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DESNUCLEAÇÃO DE

ESCOLAS DO CAMPO E A
RESISTÊNCIA ÀS POLÍTICAS
HEGEMÔNICAS: UMA
ANÁLISE EM SERRA DO
RAMALHO/BA

Inaiara Alves Rolim (UFRB/UESC/GEPEMDECC-


UESB/SMECD)
Terciana Vidal Moura (UFRB-OBSERVALE)
Shirley Gonçalves de Souza (SMECD)
Luciana Silva Oliveira (UESB/SMECD)
INTRODUÇÃO
Esse artigo tem como objetivo discutir sobre a reversão do processo de
nucleação que aconteceu no município de Serra do Ramalho/BA, entre os
anos de 2016 a 2019, e a desnucleação dessas escolas em 2022.
Apresenta uma reflexão a respeito de como este processo se constitui
resistência às políticas hegemônicas que se fortalecem com a precarização das
escolas do campo. Este estudo foi construído segundo os princípios da
abordagem qualitativa, com o estudo bibliográfico sobre o tema, análise
documental e levantamento de dados por meio de entrevista realizada com o
representante da Secretaria Municipal de Educação.
Este estudo evidencia a necessidade de repensar a escola do campo para
abolir a prática excludente que é a nucleação/fechamento de escolas do
campo. Essa situação possibilita o avanço de procedimentos de melhoria da
qualidade do processo de ensino e aprendizagem, favorecendo a construção
de uma formação emancipatória dos sujeitos do campo.
NOSSO LUGAR DE
SERRA DO RAMALHO/BA: O município
FALA
nasce com as comunidades quilombolas que se
fixaram às margens do Rio São Francisco e sua
origem política está relacionada à construção
da barragem de sobradinho; assentamento
coordenado pelo instituto nacional de
colonização e reforma agrária - INCRA que,
por meio projeto especial de colonização de
serra do ramalho – PEC’SR, criado em 13 de
maio de 1975, fez a transposição das 1800
famílias, mais os sem terra de várias partes do
país distribuindo-os em 23 povoados
denominados de agrovilas.
METODOLOGIA

Este estudo foi construído segundo os princípios da


abordagem qualitativa, com o estudo bibliográfico sobre o
tema, análise documental e levantamento de dados por
meio de entrevista realizada com o representante da
Secretaria Municipal de Educação.
Dentro da lógica mercadológica/neoliberal, a Educação do Campo
representa um atraso para educação do país na medida em que
apresenta indicadores educacionais que tem se distanciado das
metas estabelecidas pela conjuntura internacional.

Nesse sentido políticas que buscam esse ajuste estrutural vem sendo
instituídas pelo MEC, a exemplo do Programa Nacional de Apoio
ao Transporte Escolar (PNATE) e do Programa Caminhos da
Escola, que tem incentivado a Nucleação Escolar e o deslocamento
de alunos do campo para a escola da cidade, ao custo do
fechamento das escolas do campo [...] (MOURA;SANTOS, 2012,
p. 68).
Quando refletimos sobre o projeto de Educação do Campo
reivindicado historicamente pelos movimentos sociais, entendemos a
urgência de as políticas públicas assegurarem não apenas o acesso do
estudante à educação, mas acesso e permanência na escola em sua
comunidade, considerando a pluralidade sociocultural dos povos do
campo.

No entanto, ao observar como a história da educação dos sujeitos do


campo vem sendo escrita, identificamos um “processo de
engendramento das políticas públicas na área específica da Educação
do Campo, demonstrando as marchas e contramarchas na relação
Estado e sociedade civil organizada do campo”, (MUNARIM, 2011,
p. 01).
A nucleação têm ocorrido predominantemente sem um diálogo com
as comunidades rurais, gerando conflitos nas e entre as comunidades.

...contrariando

as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica da Escola do


campo, Art. 2º, que vincula a identidade das escolas do campo à
diversidade das populações das áreas rurais;

O Estatuto da Criança e do Adolescente, que no Art. 53, Inciso V, que


estabelece o acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência.)

e a a Lei nº 12.960, de 27 de março de 2014.


FECHAMENTO E NUCLEAÇÃO DE ESCOLAS EM DE
SERRA DO RAMALHO
A EXPERIÊNCIA DE SERRA DO RAMALHO E A
RESISTÊNCIA ÀS POLÍTICAS HEGEMÔNICAS

PROJETO DE DESNUCLEAÇÃO
• Professores do município:
Serra do Ramalho: Secretaria de 571
Educação (2022) • Professores meio urbano:
126
• Escolas: 40 • Professores do campo: 445
• Escolas urbanas: 06 • Professores classes
• Escolas do campo: 34 (3 escolas multisseriadas: 80
quilombolas, uma escola
indígena, 5 escolas ribeirinhas,
uma escola serrana, 24 escolas
comunidades de
reassentamento) • Classes Multisseriadas na
• Escolas com classes Educação Infantil, nos anos
multisseriadas: 19 iniciais e finais do Ensino
Fundamental e na EJA.
FORMAÇÃO CONTINUADA
Hage (2014) reforça que a escola no local de vivência dos
sujeitos poderá cumprir de forma efetiva com seu processo
de escolarização e oportunizar o acesso a um serviço tão
básico que é a educação. O descumprimento desse quesito
coloca os estudantes em situações de vulnerabilidade, uma
vez que ao deslocar-se para outras realidades pode gerar
processos de exclusão e de descontentamento com a
escola. Esse fato pode levar à evasão e esfacelamento da
educação desses sujeitos.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Percebemos que o município de Serra do Ramalho/BA caminha na
contramão do sistema hegemônico, que busca a desterritorialização dos
sujeitos do campo por meio da retirada dos estudantes de seu espaço.
O município vem atuando a partir da compreensão de que fechar
escolas do campo contribui com o despovoamento desse espaço e com
o rompimento dos modos de produção da vida com base na agricultura
familiar.
Nuclear/fechar escola no campo significa negar aos estudantes
campesinos o acesso ao conhecimento histórico/clássico produzido
pela humanidade com qualidade e conforto, pois o deslocamento desse
sujeito para outras realidades causa desconforto, cansaço e, na maioria
dos casos, o sofrimento de bullying nas escolas da cidade.
[...] quanto menos resistência houver maior
será o avanço das políticas neoliberais.
(FREITAS, 1995 apud SANTOS, 2011, p. 17)

Educação do campo, direito nosso e dever do


estado!!!
REFERÊNCIAS

ANTUNES-ROCHA, M. I.; HAGE, S. M. (orgs). Escola de Direito: reinventando a escola multisseriada. 2. Ed. – Belo Horizonte: Editora
Gutenberg, 2012. (Coleção Caminhos da Educação do Campo).
ARROYO, M. G. Formação de Educadores do Campo. In Caldart, R., Pereira, I. B., Alentejano, P., & Frigotto, G. (Orgs.). Dicionário da
Educação do Campo. Rio de Janeiro, RJ: Fiocruz; São Paulo, SP: Expressão Popular, 2012.
ARROYO, M. G. A educação básica e o movimento social do campo. In: CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (orgs). Por uma Educação do
Campo. 2. ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2004.
ARROYO, M. G. Por uma escola do campo. Petrópolis: Vozes, 2005.
BRASIL. Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Resolução CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002.
BRASIL. Parecer CNE/CEB nº 23/2007. Consulta referente às orientações para o atendimento da Educação do Campo. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1434 4-pceb023-07&category_slug=outubro-2013-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 17 jan.
BRASIL. Decreto n.º 7.352, de 4 de novembro de 2010. Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Brasília: Palácio do Planalto, 2010b. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-010/2010/decreto/d7352.htm. Acesso em: 26 jun. 2022.
CALDART, Roseli Salete; PALUDO, Conceição; DOLL, Johannes. Como se formam os sujeitos do campo? Idosos, adultos, jovens,
crianças e educadores. Brasília: ISSN: 2237-0315 PRONERA/NEAD, 2006.
FERNANDES, I. L. A construção de políticas públicas de educação do campo através das lutas dos movimentos sociais. Revista Lugares de
Educação, Bananeiras-PB, v. 4,
n. 8, p. 125 135, jan./jun. 2014. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rle. Acesso em: 3 abr. 2022.
FREITAS, L. C. de. Neotecnicismo e Formação do Educador. In: ALVES, N. (Org.).
Formação de Professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez. 2011. [Coleção Questões da Nossa Época, v. 30].
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