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Apresentação

Em 2017, 8.627.194 pessoas inscreveram-se para prestar o Exame Nacional do


Ensino Médio (Enem), segundo informações do Ministério de Educação (MEC). O
Enem tornou-se a grande porta de entrada para todas as universidades federais e
grande parte das universidades públicas e particulares do país.

Criado em 1998, tinha, inicialmente, o objetivo de avaliar os alunos concluintes do


Ensino Médio. A ideia era detectar o domínio de competências e habilidades pelos
estudantes, e a participação era voluntária, com número reduzido de participantes,
cerca de 150 mil alunos, e o pagamento da taxa era obrigatória a todos.

Após uma série de mudanças, sendo uma das mais importantes a de 2004, com o
lançamento do Programa Universidade para Todos (Prouni), lançado naquele ano, o
número de inscritos pulou para 1,5 milhão.

A partir de 2009, o Ministério da Educação criou o Sistema de Seleção Unificada


(Sisu), que, definitivamente, coloca o aluno em determinada universidade federal,
mediante um sistema que classifica a pontuação diariamente, por cinco dias. Foi
nesse ano, também, que passou a ser adotada pelo Enem a teoria de resposta ao
item (TRI), que é o que tira o sono de muita gente!

O TRI não é novo: foi criado nos anos 1950. É um modelo que confere pontuações
comvalores diferentes para uma mesma questão com resposta correta pelo
candidato, isto é, individual. Essas respostas, pelo modelo TRI, recebem o nome de
item e levam em conta o conhecimento e padrão individuais da resposta para cada
questão. Nessa altura, você está perguntando: “como pode ser isso”. Provas como o
ENEM têm, normalmente, uma divisão à grosso modo que funciona da seguinte
maneira: perguntas fáceis, perguntas medianas e perguntas difíceis. Quem diz se
uma pergunta é fácil, media ou difícil é o Inep – Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Após essa classificação são incluídas no
BNI –Banco Nacional de Itens. A partir daí, entram em cena cálculos estatísticos e
probabilísticos que irá determinar a atuação do candidato, ou seja, como é
tecnicamente chamado, o grau de proficiência do candidato, determinando seu

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padrão de respostas às questões. Ou seja, respondeu a 20 questões consideradas
fáceis e dez mais ou menos complicadas, as médias. Outro candidato teve atuação
diferente, respondendo a dez questões fáceis e 20 difíceis. Ambos acertaram o
mesmo número de questões, 30 no total, mas de classificações diferentes. Nesse
sentido, o que acertou 20 questões fáceis e dez medianas terá nota maior, porque o
sistema entende que ele as acertou porque, realmente, sabia as respostas, ao passo
que o outro candidato, aquele que acertou vinte fáceis e 10 complicadas, pode ter
“chutado”, o que eles chamam de responder aleatoriamente.

Foi pensando em todas essas dificuldades que criamos este Superguia Enem.
Dividido em seis apostilas, que reúnem resumos teóricos dos assuntos mais
cobrados do Enem entre seus quatro eixos – Matemática e suas Tecnologias,
Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, e
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – repleto de exercícios comentados e com
gabaritos, escrito de maneira clara e simples, conta ainda com uma parte totalmente
dedicada a Redação, a quinta área de conhecimento cobrada pelo Enem, com
exemplos de redações nota 1000 e de correções. Há, também, um volume só de
Atualidades, para você arrasar na prova.
O que é avaliado nas 4 áreas do conhecimento do Enem

Você terá de ser capaz do seguinte:

1. Ter domínio da norma culta da Língua Portuguesa, associando-a a outras


disciplinas, como História, Filosofia, Línguas Estrangeiras e até Matemática.
2. Compreender as origens, consequências no mundo moderno e como isso irá
impactar no futuro dos fenômenos geográficos, históricos, naturais, artísticos e
tecnológicos.
3. Na hora de discutir os problemas da atualidade, deve argumentar com fatos,
análises e informações que você possua, mas com coerência.
4. Deve, ainda, oferecer solução para nossos problemas sociais, mas sempre
respeitando a diversidade sociocultural e os direitos humanos.

Dicas para se dar bem!

● Chegou a hora de se preparar: cada um tem seu jeito, mas na hora “h” é
importante ter um ambiente calmo, distante de distrações.
● Outro ponto importante: defina um número de horas só para estudar para
o Enem – isso vai depender da sua disponibilidade, portanto é bacana
fazer um cronograma, que pode ter mais tempo dedicado a uma ou outra

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disciplina, dependendo do seu grau de conhecimento e dificuldade com o
tema.
● Não deixe de descansar, de se alimentar bem e praticar exercícios. Tudo
isso vai ajudar na concentração.
● Ah! Não se esqueça de fazer a inscrição e pagar a taxa. Você pode pensar
“que dica ridícula”, mas muitos se esquecem justamente disso!
● Você sabia que há faculdades que atribuem pontuações diferentes para
cursos específicos? Geralmente, isso acontece nas universidades
particulares. Se esse for o seu caso, dê preferência, na hora de estudar,
para os assuntos referentes à carreira escolhida.
● Não deixe de praticar, praticar e praticar. Faça todos os exercícios
sugeridos e, só depois, confira o gabarito. Pintou dúvida? Volte para o
conteúdo que você encontrará a resposta.
● Leia, leia muito, desde notícias na internet (cuidado com as fake news) a
livros. Além de você ficar craque com o que está acontecendo, vai
melhorar seu vocabulário, grafia e interpretação de textos, o que será de
uma ajuda e tanto na Redação!
● Na hora da prova, chegue com antecedência, alimente-se antes, não se
esqueça da garrafinha de água e dê uma boa lida na prova antes de
começar. Deixe as questões mais difíceis para o final. E lembre-se: é uma
prova de reflexão, e não de decoreba. Boa sorte!

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PARTE 1
SOCIOLOGIA

FÁTIMA M. OLIVEIRA1 *

SUMÁRIO
1
Fátima M. Oliveira é Bacharel em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP e
Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade de São Paulo PUCSP
* Produção textual de Mara Magaña

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Da era pré-científica ao Renascimento
Nascimento das ciências sociais
A sociologia de Durkheim
A sociologia alemã: Max Weber
A exploração do homem: Karl Marx
Expansão do capitalismo
Evolucionismo, dualismo e economiasperiféricas
Subdesenvolvimento
Modos de Produção
As novas tecnologias
Globalização
Teorias da Comunicação
Cultura – Origem e importância
Cultura Contemporânea
Identidades
Sociedade Midiática
Sociologia no Brasil

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A Sociologia estuda o comportamento humano em grupos de sociedade. É matéria
obrigatória no Ensino Médio desde 2009 e, agora, segundo os novas regras do
BNCC – Base Nacional Comum Curricular, que deve vigorar a partir de 1920, poderá
fazer ou não parte da grade curricular.
A prova de Sociologia, assim como a de Filosofia, exige do aluno uma boa
interpretação de texto. Mas costumam ser exigidos conhecimentos sobre
movimentos socioculturais, conceitos de cultura, trabalho, política e de diversidade
cultural, modos de produção e globalização. Durkeim, Weber e Marx costumam
bater ponto no teste.

1. DA ERA PRÉ-CIENTÍFICA AO RENASCIMENTO

Conflito social, estratos, movimentos, contexto, classes sociais são expressões que,
hoje, pipocam por todas as mídias, sejam elas institucionais, sejam sociais, nos
discursos políticos, publicidade e até no dia a dia de todos nós.
Não é matéria nova: os humanos, desde os primórdios, são fascinados por sua
cultura e diversidade. As divindades e os mitos estão entre as primeiras explicações
– e os primeiros preconceitos, que legitimavam os povos mais fortes a qualificar os
outros como menos fortes e, portanto, inferiores.
Precisou-se de um bom tempo para que os homens entendessem que o que nos
define é nossa história e o gênero humano é único. Foi a partir daí que a sociologia
pôde compreender as ações humanas, decodificá-las explicá-las e quantificá-las.
O conceito de cultura varia no tempo e no espaço, porque, incutida nesses termos,
estão um arcabouço composto de crenças, valores, hábitos de vida e de
comportamento. Também é preciso compreender que a cultura se molda
historicamente, e não em geração espontânea. Isso cria uma complexidade que
abrange a língua em que se comunica, a cultura e sistema simbólico de um povo e a
transmissão de conhecimento que acontece por meio da socialização – uma
complexidade que vai exigir ciências especialmente desenvolvidas para
compreender o ser humano.

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Mas foi um processo lento chegar ao pensamento científico sobre o ser humano e
sua vida social. Inicialmente, na Antiguidade, era o pensamento religioso e mítico
que regia o mundo, segundo os desígnios divinos do criador.Babilônios e egípcios
eram pragmáticos, preocupavam-se em resolver problemas imediatistas, que
ameaçassem o percurso da vida.
Foram os gregos que começaram a pensar o mundo, não se importando com
aplicabilidade imediata de suas teorias, e independente do lado mítico e de crenças
religiosas.
Esse desejo de criar um pensamento crítico deu início a surgimento da Filosofia,
entre os séculos V a.C e IV a.C, cujo significado é amor ao conhecimento. Podemos
dizer que foi o pontapé inicial para o surgimento da ciência, que só aconteceria a
partir do século XVI, com o Renascimento.

2. NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Desde o século XIV começou-se a registrar uma renovação cultural, que dá início ao
Renascimento. Tendo como base o questionamento reflexivo sobre o mundo dos
gregos, os renascentistas passaram a rejeitar as imposições da cultura medieval,
que refletia as imposições da Igreja Católica. As ideias renascentistas espalharam-
se rapidamente pela Europa, influenciando a filosofia, literatura, arte e ciência. Era o
protagonismo do espírito crítico que se delineava.
Os novos ares, trazidos com o desenvolvimento do comércio e das cidades, as
descobertas de novas terras possibilitadas pelas viagens marítimas, a invenção da
imprensa, a reforma protestante, permitem ao homem que compare sua realidade
com outras culturas.
Nesse contexto, surgem aqueles que começaram a pesquisar criticamente, ou
investigar a sociedade: Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi um deles. Em sua obra O
Príncipe, uma espécie de manual de estratégias de guerra para o príncipe Lorenzo
de Médici, propôs ensinamentos de como se manipular meios e pessoas para se
chegar à finalidade principal, que é manter o poder. Uma clara manifestação de que
o homem pode utilizar-se da razão, sem influências divinas, que mostrava o novo
olhar para a sociedade.
Outros surgiram além de Maquiavel, sedimentando as ideias do antropocentrismo –
filosofia onde o homem é a figura central, opondo-se ao teocentrismo (que tinha

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Deus como centro do mundo). Thomas Morus, que tem em Utopia sua maior obra,
Tommaso Campanella com A cidade do Sol e Francis Bacon Nova Atlântida,são
alguns deles.

Disponível em https://jornalggn.com.br/blog/rodrigo-medeiros/as-mascaras-de-
maquiavel

Transição para o Iluminismo

O homem renascentista dá lugar a um ser humano estimulado a buscar sua


satisfação pessoal, a olhar a vida do ponto de vista positivo, a mergulhar em seus
sentimentos e ideias particulares. Há um fervilhamento nas cidades, que abrigam
pessoas de diversos locais, procurando por seu espaço e enriquecimento. O lucro
deixa de ser constitutivo e passa a ser acumulativo, sendo o objetivo principal de
qualquer atividade. A busca pelo lucro é cada vez maior, antiético, organizam-se
viagens intercontinentais, guerras são declaradas pela disputa de novos pontos
comerciais, matérias-primas, produtos e, claro, clientela. É a síntese do pensamento
burguês da época.

O cientificismo

Com essa corrida ao lucro, é preciso que se produza mais, para suprir a
demanda, que também vai aumentando. E, para se produzir mais, em larga

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escala, são necessários planejamento, equipamentos novos, e a tecnologia
passa a ser prioritária nas pesquisas científicas que se tornam necessidade. Há
prêmios em dinheiro para quem invente máquinas que agilizem a produção e
tornem os produtos mais baratos.
O planejamento e racionalidade das pesquisas científicas invadem o dia a dia, que
procuram entender também a vida e a natureza, com base na laicidade e no
individualismo. Podemos dizer aqui que surgem os primórdios do pensamento
sociológico, revelados no confronto entre liberdade e controle social, indivíduo e
sociedade.

O Iluminismo

Valorizar a racionalidade e a ciência começa a tomar forma verdadeira no século


XVIII, por meio de um movimento que surge na Inglaterra e na França, chamado
Iluminismo. O movimento se notabilizou pelo combate ao absolutismo – regime
surgido no século XV onde o rei detinha todo o poder em suas mãos, governando
com mão de ferro sob as auspicias de ser um representante de Deus na terra.
Com a ciência como mola mestra do novo pensamento, a reflexão sistemática atrai
autores como o filósofo Voltaire (1694-1778), defensor ferrenho da razão e que
combatia o fanatismo religioso; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), grande
defensor da democracia e um dos que mais combateram a desigualdade social;
Montesquieu (1689-1755), crítico do absolutismo e defensor dos poderes
separados(legislativo, judiciários e executivo), contra a centralidade na mão de um
único governante (déspota), dando maior equilíbrio ao Estado.
É a partir dessas ideias que têm início a ciência que irá ajudar a entender os
movimentos da sociedade.

Capitalismo e Revolução Industrial

Paralelamente à mudança de pensamento, da consolidação da ciência como


estratégia para interpretar o mundo, o sistema capitalista também se fortalecia,
culminando com a Revolução Industrial, que vai alterar a forma de produção,

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distribuição e comercialização a partir do século XVIII, na Inglaterra, e transformar
imensamente a vida das pessoas, principalmente daquelas que viviam no campo.
O primeiro dos grandes fenômenos ocasionados pela Revolução Industrial diz
respeito ao deslocamento da população do campo para as cidades, formando
grandes aglomerações urbanas.
Os novos modos de produção, realizados em etapas, afasta o trabalhador do
produto final, já que cada etapa é realizada por um determinado grupo de operários.
Aliás, os operários ganham sua “classe social”, o proletariado. Vivem em péssimas
condições, morando em cortiços, trabalham até 18 horas por dia, mulheres e
crianças são recrutadas para as fábricas, testes e minas, porque os homens são
mais apreciados na ferrovia, salários são irrisórios e não têm nenhuma garantia
trabalhista.

O positivismo

A Sociologia, portanto, nasce baseando-se em pensadores que se preocupam com


esses problemas sociais. Mas esse nascente pensamento científico explicativo da
sociedade estava impregnadode valores como a crença na superioridade europeia
sobre as demais culturase o anseio pelo pleno desenvolvimento do capitalismo e sua
expansão pelo mundo. Tudo isso levava os primeiros sistematizadores do
pensamento sociológico a sevoltarem principalmente para a justificativa das
diferenças e desigualdades sociais epara o estudo da ordem e do progresso.
Foi Auguste Comte (1798-1857) quem criou o termo sociologia. Ele gestou uma
obra, Filosofia Positiva, em 1839, onde disseminou suas ideias que deram origem ao
positivismo – sistema que define exatamente como é o objeto, estabelecendo
conceitos e criando uma metodologia de investigação, ordenando o estudo científico
e diferenciando-o das outras áreas do conhecimento.
Comte acreditava na superioridade da ciência e na sua forma de explicar os
fenômenos sem liga-los à religiosidade, foi mais longe, ao pensar a ciência também
como orientadora da ordem social. Par ele, naquela época, a sociedade estava um
caos. Comte foi visionário ao enxergar o mundo que surgia com toda sua
modernidade, cada vez mais impactado pela ciência, pela industrialização crescente.
Ele queria instaurar a ordem gerada pela crise da transição do feudalismo para o
capitalismo. E levou isso para a Sociologia que, inicialmente, era entendida de

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formaampla e incluía parte da Psicologia, da EconomiaPolítica, da Ética e da
Filosofia daHistória.
Comte acreditava que o capitalismo podia ser fundamental para o desenvolvimento
das sociedades, promovendo o progresso das civilizações. As crises sociais, para
ele, eram acidentes de percurso e deviam ser resolvidas para o contínuo progresso.

Darwinismo social

Há uma corrente que se forma nessa época, derivada das ciências biológicas, que
aplica ao desenvolvimento social as leis de evolução das espécies biológicas,
proposta por Charles Darwin.
No século XIX, as fronteiras europeias eram um entrave ao desenvolvimento
docapitalismo. A Europa volta-se para as colônias, buscando transformar sua
população
em consumidores. Isso implicava transformar os hábitos e a cultura dos
povoscolonizados. Os europeus viram-se às voltas civilizações diferentes, com
costumes diferentes, sistemas diferentes. O objetivo dos colonizadores era organizar
essas colônias segundo seus princípios capitalistas. E era difícil, exigia muita
organização e muita persuasão. O que, na verdade, ocorreu foi a implantação de
uma missão civilizadora, apresentada como humanitária, mas que escondia a
violência colonizadora. Foi o que fez Inglaterra, Itália, França, Holanda e Alemanha
em diversas regiões, modificando radicalmente hábitos, costumes e moldando-os
para a nova sociedade que surgia, a capitalista industrial, no século XIX.
Esse sistema implantado pelos colonizadores baseava-se na teoria de Darwin, que
explica a evolução biológica dos animais. A teoria afirma que há uma seleção natural
entre as espécies, que as pressiona para que se adaptem ao ambiente. Isso faz com
que se transformem continuamente, para garantirem a sobrevivência. Por isso,
segundo Darwin, os organismos se adaptam cada vez mais aos ambientes, podendo
criar formas complexas e avançadas de vida. Isso tudo graças à competição natural,
que é “vencida” por seres mais evoluídos.
Isso foi transposto, na análise da sociedade, para o denominado darwinismo social
que defende o princípio de que as sociedades também se modificam e se adaptam,
passando de um estágio para outro superior. E chegando a um organismo social
mais evoluído. E é isso que garantiria a sobrevivência das sociedades e indivíduos.

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Acreditavam, assim, que as sociedades mais simples e “primitivas”, com tecnologia
já para eles ultrapassada, deveriam evoluir para o estágio superior, que seria o
capitalismo europeu. Povos da Ásia, África, América e Oceania pertenciam a essas
sociedades em estágio anterior.

3. A SOCIOLOGIA DE DURKHEIN

Émile Durkhein (1858-1917) continua o trabalho de Comte, após sua morte, e


trabalhou para que a sociologia tivesse uma reputação científica. Do que ele difere
de Comte é na forma; Durkhein é mais técnico: ele já conhecia os caminhos e sabia
o que a sociologia iria procurar na sociedade e como faria isso. Para tanto,
pesquisou a etnografia, que é o estudo descritivo das diversas etnias, estatística,
filosofia, leis e história.
O tempo de Durkhein foi um tempo de novidades: invenção dos carros de passeio,
da eletricidade, do cinema, tempos de otimismo, portanto. E, entretanto, mesmo em
meio a todo esse otimismo, enxergava os problemas sociais. Foi isso que lhe
chamou a atenção, e propôs regras de observação e procedimentos para que se
investigasse os problemas de ordem social de maneira sistemática, da mesma forma
com que a Biologia fazia com suas pesquisas.
Em sua obra As regras do método sociológico, procurou sistematizar as fronteiras
que há entre a sociologia e as demais ciências, dotando a sociologia de autonomia e
objetividade. É aqui que ele procura definir o que são fatos sociais.

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Disponível em https://www.britannica.com/biography/Emile-Durkheim

A coerção é a chave mestra de seu método, que prima por distinguir os fatos sociais
dos fatos orgânicos ou psicológicos. Os fatos sociais, segundo Durkhein, se impõem
como uma força coercitiva sobre o indivíduo, aos quais termina por se submeter. Um
exemplo dessa força coercitiva estaria no sentimento de pertencer a uma
organização política, por exemplo. A essa força deu o nome de coerção social, que
se manifesta pelas sanções legais (sanções prescritas pela sociedade, as leis) ou
espontâneas (determinadas por um grupo ou pela própria sociedade, sem serem,
necessariamente, transformadas em leis).
Há ainda, dentro do seu método de sistematização aquele que ele denominou de
característica coletiva ou geral, ou seja, quando um fenômeno é comum a todos os
membros de um grupo; e a exterior ao indivíduo, que acontece independente da
vontade individual.
Um dos estudos sobre o qual Durkhein se debruçou foi o suicídio. Ele desvinculava o
que, em um primeiro momento, pode ser considerado como ato individual; para ele

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fazia parte do que ocorria na sociedade, portanto, coletivo. Isso tudo porque a
sociedade, para ele, é um corpo organizado.
Durkhein entendia que se o Estado, a Igreja, o trabalho, escola, partidos políticos e
outras instituições falhassem no cumprimento de suas funções, surgia uma patologia
na sociedade, que ele chamou de anomia. Ou seja, a sociedade ficava doente.
O sociólogo dividiu o suicídio em três categorias:
 Suicídio Altruísta: se alguém (o indivíduo) valoriza mais a sociedade do que
a si mesmo, vai agir “pela sociedade”. É o que acontece, por exemplo, com os
chamados “homens-bombas”.
 Suicídio Egoísta: se alguém se desvincular total da sociedade (sistemas de
igreja, Estado, família etc) e decidir agir livremente, não haverá redes de
apoio convívio, enfim, não haverá limites. Não havendo limites, o indivíduo
pode desejar algo inalcançável, e isso o frustraria a ponto de leva-lo ao
suicídio.
 Suicídio Anômico: esse pode acontecer quando partes do corpo não
funcionam mais, por exemplo, quando a família se desliga de um indivíduo,
como pais idosos, filhos desregrados, abandonando-os.

4. A SOCIOLOGIA ALEMÃ: MAX WEBER

Na Alemanha, há um retardamento da organização do pensamento burguês, que


acontece só no século XIX e sua base é diversa das correntes europeias, buscando
sua sistematização na antropologia e história. A Alemanha se organiza como estado
nacional, já unificada, após o conjunto das nações europeias. Isso faz com que entre
mais tarde na corrida industrial e imperialista. De certa maneira, como dirigiram seus
esforços para a tecnologia tardiamente, ocuparam-se, por bom tempo, com a história
e em entender a ciência da integração, da memória e do nacionalismo.
É isso que afasta o pensamento alemão dos franceses e ingleses, que cultivaram a
integralidade, já que tinham como objetivo serem líderes na economia e subjugar
suas colônias a seus padrões religiosos e culturais. A Alemanha cultiva a
diversidade, preocupando-se com as diferenças, com o estudo de sua própria
formação política e seu desenvolvimento econômico.

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Tem mais uma característica, que é a herança puritana, muito apegada à
interpretação das escrituras e livros sagrados. Muitos cientistas foram influenciados
por esses pensamentos. Um deles, Max Weber (1864-1920), foi o responsável por
sistematizar a sociologia alemã.
Ao contrário de Comte e Durkhein, Weber se preocupa com o indivíduo e com a
interpretação da sociedade a partir dos fatos sociais já consolidados e de suas
normas, leis, instituições. Baseou-se na ideia de que o sociólogo deve preocupar-se
com a motivação dos grupos e dos indivíduos a partir do estudo das ações sociais.
Weber acreditava que a pesquisa histórica era preponderante para se compreender
as sociedades. Uma pesquisa acurada, realizada em documentos e dando atenção
ao esforço interpretativo das fontes, é que irá permitir que entendamos as diferenças
e contradições sociais. E isso é que seria, para ele, gênese e formação das
sociedades e não sua evolução. É a base da sociologia compreensiva, inaugurada
por ele.
Essa sociologia compreensiva vai estudar o sentido que os indivíduos atribuem às
suas próprias ações, como ele as entendem. Isso somado ao significado que essas
ações projetam no contexto social. Trocando em miúdos, para Weber e sua
sociologia compreensiva as ações, isoladas, não carregam um sentido em si, mas
sim o sentido em que nós, como indivíduos do nosso tempo, damos a elas. Weber
acredita que cabe ao sociólogo compreender esses significados que, apesar de
serem atribuídos pelos indivíduos, não são apreendidos imediatamente por eles, o
que caberia à reflexão sociológica.

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Disponível em https://universoracionalista.org/a-sociologia-alema-de-max-weber/
Weber faz uma crítica essencial às teorias positivistas de Comte e Durkhein. Para
ele, os métodos de investigação das ciências naturais só conseguem explicar seu
objeto de estudo, a natureza, relacionando-os à descoberta e relação causal direta à
formulação das leis químicas e físicas, que explicam a funcionalidade de seus
eventos, como a chuva, por exemplo. Mas isso não poderia, para Weber, ser feito
pela ciência social que não poderia afirmar que uma mesma ação ou fenômeno
social acontecerá sempre da mesma forma, em resposta direta a uma causa
exclusiva, porque o ser humano é subjetivo e isso aparece em seus valores,
interesses, expectativas etc.
Weber se debruçou em vários temas, mas deu maior atenção à economia, política e
religião. Em sua principal obra, A ética protestante e o espírito do capitalismo, ele
pesquisa a influência religiosa, em especial a do protestantismo, na formação do
capitalismo ocidental. Weber acredita que o protestantismo, que não condena a
riqueza e tem em seus fundamentos a dedicação do trabalho, influenciou fortemente
o capitalismo e favoreceu seu desenvolvimento nos países onde era a base da
religiosidade, como Alemanha. Ele explica esse pensamento por meio da sociologia
compreensiva, demonstrando que o jeito como os indivíduos entendem o mundo
(que é sua ética religiosa) influencia suas ações individuais e isso ajuda a consolidar
o capitalismo.
Weber combina, em sua teoria, duas perspectivas: a histórica e a sociológica. A
primeira trata das particularidades de cada sociedade e a segunda leva em conta os
elementos mais gerais de cada fase da história.
Exemplificando, para se entender a sociedade, na concepção weberiana, devemos,
por exemplo, isolar os indivíduos de uma determinada instituição e suas ações.
Muito provavelmente, dentro dessa instituição haverá um grupo de pessoas que
agem do mesmo modo e tem os mesmos valores, expectativas quanto à instituição a
que pertencem e desejos. A isso Weber dá o nome de relação social. É assim que
as normas, as leis e as instituições sãoformas de relações sociais duráveis e
consolidadas.

Os tipos sociais

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Tipo social é um instrumento utilizado pelo método sociológico de Weber para se
compreender e interpretar a vida social. O tipo social é baseado em uma construção
teórica abstrata elaborada pelo sociólogo através de um estudo sistematizado das
diferentes manifestações particulares de um fenômeno. Feito isso, ele isola o que é
mais característico desse estudo. Claro que não haverá forma perfeita que
represente o tipo ideal, mas será o mais próximo possível, encontrando grande
semelhança e afinidade e, com isso, podendo-se comparar e perceber semelhanças
e diferenças. Trata-se de um trabalho teórico indutivo, que sintetiza apenas o
essencial nas diferentes formas das manifestações da vida social. Deve-se observar
que não se trata de um modelo concreto ou empírico 2. No mundo concreto, é bom
ressaltar, segundo Web, que o tipo ideal se apresenta de formas variadas, e isso vai
depender da época e de onde (país, instituição) onde é observado.
Weber assinala que a racionalização do trabalho é traço marcante e definitivo do
nosso tempo. Para ele, com o avanço da ciência, tecnologia e capitalismo, o mundo
está formatado em espaços coletivos, sejam eles políticos, sociais ou corporativos.
Mas todos estão burocratizados. Weber vê essa condição de forma positiva, pois é o
retrato da organização racional e efetiva da sociedade.

5. KARL MARX E A EXPLORAÇÃO DO HOMEM

Karl Marx(1818-1883), filósofo alemão e economista foi um dos maiores críticos da


sociedade capitalista que estava se consolidando. Para ele, a origem dos problemas
sociais se originou a partir desse sistema. É dele a famosa frase: “a história de todas
as sociedades tem sido a história da luta de classes”. As classes a que Marx se
refere são a burguesia e o proletariado.
Marx explica que a burguesia, com o boom comercial, passa a possuir os meios de
produção. Com o enriquecimento natural, também começou a fazer parte da política,
controlando o aparelho estatal. Com isso, usou de sua influência para criar leis que
protegessem a propriedade privada, usando, também o Estado para difundir sua
ideologia de casse, que são seus valores na interpretação muito particular do
mundo.

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Fato que se apoia somente em experiências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e
métodos científicos

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Do outro lado, o proletariado, composto pela classe assalariada, sem deter meios de
produção e sem representação política de peso na sociedade, vira peça fundamental
no enriquecimento dos burgueses, já que são eles que oferecem mão-de-obra
barata para as fábricas.

Disponível em http://www.iea.usp.br/noticias/grupo-estudos-marx

O grande trabalho de Marx foi produzir textos compreensíveis para a casse


proletária entender o significado de alienação e poder se organizar para sair desse
estado. Para Marx, era alienado quem não tinha controle sobre seu próprio trabalho.
A teoria de Marx sintetiza o pensamento da classe dominante, que não deseja
nenhuma mudança na situação, já que é muito confortável para ela. Mas o
proletariado, segundo Marx, tem de lutar por seus direitos e é essa luta que irá
mover a história. Marx defendia a ideia de que a vitória do proletariado sobre a
burguesia faria surgir uma sociedade mais equitativa, sem classes. E isso só poderia
ser obtido em torno de um partido revolucionário, composto pela classe
trabalhadora.
Suas maiores obras são O Manifesto Comunista(1848), que escreveu juntamente
com Friedrich Engels,e O Capital (1867). Em sua segunda obra, Marx explica uma

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de suas principais teorias, a mais-valia, que diz respeito ao tempo que era
necessário para a produção de um bem (em larga escala, graças ao capitalismo) e o
valor daquele trabalho. Leo Huberman, em A História da Riqueza do Homem, assim
explica a teoria:

“A questão importante, a seguir, é o preço pelo qual a trocará. O que determina o valor dessa
mercadoria? Compare-se esse paletó com outra mercadoria — um par de sapatos. Como
artigos, como meios de satisfazer as necessidades humanas, não parece haver muito em
comum entre eles. Nem entre eles e outras mercadorias — pão, lápis, salsicha etc... Mas
estas só podem ser trocadas entre si por terem algo em comum, e o que têm em comum, diz
Marx, é serem produtos do trabalho. Todas as mercadorias são produtos do trabalho. O valor,
portanto, ou a taxa a que uma mercadoria é trocada, é determinado pelo total de trabalho nela
encerrado. E esse total é medido pela extensão de sua duração, isto é, tempo de trabalho.
“Vemos, então, que o valor de qualquer artigo é determinado pela quantidade de trabalho
socialmente necessário, ou tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção...
...O valor de uma mercadoria está em proporção ao valor de qualquer outra, na medida do
tempo de trabalho necessário à produção de uma e à produção de outra?” Se, portanto,
foram necessárias 16 horas para produzir o paletó, ao passo que o par de sapatos exigiu 8
horas, o primeiro terá o dobro do valor, e um paletó será trocado por dois pares de sapatos.
Marx compreendia que os dois tipos de trabalhos nos dois casos não eram exatamente os
mesmos — o paletó encerrava o trabalho do fiandeiro, do tecelão, do alfaiate etc., ao passo
que outros tipos de trabalho iam para o sapato. Mas, diz Marx, todo trabalho é o mesmo, e,
portanto, comparável, no sentido de que todo ele é gasto de força de trabalho humana. O
trabalho simples, não-especializado, médio, e o trabalho especializado, são comparáveis,
sendo o segundo apenas um múltiplo do primeiro, de modo que uma hora de trabalho
especializado = duas horas de trabalho simples. Assim, o valor de uma mercadoria é
determinado, diz Marx, pelo tempo de trabalho social necessário para produzi-la” (Huberman,
p. 2313).

Esta é a base da mais-valia de Marx, que tem sua base na exploração do sistema
capitalista, que transforma trabalho e produto realizado pelos trabalhadores em
mercadoria, visando ao lucro. Segundo a mais-valia, os trabalhadores recebem
muito menos do que deveriam pelo trabalho realizado. Huberman4 assim explica:

“A teoria da mais-valia de Marx resolve o mistério de como o trabalho é explorado na


sociedade capitalista. Vamos resumir todo o processo em frases curtas: O sistema capitalista

3
HUBERMAN, Leo. A História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 16ª ed. 1984, p. 231
4
Idem, pp. 235-6

19
se ocupa da produção de artigos para a venda, ou de mercadorias. O valor de uma
mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário encerrado na sua
produção. O trabalhador não possui os meios de produção (terra, ferramentas, fábricas etc.).
Para viver, ele tem de vender a única mercadoria de que é dono, sua força de trabalho. O
valor de sua força de trabalho, como o de qualquer mercadoria, é o total necessário à sua
reprodução — no caso, a soma necessária para mantê-lo vivo. Os salários que lhe são
pagos, portanto, serão iguais apenas ao que é necessário à sua manutenção. Mas esse total
que recebe, o trabalhador pode produzir em parte de um dia de trabalho. Isso significa que
apenas parte do tempo estará trabalhando para si. O resto do tempo, estará trabalhando para
o patrão. A diferença entre o que o trabalhador recebe de salário e o valor da mercadoria que
produz, é a mais-valia” (Huberman, pp 235-6)

6. EXPANSÃO DO CAPITALISMO

Marx define capitalismo como um modo de produção. Nesse caso, podemos


entender capitalismo mais como uma sociedade, a burguesa, do que como um
sistema econômico. O filósofo baseou-se em uma visão histórica e uma análise
crítica da sua época e com isso explica a origem das classes sociais e do
capitalismo. É com esse olhar acurado sobre os acontecimentos que ele atribui a
origem das desigualdades sociais à volumosa riqueza que está concentrada na
Europa, do século XIII ao XVII, na mão de alguns poucos indivíduos, que como única
finalidade acumular bens, com lucros cada vez maiores.
O capitalismo tem início na Europa Ocidental, no século XVI, com o desenvolvimento
industrial, que sucedeu ao mercantilismo. Revolucionou o sistema de produção com
as fábricas de tecido, a máquina a vapor, na Inglaterra, que ficou conhecido como a
Primeira Revolução Industrial.
As principais características do capitalismo são: produção de mercadorias;
universalização das trocas, que estabelece as relações sociais através da mediação
do dinheiro; força de trabalho (“mão de obra”) assalariada; ausência de controle dos
trabalhadores sobre o processo de trabalho. Resumindo, capitalismo é um regime
onde se coletiviza a produção e se privatiza o que é produzido.
Para o capitalismo, a força do trabalho é mercadoria, a única capaz de criar valor.
Desde Adam Smith, economista clássico inglês, já se havia percebido que o trabalho
é o motor gerador de riqueza das sociedades e também já haviam afirmado que o
valor de uma mercadoria depende do tempo de trabalho que foi necessário para a

20
sua produção. Marx acrescenta à definição o termo necessário. Portanto, para ele, a
definição correta seria “o tempo de trabalho socialmente necessário à sua
produção”.
No livro mais conhecido de Marx e Engels, O manifesto do partido comunista, não se
encontra a expressão “capitalismo”, mas é com certeza uma das mais assertivas e
soberbas definições desse sistema social.Considera-se que foi OManifesto
Comunista que lançou as bases do Socialismo Cientifico
Assim explica-se em O manifesto do partido comunista:

“A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da
população. Aglomerou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a
propriedade em poucas mãos. A consequência necessária dessas transformações foi a
centralização política. Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços federativos,
possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram reunidas em uma
só nação, com um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, uma só
barreira alfandegária. A burguesia, durante seu domínio de classe, apenas secular, criou
forças produtivas mais numerosas e mais colossais que todas as gerações passadas em
conjunto. A subjugação das forças da natureza, as máquinas, a aplicação da química à
indústria e à agricultura, a navegação a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo elétrico, a
exploração de continentes inteiros, a canalização dos rios, populações inteiras brotando na
terra como por encanto - que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças
produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social? Vemos pois: os meios de
produção e de troca, sobre cuja base se ergue a burguesia, foram gerados no seio da
sociedade feudal. Em um certo grau do desenvolvimento desses meios de produção e de
troca, as condições em que a sociedade feudal produzia e trocava, a organização feudal da
agricultura e da manufatura, em suma, o regime feudal de propriedade, deixaram de
corresponder às forças produtivas em pleno desenvolvimento. Entravavam a produção em
lugar de impulsioná-la. Transformaram-se em outras tantas cadeias que era preciso
despedaçar; foram despedaçadas. Em seu lugar, estabeleceu-se a livre concorrência, com
uma organização social e política correspondente, com a supremacia econômica e política da
classe burguesa” (Engels, F. Marx, Karl, 1878)5

A teoria marxista impacta não apenas a Europa como as colônias europeias e


aquelas que estavam às voltas com movimentos de independência. Operários
organizavam partidos marxistas, surgiram os sindicatos, revolucionários e que
tinham na “bíblia” de Marx e Engels sua base de atuação, e os intelectuais, por sua

5
O Manifesto do Partido Comunista. Disponúvel em
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000042.pdf<acesso em 15 jul 2018>

21
vez, faziam críticas sobre as atividades científicas e humanas que estavam
acontecendo à época. Um de seus principais discípulos foi Wladimir Illich Ulianov,
ninguém menos que Lênin, o condutor da derrubada do czarismo na Rússia e
implantação do comunismo em 1917.
As ideias de Marx tiveram boa aceitação, tanto teórica quanto metodológica e foi
vista como política e revolucionária. A Revolução russa foi inspirada em suas ideias
e com isso nasceu o primeiro Estado operário do mundo.
Enquanto os czares eram depostos na Rússia, o capitalismo avançava
imperiosamente na Europa e nas suas colônias. A partir do século XX, a indústria
“de massa”, graças aos recursos tecnológicos, cria uma sociedade de consumo
exacerbada, com os produtos concorrendo pela preferência dos clientes. É o
momento das várias crises sistemáticas, sendo a do colapso da Bolsa de Valores,
em 1929, a mais característica.
O crack da bolsa de 1929 e as Guerras Mundiais (primeira e segunda) trouxeram um
saldo negativo para a Europa, afetando sua produção. Com isso, aconteceu a
formação de uma indústria de bens de consumo local nas colônias, impulsionada
pela riqueza proporcionada pela exportação agrária.
Nesse cenário, com a recuperação das economias centrais, muda novamente o
panorama das relações econômicas internacionais surgindo as empresas
multinacionais. Terminada a Segunda Guerra, as empresas das nações centrais
começam a abrir filiais em países no Terceiro Mundo. Esse processo das ex-
colônias europeias, que brigavam por um espaço na divisão da produção
internacional, dividiu as nações em Primeiro Mundo, Segundo Mundo e Terceiro
Mundo.
No primeiro caso situam-se os países capitalistas que tinham a economia
desenvolvida; no segundo, aqueles de economia socialista industrializada, e no
terceiro grupo, as nações com economias periféricas a um e outro regime.

7. EVOLUCIONISMO, DUALISMO E ECONOMIAS PERIFÉRICAS

A internacionalizaçãodo capitalismoe da industrializaçãolevouao surgimento


dasociologia do desenvolvimento.
Quando termina a Primeira Guerra Mundial, começam a surgir as mudanças sociais
em todo o mundo. Os Estados Unidos e a já URSS (União das Repúblicas

22
Socialistas Soviéticas) lideram as potências industriais. O capitalismo monopolista
toma conta, em confronto com os ideais de livre-concorrência, e a crescente
participação do Estado no patrocínio das economias nacionais.
Com o processo de industrialização acelerando, com mais nações competindo na
corrida imperialista, floresce uma nova onda de modernização e formação de novos
estados independentes nos continentes africanos e asiáticos.

Evolucionismo

A psicologia, sociologia, história e antropologia surgem com a constituição das


ciências humanas no século XIX. Cada qual se organiza propriamente, tendo objetos
e métodos de pesquisa diferenciados. Entre a antropologia e a sociologia,
estabeleceu-se uma fronteira bem determinada: a primeira coube o estudo das
sociedades não europeias e à segunda a dissecação das sociedades urbano-
industriais.
A antropologia defendia a ideia de que todas as sociedades não europeias
chegariam um dia, ao mesmo grau do desenvolvimento europeu. Receberam o
nome de teorias evolucionistas. Para os evolucionistas, há diversas espécies, que
estão em etapas diferentes de desenvolvimento, permitindo, assim, a classificação
das sociedades das mais simples às mais adiantadas e complexas.
Nas sociedades mais simples, também chamadas de primitivas, acreditava-se
estarem inseridas e um estágio inferior de desenvolvimento e, por isso, eram
consideradas como se fosse fósseis vivos. A teoria evolucionista, assim, considerou
continentes inteiros como espécies de museus, onde estudavam a diversidade
genética e evolutiva.
Com as novas pesquisas, surge a teoria de que O processo evolutivo humano levou
ao aparecimento, na África, há mais de cem mil anos, do homo sapiens, que andou
pelo planeta mudando de aparência e hábitos, para se adaptar ao meio.
Na sociologia, procurou-se descobrir quais eram as leis das transformações e
evolução social.
Émile Durkhein diferenciou várias espécies diferentes umas das outras em estudo
comparado dos diversos modelos europeus de vida social. Em uma de suas
classificações mais explicativas está a da divisão social do trabalho.

23
Outro sociólogo, Ferdinand Tönnnies apresentou, em sua teoria, duas espécies de
formações socais: a comunidade (base familiar e relações comunitárias) e a
sociedade urbana, com forte presença do Estado e menor coesão entre os agentes
sociais.
Mas a teoria que mais contribuiu para o evolucionismo foi o marxismo, por explicar a
sociedade como uma totalidade integrada. Enfatizando que as desigualdades não
provêm da natureza, mas das relações que mantêm entre si.

O Dualismo

Outra tentativa de explicar o subdesenvolvimento surgiu com as chamadas


teoriasdualistas, que identificam em certos continentes, países ou regiões uma
formaçãopeculiar na qual coexistem duas estruturas distintas. Uma,
“desenvolvida”,com crescimento industrial, expansão urbana, sistema de
comunicaçõesamplo e diversificado, alta produtividade e avanço tecnológico.Na
outra ponta, cidades pequenas, com produção essencialmente agrária, baixos níveis
de renda, sem produção adequada e, demograficamente, apresentado dispersão da
população.
Atentando para essa definição, regiões diferentes de um mesmo país podem revelar
esse dualismo ou até entre setores de uma economia nacional. Um exemplo dentro
do nosso país está nas cidades como Salvador que, ao lado do complexo industrial
de Aratu, encontram-se pescadores individuais.
Já no agronegócio, países exportadores apresentam também dualismo representado
por agricultura altamente mecanizada, para atender à exportação, e produção
manufatureira simples.

Periferia

O conceito de periferiatem relação ao que é secundário em uma sociedade. Isto é,


está à margem do que é desenvolvido, portanto, irrelevante. Designa regiões e
setores “atrasados”, no” interior de uma nação “subdesenvolvida”. Vale também para
sociedade. Mas os cientistas sociais usam a expressão “países periféricos” para as
nações do chamado Terceiro Mundo.

24
Aqui será utilizada a expressão cunhada por Nabil Bonduki e Raquel Rolnik, que
afirmam ser a periferia s“as parcelas do território da cidade que têm baixa renda
diferencial, pois, assim, este conceito ganha maior precisão e vincula, concreta e
objetivamente, a ocupação do território urbano à estratificação social”. Com isso,
caracteriza-se o conceito de exclusão, de estar à margem.

8. SUBDESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento de uma nação é fruto de sua história, de suas condições internas


e das Internacionais nas quais esteve inserida. É preciso aceitar que os obstáculos
ao desenvolvimento têm uma razão histórica.
Trata-se da necessidade de as nações e setores dominantes se desenvolverem
mais aum menor custo, embora a forma de dominação tenha variado conforme as
diferentesfases de expansão do capitalismo.
As desigualdades tendem, portanto, a se reproduzir e a se ampliar, e nunca a
alcançar um equilíbrio. O desenvolvimento de um país ou de uma região resulta
sempre do subdesenvolvimento de outro. E, caso o subdesenvolvimento se
caracterizassepela dualidade de estruturas, como um momento de transição para o
desenvolvimento,como explicar a desigualdade entre populações, regiões e setores
dassociedades “desenvolvidas”?
Essa compreensão aparece nas mais modernas elaborações teóricas. Se o
subdesenvolvimento for considerado como um ambiente social com dificuldades na
inovação e em colocar uma barreira contra a influência das hierarquias locais e da
relação social de seus círculos, pode-se atribuir a essas características uma certa
fragilidade na organização da produção pelas instituições sociais.
O contrastede riqueza e pobreza quepercebemos existir entre ospaíses ricos e
pobres são reproduzidos internamentenos países pobres, provocandoo mesmo tipo
de contrasteeconômico, entre aquelesque podem ter acesso aoque há de mais
moderno emtermos de consumo e aquelesque mal podem compraro que é
necessário.

25
Disponível em https://www.flogao.com.br/subdesenvolvimento/61501016

Países em desenvolvimento

Usa-se a expressão “países em desenvolvimento” para se referir àqueles países


subdesenvolvidos que, entretanto, apresentam ou começam a apresentar um
crescimento significativo. Esse crescimento pode apresentar-se na parte econômica
ou nos indicadores sociais. Outra denominação para esse subgrupo é a de países
emergentes.
Países em desenvolvimento normalmente alcançam um nível de industrialização
maior que os subdesenvolvidos, aumentando seu Produto Interno Bruto (PIB). Nesse
subgrupo encontram-se cerca de 120 países, o Brasil incluso. Mesmo assim, entre
os quatro quintos da população mundial desse subgrupo, metade da população
encontra-se em situação de extrema pobreza, com uma renda per capita que não
chega a R$ 700,00.

9. MODOS DE PRODUÇÃO

No capitalismo, três modos de produção industrial se destacam: o taylorismo, o


fordismo e o toyotismo. Todos visam o mesmo objetivo, maior lucro com menor
custo, mas diferem no processo da produção, em forma de realização, ritmo de
trabalho e papel do funcionário.
O foco nos princípios de produção forma a base do taylorismo e do fordismo. O
fordismo inovou principalmente na criação da esteira rolante para a mecanização do
trabalho, enquanto o toyotismo se preocupou também com a produção e

26
organização, mas adicionou um elemento importante, o just-in-time, que organiza o
ritmo de trabalho, trazendo mais competitividade às empresas.
Dos anos 1960 para cá, um quarto modelo, o volvismo, ganhou o cenário da
produção industrial.

Taylorismo

Frederick Winslow Taylor (1856-1915), engenheiro americano, criou, no início do


século XX, um modelo organizacional de trabalho que, em sua homenagem, foi
chamado de taylorismo. Taylor pesquisou como poderia se aperfeiçoar o processo
produtivo por meio da contagem de tempo de cada fase de trabalho, a
cronometragem. Também conseguiu com seu estudo eliminar movimentos
desnecessários, principalmente aqueles mais longos. O resultado foi uma redução
no tempo de cada fase e, consequentemente, aumento do volume de trabalho
produzido. O que Taylor criou foi dimensionar, para cada operário, o tempo que teria
para executar cada fase da sua função, fosse produzindo uma peça, fazendo algum
acabamento etc. E isso, segundo o taylorismo, cabe aos engenheiros determinar e
não ao trabalhador.

Fordismo

Também no início do século XX, Henry Ford, outro engenheiro americano, provocou
uma revolução nos modos de produção, estabelecendo a fabricação em série de
automóveis. Em homenagem a ele, o método é conhecido como fordismo.
Utilizando-se da estira rolante como a grande novidade, conseguiu fixar o
trabalhador na linha de produção em série, na fabricação de automóveis. A esteira
rolante permitiu colocar o trabalhador, frente a esteira rolante, em posição
predeterminada. Com isso, o trabalhador realizava apenas uma operação como, por
exemplo, apertar parafusos, durante toda sua jornada de trabalho. Esse sistema foi
representado magistralmente por Charles Chaplin em Tempos Modernos.

27
Disponível em https://www.altoastral.com.br/charles-chaplin-nomes-setima-arte/

Com o novo sistema a produtividade da Ford cresceu fortemente, enquanto o custo


da produção baixou a níveis impensáveis à época. Estudos apontam que, para se
produzir um automóvel, no início do século, gastava-se US$ 1.340,00 para US$ 200.
Com o produto barateado, o automóvel tornou-se um bem possível para um grande
número de pessoas.
O modelo fordista revolucionou e foi utilizado por longo tempo. Mas apresentava
alguns problemas, como superprodução – número elevado de automóveis em
estoque, que não eram escoados com a mesma velocidade com que eram
produzidos –, e os defeitos só eram detectados ao final do processo de produção. E
isso aumentava os custos desse veículo. Era preciso reinventar a roda, reinventar o
modelo de produção. O toyotismo irá fazer isso.

Toyotismo

28
Outro engenheiro, Toyota Taiichi Ohno, em suas fábricas Toyota, criou o que se
convencionou chamar toyotismo ou ohnoismo, homenageando seu proprietário. É a
produção flexível, criada na década de 1950. A grande novidade é a avaliação
constante do trabalhador, contribuindo para uma também constante qualificação. O
principal objetivo é fazer com que um funcionário possa desempenhar diversas
funções com relação ao processo de produção.
Toyota também estudou a forma de gerenciar uma unidade, de acordo com o
mercado, ou seja, produz-se na medida da demanda. Se o consumo estiver alto,
produz-se mais e vice-versa. Essa maneira chama-se just-in-time, que quer dizer “na
hora”. Com essa medida, pode-se reduzir tanto os estoques de matéria-prima quanto
o capital de giro, que não precisa mais ficar parado na empresa, podendo ser
investido em outras áreas, como no sistema financeiro.
O kanban, que pode ser traduzido para cartão, painel ou símbolo, também merece
destaque dentro desse novo modelo de gerenciar a produção. No kanban a
produção vai respeitar o que está estabelecido ali, é uma espécie de guia para o
trabalhador, que sabe, com base nessas informações, o que foi feito, o que está
sendo feito e o que ainda será realizado.

Volvismo

Nos anos 1960, Emti Chavanmc, engenheiro da Volvo de origem indiana, implantou
o modelo que ficou conhecido como volvismo. Nesse modelo, o empregado tem
maior participação que no fordismo.
Para se entender como funciona o volvismo é necessário entender como funciona o
a indústria na Suécia, onde nasceu o modelo. Lá, trabalhadores têm autonomia e
conhecimento para sentir as oportunidades, experimentá-las e ocupá-las, não só
visando o bem-estar do funcionário como agregar valor ao produto final. A indústria
sueca, dona de um ato grau de informatização e automação, tem um sistema que as
equipes são autogerenciáveis, e uma mao-de-obra extremamente qualificada e
educada. Outra característica é a atuação dos sindicatos, que fiscaliza as atuações e
inovações a partir do exterior da fábrica. Portanto há duas formas atuando em
harmonia: endogenamente, dentro das fabricas, e exogenamente, fora delas. Some-

29
se a isso o desejo da Volvo de procurar ter sua produção internacionalizada e uma
cultura que aprecia o experimentalismo, e chegou-se ao desenvolviento do volvismo.
A experiência inicial aconteceu na planta da Volvo em Kalmar, depois foi implantda
em Torslanda e Uddevalla, todas cidades suecas. O mais importante, nesse modelo,
é a atuação dos funcionários, que não admitem serem “partes da máquina” como no
taylorismo.

10. AS NOVAS TECNOLOGIAS

A globalizaçãodá novo sentidoàs formas tradicionaisde colonialismoe imperialismo.


O colonialismo, entendido como um sistema de exploração imposto pelas
metrópoles
europeias às regiões conquistadas do resto do mundo, já teve diferentes fases.A
primeira, de exploração comercial, quando os sistemas produtivos
autóctonespuderam ser conservados enquanto a produção destinava-se ao mercado
europeu. As relações coloniais então se baseavam essencialmente na conquista da
terra, nadominação étnica, na orientação da produção e na apropriação da matéria-
prima a baixo custo. Já na segunda fase houve a substituição dos sistemas
produtivos e começa a internacionalização da economia. Essas relações de
dependência passam a ter um caráter tecnológico.
Uma terceira etapa se verificou com a implantação das multinacionais e com
ofinanciamento do desenvolvimento industrial no chamado Terceiro Mundo,
quandosistemas produtivos inteiros foram transplantados de um país para outro. As
relações
de dependência assumem cada vez mais um caráter tecnológico e financeiro.
A fase em que estamos, atualmente, é a da conexão à nova rede tecnológica de
telecomunicação, quando, então, está-se suplantando a produção. É a globalização
e a interdependência que dão novo formato ao colonialismo, e algumas
características sobressaem:
 Novas tecnologias industriais que não usam mais a mão-de-obra, como a
robótica, mas que traz, em seu bojo, alto desemprego aos países em
desenvolvimento e subdesenvolvimento.
 O abismo tecnológico que está se criando entre os países ricos e os pobres, e
aumenta, cada dia mais, à medida que as novidades tecnológicas se tornam

30
realidade tornando equipamentos inteiros obsoletos. Renovar um parque
tecnológico inteiro está longe das possibilidades dos países pobres,
aumentando, então, esse abismo entre eles e os países ricos e mesmo dentro
de uma mesma nação, comparando regiões mais desenvolvidas e menos
desenvolvidas.
 A possibilidade de autonomia tecnológica é outro entrave para os países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento, uma vez que exigem investimento
em educação e formação tecnológica, e isso demanda um capital que essas
nações não possuem.

11. GLOBALIZAÇÃO

A necessidade de planejamento, a revolução tecnológica e o desenvolvimento


dasciências físicas e naturais foram elementos decisivos para que uma nova
concepção da sociedadese formulasse entre cientistas, filósofos e intelectuais,
dando origem a teorias queprocuraram explicar a realidade social e o
comportamento coletivo. Embora as primeirasideias sobre o funcionamento da
sociedade estivessem expressas desde a Antiguidade, foisó no século XIX que as
formulações se apresentaram de forma sistemática, criando a baseteórica dessa
ciência.
Estamos assistindo, na atualidade, ao desenvolvimento de uma nova etapa do
capitalismo:da dominação de todo o planeta. Para entendê-la, Octavio Ianni, um dos
mais importantes sociólogos do Brasil, procurou identificar os diferentes
momentoshistóricos que a precederam.
 O trabalho livre, instalado na Europa, assim como a fase mercantilista da
produção e organização do mundo, que permitiu a criação dos Estados
Nacionais e a dissolução das instituições pré-capitalistas de organização
territorial e produção;
 Um processo efetivo da implantação do capitalismo e industrialização, que só
pode acontecer por meio das relações internacionais de estreitamento,
dependência econômica e política, subjugando as nações a esses centros
desenvolvidos e hegemônicos, que ficou caracterizado por imperialismo.
 O terceiro que é a globalização em si, quando modelos não capitalistas, como
o comunismo, entram em colapso. É nesse cenário que surge a ONU –

31
Organização das Nações Unidas, o BIRD – Banco Mundial e o FMI – Fundo
Monetário Internacional. Por outro lado, a informática, com a chegada das
mídias digitais revoluciona a produção de bens e a divisão internacional do
trabalho. É o capitalismo em sua fase planetária, com os Estados Unidos
liderando essa globalização.

Informatização

Presente em todos os setores da atividade humana, passou a reger a produção e o


mercado. Criou-se o que se denomina mercado-rede, espécie de entidade
reguladora das ações tanto econômicas quanto políticas, atuando em nível
internacional, graças à celeridade propiciada pela informática à produção, fluxos
financeiros e trocas comerciais.
Em decorrência disso, uma nova mercadoria se firma nomundo como sendo a
principal fonte de valor que circula pelasredes de comunicação: a informação. De
forma bastante simplificada,podemos dizer que informação é todo dado que tem
significado,ou seja, valor, para uma pessoa ou um grupo de pessoasque estão
dispostas a pagar por ela. As tecnologias de informação tornam-seprotagonistas de
novas relações sociais em um mundo globalizado, promovendofusões de empresas,
departamentos e processos produtivos. As unidades são substituídaspor redes –
setores da produção que trabalham integrando departamentos, deempresas
conjugadas, de fornecedores, de clientes e de consumidores. Todas
essasconjugações se baseiam em conexões tecnológicas que geram um novo
princípio depertencimento muito diferente do nacionalismo, da vizinhança ou do
parentesco.
Estar perto, pertencer, participar é conectar-se, é ter a senha ou o código de acesso.
A ideia de uma sociedade de múltiplas redes, que organizam áreas de ação, relação,
reação, troca e fluxos, alimenta a convicção em uma forte interdependência, que dáà
noção de globalização um conteúdo próximo ao de sistema – o Sistema-Mundo.

Desterritorialização

A comunicação em rede e a globalização repercutiram de forma decisiva nas


concepçõesde tempo e espaço das pessoas – se dois jogadores disputam uma

32
partidade xadrez on-line, estando um de manhã no Japão e o outro à noite, do outro
ladodo mundo, em que dia se realiza o jogo? Em qual fuso horário a partida se
situa? Seesses dois jogadores estiverem estabelecendo um contrato, que data
deverá constarnesse documento? Qualquer resposta dependerá de um acordo entre
eles, ou seja,de uma convenção. As relações em rede vão nos fazendo perder as
referências domundo que nos cerca, adquirindo uma artificialidade nova e
desconhecida do cotidianoda cultura. O imaginário humano já não procura reproduzir
os movimentosda natureza, mas busca criar um tempo/espaço fictício ou
convencional.
Passamos a conviver com um desenraizamento que, se já existia desde oadvento
dos meios de comunicação, se aprofunda e alarga. Essa sensação de
desenraizamento se torna mais aguda ainda se pensarmosque as últimas décadas
foram anos nos quais grandes populações se transferiramde um local para outro,
deixando suas tradições e passando a mesclá-lasàs culturas receptoras,
desenvolvendo-se um hibridismo inusitado.
Do campopara a cidade, do interior para o litoral, das zonas rurais para as
industriais,dos países pobres para os países ricos e vice-versa, vamos nos
acostumando aenfrentar o espaço estranho ou os estranhos que se avizinham de
nós. Camposde refugiados, colônias de imigrantes, multinacionais e empresas de
capitalmisto são alguns dos processos atuais de desterritorialização.
A desterritorialização, contudo, tem a ver também com a perda de importânciado
território nacional, com a transnacionalização da economia, com as fusões
empresariaisque competem em poder e riqueza com a nação. Diz respeito também a
novas alianças que unem blocos regionais mais amplos, enfraquecendo as fronteiras
nacionais e a circunscrição do Estado. Mais abstratos, os territórios, as fronteiras, as
vizinhanças precisam ser constantemente atualizados ou redefinidos.

Metropolização

As cidades tornam-se os nós mais importantes dessa rede globalizada e para


láafluem pessoas de diferentes origens étnicas, religiosas e raciais. Em razão disso
e daopção pelos materiais industriais e pela alta tecnologia, esses centros vão se
tornandocada vez mais parecidos. O crescimento dessa malha urbana plural e

33
múltipla formaas grandes metrópoles que sediam os acontecimentos do mundo
contemporâneo.
Trata-se de um tecido que se amplia constantemente do centro para a periferia,mas
vai gerando núcleos diferenciados e particulares que procuram estabelecer
novaidentidade. Pequenas Itálias, bairros latinos, chinatowns, quarteirões árabes e
bairrosturcos, sem contar os guetos, favelas e cortiços, as zonas de boêmia, as
cidadesuniversitárias e as áreas ocupadas pelos moradores de rua criam pequenos
territóriosna metrópole pós-moderna, que tanto expressa planejamento e
racionalidadecomo a caótica intervenção das minorias e dos movimentos sociais
mais radicais.

12. TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

Dissemos que o desenvolvimento da sociologia esteve associado a uma série de


fatoresque caracterizaram a história da sociedade ocidental na modernidade – a
industrialização,a urbanização e o colonialismo europeu. Outro aspecto que teve
especial importânciafoi o advento dos meios de comunicação de massa, que,
diferentes da tecnologiavoltada para a produção material de bens, transformaram
radicalmente a maneira comoas pessoas passaram a se relacionar umas com as
outras e com o mundo que as cerca
O advento da imprensa, entretanto, é que vai promover uma maneira nova de se
fazer cultura, porque introduz a produção em série, realizada em moldes industriais,
com mensagens prontas para alcançar um público amplo, de todas as idades, sexo
ou origem étnica.
O grande público-alvo da imprensa é o que se convencionou chamar de “massa”.
Mas o que seria essa “massa”, que, a partir do século XVIII complementa a ideia de
comunicação e cultura? Trata-se da população considerada subalterna,
indiferenciada, rebaixada, moradora da periferia dos centros avançados de uma
Europa que tinha na industrialização seu motor de arranque.
Coube à sociologia estudar esse fenômeno de comportamento coletivo, que, aos
olhos da burguesia, revelava-se rebelde, indisciplinado e desafiador. Classificadas
como “multidão” pela elite, seu estudo foi necessário para que pudessem eles, os
burgueses e poder, avaliarem seus movimentos e, portanto, controla-los. Esse
sentido de disfunção dada à “massa”, fez com que os positivistas, contemporâneo a

34
essa sociedade, enxergassem essas populações mais pobres e excluídas como
sempre associadas à desordem e, portanto à inferioridade. Acreditavam, até em uma
visão utópica, que haveria uma evolução e essa fase seria superada pelo
planejamento e história.
Mesmo sem acesso aos bens da civilização burguesa, essas massas urbanas
foramse constituindo em fator de desenvolvimento para o comércio e a indústria e
umesforço grande foi feito para chamá-las a algum tipo de integração.
Posteriormente,quando instaurada a República em países europeus, elas
começaram a lutar também
por participação e representatividade política.
Mesmo sendo populações excluídas, foram adquirindo conhecimento e educação e,
por isso, passara a lutar por mais dignidade. O controle dessas massas passou a ser
prioritário. O estudo dessas populações e o trabalho com elas passou pela
associação frequente com técnicas quantitativas, que media igualmente censos,
índices de criminalidade e todos os desvios da norma. Isso fez com que aumentasse
o preconceito.

Comunicação como mídia

Na primeira metade do século XX, já se tornara evidente o poderda mídia sobre o


público e, especialmente, sobre extensas populações,fazendo que não só os
sociólogos estivessem interessados emseu estudo, mas também os poderes
públicos, os industriais e os homensde negócios.
Essa corrente de pesquisa recebeu o nome de Mass CommunicationResearch
(Pesquisa de Comunicação de Massa) e um de seus expoentesfoi Harold Lasswell,
para quem era preciso entender o funcionamentodos meios de comunicação de
massa para poder usá-los demaneira adequada e a favor da democracia.
A mídia tornava-se, assim, uma grandearma de condução das massas, não
podendo, por si só, ser considerada boa ou má.Boas ou más eram as intenções com
as quais utilizava a mídia. Para entender essaação ao mesmo tempo neutra e eficaz
dos meios de comunicação, ele apelida suateoria de “hipodérmica”, pois permite
avaliar o uso instantâneo e eficiente da mídiasobre seu público.

Comunicação como informação

35
A comunicação, durante a primeira metade do século XX, é entendida como o
resultado de um processo tecnológico bem concebido do ponto de vista estratégico.
Norbert Weiner, pesquisador de comunicação, criou o conceito de feedback. Esse
modelo consiste em informar constantemente o emissor dos resultados de sua ação.
Isso vai lhe permitir corrigir os erros. É uma espécie de retroinformação, controle ou
autocorreção. Exemplo: se estou com fome, levo o alimento à boca, e todos os meus
sentidos fornecem informações para que o meu cérebro passe informações corretas
e necessárias para que eu não enfie a mão no prato, por exemplo.
Com essa abordagem, a comunicação se torna mais abstrata e se aproxima das
ciências físicas e biológicas. É Weiner quem propõe os conceitos de informação,
codificação,decodificação e cibernética, muito utilizados em ciências de informação.
Nas últimas décadas do século XX, com o desenvolvimento das mídias digitais eda
comunicação por rede de computadores, novos adeptos dessa tendência têm
reforçadoas pesquisas que cada vez mais se aproximam da cibernética, da
inteligênciaartificial e da informática. No Massachusetts Institute of Technology – MIT
–, nosEstados Unidos, diversas equipes trabalham com telecomunicação e
telepresença,pensando até mesmo na comunicação interplanetária de amanhã.

Comunicação como interação

A reunião de pesquisadores de diversas áreas, como sociologia, psicologia e


antropologia permitiu que, a partir de 1942, se dedicassem ao estudo da
comunicação, opondo-se ao modelo linear conhecido. Eles pensaram a
comunicação como um processo integrado e interativo, que engloba as linguagens
verbais e não verbais, com seus níveis de complexidade, sistemas circulares e
contextos múltiplos. Fcaram conhecidos coo Colégio Invisível ou Escola de Palo
Alto.
A partir de regras e códigos nem sempre claros, dá-se a comunicação de forma
recíproca e em múltiplos sentidos. Aqui, o receptor ganha importância, porque é ele,
é da sua resposta, que irá depender a continuidade da comunicação.

Comunicação como indústria

36
A teoria crítica teve sua origem na Escola de Frankfurt, com os estudos que
propunhamanálises da sociedade contemporânea à luz das teorias marxistas. Para
seuspesquisadores, a cultura midiática constitui uma nova forma de opressão
ideológicae de dominação da burguesia sobre as classes subalternas.
Para esses pesquisadores, que rejeitam o título de conceito de massa, os produtos
veiculados pelos meios de comunicação não são realizados pelas massas e,
portanto, não alimentam suas necessidades e, mais uma vez, trata-se de uma nova
forma de dominação e de imposição de cultura de baixa qualidade .
Foram Horheier e Adorno que criaram, em 1942, o conceito de indústria cutural, que
se encontra em Dialética do esclarecimento, texto publicado em 1947. Esse estudo
faz menção à produção maciça, seriada e tecnológica de bens simbólicos. Fazem
parte desse tipo de comunicação jornais, televisão, rádio e cinema, que se
constituem como sistemas de dominação. Sendo assim, para os pesquisadores, a
burguesia também se apropria dos momentos de lazer do trabalhador, de seu tempo
livre.

Comunicação como cultura

Nos anos 1970, surge na Inglaterra uma nova escola, a Cultural Studies, que
acredita que a comunicação só pode acontecer no conjunto dos processos
socioculturais que atua. A escola recusa uma visão economicista da cultura, e
analisam a comunicação de acordo com seu papel de aglutinação e torno de valores
e determinadas questões. Desviam-se do conceito mecanicista das mensagens
mediáticas, acreditando que o receptor, e a situação em que o envolve, é que dará
forma à elaboração complexa, ambígua e contraditória das mensagens midiáticas.
As pesquisas dessa escola focaram na recepção da mensagem, que valoriza o pape
do receptor na construção dos significados.

13. Cultura – origem e importância

A palavra “cultura” veio do latim colere, que quer dizer cerimônia religiosa e,
também, homenagem às divindades e ao cultivo da terra. Como na antiguidade a
agricultura e divindades estavam ligadas em ações religiosas, podia-se entender

37
como uma espécie de “garantia” para que os deuses concedessem uma boa
colheita.
Com a evolução dos tempos, cultura também passou a significar esforço, cuidado,
determinação, metaforicamente. Mas a cultura, como cultivo abstrato das ideias, só
passa a acontecer na Europa, entre os séculos XVII e XVIII.
Segundo Cuche (1999, p. 20),

“O termo “cultura” no sentido figurado começa a se impor no século XVIII.Ele faz sua entrada
com este sentido no Dicionário da Academia Francesa (ediçãode 1718) e é então quase
sempre seguido de um complemento: fala-se de“cultura das artes”, da “cultura das letras”, da
“cultura das ciências”, como sefosse preciso que a coisa cultivada estivesse explicada.

Entre os séculos XVII e XIX, surgiu a maior parte das nações modernas naEuropa e
houve a ascensão da burguesia. Esse esforço realizado para aformação das nações
não dependeu apenas de medidas políticas e econômicas mastambém de certa
unificação de ideias e sentimentos em relação ao território queentão se tornava
comum às pessoas que nele viviam. Uma série de medidas – comoa criação de
museus, a valorização da história nacional, a valorização das tradiçõespopulares e
dos costumes rurais – foi estimulada para que esse sentimento de pertencimentoa
uma nação, que chamamos nacionalismo, se desenvolvesse entre aspessoas.
Esses traços distintivos dos povos passaram a ser designados como cultura.
Cultura, desse modo, veio a designar um conjunto de tradições e hábitos paraos
quais os homens de uma nação se voltavam e com os quais se identificavam.Assim
se fortalecia a ideia da cultura nacional.

A cultura na antropologia

O primeiro autor a formular um conceito de culturafoi Edward Burnett Tylor,que a


definiu como o conjunto composto por conhecimento, crenças, arte, moral,costumes
e direito, adquirido pelo homem na vida em sociedade. Racionalista eevolucionista,
Tylor teve suas ideias influenciadas pela crença no progresso do serhumano e na de
que todas as sociedades se desenvolvem segundo lei semelhanteàquela que
Charles Darwin concebeu para explicar a seleção natural das espéciesbiológicas – a
sobrevivência dos mais aptos e dos mais fortes. Aplicando essa teoriaà análise das
diferentes sociedades e culturas, procurou mostrar que todas elastêm um passado

38
comum e um processo histórico progressivo e necessário, que asleva de um estágio
selvagem ao caminho da civilização.
Tylor classificou essas culturas como primitivas ou avançadas, conceitos
quepoderiam ser aplicados às diferentes sociedades de acordo com um rigoroso
método
comparativo, que estudava diversas variáveis, como a religião. Para fundamentar a
racionalidade em culturas primitivas, Tylor acreditava no que chamava “unidade
psíquica do gênero humano” presente em todas as manifestações culturais.Assim,
pode combater o preconceito de que os povos não europeus teriam capacidade
mental diferente, sendo menos desenvolvidos que os europeus ocidentais.
Coube a Franz Boas acrescentar outros elementos ao conceito de cultura. Recusou
o evolucionismo, lançou as bases da moderna antropologia e explicou as diferenças
culturais quando expôs o conceito de ver cada sociedade como um sistema
integrado, resultado de um determinado processo histórico.
Para ele, não são os traços físicos e biológicos que determinam a cultura; antes, ele
existe independente disso. Boas combate os preconceitos que ainda persistem nas
ciências sociais e recusa-se a comparar culturas diferentes como sendo parte de um
mesmo processo histórico.
Em suas pesquisas de campo, desenvolveu o método indutivo, que é uma análise
pormenorizada e individualizada de cada sociedade. Com essa análise, o
pesquisador, reunindo seus dados, elabora explicações mais gerais. A metodologia
permitia, por isso, combater análises que colocavam a realidade, múltipla e
diversificada, em uma resposta generalizada.

A teoria funcionalista

O funcionalismo sucede o evolucionismo e lança o conceito de que cada sociedade


deve ser estudada em sua totalidade integrada, mas constituída de partes
interdependentes e complementares. A função da sociedade seria, para o
funcionalismo, satisfazer as necessidades essenciais de seus integrados. Temos, na
obra de Bronislaw K. Malinowski Uma teoria científica da cultura, a definição de
conceito da função como resposta da cultura às necessidades básicas do homem. E
aí se inclui habitação, alimentação e defesa.

39
Alfred R. Radcliffe-Brown foi outro funcionalista importante influenciado por
Durkheim. O inglês procurou adaptar as teorias durkheimeanas ao estudo das
sociedades não europeias. Ele também as considerava como totalidades integradas.
Os funcionalistas foram os primeiros a estudar as culturas não europeias como
realidades e de igual importância à do velho continente.

Padrões culturais

Ralph Linton dedicou-se ao estudo da cultura em sociedades tribais e complexas. É


considerado funcionalista por alguns e por outros culturalista. Foi ele quem
desenvolveu o conceito de padrão cultural, ao entender o desejo da sociedade em
manter a integração de seus membros em torno de princípios de vida coletiva.
Para ele, sociedade representa um sistemaorganizado de padrões culturais que
regem a reciprocidade entre as pessoas.A complexidade da cultura exige que os
indivíduos sejam introduzidos na vidasocial, passando por constantes processos de
aprendizado. Essa socialização doindivíduo faz do homem um permanente aprendiz
– estamos continuamenteatualizando nossos padrões e acompanhando as
transformações culturais.

14. CULTURA CONTEMPORÂNEA

A herança das ciências exatas e biológicas levou os pensadores a interpretar a


realidade social naBusca de semelhanças e continuidades, e, por esse motivo,
predominaramestudos comparativos e explicações evolucionistas. No entanto, com o
tempo, e à medida que entravam emcontato com diferentes grupos e sociedades e
as ciências humanas se desenvolviam, oscientistas sociais perceberam que as
sociedades não estão isoladas e mantêm relaçõesprofundas, interferindo na vida
social umas das outras. Os cientistas voltaram-se,então, para o estudo dessa
interferência, que eles chamaram de aculturação.
Os sociólogos americanos foram os primeiros a estudarem as trocas culturais entre
a sociedade e alguns grupos de imigrantes que levaram seu modo devida para os
EUA, na primeira metade do século XX. Nesse país, tambémesse campo da
sociologia se beneficiava da existência de grupos afrodescendentese indígenas, o

40
que tornava possível estudar mais de perto o contato e a influênciamútua entre
grupos sociais culturalmente distintos.
Porém, a aculturação não deve ser confundida com a difusão – fenômeno
queexplica como um traço cultural ou uma invenção é transmitida – de uma
sociedadea outra, mesmo podendo não haver contato direto entre elas. Podemos
dar comoexemplo de difusão a adoção do uso do fogo por diferentes sociedades,
bem comoa semelhança existente entre certas ferramentas utilizadas e
desenvolvidas por gruposque, aparentemente, não mantinham relações constantes
entre eles.
Portanto, assimilação é a transformação cultural que acontece quando um grupo
minoritário abandona seus traços culturais coo crenças, por exemplo, e adota os
traços culturais do outro grupo, a que está subordinado, o grupo social dominante.
Um exemplo claro disso são os imigrantes e seus descendentes, que abandonam
até a língua e costumes da sua terra para aderirem à língua e costumes de onde
habitam.
Já por subcultura entende-se o conjunto de valores, padrões de comportamento,
formas de pensar e sociabilidade de um determinado grupo social, formado por
indivíduos unidos por algum traço em comum, seja etnia, idade ou mesmo gênero.
As subculturas destacam-se da cultura dominante por uma atitude de oposição,
porisso muitas vezes são vistas pela sociedade como culturas alternativas. Ao
contrário dascomunidades mais coesas e pautadas em tradições ou instituições
agregadoras, como as igrejas, as subculturas são instáveis e difusas. Caracterizam-
se sobretudopor padrões culturais de comportamento, pelo visual e pela estética.
O movimentohippie, que se desenvolveu na década de 1960, permite
compreendermelhor o que se entende por subcultura. Foi um movimento alternativoe
contestatório adotado em muitos países, principalmente por jovens que,
muitasvezes, deixavam suas famílias para morar em comunidades onde praticavam
oamor livre, a não violência e viviam da venda de artesanato .

41
Disponível em https://goias24horas.com.br/11238-manifestacao-de-goiania-e-difusa-
e-pode-ser-comparada-ao-movimento-hippie-dos-anos-60-diz-professor/

O conceito de subcultura foi utilizado pela Escola de Chicagonos anos 1920,


tantopara estudar os grupos de imigrantes que se fixaram na cidade na primeira
metadedo século XX como para distinguir grupos de delinquentes que adotavam um
conjuntopróprio de valores e comportamentos.
Por volta de 1930, William Foote Whyte estudou a coletividade italiana de Bostonpor
meio da observação participante de diversas gangues formadas por essesindivíduos.
O resultado foi um trabalho descritivo minucioso da gangue dos Nortonsou Doc’s
boys, como ele os chamou, em razão do nome do chefe do grupo, Doc.
Whyte percebeu a existência de uma estrutura hierárquica bem-estabelecida
quedefinia até mesmo o fluxo da comunicação e o trânsito das ordens dadas pelo
chefe.Toda a vida do grupo se organizava em função do líder, e as diferentes
posições hierárquicasdefiniam-se pela proximidade ou pelo distanciamento dele.
Os membrosjuravam lealdade mútua, defendiam uns aos outros e, dependendo de
sua posiçãohierárquica, tinham regalias (monetárias ou não). Perambulavam pelos

42
arredores dacidade, por bares e boliches, sem finalidade objetiva. Pode-se dizer que
o grupo erauma finalidade em si.
Também alguns autores marxistas, entre os quais Pierre Bourdieu, aplicaramo
conceito de subcultura no estudo das diferenças de comportamento,
ideologia,valores e anseios entre as diferentes classes sociais. E, assim como as
classes sociaisforam definidas como grupos que se opõem, entram em conflito e se
complementam,a cultura de classe foi entendida como conjunto de comportamentos,
atitudese ideologias próprios de uma classe que se opõem e ao mesmo tempo
completama cultura de outra classe.
Quanto às diferenças culturais entre as classes sociais, Pierre Bourdieu propôso
conceito de habitus. Segundo ele, essas diferenças são resultantes dosdiversos
habitus sociais, responsáveis pela identidade da classe enquanto tal.Dentre esses
habitus estão o domínio da língua e o conhecimento técnico exigidopelo mercado,
fatores determinantes do capital simbólicoa que cada classe social tem acesso.
Dessa forma, mesmo rejeitando radicalmente que hajasuperioridade de uma cultura
sobre outra, os marxistas constatam que, ao ladodas diferenças de valores, ideias e
concepções do mundo, o estudo da culturade classe envolve os mecanismos de
poder que legitimam a cultura da classedominante, por meio de instituições culturais
e educacionais.
O estudo das subculturas como partes de uma cultura mais abrangente contribuipara
que se pense nela como um conjunto de totalidades complexase heterogêneas, no
qual as uniformidades são insignificantes e superficiais.

Estabelecidos e os outsiders

Cultura é um conceito que não designa um todo uniforme, harmonioso e


integrado,mas uma formação em cujo interior diferentes grupos competem pela
manutenção,sobrevivência e hegemonia de seus projetos. Cada grupo se organiza
de uma maneira
e,com isso, criam-se tipos diferentes de vida social que são mais ou menos
dependentesda região onde esses grupos se estabelecem, das características
populacionais queapresentam (etnia, idade), da língua em que se expressam ou dos
princípios e objetivosque adotam. Também há grupos que se organizam em função

43
das condições de vidasemelhantes a que estão sujeitos. Trata-se, portanto, de um
fenômeno social complexoe singular que geralmente exige o estudo de caso.
O sociólogo Norbert Elias pesquisou as relações de disputa e confronto entre
diferentesgrupos de uma sociedade. Na década de 1960, com John Scotson,
estudou um bairrooperário de uma cidade inglesa que apresentava altos índices de
violência e criminalidade.
Elias e Scotson deram a essa comunidade o nome fictício de Winston Parva.Ali, eles
identificaram dois grupos distintos: o dos estabelecidos (established) eo dos
outsiders (figura 6). O grupo dos estabelecidosera formado por famílias queestavam
no bairro havia mais tempo, conheciam-se de gerações, tinham sólidoslaços de
amizade e até de inimizade, visitavam-se com frequência e participavamde uma rede
de relações conhecida e comum. Faziam parte, por assim dizer, doestablishment
(daí o nome atribuído a eles pelos pesquisadores). Já o grupo
dosoutsidersconstituía-se de operários que começaram a se mudar para o bairro
depoisda Segunda Guerra Mundial, entre 1950 e 1960, e passaram a constituir
umaameaça para os estabelecidos. Como desconheciam os hábitos da vizinhança,
nãoestavam inseridos no conjunto das relações locais e não tinham espaço na
hierarquiasocial ali existente, os outsiders foram recebidos com hostilidade.
Os mecanismos presentes no conflito estudado em Winston Parva eram, portanto,a
exclusão e a estigmatização, por meio das quais os estabelecidos demonstravamsua
“superioridade” em relação ao grupo dos arrivistas. A comunicação teveum papel
importante nesse confronto, tanto para estabelecer distâncias como paraexpressar
menosprezo. Os estabelecidos recorriam à fofoca e às piadas pejorativaspara
reforçar sua hostilidade; já os outsiders, como não conheciam os estabelecidose não
se conheciam entre si, não conseguiam reagir.
Quando os outsiders eram confrontados com as imagens que os
estabelecidosfaziam deles, suas respostas eram: “Eles são esnobes e convencidos”
ou“Os da velha guarda chamam aquilo de aldeia e tratam a gente com frieza”, ou
anda, “Eles não se importam e nunca se importaram conosco6”.

Tribalismo contemporâneo

6
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. p. 114.

44
Durante esses dois séculos de desenvolvimento das teorias sociais, assistiu-seao
abandono de teorias universais ou gerais em favor de análises mais
particularizadas.Em relação à teoria da cultura, buscavam-se explicações teóricas
quefossem capazes de analisar qualquer sociedade, a qualquer tempo e em
qualquerespaço. As críticas que essas teorias suscitaram diziam justamente que
elas eramconstruções teóricas abstratas demais, incapazes de dar conta das
diferenças sociais.
O desenvolvimento das ciências humanas e, em especial, da psicologia e
dalinguística levou os cientistas a outra postura, mais voltada para a identificaçãodas
diferenças e dos particularismos.
Surgiram então as teorias de médio alcance,como as chama o sociólogo Robert
Merton, pois se referem a estudos mais focadosem análises empíricas do que em
grandes explicações abstratas.
Essa mudança de foco foi resultado também das transformações históricas
pelasquais o mundo estava passando. A industrialização, a urbanização e o
desenvolvimentodas comunicações modificaram rapidamente as sociedades e as
tornarammais próximas e parecidas umas com as outras, no sentido de que
participavamdos mesmos processos globais.
Assim, após a Segunda Guerra Mundial, as diferençasculturais entre os países não
eram mais tão evidentes, já que todos tendiam,cada vez mais, a integrar processos
produtivos complexos e complementares.
O sociólogo francês Michel Maffesoli percebeu essa característica da atualidade.Em
seu livro O tempo das tribos, ele procura descrever o que move os membrosdessas
agregações “tênues, efêmeras e de contornos indefinidos”. Segundoele, uma das
razões para que as pessoas se agreguem continuamente em gruposé a perda da
força do indivíduo, dominado por uma massificação crescente. Essa“união em
pontilhado”, em suas palavras, é responsável pela nova tendência contemporâneade
uma socialidade caracterizada pela efervescência grupal presentenas agências
informáticas, nas redes, nos encontros esportivos e musicais, nosrituais religiosos e
nos eventos de massa. O ir e vir em grupo garante um sentimentode proteção e
identidade, pois os membros se ligam por fortes laços deafetividade.
Esses microgrupos constituem o tribalismo contemporâneo, em espaçosnos quais os
indivíduos se fixam e se protegem da sociedade massificada,da mesma forma que,

45
nas sociedades pré-capitalistas, as tribos se apresentavamcomo a formação
fundadora da identidade social.

15. IDENTIDADES

O conceito de estádio do espelho, ou seja, aquele em que o ser humanoreconhece


sua imagem no espelho, foi desenvolvido pelo psicanalista francêsJacques Lacan
em 1936, a partir da definição estabelecida pelo médico, psicólogoe filósofo francês
Henri Wallon.
Wallon demonstrou que, no estádio do espelho, o ser humano passa do estágio
espetacular para o imaginário e depois para o simbólico. A partir daí, formulou o
conceito da construção da consciência de si para ele uma referência exterior e
distinta de simesmo.

46
Disponível em
http://www.newsrondonia.com.br/noticias/estadio+do+espelho+por+max+diniz+cruze
iro/92522

Essa consciência de si mesmo, que o ser humano desenvolve desde fases iniciais
da vida, permitirá também, progressivamente, aidentificação do outro e dos outros,
que sempre constituirãoo eu e o outro que distingue e formaa individualidade, por
um lado, e a coletividade, a culturae a sociedade, por outro, jamais cessa enquanto
dura aexistência humana e nunca constitui um todo acabado,mas sim uma
permanente construção para a qual cooperamas forças internas do indivíduo e as
forças da sociedadeque agem sobre ele e a partir dele.
Os sociólogos clássicos procuraram teorizar essa distinçãoentre indivíduo e
sociedade ao tratarem desta e davida coletiva. O sociólogo francês Émile Durkheim,
porexemplo, procurou conceituar a sociedade como algo queestá fora do indivíduo e
que se impõe a ele, e o sociólogoalemão Max Weber buscou mostrar que a
sociedade só poderia ser entendida combase nas unidades que a constituem, ou
seja, as formações históricas e os indivíduoscom suas necessidades e motivações.
Assim, seja pensando na supremacia da sociedade sobre a força das
individualidades,
seja concebendo a sociedade como uma composição dessas forças, estásempre
presente no pensamento sociológico a relação entre o sujeito e a sociedadena qual
atua, que são duas realidades interdependentes, porém distintas. É nessarelação
mediada por signos – como o reflexo no espelho que estimula a criançade 6 meses
– que desenvolvemos a capacidade de reconhecer em determinadassituações
externas prolongamentos de nosso corpo e de nossa interioridade.
Obtemos nessas situações a sensação de pertencimento, ou seja, nos
sentimosparte de algo que se situa fora de nós. Isso é o que chamamos de
identidade, ouseja, a possibilidade de, em certas circunstâncias, vencer as
oposições que existementre nosso mundo interior e o meio circundante, percebendo
esse mundo comonosso prolongamento e a nós próprios como parte dele.

Identidade social

Nas sociedades anímicas, ou seja, naquelas em que os mitos e a crença no sagrado

47
predominam sobre a compreensão lógica, científica e racional do mundo, é
frequente
o uso da máscara pelo xamãdurante os rituais. Ao colocar a máscararepresentando
uma divindade ou um espírito fundador, esse sacerdote permite queo espírito dessa
divindade assuma seu corpo, suas ações e empreste seu poder paraaquilo que
almeja realizar com determinado ritual.
A identidade do xamã com adivindade é quase perfeita – ao usar a máscara de um
leão ou de um tigre ele setransforma nesse animal, ao portar a máscara da
divindade, ele age por essa divindade.
A máscara tem um poder transformador, pois o xamã se sente “como se fosse”
adivindade e seu ser se expande incorporando algo que existe fora dele.No teatro, a
máscara também tem essa função que vem dos rituais sagrados,pois, quando o ator
utiliza uma máscara, incorpora a personagem que ela representa.
Em latim, máscara é persona, do qual deriva a palavra personagem, ou seja,um
conjunto de características pessoais às quais o ator dá vida. Alguns autoresatribuem
a origem da palavra persona ao verbo personare (para soar), indicandoque a
máscara faz a entidade representada se manifestar, provavelmente, falandoou
cantando. A máscara representa essa interface entre o ser do atorou do xamã e a
entidade investida. Ela representa a entidadeincorporada pelo xamã – é parte dela,
portanto, verdadeira– e permite que a entidade continue existindo noimagináriodo
grupo e interaja com ele. Sem a máscara, não há representatividade, e o xamã e o
ator são apenas membros do grupo.Com a máscara, o ator dá vida a um
personagem, cria características e ações predeterminadas.

16. SOCIEDADE MIDIÁTICA

Um dos mitos mais conhecidos da Grécia antiga, inúmeras vezes relembrado


nasociedade contemporânea, é o que relata a história de Narciso, o filho dodeus-rio
Céfiso, de Téspias, um jovem de imensa beleza e de invejável poder de sedução.
Alvo de paixão das ninfas, Narciso se mantinha alheio e distante aos
apelosamorosos até o dia em que, vendo sua própria imagem refletida nas águas de
umlago, apaixona-se por seu reflexo e, buscando aproximar-se do ente amado,
precipita-se, desaparecendo nas águas. Nesse lugar, nasce uma flor que leva seu
nome.O mito de Narciso é lembrado no Ocidente, na atualidade, por muitos

48
autoresque a ele se referem para falar dessa paixão por si mesmo que recebeu o
nome de narcisismo. Outros autores evocam o mito grego para mostrar como as
imagenspodem ser enganosas, iludindo nossos sentidos.
O mito, portanto, contém esta ambiguidade: por quem o Narciso apaixonadose
precipitou nas águas? Por si mesmo ou por outra pessoa de quem acreditavaser o
reflexo? Essa dúvida revela a característica ou a função mais importante daimagem
– a de ser um meio, ou seja, um veículo que tanto pode dirigir a percepçãohumana
para o interior de si mesmo, para sua subjetividade – a exemplo daprimeira
interpretação do mito de Narciso –, como pode dirigi-la para fora de si,para a
realidade ou em direção ao outro. O fato de as duas interpretações serempossíveis
revela esse duplo sentido da imagem e, em qualquer caso, a forma comoa imagem
atua como um veículo, uma mediação entre o ser humano e a construçãode seus
sentidos, emoções e identidade.
O ser humano, desde o surgimento das primeiras etapas de sua evolução,
vemdesenvolvendo um tipo de cultura que implica certo afastamento das condições
naturaise das respostas espontâneas e inatas para determinados estímulos. Os
signosfuncionam como parte desse afastamento das condições naturais na medida
em que,como no mito de Narciso, eles se interpõem como mediações em nossa
relação como outro e com as coisas do mundo. Os signos, portanto, representam
certo distanciamentoque, por sua vez, facilitam o trânsito entre seres e coisas. A
imagem refletidano lago tanto afasta quanto precipita Narciso em direção ao objeto
de sua paixão edesejo. A imagem é um signo e uma mediação entre ele e o ser
amado.
Mas, descoberta a capacidade simbólica e mediadora dos signos, a cultura
humananão cessou de ampliar esse distanciamento, interpondo cada vez mais
novas mediaçõesentre os seres uns com os outros e entre eles e o mundo. Em
função dessas mediações,Leopold von Wiese e H. Becker classificam as relações
humanas em diferentes tipos. Amais importante delas para a sociologia é o contato,
cujo interesse está em ele ser umpressuposto do processo associativo.
Os contatos podem ser divididos em primários e secundários. Os contatos
primáriossão aqueles que dependem dos sentidos humanos – há proximidade
físicae contatos face a face, com grande envolvimento dos órgãos dos sentidos,
como avisão e a audição. Já os contatos secundários envolvem distanciamento e
mediaçãodos meios de comunicação, como telegramas e telefones.

49
As relações sociais, assim como as instituições, dependem de uma somatória
deatos comunicacionais pelos quais as pessoas renovam suas posições, reafirmam
suasmotivações e expressam suas intenções. Para isso, a linguagem verbal e a
oralidade
são os instrumentos mais disponíveis e eficientes e instituem as primeiras formas de
mediação entre os membros de uma sociedade e deles com o mundo à sua volta.
A línguagem é uma delas. Chamamos de linguagem a capacidade humana de se
expressar e se comunicarpor meio de um conjunto limitado de signos verbais,
visuais, gestuais ou corporais,combinados de acordo com um conjunto de regras,
valendo-se de técnicascorporais e tecnologias de comunicação. As linguagens se
desenvolveram socialmente,possibilitadas por um complexo processo simbólico
humano. Elas são o
elemento-chave da vida social.
A diversidade linguística, embora discreta, em uma mesma região, não é
suficientepara impedir uma coesão grupal intensa, que se manifesta sob a forma
deidentidade étnica e regional entre os falantes. a linguagem é um fenômeno vivo e
está em constante movimento,apresentando mudanças internas de caráter formal,
assim como históricas, resultantesda dinâmica das sociedades. Como
consequência, o uso das formas linguísticasreflete o seu tempo, as preocupações e
os valores culturais de uma sociedade em determinadaépoca e lugar.
No livro Mitos, emblemas, sinais, o historiador italiano Carlo Ginzburg explicao
surgimento da escrita como resultado do uso de um dos nossos mais antigosdons: a
observação. Caçador desde suas mais remotas origens, o homem aprendeua
reconhecer e a interpretar rastros, o que o tornou apto a perseguir suas presas e
afugir dos predadores.
A criação do alfabeto permitiu que toda e qualquer linguagem fosse transcritapelos
mesmos elementos gráficos, estabelecendo uma relação correlata entredeterminado
número de signos e sons, o que ampliou o alcance da comunicaçãohumana. A
chamada revolução letrada modificou radicalmente o processo doconhecimento a
partir da invenção do alfabeto, conforme estudado por muitosautores, entre os quais
Derrick de Kerckhove.
O desenvolvimento da linguagem escrita acabou por multiplicar o número
dedocumentos manuscritos, não só aqueles que passaram a fazer parte da vida
cotidiana,como correspondências e diários, mas também os que regulam a

50
vidasocial: leis, certificados e testamentos. Em decorrência desse acúmulo de papéis
edocumentos, surgiram técnicas de armazenagem e gerenciamento de informações,
como arquivos e bibliotecas.
Do século IV até o XIV, quando o papel surgiu na Itália, o pergaminho foio suporte
mais utilizado. Popularizava-se o códice, nome dado ao formato livro, quepossuía
inscrições de ambos os lados das folhas e era portátil. Os primeiros códiceseram em
madeira, depois foram fabricados em pergaminho e, finalmente, em papel.
A cultura livresca resultou desse desenvolvimento na busca de suportes mais leves,
baratos e portáteis e de tecnologias de registro que facilitassem a disseminação das
informações. A grande revolução aconteceu com a invenção da prensa por
Gutenberg,tornando possível infinitas reproduções de um mesmo original. Houve
estímulo à alfabetizaçãoe até mesmo à escrita manual – mais pessoas aprenderam
a ler e a escrever.
O escritor Alberto Manguel afirma que, depoisde Gutenberg, pela primeira vez na
história, centenasde leitores possuíam exemplares idênticos domesmo livro e o texto
lido por alguém em Madriera o mesmo lido por outra pessoa em Montpellier(na
época, a maioria dos livros era escrita em latim).
Aos poucos, surgiram os colecionadores de livros eas coleções de livros públicas e
particulares – o germedo que viriam a ser as bibliotecas. Instalava-sea produção em
série de textos e surgia um públicode leitores que, com a leitura, submetia-se à
mesmaexperiência literária. Era o início do processo demassificação da cultura

Indústria cultural

Um dos primeiros núcleos de pesquisa sociológica a avaliar a importânciados meios


de comunicação em sua influência sobre o comportamento coletivofoi a Escola de
Frankfurt (Alemanha) que, com a teoria crítica, denunciava ocaráter ideológico das
mensagens que transitam pelos meios de comunicação.
Com base nos conceitos de alienação e ideologia, desenvolvidos por Karl
Marx,desenvolvem uma crítica à hegemonia crescente da circulação de
mercadoriase à impossibilidade do homem se reconhecer num mundo de produção
e consumo.

51
Os frankfurtianos desacreditavam na capacidade humana de, diante dainfluência da
produção cultural programada e midiatizada, perceber a realidadecircundante e
reagir a ela.
Como consequência das análises desenvolvidaspara mostrar como os meiosde
comunicação de massa participavamdo processo de alienação humana,
osfrankfurtianos criaram o conceito deindústria culturalque veio a substituiro de
cultura de massa. Para eles, oconceito significava a produção programada para
tornar imutável amentalidade passiva do público submetidoaos mass media. Há uma
denúnciaao caráter comercial e mercantil dosmeios de comunicação contaminados,
desde sua origem, pelo princípio do lucro.

17. SOCIOLOGIA NO BRASIL

No Brasil, a sociologia vai primar pelo conflito entre as classes sociais. Entre as
décadas de 1920 e 1930, o objeto de estudo foi a formação da sociedade brasileira.
Sérgio Buarque de Holanda, com Raízes do Brasil, publicado em 1926; Gilberto
Freyre, com Casa Grande em Senzala, publicado em 1933; e Caio Prado Júnior,
com Formação do Brasil Contemporâneo, publicado em 1942, são os maiores
representantes.
Após esse primeiro momento, os temas relacionados às classes trabalhadoras
passaram a ser a preocupação dos sociólogos brasileiros. A partir de 1960, a
industrialização, reforma agrária e movimentos sociais tomaram a ponta nos
estudos. A partir de 1964, a preocupação recai sobre os problemas socioeconômicos
e políticos brasileiros, em função da ditadura militar que se instalou no país. Nesse
período, a disciplina Sociologia deixou de ser ensinada no ensino secundarista, atual
ensino médio, voltando apenas na década de 1980, mas sendo facultativa na grade
escolar.
Mudanças sociais, instalação da nova república, as questões da mulher, do
trabalhador rural, racismo e violência passam a ser estudados. Somente em 2009, a
disciplina voltou a ser obrigatória no ensino médio. Hoje, com a nova BNCC – Base
Nacional Comum Curricular, volta a ser optativa.

Referências

52
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 1999.
DIAS, R. Introdução à Sociologia. 2. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
Sociologia em movimento – 1. ed. – São Paulo: Moderna, 2013.
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de
Janeiro: Zahar, 2000
LAKATOS, Eva Maria. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas, 1997
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1988
MEKSENAS, Paulo. Aprendendo Sociologia. São Paulo: Loyola, s/d.
OLIVEIRA,P. S. de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2001.
TOMAZI, N. D. Sociologia para o Ensino médio. Volume único - 3. ed. – São
Paulo: Saraiva, 2013

QUESTÕES RESOLVIDAS

1) ENEM 2016 -A mundialização introduz o aumento da produtividade do trabalho


sem acumulação de capital, justamente pelo caráter divisível da forma técnica
molecular-digital do que resulta a permanência da má distribuição da renda:
exemplificando mais uma vez, os vendedores de refrigerantes às portas dos estádios
viram sua produtividade aumentada graças ao just in time dos fabricantes e
distribuidores de bebidas, mas para realizar o valor de tais mercadorias, a forma do
trabalho dos vendedores é a mais primitiva. Combinam-se, pois, acumulação
molecular-digital com o puro uso da força de trabalho.

OLIVEIRA, F. Critica à razão dualista e o ornitorrinco. Campinas: Boitempo, 2003.

Os aspectos destacados no texto afetam diretamente questões como emprego e


renda, sendo possível explicar essas transformações pelo(a)

53
a) crise bancária e o fortalecimento do capital industrial.
b) inovação toyotista e a regularização do trabalho formal.
c) impacto da tecnologia e as modificações na estrutura produtiva.
d) emergência da globalização e a expansão do setor secundário.
e) diminuição do tempo de trabalho e a necessidade de diploma superior.

2)ENEM 2016 -

Texto I

TEXTO II

Metade da nova equipe da Nasa é composta por mulheres Até hoje, cerca de 350
astronautas americanos já estiveram no espaço, enquanto as mulheres não chegam
a ser um terço desse número. Após o anúncio da turma composta 50% por
mulheres, alguns internautas escreveram comentários machistas e desrespeitosos
sobre a escolha nas redes sociais.

Disponível em: https//catracalivre com br. Acesso em 10 mar 2016

A comparação entre o anúncio publicitário de 1968 e a repercussão da notícia de


2016 mostra a

a) elitização da carreira científica.


b) qualificação da atividade doméstica.
c) ambição de indústrias patrocinadoras.
d) manutenção de estereótipos de gênero.

54
e) equiparação de papéis nas relações familiares.

3) ENEM 2016 -Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura,


poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor
— mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos,
tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as
fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade: nesse sentido, pode-se
dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal,
uma unidade de desunidade.

BERMAN. M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São


Paulo: Cia das Letras. 1986 (adaptado)

O texto apresenta uma interpretação da modernidade que a caracteriza como um(a)

a) dinâmica social contraditória.


b) interação coletiva harmônica.
c) fenômeno econômico estável.
d) sistema internacional decadente.
e) processo histórico homogeneizador.

4) ENEM 2016 -Não estou mais pensando como costumava pensar. Percebo isso de
modo mais acentuado quando estou lendo. Mergulhar num livro, ou num longo
artigo, costumava ser fácil. Isso raramente ocorre atualmente. Agora minha atenção
começa a divagar depois de duas ou três páginas. Creio que sei o que está
acontecendo. Por mais de uma década venho passando mais tempo on-line,
procurando e surfando e algumas vezes acrescentando informação a grande
biblioteca da internet. A internet tem sido uma dadiva para um escritor como eu.
Pesquisas que antes exigiam dias de procura em jornais ou na biblioteca agora
podem ser feitas em minutos. Como disse o teórico da comunicação Marshall
Mcluhan nos anos 60, a mídia não é apenas um canal passivo para o tráfego de
informação. Ela fornece a matéria, mas também molda o processo de pensamento.
E o que a net parece fazer é pulverizar minha capacidade de concentração e
contemplação.

CARR, N. ls Google maklng us stupid? Disponível em. www.theatlantic.com. Acesso


em: 17 fev. 2013 (adaptado).

Em relação à internet, a perspectiva defendida pelo autor ressalta um paradoxo que


se caracteriza por

a) associar uma experiência superficial à abundância de informações.


b) condicionar uma capacidade individual à desorganização da rede.
c) agregar uma tendência contemporânea à aceleração do tempo.
d) aproximar uma mídia inovadora à passividade da recepção.
e) equipar uma ferramenta digital à tecnologia analógica

5) ENEM 2016 -A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das
sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela

55
restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que
todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada.
Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a
descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às
vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.

DURKHEIM, E O suicídio: estudo de sociologia São Paulo: Martins Fontes, 2000

O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com


base na

a) vinculação com a filosofia como saber unificado.


b) reunião de percepções intuitivas para demonstração.
c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social.
d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais.
e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político.

6) ENEM 2016 -A democracia deliberativa afirma que as partes do conflito político


devem deliberar entre si e, por meio de argumentação razoável, tentar chegar a um
acordo sobre as políticas que seja satisfatório para todos. A democracia ativista
desconfia das exortações à deliberação por acreditar que, no mundo real da política,
onde as desigualdades estruturais influenciam procedimentos e resultados,
processos democráticos que parecem cumprir as normas de deliberação geralmente
tendem a beneficiar os agentes mais poderosos. Ela recomenda, portanto, que
aqueles que se preocupam com a promoção de mais justiça devem realizar
principalmente a atividade de oposição crítica, em vez de tentar chegar a um acordo
com quem sustenta estruturas de poder existentes ou delas se beneficia.

YOUNG, 1. M. Desafios ativistas à democracia deliberativa. Revista Brasileira de


Ciência Política, n. 13, jan.-abr. 2014.

As concepções de democracia deliberativa e de democracia ativista apresentadas no


texto tratam como imprescindíveis, respectivamente,

a) a decisão da maioria e a uniformização de direitos.


b) a organização de eleições o movimento anarquista.
c) a obtenção do consenso e a mobilização das minorias.
d) a fragmentação da participação e a desobediência civil.
e) a imposição de resistência e o monitoramento da liberdade.

7) ENEM 2016 -A promessa da tecnologia moderna se converteu em uma ameaça,


ou esta se associou àquela de forma indissolúvel. Ela vai além da constatação da
ameaça física. Concebida para a felicidade humana, a submissão da natureza, na
sobre medida de seu sucesso, que agora se estende à própria natureza do homem,
conduziu ao maior desafio já posto ao ser humano pela sua própria ação. O novo
continente da práxis coletiva que adentramos com a alta tecnologia ainda constitui,
para a teoria ética, uma terra de ninguém.

56
JONAS, H O principio da responsabilidade. Rio de Janeiro, Contraponto, Editora
PUC-Rio, 2011 (adaptado).

As implicações éticas da articulação apresentada no texto impulsionam a


necessidade de construção de um novo padrão de comportamento, cujo objetivo
consiste em garantir o(a)

a) pragmatismo da escolha individual.


b) sobrevivência de gerações futuras.
C
c) fortalecimento de políticas liberais.
d) valorização de múltiplas etnias.
e) promoção da inclusão social.

8) ENEM 2016 -Participei de uma entrevista com o músico Renato Teixeira. Certa
hora, alguém pediu para listar as diferenças entre a música sertaneja antiga e a
atual. A resposta dele surpreendeu a todos: “Não há diferença alguma. A música
caipira sempre foi a mesma. É uma música que espelha a vida do homem no campo,
e a música não mente. O que mudou não foi a música, mas a vida no campo”. Faz
todo sentido: a música caipira de raiz exalava uma solidão, um certo distanciamento
do país “moderno”. Exigir o mesmo de uma música feita hoje, num interior
conectado, globalizado e rico como o que temos, é impossível. Para o bem ou para o
mal, a música reflete seu próprio tempo.

BARCINSKI. A Mudou a música ou mudaram os caipiras? Folha de São Paulo. 4 jun.


2012 (adaptado)

A questão cultural indicada no texto ressalta o seguinte aspecto socioeconômico do


atual campo brasileiro:

a) Crescimento do sistema de produção extensiva.


b) Expansão de atividades das novas ruralidades.
c) Persistência de relações de trabalho compulsório.
d) Contenção da política de subsídios agrícolas.
e) Fortalecimento do modelo de organização cooperativa.

9)ENEM 2017 -A grande maioria dos países ocidentais democráticos adotou o


Tribunal Constitucional como mecanismo de controle dos demais poderes. A
inclusão dos Tribunais no cenário político implicou alterações no cálculo para a
implementação de políticas públicas. O governo, além de negociar seu plano político
com o Parlamento, teve que se preocupar em não infringir a Constituição. Essa nova
arquitetura institucional propiciou o desenvolvimento de um ambiente político que
viabilizou a participação do Judiciário nos processos decisórios.
CARVALHO, E. R. Revista de Sociologia e Política, nº 23. nov. 2004 (adaptado).

O texto faz referência a uma importante mudança na dinâmica de funcionamento dos


Estados contemporâneos que, no caso brasileiro, teve como consequência a
a) adoção de eleições para a alta magistratura.
b) diminuição das tensões entre os entes federativos.

57
c) suspensão do principio geral dos freios e contrapesos.
d) judicialização de questões próprias da esfera legislativa.
e) profissionalização do quadro de funcionários da Justiça.

10)ENEM 2017 - O conceito de democracia, no pensamento de Habermas, é


construído a partir de uma dimensão procedimental, calcada no discurso e na
deliberação. A legitimidade democrática exige que o processo de tomada de
decisões políticas ocorra a partir de uma ampla discussão pública, para somente
então decidir. Assim, o caráter deliberativo corresponde a um processo coletivo de
ponderação e análise, permeado pelo discurso, que antecede a decisão.
VITALE. D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia deliberativa. Cadernos do
CRH (UFBA), v. 19, 2006 (adaptado).

O conceito de democracia proposto por Jürgen Habermas pode favorecer processos


de inclusão social. De acordo com o texto, é uma condição para que isso aconteça
o(a)
a) participação direta periódica do cidadão.
b) debate livre e racional entre cidadãos e Estado.
c) interlocução entre os poderes governamentais.
d) eleição de lideranças políticas com mandatos temporários.
e) controle do poder político por cidadãos mais esclarecidos.

11)ENEM 2017 - Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa da Mina
(Nagô de Nação), de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a
doutrina cristã. Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um
preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva,
geniosa, insofrida. Dava-se ao comércio — era quitandeira, muito laboriosa e, mais
de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de
insurreição de escravos que não tiveram efeito.
AZEVEDO, E. “Lá vai verso!”: Luiz Gama e as primeiras trovas burlescas de
Getulino. In: CHALHOUB, S.; PEREIRA, L. A. M. A história contada: capítulos de
história social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1998
(adaptado).

Nesse trecho de suas memórias, Luiz Gama ressalta a importância dos(as)


a) laços de solidariedade familiar.
b) estratégias de resistência cultural.
c) mecanismos de hierarquização tribal.
d) instrumentos de dominação religiosa.
e) limites da concessão de alforria.

12)ENEM 2017 - A participação da mulher no processo de decisão política ainda é


extremamente limitada em praticamente todos os países, independentemente do
regime econômico e social e da estrutura institucional vigente em cada um deles. É
fato público e notório, além de empiricamente comprovado, que as mulheres estão
em geral sub-representadas nos órgãos do poder, pois a proporção não corresponde
jamais ao peso relativo dessa parte da população.

58
TABAK, F. Mulheres públicas: participação política e poder. Rio de Janeiro: Letra
Capital, 2002.

No âmbito do Poder Legislativo brasileiro, a tentativa de reverter esse quadro de


sub-representação tem envolvido a implementação, pelo Estado, de
a) leis de combate à violência doméstica.
b) cotas de gênero nas candidaturas partidárias.
c) programas de mobilização política nas escolas.
d) propagandas de incentivo ao voto consciente.
e) apoio financeiro às lideranças femininas.

13)ENEM 2017 - Muitos países se caracterizam por terem populações multiétnicas.


Com frequência, evoluíram desse modo ao longo de séculos. Outras sociedades se
tornaram multiétnicas mais rapidamente, como resultado de políticas incentivando a
migração, ou por conta de legados coloniais e imperiais.
GIDDENS. A. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012 (adaptado).

Do ponto de vista do funcionamento das democracias contemporâneas, o modelo de


sociedade descrito demanda, simultaneamente,
a) defesa do patriotismo e rejeição ao hibridismo.
b) universalização de direitos e respeito à diversidade.
c) segregação do território e estímulo ao autogoverno.
d) políticas de compensação e homogeneização do idioma.
e) padronização da cultura e repressão aos particularismos

14)ENEM 2017 -

59
Elaborada em 1969, a releitura contida na Figura 2 revela aspectos de uma trajetória
e obra dedicada à
a) valorização de uma representação tradicional da mulher.
b) descaracterização de referências do folclore nordestino.
c) fusão de elementos brasileiros à moda da Europa.
d) massificação do consumo de uma arte local.
e) criação de uma estética de resistência.

15) ENEM 2015 - Na sociedade contemporânea, onde as relações sociais tendem a


reger-se por imagensmidiáticas, a imagem de um indivíduo, principalmente na
indústria do espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de seu incremento
técnico: amplitude do espelhamento e da atenção pública. Aparecer é então mais do
que ser; o sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito, a lógica circulatória do
mercado, ao mesmo tempo que acena democraticamente para as massas com os
supostos “ganhos distributivos” (a informação ilimitada, a quebra das supostas
hierarquias culturais), afeta a velha cultura disseminada na esfera pública. A

60
participação nas redes sociais, a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado
quanto ser visto são índices do desejo de “espelhamento”.
SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br. Acesso em: 9 fev. 2015
(adaptado).
A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporânea enfatiza
a) a prática identitária autorreferente.
b) a dinâmica política democratizante.
c) a produção instantânea de notícias.
d) os processos difusores de informações.
e) os mecanismos de convergência tecnológica.

GABARITO

1. [C]

Essa questão sobre os processos produtivos tem de ser analisada pelo olhar do
aumento da produção, que é o objetivo principal. Portanto, sabe-se que ao melhorar
a produtividade da mão-de-obra, adequando-as às novas tecnologias, vai se
aumentar o lucro, que é uma das principais metas da mundialização.

2. [D]

O texto I evidencia o machismo predominante nas sociedades conservadoras, que


coloca a mulher em situação de inferioridade.. O texto II também mostra como o
estereótipo do gênero feminino ainda persiste na sociedade, colocando a mulher
como ser inferior e subjugada ao homem.

3. [A]

Berman dá ênfase, em seu texto, aos avanços da modernidade e de como se tornam


desbravadores pelo que ainda não conhecem, dilatando fronteiras, preciosas quanto
a prosperidade material e salienta, de forma clara, a desunidade que isso provoca.

4. [A]

Carr estabelece, em seu texto, que a internet e as redes sociais proporcionam, hoje,
uma facilidade e multiplicidade de conhecimentos, antes impensáveis. Mas, além de
fornecer conhecimentos, net e redes sociais também moldam o indivíduo, ao ponto
de que ele possa até a vir ignorar sua identidade, como pode-se observar no trecho:
"E o que a net parece fazer é pulverizar minha capacidade de concentração e
contemplação." Esse é o grande entrave, a grande dubiedade em que a sociedade
irá mergulhar e terá de resolver.

5. [D]

61
Durkheim alinha-se ao analisar a sociedade nos métodos normalmente utilizados
pelos cientistas naturais, assim como outro grande filósofo francês, Augusto Comte.
O posicionamento de Durkheim é em defesa da neutralidade do cientista com
relação ao seu objeto de análise. Ele, Durkeim, queria ir além do senso comum,
assim como o positivismo de Comte.

6. [C]

Vamos definir os conceitos de democracia exigidos no enunciado:


Democracia deliberativa – implica em participação direta dos indivíduos quanto às
questões da esfera púbica. As bases para a elaboração de normas e regulações
para a sociedade são as discussões que envolvem conhecimento de causa e
criticismo.
Democracia ativista – entende que a democracia deliberativa não se desvencilha das
relações de poder, para construir algo novo e que inverta as prioridades com vistas a
atender as demandas justas das minorias. A democracia ativista tem como foco
principal a mobilização frequente dos indivíduos.

7. [B]

Toda a tecnologia ao alcance do indivíduo, hoje, representa uma ameaça porque


não se preocupa com a sobrevivência das gerações futuras, valorizando apenas o
imediato. O texto aborda a necessidade premente de uma preocupação com essas
gerações que hão de vir, aliadas a uma ética humanista e conservacionista.

8. [B]

A assertiva de Renato Teixeira coaduna-se com a própria realidade do novo sertão.


A música sertaneja sempre falou dos hábitos e da vida do homem do campo que,
hoje, mudou, graças à tecnologia. Portanto, o contexto rural expresso nas canções
desse segmento musical também muda. O agronegócio utiliza-se prioritariamente de
alta tecnologia, grandes propriedades rurais, que antigamente viviam isoladas, hoje
conectam-se com o mundo todo em um click. Portanto, a música não mudou e sim
os tempos.

9. [D]

O tema dessa questão é pertinente à atual realidade política brasileira, porque fala da
crescente interferência do Poder Judiciário para poder resolver questões que são próprias
do Poder Legislativo. Então, só o futuro é que poderá dizer se isso é momentâneo ou se
fixará dentro dos nossos poderes.

10. [B]

O conceito de democracia deliberativa foi criado por Habermas e, segundo esse


conceito, tem de existir a participação da sociedade civil na administração pública,
por meio de debates, como está no texto.

62
11. [B]

A alternativa correta é a “estratégias de resistência cultural”. Entenda-se que isso só


foi possível a Luiza Mahin, porque era uma negra livre e, por isso, pode negar-se ao
batismo, o que não aconteceu com a imensidão de negros e negras no período da
escravidão.

12. [B]

A Lei 4.504/97 no artigo 10, parágrafo 3° diz que deve haver um percentual mínimo
de 30% e máximo de 70% para candidatos de cada gênero. É crucial a participação
de ambos os gêneros para que sejam discutidas políticas de inclusão para a mulher.

13. [B]

O texto é claro quando fala da evolução para o respeito às populações multiétnicas não só
universalmente, mas também individualmente, em cada país. É uma das bases para o
exercício da democracia

14. [E]

Zuzu Angel fez a releitura da imagem de Maria Bonita em 1969, onde pode-se ver que a
estilista utilizou de uma figura do cangaço para desafiar o regime militar. Vale lembrar que o
fiho de Zuzu, Stuard Edward Angel Jones, militava na esquerda e desapareceu durante os
anos de chumbo da ditadura militar.

15. [A]

No mundo contemporâneo, muitas vezes as relações sociais são regidas pela


imagem do indivíduo, quanto o importante é aparecer, porque aparecer é mais do
que ser. Pode-se perceber isso nas redes sociais em geral, com a loucura pelos
sefies, onde ser visto e ganhar likes é um dos maiores desejos da atualidade. Mas,
deve-se frisar que o autor não critica a questão da difusão da informação, tampouco
a produção imediata de notícias, mas como se dá essa utilização, que não é por
mérito, mas autorreferente.

63

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