Você está na página 1de 7

1.

INTRODUÇÃO

Me chamo Larissa Kelly do Nascimento Lima, filha de Claudete do Nascimento e Rui


Guilherme da Silva Lima, nascida em 22 de setembro de 1997 em Belém do Pará de
nacionalidade Brasileira formada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do
Estado do Pará (UEPA).
Minha vida acadêmica começou em 2016, quando ingressei na Universidade do Estado do
Pará no curso de Pedagogia, onde pretendia me formar como professora, mas, não uma
professora qualquer e sim, aquela professora que pudesse fazer a diferença e a emancipação
da população menos favorecida, em especial o povo preto, que tanto é injustiçado,
descriminado e muitas vezes lhes é negado uma educação de qualidade, uma oportunidade de
emprego e o ingresso em uma universidade. Mesmo com algumas políticas afirmativas
conquistadas as mesmas não foram suficiente para pagar todas as dívidas deixadas pelo
período da escravidão, assim como, levar para dentro das instituições de ensino a discussão a
respeito da diversidade e relações étnico-raciais, já que foi sancionada a Lei 10.639 de 9 de
janeiro de 2003, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), para
incluir no currículo da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro
e Afro-brasileira”, tendo em vista, a importância desse diálogo dentro das Instituições de
Ensino Superior (IES), principalmente as de formação docente, onde estão sendo formados os
profissionais que irão atuar diretamente ou indiretamente dentro das escolas, seja na sala de
aula ou na gestão.
A partir dessas perspetivas, as inquietações começaram pelo fato de na grade curricular de
minha graduação não ter disciplinas que nos desse embasamento para a discussão e
conhecimento sobre a História e Cultura Afro e Afro-brasileira, e as que tinha, eram optativas
e em nenhum semestre elas foram escolhidas. Portanto, os profissionais formados sairam da
academia sem nenhuma competência para falar sobre assuntos de cunho étnico-racial nas
salas de aula e irão reproduzir as falas, as histórias os conteúdos que ainda são apresentados
nos livros de História e Geografia (apenas o processo da escravidão).
A partir dessas lacunas comecei a trilhar meus caminhos em busca de conhecimentos para
ajudar nessa realidade não só das pessoas negras, mas na formação cidadã das crianças, já que
devemos falar sobre a diversidade desde a infância, para que no futuro esse cidadão não seja
racista, não segregue as pessoas por conta do tom de pele, ou pela sua condição
socioeconômica e que reconheça que a população nega faz parte da formação da sociedade e a
maioria da mesma é formada pelos pretos.
O primeiro contato na academia com a discussão deste tema, foi na disciplina de Currículo,
onde a professora explanou sobre o currículo e currículo multiculturalista nos explicando que,
para cada ambiente seja ele formal ou não-formal deve ser elaborado um curriculo para que
possa contemplar as necessidades das pessoas que estão neste ambiente, afim de lhes levar
conhecimentos que perpassam o muro da sua realidade, para uma melhor convivência em
sociedade.
O multiculturalismo originou-se exatamente como uma questão educacional ou
curricular. Os grupos culturais subordinados- as mulheres, os negros, as mulheres e
os homens homossexuais- iniciar uma forte crítica aquilo que considerava como o
Cânon literário estético e científico do currículo Universitário tradicional. Eles
caracterizavam esse Cânon como a expressão do privilégio da cultura branca
masculina, europeia, heterossexual. (SILVA.2010.pag 88)

O nosso estudo nesta disciplina se deu pelo conhecimento das diversidades étnico-
culturais,onde esses povos vivem, como é a fonte de economia, quais são seus costumes,
danças, rituais, crenças e tradições, mas, aprofundamos nossos estudos nos processos
educacionais das diferentes etnias: indigenas, quilombolas,ciganos, assentados, ribeirinhos
etc, onde estudamos sobre cada um deles e ficamos responsáveis por criar um curriculo (plano
de aula), e apresentar como aula viva(trazendo para a sala de aula elementos concretos de
cada etnia para discutir e dialogar com as pessoas da turma) o mesmo. Sendo assim,
conseguindo identificar quais são as necessidades de cada etnia, como devemos planejar um
curriculo, que materiais devemos utilizar para que a aula não fique distante da realidade
dessas pessoas, assim como, utilizar os recursos que a comunidade proporciona e adaptar aos
assuntos nos preocupando sempre com o processo de ensino-aprendizagem e uma
aprendizagem significativa como explica Ausebel (1980):
A aprendizagem significativa implica na aquisição de novos conceitos, ou ainda, é
um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com aspecto relevante da
estrutura de conhecimento do indivíduo. Tem respaldado muitos estudos referentes a
aquisição de conceitos na escola e tem na aprendizagem significativa por recepção
seu principal tema.

A aprendizagem significativa é mediante a uma prática onde o aluno é o centro e o professor é


apenas o mediador deste conhecimento levando em consideração a realidade que esse
educando trás, assim colaborando com a teoria como retrata PIMENTA (1996):
Saberes pedagógico podem colaborar com a prática. Sobretudo se forem mobilizados a partir de problemas que a
prática coloca, entendendo, pois a dependência da teoria em relação a prática, pois está lhe é anterior. Essa
anterioridade, no entanto, longe de implicar uma contraposição absoluta em relação á teoria pressupõe uma
íntima vinculação com ela. Do que decorre um primeiro aspecto da prática escolar: o estudo e a investigação
sistemática por parte dos educadores sobre sua própria prática com a contribuição da teoria pedagógica
(PIMENTA, 1996)
Em meio a essas questões participei de um congresso acadêmico o XXIII Fonepe cujo o tema
era: Do sertão para á periferia: caminhos para construir uma educação do povo , em que
discutiamos sobre a educação voltada para a emancipação dos povos menos favorecidos, e
estive presente como ouvinte em uma roda de diálogo cujo o tema era as relações étnico-
raciais nas escolas. Onde colocamos as nossas experiências dentro da sala de aula e na
academia afim de encontrar soluções e esclarecer qualquer dúvida sobre o tema. Essa roda de
conversa foi tão significativo que abriu minha mente para o tema e escrita do meu tcc cujo
tema é: As Relações Étnico-Raciais na Educação Infantil: os saberes dos corpo docente, onde
conseguir enxergar uma necessidade extrema de falar sobre a História e Cultura Afro e Afro-
brasileira desde a educação infantil, e como é necessário que o professor da Educação Básica
esteja apto para abordar esses assuntos, que vão além da história e cultura, mas que trabalha a
auto estima das crianças negras, o se auto aceitar, assim como, fazer com que as crianças
brancas conheçam e reconheçam esses seres humanos, assim, trabalhando o letramento racial
crítico que se baseia na justiça e na luta contra as desigualdades existentes ,pois objetiva
transformar o contexto social ao possibilitar a inclusão social de grupos marginalizados por
meio da “expansão do escopo de identidades sociais em que as pessoas possam se
transformar” (JORDÃO,2002, p. 3).
Voltando para a rotina acadêmica, começaram os estágios obrigatórios, no sétimo semestre
tivemos o estágio em Gestão Escolar, onde fomos lotadas em uma escola para aprendermos
como é a prática do corpo gestionário. No fim do estágio cada grupo teve que aplicar um
projeto de sua preferencia avaliado pela professora supervisora de estágio. No entanto,
estávamos embarcando na temática das Relações Étnico-Raciais e decidimos aplicar um
projeto com essa abordagem, já que a instituição recebia poucos alunos negros, mas, o seu
público alvo eram crianças das periferias próximas a escola, e observamos que esta discussão
é negligenciada por mais que tenha uma lei que a obrigue esse diálogo dentro da instituições,
mas na realidade não vemos essa prática.
A partir dessas observações fiquei instigada em levar um pouco do que a lei exige para as
crianças e docentes, escolhemos a educação infantil (Maternal e Jardim I) para se trabalhar,
pois acreditamos que a emancipação acontece desde a infância. Tendo em vista esse fator no
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), que diz:
Na medida em que se desenvolve e sistematiza conhecimentos relativos á cultura, a criança
constrói noções que favorecem mudanças no seu modo de compreender o mundo,
permitindo que ocorra um processo de confrontação entre suas hipóteses e explicações com
os conhecimentos culturalmente difundidos nas interações com os outros, com os objetivos
e fenômenos e por intermédico da atividade interna e indivicual (RCNEI, 1998, p. 171).

Nosso projeto consistiu nas seguintes etapas: primeiro contamos a história cujo titulo era “O
cabelo de Lelê”, que falava dos ancestrais da Lelê e do por que ela tinha o cabelo cacheado, e
mostrava um pouco da diversidade desse cabelo, partindo disso, montamos um mural com as
crianças onde reproduzimos o cabelo da personagem com a pintura das mãos das crianças,
sempre enfatizando que devemos respeitar as diferenças sejam elas físicas, étnicas,
intelectuais etc. No segundo momento apresentamos para os alunos um vídeo em que
retratava uma das danças, rituais e ritmo musical da Diáspora, com intuito de mostrar a
cultura do povo Afro.
Apliquei também esse projeto juntamente com uma colega da classe em uma escola particular
de Belém, onde levamos algumas informações para os pais, aluno e comunidade escolar sobre
a História e Cultura Afro e Afro-brasileira. Trabalhamos com o conhecimento prévio dos
alunos em relação ao tema, depois apresentamos um pouco da história da África e o quanto a
ancestralidade está presente em nossa sociedade, seja nas característica físicas ou nas
comidas, crenças, danças e rituais. Também fizemos a construção do mural com a pintura das
mãos para a formação do cabelo. A aplicação deste projeto foi mais um vez uma forma de
instigar nos professores e na comunidade escolar a obrigatoriedade de se colocar no currículo
as teorias e as praticas que a lei exige como está explícito na LDB (1994):

Art. 26- Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino


médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de
ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos
educandos.
§ 4º- o ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes
culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes
indígena, africana e europeia.
Art. 26-A- nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos
e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena.
§1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da
história e da cultura que caracteriza a formação da população brasileira, a partir desses
dois grupos étnicos , tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta
dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o
negro e o índio na formação da sociedade nacional, econômica e política, pertinentes a
história do Brasil.
§2º Os conteúdos referentes ahistória e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas
brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
áreas de educação artística e de literatura e história brasileira.
A academia trouxe a oportunidade de conhecermos um Quilombo localizado em Vigia de
Nazaré - Pará, o intuito era fazer uma pesquisa sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA),
porém, os alunos estavam em período de prova e a pesquisa não foi realizada, então partimos
para outro plano, fomos conhecer uma comunidade quilombola, lá tivemos a experiência de
saber um pouco mais sobre os seus ancestrais, os seus costumes, suas práticas, seus rituais e a
econômia. Vimos também como era a produção de farinha a fonte de economia da
comunidade, fizemos uma entrevistas com algumas pessoas com intuito de saber sobre a
educação, onde tivemos a resposta que lá na comunidade eles tinham acesso até a 4ª série e
que depois eles tinham que ir pra cidade para continuar seus estudos, perguntamos também
sobre a religião, e eles nos responderam que a religião que predomina lá é a católica, porém,
existem algumas igrejas evangélicas por lá e sobre a fonte de economia, a que predomina é a
produção de farinha.
Com todas essas experiências tivemos a oportunidade de falar com mais propriedade sobre o
assunto em uma apresentação de seminário mediante a uma disciplina “Educação em
instituições não escolares e ambientes populares” em que levamos a discussão sobre
Movimentos Sociais, em especial o Movimento Negro que , que teve e tem grande
importância em todas as conquistas dos direitos civis e combate ao racismos até aqui
concluídas para a melhor qualidade da população negra. Vimos a necessidade de levar esse
diálogo para a turma, pois, como já foi dito na grade curricular do nosso curso tivemos poucas
disciplinas que nos levasse a essa discussão. Nosso trabalho se deu na seguinte ordem, para
melhor entendimento, primeiro falamos o que seria o Movimento Negro e quais eram seus
objetivos, a partir desse entendimento introduzimos a história do Movimento e seus líderes,
apesar de um quadro ainda muito desfavorável á população negra, apontamos algumas
conquistas como: a criação do Dia da Consciência Negra (20 de novembro), a lei 10.639 que
traz a discussão da história e da cultura afro-brasielira além da valorização dos africanos e
afro-brasileiros nos currículos escolares da rede de ensino, a lei 12.711/2012 que criou as
cotas para o ingresso em cursos superiores aos poucos difundida nas maiores universidades do
país, a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR)
e diversas ações afirmativas de combate á discriminação racial por meio de transformações
culturais e políticas de representatividade, falamos sobre o Movimento Negro no Brasil e nos
Estados Unidos e por fim, fizemos mais uma vez a instigação para a professora presente sobre
ter na grade curricular disciplinas que nos desse conhecimentos sobre estes assuntos e que
elas não sejam disciplinas optativas.
Dessa forma, entendi o quão é necessário o diálogo sobre essas questões desde a infância, não
podemos ocultar dos espaços educacionais a história Afro e Afro-brasileira, já que os mesmos
fizeram e fazem parte da nossa sociedade, assim como, ensinar aos alunos a “transgredir” as
fronteiras raciais afim de alcançar o dom da liberdade como diz Bell Hooks em seu livro
“Ensinando a Transgredir”.
Entendo o quanto é importante pesquisar sobre as Relações Étnico-Raciais para trazer aos
educadores conceitos e práticas para que adotem e coloquem em prática dentro das salas de
aula, e que essas pesquisas sejam fatores de ressignificação para as IES, principalmente
quando se trata da grade curricular dos professores onde essas discussões estão ocultas e
acabam interferindo na formação do sujeito como agente transformador.
REFERÊNCIAS
SILVA, T. T. da. Documentos de Identidade: Uma introdução às teorias do currículo. 3
ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010

AUSUBEL, David P., NOVAK, Joseph D., HANESIAN, Helen. Psicologia educacional.
Tradução Eva Nick. Rio de Janeiro: Interamericana , 1980.
PIMENTA, Selma G. Formação de professores: Saberes da docência e identidade do
professor. Faculdade de Educação. São Paulo, v. 22, n 2. P. 72-89, julho/dezembro 1996.
JORDÃO, C. M. Uma breve história da leitura no século XX, ou de como se podem calar
as nativas. Revista de letras, v. 5, 2002.
HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática de liberdade/ bell
hooks; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. - 2, ed- São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2017.

Você também pode gostar