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Inventores e Pesquisadores Negros: Tecnologia e Inovação afrocentrada

em sala de aula.

Ma. Patrícia da S. Pereira


patizao@gmail.com

A escrita é uma coisa, e o saber1, outra. A escrita é a fotografia do


saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no
homem. A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a
conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram,
assim como o baobá já existe em potencial em sua semente.
Tierno Bokar2

Para além da capoeira e folclores: por quê?


O trabalho com ERER – Educação para as Relações Étnico-Raciais
suscita muitas dúvidas, temores e pode levar a alguns equívocos, em especial
quando ainda não possuímos muitos conhecimentos das possibilidades
pedagógicas e da importância de nos aprofundarmos nesta temática. Desde a
sua publicação e implementação, as mudanças trazidas a partir da Lei
10.639/03 no artigo 26-A da LDBEN para a organização das escolas de todo o
país, vem trazendo a necessidade de mudanças nos conteúdos a serem
ensinados, nas metodologias a serem utilizadas e na formação dos
professores, em especial. Há necessidades e obrigatoriedades de

1
Foucault distingue nitidamente o “saber” do “conhecimento”: enquanto o conhecimento corresponde à constituição de
discursos sobre classes de objetos cognocíveis, isto é, à construção de um processo de racionalização, de
identificação e de classificação dos objetos, independentemente do sujeito que o aprende, o saber designa, ao
contrário, o processo pelo qual o sujeito do conhecimento, ao invés de ser fixo, sofre uma modificação durante o
trabalho que ele efetua na atividade de conhecer. (...) O saber está essencialmente ligado à questão do poder (...). Ora,
o poder não pode disciplinar os indivíduos sem produzir igualmente, a partir deles e sobre eles, um discurso de saber
que os objetiva e antecipa toda a experiência de subjetivação. (REVEL, 2005, p. 77-78).
2
O grande Mestre Griot de Bandiagara/Mali, responsável pela educação do Griot Hampâté Bâ. Bâ, Amadou Hampâté.
A tradição viva. História Geral da África, Volume I – Metodologia e pré-história da África, 2011, p. 167.

1
conhecimentos para os Educadores que atuam e/ou desejam realmente atuar
de forma afrocentrada3, enegrecendo o contexto escolar, como suscitam o
conhecimento e cumprimento de tais ordenamentos jurídico-educacionais –
Decretos, Pareceres e outras orientações congêneres.

Tanto a Lei nº 10639/2003 quanto a Lei nº 11645/2008, que


determina a obrigatoriedade do estudo das histórias e culturas dos
povos indígenas nas escolas brasileiras, propõem novos percursos
para a sociedade democrática. Exigem medidas para a superação de
preconceitos contra negros e indígenas, como também contra outros
marginalizados pela sociedade, entre eles, ciganos, caiçaras,
carvoeiros, empobrecidos, homossexuais, idosos, deficientes.
Finalmente, exigem o redimensionamento de critérios para avaliar a
qualidade da educação oferecida, da excelência acadêmica
produzida, assim como das condições materiais, financeiras,
técnicas, humanas para atingi-las. (SILVA, 2010, p. 39).

A mesma autora salienta que, para além do conhecimento científico e


pedagógico, espera-se do professor “comprometimento social”, para muito
além dos processos de escolarização, priorizando para que o “jeito de ser,
viver, pensar dos grupos humanos com suas raízes mais genuínas seja
respeitado e incluído em atividades sistemáticas, da educação infantil ao
ensino superior” (Idem, p. 40). O engajamento faz-se necessário pelos desafios
específicos que serão enfrentados ao iniciarmos tais mudanças, pois toda a
ação que empreende para garantia dos Direitos Humanos fundamentais, a
partir de equidade, gera alguns tipos de reações nem sempre positivas ou
acolhedoras inicialmente, que podem ser superadas a partir dos
conhecimentos que se vai adquirindo e partilhando. Muitas destas tensões
advêm do espaço de disputa social dos conhecimentos e desvelamentos que
estes trazem, quando enegrecemos4 o currículo e seus conteúdos.

3
A ideia afrocêntrica refere-se essencialmente à proposta epistemológica do lugar. Tendo sido os africanos deslocados
em termos culturais, psicológicos, econômicos e históricos, é importante que qualquer avaliação de suas condições em
qualquer país seja feita com base em uma localização centrada na África e sua diáspora. Começamos com a visão de
que a afrocentricidade é um tipo de pensamento, prática e perspectiva que percebe os africanos como sujeitos e
agentes de fenômenos atuando sobre a própria imagem cultural e de acordo com seus próprios interesses humanos.
(...) A afrocentricidade é uma questão de localização precisamente porque os africanos vêm atuando na margem da
experiência eurocêntrica. Muito do que estudamos sobre a história, a cultura, a literatura, a linguística, a política ou a
economia africanas foi orquestrado do ponto de vista dos interesses europeus. (Asante, 2009, p. 93).
4

Processo de tornar negro, trazer as referências do Movimento Negro, dos conhecimentos ancestrais afrocentrados
acumulados por gerações. O Movimento Feminista Negro utiliza este termo para delinear as ações. Sueli Carneiro

2
É importante desde logo esclarecer que não se trata de abolir as
origens europeias da escola da qual todos somos tributários. Com o
enegrecimento da educação se propõe escola em que cada um se
sinta acolhido e integrante, onde as contribuições de todos os povos
para humanidade estejam presentes, não como lista, sequência de
dados e informações, mas como motivos e meios que conduzam ao
conhecimento, compreensão, respeito recíprocos, a uma sociedade
justa e solidária. Quando se realizam pesquisas em Estudos Afro-
brasileiros no campo da Educação, particularmente no da Pedagogia,
tendo em conta raízes africanas, se projeta enegrecer processo e
pensamentos tanto educacionais como científicos. (Idem, p. 41)

Quando iniciei meu processo preparatório para o Mestrado, buscando


argumentos e subsídios para construir meu projeto, encontrei um professor na
web que divulgava suas pesquisas na área de História da Educação de Negros
e Negras no Brasil e no mundo: Carlos Eduardo Dias Machado. Através de
suas pesquisas, escreveu um e-book lançado em 2013, e que tornou-se um
excelente livro lançado em 2017. Com uma escrita acessível e instigante, a
obra me despertou a curiosidade acerca do processo mais amplo da Educação
dos Negros - para além das proibições legais e impeditivos que nossa
sociedade criou historicamente, e dos constantes processos de apagamento da
memória a partir da cultura eugenista5 - que resultou em invenções, ciências,
participação política ou social, das quais jamais havia ouvido falar durante o
processo de escolarização ou formação pedagógica inicial.
Se observarmos os livros didáticos de qualquer ano/série, em especial
da área de sócio-histórica e literatura da Educação Básica, as personagens
não-brancas (negros e indígenas em especial) e suas histórias giram sempre

destaca que Enegrecer o movimento feminista brasileiro tem significado, concretamente, demarcar e instituir na agenda
do movimento de mulheres o peso que a questão racial tem na configuração, por exemplo, das políticas demográficas,
na caracterização da questão da violência contra a mulher pela introdução do conceito. In: Enegrecer o Feminismo: a
situação da mulher Negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero.

5
Surgida no bojo das reflexões do médico, biólogo, matemático e um dos pais da moderna estatística Francis Galton, a
eugenia seria a ciência da “melhoria da raça humana”. Para Galton e seus seguidores, todos os traços constitutivos da
individualidade humana, suas potencialidades e seus desvios estariam depositados na hereditariedade. (...) A eugenia,
como concebia Galton, deveria ter dois focos de ação: a eugenia positiva e a eugenia negativa. No primeiro caso,
Galton propunha que a eugenia tivesse a educação matrimonial como foco: dever-se–ia estimular a união entre casais
com saúde perfeita, capazes de prover tipos eugênicos, através da construção de uma consciência eugênica. A eugenia
negativa, por outro lado, consistiria uma atuação mais direta em “casos perdidos”. Quando indivíduos “degenerados”
fossem localizados, dever-se-ia esterilizá-los a fim de impedi-los de procriar e de gerar, assim, seres que já nasceriam
marcados pelas taras dos pais. (...) Laicizou-se a fé cristã, e a ciência passou a ser a promotora do paraíso, agora
terrestre, ao exortar os “homens de bem” à luta contra a degeneração da raça, óbice ao progresso da nação.
(SILVEIRA, 2005, p. 81-84).

3
no mesmo eixo de subserviência, não civilidade e/ou inaptidão intelectual.
Africanos e indígenas são relatados como habitantes de territórios silvícolas,
sociedades não organizadas e pouco evoluídas, que pouco ou nada
contribuíram para a construção da “verdadeira sociedade europeia civilizada”,
modelo de mundo perfeito idealizável. São retratados como tribais em sua
origem e essência, capturáveis em nome de um bem maior evolutivo e, por não
se permitirem “civilizar”, foram condenados aos sortilégios de um futuro
marginal e escravizado. Isto não é um acaso, um fato isolado, mas uma
estratégia de invisibilização na disputa de poder e espaço de ascensão social a
nível mundial e, para tanto, necessita permear vários espaços constitutivos,
que se alternam e se modificam conforme surgem as resistências.

Nós, descendentes dos antigos escravos, sempre estivemos visíveis


para nossos pares, para gente de nossa gente. Procedimentos de
invisibilidade, no entanto, não permitiram que fôssemos notados por
parte da elite dominante. Não por atos de magia que nos
escondessem, mas, e principalmente, porque era impossível que
essa elite nos visse sem que os preconceituosos se desvestissem de
sua arrogância e adentrassem pelos caminhos da oralidade; dos
grupos de capoeira; dos terreiros de candomblé; dos desvãos dos
morros que cercam a cidade; dos roçados das vilas interioranas; dos
currais das fazendas de gado; da vigilância de edifícios públicos; do
cais do porto; dos saveiros e barcos de pescaria; do samba de roda;
das docas do porto de Ilhéus; da varredura e limpeza das ruas da
cidade; das cozinhas dos que nos tomaram como empregados
domésticos. Procedimentos de invisibilidade impediram que fôssemos
escolarizados e quando, tempos depois, nos deixaram chegar perto
dos prédios escolares, foi na condição de serventes, vigias e
porteiros. Evidentemente, houve negros e negras que, apesar de todo
um contexto de adversidade, conseguiram se estabelecer na
sociedade mais ampla. Isso, no entanto, nunca se constituiu uma
regra geral. (PÓVOAS, 2012, p. 43-44)

Mas, se não estamos nos livros didáticos, onde encontramos tais


conhecimentos?
As fontes, de acordo com cada tipo de pesquisa e pesquisador, podem
variar muito: desde arquivos históricos, museus virtuais, registros de Patentes,
achados arqueológicos, livros antigos e pouco divulgados, registros e
documentos diocesanos, monumentos em ruas, registros de diálogos com os
Mestres de Saberes Ancestrais (Griot’s, Pajés, sábios, líderes espirituais) e,

4
até, os já conhecidos livros e estudos acadêmicos que enunciam e investigam
tais temáticas. O que muda, na verdade, são as perguntas e curiosidades que
se fazem aos portadores de conhecimento e o que se quer realmente aprender,
desvencilhando-nos da ideia do que faz parte dos conhecimentos “relevantes”
pelos estudos oficiais científicos.
Pensando nestas contribuições históricas, MACHADO (2017) nos
apresenta o poder do pensamento racista que engendra os processos de
invibilização, através do poder militar e/ou do poder de influenciar “pessoas por
meios culturais, religiosos e ideológicos para sua riqueza, globalização e
supremacia mundial” (p. 15), sendo importante pensar que:

Ao tratarmos da importância de uma produção científica africana e


afrodescendente ocultada há séculos, devemos levar em
consideração que os esforços a empreender para ampliar o acesso
dos negros aos ambientes de produção científica brasileira – hoje
ocupados majoritariamente por brancos e asiáticos – vão além da
simples preparação profissional para atender às demandas materiais
desse segmento no contexto da atual sociedade tecnológica.
O mais importante é que a atuação nesse campo de conhecimento
impactará significativamente no imaginário e na autoimagem da
população negra, na medida em que possibilitará a seus membros
identificar-se e ser identificados como pessoas criativas, capazes de
produzir conhecimentos considerados relevantes para a humanidade,
para além de áreas tradicionais como música, dança e esporte.
Para melhor compreensão daquilo de que estamos falando, temos
que trazer à tona o fato de que a exploração da escravidão dos
africanos e dos nativos das Américas – iniciada pelos cristãos
portugueses no século XV – construiu um sistema de privilégio para
os homens e mulheres brancos no Brasil e no mundo. (Ibidem)

A ideia aqui é poder oferecer aos nossos alunos (nas escolas)


conhecimentos produzidos por nossos ancestrais em África ou deste lado do
Atlântico, para a elaboração de aulas de cunho científico-acadêmico e histórico,
mostrando que a evolução de várias ciências, ao longo de nossa história, tem a
mão negra como base de sua construção. Assim, nossos currículos podem ser
qualificados e diversificados com atividades para além das Rodas de Capoeiras
ou máscaras/pinturas folclóricas, que são importantes, mas limitam as ações
no espectro do exótico e diferenciado.

5
Inventores e Pesquisadores Negros: novos
atores em sala de aula

No ano de 1787, depois de verificar todas as


evidências africanas no Egito antigo, o filósofo, historiador
e político branco francês Conde Constantine de Volney
(1757-1820)6 escreveu:

“Basta pensar que essa raça de homens negros, hoje nossos


escravos e objeto de nosso desprezo, é a mesma raça à qual
devemos nossas artes, ciências e, até mesmo, o uso do discurso!
Imaginem que estamos no meio de pessoas que se dizem os maiores
amigos da liberdade e da humanidade, e que aprovaram a escravidão
mais bárbara, e questionando se os homens negros têm o mesmo
tipo de inteligência que os brancos.”

Apesar de suas reflexões e conhecimentos, sua voz não foi ouvida por
seus companheiros de Revolução Francesa. E como o Conde de Volney,
muitos outros pesquisadores que ousaram, ao longo a história, desvelar o
processo de invisibilização do povo Negro, tiveram o mesmo destino.
Contudo, as pesquisas de MACHADO (2017), reunidas na obra
Gênios da Humanidade: ciência, tecnologia e inovação africana e
afrodescendente, nos apresenta uma série de personalidades, dentre as quais:
:

Merit Ptah (c. 2700 a.C.) 7

“O Egito tratou suas mulheres melhor do que qualquer outra das


grandes civilizações do mundo antigo”. James C. Thompson

6
Constantin-François Chasseboeuf de La Giraudais (1757-1820), político, historiador e filósofo francês, adotou o
sobrenome Volney, que criou em homenagem a Voltaire (sendo Volney a contração de Voltaire e Ferney, esse último o
nome da famosa residência do iluminista). Volney tomou parte ativa na Revolução Francesa, e suas ideias liberais
influenciaram até movimentos populares distantes, como a Conjuração Baiana (ou Revolta dos Búzios), de 1798.
(MACHADO, 2017, p. 12).
7
MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado
para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 95

6
A primeira mulher cientista de que temos notícia foi Merit Ptah, que
viveu no Egito há cerca de 4.700 anos, durante a Idade do Bronze. Muito pouco
se sabe sobre ela, mas foi imortalizada por seu filho, um Sumo-Sacerdote que
inscreveu o seu título de “Médica-Chefe” em uma tumba perto de Saqqara - a
necrópole da antiga capital egípcia de Mênfis, localizada a uns 30 km ao sul da
atual Cairo. É considerada uma cientista egípcia, a primeira médica
registrada no mundo!
No antigo idioma egípcio, Merit Ptah quer dizer “Amada de Ptah”, o
demiurgo de Mênfis, deus dos artesãos e arquitetos.
Nas cidades de Sias e Heliópolis existiam
escolas médicas - ou “Casas da Vida” – Per
Ankh - para mulheres desde 3.000 a.C.. Nestes
locais aprendiam a lidar com doenças
ginecológicas, para assistir o parto e os cuidados
com recém-nascidos. Casa da vida era o nome
dado à instituição existente no Antigo
Egito/Kemeth, dedicada ao ensino no seu nível
mais avançado (como as atuais Faculdades),
funcionando igualmente como Biblioteca, Arquivo
e Oficina de cópia de manuscritos. As Casas da Vida eramdeacessíveis
Trabalho apenas
parto – Saqqara/Mênfis

aos Escribas e aos Sacerdotes!


O acesso das antigas egípcias ao conhecimento formal (não apenas
Médico-Sanitário) foi algo que só milênios depois
seria comum em outras partes do mundo, inclusive
na Grécia que é tida como o berço da Medicina.

Hesy-Re (c. 2700 a.C.)8

8
MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado
para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 95

7
Hesy-Re foi um dentista (o primeiro que se conhece) e escriba
egípcio, que viveu durante a III Dinastia. Ele serviu ao faraó Djoser (que reinou
por volta de 2670 a.C.) e foi sepultado numa tumba que está entre os mais
importantes patrimônios arqueológicos do Egito. Possuía os títulos de Mago de
Mahit (uma das muitas deusas do panteão egípcio), escriba-mor e dentista-
mor. Esse último título é revelador porque mostra que, mesmo no Antigo Egito,
mais de 4.500 anos atrás, já havia distinção clara entre médicos e dentistas.
Em Saqqara, Hesy-Re recebeu túmulo suntuoso, indicando que o
Faraó o tinha em alta conta, sendo seis dos 11 painéis originais de madeira da
tumba se preservado, mostrando desenhos e hieróglifos. Ali podemos vê-lo em
várias posturas e situações, usando diferentes penteados e roupas e
segurando itens diversos.
Para nós, a mais notável ação de Hesy-Re foi ter sido o primeiro
profissional da saúde que se sabe ter especulado sobre o diabetes, tendo
assinalado a micção frequente (que hoje sabemos ser um dos sintomas da
doença). A descrição está no chamado Papiro Ebers, de aproximadamente
1550 a.C.

http://www.uadchicagoblog.com/blog/2016/november/
Implante dentário, amarrado com fios de ouro,
hesy-ra-historys-first-dentist.aspx
encontrado no túmulo de Hery-Re.

Imhotep (c. 2655-2600 a.C.)9

Imhotep, em egípcio antigo, significa “aquele que


veio em paz”. Foi cientista que serviu ao Faraó Djoser, na
III Dinastia, na função de Vizir (Chanceler do Faraó) e

9
MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado
para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 98-100.

8
Sumo-Sacerdote do Deus-Sol Rá, em Heliópolis. É considerado o primeiro
Arquiteto, Engenheiro e Médico da História Antiga, embora dois outros
Médicos - Hesy-Re e Merit-Ptah - tenham sido contemporâneos seus.
A lista de seus títulos é: Chanceler do Rei do Egito, Doutor, primeiro
na linhagem do Rei do Alto Egito, Administrador do Grande Palácio,
Nobre hereditário, Sumo-Sacerdote de Heliópolis, Construtor, Carpinteiro-
Chefe, Escultor-Chefe e Feitor-Chefe de
Vasos.
Imhotep arquitetou a primeira pirâmide
do Egito – a pirâmide de Saqqara, entre 2630-
2611 a.C., com seis enormes degraus e que
atinge aproximadamente 62 metros. É o mais
antigo edifício de pedra do mundo. Ele foi
responsável pelo primeiro uso conhecido de
colunas em arquitetura. Os compartimentos de sepultamento são grandes
realizações da obra de Imhotep em design e engenharia, bem como a estreia
da progressão de inúmeras estruturas complexas, como túneis, necrotérios,
capelas, poços e quartos para ofertas.

“Em sabedoria sacerdotal, na magia, na formulação de


provérbios sábios, na medicina e na arquitetura; esta
figura notável do reinado de Djoser deixou uma
reputação notável, que o seu nome nunca será
esquecido. Ele era o espírito patrono dos escribas que
o precederam, a quem regularmente fazia uma libação
de águia antes de começarem o seu trabalho”. James
Henry Breasted, doutor em egiptologia estadunidense.
“Foi Imhotep”, diz o médico canadense Sir William
Osler, o verdadeiro “Pai da Medicina” e “a primeira
figura de um médico que se destacou claramente das
névoas da antiguidade”. (MACHADO, 2013, p. 98-
100).

Benjamin Banneker (1731-1806)10

10
MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 98-100.

9
Matemático, astrônomo, autor, relojoeiro e inventor estadunidense
nascido em Ellicott's Mills - próximo ao Patapsco River, Baltimore County -
Maryland - notabilizado por sua prodigiosa memória. Descendente de
africanos, era filho de um escravo com uma negra livre,
Robert e Mary Bannaky. Aprendeu
Literatura, Astronomia, História e
Matemática, através de livros que ele
obtinha emprestados. Desde pequeno
demonstrou grande habilidade
Matemática e cálculos sobre
Astronomia. Construiu um relógio de madeira que
marcava a hora precisa (1753), embora ele só tivesse visto previamente um
relógio de sol e um relógio de bolso: calculou as relações de engrenagem do
relógio e as esculpiu com uma faca de bolso.

10
Tornou-se um fazendeiro de tabaco em Maryland, e foi indicado para
integrar a comissão do District of Columbia pelo Presidente George
Washington (1790). Trabalhou com Pierre L'Enfant, Andrew Ellicott e
outros, no projeto da nova capital do país, Washington, D.C. Após L'Enfant
deixar o projeto e levar consigo todas as plantas, foi capaz de reproduzi-los
de memória. Tornou-se Astrônomo autodidata, a nível de predizer um
eclipse solar (1789). Dois anos mais tarde iniciou a publicação do
Pennsylvania, Delaware, Maryland, e Virginia Almanac e Ephemeris (1791-
1802). Nunca se casou e morreu em Baltimore, Md., U.S.A.

Thomas Jennings (1791 – 1859)11

Thomas L. Jennings (abolicionista, alfaiate, comerciante e inventor)


foi o primeiro afro-americano a receber uma patente sobre seu invento, no
dia 03 de Março de 1821 (nº 3306x). Sua patente era um processo de lavagem
a seco chamado limpador a seco (dry scouring). Seu primeiro dinheiro ganho
com o registro foi usado para pagar a alforria para libertar sua família da
escravidão e auxiliar a causa abolicionista. O problema é que o método que ele
usava se perdeu na história com o registro de sua
patente, que foi destruído em um incêndio em 1836.

11
Fonte: MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 109.

11
Devido às leis norte-americanas de então (1793-1836), os “nascidos
escravos” e os libertos podiam patentear suas invenções. Entretanto, em 1857,
um proprietário de escravos chamado Oscar Stuart patenteou o “double cotton
scraper”, que foi desenvolvido por seu escravo. Para
Stuart, “o mestre é dono do fruto do trabalho manual
e intelectual do seu escravo”.
Em 1858, o Escritório de Patentes dos
Estados Unidos modificou as leis em resposta à
atitude de Oscar Stuart. Seu raciocínio era de que
escravos não eram cidadãos e, portanto, não podiam
ter Patentes em seu nome. E, em 1861, os Estados
do Norte (no início da Guerra de Secessão),
aprovaram uma Lei de Patentes que dava a todos os
homens americanos, incluindo Negros, os direitos por suas inovações.
Thomas Jennings nasceu em Nova Iorque, tinha 30 anos e trabalhava
como alfaiate quando lhe foi concedido uma Patente para o processo de
lavagem à seco. Ele foi um comerciante livre e administrava seu negócio em
sua cidade natal. Em 1831 tornou-se Secretário-Assistente para a Primeira
Convenção Anual dos Povos de Cor, na Filadélfia. Ele redigiu petições que
advogavam o fim da escravidão.

Norbert Rillieux (1806 – 1894)12

Cientista africano-americano, que nasceu


livre em New Orleans, filho de um Engenheiro e
agricultor nascido na França, e de um ex-escrava. Foi
educado nas escolas católicas de Louisiana e, por
causa de leis discriminatórias, foi enviado pelos pais para estudar Engenharia

12
Fonte: MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 115.

12
no país europeu dos seus pais. Na França, se tornou Egiptologista e, após
terminar seu curso superior em Mecânica na L’Ecole Centrale, em Paris,
ensinou Engenharia Mecânica na mesma Faculdade. Revolucionou a
indústria açucareira inventando um sistema de evaporação de múltiplo efeito no
vácuo para processamento de açúcar
(1830), técnica de conversão do caldo
de cana em cristais brancos do
açúcar.
Os filtros rotativos a vácuo
representaram um grande avanço, bem
como o evaporador de múltiplos efeitos,
que propiciou a evolução na qualidade do
concentrado e na economia de vapor,
tornando-se inventor do refinador de
açúcar.
Depois, retornou para New
Orleans (1840), onde passou a inventar melhoramentos nos processos de
refinamento de açúcar e, após intensivas pesquisas conseguiu sua primeira
patente (1843), sendo seu processo logo adotado pelos produtores de
Louisiana, do México e pelos caribenhos.
Com o aumento do racismo no sul dos Estados Unidos, voltou para a
França (1880) onde continuou seu trabalho de inventor de máquinas a vapor e
de produção de papers sobre o uso deste tipo de propulsor. Voltou a ensinar na
Ecole Centrale, onde também trabalhou no estudo de textos hieroglíficos,
falecendo e sendo enterrado em Paris (1894) sem ter o prazer de ser
reconhecido na França como o criador do processo de evaporação em
múltiplos estágios. Autoria que só seria injustamente reconhecida pela
International Sugar Cane Technologists quarenta
anos depois de sua morte (1934) .

13
George Crum (1822 – 1914)13

George Crum Speck nasceu em 1822, em Lago de Saratoga, Nova


Iorque, filho de um pai africano-americano e mãe nativa-americana da
nação Huron. Profissionalmente adotou o nome “Crum”, mesmo nome que seu
pai usou em sua carreira como jóquei. Quando jovem, trabalhou como guia de
montanhas e como comerciante. Com o tempo, percebeu que possuía um
talento excepcional para as artes culinárias.
No verão de 1853 estava trabalhando como cozinheiro no elegante
Saratoga Springs, onde as batatas fritas eram as favoritas do cardápio. Esta
preparação, em que as batatas são cortadas
longitudinalmente, levemente frito e comido com um
garfo, se tornaram populares a partir de 1700.
Reza a história que sua irmã Kate, que
trabalhava com ele, ficou agitada quando um cliente VIP mandou suas batatas
fritas de volta para a cozinha, reclamando que elas foram cortadas muito
grossas. Crum, que era um pouco genioso e, às vezes, sarcástico, reagiu
cortando as batatas tão finas quanto podia, fritou e enviou os chips
crocantes para o prato do cliente.
A reação foi inesperada: o cliente amou as batatas fritas!
Posteriormente, outros clientes começaram a pedir o prato e o “Saratoga
Chips” de Crum tornou-se um dos itens mais populares.
Em 1860, Crum abriu seu próprio
restaurante perto de Saratoga, onde
atendia a uma clientela luxuosa. Uma das
atrações era uma cesta de batatas fritas
colocada em casa mesa.
Crum nunca patenteou ou tentou
divulgar sua batata frita. No entanto, elas

13
Fonte: MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess.
Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 119-120.

14
tornaram-se um fenômeno internacional através de diversos empresários do
ramo de alimentos em todo o país. Fechou seu restaurante em 1890 e faleceu
em 22 de julho de 1914, com a idade de 92 anos.

THOMAS ELKINS (1832-1914)14

Thomas Elkins, um inventor africano-americano, era Farmacêutico e


membro respeitado da comunidade Albany, estado de Nova Iorque.
Abolicionista, Elkins foi o secretário do Comitê de
Vigilância. À medida que a década de 1830 chegou ao
fim e a década da década de 1840 começou, as
Comissões de Cidadãos foram formadas em todo o
norte com a intenção de proteger os escravos fugitivos
da re-escravização, fornecendo assistência jurídica,
comida, roupas, dinheiro, às vezes emprego e abrigo
temporário aos fugitivos assistidos para abrir caminho à liberdade.

14
Fontes: http://blackinventor.com/thomas-elkins/. MACHADO, Carlos. Ciência, tecnologia e inovação africana e
afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado para Patrícia Pereira, em 08/04/2014. p. 123-125.

15
Um design de geladeira melhorado foi patenteado por Elkins em 4 de
novembro de 1879. Naquela época, a maneira comum de manter o resfriado
era colocar itens em um grande recipiente e cercá-los com grandes blocos de
gelo. Infelizmente, o gelo
geralmente derretia muito
rapidamente e a comida logo
estragava. A patente de Elkins
era para um armário isolado
em que o gelo era colocado
para esfriar o interior. Como
tal, era um "refrigerador"
apenas no sentido antigo do
termo, que incluía
refrigeradores não mecânicos.
Um fato incomum
sobre a geladeira de Elkins era que também era projetada para preservar
cadáveres humanos em baixas temperaturas.
Uma patente também foi emitida
para Elkins em 22 de fevereiro de 1870:
tratava-se de uma “Mesa de Jantar, mesa
de engomar e moldura combinada" (nº
100.020). A mesa parece ser pouco mais do
que uma mesa dobrável.
Em 1872, outra patente dos EUA foi
emitida para Elkins: um novo artigo de
mobiliário de câmara que ele designou uma
"Câmara Commode" (Patente No. 122.518).
Forneceu uma combinação de "uma mesa,
um espelho, uma cremalheira de livros, um lavatório, uma mesa, uma cadeira
fácil e um armário de terra ou um tamborete de câmara", que de outra forma
poderiam ser construídos como vários artigos separados.

16
Garret Morgan (1877-1963)15

Garret August Morgan nasceu em paris –


Kentucky/EUA, em 4 de Março de 1877. Morgan era o 7º
filho de 11 irmãos e teve apenas uma educação escolar
elementar, mas era extremamente inteligente. Começou a
trabalhar como técnico de máquinas de costura e
rapidamente inventou um sistema para aperfeiçoá-las.
Vendeu seu sistema em 1901 por menos de cinquenta
dólares.
Inventou a primeira máscara de gás em 1912,
quando ele, seu irmão e vários voluntários foram resgatar um grupo de 24
homens presos num túnel ainda em construção, numa explosão com grandes
colunas de fumaça embaixo do lago Erie: testaram o equipamento e, após este
heroico salvamento, Morgan recebeu uma medalha de ouro da cidade de
Cleveland – Ohio e da Segunda Exposição Internacional de Segurança e
Saneamento de Nova Iorque em 1914.

15
Fonte: MACHADO & LORAS. 2017, p. 95-96.

17
Obteve a patente do governo e depois
contratou uma empresa para fabricar as máscaras. O
negócio inicialmente ia bem, ainda mais durante o
período da Primeira Guerra
Mundial, quando o Exército
estadunidense utilizou as
máscaras para combate.
Mas, quando seus clientes
descobriram que ele era
Negro, as vendas
começaram a declinar. Morgan pensou em enganar
seus clientes racistas, inventando um creme que
alisava os cabelos e assim tentar se passar por um
indígena da reserva Walpole do Canadá.
Hoje, bombeiros de todo o mundo salvam

inúmeras vidas quando precisam entrar em edifícios


incendiados e envoltos em densas colunas de fumaça e fogo
graças à utilização desta invenção. Um dos seus inventos
mais importantes foi o semáforo, pois na sua época os
automóveis competiam com carruagens e bicicletas. O
invento de Morgan consistia de manivelas elétricas que
giravam os braços e indicavam o fluxo do tráfego e a
obrigação de parar no sinal vermelho. (1914)

André Rebouças (1838-1898)16

André Pinto Rebouças nasceu na Bahia – cidade de Cachoeira, em


13/01/1838, no período da Sabinada (insurreição baiana ocorrida no Período

16
http://negrosgeniais.blogspot.com.br/2014/05/john-lee-love-inventor-do-apontador-de.html : MACHADO, Carlos.
Ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. E-book: Ed. Bookess. Licenciado para Patrícia Pereira,
em 08/04/2014. p. 154.

18
Regencial). Seu pai – filho de uma forra e de um alfaiate português – era um
proeminente Advogado (rábula), Deputado e conselheiro de D. Pedro I. Sua
mãe era filha de comerciante. André e seu irmão Antônio
seguiram em sua primeira viagem à Europa, na verdade
uma viagem de estudos. André Rebouças seguiu a
carreira de Engenheiro, sendo o primeiro Negro a
assumir esta função e um dos maiores do Brasil em sua
época. De 1865 a 1866 serviu como engenheiro na Guerra
do Paraguai. Foi criador das empresas Docas do Rio de
Janeiro, Maranhão, Cabedelo, Recife e Bahia. Escreveu
ainda diversos artigos de cunho técnico, ligados aos
diversos ramos da Engenharia. Durante a Guerra do Paraguai, projeto um
dispositivo explosivo aquático chamado de imersível, o protótipo do que
conhecemos como torpedo.
Com seu irmão Antônio Rebouças, também Engenheiro, foi autor do
projeto da estrada de ferro Antonina-Curitiba – que serviu de base para a
difícil obra do trecho serrano da ferrovia Paranaguá-Curitiba – e também dos
projetos da ponte de ferro sobre o rio Piracicaba e da avenida Beira-Mar,
no Rio de Janeiro. O irmão caçula, José Rebouças, trabalhou na implantação
das linhas ferroviárias que hoje ligam o interior paulista. Na cidade do Rio de
Janeiro, André Rebouças notabilizou-se por ser o primeiro a solucionar o
problema de abastecimento de água com mananciais fora da cidade.

19
Foi um dos mais ativos militantes do movimento abolicionista
brasileiro e um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a
Escravidão. Escreveu inúmeros artigos no jornal Gazeta da Tarde, estimulou
a criação de uma Sociedade
Abolicionista na Escola Politécnica,
onde lecionou em 1883, e redigiu com
José do Patrocínio o Manifesto da
Confederação Abolicionista. Ajudou
também a redigir os estatutos da
Central Emancipadora.
Rebouças foi amigo e
admirador de Carlos Gomes e incentivou a carreira do autor de O Guarani na
Europa. Muito amigo de D. Pedro II, já que era monarquista convicto, André
Rebouças acompanhou o Imperador em sua viagem para o exílio. Entre 1889 e
1891, Rebouças permaneceu em Lisboa, trabalhando como correspondente
do jornal The Times, de Londres. Em 1892, arruinado financeiramente (gastou
parte de sua fortuna em favor da abolição da escravatura), aceitou um emprego
em Luanda, Angola. Em 1893, fixou-se na Ilha da Madeira, onde veio a falecer
no dia 9 de maio de 1898.

Outras pesquisas, outras possibilidades...

Além das centenas de cientistas, pesquisadores e inventores


elencados por MACHADO (2013 e 2017), existem outros tantos ícones
históricos e atuais, sobre os quais tenho buscado complementação das
biografias e auxiliar na divulgação de suas (re)existências. São personalidades
importantes na composição de um currículo cientificamente bem
fundamentado, que incentiva e inspira outros jovens Negros nos caminhos das

20
ciências17. E, principalmente, são potenciais personagens e vidas inspiradoras
que afetam positivamente a autoestima de alunos e Professores Negros,
desvelando o falacioso discurso eugenista de que Negros não contribuíram
com nada para a construção de nossa “sociedade civilizada”.
Aliás, é com este tipo de pensamento que, como diz MACHADO, a
história vem usurpando nossos conhecimentos, embranquecendo nossas
invenções, domínios e conquistas, culturas e riqueza, e negando nossa
existência como cidadãos plenos, científica e historicamente.
Dentre estas outras personagens destaco:18:

Domingos Caldas Barbosa (Rio de Janeiro,


provavelmente em 1739 – Lisboa, 09/11/1800) foi um

sacerdote, poeta e músico brasileiro, autor de Lundus e criador


da Modinha. Foi membro da Nova Arcadia de Lisboa.

O padre José Maurício Nunes Garcia (RJ, 22/09/1767


— 18/04/1830) foi um compositor de música sacra que viveu
a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. É considerado um dos
maiores compositores das Américas de seu tempo.

Antônio Gonçalves Teixeira de Sousa (Cabo Frio,


28/03/1812 — RJ, 01/12/1861) foi um escritor. É o autor do
primeiro romance romântico brasileiro, intitulado O filho do
Pescador – 1843 e a tragédia Cornélia (Teatro) – 1840.
Escreveu mais de 14 obras e um periódico.

17
O currículo tornou-se um imperativo para a compreensão dos arranjos engendrados, que reforçam posições a partir
da diferenciação, entre os segmentos sociais. Examinamos os aspectos pedagógicos, considerando a
multidimensionalidade do tema e a força do debate político para conceber resultados de nossa pesquisa.
Argumentamos ser necessário conceber o currículo como esfera de disputa, mas também de diálogos interculturais.
(MIRANDA & RIASCOS, 2012, p. 74).
18
Pesquisas em andamento, em diversos tipos de portadores de conhecimento que, apesar da dificuldade e da
demanda de algumas viagens para acessá-los diretamente, tem se mostrado enriquecedores cientificamente falando.

21
Francisco de Paula Brito (RJ, 02/12/1809 -
05/12/1861), que escrevia sobre o nome de Paula Brito, foi um
editor, jornalista, escritor, poeta, dramaturgo, tradutor e letrista
carioca. Trabalhou em diversas TIPOGRAFIAS e fundou a
"Sociedade Petalógica", que teve como membro ilustre o então
jovem escritor Machado de Assis. Seu jornal, O Homem de Cor (1833),
mudado para O Mulato ou o Homem de Cor; editor ainda
de A Marmota Fluminense, o seu jornalismo Negro em
ação.

Marcelle Soares-Santos/SP venceu o Alvin


Tollestrup Award (Prêmio Alvin Tollestrup) de Melhor
Pesquisa de Pós-doutorado em Física de 2014, por suas contribuições para
a pesquisa de energia escura, que vão desde a construção de instrumentos e
comissionamento à análise física de alto nível. Atua como pesquisadora pós-
doutoranda do Fermilab, um dos mais importantes centros de estudo sobre
física de partículas do mundo, localizado no estado de Illinois, nos Estados
Unidos.

Viviane dos Santos Barbosa/BA, 36 anos,


desenvolveu produto que reduz emissão de gases
poluentes. Confinada de seis a oito horas em um
laboratório da Delft University of Technology, na
Holanda, Viviane desenvolveu catalisadores
(substâncias que aceleram e melhoram o rendimento das reações) a partir da
mistura dos metais paladium e platina.

Acredito que este tipo de pesquisa - que nos traz tantos personagens
que não aparecem em nossos livros das disciplinas de História, Ciências ou
mesmo nas formações iniciais dos profissionais de Magistério (em todas as

22
Licenciaturas) - é relevante para repensarmos nossos currículos a partir de
uma perspectiva multi e intercultural, que inclua todas as contribuições dos
povos fundantes da nação brasileira.
Para além de “Temas Transversais” ou festividades sazonais
(normalmente restritos a Abril – Índios ou Novembro – Negros), os
conhecimentos preconizados pelo artigo 26-A da LDBEN devem tecer o
arcabouço de todas as disciplinas e áreas de aprendizagens.
As descrições dos conceitos e conhecimentos para a Educação Básica
presentes na nova Base Nacional Curricular Comum/BNCC 2017, já trazem
consigo as possibilidades pedagógicas que incluem tal diversidade cultural,
propondo um diálogo amplo entre estes conhecimentos, um espaço de
etnoconhecimentos ou currículos etnoeducativos.

A ideia de interculturalidade como diálogo entre culturas é um achado


teórico que se constitui como base conceitual que defendemos nesta
pesquisa. Nas políticas curriculares, não será suficiente assumir o
multiculturalismo como um aspecto social dado, consumado. É
necessário desconstruir sua naturalização com experiências que
desestabilizem as identidades forjadas no Brasil, para a efetivação da
etnoeducação, são promovidas também pelo dispositivo da brancura,
conforme aponta Castro-Gomes (2010) e, para sociedades que se
dividem com base em um continuum de cor, a reinscrição do
Continente Africano nas suas histórias é a justificativa necessária
para a inclusão de outras interpretações acerca da pertença forjada,
inicialmente, na aventura colonial. (MIRANDA; RIASCOS, 2012, p.
75).

À nós, Educadores, caberá o papel de pesquisadores e construtores


destes currículos etnoeducativos, em busca de autores, pesquisadores, livros,
Dissertações e Teses que consubstanciem-se às nossas aulas, conhecimentos
e debates dentro dos espaços escolares e acadêmicos, agregando os saberes
e práticas tradicionais que as comunidades que as compõem possuem.
Por meio da valorização das diversas construções de conhecimentos,
científicos e transgeracionais, valorizando o seio cultural e etnicorracial de seu
nascedouro, é que contribuiremos para a democratização da educação do
país. Para tanto, sigamos os conselhos do velho Griot de Bandiagara...

23
Através da boca de Tierno Bokar, o sábio de Bandiagara,
a África dos velhos iniciados avisa o jovem pesquisador:
“Se queres saber quem sou,
Se queres que te ensine o que sei
Deixa um pouco de ser o que tu és
E esquece o que sabes”. (BÂ, 2011, p. 212)

Referências:

ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade: notas sobre uma posição


disciplinar. In.: NASCIMENTO, Elisa Larkin (org.). Afrocentricidade: uma
abordagem epistemológica inovadora. São Paulo/SP: Selo Negro, 2009.
(Sankofa: matrizes africanas da cultura brasileira; 4). P. 93-110.

BÂ, Amadou Hampâté. A tradição viva. In.: História Geral da África;


volume 1. Metodologia e pré-história da África. Editor: Joseph Ki-Zerbo. 3ª
edição. São Paulo: Cortez. Brasília: UNESCO, 2011.

BÂ, Amadou Hampâté. Amkoullel, o menino fula. Tradução de Xina


Smith de Vasconcelos. 3ª Edição. São Paulo: Palas Athena Editora. Acervo
África, 2013.

BRASIL, Ministério da Educação. Orientações e Ações para a


Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília/DF: SECAD/MEC, 2006.

_______, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular


– BNCC. Brasília/DF: MEC, 2017. Consultado em 29/12/2017 -
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.

CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o Feminismo: a situação da mulher


Negra na américa latina a partir de uma perspectiva de gênero. In.:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/.../mod.../Carneiro_Feminismo%20negr
o.pdf – consultado em 24/01/2018 as 21h53min.

DZIDZIENYO, Anani. África e diáspora: lentes contemporâneas,


vistas brasileiras e afro-brasileiras. In.: NASCIMENTO, Elisa Larkin (org.). A

24
matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008. (Sankofa: matrizes
africanas da cultura brasileira; 1). P. 205-232.

MACHADO, Carlos Eduardo Dias. Ciência, tecnologia e inovação


africana e afrodescendente. Florianópolis/SC: Bookess Editora, 2013 – e-
book licenciado em 2014 para Patrícia Pereira.

MACHADO, Carlos Eduardo Dias; LORAS, Alexandra Baldeh. Gênios


da Humanidade: ciência, tecnologia e inovação africana e
afrodescendente. São Paulo/SP: Editora DBA Artes Gráficas, 2017.

MIRANDA, Cláudia; RIASCOS, Fanny Milena Quiñones.


Etnoeducação e dimensões políticos-pedagógicas da diversidade cultural
nas propostas curriculares do Brasil e da Colômbia. In.: VALENTIM, Silvani
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(Organizadoras). Relações étnico-raciais, educação e produção do
conhecimento: 10 anos do GT 21 da Anped. Belo horizonte/MG: Nandyala,
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PEREIRA, Patrícia da Silva. GRIOT-EDUCADOR: a Pedagogia


ancestral negro-africana e as infâncias, em um espaço de cultura afro-
gaúcho. Dissertação de Mestrado apresentada como parte da obtenção do
Título de Mestre. Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGEdu da
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PÓVOAS, Rui do Carmo (organizador). Mejigã e o contexto da


escravidão. Ilhéus/BA: Editus, 2012, 496 p.

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teses e dissertações em Educação (1987-2006): possibilidades de
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Aparecida de; GOMES, Nilma Lino. (Organizadoras). Relações étnico-raciais,
educação e produção do conhecimento: 10 anos do GT 21 da Anped. Belo
horizonte/MG: Nandyala, 2012. p. 45-62.

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Claraluz: São Carlos/SP, 2005.

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Africanidades e Cidadania. In.: ABRAMOWICZ, Anete; GOMES, Nilma Lino.
25
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estéticas. Belo Horizonte/MG: Autêntica Editora, 2010. (Coleção Cultura Negra
e identidade; 18). P. 37-56.

SILVEIRA, Éder. A cura da raça: eugenia e higienismo no discurso


médico sul-riograndense nas primeiras décadas do século XX. Passo
Fundo/RS: Editora Universidade de Passo Fundo, 2005. 173p.

VALENTIM, Silvani dos Santos; SANTOS, Renato Lopes dos.


Relações étnico-raciais na Educação profissional integrada à EJA:
reflexões acerca da formação continuada de Professores. In.: VALENTIM,
Silvani dos Santos; PINHO, Vilma Aparecida de; GOMES, Nilma Lino.
(Organizadoras). Relações étnico-raciais, educação e produção do
conhecimento: 10 anos do GT 21 da Anped. Belo horizonte/MG: Nandyala,
2012. p. 27-44.

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