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angela paiva dionisio
Entre
gêneros
E textos
cenas de um agir docente
Pipa Comunicação
Recife, 2018
Copyright 2018 © Angela paiva dionisio e PIPA COMUNICAÇÃO.
Reservados todos os direitos desta edição. É proibida a reprodução total ou
parcial dos textos e projeto gráfico desta obra sem autorização expressa dos
autores, organizadores e editores.
D592
DIONISIO, A. P.
Entre gêneros e textos: cenas de um agir docente. Angela Paiva Dionisio. – Pipa
Comunicação, 2018.
140p. : Il., Fig., Quadros. (e-book)
1ª ed.
ISBN 978-85-66530-84-1
370 CDD
37 CDU
c.pc:10/18ajns
Prefixo Editorial: 66530
Comissão Editorial
Editores Executivos
Augusto Noronha e Karla Vidal
Conselho Editorial
Alex Sandro Gomes
Angela Paiva Dionisio
Carmi Ferraz Santos
Cláudio Clécio Vidal Eufrausino
Cláudio Pedrosa
Clecio dos Santos Bunzen Júnior
José Ribamar Lopes Batista Júnior
Leila Ribeiro
Leonardo Pinheiro Mozdzenski
Pedro Francisco Guedes do Nascimento
Regina Lúcia Péret Dell’Isola
Rodrigo Albuquerque
Ubirajara de Lucena Pereira
Wagner Rodrigues Silva
Washington Ribeiro
Agradeço À Cândida,
minha irmã, pelo apoio ao longo destes anos. O
cenário e a camiseta falam por si!
prefácio
OUSADo PARA O MEMORIAL “O Estudo e ViDa”
9
Cabe a mim, delineando os passos da arguição – que passa a fazer parte
do gênero Banca de Avaliação de Memorial – convidá-la a reviver o passado:
vida pessoal, vida acadêmica e tantas experiências... Vamos começar pela
resistência natural de trazer o passado ao presente e relutar em escrever um
memorial. O que ficou lá atrás? E o que acompanhou sua trajetória? O que
veio à tona? O que foi definitivamente afogado? Por onde andou?
Você percorreu percursos incríveis:
10
Não foram poucos os desafios até o ingresso como professora na UFPE.
E ser professor, para você, o que é? Vocação? Capacitação? Sina?
No texto do Memorial, você transcreve o juramento feito pelas formandas
da sua turma de Magistério:
Angela, a professora
As imagens dizem muito... muito mais do que podemos supor. Retomemos
a história em quadrinhos produzida por uma turma de prática de ensino1.
Trata-se da abertura da segunda parte de seu memorial e ilustra a figura de
uma professora carismática (quem teria coragem de produzir um texto dessa
natureza se não respeitasse o seu professor e, ao mesmo tempo, tivesse a
certeza de que seria respeitada a sua liberdade de expressão?). Quem é essa
professora de quem não se esconde? Essa pessoa que desafia, enlouquece, é
amada e bem humorada? Angela, qual é a receita de um bom relacionamento
com os alunos?
As atividades de ensino na UFPE começaram na época em que você
cursava o mestrado em Letras/Linguística, como professora substituta. Essa
experiência foi favorável à escolha de seu tema de pesquisa?
1. Nota da autora: nesta versão do livro, não tivemos autorização para inserir a HQ.
11
Angela, a atriz em cena
Entre as experiências instigantes oportunizadas pela docência na UFPE,
você cita a sua aventura na aprendizagem de novos gêneros – o caso do
roteiro para vídeos didáticos. Qual o alcance das vídeo aulas que você gravou?
Em sua opinião, quão eficiente é esse gênero? Você poderia falar um pouco
sobre isso? No memorial, você não aprofunda o aspecto da projeção desse
trabalho no meio acadêmico.
Angela, ao Pé da Letra
Como idealizadora da Revista Ao Pé da Letra e, após o seu reinado por
anos a fio como editora da revista, qual é o grande desafio para garantir a
permanência dessa publicação com a qualidade atual? Talvez essa pergunta
nem seja para você e, sim, para as atuais editoras. Eu gostaria de saber: o que
você aprendeu com o fim do imperialismo e abdicação do trono?
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Angela, engajada com o docente na sala de
aula
Você cita, mais de uma vez, Magda Soares. Qual a influência dessa pesqui-
sadora no seu fazer acadêmico? Para a autora, “o espaço de pesquisa como
uma forma de compreender para agir”. A partir dessa citação, você desvenda
o que te impedia de assumir: “Não acho que publicar artigo científico seja
suficiente, quando se é da área da educação, sobretudo em um país em que o
ensino público ainda é tão deficiente.”
E continua “Eu precisei optar entre o querer e o estar sempre a fim;eu
estava a fim do fazer “O Pibid”; não mais as exigências dos programas de
pós-graduação, os quais já não eram o quer que havia em mim. Sem crítica ou
demérito.” Reconhecendo-se heroína, com 24 orientações e 3 co-orientações
de mestrado, 8 orientações e 3 co-orientações de doutorado e 3 supervisões
de pós-doutoramento, entre o período de 2002 a 2015, você desistiu da pós-
graduação? Quer falar um pouco sobre isso?
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Além de se apropriar de conhecimentos adquiridos ao longo de seu
percurso acadêmico e de transferir experiências em seus estudos e na sua
prática docente, em que medida você se depara com a necessidade de cons-
truir novos conhecimentos e novas posturas para as próximas gerações?
Tudo termina com a pergunta:
Retrato
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Foi nesse nicho, na formação de docentes que, sem dúvida, Angela,
você parece ter se encontrado e se realizado plenamente como profissional.
Obrigada pela oportunidade e confiança em permitir que eu compartilhasse
com você a minha leitura de seu memorial.
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Em memória,
para você, Bibiana!
Sumário
1. Bazerman, Charles. Tipificação, Gêneros Textuais, Tipificação e Interação. São Paulo, Cortez, 2005.
2. Miller, Carolyn. Gênero Textual, Agência e Tecnologia. São Paulo, Parábola, 2011.
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recorrente)”, conforme destaca Miller (2011, p. 40). Assim, amparada por esta reflexão
e pela definição de que o híbrido seria uma “adaptação de um gênero às necessidades
idiossincráticas de uma situação, instituição ou retor particulares” (MILLER, 2011, p. 40),
optei por escrever o meu memorial num estilo narrativo em que há espaços para confis-
sões, reflexões teóricas breves, demonstrações de produções acadêmicas modelo Lattes.
Quanto aos recursos textuais, me permiti ser livre, respeitando à formalidade acadê-
mica, mas sem a rigidez de ensaio, a objetividade de artigo científico nem a cronologia e
sistematização de um relatório. Busquei interagir com os meus leitores, originalmente,
os membros da banca, trazendo links, no corpo do texto, para os textos originais, quando
possível.3 Abusei das fotografias, já vou avisando! E por quê? Porque elas deixam transpa-
recer as emoções, elas registram momentos únicos. No memorial, versão entregue para
avaliação não foram coloridas. E por quê? Para que todas fossem lidas igualmente. Ou
seja, algumas eram em preto e banco originalmente; outras eram coloridas, mas de uma
qualidade muito sofrível, dado à época; então, decidi que todas se manteriam neutras e
seriam coloridas pela imaginação dos leitores. 4
Traço o percurso realizado antes de chegar à UFPE, depois subdivido as atividades
aqui em blocos que abrangem as atividades docentes, atividades de gestão, como coor-
denadora do Programa de Pós-Graduação em Letras, atividades de pesquisa e as ações
de iniciativas mais individuais como a criação da Revista Ao Pé da Letra, a implantação
do PIBID Letras Português e a criação do NIG (Núcleo de Investigação de Estudos Sobre
Gêneros Textuais). Bem, o que dizer mais? Confirmei que minha vida acadêmica não foi,
nem é realmente chata. Foi muito bom deixar isto escrito neste memorial. Tão bom que
decidi compartilhar com todos que gostam de ensinar e acreditam na sua ação docente.
Quem sabe agora passo a escrever diários?
3. Para a banca, eu entreguei o conjunto de textos, indicados nos links, em um pendrive o qual dei o título de “Estude, Veja,
Ouça e Viva: memorial Angela Paiva Dionisio”. As versões do livro, digital e impressa, sofreram alterações em Função
da potencialidade e de limitações de cada meio. Como estudiosa de gênero e de escrita me vi inserida numa situação
de produção textual em que manipulava estratégias textuais associadas a recursos tecnológicos distintos, gerando três
versões do memorial, originalmente apresentado para promoção para classe E - Titular, em setembro de 2016, na UFPE.
4. Aviso importante: fiz algumas inserções no texto que apresento aqui. Por isso, sinalizarei cada vez que aparecer no texto
alguma nova inserção para me manter o máximo possível fiel à versão original da escrita do memorial.
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Antes de chegar
à Universidade Federal de Pernambuco…
por onde andei?
Lembrança
Eu comecei a vida escolar em uma turma do “Zero”. Era assim chamada a alfabetização
na Escola Nossa Senhora de Lourdes, município do Ingá, na Paraíba, cuja professora era
Dona Tentém! Era o “Zero” porque depois, se passássemos, íamos para o primeiro ano!
Simples assim! Lembro-me que era uma mesa grande, ao redor da qual sentávamos numa
sala separada “dos mais velhos”! Nossas aulas terminavam mais cedo, lanchávamos mais
cedo. Não havia recreio, pois não havia espaço físico na escola (e a gente nem reclamava!).
A partir do primeiro ano do ensino fundamental, ou da primeira série, passávamos
todos a ser alunos de Dona Lourdes, irmã mais nova de Dona Tentém, e diretora da escola.
Eram duas salas na casa onde elas moravam. Nessas salas, sem divisão de parede, funcio-
navam as turmas da primeira à quarta série ao mesmo tempo. As classes eram formadas
por alunos organizados em filas, a depender do número de alunos, em ordem crescente
da primeira à quarta série, da esquerda à direita, tomando como referência a posição da
professora, frente às turmas. Dona Lourdes dava aula, escrevia no quadro de giz, “passava
tarefa” para todas as séries, andando de um lado para outro, mantinha a disciplina e,
quando necessário, recorria ao auxílio de uma régua de madeira bem consistente. Nunca
precisei provar de tal régua.
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Lembro-me da ansiedade que era para mim o
início dos anos letivos. Comprar os materiais escolares,
cadernos, caixinhas de lápis de cor, livros novos... e
encapar os cadernos? Era um momento de felicidade
ímpar! Quando mais velhinha, comecei a decorar as
capas colando figurinhas. Lembro bem do tempo dedi-
cado nas férias ao recorte de imagens para ilustrar essas
capas. A memória das caixas dos sabonetes Alma de
Flores continua presente! E que trabalho era recortar
apenas o arranjo de flores! Já estaria me aquecendo para
a confecção de materiais didáticos no curso magistério
e depois no exercício do magistério?
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Não lembro os títulos dos livros didáticos, mas sei que tinha um livro novo de língua
portuguesa todo ano e que neles havia o item estudo do vocabulário. Este, sim, me dava
medo! Precisávamos saber de cabeça as definições e os termos apresentados para cada
verbete (sinônimos ou antônimos)! Eram tomadas a lição do vocabulário e a lição de
tabuada! Uma régua menor servia para nos lembrar de que não tínhamos estudado direito
ou não tínhamos guardado tudo na cabeça! Dessa régua, eu provei, algumas vezes… mas
eu simplesmente já adorava aquele ambiente de sala de aula, aquele movimento de escola.
Sei que é uma cena clichê, mas é uma lembrança verdadeira. Não devo escondê-la aqui
neste memorial, não é?
Um parêntese para destacar o vocabulário! Não sabia que ele voltaria com tanta força
na minha vida acadêmica, na minha docência… mas serão cenas dos capítulos da
vida na UFPE.
5. NUNES, Lygia Bojunga. Livro: um encontro com Lygia Bojunga Nunes. Rio de Janeiro: Agir, 1990. pp. 35-36.
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Na minha variação linguística, não era apontador, era lapiseira… Bem, mas para Lygia,
um dia, não “pediram mais exercícios de caligrafia” e assim “a lembrança do (...) tempo de
artesã da escrita dormiu fundo dentro (dela).” (p. 36). Já para mim, Angela, anos depois, a
caligrafia voltou. Não mais em um caderno, mas em folhas de papel madeira/kraft. Eram
as aulas de Educação Artística do Magistério, com Irmã Francisca, em 1978, no Colégio
Santa Rita, município de Areia, Paraíba! Tínhamos que escrever textos nestas folhas.
Antes, porém, traçávamos milimetricamente as linhas para, depois, com pincel atômico,
escrevermos o texto! Não havia borracha que apagasse nossos erros, a saída era sempre
refazer. Treinávamos até escrever sem linhas! E eu me tornei boa nisso! Ah! Régua, agora,
era apenas para traçar as linhas, pois o desafio era escrever naquelas folhas enormes;
tornava-se quase a produção de uma obra de arte didática!
Voltando à escola de Dona Lourdes no Ingá, terminar a quarta série e passar para
o “ginásio”, que já se chamava 5° ano, era o desejo de todos: significava deixar de ser
criança! Significava poder usar caderno de arame, isto é, caderno com espiral, lápis tinta
(caneta) e fazer a foto recordação escolar que simbolizava quase um diploma! Daqui a
pouco falo dela...
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Quando passei para a segunda fase
do ensino fundamental, já no Centro de
Treinamento de Professores, em Alagoa
Grande, também na Paraíba, comecei
a fazer parte da banda marcial. Aí não
saí mais, continuei tocando e desfilando
até o fim do magistério. Toquei tarola,
bombo e pratos orquestrais.
Agora, deixe-me voltar para a foto de Recordação Escolar. “A ida do fotógrafo até a
escola era um evento. Cada classe seria dispensada pelo tempo necessário. (…) O aluno
sentado na mesa, com um mapa atrás e um globo terrestre ao lado. Caneta na mão, caderno
aberto” lembra Walcyr Carrasco (2006, p.87).6
“Reis e presidentes têm sua foto oficial. São uns retratos sérios, em que a personalidade
parece estar com uma batata na boca. Ou então com um sorriso muito desenxabido.
(…) Tirei minha foto oficial no quarto ano escolar. Foi muito importante quando criança.
(…) Uma semana depois, as fotos foram para a secretaria, meu pai achou o preço caro.
− É demais!
Mamãe hesitou. Eu me lamentei. À noite, ouvi os dois conversando na cama.
Morávamos em uma casa pequena. Costumava perceber suas vozes, mas nunca sabia
do que falavam, antes de dormir. Percebi que ela argumentava com a frase.
− É uma vez só!
No dia outro, me entregou o dinheiro. (…) Cheguei em casa aos pulos.
− Mamãe, vai botar na parede?
Ela observou as paredes vazias, sem um enfeite.
6. CARRASCO, Walcyr. A foto oficial. ZIBERMAN, Regina (org.). Este seu olhar. São Paulo, Moderna, 2006.
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− Por enquanto não. Vamos mudar no fim do ano. Depois eu coloco. (...)
Guardou a foto em grande caixa, com outras que não couberam no álbum. (…) Entrei na
faculdade. O tempo passou. Meus pais se aposentaram. (…) Falamos coisas terríveis,
nós três. Foram embora um dia antes. Alguns meses depois voltamos a nosfalar. O fim
do ano se aproximou, e com ele um novo aniversário. Mamãe pediu para passar pelo
meu apartamento de tarde, ao chegar de viagem. (…)
− Não vai me esperar? − surpreendi-me.
Explicou que seria impossível, por causa dos compromissos de meu irmão. (…) O
apartamento estava escuro. Ela já partira. (…) Entrei no quarto, para pegar uma toalha
de banho. Acendi a luz.
Pendurada na parede, acima de minha escrivaninha, estava a foto. Minha foto oficial
do quarto ano. (…) Fora sua forma de reatar os laços que estavam esgarçados. (...)
Finalmente, a foto oficial estava pendurada na parede.
A minha foto oficial ficou 42 anos passando de caixa em caixa e agora ela ganha um
espaço oficial: este memorial.
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Ilustrou temporariamente a timeline do Facebook, mas merece destaque pelo caráter
histórico que desejo atribuir a este gênero. É um gênero textual não mais recorrente
em nossos dias, com os recursos semióticos (bandeira nacional, globo, brasão nacional)
destacados na década de setenta. Não lembro de ter visto entre as fotos dos amigos da
época, ou mais recentemente, ao rever estas fotos, nenhuma com as informações direção,
cidade, estado preenchidas. Não há hoje a necessidade de reservar um dia para fazer a
foto, nem mais um profissional para fazê-la: os próprios alunos fazem suas selfies. A foto
oficial era geralmente individual (talvez para ter mais lucro? Talvez pela necessidade de
indicar a série? Talvez mais precisamente para reforçar o individualismo?), já hoje as
selfies podem ser coletivas, podem ser refeitas, apagadas, deletadas. A noção de recor-
dação escolar não requer a seriedade e dureza das antigas fotos oficiais. Mas apesar da
minha cara de batata na boca, estou bem tentada a colocar na moldura e dependurá-la
na parede. Se essa ideia se apossar de mim até o final da escrita deste memorial, será a
foto de fechamento.
Ah! Tenho outra foto oficial, acredito que extinta, é a do diploma de datilografia, que
nos conferia habilidade para exercer funções inerentes à profissão. A escola de datilografia
contava com registro e tudo mais. Constato, neste momento, que, antes de ser professora,
fui formada em datilografia pela Escola Datilografia Menino Jesus de Praga! Ainda existe
escola de datilografia?
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A certeza absoluta de que ser professora era a minha escolha profissional se consolidou
com o contato com as disciplinas específicas do magistério (Fundamentos da Educação,
Didática e Prática de Ensino, Jogos de Recreação etc.). Não havia uma consciência ideológica,
como a de Malala Yousafzai, ao conclamar os líderes mundiais para “promover educação
gratuita para todas as crianças do mundo”. Mas se consolidou em mim, durante o magis-
tério, a certeza de que “uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar
o mundo.”7 Pelo menos, o mundo daquela criança que eu tinha em sala de aula. Produzir
materiais didáticos, participar das atividades, me tornar membro ativo do espaço escolar
era o que eu desejava. Realizei meu estágio docente sobre O despertar do turismo, os temas
eram dados pela professora de estágio, no Grupo Escolar Apollônio Zenaide, em Alagoa
Grande, em 1980. Eu era Professora! Lembro-me até hoje de uma das frases do discurso na
cerimônia de colação de grau: “As grandes conquistas se fazem com as pequenas vitórias.”.
Se ouvi ou li esta frase em algum lugar não sei, mas estava no meu discurso e ainda me
lembro. Não o tenho mais...
Juramento:
7. Malala Yousafzai, Eu sou Malala. São Paulo, Companhia das Letras, 2013. p. 324.
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Fazer Letras: contrariando expectativas,
inclusive as minhas
Parece contraditório com tudo que venho narrando até agora, mas ao término do
magistério, não fiz vestibular para licenciatura, embora quisesse estar na sala de aula.
Ser professora de língua portuguesa não foi a minha primeira escolha. Primeiramente,
no primeiro ano do magistério, uma professora disse que eu era péssima em Português
e jamais seria uma boa professora! (Errei numa chamada oral, feita de surpresa, muitas
das respostas sobre classificação de orações subordinadas, acho que era este o assunto.
E eu tinha um medo danado dessa professora!). Outra razão, esta sim, bem relevante foi
o fato de, no último ano do magistério, termos tido noções de psicologia infantil e feito
acompanhamento de crianças, com relatório e tudo mais. Adorei! Fiquei achando que
seria Psicologia o curso a ser seguido. Vestibular para Psicologia. Reprovação. Choro,
decepção, frustração. Poucos anos depois, dei graças a Deus pela reprovação, eu seria
péssima psicóloga e, certamente, tentaria outro caminho.
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Quando a inocência protege os inocentes... esta nota é para dar um depoimento que usei na
apresentação oral. Nesta época, os planejamentos comumente abordavam datas comemo-
rativas de festas religiosas, cívicas etc. A celebração da Semana da Pátria, então, era certa!
Houve um ano em que foi proposta a realização de uma gincana entre os turnos da manhã
e da tarde. Com a anuência dos pais, montei com a minha turma, terceiro ano primário, à
época, a encenação do Grito da Independência. Escondido da direção e de todos, às quatro
horas da manhã, os pais trouxeram para o Centro de Treinamento, cerca de oito cavalos que
seriam montados pelos meninos! Olhem o tamanho das crianças! Eu não levei em conta o fato
de haver caixas de som e que os meninos falariam no microfone montados nos cavalos, os
quais poderiam se assustar... e toda a escola (crianças, professores e pais) estava ao redor
destes cavalos... se estes cavalos tivessem se assustado poderia ter havido um acidente
sério! Somente muitos anos depois, eu atentei para a minha imprudência... e mais: os cavalos
estavam escondidos bem atrás da escola e apenas no momento do cumprimento da tarefa foi
que eles surgiram no meio do povo, já montados pelos meus inocentes e corajosos alunos...
Bem, ao final, os cavalos se comportaram muito bem, não reagiram ao barulho. A surpresa foi
total pela beleza e ousadia com que cumprimos a tarefa. A direção quase morreu de susto.
Ganhamos a gincana!!! Lembro que na época fazia muito sucesso a música Por debaixo dos
panos, na voz de Nei Matogrosso, e era o nosso tema pois ninguém havia descoberto a nossa
grande arma para vencer o jogo, apesar da quantidade de cavalos e das roupas de época
dos meninos: “o que a gente faz, é por debaixo dos panos, pra ninguém saber...”. Hoje, quando
lembro, agradeço a Deus ter protegido os inocentes... nunca mais saí com crianças da escola!!!!!
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Voltando à história dos vestibulares, lavei a alma, paguei o débito comigo mesma
pela reprovação do ano anterior. Uma das IES foi a UFPB, campus II, em Campina Grande,
como já disse, anteriormente, atual UFCG. Para poder me dedicar ao trabalho no Centro
de Treinamento, tranquei o primeiro semestre na UFCG e cursei na outra, já que era
à noite (A UFCG era manhã e tarde e eu tinha sido chamada para ensinar no “Centro
de Treinamento de Professores de Alagoa Grande”!!! Escola de referência mesmo! Não
queria deixar esta oportunidade passar!! O curso da UFCG era diurno.). Mas... por não
achar que estava sendo muito produtivo o curso em que me encontrava, no segundo
semestre, decidi ir para a UFCG. Decisão mais acertada na minha vida! Comecei com
foco nas disciplinas de língua inglesa. Mas no meio do caminho tinha linguística, disci-
plina completamente nova para mim; tinha também PLPT8 1 e PLPT 2, pré-requisitos
para Monografia, o terror de todos nós! Essas disciplinas exigiam reescritas de textos,
tratavam de tipologia textual etc.; nelas líamos, entre outros, autores que estavam lançando
livros que revolucionavam o ensino de língua materna: Mary Kato, Angela Kleiman, João
Wanderley Geraldi, Ingedore Koch, Luiz Antônio Marcuschi. Em meados dos anos 80,
o tema da minha monografia foi a coesão textual em narrativas produzidas por alunos
de 6º ano, sob a supervisão de Inês Signorini.Detalhe: na UFCG, a monografia não era
disciplina de final de curso, era disciplina regular.
Um parêntese para relatar o primeiro encontro com Marcuschi: Marcuschi foi a Campina
Grande fazer uma palestra! E eu fui uma das alunas a recepcioná-lo na rodoviária.
Era época de São João e Campina Grande recebe seus visitantes em clima de forró
com uma pequena quadrilha a cada ônibus interestadual. Marcuschi vestia uma
camisa de xadrez, foi logo fazendo uma piada: vão pensar que vim para a quadrilha!
Esta foi a minha primeira impressão de Marcuschi. Não sabia eu que o futuro me
reservava tantas outras conversas e tantas outras risadas! Tantas outras quadrilhas
acadêmicas! Marcuschi havia lançado “Análise da Conversação”. Já era 1987.
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Em 1986, eu concluía a Licenciatura em Língua Inglesa e continuava a de Língua
Portuguesa porque era isto que eu queria: estudar linguística com o olhar voltado para
o ensino de língua materna! Recorro a Magda Soares, numa entrevista em 2015, para
traduzir o que me fez mudar definitivamente para o lugar certo: “buscar as respostas para
os problemas que o mundo está colocando”9 no âmbito da linguagem! Integrava, fascinada,
o projeto Produção oral e escrita no 1° grau (POE/PG), o que me possibilitou a primeira
apresentação em evento acadêmico, que foi no I Simpósio Nacional de Leitura e Produção
de Textos, realizado pela UFAL, no período de 5 a 8 de maio de 1987, intitulado Estágio de
dois anos integrado ao ensino de 1° grau, em parceria com Ana Coeli Silva. O nosso texto
foi publicado na Revista Leitura, do CHLA – UFAL, janeiro-julho, de 1988. Inicia-se, assim,
minha produção acadêmica.
9. http://cnpq.br/noticiasviews/-/journal_content/56_INSTANCE_a6MO/10157/2572422
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33
Voltando o olhar para este artigo, vejo nele a base da minha formação teórica, pois os
temas abordados em (DIONISIO & SILVA, 1989, p. 107), tipologia discursiva, convenções
do texto escrito (sinalização gráfica e formatação), por exemplo, seguiram fortemente em
minhas pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Retomarei no capítulo UFPE:
Pesquisadora? Sim! com mais detalhes, mas farei, a seguir, uma breve demonstração de
como estas pesquisas caminharam, através de gráficos utilizados no momento da minha
apresentação oral:
34
Em março de 1987, comecei a participar do Curso de
Especialização em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua
Portuguesa, pois tinha o pré-requisito que era a Licenciatura
Plena em Letras (Opção: língua inglesa). Acredito que deste
lugar nunca mais saí. Em 1988, concluí Licenciatura Plena
em Letras (Opção: vernáculo)e, em 1989, estava aprovada
para cursar o Mestrado em Letras (Opção: linguística) no
Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE. Ah! Esqueci
de dizer que pedi transferência para Campina Grande, pois
ficou impossível conciliar as disciplinas do curso de Letras,
em Campina Grande, e o trabalho, em Alagoa Grande, viajando
todos os dias.
Ensinava agora no ensino médio noturno, na Escola
Estadual de 2° Grau Dr. Hortêncio de Souza Ribeiro. Em parceria
com a professora Emília Ferreira, implantamos o projeto
“Integração leitura/produção/análise linguística no 2° Grau”, no
primeiro semestre de 1986, nas turmas do primeiro ano. Em
1988, Emília e eu estávamos com as turmas do segundo ano e
contávamos com o envolvimento das colegas professoras que
lecionavam nas turmas do primeiro ano. Estávamos compro-
metidas não apenas com a preparação das nossas aulas, mas
com a orientação dos planejamentos das aulas da equipe do
primeiro ano. Estava eu já envolvida com a formação docente!
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UFPE
Professora? Diga.
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em capas de revista, sequência injuntiva, cartas de tarô, pareceres pedagógicos, videoclipes,
livro didático interativo etc. Dentre as orientações, três foram premiadas como melhor
tese/dissertação do PG Letras. Atualmente, estes livros estão fora de circulação por terem
esgotados em sua primeira edição:
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Durante os vários semestres em que ministrava a disciplina, novos experimentos
linguísticos iam sendo feitos com as turmas, mais motivador se tornava ensinar morfologia.
Relato, a seguir, alguns casos:
1. A realização de círculos de leitura de livros com obras de Ziraldo, Ruth Rocha, Ana
Maria Machado, Monteiro Lobato, Marcos Bagno, Sirio Possenti, por exemplo, foi um bom
desafio. No início, alunos estranhavam o porquê estavam lendo (ou relendo, pois tinham
lido alguns deles na infância), Palavras, palavrinhas & palavrões, Marcelo, Martelo, Marmelo,
Uma história sem 1 sentido, Emília no país da Gramática ou ainda os quatro títulos da coleção
de Ziraldo (Rolim, Pelegrino & Petrônio, Os dez amigos, O joelho juvenal). Por outro lado, A
língua de Eulália, de Marcos Bagno e A cor da língua e outras Croniquinhas de linguística,
de Sírio Possenti, eram devorados sem reclamação. No entanto, quando começávamos a
fazer as correlações com os temas do campo da morfologia, como, por exemplo, as regras
de formação de palavras utilizadas por Marcelo (sentador, cabeceiro) ou a percepção de
recursos semântico-estilísticos na construção de bat-cozinha, zip-zap-urgência, tost-quei-
mado, argh-veneno mortal, em Uma história sem 1 sentido, os entraves se transformavam
em “open-portas libertadoras” para as investigações linguísticas.
Estas experiências oportunizaram a elaboração de alguns trechos de capítulos do
livro Linguística II10, dentre os quais, destaco Morfologia: campos de ação e conceitos
básicos; Morfologia: formação de palavra; Sintaxe: constituintes e estruturação da oração;
Semântica: relações semânticas entre as palavras; Pragmática: a dêixis e a anáfora. Além
de capítulos de livro, também constituíram roteiros das vídeoaulas 1, 2 e 4. Falarei sobre
a elaboração destes roteiros mais na frente. Transcrevo, aqui, apenas as páginas 7 e 8
que se referem ao início do capítulo 1 – Morfologia: campos de ação e conceitos básicos. O
primeiro capítulo do livro Linguítica II, em pdf, pode ser acessado no link: https://goo.gl/
PwmkFD. Embora os temas dos roteiros e dos capítulos sejam os mesmos, os conteúdos
são abordados diferentemente:
10. Dionisio, Angela Paiva. Linguística II. Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2008.
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1. Morfologia: campos de ação e conceitos básicos
2. Morfologia: formação de palavras
3. Sintaxe: constituintes e estruturação da oração
4. Sintaxe: participação, processos e usos
5. Semântica: relações semânticas entre as palavras
6. Pragmática: a dêixis e a anáfora
7. Pragmática: atos de fala, implicatura e máximas conversacionais
8. Linguística do texto: campo de atuação e conceitos básicos
9. Intertextualidade: conceitos e tipos
10. Psicolinguística: campo de atuação e conceitos básicos
11. Sociolinguística: campo de atuação e conceitos básicos
12. Variedades linguísticas.
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Um parêntese para um caso de conflito: houve um período em que foi lançada a coleção
de Ziraldo em formato livro de bolso, a R$ 1,00 a unidade e eu comprei uns 40 exemplares,
sendo 15 de cada título. Sempre que possível, eu construía meu acervo didático, não
apenas meu acervo bibliográfico. Uma turma, estudiosa, mas não tão responsável, perdeu
vários, aliás quase todos. Fiquei uma fera! Eles resolveram comprar o que encontram no
mercado, pois a campanha já havia terminado. Colocaram numa caixa, cobriram com
papel de presente e deixaram em cima do birô, antes da minha aula. Quando cheguei
para dar aula, estava lá como uma forma de pedir desculpas e atenuar o “crime”. Foi
assim que qualifiquei na época! Quase fizemos as pazes. Outra atitude deles que me
marcou muito foi na segunda-feira, após o domingo do Dia das Mães, ao chegar na
sala, havia uma caixa de presente no birô com um cartão: “Já que não podemos desejar
Feliz Dia das Mães, desejamos Feliz Dia da Madrasta!” Era uma caixa de chocolate. Eles
sabiam que adoro chocolate! Infelizmente não tenho mais este cartão... É, nem sempre
as relações em sala de aula são flores, mas podem se tornar doces. Não acho que
deva ser uma relação maternal, mas também não precisava ser a madrasta má... mas,
como em qualquer relação, a harmonia e a compreensão como processos educativos
podem ser reestabelecidos! Fui orientadora de mestrado/doutorado de alguns deles;
com outros já estive em mesas-redondas em eventos acadêmicos. O mais importante:
acompanho à distância o sucesso de muitos deles em diversas instituições de ensino
superior, e, sem modéstia, vejo algumas das ideias daquela época de morfologia sendo
reproduzidas, com a sofisticação das tecnologias e da maturidade de cada um. O crime
prescreveu? Não, não foi crime, foi apenas desatenção de jovens!
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2. A produção de artigos científicos por alunos durante a disciplina que resultaram em
publicação na revista Ao Pé da Letra. https://periodicos.ufpe.br/revistas/pedaletra/
Podem ser mencionados:
11. Fui co-orientadora da tese de doutorado intitulada “A escrita ensaística da Escola do Recife: uma releitura do movi-
mento sob a perspectiva sociorretórica de gêneros textuais”, defendida em 2013, no Programa de Pós-Graduação em
Direito da UFPE.
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Os processos de formação de palavras no poema ‘Som’ de Carlos
Drummond de Andrade
por Carlos Alberto Ribeiro Santa Rosa Júnior12 e José Gomes de Oliveira Filho
12. Fui orientadora de sua dissertação intitulada “Cartas marcadas: multimodalidade discursiva e transitividade em bara-
lhos de tarô”, defendida em2010, no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE.
13. Fui orientadora de sua dissertação e de sua tese, respectivamente, intituladas “A cartilha jurídica: aspectos sócio-his-
tóricos, discursivos e multimodais” e “O ethos e o pathos em videoclipes femininos: construindo identidades, encenando
emoções”, defendidas em 2006 e em 2012, no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE.
14. http://revistaaopedaletra.net/volumes/volume-1-revista-ao-pe-da-letra/
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Faço um parêntese para comentar uma atividade de monitoria, em 2014, com a disciplina
Português 5 – Letramento de língua portuguesa. Com as monitoras Anne Caroline Araújo
de Lima e Raquel Lima Nogueira. Construímos, através da plataforma on-line Widbook,
o e-book Atividades Multiletradas – Letramento UFPE 2014. Ao fazer este produto, eu
aprendi com elas, o que caracteriza o fazer aprender, especialmente no campo das novas
mídias, favorecendo a nós, professores, o benefício do trabalho em parceria com os jovens
graduandos. O meu planejamento era complementado pelas ideias das monitoras. Os
alunos, turno noturno, se envolveram muito na atividade que perpassou o semestre. A
participação das monitoras na orientação e condução das ações do Widbook, o produto
final da disciplina, e-book Atividades Multiletradas – Letramento UFPE 2014, foi deter-
minante para o desenvolvimento e finalização do projeto. A descrição da atividade está
no texto “Historiando a experiência”, escrito por nós, como apresentação do livro. Este
tipo de produção não permite impressão nem download, por isso disponibilizo apenas
o link para acesso à leitura: https://www.widbook.com/ebook/read/contos2
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Além dessas ações ligadas à sala de aula, foi pela dedicação à morfologia, que
juntamente com a Profa. Márcia Mendonça, organizamos o I Encontro sobre Gramáticas
do Português, de 16 a 19 de abril de 2001, com mais de 500 participantes. Não podia ser
diferente, os palestrantes eram Evanildo Bechara e Maria Helena Moura Neves, que haviam
lançado suas gramáticas, intituladas respectivamente, Moderna Gramática Portuguesa e
Gramática de Usos do Português. Além das conferências, havia também minicursos e mesas
-redondas com Evanildo Bechara e Maria Helena Moura Neves. Com o apoio do Programa
de Pós-Graduação em Letras e dos conferencistas que cederam seus textos, produzimos um
livrinho (sem ISBN, ou seja, sem pontuação acadêmica, mas de extrema significação, não
apenas no momento do evento, mas ainda hoje, por ser um dos feitos da minha carreira),
o qual distribuímos para todos os participantes. E ainda fizemos uma pasta especial para
o evento! O II Encontro se materializou... mas foi projeto sem continuação, apesar de
considerá-lo de grande relevância.
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A docência na UFPE me oportunizou experiências realmente instigantes, com as quais
pude me aventurar na aprendizagem de novos gêneros. Não apenas como leitora, mas
para produzi-los, vivê-los, incorporá-los, literalmente. Um gênero aprendido no peito e na
raça foi roteiro para as videoaulas. Ao surgir, em 2008, o convite para escrever o material
para o projeto do IESDE, o livro Linguística II, com 12 aulas para ensino a distância, vinha
acompanhado também o desafio duplo: gravar 12 vídeoaulas com a mesma temática, mas
os conteúdos precisavam ser diferentes; eu precisava redigir as propostas das aulas. Para
mim, era escrever roteiros para vídeos didáticos! Os capítulos não deveriam ser artigos,
nem ensaios. Precisavam ser textos didáticos! E as videoaulas seriam precedidas de um
roteiro. Mas... antes precisei fazer um teste de palco. Isto mesmo. Teste de palco para saber
se eu tinha desenvoltura diante das câmaras. Fui a Curitiba só para o teste. Passei. Então,
comecei o processo de escrita... Não foi fácil. Mas foi desafiador!
http://www.iesdecursos.com.br/cursos/letras/linguistica-ii/6034/
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# ÁUDIO VÍDEO TELÃO
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Eis aqui uma grande nota inserida!!
Notei agora, ao rever este memorial para publicação, que não comentei a prática
docente no mestrado e doutorado. O que isto pode traduzir? Talvez a força exercida
pelos processos de orientação sob a minha prática docente? A ênfase nos encami-
nhamentos para a investigação nos fascinantes labirintos dos estudos da linguagem,
focando nos desafios do texto, dos gêneros e seus usos em sala de aula?
Mas as aulas tanto no PG Letras como no PROFLetras permitiram cenas fantásticas
e outras tristes! Como cenas tristes, guardo os momentos em que entrei na sala
de aula, vindo diretamente de reuniões administrativas extremamente tensas, com
assuntos sérios e decisões graves (nem sempre necessárias). E, algumas vezes, não
tive a capacidade de superar as situações de conflitos que surgiam em sala de aula...
Também não foi fácil constatar, tardiamente, que não tive sensibilidade e conheci-
mento suficientes para perceber, na sala de aula, as sutilezas do comportamento de
quem necessitava de apoio de profissionais da saúde mental...(Quando este quadro
se reproduziu na graduação, eu já soube lidar de forma adequada...)
Mas o que dizer das discussões sobre o andar das protagonistas femininas em
três cenas dos filmes O diabo veste Prada, Quando Nietzsche Chorou e Mamma Mia
(Semiótica Social)? E as discussões sobre os livros Atividade de linguagem, textos e
discursos: por um interacionismo sócio-discursivo, de Bronckart, Multimedia Learning,
de Richard Mayer... Todos os livros Koch e Marcuschi em Linguística de Texto! Como
era bom lançar desafios para os alunos produzirem gêneros diferentes ao final das
disciplinas, como, por exemplo, a elaboração de um roteiro para um vídeo educativo
(animação), além de artigos científicos, e vê-los entregues ao desafio? Eu aprendia e
queria que eles aprendessem também! Os gêneros me seduziam e eu queria que eles
seduzissem os meus alunos... E assim fui dando aulas e experimentando a escrita de
novos gêneros. O exemplo que transcrevo é o esboço de um roteiro para uma animação
com o tema “A TIPOGRAFIA COMO UM RECURSO SEMIÓTICO”, escrito por Nadiana
Lima e Leonardo Mozdzensky.
Ah! Estes textos dos anos...
Devia ter pedido mais, cobrado mais,
Devia ter guardado mais,
O acaso não vai me fazer encontrá-los
Mas o acaso ainda pode me proibir de lembrar
Mesmo que eu não esteja a andar distraído
Preciso registrar mais, antes do acaso me pegar mais distraída!
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Esboço da atividade
IMAGENS ÁUDIO/SOM
FADE IN
SEQ. 1.:
Música instrumental padronizada para esse tipo de
Vinheta institucional (PPGL-UFPE) – computação gráfica
material.
TEXTO CENTRALIZADO:
“A TIPOGRAFIA COMO UM RECURSO SEMIÓTICO”
CORTA PARA:
SEQ. 2: NARRADOR (OFF):
Exibição do poema concreto animado “Pêndulo” de E. M. de Observem o poema concreto a seguir.
Melo e Castro (1961/62).
A voz em off do narrador entra logo no início do vídeo,
antes que o movimento da palavra “pêndulo” comece.
SOM:
Badalo de um pêndulo, em consonância com o movimento
das letras, nos primeiros quadros.
NARRADOR (OFF):
OBSERVAÇÃO: Esse vídeo consiste em um trecho de Como vocês podem ver, as letras que formam a palavra
um curta-metragem dirigido por Christian Caselli (2007), “pêndulo” vão deslocando-se, pouco a pouco, à semelhança
intitulado “Cinco poemas concretos” do movimento desse objeto, até que um eixo seja formado
(Disponível em: http://www.youtube.com/ pela sequência da letra P. Interessante, não é? Isso foi
watch?v=yC3e7rmSYM4. Acesso em 13 dez. 2010). possível devido ao potencial semiótico da...
CORTA PARA:
SEQ. 3:
Exibição em close da palavra “tipografia” sendo
datilografada em uma máquina de escrever.
Exemplo:
SOM:
Som produzido pela máquina de escrever dos caracteres
sendo datilografados.
NARRADOR (OFF):
E o que é tipografia?
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Esboço da atividade
IMAGENS ÁUDIO/SOM
CORTA PARA:
SEQ. 4:
Exibição de um molde de stencil, com a palavra “Definição”,
sendo preenchida com spray de grafite por alguém. (Só
as mãos aparecem, o foco é no molde e no processo de
grafitagem).
Exemplo:
SOM:
Spray.
CORTA PARA:
SEQ. 5:
Exibição da seguinte informação:
“A tipografia é a arte e o processo de criação na
composição de um texto, física ou digitalmente. É o tipo de NARRADOR (OFF):
letra adotado no texto escrito.” Narra o texto informativo que surge na tela.
NARRADOR (OFF):
Qual é o objetivo da tipografia?
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Mas assim é a nossa vida... um eterno aprender! Estar
em Programas de Pós-Graduações significa que vivemos com
sistemas paralelos de aprendizagem, além dos estudos para
nossas aulas no mestrado e doutorado. Estes sistemas decorrem
dos processos de orientação (não consigo orientar sem ter um
conhecimento do tema e muitas vezes precisamos ler os textos
que são novos para mim sobre o tema) e das participações
em bancas de trabalhos de conclusão de curso (quantas vezes
paramos a leitura de uma dissertação/tese e recorremos a
um livro mencionado ou a outros livros sobre algum tópico ou
conceito mencionado no trabalho que, por razões diversas, exigiu
de nós, seus avaliadores, uma pausa para investigação?). Após
a conclusão do meu doutorado, em 1998, comecei a participar
de bancas de trabalhos de conclusão de curso. Quantas bancas?
Quantas orientações? São dados para o Lattes não para o livro.
55
UFPE
Idealizadora da Revista Ao Pé da Letra
Motivada pelo entusiasmo dos alunos de morfologia ao fazer suas investigações, pelo
envolvimento dos bolsistas de IC do nosso Departamento de Letras em suas pesquisas, pela
ausência de um espaço “físico” para os alunos de graduação publicarem suas escritas, resolvi
investir na ideia de criar uma revista acadêmica a eles destinada. Revista em que só eles
poderiam publicar! Seria também um espaço para incentivar a escrita acadêmica! Lembro
das discussões em sala com os alunos, da eleição para escolha do nome, – infelizmente não
anotei o nome da aluna que sugeriu o título Ao Pé da Letra. Não pensei em ir registrando a
vida, aliás, nem pensei na maioria das coisas que ia fazendo. Ia fazendo, apenas.
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Lembro das discussões, em nosso Pleno de
Departamento, com alguns colegas que defendiam
as vantagens do professor também publicar para dar
mais credibilidade e da minha resistência a essa ideia
deles. Para mim, a credibilidade da revista viria com
a qualidade acadêmica da escrita, das investigações
dos graduandos. Nosso papel de atuação estaria deslo-
cado para a coxia deste cenário de escrita. O palco
dessa escrita caberia apenas aos graduandos! E é
assim que esta revista se mantém 16 anos depois! Em
dezembro de 1999, publicamos o primeiro volume, de
forma bem artesanal, impressa em gráfica, formato
brochura, mas isto não foi relevante! Relevante mesmo
era vê-la materializar-se!
A presente abertura convida a todos para conhecerem este trabalho científico dos
estudantes da Graduação brasileira, já que a ideia original de conceber um periódico
feito para e pelos alunos de graduação em Letras foi de Angela Dionisio, fundadora da
Revista e que ainda trabalha neste editorial enquanto membro do Comitê Científico.
É para a professora Doutora Angela Dionísio que dirigimos nossa homenagem neste
primeiro número especial.
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Em 2015, Ao Pé da Letra fez 15 anos! Era preciso uma festa especial. E houve, e eu
estava lá.
Voltei a editar dois volumes especiais (17.1 e 17.2), em parceria com Suzana Cortez e
Ana Maria Lima, ambas professoras do nosso departamento de Letras, com as quais dividi
também a coordenação de área de Português do PIBID. Ao Pé da Letra debutava! Medianeira
Souza e Joice Galli, suas editoras atuais, nos convidaram a celebrar a data, incentivando
a produção de gêneros acadêmicos, voltados para a divulgação de práticas pedagógicas
produtivas, dedicando os dois volumes de 2015 a trabalhos de PIBID das áreas de linguagem,
desenvolvidos ou em desenvolvimento no país. Não havia como recusar a homenagem-
trabalho. A coordenação institucional da UFPE, professora Alice Botler comprou a ideia.
Bolsistas do nosso PIBID se inseriram em nova aprendizagem, constituindo a Equipe
Técnica (Adeline Ruthiely de Melo Guedes, Amanda Gessyanne Araújo de Santana Almeida,
Jessyca Oliveira da Silva, Rafaela de Lira Nascimento); outros professores e coordenadores
de área se voluntariaram para o Conselho Editorial Ana Lima (UFPE), Angela Valéria Alves
de Lima (UFRPE), Eliana Merlin Deganutti de Barros (UENP), José Wanderley Alves de
Souza (UFCG), Luiz Antônio dos Prazeres (UFOP), Márcia Mendonça (UNICAMP), Márcia
Verônica Ramos de Macêdo (UFAC), Maria Medianeira de Souza (UFPE), Najara Ferrari
(UNIFRA), Suzana Leite Cortez (UFPE), Tânia Guedes Magalhães (UFJF).
Dos 28 artigos submetidos, 18 foram publicados, trazendo registros de experiências
PIBID de 10 universidades públicas, estaduais e federais. Quatro deles foram relacionados
às práticas do projeto A Leitura de Linguagens Diversas. O nosso PIBID ilustrou o ditado
popular ‘enquanto descansa carrega pedra’: eu orientava o PIBID e revivia a loucura do
tempo de editora!
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Ainda me surpreendo como conseguimos fazer o primeiro número com apenas dois
alunos colaboradores, que foram Gustavo Henrique da Silva Lima e Paloma Magalhães
Menezes. Fui ao Currículo Lattes, o de Paloma não foi mais atualizado depois de 2000.
Quanto a Gustavo, foi apenas para certificação, pois tenho acompanhado sua trajetória:
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A memória de Ao Pé da Letra, para mim, se constrói pela história de seus autores,
de seus voluntários, de meus colegas que partilham e partilharam as editorações. Não
quero cair no clichê ao mencionar um caso de sucesso, mas não posso deixar de mencionar
Wagner Rodrigues Silva, (carinhosamente Wagnorum). Wagner estava no meu primeiro
time de bolsista IC, foi colaborador nos primeiros volumes, era aluno dedicadíssimo. Hoje,
é um reconhecido professor pesquisador de nosso país, com estágio de pós-doutorado em
Linguística Aplicada pela The Hong Kong Polytechnic University – PolyU. Se seu primeiro
artigo foi em Ao Pé da Letra, em 1999, hoje são mais de 50 artigos, incluindo muitos em
periódicos Qualis A (com 4 já aceitos para publicação, quando em agosto de 2016 fiz esta
investigação). São mais de 10 livros e 30 capítulos de livros publicados! Trago, extraído
do volume 11.2, 2009, um trecho do depoimento Rememorando uma trajetória de pesqui-
sador/autor, escrito por Wagner, no qual se percebe a contribuição da relação autores vs
pareceristas como fator de aprendizagem de escrita acadêmica para os graduandos em
Letras: “Após emissão dos pareceres pelo conselho editorial, as idas e vindas dos artigos
científicos permitem que o autor vivencie o caráter escrito. Aceita-se finalmente a reescrita
como atividade constitutiva da prática da escrita. (p.80)
Como venho ressaltando, reviver uma história de vida, e quando é a própria história,
não se resume em reencontrar afetos e desafetos, conquistas e projetos não finalizados,
é também constatar profecias realizadas... Se em 2015, eu editava com Suzana Cortez os
volumes dos quinze anos de Ao Pé da Letra, em 1999, Suzana publicava dois artigos como
aluna de graduação e bolsista de IC. O artigo A anáfora sem antecedente explícito em cartas
pessoais, orientado por Luiz Antônio Marcuschi, inclusive havia recebido o Prêmio Jovem
Cientista no VI CONIC-1998.
Ao escrever a apresentação para este primeiro volume, Marcuschi profetizava:
61
Gustavo, Wagner, Suzana são confirmações das profecias marcuschianas. São “os três
pesquisadores e docentes [de excelência] de nossas Universidades”. E mais, considero
que, carinhosamente, o mundo espiritual dos escritores de periódicos acadêmicos me
proporcionou este reencontro, 15 anos depois, com Suzana Cortez. Se em 1999, eu era
a editora; agora, em 2015, somos as editoras; se em 1999, Suzana publicou dois artigos
científicos em um só número, agora, em 2015, editamos dois volumes de um número espe-
cial da Revista Ao Pé da Letra! (E parece que Suzana também traz a vontade de trabalho
do seu Orientador...). Tomara que estejamos preservando a profecia marcuschiana (não
é Suzana?) de que Ao Pé da Letra é “a forma das novas gerações. E a garantia do futuro da
investigação nas áreas de Letras e Linguística.” É o ciclo da vida!
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UFPE
Coordenação do Programa de
Pós-Graduação em Letras
Ser coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras, por dois biênios, foi um
dos privilégios que ser professora da UFPE me possibilitou. Pude atrelar, ao mesmo tempo,
atividades de gestão e de docência, uma vez que fazer o dia a dia do PGLetras para nós,
Anco Márcio Tenório Vieira, o vice-coordenador, e eu, não se resumia em uma atividade
meramente administrativa. Desejávamos ampliar as atividades acadêmicas.
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Para este Memorial, tomei a liberdade de trazer a versão digital (https://goo.gl/ixpm6M)
do relatório Fim de uma etapa. Relatório 2006 a 2010 (ISBN 987-85-98968-20-9), por este
descrever com precisão as ações, por nós realizadas, em 151 páginas, numa leitura que
será favorecida pelo projeto visual em que se apresenta o referido relatório. No entanto,
sistematizo em quatro itens, extraídos da apresentação, escrita por mim e por Anco Vieira,
páginas 11 a 13, algumas das mais significativas e relevantes ações para a construção de
um perfil de uma pós-graduação com a história e a importância do PPGLetras da UFPE.
São elas:
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2. No quesito infraestrutura, o PPGL passou por uma reformulação
total. Tínhamos duas salas de aula, e agora temos três. Todas foram
dotadas de novos móveis (birôs e cadeiras), de equipamentos de infor-
mática, de áudio e de vídeo. Também foi reestruturado o Laboratório
de Informática (novas mesas de trabalho e novos computadores), a
Sala de Leitura César Leal (estantes e mesas de leitura novas, informa-
tização do acervo e compra permanente de novos livros) e o espaço
onde funciona a Coordenação (reestruturação física e troca de todos
os móveis; compra de novos computadores e impressoras; criação de
uma copa). Também foi reformulado o site do PPGL: seja no quesito
design, seja nos serviços que são oferecidos pelo site. De 34 arquivos
hospedados no servidor, temos hoje mais de 2.000 arquivos que são
acessados por usuários do Brasil e do exterior (4.300 acessos únicos
ao mês).
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novas publicações. Não podemos esquecer de registrar que o PPGL
ganhou o prêmio Edital PROPESQ PG-Teses e Dissertações 4 vezes:
em 2007 e 2009, melhor tese de Doutorado; em 2008 e 2009, melhor
Dissertação de Mestrado. Por fim, em 2006 teve início a criação do
Acervo Digital de Teses e Dissertações e foram criadas novas capas
para a encadernação das teses e dissertações. Ao lado da criação do
Acervo Digital, o PPGL deu início ao projeto Letras Digitais, projeto
pioneiro no âmbito da UFPE. Seu propósito é digitalizar todas as
dissertações e teses defendidas no Programa nos seus primeiros 30
anos (1976-2006), encerrando 455 dissertações e 110 teses defen-
didas. O projeto digitalizou mais de 50 mil páginas, que se encontram
disponíveis no site do Programa.
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Se a Universidade nasce da necessidade e do sonho de alguns homens de
ordenar o conhecimento e repassá-lo para aqueles que vão aplicá-lo no dia a
dia da sociedade, uma pós-graduação nasce do desejo premente de homens
que têm como missão maior o repensar constante de ideias e conceitos. A
dialética entre ambos define a sociedade que construímos ou que almejamos
construir. No entanto, uma gestão preocupada com a respiração sadia da
instituição gerenciada, também precisa estar permanentemente atenta
para as condições materiais de trabalho que precisam ser oferecidas aos
docentes, discentes e funcionários que a constituem. Mais: precisa criar
meios de levar essa produção acadêmica além dos muros que a cercam:
para aqueles que lhe financiam. No caso, a sociedade. Daí o trinômio perse-
guido pela gestão que coordenou o PPGL entre 2006 e 2010: 1) repensar
a estrutura material do PPGL; 2) ampliar o diálogo dos nossos docentes e
discentes com professores externos (do Brasil e do estrangeiro); 3) criar
meios de divulgar a produção acadêmica e, principalmente, incentivar a
produção de livros, seminários e palestras.”
Desejo destacar dois feitos de nossa gestão, relacionados à construção da
história do nosso programa:
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O segundo foi o projeto Letras Digitais: 30 anos de teses e dissertações, aprovado pela
ProEXT SIEX Brasil (52016), MEC. Em 18 de agosto de 2009, entregávamos, Anco Márcio
Tenório Vieira e eu, à comunidade acadêmica a finalização de um ousado projeto por nós
iniciado em novembro de 2006, o projeto Letras Digitais: 30 anos de teses e dissertações.
Se alguns projetos não dão certo em nossas vidas, este é um que deu certo, muito certo,
e do qual me sinto muito orgulhosa de ter realizado. O total de visualizações da página
em final de setembro de 2018, época em reviso este texto, já ultrapassava, 167.000
visualizações. Todos os árduos entraves foram minimizados quando, pude navegar pelo
http://letrasdigitaisufpe.blogspot.com.br/e constatar o pioneirismo em nossa forma
de registrar os 30 anos de investigação do nosso programa, pois como destacamos Anco
e eu, no texto de apresentação:
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Diante de tão grandioso acervo e do fato de apenas as pesquisas defendidas a partir
de 2005 possuírem uma versão digital para consulta, os professores Angela Paiva
Dionisio e Anco Márcio Tenório Vieira, autores do referido projeto, decidiram oferecer
para a comunidade acadêmica uma versão digital das teses e dissertações produzidas
ao longo destes 30 anos de história. Criaram, então, o projeto Letras Digitais: 30 anos
de teses e dissertações com os seguintes objetivos:
69
UFPE
Pesquisadora? Sim!
71
(a) os descritivos, nos quais se encontram as formas de plantio, a preparação de alimentos
e remédios, a realização de produtos artesanais e a descrição de percursos; (b) os narra-
tivos, nos quais se encontram narrativas reais e ficcionais e (c) os argumentativos, nos
quais se encontram confrontos entre as condições de vida atual na comunidade e em
períodos remotos, explicações sobre determinados fenômenos (eclipse, sonhos, botijas).
Além desses discursos, há ainda a gravação de uma missa realizada pelos seminaristas
responsáveis pela assistência espiritual do grupo e algumas rezas para o momento do
parto e para a "cura do olhado".
A opção por uma abordagem etnográfica significa fazer uma "descrição densa do corpus
selecionado para estudo. Assim, há três características da descrição etnográfica: (a) ela
é interpretativa; b) o que ela interpreta é o fluxo do discurso social e (c) a interpretação
envolvida consiste em salvar o 'dito' num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se
e fixá-lo em formas pesquisáveis"(Geertz, 1989:3116).
Dentre as vantagens apresentadas pela pesquisa etnográfica, Schieffelin (197917)
frisa a de não se restringir a uma mera coletânea de dados diversificados, mas sim a uma
postura que possibilita um feedback contínuo de perguntas e respostas. Esse procedi-
mento permite que o pesquisador avalie e reformule as perguntas formuladas, a fim de
esclarecer informações fundamentais para a interpretação dos dados. A reconstrução da
origem da comunidade de Pedra D'água ilustra a funcionalidade desse princípio. Quando
solicitados diretamente sobre a história da formação do grupo, a maioria dos informantes
negava conhecer qualquer referência, no entanto, em conversas posteriores aos primeiros
contatos, eles foram pouco a pouco "soltando" informações sobre Manuel Paulo Grande.
Essas informações serviam para retomar o assunto em outros momentos, bem como para
abordá-lo com outros informantes. Desta forma, traçou-se a história do grupo, retroati-
vamente, até meados do século XIX.
Portanto, na pesquisa para o mestrado, investiguei a interação em narrativas conver-
sacionais, produzidas por uma comunidade semi-isolada formada por analfabetos negros,
descendentes de Manuel Paulo Grande, provavelmente um escravo fugitivo. A escolha
desse corpus deveu-se ao fato de a comunidade reunir aspectos peculiares tanto por sua
17. SCHIEFFELIN, B. Getting it together: an etnographic approach to the study of the development of communicative
competence. In: E. OCKS e B. SCHIEFFELIN (eds.). Developmental Pragmatics. New York: Academic Press, 1979, pp. 73-108.
72
origem (fundada no século XIX, durante o período escravocrata brasileiro) como pela sua
organização social (posse de terras através da hereditariedade), relações matrimoniais
endogâmicas e transmissão cultural essencialmente por meio da oralidade. A minha disser-
tação, indicada para o concurso de Teses ANPOLL/93, foi publicada em 2009 com o título A
interação em narrativas conversacionais, na Coleção Letras, do Programa de Pós-Graduação
em Letras da UFPE. Ainda como produção acadêmica decorrente da dissertação, destaco:
73
uma só família, como afirmam alguns deles: “tudo são famia”, “a minha raça é essa aqui ...
esses nego daqui ... tudo é minha famia”.
Pareceu-me relevante uma investigação sobre imagens construídas no processamento
de interações face a face, uma vez que exigia uma abordagem interdisciplinar, para que
se pudesse apresentar uma visão mais completa do objeto em estudo. O período de reali-
zação do doutorado foi 1993 a 1998, com o enfoque teórico guiado pela tipologia de Jean
Michael Adam (199318) para a classificação dos discursos. Para os propósitos da tese, foi
escolhido o descritivo, visto ser o que mais propicia a construção de imagens. Portanto
para investigar as imagens da terra e das moradias, dos moradores e dos visitantes e
as imagens da cultura material, além do Adam (1993), fomos buscar na Antropologia
Linguística (Palmer, 199619), a contribuição básica para a conceituação de imagem e
de seus princípios geradores, ou seja, veio da Linguística Cultural, teoria que abordava
a linguagem com base em princípios como (a) o significado linguístico convencional é
relevante para a imagem, (b) a linguagem é simbólica, (c) a categorização se refere às
relações formadas entre os conceitos, (d) o significado linguístico está compreendido na
visão de mundo, (e) o significado do discurso envolve situações convencionais e situações
de experiências novas e (f) língua, sistemas semânticos, modelos cognitivos e visões de
mundo são socialmente construídos.
As imagens são construídas também pelas descrições (e adivinhações), ou seja, ações
metadiscursivas. O que implica uma investigação da gama de atividades desenvolvidas
pelos interlocutores em prol da construção de um sentido adequado à imagem esquemá-
tica ou às imagens possíveis num contexto particular de uso. O uso de ações metalinguís-
ticas, ou seja, de definições por parte de falantes analfabetos, demonstrou o domínio não
de estruturas linguísticas apenas, mas, principalmente, a consciência da necessidade de
compartilhar conhecimentos para o sucesso da interação. Busquei, portanto, investigar
a construção linguística e social da interação e sua influência na significação, ou seja, o
processamento de imagens, na interações dos habitantes de Pedra D’água entre si e entre
os visitantes. Assim como no mestrado, as pesquisas para a tese também geraram artigos
científicos e capítulos de livros (com o destaque de uma publicação internacional):
18. ADAM, J. M. Les Textes: types et prototypes. Récit, description, argumentation et dialogue. Paris, Nathan. 1993.
19. PALMER, G. B. Toward a theory of cultural linguistics. Austin, University of Texas Press, 1996.
74
1. Imagens na Oralidade. Alfa (ILCSE/UNESP), v.46, p.71 - 93, 2003.
2. A construção do texto descritivo: uma análise do tema-título. Investigações (Recife). ,
v.8, p.147 - 163, 1998.
3. Procedimentos Descritivos na Criação de Imagens: alguns aspectos avaliativos. Signótica.,
v.10, p.9 - 29, 1998.
4. As definições metafóricas na oralidade. Intercâmbio (PUCSP). , v.VI, p.121 - 132, 1997.
5. Definições na Oralidade In: Tecendo Textos, Construindo Experiências. Rio de Janeiro :
Lucerna, 2003, v.1, p. 241-264.
6. Processamento textual e construção de imagens In: Estudos de linguística textual de
português.1 ed.Frankfurt : Frankfurt am Maim, 2000, v.16, p. 45-59.
Na tese, um tópico que ficou tangencialmente tratado foi a construção das adivinha-
ções, no capítulo Imagens e Metadiscursividade cujo foco eram as definições. O gênero
adivinhas, à época, eu definia apenas como uma manifestação da sequência prototípica
da descrição, proposta por Adam (1993), compreendendo um tema-título (théme-titre)
e as quatro macro-operações, que são: (a) procedimento de ancoragem (procédure d'an-
crage), (b) procedimento de aspectualização (procédure d'aspectualisation), (c) proce-
dimento das relações (procédure de mise en relation) e (d) processo de encadeamento
pela sub-tematização (procédure d'enchâssement par sous-thématisation). Esta mesma
sequência utilizei para caracterização e análise das definições orais. O surgimento do
momento adivinhação nas primeiras noites em que dormiámos20 na comunidade foi para
mim uma surpresa. Estávamos conversando numa calçada de uma das casas, cerca de 12
pessoas, quando uma delas, a informante que dominava o maior número de adivinhações
no grupo, me perguntou:
20. Após o início da minha coleta de dados, Elizabete Lima, uma mestranda em Sociologia Rural da UFCG, iniciou sua
pesquisa na comunidade.
75
(01)
02. M11 tá com sono? ((várias pessoas estão falando e rindo ao mesmo tempo))
03. P01 repete que eu num ouvi nada
04. M04 eh: ela perguntô se tá com sono ((rindo))
05. P01 como é que é?
06. M11 tá com sono?
07. P01 tô com sono não
08. M11 então vamo vai lá vamo trabaiá agora
A expressão “vamo trabaiá agora”, mediante a minha negação de estar com sono, já
deixou evidente que eu seria a grande desafiada da noite, mas a maioria dos presentes se
integraram ao jogo. As adivinhações eram definidas, na tese, como um jogo de linguagem
em que um saber e uma curiosidade guiam o processo interativo. O desafiado deve recorrer
aos procedimentos de aspectualização e das relações para desvendar o enigma que lhe é
apresentado na pergunta, pois é através da identificação das associações entre as proprie-
dades selecionadas e uma outra propriedade àquelas associadas, que o indivíduo poderá
descobrir o tema-título. Tomei a liberdade de trazer para este memorial, com algumas
pequenas adaptações, a descrição do momento adivinhação com os comentários realizados
na tese. A primeira adivinha proposta por M11 foi “me chamo barca carrego ser ando de
noite pra todo mundo vê” e contou com cinco tentativas de descoberta do tema-título por
interlocutores diferentes:
(02)
15. M11 é ... me chamo barca carrego ser ando de noite pra todo mundo vê
16. H02 ( )
17. P01 me chamo barca
18. M11 barca... carrego ser
19. P01 carrego ser
20. M11 ando de noite pra todo mundo vê ando pra todo mundo vê
21. P01 vela?
22. M11 não ((várias pessoas riem))
23. P01 me chamo barca carrego ser é?
24. M11 é
25. P01 [[ando de noite?
76
26. M11 [[ando de noite
27. M11 pra todo mundo vê
28. P01 pra todo mundo vê? ((várias pessoas tentam adivinhar comentando entre si))
29. P01 eu num sei não
30. M12 eu também num sei não
31. M13 vela?
32. M11 não
33. H02 é nos ( [ )
34. M13 [é é a ( )
35. H02 nos meus projeto é um BARco
36. M11 não
37. H02 é não?
38. M11 quase que cê dizia
39. M12 é a lua?
40. M11 não ... quase que ele dizia
41. H04 barca?
42. M11 não ... nada ((várias pessoas continuam tentando adivinhar, conversando entre si,
43. de forma inaudível ))
44. M14 estrela?
45. M11 uhum um ((balançando a cabeça negativamente))
Várias pessoas entraram no jogo e cinco arriscavam suas respostas: vela (linha 21),
barco (linha 35), lua (linha 39), barca (linha 41), estrela (linha 44). As respostas vela, lua
e estrela parecem retomar apenas o aspecto –ando de noite– do enunciado do desafiador
enquanto as respostas barco e barca retomam o fato de transportar seres. Porém todas
as repostas foram seguidas de um não proferido por M11. Depois do fracasso de todas as
tentativas, criou-se um clima de impaciência e desejo de saber a resposta, ou seja, todos
se renderam à desafiadora:
77
Mas a menção do tema-título não desfaz o enigma, pois algumas pessoas não conse-
guiram estabelecer todas as relações entre o termo balão e as pistas que foram propostas,
por isso foi necessária a retomada destas pistas com explicações:
Depois dos esclarecimentos, todos concordam com a pertinência entre as pistas contidas
na estrutura interrogativa e o termo apontado como aquele que abrange estas pistas:
78
(03)
Esta adivinhação, num primeiro momento, faz o ouvinte acionar seus conhecimentos
sobre céu (firmamento); num segundo momento, sobre céu (abóbada palatina). A abóbada
palatina, por seu formato, é chamada de céu, por isso se instaura o enigma que norteia
a adivinhação. O movimento da comida no processo de mastigação toca a abóbada pala-
tina, ou seja, “o comê tudo que fai bate no céu”. Pelas análises realizadas foi possível se
constatar o emprego de enunciados enunciativos e o emprego de enunciados metalin-
guísticos como recursos que favorecem à intercompreensão e, consequentemente, ao
processo interacional. Estudar estes enunciados significa, entre outros aspectos, realizar
uma descrição linguística que comprova (a) o domínio de estruturas variadas da língua
portuguesa pelos informantes e (b) a “consciência” dos interlocutores de que precisam
compartilhar determinados conhecimentos para interagirem com êxito.
Foi, então, motivada pelos desafios das adivinhas que elaborei meu primeiro projeto de
pesquisa para a UFPE que se intitulava “Adivinhação: do folclore ao linguístico”, desenvol-
vido no período de 09/1998 a 07/1999 (prorrogado até julho de 2000), com três bolsistas
PIBIC-UFPE, cujos trabalhos foram publicados no primeiro volume da Revista Ao Pé da
Letra, em novembro de 1999,21 com os títulos: As adivinhas na relação ilustração-texto
na literatura infantil, de Kassandra da Silva Muniz; As adivinhações e o ensino de língua
materna, de Surama Fernandes Vieira e Tópicos discursivos e formas de construção das
adivinhas, de Wagner Rodrigues Silva, como se pode conferir em https://periodicos.ufpe.
br/revistas/pedaletra. Naquele momento, o olhar investigativo ainda não se pautava
79
em conceitos oriundos dos estudos multimodais, mas entendíamos a importância em se
considerar as implicações das conexões entre a ilustração e o texto, quer literário ou não,
no processo de compreensão. Sabíamos ser um entrave para o professor relação conceitual
imagem/ilustração e sua abordagem em atividades de compreensão e produção textual.
Retomo dois livros das adivinhas, utilizados no projeto à época. Acreditei desde aquela
época que se o professor quer trabalhar com jovens leitores livros de adivinhação, por
exemplo, uma boa estratégia de leitura é observar as relações estabelecidas entre imagens
e texto escrito das adivinhas. A título de sugestão, vou mencionar duas páginas de dois
livros: Panela de Arroz, de Luiz Camargo e Brincando de Adivinhar, de Ricardo Azevedo.
Em Panela de Arroz, de Luiz Camargo, o ilustrador usa o balão fala referente ao perso-
nagem Porta para fornecer pistas para a descoberta da adivinhação (O que é, o que é, tem
dente mas não morde?), pois o primeiro balão fala contém partes de um rosto (nariz, dentes).
A utilização do ponto de interrogação (?) traduz a natureza interrogativa do enunciado da
adivinha. O balão fala referente à enunciação de Maneco Caneco Chapéu de Funil contém
a resposta, que consiste numa tradução das associações estabelecidas nas falas do seu
interlocutor (a porta). O desenho é acompanhado pelo ponto de exclamação (!). O uso da
ilustração, em Panela de Arroz, tem a função de facilitar a descoberta da resposta, nesse
caso alho, bem como traduzir as relações associativas propostas de modo cifrado ou velado
80
nos textos verbais das adivinhas. Foi o que denominamos de uma ilustração sinalizadora,
aquela em que a ilustração ajuda o leitor a adivinhar a resposta, oferecendo pistas para a
descoberta do enigma proposto pelo texto escrito.
Já na página do Brincando de Adivinhar, de Ricardo Azevedo, observamos que a orga-
nização da página, ou seja, a proposição da adivinha se dá pelo texto escrito da adivinha e
por um conjunto de desenhos que representam palavras mencionadas no texto adivinha
(camisa, paletó, pomar) e por desenhos que estão relacionados com algumas ações citadas
no texto como “dá pra vestir” (luva), “dá pra chupar” (picolé, um cacho de uvas, um copo com
canudo). Como a resposta da adivinha é “manga”, as imagens, de uma certa forma, despistam
o jovem leitor, procuram afastá-lo da resposta correta da adivinhação. Classificamos de
“ilustrações despistadoras”. O leitor desafiado deve perceber que se trata de uma palavra
polissêmica, ou mais especificamente de uma homonímia, pois a “manga”, pode ser fruta
(dá pra chupar) ou parte do vestuário (dá pra vestir). Ao oferecer estratégias de leitura
que incentivem seus alunos, desde cedo, a observar as relações de coerência entre os
modos de enunciação na construção dos textos, o professor está promovendo exercícios
que fornecem benefícios cognitivos.
No momento atual dos estudos textuais, a multimodalidade não deveria ser um
assunto a mais do currículo, nem de planejamento. Abordar os elementos multimodais
deve ser uma prática mediante a constituição do texto que é objeto de estudo, quer como
leitura quer como produção. Deve ser uma ação regular na prática do professor, uma vez
que observar os recursos semióticos/elementos multimodais significa construir sentidos
do texto. Revisitar alguns conceitos, dentre eles, o de imagem se faz necessário. Imagem
abrange fotografias, desenhos, pinturas, imagens mentais criadas por descrições verbais
e muito mais. Mas para os estudos multimodais, imagens, por muitos anos, consistiram
em entidades materiais22, ou seja, fotografias, filmes, gráficos, desenhos anatômicos,
animações... E o que interessa? Interessa questionar como a imagem se associa a outros
modos! Interessa investigar como uma fotografia está inserida num texto, qual a relação
22. Não era interesse para o Memorial fazer uma releitura dos estudos multimodais, No entanto, para esta versão em livro, introduzo
algumas referências que têm guiado meus estudos atuais na área:
BATEMAN, J. A., WILDFEUER, J. & HIPPALA, T. Multimodality: Foundations, Research and Analysis – A Problem-Oriented Introduction.
Boston, MA: Mouton de Gruyter, 2017.
JEWITT, C., BAZERMEN J.& K. O’HALLORAN. Introducing Multimodality. New York: Taylor & Francis Group. 2016
NORRIS, S.& MAIER, C. D. (Eds.). Interactions, images and texts: a reader in multimodality. Boston, MA: Mouton de Gruyter, 2014.
SINDONI, M. G. Spoken and written discourse in online interactions: a multimodal approach. New York: Routledge, 2013.
81
do som (música, efeitos sonoros etc) em uma animação ou em um áudio book. Interessa
verificar qual a função da imagem na construção daquela narrativa, quais as funções das
ilustrações em livros de adivinhações, por exemplo.
Se pensarmos em livros digitais, interativos, nos quais os modos de representação
podem ser visual e/ou auditivo, a interação entre o leitor e os personagens da história,
por exemplo, pode ser modificada intensamente, pode variar à medida que cada ação seja
realizada na trama da narrativa, ou a cada emoção do personagem. Aí está um campo de
trabalho para os semioticistas sociais! Auxiliar na produção de materiais para crianças,
não apenas aquelas com necessidades especiais. van Leeuwen cita em entrevista cedida
ao nosso Programa de Pós-Graduação em Letras, em 2008, que os brinquedos, desses que
se compra em loja, não permitem às crianças explorar seus sentidos naturais. Lembro
aqui que brinquedos são recursos semióticos. O pesquisador afirmou ainda que, às vezes,
era convidado a emitir um parecer sobre como estabelecer comunicação ou como fazer o
design de revistas ou brinquedos, como os Lego.
Para não me alongar, lembro aqui que existe ainda o modo táctil de representação, que
requer outro leque de recursos semióticos na organização dos textos, que requer outras
habilidades sensoriais na interação. As porções de perfumes ou de cremes utilizadas em
propagandas, que se apresentam em formato de cartão-postal, ou em páginas de revistas,
com espaço para a porção da fragrância sob uma película, a qual devemos remover parcial-
mente para gerar um significado, geram justamente este modo táctil de representação. Em
outras palavras, podemos sentir ou tocar, a depender do produto. Todos estes recursos
estão inseridos na sociedade, inseridos na vida das nossas crianças, dos nossos jovens e
dos nossos professores! Torná-los objeto de estudo não é mais uma questão de revisão de
conceitos teóricos, é uma questão de desejo, ou melhor, é uma questão de decisão.
Mas voltemos às adivinhações…
82
Em 2000-2001, desenvolvemos o projeto “Adivinhações e ensino de língua portuguesa”,
durante o qual vários jogos foram elaborados com base na natureza ambígua da linguagem
das adivinhas, que nos permite classificá-las em ortográficas, morfológicas, sintáticas. Os
jogos chegaram a ser testados em turma de alunos do ensino básico, e em turmas piloto
com as quais foram desenvolvidas oficinas. Pretendíamos publicar um livro com os resul-
tados dos três projetos. Organizei o livro com seis capítulos, mas nunca o finalizei com os
quatro autores (Helga Vanessa de Souza passou a integrar a equipe). Cheguei até iniciar
um projeto gráfico para os jogos em colaboração com a designer Heloísa Sampaio. Este
foi outro projeto não concluído ao longo da minha vida acadêmica. Ainda permanece no
papel, ou melhor, em folhas de papéis… Eis uma amostra do Kit AdivinhAção, com a iden-
tidade visual dos jogos pensada à época:
83
84
Com a coordenação do PIBID Letras, biênio 2011 a 2014, pude retornar a estes jogos
com o Bingo Zoomórfico:
BINGO ZOOMÓRFICO
Você sabia que o tradicional bingo de cartela pode ser jogado de forma temática? Neste bingo, você tem que
usar os seus conhecimentos sobre o reino animal e sobre adivinhações. A nossa sugestão é que os próprios
jogadores preencham suas cartelas de bingo (ver modelo vazio). Como seria? O professor lê inicialmente
as respostas das adivinhas e os alunos decidem com quais palavras eles querem preencher as cartelas.
Não podem repetir palavras (ver modelo preenchido). O professor ou um aluno (que não jogará) vai ser o
responsável por sortear e falar as perguntas. Quando a pergunta for sorteada, os jogadores verificam se o
animal que eles acham que é a resposta está na sua cartela e marcam um X. O objetivo é completar a cartela,
marcando todos os animais, e quem conseguir será o campeão. Quando isso acontecer, o jogador deve falar
Bingo! Nesse momento, o jogador que sorteava as perguntas deverá verificar se a cartela está correta. Caso
não esteja, o bingo deve continuar até algum jogador conseguir completar. Vamos jogar?
85
Perguntas e Respostas
O que é que dentro d’água está vivo e fora dela morrerá? Peixe
O que é que tem asa como ave, voa como ave, não põe e dá leite? Morcego
O que é verde sem ser planta e fala sem ser gente? Papagaio
O que é que quem tem procura, quem não tem, não quer? Pulga
Que animal tem os ossos por fora e a carne por dentro? Siri
O que é que tem cabeça, mas não tem cabelo; é comprido mas não é
Cobra
alto; anda mas não tem pés?
Não tem dedos, nem anéis e corre sem ter pés? Cobra
O que é que vê no escuro e não é gato, tem lanterna e não é guarda? Vaga-lume
86
Dentre os projetos de pesquisa por mim desenvolvidos neste período de 1998 a 201623,
além destes com as adivinhações, quero reviver os caminhos dos pôsteres acadêmicos. No
período de agosto de 2006 a junho de 2009, desenvolvi os projetos de pesquisa A visualização
da escrita: o estudo do pôster acadêmico e Pôster Acadêmico: um evento multimodal. Vivíamos
o boom dos pôsteres nos eventos acadêmicos, decorrente do crescimento significativo da
iniciação científica nas universidades brasileiras. Os jovens estudantes desenvolviam cada
vez mais pesquisas científicas em todas as áreas do conhecimento, motivados em grande
parte pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica(PIBIC). A apresen-
tação de projetos de pesquisa do PIBIC, por sua vez, requeria a participação numa outra
pesquisa: a do professor-orientador, quer fosse este de um programa de pós-graduação
quer fosse apenas de graduação. Como uma decorrência dessa parceria firmada entre os
representantes acadêmicos das ICs e os órgãos de fomento (CNPq e as Fundações de Apoio
à Pesquisa dos Estados Brasileiros, por exemplo), um gênero textual se faz cada vez mais
presente na formação dos graduandos e na vida dos orientadores: o pôster acadêmico.
Um parêntese para reflexão: foi quase sempre assim que os estudos dos textos/gêneros
se inseriam em minha vida, motivados por uma exigência social; eles se insinuavam
e me provocavam, me seduziam e facilmente me conquistavam. Seus danadinhos,
perversos sedutores! Aqui estou eu seduzida pelo memorial
87
Porém, fora do CONIC, aos graduandos era dado, quase sempre, a participação apenas na
modalidade pôster, em congressos, seminários, simpósios. Será que mudou muito hoje,
em 2016?
Na época resumi a passagem dos graduandos da categoria de ouvinte em eventos
científicos para a categoria de apresentadores de trabalhos em quatro etapas:
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O carinho acadêmico pelos pôsteres me impulsionou para outra ação que venho reali-
zando, nos encontros do NIG, com sistematicidade que é a sessão de pôsteres, seguida
da Plenária sobre os pôsteres apresentados. Najara Ferrari Pinheiro (UNIFRA) e eu, na
apresentação do Anais Eletrônico do IV Encontro Gêneros na Linguística e na Literatura,
destacamos que em 2012, se inseriu “um momento de “Exposição de pôsteres: gêneros em
debate”, que consistia na apresentação por mestrandos e doutorandos de suas pesquisas
em andamento com temáticas em “gêneros textuais”. Tivemos a participação de alunos da
UFPE, UFCG, UFAL, UFPB, UEPB, UFRN. Foram selecionados 28 expositores via submissão de
resumos. A mesma equipe de professores, formada por professores de Letras da UFPE, UFCG
e os convidados para o evento, selecionaram os resumos, analisaram as apresentações e
compuseram a plenária EXPOSIÇÃO DE PÔSTERES: GÊNEROS EM DEBATE, que se destinava
a comentar coletivamente as pesquisas trazidas pelos 28 pós-graduandos. A estes eram diri-
gidas questões ou estes faziam questões a comissão da plenária. Foi uma atividade avaliada
como extremamente positiva e solicitada por todos para ser mantida nos próximos encontros.
Em 2013, O NIG/UFPE, realizou, em agosto, a quarta edição do Encontro de Gêneros na
Linguística e na Literatura e promoveu esta publicação do I Anais Exposição de pôsteres:
gêneros em debate, na modalidade pôsteres acadêmicos, acompanhados dos respectivos
resumos, ação esta ainda decorrente da parceria com PROCAD-NF 2008-2013. Constitui,
portanto, meta do Encontro a valorização do gênero pôster acadêmico, por isso as apresen-
tações de trabalhos, em 2013, congregaram dois grupos: os relacionados com pesquisa em
suas diferentes modalidades (IC, TCC e resultados de Mestrado e Doutorado) e os desenvol-
vidos via PIBID.
A publicação, resultante desse encontro, é o somatório de múltiplas etapas: (1) expo-
sição sobre o assunto aos grupos de avaliadores; (2) encontro de avaliadores para discutir
os resultados; (3) plenária para apresentação da síntese dos avaliadores. Nesse sentido, a
apresentação feita por autores de trabalhos assume um significado consistente, pois além de
ser ouvido, de poder demonstrar os conhecimentos e domínio sobre os conteúdos e a proposta
apresentada, os acadêmicos podem responder questões e ouvir, dos avaliadores, na plenária,
um parecer que sintetiza as discussões pontuais realizadas durante a análise dos pôsteres.
Nesse retorno (a plenária), amplia-se a discussão sobre a qualidade, a responsabilidade
e o engajamento dos participantes de um Encontro que integra e aproxima as duas pontas no
processo de produção de conhecimento: os acadêmicos e os leitores especializados. O ápice
dessa proposta está justamente na plenária, na apresentação dos resultados das discussões
prévias.
89
O produto, esta publicação, resume a importância da exposição por meio do pôster
acadêmico, revelando-se, assim, um meio de divulgação de trabalhos que tem na sua essência
a relação entre as linguagens verbais e não verbais. Esse gênero valoriza a multimodali-
dade, tornando-se, pois, um meio dinâmico para apresentação de resultados de pesquisas
ou atividades desenvolvidas na Universidade.
Neste IV Encontro de Gêneros na Linguística e na Literatura foram apresentados 62
trabalhos os quais representavam diferentes Instituições de diversas partes do país (UEPB,
UESPI, UFAL, UFCG, UFPE, UFRPE, UFPB, UFRN, UNIFRA). Do total de pôsteres apresen-
tados 41 foram selecionados para compor esta publicação. A temática variada e a união de
pesquisas em seus mais diversos momentos – de IC a Doutores, passando por atividades de
Pibidianos - revelam o valor desta obra.”
O livro em questão pode ser acessado diretamente no link: http://issuu.com/
pipacomunica/docs/ebook-generos2013-ufpe.
90
E por falar em NIG-UFPE...
Em decorrência do meu envolvimento com os estudos de gêneros, criei, em maio de
2010, o Núcleo de Investigações sobre Gêneros Textuais (NIG), certificado pela UFPE em maio
de 2011, tendo como metas iniciais, e prioritárias, a internacionalização de pesquisas e a
produção de materiais didáticos resultantes da articulação pesquisa, ensino e extensão. O
NIG se iniciou com duas linhas de pesquisa, renomeadas em 2012 como “Teorias de Gênero”
e “Gêneros Multissistêmicos e Ensino”. A primeira tem por objetivo maior a investigação de
estudos de gêneros textuais nas áreas da linguística e da teoria da literatura, observando
práticas sociais, constituídas por gêneros orais e escritos, em contextos sociocomunica-
tivos diversos e em épocas diversas. Já a segunda, “Gêneros Multissistêmicos e Ensino”, está
voltada para ações que investiguem as construções das formas verbais (textos escritos ou
falados; digitais ou impressos) e pictoriais (gráficos estáticos ou dinâmicos) dos textos e
as possíveis implicações neuropsicológicas que tais construções (arranjos tecnológicos)
podem provocar em situações de aprendizagem; investiga-se ainda, nesta perspectiva,
as relações entre os usos das novas mídias tecnológicas, as possibilidades (affordances)
tecnológicas e a construção de identidade.
Em 2013, foi criada uma nova linha de pesquisa – Teorias de Gênero, Tradução e Mídias
Digitais –, em decorrência de ações como: tradução e legendagem para a Série Bate-Papo
Acadêmico (ISSN 2238-7382) e tradução e legendagem da Coletânea de vídeos Gunther Kress.
Esta nova linha também atende a uma demanda de alunos das licenciaturas e bacha-
relados em línguas estrangeiras do Departamento de Letras. Infelizmente, não é uma
prática tão fácil de ser perseguida. Uma incansável lutadora é a Profa. Fatiha Parahyba.
No momento, temos um livro, intitulado, Consciência Crítica de Gênero: propostas para
o ensino, com dois capítulos traduzidos, um do português para inglês (Gêneros textuais
como prática social e seu ensino, de Maria Augusta Reinaldo e Maria Auxiliadora Bezerra)
e outro do inglês para português (Teaching Critical Genre Awareness, de Amy Devitt), em
fase de editoração, realizado pelos alunos de graduação em língua inglesa sob a super-
visão de Fatiha.
91
Dois outros títulos estão sendo trabalhados por nossa equipe: um ainda sem título,
contém os artigos Algumas Ideias Para Ensinar Novos Gêneros A Partir De Velhos Gêneros, de
Amy J. Devitt e Heather Bastian e Gêneros evoluem? Deveríamos dizer que sim? De Carolyn
R. Miller. Os textos originais também serão publicados.
O NIG buscou com a criação da Série Bate-Papo Acadêmico (ISSN 2238-7382), (http://
www.nigufpe.com.br/serie-academica) trazer para o campo dos estudos de gêneros
uma contribuição diferenciada, ao propor “demonstrar a variedade conceitual do termo
gênero, uma vez que tem por intuito maior organizar e compartilhar, num espaço digital,
o conhecimento que se tem construído sobre gênero, nos mais variados contextos, nas
mais variadas áreas de estudos, por pesquisadores de vários países.
92
Através de entrevistas com estes pesquisadores, a Série Bate-Papo Acadêmico divulga
e disponibiliza conhecimento e ciência; promove a interação entre academia e demais
setores da sociedade, bem como estabelece uma conexão entre os estudiosos de gênero
através das traduções oferecidas (português, inglês, espanhol e francês). A Série Bate-
Papo Acadêmico se apresenta em formato digital, disponível para acesso online, numa
tecnologia multimídia moderna, de grande acesso, mas que preserva os velhos e nobres
gêneros da nossa cultura acadêmica, ou seja, o diálogo entre os grandes mestres (vídeo)
e o livro (e-book).” (www.nigufpe.com.br)
No entanto, apesar de já termos gravações, não tivemos apoio financeiro para finalizar
as traduções, legendagens e editorações dos vídeos; diagramação dos ebooks e flashpapers,
ou seja, para arcar com os custos que cada etapa exige. Além do mais a cultura do trabalho
voluntário acadêmico não se estabelece entre nós. Como são quatro idiomas (português,
francês, inglês e espanhol) e cerca de 10 a 12 perguntas por vídeo, cada volume da Série
Bate-Papo Acadêmico se constitui de 30 a 36 vídeos traduzidos e legendados, além da
edição do vídeo em língua original do entrevistado. É, portanto, uma produção sofisti-
cada que requer a participação de profissionais das áreas especializadas de tradução,
legendagem e editoração de vídeos. Por exemplo, o volume Carolyn Miller (NCSU -USA) &
Charles Bazerman (UCSB –USA) – Gêneros Textuais – em agosto de 2011, foram publicadas
as versões em inglês, português e espanhol; em julho de 2012, a versão em francês. São 12
perguntas e respostas, totalizando 36 vídeos, um ebook (77 páginas) e um flashpaper. Só
a questão 1 possui, na versão em língua portuguesa, mais de 14.000 acessos no Youtube,
sem contar com os acessos feitos diretamente no site do NIG. Este volume contou com o
apoio do PG Letras da UFPE.
Estão pendentes as entrevistas nas seguintes etapas:
93
2. Theo van Leeuwen (University of Technology, Sidney): - etapas finalizadas:
transcrição do inglês oral para o escrito; tradução do inglês para o português;
etapas pendentes: tradução do inglês para o francês e espanhol e revisão para
texto do ebook e flashpaper.
3. François Rastier (CRNS, Paris): etapas finalizadas: transcrição do francês oral
para o escrito. etapas pendentes: tradução do francês para o inglês e espanhol e
revisão para texto do ebook e flashpaper. Este volume é realizado em parceria
com a Profa. Dra. Maria Antónia Coutinho da Universidade Nova de Lisboa,
Portugal.
ROUNDTABLE DISCUSSION
Participants: Natasha Artemeva, Meagan Kittle Autry, Céline Beaudet, Vijay Bhatia, Anis Bawarshi, Amy
Devitt, Angela Dionisio, Dylan B. Dryer, Janet Giltrow, Ann Johns, Ashley Kelly, J. R. Martin, Carolyn R.
Miller, David Russell, Catherine Schryer, Jaffer Sheyholislami Clay Spinuzzi, Graham Smart, Christine Tardy.
http://www3.carleton.ca/genre2012/pdf/genre-2012-program-full.pdf
94
Quanto à Coletânea de vídeos Gunther Kress, entrevista com o Dr. Gunther Kress,
especialista em estudos multimodais, produzidos pela Universidade de Londres, cujos
direitos de imagem e texto em língua portuguesa foram cedidos, em novembro de 2012,
para o NIG e para o PIBID Letras, só foi possível fazermos a tradução e legendagem em
tão curto tempo, porque contamos com o apoio financeiro do PIBID institucional da UFPE.
Os quatro vídeos já foram disponibilizados na homepage do NIG, em fevereiro de 2013
(http://www.pibidletras.com.br/cine-letras/gunther-kress/), mas não foi possível
fazer o link com o site do NIG pela necessidade de atualização do nosso site!
Além desses resultados, em seus 6 anos de criação, o NIG também possibilitou o inter-
câmbio com o Multimodal Research Centre, na Universidade de Auckland, Nova Zelândia,
via o desenvolvimento do projeto “Quem somos nós? E como a nova mídia tecnológica está
impactando nossa vida?” (“Who are we? and How is new media technology impacting our
lives”), coordenado pela Profa. Sigrid Norris, no período de 2011 a 2017. Cadastro na
Plataforma Brasil 00748312.7.0000.5208, aprovado em setembro de 2012 e coordenado
aqui no Brasil por mim. Os dados foram coletados a partir da aplicação de uma entrevista
com base em um questionário com 61 questões a 100 informantes assim distribuídos: 20
participantes (10 homens/10 mulheres) na faixa etária de 16-25 anos; 20 participantes
(10 homens/10 mulheres) na faixa etária de 26-35 anos; 20 participantes (10 homens/10
mulheres) na faixa etária de 36-50 anos; 20 participantes (10 homens/10 mulheres) na
faixa etária de 51-65 anos; e 20 participantes (10 homens/10 mulheres) na faixa etária
de 66 + anos. Já foram realizadas as seguintes etapas: (i) coleta das 100 entrevistas; (ii)
digitação dos 100 questionários em língua portuguesa; (iii) tradução dos 100 questionários
para a língua inglesa. No momento, já foram digitados e revisados os 100 questionários
traduzidos para o inglês e alimentado o banco de dados da website do projeto http://
www.whoarewe.aut.ac.nz/ e iniciamos as análises e as produções e de artigos. Este
projeto contou com o apoio do PG Letras da UFPE, até 2013. O andamento desde projeto
está muito lento, inclusive com algumas dificuldades teórico-metodológicas. Há indicações
de reestruturações para a etapa final, segundo a coordenação geral na Nova Zelândia.
O NIG contabiliza como principais ações concluídas e/ou que se estabeleceram e se
tornaram recorrente:
95
1. A elaboração e conclusão do Projeto “O Diálogo entre Multimodalidade e
Neuropsicologia” (UFPE 23076.016293/2011-20), (2010-2012). Do desenvol-
vimento deste projeto, destaco como principais resultados a produção de dois
capítulos: Multimodalidade, gênero textual e leitura, de Angela Paiva Dionisio e
Leila Vasconcelos e Multimodalidade, capacidade de aprendizagem e leitura, de
Leila Vasconcelos e Angela Dionisio, publicados no livro Múltiplas Linguagens
para o ensino médio, organizado por Clécio Bunzen e Márcia Mendonça, publi-
cado pela Parábola, em 2013.
2. A elaboração do subprojeto PIBID Letras “A Leitura de Linguagens Diversas”,
em 2011, apresentado ao Departamento de Letras por Angela Dionisio, apro-
vado no Edital PIBID 2010/CAPES, com 10 bolsistas (graduandos Letras) e 2
bolsistas (supervisores).
3. A elaboração de projetos para alunos do Programa BIA (Bolsas de Incentivo
Acadêmico):
96
O Prof. Charles Bazerman foi um grande incentivador da criação do NIG. Em 2015, para
celebrar os 10 anos de visita ao Brasil e a contribuição direta e efetiva com os estudos de
gêneros e de escrita no nosso país, nós do NIG, resolvemos demonstrar o nosso carinho
com a produção de um livro, Gêneros na Línguística e na Literatura: Charles Bazerman,
10 anos de incentivo à pesquisa no BRASIL, organizado por mim e por Larissa de Pinho
Cavalcanti (http://goo.gl/BfbDrg).
Na apresentação que fiz para o livro, finalizo, recorrendo a Caetano Veloso, dizendo a
Bazerman, que os seus
Kit NIG:
97
Estas possibilidades de pesquisas, de participação em eventos acadêmicos, em bancas
examinadoras me permitiu viajar por cinco países, nos quais visitei, até 2016, um total de
15 cidades; no Brasil, sem considerar Pernambuco, visitei 16 Estados e o Distrito Federal,
perfazendo o número de 25 cidades. No momento da defesa oral do memorial, apresentei a
animação Por onde andei que permitiu uma viagem por países, estados e cidades em que
já estive como professora da UFPE, ao som de Orinoco Flow, composição de Enya e Roma
Ryan: “Turn it up, turn it up, turn it up, up, adieu. Ooh - Sail away, sail away, sail away”.
98
99
UFPE
Idealizadora do PIBID Letras Português
101
Vou falar do PIBID LETRAS PORTUGUÊS, num estilo narrativo mais plural, visto que
as informações apresentadas, entre os anos de 2011 (julho) e 2016 (agosto), expõem o
trabalho realizado pela equipe PIBID Letras – coordenadoras, supervisores, professores
visitantes e alunos bolsistas – e a maneira como este trabalho repercutiu tanto para o
crescimento do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência quanto para o
desenvolvimento acadêmico de professores, licenciandos em formação e professores e
estudantes do ensino básico. Não é Angela a personagem central deste feito.
102
No desenvolvimento da primeira etapa do projeto A Leitura de Linguagens Diversas, em
2011, acho que eu relembrava as pesquisas com os livros de adivinhações e com livros de
literatura infantil das aulas de morfologia, nas quais se salientava o fato de que os recursos
visuais e verbais precisavam ser vistos como recursos semióticos, no processamento dos
textos. Concebíamos, agora, em 2011, que um texto é “construído numa orientação de
multissistemas, ou seja, envolve tanto aspectos linguísticos como não linguísticos no seu
processamento (imagem, música) (...)” (Marcuschi, 200880) 24: Referimo-nos à multimo-
dalidade discursiva como um traço constitutivo de todos os gêneros textuais escritos e
orais. Portanto, recursos semióticos25 precisam ser vistos como possibilidades tecnológicas
(affordances), no processamento dos textos. O objetivo maior do PIBID Letras Português
tem sido, portanto, oferecer subsídio teórico-metodológico para a abordagem de gêneros
produzidos por diversas linguagens, observando as funções retóricas das convenções utili-
zadas. Os trabalhos de intervenções, na sua primeira fase (2011-2013), foram planejados
através da realização de oficinas, do planejamento de atividades destinadas ao ensino
médio e com base em subsídios teórico-metodológicos interdisciplinares, oriundos dos
Estudos Retóricos dos Gêneros, da Multimodalidade e da Neuropsicologia.
24. MARCUSCHI, Luiz. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola. 2008.
25. Recursos semióticos é o termo que tem sido utilizado para descrever os modos tais como língua, imagem, gesto,
gráficos, música, tipografia, cor, etc. se integram através das modalidades sensoriais (visual, auditiva, olfativa, etc.) na
construção de eventos e textos multimodais (cf. O’Holloran, 2011; Kress, 2009, van Teeuwen, 2006). De acordo com os
Glossários existentes nos livros “Introducing Social Semiotics” e “The Routledge Handbook of Multimodal Analysis”, a
definição de recurso semiótico que prevalece é a estabelecida por van Leeuwen: “ações, materiais ou artefatos que nós
usamos com propósitos comunicativos, quer produzidos fisiologicamente –por exemplo, com nosso aparato vocal, os
músculos que usamos para fazer expressões faciais e gestos– ou tecnologicamente, por exemplo, com lápis e tinta, ou
computador e software– junto com os meios nos quais cada um desses recursos podem ser organizados. Recursos
semióticos têm um sentido potencial, baseado nos usos passados e numa série de possibilidades baseadas nos usos
possíveis.” (van Leeuwen, 2005:285; Jewitt, 2009:304).
103
As Séries do PIBID Letras visam propiciar, aos futuros professores de Letras, bem
como aos professores do ensino médio em exercício, envolvidos no subprojeto, a opor-
tunidade de produzir materiais didáticos. As séries planejadas entre 2011-2013 foram:
Série Experimentando Teorias: Diversidade de Linguagens no Ensino Médio, Série Verbetes
Enciclopédicos: Diversidade de Linguagens no Ensino Médio e Série Cadernos de Sugestões
Didáticas.
O primeiro volume da Série Experimentando Teorias: Diversidade de Linguagens no
Ensino Médio seguiu basicamente o plano inicial do projeto, visto que consistia em discutir
a base teórica que subsidiaria o planejamento de atividades destinadas ao ensino médio.
Já a segunda, Série Verbetes Enciclopédicos: Diversidade de Linguagens no Ensino Médio,
surgiu da necessidade de construção de um material intermediário, para servir de base
para as intervenções didáticas: a descrição de gêneros multissemióticos que descrevem,
narram, quantificam informações recorrendo às estratégias textuais e discursivas da visu-
alização. Insiro, ao final deste tópico, o texto que fiz para Apresentação desta Série por
traduzir, sem trocadilhos, a história da equipe e mais uma vez a minha aprendizagem de
um novo gênero, ao mesmo tempo em que buscava revisitá-lo por razões didáticas. Em
Verbetar: fazer verbetes e organizá-los, eis o nosso desafio! também revivi o meu caminho
com os verbetes, até então voltados para o ensino de língua materna.
104
Cobra-se a produção do gênero textual atividade escolar. Mas se ensina? Enfatiza-se a
relevância de um enunciado bem elaborado em um processo de avaliação de desempenho
de aprendizagem dos alunos, mas em qual momento do curso de Letras, pelo menos, nestes
anos aqui na UFPE, nós nos envolvemos com a escrita desse gênero? E não quero nem
questionar se era a escrita de enunciados multimodais26! O PIBID foi, então, um espaço para
experimentação, para a aprendizagem do professor como escritor, como autor. Para mim,
como coordenadora, fez-se a oportunidade, no espaço do curso de Letras, para vivenciar a
escrita dos gêneros do professor, isto é, de incentivar o agir autoral do professor.
A primeira decisão tomada por mim foi a de que as sugestões didáticas para cada
verbete não deveriam consistir unidades de estudo ou sequências didáticas. O que real-
mente se buscava era fazer exercícios de docência. Era aprender a fazer exercícios para os
diversos segmentos textuais27 como videoclipes, fotografias, poemas, desenhos anatômicos,
etc. Para ressaltar essa intenção maior, usamos como epígrafe-memória, uma citação de
Ana Cristina Marinho e Hélder Pinheiro:
26. Pego emprestada esta expressão de Denise Lino. Muitas conversas com Denise me guiaram neste percurso dos
enunciados das atividades escolares.
27. Chamo de segmentos textuais, uma vez que o gênero textual é o verbete e os demais “gêneros” inseridos na sua
construção funcionam, predominantemente, como estruturas textuais, como elementos de textualidade. Mas isto é tema
para outro texto.
28. MARINHO, Ana Cristina, e PINHEIRO, Hélder. O cordel no cotidiano escolar. São Paulo, Editora Cortez. 2013
105
[Um parêntese sobre um destes livros: Ao concluirmos o livro Multimodalidades e
Leituras: funcionamento cognitivo, recursos semióticos e convenções visuais, pensá-
vamos em quem convidar para fazer a apresentação, quando Medianeira questionou:
“Por que não os meninos Leo, Paloma e Nadiana?” Respondi: “Ótima ideia.” Estava
definido, fizemos o convite e eles aceitaram de primeira. Vejam só por onde eles foram
começar? Lá estavam eles retomando as aulas de Morfologia, praticamente 15 anos
depois, o que me fez pensar o quanto foi impactante, para usar uma palavra deles no
momento, o enfoque metodológico adotado, em que dialogavam Mattoso Câmara,
Evanildo Bechara, Maria Helena Moura Neves, Millor Fernandes, Ida Maria Alves, Nelly
Carvalho, entre outros. O que deveria ser apenas uma Apresentação de um livro trouxe
algo mais. Trouxe testemunhos de investimentos teórico-metodológicos, trouxe um
conforto profissional, um alento de que aquelas aulas de tanto tempo atrás continu-
avam a influenciar a formação docente destes alunos. Obrigada Leonardo, Paloma e
Nadiana. Eis o fragmento da Apresentação:
106
o nosso objeto analítico como sendo estritamente o texto verbal, a partir do
qual seriam produzidos estudos fonéticos, lexicais, morfossintáticos e, quando
muito, semântico-pragmáticos. Ilustrações, fotos e gráficos, aliados a recursos
de composição e impressão, como tipo de papel, cor, diagramação, etc. – todos
esses elementos essenciais à compreensão do texto eram então tidos como
meros adornos, passíveis só de comentários pontuais e ‘a título de curiosidade’.
É claro que, naquele momento, não era sequer discutida a noção de multimo-
dalidade. Contudo, Angela Dionisio – na época, nossa professora de Língua
Portuguesa –, com sua postura inovadora e de importância fundamental para
a referida ‘virada’ em nosso percurso acadêmico, já apresentava, em um livro
discutido em sala, questões como: “a leitura se realiza a partir do diálogo do
leitor com o objeto lido – seja escrito, sonoro, seja um gesto, uma imagem, um
acontecimento” (Martins, 1997, p.33). (…)
Por fim, não podemos deixar de concluir a nossa narrativa inicial acerca do nosso
percurso acadêmico. Bom, hoje nós três somos (quase) todos doutores – Nadiana está
em vias de conclusão do curso – e todos trabalhamos com multimodalidade. O convite
para fazermos esta APRESENTAÇÃO, além de ser uma honra, celebra nossa caminhada
por essa área, agora com passos mais firmes de profissionais realizados, e anuncia
novos meandros por percorrer; ainda como jovens cheios de planos e expectativas.”29
29. MOZDZENSKI, L., BORBA, P e LIMA, N. Multimodalidades, leituras e três histórias que se cruzam: uma apresentação. In:
DIONISIO, A.; VASCONCELOS, L.; e SOUZA, M. Multimodalidades e Leituras: funcionamento cognitivo, recursos semióticos
e convenções visuais. Recife: Pipa Comunicação, 2014, p. 9-12.
107
Notícia na íntegra:
De acordo com os bolsistas, foi na tecnologia que eles encontraram o melhor auxílio
para o desenvolvimento das atividades com os alunos da rede pública e para o
compartilhamento, que serve de inspiração a outros professores.
108
Os livros gratuitos estão disponíveis no site do Pibid Letras UFPE e os interessados
podem acessá-los online ou realizar o download para seus dispositivos. As publicações
são repletas de ilustrações e sugestões de conteúdos adicionais como vídeos,
fotografias, tirinhas e outros elementos que deixam a leitura mais atraente e dinâmica.
Em todas as séries, a abordagem principal está centrada nos gêneros textuais na
perspectiva da multimodalidade, que é o foco de atuação do projeto. "Gráficos, tabelas,
desenhos anatômicos, infográficos, mapas e histórias em quadrinhos, veiculados na
mídia impressa e digital, simbolizam alguns dos gêneros textuais que migraram para o
domínio educacional, tanto para serem usados em situações de aprendizagem como
em situações de avaliação", reforça a coordenação do Pibid Letras da UFPE.
Acredito sempre que podemos ser surpreendidos com novas situações de superação e
novas construções de aprendizagem. No entanto, esta experiência com o PIBID associada
ao meu tempo de magistério me faz suspeitar que reside aqui o fechamento de, prova-
velmente, a mais significativa, por um período tão intenso, de vivência docente e com a
formação de docentes. Com esta turminha, pude:
109
O primeiro kit de gêneros textuais produzidos por alunos do ensino básico sob a
supervisão dos nossos jovens pibidianos, ao final da primeira unidade perfil do
leitor, traz, em cada um dos seus cinco produtos, memórias teórico-metodológicas
distintas, nos quais eu visualizo momentos distintos da minha vida acadêmica.
Eis os produtos:
Produto 3: Perfil do leitor como capas para blocos Produto 4: Enquete perfil do leitor que se
de anotações transformou em pôsteres para quartos
110
3. Ser presenteada por um cartão de aniversário em que os bolsistas demonstravam a
aprendizagem dos estudos de gêneros na perspectiva que desenvolvemos no projeto, bem
como do conceito de verbete. Quantas histórias subjazem os temas-títulos e as definições
contidas neste cartão de aniversário! Sabiam construir o gênero, podiam transgredi-lo;
mais ainda: não o fizerem para cumprir uma tarefa escolar. Simplesmente, quiseram fazer!
Me disseram, certamente sem querer: “olha, Angela, como a gente pode brincar com as
estruturas textuais do gênero verbete, subvertendo-as!” Que presente maior eu podia querer?
111
5. Presenciei cenas casuais que traduzem a conti-
nuidade da vida e a alegria dos profisionais nos
reencontros com seus ex-alunos. Especialmente,
quando estes alunos seguem sua profissão;
E por fim 6, pude trazer para minha formação acadêmica, de forma substancial, a
produção da escrita docente, ou seja, pude, efetivamente, ao coordenar esse projeto, fazer
da universidade, como afirma Magda Soares (2015, p. 27), o espaço de pesquisa como
uma forma de compreender para agir. Pude ter a resposta que me blindava do sistema de
obrigatoriedade de publicação de artigos científicos em periódicos Qualis A: “Não acho
que publicar artigo científico seja suficiente, quando se é da área da educação, sobretudo em
um país em que o ensino público ainda é tão deficiente.” Eu precisei optar entre o quereres
e o estares sempre a fim, eu estava a fim de fazer “O Pibid”; não mais as exigências dos
programas de pós-graduação, os quais já não eram o quer que havia em mim. Eles podem
voltar a ser o meu querer um dia... pois não há aqui nem crítica ou demérito. Não seria
bandida lá, pois acho que sou heroína, com 24 orientações e 3 co-orientações de mestrado,
8 orientações e 3 co-orientações de doutorado e 3 supervisões de pós-doutoramento,
sendo a primeira defendida em 2002 e a última em 2015.
Com as ações do PIBID, estamos em 2016. Acredito ser um momento interessante
para visualizarmos as atividades de orientação mais voltadas para a graduação. Totalizam
112 orientações distribuídas nas categorias de Iniciação Científica, Monitoria, PIBID, BIA,
TCC e Programa Jovens Talentos. A tabela abaixo trás informações sobre os períodos e
distribuição de bolsistas em cada categoria:
112
Orientações como Professora do Departamento de Letras
- Graduação -
PIBID (2011–2016) 54
Vamos verbetar! Esta foi a decisão tomada após algumas reuniões da equipe PIBID Letras UFPE,
ao estudarmos gêneros textuais, investigando questões de avaliações de programas que buscam traçar
perfis dos nossos alunos de educação básica, ao analisarmos manuais didáticos do ensino médio de
disciplinas diversas e ao buscarmos respaldo teórico para definições de alguns gêneros multissistê-
micos recorrentes em diferentes áreas de conhecimento no ensino fundamental e médio, tais como
desenho anatômico, diagrama, fotografia, infográfico, linha do tempo, tabela. Todos nós com um letra-
mento mais formal podemos ler cada um deles, com certa facilidade, sem que isto nos cause entrave
mais sério no processo de compreensão, certo? Porém, como sujeitos responsáveis pela elaboração
de atividades didáticas que orientam a formação de leitores, precisamos nos apropriar melhor dos
gêneros textuais que circulam em nosso contexto educacional, em nosso dia a dia. Conhecer apenas
não é suficiente e apropriação exige domínio! A tarefa não foi tão simples, como mostraremos no
decorrer desta apresentação.
Voltando aos aspectos motivadores da nossa decisão em verbetar esta série Verbetes Enciclopédicos,
uma situação bastante significativa foi vivenciada em uma das escolas estaduais recifenses nas quais
113
estamos atuando. Durante a realização de um teste piloto, envolvendo a compreensão de enunciados
com gêneros multissistêmicos, uma aluna não respondeu a uma questão, pois, segundo ela, não sabia
o que era charge, termo que iniciava o enunciado da questão, transcrita abaixo (01). Não estamos, neste
momento, questionando a elaboração do enunciado em si, mas alguns fatores merecem ser pensados,
tais como (i) a importância da nomeação do gênero para o aluno-leitor e sua influência no momento de
avaliação (não saber o significado do termo não poderia ser atenuado com a verificação ou a leitura do
gênero em si? E no enunciado em análise a nomeação está equivocada, temos uma tirinha; jamais uma
charge!); (ii) a não flexibilidade cognitiva do aluno-leitor para realizar a tarefa solicitada, desistindo no
primeiro entrave, o que nos revela, talvez, uma orientação metodológica de que é necessário conhecer
o significado de cada palavra para entendermos o texto.
(01):
Na charge, a arrogância do gato com relação ao comportamento alimentar da minhoca,
do ponto de vista biológico:
(A) não se justifica, porque ambos, como consumidores, devem “cavar” diariamente o
seu próprio alimento.
(B) é justificável, visto que o felino possui função superior à da minhoca numa teia
alimentar
(C) não se justifica, porque ambos são consumidores primários em uma teia alimentar
(D) é justificável, porque as minhocas, por se alimentarem de detritos, não participam
das cadeias alimentares
(E) é justificável, porque os vertebrados ocupam o topo das teias alimentares.
ENEM, 2002, http://www.inep.gov.br
Acessado em 26/09/2011
114
Paralelamente a observações como estas, constatamos também o uso crescente, ao longo dos
anos, de gêneros multissistêmicos para o ensino de conteúdos e para situações de avaliação. Gráficos,
tabelas, desenhos anatômicos, infográficos, mapas, histórias em quadrinhos, entre outros gêneros veicu-
lados na mídia impressa e digital, simbolizam alguns dos gêneros textuais que migraram para o domínio
educacional. Muitos destes gêneros são originalmente produzidos em outros domínios discursivos e
estão inseridos em outros gêneros, tais como reportagens, relatórios do IBGE, da ONU, da UNESCO, do
INMETRO; atlas do IBGE, do INPE.
Tomamos para nós, equipe PIBID Letras UFPE, o desafio de estudarmos melhor alguns destes
gêneros, especialmente aqueles que não são muito recorrentes para o ensino de leitura e de escrita
nos materiais didáticos de língua materna. Isto se deve ao fato de um dos objetivos do projeto A Leitura
de Linguagens Diversas ser compreender a natureza e as características dos textos multissistêmicos,
com o objetivo principal de oferecer subsídio teórico-metodológico para o tratamento dos mesmos nas
atividades de leitura em sala de aula. Decidimos, então, selecionar os gêneros. Usamos como critérios
a recorrência de gêneros em áreas distintas de conteúdos curriculares, as dificuldades de leitura sina-
lizadas nas situações de avaliação que realizamos com aproximadamente 200 alunos do primeiro ano
do ensino médio de duas escolas recifenses, a não consciência do gênero pelos membros da equipe
PIBID Letras, embora sejamos seus leitores. Chegamos, então, ao seguinte conjunto de gêneros: desenho
anatômico, esquema, diagrama, fotografia, gráfico, infográfico, história em quadrinhos, linha do tempo,
mapa e tabela. Os passos seguintes foram pesquisar sobre eles, pensar na organização da escrita dos
verbetes, e, finalmente, verbetar! Eita, tarefa complicada!
Estes gêneros transitam por domínios discursivos e áreas de conhecimentos as mais diversas, ou
seja, sob as mais diversas rubricas. A título de exemplificação, tomemos o termo diagrama no “Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa” e no “Dicionário de Comunicação”. Ambos trazem acepções para
cinema, televisão, artes gráficas, música, informática, editoração. Tivemos que optar por desenvolver
definições mais voltadas para a divulgação de informações, uma vez que o nosso interesse está nos
usos destes gêneros com propósitos informativos, científicos. Então, escolher a acepção foi o ponto
de partida, mas isto não invalida a incursão pela história do gênero e sua tipologia. Mas, se definir é
um ato discursivo cotidiano nosso, não significa que seja simples, não é, Zaqueu?
115
(02) Narradores de Javé: [00:11:30 – 00:12:16]
Para assistir: http://goo.gl/2g6DE
ZAQUEU – Só que tem uma coisa: eles falaram lá que só tem validade esse trabalho se
for assim... Científico.
ARISTEU – Que coisa é científico, Zaqueu?
ZAQUEU – Científico é... ó, é assim, como por exemplo... é... é que não pode ser as
patacoadas mentirosas que ocês inventam! As patranha duvidosa que ocês gostam de
dizer e contar.
“ler um verbete inteiro, olhar bem pra cara de uma palavra e ver se eu achava ela simpática ou não, e
pensar se eu ia ficar me lembrando dela, e me perguntar se eu ia gostar de me encontrar com ela outra
vez (quem sabe a gente podia ser companheira de um outro jogo, não precisava ser só programa de
rádio, a gente podia até se juntar de novo pra fazer letra de samba. Já pensou?) – não. Não mesmo.
Querer saber mais da vida daquela palavra era coisa que não me acontecia, ah, então tá, você tem um
acento no a, e fim de papo: fechava o dicionário na cara dela” (1995, p. 41).
116
Lygia começou a trabalhar para o rádio e para a TV, começou a escrever livros “e foi nesse encontro
com a Literatura que (Lygia) começou a ter curiosidade de ler um verbete inteiro, e de querer experi-
mentar os caminhos que o dicionário (lhe) mostrava, conferindo uma palavra com outra (...)” (1995,
p. 41). No meu caso, pesquisei sobre definições e adivinhações orais em interações conversacionais
(DIONISIO, 1998; 2003), orientei dissertações sobre estudo do vocabulário e uso de dicionários em
língua materna (LEAL, 2003; VIANA, 2003), escrevi uns poucos capítulos de livros sobre a abordagem
de vocabulário/verbete na sala de aula (DIONISIO, 2002 [2010]). Mas assim como Lygia disse que deu
“pra ficar tão contente com as (suas) (...) descobertas” (1995, p. 41), também comecei a me encantar
com as mudanças trazidas para o estudo do vocabulário com Linguística de Texto, Linguística Aplicada
e Teorias de Gênero!
Assim como Lygia, eu gostava “cada vez mais de assuntar: o texto que o dicionário usava pra dar
exemplo de uma palavra, ah, que graça! eles pegaram uma marchinha de carnaval do Lamartine Babo
pra mostrar que palhaço também quer dizer fantasia de palhaço, olha aí, ‘rasguei a minha fantasia, o
meu palhaço cheio de laço e balão ...’ (quanta coisa eu ia poder imaginar lá na tal ilha lendo os versos
dessa marchinha)” (NUNES, 1995, p.41, 42).
“Olha só pra isso!” (NUNES, 1995, p. 41), a equipe PIBID Letras pegou rápido o hábito de assuntar
o tema do verbete em domínios discursivos diversos! Desenho anatômico em videoclipe de Madonna?
Linha do Tempo na cabeleira dos Beatles? Diagrama usado como teaser de uma mostra de vídeo-dança?
Então, “as coisas científicas” de que iremos tratar nestes cinco primeiros volumes da Coleção
Verbetes Enciclopédicos são:
Em 2002, quando escrevi a primeira versão do capítulo Verbete: um gênero além do dicionário,
(Dionisio, 2010, p. 136), achei bem interessante a metáfora criada por Hoey (2001:75), ao comparar a
organização de dicionários, glossários, enciclopédias a colmeias, cujas propriedades seriam:
117
d) não há um autor individual,
e) um componente pode ser usado sem referência aos demais,
f) os componentes podem ser reimpressos ou reutilizados em trabalhos subsequentes,
g) os componentes podem ser acrescentados, removidos ou alterados,
h) muitos componentes podem servir à mesma função e
i) há uma sequência alfabética, numérica ou temporal.
Duas palavrinhas finais. Quando chegamos à versão que consideramos final dos nossos verbetes,
recorremos a alguns colegas profissionais e professores de outras áreas, a coordenadores de outros
PIBID da UFPE, solicitando suas colaborações como leitores críticos. Registramos aqui os nossos
agradecimentos a Aldemir Dantas Barbosa, a Judith Hoffnagel, a Karla Vidal, a Marina Marcuschi, a
Paulo Gileno Cysneiro, a Renê Montenegro, a Simone de Campos Reis. E para os nossos leitores, três
dicas: as letras dos nossos verbetes não são miúdas, o nosso verbete é multissemiótico e a nossa
escrita não é muito obediente às estruturas típicas do gênero...
Acredito que você, leitor, vai gostar de assuntar nossos verbetes enciclopédicos!
Referências
ABREU, Luis e CAFFÉ, Eliane. Narradores de Javé. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Cultura/
Fundação Padre Anchieta, 2004.
DIONISIO, Angela. Imagens na oralidade. Recife: UFPE (Tese), 1998.
DIONISIO, Angela. Definições na oralidade. IN: DIONISIO, A. & BESERRA, N. Tecendo textos, construindo experi-
ências. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
DIONISIO, Angela. Verbete: um gênero além do dicionário. In: DIONISIO, Angela, MACHADO, Anna Rachel, BEZERRA,
Maria Auxiliadora (orgs.) Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola, 2010.
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro. Dicionário Houaiss da língua portuguesa, Rio de Janeiro: Agir, 2001.
LEAL, Audria. Os exercícios de vocabulário: o léxico no livro didático. Recife: UFPE (Dissertação), 2003.
NUNES, Lygia Bojunga. Livro: um encontro com Lygia Bojunga. Rio de Janeiro: Agir, 1995.
RABAÇA, Carlos e BARBOSA, Gustavo. Dicionário de comunicação. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2001.
VIANA, Karine, O dicionário: do livro didático à sala de aula. Recife: UFPE (Dissertação), 2003.
118
A partir da UFPE
os diálogos editoriais
“Das duas, uma: ou o livro permanecerá o suporte da leitura, ou existirá alguma coisa
similar ao que o livro nunca deixou de ser, mesmo antes da invenção da tipografia. As
variações em torno do objeto livro não modificaram sua função, nem sua sintaxe, em
mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma
vez inventados, não podem ser aprimorados. Você não pode fazer uma colher melhor
que uma colher. Designers tentam melhorar, por exemplo, o saca-rolhas, com sucessos
bem modestos, e, por sina, a maioria nem funciona direito. (...) O livro venceu seus
desafios e não vemos como, para o mesmo uso, poderíamos fazer algo melhor que
o próprio livro. Talvez ele evolua em seus componentes, talvez as páginas não sejam
mais de papel. Mas ele permanecerá o que é.” Umberto Eco
CARRIÈRE, Jean-Claude & ECO, Umberto. Não contém com o fim do livro.
Rio de Janeiro. Record, 2010. p. 16-17
119
Na Lucerna e com Auxiliadora Bezerra, minha ex-professora de linguística da gradu-
ação, produzimos também, em abril de 2002, Gêneros Textuais & Ensino (em parceira com
Anna Rachel Machado), o qual teve cinco edições até 2007. Após uns dois anos fora do
mercado, voltou a ser publicado pela Parábola Editorial, em 2010, e atualmente continua
com um dos 10 títulos mais vendidos da editora, recomendado pelos programas oficiais
de leitura do professor.
120
do tema. O autor e nós organizadoras discutíamos os pareceres recebidos e as alterações
eram acatadas, quando pertinentes, e trechos eram reescritos. A coleção começou com
três títulos: Transitividade e seus contextos de uso, de Maria Angélica Furtado da Cunha
e Maria Medianeira de Souza; Práticas de leitura e elementos para a atuação docente, de
Émerson de Pietri, e Retextualização de gêneros escritos, de Regina Lúcia Péret Dell’Isola.
Passei a integrar o Conselho Editorial da Editora YH Lucerna Ltda, em 2006, e permaneci
até 2008.
Com o fechamento da Lucerna, essa coleção foi transferida para a Cortez Editora, em
2009, passando a ser nomeada Linguagem e Linguística, e seu objetivo reescrito: “explorar
temas de interesse para alunos e professores de Letras, Linguística, Educação, Antropologia,
Sociologia, Psicologia e demais estudiosos da linguagem.” Três títulos vieram a público
conjuntamente: A construção da argumentação oral no contexto de ensino, de Roziane
Marinho Ribeiro; Empréstimos Linguísticos na língua portuguesa, de Nelly Carvalho e A
gíria comum na interação em sala de aula, de Luciene Maria Patriota.
Em 2011, a Cortez Editora nos chamou para uma reunião e nos informou sobre uma
reestruturação em sua linha editorial. Alegou necessidade de mudança no projeto gráfico
da coleção e de um texto de apresentação que seria permanente em todos os volumes,
explicando os princípios da coleção que passa a se chamar: Leituras Introdutórias em
Linguagem. Eis o texto que escrevemos, para os volumes Análise Linguística: afinal, a
que se refere?, de Maria Auxiliadora Bezerra e Maria Augusta Reinaldo; Transitividade e
seus contextos de uso, de Maria Angélica Furtado da Cunha e Maria Medianeira de Souza;
Mudança Linguística: uma abordagem baseada no uso, de Mário Eduardo Martellota.
121
Integrava, além da Comissão Organizadora da Coleção Leituras Introdutórias em
Linguagem, o Comitê Editorial de Linguagem da Editora Cortez. Em setembro de 2012,
solicitei afastamento destas atividades. Havia decidido reorganizar as prioridades da minha
vida, inclusive a acadêmica. Neste período, eu já havia efetivamente colaborado com 10
títulos do catálogo da Editora Cortez na nossa área de estudos. A primeira colaboração
havia sido com a escrita do capítulo Análise da Conversação para o volume Introdução à
linguística: domínios e fronteiros – volume II, em 2000, organizado por Fernanda Mussalim
e Anna Christina Bentes, atualmente em sua 8ª edição.
122
Considero orgulho acadêmico a organização, com Judith Hoffnagel, minha orientadora
de mestrado e doutorado, da trilogia Charles Bazerman, publicada pela Cortez Editora:
Gêneros Textuais, Tipificação e Interação (2005); Gênero, Agência e Escrita (2006) e Escrita,
Gênero e Interação Social (2007).
Esses livros não existem originalmente em inglês, eles foram pensados por nós, visando
divulgar para o público brasileiro os estudos de gêneros sob a perspectiva do professor
Charles Bazerman. Após a realização de estágio de pós-doutoramento, na Universidade
da Califórnia, em Santa Barbara, com a supervisão do Bazerman, pude me aprofundar nas
suas ideias sobre gênero e ensino de escrita, por isso considerei a possibilidade de trazer
os seus trabalhos para o Brasil. Hoje, Bazerman é responsável por muitas das pesquisas
que ocorrem em nosso país. Conforme já disse, a criação do NIG, foi fortemente influen-
ciada por ele.
Correndo o risco de cometer falhas pela tentativa sucinta de resumir a concepção
de gênero para este autor, destaco algumas características: o gênero não se localiza no
objeto em si, mas na percepção do criador e do receptor; os gêneros precisam ser prati-
cados socialmente e surgem historicamente – a escrita deste memorial, por exemplo,
decorre de uma emergência social em nossas instituições federais. O memorial passou
a fazer parte do conjunto de gêneros que um professor universitário deve produzir para
se submeter à promoção para a classe E e precisa ser reconhecido como tal. É, portanto,
o gênero, uma categoria de reconhecimento psicossocial. Outro aspecto, destacado pelo
Bazerman, consiste no fato de o gênero conter a noção de uma afirmação ou sentido criado
por alguém. Os gêneros são coleções percebidas de enunciados. A percepção deste texto
que crio e que será lido, pelo menos, por membros de uma banca examinadora, como um
123
enunciado exigido pela comissão da UFPE, contendo os itens sugeridos pela Resolução
N° 03/2014, com um começo e fim, se faz necessária entre nós, para que eu, Angela, que
o produzo, e meus interlocutores, a banca, que o lê, aceitemos este enunciado, como um
memorial. Arrisco-me, neste momento, a ilustrar um conceito com a minha própria pele
textual. Reconhecer, portanto, este texto como um memorial é atribuir sentido a este
conjunto de enunciados. Arrisco-me com confiança!
A aceitação das ideias de Bazerman, um ano após a publicação do primeiro livro,
também era atestada, quando do lançamento do novo livro com foco para o ensino, pela
resenha publicada pelA Nova Escola (2006, n. 197, p.60). Gênero, Escrita e Ensino figurava
entre as leituras indicadas para os professores. Eis a resenha:
Na parceria com Judith Hoffnagel e com o interesse pelos estudos retóricos dos gêneros,
organizamos o livro Gênero Textual, Agência e Tecnologia, da Carolyn Miller. Em 2009, a
primeira versão saiu pela Editora da UFPE e, em 2012, saiu uma edição conjunta da Editora
da UFPE com a Parábola Editorial. Miller traz para os estudos de gêneros o conceito de
gênero como ação social e, neste livro, inserimos o artigo original, publicado em 1980,
e a versão revisada após dez anos, intitulada “Comunidade retórica: a base cultural dos
gêneros”. Não apenas por razões históricas montamos este livro, visto que a atualidade
das pesquisas de Miller se fez presente em todos os ensaios.
124
Trazer as abordagens de Carolyn Miller para o público leitor em língua portuguesa
significava oferecer outra perspectiva de estudo de gêneros30. Até meados dos anos dois
mil, no cenário brasileiro, os estudos de gêneros de tradições retóricas e sociológicas não
configuravam leituras obrigatórias em nossos cursos de pós-graduação ou de graduação.
Com a publicação dos livros de Bazerman e de Miller, ouso dizer, que o cenário brasileiro
de estudos de gênero modificou-se! Mais ainda: a relação gênero e tecnologia sofreu um
certo impacto. Quantas vezes só a afirmação “parece claro agora que o blog é uma tecno-
logia, um meio, uma constelação de recursos – e não um gênero”31, feita por Miller, nos leva
quase a uma aula ou exige a refacção de projetos que estão sendo iniciados? A autora já
anuncia na introdução que
30. Um livro que eu sinceramente esperava vê-lo mais lido e discutido em nossos cursos é Gênero: história, teoria, pesquisa,
ensino, de Anis Bawarshi e Mary Reiff, da editora Parábola. E por quê? Por pelo menos dois fatores: pela sistematização
das teorias de gênero e por ilustrar em dois capítulos outras pedagogias para o ensino de gêneros. Mas ler só estes
capítulos sem ler as teorias não é uma boa, tá? Quem diz que sabe o que fazer com os Estudos Retóricos de Gênero em
sala de aula pode ficar bem satisfeito com a leitura do capítulo 11...
31. MILLER, C. Gênero Textual, Agência e Tecnologia. São Paulo, Parábola Editorial, 2012, p. 109.
125
Queria ter agora cópias dos passaportes de Bazerman e Miller para contar as suas
vindas ao Brasil nestes anos! Queria ter anotado quantas palestras proferiram! Quantos
cursos ministraram! Queria saber quantas universidades visitaram! Quantas pesquisas
foram motivadas pelas leituras dos seus livros! O mais importante acho que é saber quando
eles voltam ao Brasil e a Recife, não é?
Dentre as parcerias editorias que tratarei neste memorial, esta última se refere a
Luiz Antônio Marcuschi: com ele e sobre ele. Em 2005, como parte do projeto Rede de
Formação Continuada de Professores desenvolvido entre o Ministério da Educação e o
Centro de Estudos em Educação e Linguagem (CEEL/UFPE), integrei, como organizadora,
com o Prof. Luiz Antônio Marcuschi, a equipe que produziu o conjunto Fala e Escrita (livro,
guia didático e documentário), a convite de Telma Ferraz Leal e Eliana Borges Correia de
Albuquerque, coordenadoras gerais do referido projeto. São sete capítulos escritos por
Judith Hoffnagel, Marianne Cavalcante, Beth Marcuschi, Cristina de Melo, Maria de Lúcia
Barbosa, Marcuschi e por mim. Um trabalho denso, como tudo o que Marcuschi fazia. O
livro e o guia didático estão disponíveis para acesso no link: http://www.portalceel.
com.br/publicacoes/#ancora. O documentário Fala e Escrita, dividido em três blocos
está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XOzoVHyiDew
No terceiro bloco, há um momento em que tento duas vezes tomar o turno, sem sucesso.
Quando finalmente consigo, aproveito para ilustrar o tema. Foi um ato espontâneo, do qual
rimos na hora e depois. Transcrevo o fragmento e esclareço que não usei os princípios da
Análise da Conversação para a transcrição:
126
Angela Dionisio:
Angela Dionisio:
Exato
Ou vice-versa.
Angela Dionisio:
Eu:[
127
Angela Dionisio:
Uma das características da fala, por exemplo, numa conversa, é a troca de turno.
Vocês viram que eu tentei entrar duas vezes na conversa aqui e ele manteve o
turno. Na escrita não tem esse problema, porque eu estou sozinha, então decido
quando vou começar o próximo parágrafo, quando vou começar o próximo capítulo
do livro. Numa conversa face a face, com uma, duas, três, quatro pessoas, essa
construção é coletiva, há uma cooperação. Nesse exato momento, ele poderia
revidar e começar a tomar meu turno e eu vou continuar a falar desesperadamente,
até acelerando o ritmo da voz, como estratégia de manutenção de turno.
Angela Dionisio:
Vou lembrar um aspecto interessante: nós temos uma forma de tomar o turno, de
entregar o turno que não é a mesma, por exemplo, dos alemães, dos dinamarqueses
ou dos chineses. Os dinamarqueses esperam que a pessoa pare, e tem que haver,
no mínino, um segundo ou dois de silêncio para o outro começar a falar. Ninguém é
assaltado! Ninguém é assaltado no turno. Aqui no Brasil não, a pessoa está falando,
a gente espera que faça o mínimo de pausa ou baixe o tom e, “TCHA”, a gente entra
e toma a palavra. Então, nós somos assaltantes contumazes das outras pessoas
quando falam.
Angela Dionisio:
Também.
128
Angela Dionisio:
Se eu estou com uma pessoa que é mais íntima numa discussão que seja mais
informal, pode ser que eu me sobreponha com mais facilidade do que agora, nessa
situação, em que nós estamos gravando algo para ser transmitido para vocês
que estão aí ouvindo. Então, há certa hierarquia, certo cuidado em deixar o outro
terminar o turno para entrar.
Eu acho que é importante ver aqui que a questão da oralidade e da escrita está
também acoplada aos gêneros textuais que nós produzimos. Aqui nós estamos
interagindo numa conversação face a face. Se estivermos numa sala de aula, é
evidente que a palavra, em geral, ficará com o professor. E a palavra volta para
o professor quando o aluno a toma. Ele distribui a palavra para um aluno e para
outro, e assim por diante. Ou se é uma conferência ou um sermão, ou se alguém
está contando uma piada. Se quando duas ou várias pessoas estão conversando
e uma diz “vou contar uma piada”, ninguém interrompe até ela terminar a piada.
Por quê? Ela começou um gênero diferente ali dentro o qual se espera que vá
até o fim. Essas coisas são interessantes. Na escrita também existe isso, as
pessoas sabem quando alguém está produzindo uma coisa ou outra coisa. Numa
entrevista, sabemos que alguém pergunta e alguém responde.
129
Como coordenadora do PG Letras, Anco Márcio
Tenório Vieira, Judith Hoffnagel, Kazuê de Barros e
eu, organizamos a Coleção Luiz Antônio Marcuschi,
composta por quatro produtos distintos: 3 livros e 1
DVD. Um livro da autoria de Marcuschi, o Linguística
de Texto: o que é e como se faz, que estava esgotado
na época, e dois livros inéditos – Um linguista, orien-
tações diversas, volumes I e II, que compreende teses
e dissertações orientadas por ele nos anos de 1978
a 2006. O DVD Entre a imagem e a palavra: refle-
xões sobre fala, escrita e ensino apresenta trechos
de entrevistas e palestras dadas por Marcuschi ao
longo dos anos.
Comentários inseridos... Esta coleção teve uma tiragem limitada e rapidamente foi
esgotada. O DVD Entre a imagem e a palavra: reflexões sobre fala, escrita e ensino...
seria tão útil que pudéssemos fazer uma reedição, ou fosse disponibilizado na mídia,
pois considero de extrema relevância para nós professores. Selecionamos trechos
em que Marcuschi aborda os conceitos de língua, linguagem e texto.
O Linguística de Texto: o que é e como se faz foi publicado pela Parábola Editorial,
em 2012.
130
Este item do meu memorial foi apresentado para a banca examinadora através do
PowerPoint Eu e os livros: relações diversas. A composição desta apresentação
animada trazia como tema musical The Frist Autumn, de Enya.
131
Encerrando o Memorial,
mas continuando o Estudo e a Vida
Hora de encerrar porque a minha leitora mais crítica não aguenta mais!
133
Como não mencionar a surpresa e a emoção proporcionada quando fui convidada pela
Profa. Yara Lins, presidente da Comissão do Sesquicentenário de Campina Grande, minha
cidade natal, para proferir a palestra na cerimônia que homenagearia os filhos da cidade
que contribuíram para a educação? O evento foi no dia 30 de setembro de 2014.
A Solenidade de Abertura contou com as presenças do Prefeito Romero Rodrigues, dA
Presidente da Comissão do Sesquicentenário Profa Yara Lins, da Secretária de Educação
da cidade e de mim, como palestrante da noite.
E principalmente porque o argumento para o convite foi por eu ser uma dessas pessoas.
Honradamente, aceitei, fiz a palestra Educação e Tecnologia e recebi o troféu que também
foi entregue a mais 26 personalidades. Infelizmente, nunca consegui receber um certificado,
tão precioso para o meio acadêmico para atestar a pontuação no processo de avaliação.
134
Como fingir que não me realizo a cada evento
que o NIG realiza? Com não insistir no Gêneros
na Linguística e na Literatura e no seu viés
voltado para o ensino básico e com a sua
preocupação em caminhar em parceria com
a linguística e literatura, preservando a idéia
do amigo Helder Pinheiro?
135
Como esquecer a reação da plateia,
quando Carolyn Miller encerra uma
conferência com esta foto de Safira?
Como não perceber a delicadeza do
gesto de Miller? São memórias que não
podem ficar de fora deste memorial!
136
O trecho do vídeo faz parte do DVD Linguistica II, editado pelo IESDE, em 2009.
Na foto 2, o participante
Experienciador, a gata, vê algo Foto 02
fora do enquadre da foto. Nós Gata Experienciador: participante
não sabemos do que se trata, não consciente que experimenta um
sabemos qual é o Fenômeno. sentir
Fenômeno o fato percebido
137
Foto 1 Foto 2
Foto 3 Foto 4
São as misturas destas situações que preservam em mim a "professora Angela", que
vivia com seus alunos cada cena do dia a dia da escola, desde o momento que decidiu que
o seu espaço de vida era o escolar. Não perder a alegria e a capacidade de reinventar o
agir docente sempre buscarei seja em que contexto for!
138
E, conforme prometi, terminei o memorial, coloquei a foto oficial na parede!
139
Agora, posso ir embora. Muitas das minhas memórias estão escritas e preciso enca-
rá-las, tentando me explicar ou simplesmente dizendo que não há explicação. Há fatos
que não se consegue explicar, pelo menos por algum tempo. Quem sabe depois... Outras
cenas vão surgir, continuarei a construir o meu texto, mas, agora, este é o meu memorial
docente. Estas são as minhas cenas textuais de vida na escola, na academia. E...
Olhos de Lince
https://www.youtube.com/watch?v=TLYtWlhMrV8
140
Lista de Imagens
Capa Ilustração de Karla Vidal Página 80 Digitalização do arquivo da autora
Página 6 Arquivo pessoal da autora Página 83 Arquivo pessoal da autora
Página 15 Arquivo pessoal da autora Página 84 Extraída do ebook publicado pela Pipa Comunicação
Página 16 Arquivo pessoal da autora Página 85 Extraída do ebook publicado pela Pipa Comunicação
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Página 22 Arquivo pessoal da autora Página 89 Páginas do ebook publicado pela Pipa Comunicação
Página 24 Arquivo pessoal da autora Página 91 Capas desenvolvidas pela Pipa Comunicação
Página 25 Arquivo pessoal da autora Página 91 https://www.youtube.com/user/nigufpe
Página 26 Arquivo pessoal da autora Página 95 Capa desenvolvida pela Pipa Comunicação
Página 27 Arquivo pessoal da autora Página 96 Arquivo pessoal da autora
Página 28 Arquivo pessoal da autora Página 98 Arquivo pessoal da autora
Página 29 Arquivo pessoal da autora Página 99 Digitalização do arquivo da autora
Página 30 Arquivo pessoal da autora Página 100 Marca desenvolvida pela Pipa Comunicação
Página 32 Digitalização do arquivo da autora Página 100 Arquivo pessoal da autora
Página 33 Digitalização do arquivo da autora Página 102 Capas desenvolvidas pela Pipa Comunicação
Página 36 Arquivo pessoal da autora Página 104 Capa desenvolvida pela Pipa Comunicação
Página 37 Arquivo pessoal da autora Página 106 http://www.capes.gov.br/
Página 40 Digitalização do arquivo da autora Página 107 Arquivo pessoal da autora
Página 41 Digitalização do arquivo da autora Página 108 Arquivo pessoal da autora
Página 42 Digitalização do arquivo da autora Página 109 Arquivo pessoal da autora
Página 43 Arquivo pessoal da autora Página 110 Arquivo pessoal da autora
Página 46 Capa dos alunos da disciplina Português 5 em 2014 Página 112 Extraída do ebook publicado pela Pipa Comunicação
Página 47 Digitalização do arquivo da autora Página 114 Extraída do ebook publicado pela Pipa Comunicação
Página 48 Digitalização do arquivo da autora Página 117 Digitalização do arquivo da autora
Página 49 http://www.iesdecursos.com.br Página 118 Digitalização do arquivo da autora
Página 53 Arquivo pessoal da autora Página 119 Digitalização do arquivo da autora
Página 54 Arquivo pessoal da autora Página 120 Digitalização do arquivo da autora
Página 56 Arquivo pessoal da autora Página 121 Digitalização do arquivo da autora
Página 57 Arquivo pessoal da autora Página 123 Capa Pipa Comunicação e Capa Parábola Editorial
Página 58 Digitalização do arquivo da autora Página 124 Arquivo pessoal da autora
Página 59 Capas desenvolvidas pela Pipa Comunicação Página 125 https://www.youtube.com/user/nigufpe
Página 60 Arquivo pessoal da autora Página 127 Projeto gráfico desenvolvidp pela Pipa Comunicação
Página 62 Arquivo pessoal da autora Página 128 Arquivo pessoal da autora
Página 63 Arquivo pessoal da autora Página 130 Arquivo pessoal da autora
Página 64 Capa desenvolvida pela Pipa Comunicação Página 131 Arquivo pessoal da autora
Página 67 Capa desenvolvida por Carolina Pires Página 132 1 e 4. Arquivo, 2. Foto: Ester Carvalho. 3. Foto: Andrea Moraes
Página 68 Marca desenvolvida pela Pipa Comunicação Página 133 Arquivo pessoal da autora
Página 70 Arquivo pessoal da autora Página 134 Fotografias de Ester Carvalho
Página 71 Arquivo pessoal da autora Página 136 Arquivo pessoal da autora
Página 73 Capa desenvolvida pela Pipa Comunicação Página 137 Arquivo pessoal da autora
Página 138 Arquivo pessoal da autora
angela paiva dionisio
ISBN 978-85-66530-84-1