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Nação Griô
O parto mítico da identidade do povo brasileiro
Organização
Sistematização de vivências,
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Dona Cici, aprendiz de
Pierre Fatumbi Verger,
Fundação Pierre Verger,
Salvador, Bahia
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“O Mestre é a raiz, o Griô é a sua rama.”
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Leilson, 12 anos, Escola da Comunidade do Cantinho. Prof. Argileu Oliveira, Lençóis - BA
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“Uma vez que a sociedade africana está
fundamentalmente baseada no diálogo
entre os indivíduos e na comunicação
entre comunidades ou grupos étnicos,
os Griots são os agentes ativos e
naturais nessas conversações.”
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Célio Turino, em vivência
com educadores municipais
de Lençóis, BA; com o
Velho Griô; e com as griôs
Rosa, Ana, Lina e Pedrina,
Grãos de Luz e Griô,
Lençóis, BA.
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Foi seu avô José Turino
Que lhe trilhou pela fartura
Vender empadinha aos 10 anos
Foi sua primeira formatura
Um visionário desde menino
Quem fala agora é Célio Turino
O herói do ócio e dos Pontos de Cultura
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Sumário
Apresentação: uma conversa entre um secretário federal, um griô e uma educadora
griô interiorana ..........................................................................................................12
Linha do Tempo da Ação Griô Nacional - Líllian Pacheco e Márcio Caires ...................23
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Sumário
Regional Bahia Regional das Águas e Amazônica
- Expressões Sertanejas: Solange - Bruxa Ta Solta: Catarina Ribeiro
Pamponet e Roquinho de Lima - Oca: Dereck Luan de Vasconcelos
- Ginga e Malicia: Edmeia Nascimento - Acartes: Geraldo Damasceno
- Pankararu: Eliza Pankararu, Tainá - Cultura ao Alcance de Todos: César
Pankararu, Atiã Pankararu, Yuran Crispim, Claudenilson
Pankararu Cordeiro e Anízia Carvalho
- Pierre Verger: Ângela Luhning, Alda - Gameleira: Dalila Moraes
Neves, D.Cici, e Sandro Felix - Beija Flor-Lampião: José Mariano
- Terra Mirim: Wayra Siveira
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Apresentação
Uma conversa entre um secretário Temos diversos sonhos e projetos de vida
federal, um griô e uma educadora concretos realizados e em realização com
griô interiorana essa história dos Griôs – essa caminhada é a
caminhada de nossa própria vida.
Célio Turino (12/01/2005)
A palavra é mesmo Griot e é absolutamente
francesa. A importância de ter sido criada
- ... claro que vocês podem ir em frente. Eu é
uma palavra em francês está na comunicação
que lamento o fato de a máquina burocrática
que foi aberta para as diversas línguas do
não conseguir acompanhar o processo na
mundo, criando visibilidade para o valor deste
velocidade de que necessitamos. Portanto,
lugar social tão presente no noroeste da
boa sorte com o lançamento do Ponto de
África, que, nas línguas e dialetos africanos,
Cultura Grãos de Luz e Griô: a tradição viva
tem diversos nomes, como, por exemplo,
de Lençóis. Gostaria de aproveitar para
o Dieli, em bamanan. Nós resolvemos
solicitar mais informações sobre o Projeto
abrasileirar a palavra Griot. Então criamos a
Griô (a palavra é francesa ou africana? em
palavra Griô e estamos cultivando-a no Brasil.
qual idioma?). Na verdade eu escrevia Griot
(também está correto?). Por favor, mande
informações sobre os Griots, sobre os Bem resumidamente e segundo Hampaté-Bá,
mestres dos saberes, detentores da memória na tradição oral dos bambaras, do noroeste
coletiva. Depois poderei explicar melhor, da África, os Griots são genealogistas,
mas estamos com a intenção de criar um contadores de histórias, músicos/poetas
programa dirigido para a Cultura Imaterial e populares que caminham de aldeia em aldeia
incorporá-la como uma outra ação do Ponto aprendendo e ensinando a cultura. Eles
de Cultura e gostaria de dar o nome de às vezes são contratados por uma família
Griô. Enfim, a experiência de vocês e toda nobre para pesquisar e contar sua história e
informação sobre os Griots africanos será genealogia, seus heróis e glórias. Eles podem,
bem vinda. com suas histórias, enfeitar ou alegrar, como
os palhaços nos eventos de uma comunidade.
Na tradição oral, a palavra tem um poder e
Márcio Griô e Líllian Pacheco
um significado bem diferente, é divina, tem
um compromisso com a verdade e com os
- Para começar a conversa, pedimos a ancestrais. Dar o poder de brincar com as
permissão e a bênção dos nossos griôs palavras (enfeitá-las e criar fantasias) para a
e mestres para sermos coerentes com a tradição oral é algo polêmico entre os griôs
história e o saber da tradição oral. e mestres. Por outro lado, existem os “Griots
Reis”, que aprendem com os “Domas” a
Gratos pela honra de poder conversar com terem o compromisso com a verdade. Eles
você sobre este assunto com que trabalhamos pedem permissão aos seus ancestrais quando
há 8 anos em Lençóis, Bahia. Essa conversa falam, e pedem ajuda para que nem o tom
é compriiiida. Dá para ler alguns livros, da sua voz crie dúvidas sobre a verdadeira
caminhar pelo noroeste da África e pelo história.
sertão da Bahia, por todos os cantos do
Brasil, conhecendo um universo encantador,
o universo da tradição oral, bem diferente do
universo da tradição escrita.
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Os “Domas” são doutores em ofícios Célio Turino
diversos e grandes iniciadores. Para ilustrar,
quando um aprendiz quer ser iniciado por – Amigos... por coincidência, uns amigos do
um “Doma”, ele pode ser convidado a ficar Ministério estavam passando as férias em
um ano em silêncio antes de ter direito Lençóis e até me ligaram entusiasmados para
de fazer a primeira pergunta, olhando um falar do trabalho de vocês e da inauguração
ofício e ouvindo as verdadeiras histórias que do Ponto de Cultura. Parabéns! Quanto às
ultrapassam gerações e se transformam em informações sobre o Griô, muito obrigado e
mitos. Vamos à África, como estamos indo tenham certeza de que irei procurá-los para
aos diversos cantos de Lençóis reaprender nos auxiliarem neste projeto nacional.
sobre o universo da tradição oral, que é a raiz
de nossa própria história e ancestralidade. Márcio Griô e Líllian Pacheco
Os Griots, para se formar, têm que viajar
e caminhar sempre. Quanto mais viajar – Célio, na próxima terça feira, 26 de abril de
e caminhar, mais ouvirá e conhecerá. Na 2005, estaremos em São Paulo num evento
Amazônia, temos pessoas da cultura indígena promovido pelo Prêmio Itaú Unicef para
que têm este mesmo lugar social – o falador. falarmos sobre o Projeto Grãos de Luz e Griô
Queremos aprender com eles também. e o significado do primeiro lugar nacional no
Temos uma leitura própria do que seja Prêmio 2003 entre 1.834 projetos no Brasil.
o Doma e o Griô na cultura brasileira, Nesse evento, a edição do Prêmio 2005-2006
assim como do nosso sertão, da Chapada será lançada. Já solicitamos à coordenação
Diamantina e da Bahia. Buscamos aprender do Prêmio o envio oficial do convite para
com eles. Buscamos caminhar junto com eles você. Estaremos apresentando várias ações
nas escolas e nas comunidades, com essas e resultados do Grãos de Luz e Griô de 2004
aprendizagens. Assim nasceu o “Velho Griô”, e 2005, que acreditamos terem influência da
que sou eu (Márcio), inventado, ou melhor, visibilidade e credibilidade que o 1º lugar no
reconhecido e batizado por Líllian. Não como Prêmio Itaú Unicef nos proporcionou. Assim
um personagem de teatro. O Griô para nós relataremos sobre o Ponto de Cultura e um
tem outro sentido. É um arquétipo da minha projeto nacional em parceria com o Ministério
própria história, e ele tem uma pedagogia, da Cultura. Por favor, revise o discurso:
a pedagogia griô, que Líllian vem criando
e sistematizando, um jeito de aprender e “Neste ano fomos eleitos “Ponto de Cultura”
de ensinar. Caminho com Griôs da tradição do Brasil pelo Ministério da Cultura. O Ponto
oral local e tenho um Doma (um mestre) de Cultura é a principal ação do Programa
que me inicia. Vamos lançar um livro – a Cultura Viva, um programa de encantamento,
Pedagogia Griô - e um jogo da trilha griô, criatividade e participação social, que também
que conta nossa caminhada e nossa proposta integra outras ações: A Escola Viva, o Agente
pedagógica nas escolas. Se quiser vir um dia Cultura Viva e a Cultura Digital. Inspirada em
caminhar por alguma comunidade, será um nosso trabalho, a Secretaria de Programas e
prazer recebê-lo. Projetos Culturais, do Ministério da Cultura,
estará lançando, até o final deste ano, mais
Precisamos contribuir com a criação deste uma ação do Programa Cultura Viva: o Griô.
programa que você referiu. Seria um grande Nós fomos convidados para criar, propor e
sonho ele ter uma filosofia de educação e um gerir de forma compartilhada essa ação.”
resultado político inspirado no projeto Grãos
de Luz e Griô de Lençóis - Bahia, porque
sabemos do encanto para a educação e para
a vida em família e em comunidade, para
as ciências e para o mundo da escrita que
estamos construindo aqui.
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Célio Turino Se esses pensamentos não servirem para
nada para você, servem para um exercício
- Amigos, está aprovado o discurso no evento prazeroso da loucura. Se ela ficar fria,
do prêmio Itaú Unicef. Parabéns!!! Parceiros sem exercícios, não cria... Para continuar,
... estou escrevendo um livro e gostaria queremos convidá-lo para um seminário
das referências de vocês sobre a Teoria do com crianças, educadores, griôs e mestres.
Caos, e os estranhos atratores que vocês Teremos também a presença de Fátima
compararam com os Pontões de Cultura Freire, assessora pedagógica do Grãos de Luz
naquela nossa conversa. e Griô, além de parceiros, como a TV Futura
e Yara Boesel, coordenadora do Prêmio Itaú
Márcio Griô e Líllian Pacheco Unicef.
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O griô de todo canto
Cordel de lançamento da Ação Griô Nacional
Márcio Griô, 02 de Fevereiro de 2006
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Gilberto Passos da Bahia Versos da História de vida do Ministro Gilberto Gil,
Passos deu pelo Brasil contada pelo Velho Griô no ritual de abertura da
Do acordeon caiu na bossa TEIA 2007, no Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG,
Quando João Gilberto ouviu inspirado na tradição dos Griôs do Mali, África.
Nas fotos ao lado (de Lídio Parente), o Ministro Gil
Reinventor, foi um tropicalista
participa de uma vivência da Pedagogia Griô, em
Ajunta o político e o artista Brasília, DF.
Nasce o Ministro Gil
Fui no Tororó
Beber água e não achei
Encontrei bela morena, que no Tororó deixei
Aproveita minha gente, que uma noite não é nada
Quem não dormir agora dormirá de madrugada
Oh mariazinha, oh mariazinha . . .
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Carta aos Pontos de Cultura, Ongs e Escolas
parceiras
A missão da Ação Griô Nacional é fortalecer a ancestralidade e a identidade do povo
brasileiro por meio do reconhecimento do lugar político sócio-cultural e econômico de
griôs e mestres de tradição oral na educação.
No primeiro ano de Ação Griô, entre 2007 e 2008, trabalhamos com aproximadamente
250 griôs e mestres, 300 instituições de educação e cultura e 75.000 estudantes. Nossa
projeção para 2009 é trabalhar com 650 griôs e mestres, 600 instituições de educação e
cultura e 130.000 estudantes.
Como acontece a Rede da Açao Griô Nacional? Nosso trabalho consiste em cultivar a
rede de transmissão oral do Brasil. Para isso, caminhamos, invadimos e ocupamos com
encantamento as escolas de nossas comunidades. Esse é o nosso primeiro convite.
O Grãos de Luz que plantamos. Sonhamos fortalecer e criar vínculos entre escolas,
comunidades e ongs. É assim que a educação cresce, desde os grãos da terra de cada um
e para todas as direções. A direção da escola, os educadores e estudantes se reencantam
com a educação no contato com os griôs e mestres de sua comunidade. Os griôs regionais
caminham e costuram a rede, inspirando o diálogo de cada projeto com a sua escola
parceira.
Os griôs aprendizes de cada Ponto e Ong realizam seus projetos pedagógicos, mediando
o diálogo entre tradição oral e a educação fomal. Registram vivências, cada passo, cada
invenção, com textos, fotos, vídeos. E, assim, junto ao representante institucional, criam
relatos e registros no portal Nação Griô na internet. São três relatórios quadrimestrais.
As assessorias pedagógicas regionais vão acompanhar esses relatos e registros, cuidando
para que os projetos sistematizem suas ações e integrem a Ação Griô com a ação da
instituição. Além do portal, temos dois encontros regionais para planejar e avaliar, bem
como trocar experiências. Esses encontros marcam profundamente nossos corpos com
a afetividade e a riqueza de saberes da tradição oral e da pedagogia da Ação Griô (leiam
o capítulo “A Pedagogia dos Encontros”). É muito importante que todos os convidados
participem. No final deste novo ano de Ação, estaremos lançando novos livros, filmes
e produtos didáticos na rede de educação e transmissão oral do País para fortalecer a
identidade e ancestralidade dos estudantes e do povo brasileiro.
A caminhada não começou aqui e nunca terminará. Aqui ela se encontra numa rede, na
roda da vida e das idades dessa gente erudita de tradição oral. Vejam os nomes dos griôs
e parceiros regionais no final deste livro e esteja em contato conosco.
Boa leitura. Os livros “Nação Griô: o parto mítico da identidade do povo brasileiro” e
“Pedagogia Griô: a reinvenção da Roda da Vida” são referências inspiradoras para todos
nós. E nós todos precisamos compartilhar diversas referências inspiradoras para outras
ações. A Ação Griô se integra com as ações de cada Ponto e Ong parceira. Grande abraço,
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De Garanhuns, em Pernambuco
Dos Caetés tem sangue forte
Aos 10 anos num pau de arara
Pra Guarujá trilhou seu norte Velho Griô conta a história do presidente Lula e
Foi engraxate de muita gente facilita o ritual de abertura da TEIA, inspirado na
De metalúrgico a presidente tradição dos griôs do Mali, África.
TEIA 2007 - Encontro Nacional de Pontos de
Com o povo escreve a sua sorte
Cultura, Palácio das Artes, Belo Horizonte - MG
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Carta ao Presidente Lula
Esta carta brotou de um grupo de festa e trabalho da Rede da Ação Griô Nacional
durante a TEIA 2008, em Brasília, entre 12 e 16 de novembro. Dele participaram
a Rede das Culturas Populares, Federação do Congado Mineiro, Rede Memórias
do Jongo, Campanha Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro, Brasil Memórias em
Rede, Redes de Tradições Marajoaras, Folias de São Sebastião e Ladainhas, Rede
de Capoeiras, de Parteiras, de país e Mães-de-Santo, de Erveiras, de Jongueiros,
Cacuriás, Carimbós, Reizeiros, Cantadores, Tocadores, Contadores de Histórias,
Cirandeiros, Maracatus, Cocos, Cavalo Marinho, Artistas de Circo, Teatro de Rua,
Teatro de Bonecos, Mamulengueiros, Catireiros, Candomblé, Pastorinhas, Repentistas,
Indígenas, Artesãos, Tradições Juninas... muita gente de uma erudição específica,
como falou a griô aprendiz Lívia Castro da Bahia. É gente de sabedoria que não se
encontra nem será substituída pelos livros de papéis, mas nos livros sempre novos
que não precisamos folhear, mas escutar e viver. Gente participante e parceira da
rede de pontos de cultura, do programa Cultura Viva (da Secretaria de Programas e
Projetos Culturais - Ministério da Cultura)
Neste grupo de festa e trabalho da Ação Griô Nacional utilizamos a pedagogia griô,
um jeito de dialogar, de prosear igual a uma oficina de Mestre Dirceu, congadeiro lá de
Minas Gerais. Ele conta que pega umas contazinhas que dá num pé verdinho chamado
saboneteira, e vai descascando e imaginando aquelas frutinhas e vai emendando uma
por uma, uma por uma, até formar uma corrente de rosário, e cada continha passa
a ter um significado. Então a gente foi juntando a prosa de dois em dois, de três em
três, de cinco em cinco, até formar a prosa da grande roda, formar a corrente do
rosário e da gente cheia de significado. Então essa carta lembra uma corrente de
rosário feita por continhas, lembra também uma colcha de retalhos que costura as
falas de 80 representantes diretos de mais de 1400 grupos culturais, comunidades
e povos tradicionais e de 600 organizações de todos os estados e regiões do nosso
país. Esse povo que quer falar com você sobre a criação de leis, programas e
projetos de reconhecimento e incentivo à construção de nosso lugar político-cultural,
educativo e econômico na sociedade brasileira, para o fortalecimento da identidade e
ancestralidade de nosso povo.
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A gente quer saber o que a gente sabe, a gente quer sair do anonimato diante do
Estado. Com o nome de griô, de mestre do saber, de griô aprendiz, de mestre do
mundo, de comunidade ou povo tradicional, de tesouro vivo, de patrimônio imaterial e
cultural. São muitos nomes. A gente quer e vem saindo do anonimato e, nessa carta,
a gente quer marcar na história do Brasil, a história de uma caminhada em uma longa
estrada. Como fala Mestre Alcides, de capoeira de são Paulo, essa estrada que não
começou agora, a estrada é quem criou a gente, a gente tem 30 anos de capoeira,
50 anos de repentista, 70 anos de parteira, muito mais de 500 anos de oralidade
construída, e é com essa estrada que a gente tem que criar as leis e programas
federais.
A gente vem estudando as leis estaduais (leis dos estados da Paraíba, Alagoas, da
Bahia, do Ceará e do Pernambuco), editais federais ( Ação Griô, Prêmio de Culturas
Populares, Programa Mestre do Mundo, dentre outros), programas nacionais e
estaduais que estão propondo políticas, algumas para a gente, outras, com e entre a
gente. Como conversaram o Manzatti, coordenador do Forum de Culturas Populares
Márcio Griô e Líllian Pacheco, coordenadores do Grãos de Luz e Griô e da Ação
Griô Nacional, aprendizes, educadores, pesquisadores e militantes da cultura, as
leis e programas têm no geral três mecanismos realizados através de editais. Cada
mecanismo cria desafios para a gente pensar e reinventar caminhos e políticas:
Um valor que é mínimo, mas que tem grande resultado na qualidade de vida porque
prioriza pessoas que vivem na pobreza em comunidades que têm carência na saúde,
educação, meios de comunicação, fruto da desigualdade social e da superconcentração
de renda. O primeiro desafio aqui é que essa bolsa não pode se configurar como uma
aposentadoria, ela precisa animar o fazedor de cultura em uma rede de transmissão
oral, em uma família, em uma política de educação e cultura, e alguns editais
têm buscado isso. O segundo desafio é bem representado na fala Cristiano Ávila,
representante de Manaus “se num tem barro, como o mestre vai continuar a fazer
e ensinar a fazer a panela de barro ?”. Então a bolsa ou salário vitalício não podem
mesmo ser uma política desintegrada.
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Mecanismo 3 – depois do título e do incentivo financeiro, vem a contrapartida do
acordo que é a passagem de conhecimento às pessoas da comunidade.
O maior desafio aqui é o cuidado com o processo de passagem de conhecimento
tradicional para não torná-lo algo formal, onde o fazedor de cultura é responsabilizado
a trabalhar de uma forma sistematizada que pode contradizer com os seus princípios e
práticas, ou o seu conhecimento é apropriado de forma indevida pelas instituições de
educação e pesquisa. Como Mestre Deusdete fala - A educação formal que temos nos
é imposta dissociada da comunidade. A tradição oral é uma maneira de trabalhar com
as mãos, com a palavra, com o corpo, com a alma, é um todo trabalhando, é fonte de
conhecimento e desenvolvimento. Aprende-se aos poucos ao longo de muito tempo.
Existe edital que cria aqui a figura do griô aprendiz, uma pessoa que é do universo da
tradição oral e da tradição escrita e que tem se responsabilizado pela mediação entre
os tempos, linguagens e pedagogias dos dois universos e entre as gerações. Como
diz o mestre Dito de Oxossi, Sacerdote da Nação de matriz africana Mahi Ewe Fon
de Pernambuco “ as tradições orais, as tradições de cultura popular são tradições de
princípios, sejam eles de matriz africana, ou de qualquer outro segmento, indígenas ou
ciganos, é uma beleza a criança passar a entender outra forma de entender.” Existem
os parâmetros curriculares nacionais, as leis de educação indígena e educação afro-
brasileira, mas ainda é um grande desafio para a maioria dos educadores do país
superar preconceitos e a falta de formação étnico-cultural.
Esta carta é um passo entre tantos que a gente vem dando juntos. Neste dia histórico,
dia 15 de novembro que a gente comemora a proclamação da república, a gente
também celebra a criação consensual da primeira comissão nacional dos griôs e
mestres de tradição oral e de cultura popular; e a gente celebra e convoca o governo
e a sociedade para um encontro nacional em 2009 e mais 7 encontros da Rede da
Ação Griô nacional em parceria com os Fóruns de Culturas Populares e diversas redes
para criar, propor e plantar uma lei nacional de iniciativa popular com um desenho
de um programa político que possa fortalecer a identidade e ancestralidade do povo
brasileiro, através do reconhecimento dos griôs e mestres de tradição oral, dos povos,
comunidades e das culturas populares.
Cantiga aprendida com Formiga, soldado da Irmandade Nossa Senhora do Rosário que
aprendeu com o Capitão Carlos Henrique.
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