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Ano: 2017
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1
Jezuina Kohls Schwanz
2017
Curitiba, PR
Editora São Braz
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FICHA CATALOGRÁFICA
3
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!
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Apresentação da disciplina
5
Aula 1 – Educação do campo numa perspectiva histórica
Apresentação da aula
A educação nos meios rurais, vem ao longo dos anos passando por grandes
mudanças, de uma educação mais assistencialista para uma educação do povo do
campo, baseada em suas lutas sociais e nos princípios da educação popular.
Camponeses, educadores e movimentos sociais, têm redesenhado a forma de educar
o campesino, partindo de seus próprios anseios.
A educação rural durante o século XX, foi configurada em uma lógica
assistencialista, utilizada para amenizar o analfabetismo no meio rural. Essa educação
não via o sujeito do campo numa perspectiva histórica e de lutas, mas como um mero
problema social que precisava ser apaziguado. As políticas públicas eram
verticalizadas de cima para baixo e impostas aos camponeses.
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Caldartt, Fernandes e Cerioli (2004, p. 25) comentam que a utilização da
expressão campo em detrimento da rural, teve como principal objetivo incluir no
processo: “[...] uma reflexão sobre o sentido atual do trabalho camponês e das lutas
sociais e culturais que hoje tentam garantir a sobrevivência deste trabalho”.
A virada do século XX para o século XXI trouxe nesse sentido, uma mudança
de paradigma para a Educação do Campo, que assim como em outros setores, voltou-
se para as contradições sociais, a fim de minimizá-las. No Brasil esse cenário não foi
diferente, onde a questão agrária é alvo de enormes disputas políticas.
Para Martins (2000, p.99) a questão agrária:
8
Ainda nos anos 1960, Paulo Freire entra com força junto aos movimentos
sociais e comunidades de base, a fim de difundir uma educação emancipatória,
pautada no diálogo e na crítica a sociedade dominante. Nesse cenário surgem
movimentos de educação de adultos voltados para as minorias.
Na década de 1970, com a lei nº 5692/71 esperava-se mais atenção ao
homem do campo, o que não ocorreu. Nessa época as escolas rurais possuíam
apenas o Ensino Fundamental. Para estudar, o jovem do campo tinha que se deslocar
até as grandes cidades.
A partir da Constituição de 1988, onde a educação passa a ser “direito de
todos” e com a LDB nº 9394/96, passou-se a admitir a diversidade do campo através
de vários artigos que estabelecem orientações para atender a essa realidade,
adaptando as suas peculiaridades, como os artigos 23, 26 e 28. Ambos trazem
questões relacionadas à organização escolar e as práticas pedagógicas.
No artigo 28 da LDB se estabelece as seguintes normas para a educação do
campo: Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino
proverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiaridades da vida rural
e de cada região:
I - conteúdos curriculares e metodologia apropriadas às reais necessidades
e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria,
incluindo a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas; III - adequação à natureza do trabalho na zona rural
(BRASIL, 1996).
Sendo assim, durante todos esses anos, a educação rural esteve à margem
das preocupações do governo que a manteve distante de sua política educacional. Só
a partir dos anos 1990 é que as coisas começaram a melhorar para a educação do
campo. Grande parte dessa mudança deu-se em função da ação dos movimentos e
organizações sociais.
Esses dados apontam para o descaso para com a educação do campo, sem
falar do descompasso em relação à educação urbana. O ano de 2002 foi um ano
bastante importante para o homem do campo, pois o Conselho Nacional de Educação,
aprovou a Resolução nº1 de 3 de abril, que instituiu as Diretrizes Operacionais da
Educação Básica nas Escolas do Campo.
Nesse sentido Arroyo (2008) salienta que esse feito demonstrou que não se
pode mais ficar indiferente diante desse “movimento de renovação pedagógica”
existente no campo. O texto, em seu parágrafo único, artigo 2º temos a inserção de
uma concepção clara e distinta de escola do campo, defendida pelos sujeitos sociais.
Deixando explícitas as questões identitárias da escola do campo, vinculadas a
realidade do campesino.
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Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 -LDB
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
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Parágrafo único. A garantia a que se refere o caput, sempre que necessário e adequado
à melhoria da qualidade do ensino, deverá ser feita em regime de colaboração entre os
Estados e seus Municípios ou mediante consórcios municipais.
Art. 3º A Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental serão sempre
oferecidos nas próprias comunidades rurais, evitando-se os processos de nucleação de escolas
e de deslocamento das crianças.
§ 1º Os cincos anos iniciais do Ensino Fundamental, excepcionalmente, poderão ser
oferecidos em escolas nucleadas, com deslocamento intracampo dos alunos, cabendo aos
sistemas estaduais e municipais estabelecer o tempo máximo dos alunos em deslocamento a
partir de suas realidades.
§ 2º Em nenhuma hipótese serão agrupadas em uma mesma turma crianças de
Educação Infantil com crianças do Ensino Fundamental.
Art. 4º Quando os anos iniciais do Ensino Fundamental não puderem ser oferecidos
nas próprias comunidades das crianças, a nucleação rural levará em conta a participação das
comunidades interessadas na definição do local, bem como as possibilidades de percurso a pé
pelos alunos na menor distância a ser percorrida.
Parágrafo único. Quando se fizer necessária a adoção do transporte escolar, devem ser
considerados o menor tempo possível no percurso residência-escola e a garantia de transporte
das crianças do campo para o campo.
Art. 5º Para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, integrado
ou não à Educação Profissional Técnica, a nucleação rural poderá constituir-se em melhor
solução, mas deverá considerar o processo de diálogo com as comunidades atendidas,
respeitados seus valores e sua cultura.
§ 1º Sempre que possível, o deslocamento dos alunos, como previsto no caput, deverá
ser feito do campo para o campo, evitando-se, ao máximo, o deslocamento do campo para a
cidade.
§ 2º Para que o disposto neste artigo seja cumprido, deverão ser estabelecidas regras
para o regime de colaboração entre os Estados e seus Municípios ou entre Municípios
consorciados.
Art. 6º A oferta de Educação de Jovens e Adultos também deve considerar que os
deslocamentos sejam feitos nas menores distâncias possíveis, preservado o princípio
intracampo.
Art. 7º A Educação do Campo deverá oferecer sempre o indispensável apoio
pedagógico aos alunos, incluindo condições infra-estruturais adequadas, bem como materiais
e livros didáticos, equipamentos, laboratórios, biblioteca e áreas de lazer e desporto, em
conformidade com a realidade local e as diversidades dos povos do campo, com atendimento
ao art. 5º das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas escolas do campo.
§ 1º A organização e o funcionamento das escolas do campo respeitarão as diferenças
entre as populações atendidas quanto à sua atividade econômica, seu estilo de vida, sua
cultura e suas tradições.
§ 2º A admissão e a formação inicial e continuada dos professores e do pessoal de
magistério de apoio ao trabalho docente deverão considerar sempre a formação pedagógica
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apropriada à Educação do Campo e às oportunidades de atualização e aperfeiçoamento com
os profissionais comprometidos com suas especificidades.
Art. 8º O transporte escolar, quando necessário e indispensável, deverá ser cumprido
de acordo com as normas do Código Nacional de Trânsito quanto aos veículos utilizados.
§ 1º Os contratos de transporte escolar observarão os artigos 137, 138 e 139 do
referido Código.
§ 2º O eventual transporte de crianças e jovens portadores de necessidades especiais,
em suas próprias comunidades ou quando houver necessidade de deslocamento para a
nucleação, deverá adaptar-se às condições desses alunos, conforme leis específicas.
§ 3º Admitindo o princípio de que a responsabilidade pelo transporte escolar de alunos
da rede municipal seja dos próprios Municípios e de alunos da rede estadual seja dos próprios
Estados, o regime de colaboração entre os entes federados far-se-á em conformidade com a
Lei nº 10.709/2003 e deverá prever que, em determinadas circunstâncias de racionalidade e de
economicidade, os veículos pertencentes ou contratados pelos Municípios também
transportem alunos da rede estadual e vice-versa.
Art. 9º A oferta de Educação do Campo com padrões mínimos de qualidade estará
sempre subordinada ao cumprimento da legislação educacional e das Diretrizes Operacionais
enumeradas na Resolução CNE/CEB nº 1/2002.
Art. 10 O planejamento da Educação do Campo, oferecida em escolas da comunidade,
multisseriadas ou não, e quando a nucleação rural for considerada, para os anos do Ensino
Fundamental ou para o Ensino Médio ou Educação Profissional Técnica de nível médio
integrada com o Ensino Médio, considerará sempre as distâncias de deslocamento, as
condições de estradas e vias, o estado de conservação dos veículos utilizados e sua idade de
uso, a melhor localização e as melhores possibilidades de trabalho pedagógico com padrão de
qualidade.
§ 1º É indispensável que o planejamento de que trata o caput seja feito em comum
com as comunidades e em regime de colaboração, Estado/Município ou Município/Município
consorciados.
§ 2º As escolas multisseriadas, para atingirem o padrão de qualidade definido em nível
nacional, necessitam de professores com formação pedagógica, inicial e continuada,
instalações físicas e equipamentos adequados, materiais didáticos apropriados e supervisão
pedagógica permanente.
Art. 11 O reconhecimento de que o desenvolvimento rural deve ser integrado,
constituindo-se a Educação do Campo em seu eixo integrador, recomenda que os Entes
Federados – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – trabalhem no sentido de articular
as ações de diferentes setores que participam desse desenvolvimento, especialmente os
Municípios, dada a sua condição de estarem mais próximos dos locais em que residem as
populações rurais.
Art. 12 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando ratificadas as
Diretrizes Operacionais instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 1/2002 e revogadas as
disposições em contrário.
CLÉLIA BRANDÃO ALVARENGA CRAVEIRO
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Nesta resolução temos um fator crucial que determina que a “Educação
Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental serão sempre oferecidos nas
próprias comunidades rurais, evitando-se os processos de nucleação de escolas e de
deslocamento das crianças” (BRASIL, 2008). Esse fator aumenta consideravelmente
o número de crianças nas escolas, pois não precisam mais deslocar-se até a cidade
para estudar.
Nos últimos anos os movimentos sociais têm atuado frente ao governo a fim
de melhorar a vida do campesino, refletindo em educação, saúde e moradia. Não se
pode mencionar que os embates políticos são frequentes, mas a educação do campo
vem avançando a cada dia, tornando-se foco de estudos, pesquisas e investimentos.
Para Refletir
De acordo com o estudado, porque as questões identitárias são
tão importantes para o homem do campo?
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Resumo da Aula
Atividade de Aprendizagem
A partir do texto lido, diferencie o termo rural do termo campo,
levando em consideração seus fundamentos históricos.
Apresentação da aula
Nesta aula será estudado como o povo de campo é formado por diferentes
categorias sociais, e diferentes etnias. Nesse sentido formam um mosaico de culturas
e identidades que juntas o caracterizam. Assim pode-se constatar que a educação do
campo, para se efetivar como um instrumento de transformação social, precisa
incorporar no seu dia a dia algumas diferenças, que serão vistas a seguir.
Fonte: http://coral.ufsm.br/sifedoc/
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A identidade dos povos do campo abarca distintas categorias sociais como:
os assentados, arrendatários, posseiros, acampados, boias-frias, atingidos por
barragens, populações ribeirinhas, pequenos proprietários de terra, colonos e
sitiantes. Ou ainda em outras regiões brasileiras temos os quilombolas, caboclos dos
faxinais, comunidades negras rurais e indígenas.
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A representação é sempre construída ao longo de uma falta, ao longo de
uma divisão, a partir do lugar do outro, assim elas não podem, nunca, ser
ajustadas – idênticas – aos processos de sujeito que são nelas investidos
(HALL, 1997, p. 112).
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A partir do exposto, a educação do campo deve considerar a cultura dos
povos do campo nas suas diferentes dimensões, fortalecendo a educação escolar
como processo de apropriação e elaboração de novos conhecimentos.
O conceito de cultura como práxis, traz consigo a relação com a história como
processo coletivo de autocriação do homem, sob a perspectiva de uma ordem social
de maior liberdade e justiça. (SCHELLING, 1991, p. 38)
A identidade política coletiva nasce a partir da organização das categorias em
movimentos sociais, como exemplo, ligado ao homem do campo temos o Movimento
dos Sem Terra (MST), dos quilombolas, e todos aqueles grupos articulados ao
sindicalismo rural.
Nesse sentido faz-se necessário entender o campo como um modo de vida
social próprio, que colabora para autoafirmação da identidade dos seus povos,
valorizando o seu trabalho, a sua história, o seu jeito de ser, os seus conhecimentos,
a sua relação com a natureza e como “ser” da natureza. Para tanto é preciso partir
dos próprios saberes campesinos a fim de que sejam inseridos na escola, uma escola
pensada com eles e para eles. Nesse aspecto a identidade tem seu papel
fundamental.
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões
inerentes a sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes
próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede
de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais
em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas
questões à qualidade social da vida coletiva no país. (CALDART, 2004, p.35)
Importante
O processo de humanização do homem do campo nasce,
necessariamente, da valorização da sua cultura e da sua luta diária
para tirar o seu sustento da terra. A humanização nada mais é do que
tornar mais humano, ou humano. E isso se dá a partir do momento
que o povo do campo se vê como pertencente a sua terra, produtor
de conhecimento, sujeito político e histórico.
Vocabulario
Enraizamento – ato ou efeito de enraizar-se; criação de raízes ou
implantação; estabelecimento; ou figurada ligação afetiva a
determinado meio ou comunidade.
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Amplie Seus Estudos
SUGESTÃO DE LEITURA
Para aprofundar seus conhecimentos, leia
Identidade e Cultura dos povos do campo no Brasil,
de Raquel Alves de Carvalho, nele a autora traz os
processos identitários do homem do campo,
preconceitos sofridos e resistência.
Resumo da Aula
Atividade de Aprendizagem
De acordo com a nossa aula escreva com as suas palavras, a
importância da identidade para a vida do homem do campo.
Apresentação da aula
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3.1 Políticas Educacionais voltadas para a Educação do Campo
Figura 1- https://observatorio03.wordpress.com/sobre-o-crepop/
22
no Brasil. Foi a partir daí que o governo passou a enxergar como prioridade esse
segmento.
Em 16 de abril de 1998 (Portaria Nº. 10/98) é lançado durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso o Pronera, que posteriormente foi continuado durante o
Governo de Luis Inácio Lula da Silva: O Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária (PRONERA). Em 2001, o Programa foi incorporado ao INCRA. De acordo com
a visão do PRONERA, a educação do campo é vista como um direito de todos e se
realiza por diferentes territórios e práticas sociais, que incorporam a diversidade do
campo.
Saiba Mais
O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(Pronera) propõe e apoia projetos de educação voltados para o
desenvolvimento das áreas de reforma agrária.
Público-Alvo:
São os jovens e adultos dos projetos de assentamento
criados e reconhecidos pelo Incra, assim como quilombolas e
trabalhadores acampados cadastrados na autarquia.
23
No final da década de 1990, movimentos sociais e trabalhadores do campo
lançam o movimento “Por uma Educação Básica do Campo”, que ganhou visibilidade
na I Conferência Nacional por uma Educação do Campo, em julho de 1998, em
Luziânia-Go, desencadeando assim, todo um processo de luta e reivindicações, o que
favoreceu o aprofundamento e a construção de um projeto de educação do campo.
Esse movimento contribuiu para que a Câmara de Educação Básica, do Conselho
Nacional de Educação, aprovasse em 2002, as Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo.
Ao longo dos anos, as populações campesinas vêm demonstrando sua
organização através das reivindicações de condições melhores de trabalho, de divisão
da terra, a fim de garantir a sua subsistência, a reforma agrária, a delimitação das
terras dos povos indígenas, entre outras tantas.
Diferentes movimentos organizados e espalhados pelo país, têm
demonstrado o espírito combativo dessas diferentes populações do campo:
quilombolas, indígenas, atingidos por barragens, entre outros. Sendo assim, é
necessário valorizar a organização da população brasileira, seja na cidade ou no
campo.
Os trabalhadores rurais têm lutado para reivindicar suas demandas mais
urgentes: a luta pela reforma agrária e pelos direitos trabalhistas. Essa
conscientização política passa, necessariamente, pela educação. É importante
salientar que as lutas pelos direitos civis, políticos e sociais no país, tiveram início nos
movimentos sociais, responsáveis por grandes avanços na área da educação pública
brasileira.
Fonte: http://www.alamy.com/stock-photo
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Para continuarmos o diálogo a respeito das políticas públicas em prol do
campesino pós LDB, temos os seguintes documentos:
O Parecer CNE/CEB n. 36/2001, de 4 de dezembro de 2001;
A Resolução CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002;
Lei 9.394/1996 e Resolução CNE/CEB n. 7/2010, de 14 de dezembro de
2010.
O Parecer CNE/CEB n. 36/2001, reconhece o campo como possuidor de
“possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção
das condições da existência social e com as realizações da sociedade humana”. E,
portanto com características distintas do centro urbano e das pessoas que o habitam.
A partir da publicação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo, através da Resolução CNE/CEB1 n.1, de 3 de abril de 2002, no
seu artigo 2º, parágrafo único temos a questão da identidade da escola do campo (já
tratada na primeira aula) como eixo do artigo.
Essa importante conquista para o homem do campo foi um marco para
pensarmos numa educação partido da identidade do povo, seus saberes e anseios.
No artigo 10 temos a escola do campo como um projeto institucional e não como uma
modalidade de educação. Nesse sentido era necessário reivindicar novamente. A
educação do Campo não pode ser resumida a apenas um projeto.
No ano de 2004 aconteceu a II Conferência Nacional por uma Educação do
Campo, que apresentou a proposta da construção de uma Licenciatura em Educação
do Campo (LEC), configurando-se com base na gestão dos processos educativos e
na docência por áreas de conhecimento, como: as linguagens, ciências da natureza e
matemática, ciências agrárias e ciências humanas e sociais.
De acordo com Caldart:
1
CNE- CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, CEB- CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA.
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social e humana de longo prazo. Faz isso ao se mover pelas necessidades
formativas de uma classe portadora de futuro. (CALDART 2012, P. 262)
A realidade que produz a Educação do Campo não é nova, mas ela inaugura
uma forma de fazer seu enfrentamento. Ao afirmar a luta por políticas
públicas que garantam aos trabalhadores do campo o direito à educação,
especialmente à escola, e uma educação que seja no e do campo.
(CALDART 2012, p. 259)
Pesquise
Outros Marcos legais:
PARECER CEB 01/2006
Recomenda a Adoção da Pedagogia da Alternância em
Escolas do Campo
26
Aprova Recomendações e Proposição sobre o Programa
Nacional de Educação do Campo.
Para Refletir
Como em um país de bases agrárias o povo do campo tem sido,
ao longo de toda a história, deixado de lado das políticas públicas
educacionais?
Resumo da Aula
27
Atividade de Aprendizagem
De acordo com o que você estudou até agora, qual foi o fato que
inscreveu a educação do campo no cenário educacional? Explique
sua resposta.
Apresentação da aula
Fonte: https://www.brasildefato.com.br/node/27211/
O povo que vive no campo tem o direito de ter uma educação voltada para
ele, vinculada a sua cultura e as suas necessidades, sejam elas humanas ou sociais.
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo são um importante
instrumento na construção de uma educação pública e gratuita de qualidade para os
sujeitos do campo.
O currículo da escola do campo, pensado como um espaço de disputas,
precisa inserir a comunidade campesina e demais sujeitos educativos na sua
28
construção. Partindo da realidade local na qual estão inseridos, ouvindo os seus
problemas e desafios, tornando-se assim um importante instrumento de mudança
social.
Mas afinal, o que é currículo? Resumidamente, o currículo escolar nada mais
é do que a organização dos conteúdos a serem desenvolvidos em sala de aula.
De acordo com Veiga:
Por ser uma construção social, é portanto mutável. É preciso levar em conta
que o currículo não diz respeito somente a conteúdos, mas envolve também relações
de poder entre os sujeitos educativos, relações de “classe dominante/classe dominada
e questões raciais, étnicas e de gênero, não se restringindo a uma questão de
conteúdos” (HORNBURG e SILVA, 2007, p.1).
Essa organização de conteúdos relacionada a vivencia dos alunos deve
constar primeiramente no Projeto Político Pedagógico da escola do campo. Nesse
sentido o currículo não é neutro, é cultural e político.
29
Princípio Pedagógico da valorização dos diferentes saberes- Os elementos
que atravessam o currículo das escolas do campo são a terra, a democracia, o
meio ambiente, a resistência e a participação nas lutas, bem como as questões
sociais, políticas, culturais e econômicas.
Princípio Pedagógico dos espaços e tempos de formação- A educação do
campo acontece em espaços escolares, mas também fora deles, envolvendo
saberes, métodos, tempos e espaços físicos diferentes. Os saberes são
construídos na sala de aula e também na produção, na família, na convivência
social, na cultura, no lazer e nos movimentos sociais.
Princípio pedagógico do lugar da escola vinculado à realidade- A escola,
enquanto direito do cidadão, deve estar onde o povo está. Ou seja, o povo do
campo tem o direito de estudar numa escola que fique localizada no campo,
valorizando seu espaço de luta, moradia e convívio social.
Princípio Pedagógico da educação como estratégica para o
desenvolvimento sustentável- o currículo escolar deve ser pensado para que
auxilie no desenvolvimento do homem do campo, levando em conta os
aspectos da diversidade, da situação histórica particular de cada comunidade,
os recursos disponíveis, e as necessidades dos campesinos.
Esses e outros princípios pedagógicos devem estar presentes no momento
da construção do currículo para a escola do campo.
A fim de que possamos pensar na construção de um currículo para escola do
campo são necessários alguns questionamentos:
Que tipo de sociedade deve ser construída no meio rural?
Qual o perfil do sujeito a ser formado?
Quais os saberes, competências e habilidades esses sujeitos devem
possuir para pensar as políticas de desenvolvimento no campo,
preservando os elementos históricos e culturais que alimentam a vida
dos campesinos?
Que conteúdos devem ser priorizados no currículo das escolas com o
intuito de promover uma formação crítica?
Esses e outros tantos questionamentos devem servir como ponto de partida
para educadores, gestores da educação e dos próprios sujeitos do campo, a fim de
elaborar os projetos educativos e curriculares, dentre eles o currículo escolar. Nesse
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sentido é preciso que se abandone as velhas práticas educativas e curriculares,
voltada para a educação nas cidades. Só assim poderemos construir um currículo que
venha a atender aos desafios conjunturais vivenciados pelos camponeses.
Para Moreira e Silva (1994), o currículo não é neutro nem inocente, nesse
sentido é preciso que os sujeitos educativos estejam atentos, principalmente no que
diz respeito à seleção de conteúdos. Pois, “[...] o currículo está implicado em relações
de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas [...]”.
Nesse sentido Santos (2009), afirma que os conteúdos curriculares devem
possibilitar que os educandos desenvolvam aptidões para o questionamento, a
argumentação, e o posicionamento crítico, habilidades que vão além do desenvolvi-
mento cognitivo.
Sendo assim é preciso, e urgente, que as escolas reavaliem seus currículos,
tornando-os mais democráticos e abertos para o diálogo com os distintos saberes
produzidos, ressignificando as práticas educativas.
Libâneo (2001), coloca que o Projeto Político Pedagógico (PPP) deve ser
interpretado como um instrumento e processo de organização da escola, levando em
conta as características do instituído e do instituinte. Sendo assim, o Projeto Político
Pedagógico deve estar em consonância com as características da escola do campo e
dos envolvidos no processo de ensino/aprendizagem (educadores, educandos,
movimentos sociais, comunidade campesina, gestores), sendo importante documento
de trabalho, que indica o rumo e a direção a serem seguidos, os pressupostos teóricos
e a clareza das intenções.
O Projeto Político Pedagógico, além de permitir a interação de pensamentos
entre seus agentes, favorece a interação com a comunidade e com os órgãos
responsáveis pelo sistema educativo e com a comunidade escolar. De acordo com
Vasconcelos:
[...] é um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os
desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente,
sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. É uma
metodologia de trabalho que se possibilita ressignificar a ação de todos os
agentes da instituição. (VASCONCELOS 1995, p.143)
Resumo da aula
Atividade de Aprendizagem
Dê sua opinião a respeito da importância do projeto Político
pedagógico para a Educação do Campo.
Resumo da disciplina
34
Referências
35
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a Liberdade e outros Escritos. 5. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1981. 120p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1987.
287p.
LEITE, S.C. Escola rural: urbanização e políticas educacionais. São Paulo: Cortez,
1999.
36
HAESBAERT, R. 1994. O mito da desterritorialização e as “regiões-rede”. Anais
do V Congresso Brasileiro de Geografia. Curitiba: AGB, pp. 206-214.
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