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: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOSPROFESSOR: MARCOS STEFANI

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 Os “novos direitos” e a superação da dicotomia clássica (público x privado)
 Os direitos transindividuais como direitos de terceira dimensão (ou geração)

 3ª Geração: direitos difusos. Podem ser positivos ou negativos, pois a proteção do meio ambiente, por exem-
plo, pode exigir tanto uma atuação positiva do Estado (fazer alguma coisa) como uma abstenção (não fazer alguma
coisa).

 1ª Dimensão ou geração: direitos de liberdade (liberdades individuais civis e políticas). Fase do constituciona-
lismo. Têm um caráter negativo, no sentido de que são direitos exercidos contra o Estado, para que ele se abstenha
de agir em certas situações.

 2ª Dimensão ou geração: direitos sociais. Surgem no século XX como direitos exercidos contra o Estado, co-
brando uma atuação positiva deste no sentido de propiciar o bem-estar social.
 A inadequação do sistema processual clássico para a tutela dos "novos direitos"
 Ausência de um Código de Processo Coletivo
 A menção expressa às ações coletivas, no CPC, só ocorre com o CPC de 2015

Direitos e interesses objeto de tutela:


 Direito Individual (direito individual puro)
 Direitos Individuais heterogêneos
 Direitos Individuais homogêneos
 Direitos Difusos
 Direitos Coletivos

• A TUTELA DO DIREITO INDIVIDUAL PURO OU HETEROGÊNEO


 O CPC: o sistema de legitimação
 Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico.

 Os efeitos da coisa julgada material


 Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.

• A TUTELA DOS DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS

A importância da ação popular

Primeira ação para a tutela de direitos difusos

Origem: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 16 DE JULHO DE 1934). Art.
113, 38) Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a declaração de nulidade ou anulação dos atos lesivos
do patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios.

A regulamentação
Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965. Regula a ação popular.
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, ...
§ 1º - Consideram-se patrimônio público para os fins referidos neste artigo, os bens e direitos de valor econômico,
artístico, estético, histórico ou turístico. (Redação dada pela Lei nº 6.513, de 1977)

A Lei da Ação Civil Pública na sua redação original


Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por
danos causados:
I - ao meio-ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - (VETADO).

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MENSAGEM DE VETO Nº 359, DE 24 DE JULHO DE 1985
EXCELENTÍSSIMOS SENHORES MEMBROS DO CONGRESSO NACIONAL: Tenho a honra de comunicar a
Vossas Excelências que, nos termos dos artigos 59, §1º, e 81, item IV, da Constituição Federal, resolvi vetar, par-
cialmente, o Projeto de Lei da Câmara nº 20, de 1985 (nº 4.984, de 1985, na Casa de origem), que "Disciplina a
ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, assim como a qualquer outro interesse difuso, e dá outras
providências"...
... O veto incide sobre as expressões constantes dos dispositivos abaixo indicados:

Ementa: "como a qualquer outro interesse difuso";


Art. 1º, inciso IV: "a qualquer outro interesse difuso";
Art. 4º: "ou a qualquer outro interesse difuso; e
Art. 5º, inciso II: "ou a qualquer outro interesse difuso"...
... As razões de interesse público dizem respeito precipuamente à insegurança jurídica, em detrimento do bem
comum, que decorre da amplíssima e imprecisa abrangência da expressão "qualquer outro interesse difuso".
A amplitude de que se revestem as expressões ora vetados do Projeto mostra-se, no presente momento de
nossa experiência jurídica, inconveniente.
É preciso que a questão dos interesses difusos, de inegável relevância social, mereça, ainda, maior reflexão e
análise.
...
... É preciso que a questão dos interesses difusos, de inegável relevância social, mereça, ainda, maior reflexão e
análise.
Trata-se de instituto cujos pressupostos conceituais derivam de um processo de elaboração doutrinária, a recomen-
dar, com a publicação desta Lei, discussão abrangente em todas as esferas de nossa vida social...
Brasília, em 24 de julho de 1985.

JOSÉ SARNEY

A Constituição Federal de 1988 e os "interesses difusos e coletivos"


CF, Art. 129, III - São funções institucionais do Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública,
para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.
 Não há, inicialmente, uma preocupação conceitual
 Também não há na CF referência a direitos e interesses individuais homogêneos
 Marcelo Abelha Rodrigues: "Até o surgimento do CDC em 1990, não havia no ECA e nem na LACP e nem
mesmo na CF/88 uma preocupação de se distinguir, ou de isolar, o interesse difuso do coletivo, talvez porque não
se enxergava nesta distinção uma utilidade ou vantagem sob o ponto de vista da proteção jurisdictional" (Funda-
mentos da tutela coletiva, Gazeta Jurídica).
 O CDC, em seu art. 81, parágrafo único, é que trouxe a definição e distinção entre os direitos difusos e coletivos;
 Além disso, foi o CDC que sistematizou a tutela coletiva dos direitos indivdiuais homogêneos.
Afirma-se existir, na atualidade, um microssistema voltado à tutela jurisdicional da tutela dos direitos transindividuais,
decorrente da conjugação da LACP (art. 21), do CDC (art. 117) e de outras leis: ação popular, improbidade admi-
nistrativa, criança e adolescente, idosos, investidores mobiliários, estatuto da cidade etc.

• DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS
• (direito material coletivo)
• Questões terminológicas introdutórias:
 Direito coletivo no sentido amplo (gênero) e no sentido estrito (espécie)
 Tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos
 Processo coletivo comum e processo coletivo especial
• CDC, Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo .
...
• individualmente,
• ou a título coletivo ...
• CDC, Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
• I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos
e serviços considerados perigosos ou nocivos;

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II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de
escolha e a igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quanti-
dade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresen-
tem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012)...
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como
contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão
de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

• CDC, art. 81. Parágrafo único. A DEFESA COLETIVA coletiva será exercida quando se tratar de:
• I - interesses ou direitos DIFUSOS, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

CF, CAPÍTULO VI - Do Meio Ambiente


Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
Obs: DIREITO DIFUSO FUNDAMENTAL

OS FATOS DE MÚLTIPLA INCIDÊNCIA NORMATIVA


Lei n. 6.938/81 (LPNMA), Art. 14, § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente
e a terceiros, afetados por sua atividade...
• Principais características dos direitos difusos:
 Indivisibilidade do objeto
 Indeterminação absoluta dos titulares do direito
 A união por circunstâncias fáticas

• No caso dos direitos difusos, diferentemente dos direitos coletivos no sentido estrito, não existe uma relação
jurídica base. A ligação entre os titulares do direito se dá por circunstâncias de fato.
• Imagine a veiculação, em horário nobre de televisão, de um anúncio publicitário enganoso. Serão atingidos mi-
lhões de consumdiores, de forma difusa, sem qualquer prévia relação jurídica entre eles.

 Alta conflituosidade interna


 Alta abstração
• II - interesses ou direitos COLETIVOS, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de na-
tureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária
por uma relação jurídica base;

• Principais características:
 Indivisibilidade do objeto
• Obs: É muito importante esta característica para distinguir o direito coletivo dos direitos individuais homogêneos.
O direito coletivo é único, indivisível. Os direitos indivdiuais homogêneos são divisíveis.

• Cabe observar, porém, que a violação do direito coletivo gere pretensões individuais.
 Indeterminação relativa dos sujeitos

• Sempre será possível identificar os membros da OAB, por exemplo.


 União por circunstâncias jurídicas (relação jurídica base);

• WATANABE, Kazuo: “Essa relação jurídica-base é a preexistente à lesão ou ameaça de lesão do interesse ou
direito do grupo, categoria ou classe de pessoas. Não a relação jurídica nascida da própria lesão ou da ameaça de
lesão” (Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 8. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2005. p. 803).

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 É possível que exista uma relação jurídica prévia entre os titulares do direito. Por exemplo, membros de uma
Associação de Classe; os membros da OAB;
 É possível que os titulares do direito não tenham uma prévia relação entre si, mas sim com o mesmo sujeito
passivo. Por exemplo, os alunos de uma mesma escola, os clientes de um mesmo banco.
 Baixa conflituosidade interna
 Menor abstração
• III - interesses ou direitos INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

O direito à saúde na CF
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.

Art. 30. Compete aos Municípios:


VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da
população;

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem
à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.

Perspectiva coletiva:
 Adequação hospitalar
 Modificação de protocolos assistenciais
 Execução de ações de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental
 Implementação de políticas de saúde

Perspectiva individual:
 Direito de acesso a medicamentos
 Tratamentos médicos específicos
 Leito hospitalar
 Transporte sanitário
• Principais características:
 Direitos individuais (não são transindividuais)
 Divisibilidade do objeto
 Determinabilidade dos sujeitos
 Pretensão de origem comum
 Possível existência de uma tese jurídica comum
 Quando a análise do caso depende da verificação de questões individuais, peculiares, não é possível a tutela
coletiva, por falta de homogeneidade;
 A prevalência de questões individuais impede a tutela dos direitos individuais de forma coletiva.
• VIGLIAR, José Marcelo Menezes: “Com efeito, sem que se conclua pela prevalência do coletivo sobre o indivi-
dual, a tutela coletiva de interesses individuais de origem comum não se viabiliza. Torna-se ineficaz. Apresenta-se
– acrescentaria – como um sistema processual indevido...

• ... Efetivamente, prevalecendo aspectos individuais sobre o coletivo, diante, v.g., do reduzidíssimo número de
envolvidos e da especial consequência suportada por cada um, a tutela individual, feita segundo as regras individu-
alistas do Código de Processo Civil, mostrar-se-ia mais eficaz, proporcionando com a dedução de pedidos certos,
aptos à satisfação da situação fática reclamada por cada um dos interessados, tutela jurisdicional mais adequada,
mais rápida e mesmo mais econômica...

• ... Numa palavra, aspectos coletivos devem sobressair em relação a situações individuais para que a tutela
coletiva de interesses individuais se justifique” (Interesses individuais homogêneos e seus aspectos polêmicos. 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 21-22).

• Tutela de DIREITOS COLETIVOS e tutela COLETIVA DE DIREITOS


• TJRS - Apelação Cível nº 70054191275

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• “Os interesses individuais homogêneos, ao contrário dos direitos difusos, são divisíveis, passíveis de ser atribu-
ídos individual e proporcionalmente a cada um dos indivíduos interessados (que são identificáveis). São verdadeiros
interesses individuais, mas circunstancialmente tratados de forma coletiva. Ou seja, não são coletivos em sua es-
sência, mas no modo como são exercidos”.

• O fato de os direitos individuais serem disponíveis impede a tutela coletiva?


• STJ: “A ação civil pública, na sua essência, versa interesses individuais homogêneos e não pode ser caracteri-
zada como uma ação gravitante em torno de direitos disponíveis. O simples fato de o interesse ser supra-individual,
por si só já o torna indisponível” (RECURSO ESPECIAL Nº 700.206 - MG).
• TJ-RJ, Apelação nº 0156114-76.2011.8.19.0001: “A disponibilidade dos direitos que se busca resguardar não
constitui obstáculo ao manejo da ação civil pública. O Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 81, parágrafo
único, inciso III, exige apenas a origem comum dos direitos ou interesses individuais (isto é, a sua homogeneidade)
para autorizar sua defesa por meio de ação coletiva”.

• A tutela coletiva de direitos individuais homogêneos não se restringe às questões consumeristas


• REsp 1.199.611-RS
• PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DE SERVI-
DORES PÚBLICOS. CABIMENTO. LEGITIMIDADE DO SINDICATO. ISENÇÃO DE CUSTAS PELA PARTE AU-
TORA.PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. Esta Corte posicionava-se no sentido de que, para que houvesse a proposição da ação civil pública, mister esti-
vesse a questão inserida no contexto do art. 1º, da Lei n. 7.347⁄85. Tal artigo deveria, ainda, ser analisado junta-
mente com o artigo 81 da Lei n. 8.078⁄90, ou Código de Proteção e Defesa do Consumidor - CDC.
Entendia-se, portanto, que o cabimento de ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos se res-
tringia àqueles direitos que evolvessem relação de consumo.
2. A jurisprudência atual, contudo, entende que, o artigo 21 da Lei n. 7.347⁄85, com redação dada pela Lei n.
8.078⁄90, ampliou o alcance da ação civil pública também para a defesa de interesses e direitos individuais homo-
gêneos não relacionados às relações de consumo.
3. Deve, portanto, ser reconhecida a legitimidade do sindicato recorrente para propor a presente ação em defesa
de interesses individuais homogêneos da categoria que representa.

Distinções necessárias
 Ações coletivas
 Ação civil pública
 Ação de improbidade administrativa
 Ação popular
 Ação de ressarcimento ao erário

A AÇÃO POPULAR
(ação popular constitucional)
 A Lei n. 4.717/65
 Primeiro instrumento, no Brasil, de tutela jurisdicional dos direitos transindividuais.
 Conceito de patrimônio público bastante amplo, permitindo a tutela de bens e direitos de valor econômico, artís-
tico, estético ou histórico.

Ampliação do objeto com a CF de 88


 A Constituição de 1988 não só manteve como acabou por ampliar o objeto da ação popular. No Capítulo I do
Título II, referente aos Direitos e Garantias Fundamentais, expressamente tratou da ação popular no inciso LXXIII
do art. 5º, nos seguintes termos:
Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Legitimidade ativa e capacidade processual: cidadão, pessoas jurídicas e Ministério Público


A Lei n. 4.717/65 favorece a interpretação segundo a qual a ação só pode ser proposta pelo cidadão eleitor, uma
vez que o art. 1º, § 3º, estabelece que a prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral,
ou com documento que a ele corresponda.

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Menor com dezesseis anos completos
Há divergência doutrinária quanto à necessidade ou não de assistência no caso de menor com dezesseis anos
completos. A discussão, agora, refere-se à capacidade processual, pois, sendo eleitor, o menor com dezesseis anos
completos tem legitimidade para a propositura de ação popular.

Ilegitimidade do MP?
A legitimidade superveniente em face do princípio da indisponibilidade relativa da ação na fase de conhecimento e
da indisponibilidade absoluta na fase de execução

Art. 9º da LAP: Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos
prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao represen-
tante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prossegui-
mento da ação.

Princípio da indisponibilidade da execução coletiva


LACP, Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação
autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
LAP, Art. 16. Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória de segunda instância,
sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução. o representante do Ministério Público a promoverá nos
30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave.

A atuação do MP na ação popular


A Lei 4.717/65 estabelece as seguintes atribuições:
a) de acompanhar a ação, apressar a produção da prova e promover a responsabilidade criminal dos que nela
incidirem;
b) promover a responsabilidade civil (art. 4º, § 4º);
c) de prosseguir a ação no caso de desistência (art. 9º);
d) de recorrer da sentença ou decisão proferida contra o autor (art. 19, § 2º).
e) é vedado ao MP, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou de seus autores (art. 6º, § 4º, in
fine).

Ilegitimidade das pessoas jurídicas


A legitimidade das pessoas jurídicas é obstada pelo Supremo Tribunal Federal, como se vê da Súmula n. 365:
Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

A questão do domicílio eleitoral do autor


Também se discute, no caso de ação popular, se o cidadão pode propor a demanda em município no qual não é
residente.

A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, como noticiou o Informativo n. 476, afirmou a possibilidade do
ajuizamento da ação nessas circunstâncias.

Litisconsórcio superveniente
O art. 6º, § 5º, da Lei n. 4.717/65, expressamente reconhece a possibilidade de litisconsórcio superveniente, pois
faculta a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.

Legitimidade passiva e litisconsórcio necessário


Art. 6º da Lei n. 4.717/65: A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no
art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou
praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos
do mesmo.

Competência
No caso de ação popular, é muito importante verificar a origem do ato impugnado.
Art. 5º da Lei n. 4.717/65: Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-
la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem
à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.

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Assim, se o ato impugnado é de agente público da União, a competência é da Justiça Federal, nos termos do art.
109, I, da Constituição Federal.

Competência
Hely Lopes Meirelles, Arnoldo Wald e Gilmar Ferreira Mendes lembram que “o Plenário do STF decidiu, em dezem-
bro de 2000, que a competência para processar a ação popular se afere não somente pela origem do ato impugnado,
mas também pela finalidade que busca a demanda...
... Assim, entendeu ser de competência da Justiça Eleitoral de primeira instância, e não da Justiça Federal, ação
popular proposta contra os membros de TER em função de alegadas irregularidades em eleição. Tratando-se de
matéria com cunho eleitoral, afastou-se a competência da Justiça Federal, para se fixar a da Justiça Eleitoral (AOr-
QQ n. 772-SP, Rel. Min. Moreira Alves, Informativo STF 215/1)”.

Competência e interesse da União


O art. 5º, § 2º, da Lei n. 4.717/65 acolhe regra de supremacia do interesse federal: Quando o pleito interessar
simultaneamente à União e a qualquer outra pessoas ou entidade, será competente o juiz das causas da União (...).
Portanto, havendo interesse da União, ainda que exista, também, de outra pessoa jurídica de direito público, a
competência é da Justiça Federal.

A competência da Primeira Instância


Hely Lopes Meirelles, Arnoldo Wald e Gilmar Ferreira Mendes lembram que “a ação popular, ainda que ajuizada
contra o Presidente da República, o Presidente do Senado, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Governador
ou o Prefeito, será processada e julgada perante a Justiça de primeiro grau (Federal ou Comum)”.

Foro competente
Definida a competência da justiça federal (competência de jurisdição), na análise da competência territorial deveria
prevalecer foro do local onde se consumou o ato ilegal e lesivo ao patrimônio público (art. 2º da Lei da Ação Civil
Pública e art. 93 do Código de Defesa do Consumidor).

A jurisprudência, porém, tem relativizado a regra a favor da tutela mais efetiva do patrimônio público, fazendo pre-
valecer o foro do domicílio do autor a fim de que não existam restrições ou maiores dificuldades à propositura da
ação pelos cidadãos.

Juízo competente
Determinada a justiça e o foro competentes, é o caso de se verificar em qual órgão jurisdicional ou, por outras
palavras, em qual vara a ação popular vai tramitar.

Existente na comarca ou na seção judiciária a Vara da Fazenda Pública, a ação popular deve aí tramitar. Caso
contrário, a competência será do juízo cível comum.

Conexão entre ação popular e outra ação coletiva


A espécie de ação coletiva não é fator que impede o reconhecimento da conexão. Tanto que o STJ já a reconheceu,
por exemplo, no caso de ação civil pública e ações populares, como se vê do acórdão lançado no julgamento do
CC 36.439/SC.
“CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
E AÇÕES POPULARES COM O FIM COMUM DE ANULAR PROCESSO DE LICITAÇÃO. CONEXÃO. PORTO DE
ITAJAÍ. OBRAS REALIZADAS SOBRE BENS DE DOMÍNIO DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
1. Competência da Justiça Federal fixada, anteriormente, em conflito julgado pela Seção. Conflito renovado (CC
32.476-SC), sob o fundamento de que compete à Justiça Federal apreciar as causas nas quais estão sendo impug-
nados projetos que afetam bens da União, ainda que a implementação dessas obras tenha sido delegada a algum
município.
2. A conexão das ações que, tramitando separadamente, podem gerar decisões contraditórias, implica a reunião
dos processos em unum et idem judex, in casu, ações populares e ação civil pública, de interesse da União, posto
versarem anulação de licitação sobre o Porto de Itajaí.
3. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara de Itajaí-SJ/SC”.

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Juízo universal
O art. 5º, § 3º, da Lei n. 4.717/65 estabelece que a propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas
as ações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos fundamentos.

O objeto da ação popular


Ação a ser proposta em prol de uma pessoa jurídica de direito público com o fim de desconstituir ato ilegal e
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe. Ou, então, lesivo à moralidade administrativa,
ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural.
O binômio “ilegalidade/lesividade”.

O objeto da ação popular: ilegalidade, lesividade e os pedidos cabíveis


O texto da Constituição Federal (art. 5º, inciso LXXIII) leva parte considerável da doutrina a afirmar que a ação
popular tem uma finalidade reparatória (ressarcitória, repristinatória, retrospectiva).
Afinal, trata-se de ação a ser proposta em prol de uma pessoa jurídica de direito público com o fim de descons-
tituir ato ilegal e lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe. Ou, então, lesivo à moralidade
administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural.
Fala-se, então, que é necessária a presença do binômio “ilegalidade/lesividade” para que seja admitida a ação
popular.

Ilegalidade
A própria Lei da Ação Popular, no art. 2º, encarrega-se de enumerar situações de nulidades: São nulos os atos
lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de
forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade.

Lesividade
Além da ilegalidade do ato, é importante verificar sua lesividade, concreta ou potencial, ao patrimônio material
ou imaterial.
Hely, Wald e Gilmar Mendes sobre ato lesivo: “É todo ato ou omissão administrativa que desfalca o erário ou
prejudica a Administração, assim como o que ofende bens ou valores artísticos, cívicos, culturais, ambientais ou
históricos da comunidade...
... E essa lesão tanto pode ser efetiva quanto legalmente presumida, visto que a lei regulamentar estabelece casos
de presunção de lesividade (art. 4º), para os quais basta a prova da prática do ato naquelas circunstâncias pra
considerar-se lesivo e nulo de pleno direito. Nos demais casos impõe-se a dupla demonstração da ilegalidade e da
lesão efetiva ao patrimônio protegível pela ação popular”.

Espécies de atos lesivos


Cabimento: em regra, em face de atos administrativos
Em face de lei de efeitos concretos.
A ação não se presta ao controle concentrado de constitucionalidade.
Ato omissivo ilegal e lesivo também pode ser objeto de ação popular

Ação popular preventiva


Não se pode negar a função preventiva à ação popular.
A partir do momento em que a Constituição Federal garante o Acesso à Jurisdição para as situações de lesão
ou de ameaça de lesão a direito (art. 5º, XXXV), não seria conforme à Lei Maior a interpretação restritiva.

O pedido na Ação popular


Há consenso no sentido de que, em ação popular, pode ser formulado pedido constitutivo negativo e pedido
condenatório, deduzidos cumulativamente, de tal forma que a sentença de procedência conterá capítulo desconsti-
tutivo e capítulo condenatório.
José Afonso da Silva aponta com precisão o caráter duplo da ação popular: “A demanda popular é constitutiva
negativa e condenatória...
... Tem ela como objeto imediato pleitear, do órgão judicial competente: a) a anulação de ato lesivo ao patrimônio
público ou das entidades de que o Estado participe, ou da moralidade administrativa, ou do meio ambiente, ou do
patrimônio histórico e cultural (Constituição, art. 5º, LXXIII, e Lei n. 4.717, art. 1º); e b) a condenação dos responsá-
veis pelo ato invalidado, e dos que dele se beneficiaram, ao pagamento de perdas e danos”.

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