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OFFICIUM TENEBRÆ: A FÉ ATRAVÉS DA


LUZ E DA ESCURIDÃO

OFFICIUM TENEBRÆ: THE FAITH THROUGH


LIGHT AND DARKNESS

Elizabeth Netto Calil Zarur*

Resumo

Os Ofícios de Trevas, parte do antigo Ofício Divino, foram estabelecidos nos primórdios da
era cristã, modificados durante o período medieval e, com a Contrarreforma, ganharam
dramaticidade através dos efeitos de luz e sombra. Esses Ofícios consistem de uma série de
rituais litúrgicos contemplando o sofrimento, a paixão e a ressurreição de Cristo durante os
últimos três dias da Quaresma na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar da cidade de
São João del-Rei, Brasil. Essa cidade vem dando continuidade a essa tradição há mais de 300
anos devido à distinta topografia da região, à ausência da influência do poder monástico e ao
poder e autonomia que as irmandades e confrarias seculares possuem até os dias de hoje
junto à igreja e à sociedade.

Palavras-chave: Ofício de Trevas, Horas Canônicas, Semana Santa, São João del-Rei,
Catedral Basílica da Nossa Senhora do Pilar.

Abstract

The Offices of Tenebræ, part of the old Divine Office, were established at the beginning of
Christianity, modified during the medieval period and, with the Counter Reformation, gained
dramaticity through the effects of light and shadow. Those Offices consist of a series of
liturgical rituals contemplating the suffering, passion and resurrection of Christ during the last
three days of lent in the Cathedral Basilica of Our Lady in the city of São João del-Rei, Brazil.
This city has continued this tradition for the past 300 years due to the distinct topography of
the region, the absence of the influence of the monastic orders and the power and autonomy
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that the secular brotherhoods and confraternities have until today in the church and the
society.

Key words: Office of Tenebrae, Canonic Hours, Holy Week, São João del-Rei, Cathedral
Basilica of Our Lady of the Pillar.

1 Introdução

A expressão pública de fé e religiosidade se manifesta dentro de uma grande


diversidade de atos devocionais. A participação em celebrações religiosas de âmbito
privado ou público, como os teatros sacros e procissões, testemunham a fé individual
e da comunidade coletiva. Essas demonstrações de religiosidade nas cidades
mineradoras de Minas Gerais dão continuidade a rituais caracterizados por uma
austeridade medieval combinados com dramáticos efeitos barrocos estabelecidos no
início do século XVIII em que a música, a literatura e as artes plásticas e cênicas
contribuem para uma expressão autenticamente tridentina. A arte passa a ser não
somente uma forma de expressão artística, mas, acima de tudo, uma exaltação
religiosa.

O início do século XVI trouxe amplas reformas na Igreja Católica numa tentativa de
combater as Reformas Luteranas e um novo senso de persuasão de fé e religiosidade
foi estabelecido pelas novas leis da Contrarreforma entre os anos de 1545 e 1563. A
expressão artística barroca das primeiras décadas do século XVII no sul da Europa
tornou-se o instrumento didático-estético mais significativo da Igreja numa tentativa de
atrair e ensinar os fiéis as novas doutrinas estabelecidas pelo Concílio de Trento. A
religiosidade e os conceitos anacrônicos trazidos para domínios espanhóis e
portugueses nas Américas foram conservados até os dias de hoje, em que rituais
sacros dão continuidade a tradições iniciadas nos primórdios cristãos, modificadas
durante o período medieval e dramaticamente enriquecidas durante a era barroca.

A arte barroca apela para os instintos, os sentidos sensoriais e a fantasia, combinando


movimento, exuberância, efeitos teatrais e paixão pelos contrastes. O barroco
europeu é caracterizado por seus contrastes de luz e sombra, curvas e contracurvas,
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realismo e naturalismo, invocações públicas e privadas com elementos excessivos e


efeitos dramáticos. A conciliação desses elementos binários em expressões alegóricas
foi inspirada no Exercitia Spiritualia (Exercício Espiritual) de Santo Inácio de Loyola (1548),
em que os cinco sentidos foram explorados pelas artes plásticas e cênicas com o
objetivo de oferecer aos fiéis estímulos para uma completa experiência espiritual e
mística. A pintura barroca seiscentista europeia demonstra essa preocupação com o
uso da luz e sombra. O grande mestre do barroco italiano, Michelangelo da
Caravaggio, explorou, por meio de sua pintura dramática, o uso de interiores escuros
com personagens parcialmente iluminadas por um feixe de luz vindo de uma fonte
misteriosa fora do espaço pictórico, como se este representasse a presença física de
Deus. Portanto, a escuridão significa a ausência do divino, enquanto que a luz
representa a presença divina. Essa técnica introduzida por Caravaggio caracterizada
por seu aspecto sombroso, denominada de tenebrismo ou tenebroso, se espalhou por
toda a Europa e pelas Américas por intermédio dos trabalhos dos mestres Jusepe da
Ribera, Diego Velásquez, Francesco Zurbarán, Bartolomé Estaban Murillo, Artemisia
Gentileschi, Simon Vouet, Valentin de Bologne, George de La Tour, Dick van Baburen,
Gerrit van Honthorst e Hendrick Terbrugghen, entre muitos.

Mesmo nos dias de hoje, o caráter evangelizador persuasivo da Contrarreforma


continua presente nos rituais eclesiásticos das cidades mineradoras de Minas Gerais,
onde a austeridade das tradições medievais contrasta com o barroco dramático
tridentino. Entre os inúmeros rituais sacros, os Ofícios de Trevas1, também
conhecidos como Officium Tenebræ. Esses rituais que acontecem nos últimos três dias
da Quaresma, o Tríduo Pascal ou Vigiliæ Mortuorum, na Catedral Basílica de Nossa
Senhora do Pilar na cidade de São João del-Rei, são um dos poucos no mundo a
preservar essa tradição que vem sendo celebrada por mais de 300 anos. Este estudo
descreverá e analisará a dramaturgia sacra dos Ofícios de Trevas dentro de um
contexto histórico, artístico e religioso, levando em consideração a simbologia e a
exuberância barroca por meio da utilização da luz como o elemento místico
primordial, em que os gestos e a música sacra, com cânticos gregorianos e coral
orquestral, criam uma verdadeira encenação teatral. Outro objetivo deste estudo será
o de estabelecer as razões pelas quais esses rituais se perpetuaram nessa cidade, sendo
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esta uma das únicas cidades a conservar essa tradição sacra mesmo após significativas
mudanças na liturgia da Semana Santa entre 1955 e a sua extinção em 1977.2

2 Histórico

Os Ofícios de Trevas referem-se ao período litúrgico dos três dias antes do Domingo
da Ressurreição, no qual se faz a Vigília Pascoal (Cæremoniale Episcoporum, 1837). A
palavra hebraica Pasch significa “passagem”, porém os gregos a identificam com
paschein para sofrimento. No século IV, de acordo com Ætheria, os fiéis faziam uma
peregrinação ao Monte das Oliveiras ao entardecer da Quinta-Feira Santa, cantando
hinos e antífonas e fazendo leituras do Livro de Lamentações. Eles retornavam à cidade
ao amanhecer da Sexta-Feira e, ao entardecer daquele mesmo dia, faziam também a
Adoração da Cruz.3 Ritual semelhante faz parte integral da liturgia canônica da Semana
Santa organizada pela Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar em São João del-Rei,
onde se guarda a relíquia do Santo Lenho.

Os Ofícios de Trevas, parte do Antigo Ofício Divino ou Breviário, referem-se ao nome


da Liturgia de Horas4 depois das reformas feitas pelo Segundo Concílio Vaticano. Esse
Tríduo Sacro consiste de uma série de rituais litúrgicos celebrados durante a Semana
Santa em contemplação pelo sofrimento e pela dor de Cristo na Quarta-Feira, Sexta-
Feira e Sábado Santos. No primeiro dia, a liturgia concentra-se na paixão de Cristo,
incluindo os acontecimentos no Horto das Oliveiras, a traição de Judas e a instituição
do Santíssimo Sacramento. No decorrer dos eventos, o segundo dia do ritual dedica-se
inteiramente ao drama da crucificação e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. No
terceiro e último dia do Tríduo Sacro, a celebração concentra-se na esperança da
ressureição. Durante, ou mesmo antes do século IX, esse período de vigília ficou
conhecido como Tenebræ, palavra latina para escuridão. De acordo com o Papa Bento
XIV (Institut. 24):

On the three days before Easter, Lauds follow immediately on Matins, which in
this occasion terminate with the close of day, in order to signify the setting of
the Sun of Justice and the darkness of the Jewish people who knew not our
Lord and condemned Him to the gibbet of the cross (Thurston, 1912).
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Esse ritual é celebrado no interior da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar num
ambiente sombrio, simbolizando o Santo Sepulcro, onde a luz e a escuridão são os
únicos elementos utilizados para induzir nos fiéis sentimentos relacionados ao
sofrimento, à morte e à ressurreição de Cristo. Por meio dessa decoração austera e
iluminação apropriada de seu interior, cria-se um ambiente dramático conducente aos
três dias da paixão e morte de Cristo no Jardim das Oliveiras e no Monte Calvário.

Tradicionalmente, Tenebræ ou Trevas consistia de uma combinação de orações e


leituras de salmos do Breviário de Vésperas na Quarta-Feira Santa e os Ofícios de
Laudes nas manhãs de Sexta e Sábado Santos. Cada hora do Ofício é composta dos
mesmos elementos: salmos, antífonas, responsórios, hinos, lições, pequenos capítulos,
versículos e benção. As horas mais intensas desses rituais referem-se às: 1- Matinas ou
Vigílias Noturnas, que incluíam os três noturnos com as suas correspondentes lições;
2- Laudes ou Matutinas, a segunda Hora Canônica, não havendo nestas os noturnos.
Simbolicamente, essa hora do amanhecer conduz o primeiro pensamento do dia ao
Senhor, a Luz Verdadeira, sendo o primeiro ato o da oração. A primeira luz do
amanhecer simboliza o momento em que Cristo ressuscitou das trevas, conquistando,
assim, a morte e a noite.

Originada da prática judaica de recitar as orações a certas horas do dia, São Bento
escreveu o manual oficial das Horas Canônicas em 525. Mais tarde, no século XI, os
monges do Mosteiro de Cluny reformaram a liturgia oficial das atividades eclesiásticas,
sendo oficializada por meio da publicação do Breviário Romano pelo Vaticano numa
tentativa de unificar a liturgia do oeste Europeu. A partir do século XIII, essas
modificações feitas pelos Beneditinos incluíam não somente a ordem das orações,
como também o horário da recitação dos salmos e noturnos para melhor atender ao
clérigo e aos fiéis. A partir desse momento, a Rome Tenebræ começava às 16h00min-
17h00min horas da quarta-feira.5 Abgar Campos Tirado (2010) explica que:

Se nos mosteiros era possível a realização de ofícios desde o início da


madrugada, o mesmo não aconteceria nas cerimônias destinadas aos fiéis em
geral. Assim, antes da reforma litúrgica havida no século 20, cada um dos
Ofícios de Trevas, nas igrejas em geral, era praticado ao anoitecer da véspera
do dia correspondente e, após a reforma, o ofício relativo à Quinta-feira Santa
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seria celebrado na noite de Quarta-feira e o de Sexta-feira e o de Sábado


Santo, nas respectivas manhãs (p. 8).

Para essa celebração de Trevas, toda uma tradição medieval é encenada em Latim,
acompanhada por canto gregoriano e música própria. Durante esta celebração, o Latim
é a língua oficial das leituras, do coro e dos Cantos Gregorianos. Os Ofícios de Trevas
incluem Matinas e Laudes acompanhados por leituras do Livro de Lamentações do
profeta Jeremias cantados em lições. Os cinco poemas atribuídos a Jeremias
descrevem o luto e a desolação trazidos a Jerusalém e à Terra Santa pela morte do
Senhor. Os rituais consistem de três divisões noturnas conhecidas como noturnos,
vigilância ou observância, cada uma subdividida em três lições, três responsórios e três
salmos. O número três é uma constante nesSe ritual e, de acordo com Kutschker
(1843), esses três dias de luto eram tratados como um serviço fúnebre celebrando a
morte de Cristo, que descansou por três dias e três noites entre Sua morte e Sua
ressurreição. A Vigiliæ Mortuorum torna-se, dessa maneira, em dias de luto.

3 Espaço Sacro

No interior das igrejas, prepara-se minuciosamente esse espaço para uma encenação
eclesiástica. Antes do início desse ritual, os clérigos, os irmãos da Irmandade do
Santíssimo Sacramento responsáveis por essa celebração, os membros do coro e os
coroinhas se reúnem na sacristia como se estivessem em seus camarins se preparando
para entrar em cena. O altar-mor e a nave são divididos entre o palco de
apresentações onde o celebrante ocupa o altar-mor, o espaço principal e o mais
elevado da igreja, enquanto que a congregação concentra-se no corpo da nave, que é
localizada na parte inferior, criando-se, assim, um palco de apresentações onde o
celebrante se torna o ator e a congregação os espectadores. Esse espaço define a
participação do público entre momentos de integração e meditação, enquanto que o
celebrante orquestra essa encenação mediante gestos, movimentos e posições
criando-se, dessa forma, uma ópera sacra.

O espaço entre o celebrante e o público é ocupado pelo componente musical


posicionado entre o altar-mor e a nave, consistindo de um coro gregoriano alinhado
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em fila dupla à frente do altar e a orquestra agrupada na área do cruzeiro. Por meio
das leituras canônicas, da música orquestrada e do canto gregoriano, o caráter teatral
é ampliado, conduzindo a congregação a um ato de meditação e compaixão. De
acordo com Sotuyo Blanco (2003):

(…) a experiência cênica nunca é unívoca entre corifeu, coro e espectadores.


No caso, uma situação ideal faria com que, no clímax místico do ritual litúrgico,
os atores recebessem a energia de retorno do “espectador” divino, o que
forneceria um novo aprendizado, sem lugar para dúvidas (p. 83).

Outro elemento que contribui para esse sentimento de recolhimento e penitência


consiste da ausência de estímulos visuais. Durante esse período, os ricos altares
decorados com suas imagens barrocas são cobertos com panejamentos roxos
simbolizando a paixão e o sofrimento de Cristo. O foco central dessa liturgia
compreende um candelabro triangular com 15 velas acesas, o tenebrário, localizado no
lado direito do altar-mor ou “lado do evangelho”. Após o término de cada salmo, as
velas são apagadas sucessivamente, restando somente a vela do vértice. De acordo
com Duchesne (1919), esta tradição do apagar das luzes foi iniciada no século V no
primeiro Ordo Romanus e no Ordo de Santo Amand. O jogo de luz e sombra foi um
dos mais importantes elementos plásticos e físicos do período barroco utilizado pela
Igreja Tridentina para elevar o espírito dos fiéis a sentir a presença ou a ausência de
Cristo.

A iluminação do interior da igreja reflete esses três dias de penitência em que existe
uma graduação do uso da luz. Nesta era moderna, a iluminação dos interiores das
igrejas é feita com energia elétrica, mas, num sentido mais tradicional, o uso de velas
continua fazendo parte integral dos rituais para simbolizar a fé, a vigilância e a
fidelidade de Deus. Na Quarta-Feira Santa, o Oficio é iniciado com todas as luzes do
interior da igreja acesas (ecclesia omni lumine decoretur) por quase toda a cerimônia,
exceto nos últimos minutos. Somente no final do ritual, as velas do altar, do tenebrário
e dos lustres da igreja são apagadas. A única vela a permanecer acesa é a do vértice do
tenebrário, que representa Jesus Cristo, sendo ela ocultada atrás do altar-mor por
alguns momentos. Na Sexta-Feira Santa, as velas e a luzes dos lustres são gradualmente
apagadas durante os três Noturnos, enquanto que, no Sábado Santo, todo o Ofício é
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celebrado na escuridão do começo ao final; somente uma vela permanece acesa junto
ao celebrante para a leitura. O apagar progressivo das luzes nesses três dias demonstra
a desolação, o luto e o sofrimento pela morte de Jesus Cristo. Nos primórdios da era
Cristã, velas de cera amarela eram as únicas fontes de iluminação do ambiente que
começava à meia-noite.

Presentemente, o tenebrário consiste de um enorme candelabro de forma triangular


sustentando 15 velas de cera amarela, típicas de ofícios fúnebres.6 Esse mesmo tipo de
candelabro é também utilizado nas cerimônias fúnebres ao pé do caixão e, mais tarde,
veio a significar o instrumento no qual o morto é carregado para a sepultura. 7 De
acordo com Kelly, esse candelabro originou-se no século VII e foi mencionado por
Mabillon no Ordo daquele período (2003a ou b?). Pelo grande número de candelabros
encontrados em Portugal e no Brasil, pode-se verificar a popularidade desses Ofícios
de Trevas.8 No entanto, ao decorrer dos séculos, esse ritual foi aos poucos extinto.
Essa tradição é rigorosamente seguida durante os rituais dos Ofícios de Trevas de São
João del-Rei na paróquia de Nossa Senhora do Pilar, que encomendou ao Atelier dos
Irmãos Silva a construção de um tenebrário esculpido em madeira com entalhes
barrocos representando a vida, paixão e morte do Senhor, entre os livros do Novo e
do Antigo Testamento e as tábuas de Moisés, em substituição ao candelabro mais
simples existente naquela catedral.

A forma triangular representa a Santíssima Trindade, enquanto que a vela do ápice


central pode representar Cristo. As velas deverão ser de cera de abelhas (luminaria
cerea), por ser a cera pura extraída das flores pelas abelhas o símbolo da carne viva de
Cristo recebido da sua Virgem Mãe, enquanto que o pavio representa a alma de Cristo
e a chama a sua divindade. Esse simbolismo aplica-se somente para as velas de pura
cera amarela (Cæremoniale Episcoporum: II, xxii, 4). O número de velas no tenebrário
varia de acordo com a época: Amalarius of Metz documenta um candelabro de 24
velas; outras referências indicam o uso de 13, 12, nove e até mesmo de sete velas. A
tradição moderna utiliza o candelabro de 15 velas e sua simbologia varia dependendo
da fonte pesquisada. De acordo com a Catholic Encyclopedia, a vela do ápice representa
Cristo – Luz que ilumina todo homem –, enquanto que as outras 14 representam os
11 apóstolos e as três Marias. Uma nova interpretação para a vela central é que esta
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representa a Virgem Maria, pois ela foi a única pessoa que acreditou na Ressurreição
de seu filho, enquanto que os apóstolos e os discípulos foram gradualmente
diminuindo a sua fé (KELLY, 2003a ou b?). Outra versão diz que as 14 velas
representam a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se vai apagando pela ignomínia
de sua paixão (Piedosas e solene, 1997, p. 132). De acordo com Antonio Gaio Sobrinho
(1996), dentro da tradição medieval, as 14 velas restantes correspondiam também ao
número total de salmos cantados (p. 58).

Essas interpretações correspondem às 14 velas, que são apagadas, uma a uma, após a
leitura de cada um dos salmos, entre o lado direito e o esquerdo do candelabro,
começando pelas velas colocadas na base do triângulo. Esse apagar das velas simboliza
“a descida gradual de Jesus Cristo para as trevas do abandono, da paixão e da morte”
(TIRADO, 2010, p. 9). A vela acesa restante no vértice, representando Cristo, é
retirada pelo acólito com a mão direita, ao som do canto da primeira antífona ao final
do Cântico de Zacarias ou Benedictus. Ela permanece acesa em cima do altar durante a
primeira antífona. Nesse momento, as seis velas dos castiçais que adornam o altar,
representando os seis versos finais do Benedictus, são também apagadas. Quando o
coro começa a cantar o Christus factus est, o acólito esconde a vela, ainda acesa, atrás
do altar.

O celebrante reza por um minuto com as luzes dos lustres acesas e, nesse momento,
todas as lâmpadas da igreja são apagadas e os fiéis batem com os pés no assoalho ou
com as mãos nos livros e bancos, criando um grande ruído dentro do recinto. O
interior da igreja permanece por alguns segundos na escuridão, daí o nome de Ofícios
de Trevas, demonstrando a desolação dos fiéis e da Igreja. De acordo com Gaio
Sobrinho (1996), “este barulho representa o cataclismo, as trevas e os terremotos
ocorridos por ocasião da morte de Jesus no Calvário” e que “(...) esse barulho teve
sua origem no século VII, quando o celebrante, para avisar que o Ofício tinha chegado
ao seu final, fechava o livro com estrépito ou batia palmas” (p. 58). Todos os
responsórios do Ofício da Quarta-Feira de Trevas relatam Cristo no Horto das
Oliveiras e a sua agonia, a traição e a prisão. De acordo com a tradição oral, esse
ruído ocasionado pelo bater dos pés e das mãos representa a chegada dos soldados no
Horto para aprisionar Jesus. Para sustentar essa afirmação, a música composta pelo
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Padre José Maria Xavier para um dos responsórios entoa “vos haveis de fugir”, cujos
versos e sons dão a impressão de fuga e de um perigo iminente – a agonia de Jesus e a
chegada dos soldados. Outra interpretação mais otimista é oferecida pela Equipe de
Liturgia da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, pela qual se diz que esse ruído
representa a ressurreição do Senhor, porque a vela acesa que se achava escondida
atrás do altar volta a ser colocada no vértice do triângulo e, neste momento, as luzes
da igreja são acesas.

Durante essas celebrações dos Ofícios de Trevas, a música orquestrada e o canto


gregoriano fazem parte integral do ritual. De acordo com Sotuyo Blanco (2003), “(…)
tende-se a considerar, em termos gerais, que a prática da música litúrgica brasileira dos
séculos XVIII e XIX, observou, sem desvios, os preceitos tridentinos” (p. 6). Os
salmos e as lamentações, estabelecidas no século VIII do Canto Gregoriano em Latim
Romano, cantam as lições em três Noturnos: Jeremias no Primeiro, os comentários de
Santo Agostinho sobre os Salmos no Segundo e a Epístola de São Paulo no Terceiro.
São João del-Rei conta com duas orquestras sacras: Orquestra Ribeiro Bastos9 e a
Orquestra Lira Sanjoanense10, a primeira atuando durante esse Tenebrae litúrgico
tocando partituras compostas por são-joanenses. Entre estes, destacam-se os mestres
Padre José Maria Xavier, Manoel Dias de Oliveira e Antônio dos Santos Cunha. O
Padre José Maria Xavier, compositor renomado, compôs as músicas das Laudes em
1860 e a dos Responsórios em1871. A melodia que acompanha as Lições 1 e 3 dos
Noturnos é atribuída ao compositor Manoel Dias de Oliveira (Piedosas e solenes, 1997,
p. 264, 369). Essas lições são cantadas com o acompanhamento de orquestra de cordas
e flauta. A música mística dos Cantos Gregorianos cantada nesses três dias fica sob a
responsabilidade da Associação dos Coroinhas de Dom Bosco, fundada em 1972, que
era, até então, cantada somente pelos sacerdotes.

A famosa e tradicional linguagem dos sinos de São João del-Rei anuncia no decorrer do
ano, mediante seus repiques e dobres, momentos de agonia, parto, morte, incêndio,
chamadas de irmãos, reza, aviso de missas, Natal, passagem de ano e toda uma
linguagem diferente para cada uma de suas festas religiosas. Mas, durante o Tríduo
Sacro, que vai da Quinta-Feira Santa até após o Glória da Missa celebrada no Sábado
Santo, todos os sinos da cidade se calam e se ouvem somente os sons das matracas,
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que, com o seu som de ferro sobre a tábua, representam o luto pela morte de Cristo.
A palavra matraca vem do árabe mitraqa, que significa martelo, e taraq para golpear. A
percussão desse instrumento idiófano lembra o martelar de pregos em madeira. Essas
matracas são precariamente construídas com uma tábua de madeira, tendo dos dois
lados arcos de ferro presos de tal maneira que, quando movimentada a tábua, estes
arcos oscilam, criando um som triste e lembrando o sofrimento de Jesus no Jardim das
Oliveiras. Esses toques das matracas são acompanhados pelos gritos dos meninos que,
de sentinelas nas entradas das portas das igrejas, imploram por um óbolo “para a cera
do santo sepulcro”. O matracão, de formato piramidal, é tocado pelo sacristão dentro
e ao redor das igrejas.

A observação por três dias de silêncio data do século VIII e, no período Anglo-Saxão,
era conhecida como o dia santo de guarda. Mas a conexão entre o período de silêncio
e o badalar dos sinos no Glória só foi efetivada durante a Idade Média (THURSTON,
2003). Esse momento de tristeza, recolhimento e meditação se estendia a toda a
população que, vestida de preto em luto pelo sofrimento e morte do Senhor, se
recolhia em seus atos públicos, emudecendo as buzinas e sirenes dos carros e das
fábricas, criando-se, dessa maneira, todo um ambiente fúnebre na cidade. Moraes Filho
(1979) relata em detalhe as celebrações desse Tríduo Sacro, mencionando que, “na
Quinta-Feira Santa, a partir das seis horas, a população, vestida de luto, comprava
amêndoas e visitava as igrejas” (p. 165-169). Jean Baptiste Debret, durante a sua visita
ao Brasil em 1816, documentou a família real e os mais diversos aspectos da vida e dos
costumes brasileiros. Uma de suas ilustrações documenta atividades dentro de uma
igreja, na manhã da Quarta-Feira Santa, onde todas as mulheres vestidas de preto, com
lenços sobre as cabeças, confessam os seus pecados (DEBRET, 1993, prancha 91).
Percebe-se também nessa ilustração o interior da igreja com os seus altares cobertos
por cortinados roxos, sendo essa a cor do paramento do clérigo e, no altar maior, um
panejamento preto reflete esse período de luto. O preto era recomendado como o
vestuário da Semana Santa, mas, de acordo com Carmem D’Ávila (1942), essa tradição
era como que uma obrigação para os católicos na Sexta-Feira da Paixão (p. 218). A
seleção cromática dos paramentos muda de acordo com as festividades. A cor violácea
e a branca são as cores apropriadas para a Semana Santa e são estas as usadas nos
Ofícios de Trevas.
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4 Custódia de uma Tradição

Uma vez descrito e analisado esse Ritual de Trevas celebrado na Catedral Basílica de
Nossa Senhora do Pilar, resta-nos discutir as possíveis razões pelas quais esse ritual foi
perpetuado, de forma integral, na cidade mineradora de São João del-Rei. A guarda
dessa tradição, como também a formação social, moral e religiosa dessa cidade, deve-
se a três fatores: 1- a distinta topografia da região; 2- a ausência do poder monástico e
3- o privilégio e autonomia das irmandades e confrarias seculares. A riqueza do ouro
garimpado durante a primeira metade do século XVIII trouxe independência e poder a
uma população estritamente religiosa. Minas Gerais, em menos de um século, produziu
grandes obras literárias, musicais e artísticas nos campos da arquitetura, escultura e
pintura.

As cidades mineradoras, como São João del-Rei, Ouro Preto, Mariana, Sabará e muitas
outras, se desenvolveram no século XVIII ao redor dos núcleos auríferos em vales,
cercadas por altas montanhas, de difícil acesso e distantes dos grandes centros
portuários da Colônia. Durante o século XVIII, a Coroa Portuguesa controlou a
abertura de caminhos e passagens para a capitania mineira, a fim de, mais
eficientemente, supervisionar a produção e o escoamento dos produtos minerados
(BETHELL, 1987, p. 194). Para ocultar a grande quantidade de ouro extraído e para
evitar uma invasão estrangeira na região, Dom João V (1706-1750) criou inúmeras leis
contra o estabelecimento das ordens monásticas na região e restringiu a fixação e a
permanência do clero que não estivesse vinculado ao seu ministério sacerdotal. A
primeira carta real proibindo a entrada do clero nas áreas mineradoras data de 1709,
sendo seguida por muitas outras, até a última em 1744 (BOSCHI, 1986, p. 79-80).
Portanto, com a ausência das ordens monásticas e de um grande número de
sacerdotes na região, as associações leigas se encarregaram não somente da
construção de seus templos, como também lhes foram transferidos todos os encargos
dos ofícios religiosos e do bem-estar da população. De acordo com Boschi (1986):

Nas Minas Gerais, ao se constituírem e se organizarem, extrapolando suas


funções espirituais, as irmandades tornaram-se responsáveis diretas pelas
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diretrizes da nova ordem social que se instalava e, a exemplo dos templos e


capelas que construíram, elas espelharam o contexto social de que
participavam. Nesse sentido, precederam ao Estado e à própria Igreja
enquanto instituições (p. 23).

Os vigários das igrejas coladas de Minas Gerais enviaram à metrópole uma


apresentação detalhada denunciando a perniciosidade e o espírito de autonomia das
associações leigas no que diz respeito aos seguintes pontos: 1- “(…) as irmandades não
se submetiam a eles (…)” (os párocos); 2- as irmandades e confrarias “(…) não davam
mais ajuda e nem custeavam os ofícios religiosos das matrizes, empregando seus
recursos nas suas próprias capelas e igrejas (…)”; 3- “(…) as irmandades celebravam
suas festas e ofícios sem autoridade e assistência dos párocos, subtraindo destes os
emolumentos devidos e usurpando-lhes a jurisdição (…)” (1989, p. 76). (DE QUEM É
ESTA CITAÇÃO?) Contudo, o Conselho Ultramarino julgou que “(…) a ereção de
irmandades e ordens terceiras e a contratação por elas de capelães próprios eram uma
solução plenamente aceitável e justificável (…)” (BOSCHI, 1986, p. 77).

A freguesia da antiga instituição Episcopal de São João del-Rei foi elevada à paróquia
colativa em fevereiro de 1724 por intermédio de um alvará. No entanto, dois anos
antes desse alvará, a poderosa Irmandade do Santíssimo Sacramento iniciou a
construção da igreja matriz em substituição à original, que se encontrava em ruínas e
afastada do centro da vila. Em 1750, as obras da nova catedral já se encontravam
prontas e, em princípios do século XIX, uma nova ampliação foi feita pela irmandade
para atender ao crescimento dos fiéis (TRINDADE, 1998, p. 381). Essa Irmandade do
Santíssimo Sacramento, criada em 1711, tem como finalidade o culto da real presença
de Cristo na Eucaristia, daí o nome de Irmandade do Santíssimo Sacramento. Ela é
encarregada pela organização e financiamento do Ofício Divino celebrado nessa
catedral e, junto às outras irmandades e confrarias dessa cidade, resistiram à
modernização da liturgia católica, preservando, dessa maneira, os antigos cultos
religiosos.

A paróquia de São João del-Rei era subjugada à Arquidiocese de Mariana até o dia 21
de maio de 1960, quando foi elevada à diocese pelo Papa João XXIII e, sendo assim,
desmembrada da Arquidiocese de Mariana.11 Cinco anos mais tarde, a Catedral de
14

Nossa Senhora do Pilar recebeu o título de basílica. Mesmo durante o período no qual
essa catedral esteve sob a autoridade da Arquidiocese de Mariana, o controle sobre os
rituais foi mínimo. De acordo com os relatos sobre as paróquias mineiras escritos pelo
bispo Dom Frei José da Santíssima Trindade durante suas visitas pastorais entre 1821 e
1825, este somente documentou e analisou os bens imóveis quanto aos seus aspectos
construtivos e decorativos, dando mais atenção ao problema da administração
financeira de cada paróquia (TRINDADE, 1998, p. 236-243). Devido à distância entre
essa paróquia e a diocese, o controle sobre os rituais celebrados foi minimizado.
Mesmo após a criação da Diocese de São João del-Rei em 1960, seus subsequentes
bispos titulares presidiram e, presentemente, presidem os Ofícios de Trevas, cantando
as Lamentações de Jeremias.12 De acordo com Tirado, outros fatores significantes para
a preservação dessas celebrações devem-se ao grande número de composições sacras
específicas para esse ritual compostas por são-joanenses no século XIX, ao apoio do
bispado, à bicentenária Orquestra Ribeiro Bastos e à criaçao da Associação dos
Coroinhas de Dom Bosco para os cânticos gregorianos:

Não fosse a criação da referida Associação, dificilmente, por circunstâncias


diversas, nossos Ofícios de Trevas teriam subsistido. Sabe-se que, desde que
deixaram de ser obrigatórios na liturgia, São João del-Rei é a única cidade do
mundo a manter, de forma integral e genuína, os três Ofícios de Trevas (2010,
p. 9).

5 Conclusão

A expressão artística barroca baseada na reforma tridentina utiliza as artes cênicas e


plásticas como elementos não somente de sua expressão artística, como também de
uma exaltação religiosa e um instrumento didático-estético para conversão dos fiéis.
Os rituais dos Ofícios de Trevas estabelecidos no início da era Cristã foram
enriquecidos dramaticamente durante a era barroca com a utilização da luz e sombra
como seu elemento primordial.

Os Ofícios de Trevas, ou Officium Trenebræ, referem-se ao período litúrgico dos três


dias antes do Domingo da Ressurreição, no qual se faz a Vigília Pascoal. Como parte
do Antigo Ofício Divino, esse ritual contempla o sofrimento, a paixão e a ressurreição
de Cristo, tendo sua origem nos primórdios do cristianismo, sofrendo alterações no
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período medieval e, com a Contrarreforma da Igreja, este ganha a dramaticidade


barroca. O foco principal dessa liturgia se concentra em um enorme candelabro de
forma triangular, típico dos ofícios fúnebres, sustentando 15 velas acesas de cera de
abelha e simbolizando a fé, a vigilância e a fidelidade de Deus. As velas vão sendo
apagadas após o canto de cada salmo, criando-se, assim, um efeito de luz e sombra,
típico da arte reformista barroca, contribuindo para um sentimento de recolhimento e
penitência. O jogo de luz e sombra foi um dos mais importantes elementos plásticos e
físicos do período barroco utilizado pela Igreja Tridentina para elevar o espírito dos
fiéis a sentir a presença ou a ausência de Cristo. Mediante uma decoração austera e
iluminação apropriada de seu interior, cria-se um ambiente dramático conducente aos
três dias da paixão e morte de Cristo no Jardim das Oliveiras e no Monte Calvário.

No decorrer dos tempos, muitas reformas foram feitas na estrutura e duração dos
Ofícios de Trevas, sendo este extinto em 1977. Entretanto, a Catedral Basílica de
Nossa Senhora do Pilar, situada na cidade de São João del-Rei, vem dando
continuidade a essa celebração, na sua mais íntegra forma, há mais de 300 anos.
Existem várias razões, políticas e religiosas, que contribuíram para a perpetuação desse
ritual. Durante a primeira metade do século XVIII, quando a mineração de ouro
enriquecia não somente a Coroa Portuguesa como também as cidades coloniais
mineiras, um grande número de leis foram redigidas para proteger a região contra
invasões estrangeiras e ocultar a grande quantidade de ouro explorado. O isolamento
dessas regiões e seu difícil acesso ocorreram devido ao controle na abertura de
caminhos e passagens para a capitania mineira. Ademais, a proibição da entrada das
ordens monásticas e do clero, como a distância da Arquidiocese de Mariana dessa
cidade, a formação moral e religiosa da população ficou entregue às associações
seculares como as ordens terceiras, irmandades e confrarias.

Com a elevação da paróquia de São João del-Rei a Arquidiocese em1960, esses Ofícios
ganharam o apoio do bispado, das associações de música e cantos gregorianos, da
paróquia e, principalmente, da Irmandade do Santíssimo Sacramento, patrocinadores
desses rituais desde 1711. Mesmo com a extinção dos Ofícios de Trevas do Breviário
Romano em 1977, este ganha maior significância na vida religiosa da cidade,
contribuindo, dessa maneira, para a perpetuação litúrgica da Semana Santa na Catedral
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Basílica de Nossa Senhora do Pilar. Esse Ofício é tão importante dentro do contexto
religioso e social da cidade, que todos os outros rituais e procissões que fazem parte
da Semana Santa se conformam às datas desses três dias de vigília.

Notas

1 A denominação Ofícios de Trevas deve-se, de acordo com Abgar Campos Tirado, ao fato da
“caminhada para as trevas da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo…” (Abgar
Campos Tirado, Os Ofícios de Trevas na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em Semana
Santa em São João Del-Rei, Edição Especial 2010, editor José Mário de Araújo, p. 8-9, 2010).

2 O Papa Pio XII fez grandes reformas nas celebrações da Semana Santa, no que diz respeito
aos Ofícios de Trevas em 1955, seguidos de uma nova edição do Breviário Romano em 1962 e
1970, sendo esse ritual finalmente extinto em 1977.

3 Esse evento foi documentado pela monja espanhola Ætheria, também conhecida como Egeria,
durante sua peregrinação à Terra Santa entre os anos de 381-384, por meio de cartas
descrevendo os rituais litúrgicos diários e anuais em Jerusalém. Algumas dessas descrições
sobreviveram e foram incluídas no Codex Aretinus escritos em Monte Cassino durante o século
XI. Entretanto, estes só foram descobertos e publicados em Arezzo, na Itália, no ano de 1884.
(M. L. McClure and C. L. Feltoe, Ed. and Translator. The Pilgrimage of Etheria: Translations of
Christian Literature. Series III Litugical Texts. London: Society for Promoting Christian Knowledge,
1919).

4 A Liturgia das Horas ou Horas Canônicas são um conjunto de orações recitadas em oito
específicas horas do dia. A partir da meia-noite, o dia divide-se em oito horas canônicas, a
saber: 1- Matinas ou Vigílias Noturnas; 2- Laudes ou Matutinas; 3- Prima; 4- Tertia; 5- Sexta; 6-
Nona; 7- Vésperas; 8- Completas. As duas primeiras horas, Matinas e Laudes, são recitadas ao
amanhecer e as duas últimas, Vésperas e Completas, ao entardecer. Essas quatro horas são
denominadas de maiores, enquanto que as quatro horas intermediárias são chamadas de
menores.

5 Ord. Rom, xiv, 82 and Ord. Rom., xv, 62.

6 Missale Romano, De Defectibus, X, I; Cong. Sac. Rites, 4 setembro 1875.


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7 Juan Moritz Rugendas, O Brazil de Rugendas (Belo Horizonte: Villa Rica Editôras Reunidas
Limitada, 1991); “Enterrment d’un Nègre – Bahia,” 4th Div. – Pl. 20 ilustra o enterro de um
negro, onde um candelabro triangular segue à frente da procissão fúnebre.

8 Entre muitos outros, o Mosteiro Real de Maria em Alcobaça, o Convento dos Jerônimo em
Lisboa e a Capela Real de São Francisco em Évora têm um grande número de objetos
relacionados com esses Ofícios. No entanto, o Palácio Nacional de Mafra tem uma capela
construída para atender somente a esses rituais além de um grande número de candelabros
esculpidos com o pau santo (o jacarandá brasileiro).

9 A Orquestra Ribeiro Bastos foi criada em meados do século XVIII e se associou à Venerável
Ordem Terceira de São Francisco de Assis e às Irmandades do Senhor dos Passos e do
Santíssimo Sacramento.

10 A Orquestra Lira Sanjoanense foi criada em 1776 pela Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário e conduzida pelo maestro José Joaquim de Miranda. Esta era conhecida até o século
passado pelo nome Companhia de Música. O repertório musical composto no século XVIII foi
substituído por composições do famoso músico são-joanense Padre José Maria Xavier, que
criou um repertório próprio para as celebrações litúrgicas da Semana Santa e de Natal.

11 A Bula Quandoquidem novae pelo Papa Beato João XXIII cria a diocese de São João del-Rei e
desmembra esta da Arquidiocese de Mariana, da Diocese de Campanha e da então Diocese de
Juiz de Fora. Sua instalação se deu no dia 6 de novembro de 1960, às 9h, na Catedral Basílica
de Nossa Senhora do Pilar, perante o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Oscar de Oliveira, Arcebispo
de Mariana.

12 Os bispos titulares Dom Delfim Ribeiro Guedes, Dom Antônio Carlos Mesquita e Dom
Waldemar Chaves de Araújo vêm pessoalmente presidindo os ofícios, “sendo que Dom Delfim
sempre cantava Lamentações, o que Dom Waldemar” deu continuidade (Campos Tirado,
2010, p. 9).

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______. Holy Week, The Catholic Encyclopedia, online edition 2003.


19

Dados da autora:

*Elizabeth Netto Calil Zarur


Ph.D. em Philosophy of Art e Professora – New Mexico State University, Department
of Art.

Endereço para contato:


Department of Art – MSC 3572
New Mexico State University
P.O. Box 30001
Las Cruces, NM 88003-8001 – USA

Endereço eletrônico: ezarur@nmsu.edu

Data de recebimento: 1º jul. 2011

Data de aprovação: 9 set. 2011

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