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ANÁLISE ECONÓMICA DO DIREITO

LINHA DE SEBENTAS
Análise Económica do Direito

Índice
Origem Histórica ........................................................................................................................................... 4
Evolução: ...................................................................................................................................................... 4
Economia - Definição .................................................................................................................................... 5
Conclusão: ............................................................................................................................................... 6
Objetivos da Análise Económica do Direito .................................................................................................. 6
Numa perspetiva positiva ........................................................................................................................ 6
Conceitos Importantes ................................................................................................................................. 7
Custos do direito de propriedade .......................................................................................................... 11
Partilha dos Direitos de Propriedade ..................................................................................................... 12
Propriedade Pública Vs Propridade Privada ............................................................................................... 12
Externalidades ....................................................................................................................................... 13
Aquisição e Transferência de Propriedade ............................................................................................ 13
Limitação dos direitos de propriedade .................................................................................................. 16
Propriedade Pública ................................................................................................................................... 16
Formas de o Estado adquirir a propriedade: ......................................................................................... 16
Propriedade Intelectual e Industrial ........................................................................................................... 17
Benefícios: ............................................................................................................................................. 17
Custos: ................................................................................................................................................... 18
Problemas da propriedade industrial e intelectual ............................................................................... 18
Responsabilidade Civil ................................................................................................................................ 20
Regras de Responsabilidade .................................................................................................................. 20
Acidentes unilaterais......................................................................................................................... 22
Acidentes bilaterais ........................................................................................................................... 23
Nível de actividade ..................................................................................................................................... 28
Causalidade ................................................................................................................................................ 29
Tipos de causalidade:............................................................................................................................. 29
Causalidade e responsabilidade civil .......................................................................................................... 31
Punitive Damages .................................................................................................................................. 31
Razões que a justificam a indemnização punitiva: ........................................................................... 31
Outros tipos de responsabilidade .............................................................................................................. 32
Argumentos favoráveis: ......................................................................................................................... 32
Argumentos contrários: ......................................................................................................................... 32
Responsabilidade civil e seguros ................................................................................................................ 32
Responsabilidade penal .............................................................................................................................. 33
Responsabilidade baseada no mal causado (baseada na extensão do dano) ....................................... 34
Crime .......................................................................................................................................................... 35
Teorias (para analisar o comportamento dos indivíduos) ..................................................................... 35
Princípios do direito penal (justificações das sanções) .......................................................................... 36
Contratos .................................................................................................................................................... 37

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Noção económica de contrato: ............................................................................................................. 38


Contrato completo ................................................................................................................................ 38
Contrato incompleto ............................................................................................................................. 38
Porque é que existem contratos? .......................................................................................................... 38
Benefícios .......................................................................................................................................... 38
Consequências da existência de contratos: ...................................................................................... 39
A Natureza Incompleta dos Contratos................................................................................................... 40
Interpretação de Contratos ................................................................................................................... 40
incumprimento dos Contratos ............................................................................................................... 41
Noção de Incumprimento Ótimo ........................................................................................................... 42
Limites legais à liberdade contratual e outras formas de enforcement ................................................ 45
Porquê limitar a liberdade contratual? ............................................................................................. 45
Resolução alternativa de litígios e adjudicação privada ................................................................... 45
Estrutura geral da intervenção legal .......................................................................................................... 46
Dimensões fundamentais da estrutura geral da intervenção legal: ...................................................... 46
Optimalidade da estrutura de intervenção legal. .................................................................................. 46
Análise dos métodos de Intervenção .................................................................................................... 49
Teoria da litigação ...................................................................................................................................... 49
Organização da Justiça ........................................................................................................................... 49
Decisão de litigar ................................................................................................................................... 50
Divergência fundamental entre motivação privada e social ................................................................. 50
Más Políticas Corretivas:........................................................................................................................ 52
Melhores Políticas Corretivas ................................................................................................................ 52
Divergência Fundamental entre a Motivação Privada e Social ............................................................. 53
Acordos extrajudiciais ............................................................................................................................ 53
Acordo Extrajudicial e Julgamento ........................................................................................................ 54
Estatísticas da justiça .................................................................................................................................. 54
Papel dos advogados ............................................................................................................................. 54
Diferenças entre Common law e Civil law ............................................................................................. 56
Estatísticas ............................................................................................................................................. 57
Capacidade do sistema ..................................................................................................................... 57
Centros de Arbitragem...................................................................................................................... 59
Direito comparado ..................................................................................................................................... 59
Common law .............................................................................................. Erro! Marcador não definido.
Sistema Romano-germânico: ................................................................................................................. 60
Conceito importantes e debate teórico................................................................................................. 61
Definições de direito comparado:..................................................................................................... 61
Diferenças entre o Common law e Civil law ..................................................................................... 61
Análise critica à análise económica do direito ........................................................................................... 62

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Análise Económica do Direito

Origem Histórica
 Beccaria (jurista, filósofo e político do século XVII) - Dei delitti e delle pene, de 1764
(On Crime and Punishment)
o Uma pena deve ter uma função dissuasora, não retributiva, e deve ser
proporcional ao crime, de forma a que, quanto mais grave o crime, maior a
pena;
o Os procedimentos de condenação criminal devem ser públicos e rápidos, de
forma a serem eficazes.
 Assim, admitindo que as pessoas conseguem antecipar as
consequências dos seus atos, é a certeza do castigo, e não a sua
severidade, que tem efeito preventivo.
 Bentham, fundador do Utilitarismo: An introduction to the principles of morals and
legislation.
o Quanto maior a felicidade de mais indivíduos, melhor para a sociedade
(melhor esta se encontrará) – quanto mais indivíduos estiverem melhor,
melhor a sociedade está, sendo que a melhor escolha é aquela que maximiza
o bem-estar.
o As sanções legais podem desencorajar a conduta delinquente. Tais sanções
devem ser empregues apenas quando tenham função preventiva.
o Proteção daqueles que agem inconscientes dos seus atos (quando não têm
noção das consequências dos mesmos).
o Se a legislação não conseguir prevenir o ato, ou seja, não conseguir evitar
que o mal ocorra, então o objetivo da sanção é apenas o castigo e, nesse
caso, apenas gerará mais mal. Assim, as sanções retributivas são rejeitadas.

Evolução:
A partir dos anos 60, a AED passa a ser utilizada como instrumento de regulação
económica. Passa a ser vista como uma ciência filosófica, autonomizando-se.
 Ronald Coase: The Problem of Social Cost (Journal of Law and Economics 3).
 Guido Calabresi: Some Thoughts on Risk Distribution.

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A AED começa a alastrar-se a outras áreas da sociedade, e a todo o pensamento


económico. Nos anos 90, regista-se um grande impacto da legislação nos mercados
financeiros (law and finance).
Este grande desenvolvimento gerou, entre as décadas de 80 e 90, o aparecimento
de muitas vozes dissonantes:
 Morton Horwitz: AED já tinha estagnado, nada mais tinha a dar à sociedade;
 Owen Fiss: AED atingiu o seu auge e a partir daqui já nada poderá trazer de
novo.
Estes estavam enganados, tendo-se seguido anos de grande desenvolvimento,
sendo o primeiro manual académico de AED publicado no final dos anos 70 por Richard
Posner.

Economia - Definição
Ciência que estuda a forma como as sociedades utilizam os recursos escassos, passíveis
de utilizações alternativas, na produção de bens e serviços com vista à satisfação de
necessidades ilimitadas.

 Nunca se atinge a saciedade, pois não há limite para as necessidades humanas.


 Assim, os bens e serviços devem ser usados de forma a não haver desperdícios
(conceito de eficiência).
o “a forma como”- estuda o comportamento dos agentes económicos,
indivíduos organizados numa economia enquanto estrutura social
organizada.
o “escassos”- os recursos não abundam, nem tão pouco estão disponíveis em
quantidade suficiente que permita não haver custos para produzir e
consumir.
o “Utilizações alternativas”- é necessário fazer escolhas. Não se pode ter tudo
o que ser pretende, devido á escassez de recurso
 Custo de oportunidade: valor da melhor alternativa recusada. Toda a escolha tem
um custo de oportunidade.

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 “Produção”: estuda decisões de produção. Como combinar e interligar fatores de


produção. A escassez impõe custos ao sector produtivo, custo esse que é sempre um
custo de oportunidade.
 “Satisfação”: estuda as decisões de consumo.

Conclusão:
 A economia estuda o comportamento dos agentes económicos, que interagem no
mercado e, por sua vez, o funcionamento do próprio mercado específico de cada
bem e serviço, ou como um todo.
 A AED estuda de que forma as normas legais condicionam o comportamento dos
agentes económicos, condicionando o funcionamento dos mercados.
o Assim, a AED não é nem Direito Económico nem Direito da Economia. Estes têm
como objetivo ver em que consistem as normas jurídicas aplicáveis à economia.
o A AED visa, por seu lado, ver de que forma as normas jurídicas afetam o
comportamento dos indivíduos, recorrendo a ferramentas de pensamento
económico.

Objetivos da Análise Económica do Direito


Utiliza a Microeconomia como base para uma teoria comportamental.

Numa perspetiva positiva: análise objetiva de acordo com o método científico, sem
fazer juízos de valor. Como se vê afetado o comportamento dos indivíduos e instituições
pelas normas legais?

Enquanto disciplina, enfatiza a utilização de modelos estilizados de


comportamento (racionalidade, reações a incentivos, consciência das ações).

Numa perspetiva normativa: ver quais as melhores normas, de acordo com certo
critério. Quais as melhores normas e quais as melhores formas de comparar diferentes
normas legais.

Mas quais são as unidades de medida de bem-estar (critérios) a usar? Como


medir o impacto das normas no bem-estar social?

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A AED parte sempre da hipótese de racionalidade dos indivíduos. Enfatiza a utilização


de métodos estilizados de comportamento dos indivíduos, reconhecendo que os
agentes económicos reagem a incentivos (recompensa por dada ação).  Versões
simplificadas da realidade para responder à pergunta: quais as consequências das
normas no comportamento.

Conceitos Importantes
 Racionalidade: os agentes económicos antecipam corretamente as consequências
das suas ações, incorporando-as nas suas decisões. Assim, quando fazem uma
escolha, escolhem o que é melhor para si. Admitimos que os indivíduos só se
preocupam consigo mesmos.
 Preferência: Esquema de ordenação das possibilidades de consumo, do melhor para
o pior. Este tem de ser muito objetivo, não há indecisões, quanto muito há situações
de indiferença (2 soluções oferecem o mesmo grau de satisfação/utilidade).
 Escolha ótima: aquela que maximiza o bem-estar/utilidade. Escolha da melhor
opção.
 Utilidade: Medida do grau de bem-estar que os indivíduos obtêm com as suas
escolhas. Há diferentes indicadores de utilidade/ medidas de bem-estar. (Ex:
rendimento).
 Custo de oportunidade: valor da melhor alternativa recusada. Pressupõe uma
escolha e escassez dos recursos. O valor da escolha deve ser maior que o custo de
oportunidade dessa escolha.
 Eficiência da Economia: (sentidos possíveis)
o Pareto: se já não é possível melhorar o bem-estar de alguém sem piorar o bem-
estar de outro indivíduo, estamos numa situação de eficiência.
o Haldor-Hicks: Se já estamos numa situação de eficiência podemos ponderar um
esquema de compensação: se os que ficam numa situação de bem-estar podem
compensar os prejudicados, ficando-se numa situação melhor, de forma a que o
somatório do bem-estar total seja superior.
 Basta haver uma compensação potencial, não tendo esta de ser efetiva.
 Maximização do bem-estar social: a melhor norma será aquela que resultaria
melhor para todos, mesmo que haja lugar à compensação de Haldor.

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o Cálculo do bem-estar social: benefício líquido = benefício social – custo social. A


medida só é vantajosa se o valor do benefício for superior ao do custo. A
alteração só é benéfica se o benefício marginal (acréscimo de benefício) é
superior ao custo marginal.
 Implicações distributivas: eficiência vs. equidade - para se ter uma, podemos ter de
prescindir de outra.
 Externalidades (nas decisões dos agentes): consequências, positivas ou negativas
das ações dos indivíduos sobre terceiros. Essas consequências não são tidas em
conta na tomada de decisões, pois afetam apenas o bem-estar de terceiros. Têm
impacto social, mas não têm impacto sobre o próprio.

Produção Lucro Lucro total Custo marginal da Custo total Lucro social
marginal produção poluição da poluição
0 - 0 - 0 0
1 0 10 1* 1 9
2 4 14 15 16 -2
3 2 16 20 36 -20
4 -1 15 22 58 -43
Melhor decisão para o produtor
Melhor decisão para a
Mas do ponto de vista social, não é eficiente sociedade

Pois dela resulta uma externalidade Avaliada do ponto de vista de


quem sofre as consequências.
*melhoria Haldor

Conclusão: se tivéssemos em conta os efeitos das externalidades a decisão seria


diferente.

 Teorema de Coase:
o Como é que se faz para os privados chegarem a uma decisão socialmente
ótima, tendo em conta as externalidades como limitações de mercado?
o A solução tradicionalmente apontada é o estabelecimento de (+/-) impostos
de Pigou, para que o valor do imposto corresponda ao valor da externalidade.
Se for uma externalidade positiva serão subsídios.

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o Conjetura de Coase (1960): A negociação leva à eficiência. Se os agentes


económicos puderem negociar entre si, então chega-se a um ótimo social.
 Ex: quem sofre com a poluição negoceia com o produtor. Sociedade
estaria disposta a pagar para evitar poluição (ou vice-versa).
 Irrelevância dos direitos legais de propriedade adquiridos: o
resultado ótimo (eficiência e distribuição) consegue-se
independentemente do lado de quem está o direto.
 Custos de transação/negociação são altos. Custos de obter
informação, reunir partes envolvidas. Assim, não é certo que a
negociação leve ao resultado ótimo.
 Inspirado em Adam Smith.

DIREITO DE PROPRIEDADE

Direito de Propriedade: consiste no direito de posse e transferência de um bem (posse


+ transferência = direito de propriedade).

 Posse: capacidade de utilizar o bem de forma exclusiva e evitar que outros indivíduos
o utilizem. Este não é absoluto, havendo limitações/regras que devem ser
respeitados.
 Transferência: por venda, doação, testamento - Possibilidade de se alterar o
proprietário de dado bem.

Estes dois direitos não têm de estar simultaneamente nas mãos da mesma
pessoa. Ex: arrendamento: partilha do direito de propriedade, por disposição contratual,
o direito de posse pertence ao inquilino, mas o direito de transferência permanece com
o arrendatário.

A justificação para existirem direitos de propriedade reside nos seus benefícios -


Incentivos ao trabalho e desenvolvimento: só há incentivo ao trabalho porque as pessoas
sabem que têm direito de propriedade sobre os frutos do seu trabalho. Por isso é que
se recebe salário. Se não houvesse direitos de propriedade, viveríamos numa sociedade
esclavagista.

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São os direitos de propriedade que permitem o funcionamento dos mercados.


Só se pode vender um bem se se tiver o direito de propriedade sobre o mesmo. É para
isso mesmo que servem os mercados, ou seja, para se proceder à transferência de
direitos de propriedade.

Os direitos de propriedade são pilares do funcionamento dos mercados em geral


e do mercado de trabalho em particular.

1.) Exemplo com Direito de Propriedade

Horas de Produção Utilidade da Benefício Desutilidade Custo Bem-


trabalho produção marginal do trabalho marginal estar
social
0 0 0 - 0 - 0
1 1 10 10 6 6 4
2 2 18 8 13 7 5
3 3 24 6 22 9 2

 Utilidade marginal: quanto maior a quantidade de unidades do bem consumidas,


menor o acréscimo de utilidade, devido à aproximação do ponto de saciedade. A
utilidade marginal é, por isso, decrescente.
 Custo marginal: custo de produção de uma unidade adicional do bem. Neste caso,
relativamente ao trabalho, quanto mais se trabalha mais custa.

Para chegarmos ao bem-estar social máximo (solução mais eficiente), o custo marginal
não deve ser maior que o benefício marginal.

2.) Exemplo sem direito de propriedade


Horas de Produção Utilidade da Desutilidade *O resto da produção irá,
Bem-estar
trabalho (retida*) produção do trabalho social
por exemplo, para o
retida
Estado/senhor feudal. O
0 0 0 0 0
1 1,5 5 6 -1 produtor tem de entregar
2 1 10 13 -3 parte do resultado daquilo
3 1.8 14 22 -8 que produz.
O benefício de produzir uma unidade marginal fica sempre abaixo do seu custo,
logo não vale a pena produzir nada, esse é o ótimo social.

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Conclusão: quando maior a carga fiscal, pior, porque esta corresponde à


expropriação da população dos frutos do seu trabalho.

 Incentivos à conservação e manutenção do bem: se não houvesse direitos de


propriedade, não haveria nenhuma garantia de que o autor do investimento viesse
a ser o seu beneficiário. Quem tem o custo de certa atividade deve ter o benefício
correspondente, de forma a haver incentivo.
o As pessoas só têm o incentivo de fazer o investimento se souberem que vão
beneficiar do mesmo.
 Evitar disputas e atividade de proteção em relação à conquista desses direitos: se
não houvesse direitos de propriedade podíamos ocupar as casas dos outros e eles
poderiam fazer o mesmo.
 Diminuição e partilha do risco: permite que se façam contratos de seguros. Admite-
se que os indivíduos são avessos ao risco, estando dispostos a pagar para evitar
situações de risco (que normalmente envolvem uma perda patrimonial). Se não
existisse direito de propriedade sobre o bem assegurado, não existiria partilha do
risco.
 Utilização dos bens como colateral: os DP permitem o funcionamento dos mercados
financeiros. Os bancos concedem empréstimos com a garantia do valor da hipoteca
do bem. Se os devedores não pagarem, a propriedade do bem passa para o banco.
 Favorecem determinada distribuição de riqueza: se não houvesse direito de
propriedade tudo seria de todos. A distribuição da riqueza resultaria da usurpação.
Teria mais quem tivesse mais força.
 Incentivos à transferência: é o que permite que os mercados funcionem.

Custos do direito de propriedade


 Custos de negociação e estabelecimento dos direitos: prendem-se com diferenças de
informação entre quem vende e quem compra. À partida, o vendedor tem mais
informações sobre o bem que vende. O comprador pode ter medo que haja
informação escondida. Estas divergências podem levar à não realização do negócio.
o Prendem-se também com o tempo despendido a negociar o preço - o
vendedor quer sempre mais e o comprador quer sempre pagar menos.

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 “Enforcement” dos direitos de propriedade: a existência prévia de um sistema de


registos é uma condição para que o direito de transferência possa ser exercido. O
sistema público de registos tem custos de manutenção. (Registo Predial)

Partilha dos Direitos de Propriedade


Quem tem o direito de posse de um dado bem pode não ter o respetivo direito de
transferência, e vice-versa. Isto pode levantar problemas de coordenação, no sentido
em que os interesses de um podem não corresponder aos interesses de outro.

Esta partilha dá-se normalmente por liberdade de escolha, através de contratos.


Mas nem sempre a escolha é livre. (ex: menor com representante legal)

PROPRIEDADE PÚBLICA VS PROPRIDADE PRIVADA


A necessidade de haver propriedade pública prende-se com o fornecimento de bens
públicos:

Bem público: indivisível; não apresenta rivalidade no consumo; não há possibilidade de


exclusão, não podendo ninguém impedir outrem de utilizar um bem público. (ex:
iluminação pública)

 O fornecimento destes bens é, pelas suas características, difícil de ser assegurado


por iniciativa privada.
o Por não se poder excluir ninguém da sua utilização, não se consegue garantir
que todos pagam pela utilização do bem ou serviço.
o Os custos seriam elevadíssimos por não se conseguir excluir ninguém.
o Se houvesse uma entidade privada a fornecer um bem público, a sua
produção não seria suficiente/eficiente, ficando aquém do
desejável/socialmente ótimo.

Por tudo isto, só o Estado os fornece, financiando-os através de impostos. Esta é


a forma de garantir que todos pagam pelos bens que utilizam. Só o Estado é capaz de
dividir os custos por toda a sociedade.

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Para o Estado os poder fornecer tem de ser proprietário do que serve para
produzir bens e serviços.

Externalidades
Exemplo: investigação na indústria farmacêutica (externalidade positiva).
Adquire-se conhecimento do qual todos vão beneficiar.

Produzir esse conhecimento tem um custo, logo só há incentivos à produção se


houver benefícios/recompensas - sistema de patentes. (direito de propriedade sobre
esse conhecimento) Durante um dado período de tempo, só os responsáveis pela
descoberta podem explorar o mercado.

Quanto às externalidades negativas, estas levam à produção excessiva de um


bem em relação àquilo que seria o ótimo social. (ex: emissões de CO2) Neste caso
específico, para resolver a situação estabeleceram-se quotas de emissões, que os
privados acabam por controlar ao criarem um mercado de quotas.

A gestão da externalidade negativa tem de ser feita pelo Estado por uma questão
de coordenação, mas este só o faz porque tem direito de propriedade sobre a
atmosfera.

Conclusão: O Estado é o melhor a resolver as falhas de mercado: externalidades e bens


públicos.

Aquisição e Transferência de Propriedade


AQUISIÇÃO

 Aquisição original: entidade adquire o direito de propriedade sobre algo que até
então não tinha proprietário. Bem sobre o qual não existiam direitos.
o Qual a regra eficiente nestes casos? – Finders-Keepers (aquisição individual
ou coletiva). O bem pertence a quem o encontra.
 A regra finders-keepers compensaria aquele que tivesse encontrado
o bem de qualquer esforço que por este tenha sido feito no sentido
de o encontrar. Se esta não fosse a regra, ninguém faria o esforço da
procura. Esta solução permite o valor do bem passe a ser considerado
para o bem-estar social. Mas, se a descoberta for acidental, não
houve custos na procura.

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o Mas esta regra não é eficiente nos casos em que a aquisição não é original.

BENS SOBRE OS QUAIS JÁ EXISTIAM DIREITOS

 Perda e recuperação de propriedade (ou roubo): aqui, a solução eficiente é devolver


o bem ao proprietário original. Regra da propriedade original: se o bem for
recuperado tem de ser restituído ao proprietário original, caso contrário, o
proprietário original terá um incentivo excessivo a tomar medidas de proteção em
relação ao bem de forma a evitar o seu roubo.
o Daria origem a um investimento excessivo na proteção. (ex: igrejas fechadas
a sete chaves, por não haver sistema público de registos em relação a esse
tipo de bens)
o Sistema de registos públicos; incentivos privados à manutenção do registo;
inexistência de registos. (boa fé vs. propriedade original) Havendo sistema
de registos de propriedade, o bem roubado não pode voltar ao mercado
legal, não sendo neste caso viável roubar para vender.
o No caso específico do mercado de antiguidades, que não dispõe de um
sistema de registos, a única garantia que se tem são registos fotográficos.
o Presume-se que quem compra, compra de boa-fé, não podendo o comprador
ser responsabilizado, quem deve ser responsabilizado é o vendedor. O
princípio da boa-fé é muito importante para os fluxos de mercados. Se
estivesse assegurado as pessoas fariam mais transações. Assim, há mais
legitimidade nas transações e mais confiança nas trocas.
o Desta forma, quando não há sistema público de registos tem de haver
privado.
 Transferência: é um ato voluntário que ocorre no mercado. Ex: venda.
o Apropriação: é uma transferência involuntária, que pode ocorrer de duas
formas: ocupação ou expropriação.
o Ocupação: casos em que a solução finders-keepers é a mais eficiente:
 No caso de estarmos perante abandono de propriedade.
Normalmente ocorre quando o custo de utilização é, para os
proprietários, superior ao seu benefício, levando ao abandono. É
eficiente que quem possa utilizar essa propriedade de forma

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vantajosa a ocupe. A propriedade deve ser transferida para quem a


rentabilize, de forma a que a propriedade passe a gerar valor.
o Usucapião: transfere-se a propriedade para quem dá valor ao bem e o põe a
criar valor.
o Expropriação: Estado põe a propriedade ao serviço do bem púbIico. Também
aqui, pelos mesmos motivos, a regra finders-keepers será a mais eficiente.
o Descoberta Acidental
o Doação
o Transferência por testamento: corresponde, de certa forma, ao exercício dos
direitos de propriedade após a morte. (os direitos de propriedade não
cessam com a morte do individuo) Não seria eficiente que os bens da pessoa
morta fossem para o Estado, que depois os redistribuiria. Se assim fosse não
haveria incentivos ao trabalho, conservação de bens, constituição de
património…
 Será voluntária? Não se pode dizer isso sem reserva, no sentido em
que a morte também não é voluntária. É um mecanismo híbrido
porque no fim a vontade do morto acaba por ser satisfeita.
 Dead Hand:
 Seguros de vida. (contrato do particular com a empresa)
Trata-se de um exercício do direito de propriedade no sentido
em que é um contrato de dispersão do risco. Sem direitos de
propriedade (sobre os rendimentos - frutos do trabalho) não
existiriam seguros de vida.
 Os seguros de vida também só são possíveis devido à
incerteza sobre a duração da vida. Para quem tem um
rendimento avultado e várias pessoas na sua dependência,
será benéfico fazê-lo.
 Limitações às Transferências Testamentárias:
 Não é possível deserdar herdeiros legitimários;
 Questões fiscais;
 Não se deve limitar os direitos de propriedade, mesmo para
além da morte. Existem, no entanto, algumas situações em
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que tal é possível, como os casos em que há externalidades


negativas. (aquelas que prejudicam terceiros)

Limitação dos direitos de propriedade


 Teorema de Coase: a negociação privada pode gerar o ótimo social desde que essa
negociação se dê sem custos de transação. Independentemente dos direitos de
propriedade, ou seja, independentemente de quem tem o direito de propriedade
sobre aquilo que sofre a externalidade negativa. O detentor dos direitos de
propriedade limita-se a definir o ponto ótimo.
o Exemplo: música alta após as 22h
 Se não houvesse lei: o que quer silêncio pagaria por ele;
 Se houvesse lei: o que faz poluição sonora teria de pagar para fazê-lo.
(a título indemnizatório)
o O ponto ótimo é indiferente de quem tem os direitos de propriedade, desde
que a negociação seja livre.
 MAS este esquema de negociação privada raramente funciona, uma
vez que há sempre custos de transação: custos de reunir as partes;
problemas de assimetria de informação…
 Assim, o Estado tem de intervir, através de disposições legais
(liability) - esquemas de responsabilidade (indemnizações aos
lesados); impostos/subsídios corretivos das externalidades.

PROPRIEDADE PÚBLICA
A necessidade de bens e serviços públicos justifica, tal como as
externalidades, a necessidade de o Estado interferir no exercício dos direitos de
propriedade.

Formas de o Estado adquirir a propriedade:


 A compra é normalmente o modo mais eficiente, na medida em que há uma troca
voluntária, mutuamente benéfica. Mas o custo de oportunidade pode ser elevado,
pelo que em certas situações é preferível haver expropriação.
 Já a expropriação poderá ser solução nos casos em que as partes envolvidas na
transação sejam em grande número, dificultando o consenso e consequentemente
a negociação.

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o A expropriação dará normalmente lugar a uma compensação. (compensação


por expropriação) Normalmente, o Estado indemniza em função do valor
patrimonial registado nas Finanças, que é sempre mais baixo do que o valor
de mercado.
 Pode dar-se o caso de nem sequer haver direito a indemnização, a
chamada não-compensação eficiente. Esta resulta de uma
comparação entre custos e benefícios.
 Problema do risco moral: está diretamente relacionado com as
assimetrias de informação. Risco de haver um aproveitamento
pessoal.
 Ex: compra de terrenos no sítio onde o Aeroporto da Ota ia
ser construído, de forma a receber indemnizações pela
expropriação que era certa. Os que venderam não tinham
tanta informação como os que compraram, caso tivessem,
certamente não teriam vendido os terrenos.

INTERVENÇÃO PÚBLICA DEVIDO AOS CUSTOS DE TRANSACÇÃO

Que caracterizam a negociação privada.

 Proximidade das partes;


 Número das partes;
 Conhecimento dos efeitos externos;
 Probabilidades de a negociação falhar.

O Estado é o único com capacidade de financiamento, através de impostos, para fazer


estudos quanto a eventuais resultados de negociações.

PROPRIEDADE INTELECTUAL E INDUSTRIAL


Visam proteger, nomeadamente, determinadas criações, fórmulas,
composições artísticas e marcas, porque a sua produção tem um custo. As entidades
privadas só têm incentivo à criação se puderem beneficiar dela, através de direitos de
propriedade.

Benefícios:
 Incentivo à investigação e desenvolvimento;
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 Criação de mercados futuros;


 Em alguns casos sinaliza a qualidade, contribuindo para a redução de assimetrias de
informação (marcas).
 Patentes: relacionadas com a propriedade industrial. Registo dá o criador a
possibilidade de explorar o monopólio dessa criação durante um dado período de
tempo (20-25 anos), gozando assim de direitos de propriedade em termos plenos.
 Também sobre marcas e logótipos:
o Função de proteção.
o Transforma produtos em produtos únicos. Situação de monopólio é
desvantajosa para os consumidores, pois os preços tornam-se mais elevados.
 Copyright/Direitos de autor: relacionados com a propriedade intelectual.
o Vigoram durante avida do autor e de 50 a 70 anos após a sua morte. Vai para
os descendentes e depois para o domínio público.
o Proteção da forma: nova forma de expressão/interpretação artística, de ver
a realidade.
o Música, literatura, arte plástica.
 Ex: 2 romances com o mesmo tema têm a mesma função mas não
têm a mesma forma.
 Hoje em dia há a questão de saber se novas edições de livros
correspondem a novas interpretações dos mesmos.

Custos:
 Monopólios: preços tornam-se muito elevados até terminar o período de patente e
o mercado começar a funcionar em concorrência.
 “Enforcement”: garantia de exercício do direito. Para tal tem de haver um sistema
público de registos. Estes têm custos administrativos; recrutamento de técnicos
especialistas que avaliam se o novo produto é, de facto, inovador.

Problemas da propriedade industrial e intelectual


 Abrangência desse direito: o âmbito que dada inovação tem.
o Ex: medicamento serve para tratar X mas consegue tratar Y. (uma doença
associada) Se mais tarde surge outro medicamento vocacionado para tratar Y
pode não conseguir o registo.

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Análise Económica do Direito

o Quanto maior o âmbito menor a possibilidade de haver produtos semelhantes,


logo maior o poder de monopólio.
o Quanto maior o âmbito (scope) menor o timing (período de tempo que a patente
dura).
o Quanto maior o timing maior o custo, nomeadamente para o consumidor. Mas
quanto menor o timing menor o incentivo à inovação, logo nunca poderíamos
dizer que o ótimo social seria não haver timing, pois, nesse caso, só existiria
incentivo se o Estado financiasse tudo, o que não é viável.
o Isso só seria viável na investigação universitária.
 Esforço necessário para copiar (tecnologia, path dependence)
o Há casos em que não se justifica haver patente, pois o processo de engenharia
reversiva é de tal forma complicado que é muito difícil, a partir do produto final,
chegar-se ao processo que esteve na base da sua criação.
o Na prática, o produto é impossível de imitar
o Há maior incentivo para proteção com patente quando a cópia é fácil, como é o
caso da indústria farmacêutica.
 Esforço para ser o primeiro (the winner takes it all contest)
o Numa indústria em constante desenvolvimento, pode haver uma tendência de
investimento adicional para se chegar primeiro à meta.
o Ex: indústria de hardware.
 Patent blitzing:
o Tentativa de por qualquer pequena descoberta se registar uma patente.
o Bombardeamento de patentes.
o Os sistemas públicos podem ficar inundados de registos, o que aumentará os
seus custos.
o Isto pode dar origem a marcas adormecidas.
 Patentes/marcas adormecidas, que foram registadas mas depois nunca foram
desenvolvidas, porque acaba por se concluir que não são viáveis; o produto acaba
por não ser comercializado.
o Ex: motores movidos a células de hidrogénio, ainda não é viável ser desenvolvido
quando ainda há tanto petróleo.

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Análise Económica do Direito

RESPONSABILIDADE CIVIL
Como o sistema da responsabilidade vai afetar, quer o comportamento da vítima
quer o comportamento do lesante.

O objetivo da prevenção é evitar que haja perda. A solução ótima será aquela
que minimizar as perdas ao máximo ou as torne inexistentes.

Os acidentes podem ser evitados e os seus efeitos minimizados se houver prevenção:

 Prevenção ótima:
o Regra dos custos mínimos: quem tem menores custos de oportunidade
de prevenção deve fazê-lo. No caso de atropelamento será o condutor e
não o peão. (que teria de fazer o esforço de monotorização de todos ao
automobilistas) É mais fácil e mais barato o condutor conduzir com
cuidado.
o Regra do custo-benefício: a prevenção ótima será aquela em que o custo
é inferior ao benefício que decorre do comportamento, que será evitar
que o acidente ocorra.

Regras de Responsabilidade
 Situação em que não há nenhuma regra de responsabilidade: Se houver um dano,
o lesado é que suporta as consequências. Se não houver nenhum esquema de
responsabilidade, para quem provoca o acidente, a prevenção só terá custo. Ora
esta situação não induz a quem provoca o acidente a fazer um esforço de
prevenção. Mas se há um acidente unilateral ninguém faz esforço de prevenção.
o A inexistência de um esquema de responsabilidade não leva ao ótimo
social.
 Responsabilidade objetiva/estrita: aquele que provoca o acidente é totalmente
responsável pelos danos, quer patrimoniais que não patrimoniais,
independentemente de a vítima ter sido negligente ou não, e independentemente
de ter culpa ou não. Neste caso a vítima nunca será culpabilizada.
o Aquele que é o objetivo de quem provoca o objetivo corresponde aos
objetivos sociais, ou seja, a adoção do comportamento que leva à
minimização dos custos sociais. (interesse em minimizar o valor das

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Análise Económica do Direito

perdas e dos custos de precaução) Transferência para quem causa o


acidente o valor total das perdas.
o A vítima fica na situação que existia antes de a perda ocorrer. Assim, em
caso de acidente unilateral, o esquema de responsabilidade objetiva leva
ao ótimo social.
o Num esquema de negligência:
 Negligência simples: quem causa um acidente só é
responsabilizado se se provar que ele não fez um esforço de
prevenção adequado para evitar o acidente, ou seja, se se provar
que ele foi negligente.
 Em casos de acidente unilateral, se a lei define qual é o
cuidado devido, e se cumpre com as regras e mesmo assim
há uma perda, o provocador do dano não tendo sido
negligente não paga os danos.
 Para o esquema simples de negligência funcionar em
acidentes unilaterais, é preciso muita informação. Do
ponto de vista da informação é muito mais exigente do
que o esquema de responsabilidade objetiva (maiores
custos de informação com o mesmo efeito). Assim, para
acidentes unilaterais, será suficiente para levar ao
comportamento ótimo uma regra de responsabilidade
objetiva.
 Mas, desde que os níveis de prevenção exigidos estejam
definidos, a regra da negligência é também eficaz.
 Negligência comparada: tanto quem causa o acidente como a
vítima poderia ter feito um esforço de prevenção. Compara-se o
esforço de prevenção que foi feito pelas partes, entre aquilo que
fizeram e aquilo que deveria ter sido feito. A extensão da
responsabilidade mede-se pelo diferencial entre o esforço que se
fez e o que se deveria ter feito. Aquele que mais se distanciou do
comportamento ideal é responsabilizado.

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Análise Económica do Direito

 Com defesa de negligência contributiva: defesa para quem causa


o acidente. O seu espírito é semelhante ao sistema de negligência
comparada, mas não se preocupa em estabelecer uma
comparação. O que acontece é que se ambas as partes poderem
ter feito prevenção, quem causa o acidente só é responsabilizado
se a vítima não tiver sido negligente. Se a vítima é negligente,
deve suportar os danos. Mesmo que o lesante tenha sido
negligente, só é responsabilizado se a vítima não foi negligente.
Se há negligência dos dois lados, o que provoca o acidente é
ilibado.

Exemplos/ Tipos de acidentes

 Acidentes unilaterais: a vítima não pode fazer nada para o prevenir. Só quem
provoca o acidente é que pode fazer o esforço de prevenção. Por exemplo, um
desastre aéreo.
o Carro que vai contra imóvel. Só o condutor o poderia prevenir, o
proprietário o imóvel nada poderia fazer.
 Acidentes bilaterais: tanto a vítima como o provocador do dano poderiam fazer
esforços de prevenção.

ACIDENTES UNILATERAIS
Custo Benefício
Custo Custo marginal marginal de
Nível de Probabilidade Perdas
de social de prevenção
prevenção de acidente esperadas
Precaução total prevenção (redução na
perda esperada)
Nenhuma 0 15% 15 15 - -
Moderada 3 10% 10 13 3 5
Alta 6 8% 8 14 3 2

Quanto maior o nível de prevenção, maior o custo envolvido. Quanto maior o


custo na prevenção menor a probabilidade de perda.

Admitindo que o valor sujeito a perda é 100. Se não houver prevenção nenhuma,
há a probabilidade de perder 15% do meu valor, neste caso, 15.

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Análise Económica do Direito

Custo social total é a soma do custo de precaução e perdas esperadas. É igual ao


custo do provocador do acidente, caso seja responsabilizado.

O custo de prevenção ótimo é, neste caso o da moderada, pois é aquela que tem
menor custo. Se utilizarmos o princípio do custo benefício chegamos à mesma
conclusão. Na prevenção moderada, o Cmg < Bmg.

Regras da negligência:

Precaução Custo de Responsabilidade Responsabilidade Custo p/


Precaução Esperada causador
Nenhuma 0 Sim 15 15
Moderada 3 Não 0 3
Alta 6 Não 0 6

Perda esperada = (100*15+0*85)/100

Até que ponto a existência de uma regra de negligência ou responsabilidade


objetiva permite que se chegue à situação ótima.

ACIDENTES BILATERAIS

Precaução Precaução Custo de Custo de Probabilidade Perdas Custo


(causador) (vítima) precaução precaução de acidente esperadas social
(causador) (vítima) total

Não Não 0 0 15% 15 15


Não Sim 0 2 12% 12 14
Sim Não 3 0 10% 10 13
Sim Sim 3 2 6% 6 11

Do ponto de vista do ótimo social, é desejável que ambos façam prevenção.

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Acidentes Bilaterais sem responsabilidade:

Vítima
Causador do (payoffs) Com precaução Sem precaução
Acidente Com precaução (-3; -8) (-3; -10)
Sem precaução (0; -14) (0; -15)

 Ambos fazem prevenção:


 Causador faz e vítima não faz: custo de prevenção do causador 3; vítima tem custo
de 10
 Causador faz e vítima faz: custo de prevenção do causador 3; vítima custos de
precaução + custo de danos.

Comportamento estratégico: Qual o comportamento ótimo de cada indivíduo,


admitindo que estes são racionais, tomando em consideração, antes de tomar decisões,
os efeitos das mesmas.

No caso de não haver esquema de responsabilidade:

Do ponto de vista de quem causa o acidente: tem de decidir se faz prevenção ou


não, tentado prever o comportamento da vítima. Se a vítima fizer prevenção, o causador
tem duas opções: fazer prevenção e ter um custo de 3 ou não fazer e ter um custo de 0.
Mas se a vítima não fizer prevenção a sua decisão deverá ser outra.

Quem causa o acidente faz prevenção: a vítima faz também e tem custo de 8 ou
não faz e tem o custo de 10. Neste caso é melhor para a vítima fazer prevenção. Mas se
o causador não fizer prevenção: se a vítima faz tem custo de 14 se não tem 15.

Assim, a vítima também tem uma estratégia dominante. Não havendo esquema
de responsabilidade, a vítima protege-se a si mesma. É ótimo para a vítima fazer
prevenção.

Desta forma, será ótimo para o causador não fazer precaução e ótimo para a
vítima fazer. Se não houver esquema de responsabilidade, o equilíbrio obtém-se num

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Análise Económica do Direito

ponto em que a vítima faz prevenção e o causador não faz. Mas o que era socialmente
ótimo era que ambos fizessem.

Conclusão: A não existência de um esquema de responsabilidade civil não é uma


situação socialmente ótima.

NOTA: Se houver um sistema de responsabilidade objetiva, a decisão ótima do causador vai ser sempre não fazer prevenção
independentemente das escolhas da vítima – estratégia dominante.

Comportamento estratégico no caso de haver um esquema de responsabilidade


objetiva (estrita):

Vítima
(payoffs) Com precaução Sem precaução

Causador do Acidente Com precaução (-9; -2) (-13; 0)


Sem precaução (-12; -2) (-15; 0)

 Se ninguém faz prevenção: os custos associados à perda são 15, e estes são
suportados na totalidade pelo causador. A vítima não tem custos.
 Se ambos fazem prevenção: a vítima suporta o valor 2, o causador suporta o valor
9. (custos de prevenção mais danos)
 Se só a vítima faz prevenção: a vítima paga custo de prevenção e o causador paga
os danos.
 Se a vitima não faz prevenção mas o causador faz: a vítima não tem custos e o
causador tem os custos da precaução.
 Se a vítima fizer prevenção é ótimo para quem provoca fazer também. Se a vitima
não faz é também ótimo para o causador fazer.

O causador tem uma estratégia dominante. Tem todo o incentivo de fazer prevenção
qualquer que seja o comportamento da vítima.

Na perspetiva da vítima:

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Análise Económica do Direito

Fazer prevenção para a vítima só lhe traz custo. Será ótimo para a vítima não fazer
prevenção independentemente do comportamento do causador (estratégia
dominante).

Este esquema leva-nos para uma situação em que quem causa o acidente faz
prevenção mas a vitima não, o que não é o ótimo social. No que toca a acidentes
bilaterais, o esquema de responsabilidade objetiva não é eficiente, não levando ao
ótimo social.

Esquema de responsabilidade objetiva com cláusula de defesa de negligência


contributiva

Vítima
(payoffs) Com precaução Sem precaução
Causador do
Com precaução (-2; -9) (-3; -10)
Acidente
Sem precaução (-12; -2) (0;-15)

Quando a vítima é negligente a vítima pagará custo de 10 ou 15, consoante o


causador faça ou não prevenção.

Se a vítima fizer prevenção a escolha de quem causa é fazer também. Mas se a


vitima não fizer prevenção é ótimo para o causador não fazer também, pois não será
responsabilizado. O causador do acidente não tem estratégia dominante pois o seu
comportamento depende das escolhas da vítima.

Já a vítima tem todo o incentivo para não ser negligente. Independentemente do


comportamento do causador, a estratégia ótima da vítima há-de ser sempre fazer
prevenção. O causador consegue antecipar este comportamento, sendo ótimo para o
causador do acidente fazer prevenção também.

Conclusão: este esquema leva ao ótimo social. A regra de responsabilidade objetiva não
é suficiente, mas se acrescentarmos uma cláusula de defesa de negligência contributiva,
já se atinge o ótimo social - Indução ao comportamento ótimo.

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Análise Económica do Direito

Esquema de negligência simples

Vítima
(payoffs) Com precaução Sem precaução
Causador do
Com precaução (-3; -8) (-3; -10)
Acidente
Sem precaução (-12; -2) (-15;0)

Se o individuo fizer o esforço de prevenção adequada não é negligente, logo não é


responsabilizado. Havendo prevenção por parte dos dois, a vítima paga 8.
Se o causador é negligente, não faz prevenção: paga o valor das perdas que varia
consoante a vítima faça ou não prevenção.
Se a vítima faz prevenção é ótimo para o causador fazer também. Se a vítima não
fizer, continua a ser ótimo para o causador fazer  O causador tem aqui uma estratégia
dominante.
Se o causador é negligente, o ótimo para a vítima é não fazer. Se o causador faz
prevenção, é ótimo para a vítima fazer prevenção também  Estratégia dominante da
vítima – A vítima antecipa que o causador fará prevenção, o que a levará a fazer
também.

Conclusão: este esquema também nos leva ao ótimo social.

Esquema de Negligência Com cláusula de defesa de negligência contributiva

Vítima
(payoffs) Com precaução Sem precaução
Causador do
Com precaução (-3; -8) (-3; -10)
Acidente
Sem precaução (-12; -2) (0; -15)

Há a possibilidade de o causador ser desresponsabilizado se a vítima for negligente.

 Se a vítima é negligente, os custos da perda recaem sobre a vítima;


 Caso a vítima faça prevenção, o causador faz também;

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Análise Económica do Direito

 Se a vítima não fizer é ótimo para o causador não fazer pois tem a cláusula a seu
favor;
 Para a vítima é sempre ótimo fazer prevenção;
Conclusão: chega-se ao ótimo social, pois a vítima fará sempre prevenção e em
consequência também o causador fará.

ASSIM: Quando temos acidentes bilaterais o ótimo social atinge-se de várias maneiras.

NÍVEL DE ACTIVIDADE
Nível de Custos de Perdas pelo Bem-estar
Utilidade total
Atividade precaução acidente social
0 0 0 0 0
1 40 3 10 27
2 60 6 20 34
3 69 9 30 30
4 71 12 40 19
5 70 15 50 5

Se tivermos em conta os níveis de atividade…

Variável dos níveis de atividade (num acidente bilateral): relaciona-se com o


número de vezes que uma atividade com risco de danos é exercida. Quanto maiores os
níveis de atividade maior a probabilidade de perdas, pois maior a probabilidade de
acidente.

Se não houver nenhum esquema de responsabilidade, o objetivo do causador será


maximizar o valor da utilidade total (nível 4 de atividade), no entanto, o ótimo social
seria 2.

Temos de fazer com que o causador considere as perdas como relevantes para a
sociedade. Assim, com um esquema de responsabilidade objetiva chegaremos ao ótimo
social.

Se utilizarmos um esquema de negligência simples:

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Só chegaríamos ao socialmente ótimo se a lei definisse um nível adequado de


prevenção que o causador respeitasse e que fosse o socialmente ótimo. Com este
esquema o nível de atividade vai ser excessivo, mesmo que o nível de prevenção
estabelecido seja igual ao socialmente ótimo. Logo não vai ser possível atingir o
socialmente ótimo. Só interessa para o causador a utilidade – custos de precaução.

Conclusão:

Se tivermos em conta a variável do nível de atividade, a regra de responsabilidade


objetiva é a única que garante o resultado ótimo.

CAUSALIDADE
As ações de um indivíduo causaram determinada perda se essa perda não tivesse
ocorrido na ausência dessas ações.

Tipos de causalidade:
 Causalidade próxima (efeitos diretos): Conjunto de ações tiverem um efeito direto,
ou seja, se o resultado ocorreu de forma expectável, e não invulgar ou estranha.
Comportamentos geram consequências óbvias e esperadas. Assim, não deve haver
limitação de responsabilidade mesmo em situações em que se considere que a
existência de danos seja improvável. (ex: empresa de pirotecnia, o risco de explosão
é mínimo, mas se houvesse limitação da responsabilidade não haveria o incentivo
necessário a garantir todas as condições de segurança) Incentivo a que não haja o
esforço adequado de prevenção, aumentando assim o risco de perdas. Não deve
haver incentivo a prevenção destes casos sob pena de se estabelecer um excesso de
proteção.
o Coincidências: estar no local errado à hora errada – Quando não há qualquer
esforço seja de quem for que possa reduzir a probabilidade de perda, que
ocorre por uma infeliz coincidência. Não é possível incutir responsabilidade
a quem causa danos a alguém que está nesta situação. Ex: homens das obras
a fazer soldaduras e alguém atravessa o perímetro de segurança
estabelecido. Neste caso, a entidade construtora não é responsável pelos
danos que provocou, desde que tenha feito esforço de prevenção.

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Análise Económica do Direito

 Causalidade necessária (but for causation): dado conjunto de ações são causa
necessária para determinada perda, quando as perdas só ocorreram em
consequência das ações. Há uma forma de prevenção, ou evitando que as ações
ocorram ou, caso esta ocorra, tomando as medidas necessárias para minimizar a
perda.
 Incertezas sobre a causalidade: pode não saber-se o que é que provocou uma
determinada perda.
o Compensação na proporção da causalidade: nestes casos, a regra eficiente é
haver uma compensação na proporção da causalidade, sendo assim os
incentivos à prevenção ótimos. Ex: se pensarmos que os danos da poluição
atmosférica, como o desgaste da pintura das casa, ocorrem 20% mais
depressa do que se não houvesse poluição, mas não temos a certeza, as
fábricas vão ser responsáveis em parte mas não na totalidade porque há
outros fatores a considerar (por exemplo, a tinta poderia ser de má
qualidade). 20% do valor total da perda é o valor da perda esperada. Se as
compensações forem iguais à perda esperada temos o nível ótimo de
prevenção.
o Compensação se há mais de 50% de probabilidade: caso a regra seja a da
compensação caso alguém seja responsável por mais de 50% da perda (ou
seja essa a probabilidade). Esta solução levaria a que aquele que tivesse o
comportamento com mais de 50% de probabilidade de provocar dano,
tivesse de pagar todos os danos, mesmo que os danos tivessem sido
provocados por outro fenómeno qualquer que lhe fosse exterior. Lá porque
há mais de 50% de probabilidade da poluição contribuir para a degradação
de pintura das casas, não faz sentido que esta seja obrigada a compensar a
totalidade dos danos, isso seria injusto, pois não seriam considerados outros
fatores, e levaria a um excesso de prevenção.
o Se há incerteza sobre a causalidade levasse à inexistência de
responsabilidade não haveria incentivos a qualquer prevenção.

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Análise Económica do Direito

CAUSALIDADE E RESPONSABILIDADE CIVIL


 Responsabilidade objetiva: compensação igual aos custos causados. (perdas
esperadas)
 Negligência: prevenção ótima é independente da causalidade. Esta regra levará a
uma solução ótima, em termos de prevenção ótima, independentemente do tipo de
causalidade. Exemplo da queda do piano, quer haja incerteza sobre a causalidade
quer não, vai sempre haver incentivo ao esforço de prevenção adequado.

Conclusão: Ações de A levam a uma perda de B. Regra de negligência é ótima, quando


há possibilidade de prevenção (nas coincidências não pode haver prevenção)
independentemente e haver incertezas sobre a causalidade. A deve ser responsabilizado
desde que as perdas tenham tido causalidade próxima com os seus comportamentos.
Se há incerteza acerca da probabilidade dos danos, A só deve ser responsabilizado na
proporção dos danos. Indemnização de A a B é a perda esperada.

Punitive Damages (forma de Decoupled Liability) - responsabilidade assimétrica

Por vezes, o valor da indemnização não é igual ao valor da perda esperada. Nos
casos em que a indemnização é superior à perda, estamos perante uma indemnização
punitiva.

Razões que a justificam a indemnização punitiva:


 Casos em que há a possibilidade de a indemnização não vir a ser paga (probabilidade
de pagar a indemnização inferior a 1): Uma indemnização de 20 paga 50% das vezes,
leva a que a indemnização esperada vai ser de 10. Tendo em conta a probabilidade
de pagamento devemos estabelecer a indemnização.
 Caso de os danos não serem monetários: por exemplo, problemas decorrentes de
stress pós-traumático.
 Custos superiores ao valor dos danos (ex: custos administrativos): Custos que se têm
de fazer para receber a indemnização são superiores ao valor dos danos. Por
exemplo, temos de recorrer a tribunais. Se o custo de receber a indemnização for
superior aos danos, nem sequer vale a pena avançar com a ação.

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Análise Económica do Direito

OUTROS TIPOS DE RESPONSABILIDADE


Outras pessoas são responsáveis pelas ações de outros. Se C é responsável por A
e A provoca dano a B, C é que paga indemnização a B. Ex: Criança parte a janela do
vizinho, o seu pai é que paga a indemnização.

 Empregados (vicarious): entidade empregadora terá o incentivo de monitorizar


a atuação dos seus empregados, pois será responsabilizada por qualquer dano
por eles provocado. Só as ações que estão no âmbito da relação contratual é que
são suscetíveis de gerar responsabilidade na entidade patronal.
 Familiares ou dependentes (noxal): Quando estamos perante um individuo que
não é responsabilizável pelos seus atos, não se pode admitir a hipótese de
racionalidade. Nestas circunstâncias não se pode exigir que este tenha o esforço
de prevenção adequado. Quem deve ter este esforço é o seu tutor.

Argumentos favoráveis:
O que interessa e justifica a existência de um sistema de responsabilidade não é
que haja indemnizações mas sim evitar a ocorrência de danos que lhes estão na origem.
Incentivo a haver o esforço adequado de prevenção para evitar que haja perda. Tudo o
que impede a perda ao menor custo deve ser incentivado. Redução dos custos de
prevenção.

Argumentos contrários:
Há espaço para aumentar o número de processos judiciais, aumentando assim
os custos de administração. Ex: Se A provoca perdas sobre B e C é responsável, mas
depois C vem acusar A de ter sido negligente.

RESPONSABILIDADE CIVIL E SEGUROS


Exemplo: A tem um risco de causar uma perda de valor X em si ou em terceiros. Essa
perda levará a uma redução do seu património. Os indivíduos são avessos ao risco.
Assim, prefere não sofrer qualquer alteração patrimonial, estando disposto a pagar para
não enfrentar risco. Contrata seguradora que assume danos no valor X, deixando de
enfrentar risco, pagando-lhe o prémio do seguro, que vai depender do valor de X
(cobertura) e da probabilidade de ocorrência de perda. Quanto maior o risco de acidente
maior o prémio de seguro.

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Análise Económica do Direito

 Vantagens:
o Assegura a compensação da vítima. (na verdade não é bem assim)
o Partilha eficiente do risco. Quem não quer ter risco contrata um seguro
maior.
 Desvantagem: Risco moral. (Prevenção é ou não verificável) Ao deixar de enfrentar
risco, o individuo deixa de ter incentivos adequados a fazer esforços de prevenção
ótimos.

Por outro lado, as suas ações não podem ser perfeitamente verificadas pela
companhia de seguros para ela se assegurar que o esforço de prevenção está a ser
assegurado na quantidade ótima ou não, sendo uma solução comum aumentar o prémio
de seguro (ou aumento de franquia – parte do dano que não é coberta pela companhia
de seguros, tendo de ser paga pelo próprio), que levará a maior incentivo a esforço de
prevenção por parte do segurado. - Determinação do prémio de seguro.

Diferentes Seguros:

Há campos em que é obrigatório fazer seguros e outros em que é proibido.

Por exemplo é impossível fazer seguros sobre responsabilidade penal. Já no ramo


automóvel o seguro é obrigatório.

RESPONSABILIDADE PENAL
O seu objetivo é a dissuasão. Não tem um objetivo retributivo. O objetivo, do
ponto de vista económico, é dissuadir os atos que não são desejáveis, ou seja, atos com
custos maiores que os benefícios, de forma a maximizar-se o bem-estar social.

Punição de Delitos (ato ilícito):

o Crimes (ilícito no campo da responsabilidade penal): intenção clara de provocar


perda, dolo, há uma intenção clara.
o Contravenções (Torts):

Quando falamos em delitos, estamos a falar de responsabilidade penal, que não


pode ser transferida para outro agente económico. As normas de responsabilidade
penal recaem sempre sobre o indivíduo que comete o delito.

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Análise Económica do Direito

Diferente do ato ilícito node acordo com o Código Civil: a responsabilidade por danos
provocados pode ser transferida para outro agente económico (ex: seguradora que
assume a posição do infrator para indemnizar; o patrão que é responsabilizado pelos
atos do empregado)

Ato ilícito: benefício social inferior ao custo social, mas benefício privado maior que
o custo privado.

SANÇÕES MONETÁRIAS:

 Multa: multa ótima deve ser igual à perda indesejada. O indivíduo deve ter ativos
suficientes para pagar a multa. Caso contrário, a multa não é dissuasora. Ex: Se a
sanção é de um milhão de euros, ele, não podendo pagar, vai roubar à mesma.

Se considerarmos questões não materiais e subjetivas associadas, o valor da


sanção vai aumentar exponencialmente. Quanto vale uma vida humana? – Necessidade
de se pensar em sanções não monetárias.

Responsabilidade baseada no mal causado (baseada na extensão do dano)


Quando o indivíduo pondera cometer um crime, só fará sentido cometê-lo se considerar
que o benefício envolvido vai compensar as sanções que cairão sobre ele. Esta ideia
baseia-se no princípio da racionalidade dos agentes económicos.

 Responsabilidade estrita (objetiva): indivíduo responsabilizado por toda a extensão


do dano, independentemente de ter culpa ou não.
 Responsabilidade baseada na culpa (fault based): será responsável caso se prove
que é culpado.

Responsabilidade baseada no ato: qualquer ato é punido independentemente de haver


perda ou não. Punem-se até as tentativas falhadas. A intenção é relevante para
determinar a sanção.

NOTA: Sanção ótima = valor do mal causado para agentes neutros ao risco; valor inferior ao mal causado
para os avessos ao risco (aí já há dissuasão).

B (benefício) - S (sanção) = valor negativo é suficiente para dissuadir o indivíduo racional de praticar o
crime. O objetivo das sanções não é aplica-las, mas sim a dissuasão. Se os indivíduos são avessos ao risco,
nem é necessário uma sanção tão grande, basta uma sanção inferior ao dano causado para ser dissuadido
(mas terá sempre de ser pelo menos maior ou igual que o benefício, sob pena de o crime compensar.

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Análise Económica do Direito

SANÇÕES NÃO MONETÁRIAS (prisões)

 Para certos casos é preciso pensar em sanções não monetárias, uma vez que estas
podem nem sempre ser eficazes.
 Estas têm custos sociais:
o Construção e manutenção de um sistema prisional: Enquanto aplicar uma multa
tem apenas custos administrativos, não muito significativos;
o Quem é sujeito a pena de prisão deixa de contribuir para o PIB;
o Desutilidade pessoal: estigma sociais esquemas de acompanhamento
psicológico; processo de reinserção social…
 Se a sanção não for dissuasora, é preferível não ser aplicada, aplicando-se antes,
sanções monetárias. Se nenhuma é dissuasora não se aplica nenhuma. Aplicar a
sanção não monetária só criaria um custo adicional.
 Responsabilidade baseada na culpa tem vantagens neste tipo de sanções.

Assim:

 Sanção não monetária deve ser suficiente para haver dissuasão e não mais do que
isso, porque tem custos;
 Não há razões sociais para limitar a sanção monetária, a sanção ótima é,
normalmente, igual ao valor do dano.
 Usar sanções não monetárias apenas como reforço das sanções monetárias quando
estas deixem de ser dissuasora.s (ativos insuficientes, impossibilidade de cobrar a
sanção monetária)

CRIME
Atos cujo objetivo é fazer mal, provocar uma perda. São atos escondidos“ e por
isso de difícil prevenção, pois não é possível monitorizar o comportamento dos
indivíduos associados.

TEORIAS (para analisar o comportamento dos indivíduos)


 Dissuasão: sanção esperada igual ao benefício que o perpetrador retiraria do ato
ilícito. Esta depende de muitas variáveis, como a prova da culpa... Crimes de difícil
prova são atrativos (Ex: crime económico) – reflexo da racionalidade dos agentes.
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 Incapacitação (sistema que evita que o indivíduo cometa o ato, ou seja, que o
incapacite). Por exemplo: prisão preventiva.
o Período de prisão = período durante o qual o mal esperado é superior ao
custo de aprisionamento.
o Tem em consideração a propensão futura a fazer o mal.
o Dissuasão é irrelevante.

PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL (justificações das sanções)


À luz das teorias da dissuasão e da incapacitação

 Intenção: quer o mal seja desejado diretamente ou indiretamente, o resultado é o


mesmo. Intenção está relacionada com fatores que fazem aumentar o nível das
sanções. (justamente para que haja dissuasão) A intenção esta diretamente
relacionada com a probabilidade de ocorrência do dano, aumentando o valor do
dano esperado, fazendo sentido que se aumente a sanção.
o Utilizar a doutrinada da intenção para aumentar o período de sanção não
monetária (justifica a incapacitação para evitar que o mal ocorra novamente,
ou que simplesmente ocorra) e o montante de sanção monetária.
 Tentativa: punir tentativas reduz a probabilidade de ocorrência de perdas. Faz
sentido punir tentativas de crime, para dissuasão de tentativas de crime no futuro,
não só do próprio como de outros. Também à luz da teoria da incapacitação, faz
sentido aplicar penas de prisão a indivíduos que tentam cometer crimes, para evitar
que o mal se consome efetivamente.
 Causalidade (próxima; necessária):
o Necessária: na ausência da ação não teria ocorrido a perda. (ex: A envenena
B que a caminho do hospital morre num acidente de ambulância)
o Próxima: a ocorrência de um ato aumenta consideravelmente a
probabilidade de haver um dano.
o Ações de A são causa necessária e não próxima, mas faz sentido que as
sanções sejam aplicadas, mesmo que que as suas ações não tenham sido
causa próxima. Tal como faz sentido aplicar sanções por tentativas, tanto do
ponto de vista da dissuasão como da incapacitação.

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Análise Económica do Direito

 Defesas: argumentos usados para defender os acusados. (meios de


desresponsabilização) Invocação de um conjunto de situações que fazem com que o
indivíduo deixe de ser racional, não antecipando corretamente as consequências das
suas ações.
o Um indivíduo que não é racional não consegue ser dissuadido seja por que
sanção for e se não há dissuasão não faz sentido haver sanção.
(especialmente se for não monetária)
 O objetivo da incapacitação é, aplicando pena de prisão, evitar que
um indivíduo provoque uma perda à sociedade. Lá por o indivíduo ser
irracional, não é por isso que vai deixar de provocar dano se assim
decidir.
o Anulação da responsabilidade pelas próprias ações (insanidade, intoxicação
involuntária; menor de idade…) Assim, esta faz sentido à luz da teoria da
dissuasão mas não à luz da teoria da incapacitação.
o Ignorância da lei: não faz sentido ser usada como meio de
desresponsabilização, já que se isso acontecesse, em vez de se cultivar o
conhecimento, aconteceria precisamente o contrário. Não faz sentido nem
no ponto de vista da dissuasão nem da incapacitação.
o Erro: levar casaco por engano. Aqui não há intenção, por isso faz sentido a
haver desresponsabilização pois isso incentiva um comportamento salutar.
Não há nada para dissuadir.
o Defesa do próprio (ou de outra pessoa): pessoal ou patrimonial. Também
incentiva a comportamentos salutares.
o Necessidade: escolha do menor de dois males. Pode ser invocada como
forma de desresponsabilização, por exemplo, por um agente da autoridade
suspeito de roubo. (escolhe entre deixar fugir e dar um tiro) Esta solução
promove comportamentos salutares.

Assim, só os comportamentos iminentes de provocar perda com intenção é que devem


ser dissuadidos ou evitados utilizando penas de prisão.

CONTRATOS
Correspondem à materialização do direito de transferência.

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Análise Económica do Direito

Noção económica de contrato:


 Algo que nomeia as partes envolvidas;
 Especifica um conjunto de ações;
 Define as condições em que cada parte atua.

Contrato completo
Aquele em que a lista de condições é exaustiva. Prevê-se em todas as contingências
possíveis o que cada uma das partes faz.

Mas isto é impossível, pois vivemos num mundo de informação imperfeita.


Haverá sempre falhas. (assimetrias de informação) Não conseguimos prever cada uma
das contingências possíveis na transação, nem sabemos o que fazer em cada uma delas.

Logo, o contrato tem uma natureza incompleta, deixando sempre muita coisa
implícita e deixada à discricionariedade dos contraentes. A inclusão de contingências é
sempre necessariamente exemplificativa.

Contrato incompleto
Aquele em que a lista de condições não é exaustiva e em que existem gaps em
termos de contingências.

Razões: o custo de se fazer um contrato completo seria enorme, maior até que
o seu benefício, nem que seja em termos de tempo. É impossível identificar todas as
contingências possíveis e custoso enumerá-las.

Como os contratos têm uma natureza incompleta, há a possibilidade de ser


ótimo não os cumprir, pois o seu cumprimento pode resultar numa situação que já não
é benéfica para ambas as partes (alteração de circunstâncias).

Porque é que existem contratos?


Benefícios
Se vivemos num mundo de informação imperfeita, não sendo possível enumerar
todas as contingências, nem dizer o que fazer em cada uma delas.

O contrato beneficia ambas as partes, todas as partes envolvidas melhoram.


Desde que não haja externalidades negativas (que prejudicam terceiros), o contrato é
eficiente no sentido de Pareto.

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Análise Económica do Direito

Permitem que haja redução de incerteza quanto ao fornecimento de bens e


serviços futuros, garantindo a provisão futura dos mesmos.

Permitem a partilha eficiente do risco. Seguradora suporta os custos do risco no


lugar do segurado. Seguro contra terceiros é obrigatório. Quanto pior o condutor, maior
o prémio do seguro.

Contrato de crédito: Contratos que permitem fazer uma afetação ótima dos
recursos. Permite fazer uma transação dos mesmos do presente para o futuro.
Transferência do rendimento futuro.

Consequências da existência de contratos:


 Porque é que existe “enforcement” dos contratos? Se é uma ação voluntária?
o Os contratos tem de se fazer cumprir para garantir a eficiência de Pareto.
Garantir que nenhuma das partes se prejudica ao fazer o contrato.
o Na interpretação dos contratos. Já que os contratos são incompletos, a sua
interpretação e essencial. Ajudar as partes a resolver a natureza incompleta do
mesmo a um custo mínimo.
o No incumprimento do contrato: impor compensações adequadas. Se os
contratos fossem completos não faria sentido deixar de cumpridos. Mas como
são incompletos, no momento em que se cumprem as obrigações as
circunstâncias podem ter-se alterado. Incumprimento ótimo: o custo do
cumprimento é superior, pelo menos para uma das partes, ao custo de
incumprir.
o Nos limites contratuais: recusar o enforcement de contratos que diminuam o
bem-estar da sociedade. É preciso recusar o cumprimento de contratos com
externalidades negativas.
 Porque necessitam as partes de enforcement de terceiros se os contratos dão
enquadramento a troca voluntária no sentido de Pareto?
o As obrigações não se cumprem em simultâneo, logo pode haver assimetria de
posição, que resultam das assimetrias de informação, e poderá gerar
comportamento oportunista.

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Análise Económica do Direito

o Quebra de promessa (porque existem melhores oportunidades). Esta questão


não se colocaria se vivêssemos num mundo de informação completa, de
contratos completos.
 Problema de hold-up com custos afundados (existência de investimento num ativo
específico para aquela relação contratual e por isso não é recuperável): A empresa
que investiu para poder executar o contrato, já teve um custo associado ao mesmo,
e afinal o contrato não vai ser cumprido porque a contraparte quebrou a promessa.
É preciso que nestes casos haja o cumprimento de algumas clausulas contratuais a
titulo de indemnização.
o Ex: encomenda da peça para o elevador da Glória.

A Natureza Incompleta dos Contratos


Não é um problema. Existe o Direito para completar o contrato.
Porque são incompletos?
Custos de antecipar todas as contingências e negociar soluções para cada uma. Há
soluções que não são verificáveis por todas as partes envolvidas, podendo fazer parte
de informação privada. Custos subsequentes de fazer o enforcement do contrato em
situações não verificáveis.

Interpretação de Contratos
Quem é que melhor interpreta os contratos? É uma questão pertinente face a
natureza incompleta dos contratos.

 As partes: o sistema judicial tem menos informação em relação aquilo que esta a ser
contratualizado. O sistema judicial pode não ter informação especializada para
perceber o que está em causa. O sistema judicial não tem de cumprir o princípio do
benefício mútuo. A solução judicial pode não ser eficiente no sentido de Pareto.
(menos informação, menos especialização, desrespeito pelo princípio da vantagem
mútua). A interpretação pelas partes é mais eficiente:
o Vantagens mútuas (renegociação no caso de mudança das contingências).
Pode se preferível suportar os custos de negociação e fazer um contrato
mutuamente vantajoso do que ficar preso a um contrato que já não faz
sentido: Diminui os custos de negociar o contrato.

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Análise Económica do Direito

 A interpretação pelos tribunais é potencialmente menos eficiente. Mas pode ser a


melhor solução se os custos de negociação forem muito elevados. Ex: casos de
conflito com os Estado. Para além disso o sistema judicial garante coerência das
decisões. Um precedente conhecido pode ajudar à renegociação.

INCUMPRIMENTO DOS CONTRATOS


Indemnizações por incumprimento (damages). Há três tipos de indemnização:

 Por expectativas (expectation damages): valor indemnizatório tal que se repõem as


expectativas que existiam na altura da formação do contrato. Um contrato tem
sempre um fluxo material de rendimento para ambas as partes a que corresponde
um valor monetário. Isto gera expectativas a ambas as partes, logo se houver
incumprimento há expectativas frustradas. Quem não cumpre o contrato paga
indemnização igual ao fluxo de rendimento que resultaria do cumprimento do
contrato. Repõe as partes envolvidas na situação que se verificaria caso o contrato
tivesse sido cumprido. Esta é a mais comum e é também eficiente, pois dá os
incentivos corretos à celebração dos contratos. (indemnização ótima) Estas são as
indemnizações mais altas.
o É a solução eficiente pois tem em conta o princípio da racionalidade dos
agentes económicos.
 Por custos afundados (restitution damages): se tivermos um contrato que obrigue a
investimentos específicos por parte de uma das partes, o valor indemnizatório pode
ser igual ao valor dos custos afundados, ou seja, ao investimento feito nessa relação
específica que constitui um custo afundado.
 Por vínculo contratual: o investimento feito pode não ser custo afundado, podendo
ser aproveitado para outros contratos. Neste caso, a indemnização vai ter o valor do
investimento que se fez, com a particularidade de não se tratar de um custo
afundado. Esta será sempre menor ou igual à indemnização por custos afundados.

Estas duas últimas serão sempre menores ou iguais que as indemnizações por
expectativas. Porque para agentes económicos racionais, os investimentos, sendo
custos afundados ou não, serão de valor inferior à expectativa de fluxos de rendimento.

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Análise Económica do Direito

 Specific performance: Imposição do cumprimento das cláusulas por força do sistema


judicial. Não há lugar a indemnização. Obriga-se a que o contrato se cumpra tal como
foi acordado pelas partes. O que não faz sentido, tendo em conta a natureza
incompleta dos contratos e especialmente se o custo de cumprir for superior ao de
não cumprir. Assim, esta solução só seria eficiente se existissem contratos
completos.

Noção de Incumprimento Ótimo


Um contrato deve ser cumprido se o benefício o custo de performance (de haver
contrato). Se o custo de o contrato se realizar for superior ao benefício, o contrato não
se deve realizar e haverá lugar a indemnização.
Uma indemnização de valor moderado é a solução ótima: contratos com
benefícios elevados serão cumpridos, contrato com benefícios reduzidos serão
incumpridos.
Exemplo:
X encomenda estante. Preço de reserva = 1000. Custo de construção é incerto,
depende do tamanho da estante e dos materiais usados. Quanto mais tempo decorrer
entre a celebração do contrato e o cumprimento das obrigações maior a incerteza
envolvida.
Se tivéssemos informação perfeita, a estante só seria contruída se o custo de
construção fosse inferior a 1000.
Lucro do carpinteiro = P - custo
Excedente do consumidor = 1000 - P

P seria um valor entre o custo de produção e 1000.


Se a informação fosse perfeita saberíamos o valor de P e a negociação seria mais
fácil.

Contrato incompleto (informação imperfeita) incerteza acerca do valor de P.


Fixa-se uma indemnização por incumprimento que o carpinteiro pagara caso decida não
construir a estante por o custo de produção ser superior a P.

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Análise Económica do Direito

Se tivermos uma indemnização alta (superior a 1000). Aqui o carpinteiro vai fazer
a estante pois a indemnização é maior que ao custo de construção. Mas se o custo de
construção for superior a 1000, o melhor seria nem haver contrato. Isto leva a que o
contrato se cumpra mesmo numa situação em que seria ótimo não se cumprir contrato.
I (indemnização) > C (custo de produção) > 1000 (Preço de reserva).

Se a indemnização e o custo for superior a 1000. A estante não se faz. Mas esta
decisão depende do facto de a indemnização ser superior ao custo de produção.
Se o valor da indemnização for demasiado alto há a possibilidade de se estar a
cumprir o contrato mais vezes do que o ótimo, pode levar a uma situação de excesso de
cumprimento contratual.

Se a indemnização é baixa (inferior a 1000, custo de construção). Aqui a estante


não se faz, sai-lhe mais barato pagar a indemnização. Gera-se uma situação em que o
contrato não se cumpre quando seria ótimo cumpri-lo, pode levar a um excesso de
incumprimento contratual.

Se a indemnização for superior ao custo e por sua vez inferior a 1000, a estante
faz-se.
1000>I>C

Conclusão: o desempenho ótimo garante-se com I=1000

EXEMPLO 2:
Probabilidade de o custo ser alto baixo, moderado
Custo 20mil € 60mil € 200mil €
Probabilidade 30% 50% 20%

Custos de produção e transporte das janelas são incertos.


Preço de reserva: 100mil

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A atividade repete-se 100 vezes.


Custo médio/custo esperado/valor esperado do custo: somatório dos custos a
dividir por 100= (30x20mil+50x60mil+20x200mil)/100=
(30/100)x20mil +(50/100)x60mil+(20/100)x200mil

Se se tratar de um contrato completo, ele explica o que se deve fazer em cada


contingência e é exaustivo quanto às contingências possíveis. (neste caso só há 3
cenários)
Possibilidades:
- (1) Construir sempre as janelas independentemente do custo e negoceia-se; P = 80 mil
- (2) Construir só se o custo for baixo ou moderado e negoceia-se: P = 65 mil
- (3) Construir só se o custo for baixo e negoceia-se: P = 50mil

(3) Valor para o Silva = 100mil- Preço pago = (50mil) *30%+ 0x70%= 15 mil
Valor do contrato para empresa produtora = (50-20) *30%+70% = 9 mil

(2) Negocia-se um preço de 65 mil. Silva tem janelas 80% das vezes
Valor para o Silva = (100-65) +80% = 35*80%=28 mil
Valor para a empresa = (65-20 (custo)) *30%+ (65-60%) *50% = 16 mil

A opção 2 é mutuamente vantajosa em relação a opção 3.

(1) Valor para o Silva= 100-80=20


a. Porque o preço é sempre maior
Valor para a empresa = (80-20) *30%+ (80-60) *50+ (80-200) *20% = 4 mil

Assim, a opção 2 é a melhor opção para ambas as partes. O valor do contrato é


maximizado não opção 2, não há razão para não cumprir, nesta opção. Nos contratos
incompletos continua a ser ótimo cumprir apenas se os custos forem inferiores a 100
mil.

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Contrato incompleto - pode ser ótimo não se cumprir o contrato


Incumprimento ótimo: pagar a indemnização e não cumprir para não incorrer
em custos de produção.
Se o preço negociado fosse P = 75mil, excedente do consumidor seria de
25Mil.
A indemnização por expectativas seria de 25 mil e os vitrais só seriam produzidos
de o custo fosse inferior a 100mil. Quando o custo +e alto a empresa tem incentivo a
não cumprir o contrato.

LIMITES LEGAIS À LIBERDADE CONTRATUAL E OUTRAS FORMAS DE ENFORCEMENT


Porquê limitar a liberdade contratual?

 Evitar contrato com externalidades negativas;


 Evitar perdas de bem-estar para uma das partes;
 Inalienabilidade de certos bens (Ex: bens públicos, a sua venda resulta numa perda
para a sociedade como um todo);
 Há certos casos em que não se pode fazer seguros.

Resolução alternativa de litígios e adjudicação privada

 Vantagem da especialização e internalização dos custos de renegociação


 Não tem em conta externalidades

A adjudicação privada é mais barata que o enforcement público (sistema judicial),


mas é menos eficaz.
Reputação (o cumprimento de contratos pode existir apenas por uma questão
de reputação): Uma empresa que não cumpra contratos vai ter dificuldade em
estabelecer-se no mercado. Em termos teóricos, há casos em que o incumprimento é
ótimo, mas em termos práticos já não é bem assim. A reputação é uma das causas do
cumprimento excessivo.

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Análise Económica do Direito

ESTRUTURA GERAL DA INTERVENÇÃO LEGAL


Dimensões fundamentais da estrutura geral da intervenção legal:
 Momento da intervenção:
o Antes de um ato: a lei serve como forma de controlo de comportamento.
Prevenção de um ato indesejado.
 Exemplo: colocar na prisão indivíduo que se julgue ser uma ameaça à
sociedade pelo seu comportamento delinquente; colocar uma
vedação a volta de uma propriedade para evitar que lá entrem…
o Depois do ato ser efetuado, mas antes da ocorrência da perda (sanções sobre
atos). Não há prevenção do dano diretamente. A perda só ocorre na
sequência do ato com alguma probabilidade, a perda não é automática mas
pode acontecer. Desincentivar comportamentos semelhantes futuros que
eventualmente conduzam à ocorrência de uma perda
 Exemplos: não respeitar o código da estrada, la por não cumprir no
que dizer que haja uma perda
o Depois da ocorrência da perda: sanções baseadas no mal ocorrido.
 Forma:
o Prevenção: por uso a força (prisão ou erguer barreiras físicas mm torno de
propriedade, tendo por base o direito penal ou o exercício do direito de
propriedade.
o Sanção (monetária ou não): antes ou depois do mal ocorrido.
 Natureza:
o Pública: Estado inicia o processo de intervenção legal (como acontece nos
crimes, MP)
o Privada: Quem inica o sistema é uma entidade privada, através de uma ação
em tribunal
 Método:
o Diz respeito aos vários campos do direito.

Optimalidade da estrutura de intervenção legal


Determinantes do momento ótimo de intervenção:

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Análise Económica do Direito

 Informação acerca da perigosidade dos atos: informação acerca da natureza dos


atos: Relação entre informação que existe dos atos na esfera pública e no domínio
privado.
o Quanto menos informação o Estado tiver acerca da perigosidade dos atos e
das suas consequências, maior e a vantagem de utilizar o esquema de
intervenção mais tardio.
o Estado age assim que deteta que as normas não são cumpridas. Caso do
restaurante que não cumpre as normas. Estado só sabe dessas condições se
houver denúncia. Esfera privada tem mais informação. Estado só pode
intervir quando já se deu o ato.
o Num outro caso, o Estado retira um certo medicamento de circulação,
porque apresenta algum nível de toxidade. Aqui a atuação do Estado vai ser
mais precoce. Estado tem mais informação que a esfera privada, por isso
intervém num estágio anterior.
o Pessoa tem arma de fogo. Estado só pode fazer alguma coisa se detetar que
o indivíduo a usa de forma perigosa ou com intenção. Estado só pode agir
depois do ato e por vezes após o próprio dano. Só o ato em si, de possuir
arma, não permite saber se há perigosidade associada.
o Quanto menos informação o Estado tem, maior a vantagem de intervir mais
tardiamente, caso contrário estaríamos a limitar muito a liberdade dos
indivíduos. Desutilidade geral seria impedir que se usassem armas. Atuação
num estádio mais precoce será muito limitadora da atividade dos indivíduos.
 Eficácia e exequibilidade: pode ser dificultada por vários fatores:
o Se as sanções não forem eficazes porque não conseguem identificar os
indivíduos sobre os quais recaem, ou a eficácia é baixa, as sanções não são a
melhor solução. Nesses casos será melhor optar pela prevenção. Ex:
contaminação de depósito de água: mais vale prevenir, porque depois e
muito difícil, senão impossível apurar culpados. Em situações em que não se
conseguem identificar indivíduos a solução será a prevenção, que é muito
mais eficaz que a sanção.

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Análise Económica do Direito

 Custos administrativos envolvidos: É muito mais barato prevenir o ato, do que fazer
investigação para ver quem é que é o autor do ato, para além de que a intervenção
impedirá o ato e consequentemente os danos.
 Determinantes da forma ótima de intervenção:
o Em função do custo da aplicação das sanções. A aplicação de sanções não
monetárias provoca uma despesa ao Estado.
o Se a aplicação de uma sanação monetária é eficaz então deve ser aplicada.
As sanções não monetárias só devem ser aplicadas quando as monetárias
não são eficazes.
o Geralmente só se aplicam sanções monetárias até ao esgotamento da
riqueza do individuo, se isso não for suficiente para o dissuadir, a sanção terá
de ser não monetária, ou pelo menos tem de haver um reforço com sanção
não monetária.
 Determinantes da natureza ótima de intervenção:
o Público VS privado: para sabermos quando é que é ótimo ser o Estado ou o
indivíduo privado a iniciar o processo de intervenção legal temos de ver
quem tem menor custo com identificação do desrespeito das normas. Assim,
no caso do incumprimento de um contrato, o individuo particular é que deve
iniciar o processo. Tudo o que acontece na esfera privada são os indivíduos
que vão saber se houve ou não desrespeito, as entidades privadas tem mais
informação.
 Mas para que este esquema resulte tem de haver um incentivo para
que as entidades privadas revelem o que sabem. As vítimas sabem
que serão ressarcidas das suas perdas (isso é um incentivo) se
iniciarem um processo e intervenção legal. Outro incentivo que pode
estar na origem deste tipo de comportamento salutar é prevenir a
ocorrência deste tipo de comportamento no futuro. Satisfação
retributiva de ver o castigo aplicado quando alguma norma não e
respeitada.
o Situação em que é necessário investimento para a identificação, para detetar
os comportamentos ilícitos. Isto acontece muito no foro do direito criminal.
Neste caso é ótima a intervenção pública. Nenhuma entidade privada tem os
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recursos financeiros ou incentivos para iniciar os processos. Praticamente


todos os processos-crime são públicos.

Conclusão: a solução ótima será sempre em princípio o processo privado, exceto em que
é necessário haver investigação.

Análise dos métodos de Intervenção


Método de Dimensões Fundamentais da Intervenção Legal*
Intervenção Momento Forma Natureza
Antes do ato; Prevenção; sanções
Responsabilidade Civil Privada
Depois do mal monetárias
Prevenção; sanções
Responsabilidade Antes e depois do ato;
monetárias e não Pública
Criminal depois do mal
monetárias
Sanções monetária;
Contratos Depois do mal Privada
execução específica
Propriedade Antes do ato “enforcement” Privada
* Aspetos mais comuns

Quando falamos de atividade criminal podemos ter intervenção nos três momentos.

Enforcement: fazer cumprir o direito de propriedade vareiras defensivas, portas, janelas.

Contratos: atuação só depois da perda, resultante do incumprimento do contrato.

TEORIA DA LITIGAÇÃO
Organização da Justiça
Introdução: teoria da litigação: apresenta de forma sistemática questões do lado da
oferta e da procura.

 Questões do lado da procura: o que motiva recorrer aos serviços judiciais, e o


que motiva o litígio.
o Divergência entre motivação privada e social;
o Papel dos advogados;
 Questões do lado da oferta
o Organização do sistema;
o Papel dos juízes;

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Análise Económica do Direito

Decisão de litigar
Quem sofre uma perda ou um dano decide se inicia um processo litigioso ou não. Iniciar
o processo tem custos (custo de oportunidade também). Vai iniciar o processo se
entender que os custos são inferiores aos benefícios.

Estes coincidem no valor indemnizatório. Quando alguém decide iniciar um


processo cria uma externalidade negativa sobre o acusado, sendo que esses custos não
são tidos em conta quando alguém decide iniciar um processo de litígio. Queixoso não
tem em conta os custos do acusado e no sistema judicial.

 Quem inicia o processo é o queixoso (plaintiff);


 Contra o acusado (defendant);
 Decisão de chegar a acordo ou não: queixoso e o acusado com a intervenção de um
advogado decidem se chegam a um acordo ou vão para julgamento.
 Na contingência de não haver acordo segue-se para julgamento.

Em cada uma destas fases é necessário comparar benefícios com custos. Benefícios
privados e sociais são distintos. O que será ótimo do ponto de vista privado é quando
estes são superiores aos custos privados. Isso pode não coincidir com os benefícios
sociais. Pode haver situações em que do ponto de vista privado seria benéfico haver
processo e do ponto de vista social não. (excesso de processos) O contrário pode
acontecer também.

Divergência fundamental entre motivação privada e social


 O custo privado não é o custo social.
o Externalidade negativa é ignorada (custos para terceiros).
 O benefício privado não é o benefício social.
o Externalidade positiva é ignorada (dissuasão e precedentes).

Benefícios privados são os pagamentos que ele o queixoso receba no decorrer do


processo. Isso corresponderá a um custo do acusado, sendo que somando as duas coisas
elas anulam-se (neutralidade do ponto de vista social). O benefício social depende da
externalidade positiva de esse processo ocorrer, ou seja, o benefício social não é o valor
da indemnização que o queixoso recebe, mas sim o facto de se evitar que existam perdas
futuras.

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Análise Económica do Direito

Exemplo:

 Situação de dano porque cai uma árvore em cima do automóvel. Perdas são
10000€ custo é de 3000€. O custo de defesa para o acusado (município) 2000€. A
probabilidade de queda da arvore é de 10% sendo que não há maneira de reduzir esta
probabilidade (não pode haver prevenção).
Benefícios: do ponto de vista privado caso exista a queda da árvore é a
indemnização de 10000€. Os custos privados para o queixoso são o que ele vai pagar ao
advogado e eventualmente outros custos  10000 – 300 = 7000 (valor do processo)
Benefícios sociais: 0.
Custos sociais esperados: aquilo que o município tem de pagar + o que o
queixoso paga = (3000+2000).10%=500
Na decisão de litigar o queixoso não tem em conta esses custos, nem tem em
conta que o valor a receber é neutro do ponto de vista social  Excesso de processos.

 Trata-se de um acidente rodoviário. As perdas são 1000; o custo para o


queixoso é de 3000; para o acusado os custos são 2000. A probabilidade de acidente é
de 10% (com prevenção a probabilidade é de 1%), sendo que tem um custo de 10
(desutilidade de circular mais devagar, deixar passar os peões.).
Há incentivo para que exista este processo de litígio, do ponto de vista da vítima?
Os benefícios são 1000, os custos são 3000  Não compensa iniciar o processo. Como
não há incentivo a que haja processo, não há incentivo a prevenção, já que a vítima não
se queixa. Sem processo  Situação custo social vale (1000*10%)=100.
Se houvesse processo os custos sociais: custos com prevenção e custos sem
prevenção:
Com prevenção: 10+(3000+2000+1000)*1% = 70
Sem prevenção: (1000+3000+2000)*10% = 600
Há então uma vantagem óbvio em existir um processo, o que faz existir um
incentivo a existência de prevenção. Para haver prevenção tem de haver processo que
é a forma de criar um efeito dissuasor. Logo a situação socialmente mais valiosa é haver
processo. No entanto do ponto de vista privado não há incentivo para isso. Há um

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Análise Económica do Direito

desalinhamento entre incentivos privados e sociais, sendo que essa diferença pode ser
substancial.
A existência de seguros de responsabilidade civil limita o efeito dissuasor, já que neste
caso concreto quem acarreta com os custos é a seguradora
Assim sendo o efeito de dissuasão é limitado neste efeito de responsabilidade
civil.

Exemplos de políticas corretivas: politica que o Estado pode ter para alinhar os
incentivos

Más Políticas Corretivas:


 O queixoso paga os custos do Estado: inspirado no princípio do utilizador-
pagador. Quem compra um serviço deve pagar por ele. Isso é uma má política
porque existem externalidades. Se houver excesso de litigação isso pode
melhorar a situação.
 Aumentar a capacidade do sistema: não resolve absolutamente nada no que diz
respeito ao alinhamento de incentivos  Não é pelo facto de existirem mais
juízes ou advogados que os efeitos sociais e privados vão ser mais próximos.

Melhores Políticas Corretivas


 Alinhar os benefícios sociais e privados:
o Valor das compensações: se para além de incluírem os valores das perdas
incluírem também os custos litigação.
o Regras de responsabilidade civil (decoupling liability): podemos ter um
sistema em que há uma responsabilidade desemparelhada  O valor que o
acusado paga não é igual ao que o queixoso recebe. Valor pode ser igual ao
da indemnização adicionado pelos custos de litigação, só que esse valor não
é recebido pelo queixoso, sendo que essa diferença pode ir para o Estado. O
objetivo é aumentar o incentivo para que haja prevenção, ou seja, o efeito
dissuasor.
 Alinhar os custos sociais e privados:
o Fee-shifting: quem perde paga o custo de quem ganha. Se o queixoso tiver
grande probabilidade de ganhar isso ajuda a que haja mais processos 
Desalinhamento, já que as vítimas que têm bons casos têm incentivo a

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recorrer ao sistema. Eficaz no caso em que há menos litigação do que o


ótimo.
o Alternativa: sistema americano em que cada um paga os seus custos. Isso
não alinha coisa nenhuma, pois essa ideia faz em que alguns casos não haja
processo quando isso seria o desejável.

Divergência Fundamental entre a Motivação Privada e Social


 Na decisão de litigar
 Na decisão de chegar a um acordo extrajudicial: Não havendo acordo há julgamento.
Não havendo julgamento o acusado e o queixoso teriam de ter alguma expetativa
do que iria acontecer no julgamento.
Queixoso: indemnização: 100000  probabilidade de 70%
Custos: 20000
O valor esperado de ir a julgamento: 100000*70%-20000 = 50000  mínimo que ele
está disposto a receber.
Acusado: acha que paga a indemnização com 50% de probabilidade, mas
não quer correr riscos, logo está disposto a negociar com o queixoso.
Custos: 25000
Valor esperado do julgamento: 10000*50%+25000 = 75000 (custo)  Máximo que o
acusado está disposto a pagar no acordo extrajudicial.
A estimativa que o queixoso faz dos seus ganhos é inferior à estimativa
que o acusado faz daquilo que tem de pagar mais os custos totais de recorrer ao sistema.
100000*70%-20000≤10000*50%+25000
Expetativa de indemnização do queixoso (100000*70%) é menos do que
a expetativa de pagamento pelo acusado mais custos judiciais
(100000*50%+25000+20000). Há margem para um acordo extrajudicial.
O facto de existirem custos judiciais mais baixos pode impedir a
existência de acordos mutuamente vantajosos.
 Na decisão de quanto despender no processo judicial.

Acordos extrajudiciais
Aspetos a ter em conta na decisão de não chegar a um acordo extrajudicial:

 Informação assimétrica;

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 Racionalidade limitada;
 Interesses do advogado: se houver uma grande probabilidade de o acusado ser
culpado este tem interesse em não ir a julgamento;
 Custos relativamente diminutos;

Acordo Extrajudicial e Julgamento


 Acordo Extrajudicial
o Poupa custos a todos, incluindo Estado;
o Redução da incerteza;
 Problemas com os Acordos Extrajudiciais
o Dissuasão reduzida;
o Segredo:
 Menos precedente
 Mais incerteza jurídica. Para além disso, por se passar na esfera
privada, o resultado vai depender muito da capacidade negocial das
partes.
 Aconselhamento e Gastos no Processo: gastos que as partes fazes para tentarem
influenciar as decisões do tribunal a seu favor (gastos em pareceres técnicos, por
exemplo). Em situações em que é necessário informação especializada pode haver
despesas nesse sentido, não melhorando a estrutura informativa do tribunal, dado
que as informações são normalmente contraditórias.
 Efeito substituição;
 Não melhora a estrutura informativa do tribunal;
 Aconselhamento jurídico:
o Tem valor social se aumenta a conformidade do comportamento com a lei
o Tem um valor social negativo se:
 Diminuí a probabilidade de castigo;
 Aumenta legal avoidance;

ESTATÍSTICAS DA JUSTIÇA
Papel dos advogados
Estão do lado da procura, representando os seus constituintes que recorrem ao sistema.
Tanto o queixoso como o acusado podem estar representados por um advogado. Mas

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estes têm objetivos diferentes. O queixoso visa obter compensação pelo dano que
sofreu, o maior possível, mas o objetivo do advogado prende-se apenas com os
honorários que recebe. Pode, assim, haver um conflito de interesses.

 Incentivos:
o Diferentes consoante o tipo de honorário que recebe:
o Incentivos a passar para a fase seguinte dependem do conselho dos
advogados.
o Incentivo a litigar: retribuição de quem se queixa - neutro do ponto de vista
social.
o Opção (ou não) pelo acordo extrajudicial: se o advogado recebe à hora,
interessa que o processo se prolongue no tempo. Desincentivos aos
advogados de fazerem com que os processos se despachem depressa. Se a
retribuição for contingente vai acontecer precisamente o contrário,
resolvendo-se processos rapidamente e com grande vantagem para o
cliente.
 Retribuição horária vs. Retribuição contingente: O advogado pode cobrar à hora- (é
o que acontece quando há consultas de aconselhamento) A sua retribuição não
depende dos resultados do processo (custo/beneficio do ponto de vista social) –
haverá tendência para, do ponto de vista social, haver um número de processos
excessivo. (mais do que aqueles em que o benefício social é superior ao custo social)
Este efeito seria amenizado se a remuneração fosse contingente. Receberia em
proporção do benefício que o seu constituinte ia ter no processo
o Pagamentos por avença: advogado estima o tempo que vai demorar com
aquele processo, jogando com os honorários que visa obter. Tem por base a
retribuição honorária.
o A retribuição contingente tem a vantagem de aproximar os incentivos do
advogado e do constituinte.
 Em Portugal, a retribuição contingente não é permitida. A retribuição
contingente é definida pelo resultado obtido no processo.
 Organização do mercado: Autorregulação do mercado. Incentivo da retribuição
horária de fazer arrastar o processo faz perder clientes. A reputação entra em jogo.

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A retribuição horária acaba por não criar um obstáculo a que os processos de


resolvam rapidamente tão grande como à partida se poderia pensar.

Conclusão: os resultados pela opção por uma forma de remuneração ou outra não é
assim tão grande.

 Limitações: Barreiras à entrada no mercado: nem toda a gente pode ser advogado.
O facto de haver barreiras à entrada faz com que os honorários sejam maiores.
 Para além da defesa, o aconselhamento é um dos papéis preponderantes do
advogado:
o Aconselhamento “ex post”: depois do ato ser cometido. Do ponto de vista
social tem um valor negativo.
o Aconselhamento “ex ante”: condiciona comportamentos. Acontece antes do
ato. Constituinte informa-se quanto a possibilidade de o praticar o ato e em
que circunstâncias o pode fazer e quais as consequências. Tentativa de
contornar a lei.

DIFERENÇAS ENTRE COMMON LAW E CIVIL LAW


Sistema de Common law: Compilação das práticas comuns, acumuladas ao longo
do tempo, que vão formando precedentes segundo os quais novos caso idênticos devem
ser resolvidos. (USA; UK).

No sistema romano-germânico, o juiz tem um papel inquiridor, ou seja, o seu


papel é apurar, inquirir até que a verdade se apure e depois decidir. Sendo que a decisão
está limitada pelas normas. Em termos de liberdade de ação, o juiz do sistema romano-
germânico não tem muita liberdade, tem menos margem de ação.

No sistema anglo-saxónico, o juiz é ouvinte. Os advogados das partes


apresentam o caso, através do diálogo entre advogados e inquisição de testemunhas, o
juiz decide com base no que ouviu. A decisão só tem de respeitar o precedente. Decidir
da mesma forma casos semelhantes. Apesar de haver normas gerais de procedimento,
os juízes de países de sistemas anglo-saxónicos têm mais liberdade. Decidem consoante
as regras de bom senso e o seu conceito de justiça. É maior a sua independência.

Assim, em termos de reputação e poder social, o juiz do sistema do Common law


sente que esses elementos são muito mais importantes, em comparação com os juízes

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de sistemas romano germânico que tem pouca autonomia, o que faz com que o seu
poder social e reputação sejam muito menores. Isto faz com que o seu incentivo para
despachar processos seja menor no sistema romano-germânico. No que diz respeito ao
desempenho dos juízes, o sistema do Common law é melhor.

O problema dos incentivos não se resolve aumentando a capacidade do sistema


(aumento dos juízes):

 Isso levaria a um aumento dos custos diretos


 Mais custos de qualidade (mais erros, mais recursos)
 Custos individuais - diminuição da reputação marginal  Menos
produtividade.

ESTATÍSTICAS
Capacidade do sistema
Nos últimos dez anos verifica-se uma tendência de crescimento notória do número de
advogados. Segue-se uma diminuição, reflexo da crise (redução de numero de
advogados inscritos)

Pessoal ao Serviço

Pessoas que trabalham em serviços dependentes do Ministério da Justiça – decréscimo


do pessoal ao serviço: reflexo da diminuição do número de funcionários públicos.
Pessoas que se vão reformando e vão saindo não são substituídas.

 Isto em nada contribui para que haja uma maior rapidez no despacho de processos.
 Mas também já vimos que não é com o aumento de capacidade do sistema que se
alinham incentivos.

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Análise Económica do Direito

Processos pendentes

Proporção de processos pendentes em cada área.

 Na justiça cível, o número de processos pendentes tem aumentado. Tem aumentado


por causa das ações executivas.
o Número de processos entrados tem-se vindo a manter. O problema é que
entram e não saem.
o Número de processo terminados: também não há grandes alterações, apesar
de nos processo cíveis ter vindo a aumentar. Reflexo da tentativa de resolver
o problema da morosidade do nosso direito.
o Taxa de Eficiência = findos/(entrados+pendentes)
Proporção dos que são terminados em relação aos que são novos e
pendentes
 Número de pendentes vai aumentando: efeito bola de neve

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Análise Económica do Direito

 A área mais eficiente á a justiça pena


o Taxa de Resolução = findos/entrados
 Esforço considerável da justiça cível para resolver pendências.
 Processos de falência: em média 45 meses (4 anos)
Atualmente, demora dois meses. Campo onde se ganhou mais
eficiência e onde as coisas agora se despacham mais depressa.
Centros de Arbitragem

Sem grandes diferenças. Proporção muito pequena comparando com os


processos que vão a julgamento. Mas isto não é mau porque há poucos centros de
arbitragem. Em Portugal, a resolução alternativa de conflitos existe, mas não tem grande
expressão.

DIREITO COMPARADO
Nos últimos 15 anos têm-se feito estudos de efeitos das origens históricas do
direito a nível do desempenho das economias. As diferentes características dos sistemas
geram diferentes efeitos a nível económico.
Common law
 Direito emanado da Jurisprudência.
 Precedente tem carácter vinculativo
 Existem também corpos de normas, mas são apenas normas gerais de
enquadramento
 Sistema pensado para resolver disputas (DAMASKA)

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Análise Económica do Direito

 Support for unconditioned private contracting: apoio para relações contratuais


sem qualquer tipo de condicionamento (PISTOR).

Sistema Romano-germânico:
 É uma evolução do código napoleónico do princípio do século XIX, que tirou poder
aos juízes, criando um corpo legislativo extremamente rígido baseado no Direito
romano, limitando-se os juízes a aplicar esse corpo rígido com uma margem de
atuação reduzidíssima.
 Sistema implementador de legislação. (DAMASKA)
 Consiste basicamente num sistema condicionante do sistema social para que todo o
tipo de relações privadas são condicionadas por um corpo legal muito forte (PISTOR).

Assim, se pensarmos no sistema judicial como um organismo vivo que vai


evoluindo, é fácil perceber que o sistema anglo-saxónico é muito mais dinâmico que o
romano-germânico:
 Este último é muito mais plástico, completamente descentralizado, que se
adapta através das decisões de juízes. (quando não há precedente decidem
com base no bom senso)
 O sistema anglo-saxónico é por isso mais eficiente. (em termos de eficiência
económica) Está mais perto das necessidades dos agentes económicos.
 O sistema romano-germânico só muda quando os órgãos competentes
legislam.
o Frequentemente as leis são criadas para proteger certos grupos de
interesse; pressão de grupos de interesse sobre a atividade
legislativa. Este é outro aspeto negativo do sistema romano-
germânico.

Rubin (1977) – se o sistema de norma vigente for eficiente, os agentes económicos


acataram as normas e não haverá tantos litígios.
Quanto mais eficiente for o sistema, menor é a quantidade de litígio.
O sistema legal evolui porque as pessoas recorrem aos tribunais. O facto de a
legislação evoluir acaba por criar precedente (efeito dissuasor de comportamentos que

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não são eficientes), o que leva a um aumento da eficiência, que leva à redução da
litigação – ciclo virtuoso que comprova a maior a eficiência do sistema anglo-saxónico
Common law: UK, US, Austrália, Irlanda, Israel, Tailândia, Índia
Civil law:
Origem francesa: frança, Itália, Portugal, Espanha
Origem alemã: Áustria, holanda, Japão
Origem escandinava
Outros sistemas:
Islâmico; socialista; misto.

CONCEITO IMPORTANTES E DEBATE TEÓRICO


(debate sobre a eficiência do sistema - Hayek, Posner)
Definições de direito comparado:
Modos de expansão de sistemas: expansão, harmonização, origem, transplante
DIFERENÇAS ENTRE O COMMON LAW E CIVIL LAW
Evolução histórica
 Sistema anglo-saxónico dá um nível de proteção superior aos indivíduos (maior
proteção dos direitos individuais), nomeadamente agentes económicos, quanto
mais não seja pela rápida resolução de conflitos.
 Já nos sistemas de Civil law há uma maior centralização do poder do Estado.
Decisões com base no direito estatutário.

Características
RESULTADOS PRÁTICOS – EVIDÊNCIA EMPÍRICA
 Artigo La Porta: primeiro artigo a ser publicado que visa mostrar que o sistema
anglo-saxónico é mais eficiente em termos de mercados financeiros.
 Os estudos têm-se espalhado a outras áreas da economia.
o Mercados financeiros (Law and Finance)
o Regulação do Mercado de Trabalho/Barreiras ao livre funcionamento
o Financiamento externo das empresas
o Contract repudiation
o Organização e administração dos tribunais

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 As economias dos sistemas anglo-saxónicos crescem mais depressa que as


economias de países do Civil law – conclusão de Mahoney – Common law gera
mais crescimento que o Civil law.
 Em termos de eficiência, origem francesa é pior.

Conclusão: Sempre que se comparam os países romano-germânicos com os países


anglo-saxónicos, os últimos tem sempre um desempenho superior em todas as
variáveis.

ANÁLISE CRITICA À ANÁLISE ECONÓMICA DO DIREITO


Todas as conclusões que tiramos durante o semestre estão baseadas em
hipótese que podem ser criticáveis.
Em todas essas hipóteses assumimos que os indivíduos são racionais e regulam
as suas condutas com base numa previsão do futuro (pensar nas consequências antes
de decidir). Mas o que é certo é que a maioria das nossas decisões são feitas sem
ponderarmos as consequências. Mas é essencial partir do princípio de racionalidade,
sob pena de o objeto de estudo se tornar impossivelmente complexo.

 A bem da objetividade da análise, nunca considerámos conceitos de justiça e


equidade, moral e ética. Se tivéssemos considerado estes conceitos é provável que
as conclusões tivessem sido diferentes, mas ao mesmo tempo não teríamos um
quadro geral.
 Outra questão que tivemos sempre implícita é que o direito não deve ter
preocupações redistributivas, o sistema fiscal é que tem uma função redistributiva.
Este conceito esta relacionado com a equidade (os ricos pagam mais). O sistema
fiscal chega a todos, é possível fazer a distinção clara entre os que têm muito e os
que têm pouco.
o Multas não estão relacionadas com o rendimento das pessoas, logo não é
redistributivo.
 A ideia de que é o direito que garante o bom funcionamento dos mercados e do
crescimento económico também é criticável.

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