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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO NA DIOCESE DE


MARABÁ

Ananindeua- PA
2021
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DANIEL NASCMENTO
DANIEL LOPES NOÉ
ERENILSON ALVES
JEFERSON VIERA FÉLX
WESLEY OLIVEIRA

DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO NA DIOCESE DE


MARABÁ

Fichamento apresentado à Faculdade Católica de


Belém, como requisito de avaliação da disciplina de
Mariologia, do curso de Teologia, ministrada pela
Professor Pe. Francisco Chagas Costa Ribeiro.

Ananindeua - PA
2021
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Na seguinte exposição, pretendemos apresentar o pensamento do magistério acerca da


devoção mariana, bem como a história e o significado do quadro de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro e seu sentido devocional. Segue-se com a história da mesma devoção na
diocese de Marabá até aclamação de padroeira da Diocese. Veremos também a devoção nos
dias atuais nas demais paróquias dando ênfase da mesma, na catedral e concluindo assim, com
uma análise teológico-pastoral da devoção local e seus modos de expressões.

1 – Posicionamento do Magistério acerca da devoção à Nossa Senhora do Perpétuo


Socorro, sua história e significado.
O Sagrado Concílio Vaticano II pede a todos os filhos da Igreja a promoverem
dignamente o culto da Virgem Santíssima e de modo especial o culto litúrgico; a ter em
grande estima as práticas e os exercícios de piedade em sua honra, que o Magistério da Igreja
recomendou no decorrer dos séculos. Na exortação apostólica Marialis Cultus do Papa Paulo
VI sobre o culto a Maria fala que: por uma necessidade íntima, de fato, essa piedade reflete,
na prática cultual, o plano redentor de Deus; pelo que, ao lugar singular que coube a Maria em
tal plano, corresponde também um culto singular para com ela; como, ainda, a todo o
progresso autêntico do culto cristão segue-se necessariamente um correto incremento da
veneração para com a Mãe do Senhor. De resto, a história da piedade demostra que as
diversas formas de devoção para com a Mãe de Deus, que a Igreja aprovou, dentro dos limites
da doutrina sã e ortodoxa se desenvolvem em subordinação harmônica ao culto de Cristo, e
gravitam à volta deste, qual ponto de referência natural e necessário das mesmas.
A Santa Igreja aprova a devoção e culto a Mãe de Deus. Existem também devoções
particulares que se tornaram universais na Igreja devido a sua grandeza de significado e
sentido para a vida do povo, podemos citar como exemplo a devoção a Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro. Esta devoção recebeu recomendação oficial do Magistério com o Papa Pio
IX em 1866, sendo confiada a sua propagação aos redentoristas, que a difundiram por todo
mundo.

1.2 – Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: história, significado do ícone e sentido da


devoção
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um título de Maria dado pelos cristãos para
homenagear e agradecer a sua atenção constante e perpétua para com a humanidade, em que
perpétuo significa socorro eterno, socorro sempre. A devoção à Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro nasceu, no século XV, de um ícone milagroso (que seria uma cópia de um quadro de
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Maria pintado por São Lucas) que foi roubado de uma Igreja na ilha de Creta, na Grécia, por
um homem que vivia como comerciante, cuja intenção era vender em Roma. Com efeito, na
travessia do Mar Mediterrâneo, enfrentou violenta tempestade que quase naufragou o navio, e,
chegando a Roma, ficou doente. Arrependendo-se, contou sua história a um amigo, pedindo
que devolvesse o ícone a uma Igreja para que os fiéis o venerassem. Porém, a esposa do
amigo não quis devolver. Assim, após a morte do marido, Nossa Senhora aparece a sua filha
de seis anos dizendo para colocar o quadro em uma igreja, ou na de São João de Latrão ou na
de Santa Maria Maior. Com efeito, o ícone foi entronizado na igreja de São Mateus em 27 de
março de 1499 e ficou lá por mais de 300 anos. Contudo, no século XVIII, Roma foi invadido
pelos franceses e a Igreja da São Mateus foi destruída, mas os agostinianos, que guardavam o
ícone, o levaram para um lugar escondido, ficando esquecido por mais de 30 anos. Mas um
monge agostiniano, muito devoto a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, contou, antes da
morte, a história da devoção a um coroinha, que depois se tornou padre redentorista e ajudou
a encontrar o ícone. Com a redescoberta do ícone, é entregue aos redentoristas, no começo de
1866, a guarda da imagem pelo Papa Pio IX. “Na ocasião, o papa fez a eles esta
recomendação: ‘fazei com que todo o mundo conheça esta devoção’”
(CRUZTERRASANTA). Após essa missão, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro se tornou
oficialmente a padroeira dos redentoristas, sendo comemorada sua festa em 27 de junho. Após
sua restauração, o ícone foi depositado na igreja de Santo Afonso de Ligório, sendo venerado
pelo povo. Atualmente, dentre os ícones bizantinos é o mais venerado em todo o mundo.
O ícone é uma pintura em madeira e rica de simbolismos e significados. Ela mede 41,5
por 53 cm com um fundo foleado a ouro e está na igreja de Santo Afonso de Ligório desde
1499. “Na Igreja Ortodoxa o ícone é conhecido como a Virgem da Paixão ou ‘Theotokos’
(Mãe de Deus) da Paixão, por causa da mensagem contida na imagem”.
Significado dos símbolos da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro:
- Véu e manto de Maria na cor azul: a cor azul representa o céu e a verdade; o manto e o véu
azul em escuro representam a virgindade de Nossa Senhora, sendo este, em Israel, o traje que
identificava as virgens;
- A túnica da Virgem Maria em vermelho escuro: representa a maternidade, pois as mães
usavam uma túnica assim para identifica-las na Palestina, com isso, Maria é representada no
ícone como virgem e mãe;
- A estrela no topo do véu: mostra que Maria é a Estrela do Mar, onde o mar representa todos
os não judeus que se tornaram cristãos;
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- A túnica verde do Menino Jesus: representa a vitória da vida sobre a morte, pois na história
do cristianismo o verde é a cor da vida;
- O manto amarelado do Menino Jesus: representa a sua divindade, pois, como o ouro, é a cor
da luz e da divindade;
- A expressão do Menino Jesus: está olhando para os arcanjos Gabriel à direita e Miguel à
esquerda, que lhe apresentam os instrumentos da paixão, por isso, assustado, busca socorro na
mãe, que é representado pelas mãos apoiadas na mão direita de Maria;
- As mãos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: apoia e dão segurança ao filho e aponta
para ele simultaneamente, representando que ela não quer atenção para si, mas para ele;
- As mãos do Menino Jesus: estão voltadas para baixo sobre as mãos da Mãe para significar
que concede à sua Mãe o poder de dispensar graças aos que pedirem a ela;
- A expressão de Nossa Senhora: ao socorrer o filho não olha para ele, mas para os que olham
para o ícone, significando que “Maria olha para nós e aponta com as duas mãos para Jesus,
como que dizendo: ‘Olhem para Jesus e sigam seus ensinamentos’” (CRUZTERRASANTA);
- Semblante de Nossa Senhora: é sereno e pacífico e revela que quem está com Jesus tem paz,
além disso revelar a santidade de Maria;
- Os olhos de Nossa Senhora: são grandes e olham para quem a olha, mostrando que ela tem
olhar atento as nossas necessidades e problemas;
- a boca pequena de Nossa Senhora: revela que Maria é a Virgem do silêncio;
- O Arcanjo Gabriel: no canto superior direito, sua túnica vermelha representa a paixão de
Jesus e as asas verdes a vitória da vida sobre a morte, apresenta a cruz e os cravos a Jesus
segurados através da túnica, simbolizando que são objetos sagrados, assim anuncia o
sofrimento de Cristo e também sua glória;
- O Arcanjo Miguel: no canto superior esquerdo, com as cores vermelho e verde também se
anuncia a paixão e a vitória de Cristo sobre a morte, segura através do pano (para mostrar a
sacralidade) a lança que perfurará o lado de Cristo e a esponja com vinagre que lhe será dado
antes da morte;
- As letras no ícone: no topo MP (lado esquerdo) e ӨV (lado direito) é a abreviação de Mãe de
Deus em grego; OAM (abaixo de MP) é abreviação de Arcanjo Miguel e OAG (abaixo de
ӨV) é abreviação de Arcanjo Gabriel; e IC XC é abreviação de Jesus Cristo;
- O ouro ao fundo: todo o quadro é dourado e dele saem reflexos  simbolizando a alegria do
céu, para onde se caminha levado pelo Perpétuo Socorro de Maria;
- A sandália pendurada no pé direito do Menino Jesus: possui dois significados,
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“O primeiro é que, com o susto do Menino ao ver os Arcanjos anunciando-lhe o


sofrimento, ele se volta rapidamente para sua mãe e, assim, uma de suas sandálias
fica dependurada. Significa que, diante dos sofrimentos da vida, devemos recorrer
apressadamente a Nossa Senhora, pois foi delegado a ela o poder de nos dar
‘Perpétuo Socorro’. O segundo significado é que a sandália pendurada representa
todos aqueles que estão vacilando na fé, presos a Jesus por apenas um fio, que é a
devoção a Maria. Assim, estes devem fazer como o Menino Jesus: buscar socorro
apressadamente em sua mãe”. (CRUZTERRASANTA)

Portanto, são esses simbolismos que o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
apresenta.

Fonte: https://santhatela.com.br/obras-de-arte/nossa-senhora-do-perpetuo-socorro/
Por fim, o sentido da devoção está contido no próprio ícone, o qual deu origem à
mesma. Assim, a devoção consiste em recorrer sempre e com toda confiança ao socorro da
Mãe amorosa e cheia de carinho como o Menino Jesus, em todos os momentos da vida,
recorrendo ao abraço carinhoso e socorro perpétuo da Mãe do Senhor que está sempre
presente. Pode-se fazer isso por meio da oração confiante, em especial o terço, e da
contemplação do ícone, que ajuda a mergulhar no mistério do socorro perpétuo da Virgem
Maria, pois a contemplação conduz aos braços da Mãe e leva a Jesus e ao encontro com Deus.
A contemplação dá forças para suportar os sofrimentos que se tem que enfrentar nesta vida. A
Virgem do Perpétuo Socorro não livra dos sofrimentos, mas dá força, socorro e amor para que
se possa enfrenta-los e vencê-los. Por isso, a devoção se espalhou tanto pelo mundo e toca
muitos corações, mostrando o amor de Deus que não nos deixa órfãos, mas nos dá uma Mãe
que abraça, socorre, acalenta, alivia e dar a vitória.
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Dentre as práticas de fé da devoção ao ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro


está a Novena Perpétua, que é uma maneira de se fazer o anúncio da redenção e do amor de
Deus através do ícone. “A denominação ‘novena perpétua’ vem do fato de que as orações que
fazem parte dessa devoção são rezadas num determinado dia da semana, mas em todas as
semanas do ano, ininterruptamente” (UNIÃO DOS REDENTORISTAS DO BRASIL),
rezando-se, em alguns lugares na terça feira e em outros na quarta-feira. A tradição de se rezar
essa novena começou em 1922, nos Estados Unidos, na província redentorista de São Luis,
anos depois de receber a missão de cuidar desta devoção, pelo Papa Pio IX (1866).
2 – Origem da devoção à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na Diocese de Marabá
Historicamente a região sudeste do Estado do Pará, especialmente às margens do rio
Tocantins, foi evangelizada pela Ordem dos Pregadores. Cabia à prelazia de Santíssima
Conceição do Araguaia, criada a 18 de julho de 1911, os cuidados de toda essa parte do
Estado.
Mais tarde, em 14 de julho de 1976, foi então criada a diocese de Marabá, vindo a ser elevada
a diocese três anos mais tarde. Dos nove pastores que esta diocese já teve à sua frente, os
cinco primeiros foram dominicanos, 73 anos de missão e propagação da fé, tanto que as duas
capelas mais antigas da cidade de marabá são dedicadas a um santo dominicano, São Felix de
Valois, padroeiro da cidade, e a um título mariano de ordem dominicana, Nossa Senhora do
Rosário.
Contudo é curioso notar que nenhum destes santos tornaram-se padroeiros da diocese,
mas sim Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
A devoção chegou por primeiro na cidade de Parauapebas através de uma leiga em
1987 conhecida como dona Maricota. Na época, Missa era uma raridade (muita reza e pouca
missa). Especificamente essa devoção provinha de Belém.
Por outro lado, nesse mesmo período o bispo diocesano da época era Dom Altamiro
Rossato, da Congregação do Santíssimo Redentor, que pastoreou essa grei de 1985 a 1989.
Há ainda um terceiro momento de propagação devocional, pelos anos 90 e 2000, em
que ocorreram algumas missões redentoristas, numa das quais foi deixado um quadro de
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e uma imagem de Santo Afonso.
A partir de então, levando em consideração esses acontecimentos e sua pouca relação
direta, surge a devoção à Virgem do Perpétuo Socorro.
Depois de três anos de prelazia e 26 de diocese, ainda não havia clareza de quem era
afinal o (a) padroeiro (a) diocesana, quando que, por ocasião da ordenação de Padre Edivan
Oliveira Silva, em 2005, perguntou ele ao então bispo de Marabá, Saudoso Dom José
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Foralosso, quem era o padroeiro da diocese para colocar na ladainha da ordenação, foi quando
o Bispo percebeu mais notoriamente que não havia clareza quanto a questão, embora a
paróquia da parte mais antiga da cidade fosse dedicada a São Félix de Valois, e fosse provável
que fosse ele o eleito, inclusive pela piedosa vontade de dois padres da ordem dos pregadores,
padre Cesar e Padre Manuel, que por aqui ainda permaneciam em missão. Nesse interim, o
ordenando, de formação redentorista, pois na época as vocações eram enviadas para
congregações ou dioceses amigas, sugeriu a padroeira da Catedral, que é um título mariano e
muitos mais popular que São Félix. Dom José fez uma consulta, a maioria dos padres e dos
fiéis concordaram e lá estava Nossa Senhora do Perpétuo Socorro sendo proclamada
padroeira da diocese de Marabá numa ladainha de ordenação, para a ira de algumas e euforia
de muitos.

3 - Como se dá a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro nas paróquias da


diocese de Marabá e na catedral

Em Parauapebas a devoção começou no ano de 1987 com a iniciativa de uma fiel, dona
Maricota, nessa época havia poucos padres na região e as missas demoravam acontecer.
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Depois de alguns anos com a criação da Paróquia São Sebastião na cidade, a novena começou
a ser rezada dentro da missa todas as terças-feiras, aberto à comunidade. O modelo da novena
aplicado vem sendo o mesmo que os redentoristas rezam no santuário de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro em Belém. Pois verificamos que em Goiânia reza-se de uma forma diferente
a novena.
Recentemente foi criada uma paróquia na mesma região (Parauapebas), sendo o seu
território desmembrado da paroquia São Sebastião e tendo como padroeira Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro. A escolha foi motivada por haver uma comunidade nas proximidades com
esse título e por ser uma forma de atrair as pessoas. Nas primeiras reuniões queriam que fosse
Nossa Senhora Aparecida, porém nas análises foi observado que a data coincide com o
período do Círio de Nazaré na cidade, outra devoção que está crescendo bastante na região.
Assim, optaram pelo título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nessa paróquia a novena
ocorre dentro da missa, pois é um costume já na cidade.
Na catedral diocesana a devoção foi motivada por uma missão dos redentoristas logo
no início da criação da diocese. Nessa igreja a novena é feita dentro da missa nas terças feiras
à noite. Já aconteceu algumas vezes em horários diferentes os fiéis rezarem apenas a novena.
Houve uma modificação recente pelo novo pároco, colocando a novena para ser rezada no
final da missa, antes era feita por partes dentro da missa. E na pesquisa não conseguimos
encontrar uma explicação coerente referente ao padre que começou a rezar a novena dentro da
missa. Pois, numa visão dentro do âmbito litúrgico novena é novena e missa é missa, só que
foi uma devoção que popularizou acontecendo dentro da missa.
Em outra localidade, na paróquia Jesus misericordioso, a novena foi iniciada com
padre Manuel (veio da Espanha) o terceiro pároco após a criação da paróquia. Ele escolheu
uma leiga chamada Luci para ficar a frente na liderança e ajudar a organizar a novena que era
rezada dentro da missa. Porém, depois, com a mudança do pároco, ficou a critério de quem
assumia a paroquia, às vezes a novena foi rezada sem missa outras vezes com a missa, tendo a
participação principalmente do grupo do apostolado da oração. Atualmente é rezada sem a
missa.
Nas demais paróquias da diocese não é tão difundida a devoção a Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro. Em algumas até foi iniciada essa devoção, mas, assim como muitas outras
devoções, com as transferências de padres não se têm tanta continuidade e fomento da
mesma, como, por exemplo, deixar de celebrar missas no dia e horário da novena.
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4 – Análise teológico-pastoral da devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e do seu


modo de expressão na Diocese de Marabá
Para se realizar essa análise teológico-pastoral, tem-se como ponto de partida algumas
das indicações do documento Marialis Cultus, sobre parte que trata da renovação da piedade
mariana, focando-se somente naqueles pontos que são mais notáveis na devoção a Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro num caráter mais universal, mas também no seu modo de
expressão na diocese de Marabá.
Antes de tudo, é preciso destacar que as práticas de piedade para com a Mãe de Deus
exprimam claramente o seu caráter trinitário e cristológico, que lhes é intrinsicamente
essencial, pois o culto cristão é, por sua natureza, culto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,
sendo uma extensão desse culto de modo substancialmente diverso o culto à Mãe do Senhor e
aos Santos (nos quais a Igreja proclama o Mistério Pascal). É claramente notável que tudo na
Virgem Maria é relativo a Cristo e depende d’Ele, uma autêntica piedade cristã não pode
deixar de realçar essa ligação indissolúvel e essencial, dela com seu divino Filho, sendo ela
instrumento eficaz para que todos alcancem o pleno conhecimento do Filho de Deus, servindo
também para aumentar o devido culto a Jesus Cristo, assim, “[...] redunda em prol do Filho
aquilo mesmo que é devido à Mãe [...]” (PAULO VI, n.25). Esse caráter, sobretudo
cristológico, da devoção à Virgem Maria é marcadamente notável no ícone de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, pois, na significação dos elementos representados no ícone, as mãos da
Mãe de Deus ao mesmo tempo em que dão apoio e segurança ao Filho, apontam para Ele,
querendo indicar que a atenção não é para ela, mas para Ele.
Além disso, numa perspectiva mais eclesiológica, há uma exigência de que os
exercícios de piedade para com a Mãe do Senhor manifestem de modo sempre mais claro o
lugar que ela ocupa na Igreja, qual a missão dela no mistério da Igreja e qual o seu lugar na
comunhão dos Santos. Todos os fiéis são filhos da Virgem Maria, assim, na geração e
educação espiritual ela coopera com amor de mãe. Ademais, “[...] ação da Igreja no mundo é
como que um prolongamento da solicitude de Maria [...]” (PAULO VI, n.28) do amor
operoso que a Virgem Santíssima dá mostras. É forte o vínculo entre Maria e a Igreja, de
modo que “o amor pela Igreja traduzir-se-á em amor para com Maria, e vice-versa, pois uma
não pode subsistir sem a outra [...]” (PAULO VI, n.28). Assim, a devoção a Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro ajuda os fiéis a ver e importância da Virgem Maria para a Igreja e para a
própria vida espiritual de cada um, pois os fiéis necessitam dos auxílios e amor materno de
Maria para serem gerados e educados espiritualmente e o conteúdo da devoção à Virgem do
Perpétuo Socorro contribui nesse sentido.
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Ressalta-se ainda que, conforme o ensino do Concílio Vaticano II sobre o culto à


Virgem Maria, é importante ter presente no rever ou criar exercícios e prática de piedade
algumas orientações bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica, tornando mais vivo e mais
notável o vínculo que une a Mãe de Deus a nós. Com efeito, mesmo muitos anos antes de
Concílio se pronunciar com essas orientações acerca da devoção à Virgem Santíssima, na
devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro já se desenvolvia exercícios e práticas de
piedade que muito contribuiu para tornar mais vivo e mais sentido o vínculo que une os fiéis à
Mãe de Cristo, como é o caso da Novena Perpétua, que é rezada desde 1922, que contribui
para se reconhecer que a importância da figura de Maria na Igreja e para cada fiel não é algo
que passa com o tempo, mas permanece, é perpétua.
É um postulado geral da piedade cristã que, para toda e qualquer forma de culto, é
necessário apresentar um cunho bíblico, pois a Bíblia é um livro fundamental de oração e dela
se colhe genuína inspiração e modelos insuperáveis. Logo, o culto à Virgem Maria não pode
ser eximido desta orientação geral da piedade cristã, mas inspirar-se nela. A inspiração bíblica
no culto à Maria se dá nas fórmulas de oração, nos textos destinados ao canto e, sobretudo, na
exigência de
“[...] que o culto à Virgem Santíssima seja permeado pelos grandes temas da
mensagem Cristã, a fim de que os fiéis, ao mesmo tempo que veneram aquela que é
a Sede da Sabedoria, sejam também eles iluminados pela luz da Palavra divina e
elevados a agir segundo os ditames do Verbo encarnado” (PAULO VI, n.30).

Diante deste postulado, a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro se mostra


profundamente inspirado nele, pois no ícone se ressalta inúmeras verdades de inspiração
bíblicas, dentre as mais evidentes estão: a inscrição Mãe de Deus, que atesta que Jesus Cristo
é Deus; os objetos que os arcanjos Miguel e Gabriel apresentam – a cruz, os cravos, a lança e
a esponja com vinagre, conforme os relatos evangélicos –, assim como os próprios arcanjos,
cuja importância é colhida dos dados bíblicos; a representação da virgindade e maternidade de
Maria, conforme é representado pelo véu de cor azul e pela túnica em vermelho escuro,
respectivamente; a boca pequena de Nossa Senhora que mostra o seu silêncio, elemento
apresentado nos Evangelhos (ela guardava tudo em seu coração). Esses e outros elementos
confirmam a inspiração bíblica da devoção, bem como o próprio título de Perpétuo Socorro,
que está implícito em diversas passagens bíblicas do NT.
Por fim, passa-se a análise da devoção de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro no
modo como é expressa na diocese de Marabá. Conforme afirma a Marialis Cultus, há uma
veneração prestada à Mãe de Deus na celebração da sagrada liturgia, mas também há outras
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formas de culto que são as práticas de piedade do povo cristão, que são recomendadas
vivamente na Constituição Sacrosanctum Concilium. Contudo, essas práticas de piedade
devem ter em conta os tempos litúrgicos e se harmonizarem com a liturgia, de modo a derivar
dela e a ela se ordenar, pois a liturgia tem uma natureza muito superior. Porém, a
harmonização das práticas de piedade com a liturgia nem sempre é fácil, porque exige “[...]
dos responsáveis pelas comunidades locais, esforço, tato pastoral e constância; e da parte dos
fiéis, prontidão para aceitar as orientações e propostas [...]” (PAULO VI, n.31), já que às
vezes comportam de usos arraigados, nos quais a sua natureza se havia obscurecido. Diante
disso, há duas atitudes que podem tornar vã na prática pastoral a harmonização entre liturgia e
práticas de piedades: a primeira é a atitude de alguns aos quais se confia a cura de almas que
desprezam os exercícios de piedade, assim criam um vazio o qual não procuram preencher; a
segunda são os que misturam, sem critério litúrgico e pastoral, simultaneamente os exercícios
piedosos e atos litúrgicos, numa celebração híbrida. Assim,
“[...] algumas vezes, acontece que na própria celebração do Sacrifício Eucarístico
são inseridos elementos que fazem parte de novenas ou de outras práticas piedosas,
com perigo de o Memorial do Senhor não constituir o momento culminante do
encontro da comunidade cristã, mas ser como que a ocasião para algumas práticas
devocionais [...]” (PAULO VI, n.31).

Diante disso, como se observou acima quando se trata da devoção a Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro nas paróquias e da diocese de Marabá e na catedral, nota-se que esse
exercício de piedade não tem tanta difusão e uma uniformidade na sua realização na diocese.
Nem todas as paróquias realizam a novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e em
alguns lugares é rezada dentro da missa, o que, conforme o documento Marialis Cultus, não é
o modo correto de realiza-la, pois se torna uma celebração híbrida em que se corre o perigo de
o Memorial do Senhor não constituir o ponto culminante do encontro da comunidade.
Contudo, deve recordar que já é uma prática arraigada na piedade dos fiéis. Por outra parte,
em alguns lugares, como a catedral, começou-se a ordená-la numa harmonização com a
celebração eucarística, conforme orienta o já citado documento. Porém, em outras paróquias
não é fomentada por partes dos padres, o que não é a atitude conforme a orientação conciliar,
porque se deve esforçar para fomentar em harmonia com a liturgia, não desprezá-la. Portanto,
observa-se que a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na diocese de Marabá precisa
ser melhor ordenada (segundo as orientações do Magistério acerca dos exercícios de piedade)
e mais difundida, sendo uma riqueza para a piedade dos fiéis.
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Referências

CRUZTERRASANTA. Disponível em: <<https://cruzterrasanta.com.br>>. Acesso em: 17 de


setembro de 2021.

DIOCESE DE MARABÁ. Catálogo diocesano 2019-2020. Edson Gráfica, 2019.

LIMA, José Vieira de. Padroeira diocesana. [Entrevista concedida a] Daniel Nascimento
Martins. Marabá, 28 set. 2021.

PAULO VI. Exortação Apostólica Marialis Cultus, para a reta ordenação do culto à Bem-
aventurada Virgem Maria. Roma, 1974. Disponível em:
<<https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/apost_exhortations/documents/hf_p-
vi_exh_19740202_marialis-cultus.html>>. Acesso em: 13 de setembro de 2021.

PENA, Frei Alano Maria. Padroeira diocesana. [Entrevista concedida a] Daniel Nascimento
Martins. Marabá, 27 set. 2021.

SILVA, Edivan Oliveira. Padroeira diocesana. [Entrevista concedida a] Daniel Nascimento


Martins. Marabá, 22 set. 2021.

SANTHATELA. Disponível em: <<https://santhatela.com.br/obras-de-arte/nossa-senhora-do-


perpetuo-socorro/>>. Acesso em: 30 de setembro de 2021.

UNIÃO DOS REDENTORISTAS DO BRASIL. História e Mensagem do Ícone. IN:


A12.com. Disponível em: << https://www.a12.com/redentoristas/noticias/conheca-o-
significado-e-saiba-como-rezar-a-novena-do-perpetuo-socorro>>. Acesso em 30 de setembro
de 2021.

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