Bragantinas é uma coleção de poesias baseadas na tradição popular. Não
são apenas o resultado da ocasional inspiração ou imaginação do autor. Elas representam muito mais. São o estudo do folclore sobre danças, usos e diversões, bebidas e manjares, utensílios e trabalhos domésticos, hábitos e costumes, mitos, lendas e estórias da região bragantina, num registro poéticos dos fatos estudados, usando palavras e expressões que marcam todo o sentido popular das narrações. Observem-se os termos grifados, que, é preciso dizer, são rigorosamente empregados, com o seu conteúdo folclórico, aliado, todavia, à maneira própria do autor dizer e registrar. Cada uma dessas páginas guia-se ou completa-se com uma síntese em prosa, com o vocabulário, e, por vezes, com a representação paisagística, desenhos ou fotografias, dando maior ilustração e comprovação aos motivos invocados. É, certamente, uma apresentação nova, completa, verdadeira da tradição, a bailar na alma do povo, que o autor procura registrar, na singeleza do verso com uma documentação séria e exata, preservando do desaparecimento manifestações autênticas da cultura popular. O Autor
NOTAS EXPLICATIVAS
“Felizes os povos ou as comunidades que se apegam ao seu folclore, com o
mesmo ardor com que cultivam a fé, porque, como a Esperança, a Fé e o Folclore devem ser as últimas coisas a morrer no seio do povo. Eis porque esta trindade de sentimento consolidam o amor à terra, à família, à sociedade, e à religião. Este amor à terra deve ser um salutar bairrismo com que as instituições seculares são mantidas, a economia consolidada, a sociedade congregada, a família mantida coesa, o comércio próspero e finalmente o progresso em evolução crescente, caracterizando a civilização. Esta é a cultura que herdamos dos nossos antepassados. È a civilização que se exterioriza evoluindo em hábitos e costumes próprios da comunidade”. (Bordallo da Silva, Armando – Integração Amazônica do Estado do Caité, Revista da Universidade Federal do Pará, 1974) Quando éramos crianças, ouvíamos estórias contadas por alguma tia velha, maravilhados, amedrontados ou simplesmente curiosos. Jamais imaginamos o quanto ficaria em nós e o quanto isso determinaria quem seríamos no futuro. Geralmente esquecemos e só vez por outra lembramos delas, como fantasia infantil, sem dar-lhes a devida importância. São lembranças. Só lembranças. Estórias contadas à luz do lampião ou “do poste de iluminação pública” na esquina da casa de minha madrinha. Parte integrante de minha formação pessoal. Valores ou desvalores, princípio e fonte de minhas “missões” futuras. Antigamente não havia como registrar os fatos históricos. Através de um prato quebrado, um pedaço de vaso ou uma pedra, podemos conhecer hábitos e costumes dos povos antigos. E porque não dizer que é através deles que conhecemos um pouco mais sobre nós mesmos? Não podemos esquecer que cada ser humano que já existiu na terra, de uma forma ou de outra, contribuiu para que sejamos hoje aquilo que somos. Para que o homem fosse à Lua foi preciso que um "homem das cavernas" descobrisse o fogo, a roda, a lança, até chegarmos a ter a tecnologia que temos e que ainda teremos no futuro. Portanto, somos a soma de todas as experiências vividas por todos os nossos ancestrais. O nosso conhecimento é a soma desse conhecimento adquirido, não importa qual, do mais insignificante ao mais destacado nas ciências, nas artes, na política, etc. Por isso é preciso que estejamos atentos pra que essas experiências não se percam no tempo, nem para que seus significados iniciais não sejam esquecidos. Assim, quando alguém derruba uma árvore, talvez até sinta um certo remorso, mas nem lembra porquê. No entanto, essa sabedoria nos era passada através de estórias, as lendas de antigamente, sem que isso fosse dito diretamente. O respeito à natureza nos era ensinado através de "causos”. Isso é só um exemplo. Há muito mais para ler nas entrelinhas dos nossos mitos, das nossas estórias do passado. Uma sabedoria intuitiva e cultivada através dos milênios da nossa civilização. Nós não começamos e terminamos em nós mesmos. Nós somos apenas mais uma gota no oceano da humanidade. Nós somos o passado enriquecido pelas nossas próprias experiências. Aqueles que virão depois de nós, serão mais ricos ainda, pois terão a experiência dos antepassados, mais aquilo que viverão. Apagar o passado é apagar um pedaço de nós mesmos. Eu fiquei assustada quando eu disse à minha filha com 4 anos de idade na época, que em Bragança veríamos a galinha pondo ovos... ela me corrigiu: - Não mamãe, o ovo vem do supermercado! É assustador ver o quanto nós, habitantes das “cidades grandes” nos urbanizamos ao ponto de esquecermos as coisas básicas da vida. Este livro é dedicado particularmente aos jovens que não tiveram a oportunidade de ouvir essas estórias diretamente de pessoas que “viveram” essas experiências. Mariana Tereza Bordallo Ribeiro
SUMÁRIO DIVISÃO DAS POESIAS EM SÉRIES
Série I - Danças usos e diversões:
1. Canção Bragantina 2. Boi – Bumba 3. Marujada 4. Cavalhada 5. Ladainha 6. Xingue – Xingue 7. Tum - tum - pá 8. Bagre 9. Retumbão 10. Paisagem Bragantina
Série II - Bebidas e manjares
1. Açaí 2. Aluá e gengibirra 3. Pirão e chibé
Série III - Utensílios e trabalhos domésticos
1. O ciclo do guarumã - tipiti, paneiro, urupema, tolda, canastra e tupé. 2. Ciclo da palha - cofo e meaçaba 3. Louça de barro - igaçaba e alguidar 4. Cuia
Série IV - Assuntos regionais, hábitos e costumes
1. Roçado e queima 2. A roça do caboclo 3. Vamos mexer farinha 4. Ferra do gado 5. Caranguejo está andando 6. Pescaria de arrasto
Série V - Mitos, lendas e estória
1. Crendice Popular 2. Curupira 3. Lobisomem 4. O boto da cunhã 5. A Cobra – grande 6. A onça e a chuva 7. Frechado de sapo 8. O Urutaí e a coruja 9. O casamento da filha do Maguari.