Você está na página 1de 52

1

Maria Nancy Nunes de Matos

Navegando pelos rios e florestas de Curralinho


-História e Memória da Cultura Popular-

"Um povo sem Memória é um povo sem História. E um povo sem História está
fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado."
(Emília Viotti da Costa)
2

Sumário
Minhas Homenagens...........................................................................................03
Apresentação ......................................................................................................04
Introdução............................................................................................................06
Capitulo I .............................................................................................................07
Literatura Oral
Lenda da Cobra que morava embaixo da Igreja Matriz...........................08
Lenda do Curupira-Primeiro Defensor da Floresta..................................09
Lenda do Açaí .............................................................................................10
Lenda do Boto ............................................................................................12
Lenda da Matinta Pereira ...........................................................................14
Lenda do Tamba-Tajá .................................................................................15
Lenda da Iara – Mãe d’Água .......................................................................16
Lenda da Cuiera............................................................................................17
Lenda do Mapinguari....................................................................................19
Lenda do Lobisomem...................................................................................20
Lenda da Mulher de Branco........................................................................21
Lenda do Coronel do Trapiche....................................................................23
Lenda do Fogo Selvagem............................................................................25
Lenda da Mula sem Cabeça.........................................................................26
Lenda da Cobra Grande...............................................................................27
Capitulo II
Festas Populares..........................................................................................29
Danças e Músicas.........................................................................................35
Capitulo III
Linguagem Oral....................................................................................................38
Advinhações, Parlendas, Provérbios Populares, Quadrinhas Populares, Piadas
ou Anedotas, Literatura de Cordel, Frases Prontas e Trava Língua.
Capítulo IV
Brincadeiras, Jogos e Brinquedos Populares............................................44
Dados da Autora............................................................................................47
Referências Bibliográficas............................................................................49

Minhas Póstumas Homenagens


3

Nesta obra quero homenagear Meu Filho Robert Cézar Imbert Nunes e
Silva - na eternidade, mas presente em minha vida; Meus Pais Raimundo
Nunes dos Santos-Primeiro Tabelião de Curralinho e Carmencita da Costa
Nunes, primeira Professora no rio Curupuhu e na Ilha Marituba; Meus Avós
Paternos: Galdino Nunes e Abigail Carvalho; Meus Amigos que deixaram em
nossa História e Memória muito de suas Histórias e Memórias e que hoje
enriquece nossa Cultura Popular, como: João Carlos e Delice, o casal que
incentivou a criação do Grupo “Anhangatuba” e a Festividade de Santo
Antônio; ao Pataná, primeiro motorista Municipal da Lancha “Tuncuduba”;
ao Carmelino Peres Duarte (Caramelo) um dos primeiros professores na
Zona Rural-Multiseriado; ao Mimi Leão e sua esposa Linda juntamente com
Francisco, o Bode, o Carão e o Raimundão e sua esposa Maria Caçamba
foram os primeiros pescadores; ao Benedito Rodrigues e sua esposa Dona
Olga, assim como Tio Benedito Maravalha e Tia Jiloca, Argemiro Pontes,
Gordofredo, Sofia, Vitória, Bené Nunes, Cirilo, Vircia e Elias pelo muito que
me ajudaram no inicio de minha carreira como Professora; Meu Padrinho
David Quaresma; ao Joaquinzinho, o primeiro padeiro de Curralinho e sua
esposa Iracema; Seu Zé Dias, grande músico; ao Raimundo Peixoto,
primeiro dentista e protético de Curralinho; a Generosa e sua filha Biló e
Dona Vidinha as primeiras amassadeiras de açaí para vender; ao Pedro XVII,
o primeiro Carteiro; Chico Nenem, primeiro Telegrafista e Funcionário dos
Correios em Curralinho; ao Balduino, o primeiro gari de Curralinho; ao
Boléu, Orlando e sua esposa Hilda Feitosa; ao Durval Ribeiro, primeiro a
tocar violino em Curralinho; ao Alexandre Buar, segundo Tabelião em
Curralinho; Antônio Luiz Pereira Dantas, Pioneiro em Pesquisas Históricas
de Curralinho; Manoel Sá, inesquecível Manduca Gavião, um dos
fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Curralinho, ao Miguel
e sua esposa Laurita Oliveira; ao Macaco e sua esposa Socorro; ao Vivi e
sua esposa Guita, ao Jaimirez, ao Boléu, enfim, a TODOS os curralinhenses
com quem convivi e muito aprendi e partiram deixando suas vivencias de
suas Histórias e Memórias – “O saber que não vem da experiência não é
saber”(Lev Vygotsky).
Apresentação
4

A Historiadora Helena Pignatari disse: “Um povo sem História é um


povo sem memória” e “Um povo sem o conhecimento de sua História,
Origem e Cultura é como uma árvore sem raízes (Marcus Garvey). E neste
trabalho procuro apresentar as narrativas da Cultura Popular Curralinhens
objetivando com isso, despertar o sendo critico do leitor e assim tornar a
leitura prazerosa e informativa.
Em 2012: Lançamento do meu Livro “ Lendas e Mitos de Curralinho”

Inúmeras pessoas povoam meu universo de vida na Cultura Popular


uns já partiram e outros ainda estão vivos, como Chica e seu filho João
Batista e Dona Paulina, grandes artesãos; Professora Dalva, Minha Madrinha
Dicéia e seu esposo Manduca, os segundos padeiros de Curralinho, Dona
Maria do Cote (ex-vereadora), Dona Apolônia e Vicência, parteiras e
benzedeiras; Minha Tia Abigail, Professora, Mulher Guerreira e seu esposo
Domingos; o Deonato e a sua esposa Mundaca; Maria Novaes (Mãe do
Assunção Novaes, Benedita, Genivaldo, José e outros), naquela época não
existia televisão e as histórias contadas pela minha Mãe e pela Maria Novaes
fazia com que dormíssemos tarde nos deleitando com as narrativas de
Trancoso e irmãos Grimm, contadas como tinham ouvido de seus
antepassados.
5

As lendas, os mitos, as superstições, as crendices, a linguagem


popular, as parlendas, enfim, a Cultura Popular vivencias passadas de
geração para geração atualmente esquecida pela Era da Informática, mas
que fazem parte de nosso universo de vida.
O Município de Curralinho, assim como, em todo Arquipélago
Marajoara predomina a Cultura Indígena, observamos isso na linguagem,
nos hábitos, nos costumes e até mesmo no dia-a-dia de seu povo, ainda
que, o capitalismo e a globalização com sua cultura de massa sejam grande
fator de influencia nas regiões ribeirinhas.
Agradeço a Deus e a todos que contribuíram direta ou indiretamente
para que esta obra se tornasse pública e contribuir na ampliação da História
e Memória –Cultura Popular - de Curralinho-Meu Torrão Natal.

Time de Futebol Feminino na década de 1970


6

INTRODUÇÃO

A palavra FOLCLORE vem de origem inglesa: FOLK (povo) + LORE


(saber)= sabedoria do povo, saber do povo, conhecimento do povo e foi
criada por Ambrose Merton (pseudônimo de Wiilliam Honh Thoms) que no
dia 22 de agosto de 1846 publicou a Carta no “The Atheneum” influenciando
decisivamente no campo folclórico, cujo objetivo era a “conservação e a
publicação das tradições populares, baladas lendárias, provérbios locais,
ditos populares, crendices, superstições, etc...
O brasileiro Luís Câmara Cascudo (1898-1986), é considerado o maior
estudioso do Brasil e do mundo em Folclore definindo como Cultura
Popular, tornada normativa pela tradição, possui um conjunto de
conhecimentos específicos que se organizam em formas de Lendas e Mitos
(narrativas) e outras manifestações populares definindo como Folclore
sendo sinônimo de Cultura Popular.
O Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco assinou o Decreto
nº 56.747, de 17 de agosto de 1965 criando no Brasil um dia oficial para
comemoração das nossas tradições folclóricas, sendo que: 22 de agosto -
Dia do Folclore Brasileiro.
No Pará, o Folclore se destacou com Bruno de Meneses, Walcir
Monteiro e outros que se destacaram em estudar e divulgar seus estudos
sobre Lendas e Mitos, Crendices, Crenças, enfim, narrativas populares da
Amazônia.
Em Curralinho a Cultura Popular começou a ser resgatada, valorizada,
vivenciada e divulgada a partir de 1992 quando a Escola Estadual “Prado
Lopes” tendo como equipe Gestora eu, Maria Nancy Nunes de Matos e
auxiliada pelos Professores Carlos Roberto de Matos, Benedito Pacheco de
Oliveira, Paulo Sérgio Correa, Maria de Nazaré Pereira de Freitas e toda
comunidade escolar formando parceria com a Secretaria de Cultura e
Turismo da época Ruthelene Guimarães e Elizabeth Oliveira, incluindo no
Currículo Escolar e juntamente com os Professores do Sistema Modular de
Ensino –SOME - foi realizada a Semana de Arte no mês de maio, evento que
elevou o nome de Curralinho a nível municipal e estadual em todas as
7

manifestações culturais, com o total apoio do Prefeito da época Álvaro Aires


da Costa.
CAPITULO I
LITARATURA ORAL
Na Literatura Folclórica destaca-se a Literatura Escrita e a Literatura
Oral, sendo que a Literatura Oral foi em 1881 quando Paul Sébillot, em
Littérature Oral de la Haute-Bretagne, explica que o termo abrange toda
produção literária de pessoas que não lêem, mas que se vinculam á
Literatura assim como, a expansão dos estudos críticos de poética para a
além de produção escrita. As Lendas e os Mitos são as formas mais
interessantes da Literatura Oral porque exprimem a visão do mundo
compartilhada por toda uma coletividade reforçando a solidariedade e a
união grupal, porque a imaginação de um povo expressa a poesia, os
encantos e saberes da virtude.
Segundo Moacyr Flores (1996) “a Lenda é a narração de fatos
enriquecidos com Mitos, transformando a história em acontecimentos
maravilhosos e os homens, em santos sendo que a diferença entre a Lenda
e o Mito é a sua precisão geográfica e temporal, que apresentam heróis que
realmente existiram, mas que a imaginação popular recriou de geração em
geração em respostas a seus anseios”.
O Município de Curralinho localizado na Região Furos, na Costa Sul
da Ilha de Marajó, ás margens do rio Pará. Limites: Ao norte e a oeste com o
município de Breves; ao Sul com o rio Pará e Baía de Curralinho; a leste
com munícipio de São Sebastião da Boa Vista, possuindo as Coordenadas
Geográficas 1º, 48’, 10” de Latitude Sul e 49º, 47’, 40” e de Longitude
Oeste de Wgr. 16, sendo que sua distancia da Capital do Estado é de 157 km
aproximadamente em linha reta e o 26º lugar na ordem de distancia de
Belém do Pará, com mais de 32 mil habitantes aproximadamente distribuída
em uma área de 3.492.018 Km, excluindo as águas fluviais que representam
03% MRH e o 0,27 do Estado.
È uma região cheia de mistérios em seus rios e florestas possuindo
seus personagens mágicos, como a Mulher de Branco, a Lenda da Cueira, o
Coronel do Trapiche, as crendices, como a Maldição do Padre, a Cabeça de
8

Mula Enterrada no antigo Trapiche Municipal, as superstições, os


provérbios ou ditados populares, a medicina caseira, as rezas e benzedores,
entre outros.
Até a década de 1970 os moradores da Cidade de Curralinho tinham o
costume de sentarem nas portas de suas casas em noites enluaradas para
comentar uns com outros as peripécias lendárias e mitológicas que muitos
deles ou seus amigos juravam ter vivenciado e assim eram passadas de
geração para geração.

A Lenda da Cobra que morava embaixo da Igreja


Foto tirada da Internet do artista Solino Júnior

Por muitos e muitos anos a Lenda da Cobra Grande que dormia sob a
Igreja Matriz povoara o imaginário do povo curralinhense. Nossos
antepassados contavam que durante o dia ela viajava pelos rios em busca
de suas presas e a noitinha vinha de mansinho dormir em sua “caminha”
debaixo da Igreja e muitos temiam que ela se mexesse e derrubasse a Igreja.
Havia até quem dissesse ter achado pedaços de roupas, cabelos e
outros objetos na praia da rampa e outros juravam ter ouvido barulho como
que vindo do fundo da terra, assim também que, havia suspiro, isto é, um
buraquinho dentro da sacristia para que a Cobra Grande pudesse respirar.
A Lenda da Cobra Grande é um dos mitos da Amazônia que sempre
está presente em várias feições, talvez porque como disse Vitor Hugo “A
9

serpente está dentro do homem é o intestino. Ela tenta, trai e pune”, mas
também a Lenda da Cobra Grande faz parte da maioria das culturas
mundiais, na Bíblia é sinônimo do mal.

O Curupira – Primeiro Defensor do Meio Ambiente


Essa palavra tem origem indígena curumi (curu) + (porá (corpo de
menino = CURUPIRA, de todas as crenças populares indígenas, o Curupira
é o mais antigo, pois segundo os Folcloristas essa lenda indígena existe
desde a população primitiva brasileira no Período Pré-colombiano,
descendendo dos invasores asiáticos. Segundo os caboclos curralinhenses,
dos espíritos das florestas o mais endiabrado e peralta é o Curupira. Um
“diabinho” guardião das florestas e protetor da fauna e da flora de toda
extensão do rio Curupuhu, afluente do rio Canaticu, onde morávamos.
O Curupira era um menino de cabelos vermelhos, de pés virados para
trás, o corpo peludo e privado de órgãos sexuais, este menino costumava
castigar severamente os predadores e caçadores que depredavam as
florestas. E além de brincalhão era mau e vingativo.
E todos os caboclos curralinhenses quando saiam para caçar ou
apanhar açaí se benziam para “fechar o corpo” como era costume da época
porque o Curupira gostava de brincar com os caçadores e predadores da
10

floresta, fazendo perderem-se na mesma e não acharem o caminho de volta


para suas casas ou ficava escondido nos pequenos troncos de árvores
para assustar os caçadores que estivessem como o “corpo aberto”.

Iba’í ou Açai – Um Garoto de Sangue Grosso


A Lenda do Açaí é uma lenda da região ribeirinha e toda lenda ou mito
diferenciam de um lugar para outro mudando algumas coisas, mas o
significado da narrativa é o mesmo. Esta Lenda é de origem indígena e foi a
minha Avó Abigail Carvalho das Santos, bisneta de Jorge Gomes de
Carvalho, quem nos contava antes de dormir.
A Lenda diz que, as margens do rio Araçacar-Canaticu habitava a
Tribo Cambocas e em certa época do ano os alimentos tornavam-se
escassos, sendo muito dicicil de conseguir comidas para a tribo
Guayi, Cacique da Tribo, (Guayi nome indígena que quer dizer
“semente boa”) diante de tantas lutas para resolver o problema da fome
tomou uma decisão cruel, que a partir daquele dia todas as crianças que
nascessem seriam sacrificadas para evitar o aumento populacional na tribo.
Mas um dia, sua filha Aceí (origem indígena que significa “ofertar
vinho”) engravidou, e precisava esconder a gravidez do pai, porque se ele
11

descobrisse que ela estava grávida quando a criança nascesse iria mandar
matar seu filho. E assim quando completou nove meses, Aceí deu a luz a
robusto menino que pôs o nome de Iba’í ( palavra indígena que dizer fruto
saboroso, fruta saborosa).
Mas o Cacique era daqueles que defendia “ a justiça para ser bem
feita tem que começar em casa”, e mandou sacrificar a criança. Aceí ficou
desesperada e chorou dias, meses, anos a saudade de seu filho,
implorando a Tupã que mostrasse ao seu pai uma maneira de ajudar seu
povo sem sacrificar as crianças.
Certo dia Aceí saiu para caminhar pelas várzeas do rio Araçacar,
triste, aflita, abatida. Caminhou, caminhou e cansada, chorosa sentou em
uma sapopema. De repente, ouviu um barulho. Levantou os olhos e la
estava Iba’í em pé, sorrindo, feliz em uma touceira de palmeiras de todos os
tamanhos com cachos de frutos pretinhos e outros esverdeados. Aceí
correu em direção ao filho para abraçá-lo, mas ele desapareceu.
Aceí saiu correndo para contar ao seu pai e ao seu povo o que tinha
acontecido e toda a tribo foi ver o fenômeno visto por Aceí. E então o
Cacique mandou que apanhassem e debulhassem dos cachos os frutos em
paneiros feitos com talas de arumã, depois puseram em alguidar de barro
colocando água quente e quando a polpa estava amolecida, usando as
mãos, as mulheres da tribo amassavam os caroços pondo em caroceiras e
depois em peneiras feitas com talas de arumã, saindo um suco de cor de
vinho que misturaram , farinha de mandioca ou tapioca, tal mistura, serviu
de alimento e supriu a fome daquele povo nas margens do rio Araçacar,
afluente do rio Canaticu.
A Tribo Cambocas batizou as palmeiras de Iba’í em homenagem ao
filho querido da India Aceí. A partir daí, o Cacique Guayi determinou que
daquele dia em diante as crianças que nascessem não seriam sacrificadas
porque IBA’Í, o menino de Sangue Grosso havia voltado em forma de
alimento para alimentar seu povo. E Vovó Abgail dizia que houve festas de 3
dias na Tribo Cambocas pois Ecei voltou a sorrir e alegrar-se no meio de
seu povo as margens do rio Arassacar.
12

A Lenda do Boto – O Príncipe das Águas


O Boto, mamífero de águas doces é um cetáceo do gênero Sotália,
parente legítimo do Golfinho Chinês e Indiano.Na Bíblia Sagrada em
Números 4:8 há citações de peles de animais e alguns estudiosos dizem ser
“peles de Golfinhos. Na Grécia era considerado um símbolo de lubrificação,
um fetiche ictiofálico (ídolo com forma de peixe e pênis) dedicado á deusa
Afrodite ou Vênus, deusa do amor. Por essa razão há uma analogia entre as
qualidades protetoras e sensuais do Boto Tucuxi Amazônico e atribuídas a
Afrodite, a deusa nascida do mar e protetora dos amantes.
O Folclorista Câmara Cascudo relata a História do Boto como sendo
a personificação do Uaulará ou Uiara (Senhor das Águas) e Indiase, amante
das mulheres caboclas na Mitologia Tupi que se estendeu á posteridade.
Minha Mãezinha Carmencita sempre nos contava quando era criança e
morava na Ilha Marituba e sua prima Nair era casada com o Jorge, e quando
pariu o Ninito, primeiro filho do casal, em uma tarde de verão, Jorge teve
que ir despescar a tapagem (tipo de represa artesanal usada como arma
para pegar peixes) Nair ficou sozinha e de repente ouviu um barulho no
porto. Em poucos minutos, se deparou com um homem vestido de branco,
chapéu na cabeça tentando entrar no quarto, mas lembrou do que Tia
Marina ensinava, que para “pôr boto para correr” era alho amassado e
pegou um dente de alho e amassou no pires e o homem saiu na disparada
13

rumo ao porto, ouvindo somente o barulho de quem se jogava nas águas. E


quando o Jorge chegou, Nair estava ardendo em febre. Então, chamaram o
Agripino da Dadá, benzedor bom da época, segundo os moradores da Ilha
de Marituba.
A Minha Avó Abigail nos contava que lá pelos anos de 1940
promoviam a Festividade de São Judas Tadeu, no rio Curupuhu, afluente do
rio Canaticu. Eram os festejos mais esperados pelo povo de Curralinho no
mês de outubro. Eram nove dias de festas. E para cada noite, uma família
era para rezar a Ladainha de São Judas Tadeu e assim era feito até a última
noite da festividade.
Na noite da Festa Grande, isto é, a última noite da festividade,
apareceu um rapaz todo vestido de branco e chapéu, o qual ficou de olho
na namorada de um dos filhos de minha avó Abigail com meu avô Galdino
Nunes. Enciumado Bené Nunes deu um soco no rapaz que ninguém sabia
de onde viera. Ninguém conhecia e ninguém nunca tinha visto. Na hora da
briga, socos e pontapés, o Tio Corito pegou um remo e quebrou na cabeça
do rapaz misterioso que saiu correndo todo ensanguentado e se jogou
dentro d’água. E foi aquele bafafá, porque ninguém sabia quem era aquele
homem e então a murmuração foi geral: Foi o Boto. Foi o Boto. E no dia
seguinte, encontraram um enorme boto na ribanceira, morto.
Na mentalidade do antigo povo curralinhense era comum o Boto
vestir-se de branco com chapéu na cabeça, sempre parecendo ser um rapaz
educado, chic que chegava ás festas conquistando a moça mais bonita da
festa e com ela dançava a noite inteira, mas ao romper da aurora sem que
ninguém percebesse desaparecia ou apareceria para pessoas nas margens
dos rios.
Tanto a minha Avó Abigail quanto a minha Mãe Carmencita nos
contavam que era muito comum naquela época moças engravidarem do
Boto. Era conhecido quando uma moça estava se envolvendo com Boto,
pois a mesma ficava magra, rosto pálido, perdia o apetite, ficava “jururu”,
sem ânimo, desprovida de vida.
14

E os órgãos sexuais do Boto Fêmea muito utilizada na macumbaria,


devido acreditarem que exerce forte poder de sedução e prazer, assim
como, o OLHO de BOTO, utilizado como amuleto na arte do amor e da sorte.
Lenda da Matinta Pereira

A lenda da Matinta Pereira é conhecida em toda Amazônia


diferenciando suas narrativas de lugar para lugar, por exemplo, aqui em
Curralinho é conhecida como uma mulher que se vestia de preto e com os
cabelos caídos no rosto, tendo hábitos noturnos, principalmente em noite
escuras, aterrorizando as pessoas, aparecendo como porco, pato, galinha,
cavalo etc.
Meus Avós Galdino e Abigail eram grandes contadores de histórias e
deleitava-me ouvindo as narrativas do imaginário curralinhense, quando a
cidade era apenas um lugarzinho com pouco mais de cinquenta casas e
Vovó Abigail era bisneta do Primeiro Intendente Municipal de Curralinho,
Jorge Gomes de Carvalho e foi com ela que vivi durante a minha infância e
adolescência.
Meus avós tinham casa na cidade de Curralinho e no rio Curupuhu, na
cidade moravam próximo a casa de uma senhora chamada Maria e seu filho
Zé Agripino e havia burburinhos de que era ela a Matinta Pereira que tanto
assombrava as pessoas.Vovó Abigail dizia que foi o próprio filho quem
contou isso á ela, um dia em que foi emprestar açúcar e lhe disse:
15

---Duna Abigail, estu apavurado. Onti a nuite uvi uns barulos i pulei da
mina redi pra ver que acuntecia i quase me deu cara branca quando vi mia
mãe deixando uma mão de pilão na redi dela e vestindo uma ropa preta, que
logo se tranformu em um cavalo. Cruz credo, Dona Abigail. Me escundi
detrás da purta e o cavalo saiu na escuridão da nuite. Era minha mãe
virando cavalo, Duna Abigail. E despus, uvi no meio da escuridão gritos e
gritos, dizendo: “Matinta Pereira....Matinta Pereira...”
Minha Avó não comentou nada, devido os comentários que surgiam
sobre isso, mas agora o filho dela estava confirmando o que todo mundo já
sabia. Inclusive os meus avós muitas vezes ouviram gritos da Matinta
Pereira e gritavam dentro de suas casas:
---Amanhã vem buscar tabaco!!!
E no dia seguinte, quem vinha? Ela, dona Maria!
Os antigos moradores de Curralinho diziam que era muito fácil
descobrir quem era a velha Matinta Pereira: ao ouvir seu assobio convide-a
para ir á sua casa para buscar tabaco e com certeza ela será a primeira
pessoa que vai pedir tabaco em sua casa.

Lenda Tamba-Tajá
Os Macuxis são um sub-grupo do povo indígena Pemom que falam
línguas da família Caribe que habitam a região entre as cabeceiras dos rios
Branco e Rupununi atualmente é um território partilhado entre o Brasil e a
Guiana.
E foi no seio desta tribo que nasceu a Lenda Tambá-Tajá, quando o
índio Ailã (na língua macuxi quer dizer entidade mística) jovem forte,
inteligente, bonito e cheio de vida, se apaixonou pela índia Neputira (na
lingua macuxi quer dizer “floresce no campo”), o namoro logo deu em
casamento. Casaram-se e viviam felizes até que um dia a bela índia Neputira
ficou gravemente doente e essa doença a deixou paralitica.
O Jovem Ailã Macuxi para não se separar de sua amada teceu um
jamachi de talas de arumã (tipóia) e em suas costas levava a sua amada
para todos os lugares em que andava, e em certo dia foram surpreendidos
16

por uma tribo inimiga que foi perseguida, mas escaparam refugiando-se em
um igarapé, porém quando colocou o jamachi no chão para sua tristeza a
sua bela amada estava morta. Diante de tão grande dor o jovem índio fez
uma cova e enterrou-se juntamenta com sua amada esposa.
Muitas luas se passaram. Chegou a lua cheia e no local em que estava
enterrado o jovem casal começou a brotar uma planta graciosa, totalmente
diferente e desconhecida de todos os índios Macuxi e chamaram de TAMBA-
TAJÁ que possuía folhas triangulares, de cor verde escura, em seu verso
outra folha de tamanho reduzido cujo formato de assemelha ao órgão
genital feminino. Era o símbolo do amor que nem a morte pôde separar. A
união das duas folhas simboliza o grande amor existente entre o casal da
tribo Macuxi.
Tal Lenda influenciou o dia-a-dia do Caboclo da Amazônia e assim
como os curralinhenses, ainda podemos ver nas portas das casas ou de
comércio um paneiro com estrume de açaí e nele plantado um pé de Tamba-
Tajá, para evitar olho gordo, e outros poderes místicos e atrair sorte.

Lenda da Iara ou Mãe d’água


Lendas são histórias contadas de geração para geração verbalmente
por isso sofrem variações. A Lenda da Iara é de origem indígena, oriunda da
região Amazônica, mas é conhecida em todo Brasil e em Curralinho era
contada de acordo com o que os pescadores contavam.
Minha Avó Abigail contava que a bisavó dela contava que Iara era uma
india guerreira e valente e seus irmãos tinham ciúmes dela porque seu pai
elogiava muito e por isso seus irmãos planejaram matá-la e mataram a bela
índia e jogaram no rio Canaticu.
Era noite de lua cheia e os raios da lua refletiam em seu belo corpo
nas águas e a deusa Jaci vendo aquela beleza transformou Iara em uma
linda sereia, da cintura pra cima mulher e da cintura pra baixo peixe.E desde
então, a bela índia habita pelos rios de toda Amazônia seduzindo homens
pescadores e depois os levando para o fundo do rio, que morrem afogados.
17

A Iara ou Mãe d’água é um dos mitos mais polêmicos do Folclore


brasileiro, principalmente por sua origem, pois muitas vezes, a Iara é
confundida com o Orixá africano Iemanjá, a rainha do mar.

Lenda da Cuiera

A Cuiera é uma árvore de pequeno porte pertencente a Familia


Botânica Bignoniaceae, seu nome cientifico Crescentia cujete, sendo nativa
do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.
A Tia Maria Caçamba era uma fonte viva de Lendas e Mitos de
Curralinho. Uma figura folclórica. Com seu cachimbo, sentada na porta de
sua casa apreciava as tardes de verão para contar histórias. E em suas
narrativas dava vida aos personagens. Eu gostava de ouvi-la contar as
peripécias de suas narrativas sobre as Lendas e Mitos de Curralinho.
O Complexo de Administrativo de Curralinho desde do Período da
Bellé-Epoque começava donde é hoje o Complexo de Abastecimento
Municipal David Quaresma da Silva (Mercado e seguindo a ordem era o
Mercado Municipal, o Palacete Azul, Posto de Saúde, o Cartório, a
Estatística, a Estação Telegráfica e a Delegacia ( onde atualmente é a casa
do Zeca Dias) e havia um delegado chamado de Tempo de Feio e um
soldado chamado Trovão. Dizem que o Tempo Feio e o Trovão eram
18

verdadeiros carrascos dos presos, pois no silêncio da noite, eles tiravam os


pobres prisioneiros e levavam para o tronco da Cuiera onde amordaçavam
suas bocas, espancavam e torturavam até morrerem.
Essa cueira ficava na entrada do Trapiche Vila Vitória, passando a
Casa Verde (atualmente a EMEF Prof.Lindalva Pinho). Era uma árvore
viçosa, frutífera, frondosa, possuindo troncos ramificados e era ali que os
pobres coitados dos prisioneiros apanhavam e morriam vítimas das
maldades do delegado e do soldado, mas, quando amanhecia o dia,
alegavam que e os presos brigavam entre si e se matavam aos socos na
cadeia.
Segundo a Tia Maria Caçamba durante muitos e muitos anos dezenas
de pessoas perderam a vida no tronco daquela cuiera e também que fim
teria tido o delegado Tempo Feio e do Soldado Trovão. Todos os moradores
da época comentavam essas barbaridades, mas tinham muito medo do
delegado e soldado tiranos. Havia algumas pessoas que diziam terem visto
marcas de sangue e outros vestígios na Cuiera, o Tempo Feio e o Trovão
eram a Lei naquela época em Curralinho.
Após algum tempo a Maria Sabóia e sua família vieram do Piriá e
construíram sua casa na Rua da Saudade, hoje Esmeralda Fonseca e tinham
que passar por baixo da Cuiera. Certa noite o Edgar, seu esposo, foi
lanternar para o rio Maruarus e quando voltou pela madrugada ao passar
por debaixo da Cuiera sentiu seu cabelo crescer e ficou todo arrepiado.
Queria correr e não podia. Parecia chumbado no chão, como se dezenas de
mãos o agarravam e davam-lhe pontapés e socos. E não via ninguém.
Depois de muito apanhar, tentou se desvencilhar e “pernas pra que te
quero”, saiu na disparada. Chegando em sua casa mais morto do que vivo,
relatou a esposa Maria Sabóia, a qual disse que o mesmo já tinha
acontecido com o Dorico, o Camarapi e com várias outras pessoas que após
a meia-noite passavam pela Cuiera.
Segundo a Tia Maria Caçamba todos diziam ser as almas penadas das
pessoas que morreram torturadas pelos açoites em altas madrugadas pelo
delegado Tempo Feio e soldado Trovão. E com o passar dos tempos o
Prefeito Alvaro Costa construiu a Escola Municipal “Professora Lindalva
19

Pinho” e o progresso “destruiu” toda a Cuiera e assim também as almas


penadas sumiram junto com a Cuiera.

Lenda do Mapinguari

O Mapinguari é um ser mitológico que vive nas florestas de


Curralinho, sendo também conhecido como Clareomário, Mãe-da-Mata, um
fantástico ser da mata, muito temido entre os caçadores e caboclos do
interior.
O Mapinguari costumava andar pelas matas emitindo gritos
semelhantes aos dos homens para enganá-los e quando alguém ousasse se
aproximar ele atacava e devorava o caçador começando pela cabeça,
dificilmente um homem atacado pelo Mapinguari conseguia sobreviver, e
ainda que sobrevivesse geralmente ficava aleijado ou com marcas horríveis
pelo corpo inteiro.
O Manpinguari tem o corpo todo coberto de pelos, com aparência de
um enorme macaco, com um olho no meio da testa e uma boca gigantesca
que se estende até a barriga.
Minha Avó Abgail contou-me que seu filho Cirilo era um caçador ativo
no rio Jupuúba e vivia semanalmente caçando mucuras, cuandu, pacas,
20

porco-do-mato, mucuras tatus e outras caças. Nessa época ainda não


existia as leis de preservação ambiental, e as carnes dessas caças eram e
ainda são muito apreciadas pelos caboclos curralinhenses.
Certo domingo arrumou a espingarda e munição (cartuchos enchidos
com pólvora e espoleta) pondo em seu jamachi e saiu para caçar e minha
avó tentou impedir, mas Cirilo não a atendia quando se tratava de caçada. E
ele foi mesmo contra a vontade dela.
Ao chegar ao Porto Cajueiro encostou e amarrou seu casquinho em
uma raiz de jamarana ( jamarana, árvore que cresce as margens dos
pequenos rios) e saiu mata adentro na expectativa de caçar um porco-do-
mato gordo e saboreá-lo assado com seus familiares e amigos e assim ia
pensando quando de repente! Um barulho estranho! Como se alguém
caminhasse sobre folhas secas.
Cirilo pegou a espingarda e se escondeu detrás de uma enorme
sapopema e ficou atento ao barulho e quando viu um enorme bicho gritando
em sons agudos, varando as matas como um furacão e então Cirilo com o
coração pra sair pela boca correu embarcou em seu casquinho e voltou para
sua casa com muita febre, dor de cabeça e o corpo todo tremendo de frio.
Caça, não trouxe nenhuma, somente os sintomas deixados pela visão
que teve desse enorme bicho que andava nos campos curralinhenses.

Lenda do Lobisomem
A Lenda do Lobisomem ou Licantropo tem origem na Mitologia Grega
em que o homem pode se transformar em lobo nas sextas-feiras e noites de
lua cheia, se alimentando de sangue e se o Lobisomem morder alguma
pessoa essa pessoa passará a ser Lobisomem e ao amanhcer volta a sua
forma humana.
No Brasil existem várias versões dessa lenda de regiões para
regiões. Em alguns locais dizem que se uma mãe tiver seis filhas e o sétimo
for homem, este se transformará em Lobisomem. Existe versões que falam
se o filho não for batizado poderá se transformar em Lobisomem quando for
adulto.
21

Em Curralinho nossos antepassados contavam que vivia nas regiões


dos campos um grande lobo encantado que amedrontava os moradores
locais e certa vez um caçador foi mordido por esse lobo e ficou enfeitiçado.
Nas noites de lua cheia o caçador se transformava em lobo e saia uivando
pelas ruas da cidade em busca de sangue humano fazendo com que os
moradores se trancassem em suas casas com medo.
A Lenda do Lobisomem é uma narrativa impar de nossa Cultura
Popular.

Lenda da Mulher de Branco

A Igreja Matriz de São João Batista um dos Patrimônios Culturais do


Povo Curralinhense, vestígios da época da Belle-Èpoque, abriga no bojo de
sua história fatos lendários e mitológicos narrados pelos antigos
moradores, mas ainda podemos ouvir da boca de muitos que viram a Mulher
de Branco que passeava ao redor da Igreja ou ficava sentada na Porta da
Sacristia ou até mesmo ficava em pé na Porta da Igreja ou debruçada no
peitoril de alguma janela da Igreja Matriz. Há várias narrativas sobre essa
lenda em Curralinho.
22

Uns contam eu foi uma moça que morreu afogada, tomando banho na
rampa, cujo local desembarcavam os cadáveres, em frente a Igreja Matriz de
São João Batista, onde tinha um suporte de um metro de largura e um metro
e meio de altura e nela onde punham os caixões com os cadáveres.
Outros contam que o Tenente-Coronel Francisco Domingos Cerdeira
construiu a Igreja Matriz de São João Batista para ser Mausoléu de sua
esposa e quando ela morreu foi enterrada na Sacristia. Seus restos mortais
ficaram lá até 1960 quando o Padre Rossine mandou enterrar seus restos
mortais no cemitério público.
Em entrevista com várias pessoas como a Dona Sara, Minha Mãezinha
Carmencita (com saudades), Professora Malfizza Fazzi Dias, Professora
Dalva e até meu Irmão Jonas Max, essas pessoas juram que viram a Mulher
de Branco.Relato do Meu Irmão Jonas Max: “Eu tinha uns 17 anos de idade
e gostava de ficar pelas ruas até tarde da noite batendo papo com os
amigos e certa noite fiquei na Sede Santa Rosa até pela madrugada. E
arranjei uma garota.E saímos caminhando pelas ruas até chegarmos na
praça da Igreja Matriz onde sentamos em um dos bancos para conversar. De
repente, a garota que estava comigo ficou calada e perguntei o que tinha
acontecido e ela apontou com os dedos a torre da igreja e vimos uma
mulher debruçada em uma das janelas no topo da torre da Igreja. Não senti
medo. Levantei e fiquei tentando ver seu rosto, mas não conseguia.
Enquanto eu olhava para cima, eis que a garota que estava comigo, falou
baixinho: “Ták, olha ela aqui em baixo da Igreja. Baixei a vista e vi a Mulher
de Branco vestido de branco rodeando a Igreja. Então eu disse: Deixa pra lá,
é a Sara que está tentando nos amedrontar.”
Relato da Dona Sara: “É engraçado, que todo mundo confundia a
Mulher de Branco comigo (risos e risos). Essa semelhança fazia com que a
maioria não tivesse medo dela ao ponto de correr ou algo parecido. Eu
também vi e fiquei meio cabreira, era muito parecida comigo mesmo. Certa
noite eu voltava da casa da minha irmã Nazaré e ao me aproximar da Igreja
Matriz, senti um leve arrepio, levantei a vista e vi uma Mulher Vestida de
Branco que estava em pé na Porta da Sacristia, de costas para mim. Tinha
os cabelos compridos e castanhos iguais os meus. Fiquei pensando comigo
23

mesma: “Égua, será que já estou fazendo visagem (risos e risos)”, mas eu
segui a caminhada sem nenhum medo, mas pensando no porquê de
algumas pessoas me confundirem com a Mulher de Branco. Vi várias vezes
essa figura lendária que aparecia na Igreja Matriz, mas com o tempo nunca
mais ouvi falarem sobre ela. Sumiu ou merreuuu...(risos e risos).”
A Mulher de Branco foi uma figura lendária e ainda em 1992 quando
vim de Bagre para assumir a Direção da Escola Estadual “Prado Lopes” e
fiquei morando próximo da Igreja Matriz e ficava assustada quando o meu
irmão Jonas Max chegava em casa dizendo: “A Sara já estava no fado dela
lá na Igreja e ria...ria. Isso queria dizer que ele tinha visto a Mulher de
Branco, no entanto, que não tinha medo.

O Coronel do Trapiche

“Seu” Balduíno, trapicheiro e primeiro gari em Curralinho, ele varria


as ruas com folhas de tucumã verdinhas e meu pai Raimundo Nunes dos
Santos, Primeiro Cartorário em Curralinho. O Cartório estava localizado no
Complexo Administrativo Municipal, atual Fórum da Comarca e o Trapiche
Municipal bem em frente. Quando eu era criança os ouvia contarem que
eram testemunhas da aparição lendária do Coronel do Trapiche.
Meu saudoso amigo Balduino contava que várias vezes quando
estava vigiando o trapiche e olhava para a porta da frente da Prefeitura e via
um homem de estatura mediana, vestido a rigor de Coronel da Cavalaria
24

Imperial, com reluzente espada e os galões que brilhavam na escuridão da


noite. Ele ficava em pé e depois caminhava pela trapiche com a espada em
punho.
O meu pai Raimundo Nunes dos Santos contava que algumas vezes
precisava trabalhar até tarde da noite e foi em uma dessas noites, viu esse
Coronel saindo de uma das salas e caminhando para a porta foi em direção
ao trapiche. Meu pai contava que ficou chumbado no chão de medo, após
alguns minutos que pôde se locomover e sair quase correndo para sua
casa e desde esta noite não quis mais trabalhar naquele local até altas horas
da noite.
Nos finais dos anos de 1950 e inicio de 1960 muito se comentava
sobre aparição Coronel do Trapiche Municipal que segundo o próprio “Seu”
Balduino e o Pai Raimundo Nunes dos Santos todos sentiam muito medo
quando se deparavam com a figura lendária.
Conforme algumas narrativas sobre essa figura lendária, esse
episódio ocorria devido ao fato, da filha de um Coronel da Cavalaria que
morava em Belém do Pará e veio passar as férias acompanhada de uma
família amiga e morreu afogada embaixo do trapiche seu corpo foi levado
para Belém do Pará. Tal fato deixou o pai da menina muito enraivecido, o
qual morreu de dor e saudades e assim seu fantasma aparecia no Trapiche
Municipal para rever o lugar e vingar a morte de sua filha. Talvez por isso,
que sua figura despertava muito medo em quem a via.
25

Lenda do Fogo Selvagem


Antigos moradores de Curralinho contam que onde está localizada a
Loja “Confecções Ceará” até a década de 1980 era uma parte do quintal do
Prédio “Villa Eduardo Rezende”, ou seja , da Residência do Doutor Sandoval
Cerdeira Bordallo e existia uma carnaubeira muito antiga e frondosa e Dona
Maria Sabóia, a Minha Mãezinha Carmencita Nunes, a Dona Vidinha e outros
contavam que quem passasse por lá após as seis horas da tarde via uma
tocha de fogo que ia crescendo-crescendo e muitas vezes corria atrás das
pessoas.
26

Meu Pai contava que certa vez vinha da seresta na casa do Manduca
Sá e vinha assobiando a canção de Vicente Celestino “Ébrio”, quando de
repente, seus cabelos começaram a crescer-crescer e todo seu corpo se
arrepiar e parecia chumbado no solo, quis correr de tanto medo, mas suas
pernas estavam bambas e via o fogo que crescia-crescia quase atingindo o
topo de uma mangueira que existi próximo da carnaubeira e ouviu um
gemido estridente saindo de dentro da tocha de fogo que se avolumava e
neste momento o aparece o figura do Doutor Sandoval na janela do prédio
que o chama. E ao ouvir a voz humana o fogo vai se extingue por completo
e assim pode se locomover e sair em disparada.
No dia seguinte foi o comentário na cidade de que o Diquinho Nunes
(apelido de meu pai) tinha sido vítima do Fogo Selvagem da carnaubeira e
assim surgiu a lenda de que o seringalista Eduardo Antonio Rezende tinha
enterrado muito e muito dinheiro lá e para desenterrar a imensa quantidade
desse dinheiro a pessoa tinha que ser muito corajoso e ir meia noite em
ponto de uma sexta-feira com um cutelo, água benta e um crucifixo e no
momento em que o Fogo aparecesse jogaria a água benta e o crucifixo
sobre ele, então se abriria um buraco onde apareceriam as moedas de ouro
e prata que seriam tiradas com o cutelo.
Nunca apareceu esse “corajoso” que quisesse enriquecer com o
dinheiro enterrado debaixo da carnaubeira e assim, em 1980, o “Seu”
Bernardo construiu um barzinho chamado “Buraco Quente” e em seguida o
meu primo Ailson e minha Prima Socorro construíram o Prédio “Confecções
Ceará” e assim todo aquele dinheirama ficou soterrado embaixo das
construções.

Lenda da Mula sem Cabeça


27

A Mula-sem-cabeça é um personagem lendário do folclore brasileiro


havendo variações em suas narrativas de acordo com região brasileira, em
cada lugar é conhecida com um nome, como: “Mulher de Padre”, “Mula de
Padre”, “Mula Preta” e outros.
Em Curralinho a Lenda da Mula-sem-Cabeça é uma narrativa desde
sua Colonização e bastante diversificada uma das outras. Os moradores
contavam que a muitos e muitos anos atrás a filha de um certo homem que
fazia tamancos se apaixonou perdidamente por um Padre e o casal viveu
seu louco romance, mas o castigo pelo pecado, a maldição recaiu na moça
que ficou durante toda sua vida se transformando nas noites de lua cheia
em uma terrível e temível Mula de cabeça de fogo que saia pelas ruas
cumprindo seu fadário correndo desabaladamente Arrastando cadeias
assustando assim os supersticiosos.
Outros comentavam ser uma mulher que morava no caminho que ia
para o cemitério e o “Seu” Chico viu várias vezes ela comendo cadáveres de
crianças e nas noites de lua cheia saia amedrontando as pessoas nas
encruzilhadas.
Durante muitos anos a Mula-sem-cabeça amedrontou muitas pessoas
em Curralinho, como Meu Pai Raimundo Nunes, o Pataná (pai da professora
Guida, Palmira e outros), o Dimo Dias (pai do Zeca Dias, Jorge, João e
outros), e outras pessoas que gostavam de fazer serestas em um bar que
ficava embaixo do Prédio “Villa Eduardo Rezende” ou seja, a Casa dos
28

Bordallos, onde hoje é a Secretaria Municipal de Cultura e Biblioteca Pública


Municipal e quando voltavam para suas casas era muito comum
encontrarem com a Mula-sem-cabeça alumiando as encruzilhadas e quando
percebia a presença humana saia correndo.
Nunca ninguém realmente descobriu quem era a pessoa que “virava”
Mula-sem-cabeça e assim a Lenda foi se perdendo da Memória dos
moradores antigos de Curralinho.

Lenda da Cobra Grande


A Lenda da Cobra Grande ou Boiúna é conhecida em toda Amazônia
se diversificando nas narrativas e em Curralinho ela ficou conhecida como
sendo uma mulher que havia ficado menstruada e passou por cima de uma
cobrinha engravidando e no momento em que teve as dores de parto
chamaram a Tia Raimunda Xerenga, parteira local e para surpresa de todos
deu a luz a duas cobrinhas gêmeas e foram soltar na água pondo água
benta na cabecinha delas e batizaram como Maria e João, em outros locais
chamam para a Cobra Grande ou Boiúna de Maria e Honorato.
As cobras foram crescendo e crescendo e viviam pelo rio Curupuhu ,
Canaticu e iam pelo rio Pará passavam em frente a cidade de Curralinho
visitavam os rios Samanajós, Açu e outros rios, sendo que João tinha um
temperamento pacífico, não fazia mal a ninguém, mas Maria tinha um gênio
terrível causando danos aos animais e a muitas pessoas que viajavam
principalmente de noite por essa região
Certa vez, João apareceu em sonhos para a mãe dele dizendo que ia
matar Maria, que todos guardassem bastante água e alimentos não saíssem
de casa por uma semana porque os rios ficariam contaminados com a morte
da irmã malvada. E foi o que aconteceu. João travou uma grande briga com
a irmã matando em seguida.
A Lenda da Cobra Grande sempre amedrontou a população ribeirinha
do município de Curralinho e de toda Amazônia.

CAPITULO II
29

1.FESTAS POPULARES
Em Curralinho as Festas Populares foram a de São João Batista de 14
a 24 de junho, de São Sebastião, de 2 a 3 de fevereiro, a de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, de 20 a 29 de setembro, e outras na zona rural como
São Benedito, no rio Samanajós, a de São Judas Tadeu de 20 a 29 de
outubro no rio Curupuhu e nos finais do século XX a de Santo Antônio de 05
a 13 de junho, e atualmente a São Mateus no bairro do Cafezal e outras
As Festas Populares são definidas como fazendo parte da identidade
de um povo, no seu contexto cultural, sendo uma manifestação popular que
abrange toda coletividade em festas realizadas em diversos lugares e
tempos, embora com manifestações diferentes.
As Festas Populares são de origem católica e eram celebradas desde
a Idade Antiga na Europa, durante o solstício de verão que marcavam o
inicio da colheita. Durante os festejos ofereciam comidas, bebidas e animais
aos mais diferentes deuses em que o povo cultuava e talvez seja por isso
que, os festejos juninos trazem em seu bojo reflexos do campo, da roça,
como pipoca, milho verde, feijão e outros alimentos produzidos pela terra
assim como, brincadeiras, trajes camponeses, danças e quadrilhas de
origem francesa, sendo que os bailados, as cores fortes e os enfeites
exagerados relembram a identidade cultural, a cultura e o folclore nas
tradições de homens e mulheres simples, humildes que trabalhavam a pique
na Europa.
Não se tem uma data precisa como surgiu em Curralinho a Festa de
São João Batista, de 14 a 24 de junho. No período da festa havia várias
atrações, como: mastro, noitários, quadrilha, fogueira, diversas
brincadeiras, simpatias, músicas, leilões, pau-de-sebo, procissão, banho-de-
cheiro, “Rainha da Festa”, “Mesa dos Inocentes” e outras atrações.

Festa de São João Batista


30

Foto da internet
A Festa Popular de São João Batista preserva algumas das tradições,
outras se perderam no tempo, mas a tradição do Mastro permanece até aos
tempos atuais.
Desde sua origem o povo é despertado no amanhecer do dia 14 de
junho com uma estrondosa alvorada de queima de fogos de artifícios e até
a década de 1980 com a Banda da Policia Militar tocando músicas religiosas
e durante o dia havia a preparação para levantamento do Mastro, cujo
erguimento, marcava o inicio da Festa, por isso o Mastro recebia tratamento
especial desde escolha da árvore até a sua ornamentação, sendo a bandeira
com a foto do santo no topo e no dia 24 á tardinha era a derruba do Mastro
e quem pegasse a bandeira seria noitário principal.
A partir o dia 14 de junho todas as noites rezam ladainhas na Igreja
Matriz e logo após há o bingo no Salão Paroquial cujos prêmios são doados
pelos noitários ou responsáveis pela referida noite. A Festa sempre teve
uma Coordenação para gerenciar de forma geral as ações desenvolvidas
durante os dias de festas.
31

A Igreja Matriz de São João Batista foi arquitetada e construída pelo


Tenente-Coronel Domingos Francisco Cerdeira uns diziam para mausoléu
de sua esposa, sendo comum naquela época, pessoas ilustres quando
morriam eram enterradas nas Igrejas, outros diziam que foi construída para
homenagear o santo de sua devoção.
Obra de arte do acervo da Cultura Material de Curralinho, além de nos
reportar ao Período da Belle-Èpoque, ou seja, Período Áureo da Borracha
na Amazônia onde a modernidade vinda da Inglaterra e de toda Europa
respingava entre os rios e florestas da Grande Ilha de Joannes (Marajó) nos
reporta também em sua parte externa o reflexo do estilo neoclássico e na
parte interna predomina o estilo barroco tanto na arquitetura quanto na
pintura, sendo que, a partir de 1970 a pintura foi sendo modificada perdendo
sua originalidade.
Por dentro em sua originalidade as grossas colunas, nas laterais os
quadros das 14 Estações referente a Semana Santa e no centro duas
carreiras de bancos de madeira. Na parede dos fundos bem ao alto ficava a
imagem de São João Batista tendo na frente o Altar para celebração das
missas e nas laterais duas sacristias a do lado esquerdo onde ficou os
restos mortais que os antigos moradores diziam ser da esposa do
Intendente Domingos Francisco Cerdeira que em 1960 o Padre Rossine
mandou enterrar no cemitério seus restos mortais e do lado direito onde os
padres e coroinhas se vestiam para celebrar as missas. Sendo que as duas
sacristias haviam portas de acesso para as ruas.
O teto pintado de azul cor do céu com muitas estrelas brancas e uma
bem grande saindo sua cauda para a porta de entrada. A grande escada que
dava acesso ao “Coro” lugar onde ficavam as pessoas de maior poder
aquisitivo, assim também, para a torre alta onde ficam os sinos para
despertar os fiéis para a missa ou para o trabalho.
A Igreja Matriz de São João Batista Cartão Postal por sua beleza e
grandiosidade de todos os curralinhenses.
Atualmente com novas reformas e ampliações refletem o amor, a
união e o trabalho dos padres, freiras e todo povo católico.
32

A Festa de São Sebastião era realizada de 02 a 03 de fevereiro e


devido ser inverno era uma festa mais religiosa do que profana, pois não
existiam as atrações da Festa de São João Batista, mas havia a levantação
do mastro e a derrubação no último dia, e as ladainhas nas noites
patrocinadas pelos noitarios e os bingos no Salão Paroquial, mas esta
festividade popular se extinguiu a partir dos anos de 1984.

A Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro realizada na


última semana do mês de setembro. Foi uma Festa Popular criada pelas
Professoras Estela Maria do Carmo, Helena Maria do Carmo, Berenice
Tavares, Dicéia Tavares e outras mulheres, no entanto, esta Festa foi
comemorada por alguns anos e depois não houve mais continuidade,
33

porém, ainda hoje a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está


em uma linda redoma onde destila água na Praça da Igreja Matriz.
A Festa de São Judas Tadeu realizada no rio Curupuhu-afluente do rio
Canaticu realizada na Casa dos meus avós Galdino Nunes e Abigail
Carvalho Nunes no mês de outubro. Eram 9 noites de Festas com Ladainha
ao São Judas Tadeu. Eu ainda não havia nascido quando esta Festa teve
inicio. Era uma festa grandiosa. Trago na memória a grandiosidade com era
realizada.
Meus avós criavam porcos, os capados grandes, para dar de comer
ao povo que participava, uma multidão vindo de todos os lugares. E na
última noite, a chamada Noite Grande havia a “Mesa dos Inocentes” era a
parte que eu mais gostava talvez devido eu ser o centro das atenções da
garotada, ah! Mas eu era a neta dos donos da casa e da festa e meus avós
me amavam com amor eterno. A Banda de Música tocando músicas, o povo
batendo palmas e assim comíamos em alegria e felicidade!
Outras Festas realizadas de ano a ano, como a Festa de São João no
rio Curupuhu, realizada pelo ex-Prefeito Agnelo de Castro Freitas e sua
esposa Rosinha, a Festa no Maturino, próximo a Ponta Alegre, na Casa da
Joana dos Anjos e na Casa do João Cabral, na Calheira, de São Benedito da
Borracha, no rio Samanajós.
As maiorias das Festas Populares eram e são festejadas por nove
dias consecutivos tendo o hasteamento e derrubação do Mastro do Santo
ou da Santa no último dia, e durante as noites as ladainhas rezadas por um
rezador.
A Festa de Santo Antônio nasceu de uma promessa que Delice da
Cruz Miranda havia feito a Santo Antônio pela cura de uma enfermidade em
família e para pagar a referida promessa reuniram-se a Família Cruz e Silva
com outras famílias, como Jejé Sacramento e sua família, Dona Apolônia e
família, Dona Lucimar e família, Jorge Kelly da Costa Nunes e outros.
O Carnaval é uma Festa Popular muito antiga, surgiu no Egito na
época das colheitas se espalhando pela Europa e pelo Mediterrâneo, sendo
que na Roma Antiga e Veneza o carnaval era festa glamorosa. Por volta do
século XVII por influência europeia o Carnaval chega ao Brasil com o nome
34

de Entrudo e no século XIX começaram a surgir os blocos que tornaram-se


populares com as Marchinhas Carnavalescas que davam mais diversão á
festividade.
“Ô abre alas que eu quero passar!” foi a primeira marchinha de
Carnaval surgiu em 1899 pela compositora Chiquinha Gonzaga que fez a
canção para a escola de Samba “Rosas de Ouro” do Rio de Janeiro. A
segunda foi “Mamãe eu quero, Mamãe eu quero mamar”, gravada em 1937
por Jararaca e Vicente Paiva e regravada 4 anos depois por Carmen Miranda
e a terceira foi “Ôôôô, Aurora...Veja só que bom que era...” criada por Mário
Lago, em 1941. Em 1953 Mirabeau Pinheiro, Lúcio de Castro e Heber Lobato
criaram “Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água não”.
Desde 1950 em Curralinho quando chegava o mês do Carnaval os
jovens como meu pai Raimundo Nunes dos Santos, Dimo Dias, Geraldo
Dantas, Durval Ribeiro Barbosa, Carmelino Peres Duarte (Caramelo), Pataná,
Manoel da Vera Cruz Sá, Antonico Alves e outros organizavam bloco e
saiam ás ruas vestidos de mulheres cantando e dançando ao som da
Marchinha de Carnaval: “Ô abra alas que eu quero passar”, alegrando as
tardes curralinhenses.
Na década de 1980, Administração de José Assis de Oliveira Filho, o
Acapu foram criados os Blocos “Morro de Fome mais não trabalho” por
Leônidas Freitas e “Camucim” por Edvaldo da Silva Fonseca. Atualmente
existem vários outros blocos carnavalescos que alegram as tardes e noites
de carnaval.

O Festival do Açaí
Teve sua origem na administração de José Assis de Oliveira Filho, o
Acapu, e sendo Diretor de Cultura Ophir Ribeiro Barbosa que juntamente
com outros departamentos criaram o “Festival do Açaí” no mês de
setembro, plena safra do açaí, comemorado na Praça do Relógio ou da
Bandeira onde faziam enorme “barracão” de açaizeiro coberto com palhas
de ubuçu e na administração de Orlando Feitosa Borges, sendo Secretária
de Cultura Maria Gregória, também era comemorado na referida praça.
35

A partir de 1992 quando o então Prefeito Álvaro Aires da Costa e a


Secretária de Cultura e Turismo Ruth Guimarães sendo assessorada por
Marilia Tavares o “Festival do Açaí” ganhou notoriedade e foi realizado na
Praça da Matriz, depois para arena que havia ido construída no final da
Primeira Rua Floriano Peixoto.
Em 2001, Álvaro Aires da Costa foi reeleito Prefeito Municipal de
Curralinho, e nomeou a mim, Maria Nancy Nunes de Matos como Secretaria
de Cultura de Turismo e também fui assessorada por Marília Tavares e
formamos parcerias com todas as Secretarias Municipais e foram atrações
a Banda Vlad, Banda Cheiro Verde, Banda Geração 2000, entre outras
atrações locais e estaduais.
A partir da administração de Miguel Santa Maria a arena do “Festival
do Açai” passou a ser para a Prainha onde permanece até aos dias atuais.

2.MÚSICAS E DANÇAS
Músicas e Danças Folclóricas frequentemente estão interligadas pois
algumas formas musicais de instrumentos ou cantos são ritmos ligados a
dança como o carimbo, o maxixe, a ciranda, o xote, o maracatu, o samba, o
lundu, o baião, etc. Assim como outros exemplos de Música como as
modinhas, serestas, as modas da viola e outros.
Nas décadas de 1940, 1950 e 1960 as serenatas eram as grandes
atrações nas noites de luar a principio meu Raimundo Nunes dos Santos e
seus amigos Dimo Dias, Geraldo Dantas, Durval Ribeiro Barbosa e outros
nas noites de luar cantavam e tocavam violão no bar do “Seu Mário
Guimarães”, onde é hoje a Secretaria de Cultura e com o passar dos tempos
na casa do Antonico Alves, da Professora Maria das Dores ou na Praça de
Bandeira em que se reuniam as famílias para dançarem e cantarem ao som
do violão do meu pai Raimundo Nunes dos Santos e do violino de Durval
Ribeiro Barbosa.
Durval Ribeiro Barbosa ( pai de Ophir, Maria Joana, Anete, Djalma e
outros) aprendeu tocar violino por conta própria, uma vez que, naquela
36

época não havia Escolas de Músicas. Era um autodidata assim como meu
pai.
Os anos 1950 e 1960 foram os anos do Jazz e meu tio Bené Nunes foi
o primeiro músico a tocar saxofone, também um autodidata na música e
juntamente com Cirilo Nunes, Antônio Sena e outros formaram a primeira
Banda de Jazz em Curralinho chamada de “ Jazz Favela” tocando as
canções da época como “ Trem das Onze, de Adoniran”, “Ébrio” de Vicente
Celestino, entre outras. Assim também, a primeira Aparelhagem em
Curralinho foi do meu Tio Cirilo Nunes chamada “Madureira.”
Na década de 1970 explode o sucesso da “Banda Master Soung”
formada por Carlito, Alfredo Monteiro ( Perú), Adivan, Morebas, Leo Freitas e
outros. Leônidas de Castro Freitas é um artista Curralinhense de renome.
Compositor e cantor. Autor do Hino Oficial de Curralinho, Hino de São João
Batista, Carimbó de Dom Orione e inúmeras outras canções que enriquecem
o acervo musical de Curralinho.
A Banda Geração 2000 surgiu em 1997 como explosão musical com
ritmos variados, sendo Projeto do empresário Ednaldo Silva Ribeiro e seu
irmão Zaqueu Silva Ribeiro e seus amigos Eliezer Lima, atualmente
tecladista na Banda Willis; Èbio Fernandes; Ronnie Silva; Adivan Gomes,
atualmente toca na Banda da Igreja Assembleia de Deus em Curralinho;
Moroni Costa; Lorena e Drika. Zaqueu da Silva Ribeiro, atual Secretário de
Cultura, continua em sua carreira musical com muito destaque assim como,
a Banda Paulinho Barilow, o Paulo Sérgio Diniz, atual Vice-Prefeito de
Curralinho, grande artista que se destaca em todos os estilos musicais,
possui composições de carimbós e músicas sacras.
Banda Geração 2000
37

A “Semana de Arte” que teve inicio na década de 1990, em Curralinho


marcou época por ter sido um movimento de luz para o resgate, valorização,
conscientização e sensibilização tanto do poder público quanto da
sociedade em geral. Esse resgate trouxe a valorização de ritmos típicos do
povo paraense em especial o marajoara, dentre os quais destacam-se:
A. Dança do Carimbó de origem Tupi Guarani, devido aos
instrumentos usados para dar ritmo e marcação á Dança: CURI (pau oco) +
m’bó (escavado)= CURIMBÓ. Surgiu na Zona do Salgado, gênero musical de
origem indígena que recebeu influencia culturais africanas e europeias,
sendo que sua forma tradicional é acompanhada por instrumentos
confeccionados com troncos de árvores e maracás. Em1950 o Carimbó era
considerado como manifestação folclórica e seus criadores eram habitantes
dos interiores paraenses. A partir de 1970 o Carimbó tornou-se música
urbana com as músicas de Pinduca, Mestre Cupijó, Mestre Verequete e
outros artistas paraenses.
B. A Dança do Siriá é a mais famosa dança de Cametá, segundo os
estudiosos no assunto é uma variante do batuque africano com algumas
mudanças sofridas no decorrer do tempo. Os pesquisadores contam que os
negros africanos iam para o trabalho na lavoura sem alimentos algum e
38

somente a tarde que tinham descanso e era quando podiam caçar e pescar,
mas a noite impedia os negros de irem para a floresta e então iam para as
praias capturar peixes, mas os peixes eram insuficientes para saciar a fome
de todos os negros. E certa tarde quando os negros foram á praia
encontraram centenas de siris e esse fenômeno se repetia todas as tardes e
os negros tiveram a ideia de criar uma dança chamada “Siriá” para
comemorar suas alegrias em ter alimentos para saciar sua fome.
Pedro de La Braga um dos maiores folclorista curralinhense se
destaca com suas canções como “O Crone”, Carimbó, Siriá, entre outras.
Foi um dos incentivadores do Grupo “Cuia Pitinga” e do Grupo de Capoeira
juntamente com seus filhos Nazareno, Jorge, Charlie e outros.
O final do século XX e inicio do século XXI a Cultura Popular
Curralinhense atinge seu apogeu de Grupos Folclóricos e Parafolcloricos
como o “Anhangatuba” criado pela Familia Silva e Cruz, tendo como
responsáveis o casal João Carlos - o Sambudo- e sua esposa Delice; o
Maruarus” criado pelo Paulo Wlliams e sua esposa Betânia, Quadrilhas
como “Feitiço Marajoara” criada pelo Randel Sales, Idimar Chaves, Ednalva
Abatte e outros; Grupo de Capoeira, Grupo da Terceira Idade “Renascer”,
sendo que quem escolheu o nome desse grupo fui eu, dei a sugestão e a
Dona Alda que na época era Primeira Dama do Município e Secretária de
Assistência Social acatou
Atualmente inúmeros Grupos de Quadrilhas em Curralinho, como:
“Feitiço Marajoara” com seus 25 anos de existência tendo na atual
coordenação o Professor Idimar Chaves e sua esposa Ednalva Abatte,
Dhiorlem, Mônica e Aurélia Vaz; “Fúria Junina”, Coreógrafo Markinho
Venicius; “Quadrilha Raízes Junina, Responsáveis Josy e seu esposo Waldo
Costa.

Capitulo III
LINGUAGEM ORAL
A Linguagem Oral ou Popular ou Coloquial é a que se usa em palavras
informais. não exigindo as normas gramaticais que prevalecem na
linguagem culta e em Curralinho devido a expansão tecnológica a
39

Linguagem Oral foi se perdendo no tempo, mas existe beleza e poesia na


linguagem usada por nossos antepassados que muitas vezes citamos para
fortalecer nossa conversa.
Linguagem Oral, pode ser as Adivinhações ou Adivinhas, Parlendas,
Provérbios, Quadrinhas, Piadas ou Anedotas, Literatura de Cordel, Frases
Prontas e Trava Língua.
Adivinhações ou Adivinhas: começam com a tradicional pergunta “o
que é, que é...?” Exemplo:
-O que é, o que é? Dá muitas voltas mas não sai do lugar? Resp: O relógio
-O que é, o que é? Anda com os pés na cabeça? Resp: O piolho
-O que é, o que é? Entra na água e não se molha? Resp: A sombra.
Parlendas: são versinhos com ou sem rimas excelentes para entreter
ou distrair crianças, exemplo:
-“Um, dois, feijão com arroz/ Três, quatro, feijão no prato/ Cinco, seis,
chegou minha vez/ Nove, dez, comer pastéis.
- “Amanhã é domingo, pé de cachimbo/ O cachimbo é de ouro, bate no
touro/ O touro é valente, bate na gente/O buraco é fundo, acabou-se o
mundo”
- “Meia dia, panela no fogo/ Barriga vazia/ Macaco torrado/ Que vem da
Bahia/ Fazendo careta/ Pra Dona Sofia”
Provérbios ou Ditados Populares: são ideias, mensagens que estão
relacionadas com o nosso modo de vida tradicional e sempre sugerem
reflexões, ensinamentos. Exemplos:
- “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
-“Gato escaldado até de água fria tem medo”
-“O pior cego é aquele que não quer ver”
Frases Prontas ou Pára-Choques: são frases de poucas palavras, mas
de significado claro e direto. Exemplo:
-“Mulher deixa o rico sem dinheiro e o pobre sem vergonha”
-“Pobre só vai pra frente quando tropeça”.
-“Se a morte for um descanso, prefiro viver cansado”
Quadrinhas ou Trovas Populares: são criadas pelo povo também
chamadas de poesias populares, compostas de quatro versos, por isso que
40

chama quadrinhas, possuem rimas muitas vezes imperfeitas e escritas


algumas vezes incorretas. Usadas para expressar desejos, reclamações,,
atitudes maliciosas, admirações, sentimentos amorosos. Exemplo:
-“A roseira quando nasce/Toma conta do jardim/ Eu também ando
buscando/ Quem tome conta de mim”.
-Joguei meu capim pro ar/ Caiu no chão, fez um S/Ande por andar/ Meu
coração não te esquece”.
-“As estrelas nascem no céu/ Os peixes nascem no mar/ Eu nasci aqui neste
mundo/ Somente para te amar”.
Trava Língua: como o nome já diz “travar a língua” pois são frases em
que as pessoas tem dificuldades de pronunciar. Pode ser rimado ou não,
mas que possui pronuncia difícil. Exemplo:
-“A aranha arranha a rã. A rã arranha a aranha. Nem a aranha arranha a rã.
Nem a rã arranha a aranha”.
-“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo
respondeu ao tempo que o tempo tem o tempo que o tempo tem”.
-“O pinto pia, a pipa pinga. Pinga a pipa e o pinto pia. Quanto mais o pinto
pia, mais a pipa pinga”.
Literatura de Cordel: é de origem portuguesa sendo gênero
literário feito em versos, linguagem popular, pequenos livros com capas de
xilogravura que ficam pendurados em barbantes ou cordas, por isso que se
chama cordel. O Cordel e o repente são duas manifestações populares e
culturais embora parecidas cada uma possuam suas peculiaridades, pois o
Cordel é uma poesia popular, com traços de oralidade, divulgadas em
folhetos enquanto que o Repente é baseado na poesia falada e improvisada
e geralmente acompanhado de instrumentos musicais.
Em Curralinho no ano de 2001 na Administração de Álvaro Costa e
eu, Maria Nancy Nunes de Matos esteve como Secretária Municipal de
Cultura foi comemorado o Dia da Cultura, 5 de novembro em na Praça da
Bandeira. Grandioso evento, no qual Carmem Pureza e Maria do Socorro
surpreenderam os presentes com trabalhos apresentados como alunas do
Sistema Modular de Ensino –SOME – com Livros de Literatura de Cordel, os
41

mesmos foram inclusos no arquivo da Biblioteca Municipal “Jorge Gomes


de Carvalho” e infelizmente com o passar do tempo foram perdidos
Piadas ou Anedotas ou Causos: pode ser uma história breve
objetivando provocar risos e gargalhadas em quem ouve, sendo direta e
objetiva. São narrativas que possui duplo sentido, com teor sarcástico e
outras. Essas e outras eu ouvia de Meu Pai Raimundo Nunes dos Santos:

Na casa do Patrão
“O patrão dá uma bronca no seu compadre:
-Meu Amigo Zé, não deixe a sua cadelinha entrar em minha casa! Ela está
cheia de pulgas!
No mesmo instante, o compadre Zé olha para a sua cadelinha e diz:
-Teimosa, vê se não entra mais na casa do compadre. Pois está cheia de
pulgas!

Parto Paraense
“Um médico foi fazer o parto de uma paraense e quando o bebê nasceu, deu
bastante palmadas no bebê. A mãe intrigada, perguntou:
-Doutor, porque o senhor está batendo tanto em meu filho? Ele já está
respirando? O médico respondeu:
-Porque ele está tentando roubar meu relógio.

Rapto da Sogra
“O telefone toca e o homem atende. Do outro lado da linha:
-Raptamos a sua sogra. Estamos pedindo cinco mil reais se a quiser de
volta.
E o homem responde:
-Cinco mil reais? Pois eu dou dez mil para ficarem com ela para sempre.
Superstição: é crendice ou crenças populares que a ciência não
explica porque são criadas pelo povo e passam de geração a geração. São
baseadas em tradições populares fazendo com que o supersticioso acredite
em certas ações voluntárias tais como rezas, curas, conjuros, feitiços,
42

maldições, banhos, magias, e outros rituais que podem influenciar na sua


vida de forma positiva ou negativa. O universo dos rios e florestas de
Curralinho são povoado de belezas e magias em que o caboclo ribeirinho se
deleita.
Conhecer algumas superstições que foram muito vivenciadas em
Curralinho amplia o conhecimento do lugar onde vivemos.Como:
Coceiras: coçar a palma da mão esquerda é sinal que irá receber
dinheiro, se for na palma da mão direita, visita está chegando em casa.
Orelha: se a orelha esquerda esquentar de repente, é aviso de que
alguém está falando de você e para parar de arder é bom ir pronunciando os
nomes dfos suspeitos até parar de arder, mas também você poderá morder
o dedo mínimo da mão esquerda e o falso amigo irá morder a própria língua.
São Longuinho: um grande ajudador para encontrar objetos perdidos,
basta dar três pulinhos chamando o nome do Santo.
Gato Preto: existem várias interpretações sobre essa superstição,
sendo que, cruzar com Gato Preto é azar, entrando na casa sinal de dinheiro
chegando, ter gato em casa atrai fortuna, dobrar as patas deixando-as
escondidas sinal de tempestades.
Quebrar espelhos: sinal de sete anos de azar e ficar se olhando em
espelho quebrado pior ainda e nem permitir que duas pessoas se olhem ao
espelho ao mesmo tempo.
Escada: passar por baixo da escada atraí má sorte, atraso de vida. -
Madeira: bater três vezes na madeira afasta o azar.
Vassoura e Sal: para que a visita vá logo embora de casa, põe-se
vassourade pelos pra cima atrás da porta ou põe-se sal no fogo e fecha-se
os ouvidos para não ouvir os estalos.
Pé direito: levantar ou entrar em algum lugar com o pé esquerdo dá
azar.

Simpatias Folclóricas:
também são crendices criadas pelo povo e não possui nenhuma base
cientifica, mas são formas de evitar coisas ruins e atrair coisa boas em suas
43

vidas. Em Curralinho foi muito vivenciada até na década de 1980,


principalmente as simpatias juninas, como:
Para casar rapidinho: pegar uma imagem de santo Antônio e pôr uma
venda nos olhos da imagem e um pedaço de pau na mão direita do santo.
Faca na bananeira: na noite de São João passar fogueira com uma
faca virgem e depois afincar na bananeira, pela manhã ir arrancar a faca e lá
estará o nome da pessoa com quem vai casar ou o óleo da bananeira
formou a primeira letra do pretendente.
Salmo 91 ou Salmo 23: copiar e pregar na porta ou em qualquer outro
lugar que evita má sorte e espanta espíritos ruins.
Arruda: usar uma raminho de arruda na cabelo ou no peito espanta
mau-olhado e inveja.
Para a criança parar de soluçar: pegar um pedaço de algodão molhar
na saliva e por na testa da criança.
Para o cabelo ficar mais forte: na noite de Lula cheia, cortar as pontas
do cabelos e por no tronco da bananeira ou em qualquer árvore que facilite
o crescimento.
A Cultura Popular de Curralinho possui rico acervo, porém a maioria
dorme no tempo do esquecimento ou na memória. Há anos que pesquiso
os Saberes Popular de minha terra e descobri que possuímos mais de 60%
dos saberes e vivencias deixadas pelos Índios da Tribo Cambocas que
habitaram o vale do rio Canaticu e se fixaram no rio Arassacar, onde existe
um dos sambaquis registrado pela Arqueóloga Denise Schan.
É um rico o patrimônio do povo dos rios e florestas curralinhense, e
também se destaca a Medicina Popular, e comprovamos que corpo, alma e
espirito não se separam em nenhum momento e dificilmente se desliga da
religião, por isso que nos tempos passados as enfermidades como
quebranto, cobreiro, mau-olhado, espinhela caída, bucho virado, peito
arrotado, mal de sete dias, doença de barriga, dor de veado, corpo moído,
dor no espinhaço, Maria preta, bode (menstruação), moleira mole, defluxo e
inúmeras outras que necessitava com urgência do benzedor e as suas
receitas populares para a cura.
44

Lembro quando criança e sempre que eu ou meus irmãos estava com


algumas dessas enfermidades, minha mãe chamava o Agripino, grande
benzedor de Curralinho que chegava e trazia um raminho de manjericão ou
arruda, um grande cachimbo e rezava em nossas cabeças: “Nossa Senhora
da Conceição/Fazendo arriação/ das dores latejadas/ Do corpo deste
cristão/Levando pro mar sargado/ Essa constipação/. E depois “receitava”
chá de folhas de limão com um bago de melhoral , pois era “tiro e queda” na
cura da constipação (resfriado).
Observa-se que, os remédios dos benzedores eram sempre á base de
plantas e ervas medicinais. O saber sobre a medicina popular foram práticas
em todas as regiões do Brasil, mas em Curralinho se destaca com mais
intensidade.
Segundo Aguiar (2009) a benzedura além de ser uma expressão de fé
é também fator chave para a questão da saúde, através do conhecimento e
também do manejo de plantas medicinais por elas, existem duas plantas
bem comuns usadas pelos benzedores é a arruda (Ruta graveolens) e o
incenso (Tetradenia riparia) que servem para afastar os males do ambiente.
Até a década de 1980 era comum as mulheres plantarem na frente de
suas casa paneiros de várias plantas e ervas, como arruda, incenso,
cravinho, manjericão, catinga de mulato, erva cidreira, e outras ervas de
influência indígena pode-se comprovar analisando a vida indígena na
antiguidade e como o povo ribeirinho foi imitando.
A tradição do ato de bendizer ou usar plantas e ervas para curar
doenças é bastante antiga, assim como, as parteiras. Minha avó Abigail dizia
que aprendeu com as tias dela, sendo que, ela era uma excelente parteira, a
mesma dizia que ajudou dezenas de crianças a vir ao mundo, assim como a
Dona Apolônia e a Dona Vicência.
A Dona Apolônia além de ser uma excelente parteira é também uma
benzedeira. Sua casa vivia cheia de pessoas em busca de sua sabedoria
com as benzeções e plantas e ervas medicinais para curas de diversas
doenças.
45

Nos tempos atuais a modernidade traz as ervas para fazer chás tudo
em caixinhas, mas que não tem o mesmo sabor dos chás quando feito de
ervas colhidas na natureza ou ainda plantadas por algumas donas de casa.
Assim também os partos feitos por parteiras em Curralinho deu lugar
ao hospital local.

CAPITULO IV
BRINCADEIRAS JOGOS E BRINQUEDOS
Até a década de 1990 vivenciava-se os mais diferentes Jogos,
Brincadeiras e Brinquedos em que a garotada se divertia com os banhos na
Rampa ou quando chovia na biqueira da Igreja Matriz. E havia as
brincadeiras de ruas algumas ainda são vivenciadas nos tempos atuais,
como: “Pular elástico ou corda”, “Pega-pega”, “Telefone sem fio”,
“Amarelinha ou Macaca”, “Esconde-esconde”, “Cabo de Guerra”, “Estátua”
e inúmeras outras brincadeiras eram vivenciadas pelas crianças, assim
como nas escolas e em noites de luar as meninas brincavam “Cantigas de
Roda”, como:
A Barata diz que tem
1.A barata diz que tem sete saias de filó/É mentira da barata que ela
tem é uma só /Rá, rá, rá, Ró,ró,ró ela tem é uma só./A barata diz que tem um
sapato de fivela /É mentira da barata o sapato é da irmã dela /Rá, rá, rá,
Ró,ró,ró o sapato é da irmã dela /A barata diz que tem um anel de formatura
/É mentira da barata ela tem a casca dura /Rá, rá,rá, ró, ró,ró ela tem a casca
dura.
2.A Canoa virou fui deixar ela virar por causa do fulana(nome da
pessoa) / Que não soube remar/ Siri pra cá, siriri pra lá Fulana é velha e
quer se casar (bis) / Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar./ Eu tirava
fulana do fundo do mar Do fundo do mar./ Siri pra cá siriri pra lá Fulana é
velha e quer casar.
3.Esta rua, esta rua tem um bosque/ Que se chama que se chama
Solidão. / Dentro dele, dentro dele mora um anjo/Que roubou, que roubou
meu coração/ Se eu roubei, se roubei teu coração/ É porque tu roubaste o
meu também/ Se eu roubei, se roubei teu coração/ É porque, é porque te
46

quero bem./ Se esta rua, se esta rua fosse minha./ Eu mandava, eu


mandava ladrilhar./ Com pedrinhas, com pedrinhas com brilhantes./ Para
o meu, para o meu amor passar.
Jogos Populares: no decorrer dos tempos vem sendo modificados,
mas possuem suas origens na cultura popular. Podiam ser jogados
individualmente ou em duplas ou grupos. As crianças e adolescentes e
jovens curralinhenses se divertiam com vários tipos de jogos como:
Bolas de Gude ou Petecas: utilizavam bolinhas de vidro coloridas ou
caroços de tucumã, cavando um pequeno buraco no chão para a disputa em
dupla ou trio ou grupo, onde cada um procurava dar um tec (barulho na do
adversário) empurrando para o buraco.
Pipa ou Papagaio ou Cangula: feito de papel de seda colorido, com
varetas de tala de arumã, cola e linha de costura que podiam ser com cerol (
uma mistura de cera e virdro picadinho que daria mais consistência na linha
para as acrobacias no céu.
Pião: nos tempos antigos eram feitos de madeira com ponta de prego
e uma corda enrolada no pião que lançando fazia rodopios por vários
minutos e encantavam as brincadeiras ou faziam disputas entre duplas.
Atualmente os piões são modernos e sofisticados.
Amarelinha: também chamada de Macaca pode se jogar em dupla ou
grupo. Risca-se no chão uma sequencia de duas quadras e dez quadrados
e cada um leva uma numeração de 1 a 10, cada jogador possui uma pedra
que deve acertar na casa dos números em sequencias e ir pulando, com um
e dois pés cada quadra até no final. O jogador não pode pisar no número
que está a pedra, nem nas linhas dos quadrados, no final ganha quem
consegue atingir todos os números e pular sem pisar fora ou na quadra em
que está lançada a pedra.
Queimada: Os participantes são divididos em dois grupos, e delimita-
se o campo da batalha com a mesma distância para cada lado, traçando-se
uma linha no centro chamada de fronteira ou quadra e o jogo consiste em
que cada participante de uma equipe atinja com a bola jogada com as mãos
da linha de fronteira, outro participante da equipe adversária. Quem não
conseguir segurar a bola e for atingido por ela será “queimada”. O
47

participante que conseguir segurar a bola atira, imediatamente tentando


atingir alguém de outro grupo. Vence o jogo o grupo que conseguir
“queimar” o maior número de adversários ou até que “queime” todos.

Brinquedos Populares:
No século XX em Curralinho havia imensas variedades de brinquedos
populares com que as crianças se divertiam. Eram bonecas, carrinhos,
barquinhos, de muriti ou buriti, de madeira, de tala de arumã, de cutacas,
enfim de materiais encontrados na natureza.
-Miriti ou Buriti: nome cientifico Mauritia flexuosa, cresce até uns 30
metros de altura e seu caule varia de 30 a 50 centimetros, espécie que
cresce nas várzeas e terrenos alagados, assim também como em tesos,
produzindo frutos nos meses de janeiro a maio. Seus frutos possuem
polpas saborosas para se comer com farinha, ou suco, vinho para mingau
de farinha ou de arroz. O Miriti ou Buriti possuem várias utilidades desde
seu tronco até suas folhas, da bucha ou fibra conhecida como isopor da
Amazônia com se fazia diversos brinquedos, como bonecos de casais
dançando, barquinhos, cascos com velinhas de papel, bonecas cujos olhos
e bocas eram demarcados com carvão, casinhas, etc.
-Arumã ou Aruman: cujo nome cientifico é Ischnosiphon Ovatus,
também chamado de Bananeirinha-do-mato com os brotos das folhas eram
feitos, apitos, instrumentos musicais, e outros brinquedos.
-Madeira: eram feitos diversos brinquedos de madeira, como barquinhos
feitos de raízes largas de árvores ou sapopemas como se chama, casinhas,
bonecas, etc...

Gastronomia Curralinhense
Comidas: a maioria da gastronomia em Curralinho são de origem
indígenas como camarão e suas variedades, peixes e seus variados pratos,
caramujos, uruás, açaí, carne de diversas caças como tatu, mucura, cuandu,
veado, preguiça, porco, no decorrer dos tempos, mujica de camarão, entre
outras.
48

Bebidas: sucos de açaí, de acerola, de maracujá, de manga, cupuaçu,


caju e inúmeros outros.
Frutas: Curralinho possui rico acervo de frutas naturais como:
pupunha, piquiá ou piqui, umari, uxi, manga por isso é também chamada
como “Terra das Mangueiras”

Considerações Finais
Entre rios, florestas, memórias, linhas e palavras, tecem esse
panorama da Cultura Popular de minha terra natal. Trazendo por meio de
pesquisas e concretizando-as em forma de deste livro, tradições, costumes
e crenças acumuladas durante décadas e décadas, por diferentes indivíduos
e em tempos já passados.
Faz-se necessário “descer” ao mais profundo desses “rios”, pois as
gerações atuais não podem ficar sem conhecer suas próprias raízes,
origens e assim despertar nas mesmas esse olhar para o passado, e acima
de tudo compreender e valorizar as suas memórias pois são elas que
constituem a nossa própria história, escrevendo páginas já passadas,
enriquecendo as páginas do presente e nos deixando grandes expectativas
para as páginas do futuro que muitos curralinhenses ainda escreverão e
assim, esse legado cultural permanecerá tão vivo quanto as memórias que
carrego e tão certo como encher e vazar das marés que banham Curralinho
49

DADOS PESSOAIS DA AUTORA


Maria Nancy Nunes de Matos, nascida no Rio Curupuhu-Canaticu-
Curralinho-Ilha de Marajó-Pará-Brasil no dia 08 de julho de 1953, Filha de
Raimundo Nunes dos Santos e Carmencita da Costa Nunes (falecidos).Neta
de Galdino Nunes e Abigail Carvalho (paternos) e José Clemente e Ramira
Costa (maternos). Viúva, mãe de 5 filhos AdJúnior, Alderlan, Ingrid e Natali
nesta terra e Robert Cézar Imbert Nunes de Silva na eternidade.
FORMAÇÃO:
1-Graduada Licenciatura em Historia- Universidade Vale do Acaraú-UVA-
Conclusão 2007
2-Pós Graduada em Administração Escolar, Supervisão e Orientação-
Uniasselvi-Pós-EaD-Conclusão 2015
3-Mestra em Educação Religiosa-Faculdade Internacional de Teologia-
FAITE- Conclusão 2010
50

4-Mestra em Missiologia – Faculdade Internacional de Teologia-FAITE-


Conclusão 2012
5-Mestranda em Ciências da Educação- Universidade Maria Serrana-
Paraguai-
6-Doutoranda em Teologia com ênfase em Educação Cristã-Faculdade
Internacional de Teologia.
7-Pós-Graduanda em Psicopedagogia Clinico e Institucional- FAVENI-
QUALIFICAÇÕES COMPLEMENTARES

-Capacitação de Discipulados – FATCH-Faculdade Teológica Charisma-


Nova Iguaçu-RJ-28 horas- 2011
-Capacitação de Pregadores- FATCH- Faculdade Teológica Charisma – 24
horas-Nova Iguaçu-RJ-2011.
-Lideranças Eclesiasticas- BBN International- Website: www.bbradio.org- 92
horas – 2011
-Doutrinas Básicas - BBN International- Website: www.bbradio.org- 97 horas
– 2011
-Gestão dos Serviços de Psicopedagogia Clinico e Institucional – realizado
no período de 04 de março de 2013 a 25 de março de 2013 - 40 horas- ESAB -
Escola Superior Aberta do Brasil-
-Psicopedagogia Clinica realizado no período de 04 de março de 2013 a 19
de abril de 2013 - 120 horas – ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil Ltda-
-Prevenção do uso de drogas – Capacitação para Conselheiros e Lideranças
Comunitárias – período de 13 de agosto de 2013 a 13 de novembro de 2013-
120 horas.
-Intervenções Práticas nos distúrbios da Aprendizagem – Plataforma de
Ensino a Distância do Buzzero – período de 30 de maio de 2013 a 19 de
agosto de 2013 – 20 horas.
-Educação Infantil – Cursos 24 horas – Associação Brasileira de Educação á
Distância – 60 horas.
-Supervisão Escolar/Orientação Pedagógica – Cursos Avante – Período de
22 de junho de 2013 a 20 de julho de 2014 – 60 horas.
51

-História do Brasil – Cursos Avante – período de 05 de agosto de 2013 a 04


de setembro de 2013 – 60 horas.
-Noções de Psicologia da Aprendizagem – Cursos prime – 40 horas – 2013.
-Docência da Educação Infantil: Saberes e Práticas – CIED-UFPa- período de
11 a 13 de novembro de 2013 – 24 horas – 2013.
-Gestão de Conflitos – Cursos 24 horas- Associação brasileira de Educação
a Distância – 45 horas – 2015-

REFERENCIAS
-CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 12. ed.
1954.São
-PESAVENTO, Sandra J., Em busca de uma outra história: Imaginando o
imaginário. In: Revista Brasileira de História. nº 29.São Paulo. !995.
-BRONISLAW, BACZKO, Imaginação social. In: Enciclopédia Einaudi.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda. Editôra Portuguesa. 1995.
-RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges, -Folclore. Biblioteca Educação e
Cultura. Ano 1980. Editora: Bloch.
-PAVANI, Keila Macário Pavani. Lendas do Saber. Permacultura e Histórias:
cuidando da Terra e das pessoas. Ed. Insular. 2008.
-FLORES, Moacyr. Colonialismo e missões jesuíticas. Porto Alegre :
Mercado Aberto.
-Disponivel em: https://blog.sympla.com.br/as-8-melhores-marchinhas-de-
carnaval-e-suas-historias > acessado no dia 10 de abril de 2019, ás 21:20
horas.
-ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo :Perspectiva, 1994.
-NEGRÃO, Walter. et alii. Rezas, benzeduras, simpatias. São Paulo, Ed.Três,
sem data. p.413.
-AZEVEDO, Téo. Plantas medicinais, Benzeduras e Simpatias. São Paulo,
Global Editora, 1984. p.172.
-MATOS, -Maria Nancy Nunes de, - Transformações Urbanas no Período da
Belle-Époque-Trabalho de Conclusão de Curso-TCC-UVA-Universidade Vale
do Acaraú-Graduação em História. 2007.
OBS: CONTRA CAPA
52

APOIO CULTURAL
Meu muito e muito obrigada a todos que contribuíram no
patrocínio para que esta obra pudesse ser publicada. Deus
abençoe a todos.

-Prof. Jonas Farias e Familia; -Higino Baratinha


Nogueira(Breves); -Professor Paulo da Silva Paula e Família; -
MaxSaraca Elétrica e Construções; -Empresário Antonio Pontes
e Família; -Prof. Jonessy e esposa Profª Carla Romero; -
Empresário Ednaldo Silva Ribeiro; -Prof. Antonio Coutinho; -
Pres. Colônia Z-37-Assunção Novaes (Cacau)

Você também pode gostar