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Mosqueiro, 30 de novembro de 2022.

Caro senhor Francisco,

Como estudante de letras interessado em compartilhar os conhecimentos adquiridos na


disciplina de Educação do Campo, resolvi fazer uso desta carta para lhe informar desse
movimento social que luta pela reivindicação dos seus direitos, visando o reconhecimento
social, igualdade dos povos camponeses e valorização de sua cultura. Por conta disso,
escrevo-lhe para mostrar o quão importante é este movimento social, mostrando a legislação
da educação do campo, formação de professores do campo, práticas pedagógicas e classes
multisseriadas.

Primeiramente, a Educação do Campo constitui-se como luta social pelo acesso dos
trabalhadores do campo à educação – e não apenas qualquer educação, mas uma pautada e
voltada aos quesitos da população camponesa. Pode parecer confuso essa nomenclatura de
início, mas a Educação não é “para” nem apenas “com” ou “no”, mas sim “dos” camponeses.
É por essa razão que o “do” no meio de “educação” e “campo”. Combina a luta pela educação
com luta pela terra, pela Reforma Agrária, pelo direito ao trabalho, à cultura, entre outros. E é
por isso que uma política pela Educação do Campo nunca será de si mesma e nem da escola,
embora se organize em torno dela, mas de todo o povo camponês.

A expressão “Educação do campo” nasceu primeiro como “Educação Básica do Campo” no


contexto da I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, realizada em Santa
Luziânia, julho de 1998. Passou a ser chamada de “Educação do Campo” a partir do
Seminário Nacional, que ocorreu em Brasília, de 26 a 29 de novembro de 2002, e reafirmada
na II Conferência Nacional. Várias organizações sociais foram criadas pautadas na luta dos
povos camponeses, por empregos, saúde, educação, direitos sociais, direito à terra; por
melhores condições de vida. Esses são alguns exemplos: O Conselho Indígena Missionário
(CIMI), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
(MST), Coordenação Nacional de Articulação das comunidades Negras Rurais Quilombolas
(CONAQ), entre outras. Luta após luta para conquistarem as “Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo” (Brasil, 2001). A luta não acabou, ainda há pelo que
lutar. Como Salomão Hage disse no evento Geperuaz, na UFPA, em 2022: “Na lei ou na
marra nós vamos ganhar”, ganhar o que é de direito da população do Campo. Sendo o mesmo
a falar “devemos construir movimentos sociais com os movimentos sociais”, mostrando que
não é um objetivo de um único grupo social.

Agora, senhor Francisco, a questão é sobre a formação de professores do campo. Para


ministrar uma aula nas comunidades camponesas, destacando toda extensão da Educação do
Campo, o docente precisa estar capacitado para atender as exigências da área. Um professor
formado em uma perspectiva urbana, sem experiência do que é a Educação do Campo, sem
vínculo com a cultura e os saberes dos povos do campo, poderá lecionar de forma errônea e
prejudicar os alunos da comunidade escolhida. Para combater essa foma de ensino excludente,
a formação de professores do campo é importante, pois aborda uma formação mais plural,
onde são incorporados os saberes da terra, do trabalho e da agricultura camponesa. Atender as
especificidades da juventude e a vida adulta no campo e as incorporar os saberes da terra no
currículo, além das propostas educativas visando uma educação de qualidade faz parte dessa
formação. Aliás, ser professor no campo é ser militante pela defesa da educação de qualidade.
Qualidade essa prevista por lei: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da
Família”, “propostas pedagógicas que valorizem, na organização do ensino, a diversidade
cultural e os processos de interação e transformação do campo” (CNE/CEB). Então, não é só
“colocar um professor para dar aula”, mas formar um professor que entenda e respeite a
heterogeneidade cultural e organize suas aulas para atender as especificidades das escolas do
campo, considerado as condições de produção e reprodução da vida social no campo.

Além de falar sobre a formação dos professores do campo, é interessante comentar sobre a
prática pedagógica. A pedagogia do movimento é entendida como um processo pedagógico
mais amplo, que não acaba nos muros da escola. Essa pedagogia proporciona um
conhecimento da realidade em uma perspectiva histórica que induza uma participação social
cítica e criativa. Trata-se, também, de concentrar os cuidados pedagógicos com as crianças.
Refere-se em desenvolver na criança uma pedagogia adequada às suas necessidades e
características sociais no Movimento, tal como: permitir vivenciar o processo educativo no
movimento, compreender o porquê do movimento existir. Estende-se para além da escola.
Além disso, temos a pedagogia da alternância, que visa a formação de jovens e adultos do
campo com pedagogia e metodologia capaz de atender e consolidar o trabalhado e os estudos.
Nessa perspectiva, tal pedagogia visa atender a realidade dos trabalhadores que tem o campo
como espaço de vida, trabalho e produção cultural.

E, para finalizar, gostaria de falar sobre a classe multisseriada, pela qual abarca os tópicos já
citados. As classes multisseriadas são uma forma de organização na qual o professor trabalha
em várias séries simultaneamente, na mesma sala, tendo de atender vários alunos de níveis e
idades diferentes. É interessante destacar que esse tipo de organização das turmas do ensino
fundamental é mais adequado e seguro, tem o propósito de melhorar as qualidades de ensino
nas escolas, que eleva os índices de desempenho dos alunos. Faz parte da política educacional
voltada à realidade diferenciada do campo, que não é genérica, nem presa a uma grade
curricular e excludente. Essa modalidade é aprovada justamente por atender as
particularidades de cada comunidade camponesa. “Eu quero uma escola do campo que tenha
haver com a vida com a gente. Querida e organizada e conduzida coletivamente”, queremos
uma escola do campo, pois ela olha pela gente.

Assim, senhor Francisco, termino minha carta com a certeza de cumprir em informar sobre a
disciplina Educação do Campo, que não se ocupa somente no âmbito educativo, mas trata-se
de uma luta incessável pela reivindicação dos direitos da população camponesa, valorização
educacional, reconhecimento cultural, social, econômico, que toda a extensão “Educação do
Campo” aborda. Ressalto que esta carta é o resumo de um conteúdo que ainda está em
andamento, pois possui muito a se conquistar. O que faço é um convite a conhecer mais sobre
a Educação do Campo, pois não termina aqui.

Grato pela atenção,

Estudante/Graduando em Letras Português

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