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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

WILSON DE LIMA LUCENA

IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM


CASTROLANDA - RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E TRABALHO EM
UMA COLÔNIA HOLANDESA: UM ESTUDO DE CASO

São Paulo

2009
WILSON DE LIMA LUCENA

IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM


CASTROLANDA - RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E TRABALHO EM
UMA COLÔNIA HOLANDESA: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada à Universidade


Presbiteriana Mackenzie, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre
em Ciências da Religião.

Orientador: Professor Dr. João Baptista


Borges Pereira

São Paulo

2009
WILSON DE LIMA LUCENA

IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM


CASTROLANDA - RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E TRABALHO EM
UMA COLÔNIA HOLANDESA: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada à Universidade


Presbiteriana Mackenzie, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre
em Ciências da Religião.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________________________________
Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira
Universidade Presbiteriana Mackenzie

________________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Ribeiro Caldas Filho
Universidade Presbiteriana Mackenzie

________________________________________________________________
Prof. Dr. John Cowart Dawsey
Universidade de São Paulo
DEDICATÓRIA

A Deus, o autor e consumador da minha fé.


À minha amada esposa, Simone, que
desbravou este caminho agradável do
mestrado em nossa família.
Ao meu filho, Rafael, herança de Deus.
Aos meus pais, por me ensinarem a
honestidade e o empenho nos projetos.
Ao meu orientador e mestre, Dr. João
Baptista.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, autor da minha vida, que escreveu


meus dias e tem me sustentado com sua imensa graça.
Ao Orientador Professor Doutor João Baptista Borges
Pereira, por sua capacidade, por acreditar na realização
satisfatória desse trabalho. Aos professores doutores,
John Cowart Dawsey, da Universidade de São Paulo e
Carlos Ribeiro Caldas Filho, da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, participantes da banca que, na
fase da qualificação, por meio de suas orientações, em
muito me ajudaram para a conclusão dessa dissertação. À
Universidade Presbiteriana Mackenzie, pela bolsa
concedida. Ao Departamento de Ciências da Religião que,
por meio do seu corpo docente, proporcionou-me um
conhecimento incomensurável. Ao Rev. Kleber Machado e
ao Conselho da Igreja Evangélica Reformada no Brasil em
Castrolanda – PR; ao Presbitério e membros da Igreja
Evangélica Reformada no Brasil, pelas preciosas
informações prestadas. Às famílias holandesas da Colônia
de Castrolanda, que dedicaram momentos e material
valoroso, sem os quais não teria conseguido a conclusão
dessa pesquisa. Manifesto também meus agradecimentos
àqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste trabalho, que deu origem à dissertação
ora apresentada. À minha esposa, Simone, pela
dedicação, envolvimento e incentivo. Ao meu filho Rafael,
pela compreensão e amor.
RESUMO

A presente dissertação é parte de um projeto de maior


abrangência, cujo tema é a relação entre Etnia e Religião no
Brasil. A Igreja Evangélica Reformada no Brasil em
Castrolanda, objeto deste estudo, é composta, na sua maioria,
por holandeses e descendentes, e demonstra ser detentora da
preservação religiosa e sócio-cultural dos reformados
holandeses. A causa da imigração holandesa se encontra no
crescimento da população, pouca área territorial e as
conseqüências da Segunda Guerra Mundial na Europa e, ao
mesmo tempo, as facilidades de imigração oferecidas por
países como o Brasil. Tendo como tema desta pesquisa a
“Igreja Evangélica Reformada no Brasil em Castrolanda –
Religião, educação e trabalho em uma colônia holandesa – Um
estudo de caso”, demonstramos como a religiosidade andou
em conjunto com este grupo étnico holandês, sendo fator de
agregação e motivação para permanência lingüística e cultural,
além de ser instrumento para criação e manutenção de um
ideal educacional e de trabalho, que obtém bastante sucesso
até nossos dias.

Palavras Chaves: Religião, Etnia, Educação, Trabalho, Igreja


Reformada Holandesa
ABSTRACT

The Reformed Evangelical Church in Brasil in Castrolanda,


object of this study, is composed in its majority, for dutches and
descendants, and it demonstrates to be detainer of the religious
and partner-cultural preservation of the dutch remodelled ones.
The cause of dutch immigration is finds in the growth of the
population, little territorial area and the consequences of World
War II in the Europe and, at the same time, the easinesses of
immigration offered by countries as Brazil. Having as subject of
this research the “Reformed Evangelical Church in Brasil in
Castrolanda - Religion, education and work in a dutch colony -
A case study”, we demonstrate as the religiousity walked in set
with this dutch ethnic group, being factor of aggregation and
motivation for linguistic and cultural permanence, beyond being
instrument for creation and maintenance of an educational ideal
and of work, that success sufficiently gets until our days.

Keywords: Religion, Ethnic, Education, Work, Dutch Reformed


. Church
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09
• Delimitação do tema 11
I PARTE – CONTEXTO HISTÓRICO GERAL 17
1 ESBOÇO HISTÓRICO DA HOLANDA 17
1.1 Conhecendo a Holanda 17
1.2 A influência da Reforma Protestante na Holanda 21
2 A PRESENÇA HOLANDESA NO BRASIL 24
2.1 Os primeiros holandeses no Brasil 24
2.2 A imigração holandesa no Brasil 26
2.3 Colônias holandesas no Brasil 31
2.4 A colônia holandesa em Castro - PR 35
II PARTE – A IERBC - IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO
BRASIL EM CASTROLANDA
3 CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO 36
3.1 Política e religiosidade brasileira 37
3.2 Breve histórico do protestantismo brasileiro 39
3.3 Protestantismo de Imigração no Brasil 43
4 A IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL 48
4.1 A ligação eclesiástica com a Holanda 48
4.2 A formação e a independência da IERB 49
5 A IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM
CASTROLANDA – IERBC 57
5.1 A jornada e o estabelecimento dos imigrantes holandeses
em Castro 58
5.2 Igreja Evangélica Reformada no Brasil de Castrolanda –
IERBC 61
5.3 A manutenção étnica 68
5.4 Os ensinamentos e o governo 70
5.5 Os cultos e programações 76
6 AS RELAÇÕES DA IERBC 80
6.1 A Colônia de Castrolanda 80
6.2 As escolas 85
6.3 A Cooperativa Agropecuária 88
6.3 As Associações Holandesas 93
6.4 O Ecumenismo 95
6.5 O Instituto Cristão – IC 95
6.6 Centro de Atendimento a Criança Jd. Colonial – CACJC 97
6.7 A Igreja Presbiteriana do Brasil – IPB 98
CONCLUSÃO 101
REFERÊNCIAS 103
INTRODUÇÃO

Essa dissertação faz parte de um projeto maior, com o tema: “relação entre etnia e

religião no Brasil”, cuja coordenação é feita pelo professor Dr. João Baptista Borges

Pereira. Nesse projeto, já existem as seguintes dissertações elaboradas: “Análise da

presença de negros em uma Congregação Presbiteriana no Norte do Paraná,


1
Londrina” ; “A manutenção da italianidade e protestantismo em ex-núcleo de

colonização italiana pós-guerra, na cidade de Pedrinhas Paulista, Estado de São

Paulo” 2; “O exame do relacionamento entre índios e missionários na Missão Caiuá”


3
; tendo como orientador o prof. Dr. Antonio Gouvêa Mendonça. Há outro estudo que

aborda o tema da presença de imigrantes italianos na fundação da Congregação

Cristã (no) Brasil4, sobre a marca étnica italiana dessa Igreja, a partir de seus

primórdios (1910).

Uma dissertação está voltada aos missionários presbiterianos coreanos na corrente

migratória desse grupo étnico no Brasil, analisando o significado, bem como a

proposta desses membros da Igreja Presbiteriana, em sua atuação no diversificado e

1 TRIGUEIRO NETO, José Furtado Martins. Alvorada: negros e brancos numa Congregação Presbiteriana de
Londrina: estudo de caso. 2004. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Universidade Presbiteriana Mackenzie,
2004.
2 GOUVÊA, Marivaldo. Terra nostra em mudança: identidade étnica religiosa e pluralismo religioso em uma comunidade

italiana no interior paulista. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciências da religião), Universidade Presbiteriana Mackenzie,
2005.
3 NASCIMENTO, Jonas Furtado do. Missão Caiuá: da ação missionária protestante entre os índios guarani, Caiuá e

Terena. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Universidade Mackenzie, 2004.


4 BIANCO, Gloecir. Um véu sobre a imigração italiana no Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião),

Universidade Mackenzie, 2005.


10

complexo campo religioso5. Há uma pesquisa que se propõe a uma releitura de

psicologia analítica do Movimento Messiânico Mucker 6, a autora relaciona esse

movimento aos imigrantes alemães luteranos. Ainda outra dissertação procura

revelar a atuação da “Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Russa no Exílio”, também

conhecida como “Igreja Ortodoxa Russa Fora das Fronteiras”, junto a imigrantes

russos em São Paulo.7 A pesquisa seguinte relaciona as origens, conflitos e

desenvolvimento dos “Mórmons em Santa Catarina”.8 Outra dissertação trata a

Identidade Étnica e Religião da Igreja Cristã Reformada, composta por um grupo de


9
húngaros em São Paulo. Existem outras pesquisas em andamento, que fazem

parte deste projeto, em diferentes fases de execução.10

Castrolanda é o nome de uma Colônia Holandesa na cidade de Castro, estado do

Paraná. A presente dissertação é um estudo de caso da Igreja Evangélica


11
Reformada no Brasil em Castrolanda (IERBC) , composta de membros em sua

maioria holandeses ou descendentes. Pretende-se traçar paralelos entre a imigração

e a religião protestante reformada, entendendo que a Igreja é elemento importante

na agregação desses imigrantes. A IERBC enquadra-se na categoria de religião

5 SANTOS ARAÚJO, Edson Isaac. Os coreanos protestantes na periferia de São Paulo: um estudo de caso. Dissertação

(Mestrado em Ciências da Religião), Universidade Mackenzie, 2005.


6 MÓDOLO, Heloisa Mara Luchesi. Delírios religiosos e estruturação psíquica: o caso Jacobina Mentz Maurer e o

episódio Mucker: uma releitura fundamentada na psicologia analítica. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião),
Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2006.
7 LOIACONO, Maurício. A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Russa no exílio em São Paulo: identidade étnica e

religião: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Universidade Mackenzie, 2006.
8 SILVA, Rubens Lima da. Os mórmons em Santa Catarina: origens, conflitos e desenvolvimento. Dissertação (Mestrado

em Ciências da Religião), Universidade Mackenzie, 2008.


9 LUCENA, Simone Espin de Oliveira, Igreja Cristã Reformada do Brasil, Identidade Étnica e Religião, Um Estudo de

Caso, Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Universidade Mackenzie, 2009.


10 Uma Igreja Protestante Coreana na cidade de São Paulo, de Silvania Maria P. Silva; Igreja Presbiteriana Árabe em São Paulo, por

Paulo Delage; Protestantes Sul-Coreanos em Jandira, por Daniel H. Cholin; Luteranismo e Imigração Alemã no Espírito Santo, por
Gladson Cunha, entre outros.
11 Esta é a sigla que utilizaremos doravante para designar a Igreja Evangélica Reformada no Brasil em Castrolanda.
11

universal etnicizada12, uma vez que esta igreja é utilizada para a manutenção das

tradições culturais e religiosas desse seguimento migratório, isto é, os elementos

religiosos passam a compor o discurso de identidade étnica desse grupo.

Estudando a vida da igreja, pretende-se compreender o universo religioso deste

grupo migratório, percebendo inclusive, a manutenção e o distanciamento da cultura

holandesa e dos princípios religiosos reformados. Como igreja de confissão

reformada, esse trabalho apresentará a história da imigração, atrelada aos princípios

reformados aceitos e difundidos na Holanda e mais especificamente a história da

Igreja Evangélica Reformada no Brasil e suas atuais características de uma religião

universal etnicizada.

A finalidade é estudar a Igreja Evangélica Reformada no Brasil em Castrolanda,

como esta se relaciona com a visão reformada de educação e trabalho, uma vez

que, na colônia, foi implantada pelo grupo uma importante escola e uma forte e

influente cooperativa agropecuária. Dentre os diversos ramos do cristianismo,

apropria-se aqui do protestantismo e dos desafios de uma igreja etnicizada - a

IERBC.

• Delimitação do tema

Tendo como tema desta pesquisa “A Igreja Evangélica Reformada no Brasil em

Castrolanda – religião, educação e trabalho em uma colônia holandesa: um estudo

de caso”, observa-se que a religiosidade andou em conjunto com este grupo étnico

12 PEREIRA, João Baptista Borges. [Anotações de aula, do curso de Mestrado em Ciências da Religião]. O professor enfeixa
a diversidade do campo religioso em quatro categorias: religiões étnicas, religiões universais ou de vocação universalista,
religiões universais etnicizadas e religiões étnicas etnicizadas.
12

holandês, sendo fator de agregação e motivação para a permanência lingüística e

cultural, além de ser instrumento para a criação e a manutenção de um ideal

educacional e de trabalho, o qual obtém bastante sucesso até os dias atuais.

Destaca-se como um grupo de imigrantes protestantes reformados, deixaram sua

terra de origem devido a escassez de terra para a agropecuária e pela economia

prejudicada após a Segunda Guerra Mundial. Se utilizou dos ideais religiosos para

estabelecer-se no Brasil, enfrentando um recomeço em meados do século 20, sob o

título denominacional: Igreja Evangélica Reformada no Brasil em Castrolanda –

ICRBC.

Baseando-se na viabilidade proposta por Antônio Gouvêa Mendonça, afirma-se que

os grupos reformados, entre outros, merecem estudos à parte no campo teórico dos

estudos das ciências da religião (MENDONÇA, 1995, p. 67). Na busca de

conhecimento sobre essa igreja (IERBC), o tema proposto se insere na imigração e

na religião, que se apresentam, respectivamente, nas vertentes etnia e

protestantismo. Na diversidade do campo religioso, nos estudos realizados sobre o

protestantismo de imigração, não há atenção especial para esse grupo nos moldes

aqui apresentados. Pesquisamos a ICRBC nas perspectivas do “protestantismo de

imigração” que, normalmente, não têm intenção de expansão religiosa, mas utiliza a

religião como meio de agregação e manutenção étnica. Nesse caso, a necessidade

de agregação para a educação e o trabalho confunde-se com a necessidade de

agregação religiosa e étnica. As reuniões, liturgias e festas contribuem para a

manutenção dessas necessidades. Assim, eles procuram manter a religiosidade


13

reformada holandesa, tradição esta que está muito misturada com a cultura batava.

(MENDONÇA, 1995, p. 145).

Portanto, se reconhece entre os imigrantes holandeses e seus descendentes, mais

um grupo marcado pela etnização, em busca do reconhecimento de sua

singularidade sócio-cultural e histórica, da constante elaboração da identidade étnica

e religiosa. Consideramos, então, que a identidade é construída social e

historicamente, isto é, a identidade de um grupo pode variar ao longo da história

(PEREIRA, 2005, p. 103), especialmente pelo fato de que grupos como estes,

poderão sofrer uma descaracterização pelo processo de imigração, isto é, a religião

passa a se confundir com a etnia.

O pesquisador, como pastor presbiteriano que é, teve a oportunidade de dirigir e

pregar em dois cultos, de participar de uma Reunião do Conselho e uma Reunião do

Sínodo da IER, viabilizando o método de observação participativa da pesquisa. Ao

participar destas reuniões, cultos e festas, e ao manter contato com os membros e

simpatizantes da IERBC, o pesquisador notou a sobreposição da identidade étnica

do grupo, em alguns momentos, sobre a identidade religiosa. Esclarecemos que esta

pesquisa fundamenta-se em pesquisa de campo, no exame de algumas literaturas

publicadas academicamente e outras realizadas junto à comunidade holandesa, mas

se reconhece a escassez de materiais no universo do protestantismo de imigração

no Brasil. Portanto, houve a obrigação de se fazer uma pesquisa baseada em

observação participante e entrevistas, com ênfase na vida da igreja e respectivas

relações com toda a comunidade da colônia holandesa em Castrolanda.


14

Inicialmente fala-se sobre a história da Holanda, considerando-se que a história da

pátria original dos fundadores da IERBC serve como referencial histórico e fator

construtivo da identidade étnica e religiosa desta igreja. Uma frase muito conhecida,

registrada na história, expressa o orgulho holandês: “Deus criou o mar, o batavo sua

terra”.

A imigração holandesa é relatada para fornecer subsídios e descrever a construção

da identidade do grupo, as dificuldades enfrentadas e os resultados obtidos como

indicativos para compreensão do universo desta igreja e colônia. Trata-se ainda a

relação das colônias holandesas e seu tripé comum: cooperativa, igreja e escola.

Utilizou-se como estratégia, entender a Reforma Protestante na Holanda, o

calvinismo e o protestantismo, especialmente no Brasil, considerando-se que a

IERBC é fruto destes pensamentos e fatos históricos. Descreve-se a riqueza da

história desta igreja em seus primórdios, desde a chegada das primeiras famílias,

fundadores da igreja, até as gerações seguintes e seu modo de ver a igreja e como

as bases religiosas protestantes serviram de fator essencial para o estabelecimento

da colônia de Castrolanda.

A importância da igreja é vista também através de uma reflexão, se esta continua a

mesma diante da comunidade, após mais de meio século de história, destacando as

mudanças ocorridas, em seus aspectos positivos e negativos. Examina-se, se as

características étnicas são mantidas com a contribuição da igreja, se sobrepondo a

outros grupos migratórios que não utilizam a religião.


15

Entre os referenciais teóricos utilizados, encontra-se a dissertação de João Frederico

Rickli, cujo título é “Religião e parentesco na Colônia Castrolanda” (2004); o livro

histórico comemorativo dos 50 anos de aniversário da Colônia, pesquisado e

compilado por C. H. L. Kiers-Pot (RICKHILI, 2004), do qual foram extraídas as

informações gerais de Frans Leonard Schalkwijk (2004), de seu livro “Igreja e Estado

no Brasil Holandês”. A partir dessas importantes obras e de outros pensadores do

campo sócio-religioso que escrevem sobre as correntes da imigração, desenvolveu-

se essa dissertação. De igual forma, deram apoio teórico a pesquisa autores que

trabalham com as teorias da aculturação, da etnicidade e da identidade étnica, ou

escritos relacionados a esse tema.

Para introduzir o “protestantismo de imigração”, julgamos a importância de lembrar

que o luteranismo brasileiro foi classificado pelos cientistas sociais como o melhor

representante do chamado protestantismo de imigração (PIERUCCI, 2004, p. 52).

Pensando nesses imigrantes alemães, entende-se que o patrimônio étnico do qual

eram portadores confundia-se com a sua pertença à eclesialidade luterana. Sua

principal preocupação concentrava-se na preservação de si como patrimônio étnico-

cultural. No campo das religiões brasileiras, confrontam-se mudanças sociais

aceleradas, intensas e principalmente culturais.

O objetivo dessa pesquisa não é escrever sobre a Igreja Reformada de um modo

geral, mas falar de uma igreja particularizada, ainda que não seja dispensada a

coleta de dados para a explicação de situações genéricas às nomenclaturas

denominacionais e étnicas. Trata-se de um estudo de caso, pois a análise limita-se a

apenas uma igreja. Teoricamente trata a imigração e a religião. Foi dada ênfase no
16

trabalho de campo. A observação participante, entrevistas, depoimentos, consultas

bibliografias e análise de ordem documental junto a registros da história da igreja,

foram utilizados para a elaboração dessa dissertação.


17

I PARTE

CONTEXTO HISTÓRICO GERAL

1 ESBOÇO HISTÓRICO DA HOLANDA

Deus criou o mundo, mas os holandeses criaram os Países Baixos.


(CONSULADO DA HOLANDA NO BRASIL, 1981, p. 3)

Esse ditado holandês expressa o orgulho nacional de um povo que, ao longo dos

séculos, tem conseguido conquistar ao mar parte considerável do território onde

habita.13 A região localizada ao sul do rio Reno fazia parte do Império Romano até o

ano 400 d.C. e era composta por tribos celtas e germânicas. Foi dividida em

principados feudais autônomos, durante toda a Idade Média. O império Borgonhês-

Habsburguês, de Carlos V ou Carlos I da Espanha, unificou esses territórios

agregando-os com a atual Luxemburgo e Bélgica, desde 1504.

1.1 Conhecendo a Holanda

País hoje conhecido como um dos Países Baixos, nome oriundo da designação As

Províncias Unidas dos Países Baixos, que foram fundadas no século 16. O centro

13Informações genéricas que podem ser obtidas no site: www.pitoresco.com.br/flamenga/holanda.htm.


Acesso em 23 mar. 2009.
18

econômico e político dos Países Baixos foi, por muitos séculos, dividido entre as

duas províncias: a Holanda do Norte e a Holanda do Sul. Por isso, “Holanda” é o

nome usado como sinônimo de “Países Baixos” até hoje. A palavra de origem

flamenga Diets, que significa “povo” ou “nação”, é relacionada com o adjetivo inglês

Dutch, que significa neerlandês, mais um fator do uso de Holanda como Países

Baixos.

Depois de muitos séculos de domínio externo, no século 16, Willelm de Orange

dirigiu a revolta das Províncias Unidas dos Paises Baixos contra o império espanhol.

Depois da denominada Guerra de 80 anos, a região conquistou a independência

formalmente com Paz de Münster14, sendo reconhecido como a República das Sete

Províncias dos Países Baixos, em 1648. Consistia de sete províncias: Overijssel,

Groninga, Gueldres, Frísia, Utrecht, Zeelândia e Holanda.

Os herdeiros de Willelm de Orange, juntamente com uma forma estatal de república,

mantinha um modelo com elementos feudais. Conhecido como o século de ouro para

os neerlandeses, o século 17 trouxe grande prosperidade para os Países Baixos.

Passou a ser a principal potência marítima do mundo, produzindo grandes feitos

artísticos e intelectuais, destacando-se na pintura, filosofia, arquitetura e ciências

naturais. A prosperidade dos Países Baixos deveu-se a um Tratado, de 1602,

chamado Companhia Unida das Índias Orientais (VOC), que permitia o comércio e

navegação pelas costas asiática e africana. Os Países Baixos conquistaram as

colônias da Indonésia na Ásia, e do Suriname e Antilhas Neerlandesas na América

14A “Paz de Münster”, também é conhecida como a “Certidão de Nascimento” do Reino dos Países
Baixos.
19

do Sul. Mas a grande potência militar da época, a Inglaterra, subjugou o domínio

comercial neerlandês através de várias guerras.

Em 1795, a República das Sete Províncias dos Países Baixos foi extinta com a

Revolução Francesa de Napoleão Bonaparte. A invasão dos franceses converteu os

Países Baixos em um estado vassalo chamado República Batava. Em 1799, os

Países Baixos foram anexados à França. Mas, Napoleão foi derrotado e

monarquistas lutaram e prevaleceram contra os republicanos no poder batavo.

Os fundamentos do moderno estado da Holanda foram assentados


sob a liderança de William de Orange. Os holandeses venceram
finalmente a guerra pela liberdade, mas no processo perderam seu
grande líder para um punhal assassino, em 1584. (CAIRNS, 1995 p.
264)

Figura 1. O príncipe de Orange (Fonte: http://www.brasileirosnaholanda.com/holanda/historia.htm)

Willem Frederik, o príncipe de Orange-Nassau, filho do último governador, regressou

da Inglaterra e foi proclamado rei, dando início a uma monarquia hereditária, que foi

sucedida por Willelm II e Willelm III, filho e neto de Frederik. Com Frederik, o governo
20

foi transferido para Haia, mas manteve Amsterdã como capital da monarquia. O

Estado da Bélgica foi separado dos Países Baixos em 1830. Em 1839, Frederik

aceitou a separação e renunciou ao trono. Após a sequência masculina, em 1898

assume a monarquia Wilhelmina, dando início a sequência feminina da regência

batava.

A Segunda Guerra Mundial trouxe a invasão alemã em 1940, que forçou Wilhelmina

a refugiar-se na Inglaterra, mantendo importante resistência contra os alemães.

Depois da derrota alemã, e de a monarquia voltar ao normal, em 1948, após um

reino de 50 anos, abdicou para sua filha Juliana reinar. E em 1980, Beatrix, filha mais

velha de Juliana assumiu o governo para reinar até os nossos dias.

Com a revolução industrial, os Países Baixos expandiram rapidamente durante todo

o século 19 até o século 20, juntamente com os setores do comércio, químico,

carvão, navegação e a indústria agrícola. Depois do fim da Segunda Guerra Mundial,

as colônias dos Países Baixos tornaram-se independentes, e hoje, somente três

territórios compõem seu domínio: os Países Baixos na Europa Ocidental, possuindo

uma área total de 41.526 Km2, as Antilhas Neerlandesas e Aruba, ambas no Caribe.

Os Países Baixos na Europa Ocidental fazem fronteira ao sul com a Bélgica e ao

leste com a Alemanha, sendo banhado pelo Mar do Norte a norte e a oeste.

Nas últimas décadas, se somaram a setores já mencionados, um


grande avanço na economia neerlandesa, nas áreas de
processamento de matais, da construção civil e refinarias de petróleo.
Fazem parte do grupo de fundadores da CE – Comunidade Européia,
da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, da OCED –
Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento e na
21

ONU – Organização das Nações Unidas, dentre várias outras


15
organizações.

Juntamente com a Bélgica e Luxemburgo, criou a primeira união alfandegária do

mundo, com circulação completamente livre de mão-de-obra, capital e serviços, no

ano de 1948. O governo neerlandês, enquanto presidiu a União Européia, UE, criou

o Tratado de Maastricht, em 1991, que trazia maior integração econômica e política

para as nações federadas, e, em 1997, criaram o Tratado de Amsterdã, que

ampliaram a UE.

1.2 A influência da Reforma Protestante na Holanda

Até 1525, aqueles que aceitaram a Reforma seguiam Lutero, mas a


partir de então até 1540, os anabatistas conseguiram fazer um
grande número de adeptos. Depois de 1540, a reforma na Holanda
seguiu os caminhos do calvinismo. Em 1560, a maioria era calvinista,
uma minoria era anabatistas guiados por Menno Simons e outro
grupo ainda menor seguias as idéias de Lutero. (CAIRNS, 1995, p.
263)

Desde o ano de 1560, o protestantismo reformado, especialmente o calvinismo, teve

domínio na região chamada Países Baixos, sendo iniciado através de movimentos

populares e reforçado com a chegada de refugiados reformados, vindos de vários

países do continente europeu. Especialmente através da Igreja Reformada

Holandesa, unida com a perseguição do governo espanhol de Felipe II aos


15 O Site: www.brasileirosnaholanda.com/holanda/hstoria.htm analisa o progresso recente da Holanda.
22

protestantes, cresceu o desejo de libertação política e rompimento religioso nas

províncias dos Países Baixos do domínio espanhol e católico romano.

O grande líder e herói holandês até os dias atuais, Guilherme de Orange, iniciou a

revolução contra a Espanha de Felipe II, que tinha adotado uma política Contra-

Reforma, que desencadeou a chamada Guerra dos Oitenta Anos, havendo assim a

separação dos Países Baixos, da região protestante ao norte, atual Holanda, da

região católica ao sul, atual Bélgica. Em 1579 é estabelecida as Províncias Unidas

da Holanda, reconhecida pelo governo espanhol somente em 1648.

Em 1555, na província da Antuérpia, surgiram movimentos populares muito fortes

que pregavam a fé reformada, dando origem ao protestantismo nos Países Baixos.

Mais de trezentas igrejas foram formadas em apenas dez anos, especialmente com

a chegada e influência dos huguenotes, que fugiam das guerras e perseguições em

seus países de origem. A confissão de Fé conhecida como Confissão Belga, escrita

por Guido de Brés, foi adotada pelas igrejas da Antuérpia.

Sendo implantado em contexto da guerra de independência contra a


Espanha, o calvinismo prevaleceu na região das províncias da
Holanda, enquanto o catolicismo prevaleceu na região da Bélgica e
Luxemburgo, provocando assim a divisão dos Países Baixos,
formando a nação da Holanda protestante e Bélgica e Luxemburgo,
nação católica. 16

Uma das figuras de influência reformada na Holanda nesta época de transformação

religiosa, foi o humanista Erasmo de Roterdã que, através dos seus escritos,

influenciou o pensamento da época para uma transformação ao lado do


16
Mais informações: Disponíveis em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante. Acesso em 23
Maio 2009.
23

protestantismo. Apesar de não concordarem em todos os pontos, Erasmo foi

influenciado por Martinho Lutero da Alemanha, mas depois, por causa de algumas

discordâncias doutrinárias, romperam e tornando-se opositores. O pensamento de

Erasmo se alinhavava em muitos aspectos mais aos pensamentos de Calvino.

Segundo Ferreira (1985, p. 232), Erasmo era contra a quebra das imagens dos

templos católicos, visão que Calvino apoiou, devido sua visão de respeito e direito de

cada individuo.

Em 1571, na Alemanha, cidade de Emdem, aconteceu o primeiro Sínodo Nacional

das Igrejas Reformadas, que adotou o sistema de governo presbiteriano, baseado no

modelo francês. A Igreja Reformada tornou-se a igreja oficial do Estado holandês,

mesmo não tendo a adesão geral da população. A Influência da Reforma foi tão

grande na Holanda que, nos anos de 1618 e 1619, aconteceu na cidade holandesa

de Dordrecht, o famoso Sínodo de Dort, reunido para resolver uma das maiores

controvérsias da religião protestante. Com o objetivo de regulamentar a fé bíblica e

eclesiástica da Igreja Reformada da Holanda, com respeito à crença do

arminianismo.17 O Sínodo de Dort rejeitou o arminianismo e reafirmou as idéias de

João Calvino com respeito à predestinação, denominando-as de Cinco Pontos do

Calvinismo.18 Assim o mundo moderno tem sido construído também pelo

protestantismo, a isto corrobora Troeltsch (1925, p. 51):

O protestantismo tem colaborado destacadamente na criação do


mundo moderno.

17 Este é nome dados às idéias de Tiago Armínio acerca da predestinação bíblica. Segundo Armínio
cada pessoa tem livre arbítrio para sua salvação espiritual.
18 Os Cinco Pontos do Calvinismo são: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada,

Graça Irresistível e Perseverança dos Santos.


2 A PRESENÇA HOLANDESA NO BRASIL

A presença mais significativa de holandeses no Brasil aconteceu na época das

invasões no Nordeste. Ocuparam inicialmente a cidade de Salvador, em 1624,

permanecendo apenas por um ano. Posteriormente, em 1630, invadiram

Pernambuco e, a partir deste Estado, controlaram quase todo o nordeste por 24

anos. O motivador principal era o comércio de açúcar, que tinha Pernambuco como

grande pólo.19 Através deste importante centro produtor brasileiro, a Holanda

pretendia controlar o comércio na Europa, já que contavam na época com a maior

tecnologia naval do mundo, facilitando assim o transporte do açúcar.20

2.1 Os primeiros holandeses no Brasil

Com a chamada Companhia das Índias Ocidentais, criada pela Holanda para facilitar

o comércio do açúcar brasileiro, enviando para o Brasil o conde Maurício de Nassau

em 1637, consolida assim o domínio holandês no nordeste brasileiro. Entre 1640 e

1641, Portugal conseguiu a liberdade do domínio Espanhol, para isto fez uma trégua

durante 10 anos com a Holanda, estendendo esta trégua até o Brasil. Enquanto isto,

Nassau pode firmar seu domínio e implantar algum progresso no Nordeste com a

criação de hospitais e asilos, além de pavimentar ruas. Criou o forte da Vila Penedo,

denominado Forte Maurício. Nassau promoveu um bom relacionamento com os

19 Segundo o site http://holandeses.pedagogia.vilabol.uol.com.br/holandeses.htm, nesta época, a região


mais rica do mundo na produção do açúcar era Pernambuco.
20 Figura foi extraída do site: http://holandeses.pedagogia.vilabol.uol.com.br/holandeses.htm, em maio

de 2.009.
25

senhores de engenho, fazendo festas para o povo, melhorias nas cidades,

empréstimos aos proprietários rurais, incentivou as ciências e as artes. Convocou o

primeiro parlamento da América do Sul, com o objetivo de criar uma legislação para

o Brasil holandês.

Mas, em 1644, devido aos conflitos causados pelos seus considerados gastos

excessivos, Nassau pede demissão à Companhia das Índias. Após a partida de

Nassau, os senhores de engenho, que não estavam conseguindo pagar os

empréstimos para plantação devido às inundações, epidemias nos escravos, secas e

especialmente devido a queda do preço do açúcar na Europa, passaram a conflitar

com os comerciantes holandeses. Com isso, a Companhia das Índias assumiu as

dívidas dos senhores de engenho e, por isso, passaram a intervir nos engenhos e

apreender a produção. Logo em 1645 começou a rebelião pernambucana contra os

holandeses. Recebeu o apoio de Dom João VI, de Portugal e, depois de muitas

batalhas, em 1645, os holandeses cederam e assinaram a capitulação. Depois, com

um acordo conhecido como a Paz de Haia, a Holanda recebeu de Portugal uma

indenização pela perda do Nordeste, valor levantado por Portugal através de

impostos cobrados do Brasil.21

A investida da Holanda na colônia portuguesa Brasil, parece ter sido um grande erro,

havia outras opções na época das Guianas e em La Plata, havia na época uma

proposta a este respeito, mas foi preterida pela empresa. No entanto, pelo menos a

21Disponível em: http://holandeses.pedagogia.vilabol.uol.com.br/holandeses.htm. Acesso em 23 Fev.


2009.
26

nível de religiosidade e de tolerância religiosa, o nosso país perdeu muito, a isto

Schalkwijk (2004, p. 383), diz:

Durante a época holandesa, a situação político-religiosa tendia à


formatação de uma teocracia cristã reformada, que incluía um grande
grau de liberdade religiosa, tanto de consciência, como de exercício
de culto para os não-reformados. Depois da expulsão dos
holandeses, restabeleceu-se uma teocracia católico-romana, que não
permitia liberdade religiosa e que se sentia obrigada a tirar a vida
daqueles que não estavam dispostos a aceitar seu pensamento.
Assim, terminaria, temporariamente, o enclave do renascimento no
Nordeste, e com isso o enclave da Igreja Cristã Reformada. O
Nordeste se fecharia provisoriamente ao cristianismo reformado,
como a Holanda se fecharia emocionalmente ao catolicismo romano,
por causa de sua luta político-religiosa contra a Espanha. E os
“flamengo-brasileiros”, da Igreja Cristão Reformada, morreriam longe
de sua terra natal; por enquanto, não havia lugar para eles em um
Brasil de dimensões continentais.

2.2 A imigração holandesa no Brasil

Nos Países Baixos, não havia a possibilidade de expansão na área


agrícola, já que as cidades cresciam, engolindo e industrializando
lentamente parte das terras cultiváveis. Os polderes – planície
conquistada sobre o mar do Norte – ainda estavam em projeto,
portanto sem condições de exploração imediata. Os emigrantes
neerlandeses eram especialmente agricultores, operários de
indústrias mecânicas, comerciantes, etc. (SCHERER, 2004, p. 2).

Desde o século 19, encontrava-se um número significativo de imigrantes, vindos da

Europa na região Sul do Brasil. No início daquele século veio um número menor de

imigrantes que se estabeleceram como pequenos proprietários nos núcleos coloniais

etnicamente homogêneos, especialmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa

Catarina e Paraná. O Estado do Paraná apresenta umas das maiores


27

heterogeneidades étnicas no sul do Brasil. Existem grupos étnicos de origem alemã,

polonesa, ucraniana, italiana, japonesa e portuguesa. Estes povos ajudaram a

construir o estado do Paraná que se conhece hoje. Era uma pequena população

espalhada em lugarejos e vilas, formando cidades tranquilas.

A estrutura social e econômica, formada desde os primórdios da colonização,

atendia a uma sociedade escravocrata e a uma economia predominantemente

agrícola. Na segunda metade do século 19, chegaram outras levas de imigrantes,

estas maiores que a primeira. O impacto logo foi percebido na industrialização de

Ponta Grossa, Curitiba, Palmeira, Lapa e em outras pequenas regiões.

Não se tem um número exato de holandeses que entraram no Brasil, pois a Holanda

tem uma lei para garantir a privacidade de seus cidadãos fora do país, garantindo-

lhes o direito da não obrigatoriedade de registro. Sem estatísticas oficiais, apenas

estimativas podem ser feitas. Estas variam entre dez e trinta mil. Ao certo, não se

sabe quantos holandeses vivem em nosso território. É comprovado apenas que

estão em todas as regiões do Brasil, envolvidos em diferentes atividades econômicas

e sociais, compondo a cultura brasileira. Os estados de São Paulo, Paraná, Espírito

Santo e Rio Grande do Sul abrigam os maiores grupos de holandeses ou

descendentes. Observando estas comunidades percebem-se diferenças em relação

ao desenvolvimento, mas semelhanças culturais, mostrando de longe a Holanda no

Brasil. O perfil desta população inclui diferentes atividades e não se limitam a

cidades e vilas com seus estereótipos: moinhos ao centro, tamancos nas portas e

bibelôs nas janelas, com cortinas rendadas brancas. Cada imigrante se organizou e
28

atuou na cooperação social, são evidentes a disposição e empenho nas atividades

relacionadas à estruturação do grupo.

A imigração holandesa em Castro-PR ocorreu em dois momentos e lugares distintos,

no início do século, em Carambeí - antigo distrito de Castro, e em 1950 em

Castrolanda. Enfrentaram muitas dificuldades iniciais, especialmente com a perda

de parte do rebanho, vítima de doenças e intoxicações. A diferença cultural e

lingüística dos holandeses também foi uma das dificuldades encontradas, comum

aos imigrantes. Em Castrolanda esses obstáculos foram vencidos.

Em Carambeí, a Cooperativa Central de Laticínios do Paraná, responsável por uma

das maiores bacias leiteiras do Brasil, foi formada pela Sociedade Cooperativa de

Castrolanda, estruturada pelos imigrantes holandeses em Castrolanda, unida à

Cooperativa Batavo e à Cooperativa Agrícola de Arapoti.

No começo do século XVIII ocorreu a colonização da região dos Campos Gerais com

a fixação e formação de currais nas sesmarias concedidas a franceses, belgas,

alemães, holandeses e outros. Os caminhos da civilização surgiram também com o

chamado ciclo do tropeirismo e com os primeiros caminhos seguindo os vales dos

rios e as trilhas dos índios. Muitas dessas trilhas cortavam a terra, do Atlântico ao

Pacífico. Conhecidos pelos nativos, acompanhados por batedores índios,

provavelmente foram usados pelos espanhóis, portugueses, colonizadores e jesuíta

e pararam num sítio conhecido como Vau do Iapó. Pelo regime de sesmarias, a

Coroa Portuguesa concedia grandes áreas de terras às famílias que pretendessem

aqui se fixar. Realizado por Pedro Taques de Almeida, data de 19 de março de 1704,
29

surgiu o primeiro requerimento dessa natureza. Para realizar o trabalho de

desbravamento, disputando o território com índios, o sesmeiro contava com um

grupo de pessoas formado por famílias, parentes, agregados, índios e escravos de

origem africana.

As conseqüências da Segunda Guerra Mundial atingiram toda a Europa. A bordo do

navio Alioth, em 1951, cinqüenta famílias holandesas, compostas por pecuaristas e

agricultores, buscaram uma nova vida em um país livre da herança da guerra.

Trouxeram consigo alguns equipamentos agrícolas, maquinários para a instalação

de uma pequena fábrica de laticínios e mil cabeças de gado holandês, preto e

branco, de alta linhagem.

Um grupo vindo de Roterdã se instalou nos Campos Gerais do Paraná no início do

século 20, formando posteriormente a comunidade de Carambeí. Abriram caminho

para os que vieram no final da década de 1940, depois da Segunda Guerra Mundial.

Enfrentando as dificuldades, se firmaram em comunidades agrícolas, organizando-se

em cooperativas estruturadas, abrindo passagem para os grandes investidores, que

chegaram em peso. Após a Segunda Guerra Mundial, Humberto (Hubertus)

Slegeers, da Embaixada dos Países Baixos, falou sobre o que atraiu os holandeses

no Brasil. Pela triste memória da ocupação nazista, especialmente os agricultores,

começaram a buscar no Brasil a paz e a prosperidade. Em 1948, fundaram uma

colônia católica chamada Holambra, no interior de São Paulo, que conta com mais

de uma centena de empresas agrícolas. Doze anos depois se expandiram, fundando

Holambra II.
30

Situados próximos de estradas de ferro havia os núcleos. Esses núcleos eram

grandes porções de terra, loteados em pequenas propriedades e vendidas aos

imigrantes. Progrediram e em poucas décadas se transformaram em cidades, como

São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Nova Europa, Itanhaém, Nova

Odessa, Ribeirão Pires, todas cidades do Estado de São Paulo. Em outros estados

ocorreu o mesmo.

Em 1911, Lundert Verschoor estabeleceu contato com a Brazil Railway Company,

uma companhia com planos de colonização para a região de Carambeí e colaborou

com o início da imigração holandesa, nessa região. A colônia de Carambeí começou

com 52 holandeses, representados pelas famílias: Verschoor, Vriesmann, De Geus,

Voorsluys, Harms e Los. O português Carlos Ventura estabeleceu-se em Carambeí

em 1918, como capataz na fazenda do francês Capelle, tornando-se mais tarde

proprietário da maior parte desta região. Surgiu em julho de 1925 a Sociedade

Cooperativa Holandesa de Laticínios, sendo que a marca Batavo vem desde 1928.

Através da Lei Estadual número 11.225 de 13 de Dezembro de 1995, foi criado o

Município de Carambeí, na sede do antigo Distrito de Carambeí, com território

desmembrado dos municípios de Castro e Ponta Grossa. 22

A imigração holandesa para o Brasil não é configurada pelo grande contingente, mas

pela riqueza histórica e sucesso em muitos casos, na visão que unia o trabalho, a

religião e a educação, sobre isto discorre Luyten (1981, p. 18):

Os holandeses estão longe de constituírem o maior contingente de


imigrantes que vieram para o Brasil. Por outro lado, o Brasil nunca

22 Disponível em: www.histedbr.fae.unicamp.br. Acesso em 14 Fev. 2009.


31

esteve em primeiro lugar na opção dos imigrantes neerlandeses, que


sempre preferiram países com clima temperado. O que vai
caracterizar o Brasil para os holandeses desejosos de emigrar é a
possibilidade garantida de poderem se radicar aqui colonos, em
estabelecimentos grupais que lhes permitam uma boa margem de
organização social própria e liberdade de culto religioso em língua
holandesa.

2.3 Colônias Holandesas no Brasil

Com a carência de mão de obra decorrente da abolição da escravatura, a

necessidade de tornar produtivo os seus interiores e o desejo de atrair novas

técnicas agropecuárias, o Brasil recebeu muitos imigrantes com a intenção de

desenvolver o progresso necessário a estas demandas. A imigração de holandeses,

dentre outros povos, teve sua maior força no final do século 19 e início do século 20,

exatamente motivada por estas questões vistas acima. Por causa da devastação

causada pela Segunda Guerra Mundial, da miséria, desemprego nos países de

origem e da liberdade religiosa difundida em nosso país nesta época, alguns grupos

neerlandeses imigraram ao Brasil. Os holandeses foram atraídos pela posse rural e

pela formação de núcleos agropecuários, possibilidade muito remota em seu país de

origem. As motivações de imigração entre os holandeses para o Brasil, são

praticamente iguais, tendo uma pequena variação entre os holandeses protestantes

e católicos, sendo para os últimos, o fato do Brasil ser uma grande nação católica,

fator relevante. Sobre isto, falando da imigração para Holambra I, diz Abreu:

Quanto a causa que levou a maioria a emigrar, embora varie muito,


pode ser esquematizada no geral em torno da situação existente na
Holanda naquela época (anterior a formação do Mercado Comum
32

Europeu para a maioria) onde, além das dificuldades financeiras, a


ausência de espaço criava problemas para estes agricultores
católicos, tradicionalmente portadores de elevada taxa de natalidade.
O Brasil surgia para eles como o país católico com melhores
possibilidades em geral, aliada a abundância de terras que garantiria
a manutenção do status de agricultor para eles e seus filhos.
Contudo, embora estes sejam os aspectos fundamentais, há alguns
colonos que admitiram ter vindo provavelmente por espírito de
aventura, sendo que um deles declarou ter emigrado para esquivar-
se do serviço militar. Por outro lado, a possibilidade da colonização
em grupo que o Brasil oferecia foi um fator decisivo para atrair esta
população.

Da Província Zelândia, nos Países Baixos, se instalou no Estado do Espírito Santo, a

primeira Colônia, intitulada “Holanda”, em 1860. Formaram uma companhia para

comercializar a produção agrícola. Devido às dificuldades enfrentadas, esta colônia,

só conseguiu produzir o suficiente para o autoconsumo, impedindo assim, o

crescimento da Colônia Holanda do estado do Espírito Santo.

A segunda Colônia holandesa ficou conhecida como “Colônia de Gonçalves Júnior”.

No ano de 1908, vindos da Província Holanda do Sul, instalaram-se no Paraná,

também com uma cultura agrícola, mas, devido pragas, animais que devastavam as

plantações, como porcos do mato e ratos, esta colônia também se dispersou.

A terceira Colônia holandesa implantada no Brasil, de origem protestante reformada,

teve maior prosperidade. Foi instalada no estado do Paraná, entre as cidades de

Castro e Ponta Grossa, sendo denominada até nossos dias, como Colônia de

Carambeí. No fim de março do ano de 1911, este grupo, cerca de 450 holandeses,

migraram para a região de Carambeí vindos da Holanda, província de Holanda do

Sul e da cidade de Gonçalves Júnior no Paraná. Estes são considerados os


33

precursores das colônias holandesas reformadas que se fixaram no Paraná. O

grande sucesso da colônia holandesa de Carambeí foi demonstrado com a criação

da Sociedade Cooperativa Hollandeza de Laticínios Batavo, a famosa marca

brasileira de alimentos Batavo. Depois, juntamente com a Cooperativa Castrolanda e

a Cooperativa Agropecuária Arapoti, formaram a Cooperativa Central de Laticínios

do Paraná, localizada em Carambeí, responsável por uma das maiores bacias

leiteiras do Brasil. Em Carambeí, foi fundada a primeira Igreja Evangélica Reformada

em solo brasileiro. As demais colônias seguiriam a visão religiosa reformada de

Carambeí para subsistência social, sob o tripé; Igreja, Escola e Cooperativa

Agropecuária.23

As graves consequências da Segunda Guerra Mundial motivaram, também, a vinda

de imigrantes holandeses católicos para o Brasil, em busca de melhores condições

de subsistência. Em 14 de julho de 1948, cerca de 500 imigrantes holandeses

chegaram ao nosso país, vindos da província de Brabante do Norte, fixando-se na

antiga fazenda Ribeirão, interior de São Paulo. Ali fundaram a colônia de Holambra I,

e a Cooperativa Agropecuária Holambra. Mas, sua maior economia desenvolve-se

sob o cultivo de flores. Entre 1951 e 1965, é estabelecido aquele que seria o maior

centro de comercialização de plantas e flores do Brasil. Hoje conta o Veilling

Holambra, fundado em 1989, sendo o maior produtor e exportador de flores do

Brasil.24

23 A maior parte destas informações encontra-se no livro comemorativo: Carambei 75 Anos – 1911-
1986, escrito por Hendrik Adrianus Kooy, em 1986.
24 Disponível em: http://holandeses.pedagogia.viabol.uol.com.br/holandeses.htm. Acesso em 12 Fev.

2009.
34

Em 1962 chega outro grupo para a região próxima a Holambra I. Adquirindo uma

quantidade maior de terras, com características semelhantes ao grupo anterior,

atuando na mesma profissão agropecuária e de religiosidade católica, com apenas

40 pessoas, denominaram esta região de Holambra II.

Em 1949, um grupo de holandeses se instalou no Paraná, na fazenda Monte Alegre,

propriedade da empresa de papel celulose Klabin. O objetivo era que estes

imigrantes fornecessem laticínios aos funcionários da fazenda. Mas, por volta de

1970, com o término do contrato com a Klabin, muitos colonos voltam à Holanda,

dispersando assim a Colônia.

Também em 1949, outros holandeses instalaram-se no Rio Grande do Sul, no

município de Não-Me-Toque, de origem religiosa católica romana e vindos, em sua

maioria, das províncias de Nord-Brabant, Limburg e Gelderland. Uma vez que os

imigrantes italianos e alemães, que os havia precedido nas décadas anteriores,

haviam ocupado as melhores terras, aos neerlandeses sobraram as terras mais

acidentadas e cheias de vegetação rasteira, portanto, de difícil cultivo. Com as

dificuldades apresentadas por essas terras, os holandeses se superaram,

desenvolvendo técnicas modernas e iniciando empreendimentos com empresas que

obtiveram sucesso através do plantio de batata e milho e, posteriormente, tornando-

se grandes produtores de soja e milho.


35

2.4 A Colônia Holandesa em Castro - PR

Em toda a Europa havia um sentimento negativo, devido aos traumas e rigores da

Segunda Guerra Mundial. A bordo de um navio chamado Alioth, holandeses em sua

maioria pecuaristas e agricultores, partiam para nova pátria Brasil, onde não

sofreriam mais as agruras da guerra. Tinham a intenção de estabelecer uma

pequena fábrica de laticínios, para tanto traziam consigo maquinários, equipamentos

agrícolas e uma milhar de cabeças de gado holandês de alta linhagem. A cidade de

Castro no Paraná recebeu, distintamente em dois momentos, os imigrantes

holandeses. Primeiro na região de Carambeí, a partir de 1911, antigo distrito que

agora faz parte da cidade de Ponta Grossa, depois em Castrolanda, a partir de 1951,

região que recebeu este nome pela presença dos imigrantes holandeses. Os meios

usados para imigração de Castrolanda são relatados por Rickli:

O próprio movimento de emigração que deu origem a colônia


holandesa em Castro e os acordos com o governo brasileiro foram
encabeçados por duas entidades ligadas as igrejas reformadas –
Central Cristã de Emigração e Associação Cristã de Granjeiros e
Horticultores. Também a seleção dos futuros imigrantes foi realizado
pelo diretor de uma escola protestante, o Sr. Kaemingk, Escola Cristã
de Agricultura em Hoogeveen, no norte da Holanda.

Trataremos mais amplamente destas Colônias mais adiante, no capítulo sobre

relações da Igreja Evangélica Reformada no Brasil em Castrolanda.


II Parte

IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM


CASTROLANDA

3. CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO

Na época que desencadeou as levas imigratórias no Brasil, que atraiu os imigrantes

holandeses, dentre outros, o Brasil vivia muitas transformações políticas e religiosas,

especialmente ligadas à necessidade de mão de obra, uma vez que a abolição da

escravatura havia impedido a demanda de mão de obra escrava. Com a visão

comercial mundial de expansão e, por isto, com a necessidade de liberdade religiosa

para os produtos transitarem sem maiores impedimentos de ordem religiosa, o Brasil

abre suas fronteiras e recebe milhares de imigrantes de todo o mundo, especialmente,

no final do século XIX e início do século XX. Havia no governo brasileiro, na época em

que os holandeses chegaram ao nosso país, a necessidade de ocupar e fazer produzir

os interiores brasileiros.

Com isto começam a chegar ao Brasil, grupos que trouxeram além de boa mão de obra

e tecnologia agropecuária, o chamado “protestantismo de imigração”, ou seja, grupos

que traziam suas religiões, sem intenção propriamente de evangelização, mas com

intuito de manter suas tradições e religiosidade. Ao mesmo tempo, com a liberdade

religiosa necessária para o desenvolvimento brasileiro, começam também a vir os


37

missionários do chamado protestantismo de missão ou conversão, transformando

definitivamente o cenário religioso brasileiro, que até então, era dominado pelo

catolicismo romano.

3.1 Política e religiosidade brasileira

Apesar de, desde 1808, se admitir a presença protestante, a


Constituição de 1824 estabelece como religião oficial o catolicismo e isto
implica numa série de questões para o imigrante não católico: negação
de certidão de nascimento, casamento civil/religioso, certidão de
óbito/cemitério além da proibição do acesso ao serviço público e cargos
eletivos. Os protestantes, portanto, só participavam da vida econômica
da nação, e não tinham nenhum espaço de influência cultural.
(ALENCAR, 2005, p. 40)

O primeiro grupo que se pode incluir no protestantismo de imigração, que chegou ao

Brasil, foram os os ingleses anglicanos, em seguida, chegam os diversos protestantes

das missões norte americanas, dentre estes, os presbiterianos, metodistas, batistas,

congregacionais e episcopais anglicanos, inaugurando no Brasil, as igrejas do

protestantismo de conversão ou missão.

A visão missionária dos protestantes vindos dos Estados Unidos baseava-se em

estratégias da conversão dos católicos que dominavam o Brasil. Por isto atuavam

através da educação, do trabalho proselitista e da polêmica. Atuar na educação

brasileira era imperativo às primeiras missões, uma vez que esta é a visão original do

protestantismo histórico. Paralelamente, a visão missionária americana passava pela


38

ideologia de alcançar indiretamente as classes dirigentes, políticas e intelectuais do

nosso país, tendo como objetivo maior, a construção de uma civilização cristã

protestante.

Mesmo com o alto índice de analfabetismo, persistente no Brasil, desde o período da

chegada dos protestantes históricos, estes jamais abriram mão do víeis intelectual. Com

isto, a grande massa mais pobre e analfabeta brasileira, foi pouco alcançada durante as

décadas que o protestantismo histórico se manteve no Brasil. Mendonça afirma que o

protestantismo foi predominantemente urbano, fora das áreas onde se desenvolveu o

plantio de café, e, só com as mudanças sociais que ocorreram no início do século 20, é

que esta situação começou a mudar (MENDONÇA, 1995, p. 185).

Durante todo o século 20, o protestantismo brasileiro se transformou muito através dos

movimentos, primeiramente, “pentecostal” e, posteriormente, já na final do século,

“neopentecostal”, com isto, perdeu sua característica mais comum e deu lugar a

diversidade e complexidade religiosa. Hoje a maioria protestante encontra-se no grupo

pentecostal, mas podemos perceber que os neopentecostais estão crescendo mais

rápido que os demais. Por outro lado, o protestantismo mais antigo, das igrejas

tradicionais ou históricas, que se dividem em progressistas e conservadores,

desenvolveu-se de forma muito lenta e tem o crescimento mais reduzido em

comparação aos demais grupos protestantes.


39

3.2 Breve histórico do protestantismo brasileiro

Tanto a presença francesa como a holandesa no Brasil, foram anuladas em termos de

protestantismo. A força católica romana que a muito dominava a religiosidade brasileira,

seja por sua catequese ou pela inquisição que aqui atuou, tratou de banir o

protestantismo destes dois eventos, e isto Tucker descreve:

Depois da tentativa dos franceses evangélicos, houve outras imigrações


que também não afetaram muito a evangelização no Brasil. Os
holandeses vieram para a Bahia em 1624, mas ficaram no nordeste
apenas 30 anos, antes de serem expulsos, acompanhados de qualquer
brasileiro ou índio que tivesse abraçado a fé protestante. Algumas
pessoas haviam se convertido como resultado do esforço dos
holandeses em Recife e Olinda que, além de quarenta pastores,
mantinham oito missionários encarregados de pregar aos índios e
implantar aldeias evangélicas, onde os índios pudessem ter paz, plantar
e em geral melhorar as suas vidas. Não obstante, o fruto desse esforço
foi desfeito com a expulsão da comunidade.

No período em que o Brasil passou a República, a presença protestante foi mais

significativa, mas bastante conturbada por causa da falta de coesão entre os próprios

protestantes. O debate teológico que vinha desde a Europa chega ao Brasil, junto com

as igrejas protestantes, e sobre isto, Silva (2000, p. 23), comenta:

A história do protestantismo brasileiro no período republicano é uma


história de notável crescimento e crescente visibilidade social. Nesse
longo período, as igrejas evangélicas deram importantes contribuições a
indivíduos, famílias e à sociedade nas áreas: evangelística, educacional
e ética. Infelizmente, é também uma história de lamentáveis divisões e,
particularmente nos últimos anos, de um testemunho questionável e
valores distorcidos.
40

Desde o período pós Reforma Protestante até o fim do século XIX, durante quase três

séculos, houve muitas lutas teológicas. O resultado disso foi a implantação do

protestantismo americano, berço do protestantismo brasileiro. A religião atua como um

meio de legitimação dos grupos de imigrantes, como diz Mendonça (1995, p. 204):

Fiz uma tentativa de encontrar os traços predominantes do


protestantismo americano que foi filtrado para o Brasil pela empresa
missionária. A teologia desse protestantismo foi forjada nas longas lutas
que começaram na Europa da Reforma, em que a religião cristã
buscava seus caminhos de ajuste diante das mudanças de profundidade
que então se processavam. A teologia, o pensamento religioso, então
gozando de grande prestígio, foram aos poucos se construindo a partir
das demandas de ordem sócio-política, cujas respostas a essas
demandas levavam, muitas vezes, um caráter de legitimação.

Três vieses sociais influenciaram positivamente a implantação do protestantismo

brasileiro. Primeiramente, o protestantismo foi implantado na sociedade brasileira em

momento histórico adequado. Segundo, teve influência especialmente na camada livre

e pobre da população rural. Terceiro, seguiu a trilha do café.

Pode-se dividir em alguns períodos, a história do Protestantismo no Brasil. Entre 1889 a

1930, temos o Primeiro Período. As principais denominações históricas do

protestantismo brasileiro, já estavam aqui desde a Proclamação da República. Os

congregacionais foram os primeiros, chegaram em 1855, depois os presbiterianos em

1859, os metodistas em 1876, os batistas em 1881 e os episcopais em 1890.

Anteriormente, já estavam instaladas, as igrejas fundadas pelos imigrantes que não

possuem características conversionistas ou missionárias, com destaque para os

anglicanos, desde 1816 e os luteranos, desde 1824. Mas, havia outros evangélicos

nesta época, dentre os quais, algumas igrejas pentecostais que haviam surgido e
41

estavam em desenvolvimento, destacamos Igreja Cristã, Igreja Batista Independente,

Congregação Cristã no Brasil, Assembléia de Deus, Adventistas e Exército da

Salvação. Em termos numéricos, o protestantismo brasileiro era inexpressivo, sua

principal característica neste período foi o processo de nacionalização e independência

destes diferentes grupos protestantes, que foram gradativamente se tornando mais

independentes das suas igrejas de origem.

Entre os anos de 1930 e 1964, data-se o Segundo Período do protestantismo brasileiro.

Nesta época, a grande maioria das igrejas, havia conquistado a independência das

suas igrejas de origem estrangeiras. Enquanto isto, as igrejas pentecostais já tinham

superado numericamente em muito as igrejas históricas, trazendo mudança radical no

protestantismo brasileiro. Com o pentecostalismo, as menores classes sociais tiveram

alcance nunca visto. A partir daí o número de protestantes no Brasil, passou a ter maior

expressão nacional.

No chamado Terceiro Período, entre os anos de 1964 e 2000, dois eventos importantes

marcaram o protestantismo brasileiro. Primeiramente, os resultados do Concílio

Vaticano II, ocorrido entre 1962 e 1965, que denominou os protestantes de “irmãos

separados”, abrindo de certa forma a Igreja Católica para os protestantes, além de

revelar novas concepções sobre o culto ou a missa da igreja e a relação da igreja com

a sociedade. Esta abertura do catolicismo fortificou o denominado “movimento


25
ecumênico” ou “ecumenismo” , trazendo grandes controvérsias dentro do

protestantismo brasileiro e mundial. Em segundo lugar, o protestantismo brasileiro foi

25
Ecumenismo é o movimento religioso que procura unir as diversas denominações cristãs em uma
mesma liturgia.
42

afetado pelos resultados das ditaduras militares e dos movimentos de esquerda que

dominaram este período em toda a América Latina. Com isto, surgiu a ênfase a

Teologia da Libertação, movimento que enfatiza a igualdade social, no meio religioso.

Tudo isto contribuiu para que houvesse um pluralismo protestante muito grande, que

trouxe aspectos negativos, destacados por Peter Berger (BERGER, 1985, p. 139):

O pluralismo religioso, antes de representar eventual ‘reencantamento


do mundo’, colabora para a secularização, já que o aumento da
concorrência relativiza as definições religiosas tradicionais e acarreta
racionalização das estruturas religiosas.

Segundo alguns estudiosos da religião brasileira, o pentecostalismo brasileiro passou

por três ondas, a saber: A primeira onda ocorreu entre 1910 e 1940, com o surgimento

simultâneo da Assembléia de Deus e da Congregação Cristã do Brasil, que foram

predominantes durante 40 anos no meio pentecostal. A segunda onda pentecostal

ocorre entre 1950 e 1960, na cidade de São Paulo com o surgimento das Igrejas,

Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo, Deus é Amor, entre outras. A terceira onda

ocorre entre 1970 e 1980, no Rio de Janeiro, com o surgimento do neopentecostalismo,

destacando-se as Igrejas Universal do Reino de Deus26 e Internacional da Graça, entre

outras.

O protestantismo brasileiro sofreu profundas mudanças em todo o período de sua

instalação até a atualidade, moldando as denominações que aqui se instalaram e

26Ricardo Mariano escreveu sobre o crescimento específico e magia exercida pela Igreja Universal do
Reino de Deus, na Revista da USP, n. 31, p. 122.
43

deixando marcas culturais localizadas na sociedade onde está inserido, mas sem

apresentar soluções que beneficiem a diversidade sócio-cultural do povo brasileiro,

sobre isto escreveu Léonard (1963, p. 354):

Cabe ao protestantismo brasileiro solucionar os problemas apresentados


pela existência, nos meios proletários, de movimentos espirituais como
das Congregações Cristãs. Se não quiser ou não julgar necessário
ocupar-se deles, ele correrão o risco de cair na extravagância e depois
na indiferença religiosa.

3.3 Protestantismo de Imigração no Brasil

O Protestantismo chegou ao Brasil, de forma notável, com as imigrações e através dos

missionários, vindos das várias igrejas dos Estados Unidos e de outras regiões da

Europa, isto só a partir do século 19. Até os primeiros anos deste século, não havia

vestígio algum de protestantismo. Sobre este pensamento atesta Ribeiro (1987, p. 15).

Ao iniciar-se o século 19 não havia no Brasil vestígio de protestantismo.

A invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal ocasionou a famosa mudança da corte

portuguesa para a colônia Brasil. Já em janeiro de 1808, o príncipe Dom João VI

decretou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Após a chegada da corte,

em março de 1808, os privilégios a chegada de imigrantes de qualquer nacionalidade e

religião cresce, a ponto de Dom João estabelecer amplos privilégios aos imigrantes que

chegavam, já em novembro.
44

Com os Tratados de Aliança e Amizade, e de Comércio e Navegação entre Portugal e a

Inglaterra, firmado em fevereiro de 1810, no artigo XII, concede-se aos estrangeiros

“perfeita liberdade de consciência” para praticarem sua fé. Alderi Souza de Matos diz

que, ainda assim, havia algumas restrições para liberdade de culto:

Foi somente no início do século XIX com a transferência da corte


portuguesa para o Brasil que o protestantismo começou a implantar-se
definitivamente no país. O célebre Tratado de Comércio e Navegação
firmado entre Portugal e a Inglaterra em 1810, pela primeira vez tornou
possível o exercício legal do culto evangélico, com algumas restrições.
(MATOS, 2000, p. 59).

Em 1916 chegou ao Brasil, o primeiro capelão protestante, Robert C. Crane, da Igreja

Anglicana e só em 26 de maio de 1822, foi inaugurada a primeira capela no Estado do

Rio de Janeiro, que foi seguida de outras nas principais cidades costeiras. E foi

exatamente neste período que chegaram outros protestantes estrangeiros; americanos,

suecos, dinamarqueses, escoceses, franceses, e especialmente, alemães e suíços de

tradição luterana e reformada.

A partir de 1822, com a Independência do Brasil, cresceu a necessidade de atrair

imigrantes europeus para suprir a necessidade de mão de obra, com isto houve

ingresso considerável de protestantes filiados a diferentes confissões. Quando da

Proclamação da Independência, porém, ainda não havia nenhum templo protestante,

nem havia culto protestante na língua portuguesa no país.

Os principais grupos expressivos de imigrantes protestantes que se estabeleceram no

Brasil foram primeiramente os anglicanos, a partir de 1808, e os luteranos, a partir de

1824. O Império estabeleceu constitucionalmente em 1824, que a religião Católica


45

Apostólica Romana continuaria a ser a religião oficial do Império e todas as outras

religiões, seriam permitidas em cultos domésticos ou em lugares próprios sem

aparência exterior de templo.

Entre 1824 e 1830, 60% dos imigrantes alemães que chegaram ao Brasil eram

protestantes e a maior parte destes imigrantes se fixou na região Sul. Em Nova

Friburgo, os suíços católicos que tinham migrado em 1820, abandonaram a colônia, e

assim, 324 protestantes alemães que chegaram em 1824, puderam usufruir de uma

colônia com a infra-estrutura montada.

Nos primeiros anos de imigração, os luteranos administravam sua própria vida religiosa

por falta de ministros ordenados. A história denominou de “pregadores colonos” os

leigos que eram ordenados aos ofícios e funções docentes das igrejas destes

imigrantes. Somente a partir de 1850 começaram a vir da Suíça e da Prússia,

missionários e pastores para atender as igrejas dos alemães. Por isto as igrejas dos

imigrantes alemães do Sul do Brasil passaram a ter características mais européias. A

professora da Universidade de São Paulo, Dra Maria Lucia S. Hilsdorf complementa

esta informação, dizendo:

O trabalho livre dos imigrantes nas grandes cidades propriedades


cafeicultoras era, na década de 1850, uma possibilidade discutida e
experimentada por alguns fazendeiros que queriam braços para suas
lavouras. Mas, uma das perguntas que os contemporâneos de Simonton
faziam era se, crescendo, além de alterar as relações de trabalhos, essa
imigração traria uma mudança significativa da política até então seguida
no campo religioso, pois os contingentes de imigrantes que aqui
chegavam incluíam tantos ou mais protestantes que católicos... Em
1858, o presidente J. J. Fernandes Torres já calculava em cerca de 4 mil
o total de colonos portugueses, alemães e suíços radicados na província
de São Paulo, a maioria deles de religião evangélica. A presença de
protestantes seria ampliada até os meados da década seguinte.
(HILSDORF, 2000, p. 35 e 36).
46

Sem dúvida alguma, a chegada das sociedades bíblicas e o estabelecimento do

Protestantismo de Imigração em solo brasileiro, enfrentando todas as dificuldades e

criando precedentes políticos de tolerância religiosa, facilitaram consideravelmente o

ingresso do Protestantismo de Missão ou Conversionista, que viria na “carona seguinte”

dos imigrantes. A este respeito trata Ribeiro (1981, p. 13):

Ao iniciarem seu movimento de reforma religiosa no Brasil os


presbiterianos se beneficiaram de terem sido precedidos por outros
grupos protestantes: as Sociedades Bíblicas, Britânica e Americana;
imigrantes protestantes, e o doutor Robert Reid Kalley com seus
madeirenses, abriram caminho tanto para presbiterianos, como para
metodistas, batistas, episcopais fundarem igrejas entre brasileiros.

A legislação na época de Dom Pedro II avançou em muito nas facilidades e liberdade

religiosa tão combatida pelo catolicismo da época, permitindo a chegada dos

missionários e evangelistas de várias denominações do mundo. Segundo Wilson

Santana da Silva, nesta época o Brasil tinha os seguintes números de protestantes:

Em 1930, de uma comunidade protestante de 700 mil pessoas no país,


as igrejas imigrantes tinham, aproximadamente, 300 mil filiados. A maior
parte estava ligada à Igreja Evangélica Alemã do Brasil (215 mil) e
viviam no Rio Grande do Sul.27

Com a chegada dos imigrantes de vários países, chega também como bagagem suas

religiões, fator essencial para introdução do protestantismo em nosso país. A imigração

trouxe os religiosos europeus e americanos que traziam a Reforma Protestante como

ideal de vida, sonhavam em local onde podessem desenvolver o trabalho e a vida

espiritual livremente. Justo L. Gonzalez retrata isto, dizendo:

27Apontamentos de aula do professor da Escola Superior de Teologia, da Universidade Mackenzie, Wilson


Santana Silva. 2002.
47

Uma conseqüência notável das muitas ondas de imigração foi a


fundação de comunidades religiosas. Desde os primórdios da
colonização britânica na América do Norte, um dos impulsos que haviam
trazido os europeus a estas plagas era a possibilidade de se criar uma
nova sociedade em uma nova terra. [...] os contingentes de imigrantes
continuavam em seus novos países as suas antigas práticas religiosas.
Muitos traziam consigo os seus pastores, ou os mandava buscar em
seus países de origem. O seu objetivo, ao virem para as novas terras,
não era pregar aos naturais do país e, por isso, a maioria dos imigrantes
contentou-se em guardar para si a fé de seus antepassados.
(GONZALEZ, 1988, p. 25)
48

4. A IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA DO BRASIL - IERB

As origens da Igreja Evangélica Reformada no Brasil reportam-se a Holanda e,

juntamente com a imigração neerlandesa, foi introduzida em nosso país nos séculos

19 e 20.

4.1 A ligação eclesiástica com a Holanda

A Igreja Cristã Reformada da Holanda é uma das pioneiras e uma das maiores

igrejas no protestantismo holandês, desde a entrada do protestantismo na Holanda,

até nossos dias. Após a liberdade alcançada do império espanhol por William de

Orange, no século XVI, a Holanda se declarou oficialmente protestante, e a igreja

que teve maior ascensão desde esta época, foi a igreja ligada ao calvinismo, a Igreja

Evangélica Reformada (IER), que permaneceu como maior igreja até a época da

imigração ao Brasil.

As várias igrejas dos imigrantes que foram instalados no Brasil passaram por

situações semelhantes. Os membros vinham de origens protestantes diferentes e,

para se adaptarem em outro país, tinham que se unir em torno de uma única

denominação. No caso dos holandeses protestantes no Brasil, uniram-se em sua

maioria, a Igreja Evangélica Reformada no Brasil.


49

4.2 A formação e a independência da IERB

Os primeiros imigrantes que chegaram à região de Castro e de Ponta Grossa, no

Paraná, em 1911, formando a colônia de Carambeí, logo trataram de exercitar sua

crença através de cultos e escolas bíblicas aos domingos. Uma casa cedida pelo

governo, durante a semana era usada como escola e aos fins de semana como

igreja. Enquanto não havia pastor, alguns homens que se destacavam na

comunidade religiosa, dirigindo os cultos, reuniões e ensinos. Entre eles destacaram-

se os Srs. L. Verschoor e J.Voorsluys.

Da mesma forma que os imigrantes alemães em período anterior, os imigrantes

holandeses achavam essencial utilizar as reuniões religiosas para agregarem os

membros da colônia e cultivarem sua crença. Apesar de terem origens eclesiásticas

diferentes, foi essencial a unidade em torno de uma mesma igreja. Sobre esta

afirmação, Kooy (1986, p. 90), organizador do livro histórico comemorativo dos 75

anos da colônia de Carambeí, discorre:

Na Holanda os colonos foram adeptos de três Igrejas diferentes, mas


aqui no Brasil, em Carambeí, eles se uniam e viveram como se todos
fossem membros de uma Igreja só.
Durante algum tempo, alguns adotaram a religião da Igreja
Adventista, mas após algum tempo todos se uniram novamente e
agora em definitivo, e um deles, Leendert Verschoor, foi designado
para ler as pregações no domingo enquanto Jacob Voorsluijs cuidou
do ensino bíblico e catequético.
Como já foi mencionado numa outra oportunidade, a união da religião
foi um dos fatores primordiais do ambiente positivo e do progresso
para todos.
50

No início houve bastante proximidade da Igreja Luterana, uma vez que a cultura

européia era comum aos grupos, e os luteranos cediam pastores para atenderem os

serviços religiosos diversos da comunidade holandesa. Nas cidades de Castro e

Ponta Grossa já haviam igrejas luteranas organizadas, e os pastores destas

comunidades eram cedidos para a igreja holandesa.

Com a distância da Holanda, a necessidade de pastores e a necessidade de se

organizarem, a liderança do grupo holandês de Carambeí entrou em contato com um

pastor chamado A. C. Sonneveld, que servia a Igreja holandesa reformada da

Argentina. Esta igreja era ligada às Igrejas Reformadas da Holanda (GKN). Este

contato viabilizou diálogo com as comissões que cuidavam das Igrejas na América

do Sul, da Christian Reformed Church/EUA, Igrejas Reformadas da Holanda e

Igrejas Reformadas da Argentina (IRA). Como resultado destes contatos, a IRA da

cidade de Três Arroios, enviou seu pastor, Sr. B. Bruxvoort, com vias a organização

da Igreja Reformada em Carambeí, que seria filiada ao presbitério argentino.

Em 1930 os holandeses constroem seu primeiro templo em Carambeí e em14 de

setembro de 1933, foi aprovada a organização da igreja com 31 membros adultos

professos. Os símbolos de fé adotados por esta igreja foram, a Confissão Belga, o

Catecismo de Deidelberg e os Cânones de Dort, denominados os Três Formulários

de Unidade.

O primeiro pastor enviado para a Igreja Reformada de Carambeí foi o Sr. W.

V.Muller, que veio com sua família, enviado pela IRA de Buenos Aires, que foi

prontamente aceito pela comunidade holandesa. Muller desempenhou pastorado


51

profícuo entre os anos de 1935 e 1952, sendo sucedido pelo pastor L. Moesker que

veio com sua esposa e se dedicou com especialidade ao trabalho missionário local.

A partir de 1951, começa chegar outro grupo de imigrantes holandeses para cidade

de Castro, daí começa outra Igreja Reformada na colônia denominada pelos próprios

holandeses de Castrolanda. Esta igreja foi instituída em 25 de outubro de 1952, com

31 membros professos adultos. O pastor W. V. Muller continuou auxiliando o trabalho

no Brasil, sendo comissionado pela Christian Reformed Church/EUA, auxiliando este

novo grupo de Castrolanda.

As primeiras reuniões e cultos em Castrolanda eram feitas na sede da Cooperativa

Agropecuária, que estava também iniciando. Depois, com a chegada de outros

imigrantes, foi construído outro local para funcionar como igreja e como sede para as

atividades comunitárias. A inauguração deste local aconteceu em 5 de julho de 1953,

neste mesmo dia foi decidido em assembléia o direito de voto às irmãs, a

comemoração do Dia de Oração pelo Trabalho, que seria na primeira quarta-feira de

novembro e no dia 1º de maio, o Dia de Ação de Graças e deixaria de comemorar o

segundo dia de Páscoa, Pentecoste e Natal, uma vez que não era costume no Brasil.

Somente no ano de 1955, a Igreja de Castrolanda passa a ter seu primeiro pastor

próprio, o Sr. D. C. Van Lonkhuyzen que foi empossado em janeiro de 1957. Em

1959 inicia-se uma parceria das Igrejas Reformadas da Holanda (IRsH ou GKN),

naquele momento, representada por alguns deputados da missão que encaminham

a vinda do pastor Frans L. Schalkwijk para auxiliar nos trabalhos missionários das

colônias. Com o dinamismo do pastor Schalkwijk, que mantinha uma parceria com a
52

Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), o trabalho missionário foi ampliado para outros

lugares do Estado do Paraná. Devido à falta de obreiros e pastores preparados para

assistência religiosa nas colônias, a falta de recursos próprios para o trabalho

missionário, esta parceria com a IRsH foi essencial para o desenvolvimento das

Igrejas das colônias do Paraná.

No início do ano de 1960 começou a chegar outra leva de imigrantes holandeses

para o Paraná. Esse grupo se estabeleceu na região de Arapoti. A maior parte

destes imigrantes vinha de igrejas calvinistas. E já em 14 de outubro de 1960, foi

organizada a Igreja com 34 membros professos maiores. E mais uma vez e

convocado, o pastor W. V. Muller, que serviu esta igreja incipiente por dois anos.

Mas, em 1962, efetivam o pastor L. Moesker que, juntamente com sua esposa

servem de grande apoio à igreja e a colônia neste período inicial. O povo se reuniu

no princípio em uma casa de madeira, sendo substituída por um templo que recebeu

ajuda financeira da Holanda. Este templo foi inaugurado em 17 de agosto de 1966.

Assim como Carambeí e Castrolanda, Arapoti também passou a fazer parceria com

a Missão das Igrejas Reformadas da Holanda para implantar novas congregações.

O pastor Muller, que tinha a função de agregar os grupos de holandeses

protestantes que chegavam ao Brasil, mais uma vez atendeu este chamado

formando um grupo denominado Círculo Bíblico Holandês, que foi organizado em 16

de maio de 1954, com 16 adultos e 16 crianças. Este grupo veio a se organizar em

Igreja em 27 de novembro de 1955, adotando o nome de Igreja Protestante

Holandesa, sob o pastorado do Sr. J. C. Houtzagers. Nesta data ainda não tinham

templo próprio, sendo realizada a cerimônia na Igreja Anglicana do local.


53

Todas estas comunidades se uniram no final de 1962, como Igrejas Reformadas do

Paraná, sendo o presidente desta reunião o pastor J. J. Oranje. Neste mesmo ano,

no dia 30 de julho, em Castrolanda, foi selada a independência das igrejas

reformadas no Brasil, com o desligamento da IRA, sob o tema “A Formação de uma

só denominação”. Para este fim, foram convidadas as Igrejas, Protestante Holandesa

de São Paulo e a Igreja Reformada Libertada de Monte Alegre. O nome escolhido

para a nova denominação foi Igreja Evangélica Reformada (IER).

O primeiro Sínodo da IER foi realizado em 21 de janeiro de 1963, sendo

estabelecida a Constituição da IER. Eles adotaram a Bíblia Sagrada como regra de

fé e prática e como confissões, os Credos Ecumênicos e os três Formulários de

Unidade como fiel exposição de doutrina extraída da Escritura Sagrada.

Posteriormente, o Sínodo excluiu os Cânones de Dort. A IER resumiu sua crença,

publicando-a em seu Site oficial:

A IER tem como finalidade adorar a Deus conforme a Sua Palavra,


propagar o Evangelho, promover a educação cristã e obras de
caridade, e administrar o seu patrimônio.28

A Igreja Presbiteriana do Brasil cedeu em 1964 por comodato de 50 anos, o Instituto

Cristão a IER, ali é criada a Associação das Escolas Reunidas do Instituto Cristão

(AERIC). Mais uma vez entra em cena o pastor Muller, que foi encarregado de cuidar

do Instituto no princípio.

28 O Site da IER é: http://ierb.org.br/sinodo. Acesso em 14 Jan. 2009.


54

Em 1965, com intenção de desenvolver um trabalho entre os brasileiros, a Igreja de

Carambeí, cria em uma vila próxima, a IER da Vila Nova Holanda, dividindo seu rol

de membros, dando liberdade a escolha de cada um, criando duas alas, uma de

língua portuguesa e outra holandesa. No dia 20 de março de 1968 ocorreu o primeiro

culto e em 21 de agosto de 1977 foi organizada a IER de Vila Nova Holanda com 98

membros professos adultos e em 1990 alcançou autonomia financeira.

No Sínodo de 1971, a IER autorizou que as mulheres ocupassem ofícios na igreja,

isto ficou a cargo de cada igreja local. Neste mesmo período já se falava do futuro da

IER, se seriam filiados a uma igreja maior nacional ou não.

No ano de 1975 apresentou-se a possibilidade de iniciar um trabalho em Tibagi,

contando com a cooperação de jovens casais que se mudaram de Carambeí para

Tibagi. Nesta época, não havia nenhuma Igreja Evangélica na cidade. No início, os

trabalhos e atos pastorais foram realizados por pastores das IERs e a

responsabilidade dos cultos coube a dois membros da Congregação: Cornélio de

Geus e Nicolaas Biersteker. O templo foi inaugurado no dia 4 de março de 1979.

No ano de 1981 a IER de Carambeí convidou o pastor Simon Wolfert para pastorear

a Congregação. Esta Igreja encaminhou um pedido ao Sínodo para que

concedessem autonomia à Congregação e pediram também que todas as IERs

assumissem a responsabilidade de acompanhar e apoiar as novas igrejas da IER. A

organização da IER de Tibagi aconteceu no dia 26 de fevereiro de 1982. O primeiro

seminarista foi o Pr. Auke R. van der Meer, que se formou em 1978, no Seminário
55

Presbiteriano de Campinas. A seguir foi trabalhar na IPB (mais tarde ele trabalhou

alguns anos para a IER).

Em 1979, o pr. Leonardo de Geus Los se formou e pouco tempo depois foi enviado

para Holanda, para estudos complementares. Ao voltar, em 1981, foi ordenado

pastor, na IER de Carambeí e enviado ao campo missionário do norte pioneiro do

Paraná e mais tarde para a região de Pato Branco. Anos depois, em 1991, ele foi

nomeado Coordenador da Missão das IERs.

O culto de gratidão pelo jubileu do pastorado do reverendo W. V. Muller foi realizado

em 26 de outubro de 1979, em Carambeí. Foram 45 anos que este grande homem

dedicou à obra do Senhor, dos quais grande parte nas colônias, tanto na área

eclesiástica como na econômica, desde sua ordenação em 1934.

Gradativamente foi aumentando a necessidade do uso da língua portuguesa nas

IERs de língua holandesa, principalmente nas atividades com adolescentes e jovens.

Mas também nos cultos em português, até então dirigidos por pastores convidados

ou pastores holandeses.

Assim a IER de Carambeí-colônia procurou e, em fevereiro de 1986, empossou o

primeiro pastor brasileiro, pastor João V. de Lima. Nesta época, a Igreja já contava

com 605 membros, professos e batizados. Alguns anos depois, a IER de

Castrolanda também viu esta necessidade e o primeiro pastor brasileiro foi

empossado em 10 de fevereiro de 1991. Esta IER tinha então um total de 604

membros, professos e batizados. E, em 1996, a IER de Arapoti empossou o primeiro


56

pastor brasileiro. Então esta Igreja contava um total de 383 membros. Neste ano de

1996, o total de membros das IERs somava: 2.445 membros, professos e batizados.

Em 1995, um grupo de pessoas oriundas de Carambeí estabeleceu-se em Gerais de

Balsas, Maranhão. Na reunião do Sínodo foi decido que seriam visitados

mensalmente por um pastor das IERs. No ano seguinte, o grupo pediu ajuda na

procura de um obreiro e manifestou o desejo de se tornar uma IER. Inicia-se então o

processo de instituição e organização da IER de Gerais de Balsas, fato que

aconteceu no dia 23 de setembro de 1996. A inauguração do templo foi em 30 de

novembro de 1997.

Também no ano de 1995, o Sínodo aprovou a proposta do Departamento da Missão

para um trabalho missionário em Curitiba, em parceria com as Igrejas Cristãs

Reformadas da Holanda. O pr. Auke van der Meer foi o primeiro pastor missionário.

Existia um ponto de partida, pois um grupo de estudantes e alguns membros da IER

moravam em Curitiba. Após várias dificuldades nos anos iniciais, procurou-se um

local de reuniões no bairro Portão e em oito de março de 1998, foi instituída a

Comunidade de Curitiba, com ligação especial com a IER de Castrolanda. Em 10 de

junho de 2001 organizaram-se, foi instalado um Conselho e passou a ser

Congregação Sinodal IER.29

29
Dados disponíveis em O Site da IER é: http://ierb.org.br/sinodo. Acesso em 14 Jan. 2009.
57

5. A IGREJA EVANGÉLICA REFORMADA NO BRASIL EM

CASTROLANDA - IERBC

O Brasil recebeu em novembro de 1951, um grupo de holandeses protestantes que,

segundo João Frederico Rickli, veio de duas províncias de base rural do nordeste da

Holanda: Drenthe e Overijssel (RICKLI, 2004, v. 47, n. 2). Fazendo uso do ensino

protestante de religião, educação e trabalho, constituíram a comunidade sob o tripé

da Igreja, Escola e Cooperativa Agropecuária. A cosmovisão protestante reformada,

que procura tratar o indivíduo e a sociedade pelo víeis espiritual, intelectual e de

trabalho, foi intensamente idealizada, desenvolvida e alcançada em muitas colônias

protestantes no Brasil, especialmente em Castro, estado do Paraná, formando assim

a Colônia Holandesa de Castrolanda, que está localizada a, mais ou menos, sete

quilômetros do centro de Castro e a cento e setenta quilômetros da capital do

Paraná, Curitiba.

Desde a sua fundação até nossos dias, esta colônia teve uma relação muito grande

com a chamada Igreja Evangélica Reformada do Brasil em Castrolanda – IERBC.

Sendo a religião sem sombra de dúvidas, grande responsável pela agregação,

desenvolvimento e manutenção da cultura holandesa nesta comunidade. Os traços

étnicos permanecem na comunidade com cultos em holandês até a atualidade, entre

outros. Em Castrolanda, mesmo em nossos dias, é difícil separar a Igreja da Escola

e estas da Cooperativa Agropecuária. Membros da IER local fazem parte da direção

da cooperativa e da escola, e cooperados e alunos da escola, podem ser vistos nos


58

cultos desta Igreja. O protestantismo de imigração é caracterizado pela perca dos

traços étnicos e teológicos com o passar dos anos, fenômeno este que tem sido

intensamente resistido na IER de Castrolanda, durante mais de meio século.

5.1 A jornada e o estabelecimento dos imigrantes

holandeses em Castro

O primeiro grupo de holandeses que partiu para Castro no Paraná, desbravou as

dificuldades de imigração para os demais grupos que viriam. Eles enfrentaram várias

situações constrangedoras, especialmente com a má administração alfandegária do

Brasil naquela época, esta experiência viria a facilitar a vinda dos demais grupos.

Em novembro de 1951, o primeiro grupo de imigrantes holandeses, que tinha como

destino a cidade de Castro, no Paraná, desembarcou no Rio de Janeiro, ficando

alguns dias na Ilha das Flores. Tiveram dificuldades com a alfândega no Rio, pois

reviraram as bagagens minuciosamente, retiveram as bagagens e móveis dos

imigrantes por dias, desejavam ainda cobrar taxas pelos produtos novos trazidos da

Hoalanda. Em uma das cartas que relata a chegada destes holandeses,

encontramos a seguinte afirmação: “Há casos em que esperaram durante seis

meses para ter a bagagem no destino” (KIERS-POT, 2001, p. 24). Outro problema

encontrado foi o dos furtos: tiveram roupas, carteira, duas malas levadas e algumas

tentativas de furto de seus pertences.


59

Porém, a cidade do Rio de Janeiro encantou os recém chegados holandeses, devido

a sua topografia cheia de montanhas, coisa difícil de ver na grande planície batava.

Ao mesmo tempo se cansavam com o clima quente tropical, pois estavam

acostumados a temperaturas muito mais baixas. Chegaram a comparar o trânsito do

Rio com o de Paris, na França, assim o descreveram:

O tráfego aqui é muito parecido com o de Paris, segundo me


descreveram: densas filas de carros, três, quatro, um ao lado do
outro; ultrapassa-se de lado esquerdo ou direito, conforme a
conveniência, sem dar nenhum sinal. Mesmo assim, não vi ainda
acontecer nenhum acidente. Carros da Cruz Vermelha possuem
todos, potentes sirenes, e correm pela cidade, tendo sempre a
preferência em qualquer lugar. Nas nossas cidades grandes, também
circulam bastante automóveis, mas nunca vi tantos como aqui. Há
muitos motoristas negros, Eles dirigem muito bem, aparentemente
não sofrem dos nervos. (KIERS-POT, 2001, p. 25).

A viagem até Castro foi bastante cansativa, pois os trens, especialmente até São

Paulo, estavam lotados e sem iluminação, tiveram duas malas furtadas. Já a viajem

dentro do estado de São Paulo e até Castro, foi mais agradável, em algumas

regiões, ainda em São Paulo, a topografia era bem plana e, portanto, mais

confortável, e, mais uma vez ficaram impressionados com as montanhas e colinas na

viajem até Castro.

Em uma sexta-feira, dia 30 de novembro de 1951, depois de uma viajem de três

semanas, chegaram a Castro, este, o primeiro grupo, composto pelas famílias G.

Leffers, J. de Jager e F. Dijkstra e J. A. Pot, T. Groenwold e S. Greidanus. A casa da

fazenda agradou a família J. Jager, pois possuía varanda com floreira, seis quartos,
60

uma ampla cozinha, uma copa, um banheiro, um box com chuveiro, chuveiro e

torneira elétricos e água encanada em abundância.

Com respeito a seus “deveres religiosos”, conforme eles mesmos denominavam, às

freqüências nos cultos e reuniões religiosas, de início, pretendiam freqüentar a igreja

que já estava estabelecida em Carambeí, mas não foi possível, pois para irem até lá,

precisavam dos jipes, que ainda estavam por chegar, por isto começaram a fazer

seus próprios cultos nas casas.

A demora na chegada e liberação na alfândega do Rio de Janeiro, dos maquinários

e equipamentos, atrapalhou bastante o início das atividades agropecuárias dos

grupos que foram chegando a Castro. Cada grupo comprava sua própria área e,

assim, iam começando o trabalho, pouco a pouco. Construíam seus estábulos e

suas próprias casas e, gradativamente, iam se estabelecendo na futura região que

seria denominada “Castrolanda”. A cultura de plantação de batatas foi adotada

imediatamente, tendo bons resultados, e a venda de gado com pedigree completo,

eram os únicos gados que rendiam bons preços no Brasil, os demais gados sem

pedigree completo foram depreciados no Brasil em até 40 por cento. O senhor J. de

Jager faz uma descrição interessante do Brasil, conforme segue:

A impressão geral sobre o Brasil é de que é um país maravilhoso


quanto à beleza da natureza. A paisagem varia muito. A estrada de
ferro, por exemplo, passa serpenteando pelas serras altas, evitando,
ao máximo possível, os lugares mais altos e os vales mais baixos. As
encostas eram bem íngremes, geralmente cobertas com alguma
mata, mas na maioria das vezes impróprias para serem cultivadas.
As terras em castro são, felizmente, bem mais planas; há colinas,
sim, mas de modo geral não são íngremes e há pedaços bem planos
que certamente poderão ser preparados para a lavoura. (KIERS-
POT, 2001, p. 29).
61

O segundo grupo chegou ao Brasil em 1952 e contava com as seguintes famílias, T.

Moorlag , J. H. Groenwold, D. Groenwold, T. Groenwold Sênior, H. Salomons, Rieks

Salomons, M. E. Borg e Sr. Jacob Wolfers.

O terceiro grupo de famílias holandesas saiu no final de fevereiro de 1953 de

Rotterdam e chegaram ao Brasil em março de 1953. Contavam com as famílias, A.

A. Buist, E. Borg, J. W. Kassies, Jan Van der Vinne, B. W. Bouwman, J. Noordegraaf,

Joost Deen, A Strijker, F. Wolters, R. Rabbers e os Srs. F. Pals e A. L. Wolters.

Os primeiros grupos, foram seguidos de outros que totalizaram cerca de 350

pessoas até 1954.

5.2 Igreja Evangélica Reformada no Brasil de Castrolanda –


IERBC

Em 1950, numa reunião da Emigração em Grupo para o Brasil, foi


decidido que após a chegada no Brasil seria fundada uma Igreja
Reformada. Por que uma Igreja Reformada? Aproximadamente 90%
do grupo, pertencia a esta igreja, e ficamos sabendo que a igreja
mais próxima, na colônia Carambeí, era uma Igreja Reformada, que
fazia parte do presbitério argentino de Buenos Aires. A este
presbitério pertenciam quatro igrejas argentinas e a igreja de
Carambeí. (Kiers-Pot, 2001, pg. 86)

Igreja Evangélica Reformada de Castrolanda, cujo templo foi inaugurado em 1966,

congrega hoje cerca de 600 membros entre adultos e crianças.


62

O Brasil recebeu a partir de novembro de 1951, alguns grupos de holandeses

protestantes que, segundo João Frederico Rickli, vieram de duas províncias de base

rural do nordeste da Holanda: Drenthe e Overijssel.30 Fazendo uso do ensino

protestante de religião, educação e trabalho, constituíram a comunidade sob o tripé

da Igreja, Escola e Cooperativa Agropecuária. A cosmovisão protestante reformada,

que procura tratar o indivíduo e a sociedade pelo víeis espiritual, intelectual e de

trabalho, foi intensamente idealizada, desenvolvida e alcançada em muitas colônias

protestantes no Brasil, especialmente em Castro, estado do Paraná, formando assim

a Colônia Holandesa de Castrolanda, que está localizada a, mais ou menos, sete

quilômetros do centro de Castro e a cento e setenta quilômetros da capital do

Paraná, Curitiba.

Desde a sua fundação até nossos dias, esta colônia teve uma relação muito grande

com a chamada Igreja Evangélica Reformada no Brasil em Castrolanda – IERBC.

Sendo a religião sem sombra de dúvidas, grande responsável pela agregação,

desenvolvimento e manutenção da cultura holandesa nesta comunidade. Os traços

étnicos permanecem na comunidade com cultos em holandês até a atualidade, entre

outros. Em Castrolanda, mesmo em nossos dias, é difícil separar a Igreja da Escola

e estas da Cooperativa Agropecuária. Membros da IERB local fazem parte da

direção da cooperativa e da escola, e cooperados e alunos da escola, podem ser

vistos nos cultos desta Igreja.

30
Rickli, João Frederico, Religião e Parentesco na colônia Castrolanda, Revista de Antropologia da Universidade
de São Paulo, Volume 47, nº 2.
63

A igreja foi instituída no dia 25 de outubro de 1952 no escritório da Cooperativa

Castrolanda, presentes os pastores Muller e Moesker e o conselho da IER de

Carambeí. A reunião foi iniciada com a leitura do livro bíblico do Salmo 122 e a

pregação de Efésios 4:11-13 pelo pastor Muller e o cântico no Salmo 133. Com 31

membros professos e 54 batizados, sendo eleitos como presbíteros os Srs. J. de

Jager e J. Groenwold e como diáconos os Srs. M. E. Borg e H. Salomons. A primeira

reunião do Conselho31 aconteceu no dia 28 de outubro de 1952 e a primeira

Assembléia Geral32 da igreja ocorreu no dia 16 de novembro, decidindo pela

contratação do pastor Muller como primeiro pastor da igreja. No dia 23 de novembro,

foi celebrada a primeira Santa Ceia33.

Com o crescimento da freqüência, com a chegada dos novos grupos, a sala da

cooperativa ficou pequeno e em 5 de julho de 1953, foi inaugurado um novo prédio,

que tinha como objetivo especial atender os trabalhos da juventude, nesta mesma

ocasião resolveu-se eleger os Srs. G. Van Arragon e Jitse Van der Vinne como

presbíteros e o Sr. F. Wolters como diácono, e concedeu-se direito de voto às

mulheres.

No final de 1954, após a chegada do último grupo de imigrantes, foram eleitos como

presbíteros os Srs. G. Leffers e J. Epema, e como diácono o Sr. J. R. Kiers,

totalizando nesta época, 6 presbíteros e 4 diáconos. Em setembro de 1955 convidou

seu primeiro pastor próprio, o Sr. Van Lonkhuijzen.

31
Concílio ou grupo que administra a igreja local.
32
Grupo formado pelos membros professos e que decidem assuntos mais complexos.
33
Sacramento Protestante que relembra a morte redentora de Jesus Cristo, com pão que representa o corpo de
Cristo e vinho ou suco de uva, que representa o sangue de Cristo.
64

No ano de 1958, pela primeira vez, foi decidido realizar mensalmente um culto na

língua portuguesa e ao mesmo tempo foi criado um círculo de estudo bíblico para

brasileiros, que inicialmente reunia homens e mulheres juntos, posteriormente,

separados.

Em 1959 foi enviado para trabalhar entre as colônias como missionário, o pastor F.

L. Schalkwijk, resultando na criação terceira IER no Paraná, a igreja de Arapoti, que

se tornaria uma importante colônia e importante igreja do Sínodo.

Em 1962 houve a separação das igrejas do Brasil das igrejas argentinas, criando-se

o denominação Igreja Evangélica Reformada no Brasil (IERB), sendo reconhecida

pelas Igrejas Reformadas da Holanda e dos Estados Unidos como igreja irmã.

Durante o ano de 1963 foi inaugurado um prédio de nome Betel, para realização da

obra missionária, onde eram feitas consultas médicas e aulas de tricô e outros

trabalhos manuais gratuitamente.

No final de 1964 foi nomeado o primeiro evangelista brasileiro, o Sr. Áureo Machado

de Campos, que coordenava os cultos no prédio Betel e um ponto de pregação em

um bairro chamado Ronda, em parceria com a Igreja Presbiteriana de Castro.

O novo templo foi inaugurado no dia 21 de abril de 1966, sendo decidido que os

cultos do segundo domingo do mês seriam feitos na língua portuguesa. Em 1970,

pela primeira vez, foram colocadas flores para decoração do templo de culto.
65

O pastor Muller, que auxiliou tanto a chegada dos imigrantes e seu estabelecimento,

retornou para os Estados Unidos em 30 de setembro de 1969, fazendo muita falta

para as igrejas que tanto auxiliou.

Em 18 de agosto de 1973, a igreja perde seu primeiro pastor efetivo, o Sr. Van

Lonkhuijzen, após ter servido a comunidade durante mais de 16 anos, causando

grande comoção. A isto transcrevo as palavras de Kiers-Pot:

Com ele perdemos não somente um pastor benquisto, mas também


um emigrante companheiro. (Kiers-Pot, 2001, pg.91)

Além do Sr. Áureo Machado, a IERBC nomeou os seguintes evangelistas para os

diversos trabalhos missionários; Daniel Kowalski para o bairro da Ronda e para a

colônia, e Abílio Fontanelli, para o bairro de Abapan34 e arredores.

Em 23 de setembro de 1975, chegou o pastor Wolfert para servir a IERB de

Castrolanda. Durante suas férias de 1978, de dezembro até janeiro de 1979,

Leonard Los ministrava aulas de catequese e dirigia várias vezes o culto, como

gratidão recebeu da IER uma bolsa de estudo na Holanda, tendo tido um bom

aproveitamento.

O pastor Wolfert se desligou do pastorado local em 17 de agosto de 1980, sendo

substituído pelo pastor Mellema em 2 de novembro de 1980.

34
Abapan é um bairro retirado, onde é realizado trabalhos missionários até os dias de hoje, possui um templo
próprio. Atualmente a IERBC cedeu o trabalho para Segunda Igreja Presbiteriana de Castro (Igreja Presbiteriana
do Jardim Rio Branco).
66

Em outubro de 1982, foi feito um culto em conjunto com a Igreja Presbiteriana do

Brasil em Castro. Nesta mesma ocasião foi contratada a enfermeira Sra. Lucia para

trabalhar com o Dr. Pedro Snoeyer, em trabalhos sociais para a congregação do

Abapan e arredores.

Foi inaugurado em 28 de outubro de 1984 o novo prédio para o trabalho de jovens

na comunidade e na igreja, este local teve o nome de Shalon. Este prédio é utilizado

para trabalhos com a juventude e para realizar reuniões sobre atividades da igreja.

O pastor Ooterbroeck assume a função de consultor em novembro de 1984, após a

despedida do pastor Mellema. Neste período o professor Johan Scheffer fazia a

pregação uma vez por mês. O pastor auxiliar Acir Rickli ministrava as aulas de

catequese e dirigia os cultos na língua portuguesa. Isso aconteceu até Janeiro de

1986, quando a comunidade foi assumida pelo pastor Theo Hesling, que pastoreou

até março de 1992, quando retornou para Holanda.

Em Dezembro de 1988 foi inaugurada a casa para idosos que necessitavam de

cuidados. Dá-se a ela o nome de Eben Haëzer (Ebenezer). A casa tem seis

unidades de moradia, sendo que uma delas pode ser utilizada por visitantes da

colônia. Nesse mesmo período o número de membros somava um total de 495,

sendo 247 batizados e 248 professos. (Dados fornecidos pelo Sr. Jitse van der

Vinne). A igreja adquiriu um órgão, despachado da Holanda, inaugurado em

Fevereiro de 1990.

Em 1991 assume a função de segundo pastor da igreja o brasileiro Dona ld

Sonntag. Em Abril de 1992 foi investido o pastor Elbert Grosheide. A partir desse
67

período a igreja passou por diversas inovações. A mais marcante ocorreu em 5 de

Julho de 1993, quando as duas primeiras mulheres foram investidas presbíteras,

exatamente 40 anos após as mulheres terem recebido o direito de voto na Igreja.

Em março de 1992, o pastor Theo Heslinga se despediu da igreja, sendo substituído

em abril pastor Elbert Grosheide, que ficou até 1998. Rudy Van Benthem assumiu

como pastor durante 1 ano, sendo substituído em abril de 1999 pelo casal de

pastores Jan-Peter Prenger e sua mulher Marianne Paas.

O pastor Donald Sonntag ficou na igreja como auxiliar até 1996, e depois foi morar

nos Estados Unidos. Desde março de 1997, assumiu em seu lugar, o pastor

Leonardo de Geus Los, fazendo pregações nas línguas portuguesa e holandesa.

Há um departamento na igreja, intitulado Departamento de Contatos Ecumênicos,

que mantém parceria com a Igreja Presbiteriana de Castro no Centro de

Atendimento a Criança35 e no Instituto Bíblico no Instituto Cristão36; e de trabalhos

em conjunto com pastores jovens da região.

A igreja mantém também para informação geral e dos seus membros, um site

informativo, onde se divulgam as programações, os boletins informativos e

informações gerais.

No final de 1999 a igreja registrou o número de 603 membros.

35
O Centro de Atendimento a Criança é um órgão de ação social entre crianças em um bairro carente de Castro.
Iramos falar mais detalhes a frente desta instituição.
36
Instituto Cristão de Castro é uma propriedade da Igreja Presbiteriana do Brasil onde a IER mantém cursos
técnicos, especialmente ligados a agropecuária. Trataremos mais a frente sobre esta instituição.
68

A igreja possuía os seguintes departamentos até 2001: Deputados da Missão,

Conselho dos Jovens, Comissão de Evangelização, Comissão Social, Prosar,

Diretoria Casa dos Idosos, Direção dos Clubes, Diretoria do Instituto Cristão,

Departamento de Educação Cristã, Diretoria da Creche, Comissão da Escola

Dominical, Direção da Escola Dominical, Diretoria dos Clubes para a Juventude,

Comissão Boaz, Comissão de Cultos Especiais, União de Senhoras A, B, C, Círculos

Bíblicos e S.E.R. (Senhoras Evangélicas Reformadas).

O protestantismo de imigração é caracterizado pela perca dos traços étnicos e

teológicos com o passar dos anos, fenômeno este que tem sido intensamente

resistido na IER de Castrolanda, durante mais de meio século.

5.3 A manutenção étnica

A Igreja Evangélica Reformada no Brasil de Castrolanda (IERBC), faz parte do grupo

incluído no protestantismo de imigração, protestantismo étnico, que está ligado a

correntes migratórias estrangeiras no Brasil. Neste tipo de protestantismo as

identidades étnica e religiosa são confundidas, uma vez que a função antropológica

deste tipo de protestantismo é reforçar e preservar a identidade étnica do grupo

imigrado. A religião funciona como um meio aglutinador e conservador da etnicidade

do grupo. Sobre isto, afirma o professor Dr. João Baptista Borges Pereira que a

religião é “o traço diacrítico dessa identidade”. 37

37
PEREIRA, João Batista Borges. Religare: Identidade, Sociedade e Espiritualidade. São Paulo: Editora Allprint,
2005, p. 106.
69

Os grupos que foram chegando ao Brasil, se uniram em torno do comum. O mais

comum entre eles, além da necessidade de sobrevivência e trabalho, era a

nacionalidade e religiosidade. Com a dificuldade da terra, clima, língua e cultura

diferentes, os imigrantes holandeses de Castrolanda foram se unindo na fé,

educação e trabalho.

O grupo com o qual convivemos também constrói nossa identidade, por isto a

identidade é um fenômeno relacional em termo de estrutura social, ou seja, ela se

configura, ganha sentido, na relação social entre nós e o outro. A IERBC é

conhecida na sociedade local como a igreja dos holandeses, e há uma barreira

natural tanto para os brasileiros como para os holandeses conviverem.

É importante destacar que o protestantismo de imigração (étnico), não tem vocação

conversionista 38 ou não atua como igreja de missão, em sua natureza comum.

Esta identidade, porém, foi sendo reconstruída a cada geração, com a aculturação

brasileira, os descendentes dos imigrados recontaram a história e sua identidade. A

isto corrobora o mestre Pereira (2005, p. 104-105)

A identidade não é um dado da natureza: ela é construída


socialmente. Como tal, não passa necessariamente pelo crivo da
verdade histórica: ela pode ser inventada e passa a se efetivar como
se verdade fosse. Embora não passe pela prova da validade
histórica, a identidade é construída historicamente, isto é, a
identidade de um grupo pode variar ao longo da história.

38
Vocação conversionista é uma característica do protestantismo de conversão ou de missão, que é o
protestantismo preocupado em aliciar fiéis, converter o “outro”, independentemente de etnia, classe e gênero.
70

Esta aculturação foi interessante para IERBC, uma vez que se abriu, de certa forma,

as mudanças do meio que convivia. Hoje a igreja com mais de 600 membros, ainda

continua reescrevendo sua identidade.

Hoje, já se pode notar certo distanciamento, especialmente dentre os mais jovens,

tanto da cultura holandesa como dos princípios reformados, mais no sentido de

acomodação do que de troca de cultura e religião.

A IERBC apresenta uma atitude muito comum as outras igrejas do protestantismo

histórico étnico brasileiro, atitude extremamente contemplativa e pouco operosa.

Contemplam a adoração, a riqueza histórica e procuram manter a cultura

passivamente do grupo que pertence. Este tipo de atitude puramente contemplativa,

tende a afastar seus membros pela acomodação, enfatizando friamente a cultura.

O envolvimento com a cultura do país onde vivem, encaminha o grupo à “redefinição


39
de sua identidade”. Atualmente a IERBC, discute a possibilidade de filiação a uma

Igreja nacional maior, como a Igreja Presbiteriana do Brasil, ou como segunda opção

a Igreja Evangélica Luterana do Brasil.

5.4 Os ensinamentos e o governo

A Palavra de Deus, a Bíblia, é o guia fiel, a autoridade final das Igrejas Evangélicas

Reformadas. Crêem que o Espírito Santo, agindo através dessa Palavra, conquista

39
PEREIRA, João Batista Borges. Religare: Identidade, Sociedade e Espiritualidade. São Paulo: Editora Allprint,
2005, p. 106. O professor Dr. João Batista desenvolve este assunto e conclui: “Há momentos históricos
específicos em que a identidade é redefinida em termos positivos ou negativos, isto é, beneficiando ou
prejudicando a imagem do grupo.”
71

seus membros para viver com Deus. A segurança desses fiéis é ouvir e obedecer,

seguir os preceitos da Bíblia. Negam seguir filosofias humanas ou depender da

sabedoria dos homens que se mostram atraentes, pois julgam que este caminho os

afasta da graça de Deus. Enfatizam crer e confessar ser a Bíblia inspirada por Deus.

Com este termo da "inspiração" querem dizer que os livros do Antigo e do Novo

Testamento não são somente o resultado de palavras de homens, mas, ao mesmo

tempo, palavra de Deus. Pela ação do Espírito Santo ouve-se, nas palavras

humanas escritas na Bíblia, a própria voz de Deus. A confissão da inspiração da

Escritura Sagrada, a Bíblia, é a manifestação do reconhecimento que somente pode-

se entender este conjunto de escritos, se houver disposição em ouvir o próprio Deus

falar.

Acreditam que a Bíblia se formou através de vários séculos. Muitas pessoas, de

tempos e costumes diferentes, participaram da elaboração da Bíblia. Quem não levar

em conta esta realidade, prejudicará o entendimento da Bíblia nos tempos atuais.

Mesmo diante da incredulidade, pregam a inspiração da Bíblia, pois esta é uma das

convicções mantidas pelas IER’s para mantê-los distantes dos “pensamentos”

errados que os afastam de Deus. Afirmam que, ao falar da inspiração, não querem

de forma alguma, atar Deus a um livro, como se pudessem se apoderar dele, pelo

contrário, “a confissão da inspiração da Bíblia quer exprimir com limitadas palavras

humanas algo do milagre que o Espírito Santo tem feito pelos fiéis, através do livro

singular do Antigo e do Novo Testamento”.


72

Para manter firmes na fé, já desde os primeiros séculos da sua existência, a igreja

cristã tem visto a necessidade de resumir a sua fé em confissões. Em geral pode-se

dizer que há três objetivos com a elaboração das confissões de fé: ajudam a

esclarecer a fé da igreja para o mundo afora, divulgar a fé para as próximas

gerações e defendê-la contra doutrinas errôneas.

As Igrejas Evangélicas Reformadas reconhecem, junto com a grande maioria das

Igrejas Cristãs, os três "Credos Ecumênicos", a saber: o Credo Apostólico, o Credo

de Nicéia-Constantinopla e o Credo Atanasiano. Além destes "credos", as IERs

mantém oficialmente mais duas confissões Reformadas: a Confissão Belga e o

Catecismo de Heidelberg. Todas estas confissões oferecem um resumo do que

entendem ser o essencial da fé cristã. Acreditam que são opiniões que os autores

destes escritos formularam, sobre a mensagem central da Bíblia, de uma maneira

curta, clara e equilibrada.

Enfatizam o valor das confissões, sendo que a mais nova já foi escrita há mais de

400 anos. Admitem que elas têm, como todo escrito humano, suas limitações.

“Todas essas confissões foram escritas para defender o âmago da verdadeira fé

cristã. É nisso que elas ainda sempre mostram o seu valor, pois continuam

firmemente a preservar-nos de desviar do entendimento certo da Palavra de Deus –

às vezes até graças às suas limitações! Por isso é um privilégio sermos guiados por

estas confissões na explicação da Bíblia e na ênfase do que é fundamental para a fé

cristã, mesmo que nós, aqui e ali, coloquemos outro acento.” (Kiers-Pot, 2001)
73

Desde o início do século passado imigrantes holandeses têm-se fixado no Sul do

Brasil. Estes holandeses, na sua maioria, vinham da ala reformada calvinista das

igrejas Protestantes na Holanda. A história das Igrejas Evangélicas Reformadas

mostram traços de um “protestantismo de imigração”, pois trouxeram do país de

origem sua “bagagem espiritual”. Esta é uma das razões porque podemos apontar

para várias correntes espirituais nas IERs, pois elas também são encontradas na

variedade das igrejas reformadas na Holanda. Assim há uma corrente puritana com

ênfase na prática da vida com Deus; uma corrente conservadora com ênfase na

pluralidade da fé; uma corrente progressiva com ênfase na renovação da igreja e

uma corrente pietista com ênfase no convívio pessoal com Deus. Para os

reformados holandeses no Brasil, apesar dessas diferentes ênfases, o importante é

manter a fé reformada. Sobre isto diz Kiers-Pot (2001, p. 67)

Vivia e vive entre nós a convicção de que precisamos uns dos outros
e de que devemos lutar contra tendências separatistas. Durante os
anos as nossas igrejas têm vivido sob a influência da vida na
sociedade brasileira. De um lado sentia-se a necessidade de se
diferenciar, defendendo e guardando a cultura holandesa. De outro
lado sabia-se da necessidade de uma adaptação à vida na sociedade
brasileira. Assim estamos buscando na realidade brasileira –
bastante mística e predominantemente católico-romana – uma
identidade que une de uma maneira aceitável a herança holandesa
com a cultura brasileira.

Kiers-Pot acredita ser essencial para a manutenção da igreja o contato com a cultura

brasileira. Justifica dizendo que a igreja que não tem contatos com a cultura em que

vive, seguramente perderá a sua relevância. “Procurando, assim, o nosso lugar e a

nossa tarefa no Brasil, nos tornamos o que somos no momento: uma igreja de uns
74

2.500 membros com traços holandeses, mas com a vontade de ser 100% brasileira.”

( Kiers-Pot, 2001)

Trazem consigo uma convicção de que as igrejas locais não são "filiais" de um corpo

eclesiástico matriz, mas que elas, cada uma por si, são igrejas de Jesus Cristo.

Além da Bíblia e das Confissões de Fé a IERBC, juntamente com as demais igrejas

do concílio maior, possui um Manual de Culto que rege as devocionais. Trataremos

mais a frente sobre este assunto.

Com respeito ao governo administrativo da igreja, como em outras denominações de

cunho reformado, o Conselho da igreja local é a assembléia suprema das igrejas.

Crêem que Deus chamou os oficiais para, em primeiro lugar, pastorear e

supervisionar as igrejas locais. Duas vezes por ano as igrejas locais se reúnem,

através de seus deputados, numa assembléia supra-local, chamado Sínodo, para

tratarem de assuntos relacionados a todas as igrejas ou que não puderam ser

resolvidos pelos Conselhos locais. Os assuntos mais comuns são: missão em

conjunto, formação teológica de futuros pastores, contatos com outras

denominações eclesiásticas, elaboração de material para a educação cristã, reflexão

sobre a identidade do conjunto das igrejas, hinário e formas para o culto e assim por

diante. Este sínodo é moderado por uma mesa de quatro pessoas eleitas entre os

deputados credenciados. Entre as reuniões do sínodo a mesa se responsabiliza pela

resolução dos casos pendentes ou imprevistos e presta relatório das suas atividades.

A IERBC é dirigida pelo Conselho que, no final de 2.007, segundo o guia da

comunidade, possuía dez presbíteros, quatro diáconos e dois pastores. Os pastores


75

são o Srs. Kleber Machado, pastor brasileiro da Igreja Presbiteriana do Brasil e Jörg

Buller, pastor alemão da Igreja Luterana. Segundo o Guia da Comunidade (2007,

p.2) a IERBC tem o seguinte princípio:

A comunidade de Castrolanda atua em diversas áreas, existindo,


portanto, um número significativo de departamentos e comissões nos
quais um grande número de membros se dedica de corpo e alma.
Muitas pessoas colaboram ativamente em um ou mais desses
grupos, nos trabalhos internos ou externos da Igreja, ou de entidades
afins.

Além de algumas associações e departamentos ligados a igreja, como Associação

de Assistência Social de Castrolanda e as Escolas, existe os seguintes

departamentos, entre outros; Secretaria, Boletim, Departamento Patrimonial Shalon,

Organistas, Conselho fiscal, Conselho de Finanças, Educação Cristã, Biblioteca,

Juventude Unida de Castrolanda, Diaconia, Missão, Contatos Ecumênicos.

A vida eclesiástica é dirigida pela constituição das igrejas. Seu objetivo é que tudo

seja feito com decência e ordem. A constituição não aborda todos os detalhes da

vida das igrejas, mas quer garantir que a Palavra de Deus seja proclamada a fim de

que as pessoas venham a crer e viver fielmente diante da face do Senhor (Romanos

10.14-15).

Os assuntos principais da constituição consistem no reconhecimento de três ofícios

especiais: o de Ministro da Palavra de Deus (o pastor), de Presbítero e de Diácono.

A constituição aborda como deve funcionar a indicação e eleição destes oficiais e

quais são as incumbências dos respectivos cargos. O Conselho da igreja local e o

Sínodo são os concílios que dirigem e supervisionam a vida da igreja.


76

Os reformados holandeses lembram sempre que “a autoridade máxima da igreja

está com Jesus Cristo, o Senhor da igreja, é Ele que governa a sua igreja através da

sua Palavra e do seu Espírito.” Nas suas resoluções, os concílios têm o dever de

ouvir e seguir a vontade do Senhor e de ter como firme propósito a edificação da

igreja.

A constituição menciona diretrizes gerais a respeito das tarefas básicas da igreja.

Trata de assuntos como a convocação de cultos, a direção dos cultos, a pregação da

palavra, a celebração dos sacramentos do Batismo e da Santa Ceia, o levantamento

de ofertas, a tarefa missionária da igreja, a educação cristã.

Outro assunto da constituição é a disciplina na igreja. Sempre deve ser levado em

conta que a disciplina tem um caráter espiritual (Mateus 16:15-18). Além disso, ela

deve ser executada pelo pastor, pois o objetivo da disciplina cristã não é castigar,

mas admoestar para que o membro desviado se arrependa e seja reconciliado com

Deus e com o próximo.

5.5 Os cultos e as programações

As programações principais são os cultos de domingo, sendo um culto as 9 horas e

30 minutos em português e outro as 19 horas e 30 minutos em holandês. Na parte

da manhã, antes do pastor pregar, as crianças que participaram do culto até aquele

momento, se retiram para ter aulas da Bíblia em didática própria.


77

O culto é de responsabilidade do Conselho da igreja, onde normalmente um

presbítero ou presbítera previamente responsabilizado, dá início ao culto lendo um

trecho da Bíblia, depois faz uma oração normalmente escrita, e depois, o mesmo vai

ao encontro do pastor que o cumprimenta, simbolizando a entrega da direção do

culto. O pastor assume a direção e a alterna entre leituras bíblicas e orações feitas

por si mesmo e hinos ou cânticos com a congregação.

A ordem de culto segue o padrão bastante comum em igrejas do protestantismo

histórico, sendo iniciado com uma música, normalmente somente instrumental, para

as orações em silêncio iniciais, neste momento entra o Conselho todo que está

presente. A primeira divisão do culto é chamada de Convite ao Culto ou Preparação,

onde são dadas as boas vindas, as comunicações e avisos, lê-se um texto bíblico

com intuito a convidar os presentes a adorar a Deus, canta-se um hino com a

congregação em pé, faz-se uma oração em silêncio, dá-e alguma palavra de alento

ou de conclamação de compromisso e canta-se mais um cântico. A segunda divisão

do culto, chamada Confissão, onde faz oração silenciosa individual para pedir

perdão a Deus pelos pecados, canta-se mais um cântico, dá-se uma palavra sobre o

perdão ou graça de Deus, canta-se outro cântico (opcional), faz-se a leitura de algum

trecho bíblico que fale de mandamentos ou leis e canta-se. A terceira parte do culto é

chamada de Edificação, onde faz-se uma oração pedindo a compreensão do texto

que será lido e exposto na pregação, faz-se a leitura dos texto que será pregado,

canta-se mais um cântico, neste momento, no caso da IERBC, convida-se as

crianças a frente para orar e enviá-las as suas classes, o que é feito, faz-se a

pregação, que varia de duração de tempo conforme o pregador, mas normalmente, a


78

média de 30 minutos e canta-se mais um cântico. A quarta parte conta com uma

oração geral de agradecimento e intercessão, faz-se a Oração do Pai Nosso,

conforme registrada nos Evangelhos bíblicos de Mateus ou Lucas, faz o

recolhimento das Ofertas e canta-se um hino final com a congregação. A quinta e

última parte é denominada Bênção, e conta com a bênção apostólica do Novo

Testamento bíblico ou a bênção araônica do Antigo Testamento bíblico. Dentre os

atos de culto mais importantes que faz parte do culto, encontra-se a cerimônia de

batismo, nota-se a constante premissa bíblica em tudo, por isto segue um trecho do

ensino a este respeito do Manual de Culto da IER (2007, p. 39):

Quando se administra o batismo na Igreja de Cristo, isto acontece


conforme a palavra do nosso Senhor Jesus Cristo. Ele ordenou aos
Seus apóstolos que fizessem discípulos de todos os povos e que
estes fossem batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
e fossem ensinados a guardar tudo o que Ele lhes ordenara.
Nas cartas dos apóstolos também se fala a respeito do batismo.
Assim, Paulo diz que quem for batizado em Cristo Jesus é batizado
em Sua morte. Pelo batismo então somos sepultados com Cristo na
morte para que, assim como Ele foi ressuscitado da morte pela glória
do Pai, nós também possamos viver uma nova vida.

Além da ordem de culto, que é como dissemos, a programação mais importante da

IERBC, existem ordens prescritas no Manual de Culto para Culto Fúnebre, direção

do Santo Batismo de Adultos e Crianças, Pública Profissão de Fé, Bênção

Matrimonial, Forma de Ordenação de Presbíteros e Diáconos, Formas para

Instalação de Ministros da Palavra de Deus, Forma para Disciplina ou a Exclusão da

Igreja, Foram para Nova Consagração e Renovação da Aliança, modelos de orações

diversas, indicações de textos bíblicos da lei, do evangelho e de outras formas

usadas nos cultos.


79

Há também o uso de paramentos no templo, onde são usadas cores, toalhas,

vestimentas e decorações próprias a cada evento e calendário pré determinado. As

festas tem também pré determinações do Manual de Culto, dentre elas destacamos

o Natal, a Páscoa, a Quaresma, Semana Santa, Ceia do Senhor, Ascensão de Jesus

e Pentecostes.

A IERBC possui também alguns símbolos, devidamente descritos no Manual de

Culto, entre eles os Sinos, Vela, Oração da Sala do Conselho e o Aperto das Mãos.

A IERBC pratica a teologia mais afastada dos princípios reformados, em suas

expressões de culto e prática, sendo mais permissiva a rejeição de certos dogmas

originais. Este pensamento tem raiz no liberalismo teológico do contexto europeu.

Sobre isto, Tilich afirma:

Os dogmas não deveriam ser abolidos, mas interpretados de tal


maneira que não venham a ser poderes repressivos destinados a
produzir desonestidade e fuga. Ao contrário, são expressões
profundas e maravilhosas da verdadeira vida da igreja. Nesse
sentido, procurarei demonstrar que na discussão desses dogmas,
mesmos quando expressos nas fórmulas mais abstratas por meio de
difíceis conceitos gregos, estamos tratando de coisas nas quais a
igreja acreditava expressarem adequadamente sua vida de devoção
na luta de vida ou morte contra o mundo pagão e judaico, lá fora, e
contra todas as tendências desintegradoras aparecidas em seu
interior. Concluo afirmando a necessidade de termos o dogma em
alta estima; há certa grandiosidade no dogma. Mas não deveria ser
compreendido como conjunto de doutrinas específicas as quais
teríamos que subscrever. Tal atitude contraria o espírito do dogma e
o espírito do cristianismo.
80

6. AS RELAÇÕES DA IERBC

Vencidas as dificuldades iniciais de adaptação à nova terra e língua, a Colônia se

desenvolveu, estruturou-se e assumiu seu papel de pólo difusor de cooperativismo,

tecnologia e alta produtividade agropecuária. Hoje, após mais de 50 anos,

Castrolanda é uma próspera Colônia, com relativa vida própria, e contribui gerando

emprego, benefícios e renda para Castro e região. Inúmeros visitantes, procedentes

de região, estado, país e do exterior, visitam anualmente a Castrolanda, onde

conhecem um pouco mais dos traços da cultura holandesa estampada nas casas,

usos e costumes de boa parte dos associados da Cooperativa. O que ver em

Castrolanda?

6.1 A Colônia de Castrolanda

A Colônia de Castrolanda foi desenvolvida na medida do crescimento da Cooperativa

Agropecuária e, ao mesmo tempo, funcionou como o centro social das famílias dos

cooperados e funcionários. Praticamente tem vida própria devido ao crescimento

econômico local.

Atualmente tem um papel importante na economia e cultura da região,

especialmente com seus traços originais holandeses. Castrolanda oferece índices

significativos de empregos, benefícios e renda para cidade de Castro e região,

funcionando ainda como ponto turístico no Paraná.


81

Possui toda uma infra-estrutura encontrada em poucas cidades do Brasil.

Figura 3. Legenda (Fonte: Figura extraída do Site http://www.castrolanda.com.br/page.php?3).

Possui um clube próprio, denominado Clube Castrolanda, fundado em 1976, que

organiza eventos sociais, culturais e esportivos em geral, com boa infraestrutura de

salões, piscina, canchas e campos poliesportivos.

Figura 4. Legenda (Fonte: Figura extraída do Site http://www.castrolanda.com.br/page.php?3).


82

Os membros da Igreja Católica construíram a Capela São Pedro, num terreno doado

pela Cooperativa no ano de 1995, dando condições à comunidade católica de se

reunir e celebrar a Palavra de Deus aos domingos.

Figura 5. Legenda (Fonte: Figura extraída do Site http://www.castrolanda.com.br/page.php?3).

A Igreja Evangélica Reformada de Castrolanda, cujo templo atual foi inaugurado em

1966, congrega hoje 600 membros entre adultos e crianças, sendo um dos pontos

preferidos de visita da colônia.

Figura 6. Legenda (Fonte: Figura extraída do Site http://www.castrolanda.com.br/page.php?3).


83

Existe também o Museu do Imigrante, construído no estilo das moradias da primeira

época da Castrolanda, junto com a casa de moradia e o estábulo para o gado, foi

inaugurado em 1991. Hoje é ponto obrigatório para os visitantes que passam pela

Castrolanda.

Figura 7. Legenda (Fonte: Figura extraída do Site http://www.castrolanda.com.br/page.php?3).

O Ginásio de Esportes Castrolanda, com cancha poliesportiva, recebe eventos

esportivos e sociais.

Dentro do centro da colônia, está localizado a Cooperativa Agropecuária

Castrolanda, com parque fabril e operacional, fábrica de rações e escritórios

administrativos, representando hoje um faturamento anual da ordem de U$$ 200

milhões. A rede de energia elétrica estendeu-se às residências da Castrolanda a

partir de 1972. A Eletrorural, Cooperativa de Eletrificação Rural, fundada em 1970,

veio para atender a essas necessidades.


84

Castrolanda possui seu próprio cemitério. Uma área próxima a igreja, retratando o

período do Brasil colonial, quando os não católicos não podiam enterrar seus mortos

nos cemitérios comuns, daí a tendência das igrejas protestantes mais antigas terem

seu próprio cemitério.

Há um grupo folclórico que funciona com membros da comunidade e funcionários,

chamado de Klompendans, e conhecido Grupo Folclórico Holandês de Castrolanda,

fundado em 1954, conserva com seus trajes típicos e o uso de tamancos, parte das

tradições do folclore holandês, mostrando com suas danças e músicas que falam

sobre o amor, a vida e a luta do homem na construção de sua pátria.

O Supermercado Castrolanda, tradicional local de compras, que atende com

qualidade e preço as principais necessidades de gêneros e alimentos em geral.

Existem atualmente, outras instalações na colônia de Castrolanda. Um Posto de

Gasolina, uma Floricultura, uma Loja de Presentes e Papelaria, um Posto do Correio,

um Banco do Brasil, um Banco Itaú, um Depósito de Materiais e Construção, um

Capo de Futebol Gramado, uma Loja de Lembranças Típicas da Holanda, uma

Biblioteca, um Restaurante, entre outros.


85

6.2 As escolas

A implantação dos colégios foi pautada dentro de certos princípios


para firmar propósitos evangélicos. Os princípios religiosos e
educativos definidos e constantemente perseguidos com tenacidade
foram baluartes na conquista obtida. (Hack, 1985, p. 70)

Não havia nenhuma escola na língua e cultura holandesa próxima, quando os

primeiros imigrantes chegaram em Castrolanda no ano de 1951. Pelo fato de haver

poucos em idade escolar, foram levados à escola de Carambeí. Mas, já no ano

seguinte, já foram tomadas providências e em 28 de novembro de 1952 foi fundada

a Associação da escola Primária Cristã de Castrolanda, estando presentes 10

associados e sendo matriculados 12 alunos.

A primeira diretoria foi composta pelo Srs. Rieks Salomons, presidente, Marten

Veenstra, secretário, Jan Herman Groenwold, tesoureiro e o pastor Muller como

consultor. Houve muitas dificuldades para instalação de uma escola holandesa em

solo brasileiro. Uma vez mais o pastor Muller com sua influência e diplomacia ajudou

os castrolandenses a intermediar os contatos com as autoridades brasileiras e

holandesas.

Uma vez que em 1952 não havia ainda corpo docente formado em Castrolanda, foi

convidada a Sra. Teresa G. Seifarth, que era de Carambeí, para dar aula durante as

férias de 20 de dezembro a 20 de fevereiro. E até março de 1953, a senhorita Siny

Borg manteve a escola funcionando até que a primeira professora pudesse assumir.

O que aconteceu, com a vinda da alemã Sra. Edeltraut Neubauer Moser, chamada
86

de Sra Traudy, que com muita paciência, ensinou os princípios da língua portuguesa

até 1965.

Em julho de 1953, já havia 50 alunos matriculados, daí a escola mudou-se do

escritório da cooperativa, para uma ala lateral do prédio da juventude, sendo

convidada para auxiliar nas aulas nesta época, a Sra. J. G. Boessenkool, que era

professora diplomada na Holanda.

Em um segundo momento, foi construído um prédio de madeira que hoje se chama

Escola de Prins Willem Alexander. Em 1954 este prédio ficou pronto, contando com

três salas de aulas, uma sala para a diretoria e uma varanda na parte de trás. Em

1956, as salas já estavam lotadas, sendo necessário a construção de uma quarta

sala. Hoje é um dos poucos prédios construídos na época da imigração. Em 14 de

março de 1998, em visita a colônia de Castrolanda, o próprio príncipe Willem,

inaugurou o prédio desta escola, passando a funcionar de certa forma independente

da escola evangélica, tendo uma diretoria própria submissa a diretoria da escola

maior. Esta escola atua com a cultura holandesa de forma mais intensa.

Figura 8. Legenda (Fonte: Figura extraída do Site http://www.castrolanda.com.br/page.php?3).


87

Em 1954, assumiu como professor O Sr. Epema, recém chegado da Holanda, e

neste mesmo ano foi legalizada a Escola, sendo contratada pelo Estado a Sra.

Traudy. A descrição feita por Kiers-Pot da vestimenta usada na Escola primitiva é

interessante:

Da mesma forma que na escola estadual, o uso de uniforme, o


“guarda-pó”, era obrigatório. Eram casaquinhos ou aventais brancos,
semelhantes aos que os médicos usam e que se veste sobre as
roupas, feitos pelas nossas mães, de panos ou de sacos de farinha
lavados. Mediante o uso de anil, o tecido ficava bem branco e assim
os filhos chegavam bem arrumadinhos na escola. Kies-Pot, 2001,
pg. 97)

As crianças tinham na metade do dia aula em holandês e na outra metade em

português e o seu meio de transporte era através de charretes de cavalos mansos

ou velhos para que não disparassem com as crianças a monte. Em 1979, com

auxílio da cooperativa, foi viabilizado a circulação dos ônibus, facilitando o acesso de

outros alunos à escola. Enquanto não havia linha de ônibus para a cidade, alguns

irmãos faziam lotação de perua para a vinda de professores e outras pessoas que

precisavam vir de Castro a colônia e vice-versa.

No dia 23 de outubro de 1982, foi inaugurada a escola Estadual de Castrolanda,

facilitando o acesso de filhos de trabalhadores e demais moradores da colônia e

circunvizinhanças. Por muito tampo as aulas de educação religiosa foi dada sob a

responsabilidade da Igreja Evangélica Reformada no Brasil em Castrolanda (IERBC).

Em 2000, esta escola tinha 403 alunos e 28 professores.


88

Figura 9. Legenda (Fonte: Figura extraída do Site http://www.castrolanda.com.br/page.php?3).

A Escola Evangélica da Comunidade de Castrolanda, prédio que funciona à parte do

Prins Willem Alexander, inaugurada em 1984 com a proposta de atender os filhos e

netos dos imigrantes inicialmente. Mas, atende hoje 3 anos de pré-escola e 8 anos

de ensino primário, mais de 200 alunos da comunidade e da cidade de Castro. Esta

escola possui fanfarra que é muito participativa nos eventos holandeses, na cidade

de Castro e até no estado do Paraná. Possui também grupo folclórico infantil e

diversos grupos educativos e culturais.

6.3 A Cooperativa Agropecuária

A cooperativa agropecuária de Castrolanda, teve os primórdios estatutários

registrados ainda na Holanda sob o nome “Cooperatieve Vereniging Grospsemigratie

Brazilie G. A. (Sociedade Cooperativa de Emigração em Grupo Brasil G. A.) na


89

cidade de Hoogeveen, tendo sua publicação oficial no Diário Oficial daquele país, no

dia 28 de setembro de 1951.

O site atual da Cooperativa (http://www.castrolanda.com.br/page.php?3), registra

este fato assim:

Hoje, aos vinte dias do mês de julho do ano de mil novecentos e


cinqüenta e um, compareceram perante mim, Eeltje Visser, tabelião
local deste município de Hoogeveen, na presença das testemulhas
adiante nomeadas, os senhores: 1: Geert Leffers, agricultor,
domiciliado Kamerlingswijk 16, Zwartemeer, município de Emmen”.
Após citar todos os 44 nomes dos integrantes do grupo de
emigrantes para o Brasil, o suplemento continua como segue: “A
outorga consta de um instrumento particular de procuração, o qual,
após ter sido previamente aprovado pelos outorgados, na presença
de mim, tabelião do que dou fé, e de testemunhas, foi firmado por
eles como prova desta aprovação e fica anexado a este instrumento.
Os outorgantes mencionados declaram, cada um por si e na
qualidade mencionada, constituir uma sociedade cooperativa, a qual
será regida pelo seguinte estatuto:
ARTIGO 1: A sociedade tem por nome: Sociedade Cooperativa de
Emigração em Grupo Brasil G.A. | A sociedade tem sede no
município de Hoogeveen. | A duração da Sociedade é por tempo
indeterminado.
ARTIGO 2: O objetivo da Sociedade é promover a possibilidade de
emigração de holandeses para o Brasil e, no sentido mais amplo,
defender os interesses dos associados relativos a tal emigração.
ARTIGO 3: A Sociedade visa alcançar este objetivo através da:
a) organização da exportação dos bens dos associados na forma
de materiais de produção e capital até o valor máximo permitido
pelo Governo da Holanda;
b) a compra ou aquisição por outra forma, direta ou indiretamente,
de terras no Brasil.
Havia um total de 37 artigos a serem observados pelos outorgantes.
O artigo 37 finalizava com as seguintes palavras: “do que dou fé,
lavrado em mi9nuta, em Hoogeveen, na data indicada no cabeçalho
deste instrumento, na presença de Gerrit Reinders e Hugo
Koomans, ambos escreventes juramentados, residentes em
Hoogeveen, como os outorgados, por mi, tabelião, conhecidos”.
Logo após a leitura, foi escrita assinada pelos outorgantes, pelas
testemunhas e por mim, tabelião.
90

No Brasil, em setembro de 1951, foi fundada a Sociedade Cooperativa Castrolanda,

na residência do Sr. Jacob Voorsluys, com a dos Srs.Bauke Dijkstra e Leendert Bart,

sendo eleita a seguinte diretoria: Leendert de Geus, presidente, Jacob Voorsluys,

diretor comercial, Keimpe Van der Meer, secretário, Jan LOS s6enior, conselheiro,

Hendrik Adrianus Kooy, conselheiro.

O representantes legais foram: o pastor Muller, cônsul da Holanda no Paraná, o Sr.

T. Van der Berg, vice cônsul no Paraná e a Sra. Borger, representante a Embaixada

dos Países Baixos no Rio de Janeiro. Para adequar os estatutos a legislação

brasileira, o Sr. Keimpe Van der Meer foi encarregado, e, por esta razão foi

convocada outra assembléia para o dia 13 de outubro de 1951, para poder

concretizar as aquisições da terra.

Enquanto na Holanda se tinha entre 10 a 40 hectares de terra por família, muitos em

lugares separados, aqui no Paraná se somavam, no início, um total de 7.000

hectares, sendo as famílias tinham de 40 a 200 hectares cada, tudo em um lugar só.

Apesar de sobrar pouco dinheiro para investimentos, a Cooperativa foi crescendo

gradativamente com o trabalho árduo das famílias.

Nas palavras encontradas no site da Cooperativa, encontramos a explicação do

sucesso do grupo:

O exemplo de imigração em grupo, bem planejado e bem sucedido;


o dinamismo criativo e empreendedor; a diversificação de atividades,
e a preocupação constante com a preservação do meio ambiente
são fatores de progresso e bem-estar para os associados e seus
familiares, colaboradores e comunidade de Castrolanda para o
cumprimento da missão da Cooperativa.
91

Com a criação da Cooperativa Central de Laticínios do Paraná em 1954, união das

cooperativas de Castrolanda, Carambeí e Arapoti, e com o crescimento da marca

Batavo que carregava a união das cooperativas, houve uma grande prosperidade

nas três colônias holandesas, impulsionada pela produção pecuária de leite e

carnes.

Com o passar dos anos, parcerias, alianças e marca Batavo foi vendida para o grupo

Perdigão, sendo as palavra do Site da Cooperativa as seguintes:

Para capitalização da Central, o Grupo ABC firmou alianças


estratégicas com as empresas Parmalat e mais recente com a
Perdigão, participando da gestão da Batávia S/A. A Castrolanda,
atendendo a seus interesses estratégicos optou por deixar a sua
participação na Batávia S.A., para investir na sua própria indústria de
processamento de leite.
A visão estratégica de investir em pesquisa e desenvolvimento
agropecuário, desde o início, primeiramente através da CCLPL e
posteriormente como Fundação ABC foi um diferencial competitivo
importante. Considerada como uma instituição de pesquisa
exemplar, a Fundação ABC, mantida pela Castrolanda juntamente
com as cooperativas Batavo e Arapoti, aplica as mais avançadas
técnicas agronômicas e pecuárias, além de suporte econômico, fruto
de investimentos maciços em geração de conhecimento e avanço
tecnológico. O resultado do trabalho influenciou toda a região dos
Campos Gerais, considerada hoje como uma das regiões
técnicamente mais desenvolvidas, servindo inclusive de modelo a
nível nacional e internacional.
A gestão da cooperativa passa por constantes mudanças. Nestes
últimos 10 anos, aproveitando o bom desempenho da economia e do
agronegócio brasileiro e conquistas do sistema cooperativista, a
cooperativa implantou reformas profundas nas suas estruturas e
introduziu um programa de planejamento participativo, que envolveu
programas de profissionalização da sua gestão e dos seus
produtores, planos de capitalização e de monitoramento pelo próprio
sistema.
A Cooperativa considera um processo de planejamento participativo
por que é conduzido por lideranças, dirigentes e gerentes. O grupo
passou a nortear as principais diretrizes estratégicas, monitorando
os resultados através de encontros anuais de avaliação. O foco
sempre foi a agregação de valor ao cooperado, mantendo-se o
desenvolvimento sustentável da cooperativa, tudo isso preservando
92

os valores da sua cultura, tais como: ética, comprometimento,


criatividade, valorização das pessoas, liderança, união e
transparência.
Segundo o pensamento da organização, a transparência gera a
fidelidade do associado, tão importante à manutenção dos negócios.
Faz parte dessas práticas de fidelização do cooperado o
planejamento envolvendo as lideranças, discussão de orçamentos,
definição de investimentos, apresentação de resultados e prestação
de contas dos atos da administração. Fundamental também é o
processo de comunicação que a cooperativa estabelece com os
seus associados, disponibilizando o acesso irrestrito e em tempo
real aos dados e informação de negócios via internet e celular.
Nesse campo a cooperativa foi pioneira e premiada por grandes
instituições e empresas nacionais e multinacionais. A cooperativa
mantem livre acesso dos associados às pessoas que tomam
decisões com criação inclusive de canais de participação na gestão.
A tudo isso chama de “Cultura da Transparência”.
Sustentabilidade, nas suas três esferas: econômica, social e
ambiental, foi a tônica da gestão. Neste período a cooperativa
cresceu horizontalmente e verticalmente, tudo de acordo ao
planejado, ciente da sua responsabilidade social, respeitando o meio
ambiente, procurando estimular cada vez mais o uso de energias
renováveis. Atualmente, o S.G.I. (Sistema de Gestão Integrada)
permite o gerenciamento integrado das áreas de segurança, meio
ambiente e qualidade.

A Cooperativa Castrolanda, no presente, atua em negócios na área de produção de

Leite, Carnes, Agrícola, Batatas, Indústria e negócios Corporativos, tendo um

crescimento médio nos últimos 10 anos de 40%, sendo que os investimentos fixos

passaram a R$ 20.412.000,00 para R$ 145.500.000,00, representando um

crescimento médio superior a 60% ao ano. O Capital social passou de R$

12.686.000,00 para R$ 42.453.000,00, representando um crescimento médio

superior a 23% ao ano.


93

6.4 As Associações Holandesas

Os holandeses que no final da década de 40 começaram a chegar na região do Alto

Jacuí procuraram ao longo dos anos, preservar os costumes e tradições de seus

antepassados, trazendo para a região que adotaram como lar um pouco da rica

cultura de sua terra natal. Contribuíram para que principalmente Não-Me-Toque,

onde a maioria das famílias holandesas se estabeleceu em 1949, se destacasse no

Estado por sua diversidade cultural, e por este fato também Não-Me-Toque é

considerado o berço da imigração holandesa no Rio Grande do Sul.

Além da culinária típica e do artesanato, os holandeses trouxeram para Não-Me-

Toque a dança. Através dela, garantiram a sobrevivência de tradições que em muitas

regiões da Holanda já foram esquecidas, mas que no Brasil são transmitidas de

geração em geração.

A organização social era uma necessidade na comunidade holandesa. Surgiu então,

em setembro de 1955, "Na União a Força", depois a "Associação Rural Neerlandesa"

que reunidas formam atualmente, a "Associação Holandesa". Está reúne em sua

listagem de associados mais de 200 pessoas, sem contar os dependentes menores

de 15 anos e tem como objetivos primordiais, manter ativo o grupo de Danças

folclóricas "De Tulp", preservar os usos e costumes tradicionais como o Zeskamp,

(disputa entre seis), evento esportivo organizado pelas seis colônias holandesas no

Brasil, (Holambra I e Holambra II em São Paulo; Arapoti, Castrolanda e Carambeí no

Paraná e Não-Me-Toque no Rio Grande do Sul) sediado em forma de rodízio anual

que tem como objetivo fundamental a integração através da prática esportiva; a


94

Festa de São Nicolau; nos casamentos, durante a recepção social, os noivos

sentados em cadeiras, sejam arremessados ao alto e carregados ao redor do salão.

Grupo Folclórico de Danças Holandesas De Tulp - O resgate da história da dança

holandesa começou no ano de 1985, quando foi fundado o Grupo Folclórico de

Danças Holandesas De Tulp. O nome deve-se à flor típica da Holanda: tulp significa

tulipa. Os trajes foram inspirados na vestimenta típica da região de Zeland, terras ao

norte da Holanda, resgatadas do mar e protegidas pelos diques. Os tamancos de

madeira, principal característica do traje típico holandês, parecem torturar os pés de

quem os usa, mas são bem mais leves do que se imagina, pesam apenas 800

gramas.

Depois de encantar muitas pessoas com suas apresentações, o grupo paralisou as

atividades, sendo retomadas somente no ano de 1998. Com ensaios constantes e a

dedicação dos alunos, o grupo em pouco tempo ultrapassou fronteiras, tendo

participado inclusive de festivais internacionais.

As danças que fazem parte do atual repertório do grupo são bastante animadas e

todas têm um significado especial, com movimentos que lembram hábitos do povo

holandês.

A comunidade de Castrolanda mantém um associação securitária. Trata-se de uma

instituição com objetivos securitários para as terras, plantações, criações e

propriedades em geral dos membros da comunidade. Possuindo uma diretoria

composta por membros da comunidade, sendo alguns membros da IERBC.


95

6.5 O Ecumenismo

A IER sempre manteve contatos ecumênicos com outras Igrejas e Organizações,

entre outros com o WARC, CONIC, CLAI, etc.

Em 1990 são formados dois outros departamentos sinodais, ao lado do

Departamento da Missão: o de Contatos Ecumênicos (DCE) e o de Educação Cristã,

que em 1994 foi renovado e composto por representantes das IERs do Paraná,

tornou-se o Departamento de Educação Cristã Sinodal (DECS).

O Sínodo aprova um Documento Protocolo com a IELB, em 1993, que também

regulariza a cedência de pastores da IELB para a IER.

Nas visitas dos últimos papas, João Paulo Segundo e Bento Dezesseis, a IER enviou

representantes para receber e dar as boas vindas em nome da denominação.

Destaca-se aqui há uma decisão do Sínodo que impede o batismo de pessoas

vindas da Igreja Católica Romana. Esta foi uma das razões, porque os membros de

uma congregação no bairro Abapan, optassem pela filiação a Igreja Presbiteriana do

Brasil, que batiza os candidatos vindos do catolicismo.

6.6 O Instituto Cristão - IC

O Instituto Cristão é de propriedade da Igreja Presbiteriana do Brasil, fundado em

1915 por um missionário americano chamado Harry Preston Midkiff, sendo enviando
96

para o Brasil, onde em 1911, pastoreou a Igreja Presbiteriana de Castro. O IC está

localizado na cidade de Castro, distante quatro quilômetros do centro. Foi cedido por

comodato por 50 anos para o Sínodo da IER, tendo iniciado este contrato em 1963,

tendo encerramento para 2013. Tendo uma relação maior com a IERB de

Castrolanda, devido a proximidade.

No início o IC funcionou com escola comum com curso até a oitava série, sobre isto

o histórico registrado no site do IC (http://associacaoinstitutocristao.com.br/historia/),

relata:

O ensino seguia os moldes da Escola Americana, ia até a oitava


série. Em 1926, contavam-se alunos de Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Os missionários edificaram e
sustentaram o Instituto até 1936, quando uma crise econômica de
proporções internacionais causou uma diminuição da contribuição
dos EUA, cessando os recursos para os missionários continuarem
os trabalhos do Instituto. Foi na época, quando o café estava sendo
queimado por falta de preço. Em 1936 a Missão vendeu o Instituto
Cristão à família Rickli, por 50 contos de réis, o que na época era o
valor real, e a família comprou e pagou o Instituto por motivos
idealistas, assumindo o compromisso moral de continuar os
trabalhos do Instituto, no mínimo por mais 10 anos. A família Rickli
está radicada na zona rural da Comarca de Prudentópolis e tinha
feito algumas economias com a extração de erva-mate.

O IC passou a funcionar uma escola técnica na área de agricultura e pecuária, logo

nos primeiros anos de comodato, formando Técnicos em Agropecuária. Lá também

foi instalada uma atividade pecuária, aproveitando o grande espaço para pasto, cria-

se e comercializa-se gados holandeses.

No início houve muita dificuldade no auto sustento, sendo necessário subsídio da

IER, depois se conseguiu parceria com a Cooperativa. Em 1973, recebeu-se uma


97

ajuda de 100 mil cruzeiros para a implantação de um curso de Economia Doméstica

no IC. Depois estas dificuldades foram diminuindo com parcerias com entidades

mantenedoras.

O IC foi utilizado para reunir encontros e acampamentos dos jovens e crianças das

colônias e da IER, com seu grande espaço e alojamentos que são usados para os

alunos que estudam em regime de internato no local.

No final da década de 90, o IC firmou parceria com a Fundação Eduardo dos Santos

– FESA, de Angola, na África, tornando-se conhecido internacionalmente. Em 2001

foi implantado um Instituto Bíblico que era conveniado com o Seminário

Presbiteriano do Paraná.

Atualmente, o IC tem tido um bom desempenho, contando com a administração do

Sínodo da IER, tendo um pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, como capelão, o

Sr. Renato Caetano.

6.7 Centro de Atendimento a Criança Jardim Colonial - CACJC

O CACJC é uma instituição de assistência a crianças carentes, localizado em um

dos bairros mais carentes da cidade de Castro, o Jardim Colonial. Funcionando

desde 1981 sendo fundado pela IPB de Castro e a IERBC, sendo mantido na

atualidade pela Associação de Assistência Social de Catrolanda – AASC, pela

Prefeitura de Castro e por igrejas da cidade como a Luterana e a Presbiteriana.


98

Atendendo mais de 270 crianças de 3 a 14 anos, o CACJC, atua no auxílio das

tarefas escolares, reforço, habilidades manuais, artísticas e esportivas, oficinas de

informática, balé, coral e nas áreas de educação religiosa. São dadas refeições

durante a estadia das crianças no local, incentivando a permanência das crianças

nas escolas públicas, priorizando-se atividades auxiliares as acadêmicas.

A administração e docência deste Centro, conta com a participação direta da IERBC,

tendo funcionários, professores e o próprio pastor da igreja, Kleber Machado, como

atual presidente da AASC.

6.8 A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB)

A Igreja Evangélica Reformada em Castrolanda, sempre manteve boas relações com

a Igreja Presbiteriana do Brasil. Dentre estes relacionamentos, já tratamos do

Instituto Cristão e do Centro de Atendimento a Criança Jardim Colonial.

Um dos dois pastores da IERBC, o Sr. Kleber Machado, é pastor da Igreja

Presbiteriana do Brasil, cedido por empréstimo, tendo desempenhado ministério

amplo na comunidade local e nas escolas e associações da igreja ou relacionadas a

denominação.

Com a Igreja Presbiteriana do Brasil em Castro, Paraná, há relacionamento muito

próximo em toda a história da IERBC, com histórias de parcerias desde o início até o

presente. Esta IPB foi iniciada na época dos primeiros missionários presbiterianos
99

que vieram dos Estados Unidos para o Brasil, tendo seu primeiro missionário em

Castro, no ano de 1888.

Dentre as várias relações que a IERBC tem com a IPB, destaca-se a parceria nos

trabalhos de plantação de Igrejas. Atualmente a Segunda Igreja Presbiteriana do

Brasil em Castro, localizada no bairro Rio Branco, era uma congregação da IERBC

que foi transferida para a IPB.

Recentemente a última congregação da IERBC, também foi filiada a IPB. Trata-se da

Congregação do bairro de Abapan, que durante décadas foi mantido pela IERBC,

mas sempre com parcerias com as igrejas IPB locais. Em 2008, o trabalho foi

transferido definitivamente para a Igreja Presbiteriana do bairro Rio Branco,

posteriormente, quando houver a organização a IERBC, se comprometeu em doaro

templo.

Em 1959 recebeu-se a visita de Deputados da Missão, das Igrejas Reformadas da

Holanda (IRsH = GKN ), que vieram estudar as possibilidades de trabalho

missionário no Brasil. O resultado foi que, em 1961, enviaram o pt. F. L. Schalkwijk,

para o trabalho missionário na região das colônias. Trabalho que, a partir de então,

começou a se desenvolver sob a sua liderança dinâmica. Alguns anos depois o

trabalho missionário ampliou e estendeu-se pelo Estado do Paraná, sempre em

deliberação com a IPB (com o qual já se mantinha contato).

O trabalho conjunto com as IRsH mostrou-se de suma importância, pois nas Igrejas

das colônias não havia pessoas suficientemente capacitadas, nem os meios

financeiros, para um trabalho missionário desta dimensão.


100

Mais tarde, cada Igreja nomeou representantes, os ‘Deputados da Missão’, que eram

responsáveis pelo trabalho missionário das Igrejas e também daquele realizado em

conjunto com a Missão das IRsH. 40

40 Disponível em: http://ierb.org.br/sinodo. Acesso em: 23 Fev. 2009.


101

CONCLUSÃO

Pesquisamos um grupo de imigrantes holandeses, que, pelo desafio de

sobrevivência condigna e perspectiva de progresso, uniram o trabalho, a

religiosidade e a necessidade educacional dos seus descendentes.

A riqueza histórica desta colônia holandesa e seu ideal de trabalho, fé e educação,

motivaram a investigação em loco, através das literaturas disponíveis. Na grande

diversidade do campo religioso no Brasil, apresentamos uma igreja reformada

etnicizada, denominada Igreja Evangélica Reformada no Brasil de Castrolanda.

Este grupo procurou manter sua singularidade histórica, social e cultural, aceitando a

construção da identidade, impedindo, inclusive, que a comunidade eclesiástica

pudesse se extinguir.

Da mesma forma que a igreja original da Holanda se adaptou a outros países, como

os Estados Unidos, a IERBC adaptou-se ao Brasil. A denominação original era Igreja

Cristã Reformada, e mudou para Igreja Evangélica Reformada no Brasil, quando

alcançou sua independência, refletindo as mudanças em sua estrutura. Niebuhr

(1992, p. 133) chama este processo de “americanização” dizendo:

Os problemas implícitos incluíam o processo de adaptação ou


resistência a cultura nacional. O processo de americanização,
todavia, não deixou intacta a Verdadeira Igreja Reformada
Holandesa. Com o passar do tempo o referencial aos antecedentes
europeus da Igreja foi eliminado do seu nome, que foi mudado para
Igreja Cristã Reformada. Mas, tais mudanças de nome implicaram em
muitas e grandes mudanças internas.
102

A disposição da igreja para discutir e assimilar a cultura da nova terra, garante um

futuro promissor para esta comunidade religiosa, mesmo que, muitas vezes, abrindo

mão de traços étnicos e religiosos dos pais e da pátria anterior. A religiosidade vai

assumindo nova identidade, a medida que assimila o protestantismo brasileiro, mas

mantém muitos fatores originais da reforma protestante holandesa. Segundo

Pinheiro (2008, p. 121), o protestantismo precisa aceitar estas “brasilidades” para

poder se manter em crescimento, afirma:

Nesse sentido, tal protestantismo não poderia ser identificado como


um tipo de determinado de organização social, mas ser portador de
poder e oferecer aos brasilíndios e afrobrasileiros uma mensagem de
vida, tanto para a pessoa como particularidade, como para as
comunidades como um todo. Exatamente por isso, apresenta-se
capenga toda forma de cristianismo, protestantismo, evangelicalismo
que se fecha na pura interioridade. Mas também não se pode dizer
que o cristianismo do princípio protestante é um movimento que parte
mecanicamente da interioridade em direção a exterioridade,
apropriando-se de formas culturais brasilíndias e afrobrasileiras ou
simplesmente passando largo delas. Na verdade, ele toma forma a
partir delas, mas também dá forma as expressões culturais
brasilíndias e afrobrasileiras. Dessa maneira, tal cristianismo do
princípio protestante está interpenetrado pela consciência,
experiência estética, ética e pelos modelos sociais da
multiculturalidade brasileira.

A Igreja Evangélica Reformada no Brasil de Castrolanda – IERBC se mantém

atuante em nossos dias, após mais de meio século, promovendo relação indissolúvel

com as escolas evangélicas e a cooperativa agropecuária. A identidade étnica

original vai aos poucos se transformando em uma identidade mais contemporânea e

aculturada ao Brasil, mantendo assim uma igreja em crescimento.


103

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110

Ordem dos Anexos Elencados:

▫ Foto atual externa da Igreja Evangélica Reformada no Brasil de Castrolanda.

▫ Fotos antigas da igreja sobrepostas a atual.

▫ Foto interna da igreja com o pastor Kleber Machado pregando.

▫ Foto do Memorial de Imigração Holandesa em Castrolanda.

▫ Foto da Antiga Escola que funciona atualmente com Escola Holandesa (Prins

Willem Alexander)

▫ Foto da Atual Escola Evangélica da Comunidade de Castrolanda.

▫ Foto Antiga da Cooperativa de Castrolanda.


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▫ Foto do Hotel na Holanda que costumavam se reunir antes da viagem para o

Brasil.

▫ Capa do Manual de Culto da IER e seu Símbolo.

▫ Boletim Informativo da IERBC.


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ANEXOS
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