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- A Constituição Económica actual

 
Em primeiro lugar, olhemos para os grandes princípios constitucionais plasmados nos artºs 1º, 2º
e 3º.
 
Interessa-nos, em particular, e desde logo, do ponto de vista do Direito Económico, a declaração
enunciada no artº 1º “A República de Moçambique é um Estado…de justiça social”.
 
No artigo 11º, na identificação dos objectivos fundamentais, realcemos, desde logo, a alínea c), a
alínea d), a alínea h).
 
Do ponto de vista da sistematização do texto constitucional, é fundamental notar que a parte da
Organização Económica aparece depois dos Direitos Fundamentais, a partir do artº 96º.
 
Os princípios fundamentais desta Organização contemplados no artº 97º são:
a)    a valorização do trabalho
b)    as forças do mercado
c)    a iniciativa dos agentes económicos
d)    a coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social
e)    na propriedade pública dos recursos naturais e de meios de produção, de acordo com o
interesse colectivo
f)      na protecção do sector cooperativo e social
g)    na acção do Estado como regulador e promotor do crescimento e do desenvolvimento
económico e social
 
O artº 98º determina a propriedade económica do Estado relativamente aos recursos naturais
situados no solo e no subsolo, nas águas interiores, no mar territorial, na plataforma continental e
na zona económica exclusiva. Determina ainda o domínio público do Estado sobre
a) a zona marítima
b) o espaço aéreo
c) o património arqueológico
d) as zonas de protecção da natureza
e) o potencial hidráulico
f) o potencial energético
g) estradas e linhas férreas (revisão de 2004)
h) as jazidas minerais (revisão de 2004)
i) os demais bens como tal classificados por lei
 
No artº 99º garante-se a coexistência de três sectores de propriedade dos meios de produção:
sector público, sector privado e sector cooperativo e social.
 
O artº 103º mantém a agricultura como base do desenvolvimento.
 
O artº 104º mantém a indústria como factor impulsionador da economia nacional.
O artº 105º realça o carácter fundamental do sector familiar.
 
O artº 106º reconhece a importância da produção de pequena escala.
 
O artº 107º - o Estado promove e apoia a participação activa do empresariado nacional.
 
O artº 108º - o Estado garante o investimento estrangeiro que opera no quadro da sua política
económica e estabelece as suas restrições no que respeita aos sectores económicos reservados à
propriedade ou exploração exclusiva do Estado.
 
O artº 109º - mantém a terra como propriedade do Estado acrescentando que a mesma não pode
ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada nem penhorada.
 
Remetendo-nos agora aos direitos e deveres económicos e sociais:
 
- artº 82º - O Estado reconhece e garante o direito de propriedade e a expropriação só pode ter
lugar por causa de necessidade, utilidade ou interesse públicos, definidos nos termos da lei, e dá
lugar a justa indemnização.
 
- artº 84º - O trabalho constitui direito e dever de cada cidadão.
 
- artº 87º - é garantido o direito à greve e é proibido o lock-out.
 
- artº 90º - declara-se o direito dos cidadãos a viver num ambiente equilibrado
 
- artº 92º - reconhecem-se direitos ao consumidor à qualidade dos bens e serviços consumidos, à
formação e à informação, à protecção da saúde, da segurança dos seus interesses económicos,
bem como à reparação de danos. A publicidade é regulada por lei e são proibidas as formas de
publicidade indirecta ou enganosa. Reconhece-se o direito de audição às associações de
consumidores e cooperativas (de consumo) sendo-lhes reconhecida legitimidade processual para
a defesa dos seus associados.
 
Assim, e depois de termos olhado para a evolução constitucional moçambicana desde a Pré-
Constituição até à actual Constituição, verificamos que o papel do Estado se modificou,
passando de Estador produtor e altamente interventor para um Estado regulador e garantístico na
actual lei fundamental.
 
Hoje, o modelo económico, anteriormente de economia planificada, assume-se agora como de
economia de mercado.
 
Os pressupostos básicos da economia da mercado
 
Numa economia de mercado, a actividade económica depende essencialmente da capacidade dos
indivíduos organizarem a produção, a distribuição e comercialização de bens ou serviços com o
objectivo de obterem rendimentos.
 
 
Os três princípios básicos da economia são:
 
- a propriedade privada
- a iniciativa privada
- a livre concorrência
 
A propriedade privada
 
Noção e conteúdo
 
Como já vimos, a actual Constituição, no seu artº 82º / nº 1 reconhece e garante o direito de
propriedade.
 
Ora, o direito de propriedade não é um direito absoluto podendo ser objecto de limitações ou
restrições, as quais se relacionam, desde logo, com princípios de Direito (ex: a função social da
propriedade), com razões de utilidade pública ou com a necessidade de conferir eficácia a outros
princípios ou normas constitucionais, incluindo os direitos económicos ou sociais e as
disposições da organização económica.
 
O direito de propriedade privada inclui quatro componentes:
- o direito de a adquirir
- o direito de usar e fruir dos bens de que se é proprietário
- a liberdade na sua transmissão
- o direito de não ser privado dela
 
 
 
Restrições
 
a)    na aquisição ou acesso – há bens insusceptíveis de apropriação privada – é o caso dos
bens de domínio público (artº 98º). No entanto, note-se que alguns desses bens poderão,
por vezes, ser explorados por entidades privadas ou cooperativas em regime de
concessão. Trata-se, portanto, de uma reserva de propriedade pública mas não de uma
reserva de actividade económica pública.
 
b)    no uso e fruição – para além do dever geral de uso relativo aos meios de produção (a
propriedade de meios de produção implica o seu uso), devem considerar-se outras
condicionantes por razões ambientais ou de ordenamento do território (ex. delimitação de
áreas de reserva agrícola, reserva ecológica, planeamento urbano, etc.)
 
c)    na transmissão inter vivos ou mortis causa – é por vezes limitada por direitos a favor de
terceiros, como o direito de preferência atribuído, por vezes, aos proprietários confinantes
ou aos herdeiros legitimários.
 
d)    Limites constitucionais ao direito de o titular não ser privado da sua propriedade – ao
admitir-se a possibilidade de requisição e expropriação por utilidade pública, sujeita ao
pagamento de justa indemnização. A actual Constituição prevê a expropriação no seu artº
82º / nº 2.
 
A requisição de bens abrange móveis ou imóveis, é temporária e justifica-se por um interesse
público urgente e excepcional (situações de guerra, calamidades naturais, etc.)
 
A expropriação refere-se a bens imóveis, tem carácter definitivo e é de uso frequente, dada a sua
necessidade para a construção de estradas e outras edificações públicas. O facto de se exigir a
existência de interesse público não significa que não possa haver expropriação a favor de
entidades privadas como as associações desportivas, etc.
 
Tanto a requisição como a expropriação implicam o pagamento de indemnização que deverá ser
fixado pelo valor real do bem expropriado o qual tem a sua expressão mais próxima no seu valor
de mercado.
 
Além da requisição e da expropriação, a propriedade privada pode também ser limitada pela
figura da nacionalização, também mediante indemnização.
 
Bibliografia:
 
António Carlos Santos
Manuel Afonso Vaz, Direito Económico – A ordem económica portuguesa, 4ª ed., Coimbra
Editora, Coimbra, 1998
Luís Cabral Moncada, Direito Económico, 4ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 2003
CRM
Lei 9/79 – Lei das Cooperativas
 
 

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