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GRANDE DICIONÁRIO
DA LÍNGUA PORTUGUESA
10.A EDIÇÃO REVISTA, CORRIGIDA
MUITO AUMENTADA E ACTUALIZADA
segundo as regras do acordo ortográfico
luso-brasileiro de 10 de agcsto de 1945
VOLUME XII
;> «?
PUBLICADO SOB A DIRECÇÃO rW
DE
EDITORIAL
CONFLUÊNCIA
GRAMÁTICA PORTUGUESA
POR
7 —
(PS
EPÍTOM E EPÍTOME
/S*
EPÍTOM E E P í T O M E
nação de Grande Século que antes pus ao livros Clássicos, não sigas também os erros
XVIII. Pelas palavras reproduzidas vemos e descuidos, ou o que já hoje se não usa ge
que também o que foi questões lingüísti ralmente.
cas, pois em matéria vocabular (afinal básica, «Acharás neste Compêndio algüas palavras,
diga-se e invente-se o queas fantasias quise conjungações e frases, que te dou como anti
rem...) quase nada há hoje de fundamental quadas, para que não as estranhes nos bons
mente novo em relação ao que então, pelo autores e não as imites».
menos, se preconizou. E mais adiante:
Se o leitor quiser provas, releia as palavras «Sirvam-te somente de guia para leres os
de Verney e procure outros passos do Ver bons autores, que desde os anos de 1500 fi
dadeiro Método de Estudar e em seguida, pas xaram e aperfeiçoaram a nossa lingua, e come
se pelos olhos alguns dos trabalhos que da çaram a escrever tão cultamente, ao menos
quela época até nós chegaram. os seus dramas, como os Italianos que pri
§ meiro o fizeram na Europa moderna, antes que
Ao redigir o Epitome, Morais Silva não con os Franceses, Ingleses e outros tivessem poetas
seguiu libertar-se por completo da tirania correctos e elegantes, nem historiadores e
latina. oradores dignos de se lerem como os nossos
Para que nesta vida se falasse de alguma Castanheda, Barros, Couto, Antônio Pinto
coisa que aparecesse logo completae perfeita Pereira, Lucena, Diogo Paiva de Andrade,
foi necessário que o espírito helénico criasse Gil Vicente, Francisco Sá de Miranda, Antô
a lenda da deusa saída do crânio do Pai dos nio Ferreira e a imortal Lusíada, tão superior
Deuses. aos nossos épicos em invenção, grande
Essa influência latina, porém, verifica-se ex za e interesse do assunto, elegância, pu
pressamentecom menosfrequência,sempre de reza e majestade de estilo, e tão justa
modo diversodo observado nos autores que, an mente invejada do grande Tasso...
tes, se ocuparam do mesmo assunto,poisnãose «Sigamos o exemplo dos bons engenhos,
trata bem de uma adaptação da Língua Portu. que na Arcádia Portuguesa ressuscitaram as
guesa aos moldescriados pelos gramáticos lati elegâncias do Idioma Materno; aproveitemos
nos, mas sim de uma comparação do Portu as reflexões sobre a língua que têm feito
guês com o Latim, algumas vezes para assi alguns membros da Real Academia das Ciên
nalar semelhanças, quase sempre para mos cias de Lisboa e chegaremos a fazer-nos ca
trar diferenças. pazes de produzir mais copiosas advertências
Em revolta contra a macaqueação da Gra sobre o artifício, purezas e elegâncias do
mática Latina, Morais propôs-se nesta obra nosso Idioma do que por ora temos, sendo ele
dar «idéias mais claras e exactas, do que co- mui digno de ocupar os desveios dos patrio
mummente se acham nos livros deste assunto, tas eruditos.
que tenho visto no nosso idioma, tanto acer «Assim teremos quem supra as faltas des
ca das Partes Elementares da Oração, como ses gramáticos, com quem César, Augusto
da sua emendada composição». e o mesmo Cícero estudavam e conferiam,
Ao mesmo tempo, procura apresentar a depois de serem já mui distintos oradores,
técnica do ensino do Português como meio porque ainda que não tinham em muito o
para aprender idiomas estranhos, tanto mais merecimento de falar correctamente, haviam
que (e a alusão ao método antigo de ensinar que era grande torpeza não o saberem falar
Português pelo Latim é clara) «seria absurdo emendada e puramente».
querer te explicar o artifício da Sintaxe, ou §
composição dela, por meio de outra língna, Nesta reedição do Epitome da Gramática
e suas regras, que demais de serem inapli- Portuguesa da autoria de Antônio de Morais
cáveis aos idiotismos portugueses, te são Silva, respeitamos inteiramente o texto apre
ignotas e mais difíceis». sentado pelas edições anteriores, modifican
Preferiu, por outro lado, propor o que na do apenas a ortografia.
Gramática «6 mais recôndito e muitos exem Seguimos, pois, neste pormenor o critério
plos dos bons autores, que seguramente imi da actualização, se bem que em alguns pontos
tes, porque também a copia deles te fará tivéssemos de capitular com a utilizada no
cair mais facilmente na inteligência e apli original, a fim de que a doutrina não se tor
cação das regras. Ajuntei algüas observações nasse caótica ou incompreensível.
acerca de frases e construções erradas, ou
menos seguidas, para que imitando o bom dos JOSÉ PEDRO MACHADO
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AO LEITOR BENÉVOLO -1
Propus-me nesta Gramática dar-te idéias etc. Se lhes perguntares o que é isto, dir-te-
mais claras e exactas de que comummente -ão que em Latim são diversas terminações
se acham nos livros deste assunto que tenho do mesmo nome, que servem para indicar
visto no nosso idioma, tanto acerca das partes as várias relações em que se representa o
elementares da oração, como da sua emen objecto significado pelo nome. Mas, além de
dada composição. que são idéias falsas dizer que há genitivos,
Neles não se explica, por exemplo, o que é dativos, etc, em Português, também seriam
artigo; dizem-te que se ajusta aos nomes para falsas noções as que se dessem de correspon
mostrar os números e os casos. Mas os nomes dências entre o Latim e Português. Me, v. g.,
portugueses, exceptos Eu, Tu e Ele, não têm parece-se com o acusativo latino, quando
casos; e estes não se usam como artigos. dizemos feriu-»**, matou-m*; mas me também
Demais, sendo o artigo um adjecüvo, quem parece dativo Latino, quando indica o termo
fala ou escreve deve saber o gênero do nome da acção, se esta tem paciente e termo; v. g.:
a que o artigo precede, para usar dele na va matou-m* um cavalo, corton-me uma árvore,
riação correspondente ao gênero e número deu-me um livro; as quais relações no Latim
do nome, como se faz em qualquer outro se representam por outro caso diverso {mini
objectivo. e não me)'f e no Português muitas vezes me,
Nenhum gramático, à excepção de Duarte e a mim representam a mesma relação e se
Nunes de* Leão (*), te diz quando deves usar ajuntam ou opõem: e não mo disse a mim
do artigo e quando omiti-lo. Ensinam-te que mesmo ? Não te quebro a ti a cabeça como o
se não diz, v. g., navego Tejo sem preceder o fiz a ele, por etc.
a Tejo, porque soaria mal. Mas os nossos Além disto, a tua língua deve servir-te de
bons poetas disseram: <Tefo leva na mão o meio para aprenderes as estranhas e seria
grã Tridento e *Guadiana atrás as águas absurdo querer-te explicar o artifício da Sin
tornou» sem o artigo (2). taxe, ou composição dela, por meio de outra
Passando aos nomes, fazem-te não sei quan língua, e suas regras, que demais de serem
tas declinações e dão-lhe não sei quantos inaplicáveis aos idiotismos portugueses, te
casos; mas os nossos nomes não têm casos são ignotas e mais difíceis.
ou desinências finais diversas, senão Eu, Tu, Quase todos os Gramáticos, que tenho visto,
Ele\ os mais só se variam para indicar o nú engrossam os seus livros com conjugações;
mero plural, v. g.: casa, casas; templo, templos. as regras da composição, parte tão principal
A estes sonhados casos dão-lhes nomes de das gramáticas, reduzem-nas a muito poucas.
nominativos, genitivos, dativos, acusativos, Eu cuido que te expliquei esta parte da Gra-
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EPÍTOME EPÍ TOM E
mática com assaz curiosidade, propondo-te analogias peculiares ao gênio do nosso idio
o que nela é mais recôndito e muitos exem ma. E deste modo poderás imitá-los, não re
plos dos bons autores, que seguramente imi petindo sempre servilmente as suas palavras
tes, porque também a cópia deles te fará cair e frases e remendando com elas as tuas com
mais facilmente na inteligência e aplicação posições, como alguns têm feito, mas dizendo
das regras, Ajuntei algumas observações coisas novas, sem barbarismos, sem galicis-
acerca de frases e construções erradas, ou mos, italianismos e anglicismos, como mui
menos seguidas, para que, imitando o bom dos to vulgarmente se lê, e mais de ordinário nas
livros clássicos, não sigas também os erros e traduções dos pouco versados nas línguas
descuidos, ou o que já hoje se não usa geral estrangeiras e talvez menos ainda na sua.
mente (8). Sigamos o exemplo dos bons engenhos, que
Acharás neste Compêndio algumas pala na Arcádia Portuguesa ressuscitaram as ele
vras, conjugações e frases, que te dou como gâncias do idioma materno; aproveitemos as
antiquadas, para que não as estranhes nos reflexões sobre a língua que tem feito alguns
bons autores e não as imites. membros da Real Academia das Ciências de
Não te contentes todavia com as noções Lisboa e chegaremos a fazer-nos capazes de
elementares deste Compêndio. Sirvam-te so produzir mais copiosas advertências sobre o
mente de guia para leres os bons autores, que artifício, purezas e elegâncias do nosso idio
desde os anos de 1500 fixaram, e aperfeiçoa ma, das que por ora temos, sendo ele muito
ram a nossa lingua, e começaram a escrever digno de ocupar os desvelos dos patriotas
tão cultamente, ao menos os seus dramas, eruditos. Assim teremos quem supra as fal
como os Italianos, que primeiro o fizeram na tas desses gramáticos, com quem César, Au
Europa moderna, antes que os Franceses, In gusto e o mesmo Cícero estudavam e confe
gleses, e outros tivessem poetas correctos e riam (5) depois, de serem já muito distintos
elegantes, nem historiadores e oradores di oradores, porque ainda que não tinham em
gnos de se lerem como os nossos Castanhe- muito o merecimento de falar correctamente,
da, João de Barros, Diogo do Couto, Antônio haviam que era grande torpeza não o sabe
Pinto Pereira, João de Lucena, Diogo de Pai rem falar emendada e puramente.
va de Andrada, Gil Vicente, Francisco de Sá
de Miranda, Antônio Ferreira, e a imortal Nam ipsum Latine loqui est illud
Lusíada, tão superior aos nossos épicos em quidem... in magna laude po-
invenção, grandeza e interesse do assunto, nendum, sed non iam sua spon-
elegância, pureza e majestade de estilo, e tão te, quam quod est a plerisque
justamente invejada do grande Tasso (*). neglectum.Non enim tamprcecla-
Deles tirei os exemplos que te propus; rum est scire Latine, quam turpe
neles te exercita; conversa-os de dia e de nescire; neque iam id mihi Ora-
noite, porque se basta o estudo de um ano toris boni, quam Civis Romam
para saberes meãmente um idioma estran proprium videtur.
geiro, quando quiseres saber a língua pá
tria perfeita e elegantemente, deves estu Cícero, De ciar. Orat. 140»
dar toda a vida, com muita reflexão, os au
tores clássicos, notando principalmente as Vale.
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E P I T O M E E P £T O M E
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INTRODUÇÃO
i. A Gramática é arte que ensina a decla ou impulso da voz e formando uma palavra,
rar bem os nossos pensamentos, por meio de como a, de, lei, hui, são) ou parte de uma pa
palavras. lavra, v. g. á-ba, á-gua, á-dro, tem-plo, es-cri-
2. A Gramática Universal ensina os méto -tu-ra,sce-ptro.
dos e pricípios de falar comuns a todas as 12. Os sons vogais simples que temos são
línguas. os seguintes Á, á fortes ou agudos: À à gra
3. A Gramática particular de qualquer lín ves; A, a mudos; E, è agudos", E, c graves; E,
gua, v. g. da Portuguesa, aplica os princípios e mudos; /, è agudos; I, i mudos; ó, ó agudos;
comuns de todos os idiomas ao nosso, se Ò, ò graves; O, o mudos; Ú, ú agudos; U, u
gundo os usos adoptados pelos que melhor o mudos.
falam. 13. Exemplo das vogais agudas ou fortes;
4. Trata pois a Gramática das sentenças cdrro, ferro, t/ro, porta, f«'ro.
(isto é, ensina a fazer proporções ou sentidos 14. Exemplo das graves: lama, camelo,
perfeitos) e das diversas partes, de que elas òvo, bolo.
se compõem. 15. Exemplos das mudas : toca, tosse,
5. As sentenças constam de Palavras (i): as águia, templo, conjwges.
Palavras de Sílabas; as Síladas de Sons ele 16. Os ditongos, ou sons vogais compostos
mentares e suas modificações e estes repre de vogais puras, são os seguintes ai, ei, oi, ui,
sentam-se aos olhos com letras, au, eu, iu, ou, v. g. em contrai, lêi, fòi, f«i,
6. ,Os sons elementares que a voz humana a«to, feudo, ferir/, gozou (3).
articula,formados pelos órgãos da fala, são ou 17. Muitas vezes pronunciamos como diton
vogais ou consoantes. gos, ou fazendo uma vogai composta e uma
7. Os sons vogais são simples sons articula sílaba, as vogais seguintes ia, io, ua, ue, ui,
dos pelo impulso da voz e somente pela v. g. em á-gusa, só-brio, Á-gua, de-lin-qwmte,
abertura da boca de um certo modo, v. g. a, liquido. «Também movem da guerra as negras
*, b o,u. fúr/as». «A terra de Guipúscua e das Astu-
8. Os sons consoantes são os quese nãopo xias*. «Em Canusio relíquias só de Canas»
dem pronunciar bem por si sós, mas modi (Lusíada, IV, n e 20).
ficam precedendo os sons vogais e formam 18. Os ditongos compostos de vogais nasais
com eles um som articulado composto, por são os seguintes ãa, ãa, ãi, ão, ee, ei, õi, ò~o, üa, üi,
movimentos particulares das diversas partes ão. Os nossos maiores usaram alguns que já
da boca.
não usamos; antes os reduzimos a sons nasais
9- Quando pronunciamos alguns sons vo simples; nós não pronunciamos v. g. Lãa,
gais solta-se também o som pelos narizes e mas Lã', eles disseram e escreveram bèe, que
estas vogais se dizem nasais,v. g. ã e, I,im, nós ainda dizemos, posto que escrevemos bem
5, u (2).
e impropriamente; disseram affi-i, que dize
10. O ditongo, ou som vogai composto, é a mos afim, disseram bõ-o, hü-o, que hoje dize
união de dois sons vogais pronunciados em mos bom, um (4). São, pois, os ditongos nasais,
um só impulso da voz, v. g. ai, ui, etc. de que hoje usamos, exemplificados nas pala
11. A sílaba é a pronúncia de uma vogai só vras seguintes mãe, ou mãi, são, bee, vei,
ou combinada e precedida de consoantes, ou resões, pois, üa', e mãi, e muito, que nin
também de qualquer ditongo; sendo proferi guém pronuncia com u puro, como os de fui,
das a vo8al °a o ditongo em uma só emissão Tui, etc.
— 13 —
I
EPÍTOME
EPÍTO ME
19. As letras, com que representamos os Efe, Ge, soando como o J consoante, Éle,
sons vogais são A a, E e, I i, O o, ü u, os si Eme, Êne, Pè, Què, Erre, Esse, Ti, U con
nais dos acentos, ou tons mais, ou menos for soante, Zis, Zè, ypsilon; e H (hagá) sinal de
tes, com que proferimos as vogais são agu aspiração, desconhecida em português.
do, grave; as mudas não têm sinal particu
lar; o acento circunflexo não o temos; as vo 21. Temos mais (segundo a escritura vul
gais, que com ele se notam, são graves (5). gar) Ck ora com som de x em chapéu, ora
como k em charidade, choro, Christo, etc. Lhe
As nasais notamos com um til, quando for
mam ditongos, v. g. mãe, são, vèis,põis, caiba,
em folha, filho. Nh em ninho, minha, sons
etc, e quando são simples nasais til, v. g. lã, consoantes simples representados por duas
letras (?).
sã; ou com m, v. g. cam-po tem-po, siw*-ples,
pow-pa, tHw-ba, ou com o n, v. g. san-to, 22. As figuras das consoantes maiúsculas
btf«-tO, Sfff-tO, p0»-tO, JKtt-tO. são, B, C, D, F, G, H,J, L, M,N. P, Q, R,
20. Os sons consoantes que temos em por S, T, V, X, Z e Y, a que damos som de^*,
tuguês são os seguintes: K; as menores são b, c, d,f, g,j, J, m, n, p,
Bi, Cè, Dl, Fè, Gè (consoando como gue), Ç, r, s, t, v, x,s,ye h («).
Jè, Lê, Mi, Ni, Pè, Qi (6), Rè, Si, Ti, Vi, Xè, Passemos às palavras, que dos sons se
Zi, Yi, que vulgarmente se dizem Be, Ce, De, compõem e de que consta a oração.
(ij A palavra é uma quantidade de som ar não na outra vogai, de que se forma o diton
ticulado, que significa algum conceito em go» v. g. Joaô", naff, ma?, etc, o que é erro.
qualquer idioma; o som contínuo não articu
lado, insignificante, não é objecto da gramáti (VÍ-:-.Liâo» 0rioSr'» f» *"» 2i6, 230, Lusía
das X, 83, bõos, edição de 1783, 4, volume
ca, nem o seriam palavras, ou partículas, que 8.°). Duarte Nunes do Lião justamente repro
por si nada significam, como alguns cha va escrever os ditongos nasais por am em
mam ao advérbio, interjeição, preposição, vez de ão: as nasais simples em ã assim se
etc.
escrevem melhor, porque o m em am indica,
(') Que as nasais são vogais se prova: i.° que se pronuncie fechando a boca, contra o
porque a voz trina sobre elas, ouvindo se dis som aberto e final das nasais, Vj.: Ortogr.
tintamente, v. g. sobre o an de amante, ou so de Leãoe Barros, Gtam., f. 105.
bre o õ de corações; que se o til, ou m, ou n, (5) Acerca dos acentos circunflexos, vj.: o
representassem como consoantes, não se ou cit. Leão, Ortogr., fl. 188, c. 217, edição de
viriam, comoquando se trina sobre bár-ba-ro, 1784.
porque os rr só se ouvem, quando a voz (6) Na ortografia vulgar temos casos em que
cessa da voz trinada e passa a outra sílaba; que e qui soam como ke, ki; outros em que
2.a Os poetas sempre fazem elisão das nasais soam kue, kui, e estes de comum não se dis
com as vogais seguintes, v. g. a ti se devem'os tinguem, devendo notar-se com dois pontos
altos fundamentos: parecem que enverde- que, qtli; em gue, çui também soam ora como
cem'alí, mais cores: fIoreciam'*ntre tanto se não tivera u, outras vezes soa o u, e deve
novas flores. O mesmo é no latim. Note-se haver a mesma distinção com (••) sinal que
que em floreiam a elisão é do o final flore- não se ditongam as vogais.
ciam, que é como se deve escrever, mas este (7) O nh não fere as vogais das palavras
exemplo prova que o digo, ainda nos casos compostas, v. g.:in-hábil,in-habitado, tn-herên-
de má ortografia. cia, in-hibir, an-helar, etc.
(8) Outros escrevem ao por au; eo por eu, (8)-i. O alfabeto português é, como outros
e por eyoj $0 por iu, v. g. pao, leo, ferio, o que muitos, em partes redudante, em partes falto
dá ocasião a muitos equívocos na ortografia de letras; e talvez tem e usa caracterese quí-
vulgar (Veja-se a nota <*). Ley, Rev, Grey, vocos, exprimindo as mesmas letras sons di
com y final são contra a etimologia (de regi, ferentes e talvez diferentes letras represen
legi, gregi, tirado o g médio). É desnecessário tam o mesmo som.
o y, bastando o nosso i; aliás oy Grego soa 2. Redunda em C antes de a, o com som de
mui diversamente do nosso i. Vj. Leão Q, ou K; no H antes das vogais, que não as
Ortogr. f. 202. piramos ; em C antes de e, i, homónino de se,
(*) Os nossos maiores assim os escreveram si; em C soando como S.
e cuido que os pronunciavam, se já não era 3 Tem falta de caracteres simples, que re
ostentação de etimologias escrever- Lãa de presentam os sons Ih, nh: x supre a ch, mas
lana, bêe, de bene, bõo de bono, Affii de não sempre.
affinis, Hu-o de Uno, Lua de Luna. Comum- 4. Exprimem-se sons diferentes com as le
mente foram mais exactos escrevendo o til, tras c e g, que antes de a, o, u soam Ka, Ko,
sinal do som nasal, sobre a vogai, que o e, e Ku, Ga, Go, Gu, e antes do e, i, soam se, si,
14
EPlTOM E EPÍTOME
je, ji; e aqui. mesmo temos diversas letras g buscas-o, buscá-lo por buscar-o, sobe-lo (ant.)
e / com os mesmos sons, assim como em ph por sobre-o, tôdolos (ant.) por todos os, etc,
com som de f, e ch de x e de que. Outra in e também das formas viram-no, busquem-no,
coerência é o x com som de ia em exemplo. etc, só a moderna lingüística conseguiu dá-la.
que se diz «iJeremplo, ou com som de is, v. g. O ant. artigo português tinha a forma Io, Ia;
em seisto, leisto, como muitos clássicos es o / inicial do artigo assimilava, por uma ten
creveram. dência hoje muito bem estudada, algumas
(6) O Y usão muitos pori nas palavras de consoantes finais das palavras a que o artigo
rivadas da língua grega, v. g. hydra, synodo, se achava unido encllticamente; assim por
mas é snperíluidade. O uso, que dele se deve fas-lo, fal-lo, por faser-lo, fasel-lo. A antiga
fazer, é como de consoante entre vogais, que ortografia era perfeitamente conforme aos
tem semelhante som; v. g.: pra-ya, id-éya, vè- factos, escrevendo dobrado o /. Em busquem-
•ya, vi-ya, vi-yo, cor-rèvo, vi-ya, bri-yo. eu -no, ao contrário, e em formas semelhantes o
ri-yo, o ri-yo corre; por diferença de ele ri-o- / do artigo assimilou-se á nasal precedente).
•s$, e d*o ri-o corre, como hoje se escrevem;
e de veo para véo, e para «ele veyo* de vir, 6. Concluirei esta nota observando que nos
etc Receo e Orfeo (na Lusíada III, est. 2.) não livros antigos se acham vogais dobradas, para
são consoantes, pois que soam receyo e Or- indicar-se que são agudas ou que é aguda a
feu e a rima pede Orfeyo. O a de cria, lia, simples, v. g. faraa por fará; outras vezes
comia, elegia, etc, não ê puro, mas ouve-se para mostrar que havia duas vogais na língua,
precedido de y, ex-ya, comi-ya, ti-ya, elegi-^a donde se derivou a Portuguesa, v. g. poooo,
{êlegeta Latino). Quando a estes verbos se povoo, de populo, cidadão de cibdadano, vós
?^?e 1 relativo. v- g.: lestes a carta? U-ya; farees de faredes mais antigo, como amaaesde
VMc-aP Vi-^a; assim se tirará o hiato dentre amades, do Latim amatis, que dizemos amais.
asvogais; nós o tiramos com n em viram-no, Assim dobrando consoantes no princípio das
busquem-no; e por enfonia dizemos;« tuóws- dicções, v. g. sseendo, sendo; rreegno, reino,
«a-/o, em vez de buscas-o, vê-lo? por ves-o? e isto talvez porque S e R têm sons diversos.
ous-cá-lo, por buscar-o, etc. V. as Ordenações Afonsinas, e os Inéditos da
'^•(A explicação das formas búscal-o, por Academia, 3 vol. foi. etc.
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0\
LIVRO I
áP*
DAS PALATBAS POR SI SÓS OU PARTES DA SENTENÇA
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EPÍTOME
EPÍTOME
— 17
JÜI
0\
EPÍTOME
EPÍTOME
homem é mortal; o cavalo é quadrúpede ser- apelativos e usam-se com artigo; v. g.: a ín
viçal; a larangeira é árvore de espinho: «A dia Oriental e a Ocidental; o Algarved'aquém
maior pouquidade que eu no homem acho, mar; as Arábias três. O mesmo é dos nomes
ê querer bem de siso anenhuma mulher» (Eu- de homens; v. g.: o Camões, i. é, o poeta
frosina, 5,//. 181, diz de todo o homem em Camões; o Séneca, i. é, o filósofo Séneca;
geral). o Magalhães, i. é, o que descobriu o es
3. Se queremos tomar o nome individual treito ; o Pacheco, i. é, o Duarte tão célebre
e extensivamente, mas restricto a um só su nos fastos da história oriental portuguesa; o
jeito, ou a menos de todos os da espécie, Catãode Adisson, i. é, o drama intitulado .Ca
limitamos a generalidade, que indica o artigo tão ; a Castro de Ferreira, i. é, a tragédia in?
simples, com outras circunstâncias; v.g.: o titulada Castro; a Ásia de Barros, para a dis
homem que ontem vimos; o velho da monta tinguir da Ásia de Diogo do Couto *, a Vénus í!
nha ; o homem sábio ; o casquilho do bairro. de Médicis, i. é, a estátua; o Antinoo; etc
Outras vezes subentende-se facilmente a 7. Os nomes próprios de terras, que dantes
circunstância ou circunstâncias restrictivas; eram, e ainda são, apelativos, ou comuns,
v. g.: iVistd o homem? i. é, de quem já falá usam-se com artigo; v.g.: a Baia, o Rio de Ja
mos, i Foste à Praça ? i. é, à praça desta ci neiro, a Casa Branca, o Porto. Pela mesma
dade. iJá veio o Pedro? i. é, moço de casa razão se diz na Astronomia a Ursa, o Cão, d
deste nome.
'-Lira, a Donzela, o Escorpião, etc. Argos,Jú
4. Os nomes individuais ou próprios são piter e Saturno, que foram nomes dehomens,
de si mesmos determinados, enquanto a sua sem artigo. (Lusíada, VIII, est. 71, e X, 82.).
extensão e por isso não admitem adjectivos 8. Omite-se o artigo todas as vezes que o
articulares. Assim não dizemos o Catão, o Ser- nome comum se usa atributivãmente; v. g.:
tôrio iez isto, a Roma é cidade antiga (9). «Se este animal é cava/o, é boi; ou quando se dá
a cobiça de Itália e as delícias de Ásia não por atributo, por meio de uma preposição;
devassaram Portugal» (Eufr. c 5); «Áfri v. g. esta pela é de ferro. Em tais casos pode
ca, Europa e Ásia as adorou» (Camões, sone mos substituir um adjectivo ao nome sem
to 44, e vj.: Lusiad., X, est. 97, e seg. até 103. artigo; v. g.: esta pela é férrea; este animal é
Barros, Gram., Dedicator.). cavalar macho, etc. e pelo contrário: doferro,
5. Todavia acham-se nomes próprios de re que me deste, fez-se um punhal; o cavalo de
giões, e os dos rios, e dos montes com artigos, Pedro: quando o nome se toma extensiva
pois dizemos, v. g., a índia, o Egipto, o Cairo, mente; i. é, de todos, de certos, ou de um in
a Etiópia, a China, o Japão, o Decã, o Ca divíduo da classe, gênero, espécie, etc
nadá; o Tejo, o Mondego, o Etna, o Vesúvio; 9. Igualmente se cala o artigo, quando o
o Norte, o Sul, etc. Isto procede assim por contexto dá a entender assaz, que o nome se
que os nomes individuais, a quem nãoconhe toma extensivamente;v. g.: Pobreza não é vi-
ce os indivíduos, não dão, pela maior parte, leza. Não sabe homem como se valha contra
idéia alguma, nem da classe, a que perten a calúnia; Homem é mais obrigado a si, que
cem e por isso era usual ajuntar-se o nome a outrem (»)'» venho de casa (isto é, de minha
comum com o próprio oposto, v. g.: o rio casa); porque os antigos não ajuntavam o ar
Mondego, o rio Tejo, o Lago ou a lagoa Meo- tigo simples com os articulares, possessivos,
tis, a região África, a cidade Meca, o monte como abaixo direi; assim mesmo dizemos
Etna, o monte Vesúvio, o reino Melinde, a ci Pedro vem de casa (se de sua casa) e vens de
dade Beja; <a cidade Zeila situada na terra casa? i. é, de tua casa (vj. adiante o núme
África* (Vj.: Barros, D. 3, l. 1, c 5); *Ater ro 17).
ra Ásia*, <o reino Decã*, *a Ilha Inglaterra* 10. Quando fazemos duas classes opostas
(Barros 1, 9, 1 e 2, 6, 1). etc Depois que as usamos do artigo repetido; v. g.: Virá a jul
notícias geográficas se divulgaram mais, foi- gar os vivos e os mortos; aliás diremos sem
•se omitindo o nome comum e ficou o artigo repetição: os honrados e leais vassalos de V.
talvez com o nome próprio. E daqui vem a Alteea.
variedade com que os mestres da língua ora 11. Os nossos maiores usaram do articular
exprimem, ora calam o artigo antes dos tais um acompanhado do artigo simples; v. g.:não
nomes (l°): «Lê o que África, Arábia, índia posso servir-vos por duas razões ; a uma
te escrevem» (Ferr. Cart. 2, /. 2); «Até Eufra porque é fora de tempo, a outra etc. Ainda
tes, etc.» (idem l. 1, Carta 1). dizemos : todos d uma, se. voz: (aa uma: por
6. Os nomes próprios de terras, que são uma, se. razão).
comuns a doas, ou levam epítetos, ficam como 12. Muitas vezes o artigo parece trazer à
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E P Í.T-OtBt E EPÍTOME
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EPÍTOME EPÍTOME
21. Onde é articular conjuntivo, que traz à ãema puro; v. g.: vão, vanissimo; são, sanis-
memória o lugar antes mencionado ; quando, simo; cristão tem cristíanissimo.
o tempo; v. g.: estiveste no teatro, onde, e 9. Os positivos acabados em / ou r, tem os
quando (no tempo, em que) eu estive também. superlatívos em -issimo; v. g.: natural, natu-
Onde figuradamente se refere ás pessoas; v ralissimo; cruel, cruelíssimo; útil, utilissimo;
g.: «Eu chamo vulgo, onde há baixos intentos» geral ou general, tem generalissimo; particu
(Ferreira) isto é, aqueles em que há, etc. (14). lar, particularissimo; fiel, fidelissimo; infiel,
infidelissimo; fácil, difícil, facilimo ou faci-
Capítulo m lissimo e dificílimo ou dificilissimo; miserável,
DOS ADJECTIYOS ATRIBUTIYOS miseravelissimo.
10. Os positivos em om e um, mudam o m
1. Estes significam as qualidades existentes em nissimo; v. g. bom, boníssimo (15), comum,
em algum objecto; v. g.: branco, louro, manso, comuníssimo; um, unissimo.
leal, amável, quando coexistem com homem, 11. Alguns positivos em s ou ce, mudam o
menino, etc. s ou e em -cissimo; v. g. atros, atrocíssimo;
2. As qualidades e atributos das coisas admi capas, capacíssimo', felis, felicíssimo, etc. Ou
tem ordinariamente mais e menos ou muito. O tros derivam estes superlativo dos positivos
que é bom pode ser mais bom ou melhor ou rapace, pertinace, vorace, atroce, felice, infelice.
òptimo a respeito de outro; o que é grande Belacissimo não tem positivo português.
pode ser maior, máximo ou muito grande; 12. Quando não temos superlatívos devirá-
menor ou mínimo ou muito pequeno. dos dos adjectivos positivos, ajuntamos a este
13. Em algumas o adjectivo atributivo sim o advérbio muito; v. g.: muito político; muito
ples, ou positivo, se altera para indicar a maio ajudado; muito favorecido.
ria ou diferença comparativa; v. g.: doctus 13. Talvez se ajuntam os advérbios mais,
(douto); em latim, varia-se em doctior (mais tão, muito aos superlatívos; v.g.: muito gran
douto) e dociissimus (muito douto); minor díssima soberba; muito péssimo; mais inti
(menor), minimus (mínimo). mo; tão belicosissimo ; tão mínimo. Alguns
4. As variações, que significam mais com o adjectivos parece que não admitiriam super
atributo, dizem-se adjectivos comparativos» lativo por sua significação; v. g.: diviníssimo
as que ajuntam muito aos atributos, superla de divino; mesmissimo de mesmo', unissimo
tívos. de um; infinitissimo de infinito; e todavia
5. Nós temos comparativos em formas sim ass^m se acham nos bons autores.
ples : maior, melhor, menor, pior, anterior, in 14. Muitas palavras se usam de ordinário
terior,exterior, inferior, superior, citerior, pos como nomes, que são verdadeiros adjectivos
terior, ulterior, etc, conservados ou adopta- atributivos; v. g.: o hermo e herdades hermas;
dos do latim; os mais que nos faltam supri-* o missal, o livro missal; o passador e sita
raos com a palavra mais; v. g.: mais alvo, mais passadora; o fedegoso e ervas ou coisas fede-
verdadeiro; e usando dos nomes por adjecti gosas (Ordenação Afonsina, 1.1, Tit. 28,§j6),
vos (ou compreensivamente dos atributos que homem ou mulher herege e hereges opiniões; o
significam), dizemos; v. g.: mais homem, que homem adúltero e o adúltero engano, etc.
outrem; mais mãe, que avó; o mais sem 15. Advirta-se que com os atributivos qua?
Ms
honra. lificamos de ordinário as coisas, e que tam
Ms 6. Dos superlatívos temos algumas formas bém o fazemos com os nomes acompanhados
simples tomadas do latim; v. g.: máximo, mí da preposição de; v. g.: homem de valor, ou
0s
nimo, óptimo e humílimo, similimo, paupér valoroso; de saber, ou sábio. Assim mesmo
rimo, pouco usados. Outros formamos se negamos ou tiramos os atributos pela prepo
gundo as regras seguintes ensinam. sição sem; v. g.: osem-ventura amante. Nestes
M\
7. Os adjectivos acabados em o, e, mudam últimos casos também usamos de mais e
Ms o o ou e, em -issimo; v. g.: douto, doutíssimo, muito para suprir comparativos e superlatí
felice, felicíssimo. Excepções; sagrado, sa- vos ; v. g.: o homem de mais honra, de mais
cratissimo; amigo, amicissimo; frio, frigi- saber; o mais sem honra; muito sem-saber:
dissimo; áspero, aspêrrimo ou aspérissimo; Tu és muito para pouco (Costa, Terenc, tom,
mísero, misérrimo; magnífico, magnificentis- 2,/. 267).
simo; célebre, celebêrrimo; nobre, nobilissimo; 16. Os adjectivos atributivos usam-se por
salubre, salubérrimo; agro, acérrimo; etc nomes abstractos; v.g.: o agro desta fruta; o
8. Os adjectivos em ão, tem o superlativo doce do mel, o teso do monte, etc, mas não se
em nissimo, perdendo o o e mudando a nasal subentenderá o nome verbal ser? O6).
Ê$S
— 20 -—
SF
EPÍTOME EPÍTOME
17. Abaixo tratarei dos particípios, que são delas; v. g. duas fes e crenças; as caridades
adjectivos atributivos verbais ou derivados que me fez; as nobresas des homem; essas
dos verbos ( V. Cap. 5 j. tuas paciências e sofrimentos: «a alma assai-
teada de invejas, cúbicas, ambições, ódios e
Capitulo IT
desonestidades; Deusaborrece avaresas*; i. é,
DE ALGUNS ACIDENTES COMUNS AOS os actos viciosos de inveja, etc.
NOMES E ADJECTIYOS
6. Os nomes de ventos usam-se no plural,
quando cursam dias e temporadas; v. g.: «en
traram-lhe os Suis, os Nordestes, os Bri
1. Os nomes e os adjectivos que os modi sas*. .".--_.. 1 ,
ficam variam de terminações, quando signifi 7. Nós dizemos os aseifes, méis, óleos, açú
camos muitos objectos; v. g.: um dia, dois
cares, manteigas,especiarias,pimentas, vinhos,
dias, este pomo verde, aqueles pomos doces:
leites, dar incensos; famas; os freis dos exér
isto é, ir o nome ou adjectivo ao plural.
citos; as memórias: os quais alguns Gramá
2. Igualmente se variam os nomes para in
ticos dizem, que só se usam no singular. Pelo
dicar os sexos dos indivíduos e os adjecti
contrário usamos no singular uma fava, um
vos que os modificam, pára aparecer a qual grão de bico, um tremoço, uma lentilha; a
nome se referem ; assim dizemos; v. g.: leão
Papa, o farelo, o alforge, etc os quais Barros
bravo; leoa parida, brava; homens máos, ensina, que só se usam no plural: «Todas as
feras tigres (l1).
forças de Sansão levou uma tesoura*; diz ele
§1 contra a sua regra ("). ••...-..».
8. Aetas, algemas, alvíssaras, andas, andi-
. .Da formação dos plurais dos nomes Ihas, ceroulas, grelhas, feses (*»), exéquias, fau-
« adjectivos ees, preces, postres, pies, viveres e os nomes
das horas canónicas: vésperas, completas, mati-
1. Já apontei que os nomes de um só in nas, laudes usam-se de comum no plural;
divíduo não se usam no plural, senão é figu- dizemos miolos e não os cérebros de um ho
radamente, quando os damos a sujeitos de ca mem; mas o cérebro e o cerebelo (Ulisseia, 10,
racter semelhante; v. g.: «Morrem os Cipiões est. 89.). Os adjectivos numerais só tem plu
pelos hospitais; L é, os grandes capitães; ral, quando dizemos os setes, oitos ou noves
«Haja Mecenas e haverá Virgilios, i. é, tenha do braralho; não há quem não dê seus cin
o mundo protectores das Musas, e terá gran cos ou cincadas.
des poetas, como Virgílio. 9. Os nomes verbais infinitos, quando si
2. Eu, considerando-se como dois, tem eus, gnificam figuradamente coisas, em vez de
e, por analogia, «em ti há dois tus*,como «em acções, usam-se no plural; v. g.: para seus
mim há dois eus (18)». cometes, beberes, os seus tens e haveres. Assim
...3. Deus faz deuses; o sol sóis; e damos mesmo dizemos: isto tem seus quês; saber
plural a coisas únicas, quando questionamos os porquês das coisas; dar os améns; estar
k í possível existirem mais como elas: «Lá aos itens, etc
giram outros sóis, e outros mundos*; «Se nos Vejamos como se formam os plurais dos
afigurou, que víamos duas Vénus...; e que nomes e adjectivos.
«enos ofereciam ao encontro duas Dianas*; 10. Os que acabam em vogai pura ou nasal,
figuradamente (Lusit. Transf, f.359), osAdó- têm o plural acrescentando-se ao singular um
nis, etc
s; v. g.: casa, casas; boa, boas; lebre, lebres;
•4. Os nomes de metais não se usam no plu leve, leves; nebri, nebris; dono, donos; só,sós;
ral, salvo para significar peças e instrumen lã, lãs; cã, cãs; baú, baús; reis de rei; leisde
tos feitos deles e espécies acidentalmente dife lei; pais de pai; alvarás de alvará; e péis de
rentes ou quantidades e porções; v. g.: tinha pésão antiquados (Paiva, Serm. trás pèis e F.
tunas pratas na bolsa; aços, osferros dopas- Mendes; alterado de pees (plur. ant.).
•ador, das lanças e prisões; dos ferros uns 11.Os nomes acabados no ditongo nasal ão,
•ao doces, ontros pedreses e quebradiços; as tem o plural mudando o ão em ões; v. g.:
sim dizemos os sais neutros, fixos; as cais raaão, rasões. Outros seguem a regra geral
metálicas; as águas ardentes, minerais, ter e tem o plural em ãos; v. g.: acórdão, alão,
mais; os vitriolos, terras, barros, ocres, açúca- anão, ancião, castelão, chão, cristão, coimbrão,
rte, etc
comareão, cortesão, grão, irmão, lódão, mão,
i*S» Não admitem plural os nomes de quali órfão, órgão, orégão, pagão, rabão, são, sôtão,
dades habituais, senão usados pelos actos soldão, .temporão, vão, sàngão. Alguns dão
— 21 —
*&£..
E P í TO M E E P í TO M E
plural em ões a vilão, aldeão, benção, anão, ci mens de gentil-homem (25); mas prolfaças,
dadão, cortesão (*l). retaguardas, repúblicas, vanglorias, Dom
12. Têm plural em ães: capelão, cão, animal, Abades, os salvocondutos (Vieira, Palavra, f.
alemão, catalão, deão, ermitão, escrivão, guar 169.) não seguem a regra. Grã por grande é
dião, massapâo, pão, sacristão, tabelhão ; dis invariável e assim o deve ser em grã-cruz,
seram alguns foliães, hoje dizemos foliões. grã-cruzes e grã-mestres, que os Antigos
Os bulcões, os vulcões, de bulcão e vulcão ou diceram os grãos-mestres, alterando, contra a
bulcãos e vulcãos, que são mais conformes à analogia, o grã sincopado para grão (26)
regra geral. grã fortaleza, grã turco (Caminha, f. 36)
13. Os nomes e adjectivos terminados em grand precede aos nomes que começam por
ai, oi, ul, mudam no plural o / em es: v. g. vogai; v. g.: os G1and-Oficiais do Estado, os
sal, saes', natural, naturaes; sol, soes] azul, Grand-Almirantes ou grã v. g.: Grã-Al-
azues; iafui, tajues. Mal tem por plural ma mirantes, Grã-Cruzes. Os que escreviam
les, cal de moinho cales; de pedra ou ostras, por am os ditongos em ão deram ocasião aos
as cães metálicas, etc. cônsul, cônsules ; ansol, que menos atentaram nisto, para depois con
anzoes; (anzolos è antiquado de amolo); real fundirem grã com grão e sã com são.
moeda imaginária; o plural reaes abrevia-se
§11
em réis: v. g. mil réis.
14. Os nomes e adjectivos em ei mudam no Dos gêneros dos nomes e Tariação dos adjecti-
~
plural o / em is; v. g.: sável, sáveis; amável, tos respondentes a eles. Dos nomes próprios.
amáveis; enropel,plur. europeles(Arrais, 10,74).
Aos terminados em il agudo muda-se o / em 1. Os nomes de homens, anjos, deuses da
j; v. g.: anafil, anafis; vil, vis; gazil, gazis; Fábula são masculinos : v. g. Aguilles, Jove, o
(anafiles de anafil, é pouco usado); edil, ediles Sera/im: no figurado diz se : aquela Serafim
• ou edis. Os que não têm o acento no il mudam- (Ulissipo, Al. 1. se. 6.).
-no em eis; v. g.: fácil, Jáceis; dócil, dóceis; 2. Os nomes de mulher, deusas, ninfas,. fú
hábiles, fàciles, terribeles, e semelhantes plu rias são femininos: v. g. Ana, Cloto; Eco-
rais, que usaram os clássicos, estão antiqua ninfa (êco, ou echo, som reflexo, é masculino),
dos. Os antigos disseram meles, nós méis. íris ninfa é feminino ; o arco é masculino e
15. Aos nomes acabados nas nasais em, im, no figurado o iris dos olhos, das lentes : «ê o
om, um, muda-se no plural o m em ns (22); íris, que a paz nos assegura», outros dizem
v. g.: bom, bons; dom, nome. e pronome de o arco da íris (Leão, Descripç., 27).
honra dons (os clássicos terminavam does 3. Os nomes próprios dos ventos, rios, mon
por dádivas); bem ; faz bens, que se pronun tes, mares, e meses são masculinos, dizemos,
+
cia bees, assim como vintees, armazees e se porém, é o Meolis, ou a Meotis, segundo o re
melhantes (que assim se escreviam e se ferimos a lago, ou a lagoa (Naufr. de Sepulv.,
guiam a regra dos nomes acabados em vogai f. 39 'e 40), e a Estige, o Estige (Eneida, 12,
ou ditongo nasal) ', a cánon, nomocánon, !93)-
* acrescenta-se um es, cânones. 4. Os nomes próprios de regiões, cidades,
16. Os nomes e adjectivos em r, s, x, z têm vilas e lugares, acham-se comummente femi
• ninos e. talvez masculinos referindo-se aos
plural acrescentando-se-lhes um es : v. g.;
pizar, pezares; clamor, clamores; rapaz ou nomes comuns lugar, vila, reino, cidade, re
rapacc, rapazes; voraz, vorazes; feliz, feli- gião, praça. Assim Camões trás Dio masculi
-zes (23). Alferes, arrais, o cies, ourives, duples, no e feminino (Lusíada, 2. 50; e no c. 10, est.
pioz, ônus (jhs, plur. juros, direitos, v. g. da 64 e 67). Freire <a ilustre Dio» outro Dio
Natureza), simples, hoje são invariáveis no (Castanheda, L. 8,/. 55). <Tdngere populoso,
plural (24). Dizemos, porém, os simplices, in e a dura Arzila, porém elas em fim por força
gredientes, que entram em composições me entradas* (Lusíada, 4, est. 55 e 56). A soberba
dicinais. Cális tem o plural cálices; apendix, Ormuz {Lusíada, 10, est. 53). «Ormuz...e toma
apêndices; index ou Índice, índices; fenix não dele posse» (2.0 Cerco de Dio, f. 434.). «A opu
se varia no plural e dizemos as fenix. Bar lenta Bisancio, e todo o Epiro» (Nauf. de Se-
ros (4. 4. 8.) escreveu os caezes; mas cdes púlveda, f. 24). *a guerreira Cartago, a infa
plur. é usual. me Egipto* ; a bimar Corinto; a cidade de
• 17. As palavras compostas ou soldadas de Beja... Trancoso destruída (Lusíada, 3, 63).
duas mudam no plural as partes, que se va Santarém é tomado {Leão, Cron. deAf.-Ii).
t riam, e que ficam por inteiro; v. g.: cadauns, Scila, e Caribde mascul. (Lusíada e Ferreira)
fafalvos, quaisquer de qualquer, gentis-ho- c femin. Ulisseia, 8, 72 (z8).. Guadiana atrás
i
• 22
MMM
V- 'TstBV-"
E PÍTOM E
EPÍTOME
tornou as águas de medroso (Lusíada e no
canto 8, est. 7o). Do rico Tejo (rio) efresca guarda de cavalaria; o corpo da guarda; as
Guadtana (se. ribeira). guardas reais ; os guardas-marinhas ;' as
5. Todavia os nomes próprios usados sem guarda-costas. Os e as vigias, atalaias, ho
pre em um gênero não se alteram e é erro
mens ; mas a atalaia, a vigia, postos, sempre
vulgar dizer todo Lisboa, todo castelo ;e menos são femininos ; os guias, as guias, homens ou
próprio dizer-se um Chipre, um Gnido, por mulheres ; mas as guias cordões ; feminino ;
que o nome comum, e mais óbvio, a que de os e as espias homens; (Freire, f. 398), uma
rem referir-se estes, é ilha: «outra Chipre, espia lugar e corda náutica: trombetas bastar
outra Gnido, ali se via» (Seg. Cerco de Dio, f. das (por trombeteiros) no feminino e logo
188), a fresca Cipro (Lusitan. Transf, f 213.). <z/«/Wo5adeseda... e muito bem encavalga-
«Nessa ilha Cipro a Vênus dedicada*. Na Jorna dos* ; trás Resende (Cron. de D. João II, c.
da de África vem (e mal) todo Espanha, todo 128) com boa distinção, com que Garção disse
Berberia, fez o novo, etc. (a, f. 49 e99) todo «os descalços trombetas» por escravos que as
Espanha será todo o território, ou reino Esàa-
tocam, levados do Brasil para o reino. Mo
nha? chila homem é masculino ; saco é feminino.- •;
6. Note-se que os nomes próprios dos luga . n. Nos nomes acima eoutros, como fiador,
res, que antes foram apelativos ou comuns, fiadora; juiz, juiza; doutor, doutora; ídolo,
seguem ogênero das terminações; v.g.: o Por
idola ; infante, infanta; parente, parer.ta ;pre
to, o Pombal, a Baia, os Ilhéus, etc. gador, pregadora; vemos a analogia, que di
rigiu os inventores das línguas, para darem
dxversos gêneros e terminações diversas para
Dos nomes comuns machos e fêmeas (31). Não se vê, porém, a ra
^17. Os nomes comuns dos animais que si zão por que dissemos pão, opau, masculinos,
gnificam o macho são masculinos; os que si a pedra, a farinha femininos. Nestes de coi
gnificam a fêmea são femininos; v. g.: oho sas sem sexo, apelativos ou comuns, seguire
mos as regras abaixo.
mem, a mulher; o cão, a cadela; elefante, ele
fanta ou aléa; mu, mua.
• 8. Outros nomes de animais debaixo da fíéneros dos nomes, que se regulam
mesma terminação sãosempre masculinos ou pelas terminações
sempre femininos ; v. g.: 0javali, o corvo, o
lagarto (a lagarta, insecto), orouxinol, ogol 12. Os nomes comuns terminados em a
finho, o noitibó, etc. A corva cosinheira, se puro ou nasal são femininos; v. g.: casa, romã.
disse por uma preta; aonça, serpente, águia, Except.: alvará, clima, cometa, dia, diadema,
+ corvtna, cobra, enxova, fataca, a andorinha, a emblema, onada, onunca, oagora, oenigma,
codormz, a betarda, afenis, que no figurado empiema, edema, tema, dilema, teorerna, ana-
9 tambérn se usa masculino; v. g.: <Vós, meu tema, sofisma, prisma; o trombeta, otrompa
9 Jesus, Divino Fenis« (Vieira); «O sol é o Fe- o clarineta, fíg. por o que toca; mapa, estrata
ms dos Planetas» (V\.Lusit. Transf, f 373) gema, poema, sistema, problema e outros mas
culinos («).
9, Nomes há, enfim, que são masculinos e
• temminos; v. g.: eu e tu; o eaalcião; otigre 13. Os nomes em esão musculinos. Except •
árvore, corte, neve, face e muitos outros acaba
ínnf'1^ clocodil^ * crocodilo; e quando dos em ade, ice, exc. oápice; ovértice; os que
m
houver dúvida e necessidade de maior preci terminam em è agudo; v. g.; maré, galé: mas
são diremos, coníorme a analogia da língua, café, boldrié, rape, petipè, rosicrè e outros são
• aZF \° ê°l/Í"ka>
a cobra-macho ou omacho°ü da° golfinho-fêmea
cobra, etc masculinos. Arvore acha-se nos clássicos mas
• ^o Os nomes de ofício e exercícios pró- culino, mas é antiquado. Corte golpe, masc.
pnos de homens são masculinos ; os de mu- Corte de aves e criação e corte femininos.
£er femininos; e são de ambos os gêneros 14. Os nomes em i, o, usão masculinos; v. g.:
• comboi, lenho, baú. Except. grei, lei, beilhô,
ZrZor *T*0* J*' *! •****» enxo, tlhò, mó femininos; tribu acha-se comum-
• Zra o' Yr^' a C0St™ir«> *comenda- mente masculino nos bons autores.
15. Os terminados nos ditongos em ão e Se
to- hiol vah°mmda> "Mtricida, parricida ou em são femininos. Except.: carvão, colchão,
mund/Vr "*' ° C° °ficial'' ™* ^micida feijão, melão, pão, trovão, arção, massapão,
cabeção,pavilhão, torrão, tostão, trolão, arte
^iotf femimn°
Wo mascuhno; aliás ;dizemos:
e»arda ^traznavio
umae são, tesão, aivão, gavião, torsão e outros mas
culinos; e assim o são bedèe ou bedétn, vinfêe
~
™ 23 —
EPÍTOME E PÍTOME EP
ou vintém, arrebém, vaivém, bem, trem, desdém, nero feminino; v. g.: lugar chão, terra chã, doía
acêm, etc; os clássicos disseram talvez o li meão, meã, são, sã (36), melhor ortografia dos
nhagem que hoje é feminino. Quem, alguém, que meãa, chãa, pagãa, etc nosi
ninguém são comuns (JS). 23. Os terminados nas nasais om e um são ver\
16. Os nomes em om, im, um são masculi bom, que tem boa para os nomes femininos cotn
nos. Fim acha-se feminino nos antigos, mas (37); algum, nenhum, um, têm os femininos por)
é desusado; e dizemos o meu fim; este fim em üa ou uma. Comum tem comüa feminino nos bénj
teve.
livros clássicos; ou comum para ambos os gê acid
17. Os nomes em ler são masculinos. neros; e alguns o imitam; mais ordinaria mát
Except: cal, caal (ou Cal canal é mascul.). mente dizem comua, contra aqueles exemplos aqu
Colher, dor, jlor; esta cor, vontade, acha-se e a analogia de um e derivados (38): cabrum, rem
o ler, o ouvir; o serdes letrados; o serdes or, acham-se nesta mesma forma comuns para que
feias (84). os masculinos e femininos; v. g.: senhora con
18. Os nomes em s e s são masculinos ; v. superior, fiador, pecador, tutor, curador, etc. dec
g.: um atlas, um as dos naipes; o as esqua Se alguém achar Lobo, ou ave caçador (Orden. algi
drão (Clarim, 3, c. 11); um ras pano; jus, al- I. 5, /. 62). Assim mesmo disseram: a Nação 5-
catruz, alcassus: são femininos andas, arras, Português (Barr., Dec. e Clarim., I. 2., c. 23) • mo\
cócegas, avissaras e outros usados no plural, hoje damos femininos em a a estes adjectivos; dec
e assim preces, efemérides, etc Cutis é femi v. g.: fiadora, superiora, priora e tudo o que tam
nino, e assim o são pas, tenas, ves, forques, pode pertencer a mulher. «Pales do manso seg
buis ou boiz, matris, fos, vos, nos, crus, gado guardadora*: (Camões, Egl. 2.), mas com nad
t..~ -»*<%
tii*>, v-n~
os nomes de coisas sem sexo são invariáveis tra.
os adjectivos em or, adoptados do Latim, V. i
Das variações dos adjectivos acomodados aos quando não significam oficio; v. g.: obra, for que
gêneros dos substantivos mosura superior a todas; notícia ulterior. 6
Assim dizemos a nação portuguesa, inglesa, to 1
19. Os adjectivos de duas terminações, em francesa, preitès, prestes, duples, simples e se sup
a eo, têm esta para os nomes masculinos; as melhantes são comuns a ambos os gêne quf
em a para os femininos; v. g.: casa nova,tem ros. Todavia cuido que ainda dizemos gente, SÍV'
plo novo. Parvo tem o feminino pdrvoa, e di montahes, frutas e cabras monteses, (&) na ma>
zemos uma parva de almoço; cada é invariá Vtda do Arceb., 1.3. c. 20. ediç. de Paris e Nauf. teu
vel e comum: cada homem ou mulher. de Sepúlveda, 10. vem montesas, í. Vh
20. Os terminados em e servem para nomes im]
de ambos os gêneros; v. g.: caso grave, ma Capítulo Y fiq\
téria grave; ele, este, esse, aquele, mudam o e con
final em a com os nomes femininos e assim DO VERBO E SEUS MODOS, ATRIBUTOS, ros
posto que os antigos disseram neste sentido 1. O verbo é a palavra com que declaramos 1
Infante. Regente, penitente, amante são co o que a alma julga ou quer acerca dos sujei poi
muns, e assim mesmo outros adjectivos ver tos e dos atributos das sentenças; com ele m«
bais em ante, ente e inte (Cam., Filod., tom. 4. afirmamos e mandamos; v. g.: Eu sou aman tui
/. 163). Constantemente dizemos uma corren te ; o pomo é doce. Filho, sé temente a Deus isti
te, talvez subtendendo cadeia (V. Barros, Cla e ama-o. a J
rim., L. 1. c. 28): a vasante, a descendente da 2. A significação ou ofício principal dos ou
sitan. Transf.)', o pendente do brinco e do buto existe, ou queremos que exista; e das vo\
selo do Chanceler (Orden. Afons.). diversas épocas em que o atributo existe, I
21. Meu, leu, seu. sandeu, judeu tem os fe existiu ou existirá no sujeito. Assim, amo por In
mininos minha, tua, sua, sandia, judia; aos si só eqüivale a eu sou amante acfualmente: só}
em u puro acrescenta-se um a na forma fe ama a Deus, a, se tu amante de Deus; amei d1
minina; v. g.: nu, nua, cru, crua. refere o atributo ao passado; amarei ao fu e<
sal ão perdem o o final para os nomes do gê 3. Quando a alma julga ou quer pensa de
«_ 24 •—
j
EPITOME EPÍTOME
dois modos diversos; e por isso as variações nosso, vosso, seu deles. Assim lermos, lerdes,
dos verbos, que declaram a afirmação e o lerem significam a nossa lição ou o nosso ler;
uosso mando ou querer se dizem modos do o vosso Ur ou a vossa lição; e o ler ou lição
verbo. Ora nós podemos afirmar ou querer deles. Nestas variações verbais decompõe-se
com algumas diferenças e modificações; e, o verbo mais que nas do subjuntivo, porque
portanto, os modos do verbo podem ser tam neste modo o atributo se refere a uma época;
bém diversos, à proporção dessas diferenças nas variações infinitas pessoais, perde esta
acidentais de afirmar ou querer. Mas a Gra significação acidental de tempo ( Vj. Clarim., L.
mática só reconhece por modos diversos 2, c. 24, pag. 267, ult. ed.) «o vosso enjeitar*
aqueles que se exprimem com palavras dife eqüivale a o enjeitardes; e ali mesmo Jolgar-
rentes (*°). des de aventurar eqüivale a o vosso folgar.
4. Na língua materna temos dois modos 9. Nos Infinitivos puros representamos so
verdadeiros: o Indicador ou Mostrador com mente o atributo verbal, sem afirmar, nem
que afirmamos, e o Imperativo ou Mandativo querer, nem relação com pessoas ou tempos;
com que mandamos, pedimos, exortamos ou eles são verdadeiros nomes verbais abstra
declaramos o nosso querer directamente a tos (42). O murmurar do povo é a murmura-
alguém. ção do povo. O variar faz bela a natureza. Por
5; Temos mais variações verbais ditas do isso concordam com adjectivos articulares e
modo eonjuntivo ou subjuntivo, as quais não atributivos: «Porém vós, tristes reis, neste ser
declaram afirmação nem mando; mas ajun reis, negais a natureza de que Deus vos for
tam um atributo verbal referido à primeira, mou» (Mendes Pinto, c. 168).
segunda ou terceira pessoa, e tudo subordi 10. Dos mesmos verbos se derivam as pa
nado a outra sentença principal, em que en lavras em ante, ente, inte, que significam
tra verbo no indicativo ou no imperativo; adjectivamente o atributo do verbo; v. g.: eu
v. g.: Não espero que venhas cá; ama para sou amante (43). Estas tomam-se comummente
que te amem (**). por substantivos; v. g.: o regente, a vasante, o
6. Estas variações verbais subjuntivas tan intendente, a corrente, se. cadeia, etc
to não afirmam nem mandam, que se podem 11. Derivam-se mais dos vefbos outras pa
suprir com um nome abstracto, que signifi lavras em ando, endo, indo, que significam o
que o atributo verbal e um articular posses atributo verbal adjectivamente e imperfeito,
sivo, ou com infinitos pessoais; v. g.: «Filho actual; v. g.: achei a Pedro dançando, cantan
mais queria que morresses, que ofenderes a do. Os gramáticos lhes chamam particípios de
teu Criador com pecado mortal» (Fios Sanei., presente (44). Estas mesmas palavras se tomam
Vid. de S. Luis, f. CVIII, ediç. de 1567). cO como substantivos abstractos, que represen
imperador desejava muito de ficardes (que tam o atributo verbal incompleto, imperfeito,
fiqueis) na sua terra; A causa, que me fez actual e nisto diferem dos infinitos puros; v.
conhecer-vos, essa me faz que vos leixe (Bar g.: «muitas outras coisas contém o livro, que
ros, Clarim. Leixar por deixar); Trabalha, entre lendo se verão» i. é, ao ler, ou na leitu
filho meu, por agradarem tuas obras a Deus»; ra :. «A maneira, de acrescentando o desejo ao
on porque agradem (Mendes Pinto, c. 168). pedido», Men. e Moça, pag. v. do Titulo, edi
7. Nos exemplos citados a que morresses ção de 1559. e L.2.C 4.) «Sem sendo resistidos,
podemos substituir «a tua morte* ficando o nem punidos (Cortes de Évora de1442. art. 1.)
mesmo sentido: a ofenderes -podemos substi «O imperador, em lhe acabando eu de falar,
tuir «ofensa tua a Deus: que o ofendesses»; disse-me etc»; «Como tudo se alegra em vós
isto é, ao infinito pessoal pelo subjuntivo; saindol* Neste sentido estas variações se cha
a ficardes podemos substituir a vossa ficada, mam gerúndios e são verdadeiros nomes, pois
ou que ficásseis, o subjuntivo pelo infinito são regidos de preposições. Posto eu à mesa',
pessoal. Em lugar de conhecer-vos podemos é frase elíptica, i. é, em eu estando posto á
usar de vos conheça; e por vos leixe, leixar mesa: se, em sendo moços; em verde colhi
vos, ou a minha dèixaçSo de vós. das, se, em sendo verdes, etc (Vj.: Leão, Cron.
' 8;: Destes mesmos exemplos se vê que os tom. 1, /. 154. edição de 1774). Aqui o adjecti
Infinitivos Pessoais (muito próprios e talvez vo modificante concorda com o nome; v. g.:
só da Lingua Portuguesa) não são outros mo Em tu saindo tão formosa e bela... ou «Em
dos verdadeiros dos verbos, mas palavras tu saindo armado de coragem».
equivalentes ao atributo do verbo referido a 12. Temos mais palavras derivadas dos ver
uma das três pessoas, como se faria por bos, terminadas em ado, ido, que se tomam
meio dos articulares possessivos: meu,teu, seu, adjectivamente e significam o atributo do
— 25 —
EPÍTOME EPÍTOME
verbo passivamente, completo e acabado; v. que são de comum homens, porque os atribu
g.: o livro está lido, a casa caiada parameniada. tos dos tais verbos não podem competir a ho
Então se dizem particípios do pretérito ou mens; assim não dizemos, euchovo, eu corisco,
passado. Outras vezes se tomam como subs eutrovejo; no sentido figurado, porém, dizemos:
tantivos, que só se usam no singular, no gê «tu não choves altas doutrinas* (Caminha, Ode
nero masculino e representam o atributo do 8 e Epist. 14). Dizemos mais: o Céu chove, geia,
verbo abstractamente, mas comoa cabado e neva, troooa. A estes verbo chamam os gra
perfeito no sentido activo ou neutro; tenho, máticos impessoais ou carecentes de varia
lido livros, acabado obras, visto cidades. Neste ções pessoais; mas eles as tem, ao menos das
sentido se dizem supinos e são nomes regi terceiras pessoas. Por uso não dizemos eu
dos, ou pacientes dos verbos haver e ter; fedo, de feder, nem muno, de munir, brandir,
porque assim dizemos tenho um vestido, uma etc. e aos verbos semelhantes chamamdefecti-
casa, como tenho lição, ou leitura feita, que é vos (Vj. no fim d'esta Gram. o que se dis dos
o mesmo que tenho lido, etc Os Latinos têm verbos defectivos).
particípios ou adjectivos verbais, quer efe- 16. Civilmente usamos, falando a um só,
rem o atributo a uma época futura, a que cha das variações verbais correspondentes a vós;
mam particípios de futuro. Nós os imitámos e v. g.: C-Sabeis, Senhor, o que vai? Ponde meu
deles tomámos vindoiro, duradoiro, futuro e Deus, em mim os olhos etc (<*). Outras vezes
pouco mais. Os antigos disseram recebedoíro, usamos da terceira pessoa; v. g.: Língua tem
digno de receber-se; doestadoiro, digno de V. Alteza; Ele por si lho diga. (Resende, Vid.
serdoestado, etc do Inf. V.; Ulisipo,f.40.) «quevê elaem nós?»
13. Acerca dos modos verbais advertiremos Mas quando alguém fala ou se exorta a si
que os Poetas, imitando a simplicidade pri mesmo, considera-se como segunda pessoa:
mitiva (usada ainda entre iguais e familiar «Morre, Afonso d'Albuquerque, morre (dizia
mente, ou dos superiores com os seus subor elle co'sigo mesmo) que cumpre a tua honra
dinados) usaram pedindo, do modo manda- morreres* (Couto, D. 4, L. 6, c. 7, f. in, vs.).
tivo; v. g.: «Agora tu Calíope me inspira*: 17. Os soberanos falavam de si com os ver
outras vezes do subjuntivo ellpticamente; v. bos no plural; v.g.: mandamos fasemos saber,
g.: «Musa, honremos o herói etc», e assim pedi etc. Os prelados maiores ainda hoje o fazem,
mos cortezmente. O Legislador manda ou mas não há razão, porque um particular diga,
proíbe predizendo, com o futuro do indica por exemplo: escreverei a vida de D. João de
tivo; v. g.: «Amará* a Deus; não furarás o Castro...» e logo: «c Nós ajudaremos o pre
seu santo nome em vão». Comummente usa gão universal da sua gloria etc», transfor
mos proibindo, dissuadindo, ou pedindo que mando-se o escritor de um em muitos.
não, do modo subjuntivo: Não nos deixeis 18. Os atributos anexos à significação dos
cair em tentação; Não se mova ninguém; as- verbos são activos;.v.g.: ferir, matar, dar; ou
segurai-vos (Sá de Mir., Estrang., Prol.); Não de mero estado; v. g.: estar, igualar (ser igual),
cuideis, que sendo taful, blasfemo, renegador parecer. Assim os verbos portugueses em ra
podereis entrar no reino dos Céus (Paiv., zão dos atributos são ou activos ou de estado.
Serm. 1); «Esforça infante, nem co'o peso in Os latinos tem verbos derivados dos activos,
clina*; O imperativo inclina, por inclines nos quais se afirma que o sujeito é paciente
do subjuntivo; é um iatinismo (Mausinho,1 da acção do verbo activo; v. g.: ferior, eu sou
African. f. 39. v.). isto pelo que respeita aos ferido, derivado de ferio activo, eu firo; aque
odos dos verbos.
les verbos chamam-lhe passivos; nós não
14. O atributo verbal nas mesmas varia- temos passivos.
çõõs se refere ás pessoas eu, tu, ele, nós, vós, 19. Verbos neutros, i. é, nem activos, nem
eles; v. g.: leio, lês, lê. lemos, ledes, lêem; eu e passivos, chamam os gramáticos àqueles que
nós são as primeiras pessoas; do singular eu, não significam acção; v. g.: «O vento dorme, o
nós do plural; tu é a segunda pessoa do sin o mar e as ondas jasem. O cisne iguala a neve
gular, vós a segunda do plural; toda outra na candura» ou que significam uma acção,
cousa, ou pessoa, a que se pode ajuntar o que fica no mesmo sujeito,de quem se afirma;
pronome ela, ele é terceirapessoado singular; v. g.: eu ando, salto, respiro, corro, vivo, etc.
eles do plural. As variações verbais, que res 20. Os verbos activos comummente têm um
pondem a estes pronomes se dizem pessoas paciente ou objecto, em quem passa ou se
do verbo do número singular, ou plural. emprega a sua acção; v. g.:feri a Pedro; matet
15. Alguns verbos não tem variações res- a lebre; remar o batei; remei meu remo; pelejar
pondentes à primeira nem à segunda pessoa, as pelejas do Senhor; etc. estes se dizem ver-
— 36 —
EPÍTOME EPÍTOME
bos transitivos, mas às vezes se usam sem supre-se de dois modos: i.° usando dos ver
paciente; v. g.: «Não teme, não espera a cons bos ser e estar com os particípios passivos;
ciência pura», i. é, não teme, não espera nada; v. g.: sou amado ; estou ferido ; «Foi tido por
espirou, acabou, se a vida, o atento, a alma: honra e riqueza, ter muitos amigos» (Heit.
«primeiro haveis de alimpar como marmelo», Pinto, da Verdad. Amis., c. 4); «Por ser justo
i. é, ficar limpo: «as minas d'Espanha esgo e devido o dever se guardar tal modo» (Hist.
tarão*, etc. dos Iluslr. Var. de Távora, f. 103).
• ax. Pelo contrário, aos verbos neutros ajun- 25. O a.° modo de suprir a falta dos verbos
tamos às vezes pacientes, como aos transiti passivos ê ajuntar o caso se aos sujeitos da
vos; v. g.: viver vida feliz; correr carreiras; terceira pessoa, que não podem fazer a acção
correr seu curso; o homem medroso todo o es em si mesmos; v. g.: «cortam-se árvores;
tremece (Eufr. 3.0 4); Deus chovia maná aos tecem-se sedas; edifica-se o edifício (Lusíada,
Israelitas; A planta mal nascida o Céu a geia, xo, 130); Festa sem comer não se festeja
neva, abrasa e chove (Lobo, Egl. 7); «Bem o (Crus, Pões. f. 66); Quanto se tem se vai»;
parece no semblante», i. é, se lhe assemelha, i. é, quanto haver se tem, tanto valer se vai
parece-secom ele: voaraves, lançá-las a voar- (Caminha, Epist.5). Vê-se, parece-se; é visto,
a mina voou o muro; subir o basilisco à forta parecido (47). «Deus quer que só a ele se ame;
leza; fazer subir: avistar os do socorro com ninguém se deve amar, senão a um Senhor
o inimigo; arrostá-los aos perigos,etc; a chuva tão poderoso (Paiva, Serm. 1)». Se deve por é
reverdece a terra: o verão reflorece os jardins; devido, é dever.
não soia a ser (Paiva, Serm.), etc 26. Em tais casos será equívoco apassivar
-• aa. Alguns verbos neutros; v. g~ estar, ir, os verbos, quando o sujeito pode fazer a acção
vir, sair, parar, usam-se com paciente, para em si mesmo; v. g.: «já se estendem por terra
designarmos espontaneidade e energia do su muitos* por são estendidos com golpes: «um
jeito: v. g. entrou o ano', e entrou-se o inimigo se matou* por foi morto; «cativaram-semui
pela porta; parou a pedra; e parou-se ogalgo: tos» por foram cativos (Pinto Pereira, L. 14
Pedro ficou doente ou preso; e lá se ficou por c. aa, L. a/. 59). Outras vezes é sem equívoco:
sua vontade; «He hum estar-se preso por von v. g.: cPafos, onde se honram Venus e Amor
tade» (Camões, Son. 31.); «Enfim lá se fica com sacrifícios» por são honrados, e «Verás
ram, cá me estou* (Crus, Poes.,f. 74.) Vieira esquecerem-se Gregos e Romanos pelos feitos,
5. 2, /. 315: «os peixes lá se vivem em seus que hão-de fazer os vossos Lusitanos» por
mares»; «Os ventureiros e ficaram .quedos» serem esquecidos (Vj. Lusíada, 2, 44). Isto é
(Jornada d'África, f. 61.); «Seja-se ele vosso bem, quando os sujeitos não costumam fazer
servidor (Eufr. 3.0 3.); «Fuão cativou*, por, a acção a si mesmos.
ficou cativo; trazem Teles, Hist. Etiop., Lobo, 37. Talvez damos ao sujeito uma acção que
Corte, D. 4. Lucena, L. 4, c. 16, porque se dis ele não pode exercer em si mesmo; v. g.:
seram cativou-se ou cativaram-se, dariam a «Em terra estranha e alheia muitos os ossos
entender, que voluntariamente o fizeram, para sempre sepultaram (Lusíada, 5, 81.)»; «E
como quando dizemos: cativou-se da cortesia, os que neste sentido o acompanharam, os
da formosura (&)« Dizemos rir-se, enfastiar-se membros em penhascos transformaram* ( Ulis-
da ou enfastiar a verdade', rir a hipocrisia; etc. s**ai St 9X0* Aqui o sentido não padece dúvida.
(Paiva, Serm. 1, 52; Ferreira, Carta, 4, L. 1). 38. Os gramáticos chamam ao verbo s#rsubs-
33. Quando o sujeito faz a acção em si mes tantivo, porque a ele se ajuntam todos os atri*
mo (v. g.: Pedroferiu se, cortou se), dizem os butivos e ainda nomes usados compreensiva-
gramáticos, que estes verbos são reflexos. mente ou atributivamente (48); v.g.: ser ama
Se os sujeitos são reciprocamente agentes e do, ferido, amante. «A ser vosso, senhora, me
pacientes (v. g.: «Pedro eJoão amam-se;fe condena (Camões*; «O campo ensina ser jus
riram-se»), chamam-lhe verbos recíprocos, to os pequenos (Ferreira, Tom. *,f. 101)»*,
mas estes verbos são os mesmos na figura e «Tudo é suspeito e pouco seguro para as mu
no sentido, que quando têm agentes e pacien lheres, até o serem virtuosas (Menina e Moça,
tes diversos. Outras línguas têm propriamen L. 3 c. 2.)»*, *Ó vós, que amor obriga a ser su
te (isto é, em sentido e figura) verbos médios, jeitos a diversas vontades (Camões, Soneto 1.)»
dobradamente activos, etc. de que nós carece «A troco de ser senhora (Camões)*; «Depuseram
mos ; os reflexos ou pronominais, e os recí Malaca de ser cidade (F. Mendes Pinto, cap.
procos são activos puros, usados com sujei 2x9.)». De todas as palavras quê contém uma
tos e pacientes idênticos. noção atributiva, própria ou figuradamente se
- 24. À falta que temos de verbos passivos, derivam verbos; v. g.: de Platão Platonisan
<— 27 —
áPS
EPÍTOME
EPÍTOME
EF
pensar como Platão; ensamperinar-se de Zam- bem como ter-se, dançar-se, comer-se; beber-se,
perini (disse o autor da elegantíssima Sátira e lendo-se os livros dançando-se minuetes,
do Entrudo); de justiça, justiçar; de avante, comendo^e comidas gulosas, bebendo-se vinhos
avantejar. Temos alguns verbos frequentati- puros, etc.
vos; v. g.: balocar, joçuetar, sopelear; outros 33* Com semelhantes combinações do verbo
diminutivos; v. g.: chuviscar, molinhar, cho- estar com os particípios do presente e de
romigar, beberricar, de comum usados no es, ter, ou haver, com os supinos indicamos a
tilo familiar ou chulo.
imperfeição, ouo acabamento da acção. ou o
29. O verbo faser substitui-se aos activos e atributo verbal no subjuntivo; v. g.: queeu
neutros que não queremos repetir; v. g.: «não esteja ou estivesse lendo; se eu estiver lendo,
ames a riqueza como o fas o avaro»; «caíram que eu haja, ou tenha lido; que eu houvesse,
no mar e assim o jieeram outros»; nestas fra ou tivesse lido; como eu houver, ou tiver lido.
ses o refere-se aos infinitivos amar, cair, ca 34. Nos infinitivos dizemos estar lendo; ter,
lados por elipse. Esta substituição de faser ou haver, se tenção, ou necessidade deler, ou
por um verbo neutro é menos própria; é haver lido; i. é, lição feita.
mais exacto: «e assim aconteceu a outros» ou 35. Todas estas variações verbais se verão
co mesmo aconteceu».
nas tábuas ou exemplares das conjugações
30. Os verbos têm variações acomodadas dos verbos, que vão no fim desta obra, para
aos tempos ou épocas em que o atributo coe se consultarem, quando for necessário, pois
xiste, coexistiu ou há-de coexistir com o sujei os que estudarem esta Gramática já as sabe
to ; v.: g. eu escrevo, sou amante; eu escrevi, fui rão por uso. Al mesmo se acharão os verbos
amante; eu esvreverei, serei amante. Estas três i. <
irregulares, que se desviam do exemplar e re
épocas do presente, em que escrevo ou amo •; gra analógica de conjugar; e os defectivos, a
'•bi
do passado, em que escrevi ou amei; do futu que faltam alguns tempos, ou variações pes pe
ro, em que escreverei ou amarei, são simples soais.
ar,
na figura dos verbos e absolutas no sentido. 36. Os verbos estar, ser, ter, haver, que aju
tat
ca, passada; v. g.: já eu lera, escrevera, quan possui; assim amo, sou amante, estou aman (B
do tu chegaste. Estas variações relativas tam do, tenho o atributo amar, tenho amor, tudo m>
bém se declaram no português por uma figu vem ao mesmo sentido (50).
ra simples dos verbos; v. g.: lia, amava,lera, 37* O verbo ser, quando afirma atributos
va
activos de possessão ter e haver e dos supi constância; e no mesmo sentido; amo terna-
bi
nos; v. g.: tenho ou hei lido, escrito; tinha, mente, constantemente; está naquele lugar, ou
tà
ou havia lido, escrito, etc. «E consigo trará a n\
ali; fez de boa mente, ou de màmente; cantar a
formosa dama, que Amor por grã mercê lhe reveses, ou alternadamente; etc. Todas estas
terá dado* (Lusíada). A razão disto é porque frases com ternura, com constância modificam
tanto monta afirmar que a acção, ou atributo o verbo amo, determinando o modo de amar*,
verbal, existe no sujeito, como que ele o pos naquele lugar ou ali, determinam uma cir
sui; que, por analogia, assim possuímos um cunstância do verbo estar; de boa mente, de
vestido, comoumaqualidade abstrata: oamor, má mente, modificam a acção do verbo fes,
ou amar, que são o mesmo; e amado, lido, etc Estas frases, pois, se chamam frases adver-
que são o amar e ter completos, acabados, biais; e as palavras, que se substituem as
perfeitos; os quais amar e ler, atributos enér frases modificantes do verbo, como bem, mal,
gicos, podem ter um paciente (v. g.: tenho lido agora, hoje, etc. se dizem advérbios.
livros, amado vários objectos) (**) e apassivar- 2. Devo, porém, notar que os advérbios não
rse com se; v. g.: comido-se, tido-se dando-se; são uma parte elementar das sentenças, por-
28 —
EPÍTOME EPÍTOME
que todos eles são nomes e talvez combina se modo, ponto (55). Louvo muito, i. é, em
dos com atributivos e regidos de preposições muito modo. V. Ined. Tomo 3, /. 77: «Lou
claras ou* ocultas, que por brevidade se omi vo em muito Deus* *, «Estimou em muito* se
tem e também se exprimem; v. g.: igualmen preço. Barros, 1, 5, 8 (V. o Dicionar, art.
te (**): de antigamente; acd, alá; de antes; Advérbio).
hoje; agora; de hoje; de agora; ali é a prepo 5. Os advérbios ou frases adverbiais indi-
sição a com li relativo como em a-i, aqui (5J), dicam as circunstâncias de tempo; v. g.: hoje,
até i, dês i, dês hoje, até li, até qui*. Buscai de ontem, agora, já, nunca, sempre, entretanto*
hoje outro Pastor (Lobo)*; melhormente (Lu antes, depois, etc.
síada); «De sempre foram (Orden. Afons., 2, 6. As de lugar e distância; v. g.: cá, lá, aqui,
T. 59i § 9t)»í *para todo sempre*. De súu, jun i ou ai, ali, acerca, além, aquém, avante, antes,
tamente (Ord. Af. 5. T. 109 e L. 1, T. 63, § 24. adiante, atrás, após, contraídos em diante,
3. Os •advérbios regem ou pedem outras trás, pós, e talvez usados como preposições;
palavras, que completem e determinem a v. g.: diante, trás, após mim.
significação de uma das palavras de que os 7. As de quantidade; v. g.: assás, pouco,
mesmos advérbios se compõem g. v. muito, mais, grandemente, bem, assim, tão,
quão, também, etc. Outros escrevem tam,
Não podia em meu verso o meu Ferreira
quam, conforme a etimologia e contra a pro
Igualmente á dor minha ser chorado,
núncia.
(Caminha, Eleg. 4.) 8. O modo; o. g.:prestesmente, asinha, ar
i. é, ser chorado de modo igual à minha dor, dentemente, cortesmente, etc Mal, bem, melhor,
«bem de resistência, assás de pouco faz quem sabiamente, a tento, acinte.
perde a vida» (Camões); «estavam assentados 9. A ordem; v. g.: primeiramente, segundâ-
arressoadamente de tiros de artilharia» (Cas riamente ou primeiro, segundo, terceiro, quar
tanheda, L. 5., c. 35.); «O Senhor da embarca to, etc usando os atributivos ordinais elipti
ção, tinha igualmente de nobresa brandura camente, por em terceiro, quarto, se, lugar :
(Lobo, Desenç., /. 2.), i. é, tinha igual modo ou «Para isto foi que as cartas primeiro se inven
partes iguais de nobreza e bondade (**). «Di- tarm» (Lobo, Corte).
zei-lhe que dos meus pode vir seguramente 10. De afirmar: sim, certamente; de negar
(Barros); «Com ânimo seguro de receio dos jamais, nunca, não, nada, de nenhum modo.
meus»; «cegamentede afeição* (Ined., 2, /. 231). De duvidar, quissâ, do italiano chisá (Leon.
4. Os adjectivos usam-se elipticamente, na da Costa, Terenc, f. 217, tom. 1), vulgarmente
variação masculina singular, por advérbios; quiçá.
v. g.: «as fustas andavam melhor remeiras 11. Concluirei advertindo: i.° que os advér
(Barros, 3,1, 7)»; alto bradando, i. é, do mo bios modificam os adjectivos atributivos e os
do, ou em som alto: «Doce tanges, Pierio, doce nomes usados atributivamente; v. g.: bem
cantas», i. é, de modo, ou com som e voz douto; mui virtuoso. V. alteza mais mãe, que
doce, ou com elipse de mente: «docemente sus avó d'el-Rei; era já muito noite. Por mais rico
pira e doce canta» (Ferr., Egl. 2., e Carta, 10. e mais príncipe que homem seja: hu mês de
L. a); «Teve pouco mais dita» muito mais não caminho. Vieira (56).
resão (Palmeirim, P. 3, c. 17); «Faia que so 12. 2.0 Que dos superlatívos se fazem advér
be ao Ceu de puro altiva (Camões, Est. Quar bios superlatívos; v. g.: amantissimamen-
tas); «melhor parados, muito unidas: isso é te, tenacissimamente, religiosissimamente, de
muito verdade (e não muita). Porque verdade amantissimo, tenacissimo, etc.
aqui se usa como adjectivo e atributo da 13.3.° Que os advérbios modificam outros;
preposição e por isso o advérbio muito não v. g.: muito a dentro ; mais bem ; muito mais
pode concordar com verdade: «Sou vossa razão; tão pouco admirados; não mui pru
mãi*;«Sou muito mãi e muito terna para meus dentemente; muito mais atrás (Vj. Ferreira,
filhos: («Não podia ser muito gula o apetite Bristo, f. 75, e Crus, Poesias, Egl. 8., f.
de pão seco» é correcto, porque gula aqui se 54)- (5T).
usa atributivamente e muito adverbiado);
«isso é muita preguiça»; «já é muito noite*, Capítulo VII
etc.Quando dizemos; v. g.: «Corpos meioardi DAS PREPOSIÇÕES
dos» Seg. Cerco de Dio, Canto 6e 16/, «aProvi
dência todo-poderosa» (Vieira 7, /. 490); «Pare 1. As preposições (assim chamadas, porque
de meio derribada» (Pinto Pereira, L. 2, f. 63 se prepõem, ou põem antes dos nomes, a que
v);. meioestá sem a preposição por: de todo; se referem outros nomes correlativos antece
— 29 —
ÍÍ5%5>W.
EPÍTOME
EPÍTOME
dentes e que as preposições atam entre si) bil para as Letras; Pedro navegapara a Ásia;
servem de mostrar a conexão e correlações, destina-se à Vida Literária. Os nomes regidos
que o entendimento concebe entre dois objec talvez se calam; v. g.: «Tenho-o por homem
tos significados pelos nomes sós ou modifi circunspecto; e por de consciência», i. é, e por
cados por adjectivosou verbos (58). homem de consciência.
2. Elas fazem variar os nomesou pronomes 12. As preposições calam-se muitas vezes,
eu, em mim, migo; nos, nosco; tuem ti, ligo; quando a relação do nome não padece equí
vos, aosco; e quando se trata da terceira pes voco. Assim dizemos: Amo a Deus, a João; e
soa em relação consigo mesma, precedem ao sem preposição: Amo o Grego cantor; a caça,
si; v. g.: de mim, a mim, por mim,para mim, o jogo, etc. Este dia fizeram os nossos gran
para ti, por si, a si, de si, comigo, consigo, des feitos; por em este dia; navegamos costa
contigo. Nas línguas que têm casos, elas in abaixo (se por a costa).
fluem neles ou determinam o caso e relação 13. Outras vezes o nome se oferece ao nosso
do nome a que precedem. entendimento em duas relações; v. g.: a porta
3. As preposições designam primariamente de sobre o muro; onde muro se oferece como
relações físicas de lugar, aonde alguma coisa possuidor da porta e como lugar, sobre que
está, donde se parte, para onde se vai, onde ela estava (»). É porém vicioso dizer de d'onde,
termina alguma acção; de posição; v. g.: saí porque o d', que procede a onde, é a mesma
de casa, fui a o templo, lancei incenso na ara, preposição de expressa por inteiro e sinco
prostrei-me por terra, bati nos peitos, voltei pada em d'onde. É igual erro dizer ad'onde
para casa; voltei-me contra o Oriente; lan está? por, a onde está? Só diremos bem: vol
cei-me sobre a cama; olhai por mim; etc. tei a d'onde saíra, i. é, voltei ao lugar, d'onde
4. De indicar as relações físicas, passaram saíra, quando o sentido pede a do qual, da
figuradamente a outras semelhantes, v. g,: a qual, dos quais, das quais, calando-se o nome
mostrar o paciente da acção do verbo, que é regido por a ou o que esta preposição pede;
como lugar para onde ela passa e onde se assim é a elipse com que dizemos; v. g.: foi
termina; assim dizemos: feri a Pedro, amo a tido por néscio e por para pouco, i. é, foi tido
Pedro, louvo a Deus; dou o livro a ti, a João por homem néscio e por homem hábil para
(59*. Veio a casa, veio a ser bom Rei(Barros, pouco negócio, serviço ou feito. Igual erro é
Paneg.). juntar a a até; v. g.: até a o muro; deve ser
5. A fonte nasce desta pedra, e figurada até o muro; deve ser até o muro; até o campo,
mente : a má vontade nasce do coração, o ódio até as estrelas.
da inveja, do temor. 14.Se aos pronomes eu e tu se juntarem, os
6. Vamos à praça, e fig., d verdade, aofun adjectivos um ou outro ficam os pronomes
do das coisas; a demonstrar; a adivinhar; indeclináveis ou nestes mesmos casos; v. g.:
etc.
por outro tu, com outro eu; mas si é constante
7. Parte da casa; senhor da casa; senhor neste com as preposições; v. g.: «fica homem
da matéria, da negociação, das suas paixões; tão diverso d'aquele outro si, que traz de
senhor de si. Adão» (61).
8. Não cabe em casa; não lhe cabe na ca 15. Outras preposições contam os nossos
beça ; não cabe em si, em razão humana; no Gramáticos, que o não são; v. g.: acerca,
tempo; na fé, etc que é advérbio e acima, abaixo, além, aquém,
9. Da casa para a praça, de mim para ti, da antes, ao redor, trás, diante, a par, à roda,
verdade para a mentira; de três para quatro. arriba, atrás, de baixo, de cima, defronte,
10. A ponte ata com a cidade; estai comigo; dentro, fora, depois, de fora, detrás, em
a mansidão abraçada com a caridade; menti cima, por baixo, por cima, em diante, ao
ras com verdades; com alguém: movido com diante, por diante, para trás, para de trás, etc,
a mão: com razões e carinhos, etc. onde é visível a preposição verdadeira com
11. Nestes exemplos vemos como porseme binada com o nome, ou o nome sem ela, que
lhança passaram as preposições de mostrar pede talvez outro nome com preposição; v.
as correlações entre dois termos físicos a g.: das portas afora, a dentro; por dentro; por
outros intelectuais, morais e geralmente incor- de fora; daquém para além; antes ou atrás,'
póreos. Eçtas são as preposições separadas, adiante de mim; acerca disso; depois disso;
de cujos ofícios tratarei mais nas regras da por cima do telhado; <tAo diante vos espero,
Sintaxe ou Composição, porque elas são par se diante o caso vai» (Filodemo, 2. se. 3.); de
tes conexivas dos nomes entre si ou sós ou fos em fora; a de fora dormireis; o que sinto
modificados por atributivos; v. g.: homem há- dentro em mim; etc. Ora uma preposição
— 30 —
Pn
EPÍTOME EPÍTOME
indica o nome correlato com o antecedente e acorrer, acusar, atentar, afligir, agravar e
o pede; mas não pede outra preposição. Jun arrogar-se, aluvião, assentar, etc.
to t o adj. usado adverbialmente; e assim o 21. Ante denota precedência; v. g.: ante
são conforme e segundo; v. g.: está junto posto, e prioridade, antecedência; v. g.: ante
(em lugar junto) da Igreja; isso é conforme passado, antecedente, antevidência, anfecuco (63).
à Lei; salvo conforme aos gátrulos trovistas; 22. Anti denota contrariedade, oposição;
i. é, salvo julgando de modo conforme aos v. g.: anticristão, antipapa, antiscorbútico.
gárrulos trovistas: conforme aos princípios da 23. Co, com, con, de cum, latino, indica rela
Fé: julgamos tudo conforme ás paixões (Vj. ção de companhia, concomitância; v. g.: coo
Paiva, Sermões, T. i, /. 82. 95, 96. Vid. do perar, obrar com ontrem; composto; confor
Arceb., L. iM c. 12, e L. 2. c. 22). Segundo é ou me ; cônjuges; etc.'
tro adjectivo usado ad. erbialmente; v. g.: 24. De, des declaram termo, donde se apar
fareis segundo virdes; i. é, do modo segundo ta; daqui desvio; desviado; desgraçado; des-
for o que virdes: segundo a Lei, i. é., do modo valido; apartado da graça, do valimento, etc.
segundo a Lei manda; segundo o que me di- Por isso des indica geralmente privação, mu
zeis, devo obrar*, i. é, devo obrar do modo se dança; v. g.: desmaiar, desanimar, etc, de
gundo é o que me dizeis. Os nossos maiores portação, derretido, devolvido.
disseram a segundo, i. é, a modo segundo; 25. Dis indica variedade, diversidade de
«a segundo a policia Melindana»; «ar segunda partes; v. g.: disperso, esparso por várias
se vê*.(Camões, Lusíada*, VI. 2, 23 e VII. 47. partes; distribuir a vários; dispor plantas em
Elegiada, c. 5.,/. 331). Adornado segundo seus vários lugares: dissentir; discordar; delapi
costumes e primores (Lus.), L ê, segundo são dar, perdido o s., como em diverso. Alguns
seus costumes: «As coisas todas a aparência confundem dis com des ou de, e dizem disfor
tem. Segundo os olhos são, com que se vem». me, disgraça, por desforme ou deforme, sem
(Lusifan. Transf.,f. 124. Vj. Vida do Arceb., forma, desfigurado, e por desgraçado.
L. 4., c. 5. Secundo eram as casas). 26. Em, de in latino ou en, denota lugar
16. Enfim tudo o que não faz variar os no para onde ou aonde se está. Empregar em
mes eu, tu, ele, em mim, ti, si, não é pre alguma coisa; endividar-se em tanto; em-
posição (62). boisado, arcado da feição da boiz do caçar;
17. São, pois, as verdadeiras preposições enlevar-se, etc
portuguesas a mim, ante mim, apôs mim, 37. Entre de inter; v. g.: Entreter-se em
até mim, contra mim, de mim, em mim, alguma coisa, por ter se entre as partes, cui
entre mim, para mim, por mim, per mim, dados de ela; interpor-se; intermissão.
per si, sobre mim, sob mim, perante mim e 28. Ex indica o termo de onde; v. g.: Ex
desde mim, são duas preposições em uma, trair, tirar de alguma coisa; extracto, tirado
per e ante, dês e de. Comigo, contigo, de *, exigir, pedir de alguém; exportar, tirar
consigo, connosco, convosco. do porto em fora. extra, fora, além; v. g.:
18. Temos outras preposições combinadas extraordinário, extravagante; fora do ordiná
com nomes, com adjectivos e verbos, que tal rio, que vaga fora da colecção ou do proce
vez influem na sua significação, e se dizem der comum.
inseparáveis, e são de ordinário tomadas do 29. In designa lugar para onde; v. g.: Im
latim, de que darei alguns exemplos. De a e portar, trazer ou levar para dentro; induzir,
vante formamos avante, e derivamos avanta- guiara alguma acção; influir, inspirar, soprar
gem, etc; de de e redor fizemos derredores: em alguém. Outras vezes o in indica priva
«Os seus arredores (arredores de a e redor) e ção; v. g.: inábil, inepto. In muda-se em im,
desertos ficaram santificados», Feio, Traf. 2, imóvel; em il, ilícito; em ir, irracional.
dos santos inocentes, f. 46. Vejamos as insepa 30. Ob designa o que está defronte, diante,
ráveis tomadas do latim, que muitos não estu para onde se olha; v. g.: observar, obstáculo.
dam a quem importa entender isto. Ob muda-se em oc; v. g.: ocorrer, ocupar;
19. Ab ou abs denotam lugar, coisa donde em op; v. g.: opor oposto, etc.
se aparta; daqui abrogar ou rogar que se tire 31. Per indica o meio, espaço; v. g.: perpas
a lei; abster-se, ter-se longe,apartar-se;abstê sar, passar por alguma coisa, aolongo de ela;
mio, àbstinente, ábsente, corrupto em ausente. permeiar; pertender. Também indica acaba
20. Ad designa termo, lugar para onde se mento; v.g.: perfeito; completamente feito;
acbega, ajunta; v. g.: adjunto, adventicio, pertinace, acabadamente, mui tenaz; perspi-
advérbio, admoestação. O ad muda-se em ac, cas; perdurável; perturbado; etc.
ai, af, ag, as, ai, ar; v. g.: em acomodado, 32. Pos indica posterioridade; v. g.: pospor,
— 31 —
0S\
pôr depois; posterior; postergar, lançar após indica a correlação de negação entre as sen
ou atrás das costas: a pospelo, contra o pêlo tenças.
(contrário de ai pelo) mal transformado em 2. Em «Pedro é bom, mas inconstante», mo
passapelo (M). dificamos com mas a asserção da bondade, a
Pre indica precedência em ordem, lugar, que parece põe modo a inconstância. «Irei,
poder, tempo; daqui presidência, presumir, se vós fordes»; se indica a correlação hipoté
tomar antes para si; pressupor, prever,pre tica ou condicional da sentença principal irei,
domínio; etc. com a hipotética subordinada a ela.
34. Pro designa o lugar onde, a presença; 3. Assim as conjunções indicam os modos
v. g.: proposto, posto aí; promessa, expressão de ver da nossa alma entre diversas senten
da vontade posta no negócio; propósito, aten ças, os quais às vezes se expressam por mais
ção posta em alguma coisa. de uma palavra; v. g.: amo-vos; contudo não
35. Re indica repetição; v. g.: reimpresso, sofrerei esse desatino; farei isso, com quanto
revender, repor ; sou vosso e revosso; às vezes me custa; em que lhe pese.
vale o mesmo que retro para trás; v. g.: repul Os gramáticos contam várias espécies de
sa, repelir, recambiar, rebolar, rechaçar, relu- conjunções, a saber:
ciar, etc. Repiar a carreira; alter. em arrepiar, 4. As Copulativas ou que ajuntam as sen
etc tenças em uma, são: e, outrosim, também.
36. Retro, para trás; v. g.: retrogradar, vol Item latina adoptada (tfT).
tar atrás, desandar; retrógrado, movimento, 5. As disjuntivas: nem, ou, já, quer.
desandando. 6. As condicionais: se, senão, com tanto que,
37. So, sob, soto, sttb, debaixo, v. g.: socolor, sem que, com quanto, nestas muitas limitam.
sobordinado, sotoposto, subtrair. O ob muda-se 7. As causais: porque, pois, por onde, por
em oc em socorrer; em or em sorrir em os quanto.
em soster; em o em sopena; em up, v. g.: «as 8. As de concluir e inferir logo, portanto,
supostas chamas». Sotopiloto alterou-se em pelo que, assim que.
sotapiloto, ou piloto subordinado ao primeiro 9. As comparativas; v. g.: assim, assim
piloto í65). como, bem como. Os antigos escreveram assi.
38. Sobre em cima: sobrepor; sobrestar, estar 10. As adversativas, que modificam por
em cima, assentar-se e fig. parar; v. g.: sobres oposição: mas, porém, posto que, com quanto,
tar no negócio, na execução, que o vulgo diz suposto, todavia, ainda assim, etc. Porém,
substar, sustar e até já passou assim para as abrev. de por ende, usou-se como advérbio,
leis (66). por isso, polo que: «porém mandamos», pelas
39. Estas preposições de ordinário fazem causas ditas (do latim ptoinde).
ajuntar outras semelhantes aos nomes que 11. As conjunções condicionais, permissi
os verbos e adjectivos compostos regem; v. vas e outras, geralmente fazem usar os ver
g.: consultar com alguém; contrair com ou- bos no modo subjuntivo; v.g.: «irei se fordes;
trem; composto com a má fortuna; influir em contanto que ele também vá* ; desejo, quero,
alguém; atender a, atentar a tudo; descender mando que va; não creio que tal faça, etc.:
de algum, etc. Mas isto tem muitas excepções, Mas o que dirige os modos dos verbos é o
que o uso e leitura ensinaram, e, na dúvida, o modo de pensar, que queremos exprimir; as
excelente Dicionário Português da Real Aca sim dizemos: se tu vais, eu também vou; e
demia das Ciências de Lisboa mostrará as todas as asserções directas e absolutas são
preposições, que se usam com os adjectivos do modo indicativo; as uniões de atributos
e verbos e supre mãito bem a uma leitura verbais subordinadas às asserções principais
comparativa dos Livros Clássicos, que nem vão ao subjuntivo; v. g.: desejo que vás, ou
a todos é fácil. a tua ida; eu o diria, se soubesse, etc, e por
aqui se vê que diria, faria, iria e semelhan
Capítulo YIII
tes são variações indicativas e nãosubjunti-
DAS COJrJTCWÇÕES vas; disse que viria, que veria o que havia de
fazer, por ia vir, ia ver.
1. As conjunções atam as sentenças que têm
algúa conexão ou correlação entre si, de Capítulo IX
semelhança de juízo, de oposição, de modifi
DAS I.YTERJEIÇ0ES
cação. Em «Pedro«João foram à caça» a con
junção e indica que vou afirmar o mesmo de 1. Paixões violentas exprimem-se em uma
ambos: «Nem Pedro, «em João tal fez» ; .nem ou poucas palavras, as quais eqüivalem a
— 32 —
EPÍTOME EPÍTOME
uma sentença; v. g.: ai, tenho dox; guai, com De pedir atenção aos objectos, ou de os
padeço-me, lastimo; uií admiro-me. Ai, guai, mostrar; v. g.: eis; de excitar, alerta (do ita
ui são interjeições ou palavras arremessadas liano alVerto).
entre as da linguagem analisada, para expri 3. Assim é advérbio comparativo e não in
mir as paixões. terjeição: «Assim te eu veja Rei, como me
2. Às vezes se completa o sentido da sen dês o que te peço»; eqüivale a: «Assim de
tença começada a exprimir pela interjeição, sejo, que eu te veja Rei, como desejo queme-
com outras palavras. Ai, v. g.: significa dês, etc». O muito desejo do bem, que afir
eu tenho dor; se lhe ajuntamos de ti (ai roamos aqueles a quem rogamos, excita a sua
de ti) indicamos o objecto da dor, ou a benevolência para nos cumprir o outro dese
causa (<*): «Hui por mi e pela minha vida!» jo acerca do que se lhes pede. Outras vezes
(Ferr., Bristo, 2, c. 8); «Hui tanta diligência se usa em frases assertivas:
tão perdidol», i. é, eu lastimo tanta diligência
etc (Ferr., Eleg. 1) ou dói-me tanta diligên
Assim me veja eu casar
cia etc, como «dói-me ver estas coisas». Des
Como despida em camisa
tas palavras contam-se várias espécies, que
Se ergueu por vos escutar
mostram os afectos seguintes:
De admiração: ah, oh, ui.
Deexcitar atenção: d, Siu, Cê, Ah, hum, Ah. (Camões, Filod.)
De dor: Aif Guail Ui, ou Hui/
De espanto: Am, Oh, Aprel Hum, tu tens i. ê, assim, ou tanto desejo ver-me casar,
siso? (Ferr , Cioso). como é verdade, que despida em camisa se
De desejo: Oxalá, Oh!. ergueu para vos escntar (w).
De excitamento: Olá, eia, sus, ora-sus. 4. Assim! dizemos ellpticamente; por, é
De silêncio: Tá, Siu. possível isso assim, como o dizeis 1aqui mes
De aversão: Irraí mo é advérbio comparativo e não interjei
De derisão: Ah ah ! ção.
(*) Donde se vê que a sentença é proposi de hoc die, ogano de hoc ano; boa mente de
ção ou exposição com palavras do que passa bona mente; etc. Outrem outra pessoa; nin
na nossa alma, quando julgámos ou quere guém nenhuma pessoa (de neminem latino, de
mos; numa palavra só, como amo, amas, nemo homo).
amas tu; ou dividindo e analisando o que (5>. Os substantivos próprios de coisas, que
elas contêm por palavras equivalentes: eusou existem por si, significam obscuramente um
amante; tu és amante; tu sê amante. sujeito, ou base de atributos individuais ou
(*) Não amo, é, existo não amante, sem comuns aos indivíduos de uma classe, gênero,
•mar: «A Egípcia foi bela e não-pudica, ou espécie e por isso se chamam concretos, à di
impudica* existiu uma beleza, e sem pudici- ferença dos que significam os tributos sepa
cia. «Não sofre o peito forte» o peito forte é rados pelo nosso entendimento das coisas em
insofrido, intolerante, não-sofrido. O verbo que estão e se dizem nomes abstractos; i. é,
sempre afirma a existência do objecto e o separados de qualidades separadas dos indí-
atributo, que a negação exclue ou nega: não duos.
fiquei bom, não nega que fiquei, mas o modo, (6> Eu indica mais e melhor o indivíduo que
i. é, fiquei nâo-bom, sem bondade fisica ou afirma de si alguma coisa, que o nome pró
moral. «Não fiquei homem, não; Mas mudo e prio do sujeito o qual pode ser ignorado da
quedo, E junto de um penedo, outro penedo» pessoa a quem falamos; e ao mesmo tempo
(Lusíadas), i. é, fiquei não homem, não (sem que individua tanto, é comum a todos os que
esforço: ser homem), mas um penedo (sem o dizem de si. Tu quase sempre requer nome
sentimento) junto de outro penedo (o Cabo adjunto, quando há várias coisas ou pessoas
cm• W o gigante se finge transformado). presentes a quem falamos; v. g.: Tu só, tu
(3) Os adjectivos articulares indicam o modo, puro amor, etc
em que a alma vê a extensão individual dos f7). Se alguém fala a si mesmo trata-se como
nomes gerais de classes, gêneros, espécies, i. a segunda pessoa. Sócrates (dizia ele entre si)
e, a quantos indivíduos se estende a significa conheces o teu engano? Se fala de si pelo seu
ção do nome; a sua extensão. nome próprio, considera-se como terceira
>l*) Os advérbios são destas palavras com- pessoa; v. g.: Sócrates ("escrevendo a outrem)
l»stas, v. g.: agora de hac hora latinos; hoje vos envia saudar; ou eu vos saúdo.
— 33
XII
EPÍTOME EPÍTOME
(8). Os gramáticos dividem os nomes em (u). A natureza do artigo parece que foi
colectivos, partitivos, etc, mas todas as divi inteiramente desconhecida dos nossos gra
sões, que fazem, não influem nada, nem ser máticos, um dos quais diz que dele usamos
vem na composição gramatical, senão o que antes dos nomes próprios; v. g.: o Tejo, o
vai no § i. do Liv. II, C. I. na nota. Mondego, porque soaria mal dizer; v. g.: eu
(9) Quando o nome individual não basta, navego Tejo; navego Mondego. Mas dizem os
usamos do artigo posto com alguma circuns nossos poetas: Tejo leva na mão o grão Tri
tância individuante; v. g.: Lúculo o rico; D. dente (Ferr. Egl. 1 personificando o Rio). Ou
Jorge de Meneses o Baroche; D. Sancho o viu-o o monte Artabro e Guadiana atrás tor
Capelo; D. Afonso o Bravo; Catão o Major: nou as águas de medroso» (Lusíada); entre
aliás dizemos Catão Ulicense, que não se con Tejo e Guadiana (Ulisipo, Com , f. 352). «Da
funde. núbio enfrea* (Camões Eel. 1), o Sorga. Ou
(íOj Assim lemos nos clássicos de Ásia, de tro gramático nos diz, como advertência sua
Egipto, de Etiópia, de Grécia, de Melinde, de mui especial, que de é artigo às vezes; mas
„ frica sem artigos; e logo que o nome ê de sempre foi e é uma preposição; e esta
muito usual perde o artigo. Antigamente di falsa noção veio-lhe de ler em alguns gramá
ziam-se o Pombal, hoje o Marquês de Pom ticos franceses que du e des são artigos, no
bal; o mosteiro das Celas (junto de Coimbra), que eles erraram; porque du eqüivale a de
hoje dizem todos: fui a Celas, venho de Celas; le, des a de les, isto é, eqüivalem à preposição
dantes dizia-se, o Secretário do Estado da de, e ao artigo le, ou les no plural (Vi. Gram
guerra, dos negócios do Reino, etc, hoje o Se maire Générale et raisonnêe, chap. 7. Des Ar-
cretario de Estado (V. do Arceb* L, 6, C. L, no ticles, pdg. 96 e 105. édit. de 1780). O nosso
fim, e Orden., L 3, T. 5, princ. e § 7); Lucena Barros também desconheceu a natureza do
diz de Japão, em que tantas vezes fala; e di artigo e chama d'os e d'as artigos, que são
zemos de Torres Novas,de Alhos Vedros, etc. combinações da preposição de, com os artigos
o Rio de Tourões; e na Lusíada, IV, 28. vem os, as, como é visível. Duarte Nunes de Leão
Guadiana sem artigo; Douro, e Tejo com ele. atinou melhor; compare-se o que ele diz na
Veja-se toda a égloga 1, de Ferreira, e Lusi- Ortografia, a /. 306, com a Gramática de Bar
tan. Transf., f. 131. Palmeir., p. 4., /. 25 v.; ros a f 99, 100 ; e Ia Grammaire Générale et
«pelo rio Tejo acima*. raison., p. 105, et pag. 459, (édit. de 1780, à
(li). Este modo de usar da palavra homem Paris) et 478,479, Condillac, pag. 164. Os arti
imitámos do Francês antigo hom, que se cor gos não mostram casos dos nomes, que os
rompeu em ow(Vj. a Grammaire Généraleet rai- não têm, nem se ajuntam a eu e tu que os
sonnre, Pari. 2, chap. 19,pag. 574, e Condillac, têm; o gênero de nome governa o do artigo e
Grammaire, chap. 7, pag. 125, edit. de Genève, não o artigo ao gênero do nome, pois o subs
1780). «Cá sem razão seria ao aflito acrescen tantivo governa as variações do adjectivo res-
tar hom aflição» (Ord. do Snr. D. Duarte). pondentes aos gêneros e números, dos subs
Neste sentido o dizem as mulheres de si. Vj. tantivos. Na lingua latina a falta do artigo
Camões, Anfitriões, A, 1, Sc. 2; «Há-os homem simples dava ocasião a modos de falar equí
de trazer nos amores assi mornos», e no Filo- vocos; v. g.: «f-ilius Dei tu es» que pode si
demo, A, st, c. 5; Barros, Clarim., L. 2. C. 22, gnificar: «Tu és filho de Deus* e «Tu és o fi
Ulissipo de Jorge- Ferreira, /. 38; Inedit. tom. lho de Deus*, duas sentenças de mui diverso
3,/.,6. «Homem não pode jurar por ninguém». sentido; porque a primeira pode dizer-se de
(Eufros. 1, 6, f. 52; V. A, 3, Sc. 1: Ferreira, todo homem justo, por graça de adopção; a
Comédias, f. 24, 31, Ulisipo Comed. f. 118 e segunda só do Unigenito de Deus; «Se és o
191, ediçõs ult.). Os editores ignorantes acres filho de Deus desce agora da Cruz».
centaram o artigo em semelhantes modos de (t8), «Eu só com meus vassalos e com esta*,
dizer, o que não vem' nas antigas edições. diz o imortal Condestável na Lusíada; mas
— 34 —
EPÍTOME EPÍTOME
como esta não é pronome de espada (mais do rio disse: Lavinum Valerigenus,undeSuper-
que de rasão, casa, porta, etc), o poeta acres bus regno pulsus fuit, e Terêncio: e Latrôni
centa o verso: «E dizendo isto arranca meia bus, unde emi; unde por ex quibus; e Philoso-
espada*, aliás esta podia referir-se a mão e Phos domi habuit, unde disceret, etc, por e
a mil nomes femininos. Por estasse jura,pro quibus disceret. V. Lucrei., L. IV, v. 1041.
mete, levando a mão á barba, porque as bar (15). Este superlativo é clássico; mas de
bas, a que se levava a mão, caíram em desuso comum usamos de óptimo tomado do latim
entre nós, ao menos os seculares. Isto, isso, bônus, melior, optimus, alterados em bom,
aquilo, dizem alguns gramáticos, que são va melhor, óptimo. Assim dizemos sumo por o
riações neutras de este, esse, aquele. Mas isto, maior de todos; v. g.: o sumo bem e ínfimo,
isso, aquilo, nunca se ajuntam a nomes ou intimo, último, extremo.
substantivos, antes estão por si sós na sen (w). Camões disse que o ser preso de tão
tença, v. g.: isto, que aqui tenho e não sei ou formosos olhos, cantá-lo bastaria a contentar-
não quero nomear; isso, que aí tens contigo -me; e Jorge Ferreira, na Ulisipo, act. 5, se.7:
e não quero ou não sei nomear; aquilo, que «Pessoa eseréo de Florença, para um Prín
além vês, que é? isto, isso, aquilo é lindo! cipe a toma por mulher». Cantá-/o, i. é, can
concordam com lindo na forma masculina. tar o ser preso; ser é o de Florença, i. é, o ser
4E temos nós variações adjectivas para nomes de Florença.
neutros, que não conhece a nossa língua? (l7). Em outras línguas os nomes e adjecti
Um a, um b, não têm diferença sexual ou ge vos têm terminações finais diversas, a que
nérica, contudo dizemos um a, um b, não chamam casos e são mais ou menos; nas lín
como um homem, um boi e um pomo, que guas vivas pela maior parte só têm casos os
também é masculino e sem sexo: «Mas isso, nomes respondentes a eu, tu, ele, e alguns
(assi não fosse ele verdade!) sabei, que amor adjectivos articulares possessivos.
usa de manha» (Sá Mir.). «Não pudera isto (18j. Heit. Pinto, D. da Relig. c. 3:«Em mim
tão facilmente desejar, como lhe ele sucedia» ha dons eus, hum segundo a carne, outro
(Clarim. L.1, C. 1.). Nestes exemplos, ele, mas segundo o espirito».
culino, traz à memória e refere-se a isto e (w). Vj. a Gramática de Barros, pag. 97. e o
isso; logo ou ele é neutro ou isto é masculino. Dial. da Viciosa Vergonha, /. 304. Os antigos
Por onde devemos concluir que isto, isso. disseram meles de mel. Inéditos, 2, pag. 116.
aquilo, eqüivalem a vários elementos da ora J^). Duarte Nunes de Leão, Ortogr., f. 315 e
ção; tsto a, este objecto próximo a mim; isso a ferreira, Carta, 9, do L. a, trazem no singu-
esse objecto próximo a ti ou que nomeaste;
aqutlo, aquele objecto remoto. Assim mesmo v? \rx!èx e Leon' da Cosia> Terenc, tom. I, f.
outrem, quer dizer outra pessoa, ninguém, ne- XLVIII; «.da fes* e «os Atenienses untavam
nhua pessoa, isto é, eqüivalem a nomes com o rosto com feses»; «a quem te não roga, nem
binados com arttculares: «Bem sei que outrem voga, não lhe vás à ooda*, Farello, Mend.,
ninguém pode valer-me» (Lobo, Peregr) Vi Pinto, c. 104; «para mal de costado é bom o
aqui o cap. 4, § 2, n. 15, nota (33). «De nin abrolho» (Eufr. 2, se. 4); «Dar-te-ia o Pai boa
guém outrem se poderam aceitar suas coisas». alvissara* (Ferreira, Bristo, 5, se. 3) o bofe;
Wltstpo, 3, Sc. 2). Tudo não é variação neu esta víscera; prece é pouco usado.
tra de todo, mas uma palavra que significa (n). Todos os clássicos disseram as bênçãos
toda coisa ou todas as coisas; v. g.: «tudo do Céu (Sousa, V. do Arceb., I, 4, c. 15, Ele-
nesta casa respira governo e ordem»; «tudo giada, f. 283) e os clássicos disseram benções
da Igreja (Ined. 2, pag. 123), que hoje dizem
três»"1 ' ° Sã° deseracas e desas- bênçãos, peões, de pedones bárbaro, é mais
(»M. Em Português dizemos: «aqueles donde usual, quepeães; «inúmeros fieões* (Lusíada)
venho», por de quem descendo, como Horá peães é variação feminina tVj.: Eufros. A. 3.
c. 2, 115; *as outras peães) e será peões para
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jps
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EPÍTOME EPÍTOME
homens; aldeão, aldeães, os Caos perto de Lis (Os escritores modernos dão geralmente ao
boa ; os velhos encanecidos com cãs: «velhas adjectivo, nestas expressões figuradas, o gê
cãs; palavras cãs, mui idosas, antigas. Alão nero do substantivo ; assim: aquela fonte de
tem no plural alâes, alãos e alões. Vj. o di sabedoria, Sócrates; aquela grande imagina
cionário. ção, Shakspeare. Em muitos casos hesita-se
(»), £«cm é singular e plural: obram como no gênero; isto dá-se com o nome dos navios,
quem são: Quem eram? (Lusíada, i. 50). MV vapores, etc).
guèm no figurado: «são uns ninguéns*; al í28). F. Mendes, c. 107: «uma Roma, uma
guém, outrem não se usam no plural. A ana Venesa, uma Consfantinopla, um Paris,
logia da nossa língua na corrupção dos vocá um Londres».
bulos latinos, que têm n entre duas vogais, é (w). A plebe diz certas tafulas, devendo
tirá-lo, fazendo nasal a vogai que precede ao dizer certas tafúis; e já se lê na tradução do
n; v. g.: bene, bêi; rationes, rasõ-es; venil, po- Gilbrás. Dizemos a juisa de irmandade e por
nil, vei, põe,; romano, romã-o, tertiawa, ter- que não diremos a monarca, como a sobe
çã-a; bono, bõ-o; luna, lü-a; por onde se vê rana, a recente, etc?.
que o til deve ir sobre a nasal que precede a (8°). Alguns dão variações em o a homicida;
última vogai, qnando se ditongam. v.g.: desejos homicido;hipòcritoverdugo; mas
(23). Outros usam felice, infelice, felices, in- é impróprio: «Ferro homicido passa ao Rei
felices; feroses e feroces; atroces, etc. homicida* é uma incoerência, sendo ferro e
(»*). Os clássicos usaram os plurais alfere- Rei masculinos (Elegíada, f. 19).
ses, ourives', simplices, simples; caises. (31). Nos livros clássicos e nas leis vemos
(*3). Couto^ 8, c. 33: cvieram muito gentil fiador masculino e feminino e assim prega
homens* (Vieira, Carta 107, tom. 1; «parece dor, autor, servidor, devedor, inventor, senhor,
remos pouco gentil homens a essa Senhora»; juis; v. g.: eu sou májuis; infante. Mas já
mas dizemos os gentis homens da Câmara, os clássicos mesmos disseram moradora, tra-
Arrais, D. 9, c. 3 e Couto, D. 10, L. 4, e. 1), gadora, etc. Hoje geralmente damos variações
dizem vaisvens no plur., de vai verbo e vem em a femininas a todos; e no femin. também
também verbo, declinando vais como plural dizemos a poeta ou poetisa, a profeta ou pro
de vai, segundo a analogia dos nomes e não fetiza ; o e a mártir, etc.
como é o verbo no plural, que seria vão-vem (52). Nos livros clássicos vemos femininos
e se não diz. clima, cometa, diadema, estratagema, maná,
(»). Duarte Nunes diz expressamente, que mapa, cisma ; nós dizemos o cisma do Orien
gran e sant são contracções de grande e te e «meteu-se-lhe aquela cisma na cabeça»
santo; mas a tendência da língua para fazer errônea, má opinião.
terminações masculinas em ào fez grão e são (H). «Não havia ali ninguém isenta destas
para algumas composições e conservou gran, coisas: alguém andava então bem saudosa;
e san noutras; v. g.: San-Pedro, San-João, ela é a quem amo» (Vj.: Barros, Clarim., L. 3,
San-Joaquim, San-Teimo, Santiago, San- e. 13}; «Outrem mais bem prendada*, Vieira,
-Joaneiras, etc; Grão-Turco, grão destroço, Serm., 11. 3, 3, n. 96.
£raTo trabalho, etc (Vj. Leão, Ortogr., f. 221 e (8*). E é de notar que o adjectivo, que se
238, ediç. de 1784). refere às pessoas do infinito pessoal, concor
(37). Quando se apõe um nome como atri da com elas em gênero e número, como vi
buto modificante, os adjectivos concordam com mos ; se se refere ao infinito puro, usa-se na
o principal; v. g.: «\Aquele fonte de eloqüên variação masculina singular: v. g.: o ser in
cia Túlio*, Resende, Prol. do LtlioY, «Morto finito, o ser árduo: «o sermos sós* sós con
aquele peste do Mundo Herodes» (Paiva, Serm. corda com nós subentend. (Costa, Terenc., tom.
t. 1); «Veio Francisco de Távora em a sua 2, /. 237) O ser eu cativa tua* Letrados, que o
Rei grande (se. nau)». Barros, 2, 3, 6. são fracos ( Veiga, Etiop.) o ser vista, deixada
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EPÍTOME
EPÍTOME
(Cam. Eleg. está por o seres tu, Belisa, vista, se Ia vou: se sei, etc com conjunções (Vj.
deixada (Vj.: o Dicionário, art. Infinitivo). Leão, Orig., c. 19.
(85). Sousa, V. do Arceb. 2, c. 32, diz a herege (fl)« Qaando dizemos: Venha a nós o teu
(ediç. de Paris); cafra (Castanheda). Reino; seja feita a tua vontade, faltam os ver
(**). O som nasal destes femininos assim se bos do indicativo peço, rogo, desejo, que ve
deve escrever, que termina com a boca aber nha... que seja feita, etc «Peço-vos que me
ta e não por am, pois que o m faz cerrar a ampareis, ou me matai» (Clarim, L, 2, c, 21,
boca e mais absurdo é escrever am por ão Pag. 217). Sobre os modos dos verbosveja-se
(Vj.:Barros, Gram.,f. 105 e Leão, Ortogr., f. a Short Introduction into the English Gram-
21., e seg. ediç. 1784).
(tf). Alguns dizem ainda boa, como Barros mar* Pag. 66. (Lond. 1784) not. (7) e pag. 52
nota (4).
escreveu (Gram.,f. 18e 119). C42). Os infinitos puros e pessoais são sujei
(*>). Paiva, Serm., i, 344, Eufr. a. 2, c, 1,/. tos de preposições e são regidos de preposi
53 v, e a 5, f, 183, v.; Elegiada, f. 139, v, tra ções; e por conseqüência são palavras que
zem commüa, e outros clássicos: mas geral exprimem um objecto abstracto e modifica
mente não guardaram a analogia dos adjecti do por um articular possessivo nos infinitos
vos em um; e a maior parte usam de co pessoais. Assim dizemos; v. g.: «o serem feias
mum com nomes femininos; v. g: commum não as deve desconsolar»; onde o serem é su-
opinião; mulheres comuns.
(M). «Letras conservadores de todas as boas
{'eito precedido do artigo o; e é sujeito do ver-
obras»: trazBarros no Prol. da Dec.i, edições >o deve. «Tentaram difamarem de mim, para
de 1552 e 1628, (V: Ined.3,/. 84), mas o mesmo indinarem a V. Alteza» (Couto) difamarem é
(no Clarim., L, 3) disse: a Loba marinha grã paciente de tentaram e indinarem regida da
tragadora*, e Camões; «Eternas moradoras do
preposição para: «Aquele seu dizerem e faze
Parnaso: e esta é a variação, que geralmente rem (dos antigos) não se acha nestes dias»,
se usa com os nomes femininos. Alguns di são infinitivos modificados por aquele e seu
zem à Priora das Ordens terceiras, que as donde se vê que nestas palavras prevalece o
caracter de substantivos, os quais sós são su
tem: e a Prioresa dos Mosteiro, de Ordem jeitos de preposições e regidos pelas prepo
Religiosa: foi juisda pendência a mulher do sições. E de notar, porém, que os artigos que
alcaide; porque mulheres não exercem julga se lhes ajuntam concordam no singular mas
dos, ou judicaturas, ainda que aliás sejam culino ; como com os infinitos, mas os atribu
fuísas das festas: a mentira autor de toda mal tos acrescentados aos infinitos pessoais con
dade (Eufros^ 1,4,/., 40): bom pacificador d'ar- cordam com a pessoa ou pessoas, a que se
roidos está esta (ibid., /„ 38) Eu sou ma lêedor refere o atributo; v. g.: «Presumimos de hon
de letra*irada tó 70)» Pteaáor (ibid). rados e de gente de primor; e queremos ser
(«). Os Gregos têm um òptativo próprio, lidos por esses», i. é, presumimos de ser ho
°-ue. °s Latinos não têm. Veja-se * Gram mens honrados etc, onde honrados concorda
maire Générale et Raisonnêe, Part. 2. ch, 16 modificando o infinitivo com o nome nós; e
». ^ pag. 177, édit. de Paris,1780. Os nossos assim lidos junto a ser: «O serem feias; O ser
gramáticos referem ao modo subjuntivo va de tão formosos olhos preso etc», i. é, o serem
riações dos verbos, que são do modo indica elasfeias; o ser eupreso. Assim mesmo os la
tivo, v. g: se eu amara, quisera, etc. eu iria, tinos usavam dos seus infinitivos; Nam istud
farta se pudesse: iria, viria são visivelmente ipsum non esse, cum fueris,miserrimum puto;
compostas de ia vir, ia ir, como irei, virei de (Cicer., Qucest. Tuscul., L. 1, n. 12) e Horário
net evtr, tr: tr-me-ás por irás-me, prova o disse: nescius uli; metuens contigere', recitare
que digo: tr-het, hei tensão de de ir ellptica- timentis; culpari dignos; piger scribendi ferre
menteWv; tenho d'ir. Far-me-ás pirX laborem; e outros tais helenismos muito de
rás-me é análogo e tudo do indicativo, como Horário, Virgílio e dos melhores poetas lati-
37 ,_
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EPÍTOME
EPÍTOME
nos. Vj. Severim de Faria, Discurso 2, pág. «pot eudiser a verdade», etc Acerca dos adjec
65, ult.ediç, 1791. tivos verbais em ante, ente, inte, dos particí
(4}). Os nossos maiores usaram das palavras pios e gerúndios e supinos vejam-se as notas
em ante, ente, inte, como de particípios à ma de Duelos à Ia Grammaire Générale et Raiso-
neira dos latinos; v. g.: «Eu o Conde D. João née, Part. 2, chap. 21, pag. 201 e Condillac,
Afonso temente (por temendo) minha morte» Grammaire, Part. 2, chap. 21, pag. 203, édit.
(Monarca Lus., t. 6,f. 30 v.); «Rompente o alvor de 1780, à Genèvc. Dos particípios e supinos
da manhã» (Nobiliar. do donde, f. 33.). Camões direi nas Tábuas das Conjugações, no fim
disse: «as perIas imitantes a côr da Aurora» desta Gramática.
e Ferreira: «a águia mais voante» (tom. 2, f. (45). Então é incorrecto usar do verbo na
118). segunda pessoa do singular: «Porque a vós
(«*). Na Cron. ant. do Condestável, Capit.9, vos importa seres boa*, por serdes (L. da
10, 12, 15, 59, 63, na Monarq. Lus., t. 6, /. 506 Casta, Terèncio, Heautont. At. 2, c. 4. /., 67).
e 512; em Fernão Lopes, Cròn. de D. João I, Outros dizem mal sereis, véreis, buscareis; por
e Camões, forno IV, pag. 54 e 55, ediç. de 1783. serdes, verdes, buscardes. Negar porém que os
Ulisseta, 7.0 13 e 15 vêm os gerúndios com infinitivos portugueses tenham propriamente
preposições muito freqüentemente, à imitação variações pessoais, ou sejam pessoais, é negar
do que se usa na Língua francesa; v. g.: a existência do que se vê; e nasce de se não
en riant, tout en jouant; e na inglesa; v. g.: considerar o que é essencial ao verbo; e
in acting, em representando; in raising, como dele se vão derivando palavras com
em excitando. (Vj. Special, n.° 510). Ani- plexas enquanto ao sentido, que representam
mus in consulendo liber; é de Saltust., por si sós coisas, que podemos significar por
Bell. Catil., na fala de Catão. (Vj. Tcrent., outros elementos ou partes da oração; v. g:
Andr., act. VI, v. 32, in pariundo). Na língua em tu saindo, que eqüivale ao saíres, a tua
inglesa o gerúndio serve de sujeito de prepo saída; bem como amo a eu sou amante; onde
sições acompanhado do artigo the: «the making amo significa sintèticamente o mesmo que
of -doar», o fazendo ou faser d*a guerra (Spec- analisamos com as palavras eu sou amante.
tator n.° 73). Nós dizemos semelhantemente: (Vj. Severim, Discurs., 2, pag. 65. Tom. 3, ed.
«E sabendo eles. que me hão-deacharconsigo, de 1791). O que não pode representar-se, se
quando menos o esperarem, bastará para an não por outro verbo, é a afirmação, que por
darem espertos*., onde sabendo eles está como isso se reputou entre os melhores gramáti
o saberem eles... bastará para etc, i. é, o ge cos por o caracter essencial do verbo, ou a
rúndio personalizado por sujeito do verbo palavra por excelência, porque ele só às ve
(Sousa, V. do Arceb.; Lobo, Cort.Dial., 9,/. 176; zes contém uma sentença perfeita. Vj. Har-
«porque nomeando estas partes diante das mu r'is Hermes, pag. 164. Grammaire Générale et
lheres, não è cortesia). Vj. a Ordenaç. L. 4, T. Raisonnée, Part. 2. Chap. 13. Condillac diz
100, § 5; «E que por tanto ajunfando duas que se os verbos afirmassem, nunca podería
casas e morgados em uma só pessoa, etc, será mos fazer proposições negativas; mas não
causa etc*. Vj. Barros, Gram., pag. 12, no advertiu que o não afecta o atributo anexo ao
fim. Destes exemplos temos muitos outros verbo; eu não amo é eu existo não amante; o
nos bons autores; e os gerúndios se personi verbo sempre afirma o atributo mais geral,
fiquem é vulgar; v. g.: «em eu o vendo: em tu que é a existência, privada, ou desacompa
saindo: onde a preposição em afecta os gerún nhada de outros atributos por meio do adv.
dios e não aos nomes eu e tu, que se fossem não, que se ajunta aos adjectivos atributivos,
os complementos de preposição iriam aos casos e nomes usados atributivamente: «Não fiquei
mim e ti. Assim mesmo quando personificamos homem» é «fiquei não homem* ; como Young
infinitos, as preposições não afectam os no disse em inglês: I was undone, I was unma-
mes; v. g.: «para tu saíres, para tu veres* e ed; Eu fui desfeito do ser de homem. Os
^- 33 —
Épy
0S
EPÍTOME EPÍTOME
advérbios afectam o atributo verbal; eu não quais se deviam esperar ou deviam ser espera
minto, quer dizer, eu sou, existo não-menti- dos. Quais se devia esperar é má imitação de
roso; não temo, sou sem temor, sou impávido. um galicismo correcto; on devoit les attendre
Vj. Grammaire Générale et Raisonnée, pag. ou s'attendre; onde on é homme sujeito e tem
541. Leverbe est donc lesignede l'existence, etc. o verbo devoit no singular (vj., nesta Gramá
Condillac, Grammaire, pag. 90 e Vj. aqui o tica, L. 1, Cap. 2, n. 9, o que notei acerca de
cap.6 dos advérbios. homem e on.). «Porão as penas que virem,
(*»). Assim dizemos doer-se de algüa parte que ê necessário porem-se* t correcto (Ord.
ou causa, por queixar-se; magoar-se, por di 5, ///. 136); «Fará as citações que forem rwces-
zer mágoas; mas ê impróprio dizer: «a ave- snrias fazer-se» é incorrecto (na Orden., 1,
zinha se caiu morta ou morreu-se (Vj. Men. e T. 24, § 28); «as coisas que por cumprimento
Moça, f. 9 e 153)» ; nenhüa destas acções é ê. necessário fazerem-se*, bem (Filosof. de
expontânea. Finou-se, acabou; porque finar é Príncipes, tomo 1, /. 65). Quando se apassi
activo, acabar, posto que antiquado; «ador vam os supinos, são invariáveis; vj. Vieira,
meci-me cansado» é igualmente impróprio, t. 10, pag. 228, col. 2; «Muitas estátuas de S.
quando alguém não se agita, ou faz alguma Francisco Xavier se têm esculpido, imagens se
diligência por adormecer-se : «este menino têm pintado, muitas estampas impresso»;
adormece-se cantando ele mesmo» é direito; v. g.: «Têm-se impressol ivros; sentido falta
«Eu te fico» tem diverso sentido, e é: «eu te de gente; tem-se feito muita obra; têm-se idos
fico fiador, assegurador, ou me obrigo, que muitos; é erro, mas é correcto; s<fo idos, vin
assim se faça»; onde te é termo, como lhe em dos, o verbo ser com particípios; as casas
«ludo lhe sucede bem; aconteceu-se é igualmen têm-se avaliado ou têm sido avaliadas por ve
te impróprio, posto que este e caiu-se, mor zes; são exemplos correctos porque os adjec
reu-se, e semelhantes se achem nos bons au tivos que modificvm o infinito ser e os seus
tores imitando os castelhanos, Camões na gerúndio e supino concordam com o sujeito;
ecl. 2, parece dar espontaneidade onde diz se v. g.: Dama o seres bela; em sendo minha te
emagrecem, vj. ecl. 5. Se emurchecem «meus servirei melhormente; as casas tem sido ava
olhos em ti se esquecem contemplando a for liadas. Quando se diz: têm-se feito soldados;
mosura, etc.»; vj. o art. estar-se; Eufros. 3, têm-se feito fortes. Damos dois sentidos: o
a;UUssipo, 2, 7; Camões, Son.22, 203,204; activo significando que alguns se exercitaram
Lucena, V. L. 6, Cap. 2 e 5, /. 324 e 327; exa na milícia e se fizeram fortes; outro passivo,
lar, cintilar, rutilar com pacientes ; Camões, soldados têm-se feito, ou reclutado, como «hon
Canções 7, 8, 11; desmaiar transit., Bernard. ram-se Venus e Amor com sacrifícios»; por
Lima, Eglog. 10. são honrados. Vj. o núm. 26 em cima.
(<H). Quando os verbos se apassivam de (48). Talvez se cala o infinito substantivo
qualquer dos dois modos, os sujeitos concor ser ou serem; v. g.: «de que maneira podiam
dam com o verbo em número e pessoa e escapar de mortos ou cativos!», i. é, de serem
sendo os sujeitos infinitivos apassivados, os mortos ou cativos (Jornada d'África, f. 80^;
verbos da sentença ficam no singular: «Mas «em moços lã seforam*, i. é, em sendo eles mo
nos tais casos que não podem ser senão muito ços; «em ligeiro é uma águia*, se, em ser li
raros, já que se não podem renunciar os luga geiro, etc Onde há adjectivo só com preposi
res, ao menos se deve renunciar o amor», ção, deve subentender-se nome: «segundo os
Vieira, p. 5, tomo 7, /. 230, col. 1. Assim dire cavaleiros desta casa são pouco costumados
mos vêm-se homens, como são vistos homens a ociosos*, i. é, a serem ou estarem ociosos
e não vê-se homens; porque homens é pacien (Palmeirim, p. 2, c. 134).
te aqui e qual será o sujeito; sem o qual não (i9). Haver sempre é activo e nunca signifi
se dá sentença perfeita? «Osprogressos foram cou existir como dizem Argote e outros. Tan
quais se devia esperar» é erro, deve ser: to é incorrecto dizer —Ad homens—por existe
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EPÍTOME
(fp\
homens; como supor que na significação de ções que se deram dele *, todavia o seu carac
ter é idiotismo português concordar com su ter essencial e distintivo é significar o que a
jeitos do plural. Há homem é uma sentença nossa alma pensa acerca das coisas e seus
elíptica, com sujeito do singular, L é, o mun atributos. Em outras línguas têm os verbos
do, a espécie humana tem homens: «\nesta ter variações derivadas da mesma radical, para
ra há boas frutas*, i. é, a espécie das frutas lhe dar um sentido dobradamente activo; ou
(ha) tem, contêm: «em mim há dois eus*, i. de uma acção reflexa sobre o sujeito mesmo
ê, o meu indivíduo sujeito, suposto coutem etc, têm variações, que indicam o sezo do
dois eus: «Duas coisas se hão-de notar no sujeito e compõem-se mesmo com a negação
texto», i. é, duas coisas hão lugar de notar-se etc. O mais notável é que em muitas línguas
no texto: «hão na lógica outros termos*, é er falta verbo correspondente ao substantivo ser,
ro, porque o sujeito próprio desta sentença é: como é na Chinesa e na dos índios Galibis e
Linguagem Filosófica ou Científica há ou tem na língua geral dos Brasis; e quando querem
na Lógica outros termos. «Pode haver homens afirmar ajuntam o sujeito ou nome com o
tão grandes, como os que já foram», i. ê, a adjectivo; v. g.: «Francici irupa*. Franceses
espécie humana pode ter homens, etc. «Re- (se. são) bons; e negam por meio do advér
pugna haver em uma alma, ao mesmo tempo, bio; «Francici irupa ua; literalmente; fran
duas consolações contrárias», i. é, é repugnan ceses bons não, sem verbo. (Vj. Harris's Her
te ter a natureza humana em uma alma, ao mes, pag. 164, Grammaire Générale et Raison-
mesmo tempo duas consolações contrárias. nêe, Part. 2, th. 13, Encyclop. articl. Construc-
Todas as vezes, pois, que o verbo se usa no tion, par Du Marsais. A teoria dos tempos
singular, deve suprir-se a sentença com um dos verbos assaz engenhosa, mas difícil na
sujeito no singular; porém, quando o sujeito Gram. Génér. de Bausée, acha-se mais simpli
é do plural, o verbo haver vai ao plural; v. ficada no Hermes de Harris, L. 1, c. 8.
g.: «homens que hão visto, .que hão de sa (W). Procede isto de que o presente compõe-
ber», i. é, que hão rasão, ou motivo de saber, -se de parte do passado, do mesmo que corre )
etc: «artes, que os homens, os maus hão in e do que vai à passar; ou porque damos uma
ventado» ; «Após mim não há outro mim certa latidão ao tempo do momento, à hora
(Men. e Moça, L. x, c. i8)>, i. é, depois de presente, ao dia de hoje, a este mês, a este i
mim (por minha morte), o mundo, ou a espé ano, a este século e em fim à eternidade.
cie humana não ha (tem, possui) outro eu. Vj. Assim é impróprio dizer: das máximas sem
o cap. 7 das Preposições, nota (61); «Os ho pre verdadeiras e perpétuas, com as lingua?
mens que há visto o mundo»; o mundo ê su gens do imperfeito; v. g.: «dizia um Sábio,
jeito e nunca homens ali o pode ser; ao con que o bom Rei devia ser um bom pai», dizia
trário de: «Os homens que hão visto o mun está bem*, mas houvera dizer deve; porque o
do civilizado; a ceia, que esta noite haveis de bom Rei em todo tempo deve ser bom pai;
haver*, i. ê, tendes destino ou sorte de ter etc*, «Dizia ele, que não havia mor vileza, que
(Clarim., 2, c. 23). Vj. abaixo o cap. 7, nota ser avaro», deve ser, que não há; porque é
(61); «Razões poae haver tão urgentes», i. é, uma verdade moral perpétua, ou que se in-
alguém pode ter razões, etc. Vieira. Serm., culca como tal. «Afirmava não existirem antí-
tom., 7, parte 5, /. 230, col. 1; e esta é a frase podas», é correcto, porque os infinitivos não
correcta, quando se fala em gerais; razões referem o atributo a época alguma, i. é, afir
podem eles ter, é igualmente correcto. mava a não-existência dos antipodas.
(50). Do que fica dito se vê que o verbo ex (M). Alguns pretendem que mente vem do
prime juntamente o sujeito, a asserção ou de Latim mente, bona mente; outros que do Cél-
sejo, o atributo e o tempo, a que referimos a tico ment, que significa modo. (Bullet, Mémoi-
sua existência e que tem uma significação res sur Ia Lanque Celtique, article Ment.).
muito complexa. Daqui as diversas defini Como quer que seja, latino ou céltico, mente
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EPÍTOME EPÍTOME
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áüt
áÊ\
EPÍTOME EPÍTOME
Tribunal Divino», Leão, Cròn. de D. Dinis, f. náutica; v. g.: galeote, comitre, gúmena e ou
32. Vj. no Dicion. o artigo ante. tros (Vj. Severim, Noticias, Di>c, II, § XIII).
(«1). «Ajuntai-me dita e saber, vereis um eu», (*"). E com sentido absurdo, porque substar
e não um mim (Ulisipo, A. 5, se 6). O que é estar debaixo da lei ou execução; assim
com outro eu somente ousara (Ferr., Carta 4, mesmo dizem desfeiar, desfazer, diminuir a
L. a); Por outro tu teu filho (id., Castro); vj. feialdade. Vj. Crus, Poesias, Egl. 10. «^Queres
Caminha, Ode 3. Todavia dizemos: andas tão que nosso canto sobresteja em quanto vou
outro de ti. Heit. Pinto disse: apartado da buscar que cozinhemos? Neste sentido não
quele outro si, que trás de Adão: e na Men. e há exemplo clássico de substar senão de so
Moça vem (L. x, c. 18); «qui após mi não há brestar. Vj. Orden., 3, 20, 26; Arrais, 3, ca.
outro mi». Este último exemplo mostra que (57). Que é o articular usado com elipse de
há significa tem e não existe; aliás dir-se-ia: verbo: «Digo que és bom; i. é, digo isto, que
não há outro eu, como não existira outro eu é, tu és bom: «quero que venhas», quero isto,
lá anda outro eu, outro Sósia (Anfitriões). que é a tua vinda ou o vires.
(5<). Já apontei que isto não se entende, (50). Assim mesmo dizem os Latinos Vcee
quando eu e tu se ajuntam aos infinitivos tibi, ai de ti, vcee vobis, ai de vós, por onde se
pessoais e gerúndios, regidos o infinitivo e vê, que as interjeições pedem ou regem o seu
gerundio de preposições; v. g.: para eu ir complemento ou as palavras, que completam
contigo: em tu saindo. Toda preposição deve a sua significação. (Vj. Barros, Gram.,f. 160);
ter depois de si nome claro ou oculto, que é «Aí de ti* dirão que é «por amor de ti»; mas
o segundo termo em relação com o antece quem rege a por amor? ou a quem serve por
dente ; e todas as palavras acima apontadas amor de complemento, senão a ai, tenho
se usam adverbialmente, com nomes depois, dor? Os gramáticos gregos confundem os
regidos de outras preposições ou sem outra advérbios com as interjeições, mas estas eqüi
regência; v. g.: estavam mortos ou acerca valem a uma sentença perfeita com verbo, os
(ou quase). Nestes casos a preposição afecta o advérbios a uma frase modificativa do atri
infinito e o gerundio personificados por eu e buto verbal, de adjectivos, e nomes atribu
tu, como, v. g., em de tu saíres, para tu ires, tos.
em tu saindo, em ele saindo, em eu saindo.
(03). Barros confunde ante, que é preposi (G9) Assim, ó Thais, os Deuses bem me queiram.
ção, com antes advérbio. Vj. Gramática,/. 296, Que já te quero bem:
e noutros lugares; f. 45, ante Deus, e ante do
prefaco. (Costa, Terenc. Eunuch, A. 5, se. 2).
O*4). De ai pelo se derivou a f>elo, oposto a
apôspelo. Vj. Crus, Poesias, Egl. 10, /. 66. Assim ou tanto é certo, que te quero bem,
«Que a pelo me não falta na amizade, etc», i. quanto desejo, que os Deuses me queiram
é, lisa, direita e não revessamente; outros in bem. Veja se o índice di Lvsitãnia Transfor
terpretam a pés e pêlo descalço, ou a pé e nu; mada, nova ediç., art. assi. «Peço-vos, Senhor,
ou mal roupado: «A pesepelo vir da sua al assi Deus proveja sempre com prosperidade
deia», (Garção, Epist. 2, vem errado apassa- vossas coisas, que me queirais ajudar» (Bar
pelo). ros, Clarim., 1, c. 6). Ptço-vos exprime clara
(55). Assim mesmo se diz só/avento, por so- mente o desejo, que vai por elipse nas outras
tovento, do italiano soto. Todos sabem que sentenças. «Assim sejas de Filis sempre amado
os Peçanhas, primeiros almirantes do mar e como ou que me digas os versos, que cantaste»,
sua tripulação, que eles assoldadavam, eram assim desejo (tanto), que sejas sempre amado,
italianos, donde ficaram termos italianos na como desejo que me digas, etc.
42 —
ás*
LIVRO II
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á§N
conexões entre os nomes e os adjectivos, e junto dos nomes a que pertencem; v. g.: alguéi
os verbos se dizem Sintaxe de Concordância. o nobre marido da Senhora; o marido da nobre ta-se
ii. As outras correlações entre os nomes e Senhora; a casa ou casas, prestes de tudo. «Mon
e nomes mostram-se: i.° variando a termina 3. A relação que há entre o nome sujeito si m<
ção do nome correlato com o seu antece da preposição e o verbo dela mostra-se res» j
dente e isto principalmente nas línguas, que usando do verbo na variação pessoal e no 4- |
têm casos; 2.0 por meio de preposições que número correspondentes à pessoa do sujeito verbí
indicam a correlação, que há entre os nomes e ao número dele; v. g.: Eu amo, tu amas, põe-i
dos objectos; 3.0 pondo o nome correlato Pedro ou ele ama; nós amamos, vós amais, mato
junto do outro, que está em relação com ele, eles amam. Não há sentença sem nome su verto
por meio de algum verbo modificante do jeito e sem verbo expressos ou ocultos, di vers<
tim corresponde a Deus Português; os Lati com verbos no plural e dos adjectivos em di lent
nos diziam Amo Deum (amo a Deus), mudando versos gêneros, dos verbos em diversas pes 6
o us de Deus em um; nós representamos Deus soas das expressas nas sentenças, as quais COS
como paciente, por meio da preposição a. concordâncias dão à composição aparências buj
Quando dizemos: a mulher ama o marido, a ou figuras irregulares, mas não o são, sendo ran
mulher antes do verbo é o sujeito da propo usadas dos bons autores e fundadas na teóri cie
sição e se disséssemos: o marido ama a mu ca geral das línguas, chamam-se pois as tais ira
lher, o marido antes do verbo seria sujeito e concordâncias figuradas, de que direi no 1
a mulher o objecto da acção do verbo ama ou cap. segundo (5) e aí mesmo das regências
paciente, indo este depois do verbo. O lugar figuradas.
é que indica a relação do sujeito ou de pa
ciente da mesma palavra, e não o artigo, que § "
se não muda, variando as relações tanto. Da Sintaxe de Regência
14. A palavra que muda de caso, ou é À
acompanhada de preposição e é segundo 1. As relações dos nomes mostram-se pelos
termo de uma relação, se diz regida pela pa casos em me, te, se, lhe, nos, vos, lhes, sem
lavra antecedente correlata, ou pela preposição preposições, pelos casos mim, ti, si, mico, ia
ou pelo verbo e as regras, que ensinam a figo, siqo, nós, vós, nosco, vosco, acompanha
mostrar as relações entre as coisas ou seus dos de preposições (6). As relações dos no
numes, por meio das proposições e casos ou mes que não tem casos, indicam-se pelo lu
da colocação, são a Sintaxe de Regência. gar que têm na sentença ou preposições que
significam a relação, em que o nome regido
§1 ou o segundo termo de uma relação está com
Da Sintaxe de Concordância o seu antecedente só ou acompanhado de
adjectivo ou verbo.
1, Nós mostrámos qual é o adjectivo que 2. Vejamos as principais relações em que
modifica um nome, usando do adjectivo na qualquer coisa se nos pôde representar e com
variação respondente ao gênero e número do que artificio se declaram.
nome; v. g.: bom homem, mulher honesta, va 3. i.a O sujeito da sentença, quando é a
rões doutos, mulheres devotas. Isto é concordar primeira pessoa falando de si, diz-se eu (7);
o adjectivo com o seu substantivo. se ê a segunda pessoa, a quem falamos, afir-
2. Se os adjectivos têm uma só terminação mando-lhe dela alguma coisa ou mandando-a
para os dois gêneros e números, pôr-se-ão fazer, dizemos tu; v. g.: tu lês e vai tu. Se
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(Ps
EPÍTOME EPÍTOME
alguém se manda ou exorta a si mesmo, tra ma, isto é, sendo ela o agente e paciente, dire-
ta-se como a qualquer segunda pessoa; v. g.: remos ele matou--s*, feriu-s« (9).
«Morre, Afonso de Albuquerque, dizia ele a 8. Também dizemos a mim, a ti, a si, a
si mesmo, que cumpre a tua honra morre- ele, pacientes, quando a sentença começa pelo
res» (Couto). paciente ou há dois pacientes; v.g.: a mim
4. 2." Se o sujeito é nome sem caso e o buscavas? a ti buscava; matas a mim e a ti;
verbo tem paciente sem preposição, ante «escureciam o ouro, a mim matavam* (Ca
põe-se o sujeito ao verbo; v. g.: «A águia mões); «Deus... a ele só toma por teu casa
matou a serpente», o paciente vai depois do menteiro», (Ferreira, Bristo, f. 57). Muitas
verbo. Mas quando o sujeito é de número di vezes, por mais energia, se ajuntam os casos
verso, v.g., do singular e o paciente do plural, me e a mim te e a ti e a si; o artigo o e o pro
-pode-se alterar a ordem; v. g.: «Ambos hüa nome ele, precedido este da preposição; v. g.;
alma anima, ambos sustenta*;« O (se homem) «quem me a mim diria tal?»*, «melhor siso
que é temido de muito, teme*. Nestes exem me deu a mim Dens», Eufros., 3,1. Vj. Fer
plos ambos e muitos são pacientes, porque os reira, Cioso, Al. 2, toda a cena 4); «Quem te
verbos anima, sustenta, e teme devem ter su vira então a ti tão vanglorioso? Quem se
jeitos do singular. mata a si mais facilmente se matará os outros;
5. Também se põe o paciente antes do su quem o capacitará a ele e o desenganará do
jeito e do verbo, quando o atributo ou acção seu erro?», (Ferr., Bristo, 2.0, 5 e 8, e 3.0, 6 4.0
do verbo evidentemente compete ao objecto 5; Lobo, Pereçr.,f. 17 e 20).
significado por um dos nomes; v. g.: «Depois 9. No plural os sujeitos são nós, vós; os pa
que o leve barco ao duro remo... Atou o pes cientes nos, vos, os, eles com preposição, e
cador pobre Palemo*, onde barco é evidente se. Então se os pacientes se antepõem, ou se
mente paciente da acção atar, própria de Pa há dois, usamos de nós e vós e si com prepo
lemo pescador e sujeito da sentença. sição; v. g.: «a nós, buscavas? a vós ofendia
6. 3 * Mas logo que o verbo pode concordar de palavras; vós para verdes outrem e eu
com o sujeito ou com o paciente e o seu atri para ver a vós*. Neste caso também se ajun
buto competir a um ou a outro, devemos ti tam nos, vos, se, com a nós, a vós e os a eles:
rar a anfibologia ou dúvida, ajuntando ao pa v. g.: «que nos ame a nós, que vos respeite a
ciente a preposição a; v. g.: «Combate ao vós obrigação é sua; quem os a eles atormenta;
fraco espírito a dor antiga» que as a elas vê tão vãs e soberbas, etc. quem
se a si tanto exaltam; mal os podia livrar a
E não será grã destroço eles, quem a si se não livrava» (Paiva, Serm.).
Pois o amo quer à moça, 10. 5.* Quando um verbo tem um termo da
Que à moça queira o moço. sua acção e é a primeira pessoa ou segunda,
(Camões, FilodX usamos de me, te e sendo a terceira pessoa
usamos de lhe (t°) e se ou a ele; v. g.: deu-me,
No segundo verso observa-se a ordem direc- deu-te o livro; deu-se, deu-lhe mil tratos, «a
ta do sujeito antes do verbo quer com o pa quem o deste? a ele mesmo». Usamos também
ciente ama depois; no terceiro verso como se para indicar o termo dos casos a mim, a ti,
inverte, precede a preposição ao nome moça a ele, a nós, a vós, a eles, a si, quando a sen
paciente, que vai antes de queira. Geralmen tença começa pelo termo ou há dois ; v. g..: a
te, todas as vezes que o paciente se alongado ti peço, ó bom Deusl a mim o diziam e-cs: a
verbo é mais usual e claro ajuntar-se-lhe a ele dirás: «A terra, que vês, darei a ti «.* à tua
preposição a; v. g.: «Enquanto eu estes can geração» (Cathec. Romano); a quem o darei?
to e a vós não posso», onde se subentende can a ti ou a ele? des te-o a mim ou a João? Então
tar alongado de vós; e estes está sem preposi também se repetem os casos me e a mim, te
ção com mesmo verbo próximo: «Todo ho e a ti, se e a si, lhe e a ele, nos e a nos, vos e
mem ama os partos de seu entendimento e a vós, se e a si, lhes e a eles ;v.g.: Se ele me
ás vezes maisque aosmesmos filhos (Sousa)». quisera a mim, como eu lhe quero, se te fala
7.4.* Quando o paciente é a primeira pessoa ra a ti a verdade, como te eu falei, se se tira
eu, ou a segunda Tu, usamos dos casos me, ra a si a residência, como outros lha tiram;
te, v. g.: matou-me, matou-te (8): «Vós matai- etc «Quem nos faria então a nós crível o que
-vos e matai-me» e se é uma terceira pessoa hoje vemos e apalpamos?»; «Quem vos podia
referida por ele ou pelo artigo, dizemos: ma a vós dar a imortalidade, senão o Ser Supre
tou-o, matou-a on matou a ele, a ela; e pondo- mo e o Altíssimo que vos criou?»; «aelespa-
-sea terceira pessoa em relação consigo mes recem-/Á<?s nadas as misérias dos próximos»;
*- 45 —
djp»
EPÍTO M E EPÍTOME
«os que tanto se arrogam a si e nada conce •me com a espada, com a lingua, com os den
dem aos beneméritos, esses vos digo que são tes ; caçar com bois: o modo; v. g.: tratou-me
o mesmo espírito da suberba». com brandura; o preço; pagou com oiro e fig.
xx. 6.* ô tu, ó vós, ó montes, dizemos cha com boaspalavras: a circunstância do tempo;
mando, invocando, exortando, apostrofando, v. g.: acabou com dia, com cedo; a pessoa, óu
etc, com 6, talvez sem ele; v. g.: «Meu Deus coisa, a respeito de quem se exercealguma qua vt;
valei-me*; o verbo no imperativo ou subjun lidade; v. g.: caridoso comos pobres; soberbo
tivo ; v. g.: «Ouça, Senhor, o que digo», tiram com os soberbos; e por analogia tratar-se, vi
a dúvida e declaram a relação do objecto in sitar-se, corresponder-se com alguém; concor
vocado, chamado, etc, a quem falamos. rer com alguém, consentir com, contrair com e
. xa, 7.a Todas as mais relações, em que se muitos adj. e verbos compostos de com pe
podem considerar a primeira e a segunda dem esta preposição.
pessoa no singular, se declaram por preposi 18. Contra indica o objecto a que outro está
ções e pelos casos mim, ti, si e, no plural, oposto; v. g.: voltado contra o Oriente e mo* d<
pelos casos nós, vós, si (U). ralmente o objecto de oposição, inimisade; v. a:
13. As relações diversas das apontadas, g.: «está e fala contra mim*. r
em que representamos os nomes sem casos, 19. De denota o lugar donde saímos, v. g.:
indicam-se pelas preposições, que passo a sai de casa; e fig.: desviar se de mim; amansar
expor brevemente. do fúria; por indicar apartamento, separação;
A indica o paciente e o termo da acção; o v. g.: arrancar da terra; puro de espinhos;
lugar para onde algüa coisa se move; a que limpo de ódio; dobrar alguém da resolução;
outra está próxima; v. g.: mora ao arco da esquecer-se de algüa coisa; ganharam do ti
Graça; o modo porque algüa coisa se faz; v. rano ; deposto da dignidade, da graça: descon-
g.: à pressa; ir a cavalo; suspirar a medo; formidade, oposição, aversão; v. g.: desgostar-
estar a tento; à conta; a direito com alguém; •se de algüa coisa; diverso de todos: a coisa,
faser acinte; o tempo, em que aconteceu; v. g.: de que outra é parte, v. g.: um quarto da casa 1
à noite, aos três dias e por semelhança, ao de real: a coisa que é contida em outra; bolsa
passar o rio, a o assinar a carta; o preço; v. de dinheiro; a que épertença epossuída; v. g.:
g : vende-se a vinte; o lugar ocupado; v. Senhor da casa e vice-versa, a coisa que pos
g.: estar à janela; o instrumento; morto a sui; v. g.: casa do Senhor, a porta da cidade:
ferro; o fim; sai a ver; a causa: morto á os acidentes a respeito de quem os tem; homens
fome; a proximidade do termo; v. g.: está a de cor; o serviço epréstimo; v. g.: moço de re
partir; o acto mesmo; v. g.: áo sair da cados : cubiçoso, desejoso de fama; arder de
porta. amores; desponta de agudo; o agente ou ori í c
14. Ante indica o objecto em cuja presença se gem; v. g.: «e se este dos Deuses é vexame;
acha outro; v. g.: tante nós apareceu»; que de mim nunca te foi feita injúria»; nunca a
também dizemos perante nós; «não mereço recebeste, ouviste; a matéria de que algüa
tanto ante Deus» *, para com Ele: «em quanto coisa se fas; vaso de oiro, cobre, barro; e fig.:
baixo predicamento está Deus ante nósl». homem de nada; o modo de faser a coisa; v.
Também indica antecedência; v. g.: «ante ma g.: depressa, de vagar; o instrumento; v. g.:
duros anos amostrando pensamento viril»; dar de lançadas, dar d'esporas; fig.: usar de
«Lilia ante Célia pondo ?» (Ferreira). ervas, ensalmos; valer-se das habilidades; da
15. Após designa o objecto que outro segue parte para o todo com pertença; v. g.: metade
v. g.; Orfeu levou as pedras após si; após seu do dia, de minha alma; nua dos pés; rapado
canto O2);após a fama falsa e mentirosa. da cabeça; do gênero à espécie; v. g.: o sentido
16. Até indica o termo de um espaço ou dis do tacto; a virtude da castidade; o sujeito do
tância; v. g.: de caso até à praça; até cima das atributo; v. g.: o pobre de mim; mesquinho de
cilhas; desde o Rei até o mendigo todos so mim; o acidente; v. g.: chama-se deste nome;
mos mortais *, de manhã até à noite (18). chama-os de fracos e covardes: acusar do
17. Com (que faz variar eu em migo, tu crime é elipse e falta reu, que do crime modi
em tigo, nós em nosco, vós em vosco, Se em fica e completa; assim ê: «foram d'eles a ca
sigo) indica a coisa com que outras acompa valo e deles a pé; onde falta parte. Nós dize
nha; v. g.: foi com João; está com Pedro; mos com equívoco o amor da pátria, a cari
mudou-se com a idade; entesta com Lusitâ dade de Cristo, significando o amor, que a
nia; misturar cal com areia, o bem com o mal; pátria tem, ou o que temos á pátria; a cari
a causa que acompanha o efeito; «tez isso com dade ou amor de Cristo a nós, ou que temos
medo dele»; o instrumento, arte, meio: «feriu- a Cristo ou em Cristo. Por tanto falando do
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|*Ps
^Stl
EPÍTOME
EPÍTOME
amor, que temos á pátria diremos; o amor à 24. Por indica o espaço, lugar, extensão,
Pátria, ao Rei; a veneração aos Santos; a ca onde algüa coisa se move, dilata; v. g.: pas
ridade de Cristo com nosco; a caridade, que em sar polo caminho, tola cidade, por terra, pelo
Crisfotempos com alguém ou a alguém ; para mar; fig.:polas chamas, polas lanças; por de-
alguém ("), como «tive indinacão aos maus, sares e dissabores; privilégio por des anos. In
vendo a paz do pecador» (Cathec. Rom., f. 106). dica o espaço de tempo; sucedeu isto pelos
ao. Desde indica o termo, donde se mede, anos de 600 até 602. O motivo, o agente, a cau
conta, alguma extensão, espaço, série; v.g.: sa ; v. g.: feito por mim; esmolar por amor
desde o paço até a quinta; desde o São foão de Deus; quebrar por desavenças e desconfian
até o Natal. Dês acha-se só; v. g.: dês i (») ças; conhecido por homem insolente; ilustre,
dês Fei, dês ontem, dês que; e Duarte Nunes nobre por armas e letras; por costume o fiz.
de Leão (Ortogr., f. 324, últ. <?</.) expressa O preço, estimação, opinião, a coisa substituí
mente aponta entre os erros do vulgo o dizer da; v. g.: tido por néscio; polo todo também
desde que por dês que; e tal é desno; Vj. os se toma a parte; porei por escudo o sofrimen
artigos dês, e desde, e des oi, e des i (Dicioná to; vender gato por lebre; levando a virtude
rio, seg. edição). por farol; a ira por antolhos; o cego Amor
ai. Em indica o lugar, para onde nos move- por guia. O modo de conseguir; v. g.: por
mos, passamos; v. g.: saiu em terra;e fig. geito; julgar pólos frutos; não hás de emen
inspira em mim tais sentimentos; de pastores dar o mundo por mais razões que despen-
em pastores passou a história. O estado, a que das; fazer as coisas por si ou por procurador.
a coisa se passou, mudou; v. g.: transformado A pessoa por quem pedimos, rogamos, fase*
em Santo o pecador; brotar em blasfêmias; mos; v. g,: fas por nós esta razão; e fig.: a
desarmar em vão, rebentar em lágrimas... praça esta por el-rei (é sua, tem a sua voz);
O tempo como termo; v. g.: de dia em dia. O levantaram-se por el-rei. O insinansisíc; v.g.:
fim; v. g.: deu-lhe, tomou-o em pagamento; observarpelo telescópio; e fig.: o meio; v. g.:
o que fez em vingança; em honra de Deus; averiguou por cálculos exactissimos; mandou
em observância da Lei; etc. O lugar onde al dizer pelo Brãmane; mandou-o fazer por um
güa coisa está; o objecto em que alguém en ourives. As pessoas ou coisas entre quem se
tende e se ocupa; v. g.: está em casa, medita parte, divide; v. g.: repartiu por todos; um
'na morte, entende 'no trabalho; e fig. a época; por um. Ir por alguma coisa, ir buscá-la,
v. g.: 'no anno de 500; em moços lá. foram; como motivo da ida(Vj.:Z.*<fo, Ortogr.,/.a88).
'na vida, 'na morte. Ovalor, conta, preço; v. Por transforma-se em per muitas vezes: os
g.: avaliado em des cruzados; fig.: tem-se em clássicos distinguiram por de per e diziam
conta de sábio, em muito ('6); cair >no iaç0f fui por amor de ti, dar por Deus; e foi pela
estar 'na bois, no engano, 'no brete, 'na conta, Praça, corria pelo rosto; por indicando a cau
em si.
sa, motivo, etc; per o espaço verdadeiro ou si-
aa. Entre designa dois ou mais objectos no militudinário; mas já nos seus escritos vêm
meio dos quais está outro; v. g.: estava entre uma por outra preposição; v. g.: polo mar,
as árvores; e figuradamente no meio; entre os pólos ares e pelo amor de Deus, etc
anos de 600 e 700; entre roixo easul; entre : 25. Sem indica a coisa, de quehá privação,
lusco e fusco; entre bêbado e alegre; entre ti e falta; v. g.: o lar está sem lenha; estar sem
mim (17); as artes e ciências têm grande co sentidos; é sem falta e sem defeiio: «Estavam
nexão entre si, umas com as outras; amizade muitas peças de artilharia miúda, sem outras
entre os imigos.
grossas*, i. é, sem contar outras grossas.
33. Para declara o lugar para onde se move, 26. Sob indica a coisa, debaixo de que outra
tende, olha, atende, considera; que se tem como está; v. g.: sob a cama, e nesta sentido físico
termo de relação e comparação; v. g.: fui para é desusada; jura má sob pedra vá; sob Pon
França; olhei para mim: «para os pequenos do Pilatos, i. é, debaixo ou no tempo do seu
uns Neros, para os Grandes tudo feros»; de 2 governo, império, ordens, mando. «Sob as
para 4 há a mesma razão, que de 3 para 6; bandeirasde seus Capitães (Clarim., 3, c. 16)».
bom para eles; zelo para as coisas da reli Sub no mesmo sentido é antiquado: Sub ti.
gião; amor para opróximo. Ofim, v.g.: bus De sob são duas preposições; «fui-me sentar
car a lenha para o fogo; propenso para as de sob a espessa sombra» (Men. e Moça, L. 1.
letras; procurar para si. Otermo aproxima c 2.); combinação antiquada como a sob.
do; gastou duas para 3 horas; a proximidade 27. Sobre indica a coisa em cima da qual se
da acção; v. g.: estou para partir; está para põe, ou está outra; sobre a mesa; anda sobre a
morrer. (Pera disseram os Antigos). terra: sobra as ondas do mar; e fig.: sobre mi-
— 47 —
Mis
EPÍTOME EPÍTOME
nha cabeça; sob minha palavra, meu crédito, Mas às vezes a incorrecção é aparente e dá
minha fé, minha verdade, minha honra, tomei, uma nova figura ou aparência à composição,
jurei, prometi. Indica precedência; v.g.: por que por isso se diz figurada.
algném sobre si, itê sobre si, o que não está 2. Estas semelhanças de incorrecção ou fi
com outro, nem depende d'ele, v. g.: vive so guras procedem i.° da falta de alguma pala
bre si (que não trata outros por dependência, vra, que facilmente se supre para a sentença
nem grangearia; pouco gasalhoso como inde ser completa; e a figura, que a sentença toma
pendente), indica demasia, excesso; v. g.:comer pela dita falta, se diz elipse, a frase elipiica:
sobre posse: «era sobre impaciente teimoso»; 3. 2.0 procede a figura de se acrescentar
i. é, além de impaciente. Já sobre tarde, i. é, alguma palavra desnecessária ao comple
perto da noite. A coisa dominada, regida, mento da sentença e se diz pleonasmo; a sen
subordinada: reinar sobre os Portugueses; fig.: tença pleonástica:
ter império sobre as próprias paixões. Golpes 4. 3.0 de se pôr uma parte da sentença ou
sobre golpes, trabalhos sobre trabalhos, i. é, qualquer acidente dela por outro e se diz ena-
uns após outros, a miúde. Falar sobre alguma, lage.
coisa, como matéria, assunto. Ir sobre apraça, 5. 4.0 de se alterar a colocação qoe as par
a combatê-la de assento. Sobre pensado; sobre tes da sentença devem ter entre si, para ser
contas feitas; i. é, depois de reflectir, delibe- o sentido claro, o que se diz hipérbato ou
rer ("). sinclise. Vejamos um pouco de cada uma.
28. Isto disse em breve das preposições e 6. Elipse é falta de palavra que facilmente
das relações, que delas indicam. Elas são uma se entende e supre; v. g.: a frase elíptica: a
grande parte das conexivas dos elementos das Deus, a que faltam as palavras te deixo (:0);
sentenças; devem-se estudar com muito cui «As do Senhor mil vezes*; onde falta beijo as
dado os usos dos Mestres da Língua, quando mãos (*'). Que foram dos Troianos? u é, que
preferem uma preposição à outra que parece fins foram feitos (»). Tem gênio, condição; se
indicar a mesma relação. Eles usaram de al forte (&); «Teve fortuna*, se boa; «cobre-se
gumas em sentidos que não usamos; v. g.: logo d'estrelas, nascem delas, põe-se delas*, se
«viemos em as hortas de Bruto»; hoje diremos algumas delas ou parte: «Eu chamo povo,
às hortas: «passou em França; e dizemos onde há baixos intentos», i. é, aqueles homens,
agora passou a França, a Itália, a África; onde há, etc. «Usai antes de cortes*, i. é, de
«começa de servir»; hoje a servir, começou ser homem cortez ou os termos, a maneira de
de servir e acabou em mandar ou por mandar, homem cortez; no meado de Outubro, i. é, no
é usual; por, começou a sua vida; e de indica mês meado (Vj.: Inêd., 3, f. 57).
a origem, como em vem do Céu, do sangue de 7. Da elipse procedem as concordâncias de
David, etc, ou começa de servir, se, o trabalho um adjectivo numa só forma modificando no
de servir. mes de diverso gênero e número; v. g.: as
29. Nos livros modermos acham-se muitos águas cobraram o sabor e suavidade antiga*:
barbarismos, adoptando-se a fraseologia das o sabor, se antigo: «O favor e ajuda que nele
preposições das línguas estrangeiras; v. g.: estavam certos (>*)>, se, dois bens, que esta
misturar ossos a ossos; compasso a parafuso, vam certos.
soltar ao cume do monte (por no cume). Por 8. A concordância faz-se muitas vezes com
muitas se confunde com para. Arreda-me a o nome, que o autor tem na mente, indicado
teu coval (por de teu) é erro. talvez por outros equivalentes; v. g.: «A cau
30. As preposições enfim, sempre regem sa de El-Rei mandar lançar esta gente por
um nome, que é o outro termo da relação toda aquela costa, vestidos e bem ataviados*,
entre dois nomes e correlato ao antecedente eram negros de Guiné (Barros, Decad., 1, L.
e quando se diz, v. g.: «o conselho que toma 3, c. 4); «Vendo ali o seu cuidado (a sua dama)
ram sobre se quererá», é elipse e falta, saber, vestida da própria roupa etc.» (Palmeirim, p.
sobre saber, se quererá etc. (Costa, Terenc, 2, c. 120); «Achou o segredo da sua alma (Cia-
T. 1, pag. 631. Couto, 6, 4, 3: «Tomou conse rinda) vestida de umas roupas índias» (Cla
lho com os Capitães sobre (se resolver) se iria rim., L. 2, c. 32); «Lingua tem V. Altesa. Ele
cometer aquela Vila» (iR). por si lho diga» (Resende, V. do Inf. D. Duar-
Capítulo II /g (*)t f 3t 39» v.; Barros, Paneg. dei Rei).
DA SINTAXE OU COMPOSIÇÃO FIGURADA Mas já o planeta, que no Céu primeiro
1. Quando na composição não observamos Habita, cinco vezes apressada (Lusíada).
as regras expostas, a sentença é incorrecta. O planeta a que o poeta alude na perífrase
— 48 —
Jii
EPÍTOME
EPÍTOME
que no Ceu primeiro habita, é a Lua, por isso condenaram a morte de forca e assim o foi»,
se diz apressada (*8). Estas figuras chamam-se i. é, enforcado (Tempo de Agora, tomo 2, /. 65
sínteses. (Vj.: Palmeir., p. 3, c. 125; Lusíada, v- 77» * 85). Estes exemplos são obscnros; os
4.» 88 e 7.0 47)- de Bernardes e Barrosmaistoleráveis. Vieira,
9. Por semelhante elipse, dois nomes do tomo 10, /. 214, diz mal: «Xavier entre tantas
singular levam o verbo ao plural; v. g.: «Pe desconfianças (dos que vinham na nau) não
dro e João (se ambos ou estes dois sujeitos) vacilava na que tinha em Deus», calouimpro
foram a caça». Talvez se exprima o nome do priamente ou os impressores omitiram «na
plural com os dois do singular; v.g.: «Nós confiança que tinha etc, ainda que quisesse
estávamos, minha prima e eu, assentados*, absurdamente referir na a desconfiança devia
(Eufr., f. 17. v). «Se tu e ele vos enfadais*, dizer de Deus, como desconfio de ti, dele.
ibid. f. 71), onde é de notar que todas as ve 12. Os gramáticos chamam enalage à figura
zes que entra o nome eu vai o verbo á pri de composição que se faz usando as partes
meira pessoa do plural, porque se subenten da oração e seus acidentes uns por outros,
de nós e quando entra tu, vai á segunda pes sem razão, nem fundamento; v. g.: «Que foi
soa do plural, porque se subentende nos daquele cantar das gentes tão celebrado?»
«Nós nunca entrámos em barca, vós e eu* (Camões). Mas cantar é nome e tem plural, os
(Ulis^f.66). cantores. «O logo destes é como o nunca dos
10. Quando a palavra vem clara nas sen desenganados» ; o logo dizem que, sendo
tenças compostas por conjunções e se há-de advérbio, se usa aqui por nome e assim o
subentender outra vez sem mudar de figura nunca; mas os advérbios são nomes, usados
ou acidentes; v. g.: «Deus criou o Céu e a às vezes ellpticamente sem preposição. Vj. o
Terra, os Anjos e os homens»; esta espécie L. x, c, 6, desta gram. «Em não querendo-me
de Elipse se chama Zeugma; se a palavra vós morro por esse não quero*, parece enala
íorna a subentender se com acidentes diver ge de não quero, como nome; mas ê frase elíp-
sos, diz-se Silepse; v. g.: «as águas cobraram tica, morro por esse diser, que ê não quero;
o sabor (se antigo) e a suavidade antiga*. (Lobo, Peregr., f. 197) ou não quero é regido
•Entraram dnas naus, uma(se entrou) ingle por diser.
sa, outra (se entrou) francesa». A elipse é 13. Outro exemplo de enalage seria usar
viciosa, quando a palavra expressa pode de um modo por outro; v. g.: «Esforça Infan
fazer subentender outra outra totalmente di te, nem c'o peso inclina*; por, nem incli
versa; v. g.: «Amor quer sem te ver matar- nes; mas isto é um latinismo que o poeta
-me de saudades», que pôde ser sem te elever admitiu, barbarizando por força do consoan
ou sem.te eu ver(Ulisseia e V. no Canto 3, a te (tf). Por semelhante caso disse Camões:
est. 5, obscura pelos mesmos defeitos). «Os livros que tu pedes não trasia*; por não
11. A este respeito é notável nos Clássicos trago (Lusíada, i.° est. 66).
usarem verbos homônimos ou semelhantes 14. Dizem mais que é enalage usar de um
nos sons e nomes e referirem adjectivos aos caso por outro; v. g.: «eu sou mais velho que
nomes ocultos semelhantes ; v. g.: ti, se fora como ti; agora se a ti fora, faria
iNão vês, dizer queria, que desmaio? outra coisa: se a vós fora, etc.» (S8). Mas estes
Quando (coisa, que mal me será crida!) casos são incorrectamente usados, porque as
No mar ferido de um, do barco caio? tais sentenças são elipticas e supridas ficam
assim: «eu sou mais velho a respeito do que
(Bernardes), tu és: se eu fora do modo como tu és; se eu
fora tu: Folgara de ser como tu és* (Ferr.,
onde um refere-se a desmaio, que deve ser Bristo, ac. 2, c. 1). «Se tu foras eu que fa
nome e vem como verbo no primeiro verso. rias ? se vós foreis eu; se et* fora vós; se eu
«Se tão fácil me fora fazer isso como eu dese fora a ti ou a vós*, se, semelhante ou idêntico
jo, ovosso (se desejo, nome) estaria contente» a ti, a vós (l9).
(Clarim., L. 2, c. 16, eoutro exemplo apag. 108, 15. Também se reputa enalage usar de
ediç. de 1791). Mais notáveis são os exemplos preposições, onde elas não convém; v. g.:
seguintes: «Coroando-o de brasas, para o ser antes do nome, que está em relação de sujei
de rosas» (Jorn. d' Afr., f. 263); «O senhor Teo- to do verbo: «O primeiro autor, em quem se
dósio trabalhe, que bem grande lhe empres lê este nome é em S. Martinho de Tours» (Se
to», i. é,grande trabalho lhe empresto; «Não verim, Notic.) deve ser: é S. Martinho, sem
vos enfadeis se me alargar mais do necessá preposição. «Em toda a terra, em que punha
rio, porque ohei-de ser*, i. é, mais largo; «O os pés, era sua* (Godinho, Ref. f. 3), deve ser:
— 49
XII
EPÍTOME EPITOME
Toda a terra, etc. era sua; «ao primeiro, a 19. Muitas outras figuras numeram os gra
quem encontrou, foi a Livao» (Barros, no máticos, que são mais próprias das línguas
Clarim.), devia ser o primeiro, etc. foi Livao ; grega e latina, mais artificiosas que a nossa
porque o sujeito da sentença nunca é regido* e por isso as deixo; só tratarei brevemente
mas é a palavra principal, que rege todas as de algumas figuras de dicções, que consistem.
mais que o explicam *, e o mesmo 6 do nome 20. i.° No acrescentamento de alguma le<
que serve de atributo com o verbo ser, por tra; v. g.: mártir*, por mártir; Atatlante e
que de comam se podem converter; v. g.: Her«dar por Atlante, Herdar; atambores-pox
«eu sou tu e tu és eu*. tambores. ' :
16. O pleonasmo consiste em usar mais pa 3i. 3.0 Por diminuição de letra; v. g.: cárcer, ?$
lavras das necessárias para a perfeita decla mármor; por cárcer*, mármor»?, como hoje
ração de sentença. Se isto se faz por beleza dizemos: «Que mais se pode 'sp'rar* por es
é nma figura retórica; v. g.: «ainda ainda perar (Bem., Rimas, f. 78).
imos gastando do que trouxemos» (V. do Ar aa. 3.0 Quando se absorve a vogai, que con
ceb.); «-'capei quando já já me engolia» (Lu- corre com outra, ou pura ou nasal; v.g.: a
sit. Transf.,f. 389). preposição; e a artigo em á: «fui à praça*;
Para o Céu cristalino alevantando a o em ó: «fui ó templo», d'o, d'a, c*o, ca,
Com lágrimas os olhos piedosos, qu'elle, por de o, de a, com o, com a: «Co* os
Os olhos, porque as mãos lhe estava atando anafis os mouros respondiam».
Um dos duros ministros rigorosos... 33. 4.0 Quando por eufonia se muda; v. g.:
(Lus., 3.125). a consoante áspera em outra, buscá-lo, bús-
ca-lo, por buscar-o, búscas-o; têre-to, por te-
(80). Quando, porém, a redundância não serve res-o.
de ornato, é uma incorrecção e perissologia; 34. 5.0 Quando por eufonia se entremete
v. 6m «Nesta terra vimos também nela Mou consoante entre vogais, para evitar o hiato;
ros casados; Está uma fonte, em que dentro
v. g.: buscarôTo-ifo, não no deveis, í&zexem-no.
nela nasce água (Terreiro, Itiner., c. 38 «43);
Os antigos disseram: em no tempo; em nas
As minhos botas, qu'é delas elasl*. Todas
suas avenças; en as casas; por evitarem o
estas perissologias são viciosas e iucorrectas: hiato da nasal em com o, e as, artigos, que
«usou d'os meios os mais violentos», repe
escreviam ha, ho, has, hos (&). Depois omiti
tindo o artigo antes de um só nome, ê peris
mos a preposição em e ficou o artigo prece
sologia. «Tal como ela poucas tais»', tal é de dido no n, 'no, 'na, por onde dizem mal, que
mais e desconcorda. (Crus, Pões.); «Dessas
em se muda em n. (Vj. aqui o § a do cap.i,
pérolas poucas tais na dúzia», (Ulisipo) é num. ai; nota 16,pág, XIV e Paiva, S..1,53 ».).
correcto.
35. 6.° Quando ditongamos dnas vogais;
17. Os gramáticos chamam ordem natural v. g.: «o ímpio Rei dos anos»; «Alg«a coisa
ou construção ou colocação das palavras, a
que pareça» (Filod., 3, cs. 3); «Seria entre os
que se guarda quando vem primeiro o sujeito tormentos e crueldade» (Ulisseia, 8, 40).
da sentença com os seus modificantes, logo o
26. 7.0 Quanto dividimos os ditongos \ v. g.:
verbo com os que o modificam; v. g.: «Aquele
Tu-i por Tui; «Por quando o Sol sá-i facil
homem virtuoso sempre fez muitos grandes
mente» (Lusíada, 3.0 89 e 8.° 50); «Conside
riquezas e mesmo depois que foi pobre». Se rando o círculo Lactí-o» (Elegiada, f. 020, e
mudamos esta ordem, fazemos uma inversão
239)) «Qne de txoíéus não enchesse a terra»
ou construção indirecta; se a inversão é desa
(Ferr.).
costumada, toma uma figura a que os gra
27. 8.° Quando se contraem ou abreviam
máticos chamam hipérbato; v. g.: «Desejo
palavras; v. g.: San ou Sant ou São por Santo,
saber a o que vim»: por o (se negócio) a que
gran ou grão, por grande; I por ide, Is por
vim (3i). «No tempo, em que tinha grandes
ides; hemos, heis por havemos, haveis; mór,
riquezas, e mesmo depois, que foi pobre, fez
por maior; cal-te, quês, por cala-te, queres.
este homem virtuoso muitos bens» etc (3a).
(Leonel da Costa, Terenc, T. 1, /. 305).
18. Quando se perturba muito a ordem de
38. 9.*» Quando se divide a palavra e entre
construção, a figura, que ela toma, chama-se
mete outra; v. g.: dir-vo-lo-ei (Cam., Filod.,
sênchise; v. g.
3, 2). Dir-/*-ia; onde é notável também que
Sobre uma ponte de metal corria dir e far são contracções de diser e faser.
De Júpiter o estrépito imitando 29. Todas estas figuras de dicção, usadas
Dos trovões, que imitar-se mal podia ( Ulisseia) mais freqüentemente na Poesia (onde se alte
e Quebrar tivera a náu ali em nado (Eneida). ram os tons das vogais; v. g.: impia por im-
— 50 —
EPÍTOME EPÍTOME
piá) tem seus nomes gregos, de que é escu cidade»; onde escrevendo parece modificar a
sado carregar a memória; baste-nos saber o Homero (Pinto, Per., Prol.). Estes dois vícios
que há em nossa língua, para nela exemplifi nascem das más construções e são Anfibo-
carmos os preceitos e observações das mor logias.
tas e estranhas e melhor entendermos as ana 6. O barbarismo ou estrangeirismo consis
logias, que têm com o nosso idioma. te no uso de palavras estrangeiras e frases
compostas com Sintaxe estrangeira on colo
Capítulo SI
cação tal; v. g.: deu as penas, por foi castiga
DAS COMPOSIÇÕES VICIOSAS do, que é um latinismo; porque dar penas em
português é causá-las, impô-las: «Proveu a na
x. As composições são viciosas, quando os tureza, que o corpo não fisesse muito negócio
adjectivos correspondentes ao gênero e nú ao homem (37)>; é outro latinismo, por, desse
mero dos nomes; v. g.: homem boa, bons ho pejo, incômodo; dar lugar aos bens; por, fa
mens; os homens morreu: quando os prono zer cessão de bens (mal traduzido de cedere
mes não se variam em casos, segundo a rela bonis): «Todos viemos em as hortas de Décio
ção, que a preposição indica; v. g.: se dis Bruto»; por, às hortas. Na construção: «Isto
séssemos a me, de migo, por a mim ou comi tive da amizade, que vos dissesse» : «Remé
go: «eu lhe amo, lhe adoro*, por, amo-o, ado dio da, que já se perdia, pas no mundo»;
ro-o (3«). «Dá-nos Senhor aquela, de que necessitamos,
s. Quando não aparece claramente, quem é paz» (Barros, Gram.).
o paciente, quem o agente e se confundem as 7. O solecismo é qualquer outra ofensa ou
relações; v. g.: erro contra as regras das declinações dos
pronomes, das concordâncias, das preposi
- Balo, que em dura pedra converteu
ções mal usadas; v. g.: «a Nação se tem di
Mercúrio pelos furtos, que revela gnado em acolher: misturar ossos a ossos,
(Lobo, Condest., C. 10). etc», de que tenho apontado assás de exem
plos. Concluirei a propósito notando, que
quem ignora a Fábula não sabe se Balo con hoje seria um solecismo suprir os tempos
verteu ou foi convertido. Para tirarmos esta compostos dos verbos, com particípios pas
anfibologia, devia dizer-se a Balo como: «A sivos, em vez dos dos supinos. Os nossos
Polidoro mata ei-Rei Treicio» (Lusíada). (35), autores clássicos muitas vezes os confundi
3. Quando não se entende bem, a quem mo ram dizendo, v. g., «Tinham uns vendidas e
dificam as incidentes pelo articular que, ou deixadas, outros trocadas as armas pela mer-
quem qual e onde; havendo dois nomes ante cancia e posto a forlalesa naquele estado»
cedentes ; v. g.: «João Autipapa com Pedro (Lucena folio 375, col. 1'). «Depois que tivesse
Diácono, a quem o povo perseguiu por haver vista a Rainha e depois de a ter visto* (A,
usurpado, etc». Parece à primeira, que a Pinto Pereira, L. 1, c. 19). «Não :-m el-Rei
quem se refere a Pedro, por estar mais pró meu Senhor ganhadas as índias e quantos
ximo (Vj. Ulisseia, C. 2, est. 7. (3«). Reinostem ganhado*. (Coment. de Albuqn p, 1,
4. Quando não aparece a quem se referem c. 66). Hoje compomos os tempos complexos
os pronomes ou articulares, havendo diversas com os supinos, que são nomes verbais in
pessoas, ou coisas, que podem trazer à me variáveis ; v. g.: tinham vendido, deixado, tro
mória ; v. g.: «Queria ter consigo (Lopo Vaz cado as armas: depois que tivesse visto a Rai
de Sampaio) Pero de Faria, porque era do nha : tem ganhado as índias, etc Só usamos
sen bando e fora de parecer que ele era o go dos particípios, quando não queremos signifi
vernador, sobre ele ter com ele muitos cum car o complemento da acção verbal, mas que
primentos, sobre os quais lhe respondeu Hei remos qualificar a coisa, que possuímos ou
tor da Silveira, que bem sabia dele a verdade, temos; v. g.: tenho ainda as armas compradas
etc (Couto, D. 4, L. 2, c. 8). para aquela ocasião; tenho feito (acabei) duas
5. Quando os particípios e adjectivos po moradas de casas, tenho (possuo) duas mora
dem referir-se a nomes, a que não pertecem; das de casas feitas e acabadas, por mim ou
v. g.: «Corneille é de opinião contrária, tal por outrem (38): «arrependia-se de ser saída
vez por ter dado ao público o seu Polieutes, do Castelo (Men. e Moça, L. 2, c. 28.)»; com
antes de ter lido Aristóteles a quem ignorar, os verbos ter ou haver diríamos: «ele se
quanto precedeu Aristóteles a Minturno: «E arrependia de ter saído, etc». (M)
por sentença de Platão, foi o mesmo Homero 8. A composição é viciosa por concurso de
escrevendo da República, degradado da sua sons em palavras, que dão sentido torpe, ao
51 —
d?p»
| IWUB
EPÍTOME
EPÍTOME
que chamam cacofonia ou mau som; v.g.: porque o que se suprime è a propósito em
«om o/AoVs tamanhos tem aquela lebre (Bar e onde falta a vogai aí deve ir o sinal; v. g.:
ros, Gram.,f. 168)»; a isto chamaram os nos- c'o homem, por com o; chama-se a isto (')
oos bons autores caçofatõoi «Se me amas, sinalefa.
amigo» (Fern Eleg. 5). 4. O parêntesis () inclui uma sentença in
o.Viciamos também as dições nos tons das teira, que corta outra, não tendo dependência
vogais ou seus acentos; v. g.; em«los, por uma da outra para para o sentido; v. g.: iE
rfmulos, intrépido por intrfpido, esplendido se acontecer essa desgraça (de que Deus vos
por esplindido, etc. (Lião, Ortogr.), mas con livre), que será de vós?
junção por mas com a mgdo, etc. 5. O sinal de divisão das palavras é (-); v.
g.: ás-pero, Pro-consul, sem-sabor (41).
Capitulo IY 6. Os ápices (..) sobre duas vogais indica
ção que não são ditongadas; v. g.: saúde, que
DOS SUAIS ORTOGRÁFICOS se há-de ler sa-u-de; feria de ferir e diverso
de féria. Outros notam estas diferenças com o
E DA PONTUAÇÃO
acento; v. g.: saúde, feria, féria.
1. A Ortografia ensina as regras de escre 7. A vírgula (,) que aparta os adjectivos
ver bem, isto é, de representar aos olhos os unidos por conjunções; as frases incisas ata
sons com letras distintas e cada uma para das por elas; v. g.: homem douto, virtuoso e
seu som próprio e que não sirvajuntamente amável; viu e leu mito; disse-o, para ouvir o
desinal de dois sons. Disto já disse no princí que me diseias; as incidente; v. g.: «João que,
pio o que basta para um resumo gramatical. que ê meu amigo, veyo aqui».
Temos mais alguns sinais ortográficos dos 8. O ponto e vírgula (;) que aparta os sen
tons das vogais em cada palavra, que jáapon tidos perfeitos com dependência de outros»
tei no princípio desta gramática; chamam- v. g.: dici, que que viria a manham &que pra=
-lhesacentos prosódicos(1) grave; (f)agudo (*<>). ficaria nisso; mas que em tanto, etc, isto
a. Os acentos oratórios, ou os tons da voz, mesmo se nota talvez com dois pontos (:)»
com que se proferem as sentenças: notam-se Direi a Deus: Não me condeneis, Senhor.
com (I) as sentenças admirativas; v.g.: \ó 9. O ponto só (.) que indica sentença aca
milagre estupendo I Para as interrogativas bada e sem dependência de outra; v. g.:
ternos (?)*, v. g.: iQnem foi? Quem o viu? Criou Deus o Céu e a Terra. A Rainha N. S.
3. Quando se suprime uma vogai usamos fundou a Academia Real das Ciências de
4e ('); v. g.: d'o,d'as, 'no, 'nas e não n'o, n'a; Lisboa.
(i). Atento é frase adverbial derivada douso peito de Pedro agente resulta de ama-te atri
de contar por tentos *, donde dizemos contou buto unido ao verbo ê pois ama vai éamante:
tudo tsntim, por tenlim; os editores ignoran em «home hábil para as letras*, a correlação
tes o confundiram com atento adjectivo; tal é entre homem e letras mostra-a a proposição
a sinte (de a sciente); a torto, a drede; estar a para que indica o fim e que completa o sen
direito; á conta, á rasão com alguém: «Disei tido vago de homem hábil, que o pode ser
atento*, como quem calcula (Ulissipo, Com. para muitas coisas: em «homem de letras* de
A. 3 se. 4) de vagar: «Vai-me amor matando indica a possessão da literatura competente
tanto atento*, Cam., Son. 11. competente ao homem que a possue, e é atri
(«). V. g.: «estive no teatro quando tu lá es buto seu, aliás representada pelo atributivo
tavas», i. é no tempo quando ou no qual. Quan literato.
do vens? i. é, dize-me o tempo, quando vens? (*). Em inglês usa-se da preposição of, ou
O como, q quando; é o modo, como; o tempo de ajuntar um s ao nome; v. g.: house of Pe-
quando: «Ensinai-me o como: i. é, o modo, de ter ou Peter*s house; casa de Pedro ou de Pedro
como, etc. donde se vê que como sempre per casa, imitando o genitivo latino.
tence a uma proposição incidente, que modifi (5). Os bons autores dizem variamente:
ca uma palavra subentendida ou clara da pro «eu sou o que falei, ou o que falou»; o pri
posição principal; alguns clássicos escreve- meiro é mais clássico e conforme a razão;
veram quomo, de quo modo latinos. porque que refere-se ou substitui-se a eu e
('). «Pedro ama a João* a correlação entre vale tanto como e eu falei: «eu sou uma don a
João, como objecto amado ou paciente, a res que venho aqui»; «eu fui aquele que menos
52 «
EPÍTOME EPÍTOME
senti*; «eu sou a que ando nas mexericadas» deram; e que fes muitas outras mercês, etc»;
(Barros, Clarim., L. a, c. a * 19. Sá e Miranda, o primeiro que refere-se a reis e vale tanto
Egl. V; Lusíada, 5, 50). «Quem és a que me como e eles deram, o segundo a um rei do
falas?* é análogo. «Esse tu, que lá estás* número dos reis de Portugal, e que (i. ê, é
(Men. e Moça, L. a, c. aa, e Camões, Anfi ele) fez muitas outras mercês.
triões). Contudo, nos mesmos clássicos se Há homens, há frutas não são concordân
acha: «eu sou a que lhe maior bem quer»; cias irregulares; nestas sentenças e seme
e «perdeis a mim vosso irmão, que vos tanto lhantes falta um sujeite do singular e os no
bem quer»; parece que em ambos deve ser mes do plural são a coisa possuída pelo ver
quero (Clarim., L. 2, c, 21 t 26). Na Ulisseia, bo activo haver: acabadas as inimisades, que
3, 82. Lava e estou fazem parecer diversos havia entre Deus e os homens; i. é, as inimi
sujeitos das incidentes, sendo um só. zades que o pecado havia posto, feito, causado,
Quando as proposições incidentes determi entre Deus, e os homens, etc. (Vj. o cap. 5, L.
nam uma classe de indivíduos, o verbo delas 1, num. 32, nota (49).
deve ir ao plural, concordando com o nome Povo, gente, parte e outros nomes que sig
do plural, que os indica; v. g.: «João é um nificam muitos indivíduos, levam ò adjectivo
dos homens que se portaram melhor naquela e o verbo ao plural; v. g.: «Gente cena nem
acção». Portanto, é incorrecto dizer: «Esta os estimo, nem me vão movendo» (Ferreira,
cidade foi uma das que mais se corrompeu da Carta 8, L. 1, Vj. Lusíada, 7, 1). Quando fala
heresia»; devia ser: das que mais se corrom mos a um por cortesia como a muitos; v. g.:
peram. Outra coisa seria, se a classe fosse já vos estais muito ancho e contente: o verbo vai
determinada, por qualquer atributivo, e a in ao plural; os adjectivos ficam no singular
cidente explicasse só o sujeito singular da Vieira, Palavr., f. 156: «Sois obrigado a to
principal; v. g.: «Eu sou um d'aqueles infeli- mar. .. não sois obrigado etc.» Vj. os prólo
ces e o que mais sofri nessa desgraça». Vj. gos das Dec. de Barros. Vieira, 10,/. 210: «Vos
Leão, Cron., T. 1, /. 230. «Foi um dos reis mais imagináveis afogado no mar... ou lançado
liberais... e d'os que mais Vilas e Castelos pelos ares, etc» O mesmo é se alguém fala
deram e que a ida del-rei seu irmão a Castela de si, com verbo no plural; v. g.: «muito lar-
tomou por grande afronta»; é um exemplo fo temos sido», «quando disso/ormos sabedor*.
correcto, o primeiro que determina a classe endo o sujeito e atributo nomes, o verbo
geral dos reis por um atributo comum a to concorda com o sujeito; v.g.: «Odote, óPam-
dos; o segundo dá mais atributos a. um dos pilo, ê seis mil escudos*; «As armas do impe
reis. «Um dos capítulos da Lei de Deus que rador ê uma águia* (Lobo, Corte na Aid.). Mas
mais deve consolar a um cristão, e etc. Uma disto direi mais na sintaxe figurada.
das coisas que mais nos mostra o amor com (6). «Por salvar mi ofereceu si* [Inéditos, T.
que Deus nos ama» são correctos. Paiva, S. 3, pag. 370) é uma antigualha desusada; o
x,f. 325. «O Vouga é um dos rios de Portugal mesmo são migo, figo, sigo sem com.
que entram no mar»; «O Douro é um dos (i). O sujeito do infinitivo em português
maiores rios de Espanha e que leva mais água também é o nome eu nesta figura; v. g.: «To
que o Tejo». A primeira incidente que entram dos sabem ser seu dos teus maiores amigos»;
refere-se a classes dos rios; a segunda que «Fazem-st temer», tfasem temer a si, causam
leva refere-se ao rio Douro e vale tanto como temor a si, porque o nome abstracto e os in
a ele rio Douro, (Leão, Desc. de Port., c. 17 e finitivos são idênticos: «Ver-me-ás do reino
18) são exemplos correctos. Enfim a regra é ser privada» é «verás a mim o ser privada do
que o articular relativo das incidentes con reino»: sendo o ser privada paciente de verás
corda em número com o nome antecedente a e me o termo, como quando se diz: «vi-lhe
quem ela modifica; e é regra geral de todos uma espada; viu-me a cabeça ferida; etc»:
os adjectivos; «um dos reis que mais castelos «Se faz temer ao reino de Granada» é «faz te-
— 53 —
pi\
r «
EPITOME EPÍTOME
mer-se ao reino» sendo /«««r paciente defas, destes, usando dos casos dos pronomes refe
se paciente de temer; ao reino termo defas ridos aos nomes, ou do articular relativo com
temer como fes temor a todos; ou temer-se, preposições ou junto ao verbo; v. g.: «O me
ser temido, paciente; ao reino, termo á manei nino, que quem o afaga, o choro lhe acres
ra dos latinos, que dão um dativo aos verbos centa» :
passivos, a que arremeda a o reino: «Isto lhe
fes deter-se ali» (Clarim., tomo 2,f. 224); «otem Bromia, quem com vida ter (por a quem)
po e a idade tefasem desconhecer-me* causaai Já da vida desespera,
a ti o desconheceres-me (Ferreira, Bristo, Que lhe poderos dizer ?
K, 2.). (Camões).
(»). Limita-se quando aos nomes eu e tu se
ajuntam os adjectivos um e outro, como já
apontei no cap. 7, nas notas ao número 14, e «Regida pela lei das mulheres, que lhes pare
16 (61) e (62). . . ce merecer mais o tempo, que a vontade»,
(9) Muitos autores usam de se, si, siço im por a quem parece (Clarim., 2, c. 6, pag. 57);
propriamente ; v. g.: «Saiu o Grão Duque a «Quem tão confiado é em seus guardadores,
esperá-lo e três Cardeais consigo*, devia ser escusado lhe seria eu» (Barr., Clarim., 2, 19);
com ele *, i. é, e três Cardeais saíram com ele : «Que, porque do salgado mar nasceu; Das
•o Grão Duque levou consigo três Cardais* é águas o r»oder lhe obedecia» (Lusíada); «Ve-
correcto. (V. do Arceb., L. 2, c. 20). «Eu ando reis estc.-\\ie agorapressurosopor tantos mo
mal com ele» ele anda mal consigo, desa dos o Indo vai buscando, tremer dele Neptu-
vindo cosingo, aborrido de si mesmo. «El-Rei no» (Lusíada); «Em Dio não estavam as ar
saiu com a gente, que ficou consigo* é erro, mas ociosas, porque Rumecão valeroso e cons
deve ser que ficou com ele ou que ele deixou tante, não o assombravam os danos recebi
com sigo, etc. «A virtude por si mesma é res dos» (Freire); «Aquele, em quem ponho a vis
peitável» e não por ela mesma. 1Será próprio ta, por esse dou a sentença» (Camões, Anfitr.,
<Tu amas o saber por si somente?* (Ferreira; e vi. Lusíada, 2, 40); «De Subdiácono não
V. do Arceb., L. 2, c. 25). seja ordenado quem lhe faltar esta qualidade»
(i°). O caso lhee lhes é termo e não pacien (Sousa, V. do Arceb.); «Uma vida de quem lhe
te; v. g.: «tomou-lhe norte com histórias ve não lembra nada da outra» (Vj, Paiva, Serm.,
lhas :* tornou-o a. noite ali», i. é, sobreveio-lhe xf f' 74)» «Um grande merecimento nunca lhe
naquele lugar. «Tomou-lhe a noite ali», no faltou a inveja» (Vieira, Serm., 7, /. 67). Até
mesmo sentido de tomou-o a noite; é incor- aqui bem; mas é incorrecto dizer: Que eu
recto e assim o são «a Duquesa, que em es em sangue e nobresa, o claro Ceo me estremou
tremo lhe amava*: por o amava (Palmeir., p. (Camões, Phil.) devia ser, que em mim em
a, c 74); «tomou-lhe tanta dor, tomou-lhe sangue e nobresa o céu me estremou; aliás eu
medo*: por tomou-o tanta dor e tomou-o o será sujeito sem verbo; «Da cavalgada ao
medo»: «tomar-lhe medo», é concebê-lo de Mouro já lhe pesa»; o lhe escusado serve de
alguém (Vj.: Men. e Moça, L. 2). «o tomou ali encher o verso (Lusíada, 1, 90); «Com os
a noite* (cg e c. 36) tomou-lhe tanta dor; mal quais lhe pareceu a D. João Mascarenhas, que
pois dizemos: tomou-o um acidente; tomou-o podia intentar coisas maiores (Freire); o lhe
a novo dor sobre a aflição ainda recente, etc. é supérfluo.
Eu lhe amo,lhe adoro, são erros das colônias: (12). «Após de mim virá quem melhor me.
quero-lhe com a minha vida; se. quero-lhe bem, fará»; «Vem logo após de mi, por aqui den-.
como, etc, é correcto. tro», (Costa, Terenc, 2.pag.281). Nestes exem
(U). Os nossos bons escritores muitas vezes plos apôs usa-se como advérbio, como depois,
omitem as preposições, que haviam de prece atrás; em todos é visível a combinação das.
der aos nomes e indicam depois as relações preposições a e de com pôs, que os antigos
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MSS
EPÍTOME
EPÍTOME
diaserão espôs, empôs (como os Latinos inante, em no termo; reduzer em na servidom» (Or
fasuòer, desuper) e talvez pôs; v. g.: «claro den. Afonsinas, L. 2, T. 1, c. 5 -. «Tem por in
apósT chuva oSol, pôs noite odia» (Ferreira, júria fazer*m-»o» (H. Pinto, pág. 418). «0««»
Ode 2. L. a. Vj. a História dos Varões Ilustr., «'a-de lograr?» por quem a há-de lograr?
dTapelido de Tavora,/. 156, «157» %» Di™- (Crus, Poesias, ). 115). «Tanto é morador
«*r art Pôs e Após. Sousa, Hist., P., 3, L. 3, Quanto é mór quem na deu» (Men. e Moça,
Tio. /. 04; tf//, J«««'., 1, f- 53i). />«««" »'»f Egl. 3). Em todos os exemplos precede o n
diante si vem nos clássicos; e dtante Reis, a« artigo que devia seguir-se a em; outras
diante Imperadores; outras vezes diante de vezes dizemos; v. g.: de"o fazerem para evi
Deus e dos homens. (Vj. Sagramor, 1,17, fw- tar o hiato de lszexem-o; «sofriam muito mal
««ir.. 1,c 35, Bernard., Flores do Lima). terem-no por Regedor» (Leão, Cròn., T. 1, /.
(&i Até às vezes parece advérbio, também: 218, edic. de I774> ., ,
(»). Pinto Pereira, L. a,/. 131 à\z mal: «para
«Foi tão grande o contentamento que até a entre el-rei de Portugal e eu>; devia ser e
Pradelio, que tão iastimado ia, coube parte
deste gosto» (Lus. Transf.,f.140); «E do que mim.
(W). Trás usam os clássicos hora como pre
aténos agros se sente falta», (Lobo, Corte, ü., posição; v. g.: trás mim. trás ele, hora como
q f 61); «E até a sua presença lhe valeu advérbio; v. g.: atrás de mim, ae ti, dele; e
pouco», (Id., Primav.). Noslivros antigos vêm assim usamos hoje. Salvo ê o verbo salvar
atá por.até (Ord. Afons., Asurara, Cron. do por exceptuar; e salvo eu é ficando eu salvo
CondestX . ... .. ou exceptuado, onde salvo é adjectivo. Ex-
(U) Quando, pois,queremos indicaro objec cepto alguns, como preposição, acha-se nos
to do amor e semelhantes qualidades enérgi livros clássicos; outros o usam melhor como
cas é menos equívoco usar de a ou para; particlpio: «exceptas as cartas do Marquês
v.g.: o seu amor às letras e para o próximo. (Vieira, Cart. T. a, /. 103)»; o mesmo é Me
Diremos bem geralmente falando: «o amor
do próximo é dever essencial*, porque é um diante e obstante e durante, mas ê mais cor
dever mútuo, de que devemos ser sujeitos e recto usá-los como particípios; v. g.: «me
objectos. «Para que junto disposessem a re diantes as quaes promessas; não obstantes
sistência do comum inimigo*; seria melhor quaisquer leis em contrário»: e «durante o con
ao comum inimigo (Freire). «Não sei, do amor cilio* mas «durante as festas* e presentes elas,
à pátria, ou da benevolêccia ao Governador Vj. Barros, Gram., f. 71; Monarch. Lus.,T% a,
nasceriam estes extremos»; é mais claro que /. 6 e 284. Ulissipo, A. 1, c, 1; Resende, Cron.
do amor da pátria; e da benevolência do Go J' H. e. 117. Sousa, V. do Arceb. L. 5, c. 24-
vernador, de que este era objecto. «Aas coisas tocante á Religião» ê erro de con
(1*). Dês i acha-se nas reimpressões dos li cordância, e um galicismo; deve ser tocantes
vros clássicos escrito assim de si com senti como pertencentes. . _
do absurdo*, dês i quer dizer depois disso, (•9). Este modo de expor a composição dos
desse lugar, passo, época. Vejam-se as obras nomes com os nomes (por si sós, ou acompa
de Barros, o Lêlio de Resende e outros reim- nhado o primeiro de adjectivos e verbos), ex
pressos.
plicando em geral as relações deles, que as
(**). Em não se muda em n; mas cala-se preposições declaram, parecerá difícil; mas
antes do artigo e a este ajuuta-se n por eufo qualquer meâ capacidade entenderá o que é
nia ; os antigos disseram «em no tempo ; em relação entre dois termos, começando a expli
no eu vendo»; «Em nhas assenhas» (Foral car-lhas das físicas e passando às semelhantes
de Tomar de 1162, tradus.), porque escreviam incorpóreas; v. g.: sobre a terra, sobre mim,
ho, ha, artigo: «Dá poder aos judeus sobre vobre minha palavra, fé, verdade, etc. Aliás
os cristãos em nas suas pruvicas: em nas que quer dizer: tal nome, adjectivo, verbo
suas ovenças pruvicas; em nas possissões; ou preposição, rege em português gentltvo,.
55 —
p' :ia
EPÍTOME EPÍTOME
dativo, acusafivo? Isto é dar idéias falsas, fosse servido» (Sousa, V. do Arcebispo, L. 4,
porque não temos tais casos; e se o quiser c. 16 e 17, e L. 5, c. 25). Concordar o adjecti
mos explicar por meio dos casos Latinos e vo com o título feminino é erro, salvo quan
seus usos, daremos outras idéias falsas e ex do o título convém, e se dá a Senhora. Na
plicaremos o que se ignora e é difícil, por dedicai, ao principal vem erradamente: V. Ex
meio de outras coisas mais ignotas e difíceis celência, gozando ela»; deve sexele. (Vj. Duar
e com tudo os nossos gramáticos, reconhe te Nunes, Descripc. de Portug., ulf. ediç. de Bo-
cendo que não temos casos, todos torpeçaram rel). Vj. Camões, Filodemo, r.° c. 3 e a.° c. 3,
nos Nominativos, Genitivos, Dativos, etc Vj. * Barros no Panegir. delReia cada passo trás:
Duarte Nunes, na Ortograf. f. 306, ulf. ediç. V. Alteza... Ele; e Sousa, V. do Arceb. L. 5,
Clava de ferro dizemos; e de ferro dirão os c. 35. V. Senhoria... ele e não ela; que fora
gramáticos é genitivo; mas em português não. Galicismo ou Italianismo. Vj. Couto, Dedicat.
porque ferro só se varia em ferros; em Latim da 4.* Década.
menos, porque lá dizem férrea clava ou de (*»). O artigo o todas as vezes que se refere
ferro, como de duro est ultima /erro: onde a um adjectivo atributivo ou a nome usado
está logo ou como está de ferro em genitivo? como atributo, nunca varia daquela figura
Outros exemplos vem análogos; v. g.: Evan- respondente ao gênero masculino no número
drius ensis, espada de Evandro, etc. singular; v. g.: «As feias, nem por o serem,
(»). Vj. Sá e Miranda, Vilhalp., act. 1, c. é razão que vivam descondentes». Um dos
1, «3- respeitos, que o bárbaro teve «para matar tão
(*). Eufr., act.i, c. 1. cruelmente os Christãos, foi porque depois de
(aí). Nossos maiores disseram faser fim. V. o serem, já os havia mais por vrssolos de Por
do Arceb., L. 5, c. 29, fes fim á sua escritura; tugal, do que seus; Foram-wo e são-no para
que foram daqueles cavaleiros! Inéditos, T. 3, morrerem e não o serão para os defender
/• 3«3« mos?» (Lucena); «Os seus doutores, que o
(»). «O que queira dizer a nossa Eunuco*; são fracos» (Veig., Etiop., f. 47, v.); «Foi ver
i, é, a nossa Fábula ou comédia intitulada a sepultura de seu irmão, que o havia de ser
Eunuco: «morto aquele peste do mundo», i. é, sua» (Pinto Pereira, 1, c. 24); «Tirando-a de
aquele homem peste do Mundo Herodes: mulher de quem o era, fez que o fosse, de
«aquele fonte da Eloqüência Cícero»; aquele quem o não queria ser» (Idem); «Todos têm
Cícero fonte da eloqüência, o serdesfeias; i. recebido de vós obras de grande amigo, e eu
é, mulheres feias : eu sou o fora de mim; i. ê, (Lindarifa) ainda livre delas, como se o eu
o que estou fora de mim (Camões, Anfiir.); não fosse grande vossa* (Clarim., a, c 6). Em
«Outros Reis os seus estados guardam de ar todas estas frases há elipse do infinitivo ser,
mas rodeiados; vós rodeiado de amor*, vós puro ou pessoal, com que concorda o artigo o,
guardais os vossos rodeiado de amor (Sá e como quando dizemos o ser douto; quando o
Mir.). serem (meus males) por ti me da de glória;
(**)• «Ventos e águas sempre se mostram (Camões, ElegH 8). O seres feia; o serdes dis
duras para mágoas»; c duros e duras: «En cretas ; o ser ou não ser oiro e prata e o tudo,
tre as ervas do prado não há machos (se in etc. Quando pois vem o artigo só, subenten
divíduos )e fêmeas conhecidas? (Camões).Da de-se o infinito puro ou pessoal; v. g.: «que
qui se vê que os adjectivos, modificando dois riam que os ordenandos conhecessem a digni
nomes, não se usam sempre no plural mas dade (sacerdotal) e a estimassem pelo que ela
culino, nem por ser mais nobre (como os gra é*, i. é, pelo ser que ela é. (V. do Arceb., L. 1,
máticos dizem); exprimem-se numa forma e c 17, e 3, c. 15). Mas os adjectivos que se ajun
subentendem-se noutra. tam, quando é pessoal, concordam com a pes
(»). «Que bem lembrado estaria S. Santi soa em gênero e número; v. g.: «consultam
dade»; «Pedia a S. Majestade (El-Rei), .que os seus doutores, que o são fracos*, i. é, que
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EPÍTOME
EPÍTOME
são o ser doutores fracosx «as feias nem por o embaraços; e por isso o artigo se varia segun
seremfeias* e eüpticamente nem por o serem. do o gênero e número; «nós somos mais
Dirão que não dizemos ser o ser feia? Mas o amigos do que éramos dantes»: amigos atri
infinitivo ser a cada passo se acha sujeito butivamente tem o referido: «nós somos mais
cognato de si mesmo modificado por outros amigos (em número) dos que cuidávamos,
atributivos; v. g.: «Julgareis se pode ser serem que apui seriamos nestas vodas»; aqui ami
verdadeiros os desejos que tendes de ir a gos e substantivo. Ela é mais mulher, mais
Deus», Paiva, S., i,f. 258; «tanta falta como se mãe do que tu, porque mulher e mãe aqui
ria servencido», Leão,Crôn.J. I, c.47; «quese usam-se atributivamente. Assim mesmo o é
ria, serdes tanta gente... e leixardes-vos assim invariável referido a atributos com verbos
vencer?», (Ined., 3, /. 26); «As condições do neutros; v. g.: «dizeis, que ides, vindes, estais,
Reino foram sempre serem os vassalos fi ficais saudosa e eu também o estou, vou,fico,
lhos e o Rei (se ser) pai e Senhor» (Jornad. venho de vós, como irmo, que muito vos amo»:
de África, f. 73). «Ser Príncipe 4 ser o que tu contra este uso tão constante se lê no Triun
és?*. (Caminha, Epist. 12). «Grande dignida fo do Sagro Amor, L. 1, c. 29,/. 135, v% «Pe-
de* ê ser mãe de Deus e é propriedade sua sua dragonte partiu mui saudoso, de quem a não
advogada, o qual (se ser advogada) ela mos ficava dele», (era uma dama) e deve ser, de
trou nas vodas de Cana». (Fios Santor., U. de o não ficava. «Pobres donzelas postas em
N. Senhora, c. 16, ediç. de 1567). «O ser do risco de deixar de sê-las*; é erro; devia dizer,
homem são honras, riquezas», Ferr. Carta 9, de o serem ou de sê-lo, mas não rimava com
L. a). Igualmente dizemos; v. g.; «A ilha era donselas, Vj.: Lusíada, 4,17, v. 2 e 3; «a mãe,
de Mouros (Mourisca) e também o era toda a que tão pouco o parecia»: ande a precede a
Costa». (Castan, L. x, c 8). «Não seja o amor mãe substantivamente ; o parecia, sc^ o ser
com tanto excesso (tão excessivo), porque se mãe, atributivamente: «a mãe que tanto o
o for* (Paiva, Casam. Pref.). «Tudo nas mu tinha desejo do ser e o logrou tão pouco», i.
lheres 4 suspeitoso, até- o serem virtuosas e ê, tinha desejado o ser mãe e logrou tão pou
pára o serem sem perigo requer-se muita co o ser mãe, o sê-lo, Vieira, Palavra,
prudência». «Pessoa e ser ê o (se ser) de Flo pag. «8.
rença, para um Príncipe a tomar por mulher». (n). Vj. o cap. 5, do L. x, n.° 13 desta grama'
(Ulisip. Com., a. 5, c.7, f. 355). «A condição, fica: outro exemplo vem na Eneida de Bar
que mais lustra em Príncipes, 4 ser liberais*, reto, 9, est. 171: «A alta ilha de Prochina refi
(ibid. f. 326 e V.f. 337). «Nobreza ê ser rico e na* em vez de retine no indicativo, que o sen
vir de pais, que o fossem*. (Vj.: Ulissipo,f. tido pede ali.
257, ulf. ediç.). «Isso é serdes senhor absoluto». (**). Estas enalages são de Camões, no Filod.
(V. do Arceb.) «Quem negará serdes, meu e Anfitr. e na Ode I. de Ferr. no Bristo, Act.
Deus, um ser infinitamente bom e que o sois 2, se. 4, e Cioso, /. 177. Sa e Mir. Estrang. se.
de toda a Eternidade?» Com esta mesma ana ulf. onde quase sempre falam criados e os
logia dizemos naa comparações: «é mais moça, poetas imitariam ou remedariam a incorrec
mais formosa, maismulher do que tu»; aqui ção da frase; porque quando no Bristo fala o
o artigo refere-se a atributos: «tem mais an- cavaleiro Aníbal diz: «Todos querias, que
tiguidamente dá que lhe dão»: chorou mais fossem como eu ? entram para que prestava ?»
lágrimas de as que lhe viste chorar: mais en Responde o parasito: «Para que eles presta
levada Filosofia, d& que trataram todos os riam, se fossem como ti* (Vj. Bristo, f. 17, A.
Gentios escritores (Barros, Vic. Verg.): inda 2, se. i, ef. 40 e 47). Vj. no Dicionár. o art. Eu.
são mais embaraços das que eu quizera comi «Se eu fora tu» Couto, Sold. Prat. P. i,f. 117.
go. (SáeMir., Egl. 8; Vasconc, Sitio, 67). Nes (*9). Nós dizemos correctamente se tu foras
tes exemplos o artigo refere-se a a substan eu, porque o verbo concorda com o nome tu
tivos tais, antigüidade, lágrimas, Filosofia, sujeito, em número e pessoa; logo invertendo
— 67 —
p- EPÍTOME EPÍTOME
diremos se eu fora tu: como: supõe, que eu sou uso deles e sua casa de oração (Descripç. de
tu,.e que tu és eu: que tu és ele, eque ele étu. Port.) «O Capitão... Recebendo o Piloto,que
«Que eu em sangue e nobresa o claro ceu me lhe vinha foi dele alegremente agasalhado»;
estremou» devia ser:. «que a mim em sangue iquem foi agasalhado, o Piloto por Vasco da
etc, o claro ceu me estremou». Vj.aqui o Cap. Gama ou este pelo Piloto ? (Lusíadas, 1,95).
i. § 2, num. ia, nota (»»). «Discípulos Santos, (55). «Ama o povo o bom Rei e é dele amar
quem vos fez mais maviosos, que a vosso Di do»: deiva em dúvida quem é o sujeito, que
vino Mestre?».é correcto, sendo a sentença ama; (Ferr., Carta 1, do L. 2;, mas o equívoco
suprida; do quefes mavioso a vosso Mestre: aqui é feliz e a sentença verdadeira de qual
e é igualmente correcto: «Para mim não vejo quer modo. Vj.: Ulisseia, 10, est. 78, «As-
maior perigo que a mim, i. é, do que vejo a trèa, etc*.
(36). *Que um bosque sobre as ondas pare
jnim: em ambas o verbo suprido tem os pa
cientes mostrados pela preposição a, e os su cia» refere-se a armada, precedendo uma in
jeitos são diversos e incluídos nas variações cidente (que partia) e uma principal. E as
pessoais ou antes em quem fes e eu vejo. proas para Tenedo inclinaram*. Outro exem
(80). eJDormimos sonos alheios, os nossos plo vem no Tomo I das Cròn. de Duarte Nu
não os dormimos; rimos os risos alheios*, diz nes, pág. 208, ediç. de 1774, onde diz: estava
Sá de Mir. pintando o caracter servil e lison- neste tempo, etc. ali se acolheu parece referir-
geiro e para ajuntar os epitetos, expressa os -se a S. Luís, que herdara o Reino, aonde de
pacientes cognatos somos e risos juntos ador Roma se acolheu, etc mas é do Papa (V. Frei
mimos e rimos. Semelhantes a estes são: por re, pág. 398, ediç. de Paris: «despachou al
séculos dos séculos, esta.é a verdadeira verda gumas espias, etc»).
de, pelejar as pelejas do Senhor; etc (3"). Má versão de «negotium facesseret* em
(Ji) «Lhe refere o que pedee oaquevinha». o Lelio de Resende.
(Eneida, io 35)- «Nunca me esquecerá Alfeu (38). Os infinitos, supinos e gerúndios são
o (se perigo) a que te aventuraste por meu nomes verbais invariáveis, com estas dife
respeito». (Lobo, Primai:, f. ioo). «Tudo o, a renças: que o Infinito significa o atributo
que te inclinas» (Caminha, f. 32; Lião, Cron., verbal, sem. relação a tempo algum; v. g.:
T. 1, /• 109, ediç. 1774). ler, escrever: o gerundio designa o mesmo
(«). Nas línguas, que tem casos, onde a atributo ou acção abstracta actual e imper
transposição das palavras é mais livre, pode feita ; v. g.: em lendo, entre lendo; o supino é
ser a construção indirecta sem hipérbato, fi outro nome, que significa a acção em abstrac-
gura mais ordinária nas línguas mais sujei to referida ao passado ou completa; v. g.:
tas á colocação directa. Vj.: a Lusíada, 2, est. «tenho lido, escrito*; que é lição feita, escri
87, 00 e 91 e Lusit. Transform., f. 83. «E assi tura acabada; temos rido muito, dançado;
o.nosso rústico pão a teu cantar não in temos jogado; etc. «Os que havendo posto sua
vejoso etc*. confiança em Deus, desanimaram com os.tra-r
(33). Assim o escreveram Resende no Leito, balhos, e a tem posta nas ajudas.do mundo,
Gois"nas Crônicas e outros derivando-o de conheceram o seu erro»', éum exemplo cor
hac e hoc Latinos. recto : «As prisões em que os temos alados*
(8*). Nós dizemos correctamente eu quero- (Freire); «Instituiu-nos a observância, que a
-Ihe bem, gabo-lhe a pachorra: onde lhe é ter maldade dos tempos tinha esquecida e caída»
mo ; bem e pachorra pacientes.Este equívoco (Hist. de S. Domingos, Tom. 3, /. *43i «f/.
é talvez inevitável; v. g.: tirei-lhe o chapéu, ediç.); «São exemplos certos da coisa possuí?
por cortejei-o e tirei-lhe o que ele tinha; com da modificada por particípios: «Tenho a for-,
prei-lhe a casa, para ele ou a ele. As circuns talesa de Dio derribada até o cimento* (Freire)H
tâncias tiram a dúvida: «indo S. Geraldo de «os inimigos tem derribado a fortaleza até o
dicar-lhe um templo», não a eles mas para cimento»; são correctos. O Governador tinha
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EPÍTOME EPÍTOME
a fortaleza naquele estado.; o inimigo tinha-a graves ; v. g.: vèo, fèo, por veio, feio, etc. Co
aó derribado.
mummente não usamos de acentos prosódicos,
Como, pois, sejam nomes abstractos verbais, " se não é para distinguir palavras homônimas,
servem de segundos termos de relações, com ou dá mesma escritura e diversos sons e sen
aa preposições ; v.g.: a ler,para ler,entre ten tidos ; v. g.: ést& a casa de Pedro ; está a casa
do, sem sabendo; e quando lhes ajuntamos os de Pedro; azadas adject: de azedas verbo;
nomes eu ou tu como personificando os infi Ímpio de impio com licença poética; torno
nitos e gerúndios, as- preposições não fazem nome, de torno verbo; saúda dividindo o a
mudar os ditos nomes; v.g.: e por eu saber, do u, ou ditongando em landa e pawta, etc,
para eu ver, em eu sabendo,, como por tu sabe sem o acento ou ápices; v. g.: saúda, grauda,
res ou para tu e não por ti saberes; salvo se miúda.
ti fosse complemento de saberes; v. g.: tbem (41). Duarte Nunes e outros adoptaram na
obraste, se o fizeste para tu saberes por tf divisão das palavras as razões da Ortografia
indica o meio ou pessoa, por quem se faz a Latina, onde áspero, v. g.: no fim da regra se
accão saber, como sentido diverso de por tu dividiria a-spero, porque há palavrar Latinas,
saberes, frase, na qual não se exprime o meio que começam por sp, e assim a-specto, etc.
ou modo de saber, mas só o motivo. «Daqui Mas isto'é inaplicável ao Português e contra
dou o viver jápor vivido» é participio cogna-- a razão filosófica.- Toda-, consoante deve ser
to do nome infinito viver. .
seguida -de vogai .ou de um e mudissimo; e
(»). Com a mesmadiferença de sentido dí- ' onde ele não se escreve, tanto importa que a
,2t «Franceses elle "t sortie e elle a sorli. consoante fique com a vogai antecedente, como
(«J. O acento circunflexo dos antigos era que acompanhe outra consoante; v. g.: es-cre-
?<??;• „Iev*ntfr ° tom da vogai e logo abai ve, que soa e-se-ke-re-ve, porque se dividirá ao
xá-lo nós não temos-semelhantes vo|ais e o modo' Latino escreve (^ra>scribo) e não es-
acento circunflexo nos- é -desnecessário ;- os • •crevé;'- e-spelho- (speèulutn e não es-pelho (Or-
nossos gramáticos acentuam com ele vogais.; /0£r.,.pag. 231 e.seg.). x .-.
— 59
TÁBUAS
/f?\
Modos Indicativos
Plural:
Plural:
"fr-- 60 —
0$\
EPÍTOME
:Í EPITOME
VARIAÇÕES SIMPLES RELATIVAS
Do Presente e do Passado
Singular:
Plural
Plural:
Plural:
As variações compostas do modo indicativo ou hei lido, houvera tido, haverei lido, etc. As
formam-se com os verbos auxiliares e os ge mesmas variações perfeitas do verbo auxiliar
rúndios, para indicar o atributo verbal actual, ter se formam com as simples suas ou do
imperfeito; v. g.: Estou lendo, estive lendo, verbo hei; v. g.: Eu hei tido on tenho tido, en
estarei lendo, estava lendo, estivera lendo, esta houvera tido, eu houve comido; houvera tido,
ria lendo. As que representam o atributo ou lido, comido; etc, haverei sido, terei sido, es
acção do verbo como perfeita e acabada, com tado, tido, lido, etc. Heude ser, havia, tinha de
põem-se dos auxiliares ter, haver, com os su ser, etc, são de futuro. (*7).
pinos; v. g.: Tenho tido, tive tido, tivera tido
Modos Imperativos
Singular:
1. Sê tu Está tu Tem tu Há tu (Have antiq.)
Plural:
— 61 —
epít-o:me EPÍTOM E
Modos Subjuntivo^ *
DE FUTlJRO A RESPEITO DO PRESENTE
E AINDA DO PASSADO («)
Singular;
. - Plural :• . .
DE FUTUROS DO SUBJUNTIVO
Singular:
I. Eu For Estiver Tiver Houver
2. Tu. Fores Estiveres Tiveres Houveres
3- Ele For Estiver Tiver Houver
Plural:
* Tfeste modo subjuntivo também combiná vindo e para indicar o estado perfeito dos au
mos os auxiliares com os gerúndios e supinos, xiliares ter, haver; v. g.: que eu tenha ou haja
para indicar o estado imperfeito; v. g.: que estado, sido, tido, lido, ouvido; se eu tivesse
eu esteja- sendo, lendo, ouvindo ou estivesse ou houvesse sido, tido, lido, ouvido; quando eu
sendo, lendo, ouvindo; estiver sendo, lendo, ou tiver sido, houver tido, lido, ouvido.
• • • Modos infinitivos
Pessoais
. . .Singular:
0&\ 1. Ser eu Estar eu Ter eu Haver eu
3. Seres tu Estares tu Teres tu Haveres tu
3. Ser ele Estar ele Ter ele Haver'- ele
Ms 68 —
E P íW M E EPÍTOME
Plural:
Sido, estado, tido, havido. Sido não é particípio, pois ser nunca
foi passivo, ainda que digamos seja-se, designando espontaneidade
de ser tal ou tal.
EXEMPLOS
DAS QUATRO CONJUGAÇÕES BEGÜLARES
•EM AB, EB, IR, OR (51) : . .
Do Presente
Singular:
Eu Amo Defendo Aplaudo Ponho
Tu Amas Defendes Aplaudes Pois ou Pões
Ele Ama Defende Aplaude Põi ou Põe
Piorai:
. Do Passado
Singular:
Eu Amei Defendi Aplaudi ' Pus
Tu . Amaste . Defendes/e Aplaudis/e Pusesle
Ele Amou Defendeu Aplaudiu Pos
Plural:
Nós Amámos • Defendemos Aplaudimos Pusemos
Vós Amaste Defendes/es Aplaudis/es Pusestes
JSles Amaram Defenderam Aplaudiram Puseram
~ 63 —
t
EPÍTOME
EPÍTOME
Plural:
Singular:
Plnral:
Plural:
Os antigos disseram amárom, defenderom, Orig, c 19, adverte bem que os futuros em
aplaudiram, etc, e antes amarum, ficarum, ei, farei, amarei, etc,e os emia, amaria, teria,
etc, do Latim amarunt por amaverunt; os são os infinitos compostos com hei, de haver
franceses, mudando o um em om, deram as e os em ia do imperfeito de ir; eu amaria, i.
desinências em om. V. Eluciddrio, Art. Ba- é, eu ia amar ou hia por havia.
J§P\ bilonn T. i, pag. 165, col. 1. Duarte Nunes,
Plural:
10)
_ 64 —
J
M\
EPÍTOME EPÍTOME
Os tempos imperfeitos se formam com o xiliares ter ou haver com o supino; v. g.: Hei
auxiliar estar e com os particípios ou gerun ou tenho lida, houve lido, haverei ou tdrei lido,
dio; v. g.: estou, estive, estarei, estava, estive havia ou tinha lido, houvera ou tivera lido,
ra. estaria amando, defendendo, etc, teria lido, etc.
Os tempos perfeitos compõem-se dos au
MODOS IMPERATIVOS
Singular:
Plural:
áSS\
Singular
Eu Ame Defenda Aplauda Ponha
Tu Ames' Defendas Aplaudas Ponhas
Ele Ame. Defenda Aplauda Ponha
Plural
«JPs Singular
Eu Amasse Defendesse Aplaudisse Pusesse
Tu Amasses Defendesses Aplaudisses Pusesses
Ele Amasse Defendesse Aplaudisse Pusesse
Plural
FUTUROS DO SUBJUNTIVO
Singular
Eu Amar Defender Aplaudir Puser
Tu Amares Defenderes Aplaudires Puseres
Ele Amar Defender Aplaudir Puser
Plural
/ü\
Nos Amarmos Defendermos Aplaudirmos Pusermos
Vos Amardes Defenderoes Aplaudiroes Puserdes
•Eles Amarem Defenderem Aplaudirem Puserem
Nestes subjuntivos compomos o auxiliar haja, tivesse, houvesse com os supinos para
esteja subjuntivo com os gerúndios ou par- designar o complemento da acção ou do atri
ticipios do presente para denotar a imperfei buto verbal; v. g.: que eu haja ou tenha lido;
ção da acção; v. g.: que eu esteja ou estivesse se eu houvesse ou tivesse lido (55); se eu esti
amando, lendo, ouvindo e dos auxiliares tenha, ver lendo; quando eu houer ou tiver tido, etc.
—. 65
XII
EPÍTOME EPÍTOME
0 INFINITO EM -AR
Juntado — Juntar Junto: se tinham jun
to muitos varões em Veneza
— 66 —
0\ EPÍTOME EPÍTOME
0Ê\
Presentes absolutos
Passados absolutos:
Futuros absolutos:
— 67 —
EPlTOME EPÍTOME E
Passados absolutos:
SI
Eu Trouxe Vali Pude Disse Li
Tu Trouxeste Valeste Pudeste (») Disseste Leste
Ele Trouxe Valeu Pôde Disse Len
Nós Trouxemos Valemos Pudemos Dissemos Lemos
Vós Trouxestes Valestes Pudestes Dissestes Lestes
Eles Trouxeram Valeram Puderam Disseram Leram
Futuros absolutos:
tos:
IMPERATIVOS
Sing. Faze tu, Vê tu, Quere tu Sabe tu, Traze, Vale, Pode, Dize, Lê, Crê
Plur. Fazei vós, Vede, Querei, Sabei, Trazei. Valei, Podei. Dizei, Lede Crede
SUBJUNTIVOS
Eu Faça, Veja, Queira, Saiba, Traga. Valha, Possa, Diga, Leia Creia
As mais variações são regulares, como: Defend-a—as,—a.—amos,—ais,—ão.
Eu Fis-esse, Quis-esse, Soubesse, Trouxesse Valesse Podesse Dissesse Lesse Cresse
as mais variações são regulares, como Defend-esses,—esse,—êssemos,—esseis,—essem(*x).
Visse, Visses, etc. como: aplaudisse, —isses, isse,—íssemos,—isseis,—issem.
Eu Fizer, Quizer, Souber, Trouxer, Valer, Podea, Disser, Ler, Crer: as mais variações são
regulares, como: defend-er, — eres,— er, — ermos, —erdes, — erem. Vir, vires, etc. como:
aplaudir, — ires, — ir, — irmos, —irdes, — irem.
Os infinitivos puros ficam apontados. Os infinitivos pessoais como os do regular de
fender, — eres, — er, — ermos, —erdes,— erem.
Os gerúndios e particípios do passado em -ido; menos os irregulares, que vão na
tábua seguinte («).
68 —
EPÍTOME EPÍTOME
69 ~
•
¥
9 EPÍTOME EPlTOME
9
DOS TEEBOS IEEEGUEAEES, QUE TEM
*
OS DfFIMTITOS EM -IE
• Presentes Indicativos
Futuros
Eu Servirei Subirei Sairei
Tu Servirás Subirás Sairás
Ele Servirá Subirá Sairá
Nós Serviremos Subiremos Sairemos
Presentes do Passado.
Eu ia (") Vi nhas, etc. Pedia, e te. Induzia, etc.
Tu ias como tinha, como ia, ias, como ia, ias,
Ele ia tinhas, etc. etc. etc.
Nós íamos
Vós ieis
Eles iam
Eu Servia, etc. Subia, etc. Saia, etc.
como ia, ias, como ia, 'as como ia, ias,
etc. etc. etc.
— 70 —
JP»
EPÍTOME EPÍTOME
Passados do Passado.
Eu Fora,etc^eo- Viera, etc, como Pedira,etc.,como Indusira,
mo as do Fisera do ver- Pedira etc. co- etc, como
Verbo au bo faser mo aplaudira aplaudira,
xiliar Ser
Eu Servira, etc. Subira, etc. co- Saíra, etc. como
como aplau mo aplaudira aplaudira
dira
MODOS IMPERATIVOS
MODOS SUBJUNTIVOS
Eu Vá Venha Peça
Tu Vás Venhas Peças
Ele Vá Venha Peça
Nós Vamos Venhamos Pecamos
Vós Vades Venhais Peçais
Eles Vão Venham Peçam
Eu Fosse: as mais Viesse: as mais pe- Pedisse Indusisse Servisse Subisse Saísse
pessoas são soas com as de As outras pessoas são regulares, como aplau-oVsse;
como as de Fisesse. — isses, — isse. — íssemos, — isseis, — issem.
• Fosse do verbo Ser.
Futuros simples
Eu For, etc. como Vier, como Fiser. Pedir Indusir Servir Subir Sair, como
o do verbo Ser. Aplaudir —ires, — ir, — irmos, — irdes, — irem.
Infinitos puros ficam declarados no começo: os pessoais são regulares: Ir, ires, ir, irmos,
irdes, irem e os mais como este: v. g.: vir, vires, vir, virmos, virdes, virem, etc.
Gerúndios e particípios do presente.
Indo, Vindo, Pedindo, Indusindo, Servindo, Subindo, Saindo.
Supinos particípios do passado.
Ido, Vindo 0»), Pedido, Indusido, Servido, Subido, Saído.
Temos mais os irregulares de vir, que se conjugam com ele: v. g.: Avir, convir, des-
convir, etc.
~- 71 -
EPÍTOME EPÍTOJIE EP
ride vós. Subjuntivo, ria, rias, ria, riamos, Incluir Incluído Incluídos; v. g.: fi i
no
riais, riam: risse etc, como o regular aplau cou incluído naquele número
ha
ou conta a carta inclusa: *a
disse— isses, etc. Alguns dizem: eles riem-se, dá
mas rim é clássico, riem análogo a rident, tira sentença, que faz no verso in
clusa*.
Si
o equívoco de rim verbo com o rim nome. s<j
Infundir Infundido Infundido, posto de d«
de infusão: idéias infundidas,
SUPINOS E PARTICÍPIOS DOS VERBOS
infusas; ciência infusa; lus
EM -IR infusa. oi
Inserir Inserido Inserío. et
Sup. Part. Instruir Instruído Instruído, ins fruto, V
Abrir Abrido Aberto: comummente pouco usado no batalhão ins h
dizem aberto no supino; «tem truído, esquadrão instruído; ti
•lhe aberto*, os olhos: por ter aparelhado de armas, aperce «i
aberto a sucessão, contra as bido.
ordens».
Oprimir Oprimido Oprimido: opresso é
Abstrair Abstraído Abstracto. pouco usado.
Afligir Afligido Afligido e aflito. Possuir Possuído Possuído: possesso
Cobrir Cobrido Coberto e seus deri do Demônio.
vados ; coberto por supino é Reprimir Reprimido e partic. Represso,
usual.
pouco usado.
Concluir Concluído Concluído, concluso Submergir Submergido e partic. e submerso
o feito. (no figurado), — em vaidade.
Confundir Confundido Confundido'.confuso Suprimir Suprimido e partic. it. supresso,
estilo; idéias confusas. pouco usado.
Contrair Contraído Contraído; v. g.: di Surgir Surgido Surto.
72 -—
á8*
EPÍTOME EPÍTOME
— 73 —
EPÍTOME EPITOME
(**). Nós antigos acha-se som, sam, são por (5°). Também combinámos os infinitos auxi
sou: «ainda que eu peca são» (Cam^ T. 4,/. liares com os gerúndios ou particípios e su
Ce (pesa trás por erro a ultim. ediç.) ere pinos; v. g.: Estar sendo, lendo, ouvindo; e
por es. com os Supinos; v. g. Ter sido, lido, estado,
(«). Vulgarmente se escreve he com h con ouvido, mas estas combinações não se referem
tra a etimologia latina e o uso de alguns auto a tempo, senão ao estado de imperfeição ou
res clássicos, que escreveram é. -perfeição; e são os particípios concordando
(**). Ties, fêê escreveram os clássicos con com as pessoas, a quem se atribuu a acção;
forme a pronúncia e à etimologiade /ewes, te- v. g.: <estar eu lendo então ou a ler, me fez não
nel, latinos. ,,_,... advertir, que passavas». Ter lido, é ter o atri
(45). Ha ou á nunca foi variação do verbo buto ler completo, acabado; v. g.: «o ter lido
ser' na frase: «Que como dês grantempo ha agora, ontem, o ter lidoá manhã, quando vie
fosse contenda» ou des, ou ha se devia omi res, é o menos, o mais é ou será ter decorado*.
tir ; ficando que como des gran tempo fosse Havendo de haver algum risco (Lobo, C. Dial.,
contenda ou que como ha gran tempo fosse 10), é, em havendo caso de haver algum risco;
contenda(Vj. Elucidar., art. A.). havendo de haver: i. é, razão, direito, caso,
(**). Os Antigos disseram haviades, tínhades, Inédit., Tomo 3, a ceia que haieis de haver, se
etc; Barros e outros omitiram o d, e disseram destino, sorte de haver, (Clarim.).
tinhais, haviais, etc. Vj. o Clarim^ L. 2, c 32, (M). Os verbos em or antigamente tinham
•/• 377 e vários outros lugares; fasiais, f. 384 o Infinitivo em er e eram'irregulares da se
e 417, queriais f. 420; «Já vós jasedes (jazeis) gunda conjugação, porque diziam poer, com-
peixesnas redes» é um resto daquele nso an poer, propoer, etc, agora fiz deles uma quarta
tigo nesta frase proverbiaL Muitos dos anti conjugação ou exemplar de por e seus deri
gos escreveram haver sem h e disseram ha vados, que como ele se conjugam.
ver sem h, e disseram ai por á i ou ha hi. Vj. (M). A mesma incerteza se denota com o fu
a Ulissipo,/. 15, 86, 212, Barros, Gramm. turo absoluto do indicativo falando directa-
(tf). Mas impropriamente se dizem tempos mente...
dos verbos: são frases elípticas: hei de ser é
hei tenção, desígnio, esperança, intento, resolu Que gente será esta (em si diziam)
ção de ser. m Que costumes, que Lei, que Rei teriam
(<8). Eu quero que sejas; Deusquis que tu
fosses. Quando a acção do subjuntivo ainda Lusíada, i.° 45 e 2.0 3.
não é completa; feita, mas actual, ou futura,
ajuntamos aos pretéritos do indicativo as va «Lá estarão três até quatro mil homens»;
riações de futuro; v. g.: Deus quis que sejas «Quando fui ao campo, estariam lá perto de
a vitima deste sacrifício. (Vj. Lus., 3, 20); três mil homens». Disse que viriam, absolu-
«Este quis o Céu justo que floreça», ulisseia, mente; e que viriam se pudessem; a condi
7, 68; «João escreoeu-me, que lhe apronte cional se faz o viriam incerto.
mas casas», quando inda não as aprontei, se (a). Os Antigos disseram no plural do Im
houvesse aprontado diria; <escreveu-me que perativo amade,defendede,aplauaide, conforme
lhe apromtasse as casas»; e nestas mesmas à etimologia latina; depois tiraram ode
variações também indicamos a perfeição da ficou amae, defendee, aplaudie. Nas Ordenações
acção, i. é, que lhe tivesse prontas. (Vj. Lusía Afonsinas se acham exemplos. Vj. o L. 1, T.
da, 2, est. 7 e est. 83; «Dous que trasia que 55 § 5: «antes lha comprie e guarda&e*.
pudessem ser aventurados, manda dous por (M). Na tábua dos auxiliares disse o uso das
que notem. etc». variações subjuntivas: as primeiras usam-
(*9). Estt, estes, este, estemos, esteis, estêm do -se, quando o verbo no indicativo está pre
subjuntivo são antiquados esiades porestejais. sente; v. g.: quero que defendas; as segundas
• WIMtWHN» •
EPÍTOME EPÍTOME
quando o verbo principal está no pretérito; (et). Com a diferença dos acentos, que no
v. g.: CM* °*ae defendesses; eu queria, que plural são agudos, ou graves, conforme são
amasses a Deus; muito favor me farias ago no singular; v. g.: crêssemos, fisêssemos, qui
ra se fosses comprar-me isso. Vj.: Lusíada, séssemos, trouxéssemos, etc
a, est. 7: «de alguns, quetrazia, porque pudes («8). Os Antigos formaram os particípios
sem ser aventurados, manda dous porque em udo; v. g.: Temudo (hoje apelido, que
notem* (Vj.: a estanca 83 do cit. cant. 2). por ignorância escrevem Themudo), creudo
(•*). Mas estas variações requerem um tem por temido, crido(aindadizemos teüda e man-
po futuro; v. g.: manda, que amanhã lhe te teúda, manceba, cavalo manteúdo da carta,
nhas aparelhado o casa, mas na Lusíada, 1, fardo, caixa), reteúdo, retido, tentudo perdão,
74; «Está determinado que tamanhas vitórias tendido, etc, são arcaísmos.
hajam alcançado os Portugueses das india («»). O estômago acendido, acesa a guerra.
nas gentes» é impróprio e devia ser que al Lus. 3. est. 48 e 51 e 57. Dardania acesa,
cancem, que não rima com determinado e por abrasada; acendido em sanha (Clarimundo); a
isso o poeta não usou da variação que o alma acesa de paixão (Camões, Ode6); vontade,
sentido pede; hajam alcançado supõe uma olhos acesos (Palmeir. e Sá Mir.); palavras
época futura determinada, dentro da qual a acesas de S. Cipriano (Arrais); febre acesa
acção deve estar perfeita; v. g.: que amanhã (Hist. Náut. Tom.2, f.68); acesa caridade (Fios
por noite hajas acabado. Sanct. f. 254, v. 1567).
(M). Dizemos: exceptos Pedro e Francisco: («). Medir como pedir.
excepto eu: foi exceptuado deste número; licou (66). Outros escrevem vense vem no singu
ficou exceptuado; o excepto (no Foro) contra lar é plural, relativo às terceiras pessoas;
quem se alegou excepção. mas o som e a etimologia, de venis, venit, pe
("). V. g.: este ano têm professado muitos dem vêis e vei.
noviços; i. é, feito profissão: este P. tem pro (6T). Os Antigos diziam induse, produse, re-
fessado muitos noviços, por, tomado a profis duse, conduse, reluse.
são : como muita gente tem hoje comungado, (»). Outro disseram sirves, sirve (Camões,
recebido a comunhão: este P. tem comungado Filod.).
hoje a muitos, por, dado a comunhão ou rece (M). Imos disseram os autores clássicos e
bido á comunhão Sacramentai: o homem está hoje se usa ainda, Fr. Luís de Sousa; V. do
confessado e comungado, de quem comungou: Arceb.: «de que vamos (por imos historiando)*
faleceu confessado e comungado. (no). Is por ides, antiq., ou antes Us de ilis
(*•). Quer é desusado, salvo no Imperativo. latino tirado o t como em amatis, amais, mo
(»). Alguns escrevem vêem e assim o pro veis, de movelis, ouviis de auditis; etc
nunciam para distinção de vem do verbo vir, (ii). Vulgarmente se escreve hia com h des
que melhor se destinguem com vei conforme necessário e contra a etimologia de ibat; iya
ao som, á etimologia de venit latino. Prover fora melhor.
como ver. (72). E assim os derivados avindo, convindo,
(w). Alguns escrevem Podeste, etc- mas etc; v. g.: são vindos, estão avindos, donde
Podeste ê conforme a Potuisli, Poteram, etc. se derivou avindeiro, que faz avenças e paci
e conforme à pronúncia mais exacto e não à ficações: «deu el-rei D. Manuel regimento aos
efeminada que vai alterando o o mudo em u avindeiros aos 20 de Janeiro de 1519» outros
e os ee e ii. disseram avindores.
(•i). Barros escreveu creia, terceira pessoa (7>). Já apontei que os nossos maiores usa
do presente do indicativo do verbo criar; mas ram dos adjectivos verbais em ante, ente, inte,
o uso geral diz: eu cria, ele cria; de crer e eu como de particípios à maneira dos latinos;
crio, ele cria de criar; o contexto tira o equi estes mesmos usavam deles como de adjec
voco. tivos. Nós recebemos alguns dos verbos lati-
— 75 -
V
á8>
pü>
EPÍTOME EPÍTOME
<§ü*
nos que não adoptámos; v. g.: corussante, tre- D. 4, L. 7, c. 4; tremante tomamos do italiano
pidante, insolente (Lusíada, 2, est. 52), por ex tremare (Ulissea, 6, 94).
traordinário, não vulgar, nem costumado: (7*). «È tu mesmo a ti mesmo desaprases*
adjacente, excelente, fulgurante, continente; Caminha, Epist. 19).
outros com alguma diferença; v. g.: obediente (1S). «Contando as maravilhas, que deixava
do latim obedio, que imitamos em obedecer, feito*; «deixar-lhe queimado a cobertura*
mas não dizemos obedecente, penitente, etc, de (Pinto Pereira, L. 2,/. 63, v. e 87); *Deixando
potens derivamos potente e possante: «Se aca- Bartolomeu Dias descoberto 350 léguas* (Barr.,
bante aquele feito o Governador se fora logo D. 1, L. 3, c. 4). Hoje diríamos feitas, queima
surgir»; por acabando ou acabado, diz Couto, da, descobertas.
0Sh
FIM
dÊs
Antônio de Morais Silva acabou este Seu Epitome da Gramática Portuguesa no Engenho Novo
da Moribeca em Pernambuco, aos zj de Julho de 1802. E foi novamente retocado por ele em 182Z.
76 —