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As classes multisseriadas no contexto da educação do campo no município de

Curralinho- Sul da Ilha de Marajó-Pará – Brasil


Maria Nancy Nunes de Matos1
RESUMO
Esta pesquisa objetiva refletir sobre o processo ensino e aprendizagem nas
Escolas Multisseriadas no Município de Curralinho-Ilha de Marajó-Pará-Brasil
para melhor desenvolver minhas atividades educacionais em classes multisseriadas,
como Especialista em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental de
9 Anos-. As Classes Multisseriadas ainda são bastante presentes no referido
município principalmente em lugares de difícil acesso e a distância faz com que
sejam organizadas turmas Multisseriadas, na qual o professor trabalha na mesma
sala de aula com várias séries do Ensino Fundamental e tendo que atender alunos
com diferentes idades e níveis de conhecimentos. Sendo que esta pesquisa foi possível
devido aos estudos bibliográficos assim também, embasados em minhas experiências
como professora na Zona Rural que para atender a demanda surgiu a necessidade
de juntar crianças em uma mesma sala de aula com diferentes séries e idades, mas
adequando os conteúdos de acordo com as séries. Qual a metodologia usada? Quais
os pontos positivos e negativos nas Classes Multisseriadas? É o que este trabalho
refletirá.
Palavra-chave: Educação do Campo. Classe Multisseriadas. Professor. Aluno.

1.Graduada em História 2. Esp. em Ad. Escolar Supervisão e Orientação


3.Espe. em Neurociências e Aprendizagem 4. Especialista em Ciências Politicas
5.Especialista em Psicopedagogia 6. Especialista em Educação Especial Inclusiva
7.Esp. em Neurocpsicopedagogia 8. Esp. em Educação Infantil e Anos Iniciais
9.Esp. em Ciência da Religião 10-Especializando em Psicanalista
11.Mestra em Ciências da Educação 12. Mestra em Missiologia
13.Mestra em Educação Religiosa
14.Doutora em Teologia – Educação Cristã 15. Doutoranda em Ciências da Educação
INTRODUÇÃO
Quando os portugueses tomaram posse das terras brasileiras em 22 de abril
de 1500, e com a chegada do Governo Geral no Brasil vieram os padres jesuítas da
Companhia de Jesus que tinham como objetivo recrutar fiéis e servidores, sendo que
a catequese assegurou a conversão dos índios a fé católica assim como sua
passividade aos homens brancos. Inicialmente a educação elementar era voltada
para as crianças índias, aos poucos foi sendo aos filhos dos colonos portugueses,
sendo que a educação média era para os filhos de homens da classe dominante, sendo
que as mulheres e os primogênitos (estes davam continuidade aos negócios do pai)
estavam fora do processo educativo e a educação superior no Brasil Colônia era
exclusividade dos filhos dos aristocratas que quisessem ser sacerdotes, quanto os
demais estudariam na Europa.
Observa-se que, as lutas pela educação no Brasil são inúmeras,
principalmente no que tange a Educação no Campo. Os jesuítas foram os
primeiros professores do Brasil assim como foram os pioneiros na Educação no
Campo. A Educação no Campo é refletida nas lutas sociais, segundo ARROYO
(2004, pág. 73):
“(...) o Movimento Social no campo representa uma nova
consciência do direito á terra, ao trabalho, a justiça, a
igualdade, ao conhecimento, a cultura, a saúde e a educação.
O conjunto de lutas que homens e mulheres do campo
realizam, os riscos que assumem, mostra quanto reconhecem
sujeitos de direitos e história”.
Desta forma, as lutas sociais são movimentos encontrados pelos
trabalhadores do campo como forma de protestar o sentimento de descaso, porque
as Políticas Públicas para a zona rural têm sido desvalorizadas em todos os aspectos,
principalmente no que se refere a educação, fazendo com que as famílias se mudam
da zona rural para a zona urbana, e podemos considerar sobre as salas
multisseriadas.
Em Curralinho, no seu longo Período Colonial não há indícios de escolas,
nem mesmo o período áureo da borracha há referências sobre escolas no referido
município. Segundo MATOS, (2007, pág. 57) nos diz que:
“A escola educacional em Curralinho iniciou em 1947 com a
chegada das Professoras Normalistas Maria das Neves e da
Professora Maria Luiza, sendo que as salas de aulas eram no
Paço Municipal, hoje Fórum da Comarca “Ricardo Borges”,
onde funciona atualmente a Sala de Júri. funcionou por
vários anos, sendo que as salas de aulas eram formadas por
meninos separados das meninas, por exemplo pela manhã
estudavam os meninos e a tarde as meninas, sendo salas
multisseriadas.”
Esta escola, continua a autora MATOS (2007) estava vinculada a Diretoria
Geral da Instrução Publica (IP), atual Secretaria de Educação do Estado do Pará-
SEDUC- sendo que esta Diretoria foi criada no Segundo Reinado.
Com o passar dos tempos abrem-se novos caminhos e novas conquistas para
melhoria do processo educativo por meio das lutas sociais realizadas pela
comunidade do campo e quando no final do século XX surge o Movimento do
Trabalhadores Rurais Sem Terra –MST- que luta por uma educação de qualidade
para a comunidade rural e em uma destas conquistas está na Lei Diretrizes e Bases
9.394/96 que em seu Artigo 28 estabelece direcionamentos para a Educação do
Campo, segundo (BRASIL/MEC, LDB, 9.394/96, Art. 28):
“Art. 28º. Na oferta de educação básica para a população
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
de cada região, especialmente: I-conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses
dos alunos da zona rural; II-organização escolar própria,
incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo
agrícola e às condições climáticas; III-adequação à natureza
do trabalho na zona rural.”
Durante as minhas pesquisas observei as dificuldades e desafios para um
professor desenvolver suas atividades pedagógicas em salas multisseriadas,
começando pela escola, onde o professor é multiuso, isto é, desenvolve funções
simultâneas.
DESENVOLVIMENTO
Segundo MATOS (2007) em Curralinho as primeiras Escolas Multisseriadas
foram a Escola Estadual “Américo Oliveira”, na Vila Recreio do Piriá, Escola
Estadual “Ponta Alegre” no Rio Curupuhu, Escola Municipal “Rio Aramaquiri”,
no Rio Aramaquiri, esta funcionava na residência do Sebastião Gomes, e na década
de 1970, o Prefeito da época Agnelo de Castro Freitas construiu a Escola Municipal
“Narciso Monteiro”, no rio Curupuhu, afluente do Rio Canaticu com duas salas e
uma copa cozinha e um deposito de merendas, sendo que uma professora atuava
com mais de 40 alunos em turmas multisseriadas.
Naquela época, não havia transportes escolares, eram cascos de madeiras e
remos que as crianças usavam para se deslocarem de suas casas até a escola, uns
remavam de suas casas até a escola quase uma hora de viagens e nem relógio havia
para se orientarem, o relógio era o sol (MATOS, 2007), atualmente existem os
transportes escolar que levam e trazem as crianças de suas casas para a escola, com
um detalhe que, mesmo a merenda sendo arroz, bolacha e café não faltava na escola.
Poucas coisas mudaram desde dos tempos atrás aos atuais em relação as
Classe Multisseriadas no Município de Curralinho no que diz respeito a prática
pedagógica, porque o currículo ainda se desenvolve de acordo com o currículo da
zona urbana, as salas continuam sendo com mais de 30 alunos, e várias crianças
com idades e séries diferentes, mesmo dividindo a turma as dificuldades são grandes,
porque nas Escolas Multisseriadas não existem materiais didáticos como
impressora, papel, e demais materiais que contribuem no processo ensino e
aprendizagem, até o mesmo giz branco que é barato falta nas escolas.
A Classe Multisseriadas é difícil tanto para o professor quanto para o aluno
e para as famílias dos alunos devido fatores psicológicos, transportes, alimentação
fora de hora e precária, enfim, o professor precisa ser artista multiuso para poder
atender com responsabilidade, compromisso e eficácia o seu dia-a-dia com seus
alunos.
Percebo que em Salas Multiseriadas possuem inúmeros problemas como já
citado no decorrer desta pesquisa, número elevado de alunos com grandes
diferenças de idades, níveis e conhecimentos totalmente diferentes um do outro,
merenda precária, transporte escolar precário e grandes distancias percorridas, as
crianças chegam á escola sem tomar café e não existe café na escola para as crianças.
No que se refere a Secretaria de Educação Municipal, os técnicos esforçam-
se para contribuir de forma positiva tanto na questão pedagógica quanto nas
demais, e como não é possível excluir completamente as Classes Multisseriadas,
deve-se lutar para melhores condições de modo geral.
No meu ponto de vista, as Escolas Multisseriadas vão existir por muitos e
muitos anos ou sempre, e por isso, que as Políticas Públicas Educacionais precisam
serem implementadas no meio rural com maior ênfase, assim como, a Secretaria de
Educação de Educação em suas portarias de lotação devem fixar a lotação das salas
de aulas no máximo 25 alunos para que o professor possa atingir seus objetivos no
processo ensino aprendizagem, porque a Educação no Campo possui uma raiz
cultural própria, um modo de vida muito diferente da zona urbana, embora queiram
assemelhar-se, mas são destacados nas maneiras diferentes de ver o mundo e
relacionar-se com ele.
Sobre as Classes Multisseriadas os PCNs orientam que deverão ter uma
organização em grupos de trabalho, porque influencia no processo ensino e
aprendizagem, assim como, facilita para o professor. Esse agrupamento não deve
ser estruturado por séries e idades e sim por objetivos, em que a diferenciação seja
pela adequada ao desempenho de cada um.
As Políticas Públicas Educacionais voltadas para as Escolas Multisseriadas
precisam atingir as condições estruturais físicas, materiais pedagógicos e demais que
venham atender as necessidades do dia a dia pedagógico, humano e administrativo.
No município de Curralinho existem um número mínimo de Escolas
Multisseriadas, porque também existem o Projeto de Nucleação em que se trabalha
com turmas consideradas normais, mas as poucas que existem necessitam de
melhorias para o bom atendimento do professor e dos alunos que moram nesses
lugares longínquos da zona urbana.
Temos como exemplo a Escola Municipal “Serafina” sendo a mais longínqua
escola da zona urbana, fica nas nascentes do rio Canaticu, rodeada por belíssimas
paisagens naturais, e no período do verão somente caminhando pelo mato adentro
se consegue chegar lá, porque os rios ficam secos.
Diferente da Escola Municipal “Maruaru” que se localiza no rio Maruaru,
uns 10 minutos de rabetas (motores pequenos usados na região), da cidade de
Curralinho e possui também problemas mesmo próximo da cidade, os professores e
alunos necessitam de tempo e enfrentam maiores dificuldades em relação ao
transporte, merenda, estrutura física e materiais didático pedagógico.
O Ministério da Educação –MEC- propõe o Programa Escola Ativa para
solucionar o problema do desempenho que são apresentados pelos alunos que
estudam em Classes Multisseriadas das Escolas no Campo, sendo que este Programa
(BRASIL, 2009, pág. 3) se propõe a:
“ (...)1-Apoiar os sistemas Estaduais e Municipais de Ensino
na melhoria da Educação nas Escolas do Campo com Classes
Multisseriadas, fornecendo diversos Recursos Pedagógicos e
de Gestão; 2-Fortalecer o desenvolvimento de Propostas
Pedagógicas e Metodologias adequadas a Classes
Multisseriadas; 3-Realizar Formação Continuada para os
educadores envolvidos no Programa em Propostas
Pedagógicas voltadas ás especificidades do campo;4-Fornecer
e publicar materiais pedagógicos que sejam apropriados para
o desenvolvimento da Proposta Pedagógica”.
O Programa Escola Ativa tem suas origens na experiência educacional
colombiana, em 1975, denominada de Programa Escuela Nueva e no Brasil foi
implementado em 1997 por meio de Convênios do Ministério de Educação –MEC-
com o Banco Mundial
O Programa Escola Ativa propõe um conjunto de atividades que devem
realizadas em grupos, como propõe os Parâmetros Curriculares Nacionais –PCNs-,
mas em grupos diversificados, entre alunos de uma mesma série ou de séries
diferentes sem distinções de gênero ou de idade, indicando de certa forma uma
mudança na distribuição dos corpos para a manutenção da ordem disciplinar e se
aproximando dos mecanismos da sociedade de controle, porque são partes
inseparáveis do coletivo.
Observa-se que, as propostas do Programa Escola Ativa estão caminhando a
passos lentos, talvez porque os governantes não estão preocupados com a qualidade
da educação, mas com a quantidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ressalta-se que durante as minhas pesquisas e experiências em Escolas
Multisseriadas, os alunos das Escolas Multisseriadas participam da Provinha
Brasil, mas que o rendimento é insatisfatório, isso comprova esta reflexão, em que
observa-se a grande quantidade de alunos por turma, em média 35 a 40, situação
que inviabiliza o bom trabalho do professor quando tem que lidar com alunos de
diferentes níveis de aprendizagens, distorção de idades; séries e outros.
Diante desta realidade deve-se repensar na utilização das Políticas Públicas
Educacionais para as Escolas Multisseriadas ou Classes Multisseriadas para que
possam gozar dos mesmos direitos dos alunos das Escolas da Zona Urbana e das
escolas Nucleadas, com impressoras, computadores, materiais didáticos
pedagógicos, merenda de qualidade e tudo que seja necessário para melhoria da
qualidade educativa dos alunos que estudam em Escolas de Classes Multisseriadas.
Assim como, os projetos devem focar a melhoria investindo mais nas
estruturas dos prédios, prestar maior assistência aos professores e alunos de forma
geral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MATOS, M.N.N.de, -Curralinho e as transformações urbanas do Período da Belle-
Époque. 2007. Monografia de Conclusão do Curso de História. Universidade
Estadual “Vale do Acarau-UVA-.
ARROYO, Miguel. KOLLING, Edgar J. et al. Por uma Educação do Campo. Brasil.
Fundação Universidade. Brasília, 1999.
BARBOSA, Leandra Aparecida. Educação Rural. Caldas Novas, 2011.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional
promulgado em 5 de outubro de 1988, Brasília-DF: 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Educação do Campo: diferenças mudando
paradigmas. Brasília: MEC-Secad, 2007.
________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada e
Diversidade. Projeto Base –Brasília: SECAD/ MEC, 2008.
________. Secretaria de Educação Continuada. Alfabetização e
Diversidade. Programa Escola ativa. Orientações Pedagógicas para Formação de
Educadores e Educadoras. – Brasília: SECAD/ MEC. 2009.
Conselho Nacional de Educação Básica: Resolução CNE/ CEB1. Diário Oficial da
União, Brasília, 9 de abril de 2002. Seção 1.
GEPERUAZ. Grupo de Pesquisa em Educação Rural da Amazônia. Classes
Multisseriadas: desafios da educação rural no estado do Pará/ Região Amazônia.
Belém- PA. 2003.

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