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O primeiro poço de petróleo a ser explorado comercialmente foi aberto em 1859, na Pensilvânia
(EUA), sua principal utilidade era como combustível para iluminação. Em agosto de 1859, o
empresário norte-americano Edwin Laurentine Drake, perfurou o primeiro poço de petróleo, com
apenas 21 metros de profundidade, no estado da Pensilvânia. Nos primórdios da exploração
petrolífera a competição era predatória: quando se anunciava uma nova descoberta, havia uma
corrida para aquisição das terras vizinhas ao poço, com o objetivo de explorá-las exaustivamente.
O aumento da produção reduzia substancialmente os preços, até que o esgotamento dos poços
provocasse nova alta. As dificuldades de estocagem faziam com que toda a produção fosse
imediatamente ofertada ao mercado.
Em 1870, surgiu nos EUA a empresa denominada Standard Oil, criada por John D. Rockefeller. A
empresa foi pioneira na atuação verticalizada da indústria, ou seja, ela passou a organizar sua
atuação estratégica por toda a cadeia produtiva, dos sistemas de refino à distribuição e
transporte. Assim, Rockefeller conseguiu diminuir os riscos da atividade e a flutuação dos preços
do produto, garantindo alta lucratividade para sua companhia e subsidiárias.
Pouco depois de fundar sua empresa, Rockefeller já controlava 10% do segmento de refino. Nos
anos 1880-1890, controlava 90% do transporte ferroviário e oleodutos. Além disso, expandiu sua
atuação para a Europa, Ásia, África do Sul e Austrália: em 1890, 70% de suas atividades eram
desenvolvidas fora dos EUA. Ainda nesse ano, a Standard Oil possuía 39 refinarias de petróleo
nos EUA, 100 mil empregados, 6.500 km de oleodutos e 20 mil poços de petróleo espalhados
pelo globo – isso representava cerca de 90% da capacidade mundial de perfuração, refino e
distribuição, constituindo um verdadeiro monopólio mundial.
A atuação monopolista da Standard Oil foi questionada por seus concorrentes durante mais de
vinte anos na Justiça dos Estados Unidos. Até que, em 1911, o Supremo Tribunal dos Estados
Unidos ordenou a divisão da companhia em 34 novas empresas independentes. Entre elas,
destacavam-se a Standard Oil of New Jersey (ESSO), a Standard Oil of New York (Socony,
posteriormente denominada Mobil) e a Standard Oil of Califórnia (Socal, posteriormente
denominada Chevron). Mais tarde, elas compuseram, com outras duas grandes empresas dos
Estados Unidos (Texaco e Gulf) e mais duas européias (BP e Shell), o cartel chamado de as
“Sete Irmãs”, criado para disputar o mercado internacional do petróleo (figura 1)
Figura 1 – Logomarcas das “Sete irmãs do petróleo”
O início do século XX é marcado por acirradas disputas pelas reservas mundiais de petróleo, em
especial no Oriente Médio e pela busca de petróleo em novas regiões, como Sudeste Asiático,
Venezuela, Egito, Rússia e México. As “Sete Irmãs” perceberam que o controle do suprimento de
petróleo era importante para não ocorrer superprodução e guerra de preços. Diante disso,
começaram a atuar de maneira integrada, com o objetivo de eliminar a concorrência e controlar o
mercado mundial. Como a oferta de petróleo estava descentralizada em um número crescente de
países, essas companhias passaram a adotar concessões, sobretudo no Oriente Médio. No
regime de concessão, uma das “Sete Irmãs” "arrendava" a reserva e pagava uma pequena parte
para o país onde se situava. As sete empresas operavam como um cartel internacional,
coordenando suas ações para evitar a concorrência. Assim, controlavam as reservas e os canais
de distribuição. Os contratos de concessão introduziram a estratégia do controle geográfico. Eles
eram assinados por cem anos ou mais, cobrindo grandes áreas territoriais e determinando preços
baixos para os países produtores e exportadores de petróleo fora do consórcio. Os governos dos
países desenvolvidos proporcionaram um ambiente político militar favorável para essas ações e
apoiaram ativamente as companhias petrolíferas durante o período.
O domínio das “Sete Irmãs” recuou por força de intervenção política. No início dos anos de 1950,
o Irã quebrou um acordo com uma empresa de petróleo do Reino Unido e nacionalizou as ações
da empresa no país. Outros países produtores tomaram medidas idênticas, colocando fim ao
domínio absoluto do cartel.
Em virtude desse processo, países produtores do Oriente Médio conseguiram melhorar condições
contratuais, diminuindo os prazos de concessão e a área geográfica e aumentando a tributação
sobre os lucros das companhias petrolíferas. Paralelamente, empresas petrolíferas menores
passaram a conseguir espaço em mercados internacionais, reduzindo gradativamente o poderio
econômico das “Sete Irmãs”.
Em 1960, alguns dos maiores exportadores mundiais de petróleo – Irã, Iraque, Kuwait, Arábia
Saudita e Venezuela – reuniram-se para criar a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP), com o objetivo de coordenar a política petrolífera dos países-membros,
aumentando a renda obtida com o petróleo. Esses países não estavam satisfeitos com os baixos
preços à época, que reduziam significativamente suas receitas públicas.
Em 1962, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o direito de todo Estado
soberano poder dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais, levando em consideração
suas estratégias de desenvolvimento. Essa resolução fortaleceu países produtores de petróleo,
sobretudo os da OPEP. Para os Estados do Oriente Médio, em particular, a situação de soberania
sobre os recursos naturais e de fortalecimento da OPEP correspondia a sua própria
independência.
A OPEP teve o importante papel político de enfraquecer o cartel das “Sete Irmãs” e passou a
operar como um novo cartel, em substituição ao existente anteriormente. Sua formação significou
uma restrição das estratégias de controle total das reservas pelas grandes empresas, passando a
OPEP a controlar o mercado de forma mais visível a partir do chamado primeiro choque do
petróleo (forte aumento dos preços), em 1973. O choque de 1973 representou uma séria
dificuldade para as economias capitalistas, que dependiam da importação do petróleo. A partir de
então, o Oriente Médio, onde se localizam as maiores reservas mundiais, passou a ser visto
como área prioritária das estratégias geopolíticas mundiais.
Em 1973, um fato político levou ao que hoje denominamos de primeiro choque do petróleo. A
chamada Guerra do Yom Kippur, entre Israel e as nações árabes, envolveu vários países
ocidentais, inclusive os EUA, Países Baixos (Holanda) e Portugal. Amsterdã constituía um
importante ponto estratégico, pois era o principal redistribuidor europeu de combustível. Em
Portugal localiza-se a base das Lajes, o principal ponto de abastecimento estadunidense para o
fornecimento de armas para Israel.
Com o objetivo de pressionar os EUA e a Europa, que apoiaram Israel nos conflitos, os árabes
uniram-se, reduzindo a produção de petróleo, mais do que triplicando os preços do barril (figura 2)
e dando origem a uma crise que afetou toda a economia mundial. Essa situação causou pânico e
confusão nos países desenvolvidos. A Europa e o Japão foram obrigados a racionar energia. Os
EUA travaram o consumo e investiram em suas reservas. Os países emergentes, como o Brasil,
foram muito afetados, pois o encarecimento dessa fonte de energia gerou um desequilíbrio em
suas frágeis economias. A primeira crise do petróleo foi o principal responsável pela criação do
Proálcool (Programa Nacional do Álcool), criado pelo governo brasileiro para tornar o álcool
gerado a partir da cana-de-açúcar como uma fonte de energia substituta do petróleo. Desde
então, os países produtores de petróleo tornaram-se controladores do mercado, pois as
companhias petrolíferas perderam espaço diante das nações produtoras.
Figura 2 – Cotações do barril do petróleo na década de 1968 a 1978
Em janeiro de 1979, um evento político – a queda do Xá (rei) Reza Pahlevi, no Irã, seguida da
instalação de uma república islâmica, liderada pelo Aiatolá Khomeini (chefe religioso) levou o
mundo a um segundo choque do petróleo, com a paralisação da produção iraniana. A guerra
entre Irã e Iraque, iniciada em 1980, agravou a situação, triplicando novamente o preço médio do
barril na época (figura 3). Tropas do Iraque, que contavam com o apoio dos EUA e da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), invadiram o vizinho Irã e não conseguiram derrubar o
governo islâmico. A guerra estendeu-se por dez anos e deixou marcas profundas na economia
mundial mais uma vez.
Uma das principais consequências dos choques do petróleo foi o surgimento de novas áreas
produtoras, não pertencentes ao cartel da OPEP. Além disso, a crise suscitou projetos de
substituição energética – dos combustíveis fósseis por fontes alternativas – e de conservação de
energia. Com o passar do tempo, os limites impostos pela OPEP foram sendo desrespeitados por
alguns países membros, o que enfraqueceu a organização como reguladora do mercado de óleo
e gás.
No início dos anos 1990, o Iraque pressionava a OPEP a diminuir a produção de petróleo como
forma de aumentar o preço, o que lhe daria mais recursos para sua reconstrução. Mas o Kuwait
aumentou sua produção, não seguindo as cotas da OPEP, e ainda retirando petróleo dos campos
iraquianos que se encontravam na divisa territorial Kuwait-Iraque. Além disso, o Kuwait tinha uma
infraestrutura portuária muito melhor que a do Iraque, que fora em grande parte destruída durante
a guerra nos anos 1980. Assim, com o intuito de aumentar seu poder regional e obter uma saída
maior para o Golfo Pérsico, o presidente do Iraque, Saddam Hussein, iniciou a guerra, anexando
o Kuwait ao território iraquiano, em agosto de 1990.
A resposta dos países árabes e dos EUA foi rápida, exigindo sanções da ONU, entre elas um
embargo comercial e a autorização para o envio de tropas. No início de 1991, forças militares
invadiram o Kuwait para retaliar dali as tropas iraquianas. A invasão do Kuwait por uma coalizão
liderada pelos EUA ficou conhecida como “Operação Tempestade no Deserto” e pôs fim à
ocupação iraquiana. Vários países da região abrigaram tropas estadunidenses em seu território,
principalmente o Kuwait, que permaneceu controlado pelos EUA durante um bom tempo.
A chegada de Hugo Chávez ao poder na Venezuela (1999), grande produtor mundial de petróleo,
provocou uma nova escalada do preço do barril. Em seguida, com a recessão americana e os
atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente em exercício nos Estados Unidos, George W.
Bush, mostrou-se determinado a invadir militarmente o Iraque. As justificativas eram o apoio
de Saddam Hussein ao terrorismo internacional, a defesa da democracia e a existência de armas
de destruição em massa no território iraquiano, mesmo após várias inspeções da ONU, que não
encontraram tais armas.
Novos confrontos
Em 2012 e 2013, os EUA acusaram o Irã de fomentar um programa de energia nuclear para fins
militares, sendo que fortes embargos econômicos foram impostos ao país. A Rússia cortou o
fornecimento de gás natural da Ucrânia e ameaçou fazer o mesmo com a Europa caso
interferissem na questão. E assim a história geopolítica do petróleo continua sendo escrita.