciso que a escola crie uma cultura que a Educação Física seja
valorizada. Melo (1997) mostra que, apesar de ser complexo, existem soluções
para este nível de ensino e nem sempre os esportes são a solução. Podemos
utilizar os jogos em que há a inclusão dos habilidosos e os nem tão habilidosos,
promovendo, então, maior engajamento dos alunos às aulas.
Outro grande problema é a indisciplina dos estudantes, que na maioria
das vezes ameaça a autoridade do professor que, por sua vez, apenas com as
normas e regras da escola não consegue contê-los.
Taille (1996) afirma que “o aluno não tem mais vergonha de ser ignorante”,
fazendo com que esse comportamento seja sinônimo de poder na sociedade
atual. O problema da indisciplina não é tão fácil de se resolver, pois está em jogo
o lugar que a escola ocupa hoje na sociedade, o lugar que a criança, o
adolescente e a moral ocupam. As roupas impróprias para a prática da aula
também são mencionadas pelos autores como uma dessas dificuldades.

Curiosidade
Isso nos sugere dois pontos de análise:

➢ O primeiro: as experiências negativas anteriores têm demonstrado uma


postura de o aluno não querer assumir publicamente uma dificuldade

74
pessoal, ou seja, a roupa, por exemplo, torna-se um escudo do aluno para
as possíveis chacotas dos colegas;
➢ O segundo: a indisciplina é um problema muito maior, que ultrapassa os
limites da escola, mas isso não isenta o professor da responsabilidade
dele, ou seja, de ser responsável pelos alunos e de prepará-los para a
cidadania.

7.5 O planejamento no ensino da Educação Física

O planejamento, de acordo com Luckesi (1994), é a construção


orientadora da ação do professor, que, como processo, organiza e dá direção à
prática coerente com os objetivos a que se propõe. Quando o professor vai
preparar um planejamento, ele deve responder às seguintes questões:

Reflita
Como vou realizar? Com o quê? O quê? Para quê? Para quem?

Para que possamos concretizar a atividade, existe a necessidade de


outros planejamentos, tais como, o Projeto Político-Pedagógico e o projeto
curricular, os quais nortearão a ação do professor de forma coerente e
responsável, antecedendo ao planejamento de ensino propriamente dito.
O planejamento, de acordo com Luckesi (1994), pode ser visto em uma
ótica de, inicialmente, atender às necessidades do homem primitivo quando se
organizava para sobreviver ou quanto das necessidades de organização das
primeiras civilizações, de suas estruturas funcionais, de suas cidades e da
organização da sociedade.
Nérice (1985) diz que para introduzir a questão do planejamento no âmbito
da educação escolar, é necessário abordar diferentes concepções do processo
de planejamento de acordo com cada contexto sócio-político-econômico-cultural
ao longo da história da educação escolar.
O autor referência três fases do planejamento. Vamos a seguir quais são
elas, detalhadamente:

75
➢ Prático: sem grande preocupação formal, em que tem como
objetivo atender a atividades de aula exclusivamente;
➢ Instrumental: está diretamente relacionado a uma tendência
tecnicista de educação, como, por exemplo, solucionar os
problemas de falta de produtividade da educação escolar sem
considerar os fatores sócio-político-econômicos;
➢ Planejamento participativo: busca na resistência o modelo de
reprodução do sistema educacional de valorizar a construção
coletiva, a participação e a formação da consciência crítica a partir
da reflexão sobre a prática transformadora.

Normalmente existem dificuldades dentro do âmbito escolar, em relação


a distinção entre plano e planejamento. Quando se fala sobre planejamento,
entendemos como processo de reflexão, racionalização, organização e
coordenação da ação do professor que visa articular a atividade da escola e a
problemática no contexto social. Quando falamos em plano, o consideramos
como o produto, que pode estar expresso de forma explícita como um registro,
um documento (VERENGUER, 1995).
Diversos autores fazem distinção entre didática e os níveis ou tipos de
planejamento. O planejamento do sistema educacional refere-se às grandes
políticas educacionais, seja em nível nacional, estadual ou municipal. O
planejamento de escola ou projeto educativo (político-pedagógico) da instituição,
o planejamento curricular, é a função de formar progressivamente o currículo em
diferentes etapas, fases, ou por meio de situações que o decidem e moldam.
Portanto, o planejamento de ensino, conforme destaca Luckesi (1994), é o que
mais aproxima a prática do professor da escola.

7.6 Avaliações das aprendizagens dentro da Educação Física

Mídias
Para iniciarmos esse tópico do nosso estudo, assista ao vídeo, nele, professores
de Educação Física falam sobre os tipos de avaliações, a maneira como avaliam

76
e a importância desse processo no aprendizado dos alunos. Disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=vkZt42V8lCM

Quando avaliamos o desenvolvimento de nossos alunos, devemos ter a


necessidade de saber quais são as prioridades dentro dessa avaliação, devemos
defini-las quando concretizamos nossas aulas.
Na avaliação inicial dos nossos alunos, recolhemos informações que, ao
longo do ano, nos permitirão estabelecer de forma concreta essas prioridades
ou objetivos e ajustar de forma sistêmica a atividade para melhorar o
desenvolvimento dos alunos.

Ilustração de professor avaliando alunos


Fonte: acervo do autor (2020).

Para Melo (1995), avaliar o processo nos permite recolher e interpretar


informações para as tomadas de decisão, porque é nesse momento que
identificamos três tipos de informações diferentes:

➢ Quando no início do ano letivo queremos saber o que é que nossos


alunos podem aprender, nos situamos em um quadro de avaliação
inicial e em uma dimensão projetiva da nossa intervenção como
professor relacionando-a com a orientação do processo de ensino-
aprendizagem;
➢ Quando ao longo do ano letivo recolhemos informações que nos
permitem considerar a forma como nossos alunos estão, se estão
aprendendo. Nosso objetivo é saber dentro do quadro de avaliação

77
formativa, regular o processo de ensino-aprendizagem
aproximando-o da direção definida;
➢ Quando está em causa uma decisão de classificação dos alunos
em função do grau de realização dos objetivos, estamos no
domínio da avaliação somativa.

Agora, vamos detalhar a avaliação formativa, que ocorre no início e


durante o processo, e tem duas modalidades distintas, mas que se
complementam. Uma delas se caracteriza por ser informal em todas as aulas,
por ser resultado da interação do aluno com o professor, com os colegas e
consigo; esta modalidade está nos desafios colocados, feedbacks emitidos na
adaptação das tarefas, na reorganização do grupo e nas decisões relativas a
problemas da disciplina.
A outra modalidade é de caráter mais formal e pontual, pois dentro de um
balanço da atividade realizada em um determinado período de tempo, que
ratifica a avaliação continuada, permite ao professor e ao aluno a tomarem
decisões relativas às orientações e regulações de seu trabalho.
De acordo com Correia (1996), no início do ano letivo, somos
confrontados com a necessidade de orientar o processo de ensino-
aprendizagem, de escolher e definir os objetivos para que possamos ter bem
claro qual direção vamos seguir com nossos alunos.
Para isso, é necessário ter objetivos ambiciosos que respeitem as
possibilidades dos alunos e que se constituem como um desafio à superação de
suas dificuldades, proporcionando a elevação de suas capacidades.
De acordo com Betti (1992), se desejamos que nossos alunos realizem as
aprendizagens que os conduzam ao seu desenvolvimento, é muito importante que
o professor comece por identificar as suas dificuldades e perceba as suas
possibilidades.
O processo de avaliação inicial tem como objetivo fundamental
diagnosticar as dificuldades e limitações dos alunos diante das aprendizagens
previstas e presumir o seu desenvolvimento. Com isso, percebemos quais
aprendizagens poderão ser realizadas com a ajuda do professor e dos colegas
na aula de Educação Física.

78
Quando o planejamento é feito por meio de blocos de atividades, as
decisões, conforme afirma Correia (1996), ao nível do plano da Educação Física
são baseadas quase que exclusivamente em critérios exteriores aos próprios
alunos, sendo o mais frequente a utilização de recursos ou o sistema de rotação
pelas instalações, em que, nesse caso, a solução pedagógica do professor em
seu trabalho com a turma é bem limitada.
Correia (1996), afirma, também, que quando planejamos estamos
antecipando e prevendo a forma como vamos utilizar todos os meios que
dispomos para que os alunos possam cumprir os objetivos adequados ao seu
desenvolvimento.
Na avaliação formativa, esse planejamento nos auxilia no recolhimento de
informações que nos permitem orientar e regular a nossa atividade pedagógica
ao longo do ano letivo, assim como controlar os efeitos na aprendizagem.
O aperfeiçoamento de nossas práticas avaliativas no âmbito da avaliação
formativa é um fator determinante no desenvolvimento da Educação Física. Ela
é uma das formas rigorosa, objetiva e científica que procedemos à classificação
dos alunos e pode ter efeitos relevantes no processo ensino-aprendizagem.
A qualidade do ensino de Educação Física é melhor quando as decisões
pedagógicas são devidamente fundamentadas e suportadas em informações
provenientes do percurso de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.

7.7 A didática na Educação Física

Quando falamos em didática, às vezes, erroneamente, pensamos que ela


diz respeito apenas à teoria pedagógica. Entretanto, além da teoria é preciso que
ela seja também aplicada.
Uma teoria da ação didático-pedagógica envolve elementos que
extrapolam o âmbito da chamada “racionalidade técnica ou instrumental”, é
nesse momento que aparece o professor-sujeito, como interventor nesse
processo.
Podemos esperar da teoria que ela seja coerente, lógica e preveja o
comportamento das coisas. A prática, por sua vez, é repleta de incertezas,
motivações não racionais, tem alto grau de desordem, apesar de conter,
também, elementos lógico-racionais e previsíveis.

79
Devemos sempre nos recordar que a condição humana de nossos alunos
impõe um caráter irrestrito e singular às nossas aulas. De acordo com Correia
(1996), a preparação e o planejamento são necessários, mas eles não devem se
basear nos elementos da didática para determinar a prática a ser desenvolvida,
e sim o contrário. A realidade é que a prática deve alimentar a didática por meio
da reflexão em um contínuo exercício de prática-reflexão-prática, e não o
contrário.
De acordo com Ghiraldelli Júnior (1991), quando falamos em tempo e
lugar de uma didática da Educação Física, se este tempo e lugar precisam se
constituir em normas, técnicas, estratégias e modelos pretensamente
uniformizadoras e universalizantes, tentando enquadrar toda e qualquer prática
pedagógica em uma resposta construída, que desconsiderando as
peculiaridades da prática pedagógica de cada professor, que é única e singular.
Entendemos que o tempo e o lugar de uma didática de Educação Física passam
a ter sentido quando o professor se reconhece como sujeito autônomo e como
autoridade para desenvolver sua prática pedagógica.

Professora de EF em atividade prática com alunos da educação infantil


Fonte: acervo do autor (2020).

Conclusão da aula 7

Visando uma educação para autonomia, garantindo o acesso da criança


e do adolescente aos possíveis entendimentos sobre a realidade, necessitamos

80
de um processo e de uma experiência autônoma que implique no exercício da
reflexão crítica, na escolha e nas tomadas de decisão dentro do próprio processo
educativo, sendo essa uma condição indispensável para que uma educação
ocorra.
Atividade de aprendizagem

Nesta aula, você viu a importância do planejamento para as aulas de


Educação Física, como o professor trabalha na elaboração de suas aulas para
estar em sintonia com a escola e como devem ser realizadas as avaliações
em suas aulas. Descreva com suas palavras sobre isso.

Aula 8 – Introdução à corporeidade, uma fala breve sobre as valências


físicas eu desenvolvimento infantil

Apresentação da aula 8

Nesta aula você vai saber mais o que é a corporeidade e qual a


importância de ser trabalhada dentro das aulas de Educação Física. Vai ver
também como a Educação Física tem participado na inclusão dos alunos dentro
das escolas.
Primeiro, é interessante destacar que há diversas discussões que
envolvem a corporeidade e os estudos desta área tentam estabelecer a relação
entre corpo e mente ou entre o sensível e o inteligível. Santin (1987) diz que
podemos entender o estudo da corporeidade como uma forma de proposta para
que superar a visão mecanicista fragmentadora do princípio da unidade do ser
humano.

8.1 A corporeidade na prática pedagógica da educação

Quando adotamos a corporeidade, como um referencial teórico para a


prática pedagógica, surgem três consequências fundamentais, de acordo com
Morin (1979), veja quais são:

81
➢ Permite o reconhecimento de nossa condição humana, ou seja, de
indivíduo, espécie, sociedade humana e a complexidade que a
envolve;
➢ Possibilita reportar à complexidade do real e consequentemente do
processo educacional;
➢ Nos conduz necessariamente a uma prática pedagógica.

Na busca da corporeidade, devemos nos lembrar de que somos seres que


sustentamos nossa aprendizagem nos processos sensório-perceptivos.

Curiosidade
Nós captamos estímulos por meio dos sentidos. Se não organizamos bem as
sensações, possivelmente teremos dificuldades também de entendê-las e de
expressá-las com consciência. Nossas interpretações não chegarão a
entendimento profundo do que percebemos e, portanto, não alcançaremos
níveis de discernimento ou de consciência em si.

Freire (1991) explica exatamente isso, confira:

Podemos imaginar um bebê que já engatinha e até já arrisca uns


passinhos na sala de sua casa. Se ele não estiver cansado, explorará
todo este ambiente. A qualidade dessa exploração influenciará no nível
de compreensão do mundo que essa criança terá, das coisas que a
cercam, compreensão de si própria (FREIRE, 1991).

Se as pessoas que convivem com esse bebê souberem intervir nesse


contexto de forma criativa, essa criança terá diversas oportunidades de integrar
em sua vida experiências que a levarão a um estado de discernimento mais
elevado, só que para chegar lá deverá passar por estados caóticos seja
internamente, como externamente.
A corporeidade é algo que se realiza por meio da relação entre o mundo
interior e o exterior, ou seja, uma auto-eco-organização. Esta seria, em essência,
a função do professor: intervir com sabedoria (FREIRE, 1991).
Na escola, essa problemática é muito séria. De acordo com Assmann
(1998), nossas escolas herdaram da tradição visual-auditiva a ideia de que o

82
aluno, para assistir às aulas, bastaria que tivesse seus olhos e mãos, ficando
isentos os demais sentidos.
As aulas de Educação Física, apesar de formarem um espaço em que
esta lógica é, em parte, quebrada, não proporcionam as condições para que
alunos se aprofundem na compreensão das experiências emocionais-afetivas e
cognitivas dentro das sensações mobilizadas pelos sentidos.

8.2 A Educação Física e a consciência corporal

Apesar de existirem alguns avanços nos estudos da Educação Física,


muitas pesquisas no campo dessa disciplina ainda têm mostrado a
predominância de métodos tradicionais, ou seja, aquela que trabalha
exclusivamente no ensino de regras e técnicas desportivas pré-determinadas por
meio de metodologias diretivas.
Nesse tipo de metodologia, o aluno é tratado como um robô ou mero
repetidor de habilidades consideradas importantes ou não pelo professor,
(VAYER, 1986).
Já Gonçalves (1994) diz que a maioria dos professores de Educação
Física deve encarar a disciplina em uma perspectiva mais ampla, especialmente
no cuidado com os alunos, o qual não pode ser considerado como um sujeito-
objeto, mas sim um sujeito-próprio, com identidade, capacidades, limitações e
intencionalidades específicas.

Importante
O aluno deve ser considerado como um ser capaz de sentir, pensar e agir.

Agora, o que seria consciência corporal? Consciência corporal é o


conhecimento ou consciência do eu, imagem ou esquema corporal. Para Freire
(1991), os termos: esquema postural, esquema corporal, imagem do eu e
imagem do ego corporal se englobam nas noções consideradas equivalentes
entre si, por isso só se tornam claras no contexto teórico em relação ao qual são
definidos.

83
Saiba mais
Leia na integra sobre o conceito e explicação do que é esquema corporal.
Disponível no link: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/fisiote
rapia/o-esquema-%20corporal/22009
Também o artigo “A Conscientização Corporal na Educação Física Escolar:
Traçando Novas Propostas de Construção da Corporeidade do Educando no
Atual Momento Histórico”, de Thiago Zanotti Pancieri. Disponível no link:
http://cev.org.br/biblioteca/a-conscientizacao-corporal-educacao-fisica-escolar-
tracando-novas-propostas-construcao-corporeidade-educando-atual-momento-
historico/

8.3 Psicomotricidade na Educação Física

Apesar de o termo psicomotricidade estar fora de moda ou ser utilizado


de forma inadequada, encontramos situações, principalmente em relação às
crianças, que traduzem muitos sentidos na corporeidade, motricidade e na
educação motora.
Para Vayer (1986), a psicomotricidade deve proporcionar à criança os
meios de poderem desenvolver ao máximo suas potencialidades. A
psicomotricidade concebe o homem como uma unidade funcional. Tudo o que
somos, sentimos e nossa atividade conceitual são inseparáveis do nosso corpo.
A consciência de si mesmo dependerá da experiência do mundo que envolve
a pessoa. Vayer (1986) destaca três aspectos da experiência corporal, veja a
seguir quais são eles:

➢ Esquemas corporais: a experiência do corpo em relação ao meio


conduz o sujeito a construir esquemas que funcionam como
estruturas internas. Esses esquemas ou conhecimentos são
constantes em seu corpo, permitindo à criança realizar diferentes
ações e continuar suas experiências até a elaboração de seu ego;
➢ Valores corporais: trabalha de forma paralela à consciência e ao
reconhecimento das propriedades espaciais do corpo, neles, se
desenvolve a experiência do corpo como símbolo do ego na
relação com o mundo dos outros;

84
➢ Conceitos corporais: de forma progressiva à superfície dos
esquemas e valores relacionados ao corpo se sobrepõe a um outro
aspecto da experiência corporal, que é o aspecto do conhecimento
topográfico e intelectual. Neles, as crianças aprendem a palavra
correspondente aos diferentes segmentos e regiões corporais.

Le Boulch (1987) destaca que o corpo é o pivô do mundo, pois se tem


consciência do mundo por meio dele. O esquema corporal pode ser considerado
como uma intuição que temos de nosso corpo, na relação de suas diferentes
partes entre si ainda mais sobre as relações com o espaço e os objetos que nos
rodeiam. O autor distingue três estágios de estruturação do esquema corporal
pós-natal:

➢ Etapa do corpo vivido (até os três anos): é considerado o período


do esqueleto do eu, em que é conquistado por meio das
experiências globais e pela relação com adultos;

➢ Etapa discriminação perceptiva (três aos sete anos): é o período


em que a criança percebe seu corpo de forma detalhada por
segmentos, colocando em jogo a função de interiorização e as
percepções de dados externos, tais como o espaço e o tempo;

➢ Etapa do corpo representado (sete aos doze anos): nesse


período a criança vai progressivamente desempenhar de uma
forma mais consciente, sua própria motricidade.

É no final do corpo vivido, em torno dos três anos, que a criança reconhece
seu corpo como objeto. O estágio dos três aos seis anos é um período transitório
tanto na estruturação espaço-temporal quanto na estruturação do esquema
corporal. Essa fase é a etapa do corpo percebido, que corresponde à
organização do esquema corporal, ou seja, a atividade perceptiva, quando o
desenvolvimento só será possível depois que a função de interiorização atingir a
maturação.

85
Podemos considerar que a disponibilidade corporal, ou disponibilidade
consciente, precisa além de uma forma inteligente psicomotora, mas também um
nível elevado de inteligência operatória, ou seja, o controle completo das atitudes
e dos gestos, em que se apoia não apenas em um trabalho voltado para o corpo,
mas também para o domínio da maior parte dos conhecimentos operatórios
baseados no espaço e no tempo.
Le Boulch (1987) diz que a reintrodução de uma verdadeira educação do
corpo, ligada a uma educação simbólica, fará com que as concepções
educativas evoluam e se tornem mais eficazes no plano prático.

8.4 Abordagens filosóficas quanto à corporeidade

A Educação Física, em busca de uma identificação como área de


conhecimento, esteve e ainda está muito vinculada à área biológica. A dimensão
do movimento humano ou do corpo humano dentro de visão unitária de homem
é bem maior.
Para Moreira (1995), atentar-se aos corpos que passam pelas aulas de
educação motora é ir buscar não mais a disciplina, mas a consciência corporal,
mesmo por que o ato de conhecer não é mental, ele é, antes de tudo, físico.
Todo o conhecimento, inclusive o de si mesmo, passa pelo corpo; o
homem é um ser consciente de ter um corpo e todos os seus atos de
autoconsciência são filtrados por meio deste. Toda a consciência é uma
consciência perceptiva, mesmo a consciência de nós mesmos.
De acordo com Moreira (1995), a consciência corporal é diferente daquela
que nós já nos reportamos. Existem duas facetas do corpo: o corpo-problema,
que é o desafio na condição de sujeito cognoscente, possível de
equacionamento e eventual solução; o corpo-mistério, que envolve e carrega os
mistérios da vida que escapam os argumentos médicos. Ambos abrangem o
homem.
A consciência do corpo em determinantes psicológicos, socio-históricos e
biológicos não são distintos nem distinguíveis na condição humana, é
fundamental à liberdade (OLIVIER, 1995).

86
8.5 O desenvolvimento infantil

O desenvolvimento humano se focaliza em um estudo científico de como


as pessoas mudam e também de como permanecem iguais desde sua
concepção até a morte. As mudanças são mais visíveis durante a infância, mas
elas ocorrem em toda a vida do indivíduo, e os fatores que influenciam no
desenvolvimento são tanto internos, chamados de fatores hereditários, quanto
externos, chamados de fatores ambientais.
O desenvolvimento ocorre em diferentes aspectos, e as mudanças que
ocorrem em cada um deles influenciam as demais, são eles: o físico, o cognitivo
e o psicossocial.
Morin (1979) explica que o desenvolvimento físico envolve as mudanças
que ocorrem no corpo, no cérebro, na capacidade sensorial e nas habilidades
motoras. O desenvolvimento cognitivo se refere às mudanças ocorridas na
capacidade mental, como, por exemplo, a aprendizagem, a memória, o
raciocínio, o pensamento e a linguagem. Já o desenvolvimento psicossocial está
relacionado com a capacidade de interação com o meio por meio de relações
sociais, proporcionando a formação da personalidade e conquista de
características próprias.
Papalia e Olds (2000) ressaltam que as mudanças ocorridas durante a
infância são mais amplas e aceleradas do que qualquer outra que venha a
ocorrer no futuro. Os autores afirmam que dos três aos seis anos as crianças
vivem a segunda infância, é o período que corresponde aos anos pré-escolares.
Nessa fase, a aparência das crianças sofre algumas alterações, suas habilidades
motoras e mentais se aprimoram e sua personalidade se torna mais complexa.
Todos os aspectos do desenvolvimento, sejam eles, físicos, cognitivos e
psicossociais, continuam interligados. À medida que os músculos passam a ter
um controle mais consistente, as crianças podem atender mais suas
necessidades pessoais, como a higiene e o se vestir, ganhando, assim, maior
senso de competência e independência.
A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o
momento em que a criança passa a ter contato com o mundo. Na interação que
ela tem com o meio físico e social, a criança passa a se desenvolver de forma
mais abrangente e eficiente. Isso significa que a partir do envolvimento com seu

87
meio social, são desencadeados diferentes processos internos de
desenvolvimento os quais permitirão um novo patamar de aprendizagem
(OLIVIER, 1995).
Para Le Boulch (1987), o desenvolvimento de uma criança é o resultado
da interação de seu corpo com os objetos que se encontram no meio em que
vive, com as pessoas com quem convive e com o mundo em que estabelece
ligações afetivas e emocionais. O corpo, portanto, é sua maneira de ser. É por
meio do corpo que a criança estabelece contato com o ambiente, que se engaja
no mundo, que compreende o outro.
Todo indivíduo tem seu mundo construído a partir de suas próprias
experiências corporais, sendo assim, a criança terá maior habilidade para se
diferenciar e para sentir essas diferenças, pois é por meio dele que ela
estabelecerá contato com o meio, interagindo em nível psicológico, psicomotor,
cognitivo e social. Portanto, por meio das experiências de aprendizagem, a
criança constrói seu esquema corporal e amplia seu repertório psicomotor,
adquirindo autonomia e segurança.

Saiba mais
Leia na íntegra o artigo sobre “O processo de ensino-aprendizagem e a pratica
docente”. Disponível no link: https://multivix.edu.br/wp-content/uploads/2019/04/
revista-espaco-academico-v08-n02-artigo-03.pdf

A escola tem papel fundamental como facilitadora das aprendizagens,


porque ela estimulará o desenvolvimento integral da criança por meio do trabalho
em torno de desafios, fazendo com que esta explore, crie e desenvolva sua
habilidade com o objetivo de expandir seu potencial. Outro papel fundamental é
o de que a escola deve proporcionar meios para que a aprendizagem ocorra,
colaborando para a formação do indivíduo em cada fase de seu
desenvolvimento.
A Educação Física, sendo uma disciplina presente no currículo da escola,
também tem papel importante nesse processo, à medida em que pode estruturar
o ambiente adequado para a criança. Ela oferece experiências que contribuem
para o desenvolvimento integral do aluno, progridem suas habilidades motoras

88
e sua sociabilização. Sendo assim, é possível o professor trabalhar o corpo
harmoniosamente nos seus aspectos físico, cognitivo e psicossocial.

8.6 A Educação Física e a educação inclusiva

Antes de você começar a leitura deste tópico, acesse o link a seguir e


assista ao documentário do Instituto Rodrigo Mendes, em parceria com a
Fundação Barcelona e a Unicef sobre a Educação Física Inclusiva no Brasil.

Mídias
Assista ao vídeo “Diversa - Portas abertas para a inclusão - Educação Física
Inclusiva no Brasil”. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=Hl3l
cjx_sug

Inclusão no esporte
Fonte: acervo do autor (2020).

A educação inclusiva pode ser entendida como o desenvolvimento de uma


educação apropriada e de alta qualidade para alunos com necessidades
especiais na escola regular (RODRIGUES, 2000).
Na escola tradicional, a diferença é proscrita e remetida às escolas
especiais. A escola integrativa procura suprir a diferença desde que ela seja

89
legitimada por um parecer médico-psicológico, ou seja, desde que essa
diferença seja uma deficiência. A escola inclusiva procura sanar, de forma
apropriada e com alta qualidade, não só a questão da deficiência, mas também
todas as diferenças dos alunos, sejam elas culturais, étnicas, dentre outras.
Portanto, a educação inclusiva recusa a segregação com o intuito de que
a escola não seja só acessível, mas também bem-sucedida.

Reflita
Como a Educação Física participa nesse processo?

Como disciplina, ela não pode ficar neutra diante da educação inclusiva.
Por fazer parte do currículo oferecido pela escola, esta disciplina pode auxiliar a
escola a se tornar inclusiva.
Rodrigues (2000) diz que há diversas formas para que isso ocorra, um
deles é o conteúdo ministrado, que apresenta um grau de determinação e rigidez
menor que as outras disciplinas. O professor de Educação Física tem mais
liberdade para poder organizar os conteúdos que pretende trabalhar com seus
alunos em suas aulas.

Curiosidade
Um dos fatores primordiais para uma proposta inclusiva em sala de aula é que
os professores mudem a visão incapacitante das pessoas com necessidades
educacionais especiais para uma visão pautada nas possibilidades, elaborando
atividades variadas, dando ênfase no respeito às diferenças e às inteligências
múltiplas (ROCHA, 2017). Em relação à realização de atividades inclusivas, pode
se dizer que o professor de Educação Física possui uma pequena vantagem na
organização de suas aulas, pois por ter atividades mais flexíveis no que diz
respeito a sua execução, tem mais liberdade para poder organizar os conteúdos
que pretende trabalhar com seus alunos em suas aulas.

Outro fator, de acordo com o autor, é que os professores são vistos como
profissionais que desenvolvem atitudes mais positivistas que os demais perante
os alunos. Essa imagem positivista e dinâmica é um elemento importante de sua

90
identidade profissional, acarretando, por exemplo, em sempre serem chamados
para participar de projetos de inovação na escola.
O autor termina dizendo que a Educação Física é importante para a área
de inclusão porque permite uma ampla participação, mesmo de alunos que
demonstram dificuldades, isso é evidenciado nos planos curriculares parciais
elaborados para alunos com necessidades especiais.
É importante destacar que deve-se ter cuidado com o que e como será
acordado nessa disciplina, justamente porque, como você já viu durante nossos
estudos, a Educação Física tem uma cultura histórica desportiva e competitiva o
que pode criar resistências à inclusão de pessoas menos capazes para um bom
desempenho em uma competição.
A prática desportiva, quando usada sem os princípios da inclusão, é uma
atividade que não favorece a cooperação e não valoriza a diversidade, além de
poder gerar sentimentos de satisfação e de frustração.
É bom salientar que, na rede de ensino, a Educação Física é a única
disciplina que tem legislação específica para que certos alunos sejam
dispensados de suas aulas, sendo que determinados perfis biológicos de
desempenhos motores podem ser uma das normas dessa dispensa.

Conclusão da aula 8

Chegamos ao final do nosso estudo. Para finalizar, é interessante que


você reflita que ao reduzir a corporeidade a um funcionamento mecânico, não
podemos mais nos ocupar apenas com a espiritualidade, a afetividade e a
sensibilidade. A linguagem humana não responde apenas às necessidades
práticas e utilitárias, ela responde também às necessidades que a pessoa tem
da comunicação afetiva e ao prazer de poder se comunicar com o outro e
consigo.
Estamos em uma época de transição e, em breve, necessitaremos
vivenciar o corpo-próprio, enraizar o espaço da existência em que a realidade
corporal e a percepção subjetiva de se estar no mundo não acabem no biológico,
mas sim na união harmônica ou conflituosa das dimensões biológicas e
simbólicas que formam a corporeidade.

91
Atividade de aprendizagem

A linguagem humana não responde apenas às necessidades práticas e


utilitárias, ela reponde também às necessidades que a pessoa tem da
comunicação efetiva e ao prazer de poder se comunicar com o outro e consigo
mesmo. Explique.

92
Índice Remissivo
A ação pedagógica da Educação Física na escola ...................................... 17
(Aspectos; experiência corporal; reflexões)

A corporeidade na prática pedagógica da educação ................................... 81


(Corporeidade; prática pedagógica; tradição visual-auditiva)

A dança e a sua importância na Educação Física ........................................ 41


(Benefícios; PCN; psicomotricidade)

A dança e o universo escolar ....................................................................... 41


(Atividade extracurricular; conhecimento; estruturais)

A didática na Educação Física ..................................................................... 79


(Didático-pedagógica; prática-reflexão; sujeito autônomo)

A Educação Física e a consciência corporal ................................................ 83


(Identidade e capacidade; imagem corporal; métodos tradicionais)

A Educação Física e a educação inclusiva .................................................. 89


(Cultura histórica desportiva; inclusão no esporte; prática desportiva)

A Educação Física e a interdisciplinaridade ................................................ 52


(Cultura corporal do movimento; interdiciplinaridade; ultrapassar a
barreira)

A Educação Física e a pré-escola ............................................................... 63


(Competência; individualidade; socialização)

A Educação Física e a socialização ............................................................. 12


(Contribuir com o desenvolvimento; formações sociais; habilidades
motoras)

A ginástica nas aulas de Educação Física ................................................... 32


(Campos de atuação; desenvolvimento da criatividade; ginásticas
competitivas)

A importância da interdisciplinaridade na escola ......................................... 51


(Ensino-aprendizagem; intercâmbio mútuo; inter-relação)

A interdisciplinaridade, a inclusão e a diversidade ....................................... 53


(A inclusão e a diversidade; culturas de inclusão; ensino aprendizagem)

Abordagens da Educação Física ................................................................. 15


(Abordagem psicomotricista; cultura cultural; instrumento pedagógico)

Abordagens filosóficas quanto à corporeidade ............................................ 86


(Consciência do corpo; consciência perceptiva; sócio-históricos)

Atitudes e valores da Educação Física escolar ............................................ 71


(Aspecto educativo; instituições militares; saudável e equilibrado)

93
Avaliação .................................................................................................... 29
(Ações pedagógicas; avaliação progressiva; avaliação tradicional)

Avaliações das aprendizagens dentro da Educação Física ......................... 76


(Avaliação continuada; avaliação formativa; orientações e regulações)

Breve histórico da ginástica ......................................................................... 31


(Exercícios físicos; ginástica escolar; métodos pedagógicos)

Contribuições da Educação Física para escola ........................................... 22


(Educação física generalizada; prática pedagógica; processo pedagógico)

Corpo em movimento, concepções e prática na educação infantil ............... 65


(Aprendizagem; iniciativas das crianças; organização)

Cultura do movimento ................................................................................. 19


(Atributos do movimento; produtor do movimento; trabalho do movimento)

Dança, brinquedos, brincadeira e jogos ...................................................... 40


(Autonomia e criatividade; educação por meio da dança; PCN)

Dificuldades encontradas pelos professores ............................................... 74


(Ameaça a autoridade; falta de interesse; inclusão dos habilidosos)

Educação Física e a cultura do movimento ................................................. 20


(Atividade física; campo da educação; investigação científica e filosófica)

Educação Física e ludicidade ...................................................................... 46


(Aprendizado; desenvolvimento; o lúdico)

Esportes e a dança nas aulas de Educação Física ...................................... 47


(Adaptar as regras; estratégia de ensino; prática de atividade física)

Finalidades da Educação Física .................................................................. 23


(Capacidade física; dados científicos e filosóficos; habilidades motoras)

Formação do professor para aulas de dança na escola ............................... 43


(Buscar conhecimento; qualificação para a dança; valor da dança)

Ginástica como prática científica ................................................................. 34


(Caráter de ordem; eugênicos e higiênicos; métodos de ensino)

Ginástica escolar em sua prática atual ........................................................ 38


(A ginástica e os avanços; manifestações corporais; metodologia crítico-
superadora)

Ginástica escolar: do lúdico ao esportivo ..................................................... 31


(Atividades e modalidades; introdução à ginástica; metodologia)

Ginástica, Educação Física e o desenvolvimento das crianças ................... 35


(Crescimento; desenvolvimento; sequência de habilidades)

Importância da Educação Física na escola ................................................. 09


(Educação Física; socialização; vida saudável)

94
Interdisciplinaridade e eventos esportivos ................................................... 51
(Contradições; ensino formal; importância)

Introdução à corporeidade, uma fala breve sobre as valências físicas eu


desenvolvimento infantil .............................................................................. 81
(Corporeidade; sensível e o inteligível; visão mecanicista)

Introdução ao fundamento teórico e metodológico da Educação Física ...... 09


(Componente curricular; educação básica; população escolar)

Jogos interclasses ....................................................................................... 55


(Competição esportivizada; enfoque educativo claro; função educacional)

Metodologia do corpo em movimento; as questões relacionadas com o


crescimento cognitivo .................................................................................. 61
(Desenvolvimento cognitivo; formação políticas dos cidadãos; programas
pedagógicos)

Metodologia e estratégias ........................................................................... 27


(Cultura corporal; estratégia de ensino; tradição técnico-pedagógico)

O brincar nas aulas de Educação Física ...................................................... 44


(Atenção; imaginação; motricidade)

O conhecimento específico abordado na Educação Física ......................... 61


(Interação; regulação; transformação)

O desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento da criança .................... 68


(Abstração; adquire habilidades; estímulos cognitivos)

O desenvolvimento infantil .......................................................................... 87


(Desenvolvimento físico; fatores ambientais; fatores hereditários)

O jogo competitivo e a Educação Física escolar .......................................... 49


(Competição; desafios e demandas; técnicos e psicológicos)

O jogo, o brinquedo e a criança na escola ................................................... 45


(Aprendizado da criança; jogos e brinquedos; recreação)

O planejamento no ensino da Educação Física ........................................... 75


(Estruturas funcionais; planejamento participativo; prático e instrumental)

Organização do trabalho pedagógico .......................................................... 14


(Autonomia; identidade corporal; socialização)

Orientações didáticas na aula de Educação Física ..................................... 65


(Aspectos do movimento; capacidades físicas; planejamento)

Os professores e a escola ........................................................................... 72


(Conteúdo específicos; desenvolver a cidadania; situações e
oportunidades)

Participação da Educação Física no desenvolvimento cognitivo ................. 67


(Atividades lúdicas; desenvolver habilidades; educação moral e
intelectual)

95
Planejamento da Educação Física escolar .................................................. 70
(Afetividade; cooperação; respeito mútuo)

Princípios Metodológicos ............................................................................ 28


(Complexidade; diversidade; inclusão)

Psicomotricidade na Educação Física ......................................................... 84


(Conceito corporais; esquemas corporais; valores corporais)

Realidades da ginástica na escola .............................................................. 37


(Exercício ginástico; status científico; tradição histórica)

Realização de eventos esportivos de caráter educacional .......................... 57


(Avaliação do custo; hiperseletividade; múltiplas vivências)

Reflexões pedagógicas do esporte na escola ............................................. 54


(Aprendizagem do esporte; competição escolar; práticas particulares)

Reflexões sobre a Educação Física e suas ações ....................................... 73


(Adestramento; atividades propostas; valorização da disciplina)

Vantagens da aplicação na saúde de uma boa aula de Educação Física... 11


(Autoconfiança; autoestima; benefícios)

96
Referências

BETTI, M.; Atitudes e opiniões de escolares de 1.º grau em relação à


Educação Física. In: XIV SIMPÓSIO DE CIÊNCIA DO ESPORTE. 1986. São
Caetano do Sul. Anais. São Caetano do Sul. Celafiscs. Fec. do ABC, 1986. p. 66

_____, M.; Educação física escolar: uma proposta de diretrizes


pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2002.
Disponível em: <http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/remef/article/view
/1363/1065>. Acesso em: 14/06/2018, às 18h56min.

BRACHT, V.; A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física.


Cadernos Cedes, ano XIX, n. 48, 1999. Disponível em: <http://www.cielo.br
/pdf/ccedes/v19n48/v1948a05.pdf>. Acesso em: 14/06/2018, às 18h58min.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC/SEF,


1996.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São


Paulo: Cortez, 1992.

ENGUITA, M. F.; A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas Editora,
1989.

FALKENBACH, A. P.; A Educação Física na Escola: uma experiência como


professor. Lajeado: Univates, 2002.

FINCK, S. C. M.; A Educação Física e o esporte na escola: cotidiano, saberes


e formação. Curitiba: Intersaberes, 2012.

FREIRE, P.; Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

GARANHANI, M. C.; A Educação Física na Educação Infantil: uma proposta em


construção. In: ANDRADE FILHO, N. F.; Educação Física para a Educação
Infantil: conhecimento e especificidade. São Cristóvão: UFS, 2008.

LOVISOLO, H.; Educação física: a arte da mediação. Rio de Janeiro: Sprint,


1995.

SOUZA NETO, S.; A educação física na escola, ação docente no ensino de


1º e 2º graus. Campinas: Papirus, 1992.

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de
Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança
de direitos autorais.

97

Você também pode gostar