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DIREITO PENAL

EDUARDO FONTES
Tema:
Princípios informadores do
Direito Penal
Missão fundamental do Fato do agente Agente do fato Pena
DP
1. Princípio da 1. Princípio da 1. Princípio da 1. Dignidade da pessoa
proporcionalidade exteriorização ou da responsabilidade pessoal humana
materialização do fato

2. Princípio da exclusiva 2. Princípio da legalidade 2. Princípio da 2. Princípio da


proteção dos bens responsabilidade subjetiva individualização da pena
jurídicos ou da culpabilidade

3. Princípio da intervenção 3. Princípio da 3. Princípio da


mínima do Direito Penal ofensividade ou lesividade pessoalidade
(e seus desdobramentos)

4. Princípio da isonomia 4. Princípio da vedação ao


“ bis in idem”

5. Princípio da presunção
de inocência
Princípio da proporcionalidade

Origem:
Trata-se de princípio que deita suas raízes no Direito Alemão.

Previsão legal?
Não. É considerado um princípio constitucional implícito.

É formado por 3 subprincípios:


a) adequação
b) necessidade
c) proporcionalidade em sentido estrito
Adequação
A utilização do Direito Penal deve ser apta (adequada) a alcançar os
fins pretendidos (proteção do bem jurídico, prevenção e retribuição).

Necessidade
Considerado a forma mais violenta de intervenção estatal, o Direito
Penal deve ser utilizado de forma subsidiária, somente quando as
demais formas de controle social se revelarem ineficazes.
Proporcionalidade em sentido estrito
O Estado não deve lançar mão do DP se isso se tornar mais danoso
do que os benefícios a serem alcançados.
A tutela eficaz do bem jurídico, a prevenção e a retribuição devem ser
superiores do que o sacrifício do autor do crime ou da própria
sociedade.
Em matéria penal, a proporcionalidade deve levar em conta a
importância do bem jurídico tutelado, o grau de afetação do bem
jurídico, o elemento subjetivo e a forma de participação do agente no
delito.
Obs. O princípio da proporcionalidade deve ser analisado, ainda, em
duas perspectivas:
a) Proibição do excesso:
O legislador não pode criar figuras típicas penais que não protejam
qualquer bem jurídico.
Ex1. Criminalizar o comportamento homossexual.
Além disso, ao criar uma infração penal, a pena cominada deve ser
compatível com o bem jurídico tutelado.
Ex2. Pena do art. 273, § 1º, “b”, CP foi considerada inconstitucional
(STJ, HC 239.363; STF, RE 979962)
Obs. Essa vertente do princípio da proporcionalidade, que veda a
hipertrofia da punição, também é conhecida como garantismo
negativo.
b) Proibição da proteção deficiente ou insuficiente
Um direito fundamental não pode ser deficientemente protegido, seja
mediante a eliminação de figuras típicas, seja pela cominação de penas
inferiores à importância exigida pelo bem que se quer proteger.
Ex1. Lei que viesse a descriminalizar o homicídio seria inconstitucional, por
proteger de forma insuficiente o direito fundamental à vida.
Ex2. Lei que cominasse pena máxima de 2 anos ao delito de estupro
poderia ser considerada inconstitucional, diante da insuficiente proteção do
direito fundamental à liberdade sexual e, por corolário lógico, à dignidade da
pessoa humana.
Obs. Essa vertente do princípio da proporcionalidade também é conhecida
como garantismo positivo.
Lembrem-se!
Obs1. O garantismo ideal é o garantismo integral, consubstanciado
na perfeita e necessária conjugação das duas vertentes garantistas:
negativa e positiva.
Obs2. Para muitos, o Brasil ainda não atingiu o equilíbrio entre essas
duas facetas do garantismo penal, pois prevalece o garantismo
negativo, que se levado ao extremo, culmina no chamado
garantismo hiperbólico monocular, caracterizado pela ampliação
exagerada e desproporcional dos direitos e garantias do agente em
detrimento dos direitos e garantias do corpo social.
Ex: Oitiva por escrito do Presidente da República (STF -INQ 4483)
Princípio da exclusiva proteção do bem jurídico
A principal função do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos
mais relevantes para um convívio social harmônico.
Ex. Não pode o Estado utilizar o DP para tutelar a moral, a religião, os
valores ideológicos, etc.

Destinatário do princípio:
É o legislador, pois o orienta na elaboração das políticas criminais.

Consequência prática:
É possível controlar a atividade do legislador.
Assim, não é qualquer valor ou interesse que é merecedor da tutela
penal.
Ex1. Não se pode punir orientações sexuais.
Ex2. Não se pode punir orientações ideológicas

Obs. Somente os bens jurídicos mais relevantes merecem a tutela


penal, sob pena de desvirtuar-se a missão do Direito Penal.

Conclusão:
O Direito Penal é fragmentário, pois nem todos os bens jurídicos merecem
a tutela penal.
Princípio da intervenção mínima do Direito Penal
Origem:
Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789.
(Art. 8º: a lei apenas deve estabelecer penas estrita e devidamente
necessárias).

Previsão legal?
Não. É considerado um princípio constitucional implícito

Função principal do Direito Penal:


Proteger bens jurídicos
Direito Civil
Direito Administrativo
Direito Previdenciário
Direito Penal
Conceito
O DP só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo
que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais
esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente os
casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado
(caráter fragmentário).
Caráter subsidiário:
O DP aguarda o fracasso das demais esferas de controle (“ultima
ratio”; soldado de reserva)
Caráter fragmentário:
O DP somente atua em casos de relevante lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado (dentro do universo de ilicitude, nem tudo é
relevante para o DP).
Ex. Fragmentariedade
Lei de Contravenções Penais
Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:
(...)
II – a quem se acha em estado de embriaguez;
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa, de quinhentos
mil réis a cinco contos de réis.

Obs. Sem dúvida, o legislador não respeitou o princípio da intervenção


mínima do Direito Penal, na vertente da fragmentariedade, ao criar essa
infração penal (nossa posição).
O que vem a ser a fragmentariedade às avessas?
Em respeito ao subprincípio fragmentariedade, uma
série de condutas humanas, tipificadas como infrações
penais há alguns anos, foram gradativamente
descriminalizadas, pois sua repercussão se restringia
ao campo da moralidade, sem afrontar qualquer bem
jurídico de relevância.
No ordenamento jurídico brasileiro, o exemplo clássico
desse processo, também chamado de
fragmentariedade às avessas, é o caso do adultério,
que estava previsto no artigo 240 do Código Penal, e foi
revogado em 2005.
Código Penal
Art. 240. Cometer adultério:
Pena – detenção, de quinze dias a seis meses.
(Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Princípio da adequação social
Idealizador
Hans Welzel
Previsão legal?
Não. É considerada desdobramento do princípio da intervenção mínima do
Direito Penal.
Noção
Uma conduta não pode ser considerada criminosa se é aceita e aprovada
pela sociedade.
Ex1. Trotes universitários
Ex2. Mãe que fura a orelha da bebê para colocar brinco.
Natureza jurídica
Causa de exclusão da tipicidade material.

Cuidado!
De acordo com o STF/STJ, o princípio não se aplica às seguintes
infrações penais:
a) manutenção de casa de prostituição (art 229, CP) – STF, HC
104467/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 08/02/2011;
STJ, AgRg no Resp 1508423/MG, 6ª Turma, Rel. Min. Ericsson
Maranho, j. 01.09.2015;
b) violação de direito autoral (art. 184,§2º, CP)
Súmula 502, STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se
típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, do CP, a
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas”.

c) jogo do bicho (art. 58, LCP) - Resp 30705/SP, 6ª Turma, Rel. Min.
Adhemar Maciel, j. 14.03.1995.

Obs. Os Tribunais Superiores não admitem o chamado costume


abolicionista.
Tema
Princípio da insignificância
1. Origem do princípio

Tem origem no Direito Civil, mais precisamente no Direito Romano.

Assenta-se na expressão “de minimis non curat praetor”.


2. Responsável pela introdução do princípio da insignificância no
Direito Penal
Claus Roxin (1964), como desdobramento lógico da fragmentariedade
do Direito Penal.

3. Expressões sinônimas:
Bagatela própria ou crime de bagatela.
4. Natureza jurídica do princípio.
Obs1. É causa de exclusão da tipicidade material.
Obs2. Sob o enfoque hermenêutico, o princípio da insignificância
pode ser visto como instrumento de interpretação restritiva do tipo
penal, pois restringe o âmbito de incidência da lei penal incriminadora
e afasta a tipicidade material.
Obs3. De acordo com o STJ, a aferição da insignificância é requisito
negativo da tipicidade conglobante, pois ultrapassa o juízo
subsuntivo típico formal e adentra na seara da análise do desvalor da
conduta e do resultado em sentido amplo (STJ, 5ª T., RHC 46435, j.
13/10/2015).
5. Previsão legal?
Obs1. O art. 28-A, §2º, II, do CPP prevê o acordo de não persecução
penal (ANPP) e estabelece que o instituto não será cabível em caso
de reincidência, habitualidade ou reiteração criminosa, salvo se a
infração pretérita for insignificante.

Cuidado! O dispositivo apenas faz menção à infração insignificante,


mas não traz o conceito ou requisitos do princípio da insignificância.

Obs2. O princípio da insignificância é criação doutrinária e


jurisprudencial, logo, é causa supralegal de exclusão da tipicidade
material.
6. Momento de sua aplicação:
Em qualquer fase, até mesmo antes de iniciada uma investigação.

7. Quem pode aplicá-lo:


Todos os atores da persecução criminal, inclusive o Delegado de
Polícia (majoritária).
Infelizmente, em pleno século XXI, ainda nos deparamos com
decisões vetustas, que enxergam a figura do Delegado de Polícia
como mero fazedor de “BO”, olvidando-se que, em verdade, integra
as carreiras jurídicas do Estado e que atua como primeiro garantidor
da legalidade e da justiça.
É a Autoridade Policial que, desde o início da investigação, deve zelar
pela observância irrestrita de direitos e garantias do cidadão, o qual,
na hodierna dogmática jurídico-penal não é mais visto como objeto da
investigação, mas sim como sujeito de direitos.
(Eduardo Fontes e Gabriel Habib - Temas Avançados de Polícia
Judiciária).
“A prisão em flagrante de Izabel é fruto de um equívoco. Demonstra de
outro lado que o ensino jurídico no nosso país (e particularmente o
ensino do Direito penal) precisa avançar. O homem já chegou à lua, o
mundo se globalizou, o planeta se integrou inteiramente pela Internet e
nosso Direito Penal continua o mesmo da Segunda Guerra Mundial. O
delegado agiu da forma como agiu porque aprendeu na faculdade ser
um legalista positivista e napoleônico convicto. Esse modelo de ensino
jurídico (e de Direito penal) já morreu. Mas se já morreu, porque o
delegado continua lavrando flagrante no caso do furto de uma cebola? A
resposta é simples: morreu mas ainda não foi sepultado! O modelo
clássico e provecto de Direito penal é como elefante: dar tiros nele é
fácil, difícil será sepultar o cadáver.
O delegado, o juiz e o promotor que seguem o velho e ultrapassado modelo
de Direito penal (formalista, legalista), no máximo aprenderam o Direito
penal do finalismo (que começou a ficar decadente na Europa na década de
60 exatamente por ser puramente formalista). Apesar disso, ainda é o
modelo contemplado (em geral) nos manuais brasileiros e é o ensinado nas
faculdades de direito.“ (Luiz Flávio Gomes)

Em resumo:
À luz do Direito Penal da atualidade, orientado pelos princípios da
intervenção mínima, da subsidiariedade, da fragmentariedade e da ultima
ratio, cremos que, mais do que um poder conferido ao Delegado de Polícia,
a aplicação do princípio da insignificância deve ser vista como um
verdadeiro dever atribuído à Autoridade Policial no desempenho de sua
missão de garantir direitos fundamentais. (Eduardo Fontes e Gabriel
Habib - Temas avançados de Polícia Judiciária)
Insignificância penal Também conhecida como
bagatela própria

Natureza jurídica Causa supralegal de


exclusão da tipicidade material

Quem aplica? Delegado, Promotor e Juiz

Em qualquer momento,
Momento de aplicação pois não há crime a perseguir
Princípio da insignificância (STF e STJ)

Requisitos objetivos
1) Mínima ofensividade da conduta do agente
2) Ausência de periculosidade social da ação
3) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento
4) Inexpressividade da lesão jurídica causada.
Obs1. Esses requisitos parecem tautológicos, porque se mínima é a
ofensa, então a ação não é socialmente perigosa; se a ofensa é
mínima e a ação não perigosa, em consequência, mínima ou
nenhuma é a reprovação, e, pois, inexpressiva a lesão jurídica. Enfim,
os supostos requisitos apenas repetem a mesma ideia por meio de
palavras diferentes, argumentando em círculo (Paulo Queiroz).
Obs2. Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes
praticados com emprego de violência ou grave ameaça à pessoa,
ainda que o bem não possua valor econômico significativo.
Obs3. Não se aplica a policial militar que, no exercício de sua
atividade profissional, apropria-se de celular pertencente à vítima de
acidente de trânsito.
Questão: Para saber se incide ou não o princípio da
insignificância, principalmente nos crimes contra o
patrimônio, deve-se analisar a capacidade econômica da
vítima?
STJ: “A verificação da lesividade mínima da conduta apta a torna-la
atípica, deve levar em consideração a importância do objeto material
subtraído, a condição econômica do sujeito passivo, assim como as
circunstâncias e o resultado do crime, a fim de se determinar,
subjetivamente, se houve ou não relevante lesão ao bem jurídico
tutelado” (REsp 1.224.795, Quinta Turma, julgado 13/03/2012).
STF: Não reconheceu como insignificante o furto de “disco de ouro”,
tendo em vista que o prêmio artístico, apesar de não ser de ouro, era
dotado de valor inestimável para a vítima (valor sentimental). Nessa
hipótese, o STF levou em conta o valor da coisa subtraída para a
vítima, a qual recebera o prêmio após muito esforço para se destacar
no meio artístico (1ª Turma, HC 107615/MG, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 06/09/2011).
Questão: É possível aplicar o princípio da insignificância ao réu
reincidente, portador de maus antecedentes ou criminoso habitual?
Cuidado!
O Plenário do STF, ao analisar o tema, afirmou que não é possível
fixar uma regra geral (uma tese) sobre o assunto.
A decisão sobre a incidência ou não do princípio da insignificância
deve ser feita caso a caso (Pleno do STF, Info 793).
Atenção!
Contudo, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ
negam a aplicação do princípio da insignificância caso o réu seja
reincidente ou já responda a outros inquéritos ou ações penais.
Questão: Pode o juiz condenar o réu reincidente a um crime
apenado com reclusão e aplicar o princípio da insignificância para
fixar o regime inicial aberto?

Detalhe!
De acordo com o art. 33 do CP, o reincidente, independentemente da
pena aplicada, deverá iniciar o cumprimento da reprimenda em
regime fechado.
A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso
concreto.
No entanto, o juiz pode entender que a absolvição, com base nesse
princípio, é penal ou socialmente indesejável.
Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a
circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o
regime inicial aberto.
Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância
para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do
CP, com base no princípio da proporcionalidade.
STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).
Questão: Pode o juiz condenar o réu reincidente a um crime
apenado com reclusão e aplicar o princípio da insignificância para
substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direito?

Detalhe!
De acordo com o art. 44, II, do CP, é vedada a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos se o réu é reincidente
em crime doloso.
Em um caso concreto, o STF reconheceu a insignificância do bem
subtraído, mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em
vez de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para
conceder a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos.
STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018 (Info 913).
Em resumo: Insignificância e réu reincidente
Regra: A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa
reconheça a insignificância penal da conduta e absolva o réu, à luz
dos elementos do caso concreto.
Exceções: Na hipótese de o juiz da causa considerar penal ou
socialmente indesejável a aplicação do princípio da insignificância
para absolver o reú, poderá:
a) Fixar regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33,
§ 2º, "c", do CP no caso concreto, com base no princípio da
proporcionalidade;
b) Substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, a despeito do disposto no art. 44, II, CP.
Princípio da insignificância:
Casuísticas

1) Posse de droga para consumo pessoal (art. 28, L. 11.343/06) x


princípio da insignificância.
De acordo com a jurisprudência, o crime de posse de drogas
para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/06) é de perigo
abstrato e a pequena quantidade de droga faz parte da própria
essência do delito em questão, não lhe sendo aplicável o princípio da
insignificância (STJ. 6ª Turma. RHC 35920 -DF, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 20/5/2014. Info 541).
Fundamentos:
a) A reduzida quantidade da droga é inerente aos crimes tipificados
no art. 28 da Lei 11.343/2006;
b) A intenção do legislador foi a de impor ao usuário medidas de
caráter educativo, objetivando, assim, alertá-lo sobre o risco de sua
conduta para a sua saúde, além de evitar a reiteração do delito.
Nesse contexto, em razão da política criminal adotada pela lei, que
visa reeducar o usuário e evitar o incremento do uso indevido de
droga, não há espaço para a aplicação do princípio da insignificância;
c) Os crimes previstos no art. 28 são de perigo abstrato.
Cuidado!
O STF: possui um precedente isolado, da 1ª Turma, aplicando o
princípio (HC 110475 , Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2012).
2) Tráfico ilícito de drogas x princípio da insignificância

Não se aplica ao tráfico de drogas, visto se tratar de crime de perigo


abstrato ou presumido, sendo, portanto, irrelevante a quantidade
de droga apreendida (STJ. 5ª Turma. HC 318936/SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 27/10/2015).
3) Descaminho x princípio da insignificância
Código Penal
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto
devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Obs1. De acordo com a Lei 10.522/2002 e a Portaria MF nº 75, de
29/03/2012, não se deve ajuizar execução fiscal de débitos com a Fazenda
Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte
mil reais).
Como o Fisco não tem interesse em executar os débitos inscritos como
dívida ativa da União que não atingirem a importância de R$ 20mil, não
haveria justa causa para a deflagração da ação penal. Se o valor é
insignificante para o Fisco, não pode ser relevante para o Direito Penal
(princípio da intervenção mínima do Direito Penal).
“Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de
descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o
limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da
Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75
e 130, ambas do Ministério da Fazenda” (STJ, 3ª Seção. Resp
1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018
(recurso repetitivo).

Obs2. O entendimento jurisprudencial alcança apenas os tributos


federais, já que a Lei 10.522/2012 refere-se ao valor que a União
considera insignificante.
Para a sonegação de tributos estaduais e municipais deve-se analisar
se cada ente federativo possui previsão específica dispensando a
execução fiscal de tributos abaixo de determinado valor.
4. Contrabando x Princípio da insignificância
Código Penal
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
Obs1. No contrabando não se cuida tão somente de sopesar o caráter pecuniário do
imposto sonegado, como ocorre no descaminho, mas de tutelar a saúde pública, a
moralidade administrativa e a ordem pública (crime pluriofensivo). Diante disso e por
não se tratar de delito puramente fiscal, o Supremo Tribunal Federal não admite a
aplicação do princípio da insignificância para o delito de contrabando.
Obs2. A importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio
denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade
social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional aplicação
do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1708371/PR,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 24/04/2018.
5) Crimes contra a Administração Pública x princípio da insignificância
STF: Ex-prefeito condenado pela prática do crime previsto no art. 1º, II, do
Decreto-Lei 201/1967, por ter utilizado máquinas e caminhões de
propriedade da Prefeitura para efetuar terraplanagem no terreno de sua
residência. 3. Aplicação do princípio da insignificância. Possibilidade. (...)
(HC 104286, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em
03/05/2011).
STF: Delito de peculato-furto. Apropriação, por carcereiro, de farol de milha
que guarnecia motocicleta apreendida. Coisa estimada em treze reais. Res
furtiva de valor insignificante. Periculosidade não considerável do agente.
Circunstâncias relevantes. Crime de bagatela. Irrelevância no caso.
Aplicação do princípio da insignificância. Atipicidade reconhecida (STF – HC
112.388/SP, Min. Rel. Ricardo Lewandowski, 21/08/2012).
STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes cometidos
contra a Administração Pública, ainda que o valor seja irrisório,
porquanto a norma penal busca tutelar não somente o patrimônio, mas
também a moral administrativa. AgRg no AREsp 487715/CE, julgado
em 18/08/2015.
STJ: Não é possível a aplicação do princípio da insignificância a prefeito,
em razão mesmo da própria condição que ostenta, devendo pautar sua
conduta, à frente da municipalidade, pela ética e pela moral, não
havendo espaço para quaisquer desvios de conduta. (...) (HC
148.765/SP, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, Sexta Turma,
julgado em 11/05/2010).
Súmula 599, STJ
O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública.
Questão: Essa súmula do STJ aplica-se a todos os
crimes contra a Administração Pública?
Não, somente aos crimes praticados por funcionários
públicos contra a Administração Pública.
Fundamentos:
1) É no entorno desses crimes que a moralidade
administrativa é mais atingida;
2) Os Tribunais Superiores admitem a
insignificância no crime de descaminho (art. 334,
caput, CP), que é crime contra a Administração
Pública praticado por particular.
6) Crimes ambientais x princípio da insignificância.
Tanto o STF quanto o STJ, dependendo do caso concreto, têm
aplicado o princípio da insignificância em relação aos delitos
ambientais.
STJ: Predomina nesta Corte entendimento no sentido da
possibilidade de aplicação do princípio da insignificância aos crimes
ambientais, devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do
caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame.
(STJ, AgRg no AREsp 654.321/SC, Rel. Ministro Reynaldo Soares Da
Fonseca, 5ª T, julgado em 09/06/2015, DJe 17/06/2015)
No mesmo sentido: STF, Inq. 3788/DF, 2ª Turma, Rel. Min. Carmem
Lúcia, Dje. 01.03.2016.
7) Apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, CP) e
sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A, CP):
Não se admite.
Fundamento
Esses tipos penais protegem a própria subsistência da Previdência
Social, de modo que é elevado o grau de reprovabilidade da conduta
do agente que atenta contra este bem jurídico supraindividual.
O bem jurídico tutelado pelo delito
de apropriação indébita previdenciária é a subsistência financeira da
Previdência Social. Logo, não há como afirmar-se que a reprovabilidade da
conduta atribuída ao paciente é de grau reduzido, considerando que esta
conduta causa prejuízo à arrecadação já deficitária da Previdência Social,
configurando nítida lesão a bem jurídico supraindividual. O reconhecimento
da atipicidade material nesses casos implicaria ignorar esse preocupante
quadro.
STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/09/2011.
STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
21/06/2016.
STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
22/05/2019.
8) Estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, CP) x princípio da
insignificância

STF e STJ não admitem.

Fundamento
Quando se trata de um órgão de previdência social, com o qual a
maior parcela da população é obrigada a contribuir no presente para
financiar os benefícios futuros, é imprescindível que todos tenham a
confiança de que os recursos depositados estão sendo bem geridos e
que condutas arquitetadas para dilapidá-los sejam reprimidas com
severidade.
Esse tipo de conduta contribui negativamente com o déficit da Previdência.
Defende-se que, não obstante ser ínfimo o valor obtido com
o estelionato praticado, se a prática de tal crime se tornar comum, sem
qualquer repressão penal da conduta, certamente se agravará a situação
da Previdência, responsável pelos pagamentos das aposentadorias e dos
demais benefícios dos trabalhadores brasileiros. Daí porque se conclui que
é elevado o grau de reprovabilidade da conduta praticada.
Desse modo, o princípio da insignificância não pode ser aplicado para
abrigar conduta cuja lesividade transcende o âmbito individual e abala a
esfera coletiva.
STF. 1ª Turma. HC 111918, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/05/2012.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 627891/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 17/11/2015.
9) Moeda falsa x Princípio da insignificância
Código Penal
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-
moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
Não, pois a fé pública é um bem intangível, ligado à confiança que a
população deposita em sua moeda.
Da mesma forma, os Tribunais não aplicam o princípio da bagatela aos
crimes contra a fé pública em geral, como a falsificação de documentos
públicos.
STF: HC 126.285/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., j. 13/09/2016)
STJ: hc 439.958/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 26/06/2018).
10) Manutenção de rádio comunitária clandestina x princípio
da insignificância
Lei nº 9.472/97 Lei nº 4.117/62

Art. 183. Desenvolver clandestinamente Art. 70. Constitui crime punível com a
atividades de telecomunicação: pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois)
Pena - detenção de dois a quatro anos, anos, aumentada da metade se houver
aumentada da metade se houver dano dano a terceiro, a instalação ou
a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 utilização de telecomunicações, sem
(dez mil reais). observância do disposto nesta Lei e nos
regulamentos.
STJ: Não admite.
O crime é de perigo abstrato e a manutenção clandestina de rádio
compromete a segurança, a regularidade e a operabilidade do
sistema de telecomunicações no país não podendo ser vista como
uma lesão inexpressiva ao bem jurídico tutelado (STJ. 6ª Turma.
AgRg no AREsp 740.434/BA, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 14/02/2017).

STF: Admite, em caráter excepcional, desde que a rádio opere em


baixa frequência, em localidades afastadas dos grandes centros e em
situações nas quais ficou demonstrada a inexistência de lesividade
(STF. 2ª Turma. HC 138134/BA, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 7/2/2017 (Info 853).
11) Transmissão clandestina de sinal de internet via
radiofrequência x princípio da insignificância.

Súmula 606, STJ.


Não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão
clandestina de sinal de internet via radiofrequência que caracterizam
o fato típico previsto no art. 183 da Lei nº. 9.472/97.

STF: Concorda com STJ (1ª Turma. HC 152118 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 07/05/2018).
12) Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (L. 7.492/86) x
princípio da insignificância.

Não se admite.
Fundamento: necessidade de maior proteção à estabilidade e
higidez do sistema financeiro nacioal, independentemente do prejuízo
que possa ter causado.
Exs. crimes de gestão fraudulenta ou temerária (art. 4º), crimes de
obtenção de financiamento mediante fraude (art. 16), evasão de
divisas (art. 22, parágrafo único).
13) Crime eleitoral x princípio da insignificância.
TSE: A divulgação de propaganda criminosa dentro da cabine de
votação e ao lado de uma urna eletrônica não pode ser considerada
insignificante, pois viola a liberdade de escolha do eleitor no momento
sigiloso de confirmação do voto (RESPE 6672/GO, Dje. 20/03/2017).

TSE: É inaplicável o princípio da insignificância à doação de pessoa


física que excede parâmetro previsto em lei para campanhas
eleitorais, porquanto o ilícito se perfaz com mero extrapolamento do
valor doado, sendo irrelevante a quantia em excesso (RESPE
2007/SP, DJe 20/09/2016).
14) Furto qualificado x princípio da insignificância.
Regra:
Não se admite, pois em tal circunstância, ao menos em tese, há maior
ofensividade e reprovabilidade da conduta (STJ, HC 435.930, 5ª
Turma, Relator Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 14/04/2018).
Exceção:
A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à
primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da
conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a
ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação
do princípio da insignificância.
STJ. 5ª Turma. HC 553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).
15) Lei Maria da Penhax princípio da
insignificância.

Súmula 589 STJ


É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das
relações domésticas.
Questão: Qual a diferença entre a bagatela própria e
a bagatela imprópria?
Bagatela própria
• Embora a conduta do agente encontre perfeita adequação ao
descrito no tipo penal (tipicidade formal), o fato ainda poderá ser
considerado atípico (atipicidade material) se não houver lesão ou
perigo de lesão ao bem jurídico protegido.
• O fato pode ser reconhecido insignificante em qualquer momento,
até mesmo antes de instaurado o inquérito policial.
• Não encontra previsão no Código Penal Brasileiro, sendo
considerada uma causa supralegal de exclusão da tipicidade.
Bagatela imprópria
• Não está ligada a questões afetas à tipicidade, mas à necessidade ou
não de aplicação da pena, à luz do caso concreto analisado.
• O fato nasce penalmente relevante, contudo, diante de diversos fatores
a serem valorados pelo juiz por ocasião da prolação da sentença, a
pena poderá ser considerada desnecessária ou insuficiente,
especialmente porque o réu já experimentou, no caso concreto, uma
“pena natural”.
• Não é extralegal, pois encontra fundamento no art. 59 do Código Penal,
ao reconhecer que a pena deve ser necessária e suficiente para a
reprovação e prevenção do crime.
• Só pode ser reconhecida na sentença após o regular desenvolvimento
do processo.
• O perdão judicial é considerado um típico caso de bagatela imprópria.
Ex1. Roubo simples para sustentar o vício em drogas. No momento do
julgamento, que ocorreu 5 anos após o fato, o agente já estava recuperado
do vício. Desnecessidade de imposição de pena (TJ/MS, Revisão Criminal
2008.002829-1/0000-00, j. 19/05/2008).
Ex2. Vias de fato (contravenção penal) no ambiente doméstico. Fato
isolado, praticado por pessoa bipolar que não estava medicada, tendo a
vítima manifestado o desinteresse no prosseguimento. Desnecessidade de
imposição de pena. (TJ/MS, Apelação nº 0030093-79.2013.8.12.0001,
02/07/2015).
Ex3. Posse ilegal de arma de fogo de uso permitido. Absolvição sumária.
Crime sem violência ou grave ameaça. Delito cometido há mais de 12
anos. Incidência do princípio da bagatela imprópria. Requisitos
preenchidos. Desnecessidade da pena. (STJ, 5ª Turma, AgRg no AREsp
1423492/RN, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Dje 21/05/2019)

Atenção!
A jurisprudência ainda tem sido bastante tímida no reconhecimento da
bagatela imprópria, salvo nos casos de perdão judicial.
Bagatela própria x bagatela imprópria

Princípio da desnecessidade da
Expressões sinônimas Princípio da insignificância pena ou da irrelevância penal do
fato

Não há. Causa supralegal de


Fundamento legal Art. 59 do Código Penal
exclusão da tipicidade material.

O juiz reconhece que a pena


O fato se torna materialmente não deve ser aplicada e
Consequências
atípico. extingue a punibilidade do
agente.

Em qualquer fase, inclusive antes


Momento de aplicação Na sentença.
da instauração de um IP.

Quem aplica? Delegado, Promotor e Juiz Somente o juiz.


Tema
Princípio da exteriorização ou da
materialização do fato
Noção
Nosso ordenamento jurídico não admite um direito penal do autor,
apenas um direito penal do fato.
Direito Penal do autor:
O sujeito é julgado e punido levando-se em conta o seu perfil, o seu
passado, não o que fez.
Criminaliza-se a personalidade do agente e não a conduta por ele
praticada.
Ex. É o que se dá no Direito Penal do Inimigo.
Não se pode punir:
a) Pensamentos
b) Estilo de vida

Obs. A interceptação telefônica por prospecção representa um direito


penal do autor e por isso não é admitda.
Não se admite a interceptação telefônica pré-delitual, também
chamada de interceptação de prospecção. Somente se admite a
interceptação pós-delitual. (STF 2ª Turma, HC 108.147/PR, julgado
em 11/12/2012).
Direito Penal do fato:
Em oposição ao direito penal do autor, não admite a sanção do
caráter ou do modo de ser do indivíduo.
O que interessa para o Direito Penal é exclusivamente a conduta
(fato) praticada no caso concreto e não o perfil do agente ou o seu
passado criminoso.
O Estado Democrático de Direito, que tem como núcleo central a
dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da CF/88) e o
princípio da culpabilidade, de status constitucional, permitem extrair
essa conclusão.
Prova disso é o art. 2º do CP, ao estabelecer que ninguém pode ser
punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime.
Código Penal
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.

Cuidado!
O nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito
Penal do fato, mas considera circunstâncias relacionadas ao autor
quando da análise da pena.
Ex. reincidência, os maus antecedentes, a sua personalidade etc.
Isso não acarreta ofensa ao princípio da responsabilidade pelo fato,
pois tal procedimento adotado pelo juízo no momento de aplicação da
sanção tem por finalidade atender a outro princípio de estatura
constitucional: o da individualização das penas. Por essa razão, a
jurisprudência considera constitucional a agravante da reincidência.
STJ, AgRg nos EDcl no REsp 965.071.
Tema
Princípio da legalidade
1. Origem do princípio

Magna Carta do Rei João Sem Terra


15/06/1215
2. Previsão em diplomas internacionais
a) Convênio para a proteção dos direitos humanos e liberdades
fundamentais (1950);
b) Pacto de San José da Costa Rica;
c) Estatuto de Roma.
3. Previsão constitucional

art. 5º, inc. II: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.

art. 5º, inc. XXXIX: não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal.

4. Previsão legal
Código Penal
art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal.
Expressões sinônimas:
Reserva legal ou estrita legalidade.

O princípio da reserva legal impede sejam criadas infrações penais


por meio de:
 Decreto
 Lei Delegada: art. 68, § 1º, CF.
 Resoluções: (CNJ, CNMP, TSE etc.).
 Medida provisória: art. 62, § 1º, CF
Constituição Federal
Art. 62 (...)
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
(...)
b) direito penal, processual penal e processual civil;

Cuidado!
Embora seja vedada a edição de Medida Provisória em matéria de
Direito Penal, o STF já decidiu no sentido de que a medida provisória
pode versar sobre Direito Penal não incriminador, desde que em
benefício do agente (STF –RE 254.818/PR – Tribunal Pleno,
rel. Min. Sepúlveda Pertence, Publicação em 9/12/2002).
Ex: A MP nº 417/2008, que autorizou a entrega espontânea de
armas de fogo à Polícia Federal. Essa norma, posteriormente
convertida na Lei n. 11.706/2008, evidentemente benéfica, extinguiu
a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma e nunca
foi declarada inconstitucional.
É possível utilizar tipo penal descrito em tratado
internacional do qual o Brasil é signatário para
tipificar condutas internamente?
Ex. Crimes contra a humanidade previstos no
Estatuto de Roma, promulgado no Brasil por força do
Decreto nº 4.388/2002.
A definição dos crimes de lesa-humanidade (crimes contra a
humanidade), pode ser encontrada no Estatuto de Roma (promulgado
no Brasil por força do Decreto nº 4.388/2002).
No Brasil, no entanto, ainda não há lei que tipifique os crimes contra a
humanidade.
Diante dessa lacuna legislativa, não se mostra possível internalizar a
tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo Estatuto de
Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado por meio do
Decreto n. 4.388, porquanto não há lei em sentido formal tipificando
referida conduta (princípio da legalidade art. 5º, XXXIX da CF/88).
STJ. 3ª Seção. REsp 1798903-RJ, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 25/09/2019 (Info 659).
Conclusão!
Não há crime e não há pena sem lei.
De acordo com o penalista alemão Edmund Mezger:
“Somente a lei abre as portas da prisão”.

Somente uma lei em sentido estrito, devidamente aprovada pelo


Congresso Nacional, pode criar uma infração penal e cominar pena.

Princípio da reserva legal e as contravenções penais


As contravenções penais também se submetem ao princípio da legalidade.

Princípio da reserva legal e as medidas de segurança


As medidas de segurança também se submetem ao princípio da legalidade.
Desdobramento: princípio da anterioridade
Noção:
Não há crime sem lei anterior, não há pena sem prévia cominação legal.

Obs1. O princípio da anterioridade veda a retroatividade maléfica da lei


penal.
Ex. O aumento da pena de um delito traduz lei penal maléfica, de sorte que
a lei não poderá retroagir para alcançar fatos cometidos antes da sua
entrada em vigor. Foi o que aconteceu com o crime de concussão com o
advento do Pacote Anticrime.
Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Atenção!
A retroatividade benéfica é garantia fundamental do cidadão (art. 5º, XL,
CF).
Ex. Abolitio criminis.
Desdobramento: lei escrita

1. O costume não pode criar infrações penais, somente a lei.

2. O costume auxilia na interpretação das leis.

3. O costume interpretativo é chamado de costume “secundum legem”.


Questão: O costume pode revogar uma infração penal?
Ex. jogo do bicho, pirataria, etc.

Atenção!
Somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume
abolicionista (STF e STJ)

Súmula 502, STJ


Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica,
em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, CP, a
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.
Desdobramento: lei estrita

Obs1. Veda-se a analogia para criar infrações penais (“in malam partem”).
Vale lembrar!
No dia 13/06/2019 o STF, no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão 26, por maioria de votos (8x3)
reconheceu a mora do Congresso Nacional para incriminar atos
atentatórios a direitos fundamentais dos integrantes da comunidade
LGBTQIA+, considerando esses comportamentos como crime previsto na
Lei do Racismo.
Crítica doutrinária:
A Lei do Racismo (L. 7.716/89) trata somente do preconceito ou
discriminação de “raça, cor, etnia e religião”. Não há previsão na lei de
crime de racismo em virtude de preconceito ligado à “orientação sexual”.
A decisão da Suprema Corte caracteriza analogia “in malam partem”.
Obs2. A analogia benéfica é perfeitamente possível (“in bonam
partem”).

Lei 11.343/06
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou
associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: (...)

E aquele que colabora com o traficante solitário?


Aquele que colabora como informante de traficante solitário também
deverá ser responsabilizado pelo crime do art. 37 da Lei de Drogas,
aplicando-se ao caso a analogia in bonam partem (Fabio Roque,
Nestor Távora e minha posição).
Desdobramento: lei certa
Noção
A lei não pode ser ambígua, vaga, genérica. O legislador precisa ser
claro, preciso, taxativo.
Também conhecido como princípio da taxatividade ou mandato de
certeza.
Lei 13.869/19 (Abuso de autoridade)
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado
manifestamente descabida ou sem prévia intimação de
comparecimento ao juízo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Desdobramento: lei necessária

Decorrência lógica do princípio da intervenção mínima do Direito


Penal.

Em síntese: Não há crime sem lei:


 Anterior
 Escrita
 Estrita
 Certa e
 Necessária.
Questão: Se somente a lei pode criar crime, quem pode editar essa lei
penal?

Constituição Federal
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
Exceção: Art. 22, parágrafo único.

Obs1. Lei Complementar da União poderá autorizar os estados a


produzirem leis penais, mas apenas para questões específicas, ou
seja, de interesse daquele estado.

Obs2. Capacidade legislativa dos Estados membros: por meio de


lei complementar federal os Estados membros (quando
concretamente autorizados) podem legislar sobre Direito penal,
porém, somente em questões específicas de interesse local.
Obs3. Questões "específicas": uma regra penal sobre trânsito em
uma determinada localidade, sobre meio ambiente em uma delimitada
região etc. Nenhum Estado está autorizado a legislar sobre temas
fundamentais do Direito penal (sobre o princípio da legalidade, sobre
as causas de exclusão da antijuridicidade, sobre a configuração do
delito etc.).
Tema
Princípio da ofensividade
ou lesividade
Conceito: Não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao
bem jurídico tutelado.

Classificação doutrinária de crimes


quanto ao resultado jurídico
Crime de dano:
O dolo do agente é destruir o bem jurídico.
Crime de perigo:
O dolo do agente é de expor a perigo o bem jurídico.
O crime de perigo classifica-se em:

1) Perigo abstrato:

2) Perigo concreto:
Questão: Como saber se o crime é de perigo
abstrato ou de perigo concreto?
Lei 11.343/06
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de
drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Lei 9.503/97
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida
Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito
de dirigir, gerando perigo de dano:
Atenção!
Parcela da doutrina defende que os crimes de perigo abstrato
são inconstitucionais, por violarem o princípio da ofensividade
(lesividade) e também o princípio da ampla defesa e propõe
outra classificação de crimes de perigo.
Crime de Crime de
perigo concreto perigo abstrato
de perigosidade real

O perigo advindo da conduta deve ser O perigo advindo da conduta deve ser
comprovado. comprovado

Deve ser demonstrado o risco para pessoa Dispensa risco para pessoa certa e
certa e determinada. determinada.
Obs1. A doutrina amplamente dominante e também a
jurisprudência admitem os crimes de perigo abstrato.

Obs2. Trata-se de uma técnica que deve ser utilizada pelo


legislador para proteger de forma eficiente bens jurídicos.
Atenção!
Essa expansão do Direito Penal, com a previsão de crimes de perigo
abstrato e a consequente proteção de bens metaindividuais (difusos ou
coletivos) é chamado pela doutrina de espiritualização,
desmaterialização ou liquefação de bens jurídicos no Direito Penal
(Roxin).
Aprofundamento
Princípio da insignificância e o
Estatuto do Desarmamento
Aprofundamento
Tema:
Princípio da insignificância e posse ilegal de munição
1º ponto:
O crime do art. 12 é delito de perigo abstrato, logo, não se aplica o
princípio da insignificância.

Tese do STJ – Edição 108


O simples fato de possuir ou portar munição caracteriza os delitos previstos
nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003, por se tratar de crime de perigo
abstrato e de mera conduta, sendo prescindível a demonstração de lesão
ou de perigo concreto ao bem jurídico tutelado, que é a incolumidade
pública.
Exceções!
1) STF, HC 133984.
A análise dos documentos pelos quais se instrui pedido e dos demais
argumentos articulados na inicial demonstra a presença dos requisitos
essenciais à incidência do princípio da insignificância e a excepcionalidade
do caso a justificar a flexibilização da jurisprudência deste Supremo Tribunal
segundo a qual o delito de porte de munição de uso restrito, tipificado no
art. 16 da Lei n. 10.826/2003, é crime de mera conduta. A conduta do
Paciente não resultou em dano ou perigo concreto relevante para a
sociedade, de modo a lesionar ou colocar em perigo bem jurídico na
intensidade reclamada pelo princípio da ofensividade. (...)
2) STJ, Resp nº 1.735.871.
A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se ao Supremo
Tribunal Federal, tem entendido pela possibilidade da aplicação do princípio
da insignificância aos crimes previstos na Lei 10.826/03, a despeito de
serem delitos de mera conduta, afastando, assim, a tipicidade material da
conduta, quando evidenciada flagrante desproporcionalidade da resposta
penal. Ainda que formalmente típica, a apreensão de 8 munições na gaveta
do quarto da ré não é capaz de lesionar ou mesmo ameaçar o bem jurídico
tutelado, mormente porque ausente qualquer tipo de armamento capaz de
deflagrar os projéteis encontrados em seu poder.
Tese do STJ – Edição 108
A apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada de arma
de fogo, excepcionalmente, a depender da análise do caso concreto, pode
levar ao reconhecimento de atipicidade da conduta, diante da ausência de
exposição de risco ao bem jurídico tutelado pela norma.
Tese do STJ – Edição 108
O simples fato de possuir ou portar munição caracteriza os delitos previstos
nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003, por se tratar de crime de perigo
abstrato e de mera conduta, sendo prescindível a demonstração de lesão
ou de perigo concreto ao bem jurídico tutelado, que é a incolumidade
pública.

Tese do STJ – Edição 108


A apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada de arma
de fogo, excepcionalmente, a depender da análise do caso concreto, pode
levar ao reconhecimento de atipicidade da conduta, diante da ausência de
exposição de risco ao bem jurídico tutelado pela norma.
Afinal de contas, a posse ilegal de munição (arts. 12, 14
e 16 do Estatuto do Desarmamento) é crime de perigo abstrato ou
concreto?

Na verdade, é crime de perigo abstrato-concreto.


Crime de perigo abstrato-concreto:
É considerado uma subclassificação do delito de perigo abstrato.
Nesses casos, não basta a conduta do agente para caracterizar o delito
(perigo abstrato), mas também não se faz necessária a comprovação do
perigo (perigo concreto). O que importa é que a conduta seja capaz de
gerar um perigo possível de lesão ao bem jurídico.
Dito de outro modo, enquanto nos crimes de perigo abstrato basta a
conduta do agente para o delito estar configurado, uma vez que o perigo
gerado ao bem jurídico é presumido de forma absoluta pelo legislador, nos
delitos de perigo abstrato-concreto o legislador não se contenta com a mera
conduta do agente.
O crime exige um plus para a sua configuração, que é a geração de uma
situação de perigo possível ao bem jurídico.
Note-se que o que se precisa provar é a possibilidade de perigo,
diferentemente dos crimes de perigo concreto em que se faz necessária a
prova do efetivo perigo gerado ao bem jurídico, sob pena de atipicidade da
conduta.
O crime de perigo abstrato-concreto seria um meio termo: um plus em
relação ao crime de perigo abstrato e um minus comparando-o com o de
perigo concreto.

Expressão sinônima: delito de perigo hipotético


(...) Penso, por todo o exposto até aqui, ser razoável atribuir ao crime
materializado no art. 56, caput, da Lei n. 9.605⁄1998, a natureza de crime de
perigo abstrato, ou, sob a ótica ex ante, crime de perigo abstrato-
concreto, em que, embora não baste a mera realização de uma conduta,
não se exige, a seu turno, a criação de ameaça concreta a algum bem
jurídico e muito menos lesão a ele. Basta a produção de um ambiente de
perigo em potencial, em abstrato –in casu, com o transporte dos produtos
ou substâncias em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
nos seus regulamentos, de modo que a atividade descrita no tipo penal
crie condições para afetar os interesses juridicamente relevantes, não
condicionados, porém, à efetiva ameaça de um determinado bem jurídico.
(STJ – Resp. 1.439.150)
2º ponto:
Os Tribunais Superiores, embora não digam expressamente, estão
reconhecendo o delito dos arts. 12, 14 e 16 da Lei 10.826/03 como de
perigo abstrato-concreto, na medida em que exigem a demonstração de
um risco possível ao bem jurídico tutelado.

Fique atento!
Embora a posse de munição seja crime de perigo abstrato (regra), há
julgados recentes dos Tribunais Superiores reconhecendo a atipicidade
material da conduta de possuir munição desacompanhada da arma de fogo.
A incidência do princípio da insignificância nesses casos transforma o delito
até então reconhecido como de perigo abstrato em crime de perigo
abstrato-concreto.
Outro exemplo extraído da jurisprudência: munição usada como
pingente (STF, HC 133.984).

Em resumo:
Regra: é crime (arts. 12, 14 ou 16) – perigo abstrato.
Exceção: em caso de pequena quantidade de munição, a depender do
caso concreto, pode ser aplicado o princípio da insignificância (isso é perigo
abstrato-concreto).
Princípio da
individualização da pena
Fundamento constitucional:
Art. 5º (...)
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
(...)

Noção
Embora esteja intimamente relacionado à operação de dosimetria da pena
efetuada pelo magistrado por ocasião da prolação da sentença condenatória, não
se restringe ao âmbito judicial, pois se projeta também em outras fases, a saber:
1) Fase legislativa:
2) Fase judicial:
3) Fase administrativa
1) Fase legislativa:
Ocorre no plano abstrato.
Quando o legislador cria a infração penal e comina a respectiva pena, já
esboça os primeiros parâmetros de sua individualização.
Ex. A pena para o crime de furto simples varia entre um e quatro anos,
enquanto no roubo simples a pena é de quatro a dez anos. Isso representa
um início de individualização da pena pelo legislador, já que não seria lícita
a criação de uma “pena padrão” para todos os delitos.
2) Fase judicial:
Ocorre no plano concreto e complementa a individualização legislativa.
É realizada pelo juiz sentenciante ao aplicar a pena, respeitando os limites
mínimo e máximo estipulados pelo legislador, seguindo o sistema trifásico
para aplicação da pena privativa de liberdade e o bifásico em relação à
pena de multa.
Assim agindo, está o magistrado atendendo ao princípio da individualização
da pena.
3) Fase executória (administrativa):
Refere-se ao momento da execução da pena pelo Estado.
É realizada pelo juiz que acompanhará e fiscalizará a execução da pena
aplicada.
Há critérios de individualização que também devem ser observados durante
o cumprimento da sanção, na medida em que alguns presos progridem,
outros regridem, alguns trabalham etc.
O art. 5º da LEP estabelece que os condenados serão classificados,
segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a
individualização da execução penal.

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