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Universidade Federal do Oeste do Pará

Instituto de Ciências da Educação


Curso de Licenciatura em História (Programa Forma Pará / Óbidos)
Disciplina: História Moderna
Docente: Dra. Vanice Siqueira de Melo
Discente: Rogério Bentes Castro.

Atividade Avaliativa Individual

Responda as duas questões.

Questão 1: Leia o trecho abaixo.

“A semelhança entre a perseguição aos judeus e a perseguição às bruxas, (...), sugere uma vez
mais que a pressão que se encontrava por detrás de ambas era de ordem social. A bruxa e o judeu
representam ambos o inconformismo social. De início, ambos são perseguidos esporadicamente,
sem que se apresentem grandes razões: pela antiga lei da Igreja a bruxa não era condenada e o
judeu, na sua qualidade de incréu, não lhe estava sujeito.
Inventam-se depois argumentos legais para justificar essa perseguição: redefinindo os termos
no caso da bruxa, batizando compulsivamente o judeu, toma-se assim possível uma acusação de
heresia. Finalmente, quando essa acusação já não convém, deixa de ser usada. A bruxa, como
veremos, é perseguida simplesmente porque "é bruxa", o judeu porque "é judeu", por razões não de
fé, mas de sangue, por falta de limpieza de sangre. Portanto, as razões variam, mas a perseguição
continua: o que prova claramente que a verdadeira razão vai mais fundo que a razão apresentada.
Por outro lado, por vezes parece que estes dois tipos de inconformismo social são intersubstituíveis.
Os períodos de intolerância, e de introversão, a sociedade cristã, tal como qualquer outra
sociedade, procura bodes expiatórios. O judeu e a bruxa prestam-se igualmente para desempenhar
esse papel, mas a sociedade decide-se pelo que está mais à mão. Os dominicanos, uma ordem
internacional, odeiam-nos a ambos; mas enquanto nos Alpes e nos Pirineus perseguem as bruxas,
em Espanha concentram-se nos judeus. O que não quer dizer que não haja bruxas em Espanha. (...).
Os inquisidores espanhóis tinham muitos judeus e mouros com que se ocupar e pouco tempo lhes
sobrava para as bruxas (...).
Na Alemanha, por outro lado, a ordem das prioridades era inversa. Fora das regiões alpinas,
as bruxas quase não foram perseguidas no século XIV e princípios do século XV; foram esses os
anos dos terríveis pogroms anti-judaicos. Por volta de 1450, os inquisidores começaram a estender a
caça às bruxas à região do Reno, sendo esse o objetivo imediato do Malleus. 1No século XVI, a
bruxa substitui gradualmente ao judeu, e, no século XVII, essa inversão é quase total. Se na
Alemanha o bode expiatório universal da Peste Negra fora o judeu, o bode expiatório universal das
1 Tratado escrito por Kràmer e Sprenger em 1486, considerado a primeira grande enciclopédia impressa de
demonologia.
Guerras Religiosas será a bruxa”. (TREVOR-ROPER, Hugh Redwald. A obsessão das bruxas na
Europa dos séculos XVI e XVII. Religião, Reforma e Transformação Social. Tradução. Lisboa:
Editorial Presença, 1981, p.73-8.).

A partir do trecho acima, escreva um texto analisando a perseguição aos Judeus e às


bruxas na Idade Moderna.

Questão 02: No ano de 1517, Martinho Lutero publicou as conhecidas 95 Teses, que
expressavam o posicionamento dele em relação à Igreja naquele contexto. A divulgação das teses é
um dos principais eventos que caracterizam a Reforma Religiosa. Abaixo é possível ler algumas
teses de Lutero.
“21. Erram, pois, os pregadores das indulgências que dizem que, pelas indulgências do papa, o
homem fica livre de toda a pena e fica salvo.
28. É certo que, desde que a moeda cai na caixa, o ganho e a cupidez podem ser aumentados; mas a
intercessão da Igreja só depende da vontade de Deus
36. Qualquer cristão, verdadeiramente arrependido, tem plena remissão da pena e da falta; ela é-lhe
devida mesmo sem cartas de indulgências.
43. É preciso ensinar aos cristãos que aquele que dá aos pobres, ou empresta a quem está
necessitado, faz melhor do que se comprasse indulgências.” (LUTERO, Martinho. As 95 teses.
Brasília: Legado Reformado, p.13-20).
Como base nas teses acima, analise as críticas que Lutero fez à Igreja, apontando como as
teses acima estavam condenando a Igreja Católica.

Orientações e avisos:

1. Pesquise e utilize a bibliografia pertinente para responder. Não esqueça de colocar as


referências, principalmente se você realizar citações (conforme foi ensinado em
Metodologia Científica). A não inclusão da referência poderá acarretar em plágio.
2. Responda as questões nos formulários correspondentes a cada uma delas e que estão
disponíveis após a segunda questão.
3. Cada questão deve ter, no mínimo, uma página e meio, e, no máximo, duas páginas.
4. O texto deve ser digitado em fonte Times New Roman, Tamanho 12, Centralizado.
5. O período de entrega do trabalho é de 06 a 09 de outubro de 2023 e deve ser
encaminhado apenas para o e-mail vanice.melo@ufopa.edu.br .
6. Até o dia 16 de outubro de 2023, as notas do trabalho serão divulgadas. A prova substitutiva
será dia 21 de outubro. Após a divulgação da terceira nota, as orientações referentes a
substitutiva serão divulgadas.

Formulário da Questão 1
Consideradas desde o início dos tempos como mulheres pagãs as bruxas eram
caracterizadas, principalmente, por mulheres de aparência desagradável ou com alguma
deficiência física, idosas, mentalmente perturbadas, mas também por mulheres bonitas
que haviam ferido o ego de poderosos ou que despertavam desejos em padres
celibatários ou homens casados, sendo assim acusadas de estarem a serviço do diabo,
por não se ajustarem aos preceitos religiosos deveriam morrer. A bruxaria moderna
constitui-se em um movimento religioso que “tem suas raízes mais profundas no
movimento romântico do princípio do século XIX” (RUSSELL; ALEXANDER, 2008, p. 151).
Após séculos, ainda sofre perseguição e morte. Os judeus foram perseguidos e mortos
por questão religiosa e política. Martinho Lutero foi considerado o propulsor da
disseminação do ódio aos judeus através do livro escrito por ele em 1543 denominado
“Dos Judeus e suas mentiras, Von den Juden und ihren Lügen” que segundo De Assis
(2016, p. 20) “descontextualizado, acabou servindo de combustível para perseguições
aos judeus da Modernidade aos nossos dias, inclusive perante o Nazismo, e que teve
edição no Brasil, em 1993, proibida de circular, pelo temor de uma exploração
tendenciosa da obra em seu cariz antissemita.” Mais tarde, vimos na 2ª Guerra os judeus
sendo alvo das atrocidades comandadas por Hitler. Até os nossos dias a discriminação e
a perseguição contra aquele que difere do padrão permanece. O ódio, a perseguição e
a morte de bruxas e judeus, assim como de outros grupos, foram e ainda são
impulsionados por religiosidade extremada e luta por poder.
Referência:

RUSSELL, Jeffrey B.; BROOKS, Alexander. História da Bruxaria. Tradução Álvaro Cabral,
William Lagos. São Paulo: Aleph, 2008.

DE ASSIS, Angelo Adriano Faria. Por que, afinal, e ainda, a Intolerância? Ou de como pode ler a
História as fraquezas humanas diante da fé.. Temporalidades, v. 8, n. 3, p. 17-22, 2016.
https://periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/issue/view/302

Formulário da Questão 2

Segundo Delumeau (1989, p.59), as causas da reforma são complexas, por isso é necessário ir ao
essencial. E o essencial para o autor são as três doutrinas principais do protestantismo: a justificação

pela fé; o sacerdócio universal; a infalibilidade apenas da Bíblia. Então Lutero surgir no cenário on-

de a igreja ensinava que a segurança (salvação), poderia ser obtida por meio de indulgências, a igre-

ja acreditava e pregava que era possível ter segurança comprado a salvação, algo muito parecido

com a teologia da prosperidade no evangelicalismo brasileiro, você dá para receber. Na tese de nu-

mero 21 ele denunciava: “Erram, pois, os pregadores das indulgências que dizem que, pelas

indulgências do papa, o homem fica livre de toda a pena e fica salvo.” A doutrina luterana da

justificação pela fé foi uma resposta a essa “comprar” da salvação pregada pela igreja romana.

Lutero acreditava que o arrependimento era suficiente para salvação da alma “Qualquer cristão,

verdadeiramente arrependido, tem plena remissão da pena e da falta [...].”

Diante desse abuso da igreja em vender a salvação para homens e mulheres, outro ponto doutrinário

do protestantismo ou doutrina Luterana é o sacerdócio universal que consistia na idéia que a

igreja não está sujeita ao comando e direção do Papa. Para Lutero a igreja pertence somente a Cristo,

segundo o texto sangrando Cristo é o cabeça da igreja, que é formada por seus membros.
Em uma de suas obras, À Nobreza Cristã da Nação Alemã Acerca da Reforma
do Estado Cristão, Lutero questiona o poder eclesiástico, o direito exclusivo do Papa e do

magistério da Igreja de interpretar as Escrituras e a convocação de concílios unicamente pelo Papa.

Diz Lutero: “Para abater o primeiro obstáculo, basta proclamar a doutrina do “sacerdócio

universal” de onde todos os cristãos, negando que existam dois “estados”, o espiritual e o mundano,

dois existe apenas um, o espiritual, e por isso todos são iguais e todos são papa, bispo e

sacerdote [...]”. (ZAGHENI, 2011, p. 82). Lutero se colocar contra a esse atitude da igreja de Roma

que detinha todo o poder somente para o papa, para o reformando a igreja deveria ser formada por

grupos de pessoas que se encontrariam para o estudo da palavra, orações e apoio mútuo.

Lutero faz um julgamento acerca do papel dos sacerdotes e leigos, defendendo que não existe

diferença entre as ordens temporais e espirituais, de modo que sacerdotes e leigos seriam iguais

e os sacerdotes seriam apenas funcionários da sociedade cristã [...] Não caberia somente ao clero
decidir o rumo da igreja, mas a toda a comunidade sem privilégios ou hierarquia, devido à posição

espiritual ocupada por seus integrantes (Lanfranchi, 2019, p. 95).

O terceiro fundamento da doutrina luterana é a infalibilidade apenas da Bíblia. Para o reformador

Martinho Lutero a Bíblia era a única fonte para se conhecer a palavra de Deus. Como vimos

a igreja romana valorizava a prática das obras e superestimava a sua eficácia no processo da salvação

e perdão dos pecados para se obter o estado de graça. E por causa disso lança a doutrina da infabili-

dade única da Bíblia. Para Lutero só está certo aquilo que as escrituras dizem não o que a igreja acre-

dita como exemplo a salvação por obras.

Referência:
ZAGHENI, G. A Idade Moderna: curso de História da Igreja III. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2011.
DELUMEAU, Jean. A reforma por quê? Aspectos gerais da Contra-Reforma. Nascimento e
afirmação da Reforma. SP: Pioneiro, 1989.
LANFRANCHI, Marcelo Amaral. Lutero e o sacerdócio universal do crente. REVELETEO –
PUC-SPREVELETEO – Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X Vol. 13, nº 24,
p.81-99, jul/dez 2019. https://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/view/45220

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