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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

LICENCIATURA EM HISTÓRIA - FORMAPARÁ / CGIFP COORDENAÇÃO


GERAL INSTITUCIONAL DO FORMAPARÁ

MAYCE DOS PASSOS VIEIRA


ROGÉRIO BENTES CASTRO

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

ÓBIDOS-PA
2022
MAYCE DOS PASSOS VIEIRA
ROGÉRIO BENTES CASTRO

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

Artigo acadêmico apresentado a disciplina


Fundamentos Históricos e Filosóficos da
Educação de Licenciatura em História da
Universidade Federal do Oeste do Pará
(UFOPA), como requisito para obtenção de
nota.
Orientadora: Prof. Dr. Gilberto Cesar Lopes
Rodrigues.

ÓBIDOS-PA
2022
INTRODUÇÃO:

EDUCAÇÃO: DESENVOLVIMENTO OU ADESTRAMENTO?


“Não precisamos de homens que pensem, mas de bois que trabalhem”. É isto
que diz Bravo Murillo, citado por Enguita. A educação é necessária, mas não
em demasia, somente o bastante para a obediência e o respeito à ordem
social. Não mais que isso. Sempre existiu alguma atuação preparatória para a
incorporação das crianças nas relações sociais e de produção. Em geral, a
aprendizagem e a educação ocorriam com a intervenção direta de uma
geração para outra, mediante a participação cotidiana das crianças nas
atividades da vida adulta e sem a participação sistemática de agentes
especializados ou instituições, que então desempenhavam um papel marginal.
Nas Sociedades primitivas a aprendizagem se dava por meio de jogos e
fratrias; na relação adulto-criança e na unidade familiar. Na Roma arcaica havia
uma mistura de aprendizagem familiar e participação na vida adulta: o menino
acompanhava o pai em seus compromissos e afazeres próprios e a menina, a
mãe. Na economia camponesa o conhecimento e a aptidão necessária era
adquirida no próprio local de trabalho. Na Idade Média ocorria a troca de
família: os filhos entre 7 e 9 anos eram enviados como aprendizes para o seio
de outra família. Era principalmente por meio do trabalho doméstico o mestre
instruía seu aprendiz. Os filhos dos aristocratas podiam até aprender as
primeiras letras, mas não iriam muito além disso, a aprendizagem literária era
secundária, servindo apenas para o caso de formação de copistas e profissões
similares, e, para o doutrinamento religioso. A meu ver o ensinamento se dava,
segundo esses relatos, de maneira orgânica, no dia a dia e visava atender as
necessidades diretas da vida do próprio indivíduo ao desenvolver sua
habilidades, promovendo assim benefício social sem detrimento da satisfação
pessoal.
Já no século XVI os colégios de meninos e meninas serviram para receber os
marginalizados da sociedade: órfãos, mendigos, malandros etc.. O ideal era
preparar esses marginais para o trabalho depois de estarem devidamente
disciplinados. A escola como conhecemos hoje - uma máquina para formação
(ou adestramento) de trabalhadores em massa - antes da ascensão do
capitalismo, servia meramente para ensinar o básico da escrita e leitura. O
“nascimento da escola moderna” se deu não por um processo natural que
estivesse atendendo à uma necessidade comum da sociedade, mas como fruto
de um longo caminho de conflitos de ideias sobre como educar (ou adestrar) e
para qual finalidade: religiosa, moral, política, econômica, social? No tópico
“Desmistificando a história da escola” Enguita critica a historiografia da escola
feita por quem raramente saiu do claustro da instituição: é conveniente
apresentar a história da escola como sendo uma vitória sobre a miséria de
ontem e um avanço à glória de hoje ou amanhã, ou seja, a domesticação da
humanidade a serviço dos poderosos.
O CICLO DO LUCRO
Contemporaneamente, o ensino está engessado em conhecimento objetivo,
que somente beneficia a formação de um capital humano pronto para o
mercado de trabalho. Mas há formas de aprendizagem que escapam desse
modo enfastioso, como a teoria do aprender a aprender.
Segundo Duarte (2001), pedagogias pautadas na teoria aprender a aprender
trás liberdade para se conhecer a verdade:
Uma das diferenças entre a pedagogia histórico-crítica e as pedagogias
adaptadas aos atuais interesses da burguesia reside no posicionamento
perante a questão da verdade. As pedagogias centradas no lema “aprender a
aprender” são antes de mais nada pedagogias que retiram da escola a tarefa
de transmissão do conhecimento objetivo, a tarefa de possibilitar aos
educandos o acesso à verdade. [...]
Para entendermos como esse ciclo do lucro funciona, imaginemos,
metaforicamente, que o Estado é um “mercadinho” (a estrutura) e que cada
produto vendido é um capital humano, e quem aplica o preço é o
neoliberalismo. Então, antes do produto chegar as prateleiras, ele é moldado
nas fábricas (escolas) que lhe dá uma certa capacitação para o trabalho. Dessa
maneira, precisa-se ter um tal conhecimento para se encaixar em alguma área
do mercado.
Busquemos entender melhor seus conceitos. Estado: Segundo Pereira (2017),
é responsável pela organização e pelo controle social, estruturado política,
social e juridicamente, ocupando um território definido onde, normalmente, a lei
máxima é uma constituição escrita.
Teoria do capital humano: É o conjunto de conhecimento, habilidades e
atitudes que favorecem a realização de trabalho de modo a produzir valor
econômico. Becker (1993), da mesma forma, alega que o capital humano é um
conjunto de capacidades produtivas que uma pessoa pode adquirir, devido à
acumulação de conhecimentos gerais ou específicos, que podem ser utilizados
na produção de riqueza. [...] (apud Viana; Lima, 2010, p. 139)
Neoliberalismo: Política econômica que privatiza instituições, guardando o lucro
nas mãos de poucos. “Os defensores do neoliberalismo acreditam que se
beneficiarão com menos Estado, com menos impostos, com menos
investimentos em educação e saúde pública, transformados em espaços de
disputa de mercado.” (Caponi; Brzozowski; Hellmann; Bittencourt, 2021, p. 82)
Logo, nossa sociedade está estruturada assim. E nem sempre o conhecimento
chega à periferia, os deixando em uma educação sucateada. Mas os trabalhos
pedagógicos sociais resistem, o aprender a aprender gera nos alunos
autonomia, lhes garantindo liberdade para conhecer, os auxiliando a criar seus
próprios conteúdos, realizando ciência.
EDUCAÇÃO PARA O FUTURO: DECOLONIZAÇÃO DA ESCOLA.
O grupo de pensadores críticos da América Latina conhecidos como
Modernidade-Colonialidade ativo durante a primeira década do século XXI
defende a Pedagogia Decolonial: uma concepção teórica segundo a qual o
modelo de conhecimento que tem prevalecido no Ocidente é ditado pela
Europa desde a época da colonização, este modelo (modernidade) é resultado
da colonialidade que é vista como “um padrão de poder que emergiu como
resultado do colonialismo moderno, porém, ao invés de estar limitado a uma
relação formal de poder entre os povos ou nações, refere-se à forma como o
trabalho, o conhecimento, a autoridade e as relações intersubjetivas se
articulam entre si através do mercado capitalista mundial e da ideia de raça”.
(Walsh, 2018, p. 4 apud, Maldonado-Torres, 2007, p. 131), ou seja, são duas
faces da mesma moeda jogada pelo capitalismo. Aqui cabe frisar que não se
trata de descolonização, e sim, decolonização. Decolonizar na educação é
construir outras pedagogias além da hegemônica. Descolonizar é apenas
denunciar as amarras coloniais. Decolonizar é buscar constituir outras formas
de pensar e produzir conhecimento. Ainda, descolonizar se contrapõe ao
conceito de colonialismo, já, decolonizar é o oposto de colonialidade
(permanência das amarras invisíveis – do povo colonizador – na mente do
povo colonizado). De acordo com o sociólogo Aníbal Quijano, “a colonialidade
diz respeito a compreensão da permanência da estrutura de poder colonial,
vínculo de dominação social, política e cultural mesmo séculos após o fim das
colônias e os processos de independência das mesmas”.
O grupo propõe uma mudança na forma de se produzir conhecimento,
deixando o eurocentrismo e dando voz aos saberes “outros” – dos
subalternizados, que tiveram suas epistemes deserdadas e descredibilizadas.
Estes devem trabalhar para visibilizar, enfrentar e transformar as estruturas e
instituições que têm como horizonte de suas práticas e relações sociais a
lógica epistêmica ocidental, a racialização do mundo e a manutenção da
colonialidade. A interculturalidade representa a construção de um novo espaço
epistemológico que promove a interação entre os conhecimentos
subalternizados e os ocidentais, questionando a hegemonia destes e a
invisibilização daqueles. Há de se considerar que não existe neutralidade nos
processos pedagógicos. Qualquer teorização ou teorias tem lado. A partir
dessa perspectiva, há que se ter uma postura militante, no sentido de projetar
uma intervenção permanente sobre a realidade a ser transformada sempre em
diálogo e troca intercultural com os sujeitos subalternizados pela modernidade-
colonialidade. Ser decolonial é ser antirracista, antihomofóbico, antissexista; é
ser contra a exploração e opressão. É aprender a desaprender, deixando as
marcas coloniais, e aprender (ou reaprender) novas culturas, novas posturas,
novas ações de luta e novas ideias para o bem viver. Ser decolonial é
transformar o conhecimento e assim alterar a realidade colonial através dos
agentes educativos e movimentos sociais.
CONCLUSÃO:

REFERÊNCIAS:
ENGUITA, Mariano F. A Face Oculta da Escola: educação e trabalho no
capitalismo. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

CAPONI, Sandra; BRZOZOWSKI, Fabiola Stolf; HELLMANN, Fernando;


BITTENCOURT, Silvia Cardoso. O uso político da cloroquina: COVID-19,
negacionismo e neoliberalismo 1 Revista Brasileira de Sociologia, vol. 9, núm.
21, 2021, Enero-, pp. 78-102 Sociedade Brasileira de Sociologia Aracaju,
Brasil. Disponível em:
https://rbs.sbsociologia.com.br/index.php/rbs/article/view/rbs.774 Acesso em:
01 Out 2022.
DUARTE, Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações
neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana/ Newton Duarte — 2. ed. rev.
e ampl. — Campinas, SP: Autores Associados , 2001. (Coleção educação
contemporânea)

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estado, Estado-Nação e Formas de


Intermediação Política. In: Revista Lua Nova, São Paulo, 100: 155-185, 2017.
Disponível em: http://www.scielo.br/j/ln/a/3WBTjZLvpPzdLqdxxbCVNTQ/?
lang=pt&format=pdf. Acesso em: 23 Out 2022.

WALSH, C., OLIVEIRA, L. F., & CANDAU, V. M. (2018). Colonialidade e


pedagogia decolonial: Para pensar uma educação outra. Arquivos Analíticos de
Políticas Educativas, 26(83). Disponível em:
https://epaa.asu.edu/index.php/epaa/article/view/3874 Acesso em: 12 Out
2022.

VIANA, Giomar ; LIMA, Jandir Ferrera de. Capital humano e crescimento


econômico. Interações v. 11, n. 2, jul./dez. 2010.
Disponível em: https://www.interacoes.ucdb.br/interacoes/issue/view/27 Acesso
em: 22 Out 2022.

OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; CANDAU, Vera Maria Ferrão. PEDAGOGIA


DECOLONIAL E EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E INTERCULTURAL NO
BRASIL. Educação em Revista | Belo Horizonte | v.26 | n.01 | p.15-40 | abr.
2010. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_ issuetoc &
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AFRICANIDADES, África e. Educação Decolonial. YouTube, 24 de setembro


de 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J4DfFCUbXF4.
Acesso em 4 Out 2022.

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