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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

JEFERSON VIEIRA FELIX

ESTÁGIO PASTORAL SUPERVISIONADO – JULGAR

Ananindeua – PA
2021
JEFERSON VIEIRA FELIX

ESTÁGIO PASTORAL SUPERVISIONADO – JULGAR

Atividade apresentada ao curso de teologia da


Faculdade Católica de Belém, como avaliação
da disciplina de Estágio Pastoral
Supervisionado, ministrada pelo Profº. Pe.
Adriano Sousa Santos.

Ananindeua – PA
2021
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1 – ESTÁGIO PASTORAL SUPERVISIONADO – JULGAR

1.1 - Apresentação
O presente projeto tem por natureza descrever a atividade pastoral aos finais de
semana dos seminaristas da diocese de Marabá, especificamente de dois seminaristas,
Jeferson Vieira Felix e Wendell Rocha, o primeiro cursa o 2º ano de teologia e o segundo o
primeiro ano de filosofia.

1.2 – Caracterização do lugar


O projeto pastoral se desenvolve na cidade de Marabá-PA, na paróquia Nossa Senhora
de Fátima, cuja sede é localizada no bairro São Félix, porém a sua extensão vai além desse
bairro. A paróquia possui 16 comunidades com os seguintes padroeiros: Nossa Senhora do
Rosário, Divino Espírito Santo, São Antônio, São Miguel, Santa Dulce dos Pobres, Santa
Luzia (duas com esta padroeira), São Pedro, São José, São Francisco de Assis, Santa Rita de
Cássia, Divino Pai Eterno, Nossa Senhora Aparecida, São João Batista, Nossa Senhora de
Nazaré e Nossa Senhora de Fátima (a comunidade matriz). Nesta comunidade paroquial há
atuação de dois padres: padre Cícero Edvam (o pároco) e padre Antônio Marcos (o vigário).
A comunidade com inserção pastoral mais efetiva dos seminaristas é a comunidade Santa
Dulce dos Pobres, no residencial Magalhães Barata, a comunidade mais jovem da paróquia e
que apresenta singular realidade social.
O projeto se realiza com o escopo de possibilitar aos seminaristas o desenvolvimento
do estágio pastoral de modo supervisionado, correspondendo às exigências do rigor
acadêmico e ao desenvolvimento dos trabalhos pastorais com objetivos, metas, métodos,
estratégias e procedimentos, especificação de um cronograma, monitoramento e avalição, com
base em fundamentação teórica para a práxis pastoral da Igreja. Pois a práxis pastoral da
Igreja não é alheia a todos esses procedimentos, não é solta, mas tem objetivo (a
evangelização), metas (os passos para o processo evangelizador), métodos estratégias e
procedimentos (para a eficácia da evangelização) seguindo um cronograma, sempre baseada
em documentos da Igreja que norteiem essas atividades para garantir que o anúncio seja fiel
aos dados da Revelação e que seja realizado de modo adequado aos nossos tempos e aos
diferentes contextos.
O objetivo geral desse projeto é formar uma comunidade eclesial missionária a partir
dos pilares da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária, conforme a proposta das
Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora no Brasil 2019-2023.
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Os objetivos específicos são:


- Promover a escuta e meditação da Palavra de Deus, mediante a celebração da Palavra e
círculos bíblicos nas casas das famílias da comunidade, fornecendo materiais para estudo e
celebrações com a Palavra de Deus e promover a iniciação à vida cristã – Pilar da Palavra;
- Conscientizar da centralidade da celebração Eucarística na vida cristã, como manifestação
máxima da comunhão da Igreja, e a importância do cultivo duma vida de oração e vivência
sacramental, por meio de formações – Pilar do Pão;
- Promover nos membros da comunidade o compromisso para com os pobres, necessitados e
excluídos para que sejam promotores da vida plena, buscando políticas públicas que garantam
os meios básicos para uma vida digna às famílias da localidade e implantação de pastorais que
acompanhem e auxiliem os mais necessitados, como uma exigência dum autêntico
compromisso com Cristo, cuja espiritualidade está centrada na capacidade de amar a Deus e
ao próximo – Pilar da Caridade;
- Formar uma autêntica comunidade missionária conscientizando a cada fiel que o caráter
missionário é intrínseco à fé cristã, mediante anúncio explícito com visitas, encontros de
orações e trabalho com jovens e crianças, mas com os cuidados que exigem o contexto
pandêmico – Pilar da Ação Missionária.
- Construir um salão para realizar as missas e celebrações e que sirva de referência para as
pessoas da localização do espaço celebrativo da Igreja Católica e para não ocorrer a invasão
do terreno da Igreja.

1.3 – Fundamentação
Como a atividade pastoral é o acompanhamento de uma comunidade, cujo objetivo
geral é formar uma comunidade eclesial missionária a partir dos pilares da Palavra, do Pão, da
Caridade e da Ação Missionária, este relatório se baseia fundamentalmente nas Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil 2019 – 2023 (DGAE 2019-2023). Utilizam-se
outras referências, porém, o objetivo é ressaltar e confirmar o aspecto já apresentado nas
Diretrizes. Portanto, o aprofundamento busca mostrar uma fundamentação teológica e
pastoral do que constitui e o que caracteriza as comunidades eclesiais missionárias.

1.4 – Aprofundamento
O ser cristão, dentre muitos aspectos, tem duas implicações diretas: viver em
comunidade e o desejo de que essa experiência transborde para todas as criaturas até os
confins da terra. Por isso, vida em comunidade não se separa da missão. Assim, para levar
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adiante a missão e vocação evangelizadora da Igreja, as Diretrizes são estruturadas a partir da


comunidade eclesial missionária, apresentada na imagem da casa (entendida como lar) que
precisa da cooperação de todos. Nessa casa as portas estão sempre abertas para realiza o duplo
movimento de entrar (portas que acolhem) e sair (para sair em missão anunciando Jesus
Cristo e seu Reino). A comunidade eclesial missionária é sustentada por quatro pilares: a
Palavra, o Pão, a Caridade e a Ação Missionária.
“A casa, enquanto espaço familiar, foi um dos lugares privilegiados para o encontro e
o diálogo com Jesus e seus seguidores com diversas pessoas (Mc 1,29; 2,15; 3,20; 5,38; 7,24)
[...]” (CNBB, 2019, n.73), há uma valorização da casa como espaço de encontro e convívio; e
o modo de Jesus e seus discípulos entrar em contato com as pessoas é caminhar. A casa é
lugar para cultivar e vivenciar os valores do Reino de Deus.
Nas primeiras comunidades cristãs havia a experiência da Igreja na casa, a casa-
comunidade, com relações para além dos laços familiares. Nessas comunidades estavam
incluídos tanto pobres como pessoas de maior condição econômica. “Não havia entre eles
necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam os
valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se então, a cada um,
segundo sua necessidade” (At, 4,34-35). A casa de Priscila e Áquila é modelo de família que
alarga os horizontes de seu lar para acolher os irmãos na fé, e, nessa casa aberta e ampliada,
torna-se Igreja, convocação de Cristo (cf.1Cor 16,19).
Contudo, nos cristão das primeiras comunidades, o senso de comunhão e de pertença
não os separava dos demais habitantes das cidades, mas tinha como finalidade a
responsabilidade favorecer um testemunho que fosse capaz de atrair outras pessoas. O
seguimento de Cristo marcava um novo estilo de vida, no qual a casa possibilitava a
organização de comunidades pequenas, em que as pessoas se conheciam e compartilhavam da
mesa e refeição cotidiana. No testemunho de comunhão estava baseada a credibilidade da
comunidade.
Nos dias atuais, frente à complexa realidade urbana e à mudança de época, as
pequenas comunidades eclesiais se mostram como meio privilegiado à Nova Evangelização,
em que os batizados sejam autênticos discípulos missionários de Cristo. De fato, elas são “um
ambiente propício para escutar a Palavra de Deus, para viver a fraternidade, para animar na
oração, para aprofundar processos de formação na fé e para fortalecer o exigente
compromisso de ser apóstolos na sociedade de hoje [...]” (CELAM, 2008, n.308). O eixo
fundamental dessas comunidades deve ser a missão, sendo configuradas como casa da
Palavra, do Pão, da caridade e da missão.
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Passa-se agora para os pilares sobre os quais se fundamentam as comunidades


eclesiais missionárias. O primeiro deles é o pilar da Palavra, como iniciação à vida cristã e
animação bíblica da vida e da pastoral. Os Atos dos Apóstolos já testemunham que a
comunidade cristã ouvia junto a Palavra de Deus, para discernir a experiência da vida em
Deus, pois a fé vem da escuta. No caminho da fé a iniciativa é de Deus ao comunicar seu
desígnio amoroso de salvação, mas cabe ao ser humano responder mediante a conversão de
vida, a configuração a Cristo, que o levar, consequentemente, a se tornar discípulo
missionário. Com efeito, “[...] esse processo de iniciação à vida cristã supõe um encontro
pessoal e comunitário com Jesus Cristo, proporcionado de forma privilegiada pela celebração
da Palavra de Deus e pela leitura orante.” (CNBB, 2019, n.88), sendo as pequenas
comunidades o local propício para que isso aconteça. As pessoas devem ser introduzidas no
processo de Iniciação à Vida Cristã pela comunidade eclesial, por isso, a iniciação cristã
precisa ser assumida com decisão, coragem e criatividade, para que possam ser formados
discípulos missionários. Com efeito, “[...] Os processos de Iniciação e a formação dos agentes
evangelizadores precisam levar em conta as etapas que lhe são próprias: o querigma, o
catecumenato, a purificação-iluminação e a mistagogia [...]” (CNBB, 2019, n.90).
Acrescenta-se ainda que, na formação de discípulos missionários, a aproximação das
pessoas e das comunidades da leitura orante da Palavra de Deus é uma urgência, onde haja
uma intimidade com Cristo. A leitura orante em comunidade é indispensável, pois a Palavra
de Deus deve construir comunhão, porque essa Palavra constrói a comunidade, constrói a
Igreja. De fato,
“O contato intensivo, vivencial e orante com a Palavra de Deus confere à reunião da
comunidade um caráter de formação discipular. O importante é o encontro com a
Palavra que muda a vida e dá sentido ao ser e agir de quem é cristão, corrigindo
posturas e aderindo ao modo de ser, de pensar e de agira de Jesus Cristo. O
Evangelho passa a ser o critério decisivo para o discernimento em vista da vivência
cristã” (CNBB, 2019, n.92).

Passa-se ao segundo pilar, o do Pão, que se dá no âmbito da liturgia e espiritualidade.


Desde os primeiros cristãos, a celebração da Eucaristia é sinal eminente de comunhão, em que
a sua celebração comum implica a comunhão de todos com o Corpo e o Sangue de Cristo. Ela
é sempre um ato comunitário e está no centro da celebração da fé cristã. A Eucaristia é a mesa
por excelência da comunidade eclesial, transforando as pessoas em discípulos missionários de
Cristo e testemunhas do Evangelho. Ademais, a comunidade eclesial (casa que nutre seus
filhos) é sustentada pela oração, sendo a oração o que faz os membros da comunidade
redescobrir sua dignidade filial para com Deus, conscientizar-se de que são colaboradores de
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Deus na missão. “A oração dos discípulos missionários de Jesus Cristo deve ser a expressão
da espiritualidade do seu seguimento [...]” (CNBB, 2019, n.96). Além do mais, “Na pastoral é
preciso superar a ideia de que o agir já é uma forma de oração. Quando confundimos agir com
rezar, chegamos a abreviar ou dispensar os tempos de oração e de contemplação [...]” (CNBB,
2019, n.97). Com efeito, a pastoral deve decorrer da oração e a ela conduzir.
É a busca da santidade que caracteriza a espiritualidade cristã, que favorece e alimenta
um jeito de ser Igreja. É desejo do Senhor uma Igreja servidora, como se nota no exemplo de
muitos santos (muitos até do Brasil, como Santa Dulce) que se fizeram dom a serviço da
solidariedade e da compaixão, sensibilizados pelas mesmas dores humanas que continuam nos
dias de hoje. Ademais, a piedade popular precisa ser valorizada na experiência de fé da
comunidade cristã, na sua pureza de expressões como uma força evangelizadora. Contudo, é
necessário estar atento para os riscos de instrumentalização da piedade popular.
A comunidade, enquanto casa da comunhão, é chamada sempre a celebrar o perdão e a
misericórdia do Senhor, o que se dá, particularmente no sacramento da Penitência. Da mesma
forma, é “[...] preciso formar comunidades dispostas a percorrer um caminho de
discernimento espiritual, buscando a verdade do Evangelho” (CNBB, 2019, n.101).
O terceiro pilar, o da Caridade, é entendido como serviço à vida plena. A
espiritualidade da fé cristã tem seu centro no amor a Deus e ao próximo, são coisas
indispensáveis para o discípulo missionário de Jesus Cristo. “[...] Sem oração não existe vida
cristã autêntica. Sem caridade, a oração não pode ser considerada cristã [...]” (CNBB, 2019,
n.103). O próprio Jesus se revela misericordioso pelos pequenos e pobres, doentes e
pecadores, estando ao lado dos perseguidos e marginalizados. Do mesmo modo, na atual
cultura urbana globalizada, as questões sociais, a defesa da vida e os desafios ecológicos
precisam ser enfrentados pelas nossas comunidades. É Jesus Cristo em pessoa o Evangelho da
paz que a Igreja anuncia. A justiça se dá na fidelidade à vontade de Deus, que se torna
concreta no compromisso com os excluídos e marginalizados (cf. Mt 25,34-36).
Há ainda outras questões que tocam o pilar da caridade: a questão do trabalho no
mundo urbano deve ser tocado pela evangelização, sendo solidário com os que sofrem as
consequências do desemprego e trabalho precário; o empenho e atuação política dos cristão e
das comunidades eclesiais (caridade social), porque a boa política é meio privilegiado para
promover a paz e os direitos humanos fundamentais; a superação das ambições, do
consumismo e da insensibilidade diante do sofrimento, em que a busca dos cristãos seja uma
vida simples, austera, livre do consumismo e solidária; a promoção da cultura da vida,
enfrentando os muitos desafios que se impõe a ela; contemplar o Cristo sofredor no pobre e se
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comprometer com todos os que sofrem, dentre esses os que sofrem com a falta de sentido para
a vida; o preocupar-se com a situação dos migrantes, pois uma comunidade cristão precisa
abrir as portas para o migrante; preocupar-se com a rejeição dos que chegam de países ou
regiões diferentes, gerando a xenofobia; também o preocupar-se com os povos indígenas,
quilombolas e pescadores, reconhecendo e defendendo os seus direitos, dentre eles a
permanência em seus territórios.
O quarto e último pilar é o da Ação Missionária, entendida como estado permanente
da missão. O mundo urbanizado, embora assuste, é uma porta aberta para o Evangelho e a
comunidade cristã precisa olhá-lo com otimismo, pois é Deus quem abre a porta da fé.
Portanto, cabe à Igreja “[...] incentivar a descoberta das sementes do Verbo, presentes nas
várias culturas, e promover o encontro dessas culturas com Jesus Cristo, que as ilumina”
(CNBB, 2019, n.114). De fato, “[...] a Igreja é em Cristo como que sacramento isto é, sinal e
instrumento, da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano [...]”
(LUMEM GENTIUM, n.1). Com efeito, a missão da Igreja constitui a essência da fé cristã,
porque “[...] Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo
encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra
e obras é nossa alegria” (CELAM, n.29). A missão implica anunciar a Boa-Nova de Jesus
Cristo (o querigma), que não pode deixar de existir, nem ser negado.
Uma das expressões da missionariedade da comunidade se dá quando ela “[...] assume
os compromissos que colaboram para garantir a dignidade do ser humano e a humanização
das relações sociais [...]” (CNBB, 2014, n.185). Para ser autenticamente missionária, é preciso
que a comunidade eclesial se insira ativa e coerentemente nos novo aerópagos, como é o caso
das redes sociais, entretanto, é indispensável agir com discernimento.
Acrescenta-se ainda que “A Igreja e o mundo podem ouvir a voz de Deus também por
meio dos jovens, que constituem um dos lugares teológicos onde o Senhor está presente. A
Igreja faz uma opção preferencial por eles [...]” (CNBB, 2019, n.119). O testemunho deles
pode oferecer uma contribuição “[...] para renovar o ardor espiritual e o vigor apostólico das
comunidades. Nessa comunhão, os jovens poderão ser ainda mais missionários entre os
jovens.” (CNBB, 2019, n.120).
Por fim, as comunidades eclesiais missionárias estão em rumo à casa da Santíssima
Trindade, onde a Igreja atua na sociedade como sacramento universal de salvação, tendo em
vista o fim escatológico. “[...] A ação evangelizadora e pastoral tem como meta a salvação da
pessoa e da humanidade. Salvação que se entende integral [...]” (CNBB, 2019, n.121). Essa
característica deve marcar toda ação eclesial na história, pois é uma força da espiritualidade
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cristã. Mesmo num mundo tumultuado o Reino de Deus germina, sendo sinal do triunfo do
amor de Cristo sobre os mecanismos de morte. É necessário fortalecer a esperança dos
cristãos num mundo que carece de sentido e de ética, pois a Igreja vive na certeza de que
viverá na casa da Trindade.

1.5 – Agir
Quanto ao terceiro passo do método ver, julgar e agir, faz-se aqui algumas
considerações sobre os desdobramentos da experiência vivida na comunidade Santa Dulce dos
Pobres, na paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Marabá-PA, destacando-se elementos
significativos no aprofundamento teórico e prático da teologia pastoral.
Como o objetivo da ação pastoral desenvolvida nessa comunidade foi forma uma
comunidade eclesial missionária, fundamentada sobre o pilar da Palavra, do Pão, da Caridade
e da Ação Missionária, é possível notar elementos significativos do aprofundamento teórico e
prático. O primeiro deles é a própria imagem usada para se referir a uma comunidade eclesial
missionária: a casa, entendida como lar. De fato, é notável como essa imagem se destaca na
comunidade Santa Dulce dos Pobres. As reuniões para as celebrações, terços, encontros de
novenas e círculo bíblico eram realizadas nas casas das famílias, como uma idêntica imagem
do que acontecia na Igreja primitiva presente na narração bíblica dos Atos dos Apóstolos,
onde as relações na casa vão para além dos laços familiares, formando Igreja. Mas, sobretudo,
lugar do encontro com Jesus.
Os outros elementos são referentes ao desenvolvimento dos pilares sobre os quais se
sustenta a comunidade eclesial missionária. O primeiro deles é a Palavra. Na comunidade
Santa Dulce esse é um dos pilares mais importantes, pois sacracralizou-se o frequente contato
com a Palavra de Deus nos encontros de oração. O principal dia de reunião em torno da
Palavra é o domingo, com a celebração da Palavra ou da Eucaristia e nas quintas-feiras, com o
encontro bíblico para partilhar a Palavra de Deus nas casas de uma das famílias da
comunidade (cada semana numa casa diferente). Contudo, é preciso reconhecer que em
relação à Iniciação à Vida Cristã não foi possível desenvolvê-la de modo efetivo, devido à
vários fatores. Porém se procurou, sempre que possível, passar formação catequética sem
visar os sacramentos, mas com o foco de instruir as pessoas para criarem a consciência da
importância de uma autêntica vida eclesial e vivência sacramental.
No segundo pilar, o do Pão, é notável o seu desenvolvimento, principalmente na
celebração Eucarística, que acontece dois ou três domingos ao mês e pelo cultivo da piedade
mariana, com a oração do terço aos sábados nas casas das famílias.
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Quanto ao terceiro pilar, o da Caridade, dentre muitas iniciativas, destaca-se o trabalho


efetivo da Pastoral da Solidariedade que socorria as necessidades de algumas famílias
carentes (pois há muitas). Além dessa pastoral, há o bazar, e algumas ações em datas
específicas, como o dia das crianças, o dia mundial dos pobres em que ocorreram atividades
caritativas na comunidade Santa Dulce no Magalhães Barata. Pode-se também acrescentar
nesse pilar os muitos mutirões realizados para a construção do salão comunitário, que, mesmo
sem estar concluído, já serve como referência para a localização da comunidade e para
realizar as celebrações. Nos mutirões muitos doavam a força de trabalho, enquanto outros
doavam lanche, e materiais para a construção.
Um elemento significativo, que também pode se encontrar incluso no pilar da
caridade, foi a realização do primeiro festejo de Santa Dulce dos Pobres na comunidade do
Magalhães Barata, com sua comemoração litúrgica no dia 13 de agosto. Para a sua realização
houve forte mobilização da comunidade local e paroquial, com doações e participação no
tríduo em honra a Santa Dulce. Como as pessoas da comunidade não tinha experiência com
essas promoções, as comunidades paroquiais mais próximas ajudaram nas celebrações
litúrgicas (com cantos, leituras) e com os leilões (com muitos prêmios doados pelas
comunidades próximas). A partir dessa festividade, ficou ressaltado o amor e alegria das
pessoas que participam da comunidade ao ajudarem nas vendas das comidas que elas mesmas
tinham doado e ajudado a preparar. Foi com o festejo de Santa Dulce que a comunidade
passou a ser conhecida pela outras comunidades da paróquia.
Em relação ao quarto e último pilar, a Ação Missionária, pode-se notar algumas ações.
A primeira delas é a visitas às famílias para se realizar os encontros da comunidade como o
terço (aos sábados) e os encontros bíblicos (às quintas-feiras). Muitas dessas famílias visitadas
eram as mesmas que eram beneficiadas pela Pastoral da Solidariedade. Além disso, há as
visitas porta a porta realizadas com a presença dos seminaristas, embora fossem poucas, mas
conseguiu atingir algumas pessoas, as quais continuam fiéis e frequentes nos encontros
celebrativos da comunidade. Não foi possível desenvolver uma atividade com os jovens e
crianças.

1.6 – Conclusão
Dentre os elementos mais significativos que marcaram a experiência pastoral vivida
no estágio, em termo de aprendizado e no campo das projeções suscitadas pelos desafios da
prática pastoral na comunidade Santa Dulce dos Pobres no Residencial Magalhães Barata,
posso destacar a singular experiência de elaborar pela primeira vez um programa pastoral para
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ser desenvolvido e assistido, com base em documentos da Igreja e nas Sagradas Escrituras,
elaborando objetivos a serem alcançados. Antes, normalmente, não tinha muito claro como
desenvolveria a minha prática pastoral, não tinha base em documentos que pudesse me
orientar. Isso me fez dar um salto qualitativo no meu agir pastoral, até mesmo para não tirar
ideias somente da minha cabeça ou fazer uma prática pastoral sem relevância para a
comunidade, sem meta, sem objetivo, sem programa e um tempo determinado para realizá-lo.
Todo esse aprendizado leva-me a ter como projeção suscitada pelo desafio da prática
pastoral a importância dum projeto pastoral bem elaborado, principalmente a partir do método
ver, julgar e agir. Esse método nos levar a compreender a realidade pastoral, antes de tudo, a
julgar essa realidade à luz da Palavra de Deus, da Tradição e do Magistério para que possa
iluminar o modo de agir, para que seja concreto, efetivo e eficaz. Fazer uma prática pastoral
refletida teologicamente (mas também usando o auxílio de outras ciências que ajuda a alargar
a visão de mundo) é uma atitude de sabedoria. Além do mais, o mundo em que nos
encontramos atualmente exige que o agir pastoral seja realizado desse modo, pois corre-se o
risco de evangelizar sem critérios e sem comunhão com os ensinamentos da Igreja, e até
mesmo de por em cheque a credibilidade e a relevância do Evangelho no mundo de hoje.
Referências bibliográficas:

BÍBLIA DE JERUSALÉM. 1ª edição, São Paulo: Paulus, 2002.

CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium. In:


Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB). Comunidade de


comunidades: uma nova paróquia: a conversão pastoral da paróquia. 1ª edição, São Paulo,
Paulinas, 2014.

CONFERÊNCIA NACIONAL DO BISPOS DO BRASIL (CNBB). Diretrizes Gerais da


Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023. 2ª edição, Brasília, Edições CNBB,
2019.

CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (CELAM). Documento de Aparecida:


Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Amaricano e do Caribe.1º
ed. São Paulo: Paulus, 2008.

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