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Vitral na Igreja de Santo Irineu, Bispo de Lugduno na Gália (atual Lyon, na França)
ca. 130
ca. 202 (72 anos)
Igreja Ortodoxa
Igreja Luterana
Comunhão Anglicana
O livro mais famoso de Irineu, Sobre a detecção e refutação da chamada Gnosis, também
conhecido como Contra Heresias (Adversus haereses, ca. 180 d.C.) é um ataque minucioso
ao gnosticismo, que era então uma séria ameaça à Igreja primitiva e, especialmente, ao
sistema proposto pelo gnóstico Valentim.[1] Como um dos primeiros grandes teólogos
cristãos, ele enfatizava os elementos da Igreja, especialmente o episcopado, as Escrituras e
a tradição.[1] Irineu escreveu que a única forma de os cristãos se manterem unidos era
aceitarem humildemente uma autoridade doutrinária dos concílios episcopais.[2]
Seus escritos, assim como os de Clemente e Inácio, são tidos como evidências iniciais da
primazia papal.[1] Irineu foi também a testemunha mais antiga do reconhecimento do caráter
canônico dos quatro evangelhos.[3]
Em 21 de janeiro de 2022, o Papa Francisco assinou o decreto que inclui o santo na lista dos
Doutores da Igreja. Santo Irineu recebeu o título de "Doctor unitatis".
Biografia
Há escassa informação sobre sua vida e muitas coisas são pouco exatas. Teria nascido na
Asia proconsular, pelo menos em alguma província em seu limite, na primeira metade do
século II. Não se sabe a data certa de seu nascimento. Está entre os anos 115 e 125, ou
entre 130 e 142 segundo outros autores.
O que é certo é que, ainda muito jovem, tinha visto e escutado Policarpo de Esmirna[4] (69-
155) que, por sua vez – segundo uma tradição atestada por Papias de Hierápolis[5] – fôra
discípulo de João, o Evangelista. Durante a perseguição ordenada por Marco Aurélio, Ireneu
era sacerdote na igreja de Lugduno (atual Lyon), na Gália.[4] O clero da cidade, muitos dos
quais presos por testemunharem sua fé, enviou (em 177 ou 178) uma carta ao papa
Eleutério sobre o montanismo, testemunhando os méritos de Ireneu.[6] Quando São Potínio
foi martirizado, Ireneu foi feito bispo em seu lugar.[4]
Durante a trégua religiosa subsequente à perseguição de Marco Aurélio, o novo bispo dividiu
seu tempo entre deveres como pastor e missionário (do que temos poucas e incertas
informações) e os seus escritos, quase todos dirigidos contra a heresia do gnosticismo, que
começava a se espalhar pela Gália. Neste sentido, sua obra mais famosa é chamada de
Contra Heresias (Adversus haereses). Em 190 ou 191, intercedeu junto ao papa Vítor I para
suspender a sentença de excomunhão imposta sobre as comunidades de cristãos na Ásia
Menor, que continuavam as práticas dos quartodecimanos – que desejavam celebrar a
Páscoa segundo a tradição judaica.
Ignora-se a data de sua morte, que deve ter ocorrido no fim do século II ou início do século
III. Apesar de alguns testemunhos isolados e tardios nesse sentido, é incerto se terminou
sua vida num martírio. Morreu por volta de 202 d.C. quando da perseguição movida pelo
imperador romano Septímio Severo ou nas mãos de hereges. Foi enterrado sob a igreja de
São João em Lyon, posteriormente renomeada "Santo Ireneu" em sua homenagem. Porém, o
túmulo e seus restos foram completamente destruídos em 1562 pelos huguenotes.
A obra teológica
Ireneu escreveu em grego a sua obra, que lhe assegurou lugar de prestígio excepcional na
literatura cristã devido, não só, às questões religiosas controversas de importância capital
que abordou, bem como por mostrar o testemunho de um contemporâneo das primeiras
gerações cristãs. Nada do que escreveu chegou a nós no texto original, mas muitos
fragmentos existem e citações em escritores posteriores como Hipólito de Roma e Eusébio
de Cesareia.
Duas de suas principais obras chegaram até aos dias de hoje em suas versões latinas e
arménias: a primeira é a "Exposição e refutação do pretenso conhecimento", em português
conhecida como Contra Heresias por ser frequentemente conhecida e citada pelo seu nome
latino de Adversus haereses.
É uma obra para combater o gnosticismo. Em seus cinco livros, expõe de início as doutrinas
gnósticas, com referências às suas distintas seitas e escolas nascidas nas comunidades
cristãs. Ao refutar as versões mais importantes (de Valentim, de Basílides e de Marcião de
Sinope) Ireneu frequentemente opõe a elas a verdadeira doutrina da Igreja da sua época,
dando-nos, deste modo - pelo seu recurso à razão, à doutrina da Igreja e à Bíblia -,
testemunhos indirectos e directos relevantes acerca do que então era tido como a doutrina
eclesiástica. Aborda, ainda, passagens muito comentadas pelos teólogos que dizem respeito
ao Evangelho segundo João, à Eucaristia e à primazia da Igreja Romana. Ireneu termina esta
obra defendendo a ressurreição da carne, escândalo máximo para os gnósticos. Dos
originais restaram fragmentos, e há traduções latinas e armênias.
No livro I, Ireneu fala sobre os valentianos e seus precursores, cujas raízes vão até Simão
Mago. No segundo livro, ele tenta provar que o valentianismo não tem mérito algum em suas
doutrinas. Já no terceiro livro, Ireneu propõe que essas doutrinas são falsas com base em
evidências obtidas dos Evangelhos. No livro quarto, Ireneu reforça a união do Antigo
Testamento e os Evangelhos ao mesmo tempo que fornece um conjunto de ditos de Jesus.
No último livro, ele se concentra em mais ditos de Jesus e também em cartas de Paulo de
Tarso.[7]
Parece que a crítica de Ireneu contra os gnósticos era exagerada, o que provocou sua
rejeição pelos estudiosos por um longo tempo. Como exemplo, ele escreveu:
Eles declaram que Judas, o traidor, era perfeitamente familiar com estas
“ coisas e que, ele, sozinho, sabendo da verdade como ninguém mais, realizou o
mistério da traição. Através dele todas as coisas foram então atiradas em
”
confusão. Eles então produziram uma história fictícia deste tipo, que
chamaram de Evangelho de Judas.
[14]
Estas alegações se mostraram verdadeiras no texto do Evangelho de Judas, onde Jesus
pediu a Judas o traísse. Sobre as incorreções de Ireneu sobre as libertinagens sexuais entre
os gnósticos, é claro que eles não eram um grupo coeso, mas um conjunto de seitas. Alguns
eram realmente libertinos, considerando a existência corporal como sem nenhum sentido.
Outros, pelo mesmo motivo, prezavam a castidade ainda mais fortemente que a cristandade,
chegando ao ponto de banir o casamento e toda atividade sexual.[15]
A sua segunda obra é a "Exposição ou Prova do Ensinamento Apostólico", breve texto, cujo
conteúdo corresponde na perfeição ao seu título. Há dela uma muito antiga tradução, literal,
em armênio descoberta em 1904. Ireneu não quer nela refutar as heresias, mas confirmar
aos fiéis a exposição da doutrina cristã, sobretudo ao demonstrar a verdade do Evangelho
por meio de profecias do Velho Testamento. Embora não contenha nada do que já não tenha
sido dito em Adversus haereses, é um documento de grande interesse e magnífico
testemunho da fé profunda e viva de Ireneu.
uma carta ao papa Vítor I contra o sacerdote romano Florinus (fragmento em siríaco)
outra carta ao mesmo papa sobre a controvérsia pascal (da qual há trechos em Eusébio)
Escrituras
Estudiosos afirmam que Ireneu cita pelo menos 21 dos 27 textos do Novo Testamento:
Livro I
Prefácio: Primeira Epístola a Timóteo
Livro II
Capítulo 30: Epístola aos Hebreus**
Livro III
Capítulo 3: Epístola a Tito
Livro IV
Capítulo 9: Primeira Epístola de Pedro
Livro V
Capítulo 2: Epístola aos Efésios
Ele não cita as Epístolas a Filêmon, Judas e nem a Terceira Epístola de João.
Autoridade apostólica
Em seus escritos contra os gnósticos, que alegavam possuir uma tradição oral secreta vinda
do próprio Jesus, Ireneu defendia que os bispos em diferentes cidades são conhecidos
desde o tempo dos Apóstolos - e nenhum deles era gnóstico – e que os bispos proviam o
único guia seguro para a interpretação das Escrituras.[27] Ele enfatizava a posição de
autoridade única que detinha o bispo de Roma.[18][28]
Com as listas de bispos a que Ireneu se referiu, a doutrina posterior de sucessão apostólica
dos bispos pode ser relacionada.[18] Esta sucessão foi importante para estabelecer uma
linha de custódia da ortodoxia. O ponto de vista de Ireneu quando refutando os gnósticos foi
de que todas as igrejas apostólicas preservaram as mesmas tradições e ensinamentos em
diversas correntes independentes. Foi um acordo unânime entre estas muitas correntes
independentes de transmissão que provaram a fé ortodoxa, corrente naquelas igrejas, ser a
verdadeira.[29] Se algum erro tivesse sido absorvido, o acordo seria imediatamente destruído.
Os gnósticos não tinham nem esta sucessão e nem um acordo entre eles.
Traços de um pensamento
O núcleo de um pensamento:
Santíssima Trindade
"Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a
Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele antes de toda a criação" (Contra as
Heresias IV,20,4).
Irineu afirma a igualdade de essência e dignidade entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo
(Adv. Haeres., II, 13, 8).
Batismo trinitário
Se não há salvação para a carne, também o Senhor não nos redimiu com
o Seu Sangue.
Virgem Maria
Mesmo Eva tendo Adão como marido, ela ainda era virgem… Ao
desobedecer, Eva tornou-se a causa da morte para si e para toda a raça
humana. Da mesma forma que Maria, embora tivesse um marido, ainda
era virgem, e obedecendo, ela tornou-se causa de salvação para si e para
toda a raça humana
Para a maior e mais antiga a mais famosa Igreja, fundada pelos dois
mais gloriosos Apóstolos, Pedro e Paulo." e depois "Os bem-aventurados
Apóstolos portanto, fundando e instituindo a Igreja, entregaram a Lino o
cargo de administrá-la como Bispo; a este sucedeu Anacleto; depois dele,
em terceiro lugar a partir dos Apóstolos, Clemente recebeu o episcopado.
— Contra as Heresias - 1.III, 1,12; 2,1´2; 3.1´3; 4,1; P.G. 7, 844ss; S.C.34
Irineu afirmava que todas as igrejas deveriam estar de acordo com Roma, devido à sua
'autoridade preeminente' ou por sua 'origem superior':
Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta,
as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e
conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois
gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição
recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós
pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma,
quer por enfatuação ou por vanglória, quer por cegueira ou por doutrina
errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito,
'deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua
autoridade preeminente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares,
porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que
deriva dos apóstolos.
Evangelhos canônicos
Irineu afirma claramente a divisão em quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João),
fazendo numerosas citações desses evangelhos, únicos evangelhos reconhecidos como
autênticos e lidos na Igreja atesta Irineu:
Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto
Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja.
— Contra as heresias
Ireneu em sua obra também faz referência aos Livros Sagrados chamados deuterocanônicos
referindo-se à Sabedoria, à História de Susana, Bel e o dragão (Adições em Daniel) e
Baruque.
A sua extensa e completa refutação das diferentes doutrinas gnósticas vem sendo
recordada por ocasião do redescobrimento do texto pseudo-epígrafo conhecido como o
Evangelho de Judas. Acerca deste texto, Ireneu disse que era utilizado por um grupo
gnóstico auto-denominado cainitas, os quais:
"...dizem que Caim nasceu de uma Potestate superior, e se professam irmãos de Esaú,
Coré, os sodomitas e todos os seus semelhantes. Por isto, o Criador os atacou, mas a
nenhum deles pôde-se fazer mal. Pois, a Sabedoria tomava para si mesma o que deles
havia nascido dela. E dizem que Judas, o traidor, foi o único que conheceu todas estas
coisas exatamente, porque somente ele entre todos conheceu a verdade para levar em
frente o 'mistério da traição' (...). Para isto, mostram um livro de sua invenção, que
chamam o Evangelho de Judas." (Adversus haereses, I, 31, 1)
Na continuação, Ireneu, desmascarando o louvor que os cainitas faziam de Judas por este
ter entregue Jesus, e assim, segundo estes, ousado experimentar a realização da mais cruel
traição como caminho para a realização de um número maior de experiências gnósticas, faz
notar, não sem uma ironia fina, que
"Estes (os cainitas) chamam de Hystera a este criador do céu e da terra e dizem, como
Carpocrates, que o Homem não pode ser salvo se não passar por todo o tipo de
experiências. Um anjo, segundo eles, está continuamente à espera de todos os seus actos,
incentivando-os para todo o tipo de actos pecaminosos e abomináveis (...). Seja qual for a
natureza de tais acções, eles declaram que as fazem em nome de tal anjo, dizendo: 'Ó
anjo, eu usei o teu trabalho; o teu poder, eu realizei esta acção!' E advogam que isto é o
'conhecimento perfeito.' " (Adversus haereses I, 31, 2)
"Dizem eles que a paixão do decimo segundo Aeon é demonstrada pela morte de Judas.
Contudo, ainda segundo eles, tal Aeon, cujo tipo declaram ser Judas, depois de ser
separado de Enthymesis, foi restaurado e retomou a sua posição antiga; contudo Judas foi
retirado (do seu cargo), expulso, e Matias foi escolhido em seu lugar, de acordo com o que
está escrito." (Adversus haereses II, 20, 2)
Referências
1. Cross, F. L., ed. (2005). The Oxford in Answer to the Prayers of our People
Dictionary of the Christian Church (em (em inglês). V. [S.l.: s.n.]
inglês). Nova Iorque: Oxford University
5. Eusébio de Cesareia. «39». História
Press
Eclesiástica (http://www.newadvent.or
2. Durant, Will (1972). Simon and Schuster g/fathers/250103.htm) . The Writings
(em inglês). Nova Iorque: [s.n.] of Papias (em inglês). III. [S.l.: s.n.]
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