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Universidade Federal de Ouro Preto

Escola de Minas
Escola de Farmácia
Departamento de Engenharia de Produção, Administração e Economia

“Americanismo” – Taylorismo-Fordismo

A chamada Escola de Administração Científica, pioneira entre as Escolas que procuram


sistematizar conhecimentos de administração, surge com Taylor e Ford no contexto da “Segunda Revolução
Industrial”, na passagem do Século XIX, para XX, nos Estados Unidos da América do Norte.

Vamos dividir o tema da aula em três partes gerais: 1 - Ideologia e formação dos EUA, 2 -
Taylorismo e 3 - Fordismo.

I. Ideologia e formação dos EUA


A - Ocupação tardia. Pobreza da região não despertou interesse. Coroa inglesa preferia ilhotas no Caribe
para extrair açúcar, deixando território da América do Norte à própria sorte, atitude que levou a que poucos
se interessassem em ali vir a habitar.

B - Em 1585, Walter Raleigh, preposto da rainha Elizabeth I, da Inglaterra, fundou a colônia de Virgínia,
através de uma Cia Comercial aurífera. Como o ouro não foi encontrado, a colônia ficou relegada.

C - Em 1620, a bordo do “Mayflower”, puritanos calvinistas ingleses, fugidos de perseguição religiosa, depois
de uma temporada na Holanda, chegam para fundar uma nova pátria onde pusessem trabalhar e adorar ao seu
Deus em paz e liberdade, em Cabo Cod, Plymouth, Massachusetts, 11 de novembro. Conta a História
Americana que indescritíveis dificuldades não desanimaram os peregrinos: tinham vindo para fazer a
América, para nunca mais voltar. Eram indesejados no Velho Mundo, vieram ser “gente” na América.
Fundam a Nova Inglaterra, “Nova Terra Prometida” num emblemático sentido bíblico, que vai reunir 13
Colônias da Costa Leste.

D – Ao Sul, Companhias de Exploração Agrícola, na Região da Geórgia, importam negros para emprego em
trabalho escravo nas “plantation” de Tabaco, Amendoim, Algodão, Cana-de-Açúcar.
Obs.: Uma mistura de cânticos religiosos protestantes que são ensinados aos negros, os “spirituals”, com os
ritmos africanos, deriva no jazz e no rock.

E – A Independência das treze colônias da Nova Inglaterra, embrião do atual EUA, veio em 1776 numa
revolta contra a metrópole que queria repassar aos colonos os custos da Guerra dos Sete Anos (Inglaterra
contra França). O pretexto foi a Lei do Selo que desencadeou o afundamento de um carregamento de Chá em
Boston.

F - Também à época idéias iluministas (como de Voltaire e outros) se disseminavam.

G – A Guerra de Independência foi liderada pelo proprietário rural George Washington. Em 04 de julho de
1776, Thomas Jefferson, terceiro presidente, em Filadélfia, redigia a Declaração de Independência:

“Todos os homens nascem iguais; o Criador os dotou de certos direitos inalienáveis, entre os quais a
vida, a liberdade e a procura da felicidade. (...) Para garantir esses direitos os homens instituem entre si
governos, cujo justo poder emana do consentimento dos governados. (...) Se um governo, seja qual for a
sua forma, não reconhecer esses fins o povo tem o direito de modificá-lo ou de aboli-lo e de instituir um
novo governo....”
H – Os EUA foram reconhecidos como Estado pela França que mandou apoio aos colonos. Tratado de
Versalhes de 1783.

I – Para o historiador francês Fernad Braudel, a palavra oportunidade, junto com o pensamento
individualista e competitivo, formam a base do ideário americano. (Cáceres;1992:88)

J - No filme ....E o Vento Levou, considerado o mais visto de todos os tempos, baseado no romance de
Margareth Mitchell, o território vasto e a ausência de projetos que ultrapassem o pragmatismo do imediato,
é a marca da civilização americana. Repare que a personagem do filme, Scarlett O’Hara, faminta,
maltrapilha e despenteada na terra desolada pela Guerra de Secessão, depois de assistir à morte, por exaustão,
de seu cavalo, dá dentada num tubérculo que arranca do chão. Em seguida soluça, tosse e jura que nunca
mais passará fome, nem que para isso tenha que “mentir, roubar, matar”. O outro protagonista é Rhet Buttler,
que se aproveita da guerra para ficar milionário. (Folha;1995:33)

L - O sociólogo Max Weber, em “A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo”, analisa o


pragmatismo utilitarista num texto de Benjamim Franklin (1706-90), outro herói da Independência
Americana:
“Lembra-te que tempo é dinheiro (...) Crédito é dinheiro (....) o bom pagador é dono da bolsa alheia (....) é
de natureza prolífica, procriativa (...) aquele que paga em dia seus compromissos, pode a qualquer
momento, levantar tanto dinheiro quanto seus amigos possam dispor (...) O som do teu martelo às cinco
da manhã, ou às oito da noite, ouvido por um credor o fará conceder-te seis meses a mais de crédito ( ...)
ele procurará por seu dinheiro no dia seguinte, se te vir numa mesa de bilhar ou numa taverna .”
(Weber;1993:30)

M - Ferdinand Kurnberger, em “Retrato da Cultura Americana”, fala da confissão de fé do yankee


centrada numa filosofia da avareza e onde o aumento do capital é um fim em si mesmo. “Eles arrancam sebo
do gado e dinheiro dos homens”. (Weber;1993:30)

N – Os EUA multiplicaram algumas vezes o território inicial da Nova Inglaterra através de compras à
Espanha, México, França, Rússia, ou mesmo através das armas. A Guerra de Secessão resultou numa
unificação através das armas. Observe o mapa anexo.

O Contexto da Administração Científica e a Segunda Revolução Industrial

A Segunda Revolução Industrial é marcada pelo início do emprego do Aço (1856), do Dínamo
(1873), do Motor de Combustão Interna por Daimler-Benz (1873), do telefone (1876), e da substituição do
vapor pela eletricidade e petróleo.
É contemporânea da consolidação da vitória do Norte Industrial sobre o Sul Agrário e Escravagista.
Episódio que produziu entre tantas consequências, a liberação da mão-de-obra escrava para o trabalho
assalariado. É também contemporânea das grandes migrações da Europa para os EUA: entre 1870 e 1915
chegaram à América do Norte mais de 45 milhões de trabalhadores desqualificados ou pouco
profissionalizados. Grande massa de mão-de-obra disponível: da Europa e da Escravidão.
O colonialismo é visto como legítimo. Repartição de mercados mundiais.
Explosão na produção agrícola graças à mecanização. Exemplos: 1 - Colhedeira McCormick. 2 -
Primeira Irrigação em grande escala no Ocidente, operada pelos mórmons (Igreja de Jesus Cristo e dos
Santos dos Últimos Dias), de Utah, junto ao Grande Lago Salgado, liderados por Brigham Young. 3 - Lei
Morril de Concessão de Terras devolutas para a constituição de Universidades nos Estados,
preferencialmente para Faculdades Agrícolas e de Pecuária.
Estradas de ferro e de rodagem são construídas num ritmo veloz sem precedentes na História.
Ideologia liberal, laissez-faire, e do “darwinismo” social. Surgimento de grande fortunas:
Rockfeller e a Standard Oil, fundada em 1870 é símbolo máximo de riqueza.
Capitalismo financeiro com os seguintes protótipos: Morgan, Rockfeller, Baker, Stillman, Schiff,
Warburg, Guggenheim, Ryan.
Urbanização: A industrialização gerou grandes cidades. Aglomeração da mão-de-obra para produzir
mercadorias em escalas inauditas. Produção em massa de automóveis, prédios verticais surgem como resposta
á crescente valorização de terrenos. Artefatos domésticos em profusão: A comercialização da primeira
geladeira doméstica foi em 1913, em Chicago.

Para discutir e comentar: “Símbolos Marcantes da Civilização Americana” - The Pilgrins, Mayflower,
Self-made-man, WASP, Filadelfia Freedom, Tio Patinhas, Rock, Fast-Food, Puritanismo, Cowboy, Pie,
Hollywood, racismo vs. Pluralismo , Route 66, forte presença do judaismo, “Liberty Statue”, Woodstock, “68
Lost Generation”, Empire State Building, The Twin Towers, NASA, The Pentagon, The White House,
Dollar-Bretton-Woods, Harvard University, MIT, BIRD, IMF, WB. Disney World, B52, Enola-Gay, James
Dean, “Gone by the Wind”, Microsoft, Palo Alto-Silicon Valley, As Cias. de Atlanta,GA: Coca-Cola e
CNN, Green-Card, Clinton, Bush.

Quais são os símbolos marcantes da civilização brasileira? É interessante comparar? Único pa´s Império nas
Américas ? Tiradentes? Carnaval? Catolicismo? Miscigenação? Amazônia? Cangaço? Ouro Preto ?
Jesuítas? Zé Carioca? Pelé? Folha? PT? FHC? Brasília? Etc.... Observação: O PIB dos EUA é 15 vezes o
PIB brasileiro.

II . T A Y L O R I S M O
F r e d e r i c k W i n s l o w T a y l o r ( 1856-1915) é descendente de uma família tradicional cujos
ascendentes vieram no “Mayflower”. Puritano, para quem o sucesso profissional é uma demonstração da
graça divina, sinal de eleição.
As idéias surgem e se materializam, o quando é chagado seu tempo. E Taylor pode ser considerado o
homem que converteu idéias em palavras e estas em ações, condensando o ideário de sua época em matéria
de engenharia de produção. Nasceu “quaker” em Germantown, Filadélfia em 20/03/1856, de família
próspera.
Mas começou “por baixo”, seguindo a tradição que diz que todo trabalho é digno, como aprendiz na
Midvale Steel Works, foi maquinista, torneiro, contramestre, e depois chefe dos tornos. Formou-se em
engenharia pelo Stevens Institute em 1885. Dobrou a produtividade da Midvale estudando sistematicamente
tempos e movimentos. Registrou 50 patentes de inventos: máquinas ferramentas e processos de trabalho. Não
foi ser advogado por um problema nos olhos.

As primeiras apresentações de trabalhos de Taylor foram perante a “American Society of Mechanical


Engineers”, onde ingressara em 1895, intitulavam-se: “A Note on Belting” e “A Piece State System”.

Em 1896, Taylor entrou para a Bethlehem Steel Works, reorganizou-a completamente e alcançou
grande êxito e notoriedade. Com apenas 140 homens logrou executar o trabalho que antes necessitava de 600.
Nesta empresa, certa feita, quando o esgoto sob o galpão principal da fábrica entupiu, foi o próprio Taylor, já
chefe, que entrou para desintupí-lo. O presidente do Conselho de Administração se surpreendeu com a
história e contou-a aos demais conselheiros.

Em 1903, tendo recebido participação por seus inventos, parou de trabalhar por dinheiro, dizendo: “já não
posso permitir-me trabalhar por dinheiro”. Em 1906 foi eleito presidente da American Association of
Mechanical Engineers” e neste ano publicou “The Art of Cutting Metals”.

Publicou em 1911 o clássico livro “Principles of Scientific Management”, tornando-se renomado no


mundo da administração, cujo primeiro parágrafo diz o seguinte: “O presidente Roosevelt, dirigendo-se aos
governadores na Casa Branca, observou profeticamente que a ‘a conservação de nossos recursos naturais é apenas uma
fase preliminar do problema mais amplo da eficiência nacional”.
Em poucas palavras se pode traduzir o legado de Taylor em: decomposição, simplificação e
sistematização do trabalho. Confisco do saber fazer dos operários, colocando-o à disposição da gerência ou
direção da empresa. Seu propósito era eliminar desperdícios, elevando níveis de produtividade pela aplicação
de métodos e técnicas de engenharia industrial ou de produção.

Segundo Harry Braverman, em “Trabalho e Capital Monopolista”:


“Em sua constituição psíquica, Taylor era um exemplo exagerado de personalidade obsessivo-
compulsiva: desde a mocidade ele contava seus passos, media o tempo de suas várias atividades e
analisava seus movimentos à procura de ‘eficiência’. Mesmo depois de ficar importante e famoso tinha
algo de engraçado no aspecto, e quando aparecia na oficina despertava sorrisos. O retrato de sua
personalidade, que surge de um estudo recente feito por sudhir Kakar, justifica chamá-lo, no mínimo, de
maníaco neurótico. Esses traços ajustam-se a ele perfeitamente por seu papel como profeta da moderna
gerência capitalista, visto que o que é neurótico no indivíduo, no capitalismo é normal e socialmente
desejável para o funcionamento da sociedade.” (1980:87)

As principais idéias Taylor:

A – conceito de Homo Economicus: o homem trabalha por necessidade de ganhar dinheiro já que tem medo
de passar fome.

B – Trabalho e Capital podem convergir nos seus interesses. Enquanto um quer baixar os custos de produção,
o outro quer sempre aumentar os salários. Dizia Taylor: “O principal objetivo da administração é assegurar o
máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado”.

C – Quanto mais dividido o trabalho, maior a sua eficiência. Há que se estudar o trabalho dos operários,
decompô-lo em seus movimentos simples e cronometrá-lo para, após uma análise cuidadosa, eliminar os
movimentos inúteis e aperfeiçoar os movimentos úteis: “Motion time study”.

D – Acreditava na produção padrão: há sempre uma única maneira certa de encaminhar certa execução.

E – Apregoava controle e supervisão cerradas sobre os operários visto que na sua concepção, o homem é
naturalmente preguiçoso e tem que ser controlado.

F – Defendia a supervisão funcional: obediência a três chefias simultaneamente, de manutenção, de produção,


de qualidade.

G – Teorizou uma Lei da Fadiga segundo a qual existe uma relação inversa entre a carga levantada e o tempo
em que é suportada.

H – Acreditada que podia haver “homem certo no lugar certo”. Visão das pessoas enquanto algo estático. Ex.
O homem-boi Schmidt.
“Quanto à seleção científica dos homens, é fato que nessa turma de 75 carregadores apenas cerca de um
homem em oito era fisicamente capaz de manejar 47,5 toneladas por dia (...) não era em sentido algum
superior aos demais que trabalhavam na turma. Aconteceu apenas que ele era do tipo do boi – espécime
que não é tão raro na humanidade, nem tão difícil de encontrar que seja demasiado caro. Pelo contrário,
era um homem tão imbecil que não se prestava à maoria dos tipos de trabalho”.

I – Defendia o desenho de cargos e tarefas onde ficava delineada a rotina do trabalho: Análise e Descrição de
Cargos. Análise: perfil exigido do candidato; Descrição: enumeração minuciosa das tarefas.

J – Taylor padronizou ferramentas e instrumentos com vistas a torná-las mais eficientes.

L – Defendia incentivos salariais e prêmios por produção. Além de alcançar o tempo-padrão mínimo
estabelecido pela gerência, o operário deveria suplantá-lo, pelo que recebia adicionais.
O que chamamos “taylorismo” teve alcance mundial, inclusive na União Soviética, onde Lenin declarou
tratar-se da “Libertação do homem do reino da necessidade para o reino da liberdade”. Na Alemanha nazista
o “taylorismo” entrou sob a campanha “Schoenheit der Albeit”, embelezamento do trabalho, limpeza do
descontentamento. Na Itália através do “dopolavoro”, ou “trabalho depois”, com atividades recreativas
organizadas pela empresa. Mussolini: “A Itália é uma nação operária”, “somos todos soldados do trabalho”.

Um importante seguidor de Taylor, e que aperfeiçoou suas teses, foi Frank Gilbreth. Inventou os “Therbligs”,
adequando seu nome de trás para frente, que consistiam nos 17 movimentos elementares encontráveis em
qualquer tarefa: 1.Procurar 2.Escolher 3.Pegar 4. Transportar vazio 5.Trasnportar cheio 6.Posicionar 7.Pré-posicionar
8.Unir ou amontoar 9.Separar 10.Utilizar 11.Soltar a Carga 12.Inspecionar 13.Segurar 14. Esperar inevitavelmente 15.
Esperar quando inevitável.. 16.Repousar. 17.Planejar.
Críticas ao Taylorismo:
- O homem é apêndice da Máquina. A super-especialização robotiza o operário.
- O trabalhador perde o controle sobre o ritmo e processos do trabalho. O saber fazer é confiscado,
expropriado exclusivamente em favor do capital. (Coriat;1976:94)
- Ênfase nas tarefas, nível operacional, oficina, ignorando o sistema organizacional como um todo.
- Abordagem de sistema fechado, desprezando as influências do meio ambiente.
- Abordagem prescritiva e normativa ao invés de explicar o funcionamento da organização. Receita pronta.

III- FORDISMO
H e n r y F o r d (1863-1947) – Começou a vida como mecânico e se tornou engenheiro chefe de fábrica.
Idealizou e projetou um modelo de carro autopropelido através de linha de montagem. Fundou a Ford Motor
Company através de financiamentos. Foi pioneiro em baratear o custo de fabricação do automóvel, através o
“Modelo T”.
Em 1926 tinha 88 unidades de produção, empregava 150 mil pessoas e fabricou só naquele ano,
cerca de 2 milhões de automóveis. Ergueu uma das maiores fortunas da América.
Fez algumas revoluções na sua época: 1º fabricou modelo popular de automóvel inaugurando o
consumo de massa para o segmento. 2º Criou estratégias de marketing, financiamentos diretos ao consumidor
final e redes de assistência técnica. 3º Passou a remunerar seus empregados com USD 5,00 por dia de oito
horas, enquanto que o mercado pagava USD 2,00. 4º Repartiu com os empregados, em 1914, parte do
controle acionário da empresa. 5º - Adotou a verticalização.

Dizia que a condição-chave para se produzir em massa é ter um mercado consumidor de massa.
Altos salários ajudam no consumo.

Adotava três princípios gerais:


1º - Intensificação: diminuir sempre o tempo de produção, colocando o produto no mercado imediatamente.
2º - Economicidade: reduzir ao mínimo o estoque de matéria prima. Conseguiu fazer com que os automóveis
e os tratores fossem vendidos antes de vencer o prazo para pagar a matéria prima e os salários. Dizia: “O
minério sai da mina no Sábado e é entregue sob a forma de um carro ao consumidor na Terça-feira à tarde.”
3º - Produtividade: Especializar o trabalhador ao máximo intensificando a que ganhe mais. Medida que de
outro lado faz com que o empresário tenha mais produção.

Ford pagava altos salários mas controlava a vida dos operários tanto dentro quanto fora da fábrica.
Exigia deles: ser “limpos”, não “beber”, não fumar, ser reservado, não jogar, não frequentar bares, não ser
promíscuo, etc. Em 1917 contava com 144 “Conselheiros da Moral” encarregados de coletar, através de
fichas, dados sobre a moralidade, disciplina sexual, respeitabilidade, monogamia, opiniões e hábitos dos
operários. O alto salário fazia com que os operários aceitassem tais ingerências na sua vida extra-fábrica.

Comentários e Críticas
É inegável que com Taylor e Ford a Humanidade, começando pela América do Norte, passou a
experimentar uma explosão de produção. E de uma certa maneira, estas atitudes de colocar o trabalho como
centro da vida, de exercer disciplina férrea sobre si mesmo, de retornar a poupança em investimento (ações),
de não dissipar, de viver frugalmente, de ver o patrimônio como um fim em si mesmo (“Tio Patinhas”), é
própria do ideário protestante, puritano e calvinista, cerne a partir do qual há a consolidação dos EUA. Trata-
se de uma ideologia que perpassa globalmente a sociedade e é reforçada até pelo Estado. A moral puritana de
sempre condenar o prazer visceral está por todos os lados e é implacável. Lembremos, por exemplo, o
episódio recente, surpreendente por ter virado escândalo, no qual Presidente Bill Clinton quase perdeu o
mandato por manter relações íntimas com a estagiária Lewinski.

O italiano Antonio GRAMSCI ao analisar o fordismo-americanismo diz:

“O famoso alto salário é um elemento que serve para selecionar uma mão-de-obra adaptada ao
sistema de produção e a mantê-la estável. Tem dupla função: é necessário que o trabalhador despenda
‘racionalmente’ seu salário mais elevado a fim de manter, de renovar, e, se possível, de aumentar sua
eficiência muscular e nervosa e não destruir ou diminuir.”

Outra crítica vem de Marglin e Dickson, para quem o taylorismo-fordismo, complementares entre si,
conforme vimos acima: “Despoja o operário de qualquer controle e dá ao capitalista o poder de prescrever a natureza
do trabalho e a quantidade a produzir. A partir daí, o operário já não é livre para decidir como e quanto quer trabalhar para
produzir o que lhe é necessário.”

O Taylorismo-Fordismo enfrentou grandes resistências sindicais. Especialmente dos chamados


OFICIAIS (metier), congregados na American Federation of Labor, sindicato de cúpula, quanto da
International Workers of the World, sindicato de base.

Nos meios de comunicação, Charles Chaplin se notabilizou por criticar o mundo do trabalho
taylorista-fordista, ironizando o homem como “apêndice da máquina”, “apertador de parafuso”, etc.

Peter Drucker, fundador da Escola conhecida como “Administração por Objetivos”, acha que Taylor
é injustiçado. Veja o que diz no livro “Sociedade Pós-Capitalista”:

“Darwin, Marx, Freud formam a trindade frequentemente citada como os criadores do mundo moderno.
Se houvesse alguma justiça no mundo, Marx deveria ser retirado e substituído por Taylor.” (1993:19)

Discutir: 1º - Quais os aportes positivos do taylorismo-fordismo para a humanidade. 2º - Será que há um círculo vicioso de
produzir e consumir, de escravizar-se ao trabalho para conseguir consumir?

Bibliografia citada e recomenda para leitura dos alunos:

ALLEN, H. C. – História dos Estados Unidos da América. Rio de Janeiro: Forense, 1968.
BRAVERMAN, Harry – Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no Século XX. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1980.
CÁCERES, Florival – História da América. S. Paulo: Ed. Moderna, 1992.
CHIAVENATO, Idalberto – Introdução à Teoria Geral da Administração. S. Paulo, McGrawHill do Brasil, 1983.
CORIAT, Benjamin – Ciencia, tecnica y capital. Madri: Blume, 1976.
DRUCKER, Peter – Sociedade Pós-Capitalista. S. Paulo: Pioneira, 1993.
FOLHA DE S. PAULO – Folha conta 100 Anos de Cinema. S. Paulo: Imago, 1995. (Org. Amir Labaki)
FORD, Henry – My Life and Work. New york, 1923.
GILBRETH, F & GILBRETH Lillian – Applied Motion Study. New York: Sturgis & Walton, 1917.
GRAMSCI, Antonio – Notas sobre Maquiavelo, sobre Política y sobre el Estado Moderno. Buenos Aires: Lautaro, 1962.
GRAMSCI, Antonio. "Americanismo e Fordismo" in Obras escolhidas. Tradução de Manuel Cruz, São Paulo: Martins
Fontes, 1° edição, 1978.
MOTTA, Fernando C. Prestes – Teoria das Organizações:evolução e crítica. S. Paulo: Pioneira-Thomson Learning, 2001.
NETO, B. R. Moraes – Marx, Taylor, Ford: As forças produtivas em discussão. S. Paulo: Brasiliense, 1989.
O’CONNOR, James – USA: Crise do Estado Capitalista. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1977.
TAYLOR, W. Frederick – Princípios de Administração Científica. S. Paulo: Atlas, 1982.
TRAGTENBERG, Maurício – Ideologia e Burocracia. S. Paulo: Ática, 1974.

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