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RESUMO
MELATTI, Júlio Cezar. Capítulo A1: América do Sul – porque áreas etnográficas? In:
Áreas Etnográficas da América Indígena. DAN – ICS – UNB, 2016, pp 1 - 10.
Este texto de Júlio Cezar Melatti busca apresentar uma atualização alternativa quanto à
divisão espacial e etnológica dos estudos culturais, indo além das fronteiras do Brasil,
abrangendo áreas da América do Sul e da América do Norte. Melatti se propõe acentuar,
”sobretudo, questões etnológicas suscitadas para cada área ou para cuja discussão elas
contribuam”, tecendo reconsiderações quanto a categoria “áreas culturais” para “áreas
etnográficas”.
Melatti aponta duas dificuldades nos estudos de Galvão quanto às áreas indígenas. A
primeira é que, esquematicamente, as características culturais eram simplesmente listadas
sem, contudo, serem relacionadas com a totalidade mais ampla da área cultural considerada.
Do mesmo modo, a interpretação de Galvão sobre a categoria “contato intertribal” assumiria
apenas o sentido de homogeneização cultural passiva, ou seja, concebia a aceitação da cultura
do outro sem a possibilidade da permanência das diferenças culturais numa “associação
simbiótica”.
Neste texto, Melatti relembra que em 1979 tentou superar os pontos considerados
frágeis na abordagem de Galvão “abandonando a divisão em ‘áreas culturais’ e substituindo-a
pela identificação de ‘pólos de articulação’ indígena”, inspirado em estudos sobre hierarquia
de cidades, realizados pelo geógrafo Speridião Faissol. Nestes pólos de articulação, Melatti
propôs deixar de lado a “uniformidade e a homogeneização cultural” e considerar as relações
sociais, “inter casamentos, trocas comerciais, convites para ritos, procura dos serviços de
médicos-feiticeiros, procura de hospitais, participação em eleições, procura de escolas”.
Assim, Melatti estará priorizando as relações sociais em desfavor da concepção centrada nos
aspectos culturais de cada povo, olhando para as trocas, diferenças e relações étnicas.
Melatti faz uma dupla escolha metodológica, onde se apropria tanto de elementos da
divisão por “áreas culturais” de Galvão, quanto pelos “pólos de articulação”, fazendo algumas
ponderações relacionadas à interpretação e aos limites espaciais e temporais. Para delimitar,
então, as áreas culturais/pólos de articulação, Melatti sugere a atribuir pesos gradativos aos
critérios de distinção/classificação das áreas culturais. Assim, temos a classificação quanto a
origens lingüísticas, quanto a relações de ocupação ambiental, gradações do contato intertribal
e gradação do contato com a sociedade nacional. Simultaneamente, todos estes critérios são
entrecruzados com a unicidade cultural e situacional de uma sociedade indígena. Melatti
apresenta, então, a transformação das “áreas culturais” em “áreas etnográficas”, de modo a
acentuar que estas divisões “virtuais” não existem inteiramente por si mesmas, “mas que o
pesquisador é quem, em última análise, as delineia”.
Portanto, nesta delimitação das áreas etnográficas, visivelmente Melatti faz uso de
diferentes orientações teóricas para seu estudo etnológico. É possível constatar influências do
estruturalismo de Lévi-Strauss, bem como a teoria da fricção interétnica de Roberto Cardoso
de Oliveira, além de não abrir mão de algumas contribuições da escola norte americana
presentes em Eduardo Galvão.