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DIREITO ADMINISTRATIVO

AÇÕES ORDINÁRIAS: PETIÇÃO INICIAL

Livro Eletrônico
DIREITO ADMINISTRATIVO
Ações Ordinárias: Petição Inicial
Nilton Coutinho

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Ações Ordinárias: Petição Inicial.................................................................................................. 4
Petição Inicial. . .................................................................................................................................. 4
Espécies de Petição Inicial............................................................................................................. 4
Petição Inicial de Ações Constitucionais.. ................................................................................... 4
Petições Iniciais de Ações Ordinárias.......................................................................................... 6
Identificando a Ação. . ...................................................................................................................... 6
Exercícios Práticos.......................................................................................................................... 7
Estruturação da Petição Inicial................................................................................................... 14
Elaborando uma Petição Inicial...................................................................................................15
Esqueleto da Peça. . .........................................................................................................................19

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a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

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Ações Ordinárias: Petição Inicial
Nilton Coutinho

Apresentação
Saudações!
Nesta apostila, vamos falar um pouco sobre o fascinante mundo do direito administrativo,
com foco na segunda fase.
A ideia é que, em cada módulo, analisemos a estrutura de uma peça prático-profissional
específica e consigamos identificá-la e elaborar a respectiva peça.
Para o adequado estudo do tema, é importante que o(a) aluno(a) tenha em mente que o
direito administrativo é o ramo do direito Público que disciplina o exercício da função adminis-
trativa e os órgãos que a desempenham.
Nesse aspecto, as questões apresentadas aos candidatos envolverão: responsabilidade
civil do Estado, nulidade de atos administrativos praticados, vícios no procedimento licitatório,
intervenção do Estado na propriedade privada etc.
O direito administrativo também tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas ad-
ministrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que
exerce e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública1. Nessa
linha, o estudo do Estatuto dos funcionários públicos da União (abrangendo seus direitos,
deveres e obrigações) também é importante para o aprofundamento teórico do candidato(a).
Cite-se, ainda, os contratos celebrados pela Administração Pública com concessionários,
permissionários, etc.
Esses temas são importantes, pois darão ao candidato(a) a base teórica para fundamen-
tar sua peça prático-profissional. E tais temas já foram abordados em nossas apostilas vol-
tadas para a segunda fase.
Já nesta e nas próximas aulas, nosso foco será a parte estrutural da prática jurídica, ou seja:
QUAL PEÇA FAZER?
COMO FAZER TAL PEÇA?
QUAIS ITENS ELA DEVE CONTER?
COMO DEVO INSERIR AS INFORMAÇÕES PERTINENTES NA PEÇA?
É o que veremos a seguir.

1
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 24. Ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 48.

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AÇÕES ORDINÁRIAS: PETIÇÃO INICIAL


Petição Inicial
A petição inicial, como o próprio nome indica, inaugura o processo judicial.
Desse modo, o candidato identificará com facilidade a peça, uma vez que, na leitura do
problema apresentado, não haverá menção a qualquer providência judicial já adotada, ou seja:
a questão apresentará um problema jurídico, que, no entanto, ainda não terá sido levado ao
poder judiciário.
O candidato será procurado pelo cliente a fim de ajuizar a medida judicial cabível, qual seja:
A PETIÇÃO INICIAL.

Espécies de Petição Inicial


Apesar da petição inicial ser facilmente identificável, deve-se ter em mente que existem
diversas petições iniciais que podem ser elaboradas, a saber:

Petição Inicial de Ações Constitucionais

• MANDADO DE SEGURANÇA
• MANDADO DE INJUNÇÃO
• HABEAS DATA
• HABEAS CORPUS
• AÇÃO CIVIL PÚBLICA
• AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

As ações constitucionais, chamadas assim por estarem expressamente previstas na cons-


tituição federal, possuem objetivos específicos e são elaboradas seguindo regras específicas
previstas em diferentes normas jurídicas.
Habeas Corpus

Art. 5º, LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

Mandado de Segurança Individual

Art. 5º, LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder
Público;

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Mandado de Segurança Coletivo

Art. 5º, LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funciona-
mento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

Mandado de Injunção

Art. 5º, LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;

Habeas Data

Art. 5º, LXXII – conceder-se-á habeas data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou admi-
nistrativo;

Ação Popular

Art. 5º, LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato le-
sivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento
de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Ação Civil Pública

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público(*):


I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

Apesar da Constituição Federal fazer menção ao Ministério Público, a Lei n. 7.347/85 permite
que outras pessoas jurídicas também ajuízem a ação civil pública.

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Petições Iniciais de Ações Ordinárias


Caso o direito pleiteado pelo autor não se enquadre nas hipóteses que autorizam a impe-
tração/ajuizamento de alguma das ações constitucionais acima mencionadas, será o caso de
ajuizamento de uma ação ordinária.
Ação ordinária é o nome genérico dado a qualquer ação ajuizada para a defesa do direi-
to do autor.
De forma específica, é possível elencar as seguintes espécies de ações ordinárias:
• AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
• AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO
• AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO + REINTEGRAÇÃO
• AÇÃO ANULATÓRIA DE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DE LICITAÇÃO
• Ação de reintegração de um servidor público demitido ilegalmente (inicial de uma ação
de desapropriação indireta)
• Ação em face do poder público (obrigação de fazer, etc.)
• Ação de responsabilidade civil do Estado
• ETC

 Obs.: IMPORTANTE: Para fins de OAB, sugere-se ao aluno que coloque o nome específico
da ação e, caso não a localize, utilize a expressão AÇÃO ORDINÁRIA PELO PROCEDI-
MENTO COMUM.

Identificando a Ação
A identificação da ação dependerá do pedido feito pelo cliente e, também, do tipo de cliente
que o contratou (pessoa física, pessoa jurídica, etc).

EXEMPLO: se o cliente o contratou para anular um ato administrativo, a ação ajuizada será
uma ação de anulação de ato administrativo (também pode ser chamada de ação anulatória
de ato administrativo).

Se o cliente o contratar para conseguir uma indenização em dinheiro, a ação cabível será
ação de indenização por danos morais e/ou materiais, a depender dos fundamentos apresen-
tados pelo seu cliente.
Caso seu cliente mencione a violação de um direito líquido e certo ocorrida há menos de
120 dias e não haja necessidade de produção de provas, a ação cabível será um mandado de
segurança, caso a autoridade coautora seja um agente público ou esteja no exercício de uma
atividade pública.

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Caso o objetivo da ação seja anular um ato lesivo à moralidade administrativa, a ação com-
petente será uma ação popular, caso o cliente seja pessoa física no gozo dos direitos políticos,
ou uma ação civil pública, caso o cliente seja uma pessoa jurídica.

 Obs.: Neste caso, deverão estar presentes os demais requisitos da Lei n. 7.347/85.

Se seu cliente mencionar que não está conseguindo exercer algum direito ou liberdade
constitucional em razão da ausência de uma norma regulamentadora, a ação cabível será
mandado de injunção
Se o objetivo do seu cliente é retornar ao exercício de um cargo público do qual fora demi-
tido de forma ilegal, a ação cabível será AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO EM CARGO PÚBLICO (ou
ação anulatória de ato administrativo, cumulado com reintegração em cargo público).

Exercícios Práticos
Antes de começarmos a elaborar as petições iniciais, que tal começarmos a identificar a
peça a ser elaborada?
EXAME XXIX – Em concurso realizado na vigência da Emenda Constitucional n. 20/98, Joel
foi aprovado para desempenhar serviços notariais e de registro, vindo a ser nomeado tabelião
de notas de serventia extrajudicial, no Estado Alfa. Ao completar setenta e cinco anos de idade,
em maio de 2018, Joel foi aposentado compulsoriamente pelo regime próprio de previdência
do ente federativo em questão, contra a sua vontade, sob o motivo de que havia atingido a ida-
de limite para atuar junto à Administração Pública, nos termos da CRFB/88.
Joel, em razão da aposentação compulsória, sentindo-se violado nos seus direitos de per-
sonalidade, entrou em depressão profunda em menos de dois meses.
O quadro tornou-se ainda mais grave devido à grande perda patrimonial, considerando que
os proventos de inativo são bem inferiores ao valor do faturamento mensal do cartório.
Seis meses após a decisão que declarou “vacante” a sua delegação junto a específico “car-
tório de notas”, e o deu por aposentado, Joel procura você, como advogado(a), para tomar as
providências pertinentes para a defesa de seus interesses. Menciona que sua pretensão seria
voltar à atividade e ser reparado por todos os danos sofridos.
E aí, doutor(a), qual a peça?
Resposta: petição inicial de ação anulatória do ato de aposentadoria de Joel, com a reinte-
gração na função delegada, cumulado com indenização pelo período do afastamento ilegal e
danos morais, com pedido de liminar.
EXAME XXVIII – Apolônio Silva foi encarcerado há três anos, pela prática do crime de lesão
corporal seguida de morte (Art. 129, § 3º, do CP), em razão de decisão penal transitada em
julgado proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado Alfa, que o condenou à pena de doze anos
de reclusão.
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Apesar das tentativas da Defensoria Pública de obter a ordem de soltura, Apolônio perma-
neceu preso, até que, no ano corrente, foi morto durante a rebelião que ocorreu no presídio em
que estava acautelado.
Durante a mesma rebelião, numerosos condenados foram assassinados a tiros, sendo
certo que as armas ingressaram no local mediante pagamento de propina aos agentes peni-
tenciários.
Inconformada, Maria da Silva, mãe de Apolônio, procurou você para, na qualidade de ad-
vogado(a), tomar as medidas cabíveis, com vistas a obter a responsabilização civil do Estado.
Ela demonstrou que, ao tempo da prisão, ele era filho único, solteiro, sem filhos, trabalha-
dor, e provia o seu sustento.
Como Maria tem idade avançada e problemas de saúde, ela não tem condições de arcar
com os custos do processo, notadamente porque gastou as últimas economias para propor-
cionar um funeral digno para o filho.
QUAL A PEÇA A SER ELABORADA?
Resposta: petição inicial de Ação de Responsabilidade Civil OU Ação Indenizatória.
EXAME XXVI – A sociedade empresária Leva e Traz explora, via concessão, o serviço públi-
co de transporte de passageiros no município Sigma, conhecido pelos altos índices de crimina-
lidade; por isso, a referida concessionária encontra grande dificuldade em contratar motoristas
para seus veículos.
A solução, para não interromper a prestação dos serviços, foi contratar profissionais sem
habilitação para a direção de ônibus.
Em paralelo, a empresa, que utiliza ônibus antigos (mais poluentes) e em péssimo estado
de conservação, acertou informalmente com todos os funcionários que os veículos não deve-
riam circular após as 18 horas, dado que, estatisticamente, a partir desse horário, os índices de
criminalidade são maiores. Antes, por exigência do poder concedente, os ônibus circulavam
até meia-noite.
Os jornais da cidade noticiaram amplamente a precária condição dos ônibus, a redução do
horário de circulação e a utilização de motoristas não habilitados para a condução dos veículos.
Seis meses após a concretização da mencionada situação e da divulgação das respecti-
vas notícias, a associação municipal de moradores, entidade constituída e em funcionamento
há dois anos e que tem por finalidade institucional, dentre outras, a proteção dos usuários de
transporte público, contrata você, jovem advogado(a), para adotar as providências cabíveis pe-
rante o Poder Judiciário para compelir o poder concedente e a concessionária a regularizarem
a atividade em questão.
Há certa urgência, pois no último semestre a qualidade do serviço público caiu drastica-
mente e será necessária a produção de provas no curso do processo.
Considerando essas informações, redija a peça cabível para a defesa dos interesses dos
usuários do referido serviço público. (Valor: 5,00)

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QUAL A PEÇA CABÍVEL?


Considerando tratar-se de direitos coletivos, a medida judicial adequada é o ajuizamento
de Ação Civil Pública (ACP).

 Obs.: Não é possível o ajuizamento de ação popular, tendo em vista que o seu cliente é
pessoa jurídica.

A ACP deve ser dirigida ao Juízo de Fazenda Pública ou à Vara Cível competente.
EXAME XXV – Lúcia, servidora pública federal estável, foi demitida do cargo que ocupava,
após processo administrativo disciplinar pelo rito sumário, sob o fundamento de abandono
de cargo, em razão de haver se ausentado do serviço por mais de trinta dias consecutivos,
no período entre 15/02/2017 e 05/04/2017, sendo certo que a penalidade foi aplicada em
10/05/2017, pelo Ministro de Estado competente para tanto.
Inconformada, Lúcia buscou assessoria jurídica, na data de hoje, à qual informou que ja-
mais teve a intenção de abandonar o cargo, tanto que, em 20/08/2016, formalizou pedido de
licença por motivo de afastamento de seu cônjuge, Antônio, professor concursado de uma
universidade pública federal, que, no interesse da Administração, foi deslocado para cursar
pós-doutorado na Alemanha, a ser iniciado em 20/01/2017.
Esclareceu que, apesar de insistentes tentativas de obter um pronunciamento por parte do
órgão competente para a apreciação de seu pedido de licença, não obteve qualquer resposta.
A servidora narrou que, com o início do ano letivo na Alemanha, em 15/02/2017, viu-se
compelida a se ausentar fisicamente do país, com vistas a proteger a unidade familiar, consi-
derando que possui dois filhos pequenos com Antônio, que já estavam matriculados em uma
escola na cidade em que o cônjuge cursaria o pós-doutorado.
Lúcia acrescenta que comunicou formalmente aos seus superiores o novo endereço e te-
lefones de contato, mas que foi surpreendida quando uma antiga colega de trabalho lhe infor-
mou a portaria contendo a sua demissão, sem que qualquer notificação acerca da existência
de processo administrativo disciplinar lhe tivesse sido anteriormente remetida.
Ao buscar os respectivos autos, Lúcia verificou que o processo consistia apenas de porta-
ria inaugural, constituindo a comissão processante, composta por dois servidores ocupantes
de cargo efetivo, certo que um deles ainda estava em estágio probatório.
A comissão atestou o não comparecimento da servidora no mencionado período e, ato
contínuo, elaborou um relatório concluindo pela aplicação da pena de demissão, sem que ti-
vesse sido promovida sua notificação ou a nomeação de qualquer pessoa que pudesse reali-
zar sua defesa. Considerando que Lúcia já retornou definitivamente com sua família ao Brasil
e que não pretende obter indenização pelo período em que não trabalhou, bem como que você
é o(a) advogado(a) por ela consultado, na data de hoje, redija a peça para a defesa dos interes-
ses de sua cliente, com indicação de todos os fundamentos jurídicos pertinentes.

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QUAL A PEÇA A SER ELABORADA?


RESPOSTA: petição inicial de ação anulatória do ato demissional E/OU de reintegração em
cargo no serviço público federal.
EXAME XX – A sociedade empresária Alfa S.A., concessionária de uma linha do serviço de
transporte metroviário no Estado X, formulou, na esfera administrativa, requerimento de revi-
são das tarifas a fim de readequá-las aos seus custos, devido ao súbito e radical aumento de
tributos federais (evento extraordinário e imprevisível que teria rompido o equilíbrio econômico
financeiro inicial do contrato).
O Estado, entretanto, por meio de decisões do seu Governador, publicadas na imprensa ofi-
cial, negou o pleito da sociedade empresária, assim como desproveu o recurso administrativo
por ela interposto, ao fundamento de que:
(1) o contrato administrativo somente admite o reajuste das tarifas, uma vez por ano, com
base em um índice oficial de inflação previamente estabelecido, o que não corresponde ao
pleito formulado pela sociedade empresária;
(2) a má prestação do serviço teria inibido o aumento da demanda e, consequentemente,
o aumento da receita.
Em razão do segundo argumento, ainda, o Governador aplicou as penalidades de multa e
suspensão temporária de participar em licitação e impedimento para contratar com a Adminis-
tração Pública, por dois anos, na forma do contrato de concessão.
Você é procurado(a), na qualidade de advogado(a), para ajuizar a medida cabível à prote-
ção dos interesses da sociedade empresária, consistentes no reequilíbrio econômico-financei-
ro do contrato e no afastamento das penalidades aplicadas, especialmente tendo em vista que
nunca antes a sociedade empresária fora notificada a respeito de qualquer descumprimento
contratual, e considerando, ainda, a existência de novas licitações em andamento.
Elabore a peça adequada à proteção de todos os interesses de seu cliente, considerando,
ainda, que haverá necessidade de produção de prova pericial para identificar o alegado dese-
quilíbrio econômico-financeiro do contrato.
QUAL A PEÇA A SER ELABORADA?
RESPOSTA: AÇÃO ORDINÁRIA PELO PROCEDIMENTO COMUM.

 Obs.: Observe que não existe uma ação específica, tendo em vista a multiplicidade de pedi-
dos. Logo, a FGV/OAB tem aceitado, nestes casos, o ajuizamento, simplesmente, de
uma ação ordinária.

EXAME XIX – Marcos Silva, aluno de uma Universidade Federal, autarquia federal, incon-
formado com a nota que lhe fora atribuída em uma disciplina do curso de graduação, abordou
a professora Maria Souza, servidora pública federal, com um canivete em punho e, em meio a
ameaças, exigiu que ela modificasse sua nota.

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Nesse instante, a professora, com o propósito de repelir a iminente agressão, conseguiu


desarmar e derrubar o aluno, que, na queda, quebrou um braço.
Diante do ocorrido, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar (PAD), para apurar
eventual responsabilidade da professora. Ao mesmo tempo, a professora foi denunciada pelo
crime de lesão corporal. Na esfera criminal, a professora foi absolvida, vez que restou provado
ter agido em legítima defesa, em decisão que transitou em julgado.
O processo administrativo, entretanto, prosseguiu, sem a citação da servidora, pois a Co-
missão nomeada entendeu que a professora já tomara ciência da instauração do procedimen-
to por meio da imprensa e de outros servidores. Ao final, a Comissão apresentou relatório
pugnando pela condenação da servidora à pena de demissão.
O PAD foi encaminhado à autoridade competente para a decisão final, que, sob o funda-
mento de vinculação ao parecer emitido pela Comissão, aplicou a pena de demissão à servido-
ra, afirmando, ainda, que a esfera administrativa é autônoma em relação à criminal.
Em 10/04/2015, a servidora foi cientificada de sua demissão, por meio de publicação em
Diário Oficial, ocasião em que foi afastada de suas funções, e, em 10/09/2015, procurou seu
escritório para tomar as medidas judiciais cabíveis, informando, ainda, que, desde o afasta-
mento, está com sérias dificuldades financeiras, que a impedem, inclusive, de suportar os cus-
tos do ajuizamento de uma demanda
QUAL A PEÇA A SER ELABORADA?
RESPOSTA: A peça a ser elaborada consiste em uma Petição Inicial de Ação anulatória de
ato administrativo, cumulada com reintegração em cargo público.

 Obs.: Nesta hipótese, apesar da existência de uma ação específica, a FGV aceitou o ajuiza-
mento de ação de Rito Ordinário.
 A FGV esclareceu que não se admite, neste caso, a impetração do Mandado de Segu-
rança, uma vez que decorridos mais de 120 dias da ciência, pelo interessado, do ato
impugnado (Art. 23 da Lei n. 12.016/09).

EXAME XVI – Edir, pessoa idosa que vive com a ajuda de parentes e amigos, é portadora
de grave doença degenerativa, cujo tratamento consta de protocolo clínico e da diretriz tera-
pêutica estabelecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Seu tratamento é acompanhado por
profissionais do SUS em hospital público federal especializado nessa doença, contando com
o fornecimento regular dos medicamentos 1, 2 e 3. Enquanto realizava consulta de acompa-
nhamento, Edir foi informada pelo médico Domênico, profissional do SUS, de que existia um
novo medicamento disponível no mercado (o “medicamento A”), que seria muito mais eficaz,
conforme relatório de estudos clínicos oficiais, no tratamento de sua doença do que aqueles
já prescritos. Contudo, a paciente foi informada de que o “medicamento A” não seria fornecido
gratuitamente pelo SUS, haja vista que o referido medicamento não consta ainda do protocolo
clínico e da diretriz terapêutica interna do SUS para o tratamento da doença, além de não ter
sido incorporado às listas de medicamentos xxxx. 

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Inconformada com a negativa de fornecimento do “medicamento A”, Edir procura você para
que, na qualidade de advogado(a), ajuíze a medida cabível para garantir a continuidade e qua-
lidade de seu tratamento.
Elabore a peça adequada, considerando que:
A) Edir corre sério risco de vida com o agravamento da doença em razão do não forneci-
mento do “medicamento A”; B) a condição clínica de Edir foi atestada em laudo médico assina-
do pelo profissional do SUS Domênico, que também recomendou o uso do “medicamento A”;
C) eventualmente poderá ser necessária a elaboração de prova pericial para dirimir as contro-
vérsias de natureza técnica da causa.
QUAL A PEÇA CABÍVEL?
A medida adequada, a ser ajuizada pelo examinando, é uma petição inicial de ação de co-
nhecimento com pedido de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional.
Admite-se, também, o ajuizamento de ação de obrigação de fazer, a qual também é uma
ação de conhecimento, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional.

 Obs.: Não é cabível a impetração de mandado de segurança, em virtude da necessidade de


instrução probatória.

EXAME XVI – O Ministério da Cultura publicou, na imprensa oficial, edital de licitação que
veio assinado pelo próprio Ministro da Cultura, na modalidade de tomada de preços, para a
elaboração do projeto básico, do projeto executivo e da execução de obras de reforma de uma
biblioteca localizada em Brasília. O custo da obra está estimado em R$ 2.950.000,00 (dois
milhões novecentos e cinquenta mil reais). O prazo de execução é de 16 (dezesseis) meses, e,
de acordo com o cronograma divulgado, a abertura dos envelopes se dará em 45 (quarenta e
cinco) dias e a assinatura do contrato está prevista para 90 (noventa) dias.
Do edital constam duas cláusulas que, em tese, afastariam do certame a empresa ABCD
Engenharia.
A primeira diz respeito a um dos requisitos de habilitação, pois se exige dos licitantes, para
demonstração de qualificação técnica, experiência anterior em contratos de obra pública com
a União (requisito não atendido pela empresa, que já realizou obras públicas do mesmo porte
que a apontada no edital para diversos entes da Federação, mas não para a União.
A segunda diz respeito à exigência de os licitantes estarem sediados em Brasília, sede do
Ministério da Cultura, local onde se dará a execução das obras (requisito não atendido pela
empresa, sediada no Município de Bugalhadas).
Na mesma semana em que foi publicado o edital, a empresa o procura para que, na quali-
dade de advogado, ajuíze a medida cabível para evitar o prosseguimento da licitação, reconhe-
cendo os vícios do edital e os retirando, tudo a permitir que possa concorrer sem ser conside-
rada não habilitada, e sem que haja vício que comprometa o contrato.
Pede, ainda, que se opte pela via, em tese, mais célere.

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Elabore a peça adequada, considerando não ser necessária a dilação probatória, haja vista
ser preciso apenas a juntada dos documentos próprios (edital, cópia dos contratos com outros
entes federativos, etc.) para se comprovar os vícios alegados. Observe o examinando que o
interessado quer o procedimento que, em tese, seja o mais célere.
QUAL A PEÇA CABÍVEL?
RESPOSTA: A peça a ser apresentada é um Mandado de Segurança, impugnando o edital
de licitação publicado pelo Ministério da Cultura.
Observe-se que não há a necessidade de fase probatória e seu cliente informou que deseja
o procedimento que, em tese, seja o mais célere.
O Mandado de Segurança há de ser dirigido ao Superior Tribunal de Justiça, competente
para o julgamento de Mandado de Segurança contra ato de Ministro de Estado, na forma do
artigo 105, I, b, da CRFB/88.
EXAME XV – Fulano de Tal, Presidente da República, concedeu a qualificação de Organi-
zação Social ao “Centro Universitário NF”, pessoa jurídica de direito privado que explora co-
mercialmente atividades de ensino e pesquisa em graduação e pós-graduação em diversas
áreas. Diante da referida qualificação, celebrou contrato de gestão para descentralização das
atividades de ensino, autorizando, gratuitamente, o uso de um prédio para receber as novas
instalações da universidade e destinando-lhe recursos orçamentários.
Além disso, celebrou contrato com a instituição, com dispensa de licitação, para a presta-
ção de serviços de pesquisa de opinião.
Diversos veículos de comunicação demonstraram que Sicrano e Beltrano, filhos do Presi-
dente, são sócios do Centro Universitário.
Indignado, Mévio, cidadão residente no Município X, procura você para, na qualidade de
advogado, ajuizar medida adequada a impedir a consumação da transferência de recursos
e o uso não remunerado do imóvel público pela instituição da qual os filhos do Presidente
são sócios.
QUAL A PEÇA?
A medida adequada a ser ajuizada é a Ação Popular, remédio vocacionado, nos termos do
Art. 5º, LXXIII, da Constituição, para a anulação de ato lesivo ao patrimônio público ou de enti-
dade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural.
Observe-se que não é possível o ajuizamento de ação civil pública, tendo em vista que, ape-
sar da natureza transindividual do direito pleiteado, o autor da ação é pessoa física (no caso,
cidadão no pleno gozo dos direitos políticos).
MANDADO DE SEGURANÇA?
Não é cabível a utilização de Mandado de Segurança, que não pode ser considerado subs-
titutivo da Ação Popular (Súmula 101, do STF), nem a Ação Ordinária.

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Exame IV – João Augusto estava participando de uma partida de futebol quando fraturou
uma costela, vindo a necessitar de intervenção cirúrgica, realizada em hospital público federal
localizado no Estado X. Dois anos e meio após a realização da cirurgia, João Augusto ainda
sofria com muitas dores no local, o que o impossibilitava de exercer sua profissão como taxis-
ta. Descobre, então, que a equipe médica havia esquecido um pequeno bisturi dentro do seu
corpo. Realizada nova cirurgia no mesmo hospital público, o problema foi resolvido.
No dia seguinte, ao sair do hospital, João Augusto procura você, na qualidade de advoga-
do(a), para identificar e minutar a medida judicial que pode ser adotada para tutelar seus direitos.
Redija a peça judicial cabível, que deve conter argumentação jurídica apropriada e de-
senvolvimento dos fundamentos legais da matéria versada no problema, abordando, neces-
sariamente:
(i) competência do órgão julgador;
(ii) a natureza da pretensão deduzida por João Augusto; e (iii) os fundamentos jurídicos
aplicáveis ao caso.
(Valor: 5,0 – Foram disponibilizadas 150 linhas para resposta)
QUAL A AÇÃO A SER AJUIZADA?
RESPOSTA: Ação de responsabilidade civil ou ação indenizatória pelo rito ordinário em
face da União Federal

Estruturação da Petição Inicial


Apesar da quantidade de petições iniciais possíveis, todas elas seguem a mesma estrutu-
ra, prevista no artigo 319 do código de processo civil.
Tal regra vale inclusive para as ações constitucionais, as quais, no entanto, poderão ter
alguns requisitos específicos mencionados nas respectivas leis especiais.

EXEMPLO:
Mandado de segurança: requisitos do art. 319 do CPC + LEI 12.016/2009.
Ação popular: requisitos do art. 319 do CPC + LEI 4.717/64.
Ação civil pública: requisitos do art. 319 do CPC + LEI 7.347/1985.

Assim, nos termos do art. 319 do CPC, tem-se que:


A petição inicial indicará
• O juízo a que é dirigida;
• Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o nú-
mero de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
• O fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
• O pedido com as suas especificações;
• O valor da causa;
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• As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados.

VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

AGORA, VAMOS TREINAR!

Elaborando uma Petição Inicial


(XXVIII EXAME DE ORDEM) Apolônio Silva foi encarcerado há três anos, pela prática do
crime de lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, do CP), em razão de decisão penal
transitada em julgado proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado Alfa, que o condenou à pena
de doze anos de reclusão. Apesar das tentativas da Defensoria Pública de obter a ordem de
soltura, Apolônio permaneceu preso, até que, no ano corrente, foi morto durante a rebelião que
ocorreu no presídio em que estava acautelado. Durante a mesma rebelião, numerosos conde-
nados foram assassinados a tiros, sendo certo que as armas ingressaram no local mediante
pagamento de propina aos agentes penitenciários.
Inconformada, Maria da Silva, mãe de Apolônio, procurou você para, na qualidade de advo-
gado(a), tomar as medidas cabíveis, com vistas a obter a responsabilização civil do Estado. Ela
demonstrou que, ao tempo da prisão, ele era filho único, solteiro, sem filhos, trabalhador, e pro-
via o seu sustento. Como Maria tem idade avançada e problemas de saúde, ela não tem condi-
ções de arcar com os custos do processo, notadamente porque gastou as últimas economias
para proporcionar um funeral digno para o filho. Redija a peça cabível, mediante apontamento
de todos os argumentos jurídicos pertinentes.
VAMOS IDENTIFICAR A AÇÃO?
Sim. Mas, antes, vamos refletir sobre o problema:
O que aconteceu?
Resposta:
Apolônio morreu durante rebelião, na qual é possível ligar a conduta de um agente público
ao dano. Há nexo de causalidade entre a conduta do agente corrupto e o preso que deu um tiro
em Apolônio. E ele estava preso, ou seja, sob a responsabilidade do Estado. O poder público
ainda falhou ao deixar a arma entrar no presídio.
Deste modo, tem-se que Maria sofreu dano moral e material em razão da morte de seu fi-
lho, ocorrida devido a omissão do Estado no cumprimento do seu dever ESPECÍFICO de cuidar
da integridade física de seu filho.
QUAL A PEÇA?
Podemos afirmar que houve dolo dos agentes públicos ao receberem propina. Maria pro-
cura o advogado porque quer a responsabilização do Estado.
É importante, primeiro, verificar dois mundos: com processo e sem processo.

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Se já houvesse processo, poderia haver uma contestação, uma apelação ou um agravo de


instrumento, a depender da situação apresentada.
Porém, não é o caso, pois não há ainda um processo. Então, será uma petição inicial.
Como se trata de uma ação com o objetivo de “tomar as medidas cabíveis, com vistas a
obter a responsabilização civil do Estado” tem-se que a ação correta é uma ação de indeniza-
ção contra o Estado.
Quem figurará no polo ativo?
Resposta: a pessoa que procurou o advogado pedindo auxílio. No caso, Maria.
Quem figurará no polo passivo?
O Estado, uma vez que nos termos do art. 37, § 6º:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos


responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Obs.:
 Ela não poderia entrar com ação contra os agentes responsáveis pela morte de Apolônio,
pois, segundo o STF, o Estado deve responder pelos danos causados por seus agentes.

Para quem encaminharei o pedido?


Não é caso de foro por prerrogativa de função. Também não é o caso de justiça especiali-
zada. Então, será julgado ou pela justiça estadual, ou pela federal.
Apolônio estava preso em uma Penitenciária estadual. Logo, não há interesse federal. Des-
se modo, o pedido será feito na justiça estadual.
O que vou pedir?
Danos materiais e morais
Com relação aos danos morais, houve a morte do filho de Maria; tem-se, assim, dano
presumido.
Observe-se que o problema ainda menciona que Apolônio era filho único, solteiro, sem fi-
lhos, trabalhador, e provia o sustento da sua mãe.
O valor gasto com o enterro também pode ser cobrado do Estado.
Quais os fundamentos deste pedido?
Art. 37, § 6º, da CF:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos


responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Obs.:
 A expressão agente público abrange todas as categorias de servidores públicos, sejam
os agentes políticos, administrativos ou particulares em colaboração com a Administra-
ção. O Estado pode entrar com pedido de regresso contra o agente público que deixou a
arma entrar no presídio. Ainda, há outros instrumentos jurídicos que podem ser usados.

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Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especi-
ficados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.

TÍTULO III
Dos Atos Ilícitos

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO


a. Dano: morte de Apolônio.
b. Conduta: agente público que entregou a arma e falha do poder público na fiscalização.
c. Nexo causal: entre a omissão do Estado e a morte de apolônio.
d. Ausência de causas excludentes da responsabilidade do Estado:
CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO
O Estado poderia alegar força maior, caso fortuito, culpa exclusiva da vítima ou exercício
regular de direito. Mas, no caso, nenhuma dessas teses aconteceu.
Na força maior, por exemplo, há ocorrência oriunda da natureza, um acontecimento impre-
visível e inevitável, independente da vontade humana.
Já o caso fortuito é quando o dano emanar de ato humano (o prejuízo provocado ao par-
ticular decorre de um fato interno, de uma causa interna à própria atividade, podendo até ser
desconhecida).
Desse modo, não há caso fortuito, força maior ou outra causa que possa excluir a respon-
sabilidade do poder público.
O que vou pedir?
Maria pode pedir indenização por danos morais e materiais. Podem ser pedidos lucros
cessantes e danos emergentes.
Desse modo, seguindo o roteiro de elaboração de uma petição inicial, teríamos a se-
guinte peça:
Ao Juízo da Vara de Fazenda Pública do TJ do Estado Alfa.
Maria da Silva, qualificação, vem, respeitosamente, perante este juízo a fim de ajuizar a pre-
sente ação de indenização por dano moral e material em face do Estado Alfa, pessoa jurídica
de direito público, (qualificação) consoante as razões de fato e de direito a seguir expostas:
PRELIMINARMENTE
DOS BENEFÍCIOS DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA:
Inicialmente, requer a concessão da gratuidade de justiça, diante da impossibilidade de a autora
arcar com as custas do processo, sem prejuízo do próprio sustento, na forma do Art. 98 do CPC/15.
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DOS FATOS:
(basta fazer um resumo do problema apresentado)
Pode ser bem resumido mesmo. Exemplo:
A autora era mãe de Apolônio, o qual morreu durante uma rebelião ocorrida no presídio em
que estava acautelado. Tal morte ocorreu em virtude de disparo de arma de fogo que penetrou
no presídio com o auxílio de agentes públicos da requerida, os quais permitiram o ingresso das
referidas armas mediante o recebimento de propina.
DO DIREITO:
Conforme estabelece nossa Constituição Federal, as pessoas jurídicas de direito público
(…) responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, asse-
gurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Deste modo, deve o Estado indenizar a autora pelos prejuízos causados, uma vez que:
a) estão presentes os elementos configuradores da responsabilidade objetiva do Estado,
a saber:
1) dano, consistente na morte do filho da autora, do qual dependia economicamente.
Aliás, com relação ao dano sofrido, destaque-se:
a) a caracterização do dano moral in re ipsa (dano moral presumido) decorrente do faleci-
mento do filho da demandante;
b) a dependência financeira da autora, que contava com o falecido para o seu sustento,
para fins de pensionamento;
c) os prejuízos decorrentes com as despesas de funeral, as quais precisam ser ressarcidas,
na forma do art. 948, inciso I, do Código Civil.
2) conduta dos agentes públicos da requerida, violando o dever jurídico de cuidado em rela-
ção a todos os detentos, permitindo o ingresso de armas no presídio e possibilitando a morte
daqueles que se encontravam sob a tutela do Estado.
3) nexo de causalidade entre a conduta dos agentes públicos e o dano injusto sofrido pelo
filho da autora.
Destaque-se, ainda:
a) a violação do dever de preservação da integridade física e moral do preso na forma do
Art. 5º, inciso XLIX, da CRFB/88;
b) a incidência do Art. 37, § 6º, da CRFB/88 – teoria do risco administrativo, que abrange
as condutas omissivas do Estado em razão do dever específico de garantir a integridade física
dos presos.
DO PEDIDO
Ante o exposto, requer se digne vossa Excelência a:
1) Determinar a citação do requerido para responder aos termos da presente ação, sob
pena de revelia.
2) Conceder os benefícios da assistência judiciária gratuita, nos termos do art. 98 do CPC/15.

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3) Julgar procedente a presente ação, para que o Estado seja condenado no pagamento de
indenização por danos morais, ressarcimento pelas despesas de funeral, bem como no pensio-
namento da autora, além de custas e honorários de sucumbência.
Provará o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.
Informa, finalmente, que deseja (ou não deseja) a realização de audiência de conciliação
ou mediação.
Dá-se a causa o valor de (…).
Termos em que, pede deferimento.
Local e data.
Advogado

Esqueleto da Peça
Esperamos que o modelo acima apresentado tenha sido útil para auxiliá-lo(la) na elabora-
ção de uma petição inicial.
Assim, o artigo 319 do CPC deverá ser observado em qualquer petição inicial que você
venha a fazer.
É o seu modelo “genérico”:
I – o juízo a que é dirigida;
AO JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO COMARCA…
AO JUÍZO DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA VARA FEDERAL DA…
AO JUÍZO CÍVEL DA COMARCA…
II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurí-
dica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
Relembro-lhes que, na prova da FGV, o candidato(a) NÃO DEVE INSERIR INFORMAÇÕES
QUE NÃO CONSTEM NO PROBLEMA. Assim, os campos CPF, CNPJ, ENDEREÇO, ETC. não de-
vem ser inseridos.
Neste aspecto, basta informar o nome que consta no problema, acrescido da expressão
(QUALIFICAÇÃO).
Tal informação será suficiente para que a banca entenda que você sabe os requisitos pre-
vistos no art. 319, II, do CPC.
III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
Nestes itens, teremos os famosos:
DOS FATOS
(resumo do problema apresentado)
DO DIREITO
(fundamentos jurídicos da pretensão do autor)

 Obs.: É um dos itens mais importantes na sua peça. Costuma valer entre 2,0 e 3,0 pontos.

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IV – o pedido com as suas especificações;


É o último item no famoso DOS FATOS, DO DIREITO, DO PEDIDO.
Neste item, o autor deve formular todas as pretensões que possui em relação ao réu,
tais como:
Tutela antecipada, busca e apreensão, citação, intimação do membro do Ministério público
(se for o caso) etc.
V – o valor da causa;
Neste item, basta escrever a frase:
“Dá-se à causa o valor de (…)”.

 Obs.: Não se deve mencionar o valor da causa, a não ser que o problema diga qual o
valor cobrado.

VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
Neste item, basta escrever a frase:
“Provará o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos” ou algo similar.
VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.
Neste item, tanto faz: o autor pode dizer que quer (ou que não quer) a realização da audiên-
cia de conciliação ou de mediação.
Porém, precisa fazer menção a este item para pontuar.
Esse é o esqueleto básico de qualquer petição inicial.
Caso precise ajuizar alguma ação “especial” tal como um mandado de segurança, uma
ação popular ou uma ação civil pública, deverão ser observados os requisitos previstos no art.
319 do CPC e, também, os requisitos específicos das referidas ações.
Mas isso é assunto para outra aula.
Abraços!

Nilton Coutinho
Doutor em Direito Político e Econômico. Procurador do Estado de São Paulo. Aprovado em diversos
concursos públicos: Correios, Unesp, Ministério Público, Procuradoria do Estado de São Paulo. Autor de
diversos livros jurídicos.

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