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Biblioteconomia na Modalidade
a Distância
Língua Portuguesa
Semestre
1
Caro Aluno,
Este material compõe o acervo de recursos educacionais do Sistema
Universidade Aberta do Brasil (UAB), disponível no Portal EduCapes, e
será adotado no Curso Nacional de Bacharelado em Biblioteconomia na
modalidade EaD (BibEAD).O conteúdo e formato originais foram preser-
vados, conforme indicado nas páginas que se seguem."
Érica Karine Ramos Queiroz
Nely Rachel Veloso Lauton
Pollyanne Bicalho Ribeiro
Sandra Ramos de Oliveira
Waneuza Soares Eulálio
Fundamentos da
Língua Portuguesa I
2ª EDIÇÃO
Inclui bibliografia.
Título da capa: Letras Espanhol Fundamentos da Língua
Portuguesa I.
CDD 469
CDU 469
2013
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Linguagem, língua, fala e gramática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2 Caracterização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Texto e textualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . 49
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Apresentação
Prezado acadêmico,
A disciplina “Fundamentos da Língua Portuguesa I” integra a grade curricular do 1º período do
Curso de Licenciatura Letras/Espanhol, com 45 horas-aula. É sobre essa disciplina que vamos falar,
inicialmente, pois é necessário que você compreenda a importância do conteúdo a ser estudado
para tornar sua participação prazerosa e eficaz.
O Michaelis: moderno dicionário da Língua Portuguesa registra os sinônimos “sustentáculo”,
“base”, “alicerce” para o substantivo “fundamento”. Ora, estudar, então, “Fundamentos da Língua
Portuguesa I” significa rever noções básicas de nossa língua materna, discutir e resgatar algumas
regras, conceitos e definições que a sustentam. Além disso, o conhecimento da base de uma lín-
gua, de seu alicerce torna seu usuário mais competente, mais criativo no trato com as palavras;
mais seguro e questionador no desempenho de suas atividades cotidianas e no convívio com seus
pares.
Compreender os fundamentos da língua – e não apenas conhecê-los – possibilita ao falante o
desenvolvimento de diferentes habilidades, como: reconhecer informações, elaborar hipóteses, in-
ferir, relacionar conceitos e fatos, desenvolver reflexões mais abrangentes, argumentar e defender
ideias e, principalmente, possibilita-lhe ser um autor/leitor mais completo e consciente do uso das
palavras.
Na disciplina “Fundamentos da Língua Portuguesa I”, vamos ajudá-lo a compreender o funcio-
namento da Língua Portuguesa nos seguintes aspectos:
1. Leitura: caracterização, processos, modos de leitura e fatores intervenientes no “ato de ler”;
2. Concepções de língua, linguagem, fala, gramática e variedades linguísticas;
3. O processo de comunicação;
4. Funções da linguagem;
5. Texto e fatores de textualidade;
6. Tipos e gêneros textuais;
7. Produção textual.
Um abraço,
As autoras.
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
UNIDADE 1
Linguagem, língua, fala e
gramática
1.1 Introdução
Esta é a primeira unidade da disciplina Fundamentos da Língua Portuguesa I e esperamos
que você a inicie com muita vontade de ampliar os seus conhecimentos sobre a língua portu-
guesa. Então, vamos lá!
O principal objetivo aqui é que você reflita sobre a importância da linguagem para a comu-
nicação humana e conheça os principais elementos que constituem o processo comunicativo.
Ao ler o texto, temos a certeza de que você aprenderá os conceitos fundamentais de lingua-
gem, língua, fala e de gramática, percebendo a relevância desses aspectos linguísticos para que
o processo comunicativo aconteça de maneira eficiente.
Nesta unidade, vamos estudar também as funções da linguagem que nos permitirão com-
preender como o emissor e o receptor se relacionam linguisticamente através de um canal que GLOSSÁRIO
permite a interpretação de uma mensagem. Hindu: natural ou ha-
Outro assunto de extrema relevância nesta unidade é a variação linguística. Há muito tem- bitante da Índia. Veda:
po, na escola, só se atribuía à língua as características de “certo” ou de “errado”. Hoje, com o co- conjunto de textos
sagrados da tradição
nhecimento das diversas formas de se falar, já se considera também o diferente, ou seja, há usos religiosa e filosófica da
da língua que são errados (aqueles que não estão de acordo com a organização que a língua nos Índia.
possibilita), mas há também usos que, apesar de não estarem de acordo com essa organização, a.C: antes de Cristo.
são apenas diferentes, não constituem erro. Línguas naturais
Bem, de acordo com o que propomos aqui, esta primeira unidade abordará os conceitos bá- (Inglês, Português,
Russo, Italiano, Chi-
sicos de Linguagem, Língua, Fala e Gramática e terá as seguintes subunidades: nês, etc.): são sistemas
1.2 Conceitos básicos de signos linguísticos.
1.3 O Processo de Comunicação Os signos linguísti-
1.4 Funções da linguagem cos são os elementos
1.5 Variação linguística de significação
(significante e
1.6 Níveis de fala significado) nos quais
1.7 Linguagem oral e linguagem escrita se baseiam as línguas.
Para você entender
É importante que você tenha sempre à mão um bom dicionário e que não se esqueça de melhor os conceitos
que as atividades sugeridas, os glossários que complementam o texto e os pontos de reflexão de significante e
significado, acompanhe
apresentados são essenciais para que você compreenda satisfatoriamente o texto. esta exemplificação:
Mãos à obra! Vamos começar a leitura. O significante é o
suporte para a ideia,
é a sequência de sons
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UAB/Unimontes - 1º Período
específico: a língua. A linguagem pertence tem como objeto de estudo a linguagem ver-
ao domínio individual, porque é propriedade bal em uso, ou seja, para o linguista interessa
inata ao ser humano, e social, porque só exis- descrever e explicar os fatos de linguagem
te em sociedade. Sendo assim, a linguagem sem estabelecer juízo de valor do uso. A pers-
é compreendida como expressão do pensa- pectiva de estudo da gramática tradicional é
mento e veículo de comunicação social e pode contrária à do linguista, pois a gramática tem
referir-se à linguagem dos animais, à música, como finalidade ditar normas e prescrever os
à dança, à pintura, à mímica, etc., assinalando fatos de linguagem.
PARA SABER MAIS que cada uma dessas linguagens tem suas es- A gramática, conforme Petter (2005), não
O homem é um “animal pecificidades de manifestação. reconhece a diferença entre fala e escrita e
político”. Assim afirma O linguista Ferdinand de Saussure, consi- considera a escrita como modelo de correção
Aristóteles na sua obra
derado o pai da linguística moderna, separa a para a língua falada. A posição da gramática
Política, distinguin-
do o homem (único linguagem em língua e fala. Conforme Petter é normativa ao dizer o que é a língua e como
dotado de linguagem) (2005), a língua, para Saussure, é “um sistema deve ser, isto é, a gramática dita regras para o
dos outros animais de signos” – um conjunto de unidades que se uso considerado correto da língua.
(que possuem voz). relacionam dentro de um todo e é a parte so- Como falantes de uma língua, sabemos
Com a voz (“phone”),
cial da linguagem, exterior ao indivíduo; não que a língua escrita não é modelo para a lín-
os animais exprimem
dor e prazer; mas, com pode ser modificada pelo falante e obedece gua falada, pois a diferença entre essas duas
a palavra (“logos”), o às leis do contrato social estabelecido pelos modalidades da linguagem se deve à sua or-
homem exprime o bom membros da comunidade. A fala é um ato in- ganização e ao uso social. Para o linguista, não
e o mau, o justo e o dividual; resulta das combinações feitas pelo há uso melhor ou pior, rico ou pobre, visto que
injusto. Ser um “animal
sujeito falante utilizando o código da língua; seu objetivo é descrever e não prescrever. De
político” significa, pois,
compartilhar valores expressa-se pelos atos de fonação necessários acordo com a linguística, as línguas naturais
com outros indivíduos, à produção dessas combinações. são simplesmente diferentes e, desde que
o que torna possível Analisando o conceito de Saussure, con- atendam às necessidades de comunicação en-
a vida social, cívica e cluímos que a língua é ampla, coletiva e está tre seus falantes, já estão exercendo sua fun-
política dos homens.
à disposição de todos os falantes da comu- ção: “comunicar”. Os estudos sobre as línguas
Exerça sua cidadania
através, também, do nidade. A língua obedece a padrões criados concluem que todas elas possuem um sistema
uso da linguagem. pela própria comunidade, logo, um falante de comunicação estruturado, complexo e mui-
não pode modificá-la. Ela serve a toda a comu- to desenvolvido.
nidade e não a um membro isolado. É a parte Outros estudos sobre a linguagem a con-
social da linguagem. sideram também como atividade, como ação
Ainda segundo Petter (2005), a fala, ao que tem objetivo socialmente definido: o de
contrário, é individual, representa o uso parti- estabelecer vínculos e compromissos ante-
cular que se faz da língua. O falante tem a li- riormente inexistentes. A linguagem é respon-
berdade de buscar na língua os recursos que sável pela interação entre os indivíduos, esta-
ela oferece e combinar esses recursos, con- belecendo pactos interindividuais e exigindo
Figura 1: A língua se forme suas necessidades e intenções. Por isso respostas em forma de reações e comporta-
concretiza pela fala.
que a fala é individual e tem caráter dinâmico, mentos dos falantes.
Fonte: Fonte: Disponível
em: http://educacao.uol. e a língua é coletiva e tem caráter mais fixo. Estudar, então, a língua é buscar detec-
com.br/album/tiras_re- Petter (2005, p. 15) argumenta, ainda, que tar os compromissos que se criam através da
forma_album.htm, acesso “[...] convém enfatizar que a Linguística detém- fala (ato individual) e buscar preencher as
em 31 mai. 2013.
-se somente na investigação científica da lin- condições exigidas por uma situação de co-
▼ guagem verbal humana”. Assim, a linguística municação.
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Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
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UAB/Unimontes - 1º Período
GLOSSÁRIO
Léxico: conjunto de
1.3 O processo de comunicação
vocábulos que formam
uma língua (vocabu- Segundo Martins e Zilberknop (2009, p. 15), “O ser humano tem necessidade imperiosa de
lário). expressar seus sentimentos ou ideias.” Sendo assim, o Processo de comunicação consiste em um
Sintaxe: estudo da
combinação lógica das emissor (a pessoa que fala, o codificador) emitir uma mensagem (informação ou sinal) ao recep-
palavras em uma frase. tor (a pessoa que ouve ou decodificador), através de um canal (instrumento ou meio). O receptor
interpretará a mensagem e, a partir daí, dará a resposta que demonstrará se as informações fo-
ram captadas (feedback), completando o processo de comunicação.
Ainda de acordo com Martins e Zilberknop (2009, p. 15), “comunicar envolve uma dinâmica
que não pode dispensar as unidades que englobam o processo e que, dissociadas, constituem os
elementos mais importantes da comunicação”. Toda vez que se estabelece uma interação entre
as pessoas ocorre uma situação comunicativa. Todo o ato de comunicação verbal envolve sem-
pre seis componentes básicos, descritos nos anos 1960, pelo formalista russo Roman Jakobson.
No esquema abaixo, observe esses componentes, conhecidos como elementos da comunicação
(código, mensagem, referente, emissor, receptor e canal).
Figura 3: Elementos da ►
Comunicação
Fonte: Disponível em:
http://educacao.uol.com.
br/disciplinas/portugues/
teoria-da-comunicacao-
-emissor-mensagem-e-
-receptor.htm, acesso em
15 mai. 2013
• CÓDIGO: pode ser definido como qualquer conjunto de símbolos usados na transmissão e
recepção de uma mensagem de maneira a ter significação para alguém, como as palavras
de um idioma (língua).
• MENSAGEM: expressão de ideias (conteúdo transmitido por um emissor) através de uma
forma determinada (tratamento) pelo emprego de um código.
• REFERENTE: é o contexto em que estão insertos o emissor e o receptor. É também o
conjunto de atitudes e reações dos sujeitos envolvidos no processo de comunicação.
• EMISSOR ou EMITENTE: quem transmite uma ideia, emite; quem transforma a mensagem
em código (uma pessoa, uma empresa, uma emissora de televisão, estação de rádio, etc.).
• RECEPTOR, RECEBEDOR ou DESTINATÁRIO: pessoa que recebe, decodifica a mensagem
(um indivíduo ou um grupo).
• CANAL: é o meio através do qual fazemos uma mensagem chegar a outra pessoa, uma es-
pécie de “veículo da mensagem”, como as ondas sonoras, na linguagem oral (fala), ou um
bilhete, na linguagem escrita, por exemplo.
É muito importante escolher o canal capaz de transmitir sua mensagem com maior qualida-
de e há elementos que podem impedir a eficiência comunicativa como nos advertem Martins e
Zilberknop (2009):
• RUÍDO: interferência indesejada na transmissão de uma mensagem (na fala pode ser um
barulho e na escrita, um rabisco ou uma letra ilegível, por exemplo).
• AMBIGUIDADE: refere-se à desorganização da mensagem (período fragmentado, ordem in-
versa, inadequação vocabular, etc.).
• REDUNDÂNCIA: consiste na repetição desnecessária de palavras ou termos.
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Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
A tira exemplifica uma situação de comunicação. Numa situação de comunicação há, pelo
menos, duas pessoas interagindo por meio da linguagem: quem fala (locutor ou emissor) e aque- ATIVIDADE
le com quem se fala (interlocutor ou receptor). Preste muita atenção
Tradicionalmente, o processo de comunicação verbal está baseado em seis elementos: o aos comerciais transmi-
emissor, o receptor, a mensagem, o código, o canal e o referente. tidos pelo rádio e pela
Tomando a tira como exemplo, vamos rever esses elementos: televisão e verifique se
• O emissor (locutor, remetente) é Helga, a esposa de Hagar. eles atendem às condi-
ções apresentadas no
• O receptor (interlocutor, destinatário) é Hagar. texto que você acabou
• A mensagem é representada pelas falas de Helga; trata-se do aviso de que os construtores de ler. Eles chamam a
do telhado acabaram de chegar. atenção do receptor?
• O código é a língua portuguesa (linguagem verbal) usada por Helga e Hagar. Usam uma linguagem
• O canal (contato) é o som produzido pelo código (língua oral). adequada? Estão de
acordo com o canal
• O referente (contexto) é a situação ou contexto em que Helga e Hagar estão e é também o onde são veiculados?
assunto da mensagem, isto é, o conjunto de atitudes e reações do emissor e do receptor. Re- Levam em consideração
pare que a casa está sem telhado e que o casal está esperando há algum tempo a chegada o momento e a situação
dos construtores. O humor consiste justamente no fato de que Hagar está sentado em uma em que o receptor está
cadeira com água por todo lado. inserto?
Toda mensagem tem uma finalidade, uma intenção predominante que orienta sua produ-
ção. A mensagem pode ter a finalidade de informar, persuadir, provocar humor, emocionar, etc.
Podemos sintetizar que, na comunicação, sempre há uma intenção e, assim, podemos considerar
algumas funções da linguagem a partir dessas finalidades, de acordo com os estudos de Jakob-
son (1977).
Veja, abaixo, a classificação das funções da linguagem predominante nos textos. Essas fun-
ções são: expressiva, conativa, referencial, fática, metalinguística e poética.
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UAB/Unimontes - 1º Período
Observe que o poema está centrado na expressão dos sentimentos, emoções e estado de
alma do “eu lírico”. É um texto subjetivo, pessoal. Nele aparecem pronomes de primeira pessoa:
“Eu não tinha”... “minha face?”
É comum, também, na função emotiva, a presença de interjeições e pontuação marcada por
exclamações e reticências.
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Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
A função conativa é aquela que está centrada no destinatário. Também chamada apela-
tiva, essa função estimula o receptor a tomar uma atitude, tentando persuadi-lo, tentando in-
fluenciar seu comportamento.
Observe a presença da função conativa neste folheto:
Você observou que a intenção principal é estimular o receptor a utilizar um serviço dife-
renciado de lavagem de carro? Para isso, o texto da propaganda emprega o verbo no imperati-
vo “Aguarde!”, que faz um apelo direto ao destinatário. Além disso, a mensagem tenta sensibili-
zá-lo quanto à questão do uso racional da água. Isso sinaliza que, se o receptor for uma pessoa
com consciência social, ele buscará o serviço oferecido.
Classificamos de referencial a função que tem por objetivo transmitir informações. Ela é
também chamada denotativa, está centrada no contexto. A mensagem apresenta linguagem cla-
ra, direta, procurando traduzir a realidade objetivamente.
Ao ler a reportagem, você percebe claramente seu objetivo: informar aos leitores do “Alma-
naque Superinteressante” sobre o motivo de o mundo precisar viver sem o petróleo. A lingua-
gem aponta para um significado único, não dando margem à dupla interpretação.
A função referencial aparece em seus livros de estudos, livros técnicos e científicos, bulas de
remédios, manuais de instruções, etc.
A função fática encontra-se centrada no contato (canal) e nela predomina o cuidado de es-
tabelecer ou de manter a comunicação, isto é, manter o contato entre o emissor e o receptor.
Nas conversas telefônicas, o tradicional “alô”, os cumprimentos habituais são maneiras de
iniciar o contato com o recebedor. As frases- feitas, os clichês de abertura de diálogos: “Olá, como
vai?”, “Oi, tudo bem?”, têm também a finalidade de estabelecer contato.
A função fática está representada por palavras, frases, ou expressões que denotam a neces-
sidade ou o desejo de iniciar, manter ou cortar a comunicação. Exemplificando:
Bom dia!
Oi, tudo bem?
Huin... Hum...
Alô, quem fala?
Hã, o quê?
A função fática está bastante evidente nas falas acima. Essas falas não têm necessariamente
um conteúdo informativo preciso, apenas pretendem criar condições para uma interação verbal.
Observe a tirinha abaixo:
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UAB/Unimontes - 1º Período
▲ A expressão “né”, usada por Hagar, foi empregada apenas para manter a conexão entre o ca-
Figura 7: Função fática sal. Temos, então, um exemplo de função fática.
Fonte: Disponível em:
http://helgacomh.blo-
gspot.com.br/2009/04/ 1.4.5 Função metalinguística
hagar-o-horrivel-e-helga-
-e-claro.html, acesso em 3
jun. 2013.
A função metalinguística está centrada no próprio código, isto é, centrada na língua. O emis-
sor usa a língua (código) para dar alguma explicação, fazer ressalvas, apresentar uma definição,
um conceito, etc.
No fragmento a seguir, intitulado “Bisbilhotice”, de Luís Fernando Veríssimo, o autor define,
primeiramente, a palavra “bisbilhotar” para, depois, introduzir o tema propriamente dito: discus-
são sobre o uso de grampos em telefones de magistrados e políticos brasileiros. Observe a fun-
ção metalinguística no primeiro parágrafo do artigo.
Bisbilhotice
“Bisbilhotar” vem, se não me falha o etimológico, do italiano “bisbigliare”, que não é bis-
bilhotar no nosso sentido, mas quase o seu oposto. Os sinônimos de “bisbigliare” no meu di-
cionário italiano são “mormorare”, “sussurrare”, “dire sottovoce”. Ou seja, o que se faz para evitar
a bisbilhotice dos outros. Um bisbilhoteiro brasileiro e um “bisbigliatore” italiano, conforme o
dicionário, não teriam diálogo, um tentando desesperadamente ouvir o que o outro murmura
ou sussurra.
O que aproximaria os dois seria o fato de que é tão difícil encontrar um italiano falan-
do baixo quanto um brasileiro. O sottovoce não pegou em nenhum dos dois povos. E o que
sempre agrava as crises brasileiras – como essa dos grampos, ou da bisbilhotice banalizada e
GLOSSÁRIO oficializada – é que ninguém, do presidente ao gari, passando por ministros e comentaristas,
se segura na hora de dizer bobagens. Se ao menos as dissessem sottovoce, o dano seria me-
Aliteração: repetição
da mesma consoante nor. [...]
no interior de um ou
mais versos. (Fonte: Veríssimo. Hoje em Dia. 7 set. 2008. p.8 – PLURAL)
“Quem com ferro fere,
com ferro será ferido.”
(provérbio). Os dicionários são obras de caráter metalinguístico, neles usa-se a língua (código linguístico)
Assonância: repetição para definir a própria língua.
da mesma vogal no
interior de um ou mais
versos. 1.4.6 Função poética
Nos versos abaixo, há
assonância das vogais a
e o nasais. A função poética enfatiza a mensagem. Se, ao ler um texto, você perceber que o objetivo da
“E bamboleando em mensagem é mostrar um trabalho de elaboração da linguagem, então você está diante da fun-
ronda dançam bandos ção poética.
tontos e bambos de
Anúncios publicitários (e políticos) recorrem frequentemente à função poética da lingua-
pirilampos”. (Versos de
Guilherme de gem. Neles é comum um trabalho com o signo linguístico (rimas, jogo de palavras, neologismos,
Almeida) aliterações, assonâncias) com o objetivo de provocar algum efeito de sentido no receptor.
A função poética não abrange somente a poesia, embora, na poesia, a função poética seja
predominante e, em outras formas de expressão linguística, ela seja acessória.
Veja os exemplos de função poética no texto a seguir:
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Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
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Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
Cuitelinho
Fonte: In: BAGNO, Marcos. A língua de Eulália São Paulo: Contexto, 1997. p. 45-6.
A letra da música “Cuitelinho”, composta por Paulo Vanzolini, mostra uma variação regional,
própria do espaço geográfico rural de alguns estados brasileiros.
Na letra da música há também a influência da variação sociocultural, percebida no empre-
go de: “bera” por “beira”, “navaia” por “navalha”, “oio” por “olhos” (aspectos fonológicos) e “os oio se
enche d’água por “os olhos se enchem d’água; “As garça dá...” por “As garças dão...” (aspecto mor-
fológico).
Observe, ainda, que o compositor “brinca” com as rimas para efeito melódico.
A variação geográfica ocorre, também, no vocabulário, em algumas estruturas frasais e nas
designações diferentes para o mesmo significado, que uma palavra pode adquirir de uma região
para outra.
Assim é que usamos “mandioca”, “aipim” ou “macaxeira”; “pernilongo” ou “mosquito”, depen-
dendo de nossa região de origem.
Em Montes Claros, Minas Gerais, por exemplo, o objeto escolar onde se guardam lápis, borra-
cha e canetas chama-se “estojo”, no Paraná é “penal” (de pena + al) estojo para guardar penas, lápis,
etc. Embora a palavra “penal” conste do dicionário como um regionalismo de Minas Gerais, ela não
é usada entre os mineiros.
E as variações geográficas se concretizam nas expressões típicas dos nordestinos: “OXENTE,
BICHINHO (indicando admiração); VISSE? (ouviste), CABRA MACHO DA MULESTA (indivíduo cora-
joso, valentão); no “BAH, TCHÊ” dos gaúchos ou no uso frequente do diminutivo pelos mineiros:
“COITADINHO, TADINHO” (coitado) ou mesmo na redução desses diminutivos: “TADIN” (coitadi-
nho), “BONZIN” (bonzinho), etc. Exemplificando:
21
UAB/Unimontes - 1º Período
b. Variação sociocultural
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Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
As variedades faladas pelos indivíduos de classe social menos favorecida são denominadas
populares, enquanto as variedades cultas associam-se às classes de maior prestígio e servem de
referência para a norma escrita.
Existe, no Brasil, uma tendência à discriminação da variante popular, geralmente fundamen-
tada nos (pre)conceitos de que seus falantes não dominam a norma padrão, usam seus próprios
recursos para se comunicarem, cometem “erros” que viciam e empobrecem a língua
Outros fatores responsáveis pelas variantes socioculturais são: a idade do falante, a classe
social a que pertence, a raça, a religião, a profissão.
Variações linguísticas referentes ao sexo também ocorrem no Português. É mais comum às
mulheres, por exemplo, o uso de diminutivos: “comidinha”, “nenenzinho”, “belezinha” e mais fre- PARA SABER MAIS
quente que os homens usem aumentativos: “amigão”, “Fernandão”, “partidão” (referindo-se a uma
boa partida de futebol). Para aprofundar seus
conhecimentos sobre a
Além desses exemplos, algumas palavras e expressões de nossa língua se destinam exclusi- variação sociocultural,
vamente ao uso pelas mulheres (“obrigada”, “grata”, “eu mesma”, “eu própria”) e outras, apenas ao sugerimos que você
uso do sexo masculino (“obrigado”, “grato”, “eu mesmo”, “eu próprio”). faça a leitura do livro: A
No Brasil, a variação sociocultural é bastante evidente. Quanto mais cultura o cidadão tiver, Língua de Eulália – no-
mais bem estruturadas serão suas frases, mais rico seu vocabulário, ao contrário do falar das pes- vela sociolinguística, de
Marcos Bagno, editora
soas com pouco ou nenhum estudo. Um enfermeiro ou um técnico em enfermagem, por exem- Contexto, São Paulo. O
plo, dominam um vocabulário específico de sua área e são capazes de sustentar um diálogo efi- enredo leva o leitor a
ciente com os demais profissionais com quem convivem. A profissão condiciona o falante ao uso um passeio prazeroso
de expressões típicas de sua área de atuação. pela Sociolinguística –
Profissionais da área médica, por exemplo, têm gírias específicas com as quais interagem, ciência ainda nova – e
lhe permite uma com-
mesmo à vista do paciente leigo no assunto, sem que este compreenda de que trata. preensão mais ampla
Do vocabulário específico dos profissionais se formam as gírias, que facilitam a comunica- do papel das variantes
ção entre eles e os caracterizam. As gírias ligadas a profissões ou determinados grupos sociais socioculturais.
(estudantes, capoeiristas, internautas) são denominadas “jargão”.
A idade é outro fator que influencia as diferenças socioculturais de adolescentes e idosos. Os
jovens são, comumente, mais abertos a inovações linguísticas advindas do avanço tecnológico,
enquanto os idosos se mostram mais reservados a isso, são mais conservadores das estruturas e
usos já internalizados.
Todos os fatores mencionados comprovam que o uso da língua está subordinado ao nível
social e cultural das pessoas. Nossa fala é o produto de tudo aquilo que nos fez chegar ao que
somos hoje: o convívio com nossa família, com os amigos, os livros que lemos, os filmes a que
assistimos, a religião que praticamos, nossas crenças e valores, enfim, é nossa experiência de vida
que determina nossas escolhas e essas escolhas nos dão identidade.
c. Variação histórica
23
UAB/Unimontes - 1º Período
“Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfalam no
nome dele – dizem só: o Que-Diga. [...] Doideira. A fantasiação. E o respeito de dar a ele as-
sim esses nomes de rebuço, é que é mesmo que ele forme forma, com as presenças.”
Observe que as palavras “collyrio” e “Brazil” figuram nos dias atuais com a mesma acepção,
mas com grafia diferente.
É importante ressaltar, ainda, que o espaço rural ou urbano é também responsável por
determinadas características da língua. A região rural, por sua localização mais afastada dos
centros urbanos, tende a manter certa regularidade no uso da língua e é menos afeita a
novidades linguísticas.
A região urbana, ao contrário, tende a ser mais flexível a essas novidades, à criação de no-
mes para designarem novas técnicas, aparelhos, remédios, doenças, veículos, etc. e as incorpora
com maior facilidade.
Assim sendo, pode-se concluir que os falares urbanos são mais dinâmicos, pois refletem a
velocidade das mudanças, os apelos e as exigências das grandes cidades.
d. Variações contextuais
24
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
fala das línguas que domina, ela usa perfeitamente a linguagem culta, mas, quando se refere ao por-
tuguês, por não dominá-lo, ela acaba se equivocando no emprego do verbo em um momento em
que deveria mostrar total conhecimento da língua materna.
“[...] Todo o relato descrito pela senhora reclamante pode ser verificado diretamente e
com precisão na central de regulação. Todas as ligações telefônicas e transmissões do Samu
são gravadas: podem-se verificar os horários, que tipo de informação o solicitante passou, se
houve um segundo telefonema, que tipo de ambulância compareceu, o momento exato de
sua chegada, o que foi falado no rádio, etc.
A acusação de omissão de socorro (artigo 135 do Código Penal, ‘deixar de prestar assis-
tência...’) feita pela reclamante é séria e deveria ser oficialmente protocolada por ela. Apesar
disso, ela se contradiz ao relatar que o paciente em questão chegou a ser atendido. A recla-
mante desconhece que a ambulância enviada ao local é aquela que estiver mais próxima e
disponível. Todas as unidades básicas (USB) dispõem de desfibrilador automático, equipa-
mento essencial ao atendimento da parada cardiorrespiratória ocorrida nesse caso. [...]
A ‘burocracia’ citada por ela é extremamente simples (basta se identificar endereço da
ocorrência, situação da vítima e seguir orientações do médico), mas deve ser explanada com
o mínimo de clareza e educação pelo solicitante, sem agressões verbais à equipe do Samu,
o que infelizmente ocorre frequentemente. Desconhece que todo este sistema organizado e
hierarquizado é pioneiro no Brasil. O seu modelo e os protocolos seguidos por ele são adap-
tados de países como a França e Estados Unidos. Esta estrutura possibilita que uma sala de
emergência seja montada na Savassi ou em Ribeirão das Neves, na rua ou em domicílio, em
casa ou no 10º andar, dentro da favela ou na estrada e dentro do carro. [...]”
(Fonte: Jornal Estado de Minas, 4 de set. 2008. P. 2 Caderno Cultura. Texto fragmentado.)
25
UAB/Unimontes - 1º Período
Esse registro constitui uma variante informal de menor prestígio, se comparado ao registro fa-
miliar. Representa um ato de fala mais descontraído, espontâneo, concreto e subjetivo. Distancia-se
das normas gramaticais, o vocabulário é restrito, aparecem redundâncias e gírias.
Caracteriza o falante com baixo ou nenhum grau de escolaridade. Nessa modalidade popu-
lar, aparece também o registro vulgar em que se empregam termos chulos e obscenos. Exempli-
ficando:
“Eu acho que a gente tem de colocar no poder quem ajuda a gente. Coloco meus filhos e
os vizinhos pra ajudar também. Não tô passando fome por causa do benefício que ele me dá”,
considera ela, que também afirma nunca ter visto rosto do ministro.
ATIVIDADE
(Fonte: Caderno Distrito Federal. Hoje em Dia. 24 ago. 2008, p. 7 – Texto fragmentado.)
Preste atenção a situ-
ações de interlocução
entre as pessoas nos As discussões sobre as variações linguísticas que fizemos até aqui confirmam que diversos
ambientes que você fatores envolvem o processo de comunicação, condicionando as escolhas linguísticas do falante.
frequenta. Você é capaz É essa mobilidade da língua que permite a seu usuário realizar com eficiência seus atos de fala e
de caracterizar um escrita.
falante desconhecido
pela linguagem que ele
Portanto, prezado aluno, você que inicia seus estudos das línguas e linguagens, lembre-se de
usa? Habitue-se a fazer que o conhecimento das variações linguísticas é, também, um conhecimento cientificamente fun-
essa análise e você verá damentado nas relações humanas.
como é enriquecedor (e Compreender, realmente, as variações linguísticas, fato concreto em nosso Português, pos-
também interessante) sibilitará que você seja um falante mais cuidadoso, mais humano, capaz de compreender seu se-
perceber o outro pelo
uso da língua.
melhante e ser compreendido, exercitando sua consciência crítica e cidadã.
Assim sendo, ao usar a língua, ajustando-a às especificidades da situação de comunicação,
você demonstrará bom-senso, maturidade intelectual e capacidade crítica nos processos de lei-
tura e de produção de textos.
26
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
início de conversa. As modalidades oral e escrita do português não apresentam as formas, os PARA SABER MAIS
recursos expressivos ou a gramaticalidade idênticas. Independente da utilização de um mesmo Não há oposição irredu-
nível de linguagem para a comunicação oral ou escrita, cada comunicação apresentará suas tível entre a linguagem
especificidades, suas características peculiares. falada e a escrita, mas
Então, vamos lá! “uma interação, que
Há, realmente, diferenças marcantes entre fala e escrita, pois cada modalidade está direta- admite graus diversos
de influência da língua
mente relacionada a um contexto sociocultural, a um propósito definido, a particularidades lin- falada na língua escrita.”
guísticas do falante. (In: LIMA SOBRINHO,
Barbosa. Língua
Portuguesa e a unidade
1.7.1 A linguagem oral do Brasil. Porto Alegre:
Editora José Olympio,
1958).
A linguagem oral é espontânea, livre e informal. Essas características se justificam porque,
na comunicação oral, há o contato direto dos interlocutores e pode-se contar também com re-
cursos extralinguísticos: gestos, expressões faciais e corporais, postura, etc. Também, estando em
um mesmo ambiente, os falantes podem recorrer a objetos desse ambiente para facilitar a comu-
nicação de suas ideias, de informações ou emoções.
É por isso que se diz que a linguagem oral é mais criativa. Ela não se prende inteiramente
ATIVIDADE
às regras gramaticais, seu vocabulário é mais reduzido e constantemente renovado.
Exemplificando: “... a língua escrita, ou
melhor, a linguagem
literária se nutre da
Contraponto Animador de auditório linguagem falada,
sob pena de se tornar
língua morta, como
Surfando em índices de aprovação sempre acima dos 70% em Pernambuco, Lula se sol- sucedeu com o latim...”
tou durante a inauguração de um campus da Universidade Federal Vale do São Francisco, on- (Lima Sobrinho). O que
tem, em Petrolina. O presidente criticou a “elite” que se forma “no exterior” e vai à praia de Boa você infere sobre a
Viagem. Ao lado de uma aluna de psicologia, perguntou: língua falada, a partir
dessa afirmativa? Escre-
- Você tem namorado, Janaína?
va suas conclusões.
27
UAB/Unimontes - 1º Período
Afra Balazina
da reportagem local
O sistema de monitoramento independente do Imazon (Instituto do Homem e Meio Am-
biente da Amazônia) aponta queda na taxa de desmatamento da floresta amazônica em 2008,
em comparação com o período anterior.
A avaliação ocorre poucos dias após o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
mostrar aumento do desflorestamento na região.
Para que você possa analisar melhor as características entre fala (linguagem oral) e escrita
(linguagem escrita), apresentamos-lhe o seguinte quadro comparativo:
1. SITUAÇÃO/CONTEXTO
Finalmente, é bom relembrar que só há interação quando o falante ajusta sua linguagem
ao destinatário. Nosso português é uma língua riquíssima e oferece múltiplas possibilidades de
recursos e usos. Cabe, pois, ao falante, a escolha adequada desses recursos para garantir uma
comunicação eficiente.
No entanto, mesmo que você saiba que não se pode estigmatizar o ato de fala do indivíduo
socialmente desfavorecido, nossa sociedade valoriza o domínio da língua escrita, pois ela é fun-
damental para a compreensão da informação tecnológica e científica, para a promoção do indi-
víduo e para a transformação social.
28
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. Amar se aprende amando. São Paulo: Record, 1990.
FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE, Maria Lúcia C, V, O; AQUINO, Zilda G, O. Oralidade e escrita:
perspectivas para o ensino de língua materna. São Paulo: Cortez, 1999.
FIORIN, José Luís. Teorias do discurso e ensino da leitura e da redação. In: Gragoatá. n.1 (2.
sem. 1996). Niterói: EDUFF, 1996.
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006.
INFANTE, Ulisses. Curso de Gramática Aplicada aos Textos. São Paulo: Scipione, 2005.
MEIRELES, Cecília. Viagem e Vaga Música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua e linguística. In: FIORIN, José Luiz (org). Introdução à lin-
guística. São Paulo: Contexto, 2005.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 11. ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1976.
VERÍSSIMO, L. F. O gigolô das palavras. Porto Alegre: L&PM Editores, 1982, p. 78.
29
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
UNIDADE 2
Leitura
2.1 Introdução
Esperamos que, nesta unidade, você possa compreender a importância da leitura em nossa
vida cotidiana e apreenda as maravilhas de se inserir neste mundo tão rico. O capítulo está divi-
dido nas seguintes subunidades:
2.2 Caracterização
2.3 Processos de leitura
2.4 Fatores intervenientes no “ato de ler”
Pelo poder da palavra ela pode agora navegar nas nuvens, visitar as estrelas,
entrar no corpo de animais, fluir com a seiva das plantas, investigar a imagina-
ção da matéria, mergulhar no fundo de rios e de mares, andar por mundos que
há muito deixaram de existir, assentar-se dentro de pirâmides e de catedrais
góticas, ouvir corais gregorianos, ver os homens trabalhando e amando, ler as
canções que escreveram, aprender das loucuras do poder, passear pelos es-
paços de literatura, da arte, da filosofia, dos números, lugares onde seu corpo
nunca poderia ir sozinho... Corpo espelho do universo! Tudo cabe dentro dele!
Neste capítulo, procuramos mostrar que LER significa DECODIFICAR, INTERPRETAR, CONHE-
CER e, para que o processo de leitura se dê satisfatoriamente, é necessário que o leitor interaja
com o texto, buscando retirar informações que lhe possibilitem construir seu significado através
das estratégias de leitura.
Iniciemos então essa nova jornada. Boa leitura!
2.2 Caracterização
Segundo Kleiman (2002), o ato de ler caracteriza-se pelo processo de construir significados
a partir de um texto. Esse processo se torna possível por causa da interação entre os elementos
textuais e os conhecimentos do leitor. Quanto maior essa interação, maiores as possibilidades de
sucesso na leitura.
Um texto é uma unidade básica de comunicação que possui vários sentidos (é polissêmi-
co), permitindo assim que cada leitor possa ter uma interpretação de acordo com o seu conheci-
mento de mundo. É claro que essa interpretação será limitada pelos aspectos formais que o com-
põem, como o vocabulário, a combinação das palavras na frase e a escolha dos tempos verbais
que não permitirão que o leitor fuja dos limites do texto. Não é qualquer sentido que pode ser
dado a qualquer texto. Há um limite a ser respeitado.
No exemplo, percebemos que não houve compreensão devido ao fato de o falante da lín-
gua não dominar o vocabulário necessário para o completo entendimento.
Kleiman (2002) denomina conhecimento textual a um conjunto de noções e conceitos so-
bre o texto, importantes para a sua compreensão, ou seja, trata-se do entendimento da estrutura
composicional do texto, do seu funcionamento. Quanto mais conhecimento se tem sobre o gê-
nero colocado em foco maior a probabilidade de entendê-lo. Exemplificando: ao nos deparar-
mos com um texto poético, por exemplo, já temos uma postura diferente em relação à sua leitu-
ra e interpretação do que quando lemos um texto científico.
O conhecimento de mundo, também denominado conhecimento enciclopédico, pode ser
adquirido formalmente ou informalmente. Abrange desde o domínio mais técnico até conheci-
mentos do cotidiano. Desse modo, situações do dia a dia, a todo o momento, acrescentam-nos
informações que poderão nos auxiliar no processamento da leitura.
Os tipos de conhecimentos suscitados constituem o conhecimento prévio, sem o qual é im-
possível compreender textos. De acordo com Garcez (2004), a leitura não é um procedimento
simples. É extremamente complexo, pois não podemos considerar apenas o que está escrito. Por
isso a importância do conhecimento prévio, pois tal conhecimento é ativado e atualizado pela
atividade comunicativa, abarcando, obviamente, as práticas de leitura e escrita, fazendo com que
o leitor se torne um sujeito letrado nas esferas sociais.
Para Smith (1989), conhecimento prévio também pode ser entendido como informação não
visual. O autor defende que ele se encontra armazenado na mente humana, fazendo com que
possamos captar o sentido das informações visuais quando lemos. Assim, todos os seres neces-
sitam desse conhecimento para assimilar aquilo que leem, para inferirem as informações suscita-
das pelo texto, enfim, para produzir sentidos nas interações sociais.
Ao ler um texto, é necessário, portanto, inferir diversas informações que não foram mencio-
nadas explicitamente, mas que são relevantes para o entendimento da mensagem.
Exemplificando:
Considere a seguinte frase: Lula foi à Espanha a negócios. Não há necessidade de dizer de
que Lula se trata, pois o leitor, provavelmente, inferirá Lula = Presidente da República. Assim, de-
vido à inferência, o escritor não tem que elucidar toda a informação no texto, ela favorece um
processo de economia linguística através do qual a leitura opera também nas entrelinhas.
Outra operação importante para a prática de leitura é a previsão. Trata-se das expectativas
que o leitor traça ao se deparar com um texto. Na leitura, o leitor está constantemente fazendo
previsões sobre o que é provável que apareça em um dado texto.
Como exemplo, se encontrarmos em uma propaganda a seguinte sequência: Marqux ux x
nx sxrte e concoxxa ao Oxrocap. O leitor terá condições de prever “Marque um x na sorte e con-
32
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
corra ao Ourocap”. Baseado em nossa experiência linguística, é possível prever a sequência lexi-
cal sugerida.
Tanto a operação de inferência quanto a de previsão facilitam a compreensão textual. E tan-
to a inferência quanto a previsão se processam em razão do conhecimento prévio. Desse modo,
para que se forme um leitor eficiente, necessário se faz a aquisição, apropriação de conhecimen-
tos diversos engendrados nas esferas sociais.
Mas não se pode esquecer que a habilidade da leitura só se adquire com a prática. Isto é: só
se aprende a ler, lendo!
Observe o que o escritor Ziraldo argumenta sobre a leitura:
Entende-se leitura como um processo. Dessa forma, ler indica a construção de uma cadeia
de sentidos a partir do texto. Segundo Soares (2002, p. 29):
Walty (1995) explica que, num primeiro momento, ler significava contar, enu-
merar as letras; depois colher e, por último, roubar. A palavra ler, então, já tra-
duz em sua raiz pelo menos três níveis de leitura que correspondem, respec-
tivamente, à alfabetização, à tradicional interpretação de texto e, por fim, à
construção de sentido. Neste último e terceiro nível, o leitor tem mais poder,
e vai, como diz Eco (1994), construir suas próprias trilhas no texto. A leitura, en-
tão, se faz de diferentes níveis e modos, adquirindo diversas possibilidades.
Em síntese, o processo de leitura inicia-se a partir dos significados em torno da palavra ler,
que significa contar, enumerar as letras; em seguida, significa colher e, por fim, roubar. Tais signi-
33
UAB/Unimontes - 1º Período
ficados são relacionados aos níveis de leitura. O primeiro nível diz respeito à decodificação, cor-
respondente à alfabetização. O segundo nível diz respeito a retirar informações do texto, à tradi-
GLOSSÁRIO cional interpretação de textos. Nesse caso, o leitor se prestaria a perceber o sentido do texto que
Inferência: ato ou efei- já estaria estabelecido. O último significado consiste em apropriar-se das ideias do autor, ou seja,
to de inferir, de deduzir construir conhecimento à revelia do produtor do texto. O último significado está em consonân-
ou concluir algo pelo
cia com a perspectiva do letramento, haja vista que o leitor se torna um coautor, corroborando
raciocínio.
Prólogo: comentário para a produção de sentido.
feito pelo autor a res- Ainda, consideramos que todo texto entendido como unidade básica de comunicação é
peito do tema discu- polissêmico porque é atravessado por várias vozes e vários sentidos. Isto quer dizer que um mes-
tido no livro e de sua mo texto permite mais de uma interpretação porque neste ato de ler estão envolvidos a deco-
experiência pessoal.
dificação de símbolos gráficos e o conhecimento de mundo de cada leitor. Cabe ressaltar aqui
Prefácio: escrito por
terceiros ou pelo pró- que a leitura não pode ser qualquer uma porque o sistema linguístico, ou seja, o léxico, a relação
prio autor, referindo-se morfológica e sintática, regula os sentidos, não permitindo que sejam quaisquer sentidos. Sendo
ao tema abordado no assim, lemos o tempo todo, de modo que o sujeito se vê sempre obrigado a interpretar.
livro e também sobre o De acordo com Ferreira (2006), no Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa, ler é: 1.
autor do livro.
Passar a vista pelo escrito ou impresso para inteirar-se do seu conteúdo. 2. Pronunciar as palavras
Introdução: escrita
pelo autor refere-se de um escrito ou impresso. 3. Estudar.
ao livro e não ao tema Como podemos observar, ler é armazenar informações, desenvolver raciocínio, comunicar
como no prólogo. melhor, escrever melhor, compreender o mundo, interpretar, analisar os fatos de modo crítico, etc.
A leitura é muito importante, pois traz inúmeros benefícios à vida do ser humano. Ela é uma
“forma de lazer e de prazer, de aquisição de conhecimentos e de enriquecimento cultural, de am-
pliação das condições de convívio social e de interação” (SOARES, 2002, p. 19).
Logo, a leitura é um processo através do qual se pode observar, perceber, descobrir e refle-
tir sobre o mundo, interagindo com o seu semelhante através do uso funcional da linguagem.
Aprender a ler é um processo social de construção de significados.
Soares (2000) estabelece a seguinte definição de leitura:
Leitura não é esse ato solitário; é interação verbal entre indivíduos, e indivíduos
socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social,
suas relações com o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar na
estrutura social, suas relações com o mundo e os outros. (SOARES, 2000, p. 18)
A partir dessa definição, chegamos à conclusão que a leitura é um processo dinâmico e so-
cial, fruto da interação da informação presente no texto e o conhecimento prévio do leitor, possi-
bilitando a construção do sentido, ou, em outras palavras, a compreensão textual.
Kleiman (2002) argumenta que o ato da leitura exige do leitor conhecimento de mundo, co-
nhecimento textual e conhecimento linguístico. Assim, à medida que captamos as imagens (pa-
34
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
lavras, números, sinais gráficos, etc.), encaminhamos essas informações para o nosso cérebro que
vai percebê-las, interpretá-las e organizá-las de acordo com a bagagem cultural (conhecimentos
de mundo) que possuímos. O conteúdo lido será assimilado e as informações lidas serão relacio-
nadas ao nosso cotidiano, passando a fazer parte do nosso arquivo mental.
A interação estabelecida entre o leitor e o texto escrito é diferente da interação que se esta-
belece entre duas pessoas quando conversam face a face, porque na conversa o falante não só
pode utilizar palavras, como também gestos, repetições, expressões faciais e corporais, entona-
ção da voz, etc., como afirma Infante (2005). Já na leitura, o leitor está diante de palavras, escritas PARA SABER MAIS
por um autor que não está presente para complementar as informações. Assim, é natural que o
O Mundo da Leitura
leitor forneça ao texto informações enquanto lê, preenchendo os espaços vazios. é um programa de TV
A leitura é uma capacidade cerebral complexa que vai exigir do leitor mais do que uma sim- produzido pela Univer-
ples decodificação dos sinais gráficos (escrita), exigirá um bom conhecimento da língua. Além de sidade de Passo Fundo
ler o texto propriamente dito, o leitor deverá estar atento às informações pré-textuais como o tí- e exibido nacionalmen-
tulo do livro, o nome do autor, as informações bibliográficas, o índice e a introdução para ter uma te no Canal Futura. As
aventuras de Gali-Leu e
primeira impressão e obter informações que possibilitarão uma leitura mais eficiente. sua turma são elabo-
Além dessas informações, o ato de ler exige a observação de outros fatores que veremos radas por uma equipe
abaixo. interdisciplinar que
envolve os cursos de
Letras, Artes e Comu-
nicação, Educação,
de ler”
linguagens apresen-
tadas - manipulação
de bonecos, leitura e
encenação de textos
infantis, artes gráficas,
Existem alguns fatores que interferem diretamente no ato de ler e atrapalham na apreensão música, entre outros
do sentido do texto. Para que se obtenha sucesso no processamento da leitura, é preciso que o - servem de incentivo
leitor fique atento a alguns procedimentos que ajudarão a sua leitura como, por exemplo, estar para o desenvolvimen-
em um ambiente propício e ter todos os objetos necessários ao seu alcance. to da criatividade, do
raciocínio lógico e,
Além desses procedimentos, de acordo com Garcez (2004), existem algumas outras ações principalmente, para
que evitam interferências na leitura e que são muito úteis para tornar a leitura produtiva: a criação do hábito da
• Estabelecer um objetivo claro (Sempre que temos um objetivo claro, ficamos mais atentos leitura entre as crian-
para o texto). ças. Quer saber mais?
• Após a primeira leitura, reler o texto e sublinhar com lápis as palavras-chave (Por meio delas, Acesse o site http://
mundodaleitura.upf.
podemos reconstituir o sentido de um texto e até elaborar um esquema ou síntese). br/programa/mundo-
• Tomar notas (O leitor anota pequenas frases que resumem o pensamento principal do perí- daleitura/index.html e
odo, parágrafo ou texto). navegue nas atividades
• Identificação da coerência textual (Identificar as estruturas básicas para compreender o fun- propostas.
cionamento do texto).
• Monitoramento e concentração.
Ainda segundo Garcez (2004, p. 42), “durante a leitura podemos exercer um relativo contro-
le sobre as nossas atividades mentais, disciplinando-as e submetendo-as aos nossos interesses”.
Sendo assim, esse controle é imprescindível para que a leitura seja produtiva. Para tanto, “é ne-
cessário treino e concentração, prestar bastante atenção no que fazemos enquanto lemos para
termos domínio sobre nossas próprias habilidades de leitura” (GARCEZ, 2004, p. 43).
CAUSO MINEIRO
ATIVIDADE
Sapassado era sessetembro, taveu na cuzinha tomanuma pincumel e cuzinhanum kidi- O texto ao lado (Causo
carne cumastumate pra fazê uma macarronada cum galinhassada. Quascaí de susto quanduvi Mineiro) está na moda-
um barui vinde denduforno paricenum tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda ga- lidade oral. Transcreva-
linha prassá. O forno isquentô, o miistorô e o fiofó da galinhispludiu! Nossinhora! Fiquei bran- -o para a modalidade
escrita da língua,
co quineim um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim,
fazendo as adequações
noncotô, proncovô... Ópcevê quilocura! Grazadeus ninguém simaxucô! necessárias.
(Fonte: In: CRUZ, Robson Luiz Trindade; HELLOU, Geórgia. Língua Portuguesa. São Paulo: Núcleo, 2005)
35
UAB/Unimontes - 1º Período
Garcez (2004) argumenta que a leitura não se esgota no momento em que se lê e que um
leitor ativo considera os recursos técnicos e cognitivos que podem ser desenvolvidos para uma
leitura produtiva.
Assim, o trabalho com a leitura é apresentado por Solé (1998) em três etapas: o antes, o du-
rante e o depois da leitura. Segundo a autora, as seguintes estratégias de compreensão são mui-
to importantes para o momento anterior à leitura:
1. Antecipação do tema ou ideia principal a partir de elementos paratextuais, como título,
subtítulo, do exame de imagens, de saliências gráficas, outros;
DICA 2. Levantamento do conhecimento prévio sobre o assunto;
Quer ficar por dentro 3. Observação e análise do suporte textual;
dos livros mais interes- 4. Observação e análise do gênero textual;
santes e dos lança- 5. Observação e análise do autor ou instituição responsável pela publicação.
mentos? Acesse o site
http://www.dicasde- Após essas cinco estratégicas, muito importantes para um conhecimento anterior do texto e
leitura.com.br/portal/
e fique por dentro de consequente compreensão, seguem as estratégias, propostas por Solé (1998), para serem empre-
todas as obras literárias gadas durante a leitura:
do seu interesse. 1. Confirmação, rejeição ou retificação das antecipações ou expectativas criadas antes da lei-
tura;
2. Localização ou construção do tema ou da ideia principal;
3. Esclarecimentos de palavras desconhecidas a partir da inferência ou consulta do dicioná-
rio;
4. Formulação de conclusões implícitas no texto, com base em outras leituras, experiências
de vida, crenças, valores;
5. Formulação de hipóteses a respeito da sequência do enredo;
6. Identificação de palavras-chave;
7. Busca de informações complementares;
8. Construção do sentido global do texto;
9. Identificação das pistas que mostram a posição do autor;
10. Relação de novas informações ao conhecimento prévio;
11. Identificação de referências a outros textos.
Como discutido anteriormente, a leitura não se esgota no momento em que se lê. Sendo
assim, Solé (1998) enfatiza as seguintes estratégias para após a leitura:
1. Construção de síntese do texto;
2. Emprego do registro escrito para melhor compreensão;
3. Troca de impressões a respeito do texto lido;
4. Relação de informações para tirar conclusões;
5. Avaliação das informações ou opiniões emitidas no texto;
6. Avaliação crítica do texto.
Referências
CRUZ, Robson Luiz Trindade; HELLOU, Geórgia. Língua Portuguesa. São Paulo: Núcleo, 2005.
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Pau-
lo: Cortez, 1988. 80 p.
GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escre-
ver. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
INFANTE, Ulisses. Curso de Gramática Aplicada aos Textos. São Paulo: Scipione, 2005.
KLEIMAN, Ângela. Texto & leitor: aspectos cognitivos da leitura. 7. ed. Campinas: Pontes, 2002.
36
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Tradução de Cláudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,
1998.
37
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
UNIDADE 3
Texto e textualidade
3.1 Introdução
Nesta terceira unidade, apresentamos a você as noções de texto e de textualidade, por meio
das seguintes subunidades:
3.2 O que é texto
3.3 Fatores de textualidade
3.4 Produção de texto
3.5 Tipologia e Gêneros Textuais
Discutiremos definições de grande relevância para o seu conhecimento sobre texto, sobre
os fatores que fazem com que um texto seja realmente um texto, sobre a produção de textos e,
ainda, um quadro comparativo com a distinção entre tipos e gêneros textuais.
Agora que você já entendeu algumas questões sobre leitura, podemos conversar sobre a
produção de texto. Fávero e Koch (1994, p.25) salientam a existência de duas acepções segundo
as quais podemos compreender o termo “texto”. Na primeira acepção, “texto, em sentido amplo,
designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (uma música, um
filme, uma escultura, um poema, etc.)”.
Na segunda acepção: “[...] em se tratando de linguagem verbal, temos o discurso, atividade
comunicativa de um sujeito, numa situação de comunicação dada, englobando o conjunto de
enunciados produzidos pelo locutor (ou pelo locutor e interlocutor, no caso dos diálogos) e o
evento de sua enunciação” (FÁVERO e KOCH, 1994, p. 25).
É necessário considerar que essas duas acepções de texto nos permitem compreender
textos em sentido amplo, como esculturas, pinturas, músicas, desenhos e, ainda, textos em
sentido estrito, textos escritos e falados.
A partir da segunda acepção apresentada, as autoras Fávero e Koch (1994) pontuam que o
discurso é manifestado, linguisticamente, por meio de textos (em sentido estrito). O texto con-
siste, então, em qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo, indepen-
dentemente de sua extensão.
Assim, você pode dizer que um texto não se define pela quantidade de palavras empreen-
didas, e sim por sua textualidade, isto é, a possibilidade de que seja entendido como “unidade
significativa global”.
Nesse sentido, uma lista de itens a serem comprados no supermercado pode ser considera-
da um texto, o que já não ocorre com uma “lista de palavras iniciadas com ch”, visto que essa não
advém de uma real situação comunicativa.
39
UAB/Unimontes - 1º Período
A produção de um bom texto exige atenção na escolha das palavras. É muito importante
que o leitor tenha claro em mente o que se quer escrever, no entanto, isso só é possível se o lei-
tor se posiciona como um leitor crítico para analisar sua obra minuciosamente. Para que o texto
seja bem redigido e transmita claramente as ideias contidas nele, é preciso que se observem as-
pectos como:
ATIVIDADE
• • Clareza: o texto deve ser redigido em uma linguagem que possibilite ao leitor a compre-
Para aprofundar sua ensão daquilo que está sendo exposto. Assim, deve-se utilizar uma linguagem impessoal,
compreensão sobre
Produção Textual,
culta padrão.
perguntamos: o que • • Concisão: o texto deve transmitir de forma objetiva, com ideias diretas, sem rodeios. Deve
é um texto? Quais as ser escrito sem a utilização de palavras desnecessárias.
características que • • Correção: o autor deve estar atento à norma culta da língua, evitando desvios de lingua-
definem um texto? Por gem em relação à grafia, utilizando apenas palavras conhecidas.
que o ensino da Língua
Portuguesa deve se dar
• • Elegância: o texto é escrito seguindo as qualidades acima descritas, tornando-se mais
através de textos? agradável aos olhos do leitor. Quanto mais limpo (sem rasuras), legível e claro estiver o tex-
to, mais fácil será a sua compreensão.
A língua, entendida como o conjunto de palavras e expressões usadas por um povo ou na-
ção, mantém-se viva através de seu uso pelas pessoas envolvidas, em processos interacionais. O
uso, por sua vez, não se dá através de palavras ou expressões empregadas isoladamente. Ele se
concretiza na PRODUÇÃO DE TEXTOS, na forma de textos orais ou escritos. Apesar de não ser ta-
refa muito complexa para o usuário da língua, distinguir entre um texto coerente e um conjunto
de palavras ou expressões sem sentido, conceituar, definir precisamente os limites entre “texto” e
“não texto” não é uma ação tão simples.
A partir dessa compreensão, podemos dizer que o texto é uma unidade básica e significa-
tiva da atividade de linguagem, visto que o texto é o elemento central da interação social, da
comunicação. E como o nosso principal objetivo, quer lendo ou escrevendo, é interagirmos so-
cialmente, somente o texto nos servirá a esse propósito. Expressões isoladas, sons no vazio, exer-
cícios repetitivos de decodificação não cooperarão para o desenvolvimento da atividade de lín-
gua (gem) demandada pelas diversas práticas sociais das quais os sujeitos participam.
Segundo Costa Val (1999, p. 16), o texto deve ser entendido “como ocorrência linguística fa-
lada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e for-
mal”. Confrontando essa definição com a apresentada por Fávero e Koch (1994), há um aspecto
comum que se destaca: não é a extensão que caracteriza um texto. Nesse sentido, as palavras
“Cuidado!” ou “Liberdade!” podem figurar como textos dependendo do contexto no qual elas são
usadas. No entanto, determinadas redações escolares ou certos “textos” de cartilhas podem se
apresentar tão somente como um apanhado de enunciados sem unidade semântica.
Você precisa saber, ainda, que o texto reflete e refrata marcas peculiares à situação enuncia-
tiva na qual ele foi engendrado. Em outros termos, o texto expressa traços do sujeito que enun-
cia, representações sociais reiteradas nas esferas sociais, aspectos sócio-históricos que atraves-
sam a prática comunicativa, implicações temporais e espaciais do contexto no qual se efetivou a
interação verbal. E você pode concluir, então, que o texto materializa as condições de produção e
os propósitos comunicativos traçados para a ação enunciativa.
40
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
Por fim, para que um texto de fato se configure como tal deve possuir determinados traços
elementares como, por exemplo, a intenção comunicativa, a unidade formal e de sentido, etc. A
PARA SABER MAIS
esse conjunto de traços que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequên-
cia de frases, dá-se o nome de textualidade que discutiremos, detalhadamente, no subitem 3.3 Leia o que disse Paulo
Freire (1988) sobre o
Fatores de textualidade.
ato de ler:
Ao refletir sobre produção textual, podemos nos perguntar quais os fatores que interferem “A leitura do mundo
no sucesso ou não da produção textual. Podemos responder que podem ser fatores de motiva- precede a leitura da
ção para a escrita, problemas dialetais, fator social, econômico, cultural, de alfabetização, inti- palavra e a leitura desta
midade com a escrita e com a leitura, etc. Ainda, observamos como a linguagem visual é mais implica a continuidade
da leitura daquela”.
constante no nosso dia a dia e daí temos mais intimidade com a linguagem visual do que com a
(Fonte: In: O que é
escrita. Para alguns (ou muitos) de nós, infelizmente, ver televisão e vídeo, jogar videogame, “ba- leitura. Maria Helena
ter papo” na internet é mais prazeroso que ler obras literárias, revistas informativas, etc. Martins. Brasiliense - p.
9-10).
◄ Figura 19:
Conhecimento prévio
Fonte: Disponível em:
http://www.faccar.com.
br/eventos/desletras/
hist/2005_g/2005/tex-
tos/005.html, acesso em 3
jun. 2013.
41
UAB/Unimontes - 1º Período
Para que o leitor compreenda a imagem, o locutor conta com o conhecimento prévio do
interlocutor. Veja que a capa da revista em quadrinhos “brinca” com uma ideia que não aparece
explicitamente nela, que não está registrada pelas palavras: a intertextualidade entre a fala da
personagem Magali na capa da revistinha em quadrinhos (Comer ou não comer...) com o texto
fonte de Willian Shakespeare (To be or not to be... = Ser ou não ser...). A compreensão da mensa-
gem só será completa e o humor estabelecido se o interlocutor tiver o conhecimento prévio da
frase célebre de Shakespeare.
O que se pode concluir da análise dessa capa? A resposta é simples: em sua vida de leitor/
ouvinte, você encontrará textos em que nem tudo que seja importante para a compreensão das
ideias estará registrado, embora o locutor conte com seu entendimento (conhecimento prévio)
para dar sentido ao texto.
Por isso, é necessário que o leitor/ouvinte tenha determinadas habilidades para entender
aquilo que lê ou ouve. Essas habilidades, por sua vez, abrangem alguns fatores que são responsá-
veis pela “textualidade”, isto é, características que fazem um texto ter sentido para seus interlocu-
tores.
Essas características são: coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalida-
de, informatividade e intertextualidade.
Nesta unidade, desenvolveremos apenas as noções básicas dos fatores de textualidade, de
acordo com Fávero e Koch (1994), para que você se habitue, aos poucos, com o vocabulário es-
pecífico e perceba o texto como um conjunto formado pela combinação harmoniosa desses fa-
tores que lhe dão sentido.
• COERÊNCIA: refere-se ao sentido que um texto deve apresentar, isto é, as partes que o com-
põem devem-se ligar por uma continuidade de sentido, de modo que não apresente contra-
dições de ideias, que não seja ilógico.
• COESÃO: é o mecanismo linguístico responsável pela unidade formal do texto. É a coesão
que estabelece a relação lógica entre uma palavra e outra, uma frase e outra e entre os pará-
grafos de um texto.
• INTENCIONALIDADE: é uma característica que mostra a atitude do locutor, sua intenção
comunicativa, seu objetivo ao produzir o texto.
• ACEITABILIDADE: refere-se à atitude do interlocutor, suas expectativas em relação ao texto.
• SITUACIONALIDADE: é o fator responsável pela adequação do texto a um determinado
ambiente (contexto) ou situação em que ocorre a comunicação.
• INFORMATIVIDADE: liga-se ao nível de informação (previsível ou imprevisível) contida no
texto e sua capacidade ou não de satisfazer o interlocutor.
• INTERTEXTUALIDADE: ocorre quando o autor de um texto recorre a outros textos, de for-
ma implícita ou explícita, repete expressões, enunciados ou trechos de outros autores. Para
identificar essas “vozes”, o autor conta com o conhecimento prévio de seu interlocutor.
A apresentação desses fatores de textualidade já deve ter dado ao você a ideia de como eles
são importantes para a composição de um texto. E, uma vez que um texto bem estruturado está
sempre entrelaçado por esses fatores, compete a você utilizar esse conhecimento para produzir
textos adequados ao interlocutor e ao contexto.
42
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
textos. É possível falarmos em gêneros variados que vão do bilhete, passando pelo cartão-postal,
e-mail, charge, cartaz, anedota, poema, manual de instruções, ofício, crônica, receita culinária,
fábula e pelo telegrama até chegar ao texto científico, ao conto, etc. Conhecer os gêneros
textuais torna mais fácil a leitura e o desenvolvimento da competência comunicativa do falante,
uma vez que a linguagem é organizada como ação humana a partir das coisas do mundo.
EXEMPLOS EXEMPLOS
Carta Narração
Bilhete Descrição
Carta eletrônica (e-mail) Injunção
Bula Exposição
Receita médica Dissertação
Receita culinária
Telefonema
Telegrama
Conto
Novela
História em quadrinhos
Manual de instruções
Folha de cheque, etc.
Fonte: Baseado em Marcuschi (2002, p. 22)
É preciso tomar muito cuidado também para não se confundir texto e discurso. O texto é
uma unidade sociocomunicativa concreta que se materializa em algum gênero textual e o dis-
curso é a ideologia que se manifesta através de algum texto ou prática comunicativa. Bronckart
(1999, p. 75) chama de texto “[...] toda a unidade de produção de linguagem situada, acabada e
autossuficiente (do ponto de vista da ação ou da comunicação)”. Com relação ao texto empírico,
Bronckart diz:
[...] todo o texto empírico é o produto de uma ação de linguagem, é sua con-
traparte, seu correspondente verbal ou semiótico; todo texto empírico é rea-
lizado por meio de empréstimo de um gênero e, portanto, sempre pertence
a um gênero; entretanto todo texto empírico também procede de uma adap-
tação do gênero-modelo aos valores atribuídos pelo agente à sua situação de
ação e, daí, além de apresentar as características comuns ao gênero, também
apresenta propriedades singulares, que definem seu estilo particular. Por isso,
a produção de cada novo texto empírico contribui para a transformação histó-
rica permanente das representações sociais, referentes não só aos gêneros de
textos (intertextualidade), mas também à língua e às relações de pertinência
entre textos e situações de ação (BRONCKART, 1999, p.108).
43
UAB/Unimontes - 1º Período
Há outro campo linguístico da atividade humana que é conhecido como domínio discursi-
vo. Segundo Marcuschi (2002), esses domínios não são textos nem discursos, mas possibilitam o
surgimento de discursos muito específicos, os gêneros discursivos como discurso religioso, dis-
curso jurídico, discurso jornalístico, etc. já que as atividades religiosas ou jurídicas dão origem a
GLOSSÁRIO
vários gêneros, não se limitando a um em particular.
Fonologia: Preocupa- A partir dessas características específicas de um gênero textual (ou gênero discursivo) pode-
-se com os sons de uma mos tratar de aspectos da textualidade, tais como coerência e coesão textuais, a impessoalidade,
língua, mas se preocu-
pando com os aspectos as técnicas de argumentação e outros aspectos. A interação autor-texto-leitor, a pluralidade de
interpretativos dos discursos e as possibilidades de organização do universo através da linguagem são pontos re-
sons. levantes na elaboração do conhecimento a partir de diferentes situações de interação. Por isso,
Semântica: Preocupa- devemos estar cientes do papel que a linguagem desempenha no nosso dia a dia.
-se com o significado O trabalho com a leitura, compreensão e a produção escrita em sala de aula deve ter como
das palavras na frase.
meta principal o desenvolvimento de habilidades que façam com que o aluno seja capaz de usar
um número cada vez maior de recursos da língua (formais, fonológicos, sintáticos e semânticos)
para produzir efeitos de sentido de forma adequada a cada situação de interação humana em
que esteja inserto.
De maneira geral, não há uma variação muito relevante na visão de alguns autores sobre as
definições de tipos de textos e gêneros textuais. Dessa forma, apresentamos abaixo um quadro
comparativo entre as ideias de Marcuschi (2002) e Travaglia (1996) para o seu conhecimento:
MARCUSCHI TRAVAGLIA
44
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
MARCUSCHI TRAVAGLIA
Semelhantes opiniões entre os dois autores são notadas quando falam que texto e discurso
não devem ser encarados como iguais. Marcuschi (2002) considera o texto como uma entidade
concreta realizada materialmente e corporificada em algum Gênero Textual. Discurso para ele é
aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. O discurso se reali-
za nos textos.
Travaglia (1996) considera o discurso como a própria atividade comunicativa, a própria ativi-
dade produtora de sentido para a interação comunicativa, regulada por uma exterioridade sócio-
-histórica-ideológica. Texto é o resultado dessa atividade comunicativa. O texto, para ele, é visto
como uma unidade linguística concreta que é tomada pelos usuários da língua em uma situação
de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma
função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão.
Travaglia (1996) afirma que distingue texto de discurso levando em conta que sua preocu-
pação é com a tipologia de textos, e não de discursos. Já Marcuschi (2002) afirma que a definição
que traz de texto e discurso é muito mais operacional do que formal.
Por fim, podemos afirmar que muitos estudiosos da Linguística Aplicada veem o gênero
como ponto de partida para quaisquer atividades relacionadas às práticas de escrita e leitura,
isso porque, conforme Marcuschi (2002, p.25), “gêneros são formas verbais de ação social relati-
vamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domí-
nios discursivos específicos”. Desse modo, toda e qualquer prática comunicativa se calça em um
ou outro gênero.
Então, o gênero pode ser entendido como um fenômeno social à medida que cumpre a fun-
ção de ordenar e estabilizar as práticas comunicativas. Daí pensar que sua natureza é ambivalen-
te, visto que deve, ao mesmo tempo, ser parâmetro e, portanto, relativamente estável, mas ser
também maleáveis, dinâmicos e plásticos com o propósito de se adequarem ao evento enuncia-
tivo. Nesse quadro, Marcuschi (2002, p.22) defende que os gêneros são “ações sociodiscursivas
para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo”.
Analise o quadro abaixo e observe como em um gênero textual está presente a modalidade
discursiva, o ambiente discursivo e a interação verbal.
45
UAB/Unimontes - 1º Período
QUADRO 4 – Síntese
AMBIENTE INTERAÇÃO
GÊNERO MODALIDADE SUPORTE DO
DISCURSIVO VERBAL
TEXTUAL DISCURSIVA TEXTO
(INSTITUIÇÃO) ENUNCIADORES
Referências
ABAURRE, Maria Luiza et alli. Língua e Literatura. Volume Único. São Paulo: Moderna, 1996.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FÁVERO, Leonor L.; KOCH, Ingedore G. V. Línguística textual: uma introdução. São Paulo: Cortez,
1994.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela
Paiva, MACHADO, Anna Rachel, BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio
de Janeiro: Editora Lucerna, 2002.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. Maria Helena Martins. São Paulo: Brasiliense, 1997.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação - Uma proposta para o ensino de gramática.
1. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
46
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
Resumo
Unidade I
Nesta unidade, você aprendeu:
• A linguagem é o maior veículo de comunicação social que o homem possui, pois é através
dela que ele pode expressar seus pensamentos.
• O linguista Ferdinand de Saussure é considerado o pai da linguística moderna ao ter suas
ideias publicadas na obra póstuma intitulada “Curso de Linguística Geral”. Ele separa a lin-
guagem em língua e fala.
• A língua, para Saussure, é “um sistema de signos”. É ampla, coletiva e obedece a padrões
criados pela própria comunidade. É a parte social da linguagem.
• A fala é individual e tem caráter dinâmico, sendo expressa pelos atos de fonação.
• A gramática (normativa) dita as regras que devem ser seguidas por uma comunidade lin-
guística, no exercício da comunicação.
• Comunicação é a transmissão de sinais lógicos, claros e coerentes, através de um código
que pode ser convencionado ou natural.
• Numa situação de comunicação, há, no mínimo, duas pessoas interagindo por meio da lin-
guagem: o locutor ou emissor e o interlocutor ou receptor.
• O processo de comunicação verbal baseia-se em seis elementos: o emissor, o receptor, a
mensagem, o código, o canal e o referente.
• De acordo com a Teoria da Comunicação, toda mensagem tem uma finalidade, uma inten-
ção predominante que orienta sua produção. A mensagem pode ter a finalidade de infor-
mar, persuadir, provocar humor, emocionar, etc.
• É a finalidade da mensagem que determina a função linguística predominante em um
texto. Essas funções são: expressiva ou emotiva (centrada no emissor, revela sentimentos. Uso
de pronomes de 1.ª pessoa e verbos em 1.ª pessoa), conativa ou apelativa (centrada no recep-
tor ou recebedor, acionando-o diretamente, tem objetivo de estimulá-lo a tomar uma atitude.
Uso de vocativos e verbos no modo imperativo.), referencial ou denotativa (centrada no con-
texto. Uso de linguagem mais direta, objetiva, com sentido único), fática (centrada no canal.
Mostra o interesse do emissor de estabelecer, manter ou encerrar o contato. As frases são
entremeadas de expressões consideradas clichês: olá! Oi! Como vai? Até logo! Tchau!), meta-
linguística (centrada no código linguístico, isto é, a língua é utilizada para dar alguma informa-
ção, apresentar um conceito, fazer ressalvas, etc.) e poética (centrada na mensagem. Há um
trabalho intencional com a palavra, buscando efeitos criativos, inesperados, musicais).
• Há fatores que interferem no uso da linguagem como a região, a cultura, a situação de comu-
nicação e a histórica de um povo, possibilitando a variação linguística.
• As variações linguísticas podem ser classificadas como:
• REGIONAIS: diferenças ligadas à pronúncia e vocabulário próprios de uma região. Inclui os
falares rurais (mais conservadores) e urbanos (mais dinâmicos).
• SOCIOCULTURAIS: variações determinadas por vários fatores como idade, nível de escolari-
dade, profissão, sexo, classe social, raça, religião.
• CONTEXTUAIS: variações ligadas ao falante por influência do assunto (o quanto o falante
sabe sobre o assunto determina, consequentemente, sua facilidade ou dificuldade de ex-
pressão); da situação de interlocução (se o contexto é formal ou informal) e o grau de in-
timidade/formalidade entre os falantes. Destacam-se os registros: formal (nível culto, com
utilização da língua padrão/escrita) e informal ou coloquial (nível familiar comum e nível po-
pular – gírias, termos chulos).
• HISTÓRICAS: também chamadas variações de época. São decorrentes de mudanças e avan-
ços sociais, através dos tempos: arcaísmos (termos e construções em desuso), neologismos
(criação de termos novos).
• Não há variação melhor ou pior que outra. Todas se equivalem, pois cumprem a intenção
comunicativa do falante. Falar “diferente” não é falar “erradamente”. É necessário, porém,
prestar atenção ao contexto, à situação de comunicação para empregar o registro adequa-
do. A sociedade atual tende a prestigiar o nível culto da língua.
• Cada situação de comunicação apresenta suas características específicas. Se nos expressa-
47
UAB/Unimontes - 1º Período
mos através da linguagem oral, utilizaremos uma linguagem mais livre, espontânea e infor-
mal e se nos expressamos através da linguagem escrita, há uma preocupação em utilizar
uma linguagem mais elaborada, com vocabulário apurado e preciso; uma linguagem presa
às regras gramaticais e ao padrão culto da língua.
Unidade II
Nesta unidade , você aprendeu:
• A leitura é um instrumento necessário para a realização de novas aprendizagens porque
proporciona a ampliação de horizontes e uma visão crítica da sociedade em que vivemos.
• Ler significa decodificar, interpretar, conhecer.
• O texto pode ser definido como uma unidade básica e significativa. É o elemento central da
comunicação, da interação social.
• Para que o processo de leitura se dê satisfatoriamente, é necessário que o leitor interaja com
o texto, buscando retirar informações que lhe possibilitem construir seu significado através
das estratégias de leitura.
• Em todas as formas de leitura, muito do nosso conhecimento prévio é exigido para que haja
uma compreensão mais exata do texto.
• O conhecimento prévio é dividido em três tipos: o conhecimento de mundo, o conhecimen-
to linguístico e o conhecimento textual.
• Todo texto entendido como unidade básica de comunicação é polissêmico porque é atra-
vessado por várias vozes e vários sentidos.
• Existem alguns fatores que interferem diretamente no ato de ler e atrapalham na apreensão
do sentido do texto. Para que se obtenha sucesso no processamento da leitura, é preciso
que o leitor fique atento a alguns procedimentos que ajudarão a sua leitura.
Unidade III
Nesta unidade, você aprendeu:
• O texto consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo,
independentemente de sua extensão.
• Pode-se afirmar que um texto não se define pela quantidade de palavras empreendidas, e
sim por sua textualidade, isto é, a possibilidade de que seja entendido como “unidade signi-
ficativa global”.
• Fatores de textualidade são os mecanismos responsáveis para que um texto faça sentido
para seus interlocutores, como a coesão, a coerência, a intencionalidade, a aceitabilidade, a
intertextualidade.
• Tipo de texto é uma forma de construção escrita, definida pelas características linguísticas
que o compõem. Podemos afirmar que, geralmente, os tipos de textos abrangem um nú-
mero muito pequeno de categorias, conhecidas como narração, descrição, argumentação,
injunção e exposição.
• O gênero textual é a materialização dos tipos de textos que encontramos em nossa socieda-
de. É toda forma de texto que circula na sociedade e que tem uma função específica, dirige-
-se a um público específico e possui características sociocomunicativas próprias.
48
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
Referências
Básicas
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FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Linguística Textual: introdução. São Paulo: Cortez, 1983.
FIORIN, José Luís. Teorias do discurso e ensino da leitura e da redação. In: Gragoatá. n.1 (2.
sem. 1996). Niterói: EDUFF, 1996.
KLEIMAN, Ângela. Texto & leitor: aspectos cognitivos da leitura. 7. ed. Campinas: Pontes, 2000.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela
Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e ensino.
Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua e linguística. In: FIORIN, José Luiz (org). Introdução à lin-
guística. São Paulo: Contexto, 2005.
Complementares
CURY, Maria Zilda Ferreira et al. Discursos e leitura. 2. ed. São Paulo: Cortez; Campinas:
Unicamp, 1987.
GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escre-
ver. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Tradução de Cláudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,
1998.
Suplementares
______________. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola
editorial, 2003.
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. Martins Fontes: São Paulo, 1994.
49
UAB/Unimontes - 1º Período
COSTA VAL, Maria da Graça. Texto, Textualidade e Textualização. Pedagogia cidadã. In: Cadernos
de Língua Portuguesa. São Paulo: UNESP, v1, p. 113-124, 2004.
FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Linguística Textual: o que é e como se faz. Recife: UFPE/Mestrado em
Letras e Linguística, 1983.
FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Contribuição a uma tipologia textual. In: Letras & Letras. Vol. 03, nº
01. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de Uberlândia. p. 3-10, 1987.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
KOCH, Ingedore G. Villaça e TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 2001.
50
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
Atividades de
aprendizagem - AA
1) Analise o seguinte texto de Millôr:
51
UAB/Unimontes - 1º Período
3) Leia o seguinte texto com atenção e marque, após, sua resposta. No texto, a característica que
NÃO pode ser comprovada é:
É uma questão ambiental que merece total atenção da sociedade. Por isso, a Vivo lançou
ainda em 2006 um pioneiro programa de Reciclagem de celulares, baterias e acessórios sem
utilidade. Mais de 500 mil itens já foram coletados. O objetivo agora é maior. O programa foi
ampliado para todas as lojas e revendedores Vivo. São mais de 3.400 pontos de coleta para
você reciclar. Recicle. Você faz bem ao planeta e ainda gera recursos para projetos socioam-
bientais. Acesse www.vivo.com.br/recicleseucelular.
Soy loco por ti, América Yo voy traer una mujer playera
Que su nombre sea Marti Que su nombre sea Marti Soy loco por ti de amores Tenga
como colores la espuma blanca
de Latinoamérica
Y el cielo como bandera Y el cielo como bandera
Soy loco por ti, América Soy loco por ti de amores (...)
El nombre del hombre muerto
Ya no se puede decirlo, quién sabe?
Antes que o dia arrebente Antes que o dia arrebente El nombre del hombre muerto
Antes que a definitiva noite se espalhe
em Latino América
El nome del hombre es pueblo
El nome del hombre es pueblo
(...)
52
Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
a) ( ) Alguns leitores podem apresentar falha na compreensão do texto, pois o seu conhecimen-
to linguístico pode não ser suficiente.
b) ( ) O conhecimento linguístico de um falante apenas da Língua Portuguesa é suficiente para a
compreensão do texto.
c) ( ) O conhecimento linguístico é um componente básico do conhecimento prévio , mas o
leitor, apresentando o conhecimento de mundo, poderá compreender o texto.
d) ( ) Apenas o falante nativo da Língua Espanhola conseguirá compreender o texto.
5) A leitura é um processo através do qual se pode observar, perceber, descobrir e refletir sobre
o mundo. Podemos ler textos verbais e também não verbais. Leia o cartum abaixo e, de acordo
com as nossas discussões, marque somente a alternativa INCORRETA.
a)( ) Podemos afirmar que quem não possui um conhecimento de mundo sobre o símbolo
representado pela “paciente” não compreenderá a crítica e o humor abordados no cartum.
b) ( ) Ler é um processo social de construção de significados e só conseguiremos compreender
o humor e a crítica apresentados no cartum através dessa construção dos significados da figura
feminina apresentada.
c) ( ) Para que ocorra uma leitura eficiente, é necessário apenas a simples decodificação dos
sinais gráficos. No cartum, basta apenas decodificar o símbolo apresentado para interpretar a
crítica abordada.
d) ( ) O cartunista critica a violência dos dias atuais por meio da figura da morte deitada em um
divã de um terapeuta.
6) “Diego Hipólyto era um dos favoritos à medalha de ouro e assombrou os brasileiros ao cair.”
Esse trecho continuará com o mesmo sentido se substituirmos o e por:
a) ( ) porque
b) ( ) embora
c) ( ) no entanto
d) ( ) por isso
53
UAB/Unimontes - 1º Período
O texto que você leu é uma notícia. Marque apenas a alternativa em que aparecem apenas as
características desse tipo de texto.
a) ( ) Traz informações. O texto deve ser claro, objetivo, impessoal e fazer o uso da norma padrão
da língua.
b) ( ) Tem como objetivo veicular informações científicas. Apresenta linguagem com terminolo-
gia científica de alguma área de conhecimento.
c) ( ) Ensina a fazer, traz instruções bem definidas.
d) ( ) Tem o objetivo de expressarmo-nos pessoalmente, para nos distrair, desenvolver a sensibi-
lidade, partilhar emoções.
• 125 gr de manteiga
• 4 unidade(s) de ovo
• 2 xícara(s) (chá) de açúcar
• 1 xícara(s) (chá) de leite
• 2 xícara(s) (chá) de farinha de trigo
• 1 colher (sopa) de fermento químico em pó
Bata as claras em neve bem firme e reserve na geladeira. Bata as gemas com o açúcar e a man-
teiga até ficar bem branquinho. Adicione o leite aos poucos, alternando com a farinha. Con-
tinue batendo. Quando estiver bem misturado, pare de bater e misture a clara em neve e o
fermento bem devagar. Coloque a massa em uma forma untada com manteiga e polvilhada
com farinha de trigo. Asse em forno médio, pré-aquecido.
Fonte: Disponível em http://cybercook.terra.com.br/receita-de-bolo-simples-de-liquidificador-r-12-8292.html, acesso em
28 mai. 2013.
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Letras Inglês - Fundamentos da Língua Portuguesa I
10) Observe a charge abaixo. A charge é um gênero textual que pode ter apenas imagens ou
imagens e palavras. Geralmente seu objetivo é a crítica através do humor, principalmente a críti-
ca social ou política. Analise a charge e explique em que se baseia o humor.
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2013.