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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


CURSO DE LINCENCIATURA EM HISTÓRIA

SÍNTESE DAS PRINCIPAIS IDEIAS CONTIDAS NO LIVRO ‘O QUE É


EDUCAÇÃO’ DE CARLOS RODRIGUES BRANDÃO

CURITIBA
2013
KAUANA DE PAULA DOMINGUES

SINTESE DAS PRINCIPAIS IDEIAS CONTIDAS NO LIVRO

Trabalho apresentado ao Curso de


Licenciatura em História da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná
como requisito à obtenção de nota
parcial a disciplina Fundamentos da
Educação

Orientador: Prof. Dr. Jair Passos

CURITIBA

2013
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense,
Coleção Primeiros Passos, 24° ed., 1989.

Educação? Educações: Aprende com o Índio.

Todos os seres são alvo de um processo educativo. Os pássaros, por exemplo,


aprendem a voar desde cedo, quando são expulsos do ninho por seus pais.
Nós, humanos, também temos contato com a educação desde cedo e em
diversos lugares: casa, escola, igreja, etc.

Por termos acesso à escola muito cedo e isto já estar enraizado em nossa
cultura, achamos que ela é o ápice da nossa educação e não conseguimos
entender como alguns povos viveram, e vivem sem o acesso a ela.

Quando pensamos nas sociedades tribais, dificilmente entendemos que as


crianças daquela tribo também passam por um complexo processo de
aprendizagem. Elas são ensinadas de acordo com as tradições da tribo, sendo
esse processo uma coisa natural.

Brandão nos dá o exemplo de um caso antigo que aconteceu no EUA:

„... Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para
nós e agradecemos de todo coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem
que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim,
os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação
não é a mesma que a nossa. ... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram
formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas,
quando eles voltavam para nós eram maus corredores, ignorantes da vida da
floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o
veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito
mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros,
como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos
pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa
gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns
dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles,
homens (p. 8-9).

Como esse exemplo, o autor nos familiariza mais da ideia que não podemos
definir uma forma única de educação, pois ela se adequa as necessidades de
tal grupo, e é rica da mesma forma.

Quando a escola é a aldeia.


... “Nunca as pessoas crescem a esmo e aprendem ao acaso.” (p. 23)
Em uma aldeia, as crianças estão em constante processo de aprendizagem,
pois sempre estão em contato com aquilo que faz parte do seu mundo e
aprendem a explorá-lo.

O saber da comunidade é tão importante quando a escola que conhecemos, a


educação é algo tão antigo e variado que algumas vezes não a percebemos e
acabamos fechando o olho para um ótimo modo de ensino, apenas porque ela
foge dos nossos padrões.

O autor apresenta o termo endoculturação como um processo evolutivo, onde a


criança vira um adulto que fica a par das crenças e costumes do seu povo. A
educação é apenas uma parcela da questão endoculturativa, e ela aparece
sempre que há ensino-aprendizagem. Segundo Brandão, quando o educador
pensa a educação, ele acredita que, entre homens, ela é o que dá a forma e o
polimento (p. 25).

Então, surge a escola.

A escola surge quando há necessidade da divisão de tarefas, e, em


consequência disso, os saberes são separados de forma hierárquicas,
sistematizando assim diversas formas de trabalho. Este é o momento em que
temos uma mudança de educação para ensino e a pedagogia começa a
intervir, dando as teorias que vão determinar as práticas para transmitir o
saber.

Com essa separação dos saberes, as hierarquias sociais surgem e a


distribuição desigual ocorre. E aos poucos, acontece com a educação o que
aconteceu com todas as outras áreas: surge um interesse político sobre a
mesma.

A educação da comunidade de iguais começa agora a reproduzir


desigualdades:

“Um tipo de educação que pode tomar homens e mulheres, crianças e velhos,
para torná-los sujeitos livres que por igual repartem uma vida comunitária; um
outro tipo de educação pode tomar os mesmos homens, das mesmas idades,
para ensinar uns a serem senhores e outros, escravos, ensinando-os a
pensarem dentro das mesmas ideias e com as mesmas palavras, uns como
senhores e outros como escravos” (p.34).

Pedagogos, mestres-escola e sofistas.

Os primeiros assuntos relacionados à educação grega foram ofícios simples


como agricultura, pastoreio, artesanato, etc. Todos esses ensinamentos são
aliados a princípios como honra, solidariedade e fidelidade a Polis (modelo de
cidade grega onde um homem livre e educado inicia e termina sua vida). Antes
do surgimento da escola, aquilo que os gregos tinham como educação era
ligada totalmente a Paidéia (formação harmônica do homem para a vida da
polis).

De tudo o que pode sofrer interferência, nada é mais belo e digno do que um
homem plenamente educado, para os gregos. Mas apenas quando a
participação na cultura e na vida pública é sujeita a democracia, a escola se
abre para qualquer menino livre.

Nesse contexto, podemos perceber uma diferença na educação de acordo com


a classe social: o escravo aprendia fora da escola, já os homens livres estavam
sempre acompanhados de um professor que os ensinava a exercer a sua
liberdade.

O modelo de educação grega é duplo, ele elabora em põe em prática um


sistema de divisão, consistido em: tecne e teoria. A educação do homem livre
vai em direção à teoria (saber para compreende e comandar). Já a tecne pode
ser desenvolvida de forma mais direta em oficinas de aprendizagem. Essas
divisões, por sua vez, produziram diferenças entre os educadores da Grécia
antiga: mestre-escola e pedagogos. De um lado a instrução para o trabalho e
de outro o educar para a vida social, respectivamente.

Por volta do VI século A.C., Aristóteles “exige do imperador leis que regulem
direitos e controlem o exercício da educação. Atrás das tropas de conquista de
Alexandre Magno, os gregos levam as suas escolas por todo o mundo. Elas
são, mais do que tudo, o meio de impedir que a distância da Pátria de origem
ameace perder-se a cultura do vencedor entre os costumes e o saber dos
vencidos” (p. 46).

A educação que Roma fez, e o que ela ensina.

Em Roma, o trabalho era entre todos e saber de todos. Seu processo educativo
tinha por objetivo a formação da consciência moral.

A criança começava a aprender em casa e isso dava à educação um cunho


doméstico, mais do que na Grécia, e tudo o que era aprendido pela criança
serviria como preservação dos valores. A ideia de educar uma criança voltada
aos seus valores é para criar um adulto ideal, que, para Roma, renunciaria a si
mesmo, amaria o trabalho, a vida simples e pregaria o repudiaria o luxo. Ao
contrário de Atenas, que formaria o cidadão pensante o ocioso, Roma
privilegiava o a formação para o trabalho e comunidade.

Na educação romana, o modelo a ser seguido é o ancestral da família, tendo o


pai e a mãe como educadores nobres. Mas, mesmo com esse modelo, ocorre a
separação da educação por classes. Esse fato ocorre por causa do
crescimento da nação e a necessidade da divisão do trabalho.
A educação passa a ser vista como uma arma que serve para impor ao povo a
vontade e a visão do mundo do dominador. Plutarco descreveu como Roma
usou a educação para “domar” os espanhóis dominados: “As armas não tinham
conseguido submetê-los a não ser parcialmente, foi a educação que os domou”
(p. 53).

Educação: Isto e aquilo, e o contrário de tudo.

Podemos procurar interpretar a educação é entender o que dizem sobre ela,


nas versões dos professores, estudiosos, legislação, entre outras fontes.

Ao procurarmos definições de „educação‟ no dicionário, nos deparamos com:

“Ação e efeito de educar, de desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e


morais (...) (Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, Caldas Aulete)”
e „Ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações jovens para
adaptá-las à vida social; trabalho sistematizado, seletivo, orientador, pelo qual
nos ajustamos à vida, de acordo com as necessidades ideais e propósitos
dominantes (...) (Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, Aurélio
Buarque de Holanda)‟. E na lei, temos uma definição parecida, nos dando a
explicação de que a educação serve para a compreensão do ser humano,
preparo do individuo para a sociedade, desenvolvimento integral do ser, entre
outras características.

Do outro lado da questão, temos uma crítica constante dos intelectuais para
com a educação brasileira, dizendo que a prática nega o que a teoria afirma.
“Do ponto de vista de quem responde por fazer a educação funcionar, parte
pelo trabalho de pensá-la implica justamente em desvendar o que faz com que
a educação, na realidade, negue e renegue o quem oficialmente se afirma dela
na lei e na teoria” (p. 60).

Brandão cita alguns estudiosos a fim de afirmar que a educação é o ato de


guiar o homem, para que, no final, ele se torne uma pessoa humana. Ao traçar
paralelos, ele nos dá a ideia de que o que ronda a educação não são apenas
sua essência e seus fins, mas interesses políticos e econômicos. Esses
interesses abrem uma ferida na educação determinando assim a que e a quem
ela serve.

Pessoas „versus‟ sociedade: um dilema que oculta outros.

„ (...) A educação é um meio pelo qual o homem (a pessoa, o ser humano, o


individuo, a criança, etc.) desenvolve potencialidades biopsíquicas inatas, mas
que não atingiram a sua perfeição (...) (pág. 61).

Nesse capítulo, Brandão questiona não o que é educação, como nos outros,
mas para quem ela existe. É-nos lembrado que a educação é uma prática
social, como a saúde, a comunicação, o serviço militar, por exemplo. Defini-la
desta maneira não é inventar um novo conceito, nem relembrar filósofos do
passado, mas reconhecer o que é natural.

A educação não tem um fim social, pois a sua real finalidade é manter a
sociedade, pois assim como o índio aprende as técnicas da sua tribo, nós
também aprendemos o que é necessário para vivermos em nossa sociedade. E
por meio disso, a sociedade mantém a sua reprodução de „sujeitos sociais‟.
Determinar fins ou grupos sociais para a educação é o mesmo que ocular o
seu real significado, pois isso é desvincula-la da ideia do coletivo, uma vez que
uma parcela a monopoliza.

Sociedade contra estado: classe e educação

A educação é uma prática social que tem como objetivo o desenvolvimento do


homem. Brandão nos explica, baseado nas ideias de Durkheim, que assim
como não existe um tipo de sociedade, a educação não será feita de uma só
maneira, nem tampouco haverá uma perfeita. Esse ideal de perfeição é
determinado pelas necessidades que pequenos grupos sociais têm para a sua
sobrevivência, pois cada sociedade determina a função de seus membros.

O autor afirma que educação e mudança sempre andam juntas, pois a


sociedade não é parada está em constante mudança e a leis precisam ser
mudadas, como a sociedade muda.Mas ter a ideia de que a educação é o
único ou principal meio para transformações na sociedade é estar diante de
uma utopia.

A educação está em um processo de falsa democracia, pois a desigualdade


gera isso. Atualmente ela é utilizada para manter a desigualdade, pois sem
propriedade, o menos favorecido socialmente, aceita facilmente o que os livros
didáticos impõem, sem ter assim um papel ativo nessa parte tão importante da
vida do filho. E o mais favorecido, acaba acreditando que dando ao seu filho
uma educação que poucos têm acesso, ele terá mais chances em sua vida.

Isso revela uma falha na educação, pois ela não se encaixa mais na ideia de
coletividade. Os índios educavam suas crianças para a sociedade ao seu
redor, os gregos acreditavam que o homem deveria viver para a pólis, mas na
medida em que o governo tem propriedade sobre a educação, ela acaba se
distanciando de sua essência.

A esperança na educação.

A educação é uma invenção humana, e, sendo assim, ela pode ser


reinventada. Ao refletir sobre o que já foi dito antes, Brandão nos dá a ideia de
que somente um educador „deseducado‟ pode ver a educação como ela é, algo
que nasceu nas tribos e que, na maioria das vezes, é ignorada pelo Estado.
A essência da educação não é vincular poder entre as pessoas e sim
compromissos. Quando a sociedade inventa a propriedade particular e quebra
a irmandade dos homens, ela divide também os saberes, dando à escola uma
total propriedade para a educação, e a escola, por sua vez, abandona a
sabedoria da comunidade.

A esperança que existe na educação se dá na confiança da humanidade, no


pensamento de que o ato humano de educar liberte o homem para que ele
acabe com as classes e libere o saber, que não o deixe mais preso entre
algumas paredes e ao alcance de poucos.

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