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CAPA

NO FINAL VER A LETRA, ESPAÇAMENTO, MARGENS QUE ESTÃO NO DOC.

Índice
Introdução
Título do Capítulo

No verão de 1914, a geopolítica mundial situava-se centrada no Velho Continente. O poderio


industrial alemão englobava 15,7 % da produção manufaturada do Mundo; a Alemanha, a
França e o Reino Unido forneciam três quartos dos capitais colocados a longo prazo no Mundo;
na França, 69 % das notas em circulação estavam cobertas por ouro e, os britânicos detinham a
hegemonia do domínio dos mares com uma frota, quer mercante quer militar. A riqueza da
Europa baseava-se na “exportação de produtos manufaturados, mas também de serviços, e na
fraqueza dos preços de custo, muito especialmente dos géneros alimentícios e das matérias-
primas importadas”1. Assim, rapidamente, se compreende que a guerra desenrolada entre 1914 e
1918, que se abateu principalmente em território europeu, que devastou campos, aniquilou
milhares de pessoas, atrofiou a indústria e reverteu a economia, alterou a hegemonia europeia
no Mundo e favoreceu uma das grandes potências industriais que emergia, os Estados Unidos da
América.

Desde finais do século XIX, os Estados Unidos atravessavam uma fase de auge industrial que os
colocaria à cabeça do mundo pelo volume da sua produção industrial. Alicerçados na utilização
de capitais estrangeiros e em numerosas invenções técnicas, os Estados Unidos da América
podiam, ainda, contar com os seus variados recursos minerais (carvão, petróleo, ferro, cobre,
chumbo, zinco, fosfato, sal, pedra, argila e enxofre) e com a abundante mão de obra imigrada no
país, que alargou o seu mercado interno, e que viria a ser exaustivamente explorada em nome do
aumento da produtividade. A evolução económica dos Estados da América do Norte foi,
também, fortemente impulsionada pela construção dos caminhos de ferro, que estimulando o
desenvolvimento da indústria pesada ajudou, igualmente, no transporte de matérias-primas,
exercendo uma influência extraordinária na evolução económica do país. Eram, sobretudo, nos
estados do Leste e do Médio Oeste que se concentrava a indústria transformadora americana.
Segundo dados de Polianski e Shemiskine, em 1914, só em Massachussets, Nova Iorque, Nova
Jérsia e Pensilvânia concentrava-se 40 % dessa indústria2.

A partir de finais do século XIX, a livre concorrência que tinha estado em voga até então, nos
EUA, transforma-se num sistema de capitalismo monopolista, fundamentado pela crescente
concentração industrial, onde as sociedades anónimas tiveram um importante papel. No
despoletar da Primeira Guerra Mundial, em 1914, cerca de 83 % da produção industrial
americana correspondia a sociedades anónimas. O capitalismo monopolista de que falo acima,
acabou por ser alicerçado pelos trusts. Este termo diz respeito à fusão de duas ou mais empresas
do mesmo ou de diferentes ramos de negócio, com vista a eliminar a livre concorrência do
mercado, aumentar o lucro das empresas, evitar o crescimento de pequenas empresas
concorrentes e levar á concentração industrial e de capital, em poucas mãos. A quantidade de
trusts que foram criados após a criação da Standard Oil Company, pelo Grupo Rockefeller, em
1882, nomeadamente de trusts de óleo de algodão (1884), óleo de linhaça (1885), álcool (1887),
açúcar (1887), chumbo (1887), entre outros, levou a que, em 1890, o senador John Sherman

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HEESDM, Página 24
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cria-se a “lei anti-trust” que proibia a monopolização do comércio para garantir a manutenção
do livre mercado. Como vemos, a lei não surtiu grandes efeitos e, assim, os Estados Unidos da
América transformavam-se no país dos trusts, onde os capitalistas desenvolveram as holding
companys, sociedades controladas onde se primava pela administração, gestão e controlo dessas
empresas. Em, 1913, o presidente Woodrow Wilson afirmava, com honestidade, que “os
capitalistas e os industriais são os donos do governo dos Estados Unidos.”3

Numa breve alusão às principais famílias monopolistas americanas da época, constam: os


Harriman; os Widener (que geriam a rede de elétricos da Filadélfia e que foram diretores de
bancos, companhias de eletricidade e de construção civil – construíram o Hotel Ritz-Carlton na
Filadélfia); os Morgan (que criaram a United States Steel Corporation, que surgiu da fusão das
empresas de aço de Andrew Carnegie, Elbert Gary e William Moore); os Carnegie (Companhia
de Aço Carnegie); os Rockefeller (que fundaram a Socony Vacuum e a Standard Oil Company,
a maior empresa do seu tempo na produção, refinação e transporte de petróleo); os Guggenheim
(família ligada à exploração de minas); os Ford (produção de automóveis); os Mellon (que
fundaram a Gulf Oil, empresa ligada à produção de petróleo); entre outras. Como é percetível,
os monopólios norte americanos controlavam a produção de bens de extrema importância,
nomeadamente o asfalto, a fiação de algodão, o chumbo, as bicicletas, o vidro, a resina, as
alfaias agrícolas, os couros, as munições, o tabaco, o whisky, o açúcar, para não falar nos já
mencionados.

Verificando-se, igualmente, um processo de concentração bancária, dominada pelos Rockefeller


e pelos Morgan, e, num plano onde cerca de 5300 fábricas eram controladas por 315 firmas, em
que se concentravam 40 % do capital industrial 4, apuramos, assim, a senda de progresso e
desenvolvimento em que se encontravam os EUA, às portas da Grande Guerra de 1914-18.

Título do capítulo

Chegados a 1914, a guerra irrompia nas trincheiras europeias, os campos fumegavam com os
projéteis e explosivos que lhes tinham caído em cima, a malograda indústria adaptava-se à
guerra, muito longe estava dos 43 % de produção que fornecia ao Globo, antes de 1913, as
populações refugiavam-se e tentavam adaptar-se aos novos tempos. Esta Europa, cujas nações,
antes de 1914, só gastavam cerca de 3 a 4 % do seu rendimento nacional para equipamento
militar, viu-se de braços com uma guerra fratricida que impulsionou a criação de uma indústria
de guerra, apoiada nas jovens indústrias do automóvel e da aviação e nas velhas e pesadas
indústrias dos caminhos de ferro e construção naval.

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HEDEUA, P55
4
Idem, p. 54
No outro lado do Atlântico repousavam os Estados Unidos da América. De olhos atentos, mas
isolados no mundo, as profundezas do oceano asseguravam-lhe alguma proteção. Seguiam
firmes no seu progresso e, já nessa altura, a sua balança comercial era amplamente positiva, já
que já enviavam 60 % das suas exportações para a Europa.

Um dos grandes efeitos da Primeira Guerra Mundial na economia americana surgiu da


dependência europeia a nível dos produtos e bens essenciais. Em tempos de Guerra, a fome e o
reabastecimento em alimentos é um dos principais problemas das Nações beligerantes. Até
1914, a América do Norte tinha já desenvolvido a sua agricultura de tal forma que já em 1875,
os EUA se tinham tornado o celeiro da Europa. Os efeitos da revolução anti esclavagista de
1861-65 (que aboliu a escravatura nas plantações e facilitou o desenvolvimento das forças
produtivas) e os frutos da Lei da Propriedade Rural (Homestead Act) promulgada em 1862, que
definia a posse de uma propriedade com 160 acres (64 hectares) a quem a cultivasse por cinco
anos, e ainda, com os incentivos de colonização das terras do Far West, a noroeste do
Mississípi, com grandes herdades onde a produtividade reinava, os números não mentem: em
1914, “a colheita de trigo tinha aumentado 70 por cento em relação a 1900; a de algodão, 58 por
cento e a de milho, 27 por cento.” 5 Entre as pequenas herdades do Norte e os grandes
latifúndios do Sul e Oeste que produziam cereais, os Estados Unidos, em 1914, eram já o seu
principal produtor, exportando um quarto da sua produção para a Europa.

Aos cereais juntava-se o carvão, cujos EUA extraíam 38.6 % do total mundial, e o ferro
fundido e aço, que dominavam com 40 % da produção mundial. A estes produtos juntavam-se
as armas, armas essas que por se ter lançado na guerra tardiamente, a América do Norte não
estava preparada para fabricar. No entanto, forneciam aos Aliados o aço necessário para as
fabricar, obtendo de Washington cerca de 1,5 milhões de toneladas de aço para obuses (boca de
fogo de artilharia). Forneciam, igualmente, gasolina, açúcar, metais não ferrosos, entre outros.
Segundo Pierre Léon, “em quatro anos, as suas vendas ao estrangeiro cresceram 30 % em média
por ano”6. Entre estas 40 % eram de objetos manufaturados, 33 % de matérias-primas e 27 %
géneros alimentícios. O abastecimento dos Aliados durante a 1ª Guerra Mundial simbolizou um
crescimento de 825 milhões em 1914 para 3200 milhões apenas dois anos depois.

Consequentemente, a sua balança comercial e de pagamentos saldava positivamente no após


guerra e o ouro afluía para os cofres americanos. A crescente procura de bens por parte das
Nações beligerantes ao longo da Grande Guerra, vai consolidar os números da produção tanto
agrícola quanto comercial e fortalecer a posição credora dos EUA, que se tornarão uma enorme
potência financeira. A nível mundial, segundo dados de Polianski e Shemiskine, a produção
americana representava para a produção automóvel, 80 %, na extração de petróleo, 66 %, na
5
HEDEUA, pág. 61
6
HSEDM , 34
extração de cobre e produção de alumínio, 60 %, na extração de carvão, 52 %, na extração de
chumbo e prata, 40 %, e, na fundição de ferro e aço, 40 %. O valor da produção industrial dos
EUA elevou-se de 23 900 milhões de dólares a 62 000 milhões.

O Atlântico tornava-se, assim, um cordão umbilical que garantia a orientação das trocas
comerciais desde o continente americano para a Europa.

A dependência europeia face aos EUA fazia-se sentir, igualmente, a nível económico-
financeiro. Os capitais investidos pelos Estados Unidos na Europa foram altamente
rentabilizados e acabavam por regressar aos Estados Unidos sob a forma de pagamentos pelos
débitos contraídos pela Europa. Os EUA foram vitais para a reconstrução e investimentos numa
Europa devastada pela Guerra. Entre 1917 e 1918, cinco grandes empréstimos renderam 21,4
mil milhões de dólares. A assistência prestada pelos EUA traduziu-se em milhares de milhões
de dólares para os países europeus. Para a Grã-Bretanha, em 1919, foram emprestados
4 166 318 milhares de milhões de dólares. Ao todo, a ajuda financeira americana em 1919
representou 9 431 170 milhares de milhões de dólares aos países europeus. A solidariedade
financeira aos Aliados estava assegurada, no entanto, era necessário que estes se mantivessem
obrigados a comprar nos EUA, o que alimentava o seu ciclo de aumento da produção industrial,
emprego, mais poder de compra e aumento das reservas de ouro do país, que mais tarde, pediria
com juros aquilo que emprestou. Segundo Pierre Léon, os EUA tinham-se tornado “o principal
centro de recolha das matérias-primas do Globo, enquanto as grandes direções das suas
exportações em nada tinham variado entre 1915 e 1920” 7, conseguindo substituir a Alemanha na
Europa no que respeita ao aço, à química e ao material ferroviário e marítimo. A América do
Norte concedeu cerca de 10 000 milhões de dólares, sobretudo nos primeiros anos do pós-
guerra. Calcula-se que estes ascenderam a 35 400 milhões de dólares. A banca dos EUA
ocupava um lugar primeiro no financiamento, nos empréstimos internos e externos e na
reestruturação das indústrias para a guerra, acabando por contrastar com as instituições
bancárias europeias que sofreram um eclipse durante o conflito. A partir de 1914, os EUA
tomaram as rédeas do poder financeiro e monetário, e da força industrial e marítima (em 1914,
era a Grã-Bretanha a lançar à água cerca de 70 % dos barcos novos descendo para os 30 % em
1918. Os EUA tiveram um aumento de 8 % em 1914 para 56 % em 1918, podendo já rivalizar
com a Grã-Bretanha no domínio pelos mares.)

Devido ao aumento de produção agrícola e industrial e a todo o financiamento chegado aos


cofres americanos, era de esperar um afluxo de ouro sem precedentes na sua História. Segundo
Pierre Léon, entre 1915 e 1918, os EUA teriam ganho 14,3 mil milhões de dólares, o que
representou um acréscimo de 1,2 mil milhões de dólares nas suas reservas de ouro. Os EUA
conheceram um aumento de 1838,1 milhões de dólares nas suas reservas de ouro, passando dos
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HEESDM. P. 33
691,5 milhões, em 1913, para os 2529,6 milhões, em 1921.Progressivamente, o dólar americano
ganhava prestígio, poder e importância em relação ao marco alemão ou à libra britânica e
assegurava o seu lugar no mundo dos negócios. Como representado no jornal satírico alemão
“Simplicíssimos”, o dólar tinha-se tornado o senhor do Mundo, uma moeda-chave para os
Aliados, que transformou os EUA de devedores a credores do Mundo e que solidificou a
hegemonia americana no Mundo.

Titulo de capitulo

Entrava o ano de 1920 e com ele uma nova década. O espírito de esperança e otimismo que
habitava as ruas contagiava todos aqueles que tinham sobrevivido à primeira Grande Guerra. O
Novo Continente florescia e prosperava graças aos frutos colhidos durante os anos anteriores.
Em Nova Iorque, os arranha-céus cresciam e aspiravam às coisas do alto, assim como ascendia
a América, vibrante por explorar o que até então fora inexplorado. As cidades efervesciam com
a migração de pessoas que a elas chegavam, porque a vida citadina era atraente, um verdadeiro
íman, que fez com que pela primeira vez naquele país, mais almas vivessem em cidades do que
nas zonas rurais. As ruas denominavam-se segundo esse progresso e desenvolvimento: em
Broadway, habitavam as últimas novidades do entretenimento; Madison Avenue era polvilhada
com a publicidade que unia a nação nos seus desejos e fantasias; Wall Street, personificava a
crescente economia e oportunidades da década; e era na 5th Avenue que moravam os tycoons,
os magnatas influentes das indústrias, que haviam adquirido dinheiro e poder. O número de
milionários havia subido 400 % em relação à década anterior e em famílias de classes elevadas
não era raro possuírem várias propriedades ou barcos. Entravamos assim na década de 1920, a
década de horizontes ilimitados, para quem tivesse a coragem de os atingir.

Título do capítulo

Às portas da década de vinte, os EUA apresentavam-se como o jovem modelo com que
sonhavam alinhar os outros países. Fornecedores dos países beligerantes (a nível de matérias-
primas e bens essenciais) e credores do Mundo, só em junho de 1918 as tropas se
comprometeram numa Guerra que acontecia a 10.000 quilómetros de distância. Seis meses
depois, após ter sido consolidada a “vitória” para os Aliados e com poucas baixas (100.000
soldados mortos e 200.000 feridos) as tropas retornavam a uma América em ascensão.
Recebidos em êxtase pela população, estes vinham a tempo de testemunhar uma, nunca antes
vista, época de prosperidade. No entanto, é preciso ter em consideração as fragilidades que
também ocorreram durante esta época.
A era da prosperidade revelou-se uma falácia para as populações ligadas à terra, que iniciavam
uma bem penosa época. Durante os anos bélicos, a subida considerável dos preços agrícolas
(que tinham mais do que duplicado) proporcionou-lhes uma reserva de riquezas sem igual. No
entanto, com a transição da indústria de guerra para a normalidade, os preços dos seus produtos
já não eram tão lucrativos como outrora e não compensavam os gastos de produção. Agora,
viam-se de braços com a concorrência dos cereais de outras zonas do Globo (nomeadamente do
Canadá, Argentina e Austrália), com o pouco uso das matérias-primas agrícolas nas indústrias
que emergiam e com a substituição do algodão pelos têxteis artificiais. Assim, a era da
prosperidade ficou marcada por uma crise agrária, que tinha reduzido a 50 milhões de hectares
(1924) o que, anteriormente, equivalia a 73 milhões de hectares (1919) de superfície semeada de
trigo na América do Norte.8Naturalmente, o valor da terra seguiu os mesmos passos, afetado
pela baixa dos preços agrícolas, diminuição dos mercados de escoamento e exportação e
restrições da imigração (de que falaremos adiante). Portanto, as condições dos fazendeiros
mudam drasticamente. Na obra História Económica dos Estados Unidos, prevê-se que “entre
1926 e 1928, foram vendidas em hasta pública mais de 430.000 herdades” 9.Os antigos
proprietários tinham agora de sujeitar-se ao estatuto de simples rendeiros. Pierre Léon conta que
nas regiões que tinham conhecido a maior prosperidade em tempos de Guerra, “dois terços dos
agricultores tinham sido reduzidos, em 1930, à condição de rendeiros” 10. Porém, nem todos os
agricultores viveram dias difíceis. Obviamente, os proprietários mais abastados e aqueles que
“tinham tido a sabedoria de não pedir emprestado para além de um limite prudente” 11 e dos que
inverteram a sua produção para as leguminosas e frutas, para estarem de acordo com o gosto dos
consumidores, conseguiram, aliando-se a instrumentos de mecanização da agricultura (como os
tratores, camiões e ceifeiras-debulhadoras) aumentar a sua produção e levar uma vida
confortável na sua propriedade. Infelizmente, estes eram uma minoria, sendo que, no ano de
1930, só 13,5 % das herdades dispunha de tratores.

Considerando as condições precárias que a crise agrária lhes submeteu, muitos antigos
proprietários abandonaram os campos em direção às cidades. Pierre Léon fala num êxodo rural
que ascendeu ao um milhão de pessoas nos anos que medeiam 1922 e 1930. Pela primeira vez
na História dos EUA mais pessoas viviam nas cidades do que nos campos.

A nova massa populacional que chega às frenéticas cidades americanas servirá de mão de obra
para a nova indústria que entra no processo de desmilitarização. Este não foi um processo fácil
considerando que “muitas empresas bélicas construídas pelo Governo à custa do contribuinte

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HEDEUA, P.72
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ficaram inativas ou foram vendidas por baixo preço aos monopólios” 12. A indústria americana
sofreu um processo de difícil adaptação à normalidade, estalando em 1920-1921 uma breve
crise em que a indústria transformadora sofreu uma diminuição de 22,6 %. Durante a era da
prosperidade, não se observariam quaisquer saltos bruscos no aumento da produção industrial.
Setores como o ramo hulhífero (produção de carvão mineral), o têxtil e o da confeção
mostraram sinais de estagnação, mas novos ramos industriais vinham à tona, usufruindo das
novas técnicas de mecanização, organização e automatização do trabalho.

Uma das indústrias que viu uma grande ascensão durante esta época foi a indústria da
construção civil. As cidades guerreavam entre si numa luta pelas alturas e pulverizavam pelas
suas ruas, edifícios que arranhavam os céus e que logo seriam ultrapassados por outros, mais
altos e imponentes. O que uns consideraram excêntrico e desmedido, outros viam nestes a
prosopopeia do espírito empreendedor, enérgico e otimista da América do Norte. A construção
civil, que também se impulsionou nos subúrbios, sob o lema da “qualidade de vida fora das
cidades” que começava já a ser pregado, absorveu toda a mão de obra, que com o êxodo rural
emigrou para as cidades, e simbolizou um importante fator de prosperidade económica. Essa é,
aliás, visível nos rendimentos dos operários da construção civil, onde como nos diz Pierre Léon,
se a base do salário para o conjunto das indústrias era de 100, o dos operários da construção
civil era de 250. Atentemos, porém, no facto de que: mesmo que o rendimento nacional tenha
duplicado durante este período, a percentagem do número de famílias que vivia com um
rendimento mínimo de 2500 dólares (o necessário para um decente living) era apenas de 29 %.

Juntando a uma subida salarial - que fazia parte da teoria da Democracia Económica, segundo a
qual os homens de negócios, os operários e os consumidores formavam um trio em que o
homem de negócios partilhava os seus lucros com os operários que depois investiriam uma
parte nos seus negócios e onde o consumidor gastava o seu dinheiro e, inconscientemente,
orientava a produção – uma redução do tempo de trabalho para oito horas diárias, a economia
americana do após 1ª. Guerra Mundial entra numa fase de consumo de massas que irá modelar a
América da década de 1920. O consumo de massas foi possível com a junção de esforços da
produção e da distribuição.

Corria o ano de 1911, quando Frederic Winslow Taylor escreveu a obra Princípios da Direção
Científica da Empresa, onde expunha o seu método de organização e divisão laboral que
permitiria desempenhar tarefas elementares e encadeadas, articuladas com os restantes
elementos da cadeia de produção. O resultado deveria ser a obtenção de objetos iguais,
perfeitamente estandardizados (uniformizados, de forma a permitir o fabrico em série e a
produção em massa) rentabilizando os recursos humanos e materiais para produzir com
qualidade e a baixo preço. Este processo foi recuperado em 1913, na cidade de Detroit, por
12
HEDEUA P. 73
Henry Ford. O crescimento económico acelerado que preconizava Taylor rapidamente foi
visível. O ritmo de produção alucinante a que estavam sujeitos os operários tinha elevado a
produção de automóveis Ford das 50.000 unidades para 1.000.000, em dois anos. Pierre Léon
aborda esta questão e afirma: “eram necessárias 14 horas de trabalho para produzir um veículo
na primeira fábrica, clássica, de Henry Ford, mas bastavam 93 minutos com o processo da
cadeia, utilizada por ele pela primeira vez em 1914; e, em outubro de 1925, das cadeias Ford sai
um automóvel de 10 em 10 segundos” 13. A produção de veículos Ford, modelo T, de cor preta
atinge um nível de expoente máximo onde a proporção é de um automóvel para 5 pessoas,
enquanto em países como a França, era de 1 para 44 ou na Itália de 1 para 325. Em 1914, um
Ford custava 550 dólares; dez anos depois, em 1924, apenas 295 dólares. O automóvel passa a
representar um estatuto social, mudando o sentido de autonomia e liberdade, de perspetiva e de
tempo do seu proprietário, que muitas vezes era operário da própria fábrica de Ford, que havia
aumentado os salários para incentivar ao consumo.

Estamos perante o consumo de massas, tão caraterístico da década de 1920, nos EUA. Aliadas a
uma indústria cada vez mais produtiva, as empresas monopolizam a distribuição dos produtos
através de sucursais, ou chain stores, que irão utilizar os meios de venda certos para atingir, lá
no fundo do cérebro, os inconscientes desejos e fantasias do povo americano.

Os billboards, grandes e coloridos, transformaram não só a paisagem física, mas também


cultural da miscelânea étnica, racial e social que pintava a face das cidades americanas, durante
os chamados the ballyhoo years. A publicidade ocupa, por volta de 1930, mais de 600.000
pessoas, “consome metade da produção da indústria tipográfica” e cobre “50 % a 75 % da
superfície da imprensa”14. O apelo ao consumo era constante através dos mass media, e quem
não tivesse dinheiro à mão não era ostracizado: entrava em jogo a venda a crédito. Tudo o que é
visível aos olhos e passível de ser comprado, desde uma peça de roupa a um automóvel era
possível adquirir através da política buy now, pay later, que dava uma falsa sensação de
segurança a quem dela usufruía, pois fazia-a viver acima dos seus meios. Em 1927, 75 % de
todos os bens da casa de um estadunidense era comprada a crédito. E, um dos utensílios mais
requeridos era o rádio. Em 1920, a estação de rádio KDKA da Westinghouse Company, desde
um teto de uma fábrica em Pittsburgh, transmitiu pela primeira vez, a 2 de novembro, os
resultados das eleições presidenciais. Em seis meses, todas as lojas vendiam rádios. Nove anos
depois, o rádio já estava presente num lar em cada três. De repente, todos ouviam as mesmas
coisas, riam-se das mesmas piadas, ouviam a mesma música (talvez uns blues de Bessie Smith
ou uma peça de jazz de Duque Ellington). O rádio trouxe uma sensação de comunidade e
tornou-se um veículo de excelência na propagação da cultura de massas. As salas de cinema

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começaram, igualmente, a ser frequentadas regularmente. Foi nesta década que se introduziu o
cinema falado e o cinema sonoro e ainda hoje são reconhecidos nomes como Charlie Chaplin ou
Bebe Daniels. A “Era do Espetáculo” ficou também na história desta cultura de massas com o
contributo do desporto, nomeadamente de Babe Ruth (basebol) que batia records de home-runs
e enchia estádios.

A cultura de massas introduziu uma sensação de pertença a uma sociedade, muitas vezes,
dividida. Esta sociedade idolatrava, agora, os businessman, que lhes haviam garantido emprego,
altos salários para alimentar o sonho americano imbuído no american way of life, e sonhar com
um dia, frequentando os business courses, agora ensinados nas mais prestigiadas universidades,
poder fazer parte dessa elite.

Título do capitulo

Depois de dias a navegar pelas águas tumultuosas do Oceano Atlântico, eis que avistavam terra.
A ilha de Ellis, situada no rio Hudson, em Nova Iorque, foi durante muito tempo o primeiro
vislumbre, para muitos imigrantes, de uma nova vida a começar. Estima-se que cerca de 12
milhões de pessoas a tenham pisado ao chegar ao novo continente.

Titulo do capitulo

Não será errado dizer que os Estados Unidos da América estiveram, muitas vezes, dependentes
dos recursos humanos vindos de toda a parte do Globo. Muito brevemente, durante os finais do
século XIX, a imigração para a América do Norte revelou-se muito intensa, tendo chegado a
atingir os impressionantes números de cerca de 2.500.000 pessoas, a cada decénio. Na obra
História Económica dos Estados Unidos é-nos relatado que na segunda metade do século XIX,
mais de 14 milhões de imigrantes se instalaram nos EUA 15. Destes, só da Rússia foram dois
milhões (entre 1891 e 1909). Muitos foram também os irlandeses que rumaram além Atlântico,
motivados pela Fome da Batata (1845-1849). Uma praga contaminou a batata, um alimento
importantíssimo na dieta irlandesa, causando uma mortandade que se estendeu ao 1.000.000 de
pessoas e provocou a fuga a cerca de 20 % da população da ilha. Em 1850, os irlandeses
representavam um quarto da população de Boston, Nova Iorque, Filadélfia e Baltimore. No
mesmo período registou-se uma clara imigração alemã, de maioria católica. Os Estados Unidos,
rapidamente, entram em crescimento populacional, com grande parte destes imigrantes a
instalarem-se nas cidades, tendo uma evolução de 31.400.000 habitantes (1860) para 76.000.000
na viragem do século e 92.000.000 habitantes, em 1910. Estes imigrantes vieram em busca de
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HEDEUA. P. 45
melhores condições de vida, salários mais altos e, muitos deles, usufruíram das leis de atração
de imigrantes, promulgadas pelos governos da época. Um desses exemplos reside na
Homestead Act, ou Lei da Propriedade Rural, promulgada por Abraham Lincoln, em 1862, que
definia a posse de uma propriedade de 160 acres (64 hectares) a quem a cultivasse por cinco
anos. Esta lei foi amplamente divulgada pela Europa através de panfletos que pretendiam atrair
as populações para a América do Norte e mostrar o preço baixo (de cerca de 4 dólares) por essas
propriedades. Esta lei foi incrivelmente frutífera sendo que “foram distribuídas terras (…) a
cerca de um milhão de pessoas”16. A colonização intensiva do Oeste assumiu proporções
astronómicas. Vejamos: em 1890, todas as terras férteis estavam já ocupadas. A indústria colhia,
igualmente, os frutos da imigração. Esta, porém, trabalhava em condições desumanas, onde
eram explorados exaustivamente, com longas jornadas de trabalho, e colocados a fazer os
tarefas mais duras: muitos foram os imigrantes que se sujeitaram às minas, por exemplo.
Segundo a própria Comissão de Imigração dos EUA, em 1911, os imigrantes e negros
“recebiam cerca de metade do salário correntemente atribuídos aos operários americanos de
pele branca”17.

Esta política de “portas abertas” não foi, no entanto, bem aceite por todos. Logo que começaram
a chegar os irlandeses e alemães católicos e começaram a criar as suas próprias cidades, bairros
e igrejas, estes começaram a ser atacados, minados pelas consciências que acreditavam na
superioridade racial e na xenofobia. Vários grupos anti-imigração confluíram no movimento
Know-Nothing, que abrangia apenas homens brancos, protestantes e nascidos na América, que
chegou a agregar mais de um milhão de pessoas. Estes defendiam a ampliação do período de
residência para 14 anos antes de se obter a naturalização e a proibição de estrangeiros de
assumirem quaisquer cargos públicos. A questão da naturalidade só ficou, legalmente,
“resolvida” quando em 1868, foi promulgada a 14ª. Emenda que naturalizava todos, segundo o
princípio jus soli, ou seja, todos os que nascessem em território americano, mesmo sendo de
descendência imigrante, tinham direito à nacionalidade.

Pareciam ser intrínsecos os valores partilhados pelos opositores à imigração: “a aversão ao


estrangeiro, que não fala a língua de toda a gente”, a “aversão ao judeu, manobrador de dinheiro
e usurário” e a “desconfiança relativamente à Igreja Católica” 18e, ao eclodir da 1ª. Guerra
Mundial, todas essas fragilidades revelaram-se uma vez mais. A sociedade americana estava
imbuída num espírito de desconfiança, intolerância e conformismo, que se vai alastrar à forma
de tratamento e de hospitalidade dos imigrantes. Corria o ano de 1915, quando em Atlanta, é
fundado o Ku Klux Klan. Esta organização chegou a atingir os 5 milhões de filiados (1924),
cobrindo, maioritariamente, o Sul, mas percorrendo toda a Nação. Recrutando, principalmente,
16
HEDEUA. P. 6
17
HEDEUA. P. 57
18
HEESDM, P. 175
entre “os cidadãos americanos de origem “nórdica” e da pequena burguesia” 19, conseguiram
chegar ao controlo de sete estados americanos. Estava patente um confronto de ideias colossal
em que se enfrentavam os benefícios do futuro e os confrontos do passado, a intolerância e a
aceitação.

Esta intolerância era praticada sobretudo contra os imigrantes negros, que recheavam o mercado
de trabalho quando este necessitava de mão de obra, atraídos pela oferta de emprego e pelo
nível dos salários. Inicialmente, limitavam-se a “profissões desdenhadas pelos brancos” 20,
porém quando pretenderam melhorar o nível de vida e começaram inclusive a entrar nos
governos municipais de Chicago, estrearam-se os conflitos com brancos.

O controlo que era exercido por parte dos intolerantes nos governos estadunidenses traduziu-se
nas leis de imigração do país.

Em 1917, o Congresso americano aprovou a Lei de Imigração, conhecida como Lei da Zona
Proibida da Ásia (que vem na sequência do Ato de Exclusão Chinesa, 1882). Esta reduziu,
drasticamente, a imigração para os EUA, proibindo imigrantes da Índia britânica, do Sudeste
Asiático, Ilhas do Pacífico e Médio Oriente. Exigia um teste básico de alfabetização para todos
os imigrantes e homossexuais, proibindo as entradas àqueles que fossem analfabetos ou
tivessem deficiências mentais ou físicas. Aumentou, também, o imposto de renda exigido à
entrada de um para oito dólares. A lei surtiu efeito diminuindo de 295.000 para 111.000, as
pessoas que entraram nos EUA, no ano posterior.

Quatro anos depois, este controlo massificou-se para poder controlar os “mais de 800.000
imigrantes que caem sobre os Estados Unidos” 21, vindos da Europa Meridional e Oriental.
Assim, o Congresso aprova a Lei de Quota de Emergência (1921), aceite apenas com um voto
contra. Esta restringiu o número de imigrantes admitidos de qualquer país, anualmente, a 3 %
do número de residentes daquele país (vistos através dos Censos de 1910), o que à partida
favorecia os europeus do norte e ocidentais e desfavorecia os eslavos, judaicos e latinos (cuja
imigração antes de 1910 era insignificante). No entanto, apesar de surtir algum resultado, a
população barrada foi rapidamente substituída pela população do Canadá, América Latina,
México, Cuba e Terra Nova.

Já em 1924, a Lei Johnson-Reed acompanhou esta tendência legislativa. Vigorou de 1924 a


1965 e criava um regime de limitação a um máximo de 2 % (diminuindo os 3% da Lei de 1921)
cujos alvos eram os italianos e judeus, que imigravam em massa nesta data. Com esta lei
instituiu-se a Guarda de fronteira, para reprimir a figura do imigrante ilegal.

19
HEESDM, P. 174
20
HEESDM, P. 175
21
Idem p, 176
A paranoia nacional que elevava os imigrantes que procuravam refúgio a “aliens” (segundo a
própria Lei de 1921), levou a um aumento enorme do número de deportações, sobretudo a partir
de 1925. O número de estrangeiros expulsos aumentou de 2.762 (1920) para 9.495 (1925) para
38.795 (1930).

A conceção da nação americana de um estrangeiro que é um violador da lei desde o começo


(Escritório de Imigração, 1927) colocava o princípio da soberania nacional e da defesa dos
americanos acima de tudo. Ainda assim, a América continuava a ser o destino predileto, para
onde queriam rumar os imigrantes
Bibliografia

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