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Índice
UE e Direito da União Europeia: Terminologia e Enquadramento ................................................ 5
Fundamentos Históricos do Desígnio Europeu .............................................................................. 7
PRÉ-HISTÓRIA da UE: Até à I Guerra Mundial ............................................................................ 7
PROTO-HISTÓRIA da UE: ............................................................................................................ 9
Período entre Guerras Mundiais ........................................................................................... 9
Depois da II Guerra Mundial ................................................................................................ 11
HISTÓRIA da UE ....................................................................................................................... 12
Criação das Comunidades Europeias ........................................................................................... 12
Etapas do Processo da Construção Europeia ............................................................................... 16
Fases da Integração Económica ............................................................................................... 16
Etapa da Transição (1958-1968) .............................................................................................. 17
Etapa da Consolidação/Idade Adulta (1969-1992) .................................................................. 18
Processo de Consolidação e Maturação (1968-1986) ......................................................... 18
Ato Único Europeu (AUE) .................................................................................................... 18
Adesão de Portugal.............................................................................................................. 19
Idade Futura: União Europeia (1993-2009) ............................................................................. 20
Tratado de Maastricht ......................................................................................................... 20
Tratado de Amsterdão ......................................................................................................... 21
Carta dos Direitos Fundamentais da UE .............................................................................. 22
Tratado de Nice ................................................................................................................... 23
Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa ................................................... 24
Tratado de Lisboa ................................................................................................................ 25
Cronologia dos Tratados da UE ............................................................................................ 26
Tratado de Lisboa – Renovado Estatuto Jurídico da UE........................................................... 26
Método Comunitário de Integração ............................................................................................ 29
Ideia de Europa e Matriz Europeia .............................................................................................. 33
Cronologia Principal Detalhada ................................................................................................... 34
Características Comuns Estruturais do Sistema Institucional ...................................................... 38
Quadro Institucional Único ...................................................................................................... 38
Instituições, órgãos e organismos ........................................................................................... 38
Estrutura Institucional e Fontes de Legitimidade .................................................................... 39
Regime Comum de Funcionamento das instituições, órgãos e organismos ............................ 40
Princípios Fundamentais de Vinculação Institucional .................................................................. 43
Princípio do Equilíbrio Institucional ......................................................................................... 43
Princípio do Respeito pelo Acervo Comunitário ...................................................................... 45
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
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Há outras formulações – Direito Constitucional e Direito Administrativo da União Europeia – que
privilegiam o conteúdo regulador deste Direito. Tem uma abordagem político-ideológica que vê a UE
como uma pré-formação de Estado, imputando-lhe características da fenomenologia estadual
➔ Não são designações sinónimas do Direito institucional geral
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
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MLD: Redução do DUE a ramo do Direito parte de uma visão unidimensional e estadocêntrica sobre a
produção normativa e a legitimação das fontes que foi, há muito, substituída pelo paradigma do
pluralismo normativo.
É um ordenamento jurídico autónomo e próprio, caracterizado por:
• Sistema de Fontes – várias formas de revelação da normatividade no espaço de regulação
confiado à União Europeia
• Hierarquia de Normas - critério fundamental de estruturação das relações que se estabelecem
entre as múltiplas regras jurídicas em que se decompõe a ordem jurídica.
• Unidade – numa lógica centrípeta: fundacional, valorativa e lógico-formal
• Plenitude – sistema eurocomunitário garante uma resposta adequada às necessidades de
regulação
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
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Não sendo transpostas, qualquer pessoa nacional pode invocar internamente com o argumento do
efeito direto das mesmas.
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Há também uma subordinação política mas não há um projeto de integração política plena, pois cada
Estado-nação é um estado soberano (pleno sujeito de DIP)
DUE disputa com o Direito Constitucional o lugar cimeiro de Direito superior – o pluralismo
instalou-se no patamar normativo superior, com vários ordenamentos superiores a disputar a
aplicação preferente das respetivas normas.
Lugar do DUE é parâmetro de controlo da legalidade interna.
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Por volta de 700 a.C. no poema “Teogonia” do grego Hesíodo
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Europa de soberanias nacionais6 cuja referência política e normativa será a nova ordem jurídica
interestadual consagrada pela Paz de Vestefália (1648)
• Enquadra-se o aparecimento duma pluralidade de Estados soberanos e a igualdade
entre eles7
• Dos visionários precursores do movimento europeu destacam-se: Antoine Marini;
Duque de Sully; William Penn; Abade Saint-Pierre; Rousseau; Bentham;
o Kant, que sustenta um princípio de paz que não depende apenas de um pacto
de federação entre os Estados europeus (como a “Sociedade Europeia” de
Saint-Pierre) nem a associação de pequenos Estados para contrabalançar a
hegemonia dos grandes (de Rousseau) mas é mesmo uma “Federação de
Estados livres” de acordo com o modelo de constituição republicana baseada
na separação de poderes e igualdade perante a lei, ênfase na forma de poder
democrático e garantia de paz – advoga a aplicação de um Direito
Cosmopolítico, baseado no contrato de livre e permanente associação entre os
Estados, tendo como pressuposto o respeito do Estado de direito; (antevisão do
Direito Comunitário).
▪ Equilíbrio de Forças, orientado para impedir a prevalência hegemónica
de um ou vários Estados, foi responsável pela insegurança permanente
das relações dos Estados europeus.
▪ Estratégia de alianças entre Nações poderosas reduziu os Estados
pequenos à condição de submisso face a desígnios e interesses alheios.
No séc. XIX, período de democracia liberal na Europa, há vários pensadores da unidade europeia
que se destacam8:
• Conde Saint-Simon (1814, estudo de uma Europa federal em torno da França, Grã-
Bretanha e futura Alemanha); percursor da tendência institucionalista que vingará no
séc. XX sob a forma dos Tratados Institutivos das Comunidades Europeias);
• Benjamin Constant (1815) federalismo assente na União pacífica dos povos europeus e
no respeito da liberdade das nações federadas);
6
À exceção dos planos de Pierre Dubois (1304) e de Dante Alighieri (1308), por exemplo.
7
Inscreveu-se no Direito das Gentes o princípio de plena soberania dos Estados, que atuam nas relações
internacionais como titulares exclusivos do poder e o exercem de modo livre e unilateral.
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São as elites intelectuais que perspetivam uma abertura do Estado (absoluto e fechado sobre si) de
forma a que se consiga garantir a paz entre os Estados europeus.
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PROTO-HISTÓRIA da UE:
Período entre Guerras Mundiais
Desde o Tratado de Versalhes à década de 40.
A I Grande Guerra levou a que os Europeístas clamassem “Unir-se ou morrer” (Gaston Riou,
1928).
➢ Apressou o declínio da Europa face aos EUA
➢ Germinava o pessimismo europeu.
Sociedade das Nações (Genebra, 10/2/1920) nasceu e viveu enfraquecida pelo paradoxo de
uma época de transição: impulsionada pelo presidente dos EUA Woodrow Wilson (que não
convenceu o Senado), apesar de ter vocação mundial, acabou dominado por potências
europeias como a Grã-Bretanha e a França.
9
Antecipação de linhas de força que serão apresentadas, 80 anos depois, na Declaração Schuman
10
No Congresso de Paris, de 1850, Vítor Hugo previa os Estados Unidos da Europa (expressão de Cattaneo
e Gioberti e com muita aceitação da elite intelectual) mas não resistiu ao nacionalismo e visionava Paris
como a capital.
11
Ainda existe. Sede em Genebra e com 155 parlamentos nacionais (entre eles a AR) e 9 membros
associados.
12
Que teve um movimento fulgurante de divulgação com imensas traduções e apoio da fina-flor da cultura
europeias: Freud, Ortega y Gasset, Einstein.
Em 1926, reúnem-se mais de 2000 delegados de 24 países em Viena para o I Congresso da União
Paneuropeia (cuja a abertura foi com o atual hino da UE, “Ode à Alegria” de Bethoven).
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Propostas dos anos 20 traduziam um certo idealismo político sem expressão fora do círculo
intelectual e diplomático, mas, lançam determinadas ideias que mais tarde estarão na base da
criação e aprofundamento das Comunidades Europeias.
Crise económica dos anos 30 e o triunfo dos regimes autoritários de inspiração nacionalista
impediu a realização de qualquer proposta de união.
Entre 1939 e 1945 ainda se fazem ouvir vozes favoráveis a uma Federação Europeia17.
➢ Triunfa um projeto de unificação entre os países do BENELUX – assinam em 1944 o
Tratado da União Aduaneira, que começa a funcionar em 1948 e ainda se mantém.
➢ Ainda se tentou (Winston Churchill e Jean Monet) a união política entre França e o Reino
Unido. A hipótese não é aceite e quando se consuma a libertação da França em 1945, o
projeto é abandonado definitivamente.
13
Obra quase profética que ainda não esclarecia, como acontece hoje, qual a natureza da soberania dos
Estados e o seu papel na União.
14
Teve apoio do seu homólogo MNE alemão, Gustav Streseman, que com ele celebrou em 1925 o Tratado
de Locarno em que se regulava questões pendentes entre os dois Estados.
15
Acalmava os ânimos dos defensores da causa nacional (muitos deles franceses) mas era uma
contradição insanável, pois qualquer fórmula de união federal pressupõe e implica uma limitação de
parcelas da soberania. Impulso do projeto estava intrinsecamente ligado à sinergia positiva das relações
de Briand e Streseman e, aquando das mortes destes, começou a definhar.
16
1926: Associação para a União Económica Europeia – Charles Gide.
Conselho Económico Paneuropeu franco-alemão – Coudenhove-Kalergi
➢ A união económica sempre foi uma preocupação com duplo objetivo: proteger a economia
europeia e garantir maior competitividade face ao crescente poderio económico dos EUA.
➢ Ideia entroncava-se na experiência histórica alemã da união aduaneira (Zollverein) de 1834
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Coudenhove-Kalergi em 1939 publica “Europe Must Unite” como um apelo desesperado e indicação
profética de um destino a cumprir.
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Apela à reconciliação da Alemanha e da França mas afasta o Reino Unido de um plano de integração
política, sendo apenas um “amigo e protetor da nova Europa”. Desde sempre que as relações do Reino
Unido com a Europa continental resumem-se a uma frase de Churchill: “We are with them, but we are no
tone of them…”
Churchill propunha inclusive os Estados Unidos da Europa para “eles” – potenciado pelo receio do
comunismo da URSS
19
Preço que os EUA pagaram para haver um “tampão” do comunismo. O receio da ideologia da URSS
levou a que se criasse a NATO, em 1949, como um exército de defesa comum contra qualquer expansão
soviética (nos países de leste forma-se uma entidade semelhante com o Pacto de Varsóvia).
20
Muitos presentes. Entre os ausentes nota-se a Alemanha, Espanha, União Soviética e restantes países
de Leste.
21
Substituída em 1960 pela OCDE, acolhendo também Estados não europeus. Hoje tem o papel de fazer
rankings dos Estados-membros.
22
Ano em que Coudenhove-Kalergi promovia a criação da União Parlamentar Europeia.
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MNE francês oficializou a mensagem do Congresso de Haia ao propor criação de uma união económica
e monetária e convocação de um parlamento europeu.
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HISTÓRIA da UE
Desde a Declaração Schuman (9/5/1950) em diante.
A 9/5/195025, na Sala do Relógio do Quai d’Orsay, Robert Schuman, MNE Francês anunciou um
plano26 que pôs em marcha o processo de integração europeia.
➔ Declaração Schuman (Aliança entre antagonistas tradicionais)
24
Multilateralidade regional (do DIP) com 2 orientações face às linhas de institucionalização:
I. Unionista/Intergovernamental – método de cooperação internacional; desde 1949 com o Conselho da Europa em que
o caráter vanguardista é só na proteção do indivíduo (aprovam CEDH e criam TEDH).
II. Federalista/Supraestadual – método comunitário ou de integração; desde 1951 com a criação do CECA -> CEE -> UE
25
Assinalado hoje como o Dia da Europa (desde a sua adoção na Cimeira de Milão em 1985)
26
Concebido por Jean Monet e com a ajuda de Etienne Hirsh, Pierre Uni e Paul Reuter (redator) – apenas
anunciado após a França já ter conseguido, nos bastidores, a aprovação da Alemanha.
Na Declaração faz-se menção que já há “20 anos” a França tenta – referência a Aristide Briand.
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Com a Alta Autoridade temos aqui o 1º esboço da Comissão Europeia – a marca principal é a
independência dos comissários face aos interesses nacionais, pois há uma ação por interesses
comuns, de razões comunitárias.
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Pragmatismo na decisão – objetivo é a paz, logo escolhe-se o setor que mais ameaçaria esse objetivo.
Apresentação dum novo e fluido conceito: Supranacionalidade
• Não de modo expresso, mas estabelece as condições de existência e funcionamento da Alta
Autoridade como as de um órgão supranacional – decisões vinculativas para os aderentes com o
objetivo da gestão do interesse comum; composição independente e designadas paritariamente
o Projeto vanguardista do método comunitário de integração funcionalista europeia,
conferindo caráter supraestadual a uma entidade que terá poderes sobre domínios
tipicamente conferidos aos Estados.
28
Instituindo uma zona onde se abolem as barreiras alfandegárias para o comércio – Zona de Comércio
Livre
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Além da Alta Autoridade, com a CECA forma-se uma Assembleia de Delegados dos
Parlamentos Nacionais (génese do Parlamento Europeu) e um Conselho dos
Representantes dos Estados.29
Reação positiva à Declaração Schuman, cujo plano avança com fulgor e dinamismo.
• Konrad Adeneur discursa no Parlamento de Bona vendo na proposta o “ponto de partida
para a realização de uma estrutura federativa da Europa”
• Países do BENELUX e a Itália aceitam convite francês de participar na iniciativa
o 6 membros originários30 cuja manifestação pública de vontade comum ocorreu
a 3/7/1950
Guerra da Coreia em Junho de 1950 leva a que EUA pressionem Europa Ocidental a equacionar
o problema da sua defesa face ao expansionismo ideológico e militar dos regimes comunistas.
• Europeístas convictos (Jean Monet e René Pleven) avançam para a ideia de um exército
comum germano-francófono.33
➔ Outubro de 1950 – proposta da Comunidade Europeia de Defesa (CED)
➔ 28/5/1952 – Tratado que institui CED
➔ 1954 – Assembleia Nacional Francesa não ratificou, abortando todo o
processo.34
29
A Declaração Schuman lança um plano moderado e não radicalmente federalista, havendo também a
necessidade de conjugar a legitimidade intergovernamental.
30
Processo pensado em função de um espaço aberto a outros Estados europeus desde este “ano zero da
integração europeia” (MLD).
Dinamismo de alargamento comunitário com a consequência duma transformação profunda da UE, na
sua estrutura orgânico-decisória e nas suas relações com os Estados-membros.
31
Entra em vigor a 10/8/1952 após última ratificação da Itália
32
Se bem que já desde 1958, com as outras Comunidades Europeias, sendo a CEE a verdadeira locomotiva
do processo de integração, sofre um definhamento institucional. A indústria siderúrgica e carbonífera
sofrem também uma crise.
Em 2002, todo o ativo e passivo da CECA foi transferido para a Comunidade Europeia, mas destinado à
criação dum Fundo de Investigação do Carvão e do Aço.
33
Impulsionado, também, pelos receios franceses do renascimento dum exército alemão sem controlo
europeu.
34
MLD: “as nações, mais que a Guerra, temem a perda da soberania”
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Obrigou-se a mudar a estratégia da integração política: por atalhos e não pela estrada aberta
da federação.
• Retorna-se ao “realismo” do método ensaiado pelo Tratado de Paris – método
funcionalista anunciado pela Declaração Schuman.
o Em Messina, em 1955, numa conferência dos 6 aposta-se no desenvolvimento
duma fusão progressiva de economias e criação de mercado comum,
harmonizando políticas sociais.35
Triunfo de um projeto de unidade europeia que, sem deixar de ser político e visionário, se
alimenta e renova a partir da força motriz que resulta da unidade sinérgica dos mercados.
➢ Entra-se num trajeto comum com 30 anos de estabilidade do estatuto jurídico das
comunidades.37
35
Volta-se ao caminho da solidariedade de facto
36
Entram em vigor a 1/1/1958
37
Havendo uma complementaridade entre organizações europeias de cooperação intergovernamental e as de
integração supranacionais.
• Plano económico – Organização Europeia de Cooperação Económia (OECE), 1948. Que em 1960 integrou
Estados não europeus e passou a Organização de Cooperação para o Desenvolvimento (OCDE). Associação
Europeia de Comércio Livre (EFTA), 1960, ligada à UE desde Maio de 1992 instituindo Espaço Económico
Europeu. A Leste surgiu a COMECOM
• Plano político – diálogo entre UE e restante Europa é assegurado pelo Conselho da Europa
• Plano militar – desde o fracasso da CED que procuram projetos de cooperação e não comunitários. NATO,
1949, apesar de não ter só Estados europeus foi fundamental na estratégia geopolítica e militar de defesa
da Europa ocidental. União da Europa Ocidental (UEO), 1954, extinta formalmente desde 2011.
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Art. 114º e ss. acabaria com os tradicionais entraves
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Transição para uma nova etapa de integração económica do Mercado Comum (cujos conceitos chaves
são: ideia da livre circulação pela abolição das taxas alfandegárias, pauta aduaneira comum,
harmonização de legislações nacionais, políticas comuns.)
40
Nos outros domínios o período de transição expirou a 1/1/1970
41
Liderada por De Gaulle, que considerava que qualquer entidade supranacional era uma quimera em
que não havia “outra Europa possível que não seja a dos Estados”
➢ Planos Fouchet – França tentava encaminhar as Comunidades Europeias no sentido de
cooperação intergovernamental e duma “Europa das Pátrias” (visão soberanista – 1960)
o Depois dum arranque a todo o gás da CECA para a CEE e a EURÁTOMO há um travar
da euforia europeia pelos Planos Fouchet (planos de evolução económica da França)
do General De Gaulle.
42
Que só consegue em 1969 com a saída de cena do General Charles De Gaulle
43
Alteração da regra de deliberação por maioria para a regra do consenso. Projeto europeu de génese
comunitária reforça a componente intergovernamental (dualidade metodológica que faz deste projeto
europeu um OPNI)
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Conselho Europeu de Milão em junho de 1985, convoca a Conferência Intergovernamental que
aprovaria o projeto de tratado. Processo de ratificação, após assinatura, foi atribulado devido a
referendos e revisões constitucionais nos vários Estados-membros (dificuldades que se tornariam uma
constante no processo de ratificação de tratados institutivos da UE)
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Adesão de Portugal
Pedido português de adesão foi formulado em 28/3/1977 – perspetiva de longa e gradual
aproximação de Portugal às Comunidades Europeias que só poderia, contudo, culminar na
adesão depois da instauração de um regime verdadeiramente democrático.
45
Avanços do projeto europeu foi um constante equilibrar do método intergovernamental e comunitário.
46
Já se preparava a integração política ao considerar-se o cidadão europeu – já não e só a Europa dos
mercados. Europa dos direitos cujo caminho foi trilhado pelo Tribunal de Justiça – começa-se a falar de
matérias extraeconómicas.
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Desde a Cimeira de Paris (1972) que a criação de uma verdadeira união europeia era um
objetivo assumido pelos Estados-membros – “Declaração Solene sobre a União Europeia”
(1983) feita pelo Conselho Europeu de Estugarda firmou um compromisso de democratizar e
aprofundar o acervo comunitário com o fim de estabelecer as bases duma união europeia.
Tratado de Maastricht
Assinado a 7/2/1992 -> em vigor a partir de 1/11/199347
Marca o virar do projeto europeu dum projeto de integração económica para uma verdadeira
integração política.
Alargada reforma dos Tratados fundacionais (modificou 160 dos 248 artigos do Tratado de
Roma) incorporando as seguintes principais alterações:
• Criação da União Europeia48 e mudança do nome da CEE para Comunidade Europeia
• A par do método de integração comunitária, políticas de cooperação governamental nos
domínios da Política Externa e Segurança Comum (PESC) e Justiça e Assuntos Internos
(JAI) – arquitetura institucional de pilares – em que a maneira da UE atuar é diferente
em cada pilar (1 pilar comunitário e os outros 2 de cooperação intergovernamental -
característica inicial de dualidade metodológica; projeto iminentemente comunitário
que mantém características intergovernamentais a contrabalançar)
• Referência expressa ao objetivo de proteção dos Direitos Fundamentais
• Reconhecimento dum estatuto de cidadania da União
47
Atrasou de Janeiro para Novembro pois houve a necessidade de se cumprir exigências constitucionais
de consulta referendária (Dinamarca, Irlanda, França) ou proceder mesmo a revisões constitucionais
(França, Espanha, Alemanha e Portugal)
48
TUE = novo tratado que institui a UE; Mantendo o Tratado de Roma que passa a ser o Tratado da
Comunidade Europeia (TCE) -> atual TFUE
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Em 2/5/1992 foi assinado na cidade do Porto o tratado que regulou a associação entre as
Comunidades Europeias e a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA) do qual nasceu o
Espaço Economico Europeu.
Artigo N, nº2 do Tratado de Maastrich agendava para 1996 uma nova CIG, reconhecendo que
era necessário ir mais longe no processo iniciado de realização de uma união cada vez mais
estreita entre os povos da Europa.
➢ Revisão de 1996 deveria permitir a comunitarização das matérias de cooperação
intergovernamental, alargamento do processo de codecisão, reconhecimento de
princípio de hierarquia das normas e atos comunitários e, com a perspetiva de novas
adesões, adaptação da estrutura orgânico-decisória da UE e das Comunidades.
o Cláusula de “rendez-vouz”
Tratado de Amsterdão
Assinado em 2/10/1997 -> em vigor a partir de 1/5/1999
Ficou aquém dos objetivos enunciados pela cláusula rendez-vouz, aquém das finalidades
impostas pelo funcionamento da UE e aquém das exigências de adaptação institucional
pressupostas pelo alargamento da UE.
➢ Resultado foi reforma minimalista que adiou para momento posterior a revisão
necessária
49
Princípio segundo o qual quem deve agir são os mais próximos da realidade (Estados-membros).
Comunidade europeia é subsidiária aos Estados-membros (apesar de ter competência para agir, vai
preferir que quem haja sejam os mais próximos e só age na falta deste ou quando é necessário a
harmonização) – art. 5º/3 TUE – princípio que estrutura toda a lógica de atuação das instituições da UE.
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Tratado de Nice
Assinado a 26/1/2001 -> em vigor a partir de 1/2/200350
1º semestre de 2000, uma nova CIG retomou as questões fundamentais da adaptação dos
Tratados e preparou um projeto de tratado que veio a ser aprovado pelo Conselho Europeu de
Nice.
Principais modificações
• Ao nível da estrutura institucional
o Parlamento Europeu: extensão para um máximo de 732 deputados; reforço dos
poderes no âmbito da codecisão e do reconhecimento de efetivos poderes de
iniciativa no processo de controlo da legalidade dos atos comunitários pelo
Tribunal de Justiça
o Comissão Europeia: limitação do número de membros e escolha com base num
princípio de rotação paritária; alteração no procedimento de nomeação dos
comissários e reforço dos poderes do Presidente
o Tribunal de Justiça e Tribunal de Primeira Instância – garantias de composição
igual entre os Estados-membros; alargamento de competências e criação de
“secção especial”
• Ao nível do processo de decisão
o Extensão dos procedimentos por maioria qualificada – 27 disposições foram
alteradas no sentido de substituir a unanimidade pela maioria qualificada
(reforça a componente comunitária)
o Extensão do âmbito do procedimento de codecisão à maior parte das matérias
o Cooperações reforçadas – reformulação das disposições no sentido de alargar
o seu âmbito e de facilitar o estabelecimento duma cooperação reforçada
• A outros níveis
o Direitos fundamentais – adaptação da cláusula sancionatória do art. 7º TUE em
função da experiência com a “questão austríaca”51
o Segurança e defesa – previsão de procedimentos e mecanismos para
desenvolvimento das capacidades militares e operacionais da UE
o Cooperação judiciária em matéria penal – criação do EUROJUST (unidade de
magistrados com a missão de contribuir para coordenação eficaz das
autoridades nacionais face aos procedimentos criminais)
▪ Em consonância com o Tratado de Amsterdão, pega-se em muitas
matérias do 3º pilar (justiça e assuntos internos) e comunitarizam-nas;
estreitam o 3º pilar que passa a ser o pilar da cooperação penal e policial
em matéria judiciária.
o Comité da proteção social – previsão no Tratado da CE deste órgão
50
Demora da Irlanda que teve um primeiro referendo em sentido contrário.
51
14 Estados-membros ameaçaram a Áustria com sanções políticas se ela permitisse a formação de
governo, derivado das eleições, com programa xenófobo e nacionalista
23
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
CIG 2000 exorta aos Estados-membros a debater para no Conselho Europeu de Laeken (2001)
se pudesse aprovar declaração sobre: estabelecimento e controlo de delimitação de
competências mais precisa entre UE e Estados-membros que reflita o princípio da
subsidiariedade; estatuto da Carta dos Direitos Fundamentais da UE; simplificação dos Tratados;
papel dos parlamentos nacionais na arquitetura institucional europeia.
➢ Aprovou-se Convenção sobre o Futuro da Europa (com o mesmo modelo que a Carta)
Empurrado pela visão messiânica de Valéry Giscard d’Estaing, presidente da Convenção Sobre
o Futuro da Europa (2001) que entendia não ser a indicada para decidir quanto à questão de
uma Constituição, virou costas à “prudência semântica” (P. Magnette)
➢ Exercício de imprudência semântica em que o nome matou a coisa53
52
MLD: Tratado de Roma 2, pois foi assinado em Roma
53
Pois a maior parte do texto foi aprimorado e integrado no Tratado de Lisboa
54
Disposições sobre os símbolos da União; designação de atos jurídicos como leis e leis-quadro; criação
da figura do Ministro dos Negócios Estrangeiros; enunciação do primado do DUE - além do próprio nome
“Constituição”, que é um instrumento jurídico típico dos Estados (estadualizaria e aproximaria a UE à
figura dum Estado federal)
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Conselho Europeu de junho de 2005, na reação ao resultado dos referendos, acorda-se uma
pausa de um ano para se refletir. Em 2006 prorrogou-se mais um ano.
Na Cimeira de Berlim, para celebrar os 50 anos da assinatura dos Tratados de Roma, aponta-se
uma nova saída da crise e o Conselho europeu de junho 2007 anuncia o óbito da Constituição
Europeia55.
Portugal segue-se à Alemanha na Presidência do Conselho Europeu e incumbe-se uma nova CIG
de preparar um “Tratado Reformador” do tratados em vigor.
Tratado de Lisboa
Assinado a 13/12/2007 -> em vigor a partir de 1/12/2009
Sob presidência portuguesa, os trabalhos foram céleres e com 3 reuniões da CIG chegou-se à
versão definitiva do Tratado Reformador – solução pragmática que mantém os 3 tratados
constitutivos e cria um novo ente jurídico regulado pelos 3 (TUE, TFUE, CDFUE)
Mantém, em larga medida as soluções da Constituição Europeia mas sob uma forma
“desconstitucionalizada” em que se suprime as disposições de analogia estadual ou federal.
Recupera o significado pactício do estatuto jurídico da União, atualizando-o ao estádio atual de
evolução do processo de integração europeia.
De destacar:
• Extingue-se a CE (último parágrafo art. 1º TUE) e já não há coexistência entre a
Comunidade Europeia e a União Europeia;
• Elimina a estrutura de pilares56 e em todos os domínios passa a aplicar-se o método
comunitário (em todos os domínios, o Tratado confere às instituições da UE poderes de
vinculação/subordinação jurídica)
Aprovação seguiu formato simplificado de voto parlamentar (com exceção da Irlanda que, por
imposição constitucional, levou a referendo e houve 53% de votos negativos mas apenas 53%
de participação do eleitorado57)
Curiosamente, a crise de 2008 vincou a premência de uma Europa unida e politicamente ativa,
que dependia da entrada em vigor do novo estatuto jurídico das instituições da UE.
55
Havendo um grupo de Estados-membros, em que se incluíam Portugal, Espanha e Irlanda, que
continuavam a insistir na viabilidade da opção constitucional: “Amigos do Tratado Constitucional”
56
MLD: despilarização é aparente (ex: art. 31º, já não há comunitarização absoluta e as decisões são por
unanimidade havendo poder de veto de cada Estado – interesses próprios e sem integração de
soberanias)
57
Resultado que gerou debate europeu com radicalização de argumentos
25
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
58
Removeu-se um obstáculo mas ainda se teve de lidar com o Presidente da República Checa que
condicionou a sua assinatura à garantia da inaplicabilidade da Carta dos Direitos Fundamentais da UE.
59
Conjunto de normas que têm a força hierárquica máxima no DUE (direito fundamental da UE que está
no topo da pirâmide normativa) – direito constitutivo/institutivo – estabelece o estatuto jurídico
fundamental do poder da UE
➢ Qualquer ato normativo da UE que esteja num patamar normativo hierarquicamente inferior
tem de respeitar os tratados institutivos da UE.
26
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Importantes alterações:
• UE sucedeu à CE, que deixou de existir (art. 1º, §3º, TUE)
• TFUE E TUE têm o mesmo valor jurídico e sobre ambos se funda a UE sob o princípio de
“uma União, dois Tratados”
• Lógica dos pilares de Maastricht foi substituída por uma abordagem uniformizadora e
comunitária dos poderes da UE nas diversas áreas de atuação.
• UE adquire personalidade jurídica – é sujeito de DIP, sendo mais eficaz nas relações
externas60 e não apenas órgão político
• Direitos fundamentais – UE passa a estar formalmente vinculada pela Carta Europeia
dos Direitos Fundamentais que tem força jurídica equivalente à dos Tratados61
o UE é uma União de direitos – nos tratados compreendem-se as 2 vertentes dum
Estado de Direito
▪ Substantiva: garantia da separação de poderes (bipartição inglesa do
matters of law e matters of policy – sindicabilidade dos poderes pelo
Tribunal) e direitos fundamentais (art. 2º TUE – pauta axiomática que
rege UE62; art. 6º - concretiza as fontes desses direitos dando força
jurídica à Carta)
▪ Processual: princípio da tutela jurisdicional efetiva. Sistema judicial da
UE funda-se na competência dos tribunais nacionais63
• Regras de delimitação de competências entre UE e Estados-membros estão
claramente enunciadas em disposições expressas dos Tratados – já não têm só
formulação jurisprudencial ou doutrinária
o Princípio da competência por atribuição (art. 4º/1 e 5º/1 TUE)
o Princípio da subsidiariedade (art. 5º/3 TUE) – que veio reforçar poderes de
intervenção dos Parlamentos nacionais no processo comunitário de adoção de
atos legislativos que poderiam ser travados ou anulados pelo TJUE
o Princípio da proporcionalidade (art. 5º/4 TUE)
o Definição de várias categorias de competência (exclusiva, partilhada,
complementar) contribuiu para clarificação da linha de fronteira que separa a
esfera de atuação própria e genérica dos Estados-membros e da esfera da UE
60
Além de ius tractum também adquire ius legatione (art. 27º/3 TUE e art. 221º TFUE)
61
Possibilidade futura da própria UE aderir à CEDH e ficar vinculada à jurisdição do TEDH
62
Quando um Estado viola a pauta axiomática (art. 58º e 259º TFUE) pode haver sanção política (art. 7º
TUE) o que exige a unanimidade e a acusação de violação grave e persistente do art. 2º
63
Exceção no art. 14º/2 dos Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do BCE. MLD: exceção
errada pois levante desconfiança sobre os tribunais nacionais
27
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• Expansão do âmbito de decisão a novas matérias – art. 194º, 189º, 214º, 195º, 165º/2,
196º, 197º TFUE
o Reforço de poderes no domínio da PESC e no domínio da cooperação judiciária
e policial em matéria penal (Justiça e Assuntos Internos foram comunitarizados
– título V do TFUE)
• Novas regras aplicáveis aos procedimentos de decisão – alargamento da codecisão do
Parlamento a mais matérias sob a forma de processo legislativo ordinário (art. 289º/1
TFUE)
o Natureza dos atos jurídicos depende do processo de decisão – preserva-se a
tipologia dos atos comunitários (art. 288º TFUE) embora se abra a porta a novas
classificações com a lógica de “ato legislativo” e “ato não legislativo”
28
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
O caso do falhanço da criação da Comunidade Europeia de Defesa (1954) foi o triunfo do método
funcionalista sobre o método federal e o mesmo aconteceu com o Tratado que cria uma
Constituição para a Europa – prevalecem as visões pragmáticas, da experiência frutuosa dos
pequenos passos.
➢ MLD: O caminho do aprofundamento da integração entre os Estados-membros faz-se
pelas rotas conhecidas e uma rota radicalmente diferente geraria receios e paralisava a
caminhada.
Método funcionalista – teoria clássica de integração regional que interpreta o interesse comum
relativo à definição integrada de políticas económicas e sociais como o fundamento de criação
de órgãos de autoridade supranacional, investidos de poderes regulatórios dos mercados.
➢ Teoria funcionalista orientou a opção europeia pela integração económica e com a
criação das comunidades europeias consagrou o método dos pequenos passos cujas
características principais são:
1. Limitação de soberania pelos Estados – sob a forma de delegação de
competências vs. transferência de competências64 - Estabelecimento de
relações jurídicas de subordinação dos Estados-membros a entidade
supraestadual com a integração de poderes (exercício em comum dos poderes
soberanos dos Estados, em função de um interesse comum).
2. Irreversibilidade (point of no return)65
3. Gradualismo em que há suscetibilidade de recuos tácticos (stop and go);
4. Incrementalismo em que ao se estabelecerem solidariedades de facto entre
Estados-membros, as competências comunitárias têm uma vocação expansiva
que que deveriam incidir sobre a generalidade das atividades económicas,
criando efeito de engrenagem ou incrementalismo (spill-over).
64
Podem sempre vir a recuperá-las, avocando-as vs. irreversibilidade
65
Prende-se com a questão anterior. Defendido por Cruz Vilaça e Nuno Piçarra – MLD discorda e hoje o
art. 48º/2 TUE prevê a possibilidade de se rever os tratados para se retirarem competências (não há o
adquirido comunitário)
29
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➢ Resposta dos Estados aos desafios da integração depende dos objetivos propostos –
manter a construção comunitária em constante processo de realização pressupõe novos
objetivos numa lógica de progressividade e expansão contínua do espaço de decisão
própria.
Tratado de Lisboa manteve-se fiel à lógica do método comunitário agora alargado à dimensão
política de integração.
66
Tradução de como se exercia o poder, tendo em conta as soberanias, que, essencialmente, manteve-se
com os aprofundamentos de Amsterdão e Nice embora com algumas alterações nos próprios pilares em
si.
30
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MLD:
União de Estados soberanos que, por via pactícia e com fundamento nas
respetivas Constituições, decidiram exercer em comum os respetivos
poderes de soberania.
67
Dada a natureza setorial específica a EURATOM continua
68
Embora o nome de muitos preceitos tenha mudado de “comunitário” para “da união” – ver notas
introdutórias à coletânea
69
O art. 276º também impõe limitações ao poder de controlo jurisdicional nas matérias acerca do espaço
de liberdade, segurança e justiça. No entanto, o Tratado de Lisboa tornou a competência do Tribunal
obrigatória (até aí os Estados tinham de reconhecer a jurisdição do Tribunal) sobre as matérias do antigo
3º pilar – jurisdição de natureza comunitária.
31
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Contratualismo não é uma moda – é a doutrina que se encontra nos Tratados, acolhida
e expandida com o Tratado de Lisboa. Ao reforçar a componente contratualista
fragilizou a componente integracionista.
Indícios: Conselho Europeu como superinstituição; art. 352º; art. 49º TUE; art. 50º TUE
71
(direito unilateral de retirada – DIP reconhece-o aos Estados e Tratado de Lisboa veio
consagrar nos Tratados Institutivos)72
Seguiu-se a opção do método comunitário apesar de haver ainda vestígios da soberania dos
Estados – demonstrações do princípio contratualista nos art. 48º, 49º e 50º
70
Visão metodológica de como aprofundar processo de integração europeia; vs. Visão Federalista que
acredita que a UE já se autonomizou e tem dinâmica própria que arrasta os Estados mesmo contra a
vontade deles e é irreversível (completamente contrariada com o Brexit)
71
Art. 50º é o da desvinculação. Se bem que já houve formas de sair sem este artigo: caso da Gronelândia,
em 1982, que queria abandonar a UE dada as políticas de pescas. Dinamarca negociou e Gronelândia saiu.
Hoje temos o oposto, Reino Unido quer sair e Escócia quer ficar.
72
É possível Reino Unido fazer marcha atrás? Após ativação do art. 50º é possível que o Reino Unido pare
esse processo de saída? Sim; MLD faz interpretação do art. 50º à luz do DIP; houve declaração unilateral
com a notificação de querer sair e que pode ser retirada a todo o tempo – poderia haver uma prorrogação
também. Solução de considerar que é notificação de intenção que pode ser retirada por vontade do
Estado notificante que os outros podem aceitar (pode é haver indemnização aos outros)
73
Atualmente existem cooperações reforçadas stricto sensu só em 3 domínios: patentes, normas sobre
divórcios, normas sobre transações
32
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Heterogeneidade ao longo dos séculos deu lugar à rivalidade mas na segunda metade do séc.
XX, a Declaração Schuman preconiza uma certa ideia de Europa: “A contribuição que uma Europa
organizada e viva pode dar à civilização é indispensável para a manutenção de relações
pacíficas”
Modelo comunitário de exercício conjunto da soberania conheceu vários desafios. Para o futuro,
Maria Luísa Duarte usa as palavras de Lampedusa: “Se queremos que as coisas continuem como
estão, as coisas vão ter de mudar”
Na América do Sul não tem funcionado bem pois não são motivados pelos motivos da Europa
dos anos 50: solução para se alcançar a paz (vindos de grandes guerras) e desenvolvimento do
sistema económico com elevado grau de confiança entre parceiros económicos com a abdicação
de tradicionais mecanismos protecionistas das respetivas economias.
74
Evidenciam uma configuração jurídico-institucional e assumem no plano político uma declarada
influência da matriz europeia.
33
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75
Órgãos mais importantes que correspondem aos “órgãos de soberania”
38
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instituição foi reservada para os órgãos mais relevantes, seja na ótica da sua competência
juridicamente vinculativa, seja na ótica da sua função.
• BCE está presente dada a reconhecida importância no funcionamento da união
monetária e garantia de estabilidade do euro
• Conselho Europeu está presente dado o seu redesenho
• Tribunal de Contas está presente pela sua função
• Tribunal de Justiça da União Europeia está presente como uma instituição mas
corresponde a vários tribunais (art. 19º TUE)
Art. 2º do Tratado de Lisboa mandou alterar todos os artigos que continham “instituições e
órgãos” para “instituições, órgãos e organismos”.
➢ Organismos – correspondem às agências/institutos/observatórios/centros europeias
(fenómeno de Administração Indireta) com função e competências importantes76
o Não estão expressamente previstos no texto dos Tratados e são criados por
decisão das instituições e órgãos da UE, beneficiando, em geral, de
personalidade jurídica
➢ Surgem como resposta da UE à expansão do controlo técnico e da atividade regulatória
a novos domínios
76
Veio resolver a questão de, com o alargamento da UE, os Estados-membros reivindicarem a sede de
instituições. Várias cidades tornaram-se, assim, sede destas agências (que estão distribuídas)
39
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Tribunal de Justiça consagrou a autonomia como princípio geral não escrito, sujeito a certos
limites.
➢ Aresto 15/9/81 Lord Bruce of Donnington – concluiu que Parlamento Europeu tem de definir as
regras aplicáveis ao reembolso das despesas de viagens dos deputados, devendo os Estados-
membros não interferir no exercício das suas competências de natureza fiscal
➢ Limite do princípio do equilíbrio institucional e da competência por atribuição.
➢ O Tribunal decidiu que o Parlamento, no quadro do equilíbrio de poderes entre as
instituições previsto pelos Tratados, subtrair às outras instituições uma prerrogativa que
lhes pertence por força dos próprios Tratados”
Função Pública da UE
Já desde o Tratado de Fusão que o estatuto dos funcionários das três Comunidades Europeias
foi definido por um corpo único de regras.
Função pública eurocomunitária, pelo número de efetivos e pelo regime contratual aplicável,
está mais próxima do funcionalismo público nacional que o típico das OI.
➢ Beneficiam do estatuto de funcionários de uma administração pública cujos direitos e
deveres resultam de um estatuto único, independente da instituição ou órgão que os
recrutou.
77
Ao contrário do que acontece com a CNU, que autoriza expressamente os órgãos principais a criar
órgãos subsidiários (art. 7º, 22º, 29º CNU), os Tratados só de modo implícito fundamentam esse poder,
como expressão tradicionalmente reconhecida dum princípio de auto-organização. Na prática
institucional os órgãos subsidiários têm natureza de comités técnicos, criados em regra pelo Conselho,
com o propósito de associar os Estados-membros, representados por peritos, ao processo de execução
das normas comunitárias – funcionam à luz do princípio teórico da implicação de poderes.
78
Criação de órgãos subsidiários começou a ter relevância a partir dos finais de 1961 devido às decisões
das estruturas das primeiras organizações comuns de mercado no âmbito da PAC.
40
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Comissão tem a maior parte dos efetivos do pessoal e é o órgão superior da administração
pública eurocomunitária.
Nos organismos (com personalidade jurídica) o pessoal é contratado de acordo com as
modalidades previstas no ato institutivo ou determinadas por ato interno de gestão dos recursos
humanos.
Funcionários são admitidos por via de concurso por ato unilateral – regras de admissibilidade
ao concurso são reguladas exclusivamente pelo estatuto (que é um regulamento passível de ser
unilateralmente modificado).
Mesmo cessando as funções os funcionários não podem divulgar as informações abrangidas por
segredo profissional (art. 339º TFUE).
Art. 270º TFUE – TJUE é competente para decidir litígios entre UE e seus funcionários.
Trabalhadores locais contratados têm foro judicial competente nos tribunais nacionais.
➢ Em 2004 criou-se o Tribunal da Função Pública da União Europeia – primeiro tribunal
especializado instituído ao abrigo do art. 257º TFUE.
Tratado de Lisboa consagra novas designações no art. 336º TFUE e a aprovação do respetivo
regulamento segue o processo legislativo ordinário.
Privilégios e Imunidades
Art. 342º TFUE – UE goza nos Estados-membros de privilégios e imunidades necessários ao
cumprimento da sua missão.
➢ Protocolo nº 7, anexo aos Tratados – regula o regime aplicável à UE, funcionários e
agentes, deputados europeus e outros responsáveis pelas instituições no território dos
Estados-membros e define a situação jurídica dos representantes dos Estados-membros
que participam nos trabalhos das instituições.
UE não beneficia de imunidade de jurisdição (art. 274º) pelo que pode ser demandada (bem
como a CEEA) junto do TJUE, no quadro da competência atribuída pelos Tratados, ou junto dos
tribunais nacionais que, como órgãos comuns da justiça eurocomunitária, têm competência
para dirimir os restantes litígios em que sejam parte.
Regime Linguístico
Tratado da CECA foi redigido em francês e só essa versão era considerada autêntica.
Tratados de Roma e os posteriores, de revisão, foram adotados em todas as línguas oficiais das
Comunidades sendo qualquer um deles a versão autêntica.
Art. 342º TFUE – Conselho pode aprovar por unanimidade o regime linguístico das instituições
da UE (exceção das disposições do Estatuto do TJUE, art. 281º TFUE)
41
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Documentos oficiais devem ser divulgados nas 24 versões e as reuniões devem ser levadas a cabo
nas línguas originais havendo tradução simultânea – corrente que defende a igualdade.
OU
Corrente que defende a eficácia propõe línguas de trabalho (inglês, francês e alemão),
➢ A prática institucional tornou o inglês uma espécie de língua franca no espaço
multilinguístico da UE.
➢ A língua de comunicação dos juízes dos tribunais da União mantém-se exclusivamente
o francês.
Sedes
Tratados não estabelecem a sede das instituições, remetendo para os governos dos Estados-
membros a sua escolha de comum acordo (art. 341º TFUE)
A decisão do Tratado de Fusão de 1965 foi:
• Bruxelas – Comissão, Conselho, Comité Económico, reuniões do Conselho de Ministros
(com 3 anuais no Luxemburgo), reuniões das comissões e grupos políticos do
Parlamento Europeu
• Luxemburgo – TJUE, Tribunal de Contas, Serviço de publicações, secretariado geral do
Parlamento Europeu
• Estrasburgo – sessões plenárias do Parlamento Europeu
Parlamento Europeu tem um regular funcionamento que se reparte pelos 3 locais de trabalho81
Conselho Europeu com um novo modelo de presidência permanente facilita a regra de reunir
em Bruxelas.
Nada nos Tratados impede que se reúnam extraordinariamente ou em cimeiras informais no
território do Estado-membro que no semestre em causa assegura a presidência do Conselho da
União.
79
Art. 22º CDFUE reconhece como direito que vincula a UE a diversidade cultural e linguística.
80
Questão linguística contribuiu para cooperação reforçada (art. 20º TUE e art. 325º e ss. TFUE) em
relação à patente europeia – unificada para o registo de propriedade intelectual.
81
Após contenciosos nos anos 80, o Conselho Europeu de Edimburgo de 1992 confirmou os 3 locais de
sede acordados em 1965 e as regras de auto-organização entretanto seguidas pelo Parlamento Europeu.
42
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Tratado de Amsterdão trouxe um protocolo anexo aos tratados institutivos o acordo sobre as
sedes.
➢ Passou a exigir procedimento de revisão do art. 48º e hoje mantém-se anexo ao Tratado
de Lisboa – Protocolo nº 6 – que rejeita a solução de sede única de “capital europeia”
e distribui as sedes das instituições e de alguns organismos82.
Princípios que apresentam conexão mais direta com o modelo orgânico-decisório da UE:
Função judicial de interpretação e aplicação do DUE cabe aos tribunais dos Estados-membros
como órgãos judiciais comuns e aos tribunais da UE, criados ou previstos pelos Tratados no
quadro de uma jurisdição expressamente tipificada – sem hierarquia entre eles e a função
judicial é partilhada numa natureza de cooperação.
Princípio não está consagrado expressamente – pressuposto no art. 13º/2 TUE que se deve
considerar como aplicável aos órgãos e organismos da União.
82
A sede dos organismos não está prevista no Protocolo e pode ser fixada por decisão de comum acordo
entre os governos dos Estados-membros. Repartição deve ser equilibrada e equitativa. Em Lisboa temos
o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência e a Agência Europeia de Segurança Marítima.
83
A existir separação orgânico-funcional de poderes, só pode ser na base de um modelo dicotómico:
função político-decisória (PE, Conselho Europeu, Conselho e Comissão) e função judicial (Tribunais da UE).
➢ Modelo próximo do paradigma inglês entre poder governativo (matters of policy) e poder judicial
(matters of law)
43
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
A jurisprudência comunitária85 determinou que este princípio funciona como uma garantia das
prerrogativas de participação de cada instituição no processo de decisão, mas, serve também
como garantia dos direitos dos particulares.
• Caso Meroni: TJUE apelou ao princípio para excluir a legalidade de um ato de delegação
de poderes discricionários em favor de entidades diferentes das previstas no Tratado
para o efeito de exercer tais poderes – serviu como garantia fundamental reconhecida
pelo Tratado
• Caso Köster: TJUE voltou a analisar o problema da delegação de poderes
• Decidiu que apesar de ser garantia fundamental dos particulares, também já rejeitou
que uma alegada violação deste princípio seria justificação suficiente de legitimidade
processual do particular no quadro do recurso de anulação.
Uma alteração significativa do equilíbrio de poderes, por via de revisão dos Tratados, tem
relevância que ultrapassa a recomposição dos conflitos interinstitucionais.
• Modelo de repartição horizontal de poderes funciona na dependência do modelo de
repartição vertical de poderes.
• Rutura terá consequências sobre o traçado incerto da linha que delimita o nível
eurocomunitário de competência relativamente ao nível nacional de decisão.
• Redefinição de equilíbrios deve ter como limite o respeito do modelo especificamente
comunitário de exercício dos poderes delegados pelos Estados-membros.
84
Manifestação deste princípio que não funciona só como orientação de conduta e tem um conteúdo
jurídico sindicável pelo TJUE (art. 263º TFUE)
85
Que foi quem desenvolveu o princípio mesmo quando este não tinha afloramento positivado.
44
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Pela via informal dos acordos interinstitucionais, o PE e a Comissão estabeleceram bases gerais
de entendimento nas estratégias políticas de competição pelo poder86.
➢ Base jurídica do art. 295º TFUE
Sucessivos tratados de adesão acolheram sempre uma cláusula de receção expressa do acervo
comunitário.
➢ O Estado que pretende aderir é obrigado a aceitar o património jurídico e político88.
➢ Tem natureza de diretriz política e constitui critério de orientação institucional.
Tratado de Lisboa eliminou a referência expressa a este artigo que hoje tem uma única
referência no art. 20º/4 TUE90 mas é, fundamentalmente, um principio não escrito.
• Esta opção resulta do reforço do espírito contratualista resultante do Tratado de Lisboa
(art. 48º/2 TUE) – apenas a vontade soberana e unanimemente expressa por todos os
Estados-membros através do processo de revisão não está subordinada ao respeito
estrito do princípio do acervo.
86
Erodindo poderes do Conselho e, por conseguinte, prerrogativas dos Estados-membros
87
Sendo, portanto, contrários aos Tratados e suscetíveis de impugnação contenciosa os acordos que
alterem o equilíbrio institucional.
88
Princípio forjado na ideia fundamental do gradualismo da integração que evolui por etapas que lógica
e irreversivelmente se sucedem.
89
Aliás, este é um dos cenários que a Comissão Europeia prevê no seu Livro Branco.
90
Para dizer que as cooperações reforçadas não são acervo.
45
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Certa doutrina enxerga nesta orientação jurisprudencial a transposição para o DUE do princípio
da “fidelidade federal”, revelado pelo Tribunal Constitucional Alemão.
➢ Não constitui fator federalizante e está associado ao funcionamento equilibrado e eficaz
de qualquer estrutura descentralizada de decisão, repartida por vários níveis de decisão
– tendo particular relevância nestes casos em que não existe relação hierárquica (como
no caso UE e Estados-membros)
91
Fundamental conciliar-se uma interpretação sistemática com o art. 40º TFUE.
• Nº2 refreia o ímpeto federalista da UE ao se dizer que tem de se respeitar a Constituição de cada
Estado
46
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Na prática, o diálogo interinstitucional92 inspirado pelo dever de cooperação leal tem estado na
origem de declarações e acordos entre as Insituições.
• Art. 295º TFUE codificou a jurisprudência do TJUE sobre o possível carácter vinculativo
dos acordos interinstitucionais e reitera o respeito pelos Tratados como limite à
liberdade negocial das instituições93
o Pressupõe o concurso ativo das três principais instituições, seja na fase de
negociação seja na fase de conclusão.
Princípio da Transparência
Vetor jurídico importante, embora recente no DUE. Surgiu no plano das intenções políticas e
foi depois incorporado no texto do Tratado – exprime um paralelismo assumido entre os
procedimentos inerentes ao Estado de Direito nos ordenamentos estaduais e os procedimentos
de uma União de Direito.
92
Prática Institucional Codificada – PE, Conselho e Comissão, sob a forma de declarações comuns,
acordos interinstitucionais ou códigos de conduta estabelecem entre si regras de convivência (e
conveniência) institucional que completam os mecanismos de decisão instituídos nos Tratados.
• Procuram introduzir formas inovadoras de equilíbrio institucional.
• Natureza destes atos é admitida pelas instituições como tendo apenas relevância política e
remetem para o TJUE a apreciação do seu (eventual) alcance jurídico.
o TJUE nunca se pronunciou, expressa e especificamente, sobre o valor jurídico em geral
das declarações e acordos interinstitucionais, mas já proferiu decisões que se apoiam
na existência destes instrumentos.
93
Devido à forte oposição do Conselho à celebração de acordos entre o PE e a Comissão
47
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
A expressão deste princípio não é absoluta e seria inadequada qualquer solução jurídica assente
sobre a premissa errada da correspondência absoluta e apriorística entre o modelo institucional
do Estado e o modelo institucional da UE.
Tratado de Lisboa refere este princípio e alia-o ao princípio da abertura – mais abrangente no
que respeita ao parâmetro de orientação política e mais amplo no tocante ao âmbito de
aplicação – art. 15º/1 TFUE + art. 16º/8 TUE + art. 298º/1 TFUE
Permanece a dúvida sobre as regras aplicáveis ao domínio da PESC – art. 40º UE mantém
separados os procedimentos entre TUE e TFUE pelo que o art. 15º TFUE não abrange os
procedimentos de decisão relativos à PESC.
➢ Há este princípio em matéria de PESC?
o Art. 11º/3 TUE postula objetivo geral de coerência e transparência das ações da
União
o Art. 42º CDFUE consagra em geral o direito de acesso aos documentos da União
(embora o seu exercício dependa das condições definidas pelos Tratados – art.
52º/2 Carta)
94
Que pode ser impugnado pelo art. 263º TFUE
48
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Passou por uma série de mutações, passando e um mero órgão de consulta para o atual órgão
de decisão política.
Sempre inconformado com o papel que os Tratados lhe reservaram:
• Resolução 30/3/1962 – autodenominou-se Parlamento Europeu, em vez de
Assembleia95
o Aprovação e incorporação nos Tratados só aconteceu em 1987 com o AUE – que
também deu ao PE o poder de participar no processo de decisão do Conselho
(poderes de cooperação do PE nos processos de decisão normativa do
Conselho)
• Ato relativo à Eleição dos Representantes à Assembleia por sufrágio direto de
8/10/1976 – acordou o número de representantes de cada Estado-membro.
o Mandato representativo em que os deputados não podem receber ordens nem
estar vinculados a instruções.
o Proíbe-se a acumulação de funções parlamentares com o exercício de funções
governativas (seja no Executivo comunitário ou nacional).
o Não impede deputado europeu de exercer outra atividade profissional
remunerada.
o Com a revisão de 2002 proibiu-se o acumular do mandato de deputado europeu
e o mandato de deputado nacional.
o Não foi possível, e até hoje ainda não se conseguiu96, aprovar um processo
eleitoral uniforme ou convergente (art. 223º/1 TFUE) pelo que as eleições para
o PE realizam-se de acordo com os princípios e regras do direito eleitoral vigente
em cada Estado-membro.
Tratado de Amsterdão: 700 deputados – tinha em vista o alargamento e impunha este limite
para não por em causa a representação equilibrada dos cidadãos mas garantir a
operacionalidade da Instituição.
95
Tendo começado como Assembleia de Representantes dos Estados com a CECA e sendo alargada pelo
Tratado da CEE às 3 comunidades como Assembleia Parlamentar Europeia – possuindo controlo político
e consultivo
96
Estando na agenda desde 1982. Depois do Tratado de Lisboa o deputado inglês Andrew Duff apresentou
um ambicioso projeto de revisão da lei eleitoral (criando circunscrições de âmbito pan-europeu com listas
transnacionais que elegeriam 25 deputados; alargar e fomentar a participação). Embora o que afete mais
a legitimidade representativa são os elevados graus de abstenção nestas eleições.
49
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Tratado de Nice: 732 deputados – consagrou nova grelha de repartição e todos os Estados
sofreram redução do número de deputados (exceto Alemanha com 99, pelo critério demográfico e
Luxemburgo com 6, pela quota mínima)
2004-2009: 785 deputados
Ato de Adesão da Bulgária e da Roménia: 736 deputados
97
Reforça papel normativo do PE tornando a codecisão (consagrada no Tratado de Maastricht) como o
procedimento regra
98
Redação dos artigos aponta que o que releva é o sentido do critério político (cidadania) e não o
demográfico (população) – o que poderia favorecer países como Itália e Portugal com tradição de
emigração.
99
Que não é uniforme e só funciona fora do Estado-membro, pois dentro do Estado-membro pelo qual o
deputado foi eleito, o regime aplicável é o que resulta do direito nacional desse Estado (criando-se um
risco de tratamento desigual entre os membros do PE)
100
TEDH considerou como contrário à CEDH pois não se pode abranger um indivíduo na dupla qualidade
de cidadão da UE e deputado europeu – em 27/4/1995, Sentença TEDH Piermont
50
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Organização e Funcionamento
Parlamento Europeu estabelece o seu regulamento interno – art. 232º TFUE
➢ Regimento Interno.
PE tem o poder de criar comissões permanentes (art. 183º Regimento) cuja competência se
reparte pelas principais áreas de intervenção do PE. Pode criar comissões de inquérito
temporárias sobre assuntos que exijam posição do PE (art. 226º TFUE).
101
Atuação externa dos grupos políticos ou deputados que os compõe não vincula PE (Acórdão TJCE
20/3/1990, Le Pen et Front National/Pulh)
51
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Regra geral de deliberação – maioria dos votos expressos (art. 231º TFUE).
➢ Os Tratados e o Regimento podem prever outras maiorias: menos exigentes (eleição
Presidente); mais exigentes (rejeição de propostas do Conselho – art. 294º/7/b TFUE;
aprovação moção de censura – art. 234º TFUE).
Competências
Art. 14º/1 TUE – principais áreas de atuação do Parlamento Europeu
Sucessivas revisões dos Tratados consolidaram prerrogativas já exercidas e reconheceram novos
poderes no domínio do controlo político e da participação no processo normativo.
Parlamento Europeu não pode aspirar a um estatuto político e funcional equivalente ao dos
parlamentos nacionais pela singela razão de que a União não é um Estado.102
➢ Legitimidade democrática que influi na delimitação de competências entre os órgãos
que garantem o exercício em comum dos poderes de soberania cujos titulares são os
Estados-membros.
Por detrás da questão do défice democrático e do apregoar “mais poderes” para o Parlamento
está a subtração de poderes ao Conselho.
➢ Na perspetiva da repartição vertical de poderes, o objetivo de colmatar um eventual
défice democrático reclama mais o funcionamento efetivo de sistema decisório que
garanta a participação dos parlamentos nacionais do que a atribuição de mais e
alargados poderes ao PE, com o consequente esvaziamento da sede natural desses
poderes que são as assembleias parlamentares dos Estados-membros.
o Protocolo 13 (com a revisão de Amsterdão) inscreveu nos Tratados modalidades
de cooperação entre o PE e os Parlamentos nacionais – previa-se a existência
de COSAC (Conferência das Comissões de Assuntos Europeus e dos Parlamentos dos Estados-
membros).
o Renovado pelo Protocolo 1 (anexo ao Tratado de Lisboa) a função dos COSAC
constitui a expressão institucional do modelo de cooperação interparlamentar
(muito importante, sobretudo nos domínios da PESC)103
➢ Problema do estatuto do PE não pode ser equacionado unilateralmente desligado da
questão fundamental sobre a forma jurídica da UE e das suas relações com os Estados-
membros.
102
O exercício de poderes efetivos de participação no processo orçamental, legislativo e de vinculação
internacional, aliado à condição de órgão representativo justificam o atual estatuto do PE no
funcionamento das vias judiciais de controlo da legalidade pelo TJUE (art. 263º/§2 TFUE; 265º/§1 TFUE;
art. 218º/11 TFUE; art. 267º TFUE e art. 23º, 24º Estatuto TJUE; art. 40º Estatuto TJUE; art. 268º e 340º
TFUE)
103
Outra modalidade de cooperação intergovernamental é a Conferência dos Presidentes dos
Parlamentos Nacionais da UE – desde 1963
52
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
53
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
2. Poderes Orçamentais – desde 1970 e dos recursos próprios da Comunidade e dos Tratados
Orçamentais dos anos 70 que o PE se converteu numa instituição de decisão orçamental.
Art. 314º/§1 TFUE: procedimento orçamental enquadra a participação do PE como verdadeiro
titular de um poder de codecisão que partilha com o Conselho.
➢ Pode alterar projeto de Orçamento adotado pelo Conselho (art. 314º/4/c)
➢ Declarar verificada a aprovação do Orçamento (art. 314º/4/a)
➢ Rejeitar a aprovação do projeto comum (art. 314º/7/b)
Na ausência de acordo imediato entre Conselho e PE há um conjunto de diligências para que as
duas instituições participem na construção do texto orçamental da UE (no seio do Comité de
Conciliação).
Art. 319º
54
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Conselho Europeu
Das cimeiras ao estatuto de superinstituição
Os Planos Fouchet (índole intergovernamental – 1961 e 1962) apoiados pelo França gaullista
destinava às Cimeiras de Chefes de Estado ou de Governo um lugar central, relegando para
segundo plano as instituições comunitárias.
• Oposição da corrente integracionista a transformar as Cimeiras numa estrutura própria.
• Jean Monnet (depois da Cimeira de Paris de 1972) reconheceu que se devia reforçar e
renovar a autoridade comunitária – faltava uma instituição de impulsão política,
dotada de verdadeiros poderes de decisão, coordenando posições assumidas pelos
Estados-membros
104
Embora sem este nome, que só surgiu mais tarde. O pendor intergovernamental da decisão
institucional foi compensado por duas importantes resoluções de intuito integracionista – uma relativa à
eleição do PE por sufrágio universal e outra quanto ao compromisso de renunciar ao uso sistemático da
unanimidade nas deliberações do Conselho de Ministros.
55
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
➢ Estava em causa o seguinte: será um órgão comunitário? Qual o âmbito das suas
competências, especialmente na função normativa? Qual a forma dos seus atos e regras
aplicáveis ao eventual controlo jurisdicional?
o MLD (antes de 2007): defendia a dupla natureza do Conselho Europeu (órgão
supremo de impulsão do processo de integração comunitária correspondente
ao nível político mais elevado de formação do Conselho + instância superior de
cooperação política entre os Estados-membros)
▪ Desdobramento funcional entre conferência diplomática para as
matérias da cooperação política e a atuação como órgão comunitário
na resolução de questões bloqueadas no Conselho.
Composição
Chefes de Estado ou de Governo – por uns ou por outros consoante o previsto na Constituição
de cada Estado-membro sobre a condução da política externa ao mais alto nível (ao mais alto
nível hierárquico=; Presidente da Comissão; Presidente do Conselho Europeu (que carece de
estatuto de membro – art. 235º/1 TFUE); Alto Representante da UE para os Negócios
Estrangeiros (que só participa nos trabalhos, mas não é membro do Conselho Europeu)
➢ Art. 15º/2 TUE
105
Contrabalanço da opção comunitária com esta superinstituição caracterizadora do método
intergovernamental.
106
Se houver uma afirmação crescente do papel do Conselho Europeu isso pode constituir uma ameaça
de perversão intergovernamental do modelo comunitário de decisão com um diretório restrito.
107
Com o Tratado de Lisboa deixa de ser presidido pelo
56
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Organização e Funcionamento
Art. 15º/3 TUE codifica a prática de reunião do Conselho Europeu 2 vezes por semestre.
➢ Tradicional flexibilidade deu lugar a um regime de maior exigência formal, adequada ao
exercício de poderes decisórios sob a forma de atos jurídicos vinculativos.
Competências
Art. 15º/1 TUE: dar à UE os “impulsos necessários ao seu desenvolvimento” e definição das
orientações e prioridades políticas gerais (escolha das grandes opções de direção política109).
Não exerce a função legislativa – nem adota atos normativos – e tem sim uma missão de
natureza exclusivamente política cujas principais funções são:
• Estatutária – Tratado de Lisboa ampliou e robusteceu os poderes do Conselho Europeu
fazendo muitas questões depender da sua decisão.
o Modificação de disposições e procedimentos de decisão inscritos nos tratados
(art. 48º/6 e 7 TUE)110
▪ Cláusulas de Passerele – mecanismos que permitem, no futuro, sem
revisão formal dos tratados, desenvolver soluções para aprofundar a
integração europeia. Poder do Conselho Europeu utilizar as cláusulas
para alterar uma disposição dos tratados que vai afetar a prática do
Conselho – permite que haja soluções de índole mais comunitária se o
Conselho Europeu quiser acelerar a integração de forma mais
explícita.
➢ Art. 48º/7 TUE – cláusula de passerelle geral, inserida num
artigo sobre os processos de alterações dos Tratados – processo
de revisão ultrassimplifficado.
➢ Cláusula geral tem dois aspetos e prevê duas situações:
alteração das regras de deliberação + alteração do processo
legislativo especial do Conselho
❖ Dá mais poder ao PE, pois exige ato legislativo ordinário
(que funciona em codecisão – maior legitimidade
democrática)
➢ Art. 31º/3 TUE tem cláusula de passerele específica em matéria
de PESC
o Condições de adesão dos Estados (art. 49º TUE)
o Condições de retirada dos Estados-membros (art. 50º TUE)
o Nomeação de responsáveis importantes na estrutura institucional da UE –
próprio presidente (art. 15º/5); Alto Representante (art 18º/1); proposta para
108
Não se confunde com a unanimidade que exige a votação e está prevista em várias situações nos
tratados
109
Que vão ser concretizadas pelo legislador europeu (cuja iniciativa parte da Comissão)
110
Caráter de superinstituição, substituindo CIG nalgumas revisões de Tratados.
57
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Tratados não fixam tipologia de atos do Conselho Europeu e a prática trouxe-nos as conclusões,
declarações, orientações, comunicados – não correspondem à tipologia dos atos jurídicos da UE
nem se ajustam à nomenclatura do DIP.
➢ Com o Tratado de Lisboa114 o resultado dos trabalhos do Conselho Europeu é divulgado
sob a designação de Conclusões e é publicado no Jornal Oficial da União Europeia.
Conselho da União
Composição
Por um representante de cada Estado (art. 16º/2 TUE) – cabendo a cada Estado-membro
escolher o seu representante, podendo recair sobre qualquer membro do Governo desde que
capaz de “vincular o Governo do respetivo Estado-membro e exercer direito de voto”.
• Art. 239º TFUE – pode delegar noutro Estado-membro o exercício do direito de voto,
desde que representado a nível ministerial.
111
Conselho Europeu escolhe o candidato a presidente da comissão (art. 17º/7) sendo ele depois eleito
pelo PE (transfere para esse presidente um pouco da sua legitimidade democrática).
112
Ainda não está em vigor e funciona ainda o art. 17º/4).
113
Grande expressão aquando da crise financeira e orçamental da eurozona em 2010 – constitui
mecanismo europeu de apoio financeiro (FEEF); enquadrou novo procedimento de controlo designado
por “semestre europeu” com a missão de reforma estrutural das políticas económicas dos Estados-
membros; aprovação de relatórios; aditamento do nº3 do art. 136º TFUE.
114
Antes havia as Conclusões da Presidência com: Declarações (posições de especial importância);
Orientações; Resoluções (toma posição sobre questões específicas); Decisões
115
Representação de Portugal no Conselho da União é feita pelo Ministro competente na matéria ou
Secretário de Estado (mediante prévio ato de delegação de competências do Ministro). Preparação é feita
pelo Conselho de Ministros e pela Comissão Interministerial para os Assuntos Europeus.
➢ Resolução do Conselho de Ministros nº 32/86
58
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Mais relevantes:
• Conselho dos Assuntos Gerais – assegura a coordenação e a coerência dos trabalhos
das diferentes formações; prepara as reuniões com o Conselho Europeu e articulando-
se com o Presidente do Conselho Europeu e da Comissão garante a continuidade dos
trabalhos – composto pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros ou dos Assuntos
Europeus
• Conselho dos Negócios Estrangeiros – elabora a ação externa da UE, de acordo com
linhas estratégicas definidas pelo Conselho Europeu, assegurando a coerência da ação
externa da UE – composto pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros e presidido pelo
Alto Representante (art. 18º/3 TUE)
• ECOFIN / Assuntos Económicos e Financeiros – instância de debate, preparação e
decisão sobre a resposta que se espera da UE em matéria de governação económica e
auxílio financeiro aos Estados-membros – composto pelos Ministros das Finanças ou
Economia
Organização e Funcionamento
PRESIDÊNCIA
Art. 16º/9 TUE – Sistema de Rotação Igualitária
Conselho Europeu, pelo art. 236º/b TFUE definiu:
• Conselho é presidido por grupos pré-determinados de 3 Estados-membros durante um
período de 18 meses, tendo em conta a sua diversidade e os equilíbrios geográficos da
UE – sistema de troika (associa 3 presidências: atual, passada e futura)116
o Formato triangular permite uma articulação mãos eficiente e previsível das
atividades do Conselho, especialmente no domínio legislativo e no da definição
de prioridades de política externa da UE.
o Programação plurianual acordada entre os 3 Estados-membros em função de
diretrizes estratégicas de médio prazo.
• Cada membro do Grupo preside, sucessivamente, durante 6 meses, a todas as
formações do Conselho (exceto a dos Negócios Estrangeiros), ao Comité de
Representantes Permanentes (COREPER), bem como todos os grupos e comités de
natureza intergovernamental que dependam do Conselho.
COREPER
116
A atual presidência é de Malta (Janeiro-Junho 2017) sendo a anterior da Eslováquia e a seguinte do
Reino Unido
117
Mas não neutralidade política, pois há que definir estratégias, divulga-las e atuar de modo a alcançar
um grau de realização elevado de realização do programa definido.
59
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Art. 16º/7 TUE – composto pelos representantes permanentes dos Governos dos Estados-
membros em Bruxelas118, desempenha a função de preparar os trabalhos do Conselho e de
exercer os mandatos que este lhe confia – art. 240º TFUE
• Mero órgão auxiliar, desprovido de poderes de decisão – prática institucional deu-lhe
um papel relevante no diálogo interinstitucional de conteúdo técnico com a Comissão.
o Vocação burocrática e técnica
o Podem mesmo constituir ou dar acordo à constituição de comités e grupos de
trabalho para aprofundar o debate técnico em torno das propostas da
Comissão.
▪ Estados-membros estão representados nos grupos de trabalho através
de funcionários da sua representação permanente (REPER) ou
funcionários da Administração nacional, enviados pelas respetivas
capitais.
• Assegura a ligação constante entre os Estados-membros e a Comissão, a propósito de
projetos e iniciativas desta.
Órgão auxiliar do Conselho da União (art. 71º TFUE) com exceção do COPS – Comité Político e
de Segurança – que pode, por autorização expressa do Conselho, tomar decisões no quadro de
uma operação de gestão de crises (art. 38º/§3 TUE)
SECRETARIADO-GERAL
Órgão de natureza burocrática que assiste o Conselho – nomeado por este por maioria
qualificada (art. 240º/2 TFUE). Compete-lhe:
• Elaboração do projeto de atas das reuniões
• Providenciar a publicação dos atos no Jornal Oficial
• Notificação dos atos aos seus destinatários
• Elaboração de um projeto de mapa previsional das despesas do Conselho, a incluir no
projeto orçamental
• Função de depositário de acordos e convenções internacionais
118
Devidamente mandatados pelos Governos nacionais e orientados por diretrizes políticas a seguir sobre
as questões em análise.
119
Com uma unidade específica de juristas linguistas, pois ao Secretariado-Geral incumbe o zelo pela
qualidade de redação dos atos normativos adotados pelo Conselho e, de acordo com o multilinguismo
60
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Regras de Deliberação
Maioria Qualificada – regra; art. 16º/3 TUE – alcançada através dum modelo de ponderação do
peso relativo dos Estados-membros. Critério do número de votos/Estados-membros aliado ao
critério da representatividade democrática.120
➢ Art. 16º/4 TUE – Deliberação sob proposta da Comissão: sistema de dupla maioria
(percentagem de Estados e percentagem da população)
➢ Art. 238º/2 TFUE – Deliberação não sob proposta da Comissão
• Desvios Intergovernamentais
o Acordo do Luxemburgo – 1966; encerrou a política da “cadeira vazia” mas abriu
a porta a uma prática que transmutou o princípio de deliberação no seio do
Conselho – garantiu aos Estados a substituição da regra da maioria pela
exigência do consenso sempre que estiverem em causa “interesses muito
importantes de um ou vários Estados-membros”.
▪ Em nome dos interesses nacionais, os Estados-membros readquiriam
pela via da revisão informal dos Tratados o direito de veto – reforço do
fator intergovernamental121.
▪ Compromisso político contrário aos Tratados122 – ato fundador de uma
prática que adquiriu força de costume, com eficácia derrogatória em
relação ao sistema de deliberação previsto nos Tratados.
▪ Tratado de Lisboa generalizou o princípio maioritário de decisão no seio
do Conselho mas ainda consagrou um desvio intergovernamental no
art. 31º/2/§2 TUE, art. 48º/§2, 86º/1/§2, 87º/3/§2 TFUE)
como princípio organizativo da UE, garantir a versão rigorosa e equivalente em todas as línguas oficiais
da UE.
120
Está em causa um problema de partilha e equilíbrio no exercício do poder.
121
Minou a estrutura de decisão comunitária com a admissão do direito de veto como instrumento de
interesses vitais dos Estados-membros e pela subalternização do papel da Comissão relativamente ao
Conselho no quadro do procedimento de decisão fixado no Tratado de Roma.
122
Não são verdadeiros Tratados. É um compromisso que serviu de base à formação dum costume contra
legem na regulação do funcionamento do Conselho de Ministros (que os Tratados de Paris e Tratados de
Roma consagravam de forma diferente).
61
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Competências
1. Poderes de Decisão – art. 16º/1 TUE – no âmbito da função legislativa e orçamental que
partilha com o Parlamento Europeu.
• Não há reservas para a função orçamental.
• Quanto à função legislativa pode tomar a forma de ato unilateral, quando é de natureza
exclusiva do Conselho no âmbito de um processo legislativo especial (art. 289º/2 TFUE).
o Sujeito ao princípio da transparência (art. 16º/8 TUE).
• No âmbito de PESC o Conselho também pode adotar decisões, desde que respeitados
os objetivos e orientações gerais definidos pelo Conselho Europeu (art. 24º/1/§2, 26º/1,
27ª/1 TUE)
4. Poderes de Coordenação – art. 16º/1 TUE – função primordial que se desdobra em dois
planos
• Plano das Políticas da UE sob a direção do Conselho de Assuntos Gerais
• Plano das Políticas definidas pelos Estados-membros – art. 119º a 126º TFUE; as bases
de coordenação das políticas económicas são definidas pelo Conselho, tendo a
formação ECOFIN o centro principal de decisão.
Comissão Europeia
Composição
Art. 17º/4 TUE – pois o art. 17º/5 ainda não está em vigor
➢ MLD: uma Comissão mais pequena seria, teoricamente, uma Comissão adequada à
função, mais ágil e mais coesa, tendo em conta que se trata do órgão executivo da UE.
62
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Na sequência do primeiro referendo negativo, a Irlanda reclamou várias garantias e uma delas
foi a da Comissão continuar a ser constituída por um nacional de cada Estado-membro.
• Compromisso assumido por todos os Estados-membros por estar em causa um princípio
tradicional de representação igualitária dos Estados-membros ao nível da Comissão
que garante uma articulação efetiva entre eles, tendo em conta as realidades políticas,
sociais e económicas de todos os Estados-membros.
o Membros da comissão não representam os Estados-membros mas
transportam para o Executivo da UE o conhecimento objetivo das realidades
específicas de cada Estado-membro.
Art. 17º/3/§3 TUE e art. 245º TFUE postulam os deveres dos Comissários.
➢ Muito importante a absoluta independência dos Comissários
o Os Governos têm de a respeitar mas não deixam de sensibilizar os seus
comissários em relação aos problemas que mais diretamente afetam os
interesses nacionais. Por vezes, é o próprio comissário que procura obter das
autoridades do “seu” Estado-membro de nacionalidade os esclarecimentos que
poderão ditar o respetivo sentido de voto no momento crucial da deliberação
no colégio de 28 comissários.
Art. 17º/3 TUE – mandato de 5 anos que várias disposições visam garantir que coincidam com
a legislatura do PE (ex: art. 234º, 246º TFUE)
• Já não está prevista a possibilidade de renovação do mandato – silêncio dos Tratados
não deve ser interpretado no sentido de excluir decisões de recondução das funções.
123
Solução adotada no texto do Tratado (art. 17º/5 TUE e 244º TFUE) mas que, por circunstâncias
supervenientes, foi abandonada.
124
Que se arroga o direito de proceder a audições individuais – mecanismo prévio de controlo que se
inspira nos “hearings” do Senado dos EUA. Poderá fazer depender o seu voto de aprovação da
disponibilidade dos Governos dos Estados-membros para substituir uma personalidade non grata por
outra que esteja em condições de passar no teste parlamentar. Ex: Comissão Barroso I: proposta da Itália
63
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Art. 17º/6 TUE – tem no plano político e organizativo os instrumentos de direção efetiva da
Comissão.
Art. 234º - destituição coletiva da Comissão na sequência de uma moção de censura do PE, no
quadro da responsabilidade política que subordina a atuação da Comissão ao veredicto do órgão
Parlamentar.
➢ Em 1999 a Comissão Jacques Santer demitiu-se na sequência de conturbado processo
parlamentar com acusações de fraude e má gestão – não caiu devido a moção de
censura e introduziu uma nova modalidade de afastamento da Comissão: destituição
coletiva voluntária.
Organização e Funcionamento
Comissão dispõe, para preparar e executar as suas ações, de um conjunto complexo de serviços,
organizados em direções-gerais e serviços equiparados. Para dar resposta a necessidades
especiais, a Comissão pode ainda criar estruturas específicas incumbidas de missões precisas.
Membros da Comissão formam colégio no seio do qual o Presidente tem um voto como os
restantes membros – maioria no art. 250º TFUE.
➢ Decide sob proposta de um ou vários dos seus membros.
Presidente além das funções típicas de um órgão colegial, personifica uma função de relevante
envergadura política: participa nas reuniões do Conselho Europeu, comparece perante o
Parlamento Europeu e distribui pelos comissários domínios específicos de atividade (os
“pelouros”125 – art. 248º TFUE – que apesar de existirem, é o princípio da colegialidade que
subordina toda a lógica de funcionamento da Comissão)
não passava devido a declarações homofóbicas; Comissão Barroso II: proposta da Bulgária não passava
por suspeita de prática de irregularidades financeiras
125
A repartição dos pelouros não é alheia a pressões exercidas pelos Estados-membros que jogam para
garantir as pastas mais importantes.
64
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Competências
Art. 17º/1 TUE – objetivo de promover o “interesse geral da União”
• Guardiã dos Tratados – vela pela sua aplicação bem como das medidas adotadas pelas
Instituições por força destes
• Controlar a aplicação do direito da UE – sob fiscalização do TJUE
• Executa orçamento e gere programas
• Exerce funções de coordenação, execução e gestão – conforme o estabelecido nos
Tratados
• Assegura representação externa da UE – exceção de PESC
• Toma iniciativa de programação anual e plurianual
Áreas de Competência:
1. Competência de Iniciativa – art. 17º/2 TUE - monopólio de iniciativa de atos legislativos.
➢ Exceção no art. 223º/2, art. 289º/4 TFUE
Conselho só pode alterar uma proposta da Comissão por unanimidade (art. 293º/1 TFUE) e
nunca se pode substituir a ela.
• Comissão pode alterar a proposta enquanto o Conselho ainda não tiver deliberado (art.
293º/2 TFUE).
65
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Poder jurídico de impulsão faz da Comissão o motor da integração, responsável pelos saltos
qualitativos no processo de realização do desígnio comunitário.126
• Eventual inércia da Comissão na apresentação de propostas pode gerar iniciativas de
natureza política – art. 11º/§4 TUE; art. 225º e 241º TFUE
• No caso de não apresentar a proposta solicitada pelo PE ou pelo Conselho, a Comissão
além do dever de informar sobre as razões porque não avança com uma proposta, pode
ser demandada perante o TJUE e condenada por omissão (art. 265º TFUE).
2. Competências de Controlo – Comissão é guardiã dos Tratados. Mas não tem direito
exclusivo nem preferencial de controlo – tem competência genérica e subsidiária de controlo
e vigilância.
• Tribunal de Justiça e os restantes exercem controlo judicial.
• Tribunal de Contas exerce controlo financeiro.
Tem amplas prerrogativas para recolher as informações e proceder às verificações necessárias
(art. 96º/2; art. 103º/2/a; art. 106º/3; art. 108º/2; art. 260º; art. 337º TFUE)
Comissão detém poderes importantes de gestão e execução direta noutros domínios: gestão de
fundos comunitários (art. 317º TFUE); execução do orçamento (art. 317º TFUE); gestão de
cláusulas de salvaguarda (art. 114º/10; 191º/2 TFUE)
Sob a forma de atos delegados, Comissão exerce poder de complementar e desenvolver o
regime jurídico do ato legislativo, se o PE e Conselho lhe confiarem a missão – art. 290º/1
126
Ex: Publicação do Livro Branco mobiliza vontades políticas
127
Obrigação explicita da sujeição a regras e princípios gerais do exercício da competência de execução
pela Comissão – garante o controlo por parte dos Estados-membros da Comissão.
66
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Com o Tratado de Fusão determinou-se que um único Tribunal exerceria as competências que
os dois Tratados atribuíam ao órgão jurisdicional previsto em cada um deles. Esse Tribunal único
também substituiria o Tribunal criado pelo Tratado CECA.
Com o AUE associa-se ao Tribunal de Justiça o Tribunal de Primeira Instância encarregado com
uma jurisdição de conhecer, em primeira instância, certas categorias de ações determinadas.
➢ Rebatizado com o Tratado de Lisboa para Tribunal Geral.
Com o Tratado de Nice foi possível que uma decisão unânime do Conselho criasse câmaras
jurisdicionais encarregadas de conhecer certas categorias de recursos em matérias específicas
➢ Rebatizado com o Tratado de Lisboa para Tribunais Especializados, clarificando-se a sua
natureza de órgãos jurisdicionais128
Instituição é o Tribunal de Justiça da União Europeia (art. 13º/1 TUE) que alberga o Tribunal de
Justiça, o Tribunal Geral e tribunais especializados (art. 19º/1 TUE).
• Princípio basilar de unidade institucional no sistema eurocomunitário de aplicação
judicial do Direito.
• Saber qual dos tribunais, em concreto, deve ser demandado depende da aplicação das
normas dos Tratados e do Estatuto de repartição de competências entre Tribunais.
Das decisões proferidas pelos Tribunais Especializados cabe recurso para o Tribunal Geral (art.
257º/§3 TFUE), e destas cabe recurso para o Tribunal de Justiça limitado às questões de direito
(art. 256º/1/§2 TFUE).
➢ Sistema de recursos regulado nos termos do Estatuto do TJUE (Protocolo 3) pressupõe
relação hierárquica entre os Tribunais que compõe a instância judicial da UE
Composição
Art. 19º/2 – 1 juiz por Estado-membro assistido por 8 advogados-gerais
• Prática institucional tem garantido um advogado-geral por cada um dos 5 grandes
Estados-membros (Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha) e os outros 3 por
rotação entre os restantes.
• Declaração 38 prevê que o TJ pode solicitar o aumento de 8 advogados-gerais para 11
(em que a Polónia ganharia o direito a um advogado-geral permanente).
128
Único até agora é o Tribunal da Função Pública, criado por decisão do Conselho em 2004
67
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Haver 1 juiz por cada Estado-membro nunca prejudicou a vocação integracionista do Tribunal e
favorece a autoridade da jurisprudência ao garantir o conhecimento das particularidades do
sistema jurídico e legal de cada Estado-membro.
➢ Juízes não representam o Estado-membro de nacionalidade, do qual não pode receber
instruções
Nomeados, de comum acordo, pelos Governos dos Estados-membros por um período de 6 anos
(art. 253º e 254º TFUE)
• Tribunal Geral (art. 254º TFUE) e Tribunal da Função Pública (art. 257º TFUE) – requisitos
curriculares menos exigentes e aponta-se para um perfil mais técnico do candidato.
• Nomeação sujeita a parecer de um comité (art. 255º TFUE)130
Secretário é escolhido pelo próprio Tribunal (art. 253º/§5 e 254º/§4 TFUE) e estabelece o seu
Estatuto – funções relevantes de ordem processual e administrativa.
Presidente é escolhido por período de 3 anos (art. 253º/§3 e art. 254º/§3 TFUE)
Estatuto dos juízes e advogados assenta sobre um conjunto alargado de direitos e obrigações
que visam tutelar o atributo primordial da independência e imparcialidade.
➢ Art. 3º e 4º ETJUE (Protocolo 3)
Secretismo das deliberações (art. 35º ETJUE) para garantir a independência dos juízes face a
possíveis “interferências” externas – língua de comunicação entre os juízes é o francês.
➢ Advogado-geral131 analisa o litígio sub judice e propõe determinada solução jurídica para
o mesmo, devidamente fundamentada no adquirido jurisprudencial sobre a matéria ou
numa interpretação divergente que tenha da questão (art. 252º/§2 TFUE)
Natureza da Jurisdição
TJ exerce poderes de “interpretação e aplicação” do DUE no âmbito de uma jurisdição:
1. De Atribuição – Tribunais têm competência de atribuição (art. 5º/1 TUE) mas funcionam
numa lógica de descentralização da função jurisdicional – art. 274º
a. Tribunais nacionais convertem-se em tribunais comunitários quando são
chamados a dirimir litígios que envolvem a aplicação do normativo da UE – que
se relacionam com o TJUE com base no princípio da cooperação (art. 267º)
i. Não existe relação hierárquica entre os Tribunais nacionais e o TJ – das
sentenças proferidas pelo Juiz nacional não cabe recurso para o TJ e TG.
➢ Juiz da União carece em absoluto do poder de reformar as
decisões dos tribunais nacionais e do poder de anular atos
adotados pelas autoridades nacionais contrários ao DUE.
129
No caso do Tribunal da Função Pública há 7 juízes, podendo esse número aumentar a pedido do
Tribunal de Justiça em função do volume de contencioso.
130
Escrutínio prévio da idoneidade funcional do candidato.
131
Figura inspirada nos modelos do “comissário do governo” Francês e Holandês – não se confunde com
o Ministério Público e não estão encarregados da defesa de qualquer interesse (Caso Emesa, TJCE, 2000).
As conclusões apresentadas são encaradas como opiniões individuais e fundamentadas de um membro
da própria Instituição.
68
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
A partir dos finais dos anos 80 e em especial depois do Tratado de Maastricht, o TJUE moderou
a sua pré-compreensão voluntarista e acentuou a preocupação em consolidar e desenvolver os
pressupostos jurídico-institucionais de uma “Comunidade de Direito”.
132
Decididos por reapreciação com várias modalidades: oposição ao acórdão proferido à revelia; oposição
de terceiros; recurso de interpretação de acórdãos; retificação de erro material ou de omissão de
pronúncia; revisão.
69
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Competências
Art. 19º/3 TUE – 3 áreas fundamentais da competência do TJUE.
➢ Amplas competências como forma de assegurar uma interpretação e aplicação
uniformes dos Tratados, potenciada por uma interpretação jurisprudencial que favorece
a reserva de jurisdição eurocomunitária como um corolário da autonomia e
especificidade da ordem jurídica da UE.
B. Função contenciosa: abre o TJUE aos conflitos de interesses e direitos, cuja tutela é
reclamada pelas partes no processo – desdobra-se em 4 modalidades.
i. Contencioso da Legalidade – apreciação da questão da legalidade de atos ou
omissões das instituições, órgãos e organismos da UE, por via principal ou via
da exceção, em que o Juiz comunitário só pode anular (ou não) o ato jurídico da
UE, declarar (ou não) a sua invalidade ou, no caso de omissão, declarar (ou não)
a sua ilegalidade;
ii. Contencioso do Incumprimento – limita a pronúncia do TJ a eventual declaração
de incumprimento imputável a Estado-membro demandado. Não estão em
apreciação comportamentos dos Estados-membros e o TJ pode aplicar sanções
pecuniárias ao acusado, mas, em caso algum pode anular direito nacional
iii. Contencioso de Plena Jurisdição – exorbita-se a pronúncia de anulação e podem
condenar a UE e etc.
iv. Providências Cautelares – Juiz assegura composição provisória de interesses em
jogo, de modo a evitar a produção de efeitos irreversíveis, que esvaziariam de
contudo a decisão final
Âmbito da competência do TJUE pode ser alargado por via da cláusula compromissória,
compromisso com Estado-membro, ato unilateral do Conselho.
Na prática as extensões ocorreram por: ato unilateral do Conselho (Regulamento 20/12/93);
convenções internacionais com terceiros (Espaço Económico Europeu – 2/5/92) ou entre
Estados-membros.
70
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
No exercício dos seus poderes, TJUE tem jurisdição pluri-funcional. Pode funcionar,
dependendo da natureza dos litígios a dirimir e atos de DUE a aplicar como:
• Jurisdição constitucional – velando pela inviolabilidade dos Tratados e em especial no
garante dos Direitos Fundamentais, dirime os litígios entre a repartição de competências
entre a UE e os Estados-membros.
• Jurisdição administrativa – além do contencioso em matéria de função pública (Tribunal
da Função Pública), TJUE está investido de poderes de controlo e de condenação da
autoridade administrativa da UE (pode anular decisões da Comissão, ou impor-lhe certo
comportamento)
• Jurisdição internacional – competente ara apreciar litígios entre Estados-membros que
não perderam a sua qualidade de sujeitos de DIP
• Jurisdição reguladora – em resposta às questões de interpretação e validade suscitadas
pelos tribunais nacionais.
o Não se trata de “uniformizar” a jurisprudência nacional mas antes estabelecer
parâmetros ou critérios aferidores do grau admissível de flutuação decisória por
parte do tribunal nacional (art. 256º/3/§3 TFUE)
71
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Organização e Funcionamento
TJUE dispõe do poder de se auto-organizar – embora o Regulamento de Processo esteja
condicionado à aprovação do Conselho (art. 253º/§6 TFUE).
• Nomeia o seu secretário e estabelece, por decisão própria, o respetivo estatuto (art.
253º/§5 TFUE).
Tribunal Geral
Desde os anos 70 que se falava da importância de acrescentar um novo tribunal à estrutura
judicial das Comunidades Europeias tendo “uma jurisdição encarregada de conhecer em primeira
instância certas categorias de ações propostas por pessoas singulares ou coletivas” – devido a
crescente afluxo processual que levava a um tempo muito prolongado de espera na obtenção
das decisões finais (risco de bloqueio da justiça Administrada pelo Tribunal de Justiça).
Novo tribunal – Tribunal de Primeira Instância – foi instruído pela Decisão 88/591/CE, CECA,
Euratom, do Conselho em 1988 e oficialmente instalou-se em Outubro de 1989 (com o primeiro
acórdão em Fevereiro de 1990)
➢ Com o Tratado de Lisboa passou a ser Tribunal Geral tendo funções de instância
intermédia da estrutura jurisdicional, competente para julgar a generalidade dos
litígios em primeira instância e os recursos instaurados das decisões proferidos pelos
tribunais especializados.
Funciona por secções (3 a 5 juízes) podendo reunir em plenário ou em juiz singular (art. 50º
ETJUE)
72
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Art. 256º TFUE – competência para reconhecer em primeira instância certos recursos
• Exclui-se o contencioso do incumprimento que se mantém na esfera reservada ao TJ.
• Exclui-se o contencioso da função pública que passa a ter tribunal próprio – apenas pode
apreciar as decisões em sede de recurso (art. 256º/2)
• No ETJUE estão as matérias específicas sobre as questões prejudiciais que os tribunais
podem solicitar (art. 256º/3)
Decisões proferidas pelo Tribunal Geral podem ser objeto de recurso para o Tribunal de Justiça
que incide unicamente sobre as questões de direito (art. 256º/1/§2). Critérios específicos de
forma a garantir-se a uniformidade da jurisprudência quanto à intervenção do TJ nas decisões
do TG:
• Quando existir risco grave de lesão da unidade ou coerência do direito da União na
reapreciação pelo TG dos recursos dos tribunais especializados (triplo grau de
jurisdição);
• Quando está em causa decisão que pode afetar a unidade ou coerência do direito da
União;
• Quando estiver em perigo a unidade ou coerência do direito da União nas decisões do
TG sobre questões prejudiciais.
Exerce em primeira instância a competência para decidir dos litígios entre a UE e os seus
agentes, nos termos do art. 270º TFUE
• Cabe recurso para o TG (art. 257º/§3 TFUE) e excecionalmente para o TJ (art. 256º/2
TFUE).
Desde os finais dos anos 60 que se tenta implementar uma política monetária e o AUE veio
instituir um reforçado mecanismo de cooperação monetária – Sistema Monetário Europeu
com o ECU (European Currency Unit), unidade monetária composta pelas moedas dos vários
Estados-membros, sistema de câmbios estáveis mas ajustáveis a certas margens de flutuações
e mecanismos de créditos (máxime o financiamento a curto prazo dos bancos centrais).
73
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
A realização e funcionamento da UEM reclamou uma estrutura orgânica que pudesse responder
com saber técnico e eficácia política às exigências inerentes à programação e execução de uma
política monetária comum.
• Na 2ª fase UEM (1994) a cooperação monetária entre os Estados-membros foi confiada
ao Instituo Monetário Europeu (IME).
o Preparou os instrumentos e procedimentos necessários para a execução de uma
política monetária única na terceira fase (1999) – preparou a entrada em
funcionamento da estrutura orgânica da 3ª fase constituída pelo Banco Central
Europeu, Sistema Europeu dos Bancos Centrais e Comité Económico e
Financeiro.
Estrutura
BCE – 1 de junho de 1998
Art. 282º a 284º TFUE + Protocolo 4 (Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do
BCE)133
Goza de personalidade jurídica (art. 282º/3 TFUE) – situação única de instituição (art. 13º/1
TUE) dotada de personalidade jurídica.
➢ Especificidade que resulta da vontade dos Estados de o dotar de plena independência.
➢ Exonera a UE de responsabilidade pelos prejuízos resultantes do exercício das suas
funções (art. 340º/§3 TFUE).
Objetivos e Funções
Princípio vetorial da sua atividade é a garantia da estabilidade de preços na zona euro (art.
127º/1 TFUE)
133
Que faz parte integrante do Tratado e com este partilha a força jurídica do DUE primário – revisão dos
Estatutos deve obedecer ao procedimento formal de revisão do art. 48º TUE. Simplificação pode ocorrer
pelo art. 129º/3 TFUE e art. 40º Estatutos.
134
Extensão do IME – tem os governadores dos bancos centrais de todos os Estados-membros e pretende
ser um foro de coordenação em matéria de política monetária entre os Estados-membros da moeda única
e os outros.
74
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
BCE também tem função consultiva, exercida por iniciativa própria a pedido das instituições
comunitárias ou a pedido das autoridades nacionais (art. 127º/4 TFUE + art. 4º Estatutos)
A independência do BCE não pode ser exercida à margem da lei e dos mecanismos
institucionais do controlo da legalidade – está sujeito aos poderes de fiscalização comunitária
pois está inserido no quadro comunitário e a sua independência não tem como consequência
subtraí-lo à aplicação das normas de direito comunitário (Acórdão TJCE, 10/7/2000, Comissão c.
BCE)
75
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Art. 35º Estatutos – diversas vias do contencioso da UE são aplicáveis, mutatis mutandi, ao BCE.
BCE é novo guardião dos tratados no domínio da política económica e monetária quando está
em causa o comportamento dos bancos centrais.
➢ Funcionamento da UEM esteve na base de opções de ordem institucional que reduziram
a soberania dos Estados-membros à expressão meramente formal do consentimento
inicial. O BCE – com os seus alargados poderes de decisão e subordinação dos bancos
centrais nacionais, combinados com o um estatuto de estrita independência – gerou
uma dinâmica inegável de aspiração federalista.
BCE e SEBC
Sistema Europeu de Bancos Centrais é constituído pelo BCE e por todos os bancos centrais dos
Estados-membros e tem a função de implementar política monetária comum.
➢ Eurosistema é versão restrita do SEBC formado pelo BCE e pelos bancos centrais dos
Estados-membros cuja moeda é o Euro.135 A estrutura de relações que se estabelece
ente o BCE e os bancos centrais nacionais obedece a 2 princípios:
o Hierarquia: BCE dirige e controla o Eurosistema, a ele competindo a definição
das orientações e instruções que regulam, com caráter imperativo, a atuação
dos bancos centrais nacionais nas matérias que relevam do âmbito atual de
competência do BCE (art. 12º/1 Estatutos).
▪ BCE pode agir contenciosamente sobre os bancos centrais nacionais
(art. 271º/d TFUE + art. 35º/6 Estatutos)
o Descentralização: art. 12º/1/§ Estatutos – repartição de competências entre
BCE e bancos centrais nacionais (art. 128º/1 TFUE).
▪ Não põe em perigo o caráter unitário da política monetária porque se
trata de partilha de competências quanto à função de execução.
▪ Atuação dos bancos centrais deve observar o princípio estrito da
independência que esconjura qualquer risco de prevalência do
interesse nacional sobre o interesse comum.
SEBC carece de autonomia jurídica – é formado por 29 entidades com personalidade jurídica e
atua através delas, dirigido pelos órgãos de decisão do BCE (art. 129º/1 TFUE) que garante a
necessária unidade e coerência de ação através da estrutura fortemente hierarquizada que
regula as relações entre o BCE e os bancos centrais nacionais.
BCE e CEF
Comité Económico e Financeiro substituiu o Comité Monetário, no início da 3ª fase que teve um
papel decisivo na gestão do SME e na progressiva liberalização dos movimentos de capitais no
mercado comum.
Art. 134º TFUE – não faz parte do SEBC e é um órgão consultivo.
• Coordenação das políticas de todos os Estados-membros na medida do necessário ao
funcionamento do mercado interno.
135
Diferente do Eurogrupo – outra instância de decisão de política monetária (art. 137º TFUE) cujo
Protocolo 14 define como a reunião informal dos ministros das Finanças dos Estados-membros cuja
moeda é o euro.
76
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
• Além das funções de natureza consultiva sobre matérias relacionadas com a situação
económica, financeira e monetária, o Comité ainda é responsável pela preparação dos
trabalhos do ECOFIN.
Tribunal de Contas
Criado pelo Tratado de Bruxelas de 1975, visou dar resposta institucional adequada à
necessidade de garantir um controlo financeiro eficaz do novo sistema de recursos próprios
das Comunidades (aprovado por Decisão do Conselho em 1970) que substituía o sistema de
contribuições diretas dos Estados-membros.
➢ Controlo do aumento das receitas e despesas do orçamento comunitário reclamava
meios jurídicos de controlo e garantias de independência.
Elevação a Instituição é mais simbólica que efetiva, pois o Tribunal de Contas não tem poderes
equivalentes aos de um verdadeiro tribunal nem exerce poderes de decisão – é de natureza
administrativa, não judicial nem política.
Composição e Funcionamento
Art. 285º + 286º TFUE
É uma instância colegial pelo que as suas deliberações são, em regra, adotadas por maioria dos
28 membros, sendo que a cada membro é confiada uma área específica de verificação e de
controlo sobre a qual deve manter o colégio dos membros informados (relatórios sectoriais).
Sob proposta do Presidente, podem ser criados grupos de fiscalização que assistem os membros
do Tribunal de Contas no exercício das respetivas funções.
Competências
1. Função de Controlo Financeiro – muito ampla (art. 287º/1 TFUE) – controlo sobre a
legalidade e a boa gestão financeira (art. 287º/2). Conclusões apresentadas num
relatório (art. 287º/4).
➢ Controlo externo, sendo o interno feito pela estrutura competente de cada
instituição.
➢ Controlo a posteriori pois incide sobre contas. Instituição carece de poderes
sancionatórios, mas pode socorrer-se dos art. 263º e 265º TFUE.
➢ Conselho da União e Parlamento Europeu solicitam com frequência pareceres
ao Tribunal de Contas havendo uma cumplicidade entre eles (art. 287º/4 TFUE)
2. Função Consultiva – exercida a pedido de outras instituições sob a forma de pareceres.
➢ Pode ser obrigatória – art. 322º, 325º/4 TFUE.
➢ Pode ser facultativa – 287º/4/§2 TFUE
77
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
É nomeado pelo Conselho Europeu, mas com o acordo da Comissão (art. 18º/1 TUE)
• Função – art. 18º/2 TUE
Há sobreposição de poderes entre Conselho Europeu, Conselho e Comissão que podem fazer o
Alto Representante falhar nas suas incumbências (art. 26º/2).
• Ausência de interlocutor único e forte nas relações externas.
• MLD: Alto Representante, perdido no seu labirinto interno, tem elevadas probabilidades
de manter a Política Externa no registo de irrelevância que tem caracterizado a ação da
UE no cenário cada vez mais disputado do protagonismo internacional.
Art. 27º/3 TUE prevê a criação de um serviço europeu para a ação externa, destinado a assistir
o Alto Representante no cumprimento das suas missões. No plano jurídico e operacional, o ato
instituidor teria de consagrar a existência autónoma do novo serviço diplomático da UE.
• Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE / EEAS), após vencida a oposição do PE e
longos meses de negociações complexas, foi criado por aprovação do Conselho em
26/7/2010.
o Implicou a alteração de legislação aplicável ao Estatuto dos funcionários.
o Pontos mais complicados da negociação foram: grau de autonomia do SEAE,
com salvaguarda das competências da Comissão; necessidade de conciliar o seu
funcionamento eficaz com um certo equilíbrio entre os Estados-membros.
• Tem uma estrutura Administrativa central (em Bruxelas) e conta com vários
representantes (chefes de delegação que correspondem a Embaixadores) nas 130
delegações da UE junto de países terceiros e de Organizações Internacionais.
78
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Objetivo de: proporcionar aos cidadãos da UE uma instância específica de receção das suas
queixas (art. 24º/§3 TFUE); submeter o funcionamento da administração eurocomunitária a
um controlo por parte dos administrados, como instrumento idóneo de garantia dos princípios
fundamentais da legalidade e da transparência e, em última análise, de aproximação dos
particulares à ação administrativa do decisor da UE (art. 228º TFUE).
Só pode admitir queixas relativas à atuação administrativa das instituições, órgãos e organismos
da UE – é inadmissível queixas de factos que se reportem às autoridades administrativas dos
Estados-membros.
➢ Direito de queixa no âmbito do art. 40º TUE exclui matérias de PESC.
Por iniciativa própria ou na sequência de queixa ele procede a todos os inquéritos que considere
justificados.
Uma vez terminado e verificando-se a má administração, o Provedor deverá promover uma
solução amigável entre o queixoso e a administração ou pode exortar o órgão em causa para
modificar o funcionamento dos respetivos serviços.
Se não seguir a recomendação o Provedor apresenta relatório que será transmitido ao PE.
➢ MLD: justificar-se-ia que o Provedor tivesse direito de iniciativa contenciosa (art. 263º e
265º TFUE)
Art. 13º/4 UE atribui ao Comité Económico e Social a função específica de assistir o Parlamento
Europeu – competência consultiva
Art. 300º/4 – há alguma dificuldade em conciliar o dever de independência funcional com a
natureza de “representantes” das forças vivas, económicas e sociais dos Estados-membros, pois
há profundas clivagens de desenvolvimento económico e social no mosaico complexo dos 28
Estados-membros da UE.
No caso de parecer necessário (art. 304º), se o Comité não foi consultado, a ausência de
consulta constitui uma violação da formalidade essencial e fundamenta a declaração de
ilegalidade do ato adotado – Acórdão TJ, Julho 1987, Alemanha e outros c. Conselho
136
Pois foi nos países nórdicos que nasceu a instituição do Provedor (“Ombudsman”).
79
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Art. 307º/§3 – abordagem eurocomunitária das matérias a regular deve conjugar e alinhar a
perspetiva socioeconómica com a perspetiva regional, inseparáveis e co-dependentes.
3 diferenças importantes:
➢ Membros são representantes das autarquias regionais ou locais
➢ Tem legitimidade processual para impugnar atos jurídicos da UE
➢ Pode impugnar atos legislativos sobre os quais deve ser consultado, com fundamento
em violação do princípio da subsidiariedade (art. 8º, Protocolo 2)
Outros Órgãos
Estatutos estabelecidos pelo Conselho (art. 242º):
➢ Comité dos Transportes (art. 99º); Comité Económico e Financeiro (art. 134º); “Comité
113” (art. 207º/3); Comité Fundo Social Europeu (art. 163º); Comité do Emprego (art.
150º); Comité Permanente (art. 71º); Comité Político e de Segurança (art. 38º TUE)
80
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Comitologia – designa a forma como a Comissão exerce as competências de execução que lhe
são atribuídas pelo legislador da UE, com a ajuda de comités de representantes dos países da
UE.137
A. Sentido estrito: permitia-se ao Conselho submeter o exercício as competências de
execução delegadas na Comissão “a certas modalidades”, a Decisão Comitologia (1987)
procedeu a uma sistematização da prática institucional anterior.
• Constituída por representantes dos Estados-membros e presididos por um
representante da Comissão138, estes comités podiam ser de tipo (dependendo
da modalidade de procedimento que subordinava a sua intervenção no
processo de execução) consultivo, de gestão ou de regulamentação.
B. Sentido amplo: abrange a multiplicidade de comités que integra o sistema institucional
da UE.
• Além dos comités da comitologia, muitos outros foram criados e funcionam
como elemento orgânico ancilar da função de execução das normas
comunitárias.
• Situação mais comum é a criação pelo Conselho ou Comissão tendo origem
expressa nos Tratados (art. 99º TFUE) ou, resultar de modo implícito, do
princípio da auto-organização, conjugado com o critério da adequação técnica.
C. Sentido impróprio: utilizada equivalente a “grupologia”, mas que não deve ser com ela
confundida - grupos de trabalho, ad hoc e temporários, são estruturas de apoio técnico,
incumbidos de estudar ou acompanhar uma questão específica (nos casos de
complexidade técnica das matérias em que a vocação tentacular eurocomunitária induz
a criação desses grupos de trabalho).
• Podem ser instituídos pela Comissão, Conselho e até pelos próprios comités.
137
Estes «comités de comitologia» discutem os projetos de atos de execução que lhes são apresentados
pelos serviços da Comissão.
138
Os comités de comitologia são criados pelo legislador da UE, com base em regulamentos, diretivas ou
decisões («atos jurídicos de base»), para apoiar a Comissão no exercício das suas competências de
execução.
➢ O "ato jurídico de base" define o conteúdo e o âmbito das competências de execução e
estabelece o tipo de procedimento de comitologia a aplicar consoante os casos.
81
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Proliferação de Comités
Em 1998 havia 430 comités regulados pela Decisão Comitologia que dependiam de
financiamento por conta do orçamento. Eram mais de 1000 se se juntar os outros comités e os
grupos de trabalho.
➢ Inflação burocrática tem custos negativos – plano financeiro e plano político-
institucional, ao transmitir a imagem de uma administração eurocomunitária pesada
que promove a adesão dos técnicos das administrações nacionais.
Em 2009 já só havia 266 comités.
Com o Tratado de Lisboa foi aprovada uma nova disciplina reguladora da comitologia que dá
continuidade ao objetivo de simplificar o formato dos comités técnicos e de lhe garantir maior
transparência na forma como participam no processo de execução das normas.
Controlo e Transparência do seu Funcionamento
Decisão Comitologia 1987 foi uma primeira resposta ao problema da falta de transparência à
medida que o número de comités crescia – definiu as modalidades de intervenção dos comités
no procedimento de execução das normas confiado à Comissão.
Própria natureza destes comités é avessa a controlo externo: criados pelo Conselho ou Comissão
no exercício, por delegação, da competência de Execução, os comités eram uma espécie de
extensões do Conselho, enquanto constituídos por representantes dos Estados-membros,
mas, em contrapartida, a presidência atribuída à Comissão garantia a este órgão um controlo
efetivo sobre o trabalho e orientação dos comités.
• Caso Rothmmans, TPI concluiu pela sujeição dos comités a uma exigência elementar de
transparência, cabendo à Comissão a decisão sobre os pedidos de acesso a documentos
dos comités.
o Assenta no pressuposto que os comités não têm autonomia face à Comissão.
• Caso TJCE (19/11/1998) – República Portuguesa c. Comissão.
o Comissão refugiava-se no “informalismo” da sua iniciativa (através da
apresentação de propostas verbais ao comité dos têxteis relativo ao aumento
dos limites previstos em acordos internacionais para tornar possível a
introdução no mercado de têxteis oriundos da China) para afastar o controlo
jurisdicional de uma prática à muito contestado pelos Estados-membros.
o Tribunal de Justiça concluiu que a decisão “informal” da Comissão era passível
de recurso.
82
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Organismos Personalizados
Criação de organismos dotados de personalidade jurídica e de autonomia financeira tornou-se
uma opção frequente para viabilizar uma aplicação funcionalmente descentralizada dos
objetivos políticos das Comunidades.
• Designação não é uniforme (agência, instituto, observatório, fundo, centro) como não é
o respetivo grau de autonomia.
• Nos anos 90 o Conselho apostou fortemente nesta solução de organização
administrativa autónoma – gerou inquietação no PE quanto ao problema do controlo e
da desorçamentação decorrente da sua autonomia financeira.
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84
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
139
Caso atual das Cimeiras de Estado com poucos Estados-membros – prática institucional que se for
mantida pode consuetudinariamente derrogar o que está previsto nos Tratados (que expressamente não
preveem a política de diretório e qualquer tentativa de a prosseguir é violação das regras
eurocomunitárias)
140
Presidente Conselho Europeu; Presidente da Comissão; Presidente do Conselho pelo Estado-membro
que a exerce no período do semestre; troika da Presidência do Conselho; Alto Representante, presidente
do Conselho dos Negócios Estrangeiros; Presidente do Eurogrupo; Presidente do Parlamento Europeu.
141
MLD: Fator “Fulanista” é determinante quanto ao peso que cada instituição tem no equilíbrio entre o
poder dos Estados-membros e o poder da UE.
85
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Princípio da Tipicidade
Procedimentos de decisão existem na medida em que estejam previstos nos Tratados.
• Não é incompatível com a aprovação de atos que não estão expressamente previstos
nos Tratados mas que neles encontram o seu fundamento jurídico – ex: comitologia
• Rigidez do princípio pode ser compensada com a ativação das cláusulas-passarela.
Além da distinção entre atos legislativos e atos não legislativos, o Tratado de Lisboa simplificou
os procedimentos.
• Desde Maastricht que se procurava essa simplificação.
• Criou-se um procedimento-padrão / procedimento-regra (art. 294º TFUE) – matriz
para os procedimentos da UE.
142
Os Tratados usam o termo processo para designar o encadeamento ordenado de fases e de
formalidades que precedem a adoção de atos pelo decisor político e administrativo da UE – designação da
tramitação típica da decisão dos tribunais pelo que se prefere a expressão procedimento
143
Tribunal de Justiça já se referia à função legislativa – Acórdão caso Simmenthal (9/3/1979); caso
Alemanha c. Comissão (27/10/1992)
86
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Matérias de PESC e do III Pilar têm alguns procedimentos avulsos – visam a aprovação de atos
não legislativos (art. 24º/1 TUE) sem caráter geral e abstrato (art. 329º/2/§2 TFUE)
As várias fases dos procedimentos de decisão e suas exatas configurações deram lugar a várias
práticas institucionais concertadas.
• Tratado de Fusão – aceitava declarações comuns e acordos interinstitucionais
• Tratado de Nice – CIG, em declaração anexa, refere que os acordos interinstitucionais
só podem ser celebrados com o consentimento das 3 instituições
• Tratado de Lisboa – art. 295º TFUE – base jurídica para a celebração de acordos
interinstitucionais, observando-se o princípio da cooperação leal, celebrados entre as
3 instituições e respeitando os Tratados (não é compatível com disposições de âmbito
inovador ou derrogatório do regime procedimental instituído pelos Tratados).
o Natureza pode ser, ou não, vinculativa144
o Ajusta as formas de cooperação e associa o princípio da tipicidade a um critério
pragmático de flexibilidade e eficiência institucional.
o TJUE pode ter que dirimir conflitos interinstitucionais e convocar argumentos
jurídicos para uma questão que tem recortes políticos.
144
MLD + Rui Lanceiro: Sendo que a sua vinculatividade é interna, entre os intervenientes do acordo.
145
Escolha juridicamente enquadrada por critérios objetivos, como a finalidade e o conteúdo do ato
proposto.
87
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
3. Segunda Leitura – no prazo de 3 meses, prorrogável por mais 1 mês a pedido do PE (art.
294º/7 e 17 TFUE) o PE pode fazer o disposto no art. 294º/7 e 8 TFUE.
4. Conciliação e Terceira Leitura – durante 6 semanas, prorrogáveis por mais 2 (art. 294º/12
e 14 TFUE) o Comité de Conciliação trabalha o objetivo de chegar a um projeto comum.
• Ausência de acordo implica a não adoção do ato e devolução da proposta à
Comissão.
• Art. 294º/12, 13 e 14.
• Ato legislativo aprovado através do procedimento do art. 294º TFUE requer
assinatura do Presidente do PE e do Presidente do Conselho (art. 297º/1 TFUE)
Pode haver iniciativa legislativa popular na UE – art. 11º/4/§1 TUE e art. 24º TFUE – convite à
Comissão (pré-iniciativa legislativa), não há forma de ela estar vinculada
88
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Atos delegados desenvolvem os atos legislativos e são aprovados pela Comissão por
delegações do PE e Conselho.
• Subordinados a ato legislativo anterior – onde expressamente se delega na Comissão o
poder normativo regulamentar
o Conteúdo do ato legislativo tem que ser veículo para atribuição de competência
normativa secundária
• Parâmetro de legalidade do ato delegado é o ato legislativo
Art. 291º/2 TFUE – atuação da UE só se justifica quando for necessária, o que envolve uma
extensão do campo funcional de aplicação do princípio da subsidiariedade que inclui tanto as
146
Atos normativos mas não legislativos.
Cecília Anacoreta Correia: “meio caminho entre ato puramente regulamentar e ato legislativo”
89
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
147
Nova abordagem da comitologia, insuflada pela ideia de maior autonomia decisória da Comissão como
responsável pela execução normativa. PE e Conselho participam nos procedimentos de comitologia,
condicionados a direito de informação e acompanhamento.
148
Fragiliza a ação da Comissão com o controlo da sua ação como órgão de execução por outro órgão
(comité) de natureza intergovernamental. A decisão da Comissão fica bloqueada.
90
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Art. 218º TFUE – base jurídica procedimental quanto aos procedimentos de vinculação
internacional.
• Mas, a competência relativa à celebração dos acordos internacionais deve resultar, de
modo expresso ou implícito, de outras disposições dos Tratados – bases jurídicas
materiais.
• Se a base jurídica material não estabelecer regras específicas de procedimento149, o art.
218º TFUE é disposição procedimental genérica e subsidiária quanto à competência de
vinculação internacional da UE.
Intervenção TJUE
Art. 218º/11 TFUE – a pedido do Parlamento Europeu, Conselho, Comissão ou de qualquer
Estado-membro, TJUE pode dar parecer sobre a compatibilidade de um projeto de acordo com
os Tratados.
• Mecanismo de controlo prévio da legalidade dos projetos de acordos internacionais a
celebrar pela UE – pedido antes do ato de celebração do acordo.151
149
Ao contrário do que acontece com os acordos comerciais – art. 207º/3 TFUE
150
A Comissão só é negociadora nos casos do art. 207º/3 TFUE; nos outros casos pode não o ser havendo
nomeação de chefe de delegação diretamente dependente do Presidente do Conselho.
151
Parecer 1/94 TJ esclareceu que ainda se podia pronunciar sobre projeto de acordo já assinado mas
ainda não aprovado pelo Conselho. Também pode solicitar-se o escrutínio do Tribunal quando ainda há
só vontade de negociar e não existe projeto de acordo.
91
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Acordos Mistos
Requer adaptações do art. 218º TFUE.
Suscita problemas difíceis de articulação política entre UE e Estados-membros devendo todas as
partes e guiarem pelo princípio da cooperação leal.
Parte contratante com terceiro é a UE e outra parte são os Estados membros. Há matérias que
ainda permanecem na esfera reservada ou residual da competência dos Estados-membros, pelo
que a vinculação é complexa e envolve ius tractum da UE e dos Estados-membros segundo as
suas normas constitucionais.
• Apesar da CRP não prever a aplicação provisória do acordo ou que a assinatura tenha
efeito de vinculação, tal cai na margem de decisão do Governo como órgão de condução
da política geral do país informando a AR.
• Se estiver em causa assuntos de relevante interesse político ou económico (ex: CETA),
relativos a competências de reserva nacional, a posição portuguesa deve ser
salvaguardada através de uma declaração a anexar à ata da reunião do Conselho
dizendo que apesar da aplicação provisória do acordo, Portugal só se vincula após
procedimentos internos de vinculação em conformidade com CRP. Europeização do
procedimento de celebração que reforça o Executivo.
• Isto não prejudica objetivo eurocomunitário de decisão célere e preserva liberdade de
vinculação do Estado Português.152 Não há interpretação do art. 7º/6 que obrigue à
aprovação de acordos mistos
Comissão não tem direito de iniciativa e tal é exercido pelos Estados-membros (art. 30º/1 TUE)
PE não é consultado a propósito de cada decisão – tendo apenas o direito de colocar questões e
aprovar recomendações dirigidas ao Conselho e Alto Representante (art. 36º TUE)
Negociações é por grupos especializados de trabalho – art. 38º/§3 TUE
Art. 31º/1 TUE – mecanismos da abstenção construtiva, que não impede a deliberação
152
MLD: princípio da cooperação leal (art. 4º/3 TUE) mas como todos os Estados são soberanos e agem
ao abrigo do DIP, podem-se vincular ou não (ratificação é livre segundo CVDT)
92
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Fontes do DUE
Fonte – metáfora para designar fenómeno de revelação de normas jurídicas
DIREITO PRIMÁRIO
Direito regulado através dos Tratados institutivos.
• Não se esgota no TUE e no TFUE (que têm também protocolos e declarações), inclui
também os tratados de adesão dos Estados, as revisões aos Tratados e etc.
• Pode incluir decisões (atos unilaterais, como o de 1979 que introduziu o sufrágio
universal e direto para o PE) que alterem a Constituição da UE.
• O que o distingue do direito derivado é a Intenção e a Hierarquia – Tratados são a fonte
primária de Direito da UE sendo convenções internacionais de tipo clássico, produto
exclusivo da vontade soberana dos Estados contratantes, que foram concluídas na
conformidade das regras do direito internacional e das respetivas normas
constitucionais.
153
Tribunal Constitucional alemão reconheceu, na decisão 18/10/67 que os Tratados representam “de
certo modo” a Constituição da comunidade – são a base de toda a ordem jurídica da UE.
93
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Processo de Revisão Ordinário: vem desde a versão originária dos Tratados e foi alterado
aquando das negociações da CDFUE (com a introdução da “convenção”)
• Fase da Iniciativa
• Fase da Convenção – expressão que historicamente está associada a uma Assembleia
com poderes constituintes.
o É uma assembleia com Estados, representantes do PE (há a participação do
Parlamento Europeu no exercício do “poder constituinte”), Comissão e representantes
dos parlamentos nacionais.
• Fase da Conferência Intergovernamental – CIG que reúne os representantes dos
Estados.
o Regra de deliberação é sempre o acordo de todos (elemento que caracteriza a
natureza de Tratado de DIP; as Constituições é por maioria)
o Negociado e aprovado e depois sujeito a ratificação de todos os Estados-
membros.
154
Competência fundamental para definir a própria competência – paradigma dum ente soberano como
o Estado, que define a sua própria Constituição
155
Art. 16º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão lança as bases para se construir uma
Constituição material: separação de poderes e tutela de direitos
94
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Art. 48º é elucidativo do caráter da UE e seus Tratados como Tratados – os Estados (criadores)
ainda controlam a criatura.
DIREITO DERIVADO
Todas as normas e atos jurídicos adotados pela UE e que resultam da vontade das instituições,
órgãos e organismos da UE.
➢ Atos unilaterais emanados das Instituições, adotados para aplicação daqueles
Tratados e na sua conformidade – que, por isso, neles encontram o seu
fundamento jurídico e deles derivam.
156
Que ainda tem a redação de há 60 anos
95
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
TJUE não atende ao nome e sim ao conteúdo – pois sob um nome errado às vezes há atos que
são criadores de direitos e deveres.
➢ A natureza jurídica dos atos da UE não está limitada pela sua designação oficial,
antes se deve ter em conta o seu objeto e o seu conteúdo.
Atos vinculativos157
1. Regulamento – ato normativo por excelência (lei); instrumento de uniformização
jurídica – ato geral e abstrato que vincula todos os sujeitos de Direito, como fonte
direta de obrigações, sendo aplicável em todos os Estados-membros.
• Caráter geral – âmbito subjetivo – estabelecem regras, impõe obrigações ou
conferem direitos que a todos os que se incluam ou possam vir no futuro a
incluir-se na categoria de destinatários que o regulamento define em abstrato e
segundo critérios objetivos, afetando todas as pessoas de direito da UE.
i. Generalidade: quanto aos destinatários
ii. Abstração: quanto ao objeto da provisão legislativa (proibição ou
permissão de comportamentos ou situações jurídicas emergentes da
norma)
➢ Um ato não perde o seu caráter regulamentar pelo facto de,
num dado momento, ser possível identificar as pessoas sujeitas
à aplicação das normas que nele se contêm (TJUE, 5/5/1977,
proc. 101/76). Ex: regulamento que dado o caráter técnico,
económico ou social visa pequenas empresas. Não perde o
caráter geral e abstrato desde que as normas estabelecidas
sejam igualmente aplicáveis a qualquer outra empresa que, no
futuro, venha a preencher as condições definidas no
regulamento.
• Obrigatório em todos os seus elementos – âmbito objetivo – poder normativo
perfeito que permite às Instituições da UE impor autonomamente (prescindindo
das instituições nacionais) a observância da totalidade das disposições desse ato
aos Estados-membros, seus órgãos e autoridades, e a todos os particulares
sujeitos à jurisdição da UE – o conteúdo esgota o âmbito de regulamentação em
termos das opções políticas primárias
i. Diversamente da diretiva pode impor quaisquer modalidades de
aplicação e de execução julgadas necessárias ou úteis pelas
instituições da UE.
ii. Estados-membros não podem adotar atos que dissimulem a natureza
comunitária do regulamento (TJUE, Caso Variola de 2/2/1977, proc.
50/76)
157
Art. 288º e ss. são fusão de 2 formulações entre o Clássico e os novos aspetos trazidos pela tentativa
da Constituição Europeia de chamar atos legislativos.
96
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
97
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
• Não tem aplicabilidade direta pois a diretiva não pode modificar, por si própria,
o direito nacional e alterar as situações jurídicas que ela teve em vista – tal
efeito só haveria de resultar das novas regras jurídicas que, para dar execução
à diretiva, o Estado-membro destinatário acabasse por adotar na respetiva
ordem interna.160
• Por força da jurisprudência do TJUE admite-se que as diretivas podem ter efeito
direto (interpretação criativa do TJUE do art. 288º) – apenas chamado após
terminar o prazo de transposição.
158
Normalmente são todos e é raro haver para países específicos, salvo algumas matérias típicas – ex:
mar, nem todos os Estados-membros têm costa marítima
159
Apologia do princípio da subsidiariedade.
160
Interpretação abalada pelo Caso Van Duyn, proc. 41/74, 4/12/1974
98
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
161
Instrumento que as instituições podem utilizar para a aplicação do DUE por via administrativa.
162
Salvo se for atípica: decisões suis generis como atos políticos e até normativos que são atos gerais sem
designar destinatários – ex: no âmbito do Conselho e Conselho Europeu há decisões dos membros. Essas
decisões são atos intergovernamentais sobre matérias comunitárias pelo que estão fora dos tratados e
estão no quadro da cooperação intergovernamental.
99
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
MLD: entre Regulamento e Diretiva (legislativa, delegada, execução) não há hierarquia e sim
paridade.
Jurisprudência do efeito direto levou a que Diretiva se aplicasse a todos – tornando-a geral e
abstrata como regulamento
• A partir dos anos 80 as diretivas foram sendo cada vez mais pormenorizadas – “diretivas
regulamentares” – pelo que se aproximaram ao regulamento (reduzindo a zero a
margem de apreciação dos Estados que apenas podem transpô-las).
o MLD: subversão da diretiva
Por tudo isto, estes atos são paritários e atenta-se ao critério cronológico.
Art. 296º e 297º - Regime Jurídico Comum
Todos os atos da UE, normativos ou não, têm de ter base jurídica (norma de habilitação) que
estão nos Tratados.
• Têm de invocar a disposição dos Tratados em que fundam a decisão – TJUE pode admitir
remissão genérica se dela se puder inferir a base jurídica
o Se não há uma invalidade formal por falta de base)
• Por vezes indica-se nos Tratados o tipo de ato, quando não acontece, o art. 296º deixa
a Instituição escolher o ato, segundo o princípio da proporcionalidade (exigências de
adequação, necessidade e proibição do excesso) articulado com o princípio da subsidiariedade –
se UE conseguir realizar os seus objetivos enquadrando os Estados-membros, deve fazê-
lo.
Diretivas para poucos Estados ou decisões – o que conta não é a publicação e sim a notificação
(importante para o prazo de impugnação)
DIREITO CONVENCIONAL
DIP entra por várias portas.
100
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
o Estes Tratados acabam por vincular a UE, pelo princípio da cooperação leal
(art. 4º/3), uma vez que a UE não pode agir para esvaziar o conteúdo desses
acordos.
• Acordos Mistos: acordos celebrados pela UE e pelos Estados-membros com Estados
terceiros (art. 216º e Constituições). Ex: acordos comerciais com matéria atrelada da
competência exclusiva dos Estados-membros
o Só entra em vigor após celebrado, assinado e ratificado por todos os Estados-
membros e pela UE. Se todos ratificam tem efeitos do art. 216º (distinguindo-
se as matérias comunitárias das outras) tendo em conta a cooperação leal. Se
nem todos ratificam, a doutrina discute a amplitude do acordo.
OUTRAS FONTES
Costume – tem expressão residual.
• MLD: discorda de alguns autores e admite que tem lugar no DUE, pois, desde logo o
TJUE já reconheceu os costumes do DIP, e há costumes no seio comunitário. Ex: Acordos
Luxemburgo e deliberação por consenso.
• Tem pouca importância pois a Ordem Juridica eurocomunitária é muito estruturada e
tem um decisor normativo para colmatar falhas, bem como um controlo jurisdicional
(em que qualquer desviante pode ser controlada – muito diferente do DIP)
Princípios Gerais de Direito – ordens jurídicas assentam sobre esses princípios, que revelam
normas jurídicas e o TJUE resolve problemas a partir deles.
• Poder revelador e consolidador enquanto elemento sistematizador do DUE.
• Expressão de uma exigência de justiça e de respeito de certos valores superiores do
indivíduo e da sociedade civilizada em que este se integra.
• A UE também é regida por um direito não-escrito constituído pelos princípios gerais de
direito e pelos princípios resultantes da elaboração jurisprudencial do TJUE.
o TJUE recorre aos princípios do DIP164 quando é oportuno reafirmar o caráter
obrigatório dos Tratados em que a União se funda; quando se trata de resolver
conflito entre os Tratados que regem a UE e outro tratado ligando Estados-
membros entre si ou a terceiros; quando é necessário para interpretar os
Tratados.
o Pode também aplicar princípios captados do direito interno dos Estados-
membros.
o Aplica também os princípios fundamentais decorrentes da natureza específica
da UE: princípio da igualdade de tratamento, da não discriminação e da
liberdade, da solidariedade, da coesão económica e da preferência comunitária,
quanto às matérias que regulam, sobre as convenções anteriormente concluídas entre os Estados-
membros)
• Posteriores aos Tratados: compatibilidade deve ser aferida pelo TJUE tendo em conta o art. 4º/3
TUE
Convenções entre os Estados-membros e países terceiros
• Anteriores aos Tratados: art. 351º TFUE
• Posteriores aos Tratados: se houvesse compromissos incompatíveis com as obrigações dos Estados-
membros, tais compromissos, por força do DIP, seriam inoponíveis à UE
164
Direito internacional geral e comum – o TJUE reconhece os princípios de fonte jusinternacional
101
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
• Art. 267º a partir do qual o Tribunal de Justiça criou a sua obra jurisprudencial (tendo
em conta o art. 19º em que o Tribunal não se limita a interpretar e aplicar o Direito)
o Há ativismo judicial (cria e recria Direito através da interpretação extensiva)165
“Golden Age” da jurisprudência: anos 60 e 70 (com o AUE os Estados ganharam poder de rever
os Tratados saindo do escopo do juiz a sua adaptação)
• Desde 1958 que os Tratados se foram adaptando pela interpretação do Tribunal de
justiça (pois não houve revisões dos mesmos Tratados).
o Ativismo judicial consentido
• Tribunais viram oportunidade de identificar características próprias da ordem jurídica
da UE.
o Decisões constitucionais sobre princípios que enformam o DUE – vêm da
jurisprudência e alguns nem têm consagração nos Tratados.
▪ Através de uma jurisprudência ousada, iniciada e prosseguida ao
longo dos anos 60 e 70, o Tribunal de Justiça elaborou e
conseguiu impor ao ordenamento jurídico comunitário certos
princípios.
▪ Isto porque a prossecução dos objetivos enunciados nos Tratados
exigia a aplicação uniforme do DUE como direito comum a um
conjunto de Estados-membros que pretendem realizar a sua
integração económica.
165
Expressão do constitucionalismo dos EUA que considera que a aplicação da lei, tendo por base uma
interpretação, já tem alguma valoração.
102
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Princípio da Autonomia
Característica das ordens jurídicas
TJUE afirmou desde muito cedo a autonomia da Ordem Jurídica comunitária, tanto em relação
ao DIP como em relação ao Direito Interno de cada Estado-membro.
• Autonomia recíproca – eurocomunitária e nacional – são autónomas uma em relação à
outra.
Acórdão Costa c. Enel + Acórdão Van Gend en Loos – Tribunal afirma a independência da
ordem jurídica da UE – “Tratado CEE institui uma ordem jurídica própria que é integrada no
sistema jurídico dos Estados-membros a partir da entrada em vigor do Tratado e que se impõe
aos seus órgãos jurisdicionais nacionais”
• Faz valer a autonomia dessa ordem jurídica em relação aos Estados (autonomia interna)
e em relação ao DIP (autonomia externa)
TJ considerou que o então TCEE, ao contrário de todos os outros tratados internacionais, criou
o seu próprio sistema jurídico – novo e autónomo – o qual se baseava:
• Num sistema de fontes próprio;
• Num quadro institucional independente;
• Num sistema de fiscalização judicial eficaz;
• Em princípios específicos;
• Na especificidade dos objetivos do Tratado.
166
Ex: parecer 2/13 sobre compatibilidade da UE aderir ao TEDH; poderia por em causa o art. 344º
103
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
• Tribunal descobre o seu espaço de manobra e o seu lugar – qualquer litígio é dirimido
neste Tribunal, a não ser que o Tratado permita uma solução diferente.
Mota Campos: Os Tratados não contêm uma regra de conflitos explícita, a determinar ao
juiz interno que resolva a favor do DUE qualquer eventual oposição entre este e o direito
nacional.
Pescatore: o DUE “contém em si uma exigência existencial de primazia; se ele não consegue
em todas as circunstâncias superiorizar-se ao direito nacional, é ineficaz e, portanto,
inexistente”.
• Sem primado não há DUE, pois o DUE ficaria à mercê do legislador e decisor nacional.
o Ou DUE era aceite como hierarquicamente superior ao direito interno ou
estaria condenado a não sobreviver senão como categoria residual – tolerado
pela ordem jurídica nacional na medida em que se lhe não opusesse, mas
incapaz de desempenhar a função, que deveria ser a sua, de instrumento
jurídico do processo de integração.
Não precisa de uma consagração nos Tratados, tendo sido originalmente consagrado pela
jurisprudência dos anos 60.
• Primado do DUE, corolário da sua vigência na ordem interna, era, de resto, uma
consequência inevitável da atribuição pelos Estados-membros de amplas
competências à UE.
• Primado do DUE aparece como corolário do seu caráter de direito comum a uma
coletividade de Estados.
• Este princípio fundamental foi declarado pelo TJUE – princípio do primado e
determinação progressiva das suas implicações são o resultado de um esforço
pretoriano.
104
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Uma vez proclamado o princípio, o TJUE não cessou de o confirmar e explicitar, sublinhando que
o primado se manifesta em relação a todas as normas nacionais, quaisquer que elas sejam,
anteriores ou posteriores, tornando inaplicáveis de pleno direito todas as disposições nacionais
existentes.
Existindo um conflito167, a norma interna não pode ser aplicada e prevalece o DUE, quando não
é possível conciliar normas.
Administração em geral tem o dever de afastar a aplicação de qualquer disposição nacional,
ainda que de natureza constitucional, quando esta obste à aplicação efetiva do direito
comunitário – normas internas devem ser desaplicadas pela Administração pública ex oficio
(sem ter que ir a Tribunal, a Administração pública pode desaplicar por si) se violarem qualquer
tipo de norma de DUE – Acórdão Internationale Handelsgesellschaft (17/12/1970)
Consequência/Função do primado:
• Em situação de litígios, e apenas em situações de litígios (pois o primado é uma solução
de conflitos entre normas e só deve ser invocado nessa sede – tem uma função
167
Que tem de existir e não pode ser ultrapassável, por interpretação conforme ao DUE pelo juiz nacional
– 1º procura-se responder pela interpretação, na medida do possível – Acórdão Marleasing
168
Daí que CRP tenha no art. 8º a referência ao primado; hoje inútil mas na altura era necessário para
acomodar a Constituição Europeia, que Portugal ratificou.
• Primado dos princípios e normas de direito internacional sobre a lei interna ordinária resulta do
próprio art. 8º CRP.
o Primado do DUE: art. 8º/4 CRP – em que o constituinte português, sabido dos termos
em que o DUE impõe aos Estados-membros os princípios da aplicabilidade direta e da
primazia das suas normas, aceitou respeitá-los na ordem jurídica interna.
105
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Extensão/limites do primado:
• Não é nem incondicional nem absoluto.
o Condicionado, relativo e materialmente justificado
Primado e CRP
Jurisprudência do TJUE é que o Primado era geral e não admitia exceções
➢ TC Alemão e TC Italiano tinham perspetivas diferentes
o Avançaram com a Teoria dos Contra-Limites: primado não se poderia aplicar
de forma absoluta e incondicional ignorando a natureza da norma interna
contrária; ideia de normas constitucionais internas (sobre Direitos
Fundamentais) que seriam invioláveis e nessa medida eram contra-limite ao
primado.
o TJUE incorporou essas objeções e respondeu-lhes indiretamente emitindo
jurisprudência em relação a Direitos Fundamentais, dizendo-se vinculados ao
respeito desses direitos que resultam das Constituições dos Estados,
Convenções e Princípios = bloco de fundamentalidade, que vincula o juiz
constitucional é o mesmo que vincula o TJUE.
▪ Apesar deste entendimento jurisprudencial, que esvaziou as questões
mais esquinadas, ainda vão aparecendo questões controvertidas em
relação ao primado supraconstitucional.
Não há jurisprudência una sobre isso e TJUE apresenta respostas algo distintas – natureza
flutuante/casuística dessa jurisprudência:
• Omega – TJUE conciliou-se com a posição de TC Alemão;
• Michaniki – TJUE não atendeu ao padrão constitucional;
• Kreil (C 285/98) – TJUE não atendeu ao padrão constitucional e decidiu que a
Constituição violava uma diretiva;
106
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Próprio Tratado tem hoje disposição que limita TJUE face a um exercício incondicional do
primado – art. 4º/2.
➢ Princípio de respeito da identidade nacional (= identidade constitucional)
Limitação não é exógena e sim endógena. TJUE quando tem de limitar o primado está a
respeitar uma disposição do TUE (e TJUE está obrigado a fazer uma interpretação sistemática).
TJUE não pode ignorar os limites da sua própria jurisdição (e se o fizer, TC Alemão avisa que
ele, como guardião da Lei Fundamental de Bona, fará esse controlo)
Tribunal Constitucional Alemão só aceita primado na medida que (doutrina do primado limitado
– primado enquanto) a norma em conflito esteja na competência dada pelos Estados. Rejeita a
ideia do mandato sem controlo – primado sim, se a UE não ultrapassar as suas competências,
TC alemão arroga-se ao direito de ver se a norma comunitária não está a extravasar essas
competências.
➢ Considerou-se, também, competente para declarar uma disposição do direito
comunitário inaplicável pelas autoridades administrativas ou pelos órgãos jurisdicionais
alemães se ela ofendesse um direito fundamental, garantido pela Lei Fundamental ou
que afetasse a “estrutura fundamental da Constituição, que confere a esta a sua
identidade”.170
Mesma ideia está no art. 8º/4 CRP – prevalecem na medida do exercício legítimo das
competências que os Tratados dão à UE + têm de respeitar os princípios do Estado de Direito
Democrático (positivação da jurisprudência do TC Alemão)
Art. 8º/4 CRP – não há uma aceitação da primazia absoluta do DUE, tal como definido pelo
TJUE, pois tem de se salvaguardar “o respeito pelos princípios fundamentais do Estado de
Direito democrático”
• Reconhece de forma expressa o primado do DUE, mas estabelece-lhes limites (adota,
em certa medida, a doutrina dos contra-limites).
o CRP consagra uma reserva à primazia do DUE equiparável à que por via
jurisprudencial foi formulada pelos tribunais constitucionais alemão e italiano.
169
Nível de Proteção – existindo um potencial conflito entre norma interna e norma DUE sobre
o âmbito de garantia de determinado direito, prevalece a norma que garante o nível mais
elevado de proteção – artigo acolhe o princípio do nível mais elevado de proteção.
Ex: art. 28º CDFUE incluir-se-ia o lock-out como adição à greve; em Portugal o art. 57º
CRP proíbe-se o lock-out. qual seria o nível mais elevado de proteção? MLD: seria a CRP
e deveria prevalecer (porque protege a parte mais fraca – os trabalhadores)
170
Que é admitida na UE pelo art. 4º/2 TUE
107
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Se houver conflito de normas constitucionais e DUE, tem que haver uma interpretação em
conformidade, na medida do possível, do DUE. 171
➢ Se não for possível então atendendo ao primado, prevalece a norma DUE, se não violar
o art. 8º/4.
➢ Papel dos tribunais é muito importante e perante conflito iminente de normas deve
colocar-se a questão ao TJUE.
171
Problema do primado supraconstitucional tem interesse dogmático, mas, na prática, tem uma
expressão muito residual. MLD: Problema mais complicado de resolver não é o normativo mas sim o
conflito político.
108
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
sentido se de tais regras não pudessem resultar, para os litigantes, direitos suscetíveis de
serem invocados nos tribunais internos.
➢ Normas dos Tratados produzem efeito imediato e originam, na esfera dos litigantes,
direitos individuais que às jurisdições nacionais incumbe salvaguardar.
➢ Particulares podem invocar diretamente normas europeias perante jurisdições
nacionais e europeias.
Pressupostos de:
• Vigência automática de pleno direito das normas de DUE.
o Não se confunde com self-executing – pode precisar de normas jurídicas
internas que acomodem as normas de DUE.
• Produção de efeito imediato na esfera jurídica dos sujeitos de direito comunitário.
• Salvaguarda, pelo juiz nacional, dos direitos conferidos aos particulares por uma
norma comunitária.
Vem responder a questões relacionadas com a possível Aplicabilidade direta das Diretivas
109
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Tribunal invoca o princípio do efeito direito para assegurar garantias de direitos aos
particulares e punir o infrator (Estado-membro que não transpôs) retirando-lhe o benefício da
infração – não se pode socorrer da infração da não transposição para negar o direito a um
particular.
➢ Isto porque o efeito direto é mecanismo de substituição de algo que devia existir (norma
interna transpondo uma diretiva) mas que não existe.
➢ Estado-membro quando não transpõe incorre em incumprimento (art. 258º) e pode
sofrer sanções (art. 260º), mas, tal não vai impedir os particulares de invocarem as
normas DUE pelo seu efeito direito e demandar os Estados-membros em
responsabilidade.
Efeito direito não é automático e as normas das diretivas PODEM ter efeito direito se cumprirem
os requisitos:
Positividade da norma – tem de ser regra de direito positivo.
1. Clareza – em que TJUE tem competência para interpretar a regra em questão tornando
claro o seu sentido e alcance
2. Precisão da norma – precisão das obrigações impostas pela norma
3. Incondicionalidade da norma – exclusão de qualquer margem de apreciação e
intervenção por parte dos Estados-membros, não têm poder de mediação.
• Tem de conter todos os elementos necessários para ser efetivamente aplicada pelos
tribunais nacionais à situação concreta subjudice.
4. Perfeição Jurídica da norma – vocação ou aptidão da norma para conferir direitos
subjetivos, criando na esfera jurídica dos particulares direitos e obrigações individuais
que os tribunais nacionais podem ser chamados a salvaguardar ou impor.
• Norma tem de permitir aos particulares o exercício concreto desse suposto
direito
No decurso do prazo de transposição não há efeito direito pois norma não é incondicional –
isto é uma garantia para os Estados-membros.
• Segundo jurisprudência assente, uma diretiva só pode ter efeito direito após expirar o
prazo fixado para a sua transposição na ordem jurídica dos Estados-membros.
110
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Particular pode socorrer-se das diretivas para arguir em Tribunal os direitos que lhe são
conferidos e pode contestar quando não haja correta aplicação do DUE.
• Suscetibilidade de invocação da norma eurocomunitária pelos particulares, no âmbito
de um litígio em que sejam partes, nos Tribunais nacionais.
Norma da diretiva pode ser invocada na vertical mas não na horizontal, pois deve evitar-se que
o Estado tire proveito da sua inobservância do direito comunitário mas, uma diretiva não cria
por si só obrigações na esfera jurídica de um particular – Acórdão Marshal (1986)
Impacto restritivo da doutrina Marshal inibiu os direitos dos particulares, mas posteriormente
a jurisprudência definiu que os particulares não podem invocar na horizontal mas têm
garantias:
• Acórdão Marleasing (1990) – Aplicação conforme: interpretação do direito interno
nacional, na medida do possível, conforme a diretiva, pois o Estado está vinculado ao
fim da diretiva.
o A diretiva serve de parâmetro de interpretação do direito nacional, dentro da
margem de apreciação (nunca habilita que o Direito nacional seja interpretado
contra legem – Tribunais nunca o podem invocar para interpretar o direito
num sentido contrário ao da letra da lei – violaria a separação de poderes
(MLD))
o Pode ser invocado num litígio entre particulares – tem que se interpretar o
direito nacional conforme o que diz a norma, se isso couber no que a norma
preveja (ex: a norma não disser taxativamente e ser exemplificativamente e o
elenco da diretiva vem por novos casos)
o Aplicação conforme tem o efeito de esgotar a interpretação da norma nacional
de forma a que tal esteja de acordo com o DUE e o direito nacional.
• Acórdão Medicine Control Agency (1996) – Efeito incidental das diretivas: nas
relações triangulares, admite-se que um particular invoque uma Diretiva contra uma
entidade pública de modo a retirar efeitos jurídicos para as relações jurídico-
administrativas que esta tenha com outros particulares
• Acórdão Wallonie (1997): Estados devem de se abster de adotar atos contrários que
prejudiquem ou inviabilizem a aplicação do resultado da diretiva (quando a diretiva
está em vigor e decorre o prazo de transposição).
• Acórdão Kucukdevici (1997) - Diretiva que concretiza principio geral do DUE e que tem
assento na CDFUE pode ser invocada porque o que está na CDFUE tem aplicabilidade
direta.
o Não reconhece efeitos horizontais das diretivas e apenas reconhece que se as
diretivas exprimir princípios de outros instrumentos normativos que têm
aplicabilidade direta, esses princípios vinculam as relações jurídico-privadas.
111
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
• Se tudo isto falhar e o particular não tiver forma de beneficiar, direta ou indiretamente
dos efeitos normativos de uma Diretica, resta a tutela secundária de tipo
indemnizatório:
o Acórdão Francovich (1991) – Responsabilidade Extra-contratual: particular
tinha certo direito dado por uma diretiva; por ela não ser incondicional viu
esse direito frustrado, pelo que pode demandar o Estado-membro a
indemnizá-lo pelo prejuízo que sofreu de ver o seu direito suprido.
Efeito Direito nasceu para ser invocado junto dos Tribunais Nacionais, mas, agora evoluiu para
vincular a Administração Pública se o administrado invocar a norma da diretiva – Administração
teria que desaplicar norma interna e utilizar a diretiva.
➢ MLD: discorda desta situação.
o Há requisitos para se usar o efeito direito, que têm de ser apreciados pelos
Tribunais – aqui punha-se em causa a separação de poderes, pois a
Administração interpretava algo que cabia aos Tribunais.
o Administração só está vinculada à diretiva e tem de a utilizar se houver
jurisprudência consolidada (do TJUE ou Tribunais Superiores) em relação ao
efeito direto da diretiva.
Não é uma invenção puramente comunitária pois já existia nos direitos nacionais – havendo
reenvio entre os tribunais das várias áreas.
➢ O que o distingue dos contenciosos nacionais é que este é um mecanismo ativado pelo
juiz e não invocado pelas partes – cooperação judicial (diálogo juiz a juiz – entre 2
ordens jurídicas separada mas com um elevado grau de integração = mecanismo de
ponte) em que há ideia de horizontalidade e de cooperação entre partes/entre iguais
(não há hierarquia).
112
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Pode ser qualquer norma de qualquer ato de DUE quanto à interpretação172 (determinar qual
o exato sentido e alcance das disposições em causa)
➢ Só se pode questionar a validade (comporta não só a legalidade intrínseca resultante
da observância das condições de fundo como, igualmente, a satisfação das exigências
de forma – validade formal dos atos) de atos de direito derivado – não se questiona a
validade dos Tratados.
1. Sempre que no âmbito dos Tratados um tribunal nacional de instância se vir confrontado
com uma questão de interpretação ou de apreciação da validade de um ato das instituições,
esse tribunal pode:
• resolver ele próprio a questão;
• submeter a sua resolução ao TJUE, mediante devolução ou reenvio, a título prejudicial
da questão suscitada.
2. Quando num processo que suba até um tribunal supremo haja lugar à aplicação do DUE, esse
tribunal deve:
• devolver ao TJUE o julgamento da questão prejudicial de interpretação ou apreciação
de validade perante ele suscitada.
Tem de haver questão pertinente – relevante para resolver o caso concreto – link entre a
proposição da questão e a resolução do caso específico (sem isto, TJUE emana despacho com a
inadmissibilidade)
• Princípio geral é o da presunção de pertinência: TJ aceita como certa e suficiente a
apreciação realizada pelo juiz nacional a respeito da necessidade da questão.
o Há jurisprudência do TJ a afastar essa presunção de pertinência
Questão tem de levantar dúvidas.
• Se não existirem dúvidas e a resposta for evidente, adota-se a Teoria do Ato Claro
o Acórdão CLIFIT – TJUE aceita que há normas de DUE tão claras no seu sentido
que não podem suscitar dúvidas; o que exige ao juiz nacional que verifique uma
serie de condições para que a norma esteja ao abrigo da teoria do ato claro.
o Total clareza da norma em causa – caso em que não há qualquer questão e em
que não há dúvida.
o Norma aplicável é perfeitamente clara e não suscita a mínima dificuldade de
interpretação – “in claris non fit interpretatio” – aplicação correta do direito
comunitário impõe-se com tal evidência que não deixa lugar a qualquer
dúvida razoável.
Obrigatoriedade de Reenvio
A. Entendimento maximalista: todos os tribunais que julgam como última instância173
devem suscitar questões
B. Entendimento MLD – não há obrigação de reenvio e sim o dever prudencial de reenvio.
172
Processo das questões prejudiciais é a via privilegiada de solicitação do TJ para efeitos de interpretação
das normas eurocomunitárias, mas, com idêntico objetivo, a questão interpretativa pode emergir, por
exemplo, no quadro de uma ação por incumprimento (Acórdão Hungria c. República Eslovaca, 16/10/12)
173
Que não são necessariamente os tribunais superiores, uma vez que há o sistema de alçadas.
113
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Acórdão Silva e Brito – Tribunal superior deve colocar a questão ao TJUE salvo se houver
alguma das exceções à obrigação de reenvio:
1. Falta de pertinência da questão – quando o tribunal nacional considerar que o litígio
subjudice não deve ser decidido de acordo com normas de DUE, mas tão-somente na
conformidade das disposições do direito interno;
• Existência de interpretação já anteriormente fornecida pelo TJUE174 – apesar disto, o
Tribunal nacional pode não se dar por satisfeito com a interpretação anteriormente
fornecida ou considerar que não é suficientemente explícito pelo que o pode solicitar
de novo;
• Não existem dúvidas – aplica-se a teoria do ato claro
Acórdão Foto-Frost, (27/10/1987) – TJUE assumiu que só ele tem a competência de declarar
a invalidade de uma norma de DUE
• Juiz nacional tem competência para determinar se a questão é necessária ao julgamento
em causa – existe uma obrigação de reenvio por parte do órgão jurisdicional nacional,
mas no quadro de um dever prudencial de avaliação sobre a necessidade e a pertinência
da questão.
• Se juiz nacional verificar que uma norma eurocomunitária é potencialmente ilegal,
havendo dúvidas sobre a validade de uma norma eurocomunitária, o juiz tem
obrigatoriamente que colocar a questão, se pretender declarar a invalidade da norma
eurocomunitária.
o Monopólio do TJUE para declarar a invalidade (em linha com os seus poderes
no quadro do recurso de anulação)
o Juiz nacional tem competência para analisar a validade e concluir que é válida
mas não tem competência para analisar e concluir que não é válida.
Se houver incumprimento do dever de reenvio pode haver ação por incumprimento contra o
Estado-membro; ação de indemnização por responsabilidade do Estado-membro175; recurso
extraordinário de revisão; queixa ao TEDH (nunca ocorreu).
Órgãos Jurisdicionais
Qualquer órgão designado por tribunal na estrutura judiciária interna de cada Estado-
membro, em conformidade com o princípio da autonomia processual.
• Há outras entidades, com outras denominações, mas que constituem um órgão que,
num certo litígio concreto, é titular de competência jurisdicional (e, nesse sentido, um
interlocutor legítimo no diálogo juiz a juiz)
174
Se já houver jurisprudência sobre a matéria, o TJUE faz despacho para esses casos.
175
Particular lesado pode recorrer aos tribunais nacionais acionando o Estado por prejuízos imputáveis
ao juiz/função judicial (Pt: Lei 67/2007)
114
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Tem ficado mais flexível, nomeadamente em relação aos tribunais arbitrais – 2014, Acórdão
Merek Canada (C-555/13), Ascendi (C-377/13)
• TJUE chegou à conclusão que estes tribunais arbitrais portugueses podiam colocar
questões prejudiciais – art. 209º/2 CRP inclui os tribunais arbitrais entre as entidades
que podem exercer a função jurisidicional.
• São permanentes e a competência não depende unicamente da vontade das partes
– decisiva a distinção entre jurisdição facultativa e obrigatória, estes tribunais
arbitrais portugueses tinham jurisdição necessária)
Naqueles que devem enviar questões prejudiciais encontram-se os tribunais que, no caso
concreto, em virtude da aplicação de regras processuais de restrição da admissibilidade do
direito de recurso, julgam em última instância (teoria do litígio concreto).
115
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Processo das questões prejudiciais é tramitado como processo especial enquadrado pelo art.
267º, art. 23º e 23º-A do ETJ e art. 93º a 114º RP.
Art. 23º ETJUE – pedidos de questões prejudiciais são notificados às partes no processo
nacional, a todos os Estados-membros, à Comissão e ao Conselho e PE se forem autores do
ato.
• Os interessados são notificados para, querendo, apresentar observações escritas (2
meses – prazo perentório).
• Prerrogativa dos advogados das partes no processo nacional conhecerem as
potencialidades desta janela aberta e apresentarem o entendimento da parte sobre
a validade ou interpretação da norma.
o Não é processo contencioso pois não é acionado pela vontade das partes
mas elas podem intervir.
o Portugal, sempre que a questões são suscitadas por Tribunal português, o
Estado faz observações.
Quem responde é sempre e só o TJ – embora o art. 256º/3 admita que se pode abrir para
o TG (o que ainda não foi feito)
Prevê-se no art. 267º uma tramitação urgente que reduz os 14/15 meses de resposta do TJUE
para semanas – existe muito nos casos penais e nos de regulação do poder paternal.
Acórdão
Efeitos do Acórdão sobre a Interpretação – posição do TJUE é sempre vinculativa para o juiz que
colocou a questão e o acórdão tem força desde o dia da sua prolação.
Acórdão é vinculativo para o juiz que colocou as questões, para os juízes de recurso desse
processo (no direito interno). Além deste quadro inter partes, a jurisprudência do TJUE produz
efeitos num modelo de efeito de Precedente Atípico.
• Efeito de caso julgado análogo – mas não se esta num quadro contencioso;
• Acórdão tem autoridade a título prejudicial em relação a questões futuras
materialmente idênticas – vinculatividade de raiz funcional que exclui qualquer relação
hierárquica.
o Essa autoridade interpretativa justifica-se à luz do objetivo primordial da
garantia da uniformidade da interpretação e aplicação do DUE no conjunto das
ordens jurídicas dos Estados-membros.176
176
Mais importante mecanismo através do qual o TJUE firma a sua jurisprudência dizendo qual é o direito.
Mitiga-se o risco de uma jurisprudência díspar pelos 28 membros com as questões prejudiciais – forma
de uniformizar a aplicação do DUE nos Estados-membros.
• Acórdão CLIFIT – este mecanismo do reenvio visa, particularmente, evitar que se estabeleçam
divergências de jurisprudência no interior da Comunidade sobre questões de direito
comunitário.
116
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Se Tribunal nacional não quiser aplicar essa jurisprudência tem de recolocar a questão – TJUE
ou altera a sua jurisprudência ou emite despacho fundamentado dizendo que já existe
jurisprudência sobre essa matéria.
Tem efeitos retroativos (salvo se TJ considerar necessário manter os efeitos do ato – analogia
com art. 264º/§2 TFUE)
Jurisprudência portuguesa era avessa a este art. 267º, mas, nos últimos anos a média de
colocação de questões prejudiciais é superior a muitos Estados-membros com a mesma
população (cerca de 12 por ano, sendo que em 2016 foram 21).
117
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Princípio da cooperação leal serve como grande diretriz de interpretação do bloco de legalidade.
Conteúdo material abrangente servindo este princípio para justificar a aplicação de outros
princípios – tendo um conteúdo aberto e que necessita de concretização
Inspiração do Princípio
• DIP: expressão do pacto sunt servanda extra fortalecido – alguns comparam-no ao art.
26º CVDT e ao art. 2º/2 CNU.
o Tem um conteúdo mais aprofundado que no DIP devido a desenvolvimento e
construção jurisprudencial (que levou a que dele se extraíssem mais princípios).
• Federalistas: regime normativo instituído pelos Tratados recorreu, com frequência, a
institutos típicos do constitucionalismo federal – inspiração no Bundestreue alemão,
noção de federalismo corporativo.
o Mas UE não é Estado federal e o princípio da cooperação leal deve ser entendido
na medida em que a UE é estrutura complexa que envolve processos de tomada
de decisão descentralizada e a vários níveis, sendo este princípio essencial ao
seu funcionamento.
Inserção Sistemática:
• Art. 4º/1 – princípio de que cabem aos Estados-membros as competências que não
sejam atribuídas à UE
• Art. 4º/2 – componentes da soberania dos Estados e que ainda permaneceram neles,
em que a UE não pode tocar – respeito pelas identidades nacionais
• Art. 4º/3 – aditamento pelo Tratado de Lisboa, vinculando a UE face aos Estados-
membros. Embora o princípio já tivesse sido consagrado pelo TJUE em 1971.
o Tem um âmbito subjetivo abrangente e aplica-se a todas as entidades
nacionais bem como à atuação da UE e das suas instituições.
o Regime que se aplica a toda a UE, de forma global e mesmo em todos os pilares
(embora para a PESC há específico: art. 24º/3)
o Estabeleceu-se uma cooperação vertical e uma cooperação horizontal.
Relação Vertical
• Dever de respeito177 e abstenção de comportamentos entre UE e Estados-membros:
predominantemente obrigações de conteúdo negativo.
o Final §3.
177
Não afetação das áreas de competência reservadas ao outro
118
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Relação Horizontal
Art. 13º/2
• MLD: Princípio do Equilíbrio Institucional179 – equilíbrio de poderes característicos
da estrutura institucional da UE – instituições devem respeitar as respetivas
atribuições e competências não atuando além da sua esfera legal de ação; repartição de
poderes no quadro da UE deve ser rigorosamente respeitada por cada Instituição
o Nenhum órgão ou instituição pode utilizar as suas competências de forma a que
prime outro de exercer as suas.
o Ideia de potenciar ao máximo as competências que vários órgãos da UE têm
para agir. Ex: entre escolher processo legislativo especial e ordinário (quando os
tratados dão essa hipótese), deve escolher-se o ordinário, uma vez que serão
mais as instituições a participar nesse procedimento – deve ir-se pela base
jurídica que potencia ao máximo a ação legal das competências de cada
instituição
o Equivalente ao princípio da separação de poderes da CRP
Execução180 do DUE
Assegurada pelos órgãos da UE e pelos Estados-membros, nos termos do art. 291º TFUE
• Quem executa o DUE, à partida, são os Estados-membros.
o Administrações Públicas dos Estados-membros são incumbidas de assegurar a
execução administrativa do DUE em cooperação com as instituições da UE e são
elas que o fazem em primeira linha.
o Pelas vias administrativas, judiciais e legislativas181
• É possível a própria UE executar os seus atos legislativos quando a adoção de condições
uniformes de execução seja necessária – através da Comissão (funcionando, aí, a
comitologia182)
178
Auxílio e solidariedade nos objetivos da UE
179
Autonomizado por parte da doutrina
180
Execução = diversos tipos de aplicação e concretização do DUE; garantia que há aplicação
efetiva e uniforma do DUE.
181
Ex: transpor diretivas; obrigação de revogar direito interno desconforme a DUE
182
Procedimentos de comitologia – situações em que a legislação da UE determina que a Comissão, na
execução do DUE, tem de atuar conjuntamente com comités intergovernamentais, compostos por
representantes das administrações nacionais dos Estados-membros e criados para cooperar ou colaborar
com a Comissão. Art. 291º/3 TFUE
119
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
183
Não há um CPA ou CPC europeu. O Direito processual português acaba por ser DUE.
120
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Jurisprudência Francovich deixou algumas dúvidas – direito de reparação era apenas quanto à não
transposição de diretivas? Deveria haver exigência de violação grave e manifesta de DUE? Direito à reparação estaria
dependente da impossibilidade de invocar judicialmente a norma eurocomunitária violada por carecer de efeito
direto?
184
Quando está em causa responsabilidade das instituições da UE, essa ação será feita no TJUE
121
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Querendo uma indemnização por violação da obrigação de reenvio, Portugal violou princípio da
efetividade ao não facilitar indemnização185.
➢ Por força do princípio do precedente atípico (aquilo que caracteriza a autoridade da
coisa interpretada pelos acórdãos proferidos a título prejudicial) desde o caso Silva e
Brito que os Tribunais portugueses estão impedidos de aplicar a exigência processual
do art. 13º/2 RRCEE (Lei 67/2007), sempre que esse fundamento é violação do DUE.
Danos causados aos particulares em virtude de uma violação do DUE, cometida por órgão jurisdicional
nacional que decide em última instância, obsta à aplicação de uma norma nacional que exige como
fundamento do pedido de indemnização contra o Estado a prévia revogação da decisão danosa? Acórdão
Silva e Brito equipara a sentença do TJ à revogação da decisão danosa quando se constata a violação da
obrigação de reenvio por parte do tribunal nacional, cujas decisões não são passíveis de recurso interno.
A tutela através da reparação financeira funcionará como medida compensatória para o lesado
que já não pode, no quadro das vias internas de recurso, obter uma revisão da decisão danosa.
185
Não há violação da autonomia judiciária pois o problema é o enquadramento legal em que o juiz atuou
(juiz atua mal porque legislador agiu mal).
122
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Contencioso da UE
Recurso de Anulação – art. 263º
Tribunal competente – Tribunal Geral (art. 256º + art. 51º ETJUE)
• Tribunal Geral é competente em 1ª instância para conhecer dos recursos de anulação.
o TJ só pode ser chamado em sede de recurso (limitado apenas às questões de
direito; TG decide definitivamente quanto à matéria de facto);
o Funciona como Tribunal Supremo e respeita-se o duplo grau de jurisdição (o que
não acontece sempre porque o TJ, em relação a certas vias processuais é a 1ª e
última instância186 – como na ação por incumprimento; e também nas questões
prejudiciais embora isso não seja contencioso; Estados escolheram isto porque há
uma dignidade equiparável ao facto de serem Estados soberanos na situação de
ser o TJ a julgar)
Objeto do ato – São passíveis de impugnação todos os atos provenientes das instituições, órgãos
ou organismos da UE, seja com fundamento na sua forma (“atos legislativos”) ou com
fundamento nos seus efeitos (“atos destinados a produzir efeitos jurídicos”).
o Excluem-se os atos no âmbito da PESC, pelo art. 40º TUE
o Excluem-se também os atos impugnáveis ao decisor nacional, não se abrange o
controlo de legalidade do direito estadual.
• O acordo internacional não é suscetível de impugnação contenciosa junto do TJUE mas
o ato unilateral do Conselho de aprovação do acordo em nome da UE, à luz do art.
218º/6, é passível de constituir-se como objeto do recurso de anulação. Desde 1988 há
casos destes na jurisprudência.
Conteúdo do ato – deve ser um ato vinculativo, no sentido de ser apto a produzir efeitos
jurídicos que se projetam na esfera de terceiros.
• Acórdão AETR – forma, natureza e designação podem não ser, por si só, determinantes.
Deve atender-se ao conteúdo. Depende da sua aptidão para, por si, de modo auto-
suficiente, reconhecer e restringir direitos ou impor deveres.
• Atos puramente internos, cujos efeitos se esgotam na esfera interna da instituição,
órgão ou organismos que os adotou não podem ser impugnados. Mas as “guidelines”
que a Comissão aprova no âmbito da sua competência sobre auxílios de Estado, são
passíveis de invocação (Acórdão Dansk; Acórdão Gosselin)
186
Nos casos em que não estão em causa direitos dos particulares e sim direitos dos Estados
187
Tem de ser um ato (se for Omissão é pelo art. 265º) mas pode ser ato negativo (Comissão dizer que
não vai fazer algo é um ato, só no silêncio é omissão)
123
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
188
Muito difícil de provar que ato geral e abstrato, sem o deixar de ser, afeta um indivíduo com
características particulares que os individualizem. Muito raro TJUE admitir recurso de anulação quanto a
regulamentos, pelos particulares. Tratado de Lisboa na parte final do parágrafo 4, alterou o texto para se
admitir que particulares possam impugnar regulamentos sem medidas de aplicação que afetem
diretamente os particulares (mas só para atos regulamentares) – Estados e TJUE consideram que
particulares devem ser arredados do contencioso de atos legislativos; controlo da legalidade deve ser
feito através das medidas de execução
124
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Essa declaração de nulidade tem efeito inter partes e em relação a qualquer situação jurídica
futura, com um alcance geral – elimina, com efeitos ex tunc o ato em causa da ordem jurídica
da UE
➢ Ato deixa de existir, é como se nunca tivesse existido, retroage à data em que o ato
entrou em vigor.
➢ O acórdão deve ser executado pelo que as instituições devem tomar medidas para
eliminar os efeitos.
Os princípios gerais de direito podem ser invocados nos casos de ação por incumprimento e
têm uma função paramétrica que foi expressamente reconhecida na jurisprudência Stauder e
no caso Internationale Handelsgesellschaft.
Tem que se tratar de uma obrigação (incumprida) cuja interpretação e tutela integram o
perímetro de jurisdição do TJUE.
189
Incumprimento = não cumprimento por um Estado-membro de qualquer uma das obrigações
que lhe incumbem por força dos Tratados.
➢ Verifica-se sempre que haja violação de uma norma ou princípio de conteúdo
vinculativo, constante dos Tratados ou das regras adotadas pelo decisor da UE.
125
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
A ação por incumprimento pode ser instaurada sem se atender à natureza e à importância da
infração.
Qualquer Estado pode ser demandado pelo Comissão (258º) ou por outro Estado-membro
(259º).
Procedimento pré-contencioso
Comissão, no uso de poderes discricionários de apreciação, tendo na sua origem uma
informação obtida oficiosamente ou recolhida através de queixa, decide abrir esta fase com uma
carta de notificação de incumprimento (após tentar apurar junto do Estado-membro mais
informações satisfatórias e conclusivas)
• Deve adotar também um parecer fundamentado que contem uma descrição detalhada
da acusação e seus fundamentos, de facto e de direito.
• Ao Estado-membro notificado é dado um prazo para por em prática as medida
pressupostas pelo dever de conformação com o DUE.
• Comissão procura conduzir o Estado ao reconhecimento que está a violar DUE e a
adoção de medidas que terminem com essa violação – se o Estado-membro não adotar
medidas pode recorrer-se ao TJUE para declarar o incumprimento.
Para depois ser admissível tem de haver uma boa tramitação da fase pré-contenciosa pela
Comissão.
Contencioso
São raras as hipóteses em que se afasta o veredicto de incumprimento – podem é ter alguma
razão se a Comissão alegar mais argumentos que não alegou na fase pré-contenciosa. É difícil
Estado defender-se da acusação.190
➢ Estado é absolvido mas por uma questão de forma.
o Comissão pode voltar atrás e de novo ir para Tribunal mas desta vez com todos
os argumentos.
190
Processo 101/84 – atentado em Itália que explodiu edifício com documentos, daí Itália não puder transpor. TJUE
diz que passados 7 anos o Estado já devia ter procurado saber se havia diretivas a transpor.
Muitos dos argumentos são irrelevantes.
126
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Imputação é sempre feita à pessoa coletiva Estado – embora o comportamento pode ser feito
a qualquer um dos seus órgãos.
O art. 260º/2 autoriza a aplicação de dois tipos de sanção pecuniária a pagar pelo Estado-
membro demandado em sede de incumprimento sobre incumprimento:
• Quantia fixa / lump sum – condenação a pagamento de multa, de montante fixo, sob a
modalidade de quantia fixa mínima. Sanciona o incumprimento consumado
• Sanção pecuniária compulsória ou periódica – soma variável, calculada por cada dia de
atraso ou outros períodos temporais. Função de persuadir o Estado-membro a por fim,
de forma rápida e completa, ao incumprimento.
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Evolução Histórica
Na versão originária dos Tratados não se falava de Direitos Fundamentais – de forma
intencional, pois evocava algo que era prerrogativa de soberania dos Estados.
• Não se achava necessário falar deles pois os 6 Estados-membros originários eram já
Estados de Direito – mas não seria redundante a positivação devido à exigência do
primado de DUE
191
Que contém muitas disposições iguais às da CEDH, embora contenha mais disposições, como as
relativas à cidadania da UE
192
Princípios gerais fazem parte da lógica do sistema do ordenamento jurídico. Fazem parte do direito
material e não necessitam de estar escritos, ex: responsabilidade extracontratual dos Estados.
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
A partir dos anos 70 que Comissão (e depois PE) queriam positivar estes direitos para dar
certeza e segurança jurídica aos cidadãos.
• Várias propostas para se criar texto sobre Direitos Fundamentais – resistência por
preconceito político, uma vez que se ligam Direitos Fundamentais à existência de uma
Constituição e dum Estado, o que não acontecia na UE (não era uma federação e queria
afastar-se esse conceito de federalismo das Comunidades Europeias)
CDFUE
Carta dividida em várias partes para abranger os diversos direitos, de forma a que se constitua
um catálogo completo de fundamentalidade.
193193
MLD: Direitos Fundamentais não entram nessas ordens jurídicas pela porta principal, mas entram
na mesma
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Tratado de Lisboa preocupou-se com os Direitos Fundamentais também com o objetivo de levar
UE a aderir à CEDH
• 1ª tentativa em 1994 – TJUE foi questionado se UE teria competência para aderir. No
Parecer 2/94 o TJUE diz que não, pois os Tratados não o preveem.
Com o Tratado de Lisboa, art. 6º/2 TUE estatui que a UE tem o dever de aderir194.
• Parecer 2/13 – TJUE já não pode invocar a incompetência da UE, pois já há uma base
jurídica; invoca agora o art. 344º TFUE (monopólio de jurisdição do TJUE) dizendo que
adesão da UE à CEDH iria desfigurar a especificidade da ordem jurídica da UE, pois em
matéria de Direitos Fundamentais haveria outro tribunal a julgar em última instância,
com critérios diversos daqueles do TJUE (num espaço geográfico diferente e com
relações diferente).
Art. 7º TUE
Introduzido com o Tratado de Amsterdão e depois aperfeiçoado.
Com a constatação de violação do art. 2º - que é necessário para a aplicação do art. 7º - por um
Estado-membro, que viola Direitos Fundamentais dá-se aso a existirem Sanções Políticas
➢ Sendo a mais grave a suspensão do direito de voto no Conselho
Para que hajam sanções políticas é preciso uma declaração do Conselho Europeu, que exige a
unanimidade.
➢ O que não funciona, pois há aliados do Estado infrator que vetam.
MLD: art. 7º TUE é uma entorse ao Estado de Direito pois não intervém o TJUE e o Estado-
membro visado não tem hipótese jurídica de se defender.
194
MLD: sendo essa uma obrigação de resultados
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Cidadania da UE
No caso da CEDH, os beneficiários dos Direitos fundamentais são todas as pessoas e o art. 1º
reporta-se aos cidadãos do Estado em causa, mas também a todos os outros cidadãos de países
terceiros sob jurisdição desse Estado195.
➢ Direitos do Homem têm como destinatários todas as pessoas e não só os cidadãos dos
Estados.
O direito de recurso aos Tribunais da UE não é só para cidadãos da UE e pode ser para cidadãos
de outro Estado, tendo igualmente os mesmos direitos e exercendo-os nas mesmas condições.
195
Discussão na doutrina e jurisprudência se abrangeria pessoas ilegais.
196
Elemento novo, pois cidadania liga indivíduo a um Estado e é esse Estado que define as condições de
se ser cidadão. Aqui não há Estado e sim associações de Estados
197
UE não pode atribuir a sua cidadania a refugiados e/ou apátridas. Primeiro estão os Estados.
198
Com Brexit os Europeus que lá vivem ficam sujeitos às leis dos Estrangeiros e não a direito comunitário
de permanência (que é o que existe atualmente e está previsto nos Tratados).
131
Sebenta DUE – DNB 2016/2017
Competência da UE
UE é entidade jurídica de fins amplos e de poderes limitados.
É uma entidade com poderes sob justificação – só pode fazer aquilo que o Estatuto jurídico
permitir; embora possam haver gradações diferentes (competência exclusiva, partilhada,
coordenada e etc.)
• É necessário que a UE, ao legislar, invoque sempre norma de habilitação, a base
jurídica.
• Se não for competente para tal, a norma não prevalece – DUE prevalece na medida que
é Direito materialmente competente, na medida em que é respeitada a delimitação
de competências entre UE e Estados-membros.
Tratado de Lisboa pretendeu ordenar sistema eurocomunitário de competências que era difuso,
complexo e descosido (construído ao longo dos anos pela jurisprudência do TJUE).
• Art. 2º-6º TFUE – matérias em relação à competência; suporte do sistema
eurocomunitário de competências.
• Art. 5º TUE – disposição pivot com os 3 princípios basilares do sistema de competências
da UE, a que qualquer órgão da UE está sujeito. Princípios que respondem a questões
fundamentais: como se tem competência? Quem tem a competência? Como deve
exercer a competência?
199
Entendimento não rígido da legalidade da competência – UE pode invocar tais poderes para prosseguir
os seus objetivos, porque são faculdades abrangidas nos poderes explícitos ou poderes conexos novos
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Sebenta DUE – DNB 2016/2017
O conteúdo e formas de ação da UE não devem exceder o necessário para alcançar os objetivos
dos Tratados.
• Legislação comunitária (no caso de competência exclusiva ou comunitária) não pode ir
além daquilo que é considerado equilibrado. Ex típico: se for possível emitir diretiva,
deve fazê-lo em vez de regulamento.
TJUE tem uma interpretação pró-integracionista mas não pode ultrapassar os limites do que é
justificável em termos de hermenêutica jurídica, sob pena de os Tribunais nacionais não a
seguirem por ter um grande ativismo e com uma intromissão ultra vires.
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