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EDUARDO FONTES
Tema:
Princípios informadores do
Direito Penal
Missão fundamental do Fato do agente Agente do fato Pena
DP
1. Princípio da 1. Princípio da 1. Princípio da 1. Dignidade da pessoa
proporcionalidade exteriorização ou da responsabilidade pessoal humana
materialização do fato
5. Princípio da presunção
de inocência
Princípio da proporcionalidade
Origem:
Trata-se de princípio que deita suas raízes no Direito Alemão.
Previsão legal?
Não. É considerado um princípio constitucional implícito.
Necessidade
Considerado a forma mais violenta de intervenção estatal, o Direito
Penal deve ser utilizado de forma subsidiária, somente quando as
demais formas de controle social se revelarem ineficazes.
Proporcionalidade em sentido estrito
O Estado não deve lançar mão do DP se isso se tornar mais danoso
do que os benefícios a serem alcançados.
A tutela eficaz do bem jurídico, a prevenção e a retribuição devem ser
superiores do que o sacrifício do autor do crime ou da própria
sociedade.
Em matéria penal, a proporcionalidade deve levar em conta a
importância do bem jurídico tutelado, o grau de afetação do bem
jurídico, o elemento subjetivo e a forma de participação do agente no
delito.
Obs. O princípio da proporcionalidade deve ser analisado, ainda, em
duas perspectivas:
a) Proibição do excesso:
O legislador não pode criar figuras típicas penais que não protejam
qualquer bem jurídico.
Ex1. Criminalizar o comportamento homossexual.
Além disso, ao criar uma infração penal, a pena cominada deve ser
compatível com o bem jurídico tutelado.
Ex2. Pena do art. 273, § 1º, “b”, CP foi considerada inconstitucional
(STJ, HC 239.363; STF, RE 979962)
Obs. Essa vertente do princípio da proporcionalidade, que veda a
hipertrofia da punição, também é conhecida como garantismo
negativo.
b) Proibição da proteção deficiente ou insuficiente
Um direito fundamental não pode ser deficientemente protegido, seja
mediante a eliminação de figuras típicas, seja pela cominação de penas
inferiores à importância exigida pelo bem que se quer proteger.
Ex1. Lei que viesse a descriminalizar o homicídio seria inconstitucional, por
proteger de forma insuficiente o direito fundamental à vida.
Ex2. Lei que cominasse pena máxima de 2 anos ao delito de estupro
poderia ser considerada inconstitucional, diante da insuficiente proteção do
direito fundamental à liberdade sexual e, por corolário lógico, à dignidade da
pessoa humana.
Obs. Essa vertente do princípio da proporcionalidade também é conhecida
como garantismo positivo.
Lembrem-se!
Obs1. O garantismo ideal é o garantismo integral, consubstanciado
na perfeita e necessária conjugação das duas vertentes garantistas:
negativa e positiva.
Obs2. Para muitos, o Brasil ainda não atingiu o equilíbrio entre essas
duas facetas do garantismo penal, pois prevalece o garantismo
negativo, que se levado ao extremo, culmina no chamado
garantismo hiperbólico monocular, caracterizado pela ampliação
exagerada e desproporcional dos direitos e garantias do agente em
detrimento dos direitos e garantias do corpo social.
Ex: Oitiva por escrito do Presidente da República (STF -INQ 4483)
Princípio da exclusiva proteção do bem jurídico
A principal função do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos
mais relevantes para um convívio social harmônico.
Ex. Não pode o Estado utilizar o DP para tutelar a moral, a religião, os
valores ideológicos, etc.
Destinatário do princípio:
É o legislador, pois o orienta na elaboração das políticas criminais.
Consequência prática:
É possível controlar a atividade do legislador.
Assim, não é qualquer valor ou interesse que é merecedor da tutela
penal.
Ex1. Não se pode punir orientações sexuais.
Ex2. Não se pode punir orientações ideológicas
Conclusão:
O Direito Penal é fragmentário, pois nem todos os bens jurídicos merecem
a tutela penal.
Princípio da intervenção mínima do Direito Penal
Origem:
Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789.
(Art. 8º: a lei apenas deve estabelecer penas estrita e devidamente
necessárias).
Previsão legal?
Não. É considerado um princípio constitucional implícito
Cuidado!
De acordo com o STF/STJ, o princípio não se aplica às seguintes
infrações penais:
a) manutenção de casa de prostituição (art 229, CP) – STF, HC
104467/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 08/02/2011;
STJ, AgRg no Resp 1508423/MG, 6ª Turma, Rel. Min. Ericsson
Maranho, j. 01.09.2015;
b) violação de direito autoral (art. 184,§2º, CP)
Súmula 502, STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se
típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, do CP, a
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas”.
c) jogo do bicho (art. 58, LCP) - Resp 30705/SP, 6ª Turma, Rel. Min.
Adhemar Maciel, j. 14.03.1995.
3. Expressões sinônimas:
Bagatela própria ou crime de bagatela.
4. Natureza jurídica do princípio.
Obs1. É causa de exclusão da tipicidade material.
Obs2. Sob o enfoque hermenêutico, o princípio da insignificância
pode ser visto como instrumento de interpretação restritiva do tipo
penal, pois restringe o âmbito de incidência da lei penal incriminadora
e afasta a tipicidade material.
Obs3. De acordo com o STJ, a aferição da insignificância é requisito
negativo da tipicidade conglobante, pois ultrapassa o juízo
subsuntivo típico formal e adentra na seara da análise do desvalor da
conduta e do resultado em sentido amplo (STJ, 5ª T., RHC 46435, j.
13/10/2015).
5. Previsão legal?
Obs1. O art. 28-A, §2º, II, do CPP prevê o acordo de não persecução
penal (ANPP) e estabelece que o instituto não será cabível em caso
de reincidência, habitualidade ou reiteração criminosa, salvo se a
infração pretérita for insignificante.
Em resumo:
À luz do Direito Penal da atualidade, orientado pelos princípios da
intervenção mínima, da subsidiariedade, da fragmentariedade e da ultima
ratio, cremos que, mais do que um poder conferido ao Delegado de Polícia,
a aplicação do princípio da insignificância deve ser vista como um
verdadeiro dever atribuído à Autoridade Policial no desempenho de sua
missão de garantir direitos fundamentais. (Eduardo Fontes e Gabriel
Habib - Temas avançados de Polícia Judiciária)
Insignificância penal Também conhecida como
bagatela própria
Em qualquer momento,
Momento de aplicação pois não há crime a perseguir
Princípio da insignificância (STF e STJ)
Requisitos objetivos
1) Mínima ofensividade da conduta do agente
2) Ausência de periculosidade social da ação
3) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento
4) Inexpressividade da lesão jurídica causada.
Obs1. Esses requisitos parecem tautológicos, porque se mínima é a
ofensa, então a ação não é socialmente perigosa; se a ofensa é
mínima e a ação não perigosa, em consequência, mínima ou
nenhuma é a reprovação, e, pois, inexpressiva a lesão jurídica. Enfim,
os supostos requisitos apenas repetem a mesma ideia por meio de
palavras diferentes, argumentando em círculo (Paulo Queiroz).
Obs2. Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes
praticados com emprego de violência ou grave ameaça à pessoa,
ainda que o bem não possua valor econômico significativo.
Obs3. Não se aplica a policial militar que, no exercício de sua
atividade profissional, apropria-se de celular pertencente à vítima de
acidente de trânsito.
Questão: Para saber se incide ou não o princípio da
insignificância, principalmente nos crimes contra o
patrimônio, deve-se analisar a capacidade econômica da
vítima?
STJ: “A verificação da lesividade mínima da conduta apta a torna-la
atípica, deve levar em consideração a importância do objeto material
subtraído, a condição econômica do sujeito passivo, assim como as
circunstâncias e o resultado do crime, a fim de se determinar,
subjetivamente, se houve ou não relevante lesão ao bem jurídico
tutelado” (REsp 1.224.795, Quinta Turma, julgado 13/03/2012).
STF: Não reconheceu como insignificante o furto de “disco de ouro”,
tendo em vista que o prêmio artístico, apesar de não ser de ouro, era
dotado de valor inestimável para a vítima (valor sentimental). Nessa
hipótese, o STF levou em conta o valor da coisa subtraída para a
vítima, a qual recebera o prêmio após muito esforço para se destacar
no meio artístico (1ª Turma, HC 107615/MG, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 06/09/2011).
Questão: É possível aplicar o princípio da insignificância ao réu
reincidente, portador de maus antecedentes ou criminoso habitual?
Cuidado!
O Plenário do STF, ao analisar o tema, afirmou que não é possível
fixar uma regra geral (uma tese) sobre o assunto.
A decisão sobre a incidência ou não do princípio da insignificância
deve ser feita caso a caso (Pleno do STF, Info 793).
Atenção!
Contudo, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ
negam a aplicação do princípio da insignificância caso o réu seja
reincidente ou já responda a outros inquéritos ou ações penais.
Questão: Pode o juiz condenar o réu reincidente a um crime
apenado com reclusão e aplicar o princípio da insignificância para
fixar o regime inicial aberto?
Detalhe!
De acordo com o art. 33 do CP, o reincidente, independentemente da
pena aplicada, deverá iniciar o cumprimento da reprimenda em
regime fechado.
A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso
concreto.
No entanto, o juiz pode entender que a absolvição, com base nesse
princípio, é penal ou socialmente indesejável.
Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a
circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o
regime inicial aberto.
Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância
para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do
CP, com base no princípio da proporcionalidade.
STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).
Questão: Pode o juiz condenar o réu reincidente a um crime
apenado com reclusão e aplicar o princípio da insignificância para
substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direito?
Detalhe!
De acordo com o art. 44, II, do CP, é vedada a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos se o réu é reincidente
em crime doloso.
Em um caso concreto, o STF reconheceu a insignificância do bem
subtraído, mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em
vez de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para
conceder a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos.
STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018 (Info 913).
Em resumo: Insignificância e réu reincidente
Regra: A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa
reconheça a insignificância penal da conduta e absolva o réu, à luz
dos elementos do caso concreto.
Exceções: Na hipótese de o juiz da causa considerar penal ou
socialmente indesejável a aplicação do princípio da insignificância
para absolver o reú, poderá:
a) Fixar regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33,
§ 2º, "c", do CP no caso concreto, com base no princípio da
proporcionalidade;
b) Substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, a despeito do disposto no art. 44, II, CP.
Princípio da insignificância:
Casuísticas
Fundamento
Quando se trata de um órgão de previdência social, com o qual a
maior parcela da população é obrigada a contribuir no presente para
financiar os benefícios futuros, é imprescindível que todos tenham a
confiança de que os recursos depositados estão sendo bem geridos e
que condutas arquitetadas para dilapidá-los sejam reprimidas com
severidade.
Esse tipo de conduta contribui negativamente com o déficit da Previdência.
Defende-se que, não obstante ser ínfimo o valor obtido com
o estelionato praticado, se a prática de tal crime se tornar comum, sem
qualquer repressão penal da conduta, certamente se agravará a situação
da Previdência, responsável pelos pagamentos das aposentadorias e dos
demais benefícios dos trabalhadores brasileiros. Daí porque se conclui que
é elevado o grau de reprovabilidade da conduta praticada.
Desse modo, o princípio da insignificância não pode ser aplicado para
abrigar conduta cuja lesividade transcende o âmbito individual e abala a
esfera coletiva.
STF. 1ª Turma. HC 111918, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/05/2012.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 627891/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 17/11/2015.
9) Moeda falsa x Princípio da insignificância
Código Penal
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-
moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
Não, pois a fé pública é um bem intangível, ligado à confiança que a
população deposita em sua moeda.
Da mesma forma, os Tribunais não aplicam o princípio da bagatela aos
crimes contra a fé pública em geral, como a falsificação de documentos
públicos.
STF: HC 126.285/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., j. 13/09/2016)
STJ: hc 439.958/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 26/06/2018).
10) Manutenção de rádio comunitária clandestina x princípio
da insignificância
Lei nº 9.472/97 Lei nº 4.117/62
Art. 183. Desenvolver clandestinamente Art. 70. Constitui crime punível com a
atividades de telecomunicação: pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois)
Pena - detenção de dois a quatro anos, anos, aumentada da metade se houver
aumentada da metade se houver dano dano a terceiro, a instalação ou
a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 utilização de telecomunicações, sem
(dez mil reais). observância do disposto nesta Lei e nos
regulamentos.
STJ: Não admite.
O crime é de perigo abstrato e a manutenção clandestina de rádio
compromete a segurança, a regularidade e a operabilidade do
sistema de telecomunicações no país não podendo ser vista como
uma lesão inexpressiva ao bem jurídico tutelado (STJ. 6ª Turma.
AgRg no AREsp 740.434/BA, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 14/02/2017).
STF: Concorda com STJ (1ª Turma. HC 152118 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 07/05/2018).
12) Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (L. 7.492/86) x
princípio da insignificância.
Não se admite.
Fundamento: necessidade de maior proteção à estabilidade e
higidez do sistema financeiro nacioal, independentemente do prejuízo
que possa ter causado.
Exs. crimes de gestão fraudulenta ou temerária (art. 4º), crimes de
obtenção de financiamento mediante fraude (art. 16), evasão de
divisas (art. 22, parágrafo único).
13) Crime eleitoral x princípio da insignificância.
TSE: A divulgação de propaganda criminosa dentro da cabine de
votação e ao lado de uma urna eletrônica não pode ser considerada
insignificante, pois viola a liberdade de escolha do eleitor no momento
sigiloso de confirmação do voto (RESPE 6672/GO, Dje. 20/03/2017).
Atenção!
A jurisprudência ainda tem sido bastante tímida no reconhecimento da
bagatela imprópria, salvo nos casos de perdão judicial.
Bagatela própria x bagatela imprópria
Princípio da desnecessidade da
Expressões sinônimas Princípio da insignificância pena ou da irrelevância penal do
fato
Cuidado!
O nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito
Penal do fato, mas considera circunstâncias relacionadas ao autor
quando da análise da pena.
Ex. reincidência, os maus antecedentes, a sua personalidade etc.
Isso não acarreta ofensa ao princípio da responsabilidade pelo fato,
pois tal procedimento adotado pelo juízo no momento de aplicação da
sanção tem por finalidade atender a outro princípio de estatura
constitucional: o da individualização das penas. Por essa razão, a
jurisprudência considera constitucional a agravante da reincidência.
STJ, AgRg nos EDcl no REsp 965.071.
Tema
Princípio da legalidade
1. Origem do princípio
art. 5º, inc. II: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.
art. 5º, inc. XXXIX: não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal.
4. Previsão legal
Código Penal
art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal.
Expressões sinônimas:
Reserva legal ou estrita legalidade.
Cuidado!
Embora seja vedada a edição de Medida Provisória em matéria de
Direito Penal, o STF já decidiu no sentido de que a medida provisória
pode versar sobre Direito Penal não incriminador, desde que em
benefício do agente (STF –RE 254.818/PR – Tribunal Pleno,
rel. Min. Sepúlveda Pertence, Publicação em 9/12/2002).
Ex: A MP nº 417/2008, que autorizou a entrega espontânea de
armas de fogo à Polícia Federal. Essa norma, posteriormente
convertida na Lei n. 11.706/2008, evidentemente benéfica, extinguiu
a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma e nunca
foi declarada inconstitucional.
É possível utilizar tipo penal descrito em tratado
internacional do qual o Brasil é signatário para
tipificar condutas internamente?
Ex. Crimes contra a humanidade previstos no
Estatuto de Roma, promulgado no Brasil por força do
Decreto nº 4.388/2002.
A definição dos crimes de lesa-humanidade (crimes contra a
humanidade), pode ser encontrada no Estatuto de Roma (promulgado
no Brasil por força do Decreto nº 4.388/2002).
No Brasil, no entanto, ainda não há lei que tipifique os crimes contra a
humanidade.
Diante dessa lacuna legislativa, não se mostra possível internalizar a
tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo Estatuto de
Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado por meio do
Decreto n. 4.388, porquanto não há lei em sentido formal tipificando
referida conduta (princípio da legalidade art. 5º, XXXIX da CF/88).
STJ. 3ª Seção. REsp 1798903-RJ, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 25/09/2019 (Info 659).
Conclusão!
Não há crime e não há pena sem lei.
De acordo com o penalista alemão Edmund Mezger:
“Somente a lei abre as portas da prisão”.
Atenção!
A retroatividade benéfica é garantia fundamental do cidadão (art. 5º, XL,
CF).
Ex. Abolitio criminis.
Desdobramento: lei escrita
Atenção!
Somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume
abolicionista (STF e STJ)
Obs1. Veda-se a analogia para criar infrações penais (“in malam partem”).
Vale lembrar!
No dia 13/06/2019 o STF, no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão 26, por maioria de votos (8x3)
reconheceu a mora do Congresso Nacional para incriminar atos
atentatórios a direitos fundamentais dos integrantes da comunidade
LGBTQIA+, considerando esses comportamentos como crime previsto na
Lei do Racismo.
Crítica doutrinária:
A Lei do Racismo (L. 7.716/89) trata somente do preconceito ou
discriminação de “raça, cor, etnia e religião”. Não há previsão na lei de
crime de racismo em virtude de preconceito ligado à “orientação sexual”.
A decisão da Suprema Corte caracteriza analogia “in malam partem”.
Obs2. A analogia benéfica é perfeitamente possível (“in bonam
partem”).
Lei 11.343/06
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou
associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: (...)
Constituição Federal
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
Exceção: Art. 22, parágrafo único.
1) Perigo abstrato:
2) Perigo concreto:
Questão: Como saber se o crime é de perigo
abstrato ou de perigo concreto?
Lei 11.343/06
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de
drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:
Lei 9.503/97
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida
Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito
de dirigir, gerando perigo de dano:
Atenção!
Parcela da doutrina defende que os crimes de perigo abstrato
são inconstitucionais, por violarem o princípio da ofensividade
(lesividade) e também o princípio da ampla defesa e propõe
outra classificação de crimes de perigo.
Crime de Crime de
perigo concreto perigo abstrato
de perigosidade real
O perigo advindo da conduta deve ser O perigo advindo da conduta deve ser
comprovado. comprovado
Deve ser demonstrado o risco para pessoa Dispensa risco para pessoa certa e
certa e determinada. determinada.
Obs1. A doutrina amplamente dominante e também a
jurisprudência admitem os crimes de perigo abstrato.
Fique atento!
Embora a posse de munição seja crime de perigo abstrato (regra), há
julgados recentes dos Tribunais Superiores reconhecendo a atipicidade
material da conduta de possuir munição desacompanhada da arma de fogo.
A incidência do princípio da insignificância nesses casos transforma o delito
até então reconhecido como de perigo abstrato em crime de perigo
abstrato-concreto.
Outro exemplo extraído da jurisprudência: munição usada como
pingente (STF, HC 133.984).
Em resumo:
Regra: é crime (arts. 12, 14 ou 16) – perigo abstrato.
Exceção: em caso de pequena quantidade de munição, a depender do
caso concreto, pode ser aplicado o princípio da insignificância (isso é perigo
abstrato-concreto).
Princípio da
individualização da pena
Fundamento constitucional:
Art. 5º (...)
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
(...)
Noção
Embora esteja intimamente relacionado à operação de dosimetria da pena
efetuada pelo magistrado por ocasião da prolação da sentença condenatória, não
se restringe ao âmbito judicial, pois se projeta também em outras fases, a saber:
1) Fase legislativa:
2) Fase judicial:
3) Fase administrativa
1) Fase legislativa:
Ocorre no plano abstrato.
Quando o legislador cria a infração penal e comina a respectiva pena, já
esboça os primeiros parâmetros de sua individualização.
Ex. A pena para o crime de furto simples varia entre um e quatro anos,
enquanto no roubo simples a pena é de quatro a dez anos. Isso representa
um início de individualização da pena pelo legislador, já que não seria lícita
a criação de uma “pena padrão” para todos os delitos.
2) Fase judicial:
Ocorre no plano concreto e complementa a individualização legislativa.
É realizada pelo juiz sentenciante ao aplicar a pena, respeitando os limites
mínimo e máximo estipulados pelo legislador, seguindo o sistema trifásico
para aplicação da pena privativa de liberdade e o bifásico em relação à
pena de multa.
Assim agindo, está o magistrado atendendo ao princípio da individualização
da pena.
3) Fase executória (administrativa):
Refere-se ao momento da execução da pena pelo Estado.
É realizada pelo juiz que acompanhará e fiscalizará a execução da pena
aplicada.
Há critérios de individualização que também devem ser observados durante
o cumprimento da sanção, na medida em que alguns presos progridem,
outros regridem, alguns trabalham etc.
O art. 5º da LEP estabelece que os condenados serão classificados,
segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a
individualização da execução penal.