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Sumário:
1- Introdução
2- O interesse do Direito Econômico no tema
3 – Elementos formadores da Política Econômica do Petróleo
3-1 Estado e organização do mercado internacional do petróleo no início do século XX
3-2 A negação da soberania nacional como forma de organização do mercado internacional do
petróleo
4 – A organização da produção petrolífera no Brasil
4-1 O período liberal republicano
4-2 A primeira fase de regulamentação
4-3 O breve período de proteção à iniciativa privada nacional
5 – O Estado empresário
5-1 O monopólio estatal do petróleo
5-2 A difícil efetivação do monopólio do petróleo
6 – A Constituição de 1988: O retorno do monopólio do petróleo
6-1 – A quebra do monopólio: O modelo regulatório
7 – O modelo regulatório do pré-sal
7-1 – A manutenção da intervenção do Estado no modelo regulatório
7-2 – A proposta governamental para o marco regulatório do pré-sal
8 – Conclusões
2
1- Introdução
Após o anúncio da descoberta do campo de Tupi, na bacia de Santos, em 2007 o termo pré-
sal, ou seja: “conjunto de rochas localizadas nas porções marinhas de grande parte do litoral
brasileiro, com potencial para a geração e acúmulo de petróleo.” (Petrobrás, 2010) tornou-se
A porção do litoral brasileiro com potencial produtivo de petróleo na camada de pré-sal, até
este momento confirmada, possui a extensão de 800 km e vai do Espírito Santo a Santa Catarina
apresentando campos petrolíferos cuja quantidade ainda não foi calculada de forma definitiva.
com estimativas entre 5 e 10 bilhões de barris (Petrobrás, 2010) existindo noticias de uma reserva
Petróleo (ANP) Haroldo Lima. (Estado de São Paulo, 2008). De qualquer forma estes números,
quando comparados com as reservas nacionais provadas em 2008 de 12,8 bilhões de barris (ANP,
2008), mostram a importância destas novas áreas de exploração petrolífera para a economia
nacional.
O formidável aumento das reservas brasileiras de petróleo terminou por suscitar debates em
torno da política econômica a ser adotada no setor petrolífero nacional a partir do pré-sal
domínio econômico versus competência absoluta das empresas privadas. Neste ponto consideramos
necessária uma reflexão a respeito do tema a partir da análise das políticas econômicas do petróleo
desenvolvimento.
um dos fatores da produção estando associado à idéia de "recurso natural" ou como "matéria prima"
sendo encontrado, por isso, na base do processo produtivo que pode ser entendido como "utilização
3
pelo homem dos recursos naturais, ou seja, das coisas existentes na natureza, e que tenham
capacidade de satisfazer as suas necessidades" (SOUZA 2005) transformando, deste modo, a sua
(SOUZA 2005). Esta característica disciplinadora apresenta-se revestida pela norma jurídica,
resultante não somente da natureza econômica da produção e sim acrescida de sua projeção social, e
Consideram-se por este motivo os recursos minerais - o petróleo incluido - como bens
soma dos interesses econômicos e sociais presentes neste elemento da produção determinaram, ao
longo da história, diferentes modelos para sua exploração apresentando-se desde a utilização plena
representadas de acordo com a localização destes na crosta terrestre, dividida para este fim, em solo
Para entendimento destes aspectos o Direito Econômico busca, de forma inicial, uma análise
entender a política econômica relativa ao tema considerando os aspectos - muitas vezes conflitantes
empresas estadunidenses1 e duas européias2 aspecto revelador do caráter concentrador deste setor
cuja origem encontra-se diretamente relacionada a política econômica do petróleo adotada nos
países sede.
associada ao subsídio do setor fato observado nos Estados Unidos, a participação direta do Estado
Nos Estados Unidos a adoção da concorrência regulada para o ramo petrolífero é observada
a partir da Sherman Act (1890), aprovada para eliminar o truste da Standard Oil formado naquele
momentos distintos: O primeiro em 1892 por determinação da Suprema Corte de Ohio resultando
independentes que, na prática, mantinham o monopólio ao apresentarem como sócio oculto John
Davidson Rockefeller controlador das antigas empresas. O segundo momento verifica-se em 1911
quando a Suprema Corte determina a dissolução definitiva do truste naquele ano controladora de
países"(VICTOR, 1991).
nos Estados Unidos, através da “Revenue Act” (1913) passando os investimentos petrolíferos
estadunidenses a contar com “(...) subsídio razoável diante da possibilidade de esgotamento dos
1
Standard Oil de Nova Jersei representada na marca Esso transformada no ano de 1972 em Exxon Corporation;
Standard Oil of New York representada na marca Mobilioil; Standart Oil of California representada na marca Chevron,
Gulf Oil de Pittsburg, Texaco do Texas
2
(Royal Dutch Shell, Anglo-holandesa e British Petroleum empresa britânica)
5
No ano seguinte a criação do subsídio ao petróleo nos Estados Unidos, através da “Revenue
Act”, o governo inglês também adota uma política intervencionista para o setor assumindo o
controle acionário da "Anglo-Persian Oil Company"3. Esta empresa, quando privada, operava a
partir das concessões oferecidas pelo governo iraniano em 1909 a Willian Knox D'arcy que
desejava monopolizar o setor petrolífero naquele país e para este fim contou com o auxilio do então
dos motores a carvão, por combustível derivado do petróleo nos navios de guerra britânicos
(ODEL, 1974) e não possuindo reservas próprias transformava-se em questão de segurança nacional
´arcy - foi alcançado através da associação entre capital privado e poder militar, aspecto facilmente
qual o governo inglês participava de forma minoritária preservando em seus lugares os antigos
diretores.
A partir deste quadro podemos observar que o controle do mercado internacional do petróleo
intervencionista aspecto muito distante da famosa “mão invisível”. Controlar o setor de energia
implica influenciar diretamente no processo produtivo e neste aspecto sequer Adam Smith admitiu
liberdade total defendendo o Estado como elemento disciplinador de sua distribuição através do
(...) O preço do combustível exerce tão importante influência sobre o trabalho, que em toda
a Grã Bretanha as manufaturas se tem confinado principalmente aos países produtores de
carvão; outras partes do país, devido ao preço elevado desse bem de primeira necessidade,
não conseguem trabalhar tão barato. Além disso, em algumas manufaturas, o carvão é
instrumento necessário de comércio(...) Se algum subsídio pudesse, em qualquer caso ser
aceitável, talvez devesse ser sobre o transporte de carvões dessas partes do país onde
abundam, para as que são necessitadas. Mas a legislatura, em vez de uma subvenção lançou
imposto (SMITH, 1999).
3
A Anglo-Persian Oil Company foi posteriormente transformada em British Petroleum e sua privatização ocorreu a
partir de 1981 durante o governo de Margareth Thatcher.
6
Observe que Adam Smith analisa a organização do mercado considerando a realidade
política e econômica da Inglaterra possuindo este país uma série de povos tributários cuja finalidade
seria a oferta de matéria prima. Este processo, seguindo os princípios do pensamento liberal
excedente aos produtores de matéria prima, que satisfazendo as necessidades internas com produtos
industrializados a baixo preço acumulariam o capital suficiente para constituir– no devido tempo –
o seu parque industrial alcançando deste modo um elevado grau de riqueza,4 entendida neste caso
petróleo
Para manter o equilíbrio natural do mercado defendeu Adam Smith uma atenção especial
aos países pobres considerados, em sua obra, não civilizados. Entendia o autor, ser o desequilíbrio
resultante responsável por gerar a inveja criando a necessidade de proteção dos mais favorecidos:
(...) a prosperidade dos ricos provoca a indignação dos pobres que muitas vezes são levados
pela necessidade e influenciados pela inveja a apropriar-se de seus bens. (...) [o rico] está
sempre rodeado de inimigos desconhecidos que, embora nunca tenha provocado, nunca
conseguirá acalmar (SMITH,1999).
principio o uso da força observando o pai do liberalismo econômico que: "a invenção das armas de
fogo, uma invenção que à primeira vista, parece ser tão nefasta, é certamente benéfica não só à
diretamente associada a menor ou maior obediência destes às necessidades comerciais dos países
4
Adam Smith observa que a riqueza de um país está representada no controle da quantidade de trabalho e nas forças de
geração de energia – incluindo a alimentação dos operários - existente no mercado universal. Desta forma seria natural
entender este controlador como possuidor de maior grau de civilização sujeitando o termo ao desenvolvimento
tecnológico.
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grave ameaça à estabilidade do mercado mundial. Neste sentido a soberania nacional seria apenas
admitida como autonomia para a criação de um sistema jurídico voltado, internamente, para a
manutenção do quadro internacional. Para Ferrajoli (2002) esta situação favoreceu a criação de um
caráter "absolutista" na relação entre os países diante da inexistência de uma "constituição" com
poderes de limitar ou regular a ação de um país mais forte sobre um mais fraco.
A soberania assume - assim - um caráter de não plenitude visto que sujeita-se a normas
gerais de relacionamento caracterizadas pela manutenção de uma estrutura econômica e politica que
no minimo exige - daqueles em uma fase inicial de superação das etapas de crescimento - uma
funcionamento ideal da economia a partir das necessidades do mais rico, suas decisões internas
para garantir não somente uma industrialização futura, mas também os recursos necessários para a
compra da energia para a movimentação desta, entendendo que ao esgotar os recursos naturais os
A soberania de um Estado, em relação aos demais, estaria pautada por este respeito às
normas básicas da economia entendendo-se que seria dever proteger-se contra possíveis desvios
prejuízos ao mercado externo. Assim tornar-se-iam legítimas as ações de força cujos objetivos
políticas econômicas para o setor nas quais assumam o controle do bem econômico e iniciem a
utilização do poder econômico gerado de acordo com as necessidades nacionais. Deste modo as
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modificações observadas quanto a propriedade do bem mineral e econômico petróleo visando
transferir ao Estado o seu controle ou mesmo sua regulamentação, via de regra, surgem de
Estado a propriedade dos recursos minerais, entretanto somente em 1938 a produção de petróleo foi
estatizada sofrendo este país sansões econômicas, principalmente, por parte dos Estados Unidos e
Inglaterra. Também podemos citar o caso boliviano quando após a Guerra do Chaco (contra o
durante o citado conflito quando a Standard Oil instaladas naquele país, negou-se a cumprir as
ordens de abastecimento das forças armadas. No Brasil a regulamentação do setor petrolífero ocorre
a partir da Constituição de 1934, esta como resultante do processo da Revolução de 1930, e criação
no mesmo ano do primeiro Código de Minas, entretanto, somente em 1953 teríamos o processo de
princípios liberais clássicos nos quais combinam-se liberdade política e econômica. Para este fim o
citado diploma, rompendo com a tradição dominial portuguesa, determinava em seu artigo 72
parágrafo 17 que: “as minas pertencem aos proprietários do solo, salvas as limitações que forem
estabelecidas por lei a bem da exploração deste ramo de indústria" (BRASIL, 1891).
vastas áreas com potencial petrolífero por empresas estrangeiras, notadamente a Standard Oil, cuja
forma de organização e proteção dos países de origem tratamos neste trabalho. Assim possuíam as
petrolífera no Brasil. Calógeras apresenta em 1903 – através de seu livro “As minas do Brasil e sua
papel regulamentador atuando – inclusive – de forma direta no setor produtivo (FGV 2005).
dogma liberal do direito absoluto da propriedade criando a figura do descobridor de minas que teria
o direito de exploração de uma área, mesmo com proprietário conhecido e oferecendo ao Estado a
oportunidade de explorar áreas com potencial mineral. Todavia seu alcance foi reduzido em função
1968)
Durante o governo Arthur Bernardes ocorre uma singela, mas significativa modificação
à agentes brasileiros, com a proibição das transferências de áreas com potencial de mineração à
o capital nacional também buscava participar do setor através da organização de empresas seguindo,
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em muitos casos o modelo existente nos Estados Unidos. O escritor Monteiro Lobato representou
este empresário pioneiro e organizou diferentes empresas cujo financiamento ocorria através da
produção, todavia em decorrência de sua postura pioneira surgem intensos debates relativos a
viabilidade da exploração petrolífera nacional tendo em vista a existência, até a década de 1930, de
(...) é obvio que as companhias importadoras não têm interesse no desenvolvimento das
fontes de petróleo que o Brasil indubitavelmente possui, interessando-lhes mais, dada a
atual superprodução dos diversos fields em exploração, a escravização petrolífera do Brasil.
É porém evidente que dadas as atuais condições, as empresas americanas tem que
acimparar o solo potencialmente petrolífero para assim defender os seus negócios de
importação, do que resulta o interesse que demonstram em impedir a exploração (LOBATO
1968).
As grandes empresas petrolíferas privadas para sua consolidação recorreram ao apoio direto
do Estado enquanto no Brasil a força da tradição colonial somada ao dogmatismo liberal trataram
de sepultar as iniciativas empresariais do capital nacional. Todavia, diante das constantes crises em
O período iniciado a partir da Revolução de 1930 apresenta como consenso, entre os grupos
nosso.
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A primeira Constituição da chamada “era Vargas” foi promulgada em 1934 e, do ponto de
Por motivo de interesse público e autorizada em lei especial, a União poderá monopolizar
determinada indústria ou atividade econômica, asseguradas as indenizações, devidas,
conforme o art. 112, nº 17, e ressalvados os serviços municipalizados ou de competência dos
Poderes locais (BRASIL 1934).
exclusiva de legislar sobre o tema, o fim do regime de ascensão (artigo 118) a necessidade de
concessão ou autorização federal para exploração de minas e jazidas (artigo 119), a exigência de
nacionalidade brasileira ou de constituição de uma empresa nacional para atuar no setor mineral
(artigo 119 § 1º), nacionalização das jazidas e minas julgadas básicas ou essenciais à defesa
econômica ou militar do país (artigo 119 § 4º), manutenção das antigas autorizações de exploração
(artigo 119 § 6º), com a seguinte ressalva em seu artigo 12 das disposições transitórias:
através do Decreto n.º 24642 de 10/07/1934 criando o Código de Minas regulamentando, inclusive,
as atividades relacionadas a exploração petrolífera. Através deste diploma legal poderemos observar
Este quadro revela uma nítida interferência dos grupos internacionais – ironicamente – no
se de uma eventual disputa entre empresas do setor. O ministro responsável por conduzir o processo
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de elaboração do primeiro Código de Minas, Major Juarez Távora, resume esta situação a partir do
seguinte comentário:
seu parágrafo 5º do artigo 3º do Código de Minas que: "As autorizações de pesquisa e concessões
(BRASIL 1935). Todavia, observaríamos que desde o final da década de 1920 atuavam no país
controle verdadeiramente pertencia aos trusts internacionais. O escritor Monteiro Lobato apresenta
as companhias Geral de Petróleo Pan Brasileira, Marítima, Brasileira de Petróleo, Brasil Patentes,
Este quadro, de abertura do setor petrolífero à participação internacional, sofre, por curto
período, uma alteração de caráter protecionista de viés nacionalista através do Decreto-Lei 395 de
seguintes bases:
O mesmo diploma legal cria o primeiro órgão responsável por elaborar as políticas do setor
petrolífero denominado Conselho Nacional do Petróleo cuja função alcançava a exploração direta
do setor petrolífero.
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Em 1941, através do Decreto-Lei 3553 de 25 de agosto, o governo promove a seguinte
Lei 6230 cuja redação autorizava formação de empresas mineradoras constituidas, em metade, por
ações ao portador restringindo a outra parte a ações nominativas pertencentes de forma exclusiva à
brasileiros natos.
clássico - pelo menos no aspecto relacionado ao petróleo - a ditadura do Estado Novo. Assim a
política econômica adotada no período apresentou-se pautada no discurso nacionalista, mas sem um
projeto concreto de auto-suficiência - objetivo defendido desde 1915 por Pandiá Calógeras - fato
que acabou por sufocar as tentativas até então existentes de exploração petrolífera.
5 – O Estado empresário
momento o Brasil era importador direto de gasolina, gerando como entendimento de solução desta
este, a garantia de abastecimento interno. Esta foi basicamente a proposta do Estatuto do Petróleo
função da forte rejeição da opinião pública que reivindica – através de amplo movimento popular
Comerciais de Minas Gerais, presidida por Renato Falci, intitulada “Tese Mineira do Petróleo”.
Neste documento – elaborado pelo professor Washington Peluso Albino de Souza em 1952 – os
empresários defendem a criação de uma empresa estatal financiada através da criação de tributos
justificado:
(...) em termos superiores ao da esfera imediata dos interesses particulares dos homens de negócios,
transferindo-a para o plano mais elevado da necessidade de garantir a soberania nacional e de
oferecer às classes produtoras brasileiras uma posição real de independência na sua missão de
trabalhar pelo fortalecimento econômico do país (FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES
COMERCIAIS DE MINAS GERAIS, 1952).
Esta proposta encontrava sua fundamentação no texto constitucional de 1946 em seu Título
ou mais setores da economia (característica observada nos textos constitucionais de 1934 e 1937)
acrescentando, todavia, a necessidade de Lei Especial. Quanto a exploração dos recursos minerais a
(art.153) característica que leva, todavia, a limitação do direito de propriedade através da separação
1953 a lei 2004 estabelecendo o monopólio estatal do petróleo, criando ao mesmo tempo uma
empresa mista – a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás) responsável pela execução deste,
presidente João Café Filho – antigos defensores do modelo de abertura aos grupos estrangeiros do
internacionais explorarem o petróleo brasileiro, como forma de garantir o suprimento das Forças
Armadas do Brasil e Estados Unidos, tendo em vista a possibilidade de invasão do continente por
forças soviéticas. Para este fim retomou o discurso da incompetência do poder público em
administrar uma empresa com as características da Petrobrás e diante das grandes descobertas
governo em pedir "(...) ajuda de empresas particulares que desejem empreitar serviços de pesquisa
e exploração, sob o controle da Petrobrás, mediante pagamento das despesas feitas e mais um
lucro razoável , exclusivamente com o óleo que conseguirem produzir" (TÁVORA 1955). Esta
primeira tentativa de flexibilização do monopólio estatal não foi consolidada, mas a exploração nos
Outro argumento para flexibilizar o monopólio estatal do petróleo encontrou o seu fundamento
no relatório elaborado pelo antigo geólogo da Standard Oil Walter Link em 1961. O citado
petróleo em terra, o então presidente da Petrobrás, General Ernesto Geisel, apresentou a proposta de
associação desta empresa com outras do setor privado ou estatais para extração petrolífera no
exterior, proporcionando desta forma "[os] meios para assegurar o abastecimento nacional de
O passo seguinte foi efetivamente flexibilizar o monopólio exercido pela Petrobrás através
da implantação – em 1976 – do chamado contrato de risco. Utilizando uma nova interpretação para
a lei 2004, entendeu o governo que a Petrobrás teria o direito de celebrar contratos de "serviço
com cláusula de risco", aspecto considerado - pelo governo - não agressivo à Constituição (art.
5
As áreas para exploração marítima do petróleo indicadas no relatório Link não apresentam relação direta com as
recentes descobertas do pré-sal. (NA)
16
162) que determinava o monopólio estatal do petróleo. Desta forma o texto do "contrato de
prestação de serviço com cláusula de risco" representou uma espécie de decreto no qual a Petrobrás
era entendida como "proprietária" de "todo e qualquer direito decorrente" da lei 2004 (Gazeta
Rio de Janeiro . Todavia, estas novas frentes de exploração eram consideradas de retorno a longo
prazo e diante de uma crise internacional e consequente aumento no valor do petróleo importado,
aspecto que ampliava o déficit comercial brasileiro, a política adotada pelo governo militar resultou
exploração em terra.
Esta prática - de abandono das pesquisas em terra - foi insistentemente negada pela
Petrobrás pois poderia representar junto à opinião pública a assimilação pura e simples do relatório
Link. Entretanto em uma longa reportagem publicada em 1974 a revista Veja destaca que:
Retornamos neste ponto ao aspecto observado no Brasil desde o final do século XIX: O país
não apresentaria áreas para exploração comercial do petróleo em terra, mas os oligopólios
internacionais buscam garantir o controle de regiões com potêncial produtivo cujo resultado é
sempre negativo.
Diante deste quadro não causaria espanto ou comoção nacional o fracasso resultante das
ações de empresas dispostas a correr "riscos" como Shell, British Petroleum, obrigando o país a
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continuar importando petróleo - destas mesmas empresas - enquanto os resultados na plataforma
A Constituição de 1988 em seu artigo 177 mantém o monopólio estatal da pesquisa, lavra e
refino do petróleo conservando parte da redação do artigo 162 da Constituição de 1967. O elemento
setor petrolífero, acrescentando ao monopólio o gás natural e hidrocarbonetos fluidos, aspecto este
minerais nucleares (art. 177 inciso V) indicando as bases para o estabelecimento de uma política
energética não atrelada exclusivamente ao petróleo. Neste aspecto torna-se nítida a intenção do
este a partir de uma visão nacionalista cujo objetivo seria a garantia da autosuficiência. Assim
aspecto encontraremos no texto constitucional de 1988 uma preocupação com a criação de meios
Assim o parágrafo primeiro do artigo 177 determinava: "O monopólio previsto neste artigo
inclui os riscos e resultados decorrentes das atividades, sendo vedado à União ceder ou conceder
mantendo em vigor os contratos de risco celebrados durante o governo militar (artigo 45 das
disposições transitórias) preservando uma tradição iniciada em 1934 de manter aberta uma porta
para a manutenção de áreas com potêncial petrolífero em poder dos oligopólios, mesmo que estas
Na prática, o artigo 45 das disposições transitórias tornou-se desnecessário sete anos mais
tarde através da emenda constitucional número 9 que alterou o parágrafo 1º do artigo 177 do
seguinte modo: "A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das
atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas em lei"
(BRASIL 1995).
Como sabemos a lei em vigor era a 2004 de 3 de outubro de 1953, mas o seu conteúdo
aspecto referente a emenda número 9 - assim o passo seguinte foi atualizar a legislação, fato
concretizado a partir da lei 9478 de 6 de agosto de 1997 de autoria do deputado Eliseu Resende.
Com a nova lei, a União perde a obrigatoriedade de preservar a Petrobrás como empresa
responsável pela execução do monopólio incluindo nos objetivos da política energética nacional o
princípio da livre concorrência (inciso IX do artigo 1º) que passaria a ser regulado através da
(artigo 170 inciso IV) todavia este aspecto liberal deparava-se com limites claros decorrentes das
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posições nacionalistas, como o verificado no caso do monopólio do petróleo. Além deste limite
também encontraremos restrições à livre concorrência no artigo 171 do mesmo texto quanto ao
I "constituida sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no país;
II empresa brasileira de capital nacional aquela cujo controle efetivo esteja em caráter
permanente sob titularidade direta ou indireta de pessoas físicas domiciliadas e residentes no
País ou de entidades de direito público interno, entendendo-se por controle efetivo da
empresa a titularidade da maioria de seu capital votante e exercício, de fato e de direito, do
poder decisório para gerir suas atividades (BRASIL 1988).
Para este trabalho interessa-nos entender que esta definição de empresa brasileira,
determinações presentes no artigo 18 da lei 2004, mantendo afastada qualquer hipótese de controle
a alteração do artigo 171 da Constituição de 1988 também apresentou-se necessário e para tal em 15
de agosto 1995 a Emenda Constitucional número 6 revoga os incisos I e II do citado artigo, aspecto
Assim, a exploração do petróleo no Brasil passou a ser regulada pela União e podendo "ser
exercida mediante concessão ou autorização, por empresas constituídas sob as leis brasileiras, com
Considerando as modificações introduzidas a partir da lei 9478 torna-se natural a comparação com a
proposta apresentada em 1947, através do chamado Estatuto do Petróleo. Consideramos que não
seria temerário afirmar que trata-se a lei 9478 de um aperfeiçoamento da proposta neoliberal
defendida cinqüenta anos antes pelo General Juarez Távora, fundamentada na antiga idéia de
"trustes".
criação de uma Agência Reguladora (art. 7º), necessidade de licitação para a distribuição das
concessões (art.23), além da autorização para participação direta de empresas estrangeiras neste
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processo (art.39). As empresas interessadas no processo de licitação, também contariam com
informações técnicas levantadas ao longo de 44 anos pela Petrobrás, cujo acervo seria transferido a
ANP (art. 22 parágrafo 1º da lei 9478) e disponibilizado para consulta dos interessados.
Neste último ponto vamos nos deparar com um aspecto no mínimo curioso, ou seja, a
nacionalista, financiada através de recursos públicos cujos resultados seriam oferecidos como
momento o modelo regulatório, implantado a partir dos anos de 1990, perde força diante da
Esta redução da presença do Estado no setor econômico, todavia, não significou a extinção
das empresas estatais ou mistas para as quais ficou reservado uma atuação reduzida quando
comparada ao momento anterior aos anos de 1990 (CLARK, 2006). Esta atuação, acrescentamos,
utilizando como exemplo o caso boliviano quando a Lei 1689 de 30 de abril de 1996 em seu artigo
supervisionar a aplicação, por parte das empresas privadas, dos métodos mais adequados à
exploração dos recursos minerais” (COELHO, 2006). Continuava a YPFB – de acordo com a citada
lei- responsável por exercer a exploração petrolífera, mas obrigada a repassar esta função às
técnicas de intervenção não apresentam como resultado obvio o fechamento da economia para os
Ampliando esta informação poderíamos incluir que durante o período militar: “o Estado
estrangeiras ou nacionais. Pelo aspecto econômico, o resultado nefasto de tal política foi o
A política econômica do petróleo no Brasil proposta pelo presidente Lula da Silva segue o
processo observado desde 1934 procurando conciliar intervenção do Estado e abertura às empresas
privadas nacionais e estrangeiras. Podemos fundamentar esta afirmativa a partir de uma analise do
exploração no pré-sal.6
Nesta proposta é mantido como órgão regulador a Agência Nacional do Petróleo (ANP),
mas fica determinada a criação de uma empresa estatal cuja função também possui caráter de órgão
regulador. Esta nova estatal será responsável por gerir os contratos, indicar os presidentes e metade
dos componentes dos Comitês Operacionais existentes nos blocos do pré-sal – e neste ponto sim
6
Existem no Congresso Nacional quatro projetos de autoria do Executivo tratando do modelo de exploração do pré-sal.
Optamos por analisar o projeto nº 5938/2009 por considerá-lo de maior relevância para este trabalho. (NA)
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assemelha-se as funções de uma empresa – de comercializar o petróleo resultante na exploração nos
Os ministros Edson Lobão, Guido Mantega, Miguel Jorge, Paulo Bernardo e Dilma Rousseff
marco regulatório em vigor “foi fundamentado nas premissas que levaram à promulgação da
Emenda Constitucional nº 9, de 1995(...) [assim] o referido marco legal foi concebido de modo a
possibilitando entender que as criticadas “premissas” continuam valendo para o novo marco
regulatório.
características demonstradas neste trabalho do modelo neoliberal dos anos de 1990, quando a
intervenção econômica passa a ser utilizada como forma de financiamento das empresas privadas.
operadora de todos os blocos, entendo esta função como “responsável pela condução e execução,
bloco não cabe a Petrobrás (detentora de participação mínima de 30%) apesar desta empresa
Esta condição de operador “único” não pode ser confundida com “onipresença” podendo
uma jazida estende-se além do bloco concedido obrigando a realização de um acordo mediado
independente àquele adotado nas áreas adjacentes de acordo com o parágrafo 2º do artigo 36 do
projeto em questão.
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Outro aspecto a ser observado encontra-se na realização dos leilões para participação dos
70% restantes nos blocos. Será vencedor neste procedimento a empresa ou consórcio oferecedor da
maior quantidade de petróleo ao Estado, diante de valor minimo estabelecido em edital. Esta
quantidade não encontra-se definida no projeto 5938/2009 criando as condições de sua livre
quando da apresentação das propostas, entre as empresas interessadas como forma de divisão das
áreas de atuação.
Este ponto repercute diretamente no projeto 5940/2009 tratando da criação do Fundo Social
a ser formado, dentre outras fontes, por recursos originados na comercialização estatal do petróleo.
observados em outros países produtores quando a exploração do mineral não resultou em avanços
destinado ao futuro Fundo Social será estabelecido em função das políticas econômicas das
empresas tornando este uma forma compensatória infinitamente aquém do verdadeiro poder
8 – Conclusões
partir de legislações, que possibilitaram a proteção destes por parte do Estado ou por meio da ação
nacional, entendendo como parte integrante desta a manutenção da circulação dos bens e serviços
(CAMARGO,2007).
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As diferentes políticas econômicas do petróleo em nosso país ainda não conseguiram
associar este principio à necessidade de auto-suficiência que desapareceu dos debates, substituído
pelo dogma mercantilista da balança comercial favorável associado à crença liberal do acumulo de
matéria prima.
Desta fórmula “mercantil- liberal” surge a necessidade de ampliação a todo custo das
exportações de commodities – agora com a inclusão do petróleo do pré-sal – criando-se para este
fim todo tipo de atrativo para as empresas internacionais iniciarem o mais breve possível o ciclo do
petróleo.
Este novo ciclo teria uma duração aproximada de 35 anos – coincidindo com o tempo de
duração para os novos contratos de partilha da produção do pré-sal e previsão para o esgotamento
dos recursos ali existentes – período direcionado para a ampliação das pesquisas nacionais para o
setor petrolífero aspecto consumidor de parcela considerável dos recursos eventualmente gerados.
Nos Estados Unidos, o presidente Obama pretende ainda em 2010 extinguir o subsídio
instituído no início do século passado para a indústria petrolífera direcionando os recursos para a
pesquisa em energia alternativa aos combustíveis fósseis, esperando, em trinta anos, livrar-se deste
último.
transformada em elemento financiador dos oligopólios internacionais através de uma política cujo
ANP. Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo e do Gás Natural 2007. Rio de Janeiro:
Agência Nacional do Petróleo e Gás.
BRASIL, Constituição (1891) Constituição dos Estados Unidos do Brasil: Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1912.
BRASIL, Constituição (1891) Constituição dos Estados Unidos do Brasil: Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1926.
BRASIL, Constituição (1934) Constituição dos Estados Unidos do Brasil: Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1943.
BRASIL, Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil: Brasília, Câmara
dos Deputados, 1988.
BRASIL. Decreto nº 24642. 10 jul. 1934.Cria o Código de Minas. Coleção das Leis. Rio de
Janeiro, 1936.
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coletânea de legislação e jurisprudência. São Paulo, ano 5, p. 379-380. 1941.
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