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Direito Penal

Alexandre Salim, Matheus Kuhn


Sumário
Aula 1 e 2 - Princípios Penais Fundamentais................................................................................3
Princípio da Legalidade ou Reserva Legal.................................................................................3
Princípio da Intervenção mínima..............................................................................................3
Princípio da Ofensividade ou Lesividade..................................................................................3
Princípio da materialização ou exteriorização do fato.............................................................3
Princípio da Responsabilidade penal subjetiva.........................................................................3
Princípio da responsabilidade penal individual........................................................................3
Princípio da culpabilidade........................................................................................................3
Principio da proporcionalidade................................................................................................3
Princípio da adequação social..................................................................................................3
Princípio da Insignificância ou bagatela...................................................................................3
Direito Penal Objetivo, Subjetivo e velocidades...........................................................................3
Fontes Material e Formal.............................................................................................................4
Características da lei penal...........................................................................................................6
Aspectos da Lei Penal...................................................................................................................6
Norma penal em Branco.......................................................................................................7
Aula 1 e 2 - Princípios Penais Fundamentais
Princípio da Legalidade ou Reserva Legal
CF, artigo 5º, XXIX

CP, art. 1º.

Não há crime sem lei que o defina. Não há pena sem prévia cominação.

Postulados/Corolários do Princípio da Legalidade ou Reserva Legal

Lex Previa

Lex Scripta

Lex Scripta

Lex Certa

Lex Prévia

É o Princípio da Anterioridade Penal.

A necessidade de lei prévia ao fato que se quer punir.

Ex: Crime de Stalking, ou perseguição. Artigo 147, CP.

Ex2: Policial disfarçado pelo pacote anti-crime. Lei 13.964/2019, vigência em 23 de janeiro de
2020. Aumentou a pena da concussão, art. 316, CP.

Somente após o início da vigência, é possível a cominação do fato que se quer punir. A lei
penal não pode retroagir, exceto em benefício do réu. Não é possível criar crime de forma
retroativa.

Lex Scripta

- Proibição do costume criminador.

Os costumes e princípios não podem criar lei, é necessária lei.

Compete privativamente a União legislar sobre legislação penal, art. 22, CF.

Artigo 62, CF (medida provisórias). É vedadas a MP quer verse sobre direito penal.

Jurisprudência. O STF diz que não pode MP contra o réu, mas a favor do réu é possível.

Art. 68, CF. Não serão objeto de delegação os direitos individuais, dentre os quais está o
princípio da Legalidade opu Reserva Legal.
Lex Stripta

- Proibição de analogia em desfavor do réu.

Na analogia não há lei, havendo somente em caso semelhante.

É permitida a analogia somente em bonam partem, não em malam partem. Ou seja, somente
é possível quando benéfica ao réu.

Sumula 174, STF. No crime de roubo, a utilização de arma de brinquedo, aumenta a pena. Esta
sumula está cancelada, pois previa a analogia em malam partem.

A arma de brinquedo não permite o aumento de pena, mas será ainda considerado roubo.

Art. 121, 5º, CP. Perdão judicial em crimes culposos é possível, por analogia ao previsto no
crime de homicídio. No CTB, art, 302 está previsto o homicídio no trânsito, e embora não haja
a menção ao perdão, é aplicável em bonam partem.

Analogia X Interpretação analógica. Na interpretação analógica existe lei em sua forma


casuística, ou exemplificativa. Ou seja, há uma lei em forma genérica. É possível interpretá-la
analogicamente para prever crime.

Exemplo. Art. 121, §2º, CP. O motivo torpe é previsto de forma exemplificativa como paga
promessa, mas se prevê também qualquer outra hipótese.

Lex Certa

Principio da Taxatividade Penal.

O tipo penal deve ser certo , preciso, pré-determinado.

Ex: Crime de terrorismo era previsto pela Lei 71/70, contudo, não definido. Foi revogada, e
hoje a lei é a 13.260/2016, art; 2º.

Princípio da Intervenção mínima


Nenhuma forma do Estado intervir é tão dratica quanto o direito penal, que pode tirar a
liberdade.

Princípio da Fragmentariedade

O Direito penal não se preta ao todo, somente a parte, ao fragmento.

O Direito penal pressupõe um ataque intolerável a um bem jurídico relevante. Somente nesta
hipótese o direito penal deveria intervir.
Hoje não é a realidade pois o direito penal regula até mesmo o direito econômico e ambiental.

Princípio da Subsidiariedade

O direito penal é a última ratio, último recurso,

Se o conflito puder ser resolvido por outro ramo do direito de foram satisfatória, não haverá a
intervenção do direito penal.

Princípio da Ofensividade ou Lesividade


Só há crime se houver lesão ou exposição a perigo de um bem protegido pelo direito penal.

Crimes de dano x Crimes de perigo (direto ou abstrato)

Crime de dano: para consumação deve haver uma efetiva lesão ao bem jurídico tutelado para
a consumação.

Crimes de perigo: consumam-se com a mera exposição a risco do bem jurídico. O perigo pode
ser concreto, ou seja, concretamente demonstrado nos autos, sob pena de atipicidade. No
perigo abstrato é presumido, não há necessidade de demonstrá-lo.

Art. 250, CP. Crime de incêndio. Necessário o fogo.

Art. 288, CP. Associação criminosa. A mera reunião é crime. Ainda que não seja praticado
crime posterior.

Lei 309, CTB. Dirigir sem ser habilitado. Não basta não ter habilitação, pois trata-se de crime de
perigo concreto, sendo necessário causar dano.

Art. 306, CTN. Dirigir embriagado é perigo de dano abstrato, presumido.

Art. 310, CTN. Dirigir sem carteira por ter sido cassada. É de perigo abstrato. Em linha com o
disposto na Sumula 575, CTJ.

Princípio da Alteridade

O principio da ofensividade deve ser entendido em conjunto com o da alteridade.

Alteridade = altero, outro.

Só a crime se o bem jurídico for de outrem.

Não há crime se o bem jurídico é do agente, exemplo: não se pune o suicídio.

Ex: Há quem indique a ausência de crime no caso do consumidor de drogas.

Art. 171, V, CP. O agente lesa o próprio corpo para receber seguro. Neste caso o agente lesa a
seguridade, não a si.

4 funções do principio da ofensividade ou lesividade

Nilo Batista, Introdução Crítica ao direito penal brasileiro.


a. Proibição a incriminação de uma atitude interna, como as ideias, convicções,
aspirações e desejos dos homens.
b. Proibição da incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor.
c. Proibição da incriminação de simples estados ou condições existenciais.
d. Proibição da incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem
jurídico.

Princípio da materialização ou exteriorização do fato


O direito penal pune fatos que se concretizaram no mundo real.

Direito penal do autor: pune-se o sujeito Direito penal do fato: pune-se o sujeito pelo
pelo que é. que fez.

Direito penal do autor é o que ocorria na Alemanha Nazista.

Há no Brasil o direito penal do fato, somente.

Iter Criminis

Tem 4 fases:

a. Cogitação
b. Preparação
c. Execução
d. Consumação

O direito penal brasileiro somente pune quando iniciada a execução. Ou seja, não se pune a
cogitação e a preparação.

Crime tentado, art. 14, II, CP. Deve ser iniciada a execução.

Exceção: Pune-se a preparação somente se atos preparatórios são criminosos. Lei 13. 270, art.
5º - crime de terrorismo. Pune-se a preparação.

Princípio da Responsabilidade penal subjetiva


Não basta que o fato se concretize no mundo real, é necessário que o autor tenha agido com
dolo.

Não basta para o direito penal um fato materializado, é preciso, ainda, verificar se o agente
agiu com dolo ou culpa.

Veda-se a responsabilidade penal objetiva. É preciso que haja dolo ou culpa.

Há um resquício da responsabilidade penal objetiva na Teoria da “Actio Libera in causa”: art.


28, CP. Não exclui a culpabilidade do réu no caso de embriaguez. A culpa relaciona-se ao
momento que decidiu ingerir o álcool.
Princípio da responsabilidade penal individual
Sinônimos: principio da reponsabilidade penal pessoa, pessoalidade, personalidade, e
intranscendência.

Proíbe-se, em direito penal, a responsabilidade coletiva, societária, familiar.

Ou seja, o pai não responde pelo crime praticado pelo filho. O socio não responde por crime da
sociedade.

Pune-se o autor da conduta.

Art. 5º, XLV, CF. a pena não passa da pessoa do réu, embora o perdimento possa atingir os
sucessores no limite da herança.

Teoria da dupla imputação no direito penal ambiental

A pessoa jurídica pode ser imputada por crime ambiental desde que se impute a pessoa física.

Resp 54881, STF – Ler toda a decisão. Afastou a dupla imputação. Esta teoria não é adotada
pelos tribunais superiores.

Princípio da culpabilidade
a. Culpabilidade como elemento do crime ou pressuposto de aplicação da pena:
pressuposto para o crime, no finalismo tripartite ou bipartido.
b. Culpabilidade como medida da pena: Art. 59, CP – culpabilidade como medida da
pena.
c. Culpabilidade como responsabilidade subjetiva: requisito do crime.

Principio da proporcionalidade
Adequação: a medida deve ser adequada a alcançar os bens protegidos.

Necessidade: última ratio, de forma subsidiaria.

Proporcionalidade em sentido estrito: não deve exceder o razoável. Os benefícios a ser


alcançados devem ser maiores que os custos, para o agente e a sociedade.

Art. 273, CP. Crime hediondo. Resp 979962. É inconstitucional a aplicação do preceito
secundário da pena do artigo 273, CP. Fica repristinado o preceito secundário.

Princípio da adequação social


Conduta socialmente adequada = aquela que se insere no âmbito de normalidade nos âmbitos
da norma e conduta.

Causa de exclusão da tipicidade material


Modernamente a tipicidade penal possui duas faces:

- Tipicidade objetiva – tipicidade formal ou material

Tipicidade formal: se o comportamento se adequa, se amolda ao crime.

Tipicidade material: analisa se o comportamento, formalmente típico, ofendeu bem


material tutelado pelo direto penal causa der exclusão da tipicidade material.

- Tipicidade subjetiva – dolo ou elemento subjetivo especial (dolo específico).

Ou seja, o fato não será considerado crime se adequado em relação aos costumes e princípios.

Atenção: Não incide no art. 184, §2º (violação de direito autoral) e 229, CP (casa de
prostituição). Sumula 502, STJ.

Princípio da Insignificância ou bagatela


Natureza jurídica: Causa de exclusão da tipicidade material.

Exemplo: roubo de chocolate de 5 reais em mercado. A ofensa ao bem jurídico deve ser
drástica.

Requisitos objetivos obrigatórios (MARI):

M – Mínima ofensividade da conduta do agente

A – ausência (nenhuma) periculosidade da ação.

R – reduzido grau de reprovabilidade do comportamento

I – inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Requisito subjetivo: mérito do agente. A reincidência impede a aplicação do principio? Não


necessariamente.

Há julgado paradigma – HC 123533/SP prevendo que a reincidência por si só não impede a


atipicidade. Se aplicável o enquadramento do crime, o regime deverá ser fixado
obrigatoriamente em semiaberto.

Infrações penais que não admitem o princípio da insignificância:

- violência ou grave ameaça a pessoa – Sumula 589, STJ.

- crimes contra administração pública praticados por funcionário público. Isso porque a moral
não é suscetível de insignificância ou valoração. O descaminho em até 20 mil reais, e sem
reiteração admite insignificância – sumula 599, STJ.

- moeda falsa – não cabe pois o patrimônio não é o único bem tutelado, mas a fé pública.

- Sumula 606, STJ – não aplicação nos casos de transmissão clandestina de internet ou sinal.
Crime de gato.
Direito Penal Objetivo, Subjetivo e velocidades
Direito Penal Objetivo

Entende-se o conjunto de normas incriminadoras e não incriminadoras. Normas


incriminadoras são as que definem crimes e cominam penas.

Direito penal Subjetivo

Possibilidade de o Estado aplicar as normas penais, exercendo o ius puniendi.

Direito penal do fato

Hipótese em que o direito penal pune as pessoas pela conduta que elas praticaram. Não há
punição pelo que a pessoa é, mas por aquilo que ela fez.

Direito penal do autor

O direito penal pune o autor por seu modo ou estilo de vida. A pena não está ligada a aquilo
que o agente fez, mas as características ou condições pessoais do indivíduo. Contradição penal
por vadiagem.

Não é permitido em nosso ordenamento.

Direito penal do fato que considera o autor

Conceito pelo qual o direito penal deve perseguir o fato praticado pelo agente. Deve ser
levado em consideração na seara da punição as características pessoais do autor,
antecedentes.

Direito penal de velocidades (classificação de Jesus Maria Silva Sanches)

Importante: intensidade e velocidade. Punições mais graves são mais rápidas e mais brandas
são mais lentas.

1. Direito penal de primeira velocidade: é o direito penal clássico. Observa-se os


princípios penais e processuais individuais, permite a pena de prisão. Aplica a pena
mais drástica por garantir os direitos penais e processuais. Visa proteger bens jurídicos
individuais e supraindividuais sempre que houve a efetiva lesão ou risco de lesão ao
bem jurídico tutelado.
2. Direito penal de segunda velocidade: possibilita-se a flexibilização dos direitos e
garantias fundamentais. Contudo, não se admite a aplicação de pena de prisão, mas
apenas de penas restritivas de direitos. Busca a proteção de bens jurídicos
supraindividuais, possibilitando a antecipação da tutela penal. Trata do crime de
perigo abstrato ou presumido pelo tipo, como o crime de tráfico de drogas [não é
preciso explicar que droga faz mal].
3. Direito penal de terceira velocidade: marcado pela relativização das garantias politico
criminais, regra de imputação e critérios processuais. Há flexivbilização dos direitos e
garantias fundamentais, buscando a punição do criminoso. O direito penal do inimigo
é hipótese do direito penal de terceira velocidade.

Observação: Direito penal do inimigo por Ganters Yacobs. Existem dois tipos de
criminosos: o delinquente cidadão e o delinquente inimigo. Ao delinquente cidadão é
aplicado o direito penal cidadão, visando reestabelecer o equilíbrio do ordenamento.
Para o delinquente inimigo, que não cumpre sua função social, frutando as
expectativas mínimas normativas, de forma duradoura e perene, perderá a condição
de cidadão e será tratado como inimigo.

A finalidade do direito penal é resguardar o sistema (Teoria funcionalística), que


significa evitar que o agente pratique fatos típicos, portanto, aquele que violou o
sistema, praticando fato típico, deverá ser tratado como inimigo.

Características do direito penal do inimigo.

1. Celeridade processual para aplicação da pena


2. Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios: ex. crime de
associação criminosa, que seria exemplo de direito penal do inimigo.
3. Penas desproporcionais
4. Perda da qualidade de cidadão
5. Criação de tipos penais de mera conduta; ex. violação de residência.
6. Criação de crimes de perigo abstrato
7. Utilização do direito penal do autor. Ex. contravenção de vadiagem.
8. Leis de luta ou de combate, ou seja, as quais criminalizam conduta segundo
comportamento que incomodou a sociedade. Ex. lei Carolina Dickman.
9. Restrição de garantias penais e processuais penais.

4. Direito penal de quarta velocidade: o inimigo é o chefe de estado que violou direitos
humanos previstos nos tratados e convenções internacionais. É o utilizado pelo
tribunal internacional penal. Sinônimo: neo punitivismo.

Direito penal de emergência, simbólico ou promocional

Classificação dada a legislação especial penal que, com a finalidade de frear a criminalidade,
reduz as garantias penais e processuais penais.

Exemplo: lei de crimes hediondos.

Direito penal simbólico

Direito penal funciona como simbolismo. Não há o efeito jurídico que as leis penais devem ter.
é a expressão utilizada para designar a criação de leis que, com o intuito de dar uma pronta
resposta à sociedade e fornecer sensação de segurança, criminaliza condutas sem observar
critérios criminológicos e de política criminal. Assim, cria-se falsa sensação de segurança,
cumprindo a lei penal apenas em caráter simbólico.

Direito penal promocional

O estado se utiliza das leis penais para consecução de suas finalidades políticas, servindo a lei
penal de instrumento de político. Direito penal perde a caraterística de ultima ratio.

Fontes Material e Formal


1. Fonte material, substancial ou de produção

É a união, única que cria leis penais. Art. 22, I, CF.

2. Fonte formal
Como as normas são exteriorizadas.

i. Fonte forma imediata: lei. Única que pode criar crimes e contravenções, e cominar
penas.
ii. Fonte formal mediata ou secundária:

Constituição federal. Não cria crimes ou cria penas, mas traz as balizas interpretativas para
aplicação adequada do direito penal.

Obs:

 Mandados de criminalização. Ex: Art. 5º, XLIV – determina a criminalização do


racismo; crimes ambientais. Os tribunais superiores têm aceitado os mandados de
criminalização. Ex HC 104/410, STF.

 Mandado de criminalização implícito ou tácito, ou imperativo de tutela: dever de


proteção eficiente que o Estado deve fornecer à sua população.

 Tratados e convenções de direito humanos. Se incorporados ao ordenamento


jurídico, pode ser fonte do direito penal. Não são instrumentos hábeis para criar
crimes e penas interno, somente é possível ao direito internacional.

Exemplo 1: STF entendeu que não pode ser aplicado o conceito de organização criminosa
previsto na convenção de Palermo. HC 96 007, STF, informativo 670.

Exemplo 2: Atentado do Rio Centro em 1981, crimes: homicídio qualificado tentado,


transporte de explosivos, associação, fraude, e favorecimento pessoal. Denúncia recebida
indicando que tais crimes cometidos são crimes contra a humanidade previstos no estatuto de
Roma, não prescrevem. Mas não fazem parte da nossa ordem interna. Decidiu-se que
necessária lei em sentido formal interna a respeito de crimes contra a humanidade, sob pena
de lesão ao princípio da legalidade. STJ, Resp 1. 798.903/RJ, Informativo 659.

 Jurisprudência

Interpretações dos tribunais superiores, que, ainda sem caráter vinculante, revelam as
interpretações dos tribunais superiores. Ex: crime continuado, art. 171, CPP – até 30 dias. Ex2:
repouso noturno – depende da localidade.

 Sumulas vinculantes

 Costume

Fonte secundária do direito penal. Pratica de conduta reiterada, tendo a convicção de que é
obrigatória.

Portanto há dois requisitos cumulativos:

1º requisito objetivo: reiteração da conduta


2º requisito subjetivo: convicção de obrigatoriedade.

Se não preencher os dois requisitos haverá habito, e não costume.

No direito penal o costume jamais pode criar crime ou aumentar pena. Somente a lei pode
faze-lo.

Costumes do nosso ordenamento jurídico:

- costume secundum legem ou interpretativo: Ajuda o interprete a esclarecer o conteúdo da


norma e suas circunstanciais. Ex: ato obsceno. A lei não conceitua, por isso, o costume nos diz.
Fazer xixi na rua escondido não é crime.

- costume contra legem ou negativo: Costume contrário a lei. Não admitido no nosso
ordenamento jurídico. Atenção: somente a lei pode revogar lei. Costumes não revogam leis.
Ex: jogo do bicho. O costume de jogar jogo do bicho ou descuetudo, continua sendo contra
legem. Resp 30.705, STJ.

- costume preter legem ou integrativo: utilizado para suprir lacunas, utilizado nas normas
penais não incriminadoras. Ex: clausula de exclusão da ilicitude clausulas supralegais de
exclusão da culpabilidade.

 Princípios

 Atos da administração pública

Podem ser utilizado como complemento da lei penal em branco. Ex: lei de drogas e portaria da
anvisa.

Características da lei penal


(EIGIA)

Exclusividade: somente alei penal pode criar crimes e cominar penas.

Imperativa: imposta a todos de forma obrigatória (cogente)

Generalidade: todos devem observar a lei penal, até mesmo os inimputáveis.

Impessoalidade; destinado a todos cidadão, não persegue pessoas mas somente fatos.

Anterioridade: leis penais incriminadoras não pode ser aplicada a fatos pretéritos.

Aspectos da Lei Penal


Lei Penal Completa ou perfeita: Aquela que dispensa qualquer tipo de complemento
normativo (por outra norma) ou valorativo (pelo juiz).

Incompleta ou imperfeita: depende de complemento normativo ou valorativo. Observação:


norma de tipo aberto, aquele que o complemento é dado pelo juiz, como no caso dos crimes
culposos, há 3 formas de culpa: imprudência, imperícia e negligência, sendo necessária a
intepretação dos juiz para dizer se o ocorrido encaixa-se no conceito da norma.
Norma penal em Branco
Norma penal em branco em sentido estrito, heterogênea e propriamente dito: o
complemento normativo emana de fonte diversa da que emanou o ato jurídico a ser
complementado. Ex: lei de drogas e portaria da Anvisa.

Observação: violação do princípio da legalidade pelo ato não emanar do legislativo. Há quem
diga que isso viola a legalidade. Há duas posições:

- Rogério Grecco: essas normas violam a legalidade pois pode alterar o conteúdo da norma
sem que haja discussão sobre o tema no poder legislativo.

- (prevalece): não fere o principio da legalidade desde que o tipo penal incriminadora descreva
os requisitos básicos do crime, atribuindo-se a autoridade administrativa somente a
possibilidade de explicitar alguns de seus requisitos. Somente detalhes são transferidos à
terceiros.

Norma penal em branco em sentido amplo, homogênea ou imprópria:

O complemento normativo emana da mesma fonte legislativa que editou o ato normativo a
ser complementado.

Subdivide-se em:

- homólogas ou homovitelinas: o complemento encontra-se no mesmo documento legislativo


da norma a ser complementada. Ex: art. 312, CP – Peculato e art. 327, CP – conceito de
funcionário público.

- heterólogas ou héterovitelineas: o complemento encontra-se em documento legislativo


diverso do a ser complementado. Ex: art. 236, CP – induzimento a erro essencial e ocultação
de impedimento e art. 1.521, CC – hipóteses de impedimento matrimonial.

Norma penal em branco de fundo constitucional

O complemento da norma fica na CF.

EX: Homicídio funcional, art. 121, §2º, VII, CP e art. 142 e 144, CF.

Norma penal em branco ao quadrado

O complemento da norma também depende de complemento.

Ex: art. 38, da Lei de Crimes ambientais – destruição de florestar em áreas de APP, art. 6º do
código florestal e complementação por ato do chefe do = executivo, que dirá a área que se
enquadra em APP.

Norma penal em branco às avessas, ao revés ou invertida

O preceito secundário da norma, ou seja, a sanção, precisa ser complementada. Ex: art. 1º da
lei de genocídio – faz menção aos artigos do CP, indicando a sanção lá disposta.

Observação: somente pode ser o complemento realizado por lei, pois somente lei pode
cominar penas, conforme principio da legalidade.
Eficácia da Lei Penal no Tempo
Tempo do Crime
Quando o crime foi praticado?

Teoria da atividade
Considera-se praticado o crime no momento da conduta, da ação ou omissão

É a adotada no nosso CP, art. 4º.

Teoria do resultado
Considera-se praticado o crime no momento do resultado.

Teoria da ubiquidade
Tanto no momento da ação ou da omissão como no momento do resultado.

Sucessão de leis penais no tempo


Praticado um crime, entram em vigor novas leis durante o julgamento. Qual lei aplicável?

Regra: Tempus regit actum

Por esse principio, aplica-se a lei que se encontrava em vigor na data do crime.

Contudo, há exceções, a sucessão de leis penais no tempo:

Novacio legis incriminadora


Cria um novo crime. Não se aplica a fatos anteriores a ela – Principio da anterioridade.

Novaccio lex in pejum Lex gravior ou Lei Penal mais grave


Lei que piora de alguma forma a situação do réu. Ex: criação de nova qualificadora.

Não se aplica a fatos anteriores a ela – Princípio da anterioridade.

Sumula 711, STF: Exceção! A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou
permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou permanência.

Crime permanente – sua consumação se arrasta no tempo. Ex: sequestro.

Crime continuado – realizado de forma reiterada.

Muito importante para prova!

Abolitio criminis
Hipóteses de descriminalização do crime. Causa extintiva de punibilidade. Art. 107, II, CP.

Extingue a punibilidade do agente inclusive na fase da execução penal. Cessão todos os efeitos
penais, substituindo os deveres civis, a exemplo o dever de reparar o dano. Ex: adultério.

Aplica-se retroativamente.

Abolitio Criminis Temporaria


Suspensão do delito por certo tempo, sendo que a posteriori a incriminação é reinserida no
ordenamento jurídico.

Ex: sumula 513, STJ – posse de arma de fogo.


Ex: retirada do cloreto de etila (lança perfume) da portaria da anvisa 344/98, que deixou de ser
porte de drogas.

Princípio da continuidade Normativo-Típico


Hipótese em que uma norma penal é revogada mas sua conduta é prevista como crime em
outro dispositivo.

Ex: lei 12.015/05 alterou os crimes sexuais. Revogou o art. 214 que era a prática de atos
libidinosos diversos da conjunção carnal em crime de estupro. Ou seja, teve uma norma
revogada mas o crime continuou previsto. A intenção do legislador não é a descriminalização
da conduta.

Nova lei mais beneficia ou Le Mitio ou Novacio Legis in Mellius


Nova lei que melhora a condição do réu, ex: retira qualificadora.

Faz-se a teoria da ponderação correta, ou seja, a análise do caso concreto, para identificar a lei
mais benéfica ao réu.

Observação1: é aplicada retroativamente, inclusive após i transito em julgado – art. 2º, §


único, CP.

Observação2: lei penal mais beneficia ainda em vacaccio legis pode ser aplicada
retroativamente para beneficiar o réu?

1ª corrente: considerando que a vacaccio legis tem o interesse de dar publicidade da nova lei
aos cidadãos, poderá ser aplicada por aqueles que já a conhecem. Aplicação que mais se
aproxima do princípio da novacio legis in mellius. Posição minoritária.

2ª correntes: como na vacaccio legis a lei não tem eficácia, jurídica ou social, não poderá
retroagir. HC 100692/PR. Posição prevalente.

Observação3. Lei publicada com erros pode retroagir para beneficiar o réu? Não, pois não
retrata a vontade do Poder legislativo. HC 8457.

Observação4. Quem aplica a lei pena mais benéfica?

Se ainda em tramite o julgamento, pelo juízo competente da ação.

Se já existir transito em julgado, pelo juízo da execução. Sumula 611 do STF. Cai muito em
prova!!

Observação5. Extratividade da Lei Penal

A lei tem capacidade de se mover no tempo.

Retroatividade da lei mais benéfica: a lei posterior é mais benéfica que a lei que estava em
vigor no momento da pratica do crime.

Ultratividade da lei mais benéfica: lei anterior, vigente na época do crime, é a mais beneficia
que a lei vigente por ocasião do julgamento, fala-se em ultratividade porque a lei anterior já
revogada, continua surtindo efeitos, pois mais benéfica ao réu.

Combinação de Leis ou Lex Tertia


Combinação de mais de uma lei, unindo a parte boa de ambas a fim de criar uma terceira lei,
mais benéfica ao réu.
1ª corrente: não é cabível, pois o juiz atuaria como legislador. Sumula 501, STJ vetou a pratica
da Lex Tertia, permitindo a aplicação da lei toda. Majoritariamente adotada.

2ª corrente: considerando que o juiz pode aplicar parte da lei para beneficiar o réu, poderia
aplicar a lex tertia, pelo princípio da anterioridade e retroatividade da lei penal mais benéfica.

Lei penal excepcional e lei penal temporária


Lei temporária: lei que prevê um tempo de vigência em seu texto.

Lei penal excepcional: aquela que perdura por todo tempo excecional atendendo as
necessidades do Estado. Ex: guerra, calamidade epidemia, etc.

São leis autorevogáveis.

Os fatos incriminados pelas leis temporárias e excepcionais continuam sendo punidos mesmo
com o término de sua vigência. Tem caráter ultrativo, tendo em vista que, se assim não
fossem, haveria ineficácia preventiva da norma rem relação aos fatos incriminados ao término
do prazo de vigência, poderia praticar o crime, pois teria certeza de sua impunidade.

Zafaroni entende que tais normas não podem ser ultrativas, tendo em vista que a CF não faz
esta ressalva, por isso, diz que estas normas são inconstitucionais. Esta correntense não
prevalece, pois entende-se que na sucessão de leis, a lei nova não revoga a lei anterior, por
não tratar da mesma matéria.

Retroatividade do complemento da norma penal em branco


Art. 3º, CP. Se a legislação complementar se revestir de caráter de normalidade e não trouxer
consigo sua auto revogação, como as portarias sanitárias poderá conduzir a descriminalização.
Por outro lado, se a legislação complementar se revestir de caráter excecional ou temporário,
não poderá conduzir a descriminalização.

Ex: retirada do cloreto de etila da portaria da anvisa poderá retroagir pois realizado revestido
de normalidade.

Ex: Art. 268, CP. Portarias durante a pandemia que regulavam o comportamento das pessoas.
Não poderá ser retroativo, se portaria nova tratar do mesmo tema, sob pena de ineficácia. Ex:
primeira portaria deixava se reunir com até 5 pessoas, e segunda portaria com até 10 pessoas.
Se reuniu com 8 pessoas durante a égide anterior, não haverá retroatividade da nova portaria.

Lei Penal no Espaço


Principio da territorialidade
Em regra, ao fato criminoso praticado no território nacional, aplica-se a lei brasileira. Exceção:
Intraterritorialidade. Aplicam-se os tratados e convenções internacionais em casos
determinados no Brasil.
O princípio adotado pelo CP é o da Territorialidade mitigada ou temperada pela
intraterritorialidade, vale dizer, em regra, aplica-se a lei brasileira aos crimes praticados no
território nacional, mas é possível a aplicação da lei estrangeira ao crime cometido no brasil.

Outros princípios:

Principio da personalidade ativa


Aplica-se a lei da nacionalidade do agente.

Principio da personalidade passiva


Aplica-se a lei da nacionalidade do agente quando a vítima for um concidadão.

Principio da Defesa ou Real


Aplica-se a lei do pais da nacionalidade do bem jurídico.

Principio da Justiça Universal


Aplica-se a lei do local onde o individuo for encontrado.

Principio da representação, da bandeira, do pavilhão, subsidiário ou da substituição


Aplica-se a lei penal brasileira aos crimes cometidos em aeronaves ou embarcações brasileira,
mercantes ou privados, quando em território estrangeiro e aí não seja julgado.

Se aeronave ou embarcação publica a serviço do governo não se aplica este princípio, pois são
consideradas extensão do território nacional, sendo, nesta hipótese, principio da
territorialidade.

O que é território nacional?


Espaço físico e jurídico por equiparação, onde o Estado exerce sua soberania.

Hipóteses – art. 5º, §1º e 2º, CP

1º - nas hipóteses de navios e aeronaves brasileiros serem públicos ou estarem a serviço do


governo brasileiro, serão considerados parte do território nacional.

2º - se privados os navios ou aeronaves, quando em alto mar ou espaço aéreo correspondente,


seguem a lei da bandeira que ostentam. (Princípio da Bandeira).

3º - nas hipótese de navios ou aeronaves estrangeiros, desde que públicos, não são
considerados parte do território brasileiro.

Observação: e as Embaixadas?

Não são extensão só território nacional que representam. São apenas invioláveis!

Observação: passagem inocente.

Na hipótese de um navio passar pelo território nacional apenas como passagem necessária e
obrigatória para chegar em seu destino, sem atracar em território brasileiro, não se aplica a lei
brasileira, vez que não interfere na soberania nacional – lei 8.617/93.

Atenção: com relação as aeronaves não se aplica este principio, pois adota-se no brasil a teoria
da absoluta soberania do pais subjacente. Ou seja, o brasil exerce soberania total couber o
espaço aéreo correspondente ao seu território e mar territorial, lei 7.56/86.
Lugar do crime
Local onde um crime considera-se praticado no território nacional – art. 6º, CP.

Teorias:

LUTA

LU – Lugar – ubiquidade

TA – território - atividade

Teoria da atividade
Considera-se o local do crime aquele onde o agente desenvolveu a conduta.

Teoria do resultado ou evento

Onde se produziu ou deveria produzir o resultado, não importando o local da conduta.

Teoria da ubiquidade
Aquele local onde ocorreu a conduta ou onde ocorreu o resultado.

Adota-se a teoria da ubiquidade no Brasil – art. 6º, CP.

Observações:

Crimes a distância ou espaço máximo

Conduta praticada em um pais e com resultado em outro.

Será julgado onde? Qual lei aplicada? Gera conflito internacional de competência.

Teoria da ubiquidade – por isso, pode ser aplicada ambas as leis.

Crimes Plurilocais

Conduta ocorreu na cidade de SP e o resultado na cidade de Curitiba.

Gera conflito interno de competência.

Aplica-se o art. 70, CP – O juízo será o do resultado.

Crimes de espaço mínimo

Conduta e resultado na mesma comarca.

Atenção: para que haja incidência da lei brasileira, é preciso que apenas um ato executório ou
o resultado ocorra no Brasil. Se a preparação somente ocorreu no Brasil, não se aplica a lei
brasileira, em regra.

Exceção: delitos de atentado ou de empreendimento – a mera preparação é crime. Ex: crime


de associação criminosa – art. 288, CP.

Exceções a teoria da ubiquidade


Crimes conexos
Cada crime deverá ser processados e julgado no pais em que foi cometido.
Crimes plurilocais
Aplica-se a teoria do resultado em razão do conflito interno de competência.

Crimes dolosos contra a vida


Devem ser julgados na comarca em que cometidos, em razão da facilidade probatória e
necessidade de pacificação social – HC 73451/PE. Tese pacificada.

Infração de menor potencial ofensivo


Art. 63, lei 9099/95.

A competência do JECRIM será julgado pelo lugar em que praticada a infração penal.

A doutrina diverge sobre a teoria aplicável (teoria da atividade ou ubiquidade). Prevalece que é
a teoria da atividade.

Atos infracionais
Aplicado pelo ECA.

Competência a autoridade do local da ação ou omissão. Art. 147, §1º, ECA.

Extraterritorialidade
Art. 7º, CP.

Hipótese em que se aplica a legislação p brtasileira aos cirmes praticados no exterior.

Extraterritorialidade incondicionada
Aplica-se a lei brasileira ao crime praticado n o exterior, independentemente do implemento
de quaisquer condições.

Art. 7º, §1º, CP – ainda que condenado ou absolvido no exterior, será processado no Brasil.

As hipóteses são:

Crimes contra a vida ou a liberdade do presidente da república


Aplica-se o princípio da defesa ou real – aplica-se a lei do bem jurídico.

Crime contra o patrimônio, fé publica da união, DF, Estados, Territórios, empresa pública,
Sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo poder público
Aplica-se o princípio da defesa ou real – aplica-se a lei do bem jurídico.

Contra a administração publica ou por quem está a seu serviço.

Aplica-se o princípio da defesa ou real – aplica-se a lei do bem jurídico.

Crime de genocídio quando agente brasileiro ou domiciliado no brasil


Há duas teorias para aplicação da lei brasileira. A ordem de preferência é:

1 – justiça universal

2 – defesa ou real

3 – nacionalidade ativa

Lei de tortura
Art. 2º.

Aplica-se ainda quando não cometido em território nacional quando vítima brasileira ou
econtrando0se o agente no Brasil.
Extraterritorialidade condicionada
Aplicação da lei brasileira no estrangeiro depende do implemento de algumas condições.

Quais os crimes? (art. 7º, II, CP)

a) Que, por tratado ou convenção, o brasil se obrigou a reprimir. - princípio da justiça


universal.
b) Praticados por brasileiro - princípio da nacionalidade ativa.
c) Praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou privados, quando
em território brasileiro e não sejam ai julgados – princípio da bandeira.

Há ainda previsões de condições cumulativas para aplicação da lie brasileira:

a) Entrar o agente em território brasileiro:

Observação 1: não significa permanecer, basta entrar.

Observação 2: a entrad apodera ser tanto no território físico como no jurídico.

b) Ser punível no pais em que praticado

Chamada dupla tipicidade.

c) Estar o crime incluído no rol dos crimes de extradição no brasil


d) Não ter o agente sido absolvido ou não cumprido pena no estrangeiro.
e) Não ter sido perdoado no estrangeiro, ou, por alguma outra razão, ter sua publicidade
extinta, pela lei estrangeira ou brasileira.

Completos todos estes requisitos, em regra a competência para julgamento será da justiça
estadual, em regra.

A comarca será: art. 88, CP.

a) Se já residiu no Brasil, será da capital do Estado de sua ultima residência;


b) Se nunca residiu no Brasil, será a competência da capital federal.

Extraterritorialidade hipercondionada
Fundamento legal – art. 7º, § 3º, CP.

Necessário, além dos demais requisitos previstos no § 3º, necessário que:

a) Não foi pedida ou negada a extradição


b) Requisição do ministro da Justiça

Ex: Estrangeiro que pratica latrocínio contra o presidente da república.

Imunidades diplomáticas
Regra – lei penal em relação as pessoas

O princípio adotado pelo Brasil é o da territorialidade mitigada pela intraterritorialidade,


significando dizer que, em regra, a lei brasileira é a aplicada. No entanto, a norma interna será
aplicada "sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direitos internacional",
autorizando-se, portanto, a criação das imunidades diplomáticas e de chefes de governo
estrangeiros.

A Constituição Federal, do mesmo modo, consolidam as chamadas imunidades


parlamentares.

Imunidades diplomáticas
Conceito: prerrogativas de direito público internacional de que gozam:

1º) os chefes de governo ou de Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;

2º) embaixador e sua família;

3º) os funcionários do corpo diplomático e sua família;

4º) funcionários das organizações internacionais quando em serviço (Ex: ONU).

Obs1. As imunidades não são extensíveis aos empregados particulares dos diplomatas, ainda
que oriundos do Estado representado.

Obs2. Embora todas as pessoas devam prestar obediência ao preceito primário da Lei Penal,
em razão da generalidade desta, os diplomatas não estão sujeitos à punição nos moldes da lei
brasileira, mas sim as consequências jurídicas do Estado a que pertencem. Ou seja:

- preceito primário: todos devem observância a este preceito, inclusive os diplomatas. É a lei.

- preceito secundário: diplomatas não estão sujeitos a este, mas ao preceito de seu pais de
origem. É a pena.

Obs3. Se no país de origem do agente o fato não for punível, ele não será punido. Ex: Bigamia

Obs4. O diplomata não pode renunciar à sua imunidade, tendo em vista que se trata de uma
prerrogativa do cargo. Entretanto, pode o Estado que ele representa pode o fazer. (STF Pet.
3.698).

Obs5. Cônsul (Agente Consular) O cônsul só tem imunidade quanto aos crimes funcionais,
quanto aos crimes comuns não tem imunidade. Já o embaixador possui imunidade tanto nos
crimes comuns, quanto nos funcionais.

CRIME COMUM CRIME FUNCIONAL


CONSUL TEM NÃO TEM
EMBAIXADOR TEM TEM

Imunidade Parlamentar
Imunidade Parlamentar Absoluta (Imunidade Real, Substancial, Material, Inviolabilidade e
Indenidade)
Fundamento Legal: art. 53, caput, da CF:

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
Conceito

Os parlamentares são invioláveis em suas opiniões, palavras e votos, desde que relacionadas
às suas funções.

Limites da imunidade

A imunidade parlamentar encontra limite no exercício da função (nexo funcional), não


comportando manifestações desarrazoadas ou ações estranhas mandato, a exemplo de
ofensas pessoais. Obs. Caso do ex- Dep. Jair Bolsonaro e Dep. Maria do Rosário (“não merece
ser estuprada”) – Não estava em desempenho de sua função.

Segundo o Supremo Tribunal Federal: "não há como relacionar ao desempenho da função


legislativa, ou de atos praticados em razão do exercício de mandato parlamentar, as palavras e
opiniões meramente pessoais, sem relação com o debate democrático de fatos ou ideias e,
portanto, sem vínculo com o exercício das funções cometidas a um parlamentar. Na hipótese,
trata-se de declarações que não guardam relação com o exercício do mandato." (Inq. 3.932/DF
e Pet. 5.243)

Já na esfera cível, o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou
provimento ao Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1098601 e manteve acórdão do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) que condenou o presidente da
República, Jair Bolsonaro, ao pagamento de indenização de R$ 10 mil por danos morais à
deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).

São aplicáveis os limites aos Parlamentares quando guarda relação ao cargo, qual seja:

A) Manifestações dentro do Congresso: o nexo com o exercício do mandato é presumido.

B) Manifestações fora do Congresso: o nexo com o exercício do mandato deve ser


comprovado.

Natureza jurídica da imunidade


Há 6 posições sobre o tema:
1º) causa de atipicidade (STF) - AO 2.002, rel. min. Gilmar Mendes, j. 2-2-2016, 2ª T, DJE de 26-
2-2016. Tese aplicável atualmente.

2º) causa excludente do crime (Nelson Hugria, José Afonso da Silva)

3º) causa que se opõe à formação do crime (Basileu Garcia);

4º) causa de incapacidade penal por razões políticas (Frederido Marques)

5º) causa de irresponsabilidade (Heleno Fragoso)

6º) causa pessoal e funcional de isenção de pena (Aníbal Bruno).

Obs. Reflexos jurídicos para o partícipe.

O Código Penal adotou a teoria da acessoriedade limitada ou média para punição do partícipe.
Vale dizer, o partícipe responde pelo delito quando o autor praticar um fato típico e ilícito. Se a
imunidade parlamentar é causa de atipicidade (exclusão do fato típico), não se pune o
partícipe.
Obs. Súmula 245 do STF - “A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa
prerrogativa”. Sobre esta súmula, doutrina tem afirmado que se aplica apenas as imunidades
formais, mesmo assim, havendo exceções.

A doutrina tem dito que esta sumula aplica-se somente às imunidades formais ou relativas, e
mesmo assim há algumas exceções.

Imunidade Parlamentar Formal ou Relativa (Imunidade Processual, adjetiva ou imunidade


propriamente dita)

1º) Quanto ao Foro por prerrogativa de função (art. 53, § 1º, CF)

Deputados e Senadores possuem foro para as causas criminais no STF. O foro por prerrogativa
não abrange causas não penais.

Observação: Antigamente, ao ser eleito, os crimes sobre os quais era processado o


parlamentar, subia ao STF e, ao término do mandado, retornava à justiça comum. Atualmente
essa questão mudou. O STF, na Questão de ordem na Ação Penal 9372 , fixou duas teses que
alteraram substancialmente o entendimento sobre os foro por prerrogativa de função.

Tese 01: O foro por prerrogativa de função aplica-se somente aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas (Questão de ordem na Ação
Penal 937). Vejamos a seguinte tabela comparativa:

Tese 02: Finda a instrução processual, após a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar as ações penais não
será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que
ocupava, qualquer que seja o motivo. (Questão de ordem na Ação Penal 937).
Obs. Esse novo entendimento busca evitar o uso da prerrogativa de foro como burla
processual. Por exemplo, o STF já havia decidido, antes da Questão de ordem na Ação Penal
937, que, se houvesse renúncia do Parlamentar na véspera do julgamento, isso não retirava
sua competência para julgá-lo, configurando verdadeira manobra ilícita (STF - Ação Penal 396).

Trata-se de questão nova, que provavelmente ser cobrada na prova.

2º) Quanto à prisão (art. 53, § 2º, da CF)

Art. 53, § 2º, da CF: Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão
remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
seus membros, resolva sobre a prisão.

Obs1. Regra Os membros do Congresso Nacional não podem ser presos, salvo em caso de
flagrante de crime inafiançável. O STF chamou essa limitação a possibilidade de prisão de
relativa incoercibilidade pessoal (freedom from arrest).

Obs2. Balizas da imunidade.

A) Termo inicial: expedição do diploma

B) Termo Final: encerramento do Mandato.

Não afeta a prisão definitiva, decorrente de sentença condenatório transitada em julgado.

A respectiva Casa (Senado ou Câmara) irá deliberar sobre a prisão, no prazo de 24 horas.
Trata-se de decisão de cunho político e não jurídico, calcada em conveniência e
oportunidade, e não em critérios de legalidade. Tal decisão vincula o órgão julgador.

se impossível a aprecisação da custodia no prazo de 24 horas, a prisão será mantida,


iundependentemente de manifestação (STF, HC 89.417/RO).

C) Quórum para resolver sobre prisão: maioria absoluta.

D) Tipo de Votação: Voto aberto. Deve dizer se concorda ou não com a prisão.

Obs. 3 Prisão em Flagrante no Caso do Senador Delcídio (AC 4.036)

Um dos casos mais emblemáticos a respeito da imunidade formal quanto à prisão que bateu às
portas do Supremo Tribunal Federal foi o ex-Senador da República Delcídio do Amaral.

Segundo consta, o referido Senador, juntamente com outros investigados, tentou embaraçar
investigação envolvendo organização criminosa, na medida em que procurou o ex-diretor
Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró (um dos réus na Lava Jato), para que este não
assinasse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, evitando-se,
assim, a imputação de crimes contra o Parlamentar e outros agentes.

Para “comprar” o silêncio do Ceveró foi-lhe oferecido o pagamento de uma quantia mensal em
dinheiro, bem como a realização de “lobby” junto aos Ministros do Supremo Tribunal Federal
para que fosse concedida liberdade provisória a ele.

Após a concessão da liberdade, o parlamentar facilitaria a fuga do ex-diretor para Espanha.


Diante disso, o Ministério Público Federal requereu a prisão preventiva do Senador ao
Supremo Tribunal, afirmando que o parlamentar estava praticando os delitos do art. 2º, caput,
da Lei nº 12.850/2013 (integrar organização criminosa) e do art. 2º, § 1º da mesma lei
(embaraçar investigação envolvendo organização criminosa).

Ao receber o pedido, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a conduta desenvolvida pelo
parlamentar se tratava de crime permanente, ou seja, aquele em que a consumação se
protrai no tempo, uma vez que integrava pessoalmente organização criminosa. Assim, por se
tratar de crime permanente, o Senador estava praticando o delito todos os dias.

Portanto, preenchido o primeiro requisito para que a prisão do Parlamentar, qual seja, o
estado de flagrância.

No entanto, devemos lembrar que, segundo o art. 53, § 2º, do Constituição Federal, não basta
que o parlamentar esteja em flagrante. Além disso, o crime precisa ser inafiançável.

Quanto a este tema, o Supremo Tribunal Federal realizou o seguinte raciocínio jurídico. A
Constituição Federal (art. 5º, incisos XLII, XLIII e XLIV) traz as situações em que os crimes são
absolutamente inafiançáveis, quais sejam: (1º) Racismo; (2º) Tortura; (3º) Tráfico de drogas;
(4º) Terrorismo; (5º) Crimes hediondos; (6º) Crimes cometidos por ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Como visto, os crimes praticados pelo Senador não se encontram neste rol. Assim, o Supremo
Tribunal Federal se socorreu da interpretação do art. 324, IV, do Código de Processo Penal,
que elencam situações que não se poderá conceder fiança: Art. 324. Não será, igualmente,
concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). IV - quando presentes os
motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312). (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).

A Corte Suprema realizou o seguinte raciocínio: se, de acordo com o caso concreto,
estiverem presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o crime,
naquele caso, passa a ser inafiançável. Vale dizer, criou-se uma espécie de inafiançabilidade
do caso concreto.

No caso do ex-Senador Delcídio do Amaral, o Supremo Tribunal Federal entendeu que, como
estavam presentes os requisitos ensejadores da prisão preventiva, mesmo que os delitos a ele
imputados não estivessem no rol de crimes absolutamente inafiançáveis, no caso concreto era
inafiançável, já que não se pode conceder fiança, nos termos do art. 342, IV, do Código de
Processo Penal.

A partir dessa fundamentação, houve a decretação da prisão em flagrante do Senador.

Realizada a prisão em flagrante, os autos foram remetidos dentro de 24 (vinte quatro) horas à
Casa respectiva (no caso o Senado Federal), para que, pelo voto aberto da maioria de seus
membros, fosse resolvida sobre a prisão (art. 53, § 2º). Na ocasião, por 59 (cinqüenta e nove)
votos contra 13 (treze), decidiu manter a prisão do Senador.

Obs4. Caso do Deputado Daniel Silveira

O então Deputado Daniel Silveira, no dia 16/02/2021, fez uma live na internet afirmando, em
resumo, o seguinte: “(...) o que acontece Fachin, é que todo mundo está cansado dessa sua
cara de filha da puta que tu tem, essa cara de vagabundo... várias e várias vezes já te imaginei
levando uma surra, quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa corte …
quantas vezes eu imaginei você na rua levando uma surra... Que que você vai falar? que eu tô
fomentando a violência ? Não... eu só imaginei... ainda que eu premeditasse, não seria crime,
você sabe que não seria crime... você é um jurista pífio, mas sabe que esse mínimo é
previsível.... então qualquer cidadão que conjecturar uma surra bem dada com um gato morto
até ele miar, de preferência após cada refeição, não é crime (...)

Para o STF, o referido Deputado estava em estado de flagrância?

O Ministro Alexandre de Morais afirmou que SIM, trazendo a seguinte fundamentação: “as
condutas criminosas do parlamentar configuram flagrante delito, pois verifica-se, de maneira
clara e evidente, a perpetuação dos delitos acima mencionados, uma vez que o referido
vídeo permanece disponível e acessível a todos os usuários da rede mundial de
computadores, sendo que até o momento, apenas em um canal que fora disponibilizado, o
vídeo já conta com mais de 55 mil acessos. Relembre-se que, considera-se em flagrante delito
aquele que está cometendo a ação penal, ou ainda acabou de cometê-la. Na presente
hipótese, verifica-se que o parlamentar DANIEL SILVEIRA, ao postar e permitir a divulgação do
referido vídeo, que repiso, permanece disponível nas redes sociais, encontra-se em infração
permanente e consequentemente em flagrante delito, o que permite a consumação de sua
prisão em flagrante.”

***Observação: Na verdade trata-se de crime imediato com efeito permanente, o crime se


deu no momento da fala somente.

Quais crimes foram praticados pelo Deputado? Arts. 17, 18, 22, I e IV, 23, I, II e IV e 26 da Lei nº
7.170/73 (Lei de Segurança Nacional).

Os crimes praticados eram inafiançáveis? Para o STF, os crimes supostamente praticados pelo
Deputado eram inafiançáveis por dois motivos:

1) porque foram praticados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323, III,
do CPP); e

2) porque, no caso concreto, estão presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão
preventiva, de sorte que estamos diante de uma situação que não admite fiança, com base no
art. 324, IV, do CPP.

Nesse sentido, foi o voto do Ministro Alexandre de Morais: “Ressalte-se, ainda, que, a prática
das referidas condutas criminosas atentam diretamente contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático; apresentando, portanto, todos os requisitos para que, nos termos do
artigo 312 do Código de Processo Penal, fosse decretada a prisão preventiva; tornando,
consequentemente, essa prática delitiva insuscetível de fiança, na exata previsão do artigo
324, IV do CPP (“Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: IV quando presentes os
motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva). Configura-se, portanto, a
possibilidade constitucional de prisão em flagrante de parlamentar pela prática de crime
inafiançável, nos termos do §2º, do artigo 53 da Constituição Federal.”

A respectiva Casa deliberou pela manutenção da prisão do Deputado e o Plenário do STF, em


17/02, reuniu-se e, por unanimidade, decidiu manter a prisão do Deputado Federal Daniel
Silveira.

Obs4. Aplicação de Medidas Cautelares aos Parlamentares (Deputados e Senadores).


É possível aplicação de medida cautelar diversa da prisão aos membros do Congresso
Nacional?

Como desdobramento da imunidade formal, questiona-se a possibilidade de aplicação de


medidas cautelares diversas da prisão aos Membros do Congresso Nacional. Isso porque tais
medidas possuem a mesma natureza jurídica da prisão preventiva. Vale dizer, ambas são
consideradas cautelares de natureza pessoal. A prisão preventiva é a cautelar mais grave.

Após várias discussões sobre o tema, foi ajuizada a ADIN 5526, na qual foram fixados os
parâmetros em relação às medidas cautelares (prisionais e diversas da prisão) contra
Membros do Congresso Nacional. Vejamos:

“(...) 3. A imunidade formal prevista constitucionalmente somente permite a prisão de


parlamentares em flagrante delito por crime inafiançável, sendo, portanto, incabível aos
congressistas, desde a expedição do diploma, a aplicação de qualquer outra espécie de
prisão cautelar, inclusive de prisão preventiva prevista no artigo 312 do Código de Processo
Penal. 4. O Poder Judiciário dispõe de competência para impor aos parlamentares, por
autoridade própria, as medidas cautelares a que se refere o art. 319 do Código de Processo
Penal, seja em substituição de prisão em flagrante delito por crime inafiançável, por
constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, em
circunstancias de excepcional gravidade. 5. Os autos da prisão em flagrante delito por crime
inafiançável ou a decisão judicial de imposição de medidas cautelares que impossibilitem,
direta ou indiretamente, o pleno e regular exercício do mandato parlamentar e de suas
funções legislativas, serão remetidos dentro de vinte e quatro horas a Casa respectiva, nos
termos do §2º do artigo 53 da Constituição Federal, para que, pelo voto nominal e aberto da
maioria de seus membros, resolva sobre a prisão ou a medida cautelar. (...)”

Prisão – somente em flagrante de crime inafiançável.

Cautelar – pode, mas se a cautelar impossibilitar o pleno exercício do mandado ou função,


deverá a casa deliberar sobre sua manutenção em 24 horas, como na prisão em flagrante.

Obs5. Prisão Civil de Deputados e Senadores.

Imagine que um Deputado Federal deixe prestar alimentos ao seu filho. Ele pode ser preso ou
a imunidade parlamentar formal abrange também esta espécie de prisão?

1ª posição: a imunidade formal abarca todas as modalidades de prisão, inclusive a prisão civil
por alimentos. Isso porque o intuito desta imunidade é evitar as perseguições pessoais, que
também podem ser feitas por essa via.

2ª posição: é possível a prisão civil do parlamentar inadimplente, uma vez que, nesta
modalidade, o que se busca é a satisfação do crédito em prol do alimentando . Portanto, a
imunidade formal não engloba esta modalidade de prisão que, na verdade, é uma forma de
coerção para que o alimentando tenha acesso ao crédito alimentício.

Prevalece atualmente a primeira posição.

3º) Quanto ao processo (art. 53, §§ 3º, 4º e 5º da CF)


Art. 53, § 3º, da CF: Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido
após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por
iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros,
poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

Obs1. Recebida a inicial acusatória, o STF não precisa de autorização da respectiva Casa para
processar o parlamentar. Contudo, será possível que, até o final do processo, a respectiva
Casa Parlamentar suste o andamento da Ação Penal.

Obs2. Tal imunidade somente se aplica aos crimes praticados após a Diplomação e que
estejam vinculados ao exercício da função. Os crimes praticados antes da Diplomação, ou
mesmo depois dela, mas que não estejam vinculados ao exercício da função, serão
processados pelo Juízo de 1ª instância.

Obs3. Sustada a Ação Penal, a prescrição ficará suspensa (art. 53, § 5º).

Art. 53, § 5º, da CF: A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.

Obs4. A imunidade quanto ao processo não impede a instauração de investigação contra os


membros do Congresso. No entanto, para iniciá-la, é necessário que haja a autorização do
Supremo Tribunal Federal.

4º) Quanto à condição de testemunha (art. 53, § 6º)

O Parlamentar não responde por crime de falso testemunho, nos termos do art. 53, § 6º, da
CF.

Art. 53, § 6º, da CF: Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas
que lhes confiaram ou deles receberam informações.

Obs. O Parlamentar indiciado ou acusado não tem a prerrogativa de ser ouvido nos moldes
do art. 221 do Código de Processo Penal, ou seja, marcar local, dia e hora para ser ouvido.
Este artigo permite que o Parlamentar marque dia e horário para ser ouvido.

5º) Observações Finais sobre o Foro dos Congressistas

1º) As imunidades parlamentares, em regra, são aplicadas também em hipótese de Estado


de Sítio (art. 53, § 8º, da CF). Entretanto, podem ser suspensas mediante o voto de 2/3 dos
membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do Congresso Nacional, que
sejam incompatíveis com o Estado de Sítio.

2º) Os parlamentares afastados para o exercício de cargo de Ministro da República,


Secretário de Estado ou de Município não mantêm as imunidades.

3º) Estando as imunidades ligada ao desempenho da função, o congressista não pode


renunciar a ela.

6º) Foro dos Deputados Estaduais

Os Deputados Estaduais têm imunidade em todo território nacional, desde que ligado ao
exercício da função (art. 27, § 1 º):
Art. 27, § 1º, da CF: Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-sê-
lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades,
remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

Em razão do princípio da simetria, os Deputados Estaduais têm as mesmas imunidades que


os parlamentares federais, em todo território nacional, desde que ligado ao exercício da
função.

Obs1. Foro

A única ressalva que deve ser feita diz respeito ao foro por prerrogativa de função . Os
Deputados Federais e Senadores possuem foro no Supremo Tribunal Federal. Os Deputados
Estaduais tem foro por prerrogativa perante o Tribunal de Justiça, o Tribunal Regional Federal
e o Tribunal Regional Estadual, a depender do delito praticado.

Obs2. Prisão em Flagrante e Medidas Cautelares

Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 5823 MC/RN, ADI 5824
MC/RJ e ADI 5825 MC/MT entendeu que todas as regras as aplicadas aos congressistas
federais se aplicam aos Deputados Estaduais, inclusive entendendo ser constitucional a
resolução da Casa Legislativa Estadual que, com base na imunidade parlamentar formal (art.
53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga a prisão ou outras medidas cautelares pessoais
que haviam sido deferidas pelo Poder Judiciário em face de Deputado Estadual,
determinando o retorno ao mandato parlamentar.

(...) O Colegiado entendeu que a leitura da Constituição da República revela que, sob os
ângulos literal e sistemático, os deputados estaduais têm direito às imunidades formal e
material e à inviolabilidade conferidas pelo constituinte aos congressistas, no que
estendidas, expressamente, pelo § 1º do art. 27 da CF (2). Asseverou que o dispositivo não
abre campo a controvérsias semânticas em torno de quais imunidades são abrangidas pela
norma extensora. A referência no plural, de cunho genérico, evidencia haver-se conferido a
parlamentares estaduais proteção sob os campos material e formal. Se o constituinte
quisesse estabelecer estatuto com menor amplitude para os deputados estaduais, o teria
feito expressamente, como fez, no inciso VIII do art. 29 (3), em relação aos vereadores. A
extensão do estatuto dos congressistas federais aos parlamentares estaduais traduz dado
significante do pacto federativo. O reconhecimento da importância do Legislativo estadual
viabiliza a reprodução, no âmbito regional, da harmonia entre os Poderes da República. É
inadequado, portanto, extrair da Constituição Federal proteção reduzida da atividade do
Legislativo nos entes federados, como se fosse menor a relevância dos órgãos locais para o
robustecimento do Estado Democrático de Direito. Acrescentou que reconhecer a
prerrogativa de o Legislativo sustar decisões judiciais de natureza criminal, precárias e
efêmeras, cujo teor resulte em afastamento ou limitação da função parlamentar não implica
dar-lhe carta branca. Prestigia-se, ao invés, a Carta Magna, impondo-se a cada qual o
desempenho do papel por ela conferido. (...) STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ
e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em
8/5/2019 (Info 939).
7º) Vereadores

De acordo com o art. 29, VIII, da Constituição Federal3 , os vereadores possuem imunidade
material, ou seja, são invioláveis em suas opiniões, palavras e votos. Contudo, restrita ao
município em que exercem suas funções (critério territorial).

Não há possibilidade de ampliação de qualquer forma, conforme entendimento do STF! Não


há prerrogativa de foro, prisão, processo ou condição de testemunha.

Teoria Geral do Crime


1º) Infração Penal: Sistema Binário (Crime e Contravenção Penal)

O sistema é binário pois divide-se em crime e contravenção penal.

Obs1. Pragmaticamente, não há diferença entre crime e contravenção pena, do ponto de


vista ontológico. Os crimes são considerados os fatos mais graves, enquanto a contravenção
penal são considerados os fatos menos graves.

Obs2. Infração Penal Sui Generis (Luiz Flávio Gomes, quando trata do crime do art. 28 da Lei de
Drogas):

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

1ª posição: Para Luiz Flávio Gomes, trata-se de infração penal sui generis (não é crime nem
contravenção), significando dizer que o artigo 28 ainda se encontra no âmbito de
conformação do Direito Penal, todavia não constitui mais crime. Fala-se, então, em
descriminalização formal e despenalização, não em abolitio criminis. Conclui-se, por
conseguinte, que, ao acolher esta tese, estaríamos de fronte a uma divisão tricotômica de
infração penal (crime, contravenção penal e infração penal sui generis), e não do costumeiro
critério dicotômico de infração penal (crime e contravenção penal), previsto no art. 1º da Lei
de Introdução do Código Penal.

2ª posição: Para Alice Bianchini , o uso de drogas não pertence ao Direito Penal, embora
defenda que se trate de infração de Direito Judicial Sancionador, seja na sanção alternativa
fixada em transação penal, seja na sanção imposta pela sentença. Para a autora, houve
abolitio criminis e, portanto, descriminalização substancial da conduta.

3ª posição: Tal discussão bateu às portas do Supremo Tribunal Federal (RE: 430105 RJ), o qual
fixou entendimento de que o artigo 28 da Lei n.º 11.343/06 possui natureza jurídica de crime.
Argumentou-se que o art. 1º da Lei de Introdução do Código Penal limita-se a estabelecer um
critério que permite distinguir quando se está diante de um crime ou de uma contravenção,
fato que não obsta que lei ordinária superveniente adote outros critérios gerais de distinção
ou estabeleça para determinado crime pena diversa da privação ou restrição da liberdade, a
qual constitui somente uma das opções constitucionais passíveis de adoção pela lei
incriminadora.

Além disso, o próprio legislador incluiu o artigo 28 no capítulo “Dos Crimes e das Penas”, não
podendo se presumir que houve um equívoco legislativo nessa conduta. Ainda no mesmo
propósito, o legislador fala em reincidência no artigo 28, § 4º, da Lei n.º 11.343/06, conceito
intimamente ligado a crime e que deve ser tomado em sentido técnico, e não em sentido
“popular”. Assim, para o STF, não houve abolitio criminis, mas mera despenalização da
conduta (a qual deve ser entendida como a exclusão de pena privativa de liberdade).

Obs3. Diferenças entre crime e contravenção penal


Obs4. Conceito de Crime

1º) Conceito Legal (art. 1º Lei Introdução do Código Penal)

Considera-se crime a infração penal a que lei comine pena de reclusão ou detenção, quer
isolada, quer alternativa, quer cumulativamente com a pena de multa.

2º) Conceito Material ou Substancial


É o comportamento humano (ação ou omissão) que expõe a perigo de lesão bens jurídicos
relevantes para o Direito Penal, passíveis de sanção.

3º) Conceito Formal

Crime é o comportamento descrito em uma norma penal incriminadora, sob ameaça de pena.

4º) Conceito Analítico

A) Teoria Bipartida: crime é fato típico e ilícito. A culpabilidade é pressuposto para


aplicação da pena
B) Teoria Tripartida: crime é fato típico, ilícito e culpável. A culpabilidade é elemento
que compõe a infração penal (teoria que prevalece).
C) Teoria Quadripartida: crime é fato típico, ilícito, culpável e punível (Basileu Garcia).
Essa teoria não deve ser acolhida, tendo em vista que a punibilidade não é elemento
do crime, mas sim consequência do crime. Significa dizer, portanto, que a ocorrência
da prescrição ou da decadência, por exemplo, não excluem o delito. Ele permanece
existindo, mas o agente não pode ser punido.

5º) Elementos do Crime

Fato Típico

a) Conduta (Teorias):

1º) Teoria Causalista ou Concepção Clássica (positivista-naturalista de Von Liszt e Beling):


Crime: é fato típico, ilícito e culpável. Adota-se a teoria tripartida do crime.

Conduta: é uma ação humana voluntária, causadora de modificação no mundo exterior.

Obs1. Diz-se, em doutrina, que é a fotografia do ocorrido.

Obs2. O dolo e a culpa estão na culpabilidade.

Imputabilidade - Espécies: A) Dolo B) Culpa

Obs1. Tipos Penais Normais Trabalha-se com os chamados tipos penais normais, que só
devem ter elementos objetivos, tendo em vista que não se analisa dolo e culpa na conduta.

Obs2. Críticas à Teoria Causalista

A) Não abrange os tipos penais omissivos, pois o conceito de conduta fala que conduta é a
"ação humana voluntária".

B) Dolo e culpa são analisados apenas na culpabilidade.

C) Não admite elementos que não sejam objetivos nos tipos penais. Contudo, sabe-se que os
tipos penais possuem elementos não objetivos, a exemplo dos elementos normativos
(dependem de juízo de valor) e elementos subjetivos (que exigem uma finalidade especial do
agente).

Obs3. Tipos Penais Normais e Anormais

A) Tipo Penal Normal: são aqueles que contêm apenas elementos objetivos.

B) Tipo Penal Anormal: são aqueles que contêm elementos objetivos e subjetivos.

Classificação utilizada apenas na Teoria Causalista.

2º) Teoria Neokantista ou causal-valorativa ou Concepção Neoclássica (Immanuel Kant)

Crime: é fato típico, ilícito e culpável. Adota-se a teoria tripartida do crime.

Conduta: é um comportamento humano voluntário, causador de modificação no mundo


exterior.

Imputabilidade Exigibilidade de Conduta Diversa. Dolo ou Culpa.

Obs. O dolo e a culpa deixam de ser espécie de culpabilidade e passam a ser elementos da
culpabilidade.

Obs1. A teoria neokantista têm bases causalistas. Contudo, diz que conduta é o
comportamento humano voluntário (e não mais ação humana como dizia a Teoria Causalista),
abrangendo, portanto, a omissão.

Obs2. O dolo e culpa foram alocados na culpabilidade como Elementos e não mais como
espécies de culpabilidade.

Obs3. Admitem-se elementos objetivos e subjetivos no tipo penal

Obs4. Críticas à Teoria

A) Embora não sejam mais espécies, mas sim elementos, Dolo e Culpa ainda permanecem na
culpabilidade.

B) Percebe-se uma contradição na Teoria, tendo em vista que, apesar de ter bases
causalistas, reconhece a possibilidade de análise elementos objetivos e subjetivos. No
entanto, deixa para analisar dolo e culpa apenas na culpabilidade.

3º) Teoria Finalista ou Concepção Finalista (Hans Welzel)

Crime: é fato típico, ilícito e culpável. Adota-se a teoria tripartida do crime.

Conduta: é um comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim Obs. Dolo


e Culpa são alocados no Fato Típico.

Culpabilidade: Imputabilidade; Exigibilidade de Conduta Diversa; Potencial Consciência da


Ilicitude.

Obs1. Dolo e Culpa saem da culpabilidade e são alojados no Fato Típico.

Obs2. Autoriza-se o reconhecimento de elementos objetivos, subjetivos, subjetivos do tipo e


normativos.
Obs3. Críticas à Teoria Finalista

A) Não conseguia explicar os crimes culposos.

Motivo: inicialmente, o conceito de conduta para a teoria finalista era o seguinte: é um


comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim ILÍCITO. Por essa
razão, não era possível explicar os crimes culposos, pois, nestes, o fim perseguido pelo
agente não é ilícito. Contudo, retirou-se do conceito a palavra "ILÍCITO", motivo pelo qual
abrangeu, também, os crimes culposos, tendo em vista que estes também possuem um fim,
porém, não é ilícito. Ex: Motorista que dirige o carro em alta velocidade para chegar logo em
casa.

4º) Teoria Finalista Dissidente

Crime: é fato típico e ilícito. A culpabilidade é pressuposto para aplicação da pena, não
integrando os elementos do crime. Adota-se a teoria bipartida do crime.

Conduta: é um comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim Obs. Dolo


e Culpa são alocados no Fato Típico.

Culpabilidade: Imputabilidade; Exigibilidade de Conduta Diversa; Potencial Consciência da


Ilicitude.

Obs. No mais, aplicam-se as mesmas regras da Teoria Finalista.

5º) Teoria Social da Ação (Idealizada por Johannes Wessels, mas também aplicada por E.
Schmidt, Bockelmann, Engisch, Jeschek, Maihofer, dentre outros autores)

Crime: é fato típico, ilícito e culpável. Adota-se a teoria tripartida do crime.

Conduta: é um comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim


socialmente relevante Obs. Dolo e Culpa são alocados no Fato Típico.

Culpabilidade: Imputabilidade Exigibilidade de Conduta Diversa Potencial Consciência da


Ilicitude.

Obs1. Dolo e Culpa permanecem no Fato Típico, mas também são analisados na culpabilidade.

Obs2. Há uma mescla entre o causalismo e o finalismo, pois se analisa dolo e culpa, tanto no

Fato Típico quanto na Culpabilidade. Obs3. Críticas à Teoria Social da Ação

A) Não há como se definir o que é um fato socialmente relevante.

6º) Teoria jurídico-penal da ação

A Teoria jurídico-penal da ação é proposta por Francisco Assis Toledo3 , com a finalidade de
reunir os aspectos positivos de cada uma das concepções acima tratadas (casual clássica,
finalista e social). Para ele, cada uma delas possui ideias relevantes que visam explicar o
fenômeno “conduta humana”, que não podem ser simplesmente desprezadas. Assim, o
mestre busca conciliálas, expressando o seguinte conceito:
(...) a ação é o comportamento humano, dominado ou dominável pela vontade, dirigido para a
lesão ou para exposição a perigo de um bem jurídico, ou, ainda, para a causação de uma
previsível lesão a um bem jurídico. (...)

7º) Teorias Funcionalistas

As teorias funcionalistas estão preocupadas com a missão (função) do Direito Penal.

A) Teoria Funcionalista Moderada ou Teleológica (Roxin) Crime: é fato típico, ilícito e


reprovável.

Adota-se a teoria tripartida do crime.

Conduta: é um comportamento humano voluntário, causador de relevante e intolerável lesão


ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.

Culpabilidade: Imputabilidade Exigibilidade de Conduta Diversa Potencial Consciência da


Ilicitude Necessidade de pena Ex: Relógio furtado e devolvido pra vítima.

Obs1. A missão do Direito Penal é proteger bens jurídicos indispensáveis ao homem.

Obs2. Dolo e culpa encontram-se no Fato Típico.

Obs3. Características:

A) segue orientações político-criminais;

B) acolhe valores e princípios garantistas;

C) a pena possui finalidade preventiva (geral e especial);

D) a pena não possui finalidade retributiva;

E) culpabilidade e necessidade da pena como aspectos da responsabilidade, sendo esta


requisito do fato punível, ao lado do fato típico e ilícito;

F) culpabilidade como limite da pena.

Obs. 4 Críticas à Teoria Funcionalista de Roxin: A Reprovabilidade como elemento integrante


do crime. Caso não fosse aplicável a pena, por exemplo na hipótese de arrependimento eficaz,
indenização da vítima e não reincidência, o fato não era mais considerado reprovável por
Roxin.

B) Teoria Funcionalista Radical ou Sistêmica (Jackobs)

Crime: é fato típico, ilícito e culpável. Adota-se a teoria tripartida do crime.

Conduta: é um comportamento humano voluntário, violador do sistema, frustrando as


expectativas normativas.

Culpabilidade: Imputabilidade Exigibilidade de Conduta Diversa Potencial Consciência da


Ilicitude

Obs1. A missão do Direito Penal é resguardar o sistema, ou seja, evitar a prática de fatos
típicos. Aquele que frustra o Sistema é tratado como inimigo (Direito Penal do Inimigo).

Obs2. Dolo e culpa encontram-se no Fato Típico.


Obs3. Características:

A) orientações acerca das necessidades sistêmicas;

B) o direito é instrumento de estabilização social;

C) o indivíduo é centro de imputação e responsabilidade;

D) a violação da norma é considerada socialmente prejudicial porque questiona a violação do


sistema e não porque viola o bem jurídico tutelado;

E) a pena possui função de prevenção integradora, isto é, de reafirmação da norma violada,


reforçando a confiança e fidelidade ao Direito.

Obs. 4 Críticas à Teoria Funcionalista de Jakobs

Doutrina tem dito que esta Teoria está voltada aos Estados Totalitários

Observações Finais:

A) Diz-se que a teoria adotada no Brasil é a Finalista, com uma mescla de Roxin ou Teoria
Funcionalista de Roxin corrigida pelo Finalismo.

B) O Código Penal Militar adotou a Teoria Causalista.

8ª) Teoria Significativa da Ação (Criada por Tomás Salvador Vives Antón, baseado nas lições
filosóficas de Ludwig Wittgenstein e Jürgen Habermas)

A Teoria da Ação Significativa funda-se na filosofia analítica da linguagem. Esclarece o


idealizador que:

Para a análise do conceito de ação é fundamental o conceito de seguir uma regra, enquanto
que o aspecto de atividade teleológica ou consecução de fins só se torna relevante para
propostas causais. Do conceito de seguir uma regra se segue um conceito de capacidade de
ação, de acordo com a qual o sujeito: a) sabe que segue uma regra; b) (se) nas circunstâncias
apropriadas está em condições de dizer que regra está seguindo, isto é, de indicar o conteúdo
proposicional da ‘consciência de regra’. Através de uma modificação (privativa desta pré-
compreensão cotidiana) podemos interpretar ‘conforme ao modelo’ da observância
consciente de uma regra o comportamento animal orientado à consecução de um fim,
interpretação na qual atribuímos ao animal uma consciência de regra, em si suscetível de
explicitação, mas que o próprio animal não seria capaz de explicitar. Falamos de ‘mero’
comportamento quando não cabe pressupor uma consciência implícita de regra, mas sim uma
capacidade de ação mínima, no aspecto de que o organismo de que se trate pode distinguir
‘em algum sentido’ entre fazer e deixar de fazer, por um lado, e fazer e padecer, por outro.

Dessa forma, para esta concepção, não existe um conceito pré-concebido de conduta,
devendo ser analisado, no caso concreto, o significado da ação humana. Nesse sentido, a
doutrina da ação significativa se fundamenta nos conceitos de ação e norma, os quais se
encontram interligados pela liberdade de ação, ou seja, aquele comportamento que pode ser
imputável ao agente e não ao acaso.

Assim, afirma-se que não existem ações prévias às normas. Por exemplo, só sabemos o que é a
ação de matar porque antes dela foi estabelecida uma norma que indica que “matar alguém” é
uma conduta penalmente relevante. Por isso, compreendemos que a aquele que desenvolve
essa conduta pratica um homicídio.
Portanto, somente conseguiremos emprestar algum significado jurídico para uma conduta
humana se for possível correlacioná-la a um determinado tipo penal, que lhe foi previamente
instituído.

9º) Notas finais sobre a conduta

Conduta é sempre um ato humano e voluntário (todas as teorias concordam com isso).

Hipóteses de Ausência de conduta:

1º) Coação Física Irresistível

Ex: Colocar seu dedo na arma para apertar o gatilho.

Obs. Parte da doutrina afirma que haverá conduta se o próprio agente se colocar sob os
efeitos da coação física irresistível.

Ex: se jogar na correnteza para acertar o desafeto

Obs2: A coação Moral Irresistível exclui a culpabilidade e não a conduta.

Obs3: Se a coação for física Resistível, não haverá nem excludente de culpabilidade, nem da
conduta. Será considerada mera atenuante de pena.

2º) Caso Fortuito ou Força Maior: excluem a conduta diante da ausência de voluntariedade.

3º) Estados de Inconsciência: não haverá conduta, em razão da falta de capacidade psíquica de
vontade.

Ex: sonambulismo, desmaio, ataque epilético, estado de coma, etc.

Obs. Consciência Perturbada.

Se a consciência estiver perturbada, haverá conduta.

Ex: crime praticado por doente mental (aplica-se o art. 26 do Código Penal). Ex: crime
praticado por doente mental.

4º) Atos Reflexos: não haverá crime nos atos reflexos, em razão da falta de voluntariedade da
conduta. Ex: a pessoa se assusta e acabando acertando o olho da vítima.

Obs. Ações em Curto-Circuito. Haverá conduta nas ações em curto-circuito. São os


movimentos impulsivos ou instintivos e os movimentos habituais ou mecânicos. Também
haverá conduta nos atos reflexos previsíveis (ex: colocar o dedo na tomada para tomar um
choque e disparar a arma).

Obs. Também haverá conduta nos atos reflexos previsíveis. Ex: colocar o dedo na arma
fingindo que ia atirar, mas atirar.

Crime Doloso
Previsão legal: art. 18, I, do CP

Conceito
É a vontade consciente de realizar os elementos do tipo penal incriminador.
Teorias do Dolo
Teoria da Vontade
É a consciência e vontade de querer praticar uma infração penal. É a teoria adotada em
relação ao dolo direto (Art. 18. Diz-se o crime: I doloso, quando o agente quis o resultado...).

Teoria da Representação
Haverá o dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, mesmo
assim, ele decide prosseguir com a conduta.

Obs. Essa teoria deve ser afastada por confundir dolo com culpa consciente.

Teoria do Consentimento ou Assentimento


Haverá o dolo sempre o agente tiver a previsão do resultado como possível e, mesmo assim,
ele decide prosseguir com a conduta, assumindo o risco de produzi-lo.

Aplica-se essa teoria ao dolo eventual (Art. 18. Diz-se o crime: I doloso, quando o agente (...)
assumiu o risco de produzi-lo).

Obs. Teoria da Indiferença: também age com dolo eventual aquele que, tendo previsão do
resultado possível, é indiferente quanto à lesão ao bem jurídico tutelado, ou seja, o agente
trata com indiferença o resultado possível (Roxin).

3º) Espécies de Dolo

A) Dolo Direto ou Determinado

O agente prevê um determinado resultado e dirige sua conduta para realizá-lo.

B) Dolo Indireto ou Indeterminado

O agente, com sua conduta, não busca resultado certo e determinado.

Divide-se em:

1º) Dolo Alternativo: Existindo a previsão de vários resultados possíveis, o agente dirige sua
conduta buscando um ou outro. Ex: Homicídio ou lesão corporal. Não há previsão no nosso
ordenamento.

2º) Dolo Eventual Existindo a previsão de vários resultados possíveis, o agente dirige sua
conduta buscando a realização de um deles, assumindo o risco de realizar os demais. Ex: Quer
a prática da lesão corporal, mas assume o risco pelo homicídio.

Obs. Dolo eventual e qualificadoras do Homicídio:

1º) Motivo Fútil (qualificadora subjetiva).

A doutrina diverge quanto a sua compatibilidade.


2º) Recurso que impossibilitou a defesa da vítima (art. 121, § 2º, IV): é incompatível com o dolo
eventual.

A) (...) Quando atua imbuído em dolo eventual, o agente não quer o resultado lesivo, apenas
assume o risco de produzi-lo. Em tais hipóteses, revela-se manifestamente improcedente a
incidência da qualificadora prevista no artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal, destinada a
agravar a reprimenda em razão do modo de execução sorrateiro eleito pelo agente, a qual
exige o dolo direto de ceifar a vida da vítima. (STJ-RECURSO ESPECIAL Nº 1.556.874-RJ
2015/0225632-9)

B) (...) Quanto à compatibilidade do dolo eventual com o recurso que impossibilita a defesa da
vítima, tem prevalecido, no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, não
ser possível a incidência da referida qualificadora. De fato, se tratando de crime de trânsito,
com dolo eventual, não se poderia concluir que tivesse o paciente deliberadamente agido de
surpresa, de maneira a dificultar ou impossibilitar a defesa da vítima.5. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida de ofício, apenas para decotar a qualificadora do inciso IV do §
2º do art. 121 do Código Penal. (STJ -HC 308180/SP 2014/0282037-1).

Obs2. Dolo eventual e tentativa: STJ diz que é compatível.

(...) No que concerne à alegada incompatibilidade entre o dolo eventual e o crime tentado,
tem-se que o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência no sentido de que "a tentativa
é compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual, na direção de veículo
automotor". (AgRg no REsp 1322788/SC, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma,
julgado em 18/06/2015, DJe 03/08/2015).

Dolo Direto de 1º Grau


O agente prevê um determinado resultado e dirige sua conduta para realizá-lo (mesmo
conceito do dolo direto).
Dolo Direto de 2º Grau ou dolo de consequências necessárias
É a hipótese em que o agente assume os efeitos colaterais da conduta como consequência
necessária do meio escolhido para a prática do crime.

Ex: Bomba no Avião para matar seu desafeto. Matar o desafeto (dolo direto de primeiro grau).
Matar os demais passageiros (dolo direto de segundo grau ou de consequências necessárias).

Obs. Diferença entre o Dolo Direto de Segundo Grau e o Dolo Eventual: No dolo direto de
segundo grau o resultado é certo e inevitável. No dolo eventual, o resultado é incerto,
possível, desnecessário.

Dolo Direto de Terceiro Grau ou dolo de dupla consequência necessária


Pressupõe a existência do dolo direito de segundo grau. É a hipótese de inevitável violação de
bem jurídico em decorrência do efeito colateral produzido pelo dolo direto de segundo grau.

Ex: Bomba no Avião para matar seu desafeto. Matar o desafeto (dolo direto de primeiro grau).
Matar os demais passageiros (dolo direto de segundo grau ou de consequências necessárias).
Há uma grávida no avião e, por essa razão, o fato de matar a grávida, gera inevitavelmente o
abordo (dolo direto de terceiro grau).

Dolo Cumulativo
O agente pretende alcançar dois resultados em sequência (progressão criminosa) Ex: estuprar
e matar

Dolo de Dano
O agente tem a intenção de causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.

Dolo de Perigo
O agente tem a intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado.

Dolo Genérico
O agente tem a intenção de realizar a conduta, sem nenhum fim específico.

Dolo Específico
O agente tem a intenção de realizar a conduta, com um fim específico.

Obs. Dá-se o nome de elemento subjetivo do tipo. Ex: “com o fim de”, “com o intuito de” na lei
penal.

Dolo de Propósito
É o crime refletido.

Dolo de ímpeto (crime de curto-circuito)


É o crime repentino

Dolo Presumido ou in re ipsa


É o dolo que não precisa de comprovação no caso concreto. Não é admitido em direito penal.
É necessária a prova, direito penal não admite responsabilidade objetiva.

Dolo Natural (Dolo Incolor ou avalorado) e Dolo Normativo (ou Dolo Colorido ou
valorado)
Dolo Natural é aquele que não exige do agente a consciência da ilicitude de sua conduta.
Vincula-se à teoria da Finalista. Dolo está contido no Fato Típico e não na culpabilidade.
Crime Culposo
Segundo o art. 18, II, do Código Penal, diz-se culposo o crime quando o agente dá causa ao
resultado em razão de imprudência, imperícia ou negligência. O agente não quer, nem assume
o risco pelo resultado, mas pratica uma conduta descuidada, acarretando o resultado não
querido, mas previsível (culpa inconsciente) ou previsto, mas que o agente imaginava evitável
(culpa consciente).

Conceito: trata-se de uma conduta voluntária realizadora de um fato ilícito não querido pelo
agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era previsível (culpa
inconsciente) e que podia ser evitado se o agente atuasse com o devido cuidado.

Dica: Conceito completo no art. 33, II, do CPM.

Elementos da Culpa:

1) Conduta humana voluntária: A vontade do agente limita-se à realização da conduta e não na


produção resultado (o resultado é não querido). Ex: dirigir em alta velocidade e não de matar
alguém.

2) Violação do dever de cuidado objetivo (desvalor da ação): O agente atua em desacordo com
o esperado pela lei e pela sociedade.

Formas de violação do dever de cuidado:

A) Imprudência: afoiteza (culpa na modalidade positiva). Ex: motorista que dirige acima da
velocidade permitida.

B) Negligência: falta de precaução (culpa na modalidade negativa). Ex: agente que deixa a
arma de fogo em local acessível a crianças.

C) Imperícia: falta de aptidão técnica para o exercício de arte, ofício ou profissão (culpa
profissional). Obs. A imperícia só pode ocorrer no exercício de arte, profissão ou ofício. Se
ocorrer fora dessas hipóteses, será ou imprudência ou negligência. Ex: médico que realiza o
parto e a criança morre (imperícia). Parteira que realiza um parto e criança morre
(imprudência ou negligência).

Obs2. Erro profissional e Imperícia

Erro profissional é aquele que advém da falibilidade das regras cientificas, ou seja, o agente
conhece e segue estritamente as regras de sua profissão, contudo, por estarem em constante
evolução, não são suficientes para resolver o problema do caso concreto. Ex: médico que
atende paciente com câncer. Ele aplica todos os procedimentos e técnicas à disposição de
forma adequada, mas mesmo assim o paciente morre.

Obs3. Modalidades de culpa e Inicial acusatória


1) qualquer modalidade de culpa deve ser devidamente descrita na inicial acusatória, sob pena
de inépcia, em razão da violação da ampla defesa e da caracterização de responsabilidade
penal objetiva.

2) Caso o Ministério Público tenha imputado na denúncia a modalidade imprudência, mas no


decorrer da ação penal tenha se verificado a modalidade imperícia, o juiz deve abrir vista ao
MP para o aditamento da denúncia (mutatio libeli). Após, reabrir a instrução. Caso realize o
julgamento sem o aditamento da denúncia, haverá violação à ampla defesa, pois o réu se
defendeu da imprudência e não da imperícia.

3º) Resultado Naturalístico Involuntário Não há crime culposo sem resultado naturalístico.
Crime culposo é sempre crime material.

Obs. Exceção: art. 38 da Lei de Drogas (crime culposo sem resultado naturalístico). Na
modalidade prescrever drogas, haverá consumação com a entrega da receita ao paciente.

4º) Previsibilidade É a possibilidade de conhecer o perigo (culpa inconsciente).

Obs1. Previsibilidade e Previsão.

Previsibilidade: possibilidade de conhecer o perigo.

Previsão: conhecimento do perigo (culpa consciente)

Obs2. Critério Utilizado para aferição da previsibilidade:

A) Critério do Homem Médio (previsibilidade objetiva): prevalece

B) Capacidade Individual do Agente (previsibilidade subjetiva): leva em conta as características


pessoais da pessoa do agente.

5º) Nexo Causal entre conduta e resultado

6º) Tipicidade

A punição pelo crime culposo exige expressa previsão legal (art. 18, parágrafo único: Salvo os
casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando
o pratica dolosamente).

Espécies de Culpa

1º) Culpa consciente (ou culpa com previsão) O agente prevê o resultado, mas acredita
sinceramente que ele não ocorra, supondo que pode evitá-lo com suas habilidades.

Obs. Diferença entre dolo eventual culpa consciência.

Foda-se Fodeu

2º) Culpa Inconsciente: O agente não prevê o resultado que, no entanto, era previsível.
3º) Culpa Própria: É aquela que o agente não quer e não assume o risco de produzir o
resultado.

4º) Culpa Imprópria ou por equiparação, assimilação ou extensão

Previsão legal: art. 20, § 1º, do CP

É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação
de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

É a hipótese em que o agente, por erro, fantasia certa situação fática, acreditando estar agindo
acobertado por uma excludente de ilicitude e, em razão disso, provoca intencionalmente um
resultado ilícito. Embora se tenha uma ação dolosa, tratando-se de erro evitável, o agente
responde por culpa, considerando questões de política criminal.

Ex: pai mata o filho que chega de madrugada em casa, supondo ser um assaltante armado.

Obs1. Chama-se culpa imprópria porque, embora se tenha uma ação dolosa, é punida a título
de culpa.

Obs2. A culpa imprópria é o modo que se pune uma descriminante putativa por erro evitável.

5º) Culpa in re ipsa.

É a chamada culpa presumida. Não é admitida no Direito Penal. Toda culpa deve ser provada,
sob pena de Responsabilidade Penal Objetiva.

Obs1. Compensação de Culpa: No direito penal não existe a chamada compensação de culpa.

Ex: motorista atravessa o sinal vermelho enquanto o outro conduz seu veículo em alta
velocidade

Admite a concorrência de culpa, sendo que, cada indivíduo responde pela conduta
desenvolvida e que deu causa ao resultado.

Obs2. Culpa exclusiva da vítima A culpa exclusiva da vítima exclui a culpa. Se a culpa é exclusiva
da vítima, ela não pode ser do agente.

Causas de Exclusão de Culpa


1º) Caso Fortuito ou Força Maior

2º) Erro Profissional

3º) Risco Tolerado

Ex: médico que opera um paciente grave

Ex2: piloto que faz o teste do avião pela primeira vez

4º) Princípio da Confiança

Pelo princípio da confiança, espera-se que todo indivíduo aja de acordo com as normas de
bom convívio em sociedade. Por isso, não se pode punir o agente em razão de condutas ilícitas
praticadas por outras pessoas. Ex: motoqueiro que atravessa o sinal vermelho e é colhido pelo
carro que vinha na via preferencial.
Crime preterdoloso

Crime preterdoloso ou preterintencional é aquele em existe dolo na conduta antecedente e


culpa na conduta consequente. Em outras palavras: o agente pretende um produzir um
resultado (age com dolo), contudo, além desse resultado, também causa um resultado mais
grave do que havia pretendido (por culpa). Ex: Lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º).

Elementos do crime preterdoloso:

A) Conduta dolosa visando determinado resultado (lesão);

B) Resultado culposo mais grave do que o projetado (morte);

C) Nexo Causal (lesão seguida de morte).

Crime Qualificado pelo Resultado

O crime preterdoloso nada mais é do que um crime qualificado pelo resultado. Outras
hipóteses de crimes qualificado pelo resultado:

A) Crime doloso agravado dolosamente Ex: homicídio qualificado

B) Crime culposo agravado culposamente Ex: incêndio culposo agravado pela morte

C) Crime Culposo agravado dolosamente Ex: Homicídio culposo agravado pela omissão de
socorro Obs. Guilherme Nucci não aceita essa hipótese, por entender que há uma
impropriedade lógica.

D) Crime doloso agravado culposamente (crime preterdoloso). Ex: Lesão corporal seguida de
morte.

Erro de Tipo
Art. 20, CP.

O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição
por crime culposo, se previsto em lei.

Erro: é a falsa percepção da realidade. O erro recai sobre as elementares, circunstâncias ou


qualquer outro dado agregado do tipo penal.

Há três tipos de erro:


Espécies de erro de tipo
Erro de Tipo Essencial
É o erro que recai sobre elementos constitutivos do tipo penal ou sobre suas circunstâncias.
Em outras palavras: é o erro que recai sobre os dados principais do tipo penal. Ex: Atira no
arbusto achando que era um animal (coisa), quando na verdade era uma pessoa (alguém).

Consequências:

Erro de Tipo Inevitável


É o erro que não podia ser evitado. Exclui o dolo e a culpa.

Obs. o agente não possui consciência e vontade de realizar a conduta incriminada.

Recai sobre dados essenciais.

Ex: pegou mochila idêntica a sua mas era de outrem.

Erro de Tipo Evitável


É o erro que podia ser evitado.

Exclui o dolo, mas subsiste a punição por culpa, caso haja previsão legal para tanto.

Erro de Tipo Acidental (classificação de Rogério Grecco)


O erro recai sobre dados periféricos do tipo penal. Não exclui dolo ou punibilidade.

A) Erro sobre o objeto

O agente, por erro, representa mal o objeto pretendido, atingindo bem diverso do almejado.

Ex: fui furtar uma pulseira de ouro, mas acabei furtando uma pulseira de couro.

Ex: fui furtar açúcar, mas furtei farinha

Ex: ia roubar Iphone mas roubou Samsung.

Consequências: não exclui o dolo e não exclui a culpa, nem isenta o agente de pena

B) Erro sobre a pessoa

Previsão legal: art. 20, § 3º

O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.

O agente, por erro, representa mal a pessoa pretendida, atingindo outra, diversa da almejada.

Ex: fui matar meu pai, mas, por erro, o confundo com meu tio e mato este último.

Consequências: não exclui o dolo e não exclui a culpa, nem isenta o agente de pena.

Obs. Segundo o art. 20, § 3º, do CP, o agente responde pelo crime, considerando as qualidades
da vítima pretendida ou virtual (aquela que não foi alvejada pela conduta criminosa).

C) Erro na Execução ou Aberratiu Ictus

Previsão legal: art. 73 do Código Penal.


Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o
crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser
também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste
Código.

O agente, por acidente ou erro nos meios de execução, atinge pessoa diversa da pretendida,
apesar de corretamente representada.

Ex: quero matar meu pai, mas por erro no manuseio da arma de fogo, executo mal o crime, e
mato o meu tio.

Diferença entre Erro sobre a pessoa e Erro na Execução

Consequências: não exclui o dolo e não exclui a culpa, nem isenta o agente de pena.

Obs1. o agente responde pelo crime, considerando as qualidades da vítima pretendida ou


virtual (aquela que não foi alvejada pela conduta criminosa).

Obs2. Se a vítima pretendida também é atingida, aplica-se a regra do concurso formal.

D) Resultado Diverso do Pretendido (Aberratiu Criminis)

Previsão legal: art. 74 do CP.

Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime,
sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto
como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70
deste Código.

O agente, por erro acidente ou erro na execução do crime, provoca resultado diverso do
pretendido, ofendendo bem jurídico diverso do projetado.

Ex: atiro uma pedra para lesionar a vítima, mas erro, e acerto a vidraça do carro.

Ex: atiro uma pedra para causar dano no veículo da vítima, mas erro, e acerto o motorista, que
acaba morrendo.

Diferença entre Resultado Diverso do Pretendido e Erro na Execução


Consequências: não isenta o agente de pena.

Obs1. O agente responde pelo resultado diverso do pretendido a título culposo. Em outras
palavras, o agente responde pelo resultado efetivamente produzido a título culposo.

Ex: atiro uma pedra para causar dano no veículo da vítima, mas erro, e acerto o motorista, que
acaba morrendo (Homicídio culposo).

E se o crime não tiver modalidade culposa?

Se o resultado pretendido for menos grave e não houver resultado culposo, não será aplicado
o artigo 74, CP.

A doutrina, com razão, tem alertado que se o resultado diverso do pretendido for menos
grave, ou se não existir previsão do delito na modalidade culposa, não será aplicada a regra do
art. 74 do Código Penal, sob pena de a lei penal ser considerada inócua, além de proteger de
forma ineficiente o bem jurídico. Nesse sentido, vejamos a lição de Cléber Masson:

(...) se o resultado previsto como crime culposo for menos grave ou se o crime não
admitir a modalidade culposa, deve-se desprezar a regra contida no art. 74 do Código
Penal. Exemplificativamente, se “A” efetua disparos de arma de fogo contra “B” para
matá-lo, mas não o acerta e quebra uma vidraça, a sistemática do resultado diverso do
pretendido implicaria a absorção da tentativa branca ou incruenta de homicídio pelo
dano culposo. Como no Código Penal o dano não admite a modalidade culposa, a
conduta seria atípica. E, ainda que o legislador tivesse incriminado o dano culposo, tal
delito não seria capaz de absorver o homicídio tentado. Deve ser imputada ao agente a
tentativa de homicídio.

Obs2. Se ocorrer também o resultado pretendido, aplica-se a regra do concurso formal.

E) Erro sobre o nexo causal

Espécies:

1º) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito

O agente, mediante um só ato, provoca o resultado pretendido, porém, com nexo causal
diverso.
Ex: empurro a vítima do penhasco para que morra afogada, contudo, na queda, esta bate a
cabeça e morre.

2º) Dolo geral

O agente, mediante conduta desenvolvida em dois ou mais atos, provoca o resultado


pretendido, porém com nexo diverso.

Ex: atiro na vítima e, acreditando estar morta, a enterro. Após, descobre-se que morreu de
asfixia pelo soterramento.

Consequências: nas duas espécies, não exclui o dolo e não exclui a culpa, nem isenta o agente
de pena.

Obs. O agente responde com base em qual nexo? 1ª corrente: responde pelo crime
considerando o nexo real, efetivo.

Ex: homicídio por asfixia

2ª corrente: o agente responde pelo nexo pretendido, projetado, virtual, evitando-se a


responsabilização penal objetiva (prevalece).

Ex: Homicídio em razão do disparo de arma de fogo 3ª corrente: responde pelo nexo mais
favorável ao agente, em razão do princípio da in dubio pro reo.

3º) Erro Provocado por Terceiro

No erro de tipo, o agente tem uma falsa percepção da realidade e erra espontaneamente.

No erro provocado por terceiro, alguém provoca o erro no agente (erro não espontâneo).

Ex: médico, com intenção de matar, entrega a enfermeira uma injeção com veneno, que é
aplicada no paciente.

Consequências:

1º) quem determina dolosamente o erro, responde por crime doloso. Quem determina
culposamente o erro, responde por crime culposo.

2º) Temos a figura do autor mediato.

3º) Se o terceiro enganado, percebe o erro e, querendo ou assumindo o risco do resultado,


reponde por dolo. Se o erro era previsível, responde por culpa. Se o erro era imprevisível, o
fato é atípico.

4º) Observações finais

A) Erro de Subsunção

É a hipótese de erro que recai sobre a valoração jurídica. O agente interpreta


equivocadamente o sentido jurídico do seu comportamento

Ex: Pensa que cheque é documento particular.

Ex: Jurado exige valor do advogado para absolver o cliente, não sabe que jurado é funcionário
público por equiparação. Há crime de corrupção passiva.

Consequências: não exclui o dolo e não exclui a culpa, nem isenta o agente de pena.
Existem respeitáveis vozes (ex: Rogério Sanches) que defendendo que esta modalidade de erro
pode gerar a aplicação da atenuante inominada do artigo 66, CP.

B) Erro na execução e Competência:

Para fins de fixação de competência, em hipótese de erro na execução, considera-se a vítima


real, tendo em vista que o art. 73 não possui reflexos processuais penais.

Ex: quero matar o servidor público federal, mas, por erro na execução, mato o servidor público
estadual.

A justiça que julgará, pela sumula 147, STJ, prevê:

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público
federal, quando relacionados com o exercício da função.

Considera-se a vitima real, não a pretendida, para fins de competência.

STJ, Conflito de precedente 27.378/SP.

C) Delito Putativo por erro de tipo ou Delito de Alucinação

O agente possui vontade de cometer o delito, mas, por erro, pratica uma conduta atípica.

Ex: agente vende farinha acreditando ser droga.

Resultado

Existem dois tipos de resultado: naturalístico e jurídico.

1º) Naturalístico: É aquele que resulta alteração física no mundo exterior. Ex: morte, lesão,
destruição do objeto

2º) Jurídico: É aquele que resulta lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.

Classificação dos crimes quanto ao resultado


1º) Material: é aquele que o resultado naturalístico é indispensável para configuração do
crime. O tipo penal descreve a conduta e o resultado naturalístico. Ex: homicídio, lesão
corporal, furto.

2º) Formal ou de consumação antecipada: o tipo penal descreve conduta e resultado


naturalístico. Contudo, não é necessário a ocorrência do resultado naturalístico, tendo em
vista que a consumação é antecipada para o momento da conduta. Havendo, também, a
ocorrência do resultado naturalístico, será mero exaurimento da coisa.

Ex: extorsão (súmula 96 do STJ), extorsão mediante sequestro, concussão.


Súmula 96 STJ: "O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da
vantagem indevida."

Havendo também a ocorrência do resultado naturalístico, este será mero exaurimento do


crime, nada alterando, dado que o crime já estava praticado antes deste.

3º) Mera conduta: o tipo penal descreve uma mera conduta, sem resultado naturalístico. Ex:
porte de arma, violação de domicílio.

Observação

Nem todos os crimes possuem resultado naturalístico, porém, todos os crimes possuem
resultado jurídico, uma vez que não há delito sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado.

Nexo de Causalidade
Conceito: É a ligação entre a conduta e o resultado naturalístico. Obs. O nexo causal tem
pertinência apenas aos crimes materiais.

Previsão legal

Art. 13 do Código Penal:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

A) Teoria da equivalência dos antecedentes (conditio sine qua non): Considera-se causa a
conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido da forma que ocorreu. Considera-se causa
toda e qualquer condição que contribua para a produção do resultado naturalístico. Considera-
se causa todo antecedente físico que tenha contribuído para o resultado. (art. 13, caput, do
CP).

Obs1. Conditio Sine qua non. Toda conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido como
ocorreu.

Obs2. Procedimento Hipotético de Eliminação (Thyrén) Causa é todo antecedente que,


suprimido mentalmente (hipoteticamente), impediria a produção do resultado como ocorreu.
Ex: Fulano desferiu tiros em Beltrano e o matou.

Antecedentes hipotéticos da morte de Beltrano: 1º) Fulano acordou cedo; 2º) comprou a
arma; 3º) comprou a munição; 4º) Almoçou; 5º) Levou os filhos na escola; 6º) compareceu ao
local do crime; 7º) Atirou; e 8º) causou a morte.

Se houver a supressão do antecedente causal e ainda assim o resultado ocorrer, este


antecedente é causa. No nosso exemplo:
Obs3. Regresso ao infinito

Existem críticas doutrinárias que a teoria dos antecedentes causais tem como consequência o
regresso ao infinito, necessitando-se de parâmetros para a adequada imputação do nexo. Ex:
você deu um tiro e a vitima morreu – se deus não tivesse criado o homem, o agente não teria
matado.

Deve-se trabalhar com dois pressupostos: analise de dolo ou culpa na conduta do agente. Ex:
Deus não tinha esta intenção ao criar o homem.

Obs4. Responsabilização Penal (pressupostos):

A) Análise de Dolo e Culpa A responsabilidade não regressa ao infinito porque se exige a


análise de dolo ou culpa na conduta do agente.

B) Imputação objetiva do resultado Contra o regresso ao infinito nasce a teoria da imputação


objetiva.

Concausas
Quando há pluralidade de causas que concorrem para o mesmo evento.

Importante: a dúvida em relação a concausa (causa concorrente) é como será realizada a


punição do agente.

A) Causa preexistente absolutamente independente em relação à conduta do agente

A causa que produz o resultado já existia antes da conduta do agente.

Ex: Fulano, com intenção de matar, desfere golpes de faca em Beltrano. Contudo, Beltrano
morre em razão de ter ingerido veneno anteriormente (Causa preexistente absolutamente
independente).

Conclusão: Não há nenhuma relação da conduta do agente com a causa da morte. Portanto,
não se pode atribuir aos golpes de faca a morte da vítima.

Consequências: Será responsabilizado pela tentativa de homicídio .

B) Causa concomitante absolutamente independente em relação à conduta do agente


A causa que produz o resultado surge no mesmo momento (simultaneamente) à conduta do
agente.

Ex: Fulano, com intenção de matar, ministra veneno para Beltrano. Ao mesmo tempo, Beltrano
é atingido por uma bala perdida e morre em razão do disparo (Causa concomitante
absolutamente independente).

Conclusão: Não há nenhuma relação da conduta do agente com a causa da morte. Portanto,
não se pode atribuir ao veneno a morte da vítima.

Consequências: Será responsabilizado pela tentativa de homicídio

D) Causa superveniente absolutamente independente em relação à conduta do agente

A causa que produz o resultado surge posteriormente à conduta do agente.

Ex: Fulano, com intenção de matar, ministra veneno para Beltrano. Posteriormente, mas antes
de o veneno fazer efeito, Beltrano sofre um ataque do coração e morre (Causa superveniente
absolutamente independente).

Conclusão: Não há nenhuma relação da conduta do agente com a causa da morte. Portanto,
não se pode atribuir ao veneno a morte da vítima.

Consequências: Será responsabilizado pela tentativa de homicídio.

Dica final sobre concausas absolutamente independentes

Nas concausas absolutamente independentes jamais o resultado poderá ser atribuído à causa
concorrente, pouco importando se preexistentes, concomitantes ou supervenientes. A
responsabilidade será por crime tentado.

Causas relativamente independentes


A causa efetiva se origina, ainda que indiretamente, da causa concorrente. A conduta do
agente contribui para a causação do resultado.

A) Causa preexistente relativamente independente em relação à conduta do agente.

Duas causas interligadas (preexistente e a conduta do agente) produzem o resultado.

Ex: Fulano, com intenção de matar, desfere um único golpe de faca em Beltrano, o qual é
portador de hemofilia (causa preexistente). Em razão do golpe, aliado ao estado de saúde da
vítima, esta sangra até morrer.

Conclusão: O resultado morte deve ser atribuído à conduta do agente, pois ela contribuiu para
a causação do resultado.

Consequências: Responde pelo homicídio consumado.

Obs. A doutrina e jurisprudência moderna têm entendido que o resultado morte, no caso do
hemofílico ou similar, só pode ser atribuído ao autor da causa concorrente se este souber que
a vítima era hemofílica, evitando responsabilidade penal objetiva.

B) Causa concomitante relativamente independente em relação à conduta do agente

Duas causas interligadas (concomitante e a conduta do agente) produzem o resultado.


Ex: Fulano desfere tiros em Beltrano, que morre de um ataque cardíaco em razão do susto
pelos disparos.

Conclusão: O resultado morte deve ser atribuído à conduta do agente, pois ela contribuiu para
a causação do resultado.

Consequência: Responde pelo homicídio consumado.

C) Causa superveniente relativamente independente em relação à conduta do agente

Duas causas interligados (a superveniente e a conduta do agente) produzem o resultado.

1º) "que por si só produziu o resultado" (causa superveniente que produza por si só o
resultado)

O resultado (causa efetiva) sai da linha de desdobramento causal normal da causa concorrente
(evento imprevisível).

Ex: Fulano, com intenção de matar, desfere um tiro em Beltrano. Beltrano vai para hospital,
local onde o teto desabada e cai sobre o seu leito, causando sua morte.

Conclusão: O resultado morte não pode ser atribuído à conduta do agente, pois sua conduta
inicial, embora tenha contribuído para a causação do resultado (se não tivesse atirado não
teria ido ao hospital), a causa determinante saiu da linha de desdobramento causal normal.

Consequências: Responde pelo homicídio tentado.

2º) "que NÃO por si só produziu o resultado" (causa superveniente que não produza por si só o
resultado)

O resultado (causa efetiva) está na linha de desdobramento causal normal da causa


concorrente (evento previsível). Ex: Fulano, com intenção de matar, desfere um tiro em
Beltrano. Beltrano vai para hospital, contrai uma infecção hospitalar e morre.

Conclusão: O resultado morte deve ser atribuído à conduta do agente aliada à causa
concorrente, pois sua conduta contribuiu para materialização do resultado.

Consequências: Responde pelo homicídio consumado.

Obs1. Posição do STJ:

O STJ já decidiu o seguinte: "O fato de a vítima ter falecido no hospital em decorrência das
lesões sofridas, ainda que se alegue eventual omissão no atendimento médico, encontra-se
inserido no desdobramento físico do ato de atentar contra a vida da vítima, não caracterizando
constrangimento ilegal a responsabilização criminal por homicídio consumado, em respeito à
teoria da equivalência dos antecedentes causais adotada no Código Penal e da comprovação
do animus necandi do agente." (HC. 42.559/PE).

Obs2. O art. 13, caput, adotou a teoria da conditio sine quo non ou Teoria da equivalência dos
antecedentes, significando dizer que, considera-se causa, a conduta sem a qual o resultado
não teria ocorrido como ocorreu.

Obs3. Teoria da Causalidade Adequada Por sua vez, o art. 13, § 1º, previu a Teoria da
Causalidade Adequada (ou teoria da condição qualificada ou teoria individualizadora), na qual,
entende-se que causa é o antecedente necessário e adequado à produção do resultado.
Portanto, para se atribuir o resultado ao agente, é importante que ele, além de praticar um
antecedente indispensável, também realize uma conduta adequada à sua concretização.

A causa adequada é aferida de acordo com o critério do homem médio e com as regras de
experiência. Para tanto, deve-se excluir os acontecimentos extraordinários, fortuitos,
excepcionais e anormais. Dica: O acontecimento está na linha de desdobramento normal da
conduta?

Teoria da Imputação Objetiva


A Teoria da imputação objetiva surgiu para colocar um freio no regresso ao infinito.

Quadro comparativo:

Conceito

Trata-se de teoria que se insurge contra o regresso ao infinito da causalidade simples,


enriquecendo-a com o acréscimo do chamado nexo normativo, composto dos seguintes
pressupostos:

A) criação ou incremento de risco proibido:

Obs. O direito penal deve se limitar a proibir ações perigosas, que coloquem em risco os bens
jurídicos tutelados.

Obs2. Risco é toda ação ou omissão que gere possibilidade de lesão ao bem jurídico tutelado.

Obs3. Critério de Aferição do Risco.

É adotado o critério da Prognose Póstuma Objetiva.

Prognose (Suposição sobre o que pode acontecer futuramente): refere-se a situação do agente
no momento da ação.

Póstuma (lembrança de uma pessoa que morreu): a aferição será feita pelo magistrado após a
prática do fato;
Objetiva: adota-se critério do homem médio. Ex: filho, com a intenção de matar, manda o pai
viajar de avião com a expectativa de que esse sofra um acidente (não pode ser considerado
causa, pois não criou, nem incrementou um risco proibido).

Obs4. Diminuição do Risco

Se o agente modifica um curso causal de modo que diminua ou melhore a situação da vítima
do perigo, não haverá possibilidade de imputação.

Ex: Fulano empurra Beltrano, que iria ser atropelado por um ônibus. Beltrano cai no chão e
sofre algumas lesões em razão do empurrão (não pode ser considerado causa, pois não criou,
nem incrementou um risco proibido. Melhorou ou diminuiu o risco em relação à situação da
vítima).

B) O risco criado deve ser proibido pelo Direito

A vida em sociedade comporta algumas atividades de risco que não são proibidas pelo direito.
O risco a que se refere a teoria da imputação objetiva é aquele que é proibido pelo Direito, ou
seja, fazendo-se um cotejo entre a atividade desenvolvida e a proteção ao bem jurídico.

Exemplos de riscos permitidos: 1) dirigir automóvel; 2) prática de artes marciais; 3)


Automobilismo.

Obs1. Se o risco for permitido pelo Direito, pela teoria da Imputação Objetiva, não pode ser
considerado causa.

Obs2. A análise do Risco Permitido deve ser realizado com base no Princípio da Confiança. Ex:
motorista atropela pedestre que atravessou a via preferencial fora da faixa.

Obs3. Causas de Exclusão do risco

Proibido:

1) Comportamento exclusivo da vítima, que se coloca em perigo – ex: atravessa no farol


vermelho;

2) Princípio da adequação social (comportamentos socialmente aceitos);

3) Proibição de regresso. Cléber Masson explica que: Pela proibição de regresso, não haveria
criação de um risco proibido nos casos em que a ação não dolosa de alguém precedesse a ação
dolosa de um terceiro. Assim, aquele que esquece a sua arma, que vem a ser encontrada por
outrem posteriormente e utilizada para a prática de um crime de homicídio, não seria
responsabilizado.

4) Ações neutras: segundo Luís Greco, “seriam todas as contribuições a fato ilícito alheio não
manifestamente puníveis.”.

Por exemplo, imagine o taxista que, sabendo que o agente está se deslocando para matar a
vítima, mesmo assim realiza a viagem. Ou o padeiro que vende o pão ao infrator sabendo que
ele irá envenená-lo para entregar a vítima. Ou, ainda, o advogado que, no exercício do direito
de defesa, procede à orientação jurídica de seu cliente quando do curso de um delito.

Parte da doutrina3 tem entendido que as ações neutras não criam, nem aumentam um risco
proibido, motivo pelo qual o agente não deve ser considerado causa do empreendimento
delitivo.
C) Risco realizado no resultado

Significa dizer que, além criar ou incrementar um risco proibido, o resultado causado pelo
agente deve estar na linha de desdobramento causal normal de sua conduta.

Se o nexo físico fugir de sua trajetória normal, ele não poderá ser atribuído ao agente. Vamos a
exemplo clássico: imagine que Fulano, com intenção de matar, desfere um tiro em Beltrano.
Beltrano vai para o hospital, local onde o teto desabada e cai sobre o seu leito, causando sua
morte. Pela teoria tradicional, o resultado morte (pelo desabamento) não deve ser atribuído à
conduta do agente, pois, embora tenha tido a conduta inicial de atirar na vítima, a queda do
hospital foge completamente do contexto causal normal, rompendo-se o nexo inicialmente
previsto.

No entanto, apesar de não se poder imputar a ele o resultado, haverá responsabilização penal
pelos atos anteriormente praticados. Assim, responderá pelo homicídio tentado. Para teoria
da imputação objetiva, o raciocínio jurídico é distinto.

Para ela, Fulano, ao atirar em Beltrano, criou um risco proibido. Contudo, o resultado morte
em relação à Beltrano não está dentro do tipo penal, uma vez que a tutela do art. 121 do
Código Penal não é destinada para prevenção e repressão de mortes acidentais (como o
desabamento do hospital), que não se encontram na linha de desdobramento causal normal
da conduta do agente. Portanto, o resultado morte não pode ser atribuído a Fulano. Assim,
responderá pelo homicídio tentado.

D) Resultado dentro do alcance do tipo penal

O último pressuposto da teoria da imputação objetiva diz respeito ao resultado se encontrar


dentro do alcance do tipo penal, ou seja, o risco criado ou aumentado pela conduta do agente
deve estar abarcado norma penal incriminadora.

Observação Final:

A teoria da imputação objetiva só faz sentido em relação aos crimes materiais, os quais se
exigem resultado naturalístico e que a imputação deve ser cuidadosamente atribuída ao
agente. Não tem cabimento nos crimes formais e de mera conduta, pois nestes inexistem
resultado naturalístico.

Relação de causalidade nos crimes omissivos


Crimes Omissivos
1º) Próprios: a omissão está descrita no próprio tipo penal. Ex: omissão de socorro.

2º) Impróprios (ou comissivos por omissão): é a hipótese em que o omitente tinha o dever
jurídico de agir para evitar o resultado, mas não o faz. Portanto, responderá pelo resultado
que deveria ter evitado. Ex: bombeiro que, podendo e devendo, não apaga o fogo da
residência e todos morrem.

Causalidade na omissão própria:


Na omissão própria, tipo penal descreve uma omissão (inação) de um dever de agir, imposta
normativamente ao indivíduo, dispensando, portanto, a relação de causalidade.

Conclusão: não se analisa nexo causal.


Causalidade na omissão imprópria:
Não há nexo causal físico, pois a omissão é um nada e o nada não causa coisa alguma.

Contudo, para fins de responsabilização penal, por uma ficção jurídica, a lei considera existir
um elo entre o omitente e o resultado naturalístico sempre que estiver presente o dever
jurídico de agir, de modo que, havendo dolo ou culpa, responderá pelo resultado (Fernando
Capez).

Portanto, o que se tem é o chamado nexo de não impedimento ou de não evitação.

Tipicidade
Conceito Clássico: tipicidade penal é sinônimo da tipicidade formal, ou seja, a mera subsunção
do fato a norma.

Conceito moderno: tipicidade penal é junção da tipicidade formal e material. Tipicidade Formal
é a subsunção do fato a norma. Tipicidade Material é a relevância da lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado. Obs. O princípio da Insignificância encontra-se na tipicidade material.

Tipicidade Conglobante (Zaffaroni): Para a tipicidade conglobante um ramo do direito não


pode punir o que o outro ramo do direito determina ou incentiva. Em outras palavras, a
conduta desenvolvida pelo agente deve estar em desacordo com o ordenamento jurídico
como um todo.

Obs. Para a Zafaroni, a tipicidade penal é junção da tipicidade formal e com a tipicidade
conglobante.

Tipicidade Formal é a subsunção do fato a norma.

Tipicidade Conglobante (elementos): 1º) Tipicidade Material: é a relevância da lesão ou perigo


de lesão ao bem jurídico tutelado. 2º) Atos Antinormativos: atos não determinados ou não
incentivados por lei.

Ex: Oficial de Justiça, mediante auxílio das forças públicas, penhora bens do devedor. 1. Tem
tipicidade formal. 2. Tem tipicidade material. 3. Mas não tem antinormatividade, pois há uma
ordem judicial determinando a penhora.

Para a doutrina clássica e moderna, o Oficial de Justiça é ilícito mas atípico, vez que praticado
no estrito cumprimento de dever legal.

Observações Finais 1) Para a tipicidade conglobante, o estrito cumprimento de um dever legal


e o exercício regular de um direito incentivado, deixam de excluir a ilicitude e passam a excluir
a tipicidade. 2) Para a tipicidade conglobante, a legítima defesa e o estado de necessidade
continuam excluindo a ilicitude, pois são meramente tolerados pela lei, não são incentivados
(são atos antinormativos).

Tipicidade Formal
Espécies:

1º) Direta ou Imediata


É a hipótese em que há um dispositivo para fazer a adequação típica, não necessitando de
outra norma (norma de extensão) para fazê-lo. Ex: matar Alguém. Fulano matou Ciclano,
houve a adequação direta e imediata.
2º) Indireta ou Mediata
É a hipótese em que há necessidade de uma norma extensão para fazer a adequação típica.
Precisam de duas normas para fazer a exata subsunção dos fatos ao tipo penal.

Iter Criminis
É o caminho do crime.

A partir dos atos executórios é possível falar em atuação do Direito Penal.

Iniciada a execução, pode-se ocorre: 1º) Consumação; 2º) Tentativa; 3º) Desistência voluntária
ou arrependimento eficaz.

Obs. Critérios para aferição do início da execução do crime. Ex: homicídio com arma de fogo.

As teorias que definem o início da execução do crime são:


1º) Critério Formal ou Objetivo-formal

O início da execução do crime é no momento em que o agente inicia a realização do verbo


descrito no tipo. Momento: início da realização do verbo nuclear.

Ex: matar alguém com arma de fogo – quando a bala atinge a vítima.

Obs. Parte da doutrina orienta-se que essa é a posição do Código Penal.

Obs2. Para o STJ, adotando-se a teoria objetivo-formal, o rompimento de cadeado e destruição


de fechadura da porta da casa da vítima, com o intuito de, mediante uso de arma de fogo,
efetuar subtração patrimonial da residência, configuram meros atos preparatórios que
impedem a condenação por tentativa de roubo circunstanciado (STJ AREsp 974.254-TO, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 21/09/2021, DJe 27/09/2021
– Inf. 711).

Obs3. Para parte da doutrina, esta teoria não é adequada, pois o crime começaria antes do
início do verbo nuclear. Ex: matar alguém – com o disparo da arma de fogo inicia-se o crime.
Desse modo, o critério formal não consegue resolver todas a hipóteses de início da execução.
Alguns situação, antes mesmo da realização do verbo, já se pode perceber o início dos atos
executórios.

Critério material, objetivo-material ou da hostilização ao bem jurídico

O início da execução do crime é no momento em que o agente pratica o primeiro ato tendente
a atacar o bem jurídico, criando uma situação concreta de perigo.

Critica: antecipa demais a prática do crime.

Momento: primeiro ato que exponha o bem jurídico a perigo.

O STJ já se utilizou desse critério no Resp 1252779. (Caso em que os furtares já tinham cavado
mais de 70 metros de túnel em direção ao Banco e foram presos faltando 12 metros pra
chegar no cofre da agência).

Critério Objetivo-Individual

O início da execução do crime é no momento imediatamente anterior à realização da conduta


descrita no tipo penal.

Momento: momento imediatamente anterior ao início da realização do verbo. Ex: puxar o


gatilho da arma.

Obs. Posição da doutrina moderna, com precedentes no STJ (Resp. 113603).

Consumação
Considera-se consumado o crime quando se reúnem todos os elementos da sua definição
legal. (art. 14, I, do CP: consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal). Ex: a morte.

Obs. Consumação de acordo com a natureza do crime:

1º) Crime material: consuma-se com a realização do resultado naturalístico. Ex: homicídio.

2º) Crime formal: consuma-se com a realização da conduta descrita no tipo,


independentemente de resultado naturalístico.
3º) Crime de mera conduta: consuma-se com a realização da conduta. Não há previsão de
resultado naturalístico.

4º) Crimes de Perigo: consuma-se com a exposição do bem a perigo de dano.

5º) Crimes permanentes: tem a consumação prolongada no tempo, até que cesse a conduta do
agente.

6º) Crime Habitual: consuma-se com a reiteração da conduta típica (Ex: casa de prostituição).

7º) Crime Qualificado pelo resultado: consuma-se com a produção do resultado agravador (Ex:
lesão corporal seguida de morte).

8º) Crime omissivo próprio: consuma-se no momento em que o agente deixa de praticar a
conduta imposta pelo tipo penal. Ex: omissão de socorro.

9º) Crime omissivo impróprio (ou comissivo por omissão): consuma-se com a produção do
resultado naturalístico. Ex: bombeiro que deixa de apagar fogo em casa e pessoas morrem.

Exaurimento (crime exaurido ou crime esgotado)


Existe posicionamento que entende que o exaurimento é fase do iter criminis mas esta é a
posição minoritária. A posição majoritária diz que é posterior ao iter criminis. Portanto:

São os acontecimentos posteriores ao iter criminis. O exaurimento não compõe o iter criminis.

Obs. Pode ser considerado para fixação da pena, nos moldes do art. 59 do Código Penal. Em
outras hipóteses, o exaurimento pode funcionar como qualificadora (Ex: art. 317, § 1º, do CP).

Tentativa
Tentativa (Conatus).

Previsão legal: norma de extensão temporal do art. 14, II, do Código Penal (II - tentado,
quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente).

Conceito: considera-se tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por


circunstâncias alheias à vontade do agente.

Elementos da Tentativa: 1º) início da execução; 2º) não consumação por circunstâncias alheias
a vontade do agente; 3º) dolo de consumação; 4º) resultado possível.

É necessário dar inicio a execução, e não consumar o crime por circunstancias alheias a
vontade do agente. Deve haver dolo de consumação, ou seja, o agente quer praticar o crime,
mas não o faz por circunstancias alheias a sua vontade. O resultado deve ser possível (ex: a
vítima não pode estar morta).

Teorias sobre punição da Tentativa


1º) Teoria Subjetiva, voluntarística ou monista. Considerando que o elemento subjetivo do
agente é perfeito (tem dolo de consumação), não pode haver distinção entre as penas do
crime consumado e do crime tentado (observa-se o elemento subjetivo, a intenção do agente).
Por isso, o crime consumado e tentado devem ter a mesma punição.

2º) Teoria Objetiva. Embora o crime tentado e o crime consumado tenham o mesmo elemento
subjetivo (dolo de consumação - a intenção do agente é consumar o delito), do ponto de vista
objetivo, o crime tentado encontra-se inacabado. Por esse motivo, a pena deve ser suavizada.
Essa é a teoria adotada pelo Código Penal no art. 14, II, do Código Penal (redução de 1/3 a 2/3
da pena).

Exceção: Delitos de Atentado ou de Empreendimento


Quando o legislador descreve uma conduta tentada no próprio tipo penal.

A mera tentativa já é considerada como consumação (Ex: Evadir ou tentar evadir o preso - art.
352 do CP). Nessas hipóteses, a teoria é a subjetiva.

Valoração da Pena na tentativa


Art. 14, II, CP prevê 1/3 a 2/3.

O critério será: Quanto mais perto da consumação do crime (quanto mais o iter criminis tenha
sido percorrido), menor será a redução da pena.

Ex: Tentativa de Homicídio com disparo de arma de fogo.

Se erro o disparo da arma.

Se a vítima não morre pois é socorrida.

Na primeira questão houve menor aproximação ao resultado pretendido, logo, maior será o
redutor de pena.

Espécies de tentativa
1º) Tentativa Perfeita ou Acabada, crime falho ou crime frustrado

O agente, embora tenha praticado todos os atos executórios à sua disposição, não consegue
consumar o crime por circunstâncias alheias a sua vontade. Ex: Disparo todos projéteis contra
a vítima e acerto todos. No entanto, ela é socorrida e não morre

2º) Tentativa Imperfeita ou Inacabada

O agente, embora ainda tenha meios à sua disposição para continuar executando o crime, é
impedido de prosseguir. Ex: Tenho 10 disparos para efetuar. No quarto disparo, a polícia chega
e me impede de prosseguir.

3º) Tentativa Branca ou Incruenta

O golpe dirigido à vítima não atinge o seu corpo.

4º) Tentativa Vermelha ou Cruenta

O golpe dirigido à vítima atinge o seu corpo. A vítima é efetivamente atingida.

5º) Tentativa Idônea

O resultado não ocorre por circunstâncias alheias a vontade do agente, mas ele é possível de
acontecer.

6º) Tentativa Inidônea ou Crime Impossível

O resultado é impossível de acontecer por absoluta ineficácia do meio empregado ou por


absoluta impropriedade do objeto (art. 17)

Ex: matar morto.


Infrações penais que não admitem tentativa
1º) Crimes culposos: incompatível com a tentativa.

Obs1. Culpa imprópria Entende-se que é possível a tentativa na culpa imprópria porque a
estrutura do crime é dolosa. A punição se dá por culpa por razões de política criminal. Ex:
Descriminantes putativas.

Obs2. Crime Preterdoloso Incompatível com a tentativa.

2º) Crimes unissubsistentes

Crimes que se desenvolvem em um só ato. Não é possível a tentativa porque não é possível
fracionar a conduta.

3º) Contravenções Penais

Não são puníveis na forma tentada (art. 4º da LCP).

4º) Crimes de Atentado ou de Empreendimento

Porque a mera tentativa já consuma o delito

5º) Crimes Habituais

Não tem se admitido a tentativa porque ou ocorre a reiteração de atos e o crime se consuma
ou não ocorre e o fato é atípico.

6º) Crimes Omissivos Próprios

Não é possível não querer e se omitir.

Tentativa e Crimes de Ímpeto


Por se tratar de crime repentino, tem prevalecido que não há incompatibilidade do crime de
ímpeto e a tentativa, pois é possível fracionar os atos executórios.

Crime de ímpeto é aquele cometido de rompante, sem maiores reflexões, motivado por uma
exaltação momentânea.

Desse conceito, discute-se se, diante de um crime repentino, é possível o reconhecimento da


tentativa.

A nosso sentir, não há incompatibilidade entre um delito de ímpeto e a tentativa, tendo em


vista que, por maior que seja o arroubo de cólera do agente ou por mais ágil que seja a
execução do delito, é possível que haja o fracionamento dos atos executórios, permitindo,
portanto, a tentativa.

A questão, na verdade, encontra-se afeta ao âmbito probatório do que propriamente à


incompatibilidade jurídica dos institutos. Em outras palavras, pode ser que, no plano fático,
seja difícil visualizar uma tentativa num crime que acontece repentinamente, mas não significa
dizer que não são juridicamente compatíveis.

Imagine o agente que, num lampejo de ira, com intenção homicida, saca sua arma e dispara
contra a vítima, sendo imediatamente impedida de prosseguir na execução da empreitada.
Estaremos, nesse exemplo, diante uma tentativa de homicídio.
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Tentativa Abandonada:
É a hipótese em que o agente, embora tenha iniciado a execução do crime, voluntariamente a
abandona. A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são espécies de tentativa
abandonada.

Natureza Jurídica:

1ª corrente: excludente de tipicidade.

2ª corrente: causa pessoal extintiva da punibilidade.

3ª corrente: causa de exclusão da culpabilidade

Obs. Se adotada a primeira corrente (exclusão da tipicidade), a tentativa abandonada


(desistência voluntária e o arrependimento eficaz) é extensível ao partícipe (teoria da
acessoriedade limitada). Se for adotada a segunda corrente, não se estende ao partícipe.

A) Desistência Voluntária
É hipótese em que agente, embora iniciada a execução do crime, desiste voluntariamente de
prosseguir nos atos executórios, não ocorrendo a consumação do crime planejado.

Ex: agente ingressa dentro do veículo para furtar o som do carro. Quando consegue
desconectar o aparelho, desiste de levá-lo embora. Ex: agente possui 10 balas na pistola para
matar a vítima. Desfere o primeiro tiro e erra. Após, desiste de prosseguir em seu intento
criminoso.

Obs. Fórmula de Frank: teoria utilizada para distinguir desistência der crime tentado. Na
tentativa o agente quer, mas não pode prosseguir. Na desistência voluntária, o agente pode,
mas não quer prosseguir.

Obs. Voluntariedade A desistência deve ser voluntária e não espontânea. Vale dizer, se a
desistência ocorreu livre de coação. O fato de existir influência externa não desnatura o
instituto, desde que seja voluntária.

Ex: no momento em que o agente vai furtar o som do carro, recebe um telefone da mãe,
dizendo para não praticar o crime (embora não tenha sido espontânea, foi voluntária).

Elementos:
1º) Início da Execução.

2º) não consumação do crime em razão da vontade do agente.

Consequências: O agente responde pelos atos até então praticados, não havendo que se falar
em responsabilização por tentativa do crime inicialmente planejado.

Obs. Não se admite desistência voluntária nos crimes unissubsistentes (que não admitem o
fracionamento da execução), pois, realizado o ato, o crime já estará consumado. Portanto, é
impossível desistir de algo que já foi consumado.

Ex: invade casa para roubar, mas vai embora. Responde somente pela invasão de domicilio,
não por roubo tentado.
Arrependimento Eficaz (arrependimento ativo ou resipiscência)
Depois de praticados todos os atos executórios aptos alcançar resultado do delito, o agente se
arrepende e voluntariamente impede que o crime se consume.

Ex: o agente dispara todos os projéteis de sua pistola, os quais acertam a vítima. Após, ele se
arrepende e voluntariamente presta socorro a ela, evitando sua morte.

Obs1. O arrependimento deve ser eficaz. Desse modo, deve o agente evitar a consumação do
delito.

Obs2. O arrependimento eficaz situa-se após a prática dos atos executórios e antes da
consumação.

Obs3. Voluntariedade O arrependimento deve ser voluntário e não espontâneo. Vale dizer, se
o arrependimento ocorreu livre de coação. O fato de existir influência externa não desnatura o
instituto, desde que seja voluntário.

Elementos
1º) Pressupõe o esgotamento de todos os atos executórios;

2º) Só tem cabimento nos crime materiais, pois o tipo penal exige a ocorrência de resultado
naturalístico.

Obs. Não é possível o arrependimento eficaz nas hipóteses de crime de mera conduta, de
crime formal e de crimes unissubsistentes.

Consequências: O agente responde pelos atos até então praticados, não havendo que se falar
em responsabilização por tentativa do crime inicialmente planejado.

Observações finais:

1º) se o arrependimento for ineficaz, o agente responderá normalmente pelo delito, com a
aplicação circunstância atenuante prevista no art. 65, III, "b", 1º parte, do Código Penal.

2º) O art. 10 da Lei do Terrorismo (Lei 13.260/16) prevê a seguinte regra: "Art. 10. Mesmo
antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na hipótese do art. 5o desta Lei, aplicam-
se as disposições do art. 15 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal." O art. 5º se refere a atos preparatórios de terrorismo: "Art. 5o Realizar atos
preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito:".

O intuito da norma é desestimular o terrorista a iniciar a prática desses atos, devendo,


portanto, haver uma adequação do instituto para que haja sua aplicação à Lei do Terrorismo

Ponte de Ouro
Trata-se de espécie de direito premial, delineando-se como um benefício outorgado pela
legislação ao infrator que, voluntariamente, evitou que o resultado de sua ação criminosa se
produzisse.

Diz-se ponte de ouro porque retira o criminoso do âmbito da ilegalidade e o coloca novamente
na seara da licitude.

Apontam-se como hipóteses de Ponte de Ouro a desistência voluntária e o arrependimento


eficaz (art. 15 do Código Penal).
Crimes Culposos
Os crimes culposos são incompatíveis com a tentativa abandonada (desistência voluntária e
arrependimento eficaz).

***Dica: eu me arrependo daquilo que eu já fiz. Eu desisto daquilo que estou fazendo.

Arrependimento Posterior
Previsão legal: Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Conceito: É a hipótese em que, após consumar o delito, por ato voluntário, o agente repara o
dano ou restitui a coisa com o fim de restaurar a ordem perturbada.

Natureza Jurídica: Causa de diminuição de pena (1/3 a 2/3).

Requisitos:

1º) crime sem violência ou grave ameaça à pessoa Obs. a violência o grave ameaça à coisa não
impede o reconhecimento do benefício.

Obs1: Se a violência ou grave ameaça a coisa não impede o reconhecimento do benefício.

Obs2. Existe posição da doutrina aceitando o reconhecimento do instituto em caso de


violência imprópria (aquela que reduz a capacidade de resistência vítima - Flávio Monteiro de
Barros).

Obs3. Violência Culposa dirigida à pessoa Situação distinta é a da violência culposa dirigida à
pessoa. Nesta, entende-se possível a aplicação do instituto, pois o art. 16 do Código penal fala
tão só em violência dolosa contra a pessoa. No entanto, é necessário fazer uma importante
ponderação sobre o arrependimento posterior: ele só pode ser reconhecido em delitos
patrimoniais ou com efeitos patrimoniais. Nesse sentido é a posição do Superior Tribunal de
Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO


AUTOMOTOR. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. INAPLICABILIDADE. DECISÃO MANTIDA.
RECURSO IMPROVIDO. 1. Esta Corte possui firme entendimento de que, para que seja possível
aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal, faz-se necessário
que o crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. Precedentes.2. Inviável
o reconhecimento do arrependimento posterior na hipótese de homicídio culposo na direção de
veículo automotor, uma vez que o delito do art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro não pode
ser encarado como crime patrimonial ou de efeito patrimonial. Na espécie, a tutela penal
abrange o bem jurídico mais importante do ordenamento jurídico, a vida, que, uma vez
ceifada, jamais poderá ser restituída, reparada. Precedente. (...) (AgRg no HC 510.052/RJ, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe 04/02/2020)

Atenção: só pode ser reconhecido o arrependimento posterior nas hipóteses de crimes


patrimoniais ou com reflexos patrimoniais. Ex: crime de homicídio na direção de veiculo
automotor não admite arrependimento posterior.

2º) Reparação do Dano ou restituição da coisa Obs. Prevalece na doutrina que a reparação do
dano deve ser integral. Só cabe reparação parcial se houver concordância da vítima.
Obs2. Há precedentes do STF que autoriza o reconhecimento do benefício em caso de
reparação parcial do dano, o que irá interferir no quantum da redução (STF HC 98658/PR).

Ato voluntário
Obs. Não precisa ser espontâneo, bastando que seja voluntário.

Até o recebimento da denúncia ou queixa


O termo final para o arrependimento posterior é o recebimento da inicial acusatória.

Obs. Atenuante Genérica: se a reparação do dano ocorrer depois do recebimento da denúncia


e antes da sentença, haverá a incidência da atenuante genérica do art. 65, III, "b", in fine, do
Código Penal.

Observações finais
1º) Critério para diminuição (1/3 a 2/3):

A) Para doutrina, a sinceridade, presteza e celeridade na reparação.

B) Há precedentes do STF que autoriza o reconhecimento do benefício em caso de reparação


parcial do dano, o que irá interferir no quantum da redução (STF HC 98658/PR).

2º) Concurso de Pessoas e reparação do dano por um dos agentes:

1º corrente: estende-se o benefício aos demais agentes, tendo em vista que a reparação do
dano é circunstâncias objetiva (STJ Resp 1578197, Rogério Grecco);

2º corrente: não se estende o benefício, pois se trata circunstância pessoal, uma vez que exige
ato voluntário do agente visando reparar o dano.

3) Hipóteses especiais de reparação do dano:

A) Atenuante genérica do art. 65, III, "b", do CP.

Se após o inicio da ação penal, enseja redução de pena por atenuante genérica.

B) Reparação do dano no peculato culposo (art. 312, § § 2º e 3º, do CP)

Antes do trânsito em julgado da sentença condenatória: extinção da punibilidade. Após o


trânsito em julgado da sentença condenatória: redução de 1/2 (metade) da pena.

C) Súmula 554 do STF

"O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia,
não obsta ao prosseguimento da ação penal." Havendo o pagamento antes do recebimento da
denúncia, haverá a extinção da punibilidade. ***Cai muito em prova.

4º) Ponte de Prata

Trata-se de espécie de direito premial, delineando-se como um benefício outorgado pela


legislação ao infrator que, após a consumação do crime, suaviza ou diminui sua
responsabilidade penal. Diz-se ponte de prata porque não retira o infrator da ilegalidade,
apenas estabelece benefícios que suavizam sua punição. Aponta-se como hipótese de Ponte
de Prata o arrependimento posterior (art. 16 do Código Penal), o qual prevê que a pena será
reduzida de 1/3 a 2/3, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, desde
que o dano seja reparado ou a coisa restituída até o recebimento da denúncia.
Crime Impossível ("quase-crime", "crime oco" ou tentativa
inidônea)
Previsão legal: Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Teorias
1ª) Teoria Sintomática: o agente deve ser punido porque demonstra periculosidade (o agente
é perigoso).

2ª) Teoria Subjetiva: o agente deve ser punido porque teve a intenção de praticar o crime.

3ª) Teoria Objetiva: O agente não deve ser punido porque não apresentou perigo ao bem
jurídico penalmente tutelado.

3.1) Teoria Objetiva Pura: A ineficácia do meio e a impropriedade do objeto podem ser
relativas ou absolutas.

3.2) Teoria objetiva temperada: A ineficácia do meio e a impropriedade do objeto deve ser
absoluta.

Elementos: 1º) início da execução; 2º) não consumação por circunstâncias alheias a vontade
do agente; 3º) dolo de consumação; 4º) resultado absolutamente impossível de ser alcançado
(tiro no morto).

Formas de Crime Impossível:


1ª) Crime Impossível por ineficácia absoluta do meio de execução os instrumentos à
disposição do agente não são aptos, de forma nenhuma, para produção do resultado.

Exemplos:

A) Falsificação grosseira; Súmula n. 73 do STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente


falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

B) Súmula 567 do STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por
existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto.

2º) Crime impossível por impropriedade absoluta do objeto

Quando a pessoa ou coisa são inservíveis para a consumação do delito. Exemplos: desferir
facadas no cadáver.

3ª) Flagrante Preparado

Súmula 145 do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação. pela polícia torna impossível a sua consumação.

Ilicitude
Crime: é fato típico, ilícito e culpável. Adota-se a teoria tripartida do crime.

Relação entre Tipicidade e Ilicitude Causas Excludentes da Ilicitude: A)Estado de Necessidade;


B) Legítima Defesa; C) Exercício Regular de um Direito; D) Estrito Cumprimento do Dever Legal.
Conceito É a contrariedade do fato típico com o ordenamento jurídico como um todo, não
havendo nenhuma norma fomentando ou permitindo a conduta típica. É o segundo elemento
do crime.

Relação entre a Tipicidade e a Ilicitude


1º) Teoria da autonomia ou absoluta independência

A tipicidade não possui nenhuma relação com a ilicitude.

Por exemplo, se Fulano mata Cicrano em legítima defesa, teremos um fato típico, porém lícito.
Vale dizer, o fato de o agente ter realizado uma conduta lícita não exclui o fato típico, pois são
elementos totalmente independentes. Autores: Beling.

2º) Teoria da Indiciariedade (ratio cognoscendi) - Prevalece

Todo fato típico presume-se, de forma relativa, que também é ilícito.

Obs. Inversão do Ônus da Prova Haverá inversão do ônus da prova. Vale dizer, deverá o
acusado provar a presença de uma excludente da ilicitude e não o Ministério Público a sua
ausência. Isso se dá porque, ficando demonstrada a existência de um fato típico, presume-se,
de forma relativa, que aquela conduta também é ilícita. Desse modo, a demonstração de que
se trata de uma conduta permitida compete ao denunciado.

Obs2. Dúvida razoável Não se pode olvidar, também, que o art. 386, VI, do Código de Processo
Penal, incluído pela Lei 11.690/08 dispõe que “o juiz absolverá o réu, mencionando a causa na
parte dispositiva, desde que reconheça: VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou
isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou
mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência”. Portanto, a dúvida razoável sobre a
existência de causas excludentes da ilicitude milita em favor do réu, o que relativiza o ônus
probatório proposto pela teoria da indiciariedade. Autores: Mayer

3º) Teoria da Absoluta Dependência (ratio essendi)

A ilicitude é a essência da tipicidade, ou seja, não havendo ilicitude, não há que se falar em
fato típico (tipo total do injusto). Para esta concepção, por exemplo, se Fulano mata Cicrano
em legítima defesa, não haverá fato típico, nem ilícito.

Obs. A quem compete a demonstração das causas excludentes de ilicitude? Nesse prisma, do
ponto de vista processual-probatório, cabe ao Ministério Público demonstrar a ausência das
causas excludentes da ilicitude, uma vez que elas se confundem com a própria tipicidade.
Autores: Mezger.

4º) Teoria dos Elementos Negativos do Tipo

O tipo penal é composto por elementos positivos (aqueles que devem ocorrer para que o fato
seja considerado típico) e elementos negativos (aqueles que não devem ocorrer para que o
fato seja considerado típico). Assim, os tipos penais devem ser assimilados da seguinte
maneira: “tipo penal, desde que não exista uma excludente da ilicitude”. Por exemplo, haverá
o crime de homicídio se o agente praticar a conduta matar e não estiver acobertado por uma
causa excludente da ilicitude.

Ilicitude Formal e Material


1ª) Formal: é a contrariedade do fato típico em relação a todo ordenamento jurídico.
2ª) Material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (passou a ser estudado na
tipicidade material). Importante: Atualmente, não mais se aplicam esses conceitos, tendo em
vista que a nominada ilicitude material é estudada no fato típico (tipicidade material).

Tem-se, portanto, apenas o conceito de ilicitude, que é a contrariedade do fato típico em


relação a todo ordenamento jurídico.

Causas legais de Exclusão da Ilicitude (art. 23 do Código Penal)

Existem outras causas legais de exclusão de ilicitude espalhadas pelo ordenamento jurídico,
inclusive na parte especial do Código Penal (Ex: art. 128 do CP - aborto permitido).

Estado de necessidade (art. 24 do Código Penal)


Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal
de enfrentar o perigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Embora seja
razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois
terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Conceito
Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

Ex: naufrago com apenas uma boia.

Requisitos
1º) Perigo Atual: É o perigo presente, que está acontecendo.

Obs. Perigo Iminente:

1ª corrente: o perigo atual também abrange o perigo iminente, uma vez que perigo é a
probabilidade de dano. O que não se deve aceitar é o perigo remoto ou incerto.

2ª corrente: em razão do silêncio da lei, não deve abranger o perigo iminente.

Obs2. O perigo não tem destinatário certo.

Obs3. O perigo pode advir de: A) Conduta Humana; B) De um ser irracional; C) Fatos da
Natureza. Ex: cachorro pitbull.

Obs4. O perigo deve ser real. O perigo imaginário não exclui a ilicitude.

2º) Ameaça a Direito Próprio ou Alheio: Pode ser estado de necessidade próprio ou de
terceiro.

Obs. Autorização do Terceiro

1ª corrente: não há necessidade da autorização ou do consentimento do terceiro para que


haja o estado de necessidade de terceiro.

2ª corrente: só pode ser dispensada a autorização do terceiro na hipótese em que o bem


jurídico tutelado for indisponível.
3º) Situação de Perigo não causada voluntariamente pelo sujeito: Não pode ser reconhecido o
estado de necessidade na hipótese em que o próprio sujeito causou a situação de perigo.

Obs. Aquele que causou a situação de perigo culposamente pode alegar estado de
necessidade?

Há duas posições sobre o tema:

A primeira prevê que o art. 24 só afasta a excludente de ilicitude se a situação de perigo for
causada dolosamente.

Já a segunda posição prevê que o art. 24 afasta a excludente de ilicitude se o agente causar a
situação de perigo por dolo ou por culpa.

4º) Inexistência do Dever Legal de Enfrentar o Perigo: Determinadas pessoas possuem o dever
legal de enfrentar o perigo. Dessa forma, não podem alegar estado de necessidade no
exercício de suas atividades. Ex: bombeiros, policiais.

Obs. Extensão da expressão "Dever Legal":

1º corrente: a expressão dever legal não pode ser estendida a outros deveres. Portanto,
apenas os deveres criados pela lei.

2º corrente: a expressão dever legal pode ser estendida a outros deveres, a exemplo dos
contratuais. Ex: guarda costas, babá.

5º) Inevitabilidade da pratica do comportamento lesivo: é o que a lei prevê como “nem podia
de outro modo do agente). O comportamento do agente deve ser absolutamente inevitável
para salvaguardar o direito, não é o mais cômodo, mas o inevitável. Ex: só uma boia e dois
náufragos.

6º) Inexigibilidade do sacrifício do direito ameaçado (cujo sacrifício nas circunstancias não era
razoável exigir): deve haver proporcionalidade entre o bem protegido e o bem sacrificado.

Teorias que explicam este requisito:

Teoria diferenciadora: adotada pelo código militar. Para esta teoria, o estado de necessidade
pode ser uma causa de exclusão de ilicitude ou de exclusão da culpabilidade, a depender do
bem protegido e o sacrificado. Se o vem jurídico protegido é de maior valor que o sacrificado,
ex: sacrificou o patrimônio para salvar a vida (maior valor), há exclusão de ilicitude. Se
sacrificou bem de valor igual ou inferior ao bem jurídico sacrificado, há extinção de
culpabilidade.

Teoria Unitária: adotada pelo código penal. Por esta teoria a solução será única, o estado de
necessidade será sempre hipótese de exclusão de ilicitude. O bem jurídico deverá ser de valor
igual ou superior ao bem jurídico sacrificado.

Se o bem jurídico protegido for inferior, aplica-se a redução de pena, de 1/3 a 2/3, prevista no
artigo 24, §2º,CP.

7º) Elemento subjetivo: é necessário que o agente tenha conhecimento de que está atuando
em estado de necessidade, ou seja, imbuído no estado de salvamento.

Formas de Estado de Necessidade


Real: quando a situação de perigo realmente existe.
Putativo: quando a situação de perigo é imaginário. Não exclui a ilicitude, vez que irreal.

Defensivo: o agente sacrifica bem jurídico do próprio causador do perigo.

Agressivo: o agente sacrifica bem jurídico de terceiro, que não causou o perigo.

Estado de Necessidade em Crime Permanente ou Habitual


Ex: Permanente: sequestro. Habitual: casa de prestituição.

Não se aplica o estado de necessidade diante da ausência de atualidade do perigo, e


inevitabilidade da conduta =.

Legitima Defesa
Artigo 25, CP.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos


meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
de outrem. Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste
artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública
que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a
prática de crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Conceito
Aquele que, usando moderadamente dos meios necessários, repele agressão injusta, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem.

Requisitos
Agressão injusta

Comportamento humano que ataca ou coloca em perigo bem jurídico de alguém, ou seja,
contrário ao direito.

Atenção

E se a agressão for na forma omissiva, pode haver legitima defesa? Sim. Ex: carcereiro que
nega-se a cumprir o alvará de soltura.

O inimputável pode praticar agressão injusta? Sim, mesmo não tendo conhecimento da
agressão injusta, vez que a agressão injusta é analisada de forma objetiva. Não é necessário
conhecimento da agressão injusta pelo agressor.

Agressão injusta do ponto de vista da vítima

A agressão deve ser injusta do ponto de vista do agredido, não do agressor.

Atenção: Ataque de animal

No caso de ataque de animal, se espontâneo (ex: pi bull), há perigo atual autorizador de


estado de necessidade.

Se não espontâneo, ou seja, provocado pelo dono, há legitima defesa.

Atenção: Agressão injusta não criminosa

A agressão injusta não precisa de criminosa, ou seja, corresponder a um crime. Deve ser
necessariamente injusta tão somente.
Atenção: Pretexto de legitima defesa

O agente que provocar outrem, para que tenha justificativa para atacá-lo, não estará protegido
por legitima defesa.

Atenção: Agressão atual ou iminente

Que está ocorrendo ou prestes a ocorrer. Ambas autorizam legitima defesa.

Não autoriza legitima defesa a agressão passada(vingança) ou futura (mera suposição).

Defesa de direito próprio ou alheio

O direito defendido pode ser próprio ou alheio.

Uso moderado dos meios necessários

Meios necessários são os que estão a disposição do agente, e que causarão o menor dano.

Uso moderado significa aquele que é suficiente para repelir a injusta agressão.

Elemento Subjetivo

O agente deve ter conhecimento da agressão injusta, e manifestar a vontade de defender o


direito ameaçado.

Ex: estou andando na rua e saco a arma e atiro no desafeta. Após matá-lo, descubro que ele
estava armado e em vias de atirar para me matar. Neste caso, como o estado de agressão
injusta iminente era desconhecido, não se aplica o estado de necessidade.

As mudanças da lei anticrime

Inclusão do Paragrafo único ao artigo 25, CP.

Através destes, aplica-se a legitima defesa no caso de agente de segurança publica que repele
agressão a vitima mantida refém.

Não há mudança a previsão original, dado que desde antes já havia esta hipótese, que foi, tão
somente, explicitada.

Erro na execução e legitima defesa

Ex: Fulano aponta a arma a Belatrano. Beltrano saca a arma para se defender, mas, ao atirar,
atira em Mévio, terceiro.

Há três teorias sobre esta questão:

1º corrente: não se aplica a excludente da legítima defesa, devendo ser aplicada as regras
sobre o erro. Vale dizer, o agente não responderá, sequer a título de culpa, se o erro for
escusável (Nelson Hungria).

2º corrente: será hipótese de estado de necessidade, pois a reação não atingiu o agressor, mas
sim um terceiro inocente (Aníbal Bruno).

3º corrente: deve ser aplicada a excludente da legítima defesa, aplicando-se as regras do erro
de execução. Vale dizer, considera-se que o fato foi praticado contra o agressor (vítima virtual).
Ou seja, responde como se tivesse acertado a vítima pretendida, sobre a qual estava-se em
estado de legitima defesa. Art. 73 e 20,CP.
Classificações

1. Legitima defesa real: a injusta agressão efetivamente existe.


2. Legitima defesa putativa: a agressão é imaginária, não há a agressão, por isso ela é
injusta.

Nas situações fáticas, no confronto entre agentes:

É possível combinar legitima defesa putativa (injusta) com legitima defesa real.

É possível combinar a defesa putativa (injusta) com a legitima defesa putativa (injusta).

Não é possível combinar legitima defesa real com legitima defesa real.

3. Legitima defesa defensiva: a reação do agredido não constitui fato típico, vez que
imbuído em legitima defesa. Ex: o agredido imobiliza ao agressor.
4. Legitima defesa agressiva: a reação do agredido constitui fato típico. Ex: atirar no
agressor.
5. Legitima defesa subjetiva: hipótese em que, logo após cessada a agressão, o agredido
acredita ainda estar sob injusta agressão, e acaba excedendo sua reação, por erro,
plenamente justificável. Ex: agredido já quebrou a perna do agressor, que movimenta-
se como se fosse levantar novamente para seguir agredindo a vitima, e a vitima, não
sabendo que havia quebrado a perna do agressor, nocauteia-o, novamente.
Na legitima defesa subjetiva existirá necessariamente agressão injusta no primeiro
momento.
Na legitima defesa putativa não haverá agressão inicial, ex: o agressor está com as
mãos no bolso, e o agente acredita estar em perigo iminente.
Trata-se de causa excludente de culpabilidade, em razão da inexigibilidade de conduta
diversa.
6. Legitima defesa sucessiva: ocorre na repulsa contra o excesso abusivo do agente. Uma
legitima defesa sucede a outra. Haverá duas legitimas defesa, uma e depois outra, que
não são simultâneas, mas sucessivas. Lembre-se, não há legitima defesa real
simultânea.

Estrito cumprimento do dever legal


Hipótese em que o agente público, cumprindo as determinações legais, não pratica conduta
ilícita (contrária ao ordenamento jurídico). Ex: flagrante compulsório – dever do agente publico
de prender o agente. Se isso for feito por qualquer pessoa, configura sequestro.

O agente deve ter ciência de que está agindo em estrito cumprimento de dever legal.

Para a teoria da Tipicidade Conglobante, o estrito cumprimento do dever legal não exclui a
ilicitude, mas a tipicidade, pois ainda é um ato normativo.

Exercício regular de direito


Hipótese em que um cidadão pratica uma conduta de acordo com as normas permitidas me
direto, seja de direito penal ou extrapenal. Vale dizer, aquilo que é permitido não pode ser, ao
mesmo tempo, proibido.
Atenção: na distinção entre estrito cumprimento de dever legal e o exercício regular de direito
verifica-se tão somente o destinatário, sendo no primeiro caso o agente público, e no segundo,
um particular.

Requisitos
a) Indispensabilidade
b) Proporcionalidade
c) Conhecimento da situação de fato justificante (tem ciência de que esta agindo em
exercício regular de direito)

Ex: flagrante facultativo, realizado por particular. Pode o particular realizar a prisão quando em
flagrante, conforme art. 301, CP.

Observação: parara a tipicidade congelante, do mesmo modo em que ocorre no caso do estrito
cumprimento de dever legal, como se trata de pratica incentivada pelo Estado, não há
exclusão de ilicitude, mas de tipicidade.

Hipóteses Controvertidas
Intervenções médicas e cirúrgicas
São consideradas exercício regular de um direito, pois é regulamentada pelo Estado (doutrina
tradicional).

Observação: para a teoria da tipicidade conglobante, está diante de exclusão de tipicidade, não
de ilicitude.

Violência desportiva
A violência desportiva é considerada exercício e um direito, desde que o evento danoso seja
resultado da prática regular do esporte.

Observação: para a teoria da tipicidade conglobante, está diante de exclusão de tipicidade, não
de ilicitude, pois trata-se de ato normativo.

Ofendículos
Mecanismos predispostos visíveis que possuem a finalidade de proteção da propriedade ou de
outro bem jurídico. Ex: cerca elétrica, caco de vidro no muro, animal, etc.

O uso do ofendículo deve se pautar na proporcionalidade e razoabilidade, sob pena de escapar


da proteção da excludente da ilicitude.

Ex: colocar minas terrestres para proteção de casa.

Ex: cerca elétrica cuja voltagem causa a morte do invasor.

Natureza jurídica
1ª Corrente: exercício regular de direito do patrimônio.

2ª Corrente: Legitima defesa, pois repele a injusta agressão.


3ª Corrente: enquanto não utilizada, há exercício regular de direito. Quando o ladrão invade e
toma choque, trata-se de legitima defesa.

Excesso nas Causas Excludentes de ilicitude


Excesso Doloso
O agente de forma voluntária, ou seja, por dolo, excede os meios utilizados para repelir a
injusta agressão.

Consequência: responde pelo crime doloso causado pelo excesso.

Excesso Doloso
O agente de forma involuntária, ou seja, por culpa, excede os meios utilizados para repelir a
injusta agressão.

Consequência: é aplicado conforme erro. Se o erro for evitável, responderá a título de culpa.
Se o erro não for evitável, afasta-se a culpa, não respondendo o agente pelo excesso.

Excesso extensivo
Ocorre depois que cessada a agressão. Em um primeiro momento há legitima defesa, mas após
encerrada a agressão, o agente permanece agindo em sua defesa, o que a torna ilegítima, em
razão do excesso.

Consequência: não responderá pelo que causou no primeiro momento, vez que em legitima
defesa. Quando ilegítima sua ação, responderá pelos crimes causados, com dolo ou culpa, a
depender do caso concreto.

Excesso Intensivo
É o excesso que ocorre quando ainda perduram os pressupostos da causa excludente da
ilicitude. O agente prolonga a defesa por tempo maior que a agressão sofrida, ultrapassando o
limite necessário para repelir a agressão ao bem jurídico, gerando uma reação
desproporcional.

Há quem entenda que o excesso causa crime autônomo.

Excesso acidental
Aquele que decorre de fortuito ou de força maior, sendo, portanto, irrelevante penal.

Excesso Exculpante
Aquele que decorre de intenção perturbação de animo do agente.

Nessa hipótese, a conduta inicial do agente esta acobertada normalmente por uma causa
excludente de ilicitude, ou causa justificante, mas no desenrolar dos fatos, o animo do agente
é fortemente alterado, seja por medo ou outro sentimento, sendo retirada a capacidade de
agir racionalmente do agente. Por isso, o agente acaba por se exceder.

Ex: após imobilizar o criminoso, por medo de ser novamente atacado, a vitima dispara contra o
criminoso, e acaba o matando.

Observação: tem encontrado resistência na doutrina e jurisprudência, ante a ausência de


previsão legal. No entanto, há respeitáveis doutrinas justificando que modalidade de excesso
exclui a culpabilidade, em razão da inexigibilidade de conduta diversa.
O Código Penal Militar, e=se utilizando da expressão “excesso escusável”, dispõe em seu artigo
45, §único, que não é punível o excesso quando e=resulta de escusável surpresa ou
perturbação de animo, em face da situação.

Causa Supralegal de Exclusão de Ilicitude


Recebe este nome pois não é prevista em lei, é supra legal.

Embora não prevista em lei, é amplamente aceita pela doutrina.

Consentimento do Ofendido
É hipótese de causa supralegal de exclusão da ilicitude.

Requisitos
1. O consentimento não pode integrar o tipo penal.
Há tipos penais em que o consentimento integra o próprio tipo, nos quais o
consentimento importa em atipicidade. Ex: estupro.
2. Ofendido capaz de consentir.
3. Consentimento valido
4. Bem disponível
5. Bem próprio.
6. O consentimento deve ser efetivado antes ou durante a execução. Se o consentimento
for após, pode ocorrer a extinção da punibilidade por renúncia ou pelo perdão aceito
em crimes de ação penal privada.
7. Consentimento expresso, embora haja doutrina que admita o consentimento tácito.

Ex: agressões praticadas em relação sexual não implica em lesão corporal ou vias de fato.

Culpabilidade
Conceito
Teoria Tripartida
Terceiro substrato do crime.

Trata-se do juízo de reprovação sem o qual não há crime.

O CP adotou a teoria limitada da culpabilidade, baseada na concepção finalista da conduta, e,


por esta razão, os elementos da culpabilidade são: imputabilidade; exigibilidade de conduta
diversa; e, potencial consciência da ilicitude.

Teoria Bibartida
Culpabilidade não faz parte do delito, o que significa que independentemente da
culpabilidade, haverá o crime.

A culpabilidade é o juízo de reprovação, sendo mero pressuposto para imposição da pena.

O crime é dotado de fato típico e ilícito, somente, para esta teoria.


Observação: existe crime sem reprovação? Para a teoria bipartida existe, vez que a
culpabilidade é mero pressuposto para a aplicação de pena.

Teorias da Culpabilidade
Teoria psicológica da culpabilidade
Tem bases causalistas – contexto do causalismo.

A culpabilidade possui os seguintes pressupostos ou elementos.

1) Pressuposto: imputabilidade.
2) Espécie de culpabilidade: dolo e culpa.

Observações:

 O delito se constitui de elementos objetivos (fato típico e ilicitude), e subjetivos


(culpabilidade).
 A ação humana é considerada como movimento humano voluntario que produz
modificação no mundo exterior.
 A vontade é despida de conteúdo, ou seja, de finalidade.
 O conteúdo, ou seja, a finalidade, encontra-se na culpabilidade, quando faz-se a
análise dos elementos subjetivos.

Teoria psicológica normativa


Tem bases neokantianas.

A culpabilidade tem os seguintes pressupostos: imputabilidade, exigibilidade de conduta


diversa, dolo e culpa.

O dolo e a culpa deixam de ser espécie de culpabilidade, e passam a ser elementos da


culpabilidade, ou seja, integram a estrutura da culpabilidade.

O dolo era constituído na teoria psicológica normativa por coincidência, vontade e


coincidência atual da ilicitude. ou seja, esta diante de dolo normativo.

Teoria normativa pura ou extremada da culpabilidade


Possui base finalista.

Altera novamente os pressupostos da culpabilidade.

O dolo e a culpa migram para a conduta, integrando o fato típico.

Por isso, o dolo passa a ser natural, ou seja, despido do elemento normativo “atual consciência
da ilicitude”.

A consciência da ilicitude deixa de integrar o dolo, e passa a ser elemento da culpabilidade.

Não é necessário que o agente tenha real e atual consciência da ilicitude, bastando a
possibilidade de conhecê-la, ou seja, potencial consciência da ilicitude.

Teoria Limitada da Culpabilidade


É a adotada pelo nosso CP, art. 20, §1º.

Tem base finalista.


Os pressupostos são: imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e potencial consciência
da ilicitude.

O dolo e a culpa migram para a conduta, integrando o fato típico.

Por isso, o dolo passa a ser natural, ou seja, despido do elemento normativo “atual consciência
da ilicitude”.

A consciência da ilicitude deixa de integrar o dolo, e passa a ser elemento da culpabilidade.

Não é necessário que o agente tenha real e atual consciência da ilicitude, bastando a
possibilidade de conhecê-la, ou seja, potencial consciência da ilicitude.

Até aqui é idêntica a teoria extremada da culpabilidade.

A divergência entre as duas teorias é que a natureza jurídica da descriminante putativa


referente ao erro sobre os pressupostos fáticos, ou seja, quando o agente atua creditando
estar em legitima defesa mas o perigo é imaginário – ex: desafeto com as mãos no bolso
levando carta de desculpas, e não arma.

No caso da teoria da culpabilidade limitada adota-se o erro de tipo quando se fala em dano
putativo.

No caso da teoria da culpabilidade extremada adota-se o erro de proibição quando se fala em


dano putativo.

Elementos da Culpabilidade
Imputabilidade
É a capacidade de imputação, ou sejam a atribuição de capacidade para alguém seja
responsabilidade criminalmente.

Será imputável o agente que, ao tempo da ação ou da omissão, for capaz de entender o
caráter ilícito do fato, e de determinar-se de acordo com este entendimento, além de ter
completado 18 anos.

Observação: O CP não conceitua imputabilidade, mas elenca as hipóteses de inimputabilidade.


Logo, o imputável é todo aquele que não é inimputável. Trata-se de conceito negativo.

Sistemas de imputabilidade
Biológico ou etiológico
Leva-se em consideração somente o desenvolvimento mental do acursado,
independentemente de se ter, no momento da conduta, capacidade de entendimento e
autodeterminação. Ex: todo louco é inimputável.

É adotado em nosso sistema jurídico de forma excepcional para os menos de 18 anos.

Psicológico
Leva em consideração apenas de o agente, ao tempo da ação ou omissão, tinha capacidade de
entender o caráter ilícito do fato, ou de determinar-se conforme este entendimento.

Bio Psicológico ou Misto


Leva em consideração o desenvolvimento mental do acusado, bem como se, no momento da
ação ou da omissão, se tinha capacidade de entendimento ou ato determinação.

É o adotado em nosso ordenamento – artigo 26, CP.


Pressupostos para reconhecimento da inimputabilidade
1. Existência de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado
(pressuposto causal);
2. Manifestação da doença mental no momento da conduta (pressuposto cronológico);
3. O agente deve ser inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, ou
inteiramente incapaz de determinar de acordo com esse entendimento (pressuposto
consequencial).

Hipóteses de Inimputabilidade
1) Anomalia psíquica – art. 26, CP

É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar se de acordo com esse entendimento.

É o portador de doença mental, compreendida de forma ampla, ou seja, qualquer enfermidade


que venha a debilitar as funções psíquicas do agente.

Consequência: verificada a anomalia psíquica, haverá sentença absolutória imprópria, mas


com aplicação de medida de segurança. Portanto, apesar de absolver, o juiz aplicará medida
de segurança, que é espécie de sanção penal.

A ação será processada normalmente, até se chegar na sentença absolutória imprópria. É


necessário que haja processo.

Atenção à Semi imputabilidade

Artigo 26, §único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Não se trata de hipótese de inimputabilidade, vez que haverá condenação, podendo o juiz
reduzir a pena, de 1 a 2/3, ou substituir a pena por medida de segurança. Não é possível
aplicar as duas penas, deve ser uma ou outra (sistema unitário ou vicariante). Antes, sob a
égide do sistema do duplo binário, era possível aplicar as duas penas.

2) Menoridade – art. 27, caput, CP.

Decorre do sistema biológico.

São os menores de 18 anos, sendo aplicado o ECA.

Considera-se em maioridade a partir do primeiro momento do dia em que se completa 18


anos, independentemente do horário de nascimento.

3) Embriaguez completa acidental

Art. 18, §1º, CP.

É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento).
Embriaguez é uma intoxicação causada pela ingestão de álcool (o Código Penal equipara o
álcool a substâncias de efeitos análogos. Ex: drogas).

A embriaguez acidental pode decorrer de caso fortuito ou de força maior.

No caso fortuito, o agente desconhece o efeito inebriante da substância. Ex: tomando remédio
que combinado com outro medicamento te deixa embriagado.

No evento de força maior, é forçado a beber. Ex: trote de faculdade.

Pode ser completa ou incompleta.

Se completa, exclui a capacidade de entendimento, sendo o agente isento de pena – art. 28,
§1º, CP.

Se incompleta, somente reduz a pena, pois reduz a capacidade de entendimento – art. 28, §2º,
CP.

A embriaguez não acidental, seja completa ou incompleta, não isenta o agente de pena.

Assim como, nas demais hipóteses de embriaguez:

No caso da embriaguez patológica temos o ébrio habitual, logo, inimputabilidade.

No caso de embriaguez pré-ordenada, causa agravante de pena.


Teoria da Acitio Libera in Causa (Ação Livre na Causa)

Pela teoria da Actio Libera in Causa, nas hipóteses em que o agente pratica um delito em
estado de embriaguez completa (estado posterior de inconsciência, decorrente de ingestão
voluntária, culposa ou preordenada de álcool, ou substancia de efeitos análogos, transfere-se a
análise da culpabilidade para o momento antecedente a ingestão destas substancias, a qual foi
livre na causa.

Responsabilidade Objetiva na Teoria da Actio Libera in Causa: Para evitar responsabilidade


objetiva, deve-se analisar se no momento da ingestão das substâncias (estado anterior de
capacidade de culpabilidade), o agente:

1º) previu e tinha intenção de praticar o crime (dolo direto);

2º) previu e assumiu o risco praticar o crime (dolo eventual);

3º) previu, mas acreditava sinceramente que com suas habilidades poderia evitar o crime
(culpa consciente);

4º) previsível a ocorrência do crime (culpa inconsciente);

5º) o crime era imprevisível (fato atípico).

Ou seja, a análise da responsabilidade é no momento antecedente a embriaguez.

4) Emoção e Paixão,

Não excluem a responsabilidade penal – Art. 28, I, CP.

 Emoção: é um estado de perturbação de consciência de curta duração.


 Paixão: é um estado de perturbação de consciência crônica e duradoura.

Quando forem patológicas, podem acarretar a inimputabilidade do artigo 26, caput, CP.

Potencial Consciência da Ilicitude


Possibilidade do agente de conhecer a proibição de seu comportamento.

O critério de avaliação da potencial consciência da ilicitude é feita através da Valoração


Paralela da Escala do Profano. O que se avalia na Potencial Consciência da Ilicitude é se agente
possuía, ao menos, o conhecimento do homem leigo. O que se busca não é saber se o agente
conhecia efetivamente a lei, mas sim se ele tinha o conhecimento ou a possibilidade de
conhecimento da ilicitude da conduta (se ele sabia que aquela conduta era proibida). Ou seja,
se era certo ou errado, pautando-se pelo homem leigo.

Hipótese de Exclusão da Potencial Consciência da Ilicitude


Erro de Proibição
Previsão Legal: art. 21 do Código Penal (Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de
um sexto a um terço.)

Conceito: Hipótese em que o agente possui consciência e vontade de praticar o fato, mas não
possui consciência da ilicitude em relação a esse fato. Não se busca que o agente conheça a lei,
mas sim que tenha condições de entender o que é certo e o que é errado.
O agente quer praticar o fato, tem consciência que está praticando o fato, mas não que o fato
é ilícito. Ex: fabricar açúcar em casa – decreto lei 16/1966.

Espécies:

1) Inevitável, invencível ou escusável

Aquele que qualquer pessoa prudente incidiria, como no exemplo do açúcar.

Consequência: isenção da pena.

2) Erro de proibição evitável, vencível ou inescusável

Pessoa de inteligência mediana, poderia evitá-lo, se não fosse a falta de zelo.

Previsto no artigo 21, parágrafo único, CP.

Consequência: causa de diminuição de pena de 1/3 a 1/6.

3) Erro de proibição grosseiro ou crasso

Hipótese em que a ilicitude é patente. Neste caso repsonde pelo crime normalmente.

4) Erro de proibição direto

O agente desconhece a ilicitude do fato da norma de proibição (crime comissivo) ou da norma


mandamental (crime omissivo).

Ex de norma de proibição: mãe aborta sem saber que a norma prevê a pratica como proibida.

Ex de norma mandamental: o agente deixa de prestar socorro por não saber que era obrigado
a fazê-lo pela lei.

É possível erro de proibição em relação aos crimes culposos, pois o agente pode errar sobre o
dever objetivo de cuidado.

Consequências: se inevitável, isenta-se a pena. Se evitável, reduz a pena de 1/6 a 1/3.

5) Erro de proibição indireto ou de permissão

O agente erra sobre as causas excludentes de ilicitudes, e não sobre a normas proibitivas ou
mandamentais.

Pode ser:

 Erro sobre a existência de uma causa de exclusão da ilicitude não reconhecida


juridicamente: O agente pratica o fato acreditando que está acobertado por uma
causa excludente de ilicitude, que, na verdade, não existe. Ex: prática eutanásia
acreditando que é hipótese de causa de exclusão da ilicitude, quando, em verdade,
não é.

 Erro sobre os limites da causa de exclusão da ilicitude. É a hipótese em que o sujeito


sabe da existência da causa excludente de ilicitude, porém, mas erra em relação aos
seus limites. Ex: o agente é legalmente preso, mas acredita que sua prisão é injusta, e
agride o policial supondo que está cumprindo uma ordem ilegal. Consequências: o erro
de proibição indireto pode ser inevitável (causa de isenção de pena) ou evitável (causa
de diminuição de pena).
Exigibilidade de conduta diversa
É necessário verificar se naquelas circunstancias poderia ser exigido que o agente agisse de
forma diversa.

Causas de Exclusão
Previsão legal: art. 22 do Código Penal (Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou
em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é
punível o autor da coação ou da ordem.)

Espécies
Coação Moral Irresistível (vis compulsiva)
Consiste no emprego de grave ameaça contra alguém para faça ou deixe de fazer alguma
coisa.

A) Coagido: pratica fato típico e ilícito, mas afasta-se a culpabilidade (pois não lhe era exigido
conduta diversa).

B) Coator: é hipótese de autoria mediata, tendo em vista que se serve instrumento (coagido)
para praticar o crime. Haverá responsabilização pelo crime praticado pelo coagido, com a
agravante prevista no art. 62, II, do Código Penal. Responderá, também, pela coação (pelo
crime de constrangimento ilegal ou pelo crime de tortura, se houver sofrimento físico e
mental).

Ex: Fulano coage Beltrano de forma irresistível para matar Cicrano. Beltrano, diante da coação
moral irresistível, o faz:

1. Fulano responderá pelo crime de homicídio na condição de autor mediato e pelo crime de
tortura para prática de crimes (art. 1, I, "B", da Lei 9.455/97)

2. Beltrano não praticou nenhum crime.

Observação: Temor Reverencial, como medo dos pais. Não é hipótese de coação moral
irresistível.

Obediência Hierárquica
Deve haver ordem de superior hierárquico, que trata-se da manifestação de vontade do titular
de uma função pública, que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta.

Observação: essa dirimente não abrange outra espécie de hierarquia, seja família, eclesiástica
ou na iniciativa privada. Relaciona-se somente às funções públicas.

Observação: os termos “dirimente”, “causa de exclusão da culpabilidade” e “causa exculpante”


são sinônimos.

A ordem não poderá ser manifestamente ilegal, haja vista que, neste caso, o subordinado não
deverá cumpri-la. Caso o faça, será punido, mas com atenuante de pena.

Somente será ausente de pena se a ordem não for manifestamente ilegal.


Causas Supralegais de Exclusão da Culpabilidade
Dirimentes não previstas em lei.

Cláusula de Consciência
Aquele que por motivo de consciência ou crença, praticar delito, desde que não ofenda diretos
fundamentais, estará isento de pena.

Ex: transfusão de sangue em razão de crença.

Desobediência civil
Atos de rebeldia, que possuem a finalidade de mostrar publicamente a injustiça da lei,
chamando atenção do legislador para modifica-la.

Observação: somente será possível a exclusão da culpabilidade quando fundada na proteção


de diretos fundamentais, e o dano for juridicamente irrelevante.

Conflito de deveres
Quando dois deveres estão em conflito, busca-se evitar um mal maior.

Ex: empresário em crise deixa de recolher contribuições para poder pagar seus funcionários.

Coculpabilidade
É a parcela de culpa do Estado na pratica do crime.

Diante da falibilidade do Estado em proporcionar as mesmas oportunidades aos cidadãos,


deve arcar com sua parcela de culpa na pratica do delito. Portanto, a cocupabilidade nada mais
é que a parcela de culpa do Estado na prática de um crime.

Natureza Jurídica
Há duas teorias

Causa de Exclusão de culpabilidade


Se o estado tem parcela de culpa, a culpabilidade não pode ser atribuída ao agente.

Os Tribunais superiores não admitem esta tese para exclusão da culpabilidade.

“Não se pode premiar aqueles que não assume a responsabilidade social, e fazem do crime
seu meio de vida”, STJ, HC 213.482.

Atenuante Inominada
Art. 66, CP.

Parte minoritária da doutrina e jurisprudência admitem a cocupabilidade como atenuante


genérica. Ex: Réus miseráveis.
Coculpabilidade às Avessas
Faz uma critica À seletividade do sistema penal, e divide-se em dois aspectos.

Reprimenda imposta às pessoas com alto pode econômico e social: As penas aos criminosos do
colarinho branco são muito brandas.
Tipificação de crimes somente à pobres: Existem a tipificação de delitos que somente serão
praticados por pessoas marginalizadas, a exemplo a contravenção penal de vadiagem e a
revogada de mendicância.

Em razão da condição econômica favorável, vez que se o fazem, é em razão de vaidade ou


ganância, desse modo, a pena dos mais ricos deveria ser mais severa.

Natureza Jurídica
Circunstância judicial desfavorável
Como é vedada a analogia em malam parte, não é possível aplicá-la como agravante, contudo,
é possível a exasperação da pena base, conforme artigo 59, CP, sendo valorada como
circunstância judicial desfavorável.

Concurso de Pessoas ou de Agentes


Conceito
Hipótese em que uma pluralidade de pessoas concorre para a pratica de um mesmo delito.

Classificação
Crime Monosubjetivo
Aqueles em que em regra são cometidos por uma única pessoa, mas podem ser praticados por
um número plural de pessoas. Ex: homicídio.

Pode ser aplicado à ele a regra do artigo 29, CP, que prevê o concurso de pessoas.

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas


penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser


diminuída de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,


ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até
metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime Plurisubjetivo ou de Concurso Necessário


Aqueles que necessariamente devem ser praticados por mais de um agente, sob pena de não
ficar configurado. Ex: associação criminosa – 288, CP.

Não se aplica a regra do artigo 129, CP, pois a pluralidade de agentes é integrante do tipo
penal.
Nos crimes plurisubjetivos, admite-se a existência de um único individuo culpado, podem os
demais enquadrarem-se em categoria diversa. Ex: Associação criminosa de indivíduos, sendo
somente 1 maior de idade.

Requisitos
1- Pluralidade de agentes;
2- Relevância causal das condutas para produção do resultado, ou seja, é necessário que
a ação dos concorrentes seja relevante para a empreitada criminosa, para que o delito
ocorra da forma que realmente ocorreu;

Observação 1: Não pode ser considerado concorrente do delito quem tem atitude negativa, ou
seja, aquele que não deu causa ao crime ou não desempenhou conduta relevante sem a qual o
crime não teria ocorrido como ocorreu. A doutrina conceitua isso como participação inócua.

Observação 2: A relevância causal da conduta deve se dar antes da consumação do delito. Se


verificada posteriormente a participação, não há concurso, podendo existir crime autônomo.

Exemplo: quatro agentes, sendo 1 que faz a segurança do banco, 1 impunha a arma, 1 subtrai,
e o outro espera no carro esperando para dar fuga. Qual comete o crime de roubo? Todos,
haja vista que tiveram conduta relevante para a pratica do roubo, cada qual com função
distinta, mas que se deu antes da consumação. Esse é o entendimento dos Tribunais
Superiores.

Exemplo: A e B roubaram. Pedem a C para esconder o fruto do roubo, após a consumação do


crime. Não há crime de roubo por C, mas somente de favorecimento pessoal, artigo 348, CP.
Estaria vinculado ao roubo, contudo, caso tivessem, A, B e C, combinado que C ocultaria os
frutos do roubo.

3- Liame Subjetivos: ambos queriam praticar a conduta. Os concorrentes devem estar


ligados por um vinculo de ordem subjetiva, ou seja, devem estar cientes que estão
colaborando para a pratica do delito, convergindo seus desígnios para o ponto comum
da vontade dos participantes.

Observação 1: Se não houver vinculo subjetivo, não há que se falar em concurso de pessoas.

Sem o vinculo subjetivo, haverá vários crimes simultâneos, caracterizando autoriza colateral.

Observação 2: Não exige acordo de vontade (Pactum Sceleris), basta a mera vontade de
participar e cooperar para a ação de outrem (Cientia Sceleris).

Observação 3: Principio da convergência (homogeneidade do elemento subjetivo)

Os agentes devem revelar vontades homogêneas, buscando a produção do mesmo resultado,


Por essa razão, não é possível participação dolosa em crime culposo, nem participação culposa
em crime doloso. O elemento subjetivo precisa ser o mesmo.

Observação 4: Autoria Colateral e Autoria Incerta

Se existir pluralidade de agentes concorrendo para o mesmo evento, mas sem o liame
subjetivo, não haverá concurso de agentes, podendo existir autoria colateral ou autoria
incerta.

Autoria Colateral é a hipótese em que, existindo dois agentes que, embora convergindo suas
vontades para a prática de determinado fato criminoso, não atuam unidos pelo mesmo liame
subjetivo. Ex: Fulano está escondido atras do carro, esperando Ciclano passar. Beltrano está
atras do prédio, esperando Ciclano passar. Ambos querem matar Ciclano. Porém, um não sabe
as intenções do outro. Fulano passa, e ambos atiram. Descobre-se que o tiro que matou
Ciclano foi da arma de Beltrano. Desse modo, embora convirjam suas condutas, não cooperam
para o fato delitivo. Por isso, Beltrano responde por homicídio consumado, enquanto Fulano
responde por homicídio tentado. Se estivessem ligados pelo liame subjetivo, ambos
responderiam por homicídio consumado.

Autoria incerta é uma hipótese de autoria colateral, contudo, não se sabe qual das condutas
gerou o resultado. No exemplo acima, ambos atiram, mas não é possível definir qual bala
matou Ciclano. A consequência é que ambos respondem por tentativa de homicídio. Se não é
possível determinar quem matou Ciclano, ambos respondem por crime tentado. Se houvesse
liame subjetivo, ambos respondem por homicídio consumado.

4- Unidade de Infração Penal para todos os agentes: o artigo 29 prevê que quem
concorre para o crime, responde pela pena a estes cominadas, na medida de suas
culpabilidades.

Exemplo: A e B querem matar C. A segura C, e B espeta a faca. Como respondem pelo crime?

Teoria Unitária, Monista ou Monística: é a aplicada em regra. Todos os coautores e participes


que concorrem para a pratica do crime respondem por este mesmo crime. Este é o previsto no
artigo 29, CP.

Teoria Pluralista, Pluralística, de cumplicidade do crime distinto ou da cumplicidade: aplicada


excepcionalmente. Embora todos concorram para o mesmo resultado, cada um responderá
por um crime distinto. Exemplo: corrupção passiva e corrução ativa; aborto com
consentimento da gestante.

Teoria dualística ou dualista: há dois crimes, sendo que os coautores repsonderão por um e os
participes por outro.

Autoria
O conceito de autor depende da teoria adotada.

Teorias
Teoria Restritiva
Aquele que pratica a teoria descrita no tipo penal. É a que prevalece.

Teoria Extensiva (subjetiva ou unitária)


Não há distinção entre autor e participe. Todos que colaboraram para a pratica de um fato
serão considerados coautores.

Teoria do Domínio do Fato


Autor é quem tem o domínio do fato, ou seja, poder de decisão sobre a realização de um
crime.

Divide-se em três vertentes:

a) Domínio da ação (autor imediato): considera-se autor aquele que executa


pessoalmente a conduta descrita no tipo penal.
b) Domínio da Vontade (autoria mediata): aquele que possui domínio sobre a vontade de
um terceiro, utilizando-se deste como instrumento para a prática do crime.
O domínio sobre vontade de terceiro pode ocorrer de duas formas: mediante erro ou
coação; ou mediante aparatos organizados de poder (Ex: chefe de organização
criminosa).

Teoria do Domínio Funcional do Fato (autor funcional)


Havendo atuação conjunta para a prática de um crime, é considerado autor aquele que
execute tarefa relevante na execução do plano delitivo global, ainda que esta não seja
considerada ação típica.

Ex: cara que conversou com político sugerindo a corrupção; terceiro que entrega mala de
dinheiro. Ambos são corruptos embora não pratiquem ambos a ação típica descrita no tipo.

Todos são considerados autores do fato, sendo imputado à todos envolvidos.

Observações

A teoria Funcional do fato somente se aplica para crimes dolosos. Segundo Roxim, a teoria do
domínio final do fato não se aplica aos crimes funcionais, culposos, comissivos por omissão e
de mão própria, porque nestes casos o agente não teria o domínio final do fato, ou seja, o
poder para decidir sobre a realização do fato.

O STF já admitiu a teoria do domínio funcional do fato em crime de falso testemunha, na


hipótese em que o advogado instruiu a testemunha a mentir, embora este seja um crime de
mão própria.

Coautoria
O conceito dependerá da teoria adotada.

Teorias
Teoria Restritiva
O coautor é a pluralidade de agentes realizando a teoria nuclear.

Teoria Extensiva
Pluralidade de agentes concorrendo para a prática da teoria nuclear.

Não há diferenciação entre autor e coautor. Todos são coautores.

Teoria do Domínio Final do Fato


Pluralidade de agentes que tem podem de decisão sobre a prática do fato típico.

Coautoria Sucessiva
Em regra todos os coautores devem iniciar juntos a pratica da empreitada criminosa. Mas, é
possível que um ou alguns adiram a prática após o início da pratica criminosa, unindo sua
vontade a dos demais. Isso é coautoria sucessiva.

É possível a coautoria sucessiva desde que até a consumação do delito.

Se após a consumação do delito, há crime autônomo, não coautoria.

Hipóteses Controvertidas de Coautoria


Coautoria em Crime Próprio
É possível, desde que o coautor saiba da qualidade especial do agente.

Isso porque, pela regra do artigo 30, CP, se conhecidas, as elementares do tipo se comunicam.
Ex: funcionário público e particular, sabedor da característica de funcionário público, praticam
peculato.

Coautoria na Pratica de Crime de Mão Própria ou de conduta infungível


É aquele que o agente não pode terceirizar a conduta, somente ele pode pratica-lo.

É possível coautoria? Não se tem admitido coautoria, vez que o próprio tipo penal indica quem
pode praticar a coautoria.

Contudo, o STF já admitiu a teoria do domínio funcional do fato em crime de falso testemunha,
na hipótese em que o advogado instruiu a testemunha a mentir, embora este seja um crime de
mão própria.

Executor de Reserva
É o agente que acompanha, de maneira presencial, a execução do delito, estando de reserva,
para que, se preciso for agir para a execução do delito.

Se precisar intervir, responde como coautor.

Se não precisar agir, atua como participe.

Coautoria em Crimes Omissivos


Há duas teorias:

1ª Corrente: admite-se coautoria em crimes omissivos, sem eles próprios ou impróprios. Ex:
duas pessoas, vendo pessoa necessitada, decidem, de comum acordo, não prestar auxílio.

2ª Corrente: Não é possível coautoria em crimes omissivos de qualquer natureza, pois cada um
dos sujeitos possui seu dever de agir, de forma individual, indivisível e indelegável.

Autoria Mediata (sujeito de trás)


É considerado aquele que se utiliza de terceiro, e este age sem dolo, ou de forma não culpável,
como instrumento para a pratica e execução do delito, quem possui o domínio do fato é o
autor mediato e não o executor do delito.

Este age sem dolo ou de forma não culpável.

Ex: coação irresistível a terceiro para a pratica de um crime – aponta arma na cabeça do filho
de Fulano e exige que este assalte banco.

Há pluralidade de agentes, mas não há concurso de pessoas, conforme entendimento


prevalente, tendo em vista que o executor é mero instrumento de vontade do autor mediato.

Hipóteses de autoria mediata:

 Inimputabilidade do executor.
 Coação moral irresistível;
 Obediência hierárquica;
 Erro de proibição inevitável;
 Erro de tipo inevitável provocada por terceiro – ex: medico querendo matar o
paciente, entrega seringa para enfermeira aplicar no paciente;
 Erro de tipo evitável praticada por terceiro.
Autoria Mediata
Trata-se de hipótese especial de autoria mediata, vez que pressupõe estrutura de poder
determinando a execução de um crime.

Há poder hierárquico, ex: PCC – chefe manda e seus soldados executam.

Estes funcionário não são consideradas meras ferramentas, pois há relação de subordinação,
sendo os soldados dotados de culpabilidade.

Observação: Teoria do Domínio da Organização (Roxin) – quando se fala em organizações


criminosas de grande monta, há certa dificuldade de punir os lideres, pois não executam
materialmente o crime, mas apenas determinam. Por esta razão, na teoria restritiva, por
exemplo, por não executar o fato típico, não seria punido. Por essa razão, Roxin cria esta teria,
para responsabilização do executor e do mandante (líder da organização) sempre que estiver
presente relação de subordinação entre eles, no âmbito de uma estrutura organizada de poder
ilícito.

Participação
Conceito
Aquele que não realiza diretamente a conduta, e não tem domínio final do fato. Concorre para
o crime induzindo, instigando ou auxiliando o autor.

Formas de Participação
Indu,zimento (participação moral)
Cria a ideia na mente do autor, que não tinha pensado em cometer o delito.

Instigação (participação moral)


O agente já tinha a ideai de praticar o crime, e o participe reforça esta ideia.

Auxilio (participação material)


Presta auxilio material – ex: entrega arma.

Teorias da Participação
Teoria da Acessoriedade

O autor pratica uma conduta principal, e o participe pratica conduta acessória.

Quando também responderá pelo crime? Quando o partícipe praticar:


A teoria adotada é a Teoria da Acessoriedade Média, ou seja, deve o participe praticar fato
típico e ilícito.

Participação de Menor Importância


Art. 29, §1º, CP.

Sendo a participação de menor importância, poderá a pena ser reduzida de 1/6 a 1/3. Ou seja,
trata-se de hipótese de diminuição de pena.

O que é participação de menor importância? É aquela de pequena eficiência para a execução


do crime.

Essa causa de diminuição de pena pode ser aplicada a autores e participes? Não!! Somente aos
participes. Não se aplica ao autor.

Cooperação dolosamente distinta


Art. 29, §2º, CP.

Se algum dos concorrentes praticar crime menos grave, será aplicada a ele este crime.
Contudo, será aumentada a pena deste a metade, se previsível o resultado mais grave.

Ex: Fulano e Beltrano vão furtar uma casa. Beltrano leva faca, sem o conhecimento de Fulano.
Entrando na casa, Beltrano esfaqueia o dono da casa. Neste caso, Fulano responde por furto, e
Beltrano por roubo.

Ex: Fulano sabe que Beltrano esta armado, para que seja usada, caso necessário. Ambos
querem o furto. Em caso de roubo, Fulano responderá pela pratica de furto, com aumento de
pena até a metade.

Se o crime mais grave era previsível, e o resultado aceito como possível pelo agente, por ele
responderá, uma vez que há o dolo eventual. É o exemplo acima, mas no qual Fulano aceitava
como possível a ocorrência do roubo como possível para levar os bens da casa.

Classificação Doutrinária dos Crimes


Os crimes podem ser classificados de maneira legal e doutrinário.

A classificação legal é o nomem iuris do delito – ex: art. 121, CP – homicídio.

A classificação doutrinária é a fornecdia pelos estudiosos do direito.

Crime material, forma, e de mera conduta


Crime material – resultado naturalístico é indispensável para a configuração do crime. Ex:
roubo.

Crime formal: o tipo penal descreve tanto uma conduta quanto um resultado naturalístico.
Contudo, o resultado não é necessário para a consumação, que se consuma com a realização
da conduta. Se houver o resultado é mero exaurimento da conduta delitiva. Ex: Extorsão.

Crime de mera conduta ou de mera atividade: o tipo pebal descreve somente a conduta, sem
resultado naturalístico. Ex: porte de arma.

Crime comum, próprio, de mão própria, bipróprio


Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exige qualidade especial do
agente para a pratica. Ex: furto.
Próprio: são exigidas qualidades especiais do agente. Ex: peculato. É possível concurso de
agentes, se os demais souberem da qualidade especial do autor.

Mão Própria: de conduta infungível, aquele que a execução do delito não pode ser
terceirizada. O agente deve executar o crime por suas próprias mãos. Ex: falso testemunho.

Bi próprio: exige uma qualidades especial tanto do agente como da vítima. Ex: Art. 123, CP –
Infanticídio – parturiente em estado puerperal e nascente ou neonato.

Crime de Dano e Crime de perigo


Crime de Dano: a consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico tutelado para a consumação.

Crime de perigo: a consumação se contenta com a mera exposição do bem a uma situação de
perigo. Subdividem-se em:

 Perigo abstrato: perigo é presumido pela própria lei. Ex: crime de drogas.
 Perigo concreto: o tipo penal descreve conduta perigosa, que deve ser provada,
demonstrando risco à pessoa certa e determinada. Art. 133, CP – Abandono de
incapaz.
 Perigosidade real: o tipo penal descreve conduta perigosa que seve der provada, mas
não à pessoa certa e determinada. Ex: art. 309, CTN – dirigir carro sem habilitação.

Crime doloso, crime culposo e crime preterdoloso


Crime doloso: Aquele que o agente quis ou assumiu o risco de produzir o resultado – art. 18, I,
CP.

Crime culposo: o agente não quis produzir o resultado, mas, em razão de conduta leviana, ou
seja, imprudente, imperita ou negligente, que lhe era prevista ou previsível, acaba praticando.

Crime preterdoloso: pratica crime com dolo em conduta inicial, e culpa na conduta ocorrida.
Sobrevém resultado mais gravoso que o protendido. Ex: lesão corporal com resultado de
morte – art. 129, §3º, CP.

Crimes Comissivos, Omissivos (próprios e impróprios) e de conduta mista


Crimes Comissivos: exige uma ação, conduta ativa do agente. Ex: homicídio.

Crime omissivo: decorre do não fazer do agente. No crime omissivo próprio, a omissão é
descrita no próprio tipo penal, ex: omissão de socorro – art. 135, CP. No crime omissivo
improprio, comissivos por omissão ou omissivos impuros, o omitente tem o dever jurídico de
evita o resultado.

Crime de conduta mista: o tipo penal prevê uma omissão e uma ação. Ex: art. 169, CP –
apropriação de coisa achada, no qual o agente encontra a coisa, a guarda consigo e depois
deixa de restitui-la a seu dono.

Crime de forma livre e de forma vinculada


Dez respeito ao modo de execução.

Crime de forma livre: pode ser praticado por qualquer forma de execução. Ex: homicídio.

Crime de forma vinculada: o tipo prevê a forma de execução do crime. Ex: curandeirismo – art.
284, CP.
Crime consumado e crime tentado
Crime consumado: reúne todos os elementos da sua definição legal – art. 14, I, CP.

Crime tentado: não se consuma por circunstâncias alheias a vontade do agente – art. 14, II, CP.

Crime Instantâneo, permanente, instantâneo de efeito permanente e crime a prazo


Crime instantâneo: se consuma com a ocorrência do resultado, não se prolongando.

Crime permanente: se protrai (prolonga) no tempo. Ex: sequestro – pode ser preso em
flagrante a qualquer momento da execução do delito.

Crime instantâneo de efeito permanente: aquele que a consumação se da imediatamente,


contudo, seus efeitos subsistem após sua consumação, ainda que não haja a vontade do
agente. Ex: homicídio – a vitima morre na hora, mas seus efeitos, a morte, se prolongam – não
pode ser preso em flagrante após a execução.

**Atenção para o caso Daniel Silveira, que gravou vídeo e o publicou na internet, insultando a
suprema corte. Embora seja crime instantâneo de efeito permanente, o STF indicou que seria
crime permanente, para prende-lo em flagrante.

Crime a prazo: a consumação depende da fluência de certo prazo temporal. Ex: Lesão corporal
grave - Art. 129, I, CP – necessário que a vitima fique pelo menos 30 dias para a execução de
suas atividades habituais.

Crime Simples e Crime Complexo


Simples: ofende um único bem jurídico.

Complexo: ofende mais de um bem jurídico, decorrente da fusão de dois ou mais ttipos penais.

Podem ser crimes complexos em sentido estrito e amplo.

Em sentido estrito é a função de dos , tipos penais – Ex: Fusão do artigo 155 e 146, CP gera o
artigo 157, CP.

Em sentido complexo é a fusão de uma conduta lícita com um ou mais tipos penais. Ex:
estupro: une relação sexual e constrangimento ilegal.

Crime Qualificado e Crime Privilegiado


Crime qualificado: agravamento da pena mínima e da pena máxima.

Crime privilegiado: diminuição da pena mínima e da pena máxima, que suaviza a situação;

Atenção: Art. 121, §2º, CP é causa de diminuição, embora corriqueiramente fale-se em


homicídio privilegiado. Privilégio é quando há nova pena mínima e nova pena máxima,
inferiores a da pena base.

Crime Unissubsistente e Plurissubsistente


Diz respeito a quantidade de atos executórios.

Crime Unissubsistente: desenvolve-se com um único ato, não se admitindo o fracionamento da


conduta. Ex: Calunia.

Crime Plurissubsistente: desenvolve-se em mais de um ato, autorizando que a conduta seja


fracionada.
Crime unisubjetivo e plurisubjetivo
Diz respeito a quantidade de agentes do delito

Crime unisubjetivo, monosubjetivo ou de concurso eventual: cometido em regra por uma


pessoa, mas pode ser praticado em número plural.

Crime Plurisubjetivo ou de concurso necessário: é necessária pluralidade de agente para sua


pratica. Se praticado por uma única pessoa, não se configura. ex: 288, CP – associação
criminosa.

Crime Plurisubjetivo de condutas paralelas: todos os indivíduos dirigem sua conduta para um
fim comum. ex: 288, CP – associação criminosa.

Crime Plurisubjetivo de condutas contrapostas: umas contra as outras. Ex: crime de rixa – art.
137, CP.

Crime Plurisubjetivo de condutas convergentes: uma conduta converge para a ocorrência da


outra, ou seja, de abraçam. Ex: bigamia, art. 235, CP.

Crime monofensivo e pluriofensivo


Crime monofensivo: viola um único bem da vida. Ex: homicídio – vida.

Crime pluriofensivo: viola mais de um bem da vida. Ex: latrocínio – patrimônio e vida.

Crime de subjetividade passiva única e crime de dupla subjetividade passiva

Refere-se a quantidade de vitimas atingidas.

Crime de subjetividade passiva única: uma única vitima – ex: estupro.


Crime de dupla subjetividade passiva: mais de uma vitima – ex: violação de correspondência –
art. 151. CP.

Crime a distância, plurilocal ou de espaço mínimo


Crime a distância ou de espaço máximo: crime cometido em um pais, que tem resultado em
outro. Ex: homicídio – tiro no brasil e morte no Paraguai.

Crime plurilocal ou de espaço interno: a conduta ocorre em uma comarca e o resultado em


outra comarca.

Crime de espaço mínimo: a conduta e o resultado ocorre na mesma comarca.

Crime condicionado e incondicionado


Crime Condicionado: depende de condição de procedibilidade para que a persecução penal
seja implementada. Sempre que a ação penal for condicionada. Ex: ameaça, que exige
representação da vitima. É expresso na lei.

Crime Incondicionado: não depende de implemento de condição para iniciar a persecução


penal. É a regra no CP.

Crime natural, plástico e vazio


Crime natural: toda sociedade reprimiu e sempre reprimir.

Crime de plástico: conduta considerada criminosa em razão de determinado momento


histórico e político, e que não seriam necessariamente criminosas. São crimes criados. Ex:
crimes pela internet – Lei Carolina Dickman.
Crime vazio: modalidades especificas de crime de plástico, mas caracterizados pela ausência de
proteção de qualquer bem jurídico – art. 306, CTB: conduzir veículo embriagado sem ferir
ninguém.

Crimes transeuntes e não transeuntes


Essa classificação diz respeito à necessidade de realização de exame de corpo de delito para
verificação da ocorrência do crime.

Crimes transeuntes ou de fato transitório são aqueles que não deixam vestígios e, por essa
razão, não necessitam de realização de exame de corpo de delito, a exemplo da ameaça e
injúria verbal.

Crimes não transeuntes ou de fato permanente são aqueles que deixam vestígios e, portanto,
necessitam de realização de exame de corpo de delito, a exemplo do homicídio. Nos termos do
art. 167, do Código de Processo Penal, não sendo possível o exame de corpo de delito, por
haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Crime habitual
Crime habitual é aquele que se consuma com a reiteração da conduta típica. A prática de
apenas um ato não é apto a configurar o delito, dependendo da demonstração de que a
prática criminosa ocorra de forma perene, a exemplo do delito de casa de prostituição (art.
229 do Código Penal).

Crime multitudinário
São aqueles praticados por uma multidão delinquente, geralmente em contexto de tumulto.

Crimes principais e crimes acessórios


Crimes principais são aqueles que, para sua existência, não necessitam da ocorrência de
nenhum delito pretérito. Existem por si só. Por exemplo, homicídio, furto, roubo, estupro, etc.

Crimes acessórios ou delitos parasitários são aqueles que, para sua ocorrência, dependem da
existência de um delito anterior. Por exemplo, o ilícito do art. 180, do Código Penal exige que o
agente adquira, transporte, conduza ou oculte coisa que sabe ser produto de crime. Da mesma
forma, o delito de lavagem de dinheiro descrito no art. 1º, da Lei 9.613/98, com redação dada
pela Lei 12.683/12.

Crimes de Menor Potencial Ofensivo


São infrações de menor potencial ofensivo todas as contravenções penais e os crimes a que a
lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulado ou não com multa e, submetido
ou não a procedimentos especiais (art. 61 da Lei 9.099/95).

Crime exaurido
É aquele que, depois de realizada a consumação, o agente continua a agredir o bem jurídico
tutelado, levando a consequências mais graves. Por exemplo, depois de realizar o furto, o
indivíduo vende o bem a terceiros. A venda é mero exaurimento do crime de furto.

Eugênio Pacelli e André Callegari lembram que: O exaurimento, com a consequente produção
do resultado mais lesivo, poderá ser levado em consideração pelo julgador no momento da
aplicação da pena. Além disso, nos casos de exaurimento, ainda é possível a participação
criminal do sujeito que colabora após a consumação pelo mesmo delito praticado
anteriormente. A regra é que, após a consumação, toda e qualquer colaboração tipifique crime
autônomo, isto é, outro delito. A exceção é o caso do exaurimento. Assim, aquele que após o
sequestro da vítima, sem ter uma participação do arrebatamento desta, vem a saber do
ocorrido e do cativeiro e se oferece para negociar o resgate, também responde pelo delito já
consumado de extorsão mediante sequestro.

Crime gratuito
É aquele praticado sem motivo conhecido. Todo crime possui uma motivação, contudo, por
vezes, não é possível identificá-lo no caso concreto.

O crime gratuito não se confunde com o motivo fútil, pois, neste, o motivo é conhecido e é
considerado desproporcional, ínfimo, de menor importância.

Crime profissional
O agente se utiliza da sua profissão para alcançar o objetivo criminoso.

Crime de ímpeto
É aquele praticado de rompante, sem premeditação, decorrente de uma reação emocional
súbita, a exemplo do homicídio privilegiado cometido sob o domínio de violenta emoção. 10.5.

Crime progressivo ou de passagem


É a hipótese que, para se alcançar o crime mais grave, necessariamente, deve-se passar pelo
crime menos grave. Por exemplo, para se chegar ao homicídio o agente deve passar pelo delito
de lesão corporal. O sujeito responderá apenas pelo homicídio, ficando o delito de lesão
corporal absorvido.

Crimes de Trânsito, Crimes no Trânsito e Crimes em Trânsito


Crimes de trânsito ou de circulação são aqueles praticados em via pública na direção de
veículo automotor. A esses delitos aplica-se o regramento do Código de Trânsito Brasileiro.
Exemplo: art. 306, do CTB (embriaguez na direção).

Crimes no trânsito são aqueles praticados na condução de veículo automotor. No entanto, não
encontram previsão no Código de Trânsito Brasileiro. Pode-se mencionar o exemplo do agente
que, na condução de veículo automotor, atropela seu desafeto dolosamente. Nessa hipótese,
incidirá no artigo 121, do Código Penal, uma vez que o Código de Trânsito não prevê homicídio
doloso na direção de veículo automotor (tipifica apenas o culposo).

Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci faz uma importante observação: [...] Não se admite a
nomenclatura de crime de trânsito para o crime de dano, cometido com dolo. Portanto, aquele
que utiliza seu veículo para, propositadamente, atropelar e matar seu inimigo comete
homicídio – e não simples crime de trânsito. [...]

Por crime em trânsito ou em circulação deve ser entendido o delito que abrange mais de um
país, sem, contudo, atingir bens jurídicos em um ou mais países, a exemplo da droga que é
levada do Brasil para os Estados Unidos, passando pela Colômbia.

Crime subsidiário
O crime será subsidiário quando o fato não se amoldar a crime mais grave. Por exemplo, se
não ficar demonstrada a violência ou grave ameaça para realização da subtração no crime de
roubo, remanescerá, subsidiariamente, o furto.

Crime de atentado ou de empreendimento


Crime de atentado ou de empreendimento se dá quando o legislador descreve uma conduta
tentada no próprio tipo penal. Assim, a mera tentativa será considerada como consumação.
Por exemplo, o art. 352, do Código Penal dispõe que o preso que se evadir ou tentar se evadir
responderá pelo crime.

Crime de ação única e crime de ação múltipla


Crime de ação única é aquele que o tipo penal prevê apenas uma conduta nuclear. Por
exemplo, no crime de homicídio a única conduta prevista é matar.

Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado é aquele que o tipo penal prevê uma
multiplicidade de condutas nucleares, a exemplo do tráfico de drogas, que possui vários verbos
no tipo.

Crime de opinião ou de palavra


É aquele que ocorre em razão do excesso abusivo da manifestação do pensamento, seja de
forma verbal ou escrita, a exemplo do delito de injúria.

Crime vago
É aquele praticado contra um ente despido de personalidade jurídica, a exemplo da família,
sociedade, coletividade. Ex: tráfico de drogas, em que a vítima é a coletividade.

Crime internacional
É aquele que por tratado ou convenção internacional (devidamente incorporado ao
ordenamento jurídico), o Brasil se comprometeu em punir, tal como o tráfico de pessoas (art.
149-A do Código Penal).

Crimes funcionais
São aqueles praticados por funcionários públicos, conforme conceito do art. 327, do Código
Penal.

Tais crimes se dividem em crimes funcionais próprios e impróprios.

Crimes funcionais próprios são aqueles que a elementar funcionário público é fundamental
para existência do crime. Se ela não existir, a conduta será atípica. Ex: prevaricação.

Crimes funcionais impróprios são aqueles que a elementar funcionário público não
descaracteriza a existência do crime. Ocorre que, sem a sua presença, o delito passa a ser
outro. Por exemplo, no crime de peculato (furto ou apropriação praticado por funcionário
público), caso não seja praticado por funcionário público, a conduta ainda será criminosa, mas
tipificada no art. 155 ou 168, do Código Penal.

Crimes de mera suspeita, sem ação ou de mera posição


Nessa modalidade de crime o agente não pratica uma conduta penalmente relevante, sendo
punido pela mera suspeita levantada em razão de sua forma de agir.

Trata-se de criação italiana (por Vicenzo Manzini), todavia, não encontrou eco na doutrina
brasileira.

Crime falho
É sinônimo de tentativa perfeita ou acabada. Nessa modalidade, o agente pratica todos os atos
executórios que estão à sua disposição para consumação do delito, mas, por circunstâncias
alheias à sua vontade, o crime não se consuma.

Quase-crime
É sinônimo de crime impossível (art. 17 do Código Penal).
Crime inominado
É aquele que ofende regra ética ou cultural reconhecidas pelo Direito Penal, todavia, não estão
previstos em lei como infração penal. Não são admitidos, por violação ao princípio da
legalidade.

Crimes hediondos
São aqueles elencados no art. 1º da Lei da 8.072/90. Lembre-se que o ordenamento jurídico
brasileiro adotou o critério legal para definição de crime hediondo. Assim, somente os delitos
etiquetados em lei como hediondos é que possuem esse status.

Crime de expressão
É aquele que se caracteriza pela atividade intelectiva do autor, que recebe a informação, a
processa, retransmitindo-a de forma inverídica, a exemplo do crime de falso testemunho (art.
342 do Código Penal – falso testemunho).

Crime independente
É o crime que não possui ligação com nenhuma outra infração penal.

Crime conexo
É aquele que possui ligação com outras infrações penais.

Segundo Fernando Capez, as hipóteses de crimes conexos são as seguintes:

(i) conexão teleológica ou ideológica: o crime é praticado para assegurar a execução


de outro delito;
(ii) conexão consequencial ou causal: o crime é cometido na sequência de outro, a fim
de assegurar a impunidade, ocultação ou vantagem de outro delito;
(iii) conexão ocasional: o crime é praticado como consequência da ocasião,
proporcionada pela prática do crime antecedente, por exemplo, estupro praticado
após roubo. Trata-se de criação doutrinária, sem amparo legal.

Crime de intenção ou de tendência interna transcendente


É aquele que o agente busca a realização de um resultado que não é necessário para
consumação do delito, a exemplo do pagamento do resgate no crime de extorsão mediante
sequestro (art. 159, do Código Penal).

Crime de tendência ou atitude pessoal


De acordo com Cléber Masson: É aquele em que a tendência afetiva do autor delimita a ação
típica, ou seja, a tipicidade pode ou não ocorrer em razão da atitude pessoal e interna do
agente.

Exemplos: toque do ginecologista na realização do diagnóstico, que pode configurar mero agir
profissional ou então algum crime de natureza sexual, dependendo da tendência (libidinosa ou
não), bem como as palavras dirigidas contra alguém, que podem ou não caracterizar o crime
de injúria em razão da intenção de ofender a honra ou de apenas criticar ou brincar.

Crime de resultado cortado


É aquele que o resultado (embora dispensável), não está na esfera de decisão do agente. Por
exemplo, o pagamento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro.

Crime mutilado de dois atos ou tipos imperfeitos de dois atos


É aquele em que o agente pratica um primeiro delito, com a intenção de obter uma vantagem
posterior. Por exemplo, o agente possui petrechos para falsificação de moeda (art. 291 do
Código Penal), depois efetivamente falsifica a moeda (art. 289, do Código Penal) e a coloca na
circulação (art. Art. 289, § 1º, do Código Penal).

Crime de acumulação
É aquele que, se considerada apenas uma conduta, aparentemente, não há lesão ao bem
jurídico tutelado. Contudo, a sua lesividade decorre do acumúlo de várias condutas análogas.

Por exemplo, a pesca ilegal de apenas um peixe, a princípio, não se verifica dano. Todavia, se
várias pessoas pescarem um peixe ilegalmente, haverá lesão ao bem jurídico.

Crime de ação violenta


É aquele que é praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, a exemplo do roubo.

Crime de ação astuciosa


É aquele praticado por intermédio de fraude, engodo ou dissimulação, a exemplo do
estelionato (art. 171 do Código Penal).

Crime obstáculo
Crime obstáculo é aquele que tipifica atos preparatórios, que, normalmente, não são punidos,
a exemplo do delito de associação criminosa (art. 288 do Código Penal).

Crime putativo
É a hipótese em que o indivíduo acredita estar praticando um delito, quando, na verdade, está
realizando um fato atípico. Por exemplo, o agente vende talco, acreditando ser droga.

Crime de catálogo
É aquele passível de apuração por intermédio de interceptação telefônica, observando os
requisitos da Lei 9.296/96.

Crime remetido
Crime remetido é aquele que faz referência a outro delito, que passa a integrá-lo, a exemplo
uso de documento falso: Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados,
a que se referem os arts. 297 a 302.

Crime parcelar
É aquele que integra a cadeia de delitos que compõe o crime continuado. 10.30. Crimes de
responsabilidade.

Dividem-se em duas hipóteses

a) Crimes de responsabilidade em sentido amplo: são aqueles em que a qualidade de


funcionário público é uma elementar do delito. Ex: peculato, prevaricação, etc

b) Crimes de responsabilidade em sentido estrito: são aqueles que somente determinados


agentes políticos podem praticar.

Não tem natureza jurídica de infração penal, mas sim de uma infração política-administrativa
(art. 52, I e II, CF/88).

Crime de impressão
São aqueles que despertam determinado estado de ânimo na vítima, podendo ser dividido em:
(1º) crime de sentimento: é aquele que afeta as emoções da vítima, a exemplo da injúria; (2º)
crime de inteligência: é aquele que é praticado mediante engano da vítima, a exemplo do
estelionato; (3º) crime de vontade: é aquele que recai sobre a autodeterminação da vítima, a
exemplo sequestro e cárcere privado (art. 148 do Código Penal).

Crime de hermenêutica
É aquele que visa criminalizar a interpretação da norma jurídica. Tal delito não é admitido em
nosso ordenamento jurídico. O art. 1º, § 2º, da Lei 13.869/19 dispõe que “a divergência na
interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade.”

Crime anão ou delito liliputiano


É sinômino de contravenção penal.

Crime de rua ou de colarinho azul


São delitos praticados por pessoas de classes sociais menos favorecidas (roubo, furto, estupro,
latrocínio etc.).

Tal nomenclatura foi utilizada por ocasião do julgamento da Ação Penal 470 (Mensalão).

O nome se dá em referência aos macacões utilizados pelos trabalhadores norte-americanos da


década de 40 (que eram pessoas menos abastadas). Utilizou-se a expressão em contraposição
aos crimes de colarinho branco, mencionando-se que, no Brasil, não mais seriam punidas
somente pessoas desprestigiadas socialmente, mas também pessoas influentes e de boa
situação financeira.

Crime colarinho branco


São os delitos praticados por pessoas privilegiadas do ponto de vista econômico e social
(crimes contra o meio ambiente, ordem econômica e tributária, corrupção de altos valores
etc.).

Crimes falimentares
São os previstos na Lei de Falência (Lei 11.101/05).

Crime de olvido
Crime de olvido são os crimes de esquecimento.

Olvido deriva de “olvidar”, que significa esquecer. Assim, crime de olvido diz respeito aos
crimes omissivos impróprios, impuros ou comissivos por omissão, quando praticados a título
culposo.

Vale dizer, o indivíduo, por negligência, “esquece” o dever jurídico de agir (art. 13, § 2 º, do
Código Penal), acarretando o resultado naturalístico. Por exemplo, o salva-vidas que resolve
dormir um pouco durante o expediente e não evita o afogamento do banhista. Ou, ainda, o pai
que esquece seu filho recém-nascido dentro carro e vai ao supermercado e, quando retorna, a
criança está morta em razão do calor, que a asfixiou.

Crime de greve
É aquele praticado durante a paralisação dos empregados.

Crime de lockout
É aquele praticado durante a paralisação do empregador.

Crime achado
Crime achado é uma expressão utilizada pelo ministro Alexandre de Moraes para designar o
encontro fortuito de prova, também conhecido como serendipidade.
Vejamos o posicionamento do Supremo Tribunal Federal: (...) O Colegiado afirmou que a
hipótese dos autos é de crime achado, ou seja, infração penal desconhecida e não investigada
até o momento em que se descobre o delito. A interceptação telefônica, apesar de investigar
tráfico de drogas, acabou por revelar crime de homicídio. Assentou que, presentes os
requisitos constitucionais e legais, a prova deve ser considerada lícita. Ressaltou, ainda, que a
interceptação telefônica foi autorizada pela justiça, o crime é apenado com reclusão e inexistiu
o desvio de finalidade. (...) HC 129678/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, 13.6.2017. (HC-129678)

Crime político
É aquele que viola a segurança interna ou externa do Estado, a exemplo dos antigos crimes
contra a segurança nacional (antiga Lei n.º 7.170/83).

Crimes aberrantes
Englobam a aberratio causae (erro sobre o nexo causal), a aberratio ictus (erro na execução) e
a aberratio delicti (resultado diverso do pretendido), todos espécies de erro acidental.

Crime Organizado
É aquele cometido por intermédio de organização criminosa que, segundo o art. 1º, § 1º, da
Lei 10.850/13, é “a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.”

Crime Cibernético
É aquele praticado por intermédio da rede mundial de computadores ou de uma rede pública
ou privada de computadores. Classificam-se em próprios ou impróprios.

Crime Cibernético próprio é a hipótese em que o meio e o objeto material encontram-se


exclusivamente no sistema cibernético, a exemplo do art. 154-A do Código Penal. Nesta
modalidade, somente será possível cometer o delito por intermédio do sistema cibernético,
sendo que o próprio dispositivo violado é o objeto da empreitada criminosa.

Crime Cibernético impróprio, por sua vez, é a hipótese em que o meio virtual é utilizado como
uma das formas de execução do delito. Por exemplo, calúnia veiculada na internet. A calúnia
pode ser realizada por vários meios, dentre eles, pela rede mundial de computadores.

Crimes Militares
Antes da Lei 13.491/17, a doutrina costumava conceituar os crimes militares da seguinte
maneira: (1º) Crimes militares próprios: aqueles previstos exclusivamente no Código Penal
Militar (art. 9º, II do CPM), uma vez que violam tão somente as instituições militares ou valores
militares. Ex: deserção (2º)

Crimes militares impróprios: aqueles que estão previstos tanto no Código Penal Militar quanto
na legislação comum, a exemplo do homicídio, furto, roubo, etc.

Contudo, com a entrada em vigor da Lei n.º 13.491/1712, o panorama foi alterado, em razão
das substanciais inovações trazidas, em especial no art. 9º, II, do Código Penal Militar. A nova
lei, dentre outras, trouxe as seguintes modificações no referido dispositivo:
Percebe-se que o novel diploma acrescentou a expressão “e os previstos na legislação penal”.
Sendo assim, houve uma ampliação da competência da Justiça Militar, tendo em vista que,
antes da Lei n.º 13.491/17, eram considerados crimes militares somente aqueles previstos no
Código Penal Militar. Com a vigência do mencionado diploma legal, para além dos crimes
previstos no Código Penal Militar, os crimes previstos na legislação penal (ou seja, qualquer
outro crime existente no ordenamento jurídico) podem ser considerados crimes militares,
desde que preenchidas as condições descritas nas alíneas do inciso II, do art. 9º.

O art. 9º, II, do Código Penal Militar traz as seguintes condições nas quais o crime deve ser
praticado para se definir se é ou não de natureza militar. Vejamos:

Assim, diante dessa nova sistemática, é necessária uma releitura do conceito de crime militar.
Rogério Sanches ensina que: Atualmente, no entanto, a definição deve ser diversa,
especialmente no que concerne ao crime militar impróprio. Crime militar passa a ser o delito
pratica por militar. Pode ser próprio, porque definido apenas no Código Penal Militar (como a
deserção), ou impróprio, porque definido também no restante da legislação penal (como o
furto) ou somente nela, legislação não militar (como a tortura, lavagem de capitais,
organização criminosa etc.).

Rodrigo Foureaux, em artigo publicado sobre o tema, traz alguns exemplos de crimes militares
após a entrada em vigor da Lei n.º 13.491/17. Como exemplo, podemos citar: a) crime de
disparo de arma de fogo praticado por militar em serviço; b) crime de tortura praticado por
policial militar em serviço ou em razão da função; c) crime de abuso de autoridade praticado
por militar em serviço; d) assédio sexual; e) crime de possuir imagens de crianças e
adolescentes em situações pornográficas, quando os militares a obtiverem em razão do serviço
e tenham essas imagens não com a finalidade de comunicarem a autoridade competente.
Portanto, qualquer crime previsto na legislação penal brasileira, quando praticado nas
hipóteses descritas no art. 9º, II, do CPM, atrai a competência da Justiça Militar. Deve, no
entanto, ser ressalvada a hipótese de crime doloso contra a vida quando a vítima for civil, que
permanece sendo julgado pelo Tribunal do Júri, nos moldes do art. 125, § 4º, da Constituição
Federal. Nessa senda, como explica Rodrigo Foureaux, os processos em trâmite na Justiça
Comum que versem sobre as situações descritas no art. 9º, II, do CPM, devem ser remetidos
imediatamente à Justiça Militar para o prosseguimento do julgamento, exceto aqueles que já
foram julgados, observando a regra processual disposta no art. 2º do Código de Processo
Penal. Vejamos: Em se tratando de competência, quando há alteração da competência
absoluta, como é o caso, por se tratar da matéria (crime militar), os autos devem ser remetidos
imediatamente ao juízo competente (art. 43 do CPC c/c art. 3º, “a”, do CPPM), salvo se já
houver sentença.

Assim, todos os processos no país que estejam tramitando na Justiça Comum, quando tiverem
sido cometidos por militares em uma das hipóteses do inciso II do art. 9º, do Código Penal
Militar devem ser remetidos, imediatamente, à Justiça Militar. Caso o processo já esteja
sentenciado, o recurso a ser interposto deverá seguir a competência já disposta. Isto é, se
houver sentença proferida pela Justiça Comum, o recurso deverá ser interposto para o
Tribunal de Justiça comum.

Essa observação se faz necessária somente para os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio
Grande do Sul, pois possuem Tribunal de Justiça Militar. Nos demais estados o recurso a ser
interposto já será para o Tribunal de Justiça comum.15 Ademais, a Súmula 90 do Superior
Tribunal de Justiça encontra-se ultrapassada, uma vez que não haverá mais crime comum
simultâneo ao militar, eis que ambos serão considerados infrações penais militares, já que
praticados no mesmo contexto fático.

Teoria Geral da Pena


Conceito de Sanção Penal
Consequência da pratica de uma infração pena (crime ou contravenção). Se alguém praticou
uma conduta criminosa, violadora de uma norma penal incriminadora, e constatando-se que
este agente é culpável, surge para o estado o poder dever de impor uma punição, que
consistirá na privação ou restrição de determinados bens jurídicos.

Sanção é gênero, no qual há duas espécies: Pena (agente culpável) e medida de segurança
(agente inculpável mas perigoso).

Terceira via do Direito Penal


Discute-se se a reparação do dano pode ser considerada a terceira via do direito pena. Ex:
quando repara o dano ou restitui a coisa.

Para Claus Roxin, se a reparação do dano ocorrer voluntariamente antes da instauração da


ação penal, poderão existir as seguintes consequências: diminuição da pena, suspensão
condicional do processo, e, a exceção dos delitos graves, ate a dispensa da aplicação da pena.
Ex: arrependimento posterior, art. 16, CP.

Teorias da Pena
Teorias Absolutas ou retributiva
Pena entendida como retribuição ao mal praticado pelo agente. Ou seja, o agente deve ser
punido para que não fique impune
Esta teoria não se preocupa com a readaptação social do infrator. . A pena é castigo.

Teoria Relativa
A finalidade da pena é prevenir a prática de delitos, como forma de proteção ao bem jurídico
tutelado. Trabalha com prevenção, que pode ser geral ou especial.

Prevenção geral é destinada à sociedade de forma genérica, ou seja, tem a finalidade de


intimidar a sociedade para evitar a prática de ilícitos. Divide-se em:

a) face negativa: busca intimidar a sociedade demonstrando a gravidade e


imperatividade da pena, desestimulando a prática do crime.
b) Face positiva, integradora ou estabilizadora: demonstrar que o direito existe, que é
valido e eficiente.

Prevenção Especial é destinada ao criminoso em específico, e busca reeducá-lo e ressocializa


ló. Divide-se em:

a) Face negativa: evitar a reincidência, intimidando o condenado.


b) Face positiva: busca a ressocialização do condenado, para que, quando retornar ao
convívio em sociedade, respeite as normas.

Teoria Unificadora
É a adotada no CP, art. 59.

Une as duas teorias, absoluta e unificadora.

A finalidade da pena é retribuir o mal causado pelo agente, desestimular a sociedade de forma
geral a não delinquir, e, também, evitar que o condenado pratique novos crimes.

A pena é castigo, previne a prática de crime, e evita a reincidência.

Teoria Agnóstica ou Negativa


Desacredita da finalidade da pena e do poder punitivo do Estado, em especial no que toca a
ressocialização.

A única função da pena é neutralizar o criminoso, ou seja, afastá-lo do convívio em sociedade.

Princípios da Pena
Princípio da Legalidade
Previsto no Art. 5º, XXXIX, CF e Art. 1º, CP.

Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

A pena deve estar prevista em lei em sentido formal, além de ser criada antes da conduta.

Princípio da Anterioridade
Previsto no Art. 5º, XXXIX, CF e Art. 1º, CP.

Decorre do principio da legalidade.

As penas devem ser criadas antes da conduta, não pode ser aplicada pena antes da vigência da
lei penal.

Princípio da Lei Penal mais favorável


Ou retroatividade da lei pena mais benéfica e ultratividade da lei penal mais benéfica.
Será aplicada a lei penal mais favorável, podendo esta retroagir ou aplicar efeitos ultrativos.

Princípio da Individualização da Pena


A pena será aplicada de acordo com a individualidade do criminoso.

Momentos:

A) Fase Legislativa: o legislador se utiliza da individualização da pena ao estabelecer a


pena mínima e a pena máxima.
B) Fase Judicial: o magistrado utilizará a individualização da pena para aplicá-la ao caso
concreto, da forma mais adequada.
C) Fase Administrativa: trata-se da execução penal. O Estado deve zelar pena devida
aplicação da pena a cada condenado, criando condições para harmônica integração
social do apenado.

O STF declarou inconstitucional o regime integralmente fechado e inicialmente fechado dos


crimes hediondos e equiparados, com base na individualização. A lei não pode estabelecer de
forma abstrata a aplicação do regime fechado. Cabe ao juiz avaliara aplicação da pena no caso
concreto, não ao legislador fazê-lo.

Principio da Personalidade, intransmissibilidade, instranscendência ou responsabilidade


pessoal
Art. 5º, XLV, CF.

A pena não pode passar da pessoa do condenado. Não é possível terceirizar o cumprimento da
pena do condenado.

Os efeitos da condenação, a exemplo, da reparação do dano e decretação do perdimento e


bens, podem ser estendidos, aos sucessores e contra eles executados, até o limite do
patrimônio transferido.

A pena de multa não pode ser transferida aos sucessores do condenado.

Princípio da inderrogabilidade ou inevitabilidade


Presentes a prova de autoria e materialidade da ação penal, a pena não pode deixar de ser
aplicada.

Contudo, existem alguns institutos legais que suavizam este princípio, ex: Suspensão
condicional do processo, Acordo de Não persecução penal, Livramento condicional, transação,
suspensão condicional da pena.

Principio da Intervenção Mínima


A pena deve ser aplicada nas hipóteses estritamente necessárias à tutela do bem jurídico.

Principio da humanidade ou humanização das penas


A pena deve respeitar os direitos fundamentais do condenado. A integridade física e moral do
condenado devem ser respeitadas.

São vedadas pela CF as penas:

a) Pena de morte, salvo no caso de guerra declarada. A pena de morte é executada por
pelotão de fuzilamento – art. 56, CP;
b) Penas de caráter perpetuo, o limite de cumprimento de pena é de 40 anos – art. 75,
CP.
O artigo 75 foi alterado pela lei anticrime, antes dela o máximo era de 30 anos de
pena;

Sumula 715, STF. A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento,
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros
benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.

A sumula continua válida após a alteração do artigo 75, CP pela lei anticrime.

Os benefícios são calculados com base na pena aplicada. Por exemplo, para progressão, de 100
anos de pena, será de seja, 50 anos, logo, passará toda a pena em regime fechado.

Art. 75 do Código Penal e Reflexos na aplicação da Medida de Segurança. Tanto o STF quanto o
STJ entendem que a medida de segurança não pode ter duração ilimitada, até porque, como
sanção penal que é, não pode ter caráter perpétuo, conforme dispõe a Constituição Federal.

Contudo, STF e STJ divergem quanto aos prazos da medida de segurança:

1ª posição: para o STF o prazo aplicável para medida de segurança é o do art. 75, do Código
Penal. Portanto, o STF entendia que o limite máximo do cumprimento da medida de segurança
seria de 30 anos. Com a entrada em vigor da Lei 13.964/19, seguindo esse mesmo
entendimento, será de 40 anos.

2ª posição: para o STJ o tempo máximo para o cumprimento da medida de segurança é o prazo
máximo da pena do crime cometido. Nesse sentido, editou-se a súmula 527: Súmula 527 do
STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da
pena abstratamente cominada ao delito praticado. Ex: homicídio simples. Pena: 06 a 20 anos.
Portanto, tempo máximo de cumprimento da medida de segurança será de 20 anos.

c) Banimento: Não é possível banir um nacional.

d) Trabalho forçado

e) Penas cruéis, desumanas e degradantes


Em respeito a dignidade da pessoa humana.
O art. 45, §2º, LEP veda o emprego da cela escura, pois seria degradante.

Princípio da Proporcionalidade
A pena imposta deve ser suficiente para a retribuição e prevenção do crime.

Orienta o trabalho do magistrado no momento da aplicação da pena concreta, bem como o


trabalho do legislador no momento da fixação da pena em abstrato do crime.

Abolicionismo Penal
Teve seu berço na Holanda, como Louk Hulsman. Posteriormente, na Noruega, Nils Chirstie e
Thomas Mathiesen também impulsionaram seus estudos.

Visa abolir o direito penal, pois na estrutura atual não é útil a nada.
Busca uma nova formatação de direito penal. Para esta linha de pensamento, parte-se da
reflexão de que o direito penal não consegue cumprir sua missão de punir, desestimular e
evitar a prática de crimes, ao contrário, o que se vê e o aumento da reincidência.

Além do mais, percebe-se que a sociedade consegue absorver os efeitos dos delitos, isso
porque grande parte deles não são desvendados, e os criminosos não são punidos, passando a
ser parte da chamada “cifra negra”.

E, ainda, os que são desvendados, somente alguns resultam em condenação. E, os que são
condenados, poucos cumprem integralmente a pena.

Defendem, diante destes argumentos, a abolição do direito penal, ou seja, a descriminalização


de determinadas condutas, a despenalização de alguns comportamentos, mantendo a
condenação somente nos casos de maior gravidade, contudo, atenuando-se a sanção penal.

Ex: art. 28 da lei de drogas continua sendo crime, mas sem pena.

É preferível que o crime seja punido por outros ramos do direito, dando ênfase a proteção e
ressarcimento das vítimas.

Divide-se em dois:

a) Abolicionismo Fenomenologico (Louk Hulsman)

O problema do sistema penal é ele mesmo. O sistema penal e não se presta aos fins a que se
propõe. Por isso, porque a imediata extinção do sistema penal, retirando do Poder Público a
resolução o conflito, transferindo tal incumbência a sistema intermediários, não penais.

b) Abolicionismo Fenomenologico-historicista (Thomas Mathiesen e Nils Chirstie)

Para Thomas Mathiesee Nils Christie, o Sistema penal está baseado na estrutura capitalista,
sendo assim, além de sua abolição, posicionam-se também pena exclusão de todo e qualquer
método de repressão existente na sociedade.

Justiça Restaurativa (contrário de justiça retributiva)


É o oposto da justiça retributiva, pois não visa a finalidade de imposição de pena, mas
reequilibrar a relação entre o ofensor e o ofendido, visando a reparação do mal proporcionado
pelo crime. O crime deixa de ser considerado um ato violador do Estado e passa a ser um ato
atentatório à comunidade, à vitima e ao próprio autor, já que ele também é agredido pela
violação do ordenamento jurídico.

Tem meios distintos de resolução de conflitos, menos rigorosos, permitindo a flexibilização dos
procedimentos, inclusive, realizando-se fora dos domínios dos órgãos da justiça criminal, por
intermédio de núcleos específicos de mediação.

A lei 9099 trouxe alguns institutos de justiça restaurativa, a exemplo a composição civil dos
danos.

Justiça Reparatória
O consenso é firmado perante os órgãos dos sistema de justiça criminal, a exemplo a transação
penal e a suspensão condicional do processo.
Justiça Negociada
Já a Justiça Negociada, oriunda principalmente do sistema penal norte americano, possibilita
que, após a prática da infração penal, o órgão acusador e o autor do fato delituoso discutam as
consequências da prática criminosa, obviamente, se houver admissão de culpa por parte do
agente.

No Brasil existe o chamado plea barguing?

O sistema americano trabalha com o chamado de plea bargaining.

Nele, permitese que o órgão acusador negocie a imputação a ser realizada contra o autor do
fato delituoso (charge bargaining), bem como discuta qual a pena a ser aplicada e todas as
demais consequências advindas da prática do delito (sentence bargaining) ou, até mesmo,
sobre ambas as situações.

No Brasil, embora existam alguns institutos que permitam a negociação entre o órgão
acusador e o agente delitivo, não há no ordenamento jurídico nenhum instituto idêntico ao
clássico plea bargaining norte-americano. Isso porque, a legislação pátria não permite ao
Ministério Público alterar a classificação jurídica do fato delituoso praticado pelo acusado,
ainda que este esteja de acordo, ficando vinculado com as provas e fatos demonstrados na
investigação. No mesmo sentido, a aplicação da pena é tarefa destinada ao magistrado, não
tendo o órgão acusador o poder de modificá-la.

Exemplos de Justiça Negociada no Brasil

O sistema penal Brasileiro, em que pese uas limitações negociais, possui alguns institutos de
Justiça Negociada. Por exemplo, o art. 4º da Lei 12.850/13 permite a realização de colaboração
premiada.

Ainda nesse propósito, é possível se falar em Justiça Negociada no âmbito do Acordo de Não
Persecução Penal. Basicamente, o acordo de não persecução penal (A.N.P.P) é um acordo
entre o MP e o acusado para se evitar a propositura da ação penal.

Teoria das Janelas Quebradas ("Broken Windows Theory”)


Em 1969, Phillip Zimbrado, da Universidade de Standforf, nos Estados Unidos, encabeçou uma
pesquisa no âmbito da psicologia social.

No referido estudo, abandonaram-se dois carros idênticos em via pública, em regiões distintas
dos Estados Unidos.

O primeiro carro foi abandonado no Bronx (bairro pobre) e o segundo carro em Palo Alto
(bairro) rico. No Bronx, rapidamente o carro foi todo danificado e subtraída suas peças,
enquanto em Palo Alto o carro permaneceu intacto. Após, seguindo nas pesquisas, quebrou-se
uma das janelas do carro deixado em Palo Alto, sendo que, rapidamente o carro estava todo
destruído.

A teoria das janelas quebradas teoriza o velho jargão “a ocasião faz o ladrão”. Quando se
percebe que determinado local encontra-se abandonado, deteriorado ou esquecido e
ninguém nada faz para modificar a situação, incentiva-se, ainda que implicitamente, o
surgimento de novos crimes. Ora, se a janela do carro estava quebrada e ninguém se
importa com esta situação, acaba por se estimular a destruição de todo veículo.
Nesse passo, se pequenos delitos são praticados e não há resposta estatal, estimula-se o
cometimento de crimes mais graves.

Teoria dos testículos quebrados ou despedaçados (breaking balls theory)

A criminologia costuma vincular a Teoria dos Testículos Quebrados ou Despedaçados (breaking


balls theory) à Teoria das Janelas Quebradas.

A Teoria dos testículos quebrados ou despedaçados (breaking balls theor) é oriunda da


experiência policial.

Vale dizer, tal teoria afirma que os responsáveis por delitos de pouca gravidade, quando são
investigados com eficácia pela polícia, costumam cessar suas atividades criminosas no local em
que o Estado lhes fiscaliza, migrando para outros lugares, distantes da fiscalização policial, para
que possam continuar praticando suas infrações penais sem serem incomodados pelos
agentes estatais.

Pena Privativa de Liberdade


Conceito
Pena privativa de liberdade é uma das modalidades de sanção penal permitida pela
Constituição Federal (5º, XLVI) e consiste na retirada do direito de locomoção do condenado
por determinado período.

Espécies
Reclusão
Para sanção de crimes.

Comporta regime fechado, semiaberto e aberto como inicial para imposição de pena.

Detenção
Para sanção de crimes. Comporta regime semiaberto e aberto.

É possível a imposição de regime fechado desde que no curso da execução de pena ocorra
regressão de regime. Em sentença não pode ser apenado com regime fechado de forma
inicial.

Prisão Simples
Sanções aplicadas no caso de contravenções penais. Comporta semiaberto e aberto.

Jamais será possível imposição de regime fechado, nem mesmo na hipótese de regressão de
regime.

Regimes de Pena
De acordo com o art. 33, § 1º, do Código Penal, existem três espécies de regime de
cumprimento de pena:

Fechado
A pena privativa de liberdade é executada em estabelecimento de segurança máxima ou
média (art. 33, § 1º, “a”).

Semiaberto
A pena privativa de liberdade é cumprida em colônia penal agrícola, industrial ou
estabelecimento similar (art. 33, § 2º, “b”).
Aberto
A pena privativa de liberdade é executada em casa de albergado ou estabelecimento
adequado (art. 33, § 1º, “c”).

Regras para Fixação do Regime

O Código Penal prevê que sempre que reincidente será aplicado pena com regime inicial
fechado. Contudo, a sumula 269, STF flexibilizou esta previsão, prevendo que, se reincidente
mas a condenação for de pena igual ou inferior a 4 anos, será possível aplicar regime inicial
semiaberto.

Então temos que:

Não reincidente:

Pena igual ou maior que 8 Pena de 4 anos a menos de 8 Pena menor ou igual a 4
anos anos anos
Fechado Semi aberto Aberto
Reincidente:

Pena igual ou maior que 8 Pena de 4 anos a menos de 8 Pena menor ou igual a 4
anos anos anos
Fechado Fechado Semi aberto

Possibilidade de detração penal na sentença


O artigo 387, § 2º, do Código de Processo Penal (incluído pela Lei n.º 12.736/12), permite ao
juiz sentenciante, por ocasião da prolação da sentença condenatória, realizar a detração do
tempo que o acusado permaneceu preso, para fins de fixação de regime de cumprimento de
pena.

§ 2º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de


internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de
determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.
(Incluído pela Lei n.º 12.736, de 2012)

Como a detração penal deve ser feita?

1ª corrente: faz a mera detração por calculo aritmético, e fixa o regime de cumprimento de
pena. Ou seja, faz a detração (supbtrai a pena base) e aplica o regime.

Ex: Condenado a 9 anos. Ficou preso provisoriamente por 2 anos. Temos 7 anos. Aplica 7 anos,
e inicia em semiaberto.

2º corrente: pode ser feita a detração, mas deve ser observado o patamar mínimo para
progressão de regime.

Ex: Condenado a 9 anos. Ficou preso por 2 anos. É necessário verificar se houve cumprimento
de pelo menos 50% da pena para fixação do regime semiaberto. Como não ocorreu, fixa em
fechado.

Regime Inicial de cumprimento de pena para os Crimes Hediondos e Equiparados


Antes da Lei 11.464/07

Antes da Lei n.º 11.464/07, o art. 2º, § 1º, da Lei de Crimes Hediondos, em sua redação
original, estatuía que a pena para esses delitos seria cumprida em regime integralmente
fechado. Dessa forma, não era admitida a progressão de regime, já que a reprimenda deveria
ser cumprida em regime integralmente fechado. Contudo, em 23 de junho de 2006, no
julgamento do HC 82959 SP, o Supremo Tribunal Federal declarou essa norma inconstitucional,
ao fundamento de que feria o princípio da individualização da pena. Vejamos:

PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER. A


progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado,
semi-aberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do
preso que, mais dia ou menos dia, voltará ao convívio social. PENA -
CRIMES HEDIONDOS - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO -
ÓBICE - ARTIGO 2º, § 1º, DA LEI N.º 8.072/90 -
INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Conflita
com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da
Constituição Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento
da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do
princípio da individualização da pena, em evolução jurisprudencial,
assentada a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei n.º
8.072/90. (STF - HC: 82959 SP, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de
Julgamento: 23/02/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 01-
09-2006)

A partir de então, passou-se a permitir a progressão de regime aos condenados pela prática de
crimes hediondos, observando-se a regra do artigo 112 da Lei de Execuções Penais, com
redação anterior a Lei 13.964/19 (progressão de regime, desde que cumprido 1/6 da pena).

Depois da Lei 11.464/07

No ano de 2007, entrou em vigor a Lei n.º 11.464/071 , a qual previa que os condenados por
crimes hediondos e equiparados deveriam iniciar o cumprimento de suas penas em regime
fechado (§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado), alterando-se o mandamento anterior, que determinava que o condenado deveria
cumprir sua reprimenda em regime integralmente fechado (que, como visto acima, já havia
sido declarado inconstitucional pelo STF).

A Lei n.º 11.464, de 29 de março de 2007 estabeleceu a possibilidade de progressão de


regime2 , todavia tal diploma agravou a situação dos condenados a esses delitos, autorizando-
se a progressão de regime somente após o cumprimento de 2/5 da pena (se primários) e 3/5
(se reincidentes).

Assim, tratando-se de novatio legis in pejus, não podia ser aplicada retroativamente para
prejudicar os réus, de modo que aqueles que praticaram crimes hediondos e equiparados em
data anterior à vigência da Lei n.º 11.464/07 alcançariam o requisito objetivo para progressão
de regime após o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena.

Nesse sentido, o STF editou a Súmula Vinculante 26:

Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por


crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n.º 8.072, de 25 de julho de
1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os
requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar,
para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame
criminológico

Ainda no mesmo propósito, o STJ editou a Súmula 471:.

Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos


antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art.
112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de
regime prisional.

Inconstitucionalidade do Regime Inicial Fechado

Passados alguns anos (2013), o Supremo Tribunal Federal foi instado a se manifestar sobre a
obrigatoriedade da fixação do regime inicialmente fechado e, seguindo o mesmo
entendimento expendido no HC 82959 SP, no julgamento do HC 111.840 ES, declarou a
inconstitucionalidade da regra que estabeleceu a obrigatoriedade da fixação do regime
inicialmente fechado para os crimes hediondos e equiparados, baseando-se nos seguintes
argumentos:

a) fere o princípio da individualização da pena, pois retira do juiz a possibilidade de analisar as


circunstâncias do caso concreto para averiguar qual regime melhor se adéqua à situação do
sentenciado;

b) dentre as vedações impostas pela Constituição Federal, em seu artigo 5º, XLIII, não se
encontra o regime de cumprimento de pena integralmente ou inicialmente fechado;

c) o magistrado deve analisar as circunstâncias pessoais do sentenciado e se utilizar dos


parâmetros estabelecidos nos artigos 33 e 59, ambos do Código Penal, para apurar qual a pena
e o regime que deve ser imposto.

Conclusão: Desse modo, após essa manifestação do Supremo Tribunal Federal, os


condenados por crimes hediondos e equiparados podem iniciar o cumprimento de suas
penas em regime aberto, semiaberto ou fechado, a depender das circunstâncias da
individualização da pena extraídas do caso concreto, não existindo mais a obrigatoriedade
da fixação do regime inicial fechado.

Novas balizas para progressão de regime (Lei 13.964/19 – Lei Anticrime)

A nova redação do art. 112 da Lei de Execuções Penais, instituída pela Lei 13.964/19,
estabeleceu novos patamares para progressão de regime aos crimes hediondos e equiparados:

(1) 40% (quarenta por cento) (mesmo que a lei antiga, 2/5) da pena, se o apenado for
condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;

(2) 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:

a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se


for primário, vedado o livramento condicional;

b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa


estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado;

(3) 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime
hediondo ou equiparado;

(4) 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou
equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.

E se o apenado não for reincidente específico na prática de crime hediondo com resultado
morte?

Para o STJ, a progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou


equiparado com resultado morte deve observar o que previsto no inciso VI, a, do artigo 112 da
Lei de Execução Penal, ou seja, o patamar de 50% (cinquenta por cento) (HC 581.315-PR, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 06/10/2020, DJe
19/10/2020).

Fundamentou o Superior Tribunal de Justiça, no HC 581.315/PR que:


“em relação aos apenados que foram condenados por crime hediondo
mas que são reincidentes em razão da prática anterior de crimes
comuns não há percentual previsto na Lei de Execuções Penais, em sua
nova redação, para fins de progressão de regime, visto que os
percentuais de 60% e 70% se destinam unicamente aos reincidentes
específicos, não podendo a interpretação ser extensiva, vez que seria
prejudicial ao apenado. Assim, por ausência de previsão legal, o
julgador deve integrar a norma aplicando a analogia in bonam partem.
No caso (condenado por crime hediondo com resultado morte,
reincidente não específico), diante da lacuna na lei, deve ser observado
o lapso temporal relativo ao primário. Impõe-se, assim, a aplicação do
contido no inciso VI, a, do referido artigo da Lei de Execução Penal,
exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da pena para a
progressão de regime.”

Regime Inicial de cumprimento de pena para o Crime de Tortura (Lei 9.455/97)


Dispõe o art. 1º, § 7º, da Lei de Tortura que:

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do §


2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

Portanto, segundo o § 7º da Lei de Tortura, o regime inicial de cumprimento de pena deve ser
fixado da seguinte maneira:

É possível aplicação de regime inicial fechado ao crime de Tortura?

1ª posição: o Superior Tribunal de Justiça se manifestou, especificamente, sobre a


obrigatoriedade da imposição de regime fechado na Lei de Tortura, aduzindo que a gravidade
e a natureza do crime não autorizam o juiz a fixar regime mais severo do que a pena admite,
devendo o julgador analisar as circunstâncias do caso concreto com base no artigo 33 e
parágrafos do Código Penal, a fim de impor pena consentânea ao condenado.

2. A obrigatoriedade do regime inicial fechado prevista na Lei do Crime


de Tortura foi superada pela Suprema Corte, de modo que a mera
natureza do crime não configura fundamentação idônea a justificar a
fixação do regime mais gravoso para os condenados pela prática de
crimes hediondos e equiparados, haja vista que, para estabelecer o
regime prisional, deve o magistrado avaliar o caso concreto de acordo
com os parâmetros estabelecidos pelo artigo 33 e parágrafos do
Código Penal. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. Habeas
corpus concedido de ofício. AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
N.º 629.324 - SP (2014/0335990-3), julgado em 24/02/2015.

2ª posição: O STF, em voto da lavra do Ministro Marco Aurélio, entendeu que não há nenhum
constrangimento em aplicar o regime inicial fechado para o delito de tortura, ao fundamento
que a Lei n.º 9.455/97, de regência específica (princípio da especialidade), autoriza
expressamente a imposição de regime inicialmente fechado (o qual não se confunde com o
integralmente fechado) e, além disso, a opção realizada pelo legislador está de acordo com a
Constituição, em razão da gravidade do crime de tortura. Frisaram que é possível a progressão
de regime. (HC 123316/SE, rel. Min. Marco Aurélio, 9.6.2015).

Atenção: a primeira posição sobre o tema é mais adequada em relação a doutrina, pois a
obrigatoriedade de previsão em sentença o regime fechado retira do magistrado a
possibilidade da análise do caso concreto.

Regime Inicial de cumprimento de pena para o Tráfico Privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei
11.343/06)

O Tráfico Privilegiado é a hipótese em que o agente primário, de bons antecedentes, que não
se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa é agraciado com o
reconhecimento da minorante do artigo 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/06, a qual acarreta a
redução de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços) da pena.

O art. 112, § 5º, da LEP, introduzido pela Lei 13.964/19, inseriu na legislação o entendimento
jurisprudencial que já estava consolidado, no sentido de que o tráfico privilegiado não é
considerado crime hediondo ou equiparado.

§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste


artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº
11.343, de 23 de agosto de 2006.

Dessa forma, o Tráfico Privilegiado não é considerado crime hediondo, mas crime comum,
sendo certo que a fixação do regime inicial de cumprimento de pena segue as regras do art. 33
e 59, ambos do Código Penal.

Regime Inicial de Cumprimento de Pena para as Organizações Criminosas


A Lei 13.964/19 (pacote anticrime) estabeleceu no art. 2º, § 9º da Lei 12.850/13 (Lei do Crime
Organizado) que:

§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar


organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização
criminosa não poderá progredir de regime de cumprimento de pena ou
obter livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver
elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo
associativo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Este dispositivo ressuscitou o regime integralmente/inicialmente fechado?

Pode-se aventar, ainda, que em razão da vedação à progressão de regime poder-se-ia


desaguar na ressurreição do regime integralmente fechado de cumprimento de pena, pois,
fixado regime fechado ao condenado e vedando-se a sua progressão, este cumpriria a
reprimenda em regime integralmente fechado. Contudo, acreditamos não ser esse o ponto
nevrálgico da discussão.

A nosso sentir, o que o art. 2º, § 9º, da Lei 12.850/13, incluído pela Lei 13.964/19, fez foi criar
um novo requisito para progressão, qual seja: não manter vínculos associativos com a
organização ou associação criminosa. Inexistindo tal situação, a progressão acontecerá
naturalmente, desde que preenchidos os requisitos da Lei de Execuções Penais.

Regime Inicial de Cumprimento de Pena e Colaboração Premiada


O art. 4º, § 7º, II, da Lei 12.850/13 dispõe que:

§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos


ao juiz, para análise, o respectivo termo, as declarações do
colaborador e cópia da investigação, devendo o juiz ouvir
sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor,
oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na
homologação: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (...) II -
adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos
§§ 4º e 5º deste artigo, sendo nulas as cláusulas que violem o critério
de definição do regime inicial de cumprimento de pena do art. 33 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), as
regras de cada um dos regimes previstos no Código Penal e na Lei nº
7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal) e os requisitos de
progressão de regime não abrangidos pelo § 5º deste artigo; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

A lei de organização criminosa, após a Lei 13.964/19, passou a vedar expressamente os


acordos de colaboração premiada que violem as regras de fixação regime e de progressão de
regime de cumprimento de pena estabelecidas no Código Penal e na Lei de Execuções
Penais, considerando-as nulas.

A jurisprudência já se inclinava nesse sentido em decisões prolatadas antes da entrada em


vigor da Lei 13.964/19.

(...) O relator tem o dever de vetar cláusulas que excluam da


apreciação do Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direitos;
estabeleçam o cumprimento imediato da pena ainda não fixada; fixem
regime de cumprimento de pena não autorizado pela legislação em
vigor; avancem sobre cláusulas de reserva de jurisdição; determinem o
compartilhamento de provas e informações sigilosas sem intervenção
da justiça; ou autorizem a divulgação de informações que atinjam a
imagem ou a esfera jurídica de terceiros. (...) Pet 7074 QO/DF, rel. Min.
Edson Fachin, julgamento em 21, 22, 28 e 29.6.2017. (Pet-7074)

A doutrina hoje indica que em razão desta alteração acabaram os acordos de colaboração
premiada, pois não haverão interessados.

Regime Aberto: Prisão Domiciliar


A prisão domiciliar da LEP encontra-se prevista no art. 117. Não se confunde com a prisão
domiciliar como Medida Cautelar Diversa da Prisão prevista no CPP.
A jurisprudência tem admitido regime aberto domiciliar se não existir vagas na Casa do
Albergado (HC 305.450/RS).

Prisão domiciliar para mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência

Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for


mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será
substituída por prisão domiciliar, desde que: I - não tenha cometido
crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II - não tenha cometido
o crime contra seu filho ou dependente.
Histórico (HC 143.641/SP, julgado em 20/02/2018)

Foi ajuizado no STF o HC coletivo 143.641/SP figurando como pacientes “todas as mulheres
submetidas à prisão cautelar no sistema penitenciário nacional” que se encontrassem na
“condição de gestantes, de puérperas ou de mães com crianças com até 12 anos de idade sob
sua responsabilidade”.

O STF reconheceu o pedido e determinou que, em regra, deve ser concedida prisão domiciliar
para todas as mulheres presas que sejam: (1º) gestantes; (2º) puérperas (aquelas mulheres
que deram à luz há pouco tempo); (3º) mães de crianças (isto é, mães de menores até 12 anos
incompletos) ou (4º) mães de pessoas com deficiência.

Essa regra podia ser excepcionada, ou seja, não deve ser autorizada a prisão domiciliar se: (1º)
a mulher tiver praticado crime mediante violência ou grave ameaça; (2º) a mulher tiver
praticado crime contra seus descendentes; (3º) em outras situações excepcionalíssimas, as
quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício.

A regra e as exceções também devem ser aplicadas para as adolescentes que tivessem
praticado atos infracionais.

A regra e as exceções acima explicadas também deveriam ser aplicadas para a mulher
reincidente. Vale dizer, o simples fato de a mulher ser reincidente não fazia com que ela
perdesse o direito à prisão domiciliar.

O art. 318-A do CPP dispõe que a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe
ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar.
Afirma o referido dispositivo que somente não haverá a substituição da prisão preventiva em
domiciliar se a mulher tenha praticado crime com violência ou grave ameaça a pessoa ou que
tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

A doutrina tem entendido que se criou um poder-dever para o juiz, ou seja, somente poderá
prender cautelarmente a mulher que praticou crimes nas formas acima especificadas. Vê-se,
portanto, que o legislador não criou nenhuma outra ressalva, como “outras situações
excepcionalíssimas”, como decidido pelo STF no HC 143.641/SP.

Nesse sentido, o art. 318-A do CPP, incluído pela Lei 13.769/18, recebe severas críticas
doutrinárias, entendendo que o legislador desconsiderou a prática de outros delitos graves
(ex: tráfico de drogas, associação criminosa, etc), que deveriam permitir a manutenção da
prisão, além de criar uma espécie de “substituição automática”, violando os ditames das
medidas cautelares (necessidade, adequação, circunstâncias do caso concreto, etc),
protegendo de forma ineficiente a sociedade.

Desse modo, para que exista uma aplicação consentânea do art. 318-A do CPP, deve-se
interpretá-lo de acordo com o HC 143.641/SP, que prevê que em “outras situações
exepcionalíssimas” pode o juiz, de forma fundamentada, manter a prisão preventiva. (STF. 5ª
Turma. HC 470.549/TO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/02/2019).

Súmula Vinculante 56 do STF

“A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a


manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso,
devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE
641.320/RS.”
O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante 56 que dispõe que “a falta de
estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime
prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE
641.320/RS.”

Como visto, antes de conceder o regime aberto domiciliar, é necessário observar os


parâmetros mencionados no RE 641.320/RS, que são os seguintes:

(1) a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado


em regime prisional mais gravoso;
(2) os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos
regimes semiaberto e aberto, para verificar se são adequados a tais regimes, sendo
aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como colônia agrícola, industrial
(regime semiaberto), casa de albergado ou estabelecimento adequado - regime aberto
- (art. 33, § 1º, alíneas "b" e "c");
(3) no caso de haver falta de vagas, deverão determinar, antes da colocação em regime
aberto domiciliar: a) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas;
b) a liberdade eletronicamente monitorada ao preso que sai antecipadamente ou é
posto em prisão domiciliar por falta de vagas; e c) o cumprimento de penas restritivas
de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto.

Caso não seja possível nenhuma das proposições acima, até que sejam estruturadas as
medidas alternativas, ai sim poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado.

Modificação pelo juízo da execução do regime de pena fixado equivocadamente na


decisão condenatória
Não é possível que o Juízo da Execução de Pena altere o regime de pena fixado
equivocamente por ocasião da sentença condenatória, em razão do respeito à coisa julgado
e também por não existir revisão criminal contra o réu.

Nesse sentido é posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:

ERRO MATERIAL. LATROCÍNIO. REGIME INICIAL ABERTO. In casu, o


paciente foi condenado à pena de 18 anos de reclusão em regime
inicial aberto pela prática do crime tipificado no art. 157, § 3º, do CP
(latrocínio). Então, o juiz de execução determinou o início do
cumprimento da pena em regime fechado ao argumento de que o
regime aberto foi fixado de forma equivocada. Agora a impetração no
writ sustenta, em síntese, que não há como modificar o regime fixado
na sentença condenatória, pois ela transitou em julgado para a
condenação. Para o Min. Relator Napoleão Nunes Maia Filho e o Min.
Gilson Dipp, a fixação do regime aberto para o paciente condenado à
pena de 18 anos de reclusão é mero erro material, possível de correção
mesmo após o trânsito em julgado da condenação. No entanto, a
maioria dos Ministros da Turma aderiu à divergência inaugurada pelo
Min. Jorge Mussi, que, apesar de considerar tratar-se de erro material,
pois o paciente condenado por latrocínio não poderia cumprir a pena
em regime inicial aberto conforme o disposto no art. 33, § 2º, do CP,
reconheceu agora não haver dúvida de que ocorreu a coisa julgada,
pois o MP, como fiscal da lei, deveria ter interposto os embargos
declaratórios, mas deixou de fazê-lo. Observou ainda serem nesse
sentido as decisões do STF. Com esse entendimento, a Turma, ao
prosseguir o julgamento, concedeu a ordem. HC 176.320-AL, Rel.
originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Jorge Mussi, julgado em 17/5/2011. (STJ 176.320 - Inf. 473).

Regime Disciplinar Diferenciado


O Regime Disciplinar Diferenciado, conhecido por R.D.D., foi incluído pela Lei 10.792/03 e
encontra previsão legal no art. 52 da Lei de Execuções Penais.

O Regime Disciplinar Diferenciado não é pena e nem modalidade de regime de cumprimento


de pena, vez que não previsto no art. 33 do Código Penal, mas uma verdadeira hipótese de
sanção disciplinar (art. 53, V, da LEP).

Aplicação de Penas Privativas de Liberdade


O CP adotou o modelo trifásico de Nelson Hungria, sendo as fases:

1ª Fase: O juiz fixará a pena base considerando as circunstancias judiciais previstas no artigo
59, CP (são 8 circunstâncias). Nesta fase a pena será fixada dentro dos limites legais.

2ª Fase: O juiz ira analisar as atenuantes e agravantes, previstas entre os artigos 61 e 66, CP.
Nesta fase a pena deve também permanecer dentro dos limites legais.

3ª Fase: O juiz analisará as causas de aumento e diminuição. A pena, nesta fase, não terá de
obedecer aos mínimos legais.

O juiz deve observar estritamente esta ordem para fixar a pena.

Este critério está em consonância com principio da individualização da pena, art. 5º, XLIV, CF.

Depois do juiz percorrer as três fases, indicará a pena definitivas, e estabelecerá o regime de
cumprimento de pena e a possibilidade de substituição da pena.

1ª Fase: Fixação da pena


Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei


nº 7.209, de 11.7.1984)

II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;


(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de


liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por


outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
A lei não prevê quanto vale cada circunstância judicial para valoração destas que deve ser feita
pelo juiz, com proporcionalidade.

Contudo, há posições sobre como seria a aplicação destas:

1ª Posição dos Tribunais Superiores: aplica-se o quantum de 1/8 para cada circunstância
judicial.

“As consequências do crime consistem no conjunto de efeitos danosos provocados pelo crime.
No caso em tela, essa circunstância mostrouse de gravidade superior àquela esperada como
decorrência da grave ameaça de um crime comum de roubo. Isso porque o crime em análise
acarretou danos psicológicos à genitora da vítima, que inviabilizou até sua presença em juízo, e,
especialmente, a seu filho, que desenvolveu, desde então, síndrome do pânico. Destarte,
malgrado o aumento padrão sugerido da pena-base seja de 1/8, o aumento na fração de 1/6
mostrou-se proporcional à gravidade da circunstância valorada” (HC 401.764/SP, DJe
07/12/2017)

2ª Posição dos Tribunais Superiores: aplicação do quantum de 1/6 para cada circunstância
judicial (AgR no HC 460900 de 2018).

“O entendimento desta Corte firmou-se no sentido de que, na falta de razão especial para
afastar esse parâmetro prudencial, a exasperação da pena-base, pela existência de
circunstâncias judiciais negativas, deve obedecer à fração de 1/6, para cada circunstância
judicial negativa. O aumento de pena superior a esse quantum, para cada vetorial
desfavorecida, deve apresentar fundamentação adequada e específica, a qual indique as razões
concretas pelas quais a conduta do agente extrapolaria a gravidade inerente ao teor da
circunstância judicial.” (AgRg no HC 460.900/SP, j. 23/10/2018)

E se não existir circunstância judicial desfavorável a pena será aplicada no mínimo legal. Fixação da pena
máxima: “Para fixação da pena-base no máximo legal é imprescindível que se proceda à devida
fundamentação, ou seja, que o quantum estabelecido obedeça ao princípio da razoabilidade e que
esteja amparado em dados concretos e nas circunstâncias insertas no art. 59 do Código Penal.” (STJ, 5ª
Turma, HC 102.569)

É possível fixar a pena base no mesmo fundamental, por sua vez, é necessário a devida fundamentação,
ou seja, que o quantum estabelecido esteja de acordo com a razoabilidade, esteja amparado em dados
concretos e nas circunstâncias incertas no art. 59, CP, conforme STF, HC 102569.

As circunstâncias judiciais possuem natureza residual, ou seja, nos só as levaremos em consideração se


elas não se constituírem em qualificadora ou privilégios, causas de aumento ou diminuição, agravantes e
atenuantes. Ex: motivo fútil é circunstâncias desfavorável, e qualificadora no crime de homicídio, por
isso, em homicídio será aplicada como qualificadora.

Caso, contudo, haja duas qualificadoras? Ex: motivo fútil e uso de veneno. Tem algumas posições:

1ª posição: a primeira será considerada como qualificadora, e a segunda será usada na segunda fase,
como circunstância agravante. (STJ, 5ª Turma, AgRg no Resp 1608983, julgamento: 04/10/2016).

2ª posição: a primeira qualificadora é usada para qualificar o crime, e as demais são circunstancias
judiciais desfavoráveis da 1ª fase.

Ambas as posições são juridicamente adequadas e utilizadas.

Circunstâncias judiciais em espécie


Culpabilidade
É o juízo de reprovação do crime.
Não se pode confundir a culpabilidade do art. 59, com a culpabilidade integrante do conceito
analítico de crime.

No conceito analítico do crime é aplicada no terceiro substrato do crime para teoria tripartida
ou pressuposto para aplicação de pena para teoria bipartida. É composta por imputabilidade, a
potencial consciência da ilicitude e a inexigibilidade de conduta diversa são analisadas pelo juiz
para verificar se há culpabilidade para fins da existência de crime.

A culpabilidade do art. 59 do Código Penal é o juízo de reprovabilidade que recai sobre a


conduta do agente. Vale dizer, determinadas condutas podem ser mais ou menos reprováveis
a depender do modo como o agente praticou o delito. Victor Eduardo Rios exemplifica a
culpabilidade do art. 59 da seguinte maneira: “Nos delitos de natureza culposa, por exemplo,
merece pena mais elevada quem age com culpa gravíssima em relação àquele cuja conduta
culposa éde menor intensidade”.

Ex: Lesão Corporal Agredir com soco. Agredir com um pedaço de pau.

A premeditação do crime evidencia maior culpabilidade do agente criminoso, autorizando a


majoração da pena-base. Julgado do STJ: (...) 3. A culpabilidade foi corretamente avaliada
como desfavorável, isso porque a jurisprudência desta Corte é pacífica em afirmar que “a
premeditação e o preparo do crime são fundamentos válidos a exasperar a pena-base,
especialmente no que diz respeito à circunstância da culpabilidade (HC n. 413.372/MS,
Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 15/2/2018) – (AgRg no AREsp n.
1.279.221/SC, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15/8/2018).” (AgRg no
REsp 1.753.304/PA, j. 16/10/2018).

Antecedentes
São os fatos criminosos anteriormente praticados pelo condenado.

Maus antecedentes e Reincidência

Reincidência: na reincidência o indivíduo pratica o crime depois do trânsito em julgado da


sentença condenatória.

Maus antecedentes: são as condenações anteriores com trânsito em julgado que não sirvam
para configurar a reincidência.

Ex1: condenação por fato anterior, mas com trânsito em julgado superveniente - maus
antecedentes.

Ex2: condenação anterior com trânsito em julgado que tenha que ultrapassado o período de
05 (cinco) anos da reincidência (período depurador) - maus antecedentes.

Atenção: bons antecedentes é o contrário de maus antecedentes.

Sobre a reincidência e os maus antecedentes, citamos a abalizada lição de Rogério Greco:

Os antecedentes dizem respeito ao histórico criminal do agente que


não se preste para efeitos de reincidência. Entendemos que, em virtude
do princípio constitucional da presunção de inocência, somente as
condenações anteriores com trânsito em julgado, que não sirvam para
forjar a reincidência, é que poderão ser consideradas em prejuízo do
sentenciado, fazendo com que sua pena-base comece a caminhar nos
limites estabelecidos pela lei penal. Suponhamos que o sentenciado
possua três condenações anteriores com trânsito em julgado e que o
fato pelo qual está sendo condenado foi praticado antes do trânsito
em julgado de qualquer ato decisório condenatório. Não poderá ser
considerado reincidente, pois o art. 63 do Código Penal diz verificar-se
a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de
transitada em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o
tenha condenado por crime anterior. Nesse caso, as condenações
anteriores servirão para atestar seus maus antecedentes

Súmula 444 do STJ

É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.

Condenação que seja considerada reincidência

Condenação que seja considerada reincidência deve ser reconhecida na segunda fase da
aplicação da pena como circunstância agravante (art. 61, I, do CP).

Comprovação da reincidência ou maus antecedentes

Súmula 636-STJ: A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os


maus antecedentes e a reincidência. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 26/06/2019, DJe 27/06/2019.

Violação ao Princípio do “ne bis in idem”

Súmula 241 do STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância
agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.

A utilização da mesma condenação para o reconhecimento de maus antecedentes e da


reincidência acarreta bis in idem.

Não haverá violação ao princípio do “ne bis in idem” se forem utilizadas condenações distintas
e com trânsito em julgado. Ou seja, o réu tem duas condenações anteriores, neste caso, o juiz
poderá utilizar uma para fins de reincidência e outra como circunstância judicial.

Antecedentes e bis in idem

Posição minoritária defende que o reconhecimento dos antecedentes do réu quando da


aplicação da pena acarreta dupla punição pelo mesmo fato. A primeira punição diz respeito ao
crime que ele praticou. A segunda punição diz respeito à elevação da pena ao considerar crime
anterior como antecedente.

Atos Infracionais

Atos infracionais não podem ser considerados para fins de maus antecedentes ou de
reincidência, contudo, servem de fundamento para avaliar a personalidade/periculosidade do
agente para fins de justificar a decretação ou manutenção da prisão preventiva (STJ, 5ª Turma,
RHC 61015, julgamento 18/08/2016)

Conduta Social
Trata-se da atuação do réu na comunidade, no contexto familiar, no trabalho, na vizinhança
(conduta social), ou seja, a forma como se comporta perante a sociedade (STJ - EAREsp
1.311.636-MS)

Não se confunde com reincidência ou maus antecedentes.


Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não
utilizadas para caracterizar a reincidência somente podem ser
valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes
criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar a
personalidade ou a conduta social do agente. STJ. 3ª Seção. EAREsp
1.311.636-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
10/04/2019 (Info 647).

Atenção: mudança jurisprudencial – antigamente admitia-se condenações anteriores para fins


de valorar negativamente a personalidade (STJ AgRg no Aresp 830620, julgado em
08/03/2016.

Residência fixa e emprego fixo

O fato de o réu não possuir residência fixa ou emprego fixo não são elementos hábeis para
valorar negativa a conduta social (STJ 6ª T, HC 226.547, julgamento 02/12/2012) e (STJ 6ª T.
REsp 1541722, julgamento 03/05/2016)

Personalidade
São as características psicológicas da pessoa, a exemplo de seu temperamento e caráter.
Trata-se da individualidade do agente.

Obs1. Corrente minoritária orienta que essa circunstância viola o princípio da culpabilidade,
pois a pessoa não pode ser penalizada por sua personalidade, uma vez que cada um a exerce
da maneira que melhor lhe aprouver.

Obs2. Parte doutrina entende que, para avaliar a personalidade do réu, é necessário que tenha
laudo pericial realizado por profissional competente, uma vez que o juiz não tem condições de
traçar a personalidade do agente. Contudo, a jurisprudência não desnecessário:

STJ: “Este Sodalício entende que, para se atestar a personalidade


negativa do réu, o magistrado deve utilizar-se de elementos concretos
inseridos nos autos, justificantes da exasperação da pena-base
cominada, sendo prescindível a realização de laudo pericial para tal
constatação.” (AgRg no REsp 1.406.058/RS, j. 19/04/2018)

Obs3. Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para
caracterizar a reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a
título de antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar a
personalidade ou a conduta social do agente. STJ. 3ª Seção. EAREsp 1.311.636-MS, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/04/2019 (Info 647).

Motivos
São causas/razões que impulsionam o indivíduo a praticar o crime.

Obs1. Caso os motivos se constituam em qualificadoras ou privilegiadoras, atenuantes ou


agravantes, causas de aumento e diminuição, não devem ser avaliadas na primeira fase.
Lembre-se, as circunstanciais judiciais são residuais. Ex: motivo fútil do homicídio.

Lucro Fácil nos Crimes patrimoniais

O lucro fácil não é fundamento válido para o aumento da pena-base, pois é da natureza do
próprio delito patrimonial (STJ, 5ª T, HC 339257, j 05/05/2016).
Circunstâncias do Crime
São questões que se relacionam com o tempo, lugar e modo de execução do crime.

Obs1. Caso as circunstâncias se constituam em qualificadoras ou privilegiadora, atenuantes ou


agravantes, causas de aumento e diminuição, não devem ser avaliadas na primeira fase.

Obs2. A gravidade abstrata do delito não é fundamento idôneo para valorar negativamente as
circunstâncias, pois já foi levada em conta pelo legislador para fixação das penas mínimas e
máximas.

Consequências do Crime
São os danos causados pelo crime, em especial para vítima e seus familiares.

Obs1. Não pode ser considerado como consequência do crime aqueles resultados que são
próprios do tipo penal. Ex: no homicídio, não pode ser considerado consequência do crime a
morte, pois ela é inerente ao tipo penal.

Obs2. O STJ entende que é possível aumentar a pena-base se a vítima deixou filhos de tenra
idade, porque, nesse caso, ultrapassa os limites do tipo penal (HC 348871, j. 17/05/2016. 6ª T)

Comportamento da vítima
O comportamento da vítima é analisado tanto no momento do estímulo do agente à prática do
crime, quanto na facilitação de sua execução.

Hipóteses de participação da vítima:

1º) vítima neutra: não influi e não contribui para a pratica do crime.

2º) vítima preventiva: É aquela que se previne da prática de delitos.

3º) vítima parcial: É aquela que incentiva ou facilita a prática delitiva. Ex: vítimas provocadoras,
sarcásticas

***O comportamento da vítima pode ser analisada como circunstâncias judicial, como causa
privilegiadora ou de diminuição de pena ou até mesmo justificar uma excludente de ilicitude
ou de culpabilidade.

Ex: violenta emoção logo após injusta provocação da vítima – art. 121, §1ª, CP.

Ex: injusta agressão, ou seja, legítima defesa.

2ª Fase (circunstâncias agravantes e atenuantes)


Não interferem na existência do crime, mas na pena aplicada.

Previsão legal: art. 61 a 66 CP.

Somente serão aplicadas se não forem consideradas elementares, qualificadoras ou


privilegiadoras do crime. Ex: homicídio por motivo fútil.

Quantum do agravamento ou atenuação

Não existe previsão legal do Quantum do agravamento ou atenuação.

Os Tribunais tem entendido que se aplica a fração de 1/6 da pena, tendo em vista que é a
fração mínima para as causas de aumento ou diminuição. É possível, contudo, que em
situações específicas seja aumentado mais que 1/6, desde que fundamentado. (STJ. 5ª T, HC
291414, julgamento 22/09/2016).

Inclusive, para diferenciá-las das causas de aumento e diminuição, verifica-se a existência de


previsão do percentual de aumento ou diminuição. Se houver, não será agravante ou
atenuante.

Súmula 231 do STJ

A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do


mínimo legal.

Da mesma forma, as circunstâncias agravantes não podem superar a pena máxima.

Concurso de Agravantes e Atenuantes

Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado


pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos
determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.

Ou seja, algumas agravantes e atenuantes preponderam sobre as demais.

Havendo concurso entre atenuantes e agravantes, a pena deve aproximar-se do limite


indicado pelas circunstâncias preponderantes:

1ª) motivos determinantes do crime (relevante valor moral ou social)

2ª) relacionadas à personalidade do agente (menoridade relativa – menor de 21 anos na data


dos fatos)

3ª) reincidência.

Compensação entre atenuantes e agravantes

É possível que haja compensação entre atenuantes e agravantes, desde que não haja uma
circunstância preponderante. Se uma for preponderante, não haverá compensação. Se ambas
forem preponderantes, poderá haver compensação.

Ex1: crime cometido contra ascendente (agravante) e reparação do dano (atenuante).


Nenhuma delas é preponderante, podem ser compensadas.

Ex2: reincidência (agravante) e reparação do dano (atenuante). A reincidência é


preponderante, não pode existir compensação.

Ex3: reincidência (agravante) e motivo de relevante valor moral (atenuante). Ambas são
preponderantes, pode haver compensação.

Menoridade relativa

Existem decisões do STJ que afirmam que a atenuante da menoridade relativa sempre irá
prevalecer em relação às agravantes (STJ, HC 325961, julgamento 18/08/2016). Outras
decisões autorizam a compensação da menoridade relativa com a reincidência (STJ, 5ª T, HC
355358, julgamento 22/09/2016).

Compensação entre Confissão e Reincidência

Segundo o STJ, no Recurso Especial Repetitivo n. 1.341.370/MT:


IV - Reconhecida a atenuante, deve ela ser compensada com a
agravante da reincidência, pois a col. Terceira Seção deste Superior
Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso Especial
Repetitivo n. 1.341.370/MT, firmou entendimento no sentido de que "é
possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação da
atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência.”
(AgRg no HC 540325 / SP).

Agravantes
Previsão Legal: art. 61 do Código Penal.

São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime.

O rol de agravantes é taxativo.

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não


constituem ou qualificam o crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

I - a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984)

II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº


7.209, de 11.7.1984)

a) por motivo fútil ou torpe;

b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a


impunidade ou vantagem de outro crime;

c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro


recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;

d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro


meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;

e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações


domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência
contra a mulher na forma da lei específica; (Redação dada pela Lei nº
11.340, de 2006)

g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo,


ofício, ministério ou profissão;

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou


mulher grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da


autoridade;

j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer


calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido;

l) em estado de embriaguez preordenada.


gravantes no caso de concurso de pessoas

Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente


que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a


atividade dos demais agentes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

II - coage ou induz outrem à execução material do


crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua


autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade
pessoal; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou


promessa de recompensa.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Reincidência

Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo


crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no
estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 64 - Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº


7.209, de 11.7.1984)

I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do


cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido
período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de
prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer
revogação; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.


(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Prevalece o entendimento de que as agravantes somente se aplicam aos crimes dolosos,


exceto a reincidência, que pode ser aplicada aos crimes culposos.

Há discussões sobre a possibilidade de aplicação das agravantes aos crimes preterdolosos. Ou


seja, no que há dolo na conduta menos grave, e culpa no resultado agravado. O STJ já admitiu
(Resp 1.254.749 – Inf. 541).

O juiz pode reconhecer de ofício nos crimes de ação penal pública, ainda que o MP não tenha
alegado ou mesmo que tenha pedido absolvição (art. 385 do CPP).

Reincidência
Segundo o art. 63 do CP, haverá reincidência quando o agente comete novo crime, depois de
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior.

Para o exato entendimento de reincidência, é necessário realizar a análise conjunta do art. 63


do Código Penal com o art. 7º da Lei de Contravenções Penais.

É possível realizar o seguinte quadro comparativo para verificação da reincidência.

Condenações pelo delito de porte de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei 11.343/06)
gera Reincidência?

O STJ possuía o seguinte entendimento sobre a reincidência: “a condenação transitada em


julgado pela prática do tipo penal inserto no art. 28 da Lei n. 11.343/06 gera reincidência e
maus antecedentes, sendo fundamento legal idôneo para majorar a pena.”

Contudo, alterou o posicionamento, passando a entender que:

“Cabe ressaltar que as condenações anteriores por contravenções


penais não são aptas a gerar reincidência, tendo em vista o que dispõe
o artigo 63 do Código Penal, que apenas se refere a crimes anteriores.
E, se as contravenções penais, puníveis com pena de prisão simples,
não geram reincidência, mostra-se desproporcional o delito do artigo
28 da Lei 11.343/2006 configurar reincidência, tendo em vista que
nem é punível com pena privativa de liberdade.” (HC 453.437/SP, j.
04/10/2018)

Ou seja, se praticar uma contravenção e um crime, não há reincidência.

Deste modo, se o artigo 28, da lei de drogas não prevê nem mesmo pena, seria
desproporcional configurar a reincidência.

Embora respeitável e jurídico o entendimento, escapa da boa técnica, haja vista que o STJ já
indicou que o previsto no artigo 28, da lei de drogas trata-se de crime, ainda que não haja
pena cominada.

De qual reincidência trata o art. 28 da Lei 11.343/06?

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou


trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II -
prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo. (...) § 3º As penas
previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo
prazo máximo de 5 (cinco) meses. § 4º Em caso de reincidência, as
penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas
pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

Segundo o artigo 28, §§ 3º e 4º, a pena será aplicada pelo prazo máximo de até 05 (cinco)
meses, se o agente for primário, ou pelo prazo máximo de até 10 (dez) meses, se o sujeito for
reincidente.

Portanto, se o acusado for primário, o juiz pode fixar a pena de 01 (um) dia até 05 (cinco)
meses. Se o acusado for reincidente, o juiz pode fixar a pena de 01 (um) dia até 10 (dez)
meses. Como visto, o fato de o agente ser reincidente ou não interfere diretamente no prazo
máximo da reprimenda (se 05 ou 10 meses).

Assim, surgiu a discussão sobre a natureza da “reincidência” tratada no § 4º (se específica ou


genérica).

Para Alice Bianchini, Luiz Flávio Gomes, Rogério Sanches da Cunha e Willian Terra de Oliveira, a
reincidência mencionada no § 4º é a específica, ou seja, a reincidência no art. 28. Transcrevo:

Reincidência específica do § 4º: a reincidência referida neste § 4.º só


pode ser a específica, ou seja, reincidência no art. 28. O sujeito foi
previamente condenado definitivamente pelo art. 28 (ou pelo antigo
art. 16 da Lei 6.368/76), ou aceitou transação penal por esse fato, e
depois vem a praticar alguma conduta contemplada no mesmo artigo
28 da nova Lei. Ou seja: trata-se de um ‘usuário’ reincidente. Para eles
as penas do art. 28 serão aplicadas pelo prazo máximo de dez meses.
[...]
Sintetizando: o usuário (quem tem posse de droga para consumo pessoal) quando
surpreendido pela primeira vez (mesmo que condenado antes por outros crimes: roubo, furto
etc.) cumprirá no máximo cinco meses de pena. Sendo reincidente específico nessa infração,
sua sanção poderá chegar a dez meses.

Respaldando esse entendimento, cita-se o enunciado 118 do FONAJE: “Somente a reincidência


especifica autoriza a exasperação da pena de que trata o parágrafo quarto do artigo 28 da Lei
n.º 11.343/2006 (XXIX Encontro – Bonito/MS)”.

Em sentido contrário, Renato Brasileiro de Lima, com o qual concordamos, leciona que a
reincidência mencionada no § 4º não é a específica, tendo em vista que, quando o legislador
tem a intenção de rotular a reincidência como específica, ele o faz expressamente, sendo
vedado ao intérprete fazer uma interpretação restritiva. Vejamos:

Sem embargo desse entendimento, na medida em que o §4° do art. 28


faz referência apenas à reincidência, sem fazer qualquer distinção
explícita quanto à espécie - se genérica ou específica -, não é dado ao
operador fazer uma interpretação restritiva. Afinal, quando a Lei faz
menção à reincidência específica, sempre o faz de maneira expressa. A
propósito, basta atentar para o quanto disposto no art. 83, inciso V, do
CP, que se refere expressamente à reincidência específica em crimes de
natureza hedionda e equiparada, ou ao art. 44, parágrafo único, da
própria Lei de Drogas, que também faz uso da expressão reincidente
específico. Portanto, diante do silêncio do art. 28, §4°, o ideal é concluir
que a reincidência ali mencionada é genérica.

O Superior Tribunal de Justiça, ao analisar o tema, entendeu que a reincidência prevista no art.
28, § 4º, da Lei 11.343/06 é a reincidência específica.

“Não obstante a existência de precedente em sentido diverso (AgRg no


HC 497.852/RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em
11/06/2019, DJe 25/06/2019) – em que a reincidência genérica era
pela prática dos delitos de roubo e de porte de arma –, em revisão de
entendimento, embora não conste da letra da lei, forçoso concluir que
a reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 é a
específica. Com efeito, a melhor exegese, segundo a interpretação
topográfica, essencial à hermenêutica, é de que os parágrafos não são
unidades autônomas, estando vinculadas ao caput do artigo a que se
referem. Vale dizer, aquele que reincidir na prática do delito de posse
de drogas para consumo pessoal ficará sujeito a penas mais severas –
pelo prazo máximo de 10 meses –, não se aplicando, portanto, à
hipótese vertente, a regra segundo a qual ao intérprete não cabe
distinguir quando a norma não o fez. Desse modo, condenação
anterior por crime de roubo não impede a aplicação das penas do art.
28, II e III, da Lei n. 11.343/2006, com a limitação de 5 meses de que
dispõe o § 3º do referido dispositivo legal” (REsp 1.771.304/ES, j.
10/12/2019).

Outras consequências da reincidência:

A reincidência traz outros reflexos jurídicos, além do agravamento da pena:


1º) permite a fixação de regime inicial de cumprimento de pena mais gravoso (fechado - art.
33, § 2º do CP ou semiaberto – súmula 269 do STJ);

2º) impede a substituição da pena (art. 44, II);

3º) o reincidente em crime doloso não tem direito à suspensão condicional da pena – sursis
(art. 77, I), salvo se condenado apenas a pena de multa (§ 1º do art. 77);

4º) impede a concessão da transação penal (arts. 76, § 2º, I, da Lei nº 9.099/95), da suspensão
condicional do processo (89, caput, da Lei nº 9.099/95) e do acordo de não persecução penal
(art. 28-A do Código de Processo Penal);

5º) interfere no livramento condicional, tanto no requisito objetivo, quanto na possibilidade de


concessão (ex: reincidente específico em crime hediondo ou equiparado) (art. 83 e art. 112 da
LEP). Ou seja, precisa cumprir maior pena;

6º) interfere no requisito objetivo para progressão de regime (art. 112 da LEP);. Ou seja,
precisa cumprir maior pena;

7º) é causa de interrupção da prescrição executória (art. 117, VI);

8º) aumenta em 1/3 o prazo da prescrição executória aumenta (art. 110);

A reincidência não influencia na prescrição da pretensão punitiva. Os item 7 e 8 acima


interfere, na prescrição executória do crime.

Atenuantes (art. 65 e 66 do CP)


As atenuantes estão previstas no art. 65 e 66 do Código Penal:

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação


dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou


maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - o desconhecimento da lei; (Redação dada pela Lei nº 7.209,


de 11.7.1984)

III - ter o agente:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou


moral;

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo


após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes
do julgamento, reparado o dano;

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em


cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de
violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a


autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se
não o provocou.

Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de


circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não
prevista expressamente em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Atenção: o artigo 66 há previsão de atenuante inominada, que será aplicada, ainda que não
prevista no artigo 65, desde que relevante. Deste modo, o rol de atenuantes é exemplificativo.

Confissão espontânea

Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III — ter o agente: d) confessado
espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime.

Hipóteses de Confissão

1ª) Confissão parcial: A confissão parcial é a hipótese em que o réu confessa apenas
parcialmente os fatos narrados na denúncia. Ex.: o réu foi denunciado por roubo com emprego
de arma de fogo. Ele confessa a subtração do bem mediante grave ameaça, mas nega que
tenha utilizado a arma de fogo.

2º) Confissão qualificada: É a hipótese em que o réu confessa a prática fato, contudo, alega
algum motivo que exclui o crime ou o isenta de pena. Ex: matei, mas em legítima defesa.

3º) Confissão retratada É a hipótese em que o acusado inicialmente admite a prática delitiva,
contudo, em momento posterior, se retrata e nega prática.

Quais servem para atenuar a pena?

Se o juiz se utilizou da confissão (seja integral, seja parcial ou mesmo qualificada) como
elemento de convicção para condenar o réu, ela também servirá para atenuar a pena (STJ. 5ª
Turma. HC 450.201/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/03/2019.)

Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do


convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no
artigo 65, III, d, do Código Penal.

Resumo do entendimento Jurisprudencial (STJ):

II - A jurisprudência deste Tribunal Superior é pacífica no sentido de que


a incidência da atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea d, do
Código Penal, independe se a confissão foi integral, parcial,
qualificada, meramente voluntária, condicionada, extrajudicial ou
posteriormente retratada, especialmente quando utilizada para
fundamentar a condenação, como ocorreu na espécie. (AgRg no HC
540.325/SP, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado
em 17/12/2019, DJe 19/12/2019)

Confissão no delito de tráfico de drogas

Segue o entendimento da Súmula 630, STJ. Ou seja, é necessário que o agente não somente
admita que a droga era para fins de uso, mas dizer que era para fins de tráfico.
Isso porque, é muito comum que o agente admita da posse da droga, mas alegue ser para uso
próprio.

Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito


de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera
admissão da posse ou propriedade para uso próprio. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019,
DJe 29/04/2019.

3ª fase (Causas de Aumento e Diminuição de Pena)


São aplicadas na terceira fase da dosimetria da pena, após aplicação das circunstancias
judiciais para definição da pena base, e da verificação das agravantes e atenuantes. A ordem
deve ser seguida sob pena de violação da legalidade.

As causas de aumento podem superar a pena máxima em abstrato e as causas de diminuição


podem reduzir a pena abaixo do mínimo legal.

Ex: pena abstrata de 2 a 5 anos. na primeira fase o juiz aplicou a pena mínima, e na segunda
fase verificou que havia confissão, mas como a pena já estava no mínimo legal, não foi possível
reduzir ainda mais, sendo mantido o mínimo legal. Se o crime é tentado, o juiz aplicará a causa
de diminuição máxima, de 2/3. Assim, a pena será inferior ao mínimo legal.

Concurso de causas de aumento ou de diminuição


Art. 68, parágrafo único, do CP: No concurso de causas de aumento ou
de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um
só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa
que mais aumente ou diminua.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

ATENÇÃO: é comum que nas provas a “parte especial” seja alterada para “parte geral”.
Cuidado com isso.

1ª) Se houver concurso de causas de aumento ou diminuição prevista na parte geral do CP , o


Juiz deverá aplicar todas.

2ª) Se houver concurso de causas de aumento ou diminuição prevista na parte especial do


CP, o Juiz poderá aplicar apenas uma causa de aumento ou diminuição, todavia, aquela que
mais aumento ou mais diminua (art. 68, parágrafo único, do CP). Ele pode, é discricionário.

3ª) Se houver concurso de causas de aumento ou diminuição prevista na parte especial do


CP, o Juiz poderá aplicar todas em cascata (art. 68, parágrafo único, do CP). Ele pode, é
discricionário.

Sempre que aplicar todas, será em cascata. Ou seja, a segunda aplicação de aumento ou
diminuição será sobre a pena diminuída. Os porque, caso contrário, poderá zerar a pena por
completo.

Atenção:

Para o STJ, o deslocamento da majorante sobejante para outra fase da dosimetria, além de
não contrariar o sistema trifásico, é a que melhor se coaduna com o princípio da
individualização da pena. (HC 463.434-MT, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, Terceira
Seção, por unanimidade, julgado em 25/11/2020, DJe 18/12/2020 - Inf. 684).
Ou seja, o juiz, no caso de um crime de roubo, utilizou as majorantes do crime de roubo, e ele
já estava no máximo legal na segunda fase.

O juiz pode pegar a majorante sobejante em outra fase, ou seja, nas circunstâncias judiciais ou
nas causas de aumento ou diminuição.

Súmulas do STJ

Súmula 442: "É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a
majorante do roubo". Súmula 443: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime
de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua
exasperação a mera indicação do número de majorantes.

Penas Restritivas de Direitos


As penas restritivas de direito também são chamadas de penas alternativas.

São as famosas penas substitutivas, pois são aplicadas em substituição às penas privativas de
liberdade.

O juiz fixará a apena privativa de liberdade e verificará se o condenado tem os requisitos para
a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Espécies (art. 43 do Código Penal)


1º) Prestação Pecuniária (art. 45, § 1º) ou prestação de outra natureza (art. 45, § 2º), se houver
aceitação do beneficiário.

2º) Perda de bens e valores (art. 45, §3º).

3º) Prestação de Serviço à comunidade ou a entidades públicas (art. 46).

4º) Interdição Temporária de Direitos, que se dividem em 05 (cinco) subespécies: A) proibição


do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984); B) proibição do exercício de profissão, atividade ou
ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984); C) suspensão de autorização ou de habilitação
para dirigir veículo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984); D) proibição de freqüentar
determinados lugares. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998); E) proibição de inscrever-se em
concurso, avaliação ou exame públicos. (Incluído pela Lei nº 12.550, de 2011).

5ª) Limitação de Final de Semana.

Natureza Jurídica
São penas autônomas porque são uma das espécies de pena e não podem ser cumuladas com
as privativas de liberdade

São penas substitutivas porque substituem as penas privativas de liberdade, ou seja, elas não
são aplicadas diretamente, mas em substituição as penas privativas de liberdade.

Penas Restritivas de Direito Previstas no art. 28 da Lei de Drogas


No Código Penal, as penas alternativas são autônomas e aplicadas em substituição à pena
privativa de liberdade, desde que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos (art. 44 do
Código Penal).
A prestação de serviços à comunidade prevista no artigo 28 da Lei n.º 11.343/06 não é
aplicada em substituição à pena privativa de liberdade (até porque não há previsão de pena
privativa de liberdade). No caso do artigo 28, esta pena é aplicada diretamente.

No Código Penal, caso haja descumprimento injustificado das penas alternativas, o artigo 44,
§ 4º, do aludido diploma prevê a conversão da pena restritiva de direito em privativa de
liberdade.

No caso do artigo 28, não é possível a conversão da prestação de serviço à comunidade em


pena privativa de liberdade (até porque não há previsão de pena privativa de liberdade).
Aquele que descumpre injustificadamente a prestação de serviço à comunidade estará
sujeito, sucessivamente, à admoestação verbal e multa (art. 28, § 6º, da Lei n.º 11.343/06).

No Código Penal, a prescrição da pena de prestação de serviços à comunidade segue o prazo


da pena privativa de liberdade que foi por ela substituída (art. 109, parágrafo único, do Código
Penal). No artigo 28 da Lei n.º 11.343/06, as penas prescrevem em 02 (dois) anos (art. 30 da
Lei n.º 11.343/06).

Duração
Prestação de Serviço à comunidade ou a entidades públicas, a Interdição Temporária de
Direitos e a Limitação de Final de Semana
Devem ter a mesma duração da pena privativa de liberdade (art. 55 do Código Penal).

Obs. A prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas podem ser cumpridas em


tempo menor, desde a pena seja superior a 01 (um) ano e o seu cumprimento nunca seja
inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. Ex: se a pena for de 3 anos, poderá
ser cumprida em 1 ano e 6 meses.

Prestação Pecuniária e a Perda de bens e valores

Prestação Pecuniária e a Perda de bens e valores não precisam seguir o tempo da pena
privativa de liberdade.

Requisitos para substituição (art. 44 do Código Penal)


1º) Pena privativa de liberdade aplicada não superior a 04 (quatro) anos. Se o crime for
culposo, qualquer que seja a pena aplicada.
Refere-se à pena concretamente aplicada e não a pena abstrata prevista no tipo penal. Ou
seja, deve ser a pena fixada para aquele condenado de forma concreta, não o que se refere ao
indicado no tipo pena.

Atenção: Isso ocorre somente para crimes dolosos. No caso de crimes culposos, independerá
da pena.

Deve ser levado em consideração as regras do concurso material (soma das penas), concurso
formal e continuidade delitiva (exasperação da pena). Ou seja, imagine que o condeado
praticou três crimes em concurso material, sendo condenado no primeira a 1 ano, no segundo
a 1 ano e 6 meses, e no terceiro a 1 ano, logo, resulta 3 anos e 6 meses, sendo cabível a
substituição.

Inovação do Código de Trânsito (inclusão do art. 312-B do CTB pela Lei nº 14.071/2020)
Art. 312-B. Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art. 303 deste Código não se
aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal).

Vigência: após decorridos 180 (cento e oitenta) dias. Quais são os crimes este dispositivo se
refere?

O legislador teve a intenção de tratar de forma mais severa os crimes de homicídio e lesões
corporais culposas na direção de veículo automotor em que o indivíduo estivesse conduzindo
sob influência do álcool ou substância de efeito análogo.

Assim, o art. 312-B do CTB surgiu com intuito de vedar a substituição da pena privativa de
liberdade em restritiva de direito.

Contudo, ao fazê-lo o dispositivo instituiu que, aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no §
2º do art. 303 deste Código não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-
Lei nº 2.848. Em outros termos, a novel disposição orienta que, para substituição da pena,
basta o cumprimento dos requisitos dos incisos II e III do art. 44 do CP.

Contudo, o inciso II, não se aplica aos crimes culposos.

Desse modo, para a substituição da pena, bastaria o cumprimento do inciso III do art. 44.

Assim, embora o legislador tenha querido proibir a substituição da pena privativa de liberdade
em restritiva de direito aos referidos delitos, pela literalidade do art. 312-B do CTB não
conseguiu fazê-lo.
A doutrina tem afirmado que esse erro não pode ser suprido mediante interpretação extensiva
porque se trata de norma que restringe direitos.

2º) Crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa (art. 44, I, do Código Penal)
Esse requisito deve ser observado para os crimes dolosos. Ex: roubo, extorsão.

Exemplo: no caso de morte culposa no transito, o resultado é a morte, logo, como não querida
a violência, apesar de ocorrida, será cabível a substituição.

Substituição de pena em crimes de menor potencial ofensivo

Há doutrina entendendo que é possível a substituição de pena em crimes de menor potencial


ofensivo, mesmo com violência ou grave ameaça a pessoa, tendo em vista que não faria
sentido não autorizar esse benefício, uma vez que é possível a realização de transação penal e
suspensão condicional do processo, nos quais muitas vezes sequer se maneja ação, e não
permitir a substituição da pena. Ex: lesão corporal de natureza leve, ameaça.

Violência for direcionada à coisa

Se a violência for direcionada à coisa, não há óbice para a substituição de pena. Ex: furto com
rompimento de obstáculo.

Sumula 588, STJ e Lei Maria da Penha

No âmbito da Lei Maria da Penha (violência doméstica e familiar), não é cabível a substituição
da pena, consoante entendimento pacificado dos tribunais superiores (STJ AgRg no Resp
155673). Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. (Súmula 588, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
13/09/2017, DJe 18/09/2017).

Cai muito em prova!

Violência Imprópria

Violência Imprópria é aquela que reduz a capacidade de resistência da vítima. Ex: boa noite
Cinderela.

1ª posição: entende que é possível a substituição da pena no caso de violência imprópria, uma
vez que não se trata de violência real. Essa posição tem prevalecido. Ex: roubo com “boa noite
cinderela.

2ª posição: a violência imprópria é uma das formas de violência, motivo pelo qual impede a
substituição da pena (NUCCI).

A primeira posição é a que tem prevalecido.

Crimes Militares

Não cabe substituição da pena nos crimes militares, sendo vedada a analogia na espécie (STF
HC 91.155 e STJ 286.802).

3º) Réu não reincidente em crime doloso, salvo se a medida for socialmente recomendável e
não ocorra a reincidência específica
A) Reincidência específica: é a prática do mesmo crime.
B) Reincidente genérico: a reincidência genérica não é motivo suficiente, por si só, para o
indeferimento da substituição da pena privativa de liberdade. É possível a substituição da pena
se a medida for socialmente recomendável e o réu não for reincidente específico (STJ AgRg nos
EDcl no Aresp 279.042/SP).

Para o STJ, a reincidência específica tratada no art. 44, § 3º, do Código Penal somente se
aplica quando forem idênticos, e não apenas de mesma espécie, os crimes praticados (AREsp
1.716.664-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
25/08/2021).

4º) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade, bem como os motivos


e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente (princípio da suficiência).
O STJ já decidiu que, havendo apenas uma destas circunstâncias judiciais desfavoráveis, já é o
suficiente para impedir a substituição da pena (STJ HC 255.115).

Substituição da pena no tráfico de drogas

O § 4º vedava a substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos.

Além disso, fundamentava-se, também, a não substituição da pena na incompatibilidade entre


esse instituto e a necessidade de imposição de regime inicial fechado aos condenados pela
prática de crimes hediondos e equiparados, consoante normatização do artigo 2º, § 1º, da Lei
n.º 8.072/90.

Contudo, no HC 97.256/RS, de Relatoria do Min. Ayres Britto, o STF declarou incidentalmente


a inconstitucionalidade da vedação à substituição da pena privativa de liberdade ao delito de
tráfico de drogas, por ferir o princípio da individualização da pena, uma vez que cabe ao
magistrado, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, avaliar a viabilidade ou não
da substituição da pena, verbis:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ART. 44 DA LEI 11.343/2006:


IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA (INCISO XLVI DO ART. 5º DA CF/88).
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA (HC 97.256, Rel. Min. Ayres Britto,
Plenário, Dje 16.12.2010).

Posteriormente, o Senado Federal editou a Resolução n.º 05/2012 e suspendeu a execução


da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, prevista no § 4º do art.
33 da Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006, em atenção à decisão prolatada pela Suprema
Corte.

Ademais, também foi declarada inconstitucional a norma que determinava o regime


inicialmente fechado para os crimes hediondos e equiparados (artigo 2º, §1º, da Lei n.º
8.072/90).

Dessa maneira, afastadas as vedações previstas na Lei de Drogas e na Lei de Crimes


Hediondos, as quais fundamentavam a não substituição da pena corporal por restritiva de
direitos, caíram por terra os motivos outrora utilizados.
Portanto, conclui-se que, em tese, existe a possibilidade de substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, desde que preenchidos os requisitos do artigo 44 do Código
Penal.

Diga-se que, apesar de o Senado ter suspendido a execução da expressão “vedada a conversão
em penas restritivas de direitos”, prevista no § 4º do art. 33 da Lei n.º 11.343, de 23 de agosto
de 2006, esqueceu-se de fazê-lo em relação ao artigo 44 da Lei n.º 11.343/06 (Art. 44. Os
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o , e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis
de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em
restritivas de direitos). Contudo, esse lapso não afeta a possibilidade de substituição da pena.

Aliás, o Supremo Tribunal Federal, de forma recorrente, tem autorizado a substituição da pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos. A propósito, no Informativo n.º 821 (11 a 15
de abril de 2016), referendou novamente a possibilidade. Vejamos:

Tráfico de entorpecentes: fixação do regime e substituição da pena.


Não se tratando de réu reincidente, ficando a pena no patamar de
quatro anos e sendo as circunstâncias judiciais positivas, cumpre
observar o regime aberto e apreciar a possibilidade da substituição da
pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. Com esse
entendimento, a Primeira Turma, por maioria, concedeu “habeas
corpus” de ofício para garantir ao paciente, condenado à pena de um
ano e oito meses de reclusão pela prática do delito de tráfico de
drogas, a fixação do regime inicial aberto, bem como a substituição da
reprimenda por duas penas restritivas de direito, a serem definidas
pelo juízo da execução criminal. O Colegiado ressaltou não haver
circunstâncias aptas a exasperar a pena. Vencidos os Ministros Rosa
Weber (relatora) e Marco Aurélio. Ambos concediam a ordem de oficio,
mas para efeitos distintos. A relatora, para determinar que o
magistrado de 1º grau procedesse a nova avaliação quanto ao regime
inicial de cumprimento da pena e à substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos. O Ministro Marco Aurélio, para fixar
o cumprimento da pena em regime aberto e reconhecer o direito à
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
HC 130411/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min.
Edson Fachin, 12.4.2016. (HC-130411)

Substituição da Pena para crimes hediondos e equiparados

A Lei de Crimes Hediondos não veda expressamente a possibilidade de substituição da pena,


sendo assim, é possível a substituição desde que presentes os requisitos legais.

Formas de Aplicação (art. 44, § 2º, do CP)


1º) Se a condenação for igual ou inferior a 1 ano: a substituição pode ser feita por multa ou por
uma pena restritiva de direitos.

2º) Se a condenação for superior a 1 ano: a pena privativa de liberdade pode ser substituída
por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas penas restritivas de direitos.
Conversão em Pena Privativa de Liberdade (art. 44, § § 4º e 5º, do CP)
A pena restritiva de direitos se converte em pena privativa de liberdade sempre que houver
descumprimento injustificado (art. 44, § 4º, do CP).

E a multa? Pode ser convertida? A pena de multa não pode ser convertida em pena privativa
de liberdade (art. 51 do CP).

Ampla Defesa

Para que a pena alternativa seja convertida em pena privativa de liberdade é necessário a
observância da ampla defesa e contraditório, sob pena de nulidade da decisão.

Atenção para Súmula 639 do STJ: Não fere o contraditório e o devido processo decisão que,
sem ouvida prévia da defesa, determine transferência ou permanência de custodiado em
estabelecimento penitenciário federal.

O condenado pode escolher qual pena quer cumprir, se a pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos?

Não é possível que haja conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade a
pedido do condenado, em razão de ele preferir cumprir esta última.

A substituição da pena representa uma manifestação de soberania do Estado e sua escolha


não pode ficar condicionada aos interesses do condenado (STJ Resp 1.524.484/PE - Inf. 584).

E se sobrevier nova condenação (art. 44, § 5º, do CP)?

Será mantida, se compatível a manutenção de cumprimento da substitutiva junto a outra


pena.

Caso sobrevenha nova condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da
execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao
condenado cumprir a pena substitutiva anterior.

Para o STJ, "não há que se cogitar de reconversão em pena reclusiva quando se revelar
possível a execução simultânea ou sucessiva das medidas alternativas impostas ao réu." (STJ
193.041/DF).

Penas restritivas de Direito em Espécie


Prestação Pecuniária
Conceito
É o pagamento em dinheiro à vítima, seus dependentes ou entidade pública ou privada com
destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 01 (um) salário mínimo, nem
superior a 360 (trezentos e sessenta) salário mínimos.

O valor será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se


coincidentes os beneficiários (art. 45, § 1º, do CP).

Para o STJ, a prestação pecuniária prevista no art. 45, §1º, do Código Penal pode ser
compensada com o montante fixado com fundamento no art. 387, IV, do Código de Processo
Penal (reparação mínima dos danos), ante a coincidência de beneficiários (REsp 1.882.059-
SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 19/10/2021 – Inf.
714).
Finalidade
Reparação dos danos.

Destinatários
Vítima, seus dependentes ou entidade pública ou privada com destinação social.

Valor
Não inferior a 01 (um) salário mínimo, nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários
mínimos.

Prestação Inominada (art. 45, § 2º, do CP).


É possível que o beneficiário realize prestação de outra natureza. Ex: entrega de cestas básicas,
entrega de caixas de leite, etc.

Obs. Há discussão doutrinária sobre a legalidade do dispositivo, tendo em vista que a


expressão "prestação inominada" é incerta e imprecisa.

Perda de Bens e Valores (art. 45, § 3º)


Conceito
Encontra previsão na Constituição Federal, no art. 5º, XLVI, "b", sendo entendido como a perda
de bens e valores pertencentes aos condenados.

Quais bens e valores devem ser perdidos?

1º corrente: são os bens e valores adquiridos de forma lícita (prevalece na doutrina).

2º corrente: são os bens e valores adquiridos de forma ilícita. Quanto a este posição, existe
uma crítica no sentido de que a perda de bens e valores acrescidos ilicitamente já perdidos
automaticamente como efeito da sentença.

Destinatários
Em regra, para o Fundo Penitenciário Nacional. Contudo, a legislação penal especial pode
indicar destinatário diverso (45, § 3º, do CP).

Valor do Teto
O valor terá como teto o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou
por terceiro em razão da prática do crime (aquele que for maior), conforme dispõe o art. 45, §
3º, do CP.

Prestação de Serviços à comunidade ou outras entidades (art. 46, § 1º, do CP)


Conceito
Encontra respaldo no art. 5º, XLVI, "d", da CF/88 e, segundo o art. 46, § 1º, do CP, consiste na
atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.

Cabimento
Segundo o art. 46, caput, do CP, é aplicável às condenações superiores a 06 (seis) meses de
privação da liberdade.

Locais de Cumprimento
A P.S.C. será cumprida em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros
estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais (art. 46, § 2º, do C).
Quais atividades o condenado irá desenvolver?
As atividades serão atribuídas de acordo com a aptidão do condenado (art. 46, § 3º, do CP). Ex:
sabe tocar violão – aulas de música para crianças.

Qual a carga horária de trabalho?


A P.S.C deve ser cumprida à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação, fixadas
de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho (art. 46, § 3º).

O condenado pode antecipar o cumprimento da P.S.C.?


A prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas podem ser cumpridas em tempo
menor, desde a pena seja superior a 01 (um) ano e o seu cumprimento nunca seja inferior à
metade da pena privativa de liberdade fixada (art. 46, § 4º, do CP).

Ex: se a pena for de 3 anos, poderá ser cumprida em 1 ano e 6 meses

Limitação de Final de Semana


É a obrigação de permanecer aos sábados e domingos, por 05 (cinco) horas diárias, em casa do
albergado ou em outro estabelecimento adequado (art. 48 do CP).

Quais são as atividades desenvolvidas durante a limitação?


Durante a permanência no local designado, poderão ser ministrados cursos e palestras ou
atribuídas atividades educativas ao condenado (art. 48, p.ú., do CP).

Qual o tempo de duração?


Terá a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída (art. 55 do CP).

Suspensão Condicional Da Pena – SURSIS


Se preenchidos os requisitos legais, pode o juiz liberar o condenado do cumprimento da pena
privativa de liberdade.

Ou seja, o sentenciado não irá iniciar o seu cumprimento, ficando em liberdade, durante o
chamado período de prova. Se cumpridas todas as condições impostas, terá sua punibilidade
extinta.

Natureza jurídica da suspensão condicional da pena


Trata-se de uma medida penal restritiva da liberdade, com natureza repressiva e preventiva.

Direito Subjetivo do réu


Prevalece o entendimento que o sursis é direito subjetivo do réu, ou seja, preenchidos os
requisitos objetivos e subjetivos, sua aplicação é obrigatória.

A aceitação pelo condenado que é facultativa.

Momento da aplicação
Em regra é aplicado durante o processo de conhecimento/na sentença (ou acórdão), nos
termos do art. 157 da LEP.

Excepcionalmente, pode ser aplicado na execução de pena quando cessar o motivo do


impedimento.
Sistemas
1º) Sistema Franco-belga (europeu continental)
Por esse sistema, o acusado é condenado, mas a execução de pena é suspensa. É o sistema
adotado.

2º) Sistema Anglo-americano (probation system)


Por esse sistema o juiz irá reconhecer a culpabilidade do acusado, contudo, não aplicará a
pena, suspendendo-se a ação penal. Nesse modelo não haverá sentença condenatória.

3º) Sistema do Probation of first offenders act


Por esse sistema o juiz não reconhece a culpabilidade, todavia, suspende a ação penal durante
o período de prova. Esse sistema é o adotado para suspensão condicional do processo (art.
89 da Lei 9099/95).

Requisitos do Sursis
Objetivos
Natureza da pena
Segundo o art. 77, caput, do CP, para suspensão condicional da pena, é necessário que haja
condenação a pena privativa de liberdade (reclusão, detenção ou prisão simples).

Quantidade da pena
Segundo o art. 77, caput, do CP, a pena privativa de liberdade imposta deve ser não superior a
02 (dois) anos (art. 77, caput, do CP).

Temos exceções:

Primeira Exceção (art. 77, § 2º, do CP): É possível o sursis se a pena privativa imposta não
superar a 04 (quatro), nos casos de condenado maior de setenta anos de idade, ou, que por
razões de saúde que justifiquem a suspensão.

Segunda exceção: Exceção nos Crimes Ambientais. O art. 16 da Lei 9.605/98 prevê que: “nos
crimes previstos na lei de crimes ambientais, a suspensão da pena pode ser aplicada nos casos
de condenação a pena privativa de liberdade não superior a 03 (três) anos.”

Portanto:

Regra Maior de 70 anos ou Crimes ambientais


condições de saúde
Pena igual ou inferior a 3 Pena igual ou inferior a 4 Pena igual ou inferior a 3
anos anos anos

Reparação do dano no sursis especial


Reparação do dano no sursis especial, salvo impossibilidade de fazê-lo.

Subjetivos
O condenado não seja reincidente em crime doloso (art. 77, I)
Observação: Se a condenação anterior foi aplicada somente pena de multa, é possível o sursis
(art. 77, § 1ª).

A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os


motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício (art. 77, II)
O juiz verificará se essas circunstancias autorizam a concessão do SURCIS.
Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 do Código (art. 77, III)
Se for cabível substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, não se
aplica o sursis.

Espécies
Cai muito em prova.

Sursis Simples (arts. 77 do CP)


No primeiro ano, o condenado presta serviços à comunidade ou se submete à limitação de
final de semana (art. 78, § 1º, do CP).

Cabimento: É cabível nos casos em que o condenado não tenha reparado, injustificadamente,
o dano ou quando as circunstâncias do art. 59 do Código Penal forem desfavoráveis.

Sursis Especial (art. 78, § 2º, do CP)


Nessa modalidade, o condenado não precisa prestar serviços à comunidade e não se submete
à limitação do final de semana no primeiro ano do período de prova.

Cabimento: é cabível nos casos em que o condenado tenha reparado o dano, salvo motivo
justificado, e as circunstâncias do art. 59 do CP lhe sejam favoráveis (art. 78, § 2º, do CP).

Sursis Etário (art. 77, § 2º, do CP)


A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa,
desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade.

Tempo da suspensão: 04 a 06 anos.

Atenção: é concedido para penas cominadas iguais ou inferiores a 4 anos.

Sursis Humanitário (arts. 77, § 2º, segunda parte)


A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa,
desde que razões de saúde justifiquem a suspensão.

Tempo da suspensão: 04 a 06 anos.

Condições de cumprimento do Sursis para extinguir a pena


Quais as condições o condenado deve cumprir durante o Sursis?

Existem condições legais e judiciais a serem observadas durante o período de prova.

Legais
- Sursis Simples: no primeiro ano do período de prova deverá o condenado prestar serviços à
comunidade ou se submeter à limitação de fim de semana (art. 78, § 1º).

- Sursis Especial: três condições previstas no art. 78, § 2º, do CP:

a) proibição de frequentar determinados lugares;

b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;

c) comparecimento pessoal e obrigatório ao juízo, mensalmente, para informar e


justificar suas atividades (art. 78, §2º).

Judiciais
A sentença poderá especificar outras condições a que fique subordinada a suspensão, desde
que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado (art. 79 do CP).
Período de prova
Período que fica condicionado às obrigações do SURSIS.

Regra para os crimes: período de prova de 02 a 04 anos (art. 77 do CP)

Regra para contravenções : período de prova de 01 a 03 anos (art. 11 da Lei de Contravenções


Penais)

Sursis etário e o humanitário: período de prova de 04 a 06 anos (art. 77, § 2º)

Crime Contravenções
Maior de 70 Crime
anos ou ambiental
doente
Pena Menor ou igual Menor ou igual a 2 Menor ou Menor ou
a 2 anos anos igual a 4 anos igual a 3 anos
Período de 2 a 4 anos 1 a 3 anos 4 a 6 anos 2 a 4 anos
prova

Revogação
Revogação Obrigatória (art. 81, I a III)
São aquelas que necessariamente revogam a suspensão condicional da pena.

Condenação, em sentença irrecorrível, por crime doloso


O que revoga a sursis é a condenação no curso do período de prova e não a prática de crime.
Então, se o crime foi praticado antes ou durante o período de prova é desimportante, desde
que a condenação ocorra durante o período de prova.

Atenção: Condenação por pena de multa. Prevalece o entendimento de que condenação por
pena de multa não tem o condão de revogar o sursis.

Frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua sem motivo justificado, a
reparação do dano
Deixa de pagar multa injustificadamente.

Descumpre a condição do art. 78, § 1º, do Código Penal


O art. 78, § 1º, do CP trata da prestação de serviços à comunidade ou limitação de fim de
semana durante o primeiro ano do sursis.

Revogação Facultativa (art. 81, § 1º)


São aquelas que podem ou não revogar o benefício e encontram-se previstas no art. 81, § 1º,
do CP.

Descumprimento de qualquer outra condição imposta.


Atenção: Se o descumprimento for da prestação de serviços à comunidade ou limitação de
fim de semana durante o primeiro ano do sursis, será causa de revogação obrigatória.

O agente é irrecorrivelmente condenado, durante o período de prova, por crime culposo ou por
contravenção penal, a pena privativa de liberdade ou restritiva e direito
Se a condenação foi por pena de multa, não se revoga.

Nos casos de revogação facultativa, a lei permite que o juiz prorrogue o período de prova até o
máximo (caso este não tenha sido fixado – art. 81 § 3º) ou exaspere as condições impostas
(art. 707, p. ú., do CPP) ao invés de revogar o sursis.
Prorrogação do período de prova
Hipóteses:

1ª) se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção penal, considera-
se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo (art. 81, § 2º, do CP).

O processo pode ser por infração penal praticada antes ou durante o período de prova.

Segundo o STJ, A prorrogação é automática, não dependendo de decisão judicial (STJ HC


175.758 e REsp 1107269).

2ª) Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de
prova até o máximo, se este não foi o fixado (art. 81, §3º).

Extinção da punibilidade
Findo o período de prova sem que tenha havido revogação do sursis, haverá extinção da
punibilidade.

Livramento Condicional
Art. 83, CP e 131 e seguintes da LEP

Conceito
Incidente de execução penal, antecipando-se a liberdade mediante certas condições
conferidas ao condenado, que cumpre parte da pena privativa de liberdade que lhe foi
imposta.

A conceção do Livramento Condicional é direito subjetivo do reeducando? Entende-se que sim,


não se trata de faculdade do juiz, mas de dever, se preenchidos os requisitos.

Trata-se de decorrência do sistema progressivo. Mas, embora o seja, não pressupõe passagem
por todos os regimes de pena privativa de liberdade.

Requisitos Objetivos
1- A pena imposta deve ser privativa de liberdade.
2- A pena imposta deve ser igual ou superior a 2 anos.
Em caso de processos diversos, o juiz deve somas as penas impostas, para verificação do
requisito – Art. 84, CPP;

3- Cumprimento de parcela da pena.


Sendo:
Obs1. O que é reincidência específica em crime hediondo ou equiparado? Significa ser
reincidente em crimes de natureza hedionda ou equiparada, independentemente de qual tipo
penal foi infringido ou qual bem jurídico tutelado foi lesionado.

Obs2 Mudanças na Lei de Execução Penal que refletem no livramento condicional (art. 112 da
LEP) No quadro acima já estudamos que o condenado (primário ou reincidente) pela prática de
crime hediondo ou equiparado com resultado morte não pode ser beneficiado com o
livramento condicional (art.112, VI e VIII, da LEP, incluído pela Lei 13.964/19). Neste tópico,
aprofundaremos o estudo. Vejamos a alteração:
Alterações no livramento condicional após Lei Anticrime
(1ª) não terá direito ao livramento o agente primário que for condenado pela prática de
crime hediondo ou equiparado com resultado morte.

Ex: homicídio qualificado, tortura seguida de morte, latrocínio.

Antes da Lei Anticrime era possível a concessão de livramento condicional ao agente primário,
desde que cumprido mais de 2/3 da pena. A vedação se dava ao reincidente específico em
crime hediondo.

A partir da Lei 13.964/19, o agente primário que for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado com resultado morte não terá acesso ao livramento condicional.

Trata-se, portanto, de nova lei que piora a situação do réu (novatio legis in pejus), sendo
vedada a sua aplicação retroativa.

(2º) não terá direito ao livramento o agente reincidente em crime hediondo ou equiparado
com resultado morte.

Antes da Lei anticrime já não era possível a concessão de livramento condicional ao agente
reincidente específico em crime hediondo ou equiparado, em razão da vedação do art. 83,
inciso V, do Código Penal.

Nesse ponto, então, não houve mudanças práticas, o que significa dizer que não é uma novatio
legis in pejus, uma vez que a vedação ao livramento, nestas hipóteses, já era prevista . Assim, a
ela não se aplica o princípio da irretroatividade.

Vedação ao Livramento Condicional e Progressão de Regime aos integrantes de organização


criminosa ou condenados por crimes praticados por intermédio de organização ou associação
criminosa
Vedação ao Livramento Condicional e Progressão de Regime aos integrantes de organização
criminosa ou condenados por crimes praticados por intermédio de organização ou associação
criminosa (art. 2º, §9º, da Lei 12.850/13).
O art. 2º, § 9º, da Lei 12.850/13 veda à concessão de livramento condicional, de progressão de
regime e de outros benefícios prisionais ao condenado por integrar organização criminosa ou
por crime praticado por intermédio de organização ou associação criminosa, se houver
elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo (societas sceleris).

Este dispositivo legal visa endurecer o tratamento penal do sujeito que, mesmo condenado
nas situações acima descritas, insiste em manter o vínculo associativo com a organização ou
associação criminosa.

Assim, a Lei Anticrime trouxe nova hipótese de vedação à concessão de livramento


condicional, qual seja: se o condenado por integrar organização criminosa ou por crime
praticado por intermédio de organização ou associação criminosa mantiver o vínculo
associativo.

4- Reparação do dano ou impossibilidade de fazê-lo


Deve reparar o dano, salvo impossibilidade de faze-lo.

5- Não cometimento de falta grave nos últimos 12 meses


Foi introduzido pela Lei Anti Crime - Lei 13.964/19.

Tem se entendido que, por se tratar de um limitador ao livramento condicional, não pode
retroagir.

Qual o marco temporal?

1º) Crimes praticados antes de Lei anticrime;

2º) Faltas graves praticadas antes da entrada em vigor da lei anticrime não se aplica esse
parâmetro.

Há quem entenda que não se trata de requisito objetivo, mas subjetivo, haja vista que diz
respeito ao comportamento do condenado.

A prática de falta grave interrompe o prazo para o livramento?

A prática de falta grave não interrompe o prazo para o livramento condicional, em razão da
ausência de previsão legal.

Nesse sentido é a súmula 441 do STJ:

Súmula n. 441 do STJ: A falta grave não interrompe o prazo para


obtenção de livramento condicional.

Tem-se entendido que não há incompatibilidade entre a súmula 441, do STJ e o novo art. 83,
III, “b” do CP, incluído pela Lei 13.964/19 (não cometimento de falta grave nos últimos 12
meses). O condenado que praticou falta grave não pode ter acesso ao benefício no prazo de 12
(doze) meses posteriores a prática da falta, ainda que tenha atingido o requisito objetivo.

Contudo, mesmo com a existência desse prazo de 12 (doze), a falta grave não zera a contagem
do prazo. Portanto, findo o período impeditivo e, preenchidos os requisitos, pode o condenado
ter novamente acesso ao livramento condicional.

Atenção: A falta grave interrompe o prazo para a progressão de regime (súmula 534 do STJ).
Requisitos Subjetivos
1- Comportamento carcerário satisfatório
Deve observar todo o tempo do cumprimento de pena, não somente determinado período
anterior.

2- Bom desempenho no Trabalho que lhe foi atribuído


3- Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto
4- Condições pessoais que façam presumir que o condenado não voltará a delinquir
É feito através do exame criminológico, obtendo dados concretos para obtenção do livramento
condicional.

Processamento
Antes da Lei nº 10.792/03 havia um processamento diferente:

O art. 112, §2º, da LEP, incluído pela Lei 13.964/19 (Lei Anticrime) reafirma que “a decisão do
juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e precedida de
manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também será adotado
na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos
previstos nas normas vigentes”.

Período de Prova
O período de prova tem início com a audiência admonitória, realizada no estabelecimento
prisional onde está sendo cumprida a pena (art. 137 da LEP), oportunidade em que será
comunicado o rol de condições para concessão do benefício.

Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada


solenemente no dia marcado pelo Presidente do Conselho
Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo cumprida a pena,
observando-se o seguinte: I - a sentença será lida ao liberando, na
presença dos demais condenados, pelo Presidente do Conselho
Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz; II -
a autoridade administrativa chamará a atenção do liberando para as
condições impostas na sentença de livramento; III - o liberando
declarará se aceita as condições.
Condições

Atenção: não mudar de comarca é requisito obrigatório. Pode ser fixado, facultativamente, o
dever de não mudar de residência.

O rol de condições facultativas é exemplificativos, vez que pode determinar qualquer


determinação adicional.

Revogação Obrigatória
É obrigatória, se verificadas as hipóteses do artigo 86, CP.

I- Condenação definitiva a pena privativa de liberdade por crime cometido DURANTE a


vigência do benefício
Ex: estou cumprindo o livramento por um delito de roubo. Durante a vigência do livramento
pratico um furto.

Consequências:

a) O tempo de livramento não é computado como pena cumprida.


b) Não tem direito a novo livramento para o roubo (delito que estava na vigência do
benefício). Terá direito a livramento para o novo crime.
c) O restante da pena do roubo não pode somar-se à pena do furto para fins do novo
livramento.

II- Condenação definitiva a pena privativa de liberdade por crime cometido ANTES do período
de prova do livramento
Ex: estou cumprindo o livramento por um delito de roubo. Antes da vigência do livramento
pratico um furto.

Consequências:
a) O tempo de livramento é computado como pena cumprida.
b) Cabe novo livramento para o roubo.
c) Permite-se a soma das penas dos crimes. (Art. 84 do CP - As penas que correspondem
a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento).

Revogação Facultativo
No caso de revogação facultativa, pode o juiz revogar, mas não obrigatoriamente.

(1º) revogar o livramento condicional

(2º) alterar suas condições;

(3º) advertir o apenado.

As hipóteses são:

I- Descumprimento das obrigações constantes na sentença


II- Condenação Irrecorrível por crime a pena não privativa de liberdade (pouco importa se
cometido antes ou depois do benefício)
III- Condenação Irrecorrível por contravenção penal a pena não privativa de liberdade

Síntese das Hipóteses de Revogação

Prorrogação do Livramento Condicional (art. 89 do CP)


Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não
passar em julgado a sentença em processo a que responde o liberado,
por crime cometido na vigência do livramento.(Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Somente novo processo prorroga o período do livramento. Inquérito policial não prorroga o
período de prova.

Somente no caso de crime cometido na vigência do livramento condicional é que se autoriza a


prorrogação.

A prorrogação ou suspensão é automática ou depende de decisão judicial? Depende de


pronunciamento judicial!!!

A prorrogação ou suspensão do livramento condicional depende de pronunciamento judicial,


não sendo automática.

Súmula 617 do STJ: “A ausência de suspensão ou revogação do


livramento condicional antes do término do período de prova enseja a
extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.”

Extinção (art. 90 da CP)


Art. 90 - Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-
se extinta a pena privativa de liberdade.

Pena de Multa
Alterada pela Lei Anti Crime e por entendimentos do STJ.

Alta chance de incidência.

Conceito
A pena de multa encontra previsão constitucional no art. 5º, LVI, “c”, da Carta Magna, e,
conforme art. 49 do Código Penal.

Consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em


dias-multa, que será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias
multa.

Critério Adotado: Dias-multa


Este foi o critério adotado pelo Código Penal (art. 49).

Por ele, a lei fixa no preceito secundário que determinado delito está sujeito à pena multa,
sem, contudo, informar o valor desta sanção, cabendo ao juiz estabelecê-lo segundo os
parâmetros do art. 49 do Código Penal.

Vejamos dois exemplos de forma gráfica:


Aplicação da Pena de Multa
Diferentemente da aplicação da pena corporal, que segue o critério trifásico (ou de Nelson
Hungria), a fixação da pena de multa observa o critério bifásico, possuindo apenas dois
momentos:

1ª fase: quantidade de dias-multa (art. 49 do CP)


Nesta primeira fase o juiz fixará a quantidade de dias-multa, que não será inferior a 10 (dez) e
nem superior a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

Para fixação da quantia dos dias-multa o magistrado se valerá do critério trifásico utilizada
para pena privativa de liberdade.

Em outras termos, o montante de dias-multa (10 a 360) será estipulada observando-se as


circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, a existência de atenuantes e agravantes,
bem como causas de aumento e diminuição. Nesse perspectiva, já decidiu o Superior Tribunal
de Justiça, RECURSO ESPECIAL Nº 1.756.117 - RS (2018/0184700-7):

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL E PENAL. DOSIMETRIA DA PENA


DE MULTA. CRITÉRIO TRIFÁSICO. PROPORCIONALIDADE. DELITO
TIPIFICADO NO ART. 289, § 1º, DO CÓDIGO PENAL – CP. FORMA
TENTADA. REDUÇÃO AQUÉM DO MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. O
Superior Tribunal de Justiça – STJ, após afirmar que a quantidade de
dias-multa deveria obedecer aos critérios dispostos no art. 59 do
Código Penal, passou a definir que a pena de multa deveria ser
estabelecida de forma proporcional à privativa de liberdade imposta,
obedecendo ao sistema trifásico (art. 68 do Código Penal). 2. Desse
modo, a pena de multa do art. 49 do Código Penal, em razão da
proporcionalidade, deve refletir a pena corpórea estipulada, de modo a
serem consideradas as circunstâncias judiciais, as agravantes e as
atenuantes e, ainda, as causas de diminuição e de aumento. (...)
2ª fase: valor dos dias-multa (art. 49, § 1º, do CP)
Fixada a quantia dos dias-multa, deverá o magistrado indicar o seu valor, que poderá ser
inferior a 1/30 (um trigésimo) do maior salário-mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem
superior a 05 vezes esse salário.

Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do


réu (art. 60 do CP), podendo, inclusive, aumentá-la até o triplo, se considerar que, em
virtude do poder econômico do condenado, embora já aplicada no máximo, ainda assim seu
valor é ineficaz.

Legitimidade para Execução da Pena de Multa e Juízo Competente


Durante muito tempo entendeu-se que a competência para cobrança da pena de multa
deveria ser realizada pela Fazenda Pública, perante a vara das Execuções Fiscais. Nesse
sentido, havia, inclusive, a súmula do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 521 do STJ: “A legitimidade para a execução fiscal de multa


pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é
exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.”

Contudo, o entendimento da súmula 521 do STJ ficou superado depois da ADI n. 3.150/DF pelo
STF. Nesse julgamento, o Supremo Tribunal Federal deu interpretação conforme ao então art.
51 do Código Penal, aduzindo que, prioritariamente, a execução da pena de multa cabe ao
Ministério Público junto à vara da execução penal.

Caso o Parquet não o fizesse no prazo de 90 (noventa) dias, subsidiariamente, a cobrança


poderia ser feita pela Procuradoria da Fazenda Pública perante a Vara das Execuções Finais.

Após a Lei 13.964/19, houve alteração do art. 51 do Código Penal, passando a prever o
seguinte:

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será


executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida
de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição.

A alteração do art. 51 do Código Penal, portanto, vai ao encontro da decisão do Supremo


Tribunal Federal na ADI n. 3.150/DF, definindo, de forma expressa na lei, que a competência
para a execução da multa penal se dará perante a vara da execução penal, pelo órgão do
Ministério Público.

A nova disposição legal não traz a previsão de execução subsidiária pela Procuradoria da
Fazenda Pública perante a Vara da Fazenda Pública, como ressaltou o Supremo Tribunal na ADI
n. 3.150/DF, deixando a cargo do Ministério Público executá-la perante a Vara da Execução
Penal.

Pena de Multa na Lei Maria da Penha


Segundo o art. 17 da Lei 11.340/06, é vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem
como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.
Concurso de Crimes
Conceito
É a hipótese em que o agente, mediante uma ou mais de uma conduta, pratica duas ou mais
infrações penais.

Sistemas de Aplicação da Pena


Sistema do Cúmulo Material
As penas de cada uma das infrações penais são somadas.

Aplica-se esse sistema em relação ao concurso material (art. 69 do Código Penal), ao concurso
formal impróprio (art. 70, caput, 2º parte, do Código Penal) e na aplicação das penas de multa.

Sistema da Exasperação
Aplica-se a pena da infração mais grave aumentada de determinado percentual.

Aplica-se esse sistema ao concurso formal (art. 70, caput, 1ª parte, do CP) e ao crime
continuado (art. 71 do CP).

Sistema da Absorção
Aplica-se exclusivamente a pena mais grave de todos os crimes praticados, sem qualquer
aumento.

Aplica-se em relação aos crimes falimentares praticados pelo falido na vigência do Decreto-lei
7.661/45. Tem se entendido que com a entrada em vigor da Lei 11.101/05 (Lei de Falências)
deve ser mantido o mesmo entendimento.

Espécies
Concurso Material
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquela

O agente, mediante mais de uma conduta, pratica dois ou mais crimes, pouco importando se
praticadas no mesmo contexto fático.

Concurso Material Homogêneo e Heterogêneo


1º) Homogêneo: quando os crimes são idênticos

2º) Heterogêneo: quando os crimes são diversos.

Momento da Aplicação
1º) Infrações Penais conexas apuradas no mesmo processo: O magistrado sentenciante irá
dosar cada pena individualmente e, ao final, irá aplicar a regra do cúmulo material, somando-
se as penas.

2º) Infrações Penais apuradas em processos distintos: O Juízo da Execução irá realizar o
somatório das penas.

Crimes de Reclusão e Detenção


Se for aplicada pena de reclusão para um dos crimes e de detenção para o outro, executa-se
primeiro a de reclusão (art. 69, caput, 2ª parte, do CP).
Concurso Material e Suspensão condicional do Processo
Deve ser observada a regra do concurso material para os fins de aplicação da suspensão
condicional do processo. Vale dizer, somadas as penas mínimas de todos os delitos, estas
devem permanecer em patamar igual ou inferior a 01 (um) ano.

Súmula 243 do STJ: O benefício da suspensão do processo não é


aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso
material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena
mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da
majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

Concurso Material e Acordo de Não Persecução Penal

O ANPP somente pode ser proposto se a infração penal tenha pena mínima inferior a 04
(anos). Segundo o enunciado 29 do CNPG:

Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o


artigo 28-A, serão consideradas as causas de aumento e diminuição
aplicáveis ao caso concreto, na linha do que já dispõe os enunciados
sumulados nº 243 e nº 723, respectivamente, do Superior Tribunal de
Justiça e Supremo Tribunal Federal.

Concurso Formal ou ideal


É a hipótese em que o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não.

Haverá unidade de conduta e pluralidade de resultados. Ex: entra com o carro na conveniência
do posto e mata uma pessoa, e lesiona outra.

Haverá unidade da conduta somente se os atos forem realizados no mesmo contexto temporal
e espacial.

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica


dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das
penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o
disposto no artigo anterior.

Concurso Formal Homogêneo e Heterogêneo


Homogêneo:
Quando os crimes são idênticos

Heterogêneo:
Quando os crimes são diversos.

Concurso Formal Próprio ou Impróprio


Próprio ou Perfeito:
É a hipótese em que o agente, mediante uma única ação, realiza a conduta típica, produzindo
dois ou mais resultados, sem desígnios autônomos. Ex: bate de frente com um carro e mata
todos que estavam naquele carro.
Desígnio Autônomo: com uma única conduta, o agente tem a intenção de praticar mais de um
crime.

Impróprio ou Imperfeito
É a hipótese em que o agente, mediante uma única ação, realiza a conduta, produzindo dois
ou mais resultados, com desígnios autônomos.

Ex: coloca três pessoas em fila, e dispara um único tiro para matá-las. Queria matar três
pessoas, com um único ato.

Importante: o concurso formal impróprio é aplicado às condutas dolosas. Para o STJ, "os
desígnios autônomos que caracterizam o concurso formal impróprio referem-se a qualquer
forma de dolo, direto ou eventual." (STJ HC 191.490/RJ).

Teorias do Concurso Formal


Teoria Subjetiva
para configuração do concurso formal é exigida unidade de desígnios na conduta do agente.

Teoria Objetiva
para configuração do concurso formal basta a conduta e a pluralidade de resultados, pouco
importando a unidade de desígnios (adotada pelo Código Penal).

Aplicação da Pena no Concurso Formal


Concurso Formal Próprio
Aplica-se o sistema da exasperação. Aplica-se a pena mais grave, aumentada de 1/6 a metade.

Critério: quantidade de crimes praticados:

Concurso Material Benéfico (art. 70, parágrafo único, do CP).


Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela
regra do art. 69 deste Código.

A aplicação do concurso formal não poderá exceder a pena que seria cabível se aplicado o
concurso material. Se o sistema da exasperação (que deve ser tratado como benefício) for
pior que o sistema do cúmulo material, as penas devem ser somadas.

Concurso Formal Impróprio


Aplica-se o sistema do cúmulo material. Somam-se todas as penas.

Crime Continuado
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

É hipótese em que, mediante mais de uma ação ou omissão, o agente pratica mais de um
delito da mesma espécie, nas mesmas condições de tempo, local e modo de execução,
devendo os delitos subsequentes serem havidos como continuação do primeiro.

Origem Histórica: evitar a morte daqueles que cometiam três furtos.

Natureza Jurídica:
1º) Teoria da Ficção Jurídica (Francesco Carrara): A continuidade delitiva é uma ficção jurídica
criada pelo ordenamento jurídico. Significa dizer que, embora exista mais de um delito, para
fins de aplicação da pena, deve ser considerado como um único crime.

A soma dos diversos delitos parcelares formam um único crime (adotada pelo Código Penal -
STF).

A regra da ficção jurídica somente é aplicada para fins de fixação da pena. Para os demais
efeitos, a exemplo da prescrição, cada crime é considerado em sua individualidade.

Súmula 497 do STF: Quando se tratar de crime continuado, a


prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se
computando o acréscimo decorrente da continuação.

Ou seja, em se tratando de prescrição verifica-se a pena imposta na sentença, sem o acréscimo


da continuação.

2º) Teoria da Realidade ou da Unidade Real (Bernadino Alimena): Considera-se o crime


continuado como crime único. Isso porque a conduta pode ser composta por um ou vários
atos, sem haja correspondência entre eles.

Requisitos:
 Pluralidade de condutas.

 Pluralidade de crimes da mesma espécie – pelo menos 2.


Por crimes da mesma espécie, entende o STJ que deverão estar previstos no mesmo
dispositivo legal, sejam consumados ou tentados, simples ou qualificados.
O STF é pacifico no afastamento da aplicação continuidade delitiva em caso de furto e
roubo, vez que não são crimes da mesma espécie – HC 97057/RS.
Há doutrina que leciona que por crimes da mesma espécie poderão ser considerados
os que tutelam o mesmo bem jurídico, por exemplo Basileu Garcia e Heleno Fragoso,
de forma que seria possível a continuidade no caso de furto e roubo, por exemplo.

 Crimes praticados nas mesmas condições de tempo, modo de execução e local.


A jurisprudência prevê que para a continuidade delitiva não pode o prazo entre os dois
crimes superar 30 dias.

 Crimes praticados nas mesmas condições de local


A jurisprudência prevê que os delitos parcelares devem ser praticados na mesma
cidade ou ao menos nas cidades limítrofes ou contíguas.

 Crimes praticados nas mesmas condições de modo de execução


Do mesmo modo. Ex: cada dia a empregada furta algo do guarda roupa da patroa.

 Unidade de desígnio
Teoria objetiva-subjetiva ou mista: para esta teoria, além dos demais requisitos, é
necessário que se demonstre unidade de desígnio, ou seja, de que os crimes são
resultado de um mesmo plano do agente – STF, RHC 93144/SP. É a que pravelece no
Brasil.
Teoria objetiva pura ou puramente objetiva: não é necessário comprovar unidade de
desígnio.

Aplicação de Pena
1) Crime Continuada simples ou comum

Aquele em que a pena dos delitos praticados são identificas. Aplica-se a de um deles,
aumentando de 1/6 a 2/3.

2) Crime Continuado qualificado

Aquele em que as penas não são idênticas. Aplica-se a pena do crime mais grave, aumentando-
se de 1/6 a 2/3.

O critério de aumento é o mesmo visto:

Crime Continuado Específico


Art. 71, parágrafo único, CP.

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas


diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à
pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de
um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art.
70 e do art. 75 deste Código.

Aplica-se a pena de qualquer dos crimes se idênticas, ou do crime mais grave, se diversas,
acrescido de um aumento de até o triplo.

Qual aumento mínimo? Como não é previsto aumento mínimo, o STF tem entendido que o
aumento mínimo é de 1/6, seguindo a previsão do caput do artigo 71.

Em razão da redação deste artigo, a sumula 605 do STF foi superada.


Crime material benéfico
Caso o sistema da exasperação apresentar pena mais grave que na cumulação material, deverá
ser aplicado, eis que mais benefício.

Extinção da Punibilidade
Art.107, CP.

Morte – Art. 107, I, CP


Fundamento Constitucional: princípio da pessoalidade da pena (art. 5º, XLV, CF) - nenhuma
pena passará da pessoa do condenado.

Haverá extinção da punibilidade do agente seja na fase do inquérito policial, seja do processo
penal, seja da execução de pena (a morte extingue a punibilidade a qualquer tempo).

Com a morte a sanção penal se resolve (mors omnia solvit).

A morte extingue somente os efeitos penais da condenação, os efeitos extrapenais


permanecem (Ex: reparação do dano – que será cobrado dos herdeiros, no limite da herança).

A morte extingue a punibilidade de quem morreu, não estendendo aos demais coautores ou
partícipes.

A comprovação do morte se dará com a certidão de óbito original (art. 62 do CPP). Trata-se de
aplicação do princípio da prova legal ou tarifada.

Extinção da Punibilidade mediante Certidão de Óbito Falsa


1ª corrente: a sentença que reconheceu a extinção da punibilidade com base em certidão de
óbito falsa é inexistente, não se operando a coisa julgada material. O agente deverá ser
processado pelo uso de documento falso e pelo crime cuja punibilidade foi extinta (STF HC
104998; STJ HC 143.474/SP)

2ª corrente: não é possível anular a decisão que declarou a extinção da punibilidade com
base em documento falso, tendo em vista que não existe revisão criminal pro societate. Se o
órgão acusador não impugnar o documento falso no momento adequado, caberá apenas
propor ação criminal por falsidade ideológica (Ministro Marco Aurélio - STF HC 104998, no
voto vencido).

A primeira corrente é a aplicável pelo STF e STJ.

Morte Presumida
1ª corrente: não extingue a punibilidade (Damásio e Mirabete)

2º corrente: extingue a punibilidade (Hungria, Fragoso)

Revisão criminal e reabilitação


A morte do agente não impede a propositura de revisão criminal, mas impede a propositura de
reabilitação.

A morte da vítima não extingue a punibilidade. Exceção: ação penal privada personalíssima. Ex:
Induzimento a erro essencial de casamento.

Extinção da Punibilidade
A morte da vítima não extingue a punibilidade.

Exceção: ação penal privada personalíssima. Ex: Induzimento a erro essencial de casamento.
Anistia, Graça e Indulto
Formas de renúncia do Estado ao Direito de Punir.

À exceção dos crimes hediondos e equiparados, todos os demais são passíveis de anistia, graça
ou indulto.

É possível Anistia, Graça e Indulto em crimes de Ação Penal Privada?

É possível anistia, graça e indulto em crimes de ação penal privada, tendo em vista que o
Direito de Punir é do Estado. Na ação penal privada o que se permite é apenas o
processamento pela vítima, mantendo-se o jus puniendi com o Estado.

Anistia
É o esquecimento do fato criminoso, apagando-se seus efeitos penais.

É de competência do Congresso Nacional, conferido com base de lei, editada pelo Congresso
Nacional.

Os Estados Membros não podem conceder anistia, somente a União.

A anistia se concede por meio de Lei, nunca por meio de decreto, portanto, necessita de
sanção do presidente da república.

Recai sobre Fatos e não sobre Pessoas, logo, não se dirige a uma pessoa, mas a um fato.

Apaga-se os efeitos penais. Os efeitos extrapenais permanecem. Ex: reparação dos danos.

Classificações:
1º) Própria: quando é concedida antes da condenação definitiva.

Imprópria: quando é concedida depois da condenação definitiva.

2º) Irrestrita: quando atinge todos os criminosos indistintamente.

Restrita: quando exige condições especiais do criminoso para dela se beneficiar. Ex: ser
primário.

3º) Condicionada: exige condição por parte do agente. Ex: reparação do dano. Incondicionada:
não exige condição por parte do agente.

4º) Comum: atinge delitos comuns. Especial: quando atingem delitos políticos.

A Lei que concedeu a Anistia pode ser revogada?


Concedida a Anistia, a Lei que autorizou esse benefício não poderá ser revogada, tendo em
vista que a lei posterior revogadora prejudicará os anistiados, violando o princípio da
retroatividade benéfica.

Graça e Indulto
São benefícios concedidos pelo Presidente da República ou por autoridade por ele delegada
(A.G.U, Ministro da Justiça), mediante decreto presidencial, atingindo apenas os efeitos
executórios penais da condenação.

A graça e o indulto são concedidos via decreto (ato administrativo).

Só atinge os efeitos executórios, ou seja, o condenado somente deixará de cumprir pena.


Súmula 631 do STJ: O indulto extingue os efeitos primários da
condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos
secundários, penais ou extrapenais. STJ. 3ª Seção. Aprovada em
24/04/2019, DJe 29/04/2019.

Indulto é um benefício coletivo, que não depende de provocação. Ex: Indultos de fim de ano.

Graça é espécie de indulto, concedido de forma individual e que depende de provocação.

Momento da concessão
Em regra, o momento da concessão do indulto é após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, tendo em vista que se refere à pena imposta.

Contudo, tem-se admitido a concessão do benefício mesmo sem o trânsito em julgado da


sentença condenatória, desde que transitado em julgado para acusação.

Classificação:
1º) Pleno ou total: quando extinguem totalmente a pena.

2º) Restrito ou Parcial: quando diminuem ou comutam a pena. Também conhecido como
comutação da pena.

Crimes Hediondos e Equiparados


Não é possível indulto ou graça para os crimes hediondos e equiparados.

Também não é possível comutação de pena para os crimes hediondos e equiparados, tendo
em vista que a comutação de pena nada mais é que o indulto parcial ou restrito.

É interessante esclarecer que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a vedação à


concessão do indulto/graça abrange os delitos cometidos antes da entrada em vigor da Lei dos
Crimes Hediondos e da Constituição Federal de 1988. Vejamos:

Indulto (D. 3299/99): exclusão da graça dos condenados por crime


hediondo, que se aplica aos que hajam cometido antes da L. 8072/90 e
da Constituição de 1988, ainda quando não o determine
expressamente o decreto presidencial: validade, sem ofensa à garantia
constitucional da irretroatividade da lei penal mais gravosa, não
incidente na hipótese, em que a exclusão questionada traduz exercício
do poder do Presidente da República de negar o indulto aos
condenados pelos delitos que o decreto especifique: precedentes (STF -
RHC: 84572 RJ, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento:
21/09/2004, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 03-12-2004
PP00042 EMENT VOL-02175-02 PP-00297 LEXSTF v. 27, n. 315, 2005, p.
413-422)

Graça e Indulto e Medida de Segurança


1º) Admite-se graça e indulto em relação à sanção de medida de segurança.

2º) Não se admite graça e indulto em relação à medida de segurança, tendo em vista que é
contrária a finalidade do instituto (finalidade curativa).

Falta Grave
O que acontece se o apenado cometer falta grave antes da concessão de comutação de pena
ou indulto? O prazo para a concessão é zerado? Não.
Súmula 535 do STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo
para fim de comutação de pena ou indulto.

Decadência
Consiste na perda do direito de queixa (na ação penal privada) ou de representação (na ação
penal pública condicionada à representação), em razão do decurso do prazo legal.

Previsão legal
Art. 103 do Código Penal e art. 38 do Código de Processo Penal.

Prazo
Em regra, 06 meses.

Exceção ao prazo de 06 (seis) meses.

Quando houver disposição legal expressa em sentido contrário, poderá haver a alteração do
prazo. Ex: arts 529 e 530 do Código de Processo Penal (nos crimes contra a propriedade
imaterial, o prazo será de 30 dias da homologação do laudo):

Art. 529. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida
queixa com fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o
prazo de 30 dias, após a homologação do laudo. Art. 530. Se ocorrer
prisão em flagrante e o réu não for posto em liberdade, o prazo a que
se refere o artigo anterior será de 8 (oito) dias

Termo Inicial para contagem do prazo.


Prazo se a vítima menor de 18 anos
O prazo para a vítima menor de 18 (dezoito) anos só começa a fluir depois da maioridade, pois
a vítima não pode perder o direito que ainda não pode exercer (Tese 169 do MP/SP).

Súmula 594 do STF: Os direitos de queixa e de representação podem


ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu
representante legal.

Perda do Direito da Ação e Direito de Punir


Na decadência ocorre a perda do direito de ação por parte do ofendido e, reflexamente, o
Estado perde o direito de punir.

Cômputo do Prazo
Considerando que a decadência é causa extintiva da punibilidade, prevalece o entendimento
de que o cômputo do prazo segue as regras do art. 10 do Código Penal (prazo penal: conta o
dia do começo e exclui-se o dia do final. Não se suspende. Não se interrompe. Não se
prorroga).

Prazo de decadencial para requisição do Ministro da Justiça


1º) Não há prazo decadencial para a requisição do Ministro da Justiça, tendo em vista que os
arts. 38 do CPP e 103 do Código Penal fazem referência expressa à ação penal privada e ação
penal pública condicionada à representação, não fazendo nenhuma menção à requisição.

2º) Por intermédio de analogia in bonam patem é possível se aplicar o prazo de decadencial à
requisição do Ministro da Justiça.

A primeira posição é a que prevalece.

Perempção
É a sanção imposta ao quelerante inerte ou negligente.

Não existe perempção em ação penal pública. É instituto de ação penal privada.
Previsão legal
Art. 60 do CPP Hipóteses:

1º) Inércia durante 30 (trinta) dias seguidos.

Não haverá soma das inércias parciais.

Prevalece que a sanção pela inércia é automática, ou seja, não precisa haver prévia intimação
para o querelante agir.

2º) 60 dias sem sucessão processual. Ex: faleceu a vítima e se passou mais de 60 sem a
sucessão do C.A.D.I.

3º) Ausência injustificada ou deixar de pedir a condenação nas alegações finais A) Ausência
injustificada Obs. A justificativa evita a perempção.

O querelante pode estar ausente, desde que representado por procurador com poderes para o
ato.

A perempção só ocorre quando a presença do querelante/procurador era indispensável.

Há quem entenda que o procurador não pode substituir o quelerante.

Deixar de pedir a condenação nas alegações finais - Hipóteses


1ª) Querelante requer a condenação: o juiz pode condenar ou absolver.

2º) Querelante requer a absolvição:

A) Querelante Comum: O Juiz extingue a punibilidade pela perempção.

B) Querelante Subsidiário: O Ministério Público retorna a titularidade da ação penal.

3º) Sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir, sem deixar sucessores.

Observações finais
1ª) No caso de crimes conexos, pode ocorrer a perempção para um deles e o prosseguimento
em relação ao outro.

2º) Na hipótese de 02 (dois) querelantes, a perempção para um não afeta o direito do outro.

3º) Havendo a extinção da punibilidade pela perempção, é vedado ao querelante propor nova
ação.

Renúncia
Trata-se de ato unilateral do ofendido ou do seu representante legal abdicando do direito de
manejar a ação penal privada, extinguindo a punibilidade do agente.

Corolário do Princípio da Oportunidade da Ação Penal Privada, ou seja, o querelante pode


manejar ação ou não, e, do mesmo modo, pode renunciar este direito.

Antes da Lei 9.099/95, a renúncia era aplicada apenas nas hipóteses de ação penal privada.
Contudo, de acordo com o mencionado diploma legal, o acordo homologado acarreta a
renúncia ao direito de queixa ou representação, nas hipóteses de ação penal privada e de ação
penal pública condicionada (art. 74, parágrafo único, da Lei 9.099/95).

A renúncia dispensa a aceitação da parte contrária (é ato unilateral). Se não manejo a ação
quer dizer que renunciei.
A renúncia é sempre anterior à propositura da ação penal (é ato extraprocessual).

Aspectos Formais da Renúncia


1º) Renúncia expressa: constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante
legal ou procurador com poderes especiais (art. 50 do CPP).

2º) Renúncia Tácita: trata-se de comportamento incompatível com a vontade de ver o infrator
processado (art. 104, parágrafo, único, do Código Penal). Ex: vira padrinho de casamento do
infrator.

Observações finais
Não implica renúncia tácita o fato de o ofendido receber indenização pelo crime (art. 104,
parágrafo único, 2º parte, do Código Penal).

Havendo concurso de pessoas (mais de um réu), a renúncia em relação a um dos autores do


crime a todos se estenderá (art. 49 do CPP).

Havendo mais de uma vítima, cada uma delas possui direito de renúncia autônomo e
independente. Então, se uma vítima renunciar, não acarreta a renúncia da outra vítima.

Perdão do Ofendido
É o ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal desiste de prosseguir com o
andamento do processo já em curso (ação penal privada), desculpando seu agressor. Se o
perdão for aceito, haverá a extinção da punibilidade (ato bilateral).

Trata-se de ato bilateral, pois precisa ser aceito.

Não existe esse instituto na Ação Penal Pública (sem exceções). Somente há na Ação Penal
Privada.

O Perdão do ofendido pressupõe a existência de processo em curso. Portanto, o momento


adequado para liberação do perdão é depois do início da ação penal privada até o trânsito
em julgado (art. 106, § 2º, do CP). (PERDÃO – AÇÃO)

Após o trânsito em julgado (na fase de execução de pena), não existe perdão extintivo da
punibilidade.

O Perdão aceito por uma vítima, não importa no perdão da outra. O direito de uma vítima
não atrapalha o perdão da outra vítima.

Prescrição
Conceito
É a perda do direito de punir do Estado ou de executar a pena em virtude de não tê-lo sido
exercido no dentro do prazo legal. Assim, diante da inércia do Estado, extingue-se a
punibilidade pelo decurso do tempo.

Natureza Jurídica
Causa extintiva da punibilidade.

Trata-se de um instituto de Direito Penal, portanto, conta-se o dia do início exclui-se o dia do
final – art. 10, CP.

Fundamento da Prescrição
O tempo faz desaparecer o interesse social de punir o agente.
A regra é a prescirtibilidade, portanto, contudo, há exceções trazidas pela CF e pelo STF.

Hipóteses de Imprescritibilidade
Previstos na CF –“RAGA”
1) Crime de Racismo (art. 5º, XLII, da CF)

O STF entende que a homofobia e a transfobia se trata de hipóteses de racismo equiparadas,


sendo imprescritíveis.

2) Ação de Grupos Armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático de


Direito (art. 5º, XLIV, do CF)

Observação: Tortura

1º) Prevalece o entendimento que o crime de Tortura é prescritível.

2º) Embora seja reconhecida a prescrição quanto ao delito de tortura, os Tribunais Superiores
têm entendido que a reparação civil do dano oriundo da citada conduta é imprescritível. Ex:
crimes da época da ditadura.

3º) deve-se frisar que, ao contrário do que é aplicado na ordem jurídica interna (que possui
como regra a prescritibilidade do crime de tortura), a prática de crimes contra a humanidade,
utilizando-se de atos de tortura, no contexto do Tribunal Penal Internacional, é considerada
imprescritível, conforme dispõe o artigo 29 do Estatuto de Roma (Caso Gomes Lund –
Guerrilha do Araguaia).

Atenção para injúria racial

Antigamente entendia-se que em razão da distinção entre o crime de racismo e de injuria


racial, somente o primeiro era imprescritível.

Contudo, houve mudança de entendimento.

No AgRg no REsp 686.965/DF, o STJ entendeu que o delito de injúria racial também é
imprescritível, pois encontra-se na seara dos crimes de racismo.

O STF, no HC 154.248, entendeu que a injúria racial é espécie do gênero racismo e, portanto,
é crime imprescritível.

Este entendimento é jurisprudencial dos Tribunais Superiores.

Parâmetros da prescrição (art. 109 do Código Penal)


Compara-se com a pena cominada no CP.

Vejamos:
Observação: o inciso VI, do art. 109 teve nova redação dada pela Lei 12.234/10 (de
05/05/2010). Antes da alteração, a prescrição se dava em 02 anos se o máximo da pena fosse
inferior a 01 (um) ano. Atualmente, a prescrição ocorre em 03 anos. Por se tratar de lei mais
severa, não se aplica aos fatos praticados antes de sua vigência.

Espécies de Prescrição
Antes do Trânsito em Julgado: PPP

Após Trânsito em Julgado: PPE

Prescrição da Pretensão Punitiva:


Ocorre antes do trânsito em julgado da sentença. Impede todos os efeitos penais ou não de
eventual condenação.

1ª) P.P.P em Abstrato ou propriamente dita


Previsão Legal: art. 109 do CP.

Regula-se pela pena máxima prevista para o crime. Sendo incerta a quantidade de pena a ser
fixada pelo juiz na sentença, o prazo prescricional é o resultado da combinação da pena
máxima prevista abstratamente no tipo e a escala do art. 109 do Código Penal.

Ex: Furto Simples – 1 a 4 anos. A pena máxima é de 4 anos. Logo, prescrição em 8 anos.

Regras para cálculo:

1º) Causas de Aumento e de Diminuição de Pena: são consideradas para o fim do cálculo da
prescrição.

Busca-se o maior aumento e a menor diminuição (porque deve-se achar a pena máxima).

Não são considerados o aumento no caso de concurso material, concurso formal ou


continuidade delitiva, tendo em vista que a prescrição atinge cada delito isoladamente (art.
119 do Código Penal). Ou seja, verifica-se somente a pena de cada delito isoladamente, sem o
acréscimo da exasperação.
Nesse sentido é a súmula 497 do STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição
regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da
continuação.

2º) Agravantes e Atenuantes Agravantes e Atenuantes não devem ser consideradas para o
cálculo da prescrição, tendo em vista que não há previsão legal de seu quantum, ficando a
critério do juiz.

Embora as agravantes e atenuantes não sejam consideradas para contagem do prazo


prescricional, há algumas atenuantes que alteram o prazo prescricional. (art. 115 o Código
Penal):

1ª) Menoridade Relativa (menor de 21 anos)

2º) Maior de 70 anos na data da sentença

O que deve ser entendido por “nada data da sentença”?

1ª posição: o termo sentença deve ser compreendido como a primeira decisão condenatória,
seja sentença ou acórdão proferido em apelação. STJ. 6ª Turma. HC 316.110-SP, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

2ª posição: o termo sentença deve ser entendido como o último pronunciamento judicial, o
qual conferiu status de imutabilidade ao título executivo penal (STF, ARE 778042 AgR, julgado
em 21/10/2014).

A primeira posição é a mais recente, por isso, utiliza-la em prova.

3º) Qualificadoras: São consideradas para o cálculo do prazo prescricional, tendo em vista que
possuem pena autônoma, distinta e superior à cominada no tipo básico.

Consequências
1ª) o Estado perde seu direito de punir, inviabilizando a análise de mérito.

2ª) se houver sentença condenatória provisória, ela será rescindida, não se operando nenhum
efeito (penal ou extrapenal);

3º) o acusado não será responsabilizado pelas custas processuais;

4º) terá o direito à restituição da fiança.

Termo Inicial da Prescrição


Previsão Legal: art. 111 do Código Penal

1º) Do dia em que o crime se consumou para os crimes consumados

Obs. Nos crimes contra a ordem tributária previstos no art. 1º, I, “a”, da Lei 8.137/90, não se
inicia o prazo prescricional enquanto não houver a constituição definitiva do crédito tributário.

Súmula Vinculante 24: Não se tipifica crime material contra a ordem


tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes
do lançamento definitivo do tributo.

2º) No caso de tentativa, do dia em que cessou atividade criminosa. Do dia do último ato
executório
3º) Crimes Permanentes Do dia em que cessou a permanência.

Obs. Crimes Habituais: Nos crimes habituais, o prazo da prescrição inicia-se da data da última
das ações que constituem o fato típico. Ex: casa de prostituição.

4º) Bigamia e falsidade de assento de registro civil: da data que o fato se tornou conhecido
para autoridade encarregada da persecução penal.

5º) Nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos no Código Penal
ou em legislação especial, data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse
tempo já houver sido proposta a ação penal. O inciso V foi incluído pela Lei n. 12.650, de 17 de
maio de 2012. Como se trata de lei nova mais severa, não poderá retroagir para prejudicar o
réu.

Causas interruptivas da prescrição


Previsão Legal: art. 117, I a IV, do Código Penal.

Os incisos V e VI referem-se a prescrição da pretensão executória.

As causas interruptivas da prescrição determinam o recomeço da contagem do prazo a contar


do dia da interrupção.

1º) Recebimento da inicial acusatório.

Recebimento do aditamento da denúncia.

Em razão da ausência de previsão legal, o recebimento do aditamento da denúncia, por si só,


não acarreta a interrupção da prescrição (STF HC 84606). Ex: aditamento para suprir erros
materiais.

Hipóteses em que haverá interrupção da prescrição:

A) Se houver alteração substancial dos fatos anteriormente narrados na denúncia,


passando a descrever novo fato criminoso (STJ HC 273811). Nessa hipótese, haverá
interrupção somente em relação ao fato novo (STJ RHC 14937).

B) Se houver a inclusão de novos corréus (STJ AgRg no Resp 1045631).

A denúncia anulada não funciona como marco interruptivo da prescrição. Vale dizer, mesmo
que prolatada sentença condenatória, se o Tribunal reconhecer a nulidade do processo a
contar do recebimento da denúncia, não subsistirão os marcos interruptivos da prescrição
(STJ AgRg no HC 396.797).

2º) Pela Pronúncia

Hipótese cabível no caso dos crimes dolosos contra a vida.

Súmula 191 do STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição,


ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime

Ainda que o Tribunal do Juri desclassifique o crime, será operada a interrupção da prescriçãoo
pela Pronúncia.

3º) Decisão confirmatória da Pronúncia

Decisão que confirma se tratar de crime doloso contra a vida.


O acórdão que determina a pronúncia do réu sumariamente absolvido ou impronunciado
também funciona como causa interruptiva da prescrição.

Ocorrerá a interrupção da prescrição na data da sessão de julgamento, quando o acórdão se


torna público, sendo irrelevante a data de sua publicação no Diário de Justiça (STJ AgRg no
REsp 1360974).

Havendo a exclusão de alguma das qualificadoras, continua sendo decisão confirmatória da


pronúncia e, portanto, interrompe a prescrição (STF RHC 99292).

4º) Publicação da Sentença ou acórdão condenatórios recorríveis

A contagem é novamente zerada na publicação de sentença ou acordão condenatórios, ainda


que recorríveis.

Sentença Absolutória não interrompe a prescrição.

A sentença que reconhece a inimputabilidade do agente e aplica medida de segurança é


absolutória (imprópria) e, por isso, não interrompe a prescrição.

A sentença que reconhece a semi-imputabilidade é condenatória e, por isso, interrompe a


prescrição. A responsabilidade penal é atenuada, reduzida, aplicando-se minorante, mas
ainda há condenação penal.

Acórdão que confirma a sentença condenatória

Há correntes sobre a interrupção de prescrição sobre acordão que confirme o teor da sentença
de primeiro grau.

1ª corrente: “O acórdão que apenas confirma a sentença de primeiro grau, sem decretar nova
condenação por crime diverso, não configura marco interruptivo da prescrição, ainda que haja
reforma considerável na dosimetria da pena” (STJ AgRg no REsp 1362264)

2ª corrente: o STF já decidiu que o acórdão que modifica substancialmente a pena fixada tem o
condão de interromper a prescrição (HC 110810), mas o “acórdão que confirma ou diminui a
pena imposta na sentença condenatória não interrompe a prescrição” (STF HC 96009).

3ª corrente: o acórdão confirmatório da condenação interrompe a prescrição, ainda que não


altere a pena ou a condenação (Ministro Marco Aurélio no HC 92340).

Posição do STF: O acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando


confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena
anteriormente imposta (STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 27/04/2020)

Observações Finais
1ª) Natureza Jurídica da Decisão que reconhece a prescrição: declaratória extintiva da
punibilidade.

2ª) Prescrição de Ato Infracional: Súmula 338 do STJ (“A prescrição penal é aplicável nas
medidas sócio-educativas.”)

2ª) P.P.P Retroativa


Previsão Legal: art. 110, § 1º, do CP.

Regula-se pela pena aplicada na sentença e não mais pela pena máxima em abstrato.
Lógica da P.P.P Retroativa
Antes da sentença recorrível, como não se sabe qual a quantidade de pena a ser fixada pelo
juiz, a prescrição é regulada pela pena máxima em abstrato (teoria da pior das hipóteses).

No entanto, fixada a pena, ainda que provisoriamente e transitada em julgada para acusação,
não mais existe razão para se levar em conta a pena máxima, tendo em vista que, mesma
havendo recurso da defesa, não é possível a reformatio in pejus.

Dessa forma, o parâmetro utilizado para o cálculo da prescrição é a pena prevista na sentença.

Com a Lei 12.234/10 não mais existe possibilidade de P.P.P Retroativa antes do recebimento
da inicial acusatória.

Características:
1º) é necessário a existência de sentença ou acórdão penal condenatória.

2º) é necessário trânsito em julgado para a acusação no que diz respeito a pena aplicada.

3º) Conta-se a prescrição da publicação da sentença condenatória até o recebimento da


inicial acusatória.

4º) Os prazos prescricionais regulam-se pela tabela do art. 109 do CP.

5º) Tem as mesmas consequências da PPP em Abstrato.

3º) P.P.P Superveniente (intercorrente)


Características:
1º) é necessário a existência de sentença ou acórdão penal condenatória.

2º) é necessário trânsito em julgado para a acusação no que diz respeito a pena aplicada.

3º) Conta-se a prescrição da publicação da sentença condenatória até o trânsito em julgado


definitivo.

4º) Os prazos prescricionais regulam-se pela tabela do art. 109 do CP.


5º) Tem as mesmas consequências da PPP em Abstrato e da PPP Retroativa.

4º) P.P.P Virtual, em perspectiva, por prognose ou antecipada


A P.P.P Virtual, em perspectiva, por prognose ou antecipada nada mais é que o
reconhecimento antecipado da PPP Retroativa no curso da ação penal, hipótese em que
haverá falta de interesse de prosseguir com a ação penal.

Antes de proferida a sentença, supõe-se uma pena a ser aplicada. Em a pena máxima sendo de
um ano, por exemplo, e o processo já perdura por 3 anos, sem ter sido marcada a audiência de
instrução. Por isso, já teria operado a prescrição.

STF e STJ não admitem essa modalidade: 1º fere o princípio da presunção de inocência; 2º
não há previsão legal.

Súmula 438 do STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela


prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética,
independentemente da existência ou sorte do processo penal.
Prescrição da Pretensão Executória (P.P.E.)
Ocorre depois do trânsito em julgado da sentença condenatória. Impede somente a execução
da punição (cumprimento da pena), os demais efeitos permanecem (sejam civis ou criminais).

Previsão Legal: art. 110, caput, do CP.

Regula-se pela pena aplicada na sentença.

Trata-se de prescrição da pena em concreto, que pressupõe sentença condenatória com


trânsito em julgado para ambas as partes.

O reconhecimento da P.P.E. extingue a pena aplicada, sem, contudo, rescindir a sentença


condenatória, que continua produzir efeitos penais e extrapenais.

Qual o início do prazo prescricional da P.P.E?


Qual dia se inicia a contagem do prazo prescricional da PPE.

Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a


correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou
a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento
condicional;

Ex: Sentença condenatória proferida. MP não recorreu. Trânsito em Julgado para o MP. A
defesa recorreu. Processo no Tribunal. Decisão final. A partir da decisão final interrompe o
prazo prescricional PPE, que se iniciou com o trânsito em julgado para o MP.

Sobre o tema há duas posições:

1ª posição: para o Superior Tribunal de Justiça “prevalece o entendimento de que o termo


inicial da contagem do prazo da prescrição executória é a data do trânsito em julgado para a
acusação, consoante a interpretação literal do art. 112, I, do CP, que, mesmo depois da
Constituição Federal de 1988, não foi revogado por não recepção ou declarado
inconstitucional e, portanto, permanece vigente no ordenamento jurídico pátrio” (AgRg no HC
536.448/SP, j. 22/10/2019).

2ª posição: o STF já decidiu que o início da contagem do prazo de prescrição somente se dá


quando a pretensão executória pode ser exercida. Se o Estado não pode executar a pena, não
se pode dizer que o prazo prescricional já está correndo (STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel.
Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/2/2018 - Info 890).

Qual utilizar? Se a pena for pro réu, utilizar a primeira posição. se de viés mais condenatório ao
réu, e pro societatis, como uma prova de MP, adotar a segunda corrente.

Causas Interruptivas da PPE (art. 117, V e VI, do CP)


1º) Reincidência Se o apenado pratica novo crime enquanto está foragido, a prescrição é
novamente interrompida (art. 117, V, do CP).

2º) Início ou continuação do cumprimento de pena Obs6. Na PPE, se o réu for considerado
reincidente na sentença, o prazo prescricional é aumentado de 1/3 (um terço).

No caso de evasão do apenado ou de revogação do livramento condicional, a prescrição é


regulada pelo tempo que resta a cumprir da pena (art. 113 do CP).
Causas Suspensivas da Prescrição (art. 116 do CP).
Congela o cronometro.

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição


não corre: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O rol previsto no artigo 116 é meramente exemplificativo, existindo outras hipóteses


espalhadas no ordenamento jurídico. Ex: art. 366 do CPP.

Os incisos III e IV são movidas incluídas pelo Pacote Anti Crime, por isso, não retroagem.

Causas Impeditivas da Prescrição/Suspensivas

Impeditivas: causas que impedem a prescrição de correr. A prescrição sequer começa a correr.

Suspensivas: quando a prescrição já começou a correr por algum motivo, mas as circunstância
legais impedem que ela continue correndo.

Ex: bigamia/anulação do primeiro casamento (art. 116, I, do CP)

Se o processo de anulação estava em curso, temos uma causa impeditiva: a prescrição sequer
inicia.

Se o processo criminal já estava em curso e a anulação começou posteriormente: causa


suspensiva. A prescrição fica suspensa.
Prescrição da Pretensão Executória
Ocorre depois do trânsito em julgado da sentença condenatória. Impede somente a execução
da punição (cumprimento da pena), os demais efeitos permanecem (sejam civis ou criminais).

Efeitos da Condenação
Efeitos
Principais
A) Pena: é aplicada ao imputável ou semi-imputável e podem ser privativa de liberdade,
restritiva de direitos e multa.

B) Medida de Segurança.

Efeitos Secundários de natureza penal


Dentre outros, pode-se citar alguns efeitos secundários de natureza penal da condenação:

a) reincidência, se houver prática de novo crime (art. 63 do CP);

b) revogação facultativa ou obrigatória do sursis concedido (art. 81 do CP);

c) revogação facultativa ou obrigatória do livramento condicional concedido (art. 81 do CP);

d) Interrupção ou aumento do prazo prescricional da pretensão executória quando


caracterizada reincidência (art. 110 do CP);

e) Revogação da reabilitação, em caso de reincidência (art. 95 do CP);

Efeitos Secundários de Natureza Extrapenal


Os efeitos secundários de natureza extrapenal podem ser genéricos (art. 91 do CP) ou
específicos (arts. 91-A e 92 do CP).

Efeitos genéricos e específicos:

Efeitos Secundários Genéricos


Os efeitos genéricos são aqueles que não precisam de declaração na sentença, pois são de
aplicação automática. Encontram-se descritos no art. 91 do Código Penal.

Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209,


de 11.7.1984)

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de


terceiro de boa-fé; a) dos instrumentos do crime, desde que consistam
em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua
fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que
constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato
criminoso.

§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao


produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou
quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de
2012)
§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na
legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes
do investigado ou acusado para posterior decretação de perda.
(Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)

Obrigação de Reparar o Dano (art. 91, I, do CP)


Havendo sentença penal condenatória, torna-se certa a obrigação de indenizar o dano causado
pelo crime. Após a condenação, não é mais necessária a discussão sobre a existência do ilícito
e a obrigação de indenizar, tornando-se certo.

Neste caso, basta que a vítima liquide e execute a sentença penal condenatória, a qual se trata
de título executivo judicial.

Confisco (art. 91, II, “a” e “b”, do CP)


O confisco consiste na perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado e do terceiro de
boa-fé:

1º) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção constitua fato ilícito. Ex: drogas, arma de fogo, etc Instrumento do crime
(instrumenta celeris): são os objetos utilizados pelo agente na execução do delito.

2º) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo
agente com a prática do fato criminoso.

Ex: o agente pratica um furto ou um roubo de um veículo não é condenado a perder o bem
furtado ou roubado. Isso é um efeito que decorre da sentença penal condenatória. Perder o
carro não é pena.

Produto do crime (produta sceleris)

O produto do crime abrange:

a) a coisa obtida diretamente com o crime (ex: coisa roubada);

b) a coisa obtida mediante especificação (ex: colar feito com as pedras preciosas roubadas);

c) coisa obtida mediante alienação (ex: dinheiro adquirido com a venda do bem roubado).

É possível que o confisco seja realizado após a sentença? É possível a decretação do confisco
depois da prolação da sentença condenatória, tendo em vista que não há preclusão pro
judicato que impeça a decretação do perdimento de bens após a sentença.

E se o produto ou proveito não forem encontrados para decretação do perdimento? Segundo


o art. 91, § 1º, do CP, poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao
produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem
no exterior.

Atenção: Como é possível garantir a decretação da perda de bens ou valores equivalentes ao


produto ou proveito do crime?

Na hipótese do 91, § 1º, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão


abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação
de perda. (art. 91, § 2º, do CP).

Dispositivos correlatos no CPP:


Confisco Alargado
Foi incluído pelo Pacote Anti Crime.

Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei


comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser
decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens
correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado
e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Para efeito da perda prevista no
caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os
bens: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - de sua titularidade, ou
em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou
indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - transferidos a terceiros a
título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início
da atividade criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º O
condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou
a procedência lícita do patrimônio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) § 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida
expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da
denúncia, com indicação da diferença apurada. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) § 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o
valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda for
decretada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º Os instrumentos
utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e
milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do
Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que
não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem
pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento
de novos crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Contexto em que foi inserido o art. 91-A do CP


O art. 91-A foi inserido no Capítulo VI do Código Penal que trata dos Efeitos da Condenação

Natureza jurídica do artigo 91-A do Código Penal


Traz um novo efeito extrapenal da sentença, qual seja: a perda, como produto ou proveito do
crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e
aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito (art. 91-A, caput, do CP)

Ex: funcionário público que pratica delito de corrupção passiva do art. 317 do Código Penal e
recebe vantagem indevida de 200 mil reais. Esse funcionário tem uma renda anual de 300 mil
reais e exerce suas funções há 01 (um) ano. O patrimônio desse funcionário é de 10 milhões.

1º) Quanto à vantagem indevida recebida: os 200 mil são perdidos nos termos do art 91, II,
“b”, do Código Penal.

2º) Quanto ao patrimônio de 10 milhões incompatível: o que fazer? O art. 91- A entra nesse
contexto. Antes do art. 91-A não era possível buscar o patrimônio incompatível, salvo se fosse
possível vincular a alguma das hipóteses do art. 91 do Código Penal (como proveito ou produto
do crime, etc).

Estudo do Art. 91-A, caput, do Código Penal


1) Objetivo: a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à
diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu
rendimento lícito (art. 91-A, caput, do CP) Obs1. É um patrimônio que não está
necessariamente relacionado ao crime praticado. Busca-se o patrimônio incompatível com os
rendimentos lícitos (não se fala em produto ou proveito do crime).

2) Requisito: crimes com pena máxima superior a 06 (seis) anos de reclusão. Obs1. Critério é
pena máxima prevista em Lei e não a quantidade de pena concretamente aplicada na
sentença. Obs2. Para realização desse cálculo deve ser levar em consideração as
qualificadoras, privilegiadoras, causas de aumento ou diminuição de pena.

Conceito de Patrimônio do Condenado


§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do
condenado todos os bens: I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio
e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e II -
transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do
início da atividade criminal.

Inciso I: O patrimônio pode estar em nome do agente ou em nome de terceiros e o agente


tenha benefício direto ou indireto (em nome de laranja) Ex: lancha, iate, avião, casas, sítios,
fazendas

AULA 39
Inciso II: é a hipótese em que o agente possua bens em seu nome, percebe o início das
investigações e começa a dissipar os bens colocando em nome de terceiros a título gratuito
(doação) ou mediante contraprestação irrisória (simulando uma compra e venda) Obs3. Ambas
a hipóteses serão consideradas patrimônio e podem ser perdidas.

Possibilidade de comprovação da Licitude do Patrimônio


§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência
lícita do patrimônio.

Poderá deixar de perder os bens se ele provar que há incompatibilidade ou que aqueles bens
têm procedência lícita. Ex: recebeu herança, possui outras fontes de renda lícita, etc.

Violação ao princípio da inocência (inversão do ônus da prova).

Poderá existir discussão, uma vez que, um dos corolários do princípio da inocência é a
distribuição do ônus probatório. Vale dizer, cabe ao Ministério Público provar os fatos
imputados ao réu.

No caso do art. 91-A, caberá ao Ministério Público apenas provar a incompatibilidade do


patrimônio, mas não caberá ao MP provar a licitude/ilicitude do patrimônio.

O MP irá apenas demonstrar que o acusado tem mais bens do que seus rendimentos teriam
possibilidade de comportar. No caso art. 91-A, caberá ao réu provar que todo o bem que
compõe o seu patrimônio tem procedência lícita ou mesmo que inexiste incompatibilidade.

Art. 13 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92).

A lei de improbidade administrativa determina que a posse e o exercício de agente público


ficam condicionados à apresentação de declaração de imposto de renda e proventos de
qualquer natureza, justamente para verificar a compatibilidade do seu patrimônio com seus
rendimentos.

Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à


apresentação de declaração de imposto de renda e proventos de
qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria Especial
da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no serviço de
pessoal competente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 1º
(Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º A
declaração de bens a que se refere o caput deste artigo será atualizada
anualmente e na data em que o agente público deixar o exercício do
mandato, do cargo, do emprego ou da função. (Redação dada pela Lei
nº 14.230, de 2021) § 3º Será apenado com a pena de demissão, sem
prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a
prestar a declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo
dentro do prazo determinado ou que prestar declaração falsa.
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º (Revogado). (Redação
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) E) Pedido Expresso do MP § 3º A
perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo
Ministério Público, quando do oferecimento da denúncia, com
indicação da diferença apurada.
Paralelo com o art. 387, IV, do CPP (indenização mínima fixada na sentença penal
condenatória)

No art. 387 não se fala em pedido do MP, mas o STJ entende que, apesar do silencia da lei, é
necessário que a indenização mínima seja requerida na inicial, para que não viole a ampla
defesa e o contraditório. Isso porque essa situação deve ser discutida nos autos para que o réu
possa dela se defender.

Momento do Pedido

No oferecimento da denúncia, para que seja oportunizado o contraditório.

Forma de realização do Pedido

Deve o MP indicar a diferença a apurada.

Decisão do Juiz
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar
os bens cuja perda for decretada.

O juiz deverá especificar na sua decisão a diferença dos valores apurados e quais serão os bens
que serão perdidos. Obs2. Não serão permitidos pedidos genéricos e decisões genéricas.

Crimes praticados por organizações criminosas e milícias


§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias
deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da justiça onde
tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a
ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos
crimes.

Não possui muita relação com o caput por duas razões: fala em organização criminosa (o caput
fala em crime com pena máxima superior a 06 anos) e fala em instrumentos utilizados para
prática de crimes (o caput fala em patrimônio incompatível).

Importância do § 5º: O perdimento ocorrera ainda que não coloque em perigo a segurança
das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o
cometimento de novos crimes.

Específicos
São aqueles efeitos que não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na
sentença.

Art. 92 - São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo,


função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa
de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de
liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. II – a
incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da
curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos
contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra
filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado
(Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018); III - a inabilitação para
dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime
doloso. Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são
automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.

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