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em sala de aula.
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Foucault distingue nitidamente o “saber” do “conhecimento”: enquanto o conhecimento corresponde à constituição de
discursos sobre classes de objetos cognocíveis, isto é, à construção de um processo de racionalização, de
identificação e de classificação dos objetos, independentemente do sujeito que o aprende, o saber designa, ao
contrário, o processo pelo qual o sujeito do conhecimento, ao invés de ser fixo, sofre uma modificação durante o
trabalho que ele efetua na atividade de conhecer. (...) O saber está essencialmente ligado à questão do poder (...). Ora,
o poder não pode disciplinar os indivíduos sem produzir igualmente, a partir deles e sobre eles, um discurso de saber
que os objetiva e antecipa toda a experiência de subjetivação. (REVEL, 2005, p. 77-78).
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O grande Mestre Griot de Bandiagara/Mali, responsável pela educação do Griot Hampâté Bâ. Bâ, Amadou Hampâté.
A tradição viva. História Geral da África, Volume I – Metodologia e pré-história da África, 2011, p. 167.
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conhecimentos para os Educadores que atuam e/ou desejam realmente atuar
de forma afrocentrada3, enegrecendo o contexto escolar, como suscitam o
conhecimento e cumprimento de tais ordenamentos jurídico-educacionais –
Decretos, Pareceres e outras orientações congêneres.
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A ideia afrocêntrica refere-se essencialmente à proposta epistemológica do lugar. Tendo sido os africanos deslocados
em termos culturais, psicológicos, econômicos e históricos, é importante que qualquer avaliação de suas condições em
qualquer país seja feita com base em uma localização centrada na África e sua diáspora. Começamos com a visão de
que a afrocentricidade é um tipo de pensamento, prática e perspectiva que percebe os africanos como sujeitos e
agentes de fenômenos atuando sobre a própria imagem cultural e de acordo com seus próprios interesses humanos.
(...) A afrocentricidade é uma questão de localização precisamente porque os africanos vêm atuando na margem da
experiência eurocêntrica. Muito do que estudamos sobre a história, a cultura, a literatura, a linguística, a política ou a
economia africanas foi orquestrado do ponto de vista dos interesses europeus. (Asante, 2009, p. 93).
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Processo de tornar negro, trazer as referências do Movimento Negro, dos conhecimentos ancestrais afrocentrados
acumulados por gerações. O Movimento Feminista Negro utiliza este termo para delinear as ações. Sueli Carneiro
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É importante desde logo esclarecer que não se trata de abolir as
origens europeias da escola da qual todos somos tributários. Com o
enegrecimento da educação se propõe escola em que cada um se
sinta acolhido e integrante, onde as contribuições de todos os povos
para humanidade estejam presentes, não como lista, sequência de
dados e informações, mas como motivos e meios que conduzam ao
conhecimento, compreensão, respeito recíprocos, a uma sociedade
justa e solidária. Quando se realizam pesquisas em Estudos Afro-
brasileiros no campo da Educação, particularmente no da Pedagogia,
tendo em conta raízes africanas, se projeta enegrecer processo e
pensamentos tanto educacionais como científicos. (Idem, p. 41)
destaca que Enegrecer o movimento feminista brasileiro tem significado, concretamente, demarcar e instituir na agenda
do movimento de mulheres o peso que a questão racial tem na configuração, por exemplo, das políticas demográficas,
na caracterização da questão da violência contra a mulher pela introdução do conceito. In: Enegrecer o Feminismo: a
situação da mulher Negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero.
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Surgida no bojo das reflexões do médico, biólogo, matemático e um dos pais da moderna estatística Francis Galton, a
eugenia seria a ciência da “melhoria da raça humana”. Para Galton e seus seguidores, todos os traços constitutivos da
individualidade humana, suas potencialidades e seus desvios estariam depositados na hereditariedade. (...) A eugenia,
como concebia Galton, deveria ter dois focos de ação: a eugenia positiva e a eugenia negativa. No primeiro caso,
Galton propunha que a eugenia tivesse a educação matrimonial como foco: dever-se–ia estimular a união entre casais
com saúde perfeita, capazes de prover tipos eugênicos, através da construção de uma consciência eugênica. A eugenia
negativa, por outro lado, consistiria uma atuação mais direta em “casos perdidos”. Quando indivíduos “degenerados”
fossem localizados, dever-se-ia esterilizá-los a fim de impedi-los de procriar e de gerar, assim, seres que já nasceriam
marcados pelas taras dos pais. (...) Laicizou-se a fé cristã, e a ciência passou a ser a promotora do paraíso, agora
terrestre, ao exortar os “homens de bem” à luta contra a degeneração da raça, óbice ao progresso da nação.
(SILVEIRA, 2005, p. 81-84).
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no mesmo eixo de subserviência, não civilidade e/ou inaptidão intelectual.
Africanos e indígenas são relatados como habitantes de territórios silvícolas,
sociedades não organizadas e pouco evoluídas, que pouco ou nada
contribuíram para a construção da “verdadeira sociedade europeia civilizada”,
modelo de mundo perfeito idealizável. São retratados como tribais em sua
origem e essência, capturáveis em nome de um bem maior evolutivo e, por não
se permitirem “civilizar”, foram condenados aos sortilégios de um futuro
marginal e escravizado. Isto não é um acaso, um fato isolado, mas uma
estratégia de invisibilização na disputa de poder e espaço de ascensão social a
nível mundial e, para tanto, necessita permear vários espaços constitutivos,
que se alternam e se modificam conforme surgem as resistências.
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até, os já conhecidos livros e estudos acadêmicos que enunciam e investigam
tais temáticas. O que muda, na verdade, são as perguntas e curiosidades que
se fazem aos portadores de conhecimento e o que se quer realmente aprender,
desvencilhando-nos da ideia do que faz parte dos conhecimentos “relevantes”
pelos estudos oficiais científicos.
Pensando nestas contribuições históricas, MACHADO (2017) nos
apresenta o poder do pensamento racista que engendra os processos de
invibilização, através do poder militar e/ou do poder de influenciar “pessoas por
meios culturais, religiosos e ideológicos para sua riqueza, globalização e
supremacia mundial” (p. 15), sendo importante pensar que:
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Inventores e Pesquisadores Negros: novos
atores em sala de aula
Apesar de suas reflexões e conhecimentos, sua voz não foi ouvida por
seus companheiros de Revolução Francesa. E como o Conde de Volney,
muitos outros pesquisadores que ousaram, ao longo a história, desvelar o
processo de invisibilização do povo Negro, tiveram o mesmo destino.
Contudo, as pesquisas de MACHADO (2017), reunidas na obra
Gênios da Humanidade: ciência, tecnologia e inovação africana e
afrodescendente, nos apresenta uma série de personalidades, dentre as quais:
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Constantin-François Chasseboeuf de La Giraudais (1757-1820), político, historiador e filósofo francês, adotou o
sobrenome Volney, que criou em homenagem a Voltaire (sendo Volney a contração de Voltaire e Ferney, esse último o
nome da famosa residência do iluminista). Volney tomou parte ativa na Revolução Francesa, e suas ideias liberais
influenciaram até movimentos populares distantes, como a Conjuração Baiana (ou Revolta dos Búzios), de 1798.
(MACHADO, 2017, p. 12).
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MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado
para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 95
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A primeira mulher cientista de que temos notícia foi Merit Ptah, que
viveu no Egito há cerca de 4.700 anos, durante a Idade do Bronze. Muito pouco
se sabe sobre ela, mas foi imortalizada por seu filho, um Sumo-Sacerdote que
inscreveu o seu título de “Médica-Chefe” em uma tumba perto de Saqqara - a
necrópole da antiga capital egípcia de Mênfis, localizada a uns 30 km ao sul da
atual Cairo. É considerada uma cientista egípcia, a primeira médica
registrada no mundo!
No antigo idioma egípcio, Merit Ptah quer dizer “Amada de Ptah”, o
demiurgo de Mênfis, deus dos artesãos e arquitetos.
Nas cidades de Sias e Heliópolis existiam
escolas médicas - ou “Casas da Vida” – Per
Ankh - para mulheres desde 3.000 a.C.. Nestes
locais aprendiam a lidar com doenças
ginecológicas, para assistir o parto e os cuidados
com recém-nascidos. Casa da vida era o nome
dado à instituição existente no Antigo
Egito/Kemeth, dedicada ao ensino no seu nível
mais avançado (como as atuais Faculdades),
funcionando igualmente como Biblioteca, Arquivo
e Oficina de cópia de manuscritos. As Casas da Vida eramdeacessíveis
Trabalho apenas
parto – Saqqara/Mênfis
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MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado
para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 95
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Hesy-Re foi um dentista (o primeiro que se conhece) e escriba
egípcio, que viveu durante a III Dinastia. Ele serviu ao faraó Djoser (que reinou
por volta de 2670 a.C.) e foi sepultado numa tumba que está entre os mais
importantes patrimônios arqueológicos do Egito. Possuía os títulos de Mago de
Mahit (uma das muitas deusas do panteão egípcio), escriba-mor e dentista-
mor. Esse último título é revelador porque mostra que, mesmo no Antigo Egito,
mais de 4.500 anos atrás, já havia distinção clara entre médicos e dentistas.
Em Saqqara, Hesy-Re recebeu túmulo suntuoso, indicando que o
Faraó o tinha em alta conta, sendo seis dos 11 painéis originais de madeira da
tumba se preservado, mostrando desenhos e hieróglifos. Ali podemos vê-lo em
várias posturas e situações, usando diferentes penteados e roupas e
segurando itens diversos.
Para nós, a mais notável ação de Hesy-Re foi ter sido o primeiro
profissional da saúde que se sabe ter especulado sobre o diabetes, tendo
assinalado a micção frequente (que hoje sabemos ser um dos sintomas da
doença). A descrição está no chamado Papiro Ebers, de aproximadamente
1550 a.C.
http://www.uadchicagoblog.com/blog/2016/november/
Implante dentário, amarrado com fios de ouro,
hesy-ra-historys-first-dentist.aspx
encontrado no túmulo de Hery-Re.
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MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado
para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 98-100.
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Sumo-Sacerdote do Deus-Sol Rá, em Heliópolis. É considerado o primeiro
Arquiteto, Engenheiro e Médico da História Antiga, embora dois outros
Médicos - Hesy-Re e Merit-Ptah - tenham sido contemporâneos seus.
A lista de seus títulos é: Chanceler do Rei do Egito, Doutor, primeiro
na linhagem do Rei do Alto Egito, Administrador do Grande Palácio,
Nobre hereditário, Sumo-Sacerdote de Heliópolis, Construtor, Carpinteiro-
Chefe, Escultor-Chefe e Feitor-Chefe de
Vasos.
Imhotep arquitetou a primeira pirâmide
do Egito – a pirâmide de Saqqara, entre 2630-
2611 a.C., com seis enormes degraus e que
atinge aproximadamente 62 metros. É o mais
antigo edifício de pedra do mundo. Ele foi
responsável pelo primeiro uso conhecido de
colunas em arquitetura. Os compartimentos de sepultamento são grandes
realizações da obra de Imhotep em design e engenharia, bem como a estreia
da progressão de inúmeras estruturas complexas, como túneis, necrotérios,
capelas, poços e quartos para ofertas.
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MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 98-100.
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Matemático, astrônomo, autor, relojoeiro e inventor estadunidense
nascido em Ellicott's Mills - próximo ao Patapsco River, Baltimore County -
Maryland - notabilizado por sua prodigiosa memória. Descendente de
africanos, era filho de um escravo com uma negra livre,
Robert e Mary Bannaky. Aprendeu
Literatura, Astronomia, História e
Matemática, através de livros que ele
obtinha emprestados. Desde pequeno
demonstrou grande habilidade
Matemática e cálculos sobre
Astronomia. Construiu um relógio de madeira que
marcava a hora precisa (1753), embora ele só tivesse visto previamente um
relógio de sol e um relógio de bolso: calculou as relações de engrenagem do
relógio e as esculpiu com uma faca de bolso.
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Tornou-se um fazendeiro de tabaco em Maryland, e foi indicado para
integrar a comissão do District of Columbia pelo Presidente George
Washington (1790). Trabalhou com Pierre L'Enfant, Andrew Ellicott e
outros, no projeto da nova capital do país, Washington, D.C. Após L'Enfant
deixar o projeto e levar consigo todas as plantas, foi capaz de reproduzi-los
de memória. Tornou-se Astrônomo autodidata, a nível de predizer um
eclipse solar (1789). Dois anos mais tarde iniciou a publicação do
Pennsylvania, Delaware, Maryland, e Virginia Almanac e Ephemeris (1791-
1802). Nunca se casou e morreu em Baltimore, Md., U.S.A.
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Fonte: MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 109.
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Devido às leis norte-americanas de então (1793-1836), os “nascidos
escravos” e os libertos podiam patentear suas invenções. Entretanto, em 1857,
um proprietário de escravos chamado Oscar Stuart patenteou o “double cotton
scraper”, que foi desenvolvido por seu escravo. Para
Stuart, “o mestre é dono do fruto do trabalho manual
e intelectual do seu escravo”.
Em 1858, o Escritório de Patentes dos
Estados Unidos modificou as leis em resposta à
atitude de Oscar Stuart. Seu raciocínio era de que
escravos não eram cidadãos e, portanto, não podiam
ter Patentes em seu nome. E, em 1861, os Estados
do Norte (no início da Guerra de Secessão),
aprovaram uma Lei de Patentes que dava a todos os
homens americanos, incluindo Negros, os direitos por suas inovações.
Thomas Jennings nasceu em Nova Iorque, tinha 30 anos e trabalhava
como alfaiate quando lhe foi concedido uma Patente para o processo de
lavagem à seco. Ele foi um comerciante livre e administrava seu negócio em
sua cidade natal. Em 1831 tornou-se Secretário-Assistente para a Primeira
Convenção Anual dos Povos de Cor, na Filadélfia. Ele redigiu petições que
advogavam o fim da escravidão.
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Fonte: MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 115.
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no país europeu dos seus pais. Na França, se tornou Egiptologista e, após
terminar seu curso superior em Mecânica na L’Ecole Centrale, em Paris,
ensinou Engenharia Mecânica na mesma Faculdade. Revolucionou a
indústria açucareira inventando um sistema de evaporação de múltiplo efeito no
vácuo para processamento de açúcar
(1830), técnica de conversão do caldo
de cana em cristais brancos do
açúcar.
Os filtros rotativos a vácuo
representaram um grande avanço, bem
como o evaporador de múltiplos efeitos,
que propiciou a evolução na qualidade do
concentrado e na economia de vapor,
tornando-se inventor do refinador de
açúcar.
Depois, retornou para New
Orleans (1840), onde passou a inventar melhoramentos nos processos de
refinamento de açúcar e, após intensivas pesquisas conseguiu sua primeira
patente (1843), sendo seu processo logo adotado pelos produtores de
Louisiana, do México e pelos caribenhos.
Com o aumento do racismo no sul dos Estados Unidos, voltou para a
França (1880) onde continuou seu trabalho de inventor de máquinas a vapor e
de produção de papers sobre o uso deste tipo de propulsor. Voltou a ensinar na
Ecole Centrale, onde também trabalhou no estudo de textos hieroglíficos,
falecendo e sendo enterrado em Paris (1894) sem ter o prazer de ser
reconhecido na França como o criador do processo de evaporação em
múltiplos estágios. Autoria que só seria injustamente reconhecida pela
International Sugar Cane Technologists quarenta
anos depois de sua morte (1934) .
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George Crum (1822 – 1914)13
13
Fonte: MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 119-120.
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tornaram-se um fenômeno internacional através de diversos empresários do
ramo de alimentos em todo o país. Fechou seu restaurante em 1890 e faleceu
em 22 de julho de 1914, com a idade de 92 anos.
14
Fontes: http://blackinventor.com/thomas-elkins/. MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e
afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 123-125.
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Um design de geladeira melhorado foi patenteado por Elkins em 4 de
novembro de 1879. Naquela época, a maneira comum de manter o resfriado
era colocar itens em um grande recipiente e cercá-los com grandes blocos de
gelo. Infelizmente, o gelo
geralmente derretia muito
rapidamente e a comida logo
estragava. A patente de Elkins
era para um armário isolado
em que o gelo era colocado
para esfriar o interior. Como
tal, era um "refrigerador"
apenas no sentido antigo do
termo, que incluía
refrigeradores não mecânicos.
Um fato incomum
sobre a geladeira de Elkins era que também era projetada para preservar
cadáveres humanos em baixas temperaturas.
Uma patente também foi emitida
para Elkins em 22 de fevereiro de 1870:
tratava-se de uma “Mesa de Jantar, mesa
de engomar e moldura combinada" (nº
100.020). A mesa parece ser pouco mais do
que uma mesa dobrável.
Em 1872, outra patente dos EUA foi
emitida para Elkins: um novo artigo de
mobiliário de câmara que ele designou uma
"Câmara Commode" (Patente No. 122.518).
Forneceu uma combinação de "uma mesa,
um espelho, uma cremalheira de livros, um lavatório, uma mesa, uma cadeira
fácil e um armário de terra ou um tamborete de câmara", que de outra forma
poderiam ser construídos como vários artigos separados.
16
Garret Morgan (1877-1963)15
15
Fonte: MACHADO & LORAS. 2017, p. 95-96.
17
Obteve a patente do governo e depois
contratou uma empresa para fabricar as máscaras. O
negócio inicialmente ia bem, ainda mais durante o
período da Primeira Guerra
Mundial, quando o Exército
estadunidense utilizou as
máscaras para combate.
Mas, quando seus clientes
descobriram que ele era
Negro, as vendas
começaram a declinar. Morgan pensou em enganar
seus clientes racistas, inventando um creme que
alisava os cabelos e assim tentar se passar por um
indígena da reserva Walpole do Canadá.
Hoje, bombeiros de todo o mundo salvam
16
http://negrosgeniais.blogspot.com.br/2014/05/john-lee-love-inventor-do-apontador-de.html : MACHADO, Carlos.
Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado para Patrícia Pereira,
em 08/04/2014. p. 154.
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Regencial). Seu pai – filho de uma forra e de um alfaiate português – era um
proeminente Advogado (rábula), Deputado e conselheiro de D. Pedro I. Sua
mãe era filha de comerciante. André e seu irmão Antônio
seguiram em sua primeira viagem à Europa, na verdade
uma viagem de estudos. André Rebouças seguiu a
carreira de Engenheiro, sendo o primeiro Negro a
assumir esta função e um dos maiores do Brasil em sua
época. De 1865 a 1866 serviu como engenheiro na Guerra
do Paraguai. Foi criador das empresas Docas do Rio de
Janeiro, Maranhão, Cabedelo, Recife e Bahia. Escreveu
ainda diversos artigos de cunho técnico, ligados aos
diversos ramos da Engenharia. Durante a Guerra do Paraguai, projeto um
dispositivo explosivo aquático chamado de imersível, o protótipo do que
conhecemos como torpedo.
Com seu irmão Antônio Rebouças, também Engenheiro, foi autor do
projeto da estrada de ferro Antonina-Curitiba – que serviu de base para a
difícil obra do trecho serrano da ferrovia Paranaguá-Curitiba – e também dos
projetos da ponte de ferro sobre o rio Piracicaba e da avenida Beira-Mar,
no Rio de Janeiro. O irmão caçula, José Rebouças, trabalhou na implantação
das linhas ferroviárias que hoje ligam o interior paulista. Na cidade do Rio de
Janeiro, André Rebouças notabilizou-se por ser o primeiro a solucionar o
problema de abastecimento de água com mananciais fora da cidade.
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Foi um dos mais ativos militantes do movimento abolicionista
brasileiro e um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a
Escravidão. Escreveu inúmeros artigos no jornal Gazeta da Tarde, estimulou
a criação de uma Sociedade
Abolicionista na Escola Politécnica,
onde lecionou em 1883, e redigiu com
José do Patrocínio o Manifesto da
Confederação Abolicionista. Ajudou
também a redigir os estatutos da
Central Emancipadora.
Rebouças foi amigo e
admirador de Carlos Gomes e incentivou a carreira do autor de O Guarani na
Europa. Muito amigo de D. Pedro II, já que era monarquista convicto, André
Rebouças acompanhou o Imperador em sua viagem para o exílio. Entre 1889 e
1891, Rebouças permaneceu em Lisboa, trabalhando como correspondente
do jornal The Times, de Londres. Em 1892, arruinado financeiramente (gastou
parte de sua fortuna em favor da abolição da escravatura), aceitou um emprego
em Luanda, Angola. Em 1893, fixou-se na Ilha da Madeira, onde veio a falecer
no dia 9 de maio de 1898.
20
ciências17. E, principalmente, são potenciais personagens e vidas inspiradoras
que afetam positivamente a autoestima de alunos e Professores Negros,
desvelando o falacioso discurso eugenista de que Negros não contribuíram
com nada para a construção de nossa “sociedade civilizada”.
Aliás, é com este tipo de pensamento que, como diz MACHADO, a
história vem usurpando nossos conhecimentos, embranquecendo nossas
invenções, domínios e conquistas, culturas e riqueza, e negando nossa
existência como cidadãos plenos, científica e historicamente.
Dentre estas outras personagens destaco:18:
17
O currículo tornou-se um imperativo para a compreensão dos arranjos engendrados, que reforçam posições a partir
da diferenciação, entre os segmentos sociais. Examinamos os aspectos pedagógicos, considerando a
multidimensionalidade do tema e a força do debate político para conceber resultados de nossa pesquisa.
Argumentamos ser necessário conceber o currículo como esfera de disputa, mas também de diálogos interculturais.
(MIRANDA & RIASCOS, 2012, p. 74).
18
Pesquisas em andamento, em diversos tipos de portadores de conhecimento que, apesar da dificuldade e da
demanda de algumas viagens para acessá-los diretamente, tem se mostrado enriquecedores cientificamente falando.
21
Francisco de Paula Brito (RJ, 02/12/1809 -
05/12/1861), que escrevia sobre o nome de Paula Brito, foi um
editor, jornalista, escritor, poeta, dramaturgo, tradutor e letrista
carioca. Trabalhou em diversas TIPOGRAFIAS e fundou a
"Sociedade Petalógica", que teve como membro ilustre o então
jovem escritor Machado de Assis. Seu jornal, O Homem de Cor (1833),
mudado para O Mulato ou o Homem de Cor; editor ainda
de A Marmota Fluminense, o seu jornalismo Negro em
ação.
Acredito que este tipo de pesquisa - que nos traz tantos personagens
que não aparecem em nossos livros das disciplinas de História, Ciências ou
mesmo nas formações iniciais dos profissionais de Magistério (em todas as
22
Licenciaturas) - é relevante para repensarmos nossos currículos a partir de
uma perspectiva multi e intercultural, que inclua todas as contribuições dos
povos fundantes da nação brasileira.
Para além de “Temas Transversais” ou festividades sazonais
(normalmente restritos a Abril – Índios ou Novembro – Negros), os
conhecimentos preconizados pelo artigo 26-A da LDBEN devem tecer o
arcabouço de todas as disciplinas e áreas de aprendizagens.
As descrições dos conceitos e conhecimentos para a Educação Básica
presentes na nova Base Nacional Curricular Comum/BNCC 2017, já trazem
consigo as possibilidades pedagógicas que incluem tal diversidade cultural,
propondo um diálogo amplo entre estes conhecimentos, um espaço de
etnoconhecimentos ou currículos etnoeducativos.
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Através da boca de Tierno Bokar, o sábio de Bandiagara,
a África dos velhos iniciados avisa o jovem pesquisador:
“Se queres saber quem sou,
Se queres que te ensine o que sei
Deixa um pouco de ser o que tu és
E esquece o que sabes”. (BÂ, 2011, p. 212)
Referências:
24
matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008. (Sankofa: matrizes
africanas da cultura brasileira; 1). P. 205-232.
26