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Em Portugal, a prostituição não é crime, e quem consome a prostituição não é crime. Difícil de
sustentar a punição porque o que está em causa é a liberdade sexual da pessoa.
Nota prévia – no acórdão o artigo em questão era o 170º CP, atualmente a redação é que se
encontra no 169º CP
Nota: crimes abstratos são diferentes de crimes concretos, os crimes concretos é necessário
fazer prova do crime no processo penal e há um dano concreto ex.: 291º CP sobre condução
perigosa de veiculo rodoviário é também um crime de resultado
Art. 18/2 CRP – princípio da necessidade da pena » só é legítimo o direito penal intervir, ou
seja, incriminar se for necessário para a proteção de bens jurídicos ex.: acórdão da deserção do
pescador não há bem jurídico em causa
Bem jurídico como legitimador do direito penal
O direito penal deve estar desprovido de qualquer caráter moral, no sentido de que não basta
para a prof. MFP o mero desvalor moral para que o comportamento seja incriminado
Aulas práticas:
Crimes de perigo abstrato: tem de haver prova, mas só se tem que provar o que está no
tipo incriminador, neste caso o comportamento. Não se tem que provar o
aproveitamento. Neste tipo de crimes o perigo é o motivo do crime. Não existe um dano
ao bem juridico
Moralidade ligada à incriminação do lenocínio, mas esta não resulta exclusivamente
dessa moralidade.
Argumentos do TC: 170º/1 poderia violar 41ºe 47º da CRP e o 18º/2 CRP (princípio da
necessidade da pena). a norma do CP é inconstitucional e por isso a arguida deveria ser
absolvida.
1º e 27º da CRP- princípio da culpa
Acórdão joga com a liberdade sexual da pessoa em questão, pode ser vista: Exercício
verdadeira da liberdade sexual por quem se prostitui. E a liberdade sexual da pessoa que
se prostitui para fundamentar a sua incriminação.
Para que haja um crime abstrato apenas se tem de fazer prova do comportamento e não
a prova do perigo.
O que fazer quando em tribunal se prova que não existiu um perigo? Crimes de perigo
abstrato.
Distingue-se entre crimes de dano e crimes de perigo.
1. Crimes de dano: a realização do tipo incriminador tem como consequência uma
lesão efetiva do bem jurídica.
Exemplos: o homicídio (art. 131º), o dano (art.212º), a violação sexual (art.164º) e a
injúria (art. 181º).
2. Crimes de perigo: a realização do tipo não pressupõe a lesão, mas antes se basta
com a mera colocação em perigo do bem jurídico. Aqui distingue-se entre
crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato.
2.1. Crimes de perigo concreto: o perigo faz parte do tipo, ou seja, o tipo só é
preenchido quando o bem jurídico tenha efetivamente sido posto em perigo.
É o caso do artigo 138º (exposição ou abandono), em que é elemento do tipo
o “colocar em perigo a vida de outra pessoa”.
Outros exemplos: artigos 291º (condução perigosa do veículo rodoviário) e 272º
(incêndios, explosões ...).
2.2. Crimes de perigo abstrato: o perigo não é elemento do tipo, mas
simplesmente motivo de proibição. Neste tipo de crimes são tipificados certo
tipo de comportamentos em nome da sua perigosidade típica para um bem
jurídico, mas sem que ela necessite de ser comprovada no caso concreto: há
como que uma presunção inelidível de perigo, e, por isso, a conduta do
agente é punida independentemente de ter criado ou não um perigo efetivo
para o bem jurídico.
Temos como exemplo a condução do veículo em estado de embriaguez (art. 292º), em
que o condutor embriagado é punido pelo facto de o estado em que se encontra
constituir um perigo potencial para a segurança rodoviária.
Outros exemplos são o abuso sexual de crianças (art.172º), a contrafação da moeda (art.
262º) ou a posse de arma proibida (art.275º).
Tem sido questionada a constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato pelo facto de
poderem constituir uma tutela demasiado avançada de um bem jurídico, pondo em sério
risco o princípio da legalidade e o princípio da culpa. A doutrina maioritária e o TC
pronunciam-se, todavia, pela sua não inconstitucionalidade quando visarem a proteção
de bens jurídicos de grande importância, quando for possível identificar claramente o
bem jurídico tutelado e a conduta típica for descrita de uma forma tanto quanto possível
precisa e minuciosa.
Quando haja acusação pela prática de um crime de perigo abstrato é indiferente a prova
que se faça no sentido de mostrar que, no caso concreto, o bem jurídico não foi posto
em perigo.
Contudo, no âmbito da discussão da constitucionalidade deste tipo de crimes surgiram
posições que preconizam a não punição de condutas que configurem a prática de um
crime de perigo abstrato quando se comprove que na realidade não existiu, de forma
absoluta, perigo para o bem jurídico, ou que o agente tomou as medidas necessárias para
evitar que o bem jurídico fosse colocado em perigo.
A este propósito começou a falar-se na doutrina de crimes de perigo abstrato-concreto.
Neles o perigo abstrato não é só critério interpretativo e de aplicação, mas deve também
ser momento referencial da culpa e, por isso, admitem a possibilidade de a perigosidade
ser objeto de um juízo negativo.
Esta categoria cabe ainda na dos crimes de perigo abstrato, porque a verificação do
perigo não é essencial ao preenchimento do tipo.
Do que verdadeiramente se trata é de crimes de aptidão, ou, na terminologia proposta
por BOCKELMANN, de “conduta concretamente perigosa”, no sentido de que só
devem relevar tipicamente as condutas apropriadas ou aptas a desencadear o perigo
proibido no caso de espécie. Assim, pois, nos crimes de aptidão o perigo converte-se em
parte integrante do tipo e não num meto motivo da incriminação, como sucede nos
autênticos crimes de perigo abstrato. Por outro lado, a realização típica destes crimes
não exige a efetiva produção de um resultado de perigo concreto.
Sobre o acórdão...
Se existe dignidade punitiva prévia? Existe um meio jurídico?
A prostituição não é punida em Portugal, e o consumo da prostituição também não é
punido.
Acórdão 2020- Dignidade da pessoa humana não é bem jurídico neste tipo de casos. A
dignidade humana não é um bem jurídico para efeitos de fundamentar determinada
incriminação. É um princípio constitucional muito importante.
Liberdade sexual: não quer dizer que sempre que alguém se prostitui esteja a pôr a sua
liberdade sexual em causa
Afetação da liberdade sexual conjugada com a dignidade da pessoa humana
A incriminação do lenocínio vem tutelar a liberdade sexual
Lenocínio- crime de perigo abstrato
Quando se consegue fazer prova disso as penas acabam por ser mais pesadas. Não
estamos a dispensar a prova porque é difícil, a ideia de tornar o lenocínio em crime
abstrato foi garantir a proteção da dignidade da pessoa humana e sua liberdade sexual.
Suécia: a prostituição não é punida, mas quem consome já é punido. O estado fica do
lado da prostituição e contra quem consome. É uma forma de diminuir a prostituição.