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Direito Comercial I

Prof. Dr. Menezes Leitão


Ano letivo 2016/2017
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Índice
Índice ............................................................................................................................................. 2
Introdução ..................................................................................................................................... 5
Fontes de Direito Comercial ......................................................................................................... 6
Fontes externas .......................................................................................................................... 6
Fontes internas .......................................................................................................................... 6
Atos de comércio........................................................................................................................... 7
Atos de comércio....................................................................................................................... 7
Atos comerciais objetivos ..................................................................................................... 8
Atos comerciais subjetivos .................................................................................................. 10
Atos de comércio autónomos .............................................................................................. 11
Atos de comércio acessórios ............................................................................................... 11
Atos formalmente comerciais.............................................................................................. 11
Atos bilateralmente comerciais ........................................................................................... 11
Atos unilateralmente comerciais ......................................................................................... 11
Atos abstratos ou causal ...................................................................................................... 11
Comerciantes ............................................................................................................................... 12
Quem é comerciante? .............................................................................................................. 13
1-Pessoas singulares ............................................................................................................ 13
2-Pessoas coletivas .............................................................................................................. 14
3-Sujeitos de qualificação duvidosa .................................................................................... 15
Estatuto dos comerciantes ....................................................................................................... 17
Firmas e denominações ....................................................................................................... 17
Escrituração e prestação de contas ...................................................................................... 20
Empresas ..................................................................................................................................... 21
Juridicamente: ......................................................................................................................... 22
Subjetivo: ............................................................................................................................ 22
Objetivo: .............................................................................................................................. 22
O estabelecimento ............................................................................................................... 23
Sinais distintivos de empresas e produtos ............................................................................... 26
1-Logótipos ......................................................................................................................... 26
2-Marcas.................................................................................................................................. 28
3-Denominações de origem e indicações geográficas ......................................................... 30
4-Recompensas.................................................................................................................... 31
Insolvência .................................................................................................................................. 32
Critérios para definir a situação de insolvência: ..................................................................... 33
Sujeitos Passivos da Declaração de Insolvência ..................................................................... 35
Regimes especiais: .............................................................................................................. 37
Requisitos da petição inicial .................................................................................................... 38

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Desistência do pedido ou da instância..................................................................................... 38


Massa insolvente ..................................................................................................................... 38
Classificação dos créditos ....................................................................................................... 40
As dividas da massa insolvente ........................................................................................... 40
Créditos sobre a insolvência ................................................................................................ 41
Órgãos da insolvência ............................................................................................................. 44
Administrador da insolvência.............................................................................................. 44
Comissão de credores .......................................................................................................... 46
Assembleia de Credores .......................................................................................................... 48
Competência ........................................................................................................................ 48
Pedido de declaração de insolvência ....................................................................................... 49
Legitimidade ....................................................................................................................... 49
Sentença de declaração de insolvência e seus efeitos ............................................................. 50
Resolução em beneficio da massa insolvente.......................................................................... 57
Exclusão da resolução ......................................................................................................... 58
Legitimidade ativa e passiva para o exercício do direito .................................................... 58
Forma de exercício do direito.............................................................................................. 59
Prazo para o exercício do direito de resolução .................................................................... 59
Efeitos da resolução ............................................................................................................ 60
Verificação De Créditos .......................................................................................................... 61
Reclamação de créditos ....................................................................................................... 61
Apreciação pelo administrador da insolvência .................................................................... 62
Restituição e Separação de Bens ............................................................................................. 63
Liquidação da Massa Insolvente ............................................................................................. 64
Incidente de qualificação da Insolvência................................................................................. 67
Pressupostos da qualificação ............................................................................................... 67
Plano de Insolvência ............................................................................................................... 68
Legitimidade para ser objeto do plano ................................................................................ 68
Homologação ...................................................................................................................... 70
Administração pelo devedor.................................................................................................... 71
SIREVE ................................................................................................................................... 71
Os PER’s – Processo Especial de Revitalização ..................................................................... 73
Diferenças entre o SIREVE e o PER................................................................................... 75
Regime Especial da Insolvência de Pessoas Singulares .......................................................... 75
Processo de insolvência........................................................................................................... 83
Insolvência – art.3º .............................................................................................................. 83
A responsabilidade do requerente da insolvência ............................................................... 84
Introdução ................................................................................................................................... 86
Princípios comerciais materiais ............................................................................................... 86

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Regime especial das obrigações comerciais............................................................................ 86


Contratos mistos ...................................................................................................................... 86
Contratação Comercial ................................................................................................................ 89
Culpa in contrahendo .............................................................................................................. 89
Negócios preliminares ............................................................................................................. 89
Contratação mitigada .............................................................................................................. 89
Comércio à distância- Comércio eletrónico ............................................................................ 91
Contratação por computador ............................................................................................... 91
Contratos à distância e fora do estabelecimento ..................................................................... 91
Títulos de crédito......................................................................................................................... 94
Formas básicas de transmissibilidade: ................................................................................ 95
Contratos especiais de comércio ................................................................................................. 96
Os contratos relativos à transmissão ou à disponibilização de bens: .......................................... 97
Contrato de compra e venda ........................................................................................................ 97
Modalidades de compra e venda ............................................................................................. 97
Contrato de escambo ou troca ..................................................................................................... 98
Locação ....................................................................................................................................... 99
Empréstimo ................................................................................................................................. 99
Reporte ........................................................................................................................................ 99
Função e natureza .................................................................................................................. 100
Direitos acessórios: ........................................................................................................... 102
Negócios referentes ao estabelecimento.................................................................................... 103
(A cessão da exploração) – NÃO EXISTE HOJE ................................................................ 103
Trespasse ............................................................................................................................... 104
Locação ................................................................................................................................. 106
Penhor de estabelecimento comercial ................................................................................... 107
Os contratos de intermediação .................................................................................................. 108
Mandato..................................................................................................................................... 108
Mediação ................................................................................................................................... 110
Características e natureza ...................................................................................................... 111
Dogmática Geral da Mediação .............................................................................................. 111
Mediação civil e mediação comercial ............................................................................... 112
Mediação típica ou atípica................................................................................................. 113
Figuras afins ...................................................................................................................... 113
Natureza e Regime da mediação ........................................................................................... 114
Os contratos de distribuição ...................................................................................................... 117
Agência ..................................................................................................................................... 117
Regime legal.......................................................................................................................... 117
Posição das partes.............................................................................................................. 118

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Proteção de terceiros ......................................................................................................... 119


Cessação ............................................................................................................................ 119
Indemnização de clientela ................................................................................................. 119
Concessão.................................................................................................................................. 120
Figuras afins .......................................................................................................................... 120
Regime: ................................................................................................................................. 120
Franquia (Franchising) .............................................................................................................. 122
Modalidades .......................................................................................................................... 122
Posição das partes.............................................................................................................. 122
Cessação ................................................................................................................................ 123
Problemas de concorrência.................................................................................................... 124
Os contratos de cooperação empresarial ................................................................................... 125
Consórcio .................................................................................................................................. 125

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Introdução
Regula
B2B: relações entre empresas
C2C: relações entre consumidores – direito das obrigações
B2C: relação entre empresas e consumidores – direito do consumo

Em Portugal não é perfeita:


1- O direito do consumo está obliterado
2- Direito comercial que não têm uma contraposição no âmbito entre empresas. Há matérias
do direito civil com cariz comercial, de direito comercial que têm que ser reguladas pelo
Direito das Obrigações e ainda as que são mistas.

Direito dos comerciantes


Com a abolição do estatuto da revolução francesa.

Direito privado especial – que se baseia nos vetores de igualdade e da liberdade. Mas autónomo.
Para ser totalmente autónomo:
1- De legislação – para além do CC
2- De jurisdição – que não se aplique os tribunais comuns
3- Do processo – direito processual próprio

Já foi mais autónomo do que é.


- A legislação mantem-se apesar de haver uma referencia ao direito civil
- Mas a jurisdição houve alguma que foi no tribunal comum.
- O processo praticamente desapareceu, exceto o processo de insolvência

A forma como o direito cpmerciaç é autonomizado


Surge como o direito dos comerciantes. A ideia de tratar o direito comercial em sentido
objetivo.
Objetivo: atividade comercial
Subjetivo: dos comerciantes
Âmbito da lei comercial:
Rege todas as relações comerciais. Art.2ºCC – o que são atos de comercio.
Os atos de comercio: objetivos – os que são tratados pelo código.
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Fontes de Direito Comercial

Fontes externas Fontes internas


- Convenções internacionais – art.8º/2CRP - Leis
- Regulamentos e Diretivas da Comunidade - Regulamentos
Europeia – art.8º/3 CRP e art.288º TFUE - Art.61º, 81º/f), 82º, 86º, 100º e 293º CRP

Também a jurisprudência e a doutrina são fontes de direito comercial…


…a jurisprudência na medida em que participam na criação ou constituição de um direito,
integram lacunas, e retira-se destas decisões normas, princípios normativos, …
…a doutrina

Atos de comércio

Atos de comércio
Durante muito tempo foram os litígios relativos aos atos mercantis julgados por tribunais
comerciais e segundo regras processuais próprias. Hoje já não é assim.
Em regra,
Nas obrigações comerciais:
֎ os coobrigados são solidários – art.100ºCCom
֎ as dividas dos comerciantes casados derivadas de atos mercantis presumem-se
contraídas no exercício dos respetivos comércios – art.15ºCCom
֎ o art.102ºCCom em relação aos juros comerciais

O que é um ato de comércio?


Art. 2º CCom – delimita a ideia de atos de comércio como sendo aqueles regulados pelo
CCom, tal como todos os contratos e obrigações que não sejam exclusivamente civis, se o
contrário do ato não resultar.
No entanto, esta definição não chega, sendo necessário recorrer a três critérios:
1- finalidade especulativa: é comercial o ato praticado com escopo lucrativo
2- interposição nas trocas ou na circulação das riquezas
3- existência de uma empresa: a empresa pressupõe atos de mercado contínuos e não
esporádicos
Na sua grande maioria dos atos comerciais são contratos.

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No entanto,
Podem ser atos unilaterais:
negócios cambiários
negócios constituintes de sociedades comerciais unipessoais
NOTA: alguns simples atos jurídicos também podem ser atos comerciais: interpelações e avisos
(art.483ºCCom). para além de alguns ilícitos que vêm regulados na lei comercial
Coutinho de Abreu: defende que os simples factos jurídicos, como é o caso da prescrição, não
podem ser qualificados como atos comerciais

Atos comerciais objetivos


São aqueles que respeitam à 1ª parte do art.2ºCCom.
❖ ou seja, são aqueles que vêm regulados no CCom, como também em leis
comerciais.
Quais são as leis comerciais?
➢ A lei substitui normas do CCom – parece, no entanto, que existem leis que, apesar de
substitutas de normas do CCom
➢ A lei auto qualifica-se como comercial ou qualifica atos como comerciais
➢ Ou nenhuma das hipóteses acima – aplicar por analogia

Qualificação de atos de comércio por analogia


Será que a enumeração implícita dos atos de comércio no art.2º/1CCom é taxativa ou
exemplificativa?
Guilherme Moreira e Pupo Correia: recusa esta ideia:
1- Letra da lei – alem dos atos subjetivos de comércio, apenas permitiria como atos
comerciais os especialmente regulados em lei mercantil
2- Razão histórica:
3- Certeza e segurança jurídica: seria contra estas admitir a analogia de qualificação de
ato comercial
Menezes Cordeiro: admite a analogia a qualificação não é causal do regime, mas sim advém deste:
1- Verificar se o seu regime é comercial e especial
2- Perante um ato lacunoso é preciso averiguar qual o regime
Coutinho de Abreu: admite a analogia tendo em conta que – a letra do art.2º não é concludente;
está permitida uma conceção subjetivista-histórica e visto que a certeza e segurança jurídica
deixou de pesar.

Analogia legis ou analogia iuris?


o Não há grande duvida em relação à analogia legis

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o Em relação à analogia iuris: como o conceito unitário de ato comercial é irreal a nível
objetivo, leva a que determinados autores recusem a ideia desta analogia. Porém o autor
aceita:
▪ O artigo 230º CCom: refere os construtores de casas, não fazendo sentido não se
aplicar aos construtores de edifícios – analogia
▪ Locação financeira: é um contrato em que se associam essencialmente
prestações próprias de compra e venda e da locação:
• A compra de coisas moveis:
o feita pelo locador financeiro para as alugar: ato comercial
o Venda da coisa: ato comercial
o Aluguer das coisas: comercial
• A compra de coisas imóveis:
o Extensão analógica do art.481º CCom ao leasing – ato comercial
objetivo
Através de uma interpretação extensiva: empresas fornecedoras de água e de eletricidade;
empresas de publicidade, informações comerciais, de tratamentos de beleza, lavandarias, …
▪ Em relação às empresas de fornecimento: foram consideradas pelo legislador
devido ao risco de aumento ou diminuição dos preços no intervalo de tempo
entre a compra e o fornecimento
• O contrato de fornecimento de géneros se traduzem no exercício de uma
atividade económica desenvolvida dentro do condicionalismo:
o Quando os empresários não se obrigam a sucessivas prestações, parece
que essas empresas não se enquadram na ideia de empresa comercial
Art.230ºCC
José Tavares: as “empresas” previstas neste artigo são na realidade referencia aos
comerciantes, sendo que as empresas serão as pessoas coletivas ou singulares que se propusessem
a realizar as atividades previstas no artigo.
Guilherme Moreira e Oliveira Ascensão: as empresas não são mais que séries ou
complexos de atos comerciais (objetivos)
Coutinho de Abreu: as empresas seriam conjuntos ou séries de atos objetivamente
comerciais enquadrados organizatoriamente (n o âmbito de organizações de meios pessoais e/ou
reais) – sendo então normalmente comerciantes as pessoas singulares e coletivas (no sentido da
quantidade de pessoas, o CCom era de 1888) que exerçam tais empresas:
֎ Os atos objetivos serão então os que estão previstos no artigo 230º – art.2º,
1ª parte
֎ Os restantes serão subjetivamente comerciais – art.2º, 2ª parte
֎ No art.230º haveriam parágrafos:

Então e as empresas de prestação de serviços que não têm fornecimento periódico?


Não podem ser empresas comerciais por recurso à analogia legis, mas já o poderão ser
por analogia iuris.
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Coutinho de Abreu: parece haver um principio geral de direito comercial que identifica como
regra geral a ideia que as empresas de serviço são comerciais:
- Razão para, por analogia iuris, os colégios privados serem empresas comerciais

Se o trespasse e a locação são negócios objetivos por


estarem regulados, pela analogia iuris, os negócios
sobre empresas comerciais são atos objetivamente
comerciais.
CONCLUSÃO: os atos (jurídicos e voluntários) previsto em lei comercial ou análogos

Atos comerciais subjetivos


1- Nem todas as obrigações dos comerciantes derivam de atos mercantis por eles praticados:
a. art.18ºCCom
b. obrigação de indemnizar decorrente da responsabilidade civil objetiva da relação
comerciante-comissário – art.500º CC
c. art.15ºCCom
2- não podem ser de natureza exclusivamente civil:
a. a doação?
i. Menezes Cordeiro e Oliveira Ascensão – não são atos subjetivamente
comerciais
ii. Barbosa de Magalhães e Coutinho de Abreu: são atos subjetivamente
comerciais, porque são atos promotores do exercício do comércio (por
ex: doações feitas pelos comerciantes com fins reclamísticos)
b. Rendas perpétuas e vitalícias?
i. Coutinho de Abreu: também são atos subjetivamente comerciais
c. Responsabilidade civil?
i. Coutinho de Abreu: como associada à atividade comercial, também é um
ato subjetivamente comercial
3- Se o contrário do próprio ato não resultar
a. Se do próprio ato resulta a ligação com o comércio, o ato é comercial – ex:
compra furgoneta para o transporte das mercearias
b. Se do próprio não resulta a não ligação, o ato é comercial – ex: o merceeiro
compra a furgoneta e não declara para quê que é
c. Se do próprio ato resulta a não ligação, o ato não é comercial – compra a
furgoneta e declara que é caravana para férias
NOTA: Os contratos comerciais podem ser mistos: para uma das partes é um contrato comercial
e para a outra não é.
E qual é o regime nesse caso?
Aplica-se a lei comercial, exceto nas partes em que ela for exclusiva dos
comerciantes – art.99º e 18ºCCom.

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Porquê que é assim?


Em direito comercial todo o tratamento é em favor do credor,
visto ser mais maléfico ficar a dever ao comerciante. Se o comerciante
ficar sem receber, entra em insolvência, deixa de pagar aos seus
fornecedores,… cria-se um efeito bola de neve deixando de haver
dinheiro a circular – crise.
Objetivamente complexos – são atos que são essenciais para o ato principal

CONCLUSÃO: os atos dos comerciantes conexionáveis com o comércio em geral e de que não
resulte não estarem conexionados com o comércio dos seus sujeitos

Atos de comércio autónomos


Ou absolutos ou por natureza
São aqueles qualificados como mercantis por si mesmos, independentemente de ligação
a outros atos ou atividades mercantis.
NOTA: o empréstimo bancário é um ato comercial autónomo

Atos de comércio acessórios


Os que devem a sua comercialidade ao facto de se ligarem ou conexionarem a atos
mercantis.
Ex: fiança, mandato, empréstimo, o penhor,…
NOTA: tanto podem ser acessórios de atos de comércio objetivos e autónomos, como de atos
objetivos e acessórios ou até de subjetivamente comerciais.

E será possível qualificar como comerciais atos não comerciais acessórios de atos objetivamente
comerciais?
Cunha Gonçalves e Coutinho de Abreu: defende que se possa qualificar segundo a teoria
do acessórios, pois todo o ato de um não comerciante efetivamente conexionado com ato
objetivamente comercial é um ato de comércio
Coutinho de Abreu: no entanto, não será possível encarar como um principio
geral que permita que a diversidade de atos de não comerciantes ligados ao comércio
Pupo Correia e Oliveira Ascensão: defendem que não, visto não ser possível a analogia

Atos formalmente comerciais


São os esquemas negociais que, utilizáveis quer para a realização de operações mercantis,
quer para a realização de operações económicas que não são atos nem se inserem na atividade
comercial

Atos bilateralmente comerciais


Em relação a ambas as partes
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Atos unilateralmente comerciais


Em relação a apenas uma das partes – art.99ºCCom
Artesões: não são solidários em relação à entrega das peças – não é comércio

Atos abstratos ou causal


Ambos têm uma causa, uma razão de existir

Ato causal: a razão de ser do negócio, a relação subjacente ao negócio poder ou não ser
invocada para efeitos de justificação do agir jurídico. Podem ser invocados factos que venham a
por em questão em crise a validade ou eficácia, ou o cumprimento ou incumprimento do negócio

Ato abstrato: para serem exercidas as obrigações e direitos, não é necessário invocar a causa
de pedir. Ao ser exercido direito e obrigações emergentes de um determinado ato jurídico, se
veda, regra geral, a invocação da causa/ factos subjacentes para efeitos de por em questão a
validade/ eficácia do ato, o cumprimento ou incumprimento do mesmo (vícios e vicissitudes).
Ex: são atos comerciais objetivos, lei própria
Letra – carta de letra/ letrera, criada pela banca. Andavam com as moedas o que havia o problema
do limite possível de trocas e a insegurança, oposição aparece a letra (papel), com a garantia do
banqueiro no banco que o comerciante tinha dinheiro, com uma ordem de pagamento ao
banqueiro do outro comerciante. Não havendo disponibilidade de moeda, haveria um papel que
permitia que o dinheiro continuasse a circular. Passa a ser um direito de crédito que se autonomiza
da relação causal que deu origem à relação do título. A ordem de pagamento é feita à ordem do
sacador, pelo sacado (devedor) - saque
Livrança – é uma promessa de pagamento, é um documento que titula uma garantia pessoal,
suporte de empréstimos. O próprio bem não oferece garantia, ao contrário do que acontece com
as casas. Como os empréstimos demoram muito tempo a serem ressarcidos e o bem não oferece
garantia suficiente, então pede uma garantia – para que o banco possa “agredir” o património do
devedor para soldar a divida
Cheques – a ordem de pagamento é feita ao banco em relação aos fundos da conta. O sacado é
sempre um banco, o sacador é o cliente desse banco e o beneficiário pode ser qualquer pessoa.
Podendo ser a própria pessoa o beneficiário.

O comércio precisa: confiança + segurança


São títulos executivos – apreensão de bens do devedor satisfazer o crédito do credor. Acionadas
permitem ao comerciante apreender judicialmente bens do devedor para satisfação do seu crédito

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Comerciantes
Os sujeitos dos atos de comércio e das relações jurídico-mercantis podem ser
comerciantes e não-comerciantes
Os sujeitos que com capacidade civil de exercício possuem igualmente capacidade comercial de
exercício, podem praticar atos de comércio – art.7º CCom
Os comerciantes têm um estatuto próprio:
a- São considerados subjetivamente comerciais – art.2º, 2ª parte CCom
b- As dividas do comerciante cônjuge são encaradas como contraídas no exercício, sendo
tanto do comerciante como do cônjuge
c- A prova de determinados factos é facilitada – art.396º
d- Prescrevem no prazo de 2 anos – art.317ºCC
e- Estão obrigados a adotar uma firma – art18º CCom

O art.13º/1:
1- Tem de ser pessoa
a. Singular
b. Coletiva
2- Tem de ter capacidade
a. De exercício
b. De gozo
3- Atos de comércio objetivos –art2º, 1ª parte e art.230º
4- Profissionalmente:
a. Prática reiterada
b. Prática lucrativa
c. Prática tendencialmente exclusiva
d. Juridicamente autónoma
Mas as pessoas coletivas não praticam uma profissão – a profissão não tem de ser
obrigatoriamente uma atividade de uma pessoa física, podendo ser uma atividade de uma pessoa
jurídica (art.14º/1CCom)
Art.230º+464º para ver se é ato de comércio.

Porque que a agricultura e a pecuária não são comerciantes?


Na altura do CCom, estes setores eram autossuficientes, ou seja, não eram a nível
industrial.

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O modo de operar, já seria um modo de organização empresarial. A fábrica já implica um


conjunto organizado de trabalhadores,… completamente distinta do que acontecia com o
artesanato.
Distinção entre as formas de empresa e as formas não empresariais

Quem é comerciante?
1- Pessoas singulares
Art.13º/1CCom.
Tem de ter capacidade:
֎ Jurídica (gozo)?
֎ Exercício dos direitos?

Em que casos é que há inibição do exercício da atividade mercantil?


Insolventes e seus administradores – art.2º CIRE

2- Pessoas coletivas
a- Sociedades comerciais – art.13º/2CCom + art.1ºCSC
Em princípio adquirem a qualidade de comerciantes no momento em que têm personalidade
jurídica

Se tiverem objeto comercial e


A profissão, ou seja, atividade, for maioritariamente comercial;
A intenção lucrativa, poderá não estar ligada à ideia de profissão em relação às entidades
referidas abaixo
Fazendo uma interpretação objetivo-atualista do art.13ºCCom, também serão comerciantes:
b- EPE – entidades publicas empresariais
As obrigações do art.18ºCCom valem para este tipo de pessoa coletiva
c- ACE – agrupamentos complementares de empresas
São pessoas coletivas sem escopo lucrativo
d- AEIE – agrupamentos europeus de interesse económico
São pessoas coletivas sem escopo lucrativo
e- Cooperativas
Antes eram sociedades, hoje em dia não o são devido a não terem um escopo lucrativo

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NOTA: a todas estas pessoas coletivas, passamos a qualifica-las como comerciantes no momento
em que adquirem a personalidade jurídica (a personalidade jurídica quando adquirida tem em
conta o fim da pessoa coletiva)

Então quais os sujeitos não qualificados como comerciantes?


Os que não exerçam atividades mercantis (a contrarium do que é um comerciante)
֎ Atividade agrícola (não associada a uma atividade comercial, ou seja, agricultura de
subsistência) – art.230º/1 e 2 E art.464º/2 e 4
֎ Artesões (oleiros, cabeleireiros, eletromecânicos,…) – são análogas às previstas no
art.230º/1CCom.
o Mesmo quando se trate de empresas artesanais, se o artesões-empresários
exercerem o artesanato diretamente, não são comerciantes.
֎ Profissionais-liberais e sujeitos coletivos cujo objeto seja uma atividade profissional-
liberal
֎ Trabalhadores autónomos – escultores, pintores,… - art.230º/3CCom
֎ O Estado, as RA, as autarquias locais,… - podem explorar direta ou indiretamente
empresas comerciais, mas não podem ser comerciantes – art.17ºCCom
o E as pessoas coletivas públicas de tipo institucional ou associativo?
▪ Parece que apenas as EPE’s, as sociedades de capitais públicos e
sociedades de economia mista poderão ser consideradas comerciantes
֎ Associações e fundações de direito privado com fim desinteressado ou altruístico

E quem é que está inibido de profissionalmente praticar o comércio?


O art.14º CCom – fala em inibir a profissão do comércio a determinadas associações e
corporações
Coutinho de Abreu: parece que a norma tem o intuito de simplesmente vedar o estatuto de
comerciante às citadas associações:
➢ Associações de fim desinteressado ou altruístico
➢ Associações de fim interessado ou egoísta, mas ideal
➢ Associações de fim interessado ou egoísta de cariz económico
não lucrativo
Porque este tipo de associações e corporações não deverão exercer o comércio como meio
de vida, mas apenas como uma forma de alcançar direta ou indiretamente para prosseguir
os seus fins
E se alguma destas associações passar a se dedicar exclusivamente ao comércio? Passa a ser
comerciante?
Coutinho de Abreu: NÃO! Porque os atos exclusivos de comércio estarão fora da sua
capacidade jurídica – art.160º/1 CC – sendo nulos – art.294º e 295º CC.
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3- Sujeitos de qualificação duvidosa

a- Mandatários comerciais com representação


José Tavares: define que é um comerciante, porque o mandato é pessoal e se exercido
profissionalmente o comércio
Maioria: diz que o mandatário não é um comerciante, pois todos os seus atos comerciais produzem
efeitos na esfera do mandante – art.258ºCC. O mandato não é um comércio para efeitos do
art.13ºCCom, mas é comercial, porque o mandatário é encarregado de praticar um ou mais atos
de comércio – art.231ºCCom
b- Gerentes de comércio, auxiliares, caixeiros
São qualificados pelo CCom como sendo mandatários comerciais com representação, no entanto,
hoje o contrato de trabalho também tem representação voluntária – art.257º, art.263º-265º CCom.
Ou seja, são trabalhadores, tratam do comércio em nome e por conta do empregador, não podendo
ser então comerciantes.
c- Comissários comerciais
Art.266ºCCom
É um mandatário sem representação.
Quando execute a titulo profissional contrato ou contratos de comissão deve ser considerado
comerciante – pois praticará em seu próprio nome e se responsabilizará perante terceiros, apesar
de ser por conta do comitente.
d- Mediadores
Os mediadores-empresários serão comerciantes, pois exploram empresas comerciais, mas
também, porque as atividades de interposição de trocas (onde se encontra a mediação) são
atividades mercantis.
Coutinho de Abreu: o mediador fora de empresa também é comerciante
e- Corretores
Normalmente os corretores, são sociedades corretoras, são sociedades comerciais e,
consequentemente, comerciantes -art.13º/2CCom
f- Agentes comerciais
Promove por conta de outro a celebração de contratos de modo autónomo e estável e mediante
retribuição.
Trata-se de um caso de interposição de trocas, sendo assim um ato comercial, ou seja, os
agentes comerciais sejam os intermediários da celebração de contratos, tratar-se-ão de
comerciantes. – art.230ºCCom – mesmo quando não utilizem as empresas de agenciamento de
negócios
g- Farmacêuticos
Hoje em dia, o farmacêutico já não se trata de um profissional-liberal (que preparava os
medicamentos), mas sim comerciantes, pois compram medicamentos com o intuito de os revender
– art.463ºCCom. Também serão comerciantes, os farmacêuticos que exploram laboratórios –
art.230º/1 CCom

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h- Sócios de responsabilidade ilimitada


As sociedades é que são comerciais e não os sócios que dela fazem parte
i- Sociedades comerciais sem personalidade jurídica
Coutinho de Abreu: diz que são comerciantes:
1- Têm por objeto a prática de atos de comércio – art.13º/2CCom
2- Apesar de não serem pessoas coletivas, têm subjetividade
jurídica: têm capacidade de gozo e de exercício
3- Os sócios atuam em nome da sociedade, não sendo eles
comerciantes
4- As sociedades deverão cumprir as obrigações do art.18ºCCom e
não os sócios
5- Deverão praticar atos de comércio de forma haitual
j- Comunidades conjugais
Quando casados em comunhão geral ou de adquiridos, os cônjuges poderão ser cotitulares em
comunhão ou em “mão comum” de uma empresa comercial.
1. Se só um gerir ou administrar, só ele é comerciante:
a. Mesmo quando um deles exerce principalmente a
administração da empresa, o outro pode praticar atos de
administração ordinária (comprar aos fornecedores) – se
assim fizer de forma habitual também será comerciante
2. Se os dois gerirem, ambos são comerciantes
k- Comunidades de herdeiros
A herança indivisa, mas já partilhada que englobe uma ou mais empresas comerciais, levará a que
o comerciante seja o conjunto dos herdeiros, enquanto titulares em comunhão da herança.

NOTA: art.100º/ único: aplica-se então a solidariedade nos casos em que existe ato comercial por
não comerciantes.
Pedro Pais Vasconcelos: no caso em que os comerciantes não pratiquem atos comerciais,
não se aplica a solidariedade.

Estatuto dos comerciantes


Engloba os seus direitos e deveres

Firmas e denominações
É o nome comercial/ profissional dos comerciantes, o sinal que os individualiza, nomeadamente
individualizando os comerciantes dos não comerciantes.
Firma: designar o signo individualizador de comerciantes – art.37º, 38º, 39º e 40ºCCom
Denominação: sinal identificador de não comerciantes, podendo ser composta por nome
de pessoas – art.36º, 42º e 43º
Todos os comerciantes deverão adotar firma e denominação – art.18º/1CCom
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Composição
1. Firmas dos comerciantes individuais – tem de ser composta pelo nome do
comerciante singular completo ou abreviado, podendo ser antecedido por
expressões ou siglas e poderá ainda ser aditado alcunhas
2. Firmas de sociedades comerciais – deve ser composta pelo nome ou firma de
todos os sócios ou só de um deles (caso dos &Fillhos), tal como poderá conter
expressão alusiva ao objeto social (fantasia – reprografia vermelha)
a. Firmas de sociedades por quotas: poderá conter o nome ou firma
de um, alguns ou todos os sócios, tendo que conter
obrigatoriamente o “limitada” (L.da)
b. Sociedades anónimas: o mesmo, mas acabando em S.A.
c. Sociedades em comandita: acrescentar Comandita,
&Comandita, &Comandita por Ações
3. Firmas dos agrupamentos complementares de empresas – poderá consistir
numa denominação particular ou ser formada pelos nomes ou firmas de todos os
seus membros ou de apenas um deles, tendo que conter: ACE ou Agrupamento
Complementar de Empresas
4. Denominações de outras entidades coletivas:
a. Entidades Públicas Empresariais: EPE
b. Cooperativas: cooperativa, união de cooperativas, federação de
cooperativas, confederação de cooperativas, responsabilidade
limitada, ou responsabilidade ilimitada
c. Agrupamentos Europeus de Interesse Económico: AEIE

Princípios informadores da composição das firmas e denominações


Principio da verdade
Principio da novidade e da exclusividade
Principio da capacidade distintiva
Principio da unidade
Principio da licitude

Alterações de firmas e denominações


Casos em que é exigida a alteração:
Se o comerciante individual muda de nome
Se deixa de ser associado ou sócio pessoa cujo nome figure na firma ou
denominação de pessoa coletiva
Aquisição da firma
Alteração do objeto estatutário de uma sociedade
Transformação das sociedades – p.e. de EPE para ACE
Se a sociedade entrar em liquidação – deve ser adicionado à firma “em
liquidação”

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Transmissão
Apesar de as firmas estarem normalmente associadas aos sujeitos, como elas não distinguem
apenas o comerciante, mas também têm um valor económico, poderão ser transmitidas com a
empresa.
A transmissão de uma firma entre vivos, obedece a três requisitos:
1- Tem de ser feita juntamente com o estabelecimento comercial a que a firma
esteja ligada – a título definitivo (trespasse) ou temporário (locação)
2- Acordo das partes, tendo o consentimento do transmitente ter de ser dado por
escrito. Quando se tratar de uma sociedade que contenha na firma o nome de
sócio, além da autorização daquele é indispensável a do titular do nome.
a. No caso da insolvência: como o administrador da insolvência é o
representante do insolvente, a autorização do administrador substitui a
do titular da firma, no entanto, quando a firma originária da sociedade
inclua o nome do sócio, é necessária a autorização desse
3- Aditar à sua própria firma menção da sucessão e a firma adquirida
a. Coutinho de Abreu: ex – Rolando Fúrias, sucessor de José Fernandes,
Papelaria
b. Oliveira Ascensão: ex- José Fernandes, Papelaria Sucessor
No caso de transmissão mortis causa:
❖ Se for um comerciante individual, pode fazer o aditamento à sua própria firma
do anterior titular do estabelecimento, com a menção da sucessão.
❖ O mesmo já não acontece quando se trate de um comerciante coletivo

Tutela
Meios preventivos:
➢ Certificados de admissibilidade de firmas e denominações – não poderão ser emitidos se
poder existir alguma confusão entre firmas
Meios repressivos:
➢ Declaração de nulidade, anulação ou revogação, perdendo o direito ao respetivo uso –
quando violem o principio da novidade
➢ Proibição e indemnização por danos emergentes e ação criminal– por uso indevido/ ilegal
da firma
NOTA: há proteção mesmo para as firmas que não são registadas – CPI e CUP

Extinção do direito à firma


Se a atividade comercial cessa porque:
O comerciante falece e não deixa estabelecimento comercial – extingue-se a
firma

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O comerciante falece, mas deixa estabelecimento comercial:


o O estabelecimento comercial é transmitido sem a firma do autor da
sucessão
o O estabelecimento é transmitido com a firma – ela extingue-se na medida
em que se integra na firma do novo adquirente
o Não é transmitido o estabelecimento que é liquidado – a firma se
extingue.

A firma parece ser um bem imaterial passível de direitos reais?!

Escrituração e prestação de contas


O que tem de estar aqui? Que atos civis têm que estar aqui?
Alguns autores diziam que sim. Hoje é comum que apenas que coloque lá o que diz
respeito aos atos de comércio.
LIBERDADE DE ORGANIZAR OS LIVROS – isto deve ser respeitado por todas as autoridades.
Ele tem de cumprir os requisitos mínimos de organização, o resto está à sua escolha.
Quem pode fazer a escrituração comercial?
Artigo 38º = o próprio comerciante ou quem ele indicar. Proteção de terceiros e dos outros
comerciantes.
Artigo 44º = os livros do comerciante funcionam como prova. Se faltar algum elemento – o ónus
ocorre contra o próprio comerciante
Isto aplica-se a todos os tipos de comerciantes.

Mas,
se for uma sociedade comerciante há coisas especificas – atas de todos os órgãos
Há formalidades para os livros de atos. Objetivo = dar segurança jurídica.
Não podem estar rasurados, não podem ter espaços em branco, etc … o objetivo é sempre a
segurança jurídica, sendo mais difícil falsificar as atas.
O comerciante tem ainda que arquivar toda a correspondência e documentos durante 10 anos
(mínimo obrigatório). Mas, se não o fizer, não há nenhuma consequência jurídica. – Artigo
40ºCComercial.
O comerciante deve sempre permitir o acesso a entidades competentes: de todos os livros de atas
e documentos - Artigo 42º.

Mas esse acesso é obrigatoriamente limitado:


Quem pode aceder, onde pode aceder, porque pode aceder, limites em relação ao que
pode aceder. Mas podem haver exceções – autoridades fiscais, tribunais… Mesmo por estas
autoridades o pedido para ter acesso tem de ser limitado, tem de pedir autorização e esta tem de
ser fornecida pela lei.

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Em teoria, a escritura mercantil tem teor secreto.


ARTIGO 44º - o comerciante deve ter a escritura arrumada
Escrituração = Livros de atas (artigo 30º liberdade), contas da sociedade

Consequência do incumprimento da escrituração:


➢ o comerciante está à partida limitado nos seus meios de prova;
➢ Ele pode não conseguir fazer algumas coisas – pode não ter consequência direta, mas vai
ter consequências indiretas (exemplo: para provas)

Balanço
– ARTIGO 62º = Prestar contas – objetivo é dar uma ideia clara das finanças da sociedade ativos
e passivos. Tem de explicar não só as contas daquele ano, mas também tudo aquilo que a
sociedade possui. Auditorias
Saber identificar o tipo de comerciante e depois escolher alguém qualificado que saiba
ler as auditorias.
Houve uma grande evolução das técnicas contabilísticas nos últimos anos –antes custo histórico
(book value). Hoje, fair value – market to market (?)
Cuidado com contabilidade criativa – não é admissível. Consequência = fraude. Artigo 62º

Prestação de contas
Foi tacitamente revogado em 2006 pelo artigo 63º e ss. Só existe referência no artigo 18º. Mas há
outros mecanismos que levam a prestar contas – existe substancialmente.
Inscrever os atos em registo comercial – código comercial + regulamento do registo comercial:
um dos fins do registo é dar a conhecer a qualquer terceiro que queira ou deva saber sobre o que
o comerciante anda a fazer.
Consequência da falta de registo = inoponibilidade de terceiros.
Maneiras de fazer registo: de depósito: papel que prova qualquer coisa, não havendo maneira
nenhuma de o provar; por transcrição = serve de prova para qualquer evento. Tem a presunção de
que aquilo é verdade e não é fácil de ilidir; é punível a terceiros. É constitutivo ou meramente
declarativo?
Só é necessário registar o que a lei me manda registar – principio da tipicidade. Só os fatos
oponíveis a terceiros são obrigatórios a registo. E isso só acontece porque o 3º obriga a que se
registe. (COMERCIANTE E NÃO COMERCIANTES)
NOTA: tem caráter público.

Joana Coelho de Freitas 21


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Empresas
A ideia de empresa na Alemanha é objetiva: seria idêntica ao estabelecimento comercial, podendo
ate abarcar as sociedades.
Autonomização dos interesses da empresa: sendo próprias, ou seja, a empresa seria um
sujeito de direitos.

Configuração subjetiva como sujeito de direitos e objetiva como objeto de negócios.


O CCom português assenta na noção de ato de comércio, não sendo viável recorrer à noção de
empresa na nossa dogmática do art.230º.
Art.5ºCIRE.
Podemos falar de um conjunto de materiais e direitos associados à empresa:
estabelecimento comercial ou participação social
Atividade económica exclusiva.
Isto torna difícil a definição rigorosa
1- O empresário pode ser identificado com a empresa
2- O empresário é o titular ou o empregado da empresa

Art.230ºCCom
Vera Correia e Coutinho de Abreu: a empresa é o estabelecimento comercial
Oliveira Ascensão: sujeito da vida social
Menezes Cordeiro: noção objetiva pode ser estabelecimento

O que é uma empresa?


Economia: existem várias teorias, sendo a theory of firm a mais em moda: a empresa é a
rede, série ou conjunto de contratos. Ou a de Perroux: a empresa é uma forma de produção pela
qual no seio de um mesmo patrimónios e combinam preços dos diversos favores da produção
levados por agentes distintos do proprietário da empresa, tendo em vista vender no mercado um
bem ou serviços e obter um rendimento monetário que resulta da diferença entre duas séries de
preços.
Sociologia: organização pessoal para a consecução de um fim económico

Juridicamente:
Subjetivo:
os sujeitos jurídicos que exercem uma atividade económica e têm a possibilidade de, em
cooperação, restringir a concorrência e afetar as trocas comerciais entre Estados-membros, ou a
possibilidade de individual ou coletivamente, explorar de forma abusiva uma posição dominante,
com afetação do comércio. – Direito Comunitário

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Objetivo:
Quanto ao objeto:

Comerciais
São comerciais as empresas através das quais são exercidas atividades de interposição de
trocas
Em quê que consiste a empresa mercantil?
Diversos negócios incidindo sobre o estabelecimento comercial. O
estabelecimento comercial é então:
➢ Valor ou bem económico ou patrimonial
➢ Transpessoal
➢ Duradouro
➢ Reconhecível
➢ Irredutível
Sendo que o estabelecimento terá vários elementos: coisas corpóreas, incorpóreas e não
coisificáveis (caso das prestações de serviços)
Havendo ainda quem defenda que a empresa é composta: situações e relações de facto
com valor económico, por coisas, direitos e obrigações
Coutinho de Abreu: critica esta visão porque
➢ Não parece que as situações e relações devam ser qualificadas de
elementos ou meios empresariais: a organização não se confunde com os
elementos. E as relações (os financiadores, os fornecedores,…) não são
internas, mas externas, não são delas componentes
o A clientela por outro lado deverá ser elemento da empresa: a
clientela da empresa pode ser definida como o círculo ou quota
de pessoas que com essa empresa contactam. Uma empresa
poderá viver momentaneamente sem clientela, mas esse período
não será longo
➢ Fala-se muitas vezes do dinheiro como elemento empresarial

O estabelecimento
Os elementos do estabelecimento estão inter-relacionados de forma à consecução de um
fim.
O estabelecimento é então uma organização/ sistema: um complexo de elementos em
interação; uma unidade complexa, global, não elementar e original

É um sistema aberto em intercâmbio com o exterior, no mercado cruzam-


se fluxos entrando e saindo, é um centro de trocas sistemáticas.

O estabelecimento é então um sistema autossuficiente e autónomo

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Estabelecimento vs não estabelecimento


✓ Organização produtiva apta a funcionar, mas que ainda não entrou em
funcionamento – para a doutrina portuguesa será um estabelecimento – desde que se
encontre minimamente apto para realizar um fim económico-produtivo jurídico-
comercialmente qualificado
✓ Complexo de bens produtivos que ainda não entrou em funcionamento e que carece
para isso de um ou mais elementos – porque já estamos perante um conjunto de bens
heterogéneos e complementares devidamente organizados com vista à consecução de
determinado fim
✓ Estabelecimento que já tenha entrado funcionamento – são vários os casos em que há
a negociação de bens as partes qualificam como estabelecimento, apesar de excluídos os
elementos. Serão mesmo assim empresas?
O conjunto de bens transmitidos pode ser suficiente para inculcar continuar-se na presença da
organização produtiva publicamente identificada como sendo a empresa.
✓ Sucursal – é relativamente independente da empresa que lhe deu origem na medida em
que: está separada espacialmente do estabelecimento principal, possui contabilidade
relativamente separada, personalidade judiciária e quem está à frente da sucursal tem
certa liberdade de gestão e competência.

Secções – são divisões ou repartições necessárias ou úteis para a realização da atividade


empresarial, mas em geral não poderão ser autónomas do estabelecimento principal

É então o estabelecimento uma unidade jurídica, bem jurídico a se stante?


Art.1112º/2CC – fala em transferência de um conjunto, mas não diz se o conjunto está
unificado ou não.
Em relação ao disposto no art.206ºCC – não corresponde, pois, o estabelecimento
não é apenas compostos por coisas móveis e homogéneas.
Então não poderá ser uma universalidade de facto, será que é de direito?
A universalidade de direito é um conjunto de bens unificado para certos efeitos jurídicos
– como é o caso da herança – sendo um conjunto de bens que não desempenham qualquer função
económica própria, mas que a lei unifica para certos efeitos jurídicos.
Na lei – art.782ºCPC – parece que será uma universalidade de direito objetiva –
art.202º/1 CC e 205ºCC

E será que o estabelecimento é uma coisa?


Parece que sim, a questão está em perceber se é suscetível de propriedade ou não.
Quem entenda que é uma coisa corpórea – está resolvido – art.1302ºCC
Quem considera coisa incorpórea – o estabelecimento, quer integre
coisas ou não, é uma organização ou um sistema possuindo assim cada
coisa individualidade e qualidades próprias
o Manuel de Andrade: em relação ao estabelecimento há um
direito de propriedade, e em relação às partes haverá um direito
de propriedade ou não
Joana Coelho de Freitas 24
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o Parece possível falar em direito de propriedade de coisas


incorpóreas, visto haver referências na lei
o Menezes Cordeiro: O estabelecimento comercial é, o conjunto
de coisas corpóreas e incorpóreas devidamente organizadas para
a prática de comércio. Nestes termos, corresponde à unidade
funcional cujo objetivo é a obtenção de lucro através da
conquista de clientela.

ELEMENTOS.
Desta primeira noção podemos concluir pelos seguintes elementos caracterizadores do
estabelecimento comercial:
1 Elementos ativos:
֎ Coisas corpóreas:
▪ Bens materiais relativos a imóveis e móveis
▪ Direitos reais e pessoais de gozo relativos a imóveis

֎ Coisas incorpóreas:
▪ Propriedade industrial [marcas, patentes, know-how]
▪ Posições contratuais

֎ Clientela: conjunto real ou potencial de pessoas dispostas a contratar


com o estabelecimento.

֎Aviamento: A mais valia que resulta da aptidão funcional do


estabelecimento. A unificação de todos os elementos, enfim.
Coutinho de Abreu: trata-se de um “bem jurídico novo”. Critério decisivo para aferir a existência
de um estabelecimento. Há estabelecimento, na medida em que há aviamento.

2 Elementos passivos:
֎ Obrigações e dívidas contraídas pelo comerciante

Empresa comercial é então: é uma unidade jurídica fundada em organização de meios que
constitui um instrumento de exercício relativamente estável e autónomo de uma atividade
comercial

O e.i.r.l. – estabelecimento comercial especial


Possibilitam a limitação de responsabilidade empresarial-mercantil das pessoas
singulares. Assim sendo, o e.i.r.l. é um património autónomo ou separado, do restante património
do comerciante individual.
֎ Os bens afetados ao estabelecimento respondem apenas pelas dividas
contraídas no desenvolvimento das atividades de que ele é instrumento
֎ Por essas dividas respondem apenas esses bens

Apesar de ser um património autónomo, não impede que seja um estabelecimento comercial:
Joana Coelho de Freitas 25
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➢ O e.i.r.l. é constituído para o exercício de atividades mercantis


➢ O património autónomo tende a consubstanciar-se num estabelecimento
O e.i.r.l. será um estabelecimento comercial com a particularidade de estar separado do
património do titular.
D.L. nº248/86, de 25 de agosto
NOTA: não faz sentido falar em penhor ou locação do e.i.r.l.

Empresas não comerciais


As empresas da indústria extrativa – não constam no elenco do art.230ºCCom nem
noutra legislação, sendo que a maioria da doutrina e da jurisprudência leva para não serem
comerciais.
o Não poderão ser comerciais por analogia, pois em nenhum caso são aparentes
com as que estão na lei (o caso das empresas de pesca é o mais próximo)
As empresas agrícolas – não serão comerciais as organizações industrial-
transformadoras de um produtor agrícola, mesmo que tenham autonomia, se destinem
apenas e exclusivamente à transformação de produtos de terras por aquele agricultadas,
sendo essa transformação acessória
Artistas, mestre ou oficial de oficio mecânico, artesão – ele é um produtor qualificado
que, podendo recorrer a máquinas, utiliza prevalecentemente o trabalho manual.
o A atividade artesanal poderá se organizar em empresas?
▪ Coutinho de Abreu: afirma que sim
▪ Cunha Gonçalves: defende que não
Profissões artesanais – exercício habitual e autónomo de atividades primordialmente
intelectuais, suscetíveis de regulamentação e controlo próprios – ordens e camaras. Sendo
empresários terão empresas civis?
o Não se trata de um complexo produtivo objetivo, não havendo por isso empresas.
O conjunto de elementos de trabalho não têm autonomia funcional nem
identidade própria

Sinais distintivos de empresas e produtos

1- Logótipos
Sinal suscetível de representação gráfica para distinguir “entidade” ou sujeito e, eventualmente,
estabelecimento deste.
O sujeito que tem o logótipo não tem de ser empresário, ou seja, não ter de ter empresa ou
estabelecimento.
Quando haja estabelecimento o normal é o uso do logótipo para distinguir.
Sinal distintivo bifuncional: distingue estabelecimento e sujeitos.

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NOTA: enquanto o sujeito só pode ter uma firma, poderá ter vários logótipos, podendo ser uma
forma de individualizar, quando um mesmo sujeito tem vários estabelecimentos.

Quais os elementos dos logótipos?


Logótipos nominativos – compostos por nomes e firmas
Logótipos figurativos – compostos por figuras ou desenhos
Logótipos mistos – combinando elementos figurativos e nominados
Por isso, o logótipo aproxima-se mais da marca e afasta-se da firma. Podem, tal como a marca
outros sinais representáveis graficamente.

Têm os logótipos de seguir princípios:


➢ Capacidade distintiva
➢ Verdade
➢ Novidade
➢ Licitude

Até aonde vai o direito ao logótipo?


O direito de propriedade sobre o logótipo constitui-se pelo registo do mesmo no INPI.
O titular pode:
✓ Usar o logótipo para dar a conhecer às pessoas a sua empresa
✓ Impedir que terceiros utilizem, sem seu consentimento, qualquer sinal
idêntico:
o Quando possa induzir em erro o consumidor
o Quando a atividade económica é diversa e os signos possam ser
confundíveis
o Pode exigir judicialmente a anulação de registos e que os sinais
deixem de ser utilizados
o Uma indemnização pelo uso do sinal
o A propriedade do logótipo é tutelada contra-
ordenacionalemente

Transmissão do logótipo
Ao contrário do que seria de esperar, o logótipo não segue a regra da firma, que só é
transmissível com o estabelecimento ou então se extingue.
a- O logótipo, não usado em estabelecimento, pode ser transmitido
autonomamente, desde que não seja suscetível de levar os consumidores a
erro

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b- O logótipo, usado num estabelecimento, apenas pode ser transmitido com o


estabelecimento ou com parte dele
a. Se o estabelecimento for transmitido, naturalmente o logótipo é
transmitido com este
i. Exceto se o logótipo tiver nome, firma ou denominação do
titular, sendo necessário nesse caso convenção

NOTA: O ato de transmissão inter vivos deve ser provado por um documento escrito, estando
sempre, sendo inter vivos ou post mortem, sujeito a averbamento.

Extinção do direito sobre o logótipo


O registo é:
֎ Anulável – quando na sua concessão se violar alguma das proibições do art.304º-
I.
o Sendo a ação de anulação proposta pelo MP ou por qualquer interessado
֎ Caduca -quando tenha expirado o seu prazo ou não tenham sido pago as taxas,
por encerramento ou liquidação e pelo não uso do logótipo por 5 anos
consecutivos
֎ Renuncia – por parte do titular do logótipo

2- Marcas
São signos suscetíveis de representação gráfica destinados sobretudo a distinguir certos produtos
de outros produtos idênticos ou afins.
As marcas podem ser:
❖ Indústria – produtos da industria de transformação e de extração
❖ Comércio – bens comercializados por grossistas e retalhistas
❖ Agricultura – assinalam os produtos da agricultura em sentido amplo
❖ Serviços – setor terciário (viagens, bancos, seguradoras,…)
E ainda…
… nominativas
… figurativas
… auditivas
… tridimensionais ou de forma
… simples
… complexas

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E quem é que pode ser titular da marca?


Poderá ser um empresário ou um não-empresário. Assim sendo, os não-empresários
poderão recorrer a marcas para assinalarem os seus produtos, tal como, os representantes e agentes
– que não são comerciantes – poderão registar marcas em Portugal em relação a uma marca de
um país estrangeiro.

Isto acontece em relação às marcas individuais, e as marcas coletivas?


As marcas coletivas, pertencem apenas a um sujeito, são usadas para os bens produzidos
por diversos e autónomos sujeitos:
Marcas de associação – associações de pessoas coletivas ou singulares e
podem ser usadas pelos respetivos associados
Marcas de certificação ou garantia – pertencem a pessoas coletivas que
controlam a existência de determinadas qualidades em produto sou que
estabelecem normas técnicas a que eles ficam sujeitos
Marca base – marca que identifica a origem comercial ou industrial de
uma série de produtos ou serviços produzidos por uma empresa de
atividades múltiplas ou por um grupo de empresas
Marca especifica – de cada produto ou serviço
Marca geral – distingue todos os produtos de uma certa empresa. Ex:
renault
Marca especial – produtos de determinado tipo. Ex: mégane

Como é que a marca distingue?


֎ Conceção tradicional: jurídica função de indicação de origem dos produtos (a origem
podendo ser estrita – empresa – ou ampla – atendendo a marcas coletivas
֎ A marca distingue na medida em que dá informações sobre o produto

Será que a função distintiva é a única função da marca?


Hoje, as marcas têm uma função várias funções, sendo que a tutela dada às marcas tem
em vista a função atrativa ou publicitária excecional.

Princípios que as marcas têm que seguir:


➢ Capacidade distintiva
➢ Verdade
➢ Licitude
➢ Novidade e especialidade

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Conteúdo e extensão do direito à marca


Registo: para haver um direito de propriedade em relação à marca, é necessário que se
proceda ao registo desta, sendo que o primeiro a apresentar pedido de registo, será quem ficará
titular da marca.

E quais os direitos conferidos pelo registo?


Usá-la para assinalar os seus produtos
Utilizá-la em publicidade
Transmiti-la
Cedê-la em licença de exploração
Pode reclamar outro pedido de registo feito por outrem de marca idêntica ou
semelhante – no caso do INPI isso não é preciso, que ele recusa
Ação de anulação
Medidas inibitórias contra violações
Indemnizações – protegido criminal e contra-ordenacionalmente

Limitações aos direitos conferidos:


➢ O titular não poderá impedir que terceiro use na sua atividade económica o seu
próprio nome, endereço,… desde que esse uso seja feito conforme normas e
honestidade
➢ O titular não poderá impedir o uso da marca nos casos em que o terceiro utiliza
essa mesma marca na sua atividade económica e seja necessário para indicar o
destino dos produtos – ex: peças dos automóveis
➢ Principio do esgotamento – não poderá impedir as importações, por ser o “único
que pode vender em Portugal”

Proteção das marcas de facto, livres ou não registadas

Licenças
Na falta de norma especifica, eram ilícitos os contratos de licença de exploração das
marcas. Hoje já não é assim…
O titular pode cedê-la a terceiro em licença de uso ou exploração, total ou parcialmente,
destinada a certa zona do país ou a todo o território
O contrato de licença está sujeito a forma escrita e só produz efeito em relação a terceiro, após o
averbamento do INPI.

Semelhante é o contrato de merchadising – o titular da marca de prestigio concede a outrem o


direito de usar o signo para distinguir produtos não idênticos nem afins dos produtos para que ela
foi registada

Joana Coelho de Freitas 30


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Como é que se dá a extinção do registo das marcas ou de direitos dele derivados?


Nulidade
Anulação
Caducidade
Renuncia

3- Denominações de origem e indicações geográficas


Apresenta o nome da região, de um local determinado ou de país.
Qual a diferença entre indicações geográficas e denominações de origem?
▪ As denominações identificam produtos cuja qualidade global se deve
essencialmente ao meio geográfico
▪ As indicações identificam produtos que poderão ser produzidos noutras
zonas, mas que devem a sua fama àquela zona especifica – laranja do
algarve.
Proteção:
Pode ser impedido o uso da palavra, características, … de produtos afins ou não.
Extinção:
֎ Nulidade
֎ Anulação
֎ Caducidade

4- Recompensas
As recompensas conferidas aos empresários constituem sua propriedade, independentemente do
seu registo.
É o caso dos prémios e distinções oficiais.
➢ O registo da recompensa poderá ser anulado no caso em que se verifique que não foi
concedida ao sujeito certo.
➢ Caduca quando a concessão da recompensa for revogada ou cancelada.
➢ E o titular pode renunciar

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Insolvência

Joana Coelho de Freitas 32


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Insolvência
A pessoa fica impossibilitada de cumprir as suas obrigações. Não tem liquidez para pagar
as dividas. Ou então porque o total das suas dividas não consegue satisfazer as dividas, o conjunto
de passivo é superior ao conjunto do ativo.
“Ramo próprio de direito de responsabilidade patrimonial”
O processo de insolvência é um processo de execução universal – art.1º/1 CIRE:
1- O que é o processo de execução universal? Todos os credores serão chamados para
receber se não tudo, pelo menos rateado
a. Abrange todo o universo de credores
b. Abrange todos os bens do devedor
Ao contrário da execução singular, aqui entre todo o património do devedor e todos os credores
Os credores têm que ser satisfeitos segundo a igualdade, ao mesmo tempo – não podem vir aos
poucos, porque isso implicava que alguns ficassem com o crédito por satisfazer.
Tratamento igualitário dentro dos tipos de créditos que tenham.
Como satisfazer os credores?
1- Liquidação do património do devedor
2- Recuperação económica do devedor
NOTA: preciso ver a insolvência como mais do que um problema económico só por si, é preciso
ver como um problema social – desemprego, aumento do numero de subsídios, mais
descontentamento, …

Evolução histórica:
1. Fase do sistema de falência/liquidação – até ao CPC 1961
A insolvência aqui só se aplicava aos não comerciantes. Os comerciantes faliam – ideia de
quebra/falhanço comercial.

2. Sistema de falência/saneamento – até CIRE 2004


Socialmente/legalmente percebe-se que o estigma da falência não faz sentido. Assim, são
adotadas medidas preventivas da declaração de falência que visam o saneamento das contas das
empresas em situação difícil.

3. Recuperação/liquidação – CIRE 2004


Impõe-se a tendência da recuperação.
A reforma do código da insolvência trouxe novos traços:
Primazia da satisfação dos credores – art.42ºCIRE, isto implica que nos casos em que
não houve cumprimento total das partes de um contrato, o contrato torna-se suspenso
para se poder satisfazer os credores
Joana Coelho de Freitas 33
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Ampliação da autonomia dos credores – art.20º, 31º, 53º/1, a mais importante


provavelmente será a de aprovação do plano de insolvência – art.192ºCIRE
Simplificação do processo

Critérios para definir a situação de insolvência:


Critério do fluxo de caixa (cash flow)
O devedor insolvente, logo que se torna incapaz, por ausência de liquidez suficiente, de pagar as
suas dividas no momento em que estas vencem.
Este critério não tem em conta:
֎ O facto do ativo ser superior ao passivo é irrelevante, já que a insolvência ocorre
logo que se verifica a impossibilidade de pagar as dividas que surgem
regularmente na sua atividade, e não consegue crédito para pagar essas dividas –
art.3º/1
Menezes Leitão: defende que não faria sentido os credores ficarem à espera da liquidez no caso
de uma cessação de pagamentos.
Critério que se sobrepõe, independentemente deter um ativo superior ao passivo, porque pode ter
bens que não se podem tornar líquidos, para pagar essas dividas.
Basicamente, o que este critério tem em conta é se as dividas são pagas no momento
do seu vencimento, excluindo os casos em que o devedor está de boa-fé em litigio sobre as suas
obrigações.

Critério do balanço ou do ativo patrimonial (balance sheet ou asset)


Resulta do facto de os bens do devedor serem insuficientes para o cumprimento integral das suas
obrigações.
֎ A insolvência não é afastada pelo devedor cumprir as suas obrigações que se
vencem no giro normal da sua atividade, o que interessa é o conjunto dos seus
bens não conseguir satisfazer as suas responsabilidades
Este critério é de mais difícil apreciação, pois os bens do devedor mudam de valor consoante a
altura.

Critério da lei portuguesa


Pelo o art.3ºCIRE, parece que o critério escolhido foi o do fluxo de caixa.
Menezes Leitão: a impossibilidade não deve ser interpretada em termos jurídico-técnicos,
seguindo a ideia do art.790ºCC, mas sim recorrer à antiga definição do CPEREF
A impossibilidade é de cumprir pontualmente as respetivas obrigações
por carência de meios próprios ou por falta de crédito.
A insolvência resulta então numa impossibilidade de cumprimento pontual das obrigações.
Não à situação liquida negativa, se o recurso ao crédito lhe permitir cumprir pontualmente
as suas obrigações.

Joana Coelho de Freitas 34


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Não à situação liquida positiva, se o se verificar a falta de crédito não permite ao devedor
superar a carência de liquidez para cumprir as suas obrigações
No entanto,
A lei admite o recurso ao critério do balanço:
➢ A insuficiência patrimonial funciona como critério acessório de definição de
insolvência, aplicável às pessoas coletivas e aos “patrimónios” – quando o seu
passivo for manifestamente superior ao ativo – art.3º/2 CIRE
o Continuam a ser alvos da regra geral, no entanto, poder-se-á recorrer ao
nº2 para facilitar o pedido de insolvência por parte dos credores dessas
entidades, que podem ser afetados pela responsabilidade limitada dos
seus sócios

Há uma restrição ao nº2, que é o ativo ser manifestamente


superior ao passivo – nº3
Para quê que isto releva?
1- Consideração de outros elementos identificáveis, mesmo que não constando do
balanço
2- Valorização da empresa, não apenas numa perspetiva de liquidação – com o
caso de alienação imediata – mas numa perspetiva de continuidade, com a
inclusão do valor going-concern, avaliação do mercado de possibilidades de
prossecução da atividade da empresa
3- Possibilita-se a não consideração do passivo das dívidas que só tenham que ser
pagas à custa de fundos distribuídos ou com base no ativo sobrante, apos serem
satisfeitos ou acautelados os direitos dos credores
a. Exclui-se as obrigações de reembolso do capital social ou estatutário e
as prestações complementares acessórias
b. Os créditos subordinados – art.48º/g)CIRE – como os créditos de
suprimento, também deverão ser aqui incluídos

Sujeitos Passivos da Declaração de Insolvência


Art.2º/1CIRE:
a) Pessoas singulares e coletivas
As pessoas singulares podem ser declaradas insolventes independentemente de serem
economicamente independentes ou de terem plena capacidade jurídica.
Porém seguem regras especiais:
Solicitar a exoneração do passivo restante – art.235º e ss CIRE
Podem ser ou não empresários – art.249º e ss CIRE
o Se for empresário, não há diferença nenhuma entre o seu
património autónomo e o da empresa.

Joana Coelho de Freitas 35


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No caso das pessoas coletivas, normalmente a declaração de insolvência acarreta normalmente a


sua dissolução, perdendo posteriormente a sua personalidade jurídica com o encerramento da
liquidação.
Até a pessoa coletiva não for dissolvida ou não houver a liquidação, poderá ser sempre
possível a declaração de insolvência.
b) A herança jacente
A herança jacente foi a que já foi aberta, mas ainda não foi aceite nem declarada vaga para o
Estado – art.2046ºCC
Parece que não será de interesse para os herdeiros, visto eles poderem sempre repudiar –
art.2062ºCC – mas poderá ser requerida por qualquer credor da herança.
E no caso de aceitação da herança, deixando esta de ser jacente?
Sousa Macedo: como com a aceitação dá-se uma confusão entre a herança e as esferas
dos herdeiros, não faria sentido então o processo continuar contra a herança, uma vez que esta
perde a autonomia patrimonial e a personalidade judiciária.
Neste caso os credores têm que exercer os seus direitos em relação aos herdeiros
e não à herança. Daqui vai decorrer limitações que advém da separação de patrimónios –
varia o ónus da prova consoante a aceitação seja pura ou simples ou a beneficio do
inventário
O CIRE: parece que faz o processo continuar contra a herança e proíbe a sua divisão pelos
herdeiros ate ao encerramento do processo, ou seja, não há habilitação dos herdeiros. – art.10º/b)
O CIRE impede que a aceitação da herança por qualquer herdeiro tenha como
efeito a extinção da autonomia patrimonial, prolongando-a até ao encerramento do
processo.
Mesmo após a aceitação pelo herdeiro mantém-se a possibilidade de declarar a sua insolvência,
dado esta constituir um património autónomo sujeito a administração do cabeça de casal até à sai
liquidação e partilha – art.2079ºCC
Como património autónomo, está genericamente sujeito à insolvência –
art.2º/1/h)
NOTA: claro que o herdeiro não poderá ser sujeito à insolvência pelas dividas da herança-
art.2071º

c) Associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais


As pessoas singulares que as compõem respondem ilimitadamente pelas dividas que elas
contraíram, mas com a sua responsabilidade a ser subsidiária.
A declaração de insolvência abrange diretamente estas entidades e só a título derivado os
membros.

d) Sociedade civis
e) Sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma comercial à data do registo
definitivo do contrato pelo qual se constituem
f) As cooperativas, antes do registo
g) Estabelecimento individual de responsabilidade limitada
Joana Coelho de Freitas 36
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Tacitamente revogou a norma que dizia que se o estabelecimento falia, então o comerciante
individual também falia.
Não parece que, se o estabelecimento é de responsabilidade limitada, se possa afetar
automaticamente o seu titular, a não ser que se verifique o requisito da impossibilidade de
cumprimento das suas obrigações vencidas.
Carvalho Fernandes: mesmo que tenha havido a separação de patrimónios, como administrador,
a insolvência do estabelecimento vai o afetar.

h) Quaisquer outros patrimónios autónomos


Apenas parte do património do devedor é afetado, está sujeita a um regime especial de
responsabilidade por dividas, falando-se neste caso de insolvência especial ou particular

NOTA: parece que a personalidade insolvencial não coincide com a personalidade jurídica nem
com a judiciária – art.66ºCC e 5º e ss CPC.

Regimes especiais:
Art.2º/2 – exceciona as pessoas coletivas publicas e publicas empresariais -
exclusão de aplicabilidade
Não se aplica aos seguros, instituições de crédito, sociedades financeiras às
empresas de investimento que prestem serviços que impliquem a detenção de
fundos ou de valores mobiliários a terceiros – sempre que se mostre
incompatível com o regime a que estas pessoas estão sujeitas – aplicabilidade
condicionada

Exclusão total de aplicação do CIRE


Estas pessoas só poderão ser extintas através de decreto-lei, e o subsequente processo de
liquidação também só assim é que ocorrerá.

Aplicabilidade condicionada do CIRE


1- Seguros
Era aplicável a nível subsidiário o anterior CPEREF, no entanto, a insolvência destas
empresas segue um regime particular.
2- Instituições de crédito e sociedades financeiras
Anteriormente separava-se os estabelecimentos bancários dos restantes. Hoje não é assim,
estando todas sujeitas ao procedimento consagrado no DL nº199/2006, de 25 de outubro
de 16
A liquidação das instituições de crédito apenas é declarada em ultimas circunstâncias – art.139º e
ss RGICSF.
Adoção de medidas de intervenção corretiva (art.141º e ss RGICSF), administração
provisória (art.144º/a) e 145º) e resolução (art.144º/c) e 145º-M) tendo em vista a salvaguarda da
solidez financeira da instituição de créditos, dos interesses dos depositantes ou da instabilidade
do sistema financeiro.

Joana Coelho de Freitas 37


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Ou seja,
As instituições de crédito apenas se dissolvem:
➢ Deliberação dos sócios
➢ Revogação da autorização pelo Banco de Portugal
o Devido à instituição não poder honrar os seus compromissos
o Não cumprir as obrigações decorrentes da sua participação no Fundo de
Garantia de Depósitos ou no Sistema de Indemnização aos Investidores
Esta revogação ocorre nos termos do DL 199/2006 e subsidariamente segundo o CIRE.
A revogação pela Banco de Portugal, vai produzir os mesmos efeitos que a declaração de
insolvência.
Apenas o Banco de Portugal tem legitimidade para instaurar o processo de liquidação judicial –
tendo que o fazer dentro de 10 dias uteis após a resolução.
NOTA: a liquidação e partilha do ativo só se suspende caso seja requerida a suspensão
de eficácia do ato perante os tribunais administrativos sem prejuízo da faculdade do Banco de
Portugal.
O juiz da liquidação não pode apreciar da legalidade da ação de
revogação da autorização.

3- Empresas de investimento que prestem serviços que impliquem a detenção de


fundos ou de valores mobiliários de terceiros
4- Organismos de investimento coletivo

Requisitos da petição inicial


Nos termos do art 23.º, a petição inicial deve ser apresentada por escrito, por forma articulada
com exposição dos factos que integram os pressupostos da ação e formulação do pedido
correspondente.
Deve constar a identificação dos administradores, do devedor e dos cinco maiores credores,
com exclusão do requerente – art. 23/2/b) - e, sendo o devedor casado, a identificação do cônjuge
e indicação do regime de bens do casamento – art.23/2/c).
No caso de ser o devedor o apresentante, deve indicar se a situação da insolvência é atual ou
meramente iminente, bem como sendo a pessoa singular se pretende a exoneração do passivo
restante (23/2/a).
O requerente deve juntar toda a documentação necessária para a declaração de insolvência seja
proferida – elementos do art 24.º (se for pelo devedor); se tiver sido requerida por terceiros, deve
apresentar nos termos do 25/1 a justificação sobre a origem, natureza e montante do seu crédito
ou a sua responsabilidade pelos créditos sobre a insolvência.
Além disso, o requerente deve oferecer todos os meios de prova de que disponha.

Joana Coelho de Freitas 38


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Desistência do pedido ou da instância


O art 21.º estabelece que o requerente pode desistir do pedido ou da instancia até ser proferida
sentença – apenas se o pedido partir dos outros legitimados; o devedor não pode desistir no caso
de apresentação à insolvência.

Massa insolvente
Art.46ºCIRE
Abrange todo o património do devedor à data da declaração de insolvência, bem como os direitos
e bens que este adquira na pendência do processo
Os bens isentos de penhora só são introduzidos se o devedor insolvente
o fizer voluntariamente e a impenhorabilidade não for absoluta.
Para quê que serve a massa insolvente?
1. Responde pelas dividas próprias da massa – art.51º
2. Aos créditos de insolvência
Paula Costa e Silva: esta destinação da massa insolvente implica a sua qualificação como um
património de afetação.
Em principio,
Os bens e direitos que compõem a massa insolvente correspondem à totalidade do
património do devedor – art.601ºCC
Menezes Leitão: também se deverá incluir aqui o património dos representantes legais das dividas
do insolvente – pessoas que respondem pessoal e ilimitadamente pela generalidade das suas
dividas – art.6º/2 CIRE:
Sócio único – art.84ºCSC
Socio em nome coletivo – art.175º/1 CSC
Comanditados – art. 465º/1 CSC
Gerentes e administradores – art.78º/1 e 4 CSC
NOTA: os sócios de responsabilidade limitada nunca serão chamados neste sentido, não se
podendo invocar em sentido contrário o art.6º/1CIRE

E se o insolvente for casado?


Comunhão de bens ou de adquiridos – a massa insolvente envolve também na
sua meação os bens comuns – art.1696ºCC
o Podem os dois cônjuges estar em insolvência – art.264º e ss CIRE
o No caso de o cônjuge do insolvente não estar no processo, o mesmo
adquire o direito de separar da massa insolvente os seus bens próprios e
a sua meação dos bens comuns – art.141º/1/b) CIRE
▪ Pode ser ordenada pelo juiz a requerimento do administrador de
insolvência – art.141º/3CIRE

Joana Coelho de Freitas 39


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NOTA: a partilha de bens comuns que ocorre neste caso, é uma exceção ao principio da
imutabilidade da convenção antenupcial e do regime de bens – art.1715º/1/d) CC

Vão sendo reintroduzidos na massa insolvente todos os bens que o administrador de insolvência
for trazendo, e ainda aqueles que forem adquiridos pelo insolvente na pendencia do processo.
- a herança que o insolvente receba no decurso do processo entra logo para a massa
insolvente, não podendo ele repudiar – art.2062ºCC
Porquê?
Porque representaria um ato de disposição dos bens pelo insolvente.

Quais os bens que não entram para a massa insolvente? – art.822ºCPC


Absolutamente impenhoráveis
Relativamente impenhoráveis – art.823ºCPC e 824ºCPC

Classificação dos créditos


É necessário averiguar quais os bens e direitos que integram o ativo (massa insolvente), como
também quais obrigações que esse ativo pode vir a ter que responder, ou seja, qual o passivo do
insolvente.
Art.51ºCIRE – a massa insolvente deve primordialmente responder pelas dividas que
advém da própria situação de insolvência

As dividas da massa insolvente


Serão consideradas dividas da própria massa:
❖ Custas do próprio processo de insolvência - art.455ºCPC
❖ Remuneração do administrador de insolvência e das despesas deste e dos
membros da comissão de credores
❖ Dividas emergentes de atos de administração, liquidação e partilha da
massa
❖ Resultem de contrato bilateral cujo cumprimento não possa ser recusado
pelo administrador da insolvência – art.51º/e)
❖ Contrato bilateral cujo cumprimento não seja recusado pelo
administrador– art.51º/f)
❖ Resultem de contrato bilateral que tenha por objeto uma prestação
duradoura
❖ As que tiverem origem em enriquecimento sem causa
❖ Obrigação de prestar alimentos

As dividas da massa têm um regime mais favorável no pagamento – art.172ºCIRE – pois devem
ser as primeiras a ser satisfeitas:
Joana Coelho de Freitas 40
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֎ Não estão sujeitas ao processo de verificação e graduação de créditos, não tendo


de ser reclamadas – art.128º e ss CIRE

Em caso da massa não ser suficiente para pagar as dividas contraídas pelo administrador, será o
património do próprio responsável perante os credores – pode elidir a sua responsabilidade, se
provar que a insuficiência da massa era imprevisível – art.59º/2 CIRE

Créditos sobre a insolvência


São considerados como créditos da insolvência aqueles créditos que tenham natureza patrimonial
– art.47º/1CIRE
1- Créditos garantidos – beneficiam de uma garantia real (as garantias pessoas não
entram)
Inclui-se aqui os privilégios especiais, – art.47º/4/a) CIRE:
o capital,
os juros respetivos, até ao valor dos bens objetos da garantia – art.48º/b
Aqui também se incluem:
❖ os consignados de rendimentos – art.656º e ss
❖ penhor – art.666º e ss CC
❖ hipoteca – art.686º e ss CC
❖ privilégio especial – art.738º e ss CC
❖ direito de retenção – art.754º e ss CC
Quais as garantias que se extinguem com a declaração de insolvência?
1. Privilégios creditórios acessórios sobre a insolvência de que forem
titulares o Estado, as autarquias locais, e as instituições de segurança
social – art.97º/1/b e nº2
2. Hipotecas legais cujo registo haja sido requerido dentro de dois
meses anteriores à data do inicio do processo de insolvência e que
forem acessórios de créditos do Estado – art. 97º/1/c e nº3
3. As garantias reais que não sejam independentes de registo, sobre
imoveis ou móveis a ele sujeitos integrantes da massa insolvente –
art.97º/1/d) e nº4
4. Garantias reais sobre bens integrantes da massa insolvente acessórias
de créditos havidos como subordinados – art.97º/1/c)
NOTA: as garantias que tenham sido convencionadas durante o PER, de forma a garantir meios
de financiamento, mantém-se mesmo que no fim de dois anos venha a ser declarada a insolvência
– art.17º-H/1

Joana Coelho de Freitas 41


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Os créditos garantidos são pagos, após serem deduzidas as importâncias necessárias à satisfação
das dividas da massa insolvente.
O pagamento ocorre respeitando a prioridade que lhes
caiba – art.174º/1CIRE
O credor garantido tem até direito a uma compensação
pelo prejuízo que tenha tido pela demora no pagamento –
art.166º/1
O administrador da insolvência pode proceder ao
pagamento dos créditos garantidos antes de iniciar a venda dos
bens – art.166º/2
Poderá o credor garantido solicitar a aquisição do bem objeto da garantia – art.165ºCIRE

2- Créditos privilegiados – beneficiam de privilégios creditórios gerais, não são


garantias reais, pois não incidem numa coisa em concreto
Podem ser privilégios de:
mobiliário
➢ garantia de créditos fiscais do Estado e das autarquias locais – art.736º
CC
➢ credor pelas despesas do funeral – art.737º/a) CC
➢ credor por despesas com doenças do devedor ou dos seus alimentandos,
nos últimos seis meses – art.737º/b
➢ credor por despesas indispensáveis ao sustento do devedor, últimos seis
meses – art.737º/c)
➢ créditos emergentes do contrato de trabalho ou da violação ou da
cessação deste, pertencentes ao trabalhador – art.737º/d)
imobiliário
➢ instituições de segurança social sobre o devedor – art.2º D.L. nº512/76,
de 3 de julho
➢ Estado relativos aos impostos sobre o rendimento
3- Créditos comuns – são aqueles que não beneficiam de garantia real, nem de
privilégio nem são subordinados
Serão então encarados como credores comuns todos os que não beneficiam de nenhuma garantia
e ainda aqueles que tinham uma garantia ou privilégio que se extinguiu pela declaração de
insolvência. – art.97º e 140º a contrarium
NOTA: ter garantias pessoais ou alienações de garantia, não afeta a natureza de credores comuns
– art.179º

4- Créditos subordinados – créditos enfraquecidos, que são satisfeitos após os créditos


da insolvência – art.48º e 49º

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Não têm legitimidade para requerer a insolvência – art.20º CIRE


Menezes Leitão: o art.20º atribui legitimidade para requerer insolvência a qualquer credor, ainda
que condicional. Mas exceciona o caso do art.245ºCSC
a. Não têm direito de voto na assembleia de credores – art.73º/3
b. Não podem integrar a comissão de credores – art.66º/1
c. Não podem ser compensados com dividas à massa – art.99º/4/a)
d. São pagos após a satisfação dos créditos dos restantes credores – art177º

▪ Créditos detidos por pessoas especialmente relacionadas com o devedor, bem como
aqueles que tenham sido transmitidos por estas a outrem
Previstas as pessoas especialmente relacionadas no art.49º.
Será que é uma enumeração taxativa ou exemplificativa?
Menezes Leitão: enumeração exemplificativa
Rui Simões: enumeração taxativa
E será que a presunção é iuris et de iure ou iuris tantum?
Menezes Leitão: é iuris et de iure, não podendo as pessoas elidir a presunção
Raposo Subtil: é iuris tantum, podem então as partes elidir a presunção

▪ Juros de créditos não subordinados constituídos após a declaração de insolvência


A possibilidade de reclamação dos juros posteriores à declaração de insolvência.
À a exceção à qualificação dos juros como créditos subordinados – art.48º/b)
São então pagos de acordo com o regime destes créditos – art.174º e 175º
Não se aplica a disposição art.97º/1/e), porque o art.48º/b) excetua os juros da qualificação como
créditos subordinados
Parece que não se constituirão créditos subordinados os juros relativos às dividas da
massa insolvente – art.51º + art.172º/3
▪ Créditos cuja subordinação tenha sido convencionada pelas partes
Tem em base a autonomia privada, apesar da consagração do principio da igualdade dos credores
– art.604º/1
▪ Créditos que tenham por objeto prestações do devedor a título gratuito
▪ Créditos sobre insolvência que, como consequência da resolução em beneficio da massa
insolvente, resultem para terceiro de boa-fé
▪ Juros de créditos subordinados constituídos após a declaração de insolvência
▪ Créditos por suprimentos

Joana Coelho de Freitas 43


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Regime especial dos créditos sob condição


Equivalente art.270ºCC
Art.50º CIRE
Distinguem-se os que estão sob condição:
Suspensiva: estão os créditos cuja constituição se encontra sujeita à verificação ou não
de um acontecimento futuro e incerto, por força da lei, decisão judicial ou negócio
jurídico. São ainda havidos como tal os previstos no art 50/2
Resolutiva: sob condição suspensiva.
Estes créditos não são abrangidos pelo vencimento antecipado, determinado pela declaração de
insolvência, sendo atendidos pelo seu valor nominal no caso de rateios parciais;
Nos rateios finais, o administrador deve depositar as quantias correspondentes ao valor
nominal do crédito suspensivamente condicionado para ser entregue ao titular, uma vez verificada a
condição ou rateada pelos demais credores. – 181/2
Os créditos sob condição resolutiva são aquela cuja subsistência depende da verificação ou não
de um acontecimento futuro ou incerto, resultante de lei, negócio jurídico ou decisão judicial.
São tratados como incondicionados até ao momento em que a condição se preencha.

Nos termos do art 173.º o pagamento dos créditos sobre a insolvência depende do seu reconheci-
mento por sentença transitada em julgado. Assim:
• O pagamento dos créditos garantidos é efetuado após o pagamento das dívidas da
massa e depois ed abatidas as correspondentes despesas, sobre o produto da liquidação
dos bens onerados com garantia real, respeitada a prioridade que lhes caiba
• O pagamento dos créditos privilegiados é efetuado com base nos bens não afetados
a garantias reais prevalecentes, respeitando a sua prioridade e na proporção dos seus
montantes (175.º)
• Após estes tem lugar o pagamento aos credores comuns na proporção dos seus cré-
ditos, se a massa for insuficiente para a satisfação integral (176.º)
• Se ainda houver saldo, pagar aos credores subordinados

Órgãos da insolvência

Administrador da insolvência
Art.52º e ss estatuto do administrador.
A nomeação do administrador é necessária por uma questão de desconfiança que se cria em
relação à capacidade de administração da insolvência.
Por essa razão tem de ser alguém autónomo do devedor

Joana Coelho de Freitas 44


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Art.6º e 81º/1
Art.223º e 226º

Nomeação
Tem de ser escolhido pelo juiz – art.52º - de entre os administradores inscritos na lista
oficial, por processo informático que assegure aleatoriedade da escolha e igualdade na
distribuição nos processos.
Podem ainda os credores na primeira assembleia realizada após a designação, eleger para o cargo
outra pessoa e prover sobre a respetiva remuneração – art.53º/1
NOTA: os credores só podem eleger alguém não presente na lista oficial em casos justificados
pela especial dimensão da empresa compreendida na massa insolvente – art.53º/2CIRE
O juiz pode a todo o tempo destituir o administrador – art.56º/1 – por justa causa:
Justa causa constitui um conceito vago e indeterminado que abrange naturalmente a violação
grave dos deveres do administrador. Como por exemplo: o administrador adquirir coisa da massa
insolvente – art.168º/2

Funções
1- Assumir o controlo da massa insolvente
2- Proceder à administração da massa Art.55º/1/a)
3- Liquidação da massa

▪ Tem então de apreender a contabilidade dos bens da massa insolventes –


art.149º CIRE
▪ O administrador da insolvência pode solicitar ao juiz a convocação da
assembleia de credores – art.75º
4- Tem a faculdade de contestar os embargos interpostos contra a sentença de declaração de
insolvência – art.41º/1
5- Poderes de desistir, confessar ou transigir – art.55º/8
6- Tem ainda competências relativamente ao destino dos negócios – art.102º e ss
7- Art.123º e ss
8- A possibilidade de a atividade pode ou não ser recuperada – art.155º
9- Tem de dar o parecer se é culposa ou não – art.155º
10- Tem competências relativamente à verificação dos créditos, cabendo-lhe receber as
reclamações – art.128º/2
11- O administrador da insolvência intervém no âmbito da restituição e separação de bens
indevidamente apreendidos para a massa insolvente – art.144º
12- Venda de bens – art.158º/1
13- Pagamento das dividas – art.172º
14- Art.156º, 208º, 207º/1/d), 208º, 226º, 236º/4, 238º, 243º/1

Joana Coelho de Freitas 45


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Exercício do cargo
É possível existir mais de que um administrador – art.52º/4 – neste caso, prevalece o que tiver
sido nomeado pelo juiz – art.52º/5
Tem de ser exercido de forma pessoal – art.55º/2 – passa a ter uma relação jurídica com os
credores
Tem a legitimidade exclusiva de propor ações

Remuneração
Art.60º
Se for nomeado:
Juiz: uma componente relativa aos atos praticados e uma variável em função do resultado
da liquidação da massa insolvente majorado em função do grau de satisfação
o Sempre que exceder os 50.000€, pode o juiz definir que segunda parte possa ser
menor
Assembleia de credores: este é que estabelecem a remuneração, sendo que se a
remuneração for excessiva, o juiz pode recusar a nomeação – art.53º
o Se quiserem substituir o administrador nomeado pelo juiz – tem direito a receber:
a remuneração determinada pelos atos praticados e a remuneração variável em
função do resultado da liquidação
A remuneração do administrador consta como divida da massa insolvente – art. 51º/1/b)

Fiscalização – por parte do juiz,


Caso não seja deliberado, nos termos do 156/2, o encerramento do estabelecimento, as
obrigações fiscais passam a ser da responsabilidade do administrador da insolvência, enquanto
durar esta administração (65/4).
Além disso, o administrador fica responsável pelas eventuais responsabilidades fiscais que
se possam constituir entre a declaração de insolvência e a deliberação de encerramento da
atividade do estabelecimento.

Deverá ainda prestar contas do exercício do cargo – art.62º/1


Responsabilidade fiscal – art.156º - as obrigações fiscais passam a ser do administrador da
insolvência - art.65º/4
Responsabilidade disciplinar e contra-ordenacional – regulado na Lei nº22/2013
Responsabilidade civil – pela inobservância de deveres que lhe incumbem, apesar de não se
presumir culpa – Menezes Leitão não concorda com esta solução de não se presumir a culpa –
art.59º/1
A culpa no nº3 pode ser elidida, através da demonstração da relevância negativa da causa
virtual – afastando assim a responsabilidade obrigacional que iria estabelecer uma
responsabilidade objetiva – art.800ºCC
Cessação de funções – com o fim do processo (art.233º/1/b)), renúncia (art.60º/3), destituição
(art.56º)

Joana Coelho de Freitas 46


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Comissão de credores
Destina-se a representar as diversas classes de credores da insolvência e a permitir a
fiscalização pelos credores da atividade do administrador da insolvência e prestar-lhe colaboração
– 68/1. No entanto, não é um órgão obrigatório, podendo o juiz ou a assembleia de credores
prescindir dela (66).

Nomeação e composição
É nomeada pelo juiz, podendo ser composta por três ou cinco membros efetivos e dois
suplentes, sendo o presidente o maior credor. – 66/1
Deve representar todas as categorias de credores – bancos, fornecedores e trabalhadores
(estes últimos obrigatoriamente).
O juiz pode não nomear quando o considere justificado atendendo à pequena dimensão
da massa, à simplicidade da liquidação ou ao reduzido nº de credores.
A assembleia de credores pode alterar as decisões relativas à comissão – 67/1, por dupla
maioria de votantes e votos emitidos.

Funções
Fiscalizar o administrador da insolvência – função de fiscalização:
Receber as informações do administrador (55/5)
Visar a informação sucinta que o administrador tem de prestar de 3 em 3 meses (61)
Examinar os elementos da contabilidade do devedor (68/2)
Pronunciar-se sobre o relatório apresentado pelo administrador à assembleia (156/1)
Receber informação de que o administrador pretende proceder à venda antecipada de bens
(158/3)
Emitir parecer sobre o plano de pagamento (178/1)
Consentir na desistência, confissão ou transação judicial do administrador (55/8)
“” na atribuição de alimentos ao insolvente ou aos trabalhadores da empresa (84/1)
Dar parecer favorável ao pedido ao juiz para separação de bens do processo de
insolvência – 141/3 – ou para a dispensa de elaboração do inventário – 153/5
Consentir na prática de aj que assumam especial relevo no processo de insolvência
(161/1)
Dar parecer favorável à aplicação … 167/3
Consentir .. 206/2
Dar acordo à oposição do administrador ao plano de insolvência (207/1/d)
Colaborar no exercício da sua atividade – 68/1 – funções de colaboração:
Recomendar ao juiz o administrador da insolvência a nomear (52/2)
Ser ouvida quanto à destituição ou substituição do administrador (56/1)
Ser ouvida sobre a prestação de contas por terceiro (63)

Joana Coelho de Freitas 47


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Funcionamento
Reúne sempre que seja convocada pelo presidente ou outros dois membros (69/1).
Não se pode deliberar sem a maioria dos membros.

Estatuto dos membros


Não são remunerados, mas têm direito ao reembolso das despesas estritamente necessárias ao
desempenho das suas funções (71).

Cessação de funções
Normalmente apenas ocorre com o encerramento do processo de insolvência (233/1/b), mas pode
ocorrer em momento posterior ou anterior, se vier a ser aprovado um plano de insolvência ou se
a assembleia de credores prescindir da sua existência.

Assembleia de Credores
Reúne todos os credores numa assembleia.

Competência
• Eleger administrador da insolvência distinto do designado pelo tribunal (53/1)
• Prescindir da existência da comissão ou substituir membros – art. 67/1
• Criar uma comissão de credores
• Alterar a composição da comissão
• Dispensar a necessidade de aprovação da comissão- art.80
• Revogar deliberações da comissão
• Consentir na prestação de alimentos – art.884/1 e 3
• Apreciar o relatório elaborado pelo administrador – art.156/1

Convocação
É convocada pelo juiz (por iniciativa própria ou a pedido do administrador, comissão ou de
credor ou grupo de credores cujos créditos representem pelo menos 1/5 do total dos créditos não
subordinados).

Participação
Têm direito a participar todos os credores da insolvência, bem como os titulares de eventual
direito de regresso sobre o devedor insolvente que não possam exercer esse direito no processo.

Voto
É atribuído em função do montante dos créditos, contando-se um voto por euro ou fração, ou
seja, depende de uma quota. Cada credor terá direito ao voto correspondente à sua divida.

Joana Coelho de Freitas 48


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Funcionamento e suspensão
É presidida pelo juiz – art.74.º - a quem cabe a direção dos trabalhos. Compete ao
administrador da insolvência prestar as informações necessárias sobre quaisquer assuntos
compreendidos nas suas funções.

Cessação de funções
Ocorre com o encerramento do processo.

Pedido de declaração de insolvência


Legitimidade
Art.18º e ss CIRE
A legitimidade de apresentar a declaração de insolvência é:
1- Do devedor
2- Se for incapaz, pode ser do representante legal – art.19º e 6º/1/b
3- Os que forem legalmente responsáveis pelas suas dividas
4- Qualquer credor
5- Ministério Público
NOTA: quando existem um credor que teria interesse em afastar o devedor do mercado, não há
um interesse legalmente protegido
A lei atribui legitimidade:
1. Qualquer credor ainda que condicional – basta então o crédito –
art.25º/1

Se for apresentada pelo devedor…


Tem o dever de requerer da insolvência, exceto se for pessoa singular não titular de
empresa na data em que incorre a situação de insolvência – art.18º/2 – tem 30 dias para declarar
da insolvência
As empresas podem conseguir a suspensão desse prazo através do requerimento do SIREVE.
Se o devedor, tendo conhecimento da sua situação, não se declarar insolvente, passados 3 meses
– será insolvência culposa – art.186º/1 e 3/a)
A indemnização por responsabilidade delitual:
֎ Créditos já constituídos à data em que a apresentação deveria ter sido efetuada – dano
consiste na maior frustração dos créditos por agravamento da situação do devedor:
o o que os credores receberiam em percentagem do valor do crédito se a
insolvência tivesse sido feita - que vai receber na liquidação final

Joana Coelho de Freitas 49


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֎ Créditos constituídos após essa data terão que receber a diferença, tal como os outros, e
ainda uma indemnização pelos danos sofridos por terem celebrado um contrato que nunca
teria sido celebrado caso tivessem conhecimento da situação
o (que os credores receberiam em percentagem do valor do crédito se a
insolvência tivesse sido feita - que vai receber na liquidação final) + o
interesse contratual negativo (não poderão exigir os danos resultantes do
incumprimento)
Poderá ainda ser crime punível com prisão até a um ano
O devedor poderá se apresentar à insolvência se for meramente iminente – art.3º/4CIRE
Mas começa logo a contar o prazo do art.18º/1?
Menezes Leitão: o art. 18º/1 apenas remete para o art.3º/1 e não para o art.3º/4, para além disso é
muito complicado saber quando é que o devedor entra em situação iminente de insolvência, por
isso, apenas começa a contar no momento em que há insolvência
As pessoas singulares que não tenham empresas, não têm que se apresentar à insolvência –
art.18º/2 + 186º/5
Pode interessar para exonerar-se do passivo restante – art.235º e ss e 251º e ss

Se for apresentada pelos outros legitimados


É necessário apresentar prova – art.20º + art.30º/5 e art.35º/4 – os factos serão suficientes
para declarar a insolvência, se esta não vier a ser ilidida.
Quais são os indicies:
a- Cessação de pagamentos pelo devedor – art.20º/1( a, b e g
b- Abandono da empresa – art.20º/1/c
c- Realização de atos de onde resulta o empobrecimento voluntário do devedor –
art.20º/1/d)
d- Insuficiência dos bens do devedor para satisfação do crédito do exequente, verificada
em processo executivo - art.20º/1/e)
e- Incumprimento das obrigações incluídas no plano de insolvência – art.192º e ss – e
plano de pagamentos – art.251º e ss - art.20º/1/f)
f- Manifesta superioridade do passivo em relação ao ativo, ou no atraso superior a nove
meses na aprovação e depósito das contas legalmente obrigatórias - art.20º/1/h)

No caso de o pedido ser infundado?


Menezes Leitão: não parece aceitável que apenas no caso de dolo, haja responsabilidade,
pois a responsabilidade civil ocorre tanto no caso de dolo como de negligência. Parece então, pelo
menos, poder-se aplicar aos casos de negligencia grosseira

Sentença de declaração de insolvência e seus efeitos


Art.36º, 37º e 38º

Joana Coelho de Freitas 50


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E se a massa insolvente for insolvente?


Art.39º/9 – presume-se que o património do devedor é inferior a 5.000€
Nestes casos não se prevê a possibilidade de o devedor passar a administrar a massa insolvente
Ou seja, a decisão do juiz vai ser uma mera dispensa do concurso de credores, por razoes
de economia processual, mas não produz efeitos no caso julgado

Qualquer interessado pode pedir que sejam adicionadas as


alíneas do art.36º - excluídas pelo art.39º/1 – sendo que se não
o fizer, a decisão do juiz fica em causa – art.39º/2/a)
Art.39º/4 – ordem que deve ser seguida após se cumprir o complemento
Se não for requerido o complemento da sentença – art.39º/7CIRE – não ficará o devedor impedido
de poderes de administração
Não se aplica o disposto, no caso de o devedor ser pessoa singular – art.39º/8CIRE

Efeitos da sentença de declaração de insolvência


Efeitos sobre o insolvente:
Transferência dos poderes de administração e disposição dos bens da massa insolvente
para o administrador da insolvência – art.81º/1
Nos casos em que o insolvente celebra negócios relativos à massa insolvente, serão esses
ineficazes.
Soveral Martins: defende que com a ratificação do administrador, esses negócios poderão se
tornar eficazes.
A massa só responderá no relativo ao enriquecimento sem causa pelo que tiver sido
prestado – art.81º/6
Os atos serão encarados como eficazes no caso de não serem suscetíveis de resolução
incondicional – art.121º/1 – se tiverem sido celebrados com terceiro de boa-fé anteriormente ao
registo da insolvência – art.38º/2
Mas existem casos em que não é retirada a capacidade de administrar ao insolvente. Quais?
֎ Quando o tribunal concluir pela insuficiência da massa e nenhum dos credores
pedir complemento – art.39º/7/a)
֎ No caso de ser insolvência de não empresários e titulares de pequenas empresas
– art,249º e ss – e vier a ser aprovado um plano de pagamentos – art.251º e 259º
֎ Pode ser aprovada a administração da empresa pelo próprio devedor – art.223º +
226º
NOTA: no art.82º/1, deve ser retirado os atos de disposição e de administração da massa
insolvente.
Apreensão dos bens
Art.36º/1/g) + 149º + 831º CC

Joana Coelho de Freitas 51


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Abrange todos os bens suscetíveis de penhora, mesmo que já tenham sido penhorados, arrestados
ou de qualquer forma tenham sido detidos.
NOTA: logo os não suscetíveis de penhora, não serão apreendidos, exceto os bens relativamente
impenhoráveis que aí poderão ser apreendidos se voluntariamente o insolvente o quiser
Existem casos de penhorabilidade subsidiária – bens do património do devedor, mas em
relação a quotas das sociedades civis, … entram também para a apreensão, pois se é declarada a
insolvência, não é necessária então a execução prévia de outros bens.
A casa de morada de família:
Se estiver em causa o arrendamento este não pode ser apreendido, visto se tratar
de um direito inalienável e impenhorável – art.736º/a) CPC
Se estiver em causa habitação própria, a desocupação pelo insolvente ocorre, a
não ser que este peça diferimento por razões sociais imperiosas – art.862º e ss
CPC
Este poder decorre da declaração de insolvência, por isso, o administrador da insolvência deverá
declará-la – art.150º - exceto se a administração for do devedor, sendo que aí a apreensão só
poderá ter lugar finda a administração – art.228º/2
Lebre Freitas: a função da apreensão dos bens do insolvente extravasa assim a função cautelar,
constituindo uma função executiva

Fixação de residência ao devedor e seu administrador


Art. 36/1/c)
O juiz deverá fixar residência dos administradores de direito e de facto do devedor, tal como, do
próprio devedor – não poderão assim mudar de residência ou de se afastarem dela sem avisarem
o tribunal

Vinculação do devedor por obrigações de colaboração, informação e apresentação


Obrigações do art.83º
1- Dever genérico de prestar toda a colaboração que lhe for requerida pelo administrador
2- Dever de prestar todas as informações relevantes para o processo que lhe sejam
solicitadas pelo administrador
3- Dever de se apresentar pessoalmente ao tribunal – em caso de falta sem justificação, o
juiz ordena a comparência sob custódia e aplica-se uma multa
A insolvência culposa pode levar à pena de prisão
Estes deveres de informação normalmente, destinam-se a dar informações do estado económico.
A recusa de qualquer destes deveres é apreciada pelo Tribunal, para, por exemplo, declarar a
insolvência como culposa. Caso o incumprimento seja reiterado, o juiz deixa de ter a possibilidade
de apreciar, tendo de declarar obrigatoriamente a insolvência como culposa. – Presunção inilidível
de insolvência culposa
NOTA: os deveres e sanções que se aplica ao devedor, também são aplicáveis aos administradores

Joana Coelho de Freitas 52


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Direito a alimentos do devedor por pessoa singular


A insolvência não pode por em causa o sustento digno do insolvente e da sua família.
Art.84º/1 – se o devedor não conseguir puder angariar com o seu trabalho, dinheiro para
garantir essa subsistência, poderá o administrador com acordo da comissão de credores, dar um
subsidio. Pode esse mesmo subsidio cessar em qualquer altura do processo, por justo motivo

Rosário Epifânio: alteração de conjuntura fáctica existente à data da concessão do subsidio


A maioria da doutrina entende que a faculdade de ter o subsidio pertence apenas às pessoas
singulares.
Menezes Leitão: constitucionalidade duvidosa – não se vê o porquê dos administradores
da pessoa coletiva também não terem direito a isso, os interesses de tutela alimentar do devedor
deverão prevalecer aos interesses dos credores

Não é uma mera faculdade do


administrador, mas sim um dever, por
questões de tutela constitucional
Art.47º/3:
Parece excluir a possibilidade de prestar alimentos aos familiares, tendo em conta que remete
para a possibilidade de esses poderem sustentar o insolvente – art.2009ºCC

Só quando o devedor tem o dever de prestar


alimentos, é que o administrador tem em conta
isso na fixação do valor do subsidio – art.83º

Menezes Leitão: solução inconstitucional, pois contraria a proteção da família – art.67º CRP, não
havendo nada que faço legitimo o desconsiderar o agregado familiar do insolvente quando é
fixado o subsidio

Limitação à possibilidade de administração de bens alheios por parte da insolvente pessoa


singular
Se tiver filhos a seu cargo, o tribunal deverá decretar providências especiais em ordem à proteção
dos bens do filho do insolvente – art.1920º CC
Se for estabelecida tutela do menor, os insolventes só poderão ser tutores se forem exclusivamente
encarregados de carga e regência do menor – art.1933º
Se for declarada posteriormente, deverá ser-lhe retirada a guarda dos bens do menor.
Eventual incapacidade da insolvente pessoa singular
Não parece que a situação de insolvente possa ser encarada como uma situação de incapacidade:
➢ O insolvente continua a exercer os seus direitos pessoais estranhos à insolvência
➢ Continua a exercer a sua profissão
➢ Apenas lhe é retirada a administração de bens apreendidos para a massa

Joana Coelho de Freitas 53


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➢ É vedado a venda de bens que venha a adquirir no futuro


Apenas, está impedido de praticar atos que possam diminuir o seu património.
Existe algumas restrições de facto aos seus direitos, mas não são para a proteção do
mesmo, mas sim para proteção dos interesses dos credores.
Dissolução da insolvente pessoa coletiva
É destituída a pessoa coletiva, passando a sua personalidade apenas a restringir-se à pratica de
atos necessários para a liquidação do património – art.182º/1/c), 192º/1/c), 1007º/c) CC e
141º/1/e) CSC
Se for uma sociedade comercial, a dissolução pode cessar com o regresso à atividade:
✓ após o encerramento do processo, independentemente de deliberação dos sócios se o
encerramento resultar num plano de insolvência que preveja a continuidade da
sociedade – art.234º
✓ pode o regresso à atividade ser deliberado pelos sócios, se o processo acabar a pedido
do devedor
Se não se verificar nenhuma das hipóteses, a pessoa coletiva dá-se por extinta – art.234º/3
Efeitos sobre as ações judiciais
Ao insolvente retira-se:
➢ a possibilidade de instaurar ou prosseguir ações em que se apreciem questões relativas a
bens compreendidos na massa – art85º/1
O administrador da insolvência substitui o insolvente em todas as ações referidas,
independentemente da apensação ao processo da insolvência e do acordo da parte contrária –
art.85º/3
exceto no próprio processo de insolvência, em que continua a ser o
devedor a intervir – art.81º/5

A declaração de insolvência determina


suspensão de qualquer diligencia executiva
providências requeridas pelos credores da insolvência
obsta à instauração ou prosseguimento de qualquer ação executiva intentada pelos
credores da insolvência
suspensa a eficácia das convenções arbitrais em que o insolvente seja parte respeitante a
litígios cujo resultado possa influenciar o valor da massa – art.87º/1 e 86º/3
Que atinjam os bens integrantes da massa
No entanto, se houverem outros executados, a execução prossegue contra estes – art.88.º.

O processo de insolvência paralisa a instauração ou prosseguimento de ações executivas,


Só depois do encerramento é q se recupera essa possibilidade – art.233.º/1/c

Joana Coelho de Freitas 54


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Os processos são apensados ao processo de insolvência, desde que o administrador o requeira


com fundamento na conveniência para os fins do processo – art.85º/1 – esta solução é excetuada
em relação às ações de impugnação pauliana – art.127º/2.

regime especial
Ações e execuções por dívidas da massa insolvente – art.51º – relativamente a estas, o
89º/1. Por outro lado, quaisquer ações, incluindo as executivas, relativas a dívidas da massa
insolvente correm por apenso ao processo de insolvência, com exceção das execuções por dívidas
de natureza tributária.
Efeitos sobre os créditos

Por questões de igualdade e de satisfação dos créditos dos credores, durante a pendência do
processo,
os credores apenas podem exercer os seus direitos no âmbito do processo
de insolvência – art.90º- deixando de poder instaurar ações independentes – isto
garante a intangibilidade do património do devedor.

A declaração de insolvência
➢ o vencimento imediato de todas as obrigações do insolvente – art.91º/1 –
o com exceção dos créditos com condições suspensivas – art.50º
o Relativamente aos créditos resolutivamente condicionados, a lei equipara a
incondicionados enquanto a condição não se preencher,
▪ Mas os pagamentos recebidos deverem ser restituídos, uma vez verificada a
condição.
▪ Sendo apenas estas obrigações excecionadas, vencem-se tanto as obrigações
puras como as obrigações a prazo.
➢ a suspensão de todos os prazos de prescrição e caducidade oponíveis pelo devedor, durante
o decurso do processo
o sendo possível aos credores recorrer à impugnação pauliana antes da declaração de
insolvência, o prazo para esse efeito ficará suspenso enquanto decorrer o processo
– e a suspensão cessa com o encerramento do processo.
➢ a extinção de certas garantias – art.97º
➢ Restringe a faculdade dos credores compensarem os seus créditos com dívidas à massa –
art.99º/1/a
Art. 99º/4 estabelece ainda que a compensação não é admissível:
Se a massa se tiver constituído após a data da declaração de insolvência

Joana Coelho de Freitas 55


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Se credor da insolvência tiver adquirido o seu crédito de outrem, após a data da


declaração de insolvência
Com dívidas do insolvente pelas quais a massa não seja responsável
Entre dívidas à massa e créditos subordinados sobre a insolvência
NOTA: sendo admissível a compensação, a sua declaração extingue tanto o crédito do declarante
como o do insolvente. O declarante obtém o valor integral do seu crédito
Efeitos sobre os negócios em curso
Direito de opção do administrador da insolvência
Relativamente aos negócios em curso, a lei estabelece genericamente um direito de opção do
administrador de insolvência entre a execução do contrato e a recusa do seu cumprimento –
art.102.º
➢ apenas se aplica a contratos bilaterais
➢ à data da declaração de insolvência, não haja ainda total cumprimento
nem pelo insolvente nem pela outra parte.
Estes contratos ficam suspensos com a declaração da insolvência, até que o administrador
comunique a decisão.
A concessão deste direito resulta de a insolvência constituir uma impossibilidade geral de
cumprimento das obrigações, que justifica a adoção de medidas em defesa dos credores.

os pagamentos que efetuasse beneficiariam alguns credores em


face de outros – é por isto que a lei determina que com a
declaração de insolvência os credores perdem o direito de
reclamar autonomamente os seus créditos.

NOTA: a parte não é obrigada a cumprir se o insolvente não o fizer.


Como o cumprimento dos contratos pode ser benéfico para a massa, concede-se ao
administrador a possibilidade de optar entre o cumprimento do contrato e a sua recusa.
a declaração de insolvência:
não prejudica as pretensões de cumprimento dos contratos bilaterais pela outra parte,
apenas suspendendo provisoriamente:
o A opção pela recusa não afeta os direitos de separação de bens do art 141º ss,
que podem continuar a ser exercidos
Se o administrador recusar, inviabiliza as pretensões e gera um direito de indemnização
na outra parte – por factos lícitos.
Caso aceite a execução ver se é abusivo- art.102º/4 + 59º

Casos de prestações de coisas infungíveis e prestações fracionadas

Joana Coelho de Freitas 56


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Pretende-se que o administrador tenha opção de escolha em relação à prestação não cumprida
o Casos em que essas prestações constituem créditos do insolvente
▪ Caso em que o administrador da insolvência venha a recusar o cumprimento –
a massa insolvente só tem direito a exigir a parte da prestação já realizada pelo
devedor, na medida em que ainda não tenha sido realizada pela outra parte –
art.103º/1/a)
▪ Caso em que o administrador da insolvência prefira o cumprimento – o valor
que a outra parte é igual à

o Casos em que essas prestações constituem dividas do insolvente


▪ Tem direito à diferença da totalidade dos valores das prestações contratuais –
art. 103º/1/b)
▪ Reembolso do custo ou à restituição do valor da parte da prestação realizada
anteriormente à declaração da insolvência – art. 103º/1/c)
• Neste caso pode opor-se à recusa do administrador
▪ Recusa do cumprimento
• Se for coisa infungível:
o O devedor perde o direito de exigir o valor da contraprestação da
parte já efetuada pelo devedor – art.103º/4 e 102º/3/b)
o Fica com um crédito sobre a massa (recebe primeiro)
o Poderá acabar a execução da obra, de forma a ficar em suporte ao
público, devido a um interesse imaterial na fixação da obra como
completa – fica com um crédito da insolvência
• Se for coisa fungível:
o Esse direito é substituído pelo direito à restituição do valor da
parte da prestação já efetuada anteriormente à declaração –
art.103º/4
▪ Execução do contrato
• O direito da outra parte à contraprestação constitui crédito sobre a
massa insolvente – art.103º/5
• O administrador quer o cumprimento do contrato e a outra parte acaba
a prestação – art.103º/3
o O que já estiver sido prestado é crédito sobre a insolvência
o O que vai realizar para completar o contrato é crédito sobre a
massa
No caso de uma compra a prestações em que a coisa não foi entregue – art.105º/1/b)
Assim sendo, se não houver recusa por parte do administrador, deverá a coisa ser entregue
e as restantes prestações deverão passar a ser créditos sobre a insolvência
Art111º - prestação duradoura

Joana Coelho de Freitas 57


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Venda com reserva de propriedade, locação financeira e locação-venda


o Insolvência do vendedor ou locador
o Insolvência do comprador ou locatário

Resolução em beneficio da massa insolvente


Não é admissível a concessão de vantagens especiais a qualquer dos credores a partir do momento
em que a situação de insolvência vem a ser conhecida
֎ Requisitos gerais- art.120º
o Realização pelo devedor de determinado ato
o Prejudicialidade do ato em relação à massa insolvente: se diminui, frustra,
põe em perigo ou retarda a satisfação dos credores da insolvência.
▪ No art.120º/3 há uma presunção de atos prejudiciais à massa – os atos de
qualquer dos tipos do art.121.º.
o Verificação desse ato nos dois anos anteriores à data de inicio do processo
de insolvência: implica que apenas possam ser resolvidos em benefício da massa
insolvente os atos que tenham decorrido nos 2 anos anteriores ao início do
processo, uma vez que só este período é considerado como suspeito para efeitos
da resolução.
▪ Assim, se o ato tiver sido praticado antes desse período não poderá ser
objeto de resolução
o Existência de má-fé do terceiro – art.120º/5 considera como má fé o
conhecimento das seguintes circunstâncias:
▪ A situação de insolvência do devedor
▪ O caráter prejudicial do ato, estando o devedor à data em situação de
insolvência iminente
▪ O início do processo de insolvência

֎ Requisitos em relação a categorias de atos – art.121º - incondicional


Os requisitos gerais da resolução acima enunciados são dispensados no caso de se tratar dos atos
referidos no art.121.º, que são resolúveis independentemente de quaisquer outros requisitos.
Esta resolução incondicional deixa de ser possível em
caso de normas legais que excecionalmente exijam sempre a má
fé ou a verificação de outros requisitos.
NOTA: A enumeração do art.121.º é taxativa.

Exclusão da resolução
A lei exclui a possibilidade de aplicação da resolução em benefício da massa insolvente
quando:

Joana Coelho de Freitas 58


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▪ Art.120/6: Negócio Jurídico celebrados no âmbito do PER, de providência de


recuperação ou saneamento ou de adoção
▪ Art.122.º
▪ Art.283.º ss CVM

Legitimidade ativa e passiva para o exercício do direito


Art.123º - compete exclusivamente ao administrador da insolvência.
Não se aceita a tese de que os credores poderão proceder a essa resolução se
intimarem o administrador para realizar a mesma e este não o fizer num prazo razoável.
Essa omissão pelo administrador implica a responsabilização perante os credores – art.59º e
poderá determinar a sua substituição por outro que concretize a resolução – art.56º
Quanto à legitimidade passiva, deve ser dirigida contra ambas as partes no ato que se pretende
resolver.

Forma de exercício do direito


Em coerência com o regime geral da resolução, que estabelece que se pode fazer por simples
declaração à outra parte art.436º/1CC, o 123º/1 não exige que a resolução seja realizada por ação
judicial, bastando-se com uma simples comunicação por carta registada com aviso de receção.
A resolução pode ser exercida por via de exceção, quando o negócio não esteja cumprido –
art.123º/2
De qualquer forma, a declaração de resolução terá que conter os fundamentos da mesma, sem
o que será afetada de nulidade – sendo nula, o administrador da insolvência não está impedido de
proceder ao envio de nova comunicação, desde que, entretanto, não tenha decorrido o prazo
previsto no art.123º/1
Não parece admissível nova comunicação depois da impugnação da resolução.

Prazo para o exercício do direito de resolução


Tem que ser exercida no prazo de 6 meses após o conhecimento do ato pelo administrador da
insolvência, mas nunca depois de decorridos 2 anos sobre a data da declaração de insolvência –
art.123º/1. No caso de o negócio ainda não estar cumprido, a resolução pode ser exercida sem
dependência de prazo- art.123º/2
Menezes Leitão: diz que a “prescrição do direito” é sim uma caducidade de direito.

Oponibilidade da resolução a transmissários posteriores


Tal como se prevê para a impugnação pauliana no art.613º CC, a resolução pode ser oposta a
transmissários do direito, bem como àqueles que constituam direitos sobre os bens em relação aos

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quais a resolução seja exercida. Exige-se sempre a má-fé de terceiro, salvo se se tratar de sucessor
a título universal ou se a nova transmissão tiver sido realizada a título gratuito -art.124º
A oponibilidade da resolução aos transmissários posteriores é possível, desde que se verifique
em relação a todas o requisito de má fé do adquirente.

Impugnação da resolução
Cabe à parte que se opõe à resolução o ónus de intentar a ação correspondente; a ação deve
ser instaurada no prazo de 3 meses, que começam a contar a partir do momento em que recebe a
carta registada comunicando o seu exercício. Este prazo é perentório, pelo que o seu decurso
implica a caducidade do direito de impugnação, devendo ter-se como definitivamente verificada
a resolução.

Efeitos da resolução
Correspondem aos estabelecidos nos artigos 433.º e 289.º CC. Assim, a resolução tem efeitos
retroativos
deve reconstituir-se a situação que existiria se o ato não tivesse sido praticado –
art.126º/1
A lei prevê que a ação instaurada pelo administrador da insolvência, para obter os efeitos da
resolução, depende do processo de insolvência – art.126º/2:
dado que a resolução é efetuada por carta registada, cabendo à outra parte
o ónus de impugnar, a ação só pode ter como fim a obtenção da restituição das
prestações, sendo assim de condenação e não constitutiva

A resolução faz cessar os efeitos do ato praticado retroativamente, surgindo uma relação de
liquidação em que se determina a restituição das prestações já realizadas. Os termos da restituição
variam consoante os atos tenham sido celebrados a título oneroso ou gratuito:
• Se for a título oneroso:
o o terceiro deve restituir à massa os bens e valores objeto da resolução dentro
do prazo fixado na sentença art.126º/3
o Se não o fizer, são-lhe aplicáveis sanções previstas para o depositário de
bens penhorados que falte à entrega deles- art.771º CPC).
o A obrigação de restituição a cargo da massa insolvente só se verificará em
espécie se o objeto prestado pelo terceiro puder ser identificado e separado
da parte restante da massa – art.126º/4.

Joana Coelho de Freitas 60


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▪ Caso contrário, a obrigação de restituir o valor correspondente


constitui dívida da massa insolvente na medida do respetivo enri-
quecimento à data da declaração de insolvência e dívida da insol-
vência quanto ao eventual remanescente - art.126º/5.
▪ Se o terceiro estiver de má fé, o crédito que para ele resulta em
virtude da resolução assume a natureza de crédito subordinado
(48/e).
• Se for a título gratuito:
o a obrigação de restituição só existe na medida do seu próprio enriqueci-
mento, salvo o caso de má-fé real ou presumida (126/6).
▪ Daqui resulta que o adquirente a título gratuito vem a ser mais pro-
tegido do que o adquirente a título oneroso, uma vez que o primeiro
tem que restituir integralmente os bens, ficando com o crédito sobre
a massa, enquanto o segundo só tem que restituir aquilo com que se
enriqueceu
Menezes Leitão: discorda com esta ideia

Preclusão da possibilidade de recurso à impugnação pauliana


Preclude a possibilidade de os credores recorrerem à impugnação pauliana dos atos
abrangidos por essa resolução art.127º/1
127º/2 estabelece que estas ações, pendentes à data da declaração de insolvência ou propostas
posteriormente não serão anexas ao processo da insolvência – em caso de resolução do ato só
prosseguirão os seus termos se tal resolução vier a ser declarada ineficaz por sentença definitiva.
+ art.616º CC

Verificação De Créditos
Após a sentença de declaração da insolvência, tem lugar a fase de verificação do passivo
➢ Esta constitui um processo declarativo, compreendendo as fases:
o de reclamação de créditos – art.128ºss
o saneamento – art.136º
o instrução – art.137º
o discussão
o julgamento da causa e sentença.

Quem são as partes na verificação dos créditos?


Menezes Leitão e Salvador da Costa: do lado ativo, temos os credores numa situação de
litisconsórcio voluntário sucessivo e do lado passivo o insolvente, representado pelo
administrador da insolvência.
Joana Coelho de Freitas 61
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Teixeira de Sousa: os credores reclamantes são partes ativas, relativamente aos créditos por
eles reclamados, e partes passivas, quanto aos créditos reclamados pelos outros credores. Além
disso, o devedor também seria parte passiva. O liquidatário não assumia qualquer parte.

Reclamação de créditos
Os credores da insolvência devem apresentar a competente reclamação dos seus créditos –
art.128º
Só são reclamáveis os créditos sobre a insolvência relativos a prestações patrimoniais
Exclui as obrigações naturais, direitos relativos à constituição e extinção
de estados pessoais e direitos potestativos relativos à anulação e resolução do
negócio jurídico.
NOTA: A reclamação não é essencial para o reconhecimento do crédito
O administrador tem o dever de reconhecer todos os créditos que constem dos elementos da
contabilidade do devedor ou que sejam por outra forma do seu conhecimento – art.172º.
O administrador da insolvência deve devolver as reclamações que lhe sejam apresentadas
fora do tempo.
No entanto, pode admitir reclamações de créditos anteriormente constituídos no prazo de
6 meses subsequentes ao trânsito em julgado da sentença de declaração de insolvência, desde que
os credores não tenham sido avisados nos termos do art.129º.

Como é feita a reclamação?


É feita por meio de requerimento endereçado ao administrador da insolvência, entregue no seu
domicílio profissional ou para aí remetido – art.128º/2.
Se a reclamação for apresentada, por lapso, em tribunal, este deve proceder a sua remessa
ao administrador, considerando-se recebida na data de entrega ao tribunal.
O requerimento deve ser acompanhado de todos os documentos probatórios disponíveis e
indicar:
A proveniência do crédito, data de vencimento, montante de capital e juros
Eventuais condições a que esteja subordinado, sejam suspensivas ou
resolutivas
A natureza comum, subordinada, privilegiada ou garantida, com indicação de
quais os bens ou direitos objeto da garantia
A existência de eventuais garantias pessoais
Taxa de juros moratórios aplicáveis

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Apreciação pelo administrador da insolvência


Art.129º/1
A lei impõe a notificação da lista aos credores:
não reconhecidos,
aos reconhecidos que não tenham apresentado reclamação,
aos reconhecidos em termos diversos da respetiva reclamação art.129º/4;
os outros credores consultam a lista, sabendo que a não notificação implica o
deferimento da reclamação.
NOTA: qualquer interessado pode impugnar a lista, com fundamento na indevida inclusão ou
exclusão de créditos ou na incorreção do montante ou da qualificação dos créditos reconhecidos.
A inexistência de impugnações implica que o juiz profira de imediato sentença de verificação
e graduação dos créditos, que se limita à homologação da lista dos credores reconhecidos e à
graduação dos créditos em atenção ao que conste dessa lista.
Quem responde à impugnação das listas?
O administrador da insolvência ou qualquer interessado, incluindo o devedor.

Se a impugnação se fundar:
➢ na indevida inclusão de certo crédito,
➢ na omissão da indicação das condições a que se encontra sujeito,
➢ no facto de lhe ter sido atribuído um montante excessivo ou qualificação de grau
superior
apenas o próprio titular do crédito pode responder.

1- Saneamento do processo
O juiz marca uma tentativa de conciliação. São notificados todos os que tenham apresentado
impugnações e respostas, a comissão de credores e o administrador da insolvência, que deverão
comparecer pessoalmente ou fazer-se representar - art136º/1
Esta tentativa de conciliação serve para permitir o reconhecimento de créditos impugnados,
dependendo da aprovação de todos.
Após esta tentativa, o processo é concluso ao juiz para elaboração de despacho saneador, onde
reconhece os créditos incluídos na respetiva lista e não impugnados, bem como os que tenham
sido aprovados na tentativa de conciliação.

2- Instrução
3- Discussão e julgamento da causa
4- Sentença
O juiz deve efetuar uma graduação geral para os bens a massa insolvente e uma especial para
os bens que respeitem direitos reais de garantia e privilégios creditórios - art.140º/2.

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NOTA: não podem atender às preferências resultantes da penhora e da hipoteca judicial – para
compensar esses credores, as custas respetivas passam a constituir dívidas da massa insolvente -
art.140º/3 - sendo pagas antes da satisfação dos credores da insolvência.

Restituição e Separação de Bens


art.141ºss
Nestes casos, o terceiro tem uma pretensão de natureza real, a separar da massa de bens de que
o insolvente não é o efetivo dono, constituindo por isso uma situação diferente da reclamação de
créditos.
A indevida apreensão de bens para a massa tenha lugar através de embargos de terceiro, é
admitida em três situações, previstas no art.141º/1:
▪ Direito de restituição dos bens apreendidos para a massa, mas de que o
insolvente fosse mero possuidor em nome alheio;
▪ Direito de separação por parte do cônjuge do insolvente
▪ Direito de separação dos bens de terceiro indevidamente apreendidos e
qualquer outro bem, dos quais o insolvente não tenha a plena e exclusiva
propriedade
NOTA: além disso, pode recorrer-se a isto para reclamar a restituição de benfeitorias e
incorporações efetuadas na massa insolvente.

No caso das benfeitorias e incorporações não poderem ser levantadas, tendo por isso que ser
pagas pela massa?
o Menezes Cordeiro: o valor deveria ser igualmente objeto de separação da
massa falida, sendo objeto de restituição de bens por ter natureza real
o Teixeira de Sousa: é um crédito da massa e por isso deve ser tratado segundo
o regime mais próximo para os bens integrados na massa
o Menezes Leitão: a aquisição do valor das benfeitorias representa um enrique-
cimento sem causa da massa, devendo ser tratado como dívida desta –
art.51/1/i)
O 141º/4 admite ainda a aplicação da restituição de bens a casos particulares de direitos de crédito.
A restituição deve ser solicitada no prazo fixado na sentença declaratória de insolvência.

Liquidação da Massa Insolvente


Destina-se a permitir a satisfação, ainda que parcial, dos credores do insolvente.
Para isso, procede-se à cobrança dos créditos e à alienação dos bens e direitos compreendidos na
massa insolvente - art. 156º ss.

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O processo de liquidação da massa pode vir a ser afetado se se verificar a dispensa, suspensão ou
interrupção da mesma.

Dispensa
Se ocorrer a dispensa, o processo não se chega a iniciar, verificando-se a satisfação dos
credores por outra via
Art.171º/1: a liquidação pode ser dispensada pelo juiz, no todo ou em parte, quando o devedor
é uma pessoa singular e na massa insolvente não esteja compreendida nenhuma empresa.
Para que haja dispensa, o devedor tem de entregar ao administrador uma quantia em
dinheiro não inferior àquela que resultaria da liquidação.
A dispensa é solicitada pelo administrador, com acordo prévio do devedor. Se o devedor não
entregar a quantia no prazo de 8 dias, fica sem efeito a decisão.

Suspensão
Se se verificar a suspensão, inicia-se, mas o seu decurso fica temporariamente paralisado. A li-
quidação é suspensa nas seguintes situações:
❖ Se for confiado ao administrador o encargo de elaborar um plano de insolvência e o
plano não for apresentado por este nos 60 dias seguintes – art.156º/3 e 4
❖ A requerimento do proponente do plano de insolvência se isso for necessário para não
pôr em risco a execução do plano – art.206º/1
❖ Se for atribuída ao devedor a administração da massa insolvente – art.225º

Interrupção
Se, porém, se verificar a interrupção da liquidação, a mesma inicia-se, mas é encerrada sem estar
concluída.
A liquidação é imediatamente interrompida se o administrador verificar que a massa insolvente
é insuficiente para a satisfação das custas do processo e das dívidas restantes – art.232º/4.
Regulação especial da liquidação através de plano de insolvência, afasta-se da regulação geral do CIRE
– se for elaborado plano de insolvência – art.192º/1.

Como é que se inicia a liquidação?


o administrador pode proceder imediatamente ao encerramento dos estabelecimentos do
devedor
desde que obtenha parecer favorável da comissão ou se o devedor não se opuser
Art.158º/1 - o administrador pode iniciar a venda dos bens apreendidos para a massa desde que a
sentença de declaração da insolvência tenha transitado em julgado,…

Joana Coelho de Freitas 65


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O administrador pode proceder à venda imediata de bens que não possam ou não se devam
conservar por estarem sujeitos a deterioração.

Liquidação de bens em situação de contitularidade, indivisão ou litígio


sobre a titularidade
817º CC: a execução só deve incidir sobre bens do devedor
Assim, é necessário acautelar os direitos dos terceiros em caso de contitularidade, indivisão ou
litígio sobre a titularidade
➢ A liquidação de bens indivisos, sobre os quais seja exercido direito de
restituição ou separação, ou de bens em contitularidade, fica sujeita ao
direito que o insolvente tenha sobre esses bens – art.159º
Existindo litígio sobre a titularidade, a liquidação dos bens depende da decisão do litigio –
art.160º/1
No entanto, admite- que a liquidação ocorra nos casos de:
a) Consentimento do interessado – art.160º/1/a
b) Venda antecipada de bens suscetíveis de perecimento ou deterioração – art.160º/1/b
c) Se o adquirente for advertido da controvérsia e aceitar ser inteiramente da sua conta
Regime específico dos atos de especial relevo e da alienação de empresa compreendida na
massa insolvente
Estes atos de especial relevo estão dependentes do consentimento da comissão ou assembleia
de credores – art.161º/1, 161º/2 e 3.
Quanto à alienação de empresa, deve ser realizada como um todo,
a não ser que haja proposta satisfatória ou se reconheça vantagens
na liquidação ou alienação separada de certas partes.
Se o administrador violar estas disposições, isso não prejudica a eficácia dos atos, mas responde
pelos danos, podendo ser destituído com justa causa – art.163º, 59º/1, 56º

Alienação dos bens compreendidos na massa


A modalidade de alienação dos bens é livremente escolhida pelo administrador – art.164º/1.
Os credores que gozem de garantias reais sobre bens a alienar devem ser
sempre ouvidos sobre a modalidade de alienação e informados do valor base
fixado e do preço da alienação projetada a entidade determinada – art.164º/2
Estes credores podem propor a aquisição do bem por si ou por terceiro, por preço superior à
alienação projetada ou ao valor base.
Esta proposta só é eficaz - 164º/4. Se o administrador não aceitar
a proposta, tem de colocar o credor na situação que decorreria da
alienação a esse preço.

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Proibição de aquisição dos bens da massa pelo administrador


Art.168º/1 - se incumprir:
destituição por justa causa + restitui à massa o bem ou direito sem poder reaver a prestação
efetuada

Depósito do produto das vendas


Art.167º/1 + 150º/6
Se existir comissão de credores, a movimentação só pode ser feita mediante assinatura do
administrador e de um dos membros da comissão.

Conclusão da liquidação
Deverá estar concluída no prazo de um ano contado da data da assembleia de apreciação do
relatório, que pode ser prorrogado por períodos consecutivos de 6 meses, se houverem razões para
prolongar.
O incumprimento do prazo constitui justa causa para a destituição do administrador – art.169º

Incidente de qualificação da Insolvência


O incidente de qualificação da insolvência está previsto nos artigos 185.ºss

Pressupostos da qualificação
Na sentença decidir-se-á se a insolvência deve ser qualificada como culposa ou fortuita –
art.189º/1
Será culposa se:
tiver sido criada ou agravada em consequência da atuação:
o dolosa ou com culpa grave,
o do devedor ou dos seus administradores,
o de direito ou de facto,
o nos 3 anos anteriores ao início do processo de insolvência. – Art.186º/2:
presume-se que isto aconteceu sempre que os administradores tenham praticado atos destinados
a empobrecer o património do devedor
Será fortuita se não se verificar essa situação.

Processamento do incidente
O incidente é considerado aberto, com caráter pleno ou limitado, na própria sentença de
declaração de insolvência, caso o juiz disponha de elementos que justifiquem a sua abertura.

Joana Coelho de Freitas 67


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o facto de a insolvência não ter sido qualificada como culposa no processo anterior
impede que o assunto seja novamente objeto de discussão. – art.187.º
art.36º/4 e 188º/1

Declarado aberto o incidente, o administrador da insolvência, quando não tenha sido ele a propor
a qualificação, deve nos 20 dias seguintes apresentar um parecer sobre os factos relevantes, onde
incluirá uma proposta de decisão.
Havendo concordância entre o administrador e o MP quanto à qualificação da insolvência
como fortuita, o juiz deve proferir de imediato a decisão nesse sentido.

O que é que acontece se a insolvência for qualificada como culposa?


Nos termos do 189º/2:
a. Inibição das pessoas afetadas pela qualificação para administrarem patrimónios de ter-
ceiros por um período de 2 a 10 anos
b. Inibição das mesmas pessoas para o exercício do comércio durante um período de 2 a 10
anos, bem como para ocupação de qualquer cargo de titular de órgão de sociedade co-
mercial ou civil, associação ou fundação
c. Perda de qualquer crédito sobre a insolvência detidos pelas pessoas afetadas pela quali-
ficação e sua condenação na restituição dos bens ou direitos já recebidos no pagamento
desses créditos:
d. Condenação na indemnização aos credores do devedor insolvente no montante dos cré-
ditos não satisfeitos até às forças dos respetivos patrimónios

Plano de Insolvência
O art 1.º CIRE estabelece que a satisfação dos credores deve ocorrer preferencialmente através
de um plano de insolvência que se baseie na recuperação da empresa compreendida na massa, só
devendo ser liquidada quando tal não se afigure possível.

Legitimidade para ser objeto do plano


A aplicação do plano é, em princípio, universal.
Estando em causa pessoas singulares – art. 249º e 250º - inviabilizam a aplicação do plano em
relação aos não empresários ou titulares de pequenas empresas, existindo para eles um processo
específico – o processo do pagamento – art.251º
Se o não empresário falecer, a herança jacente pode ser alvo de plano?
Menezes Leitão: considera que não se justifica utilizar o regime mais protetor do devedor,
pelo que admite o recurso ao plano de insolvência.

Joana Coelho de Freitas 68


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Quem tem legitimidade para apresentar a proposta?


Art.193º/1:
O devedor
O administrador da insolvência, por iniciativa própria ou da assembleia – art.193º/2 e
156º/3
Qualquer pessoa que responda legalmente pelas dívidas da massa
Qualquer credor ou grupo de credores cujos créditos representem pelo menos 1/5 do
total dos créditos

Conteúdo do plano
Art.192º/1: o plano pode regular o pagamento dos créditos sobre a insolvência, a liquidação
da massa insolvente e a sua repartição pelos titulares daqueles créditos ou pelo devedor, bem
como a responsabilidade do devedor, findo o processo de insolvência. Têm ampla liberdade de
estipulação
Limites – art.192º/2
Art.194º/1: obedece ao princípio da igualdade dos credores, admitindo-se, porém,
diferenciações justificadas por razões objetivas.
O plano da insolvência não afeta:
❖ as garantias reais e os privilégios creditórios,
❖ os créditos subordinados consideram-se perdoados
❖ cumprimento do plano de insolvência exonera o devedor e os responsáveis legais da
totalidade das dívidas da insolvência remanescentes - art.197º

Condições de eficácia do plano


Arts 200.ºss:
a) Se o plano deixar aos credores várias opções em alternativa, deverá indicar a aplicá-
vel, caso não venha a ser por estes efetuada a escolha em determinado prazo
b) Não pode ter condições resolutivas
c) Quando seja exigido consentimento este deve ser prestado antes da aprovação

Aprovação do plano
Compete ao juiz admitir ou não a proposta. Deve rejeitá-la – art.207º/1
Admitida a proposta,
a comissão de trabalhadores, a comissão dos credores, o devedor e o
administrador da insolvência devem ser notificados para se pronunciarem sobre a mesma
– art.208.º

Joana Coelho de Freitas 69


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O plano pode ser alterado na própria assembleia, sendo submetido a votação com as alterações
introduzidas – art.210º. Finda a discussão, tem lugar a votação, podendo o juiz determinar que a
mesma tenha lugar por escrito.
A proposta considera-se aprovada se estiverem presentes ou representados na assembleia
credores cujos créditos constituam pelo menos 1/3 do total dos créditos com direito de voto –
art.212º/1 - e mais de metade dos votos emitidos correspondendo a créditos não subordinados,
não se considerando como tal as abstenções.
NOTA: São excluídos do direito de voto os créditos que não sejam modificados pela parte
dispositiva do plano e os créditos subordinados de determinado grau.

Homologação
Depois de aprovado, o plano deve ser homologado pelo juiz através de sentença que deve ser
proferida apenas passados 10 dias sobre a aprovação – art.214º
O juiz recusa oficiosamente a homologação – art.215º:
❖ Se tiver havido violação não negligenciável de regras procedimentais ou das nor-
mas aplicáveis ao seu conteúdo
o ex: um credor sem direito de voto é admitido à votação e os seus votos se
revelem decisivos para a obtenção de alguma das maiorias exigidas no
art.212º/1
o ex de vícios de conteúdo: plano segundo o qual o devedor pessoa singular
deva continuar a exploração da empresa sem ter declarado por escrito dispo-
nibilidade para o efeito – art.202º/1
❖ Quando no prazo razoável que estabeleça não se verifiquem as condições
suspensivas do plano ou não sejam praticados os atos que devem preceder a homo-
logação
❖ a requerimento dos interessados – art.216º/1 - quando o requerente de-
monstre em termos plausíveis que a sua situação ficará pior com o plano do que
sem ele
o exceto quando o plano cumpra as condições previstas no art.216º/3 e o opo-
nente seja o devedor ou o seu sócio.

Quais os efeitos da homologação?


1. Alteração dos créditos sobre a insolvência – art.217º/1
2. Concessão de eficácia a qualquer ato jurídico ou negócio jurídico previsto no
plano, independentemente da forma – art.217º/2
3. Atribuição de título bastante para a constituição de novas sociedades

Joana Coelho de Freitas 70


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Execução do plano
O plano de insolvência determina o encerramento do processo – art.230º/1/b). – em princípio,
apenas se o plano se traduzir em medidas de recuperação da empresa insolvente; se for um
processo alternativo de liquidação, não pode ser encerrado.
Antes do encerramento do processo, em consequência da aprovação do plano de insolvência,
o administrador deve proceder ao pagamento das dívidas da massa.
Se o devedor incumprir o plano, serão afetadas a moratória e o perdão de créditos previstos no
plano. – art.218º/1
O plano que encerre o processo pode prever que a sua execução seja fiscalizada pelo
administrador e que a sua autorização seja necessária para a prática de determinados atos pelo
devedor – art.220º/1 e ss

Administração pelo devedor


Quando na massa insolvente esteja compreendida uma empresa -art.223º -, o devedor pode
administra-la.
Isto pode resultar:
de decisão do juiz na sentença que declara a insolvência (36/1/e), após
requerimento do devedor – art.224.º/2.
da assembleia de credores pode tomar essa decisão após requerimento do
devedor – art.224º/3.
Nesta situação não são retirados ao devedor os poderes de administração e disposição do seu
património (art.81º/1),
no entanto, deve o administrador da insolvência dar o seu consentimento
à assunção de obrigações que resultem de atos de administração extraordinária –
art.226º/2/b
podendo opor-se à assunção de qualquer obrigação, mesmo que de gestão
corrente.
Sendo conferida administração ao devedor, mantêm-se as remunerações dos membros da sua
administração - art.227º/1, mas,
….ao devedor pessoa singular só é permitido retirar da
massa os valores necessários para uma vida modesta dele e do
seu agregado - art.227º/2).
Art.228º/1

Joana Coelho de Freitas 71


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SIREVE
Sistema de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial
Pressupostos:
➢ ser sociedade comercial ou empresário individual que possuam contabilidade organizada
➢ se encontrar em situação económica difícil – art.17º-A à semelhança
➢ não se pode encontrar em situação de insolvência
➢ avaliar segundo três fatores de autonomia financeira:
o indicador 1: valor do capital e do ativo liquido total
o indicador 2: relação entre os resultados antes de depreciações, gastos de
financiamento e impostos e o valor dos juros e gastos similares
o indicador 3: relação entre a divida financeira e os resultados antes de
depreciações – art.2º DL nº178º/2012
A avaliação:
• positiva quando:
o o indicador 1: >5
o o indicador 2: >1,3
o o indicador 3: 0≤x<10
apenas se exige que cada um tenha consideração positiva – tendo em conta os últimos três
exercícios
Menezes Leitão: parece que, pelo facto de ser preciso ter em conta pelo menos dois dos últimos
exercícios, não poderão recorrer ao SIREVE empresas que não tenham tido pelo menos duas
atividades
Esta situação é avaliada por uma plataforma informática

E se o procedimento se extinguir sem acordo?


Decorrido o prazo de 3 meses sem acordo, o processo extingue-se automaticamente –
art.16º/1 DL nº178/2012

O acordo em relação à recuperação da empresa é aprovado se:


1. for votado em favor por pelo menos 1/3 do total das
dividas,
2. mais de 2/3 dos votos emitidos,
3. mais de ½ créditos não subordinados
Quando aprovado, o acordo deve ser redigido.

Consequências da aprovação:
1- extinção das ações executivas
Joana Coelho de Freitas 72
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2- mantêm-se suspensas as ações destinadas a exigir o cumprimento de ações


pecuniárias

Caso o acordo seja incumprido,


Cada um dos subscritores pode resolver o contrato por não cumprimento deste.
Dá-se a cessação automática do acordo relativamente à Fazenda Pública ou Segurança
Social se surgirem novas dividas a estas entidades, se não forem cumpridas no máximo
de 90 dias a contar da sua constituição

Os PER’s – Processo Especial de Revitalização


Grande parte do direito da insolvência opera em relação sobre PERs
Pode recorrer ao PER qualquer devedor seja ele pessoa coletiva ou singular, podendo ser
ou não empresário.:
Tem de estar em situação económica difícil ou em iminente insolvência
Suscetível de recuperação
Menezes Leitão: a lei parece equiparar a insolvência atual com a iminente, nada impede então
que alguém que esteja em situação iminente de recorrer diretamente à insolvência, em vez de
recorrer à revitalização.
Tem o objetivo que os credores votem a favor deste plano de revitalização
1- Art.17º-A CIRE – indicação pode ou não pode recorrer qualquer devedor ou se tem de
ser uma sociedade comercial ou um comerciante individual que tenha uma contabilidade
organizada.
a. A lei não faz essa restrição – Menezes Leitão diz que se pode aplicar a qualquer
devedor, e não apenas a algum tipo
b. Carvalho Fernandes: implica ter uma empresa o que não acontece com os
devedores individuais, tendo que ter uma empresa
2- O PER não pode ser usado por quem esteja em situação de insolvência, mas se se
encontre em situação económica difícil ou situação de insolvência iminente, mas que seja
capaz de recuperarão - art.17º/d)
a. O devedor que não esteja em situação de insolvência poderá recorrer ao PER
b. O art.17º-A/2 – é uma solução formal, declaração, mas não há nenhuma sanção
para a violação da forma,
c. O devedor tem de obter o acordo coma penas um crédito – art.17º-C/1.
d. O juiz fixa o administrador judicial provisório. O devedor comunica de imediato
com carta registada a todos os seus credores que não tenham subscrito a PER que
vai dar lugar à revitalização e convida-os a participar se assim o entenderem.

Que tipo de medidas podem entrar aqui?


• Dá-se a suspensão da obrigação de pagar as dividas durante aquele período
• Restruturar o pagamento de divida num prazo mais alargado

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• Perdão de juro
• Corte de capital
Sendo as medidas escolhidas pelos credores – art.17º-F/3 – consoante o que for ou não mais
benéfico para eles

Quando é que se inicia o processo de revitalização?


No momento em que o devedor obtenha o acordo de pelo menos um dos seus credores,
para procurar negociar o possível plano de insolvência.
O juiz deverá averiguar se os pressupostos da ação estão
preenchidos, posteriormente nomeado o administrador provisório.
Após recebida a notificação, o devedor deve comunicar por carta registada aos seus
credores que não tenham subscrito a declaração de que deu inicio ao processo de revitalização –
art.17º-D/1.
A nomeação do administrador provisório (art.17º-C/3/a)) implica – art.17º-E:
1. O devedor fica impedido de praticas uma to de especial relevo
2. Impede as ações de cobrança de dividas ao devedor e suspende as ações, salvo
se a revitalização prever a continuidade
a. De que tipo? Executivo ou declarativas condenatórias?
i. Carvalho Fernandes, Ana Prata: defendem que são abrangidas
todas as ações destinadas à cobrança de dívidas,
independentemente da natureza da dívida
ii. João Aveiro Pereira: suspensão abrange tanto ações declarativas
como executivas, mas apenas de obrigações pecuniária
iii. Epifâneo: apenas em causa ações executivas
3. Os processos de insolvência suspendem-se desde da pratica do administrador
de insolvência, a não ser que tenha sido declarada a sentença de insolvência
Como é que acaba?
Aprovação de um plano de recuperação – art.17º-F
O juiz se promulgar o plano vincula os credores.
Se não for aprovado o plano de recuperação, não acordo, o processo é encerrado e o
administrador o facto. – art. 17º-G
Se o devedor não se encontrar em situação de insolvência, para todos os seus efeitos, e
pode pratica novamente atos, durante dois anos não há possibilidade de ter acordo
Se o devedor estiver em situação de insolvência, a mesma deve ser requerida pelo
administrador provisório, por parecer por ele elaborado, e decretada pelo tribunal.

Qual o problema?
O art.28º é a norma de apresentação imediata do devedor à insolvência, se o devedor tem
o PER o PER não é aprovado, o administrador é tratado como se tivesse sido decretada a

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insolvência, e não há nenhuma forma de o devedor se opor ao parecer do administrador judicial


provisório. É aceitável?

Menezes Leitão- a ideia de fazer o PER é um risco, é normal que o devedor já esteja em
insolvência

Caso: Simplificação do processo de revitalização caso a maioria dos credores assine o PER –
art.17º-I/1
• O juiz procede à nomeação do devedor
1- O juiz da oportunidade aos demais credores se pronunciarem
2- O juiz ver do ponto de vista legal os critérios e dá valor vinculativo ao acordo em
relação aos restantes credores

Qual é o interesse que o PER tem?


Quando se da a insolvência, ocorrem enormes poderes do administrador da insolvência,
nomeadamente para destruir negócios, os negócios celebrados no âmbito do PER são
insuscetíveis dessa resolução – art.120º/6CIRE
17º-H/2 – em caso de insolvência, os trabalhadores têm um privilégio que abrange as instalações.
Nos temos então a manutenção desses privilégios, que é uma forma de convencer aos credores
que o devedor tenha capital para a sua revitalização, o que leva a facilitar a salvação das empresas.

E se o processo se concluir sem aprovação do plano de recuperação?


Acaba em caso de ultrapassar a data previsto para alcançar o acordo – art.17º-G

Como é que o PER é mal utilizado?


Art.17-E, acaba por implicar ser utilizado para prolongar no tempo a situação das
execuções. Com o objetivo de ganhar tempo para continuar uma atividade. Mas será que o juiz
poderá recusar o processo só porque vê que ele é abusivo?

Diferenças entre o SIREVE e o PER


O SIREVE sendo extrajudicial, não é tornado público – so sabem os credores e o devedor. O PER
é tornado publico
O PER como é publico, pode revelar para o problema de deixar de haver a confiança da parte de
possíveis investidores, compradores,… - danos à reputação e até materiais
A possibilidade de recuperação económica: SIREVE o devedor quando requere o processo tem
de apresentar um plano de recuperação económica que tem de cumprir critérios de questão
económica (DL 178/2012, 03/08 alterado DL 26/2015); o PER o juiz apenas vai garantir a

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legalidade formal do processo, quem analisa o plano de recuperação tem viabilidade económica
é o administrador judicial provisório, mas principalmente os credores.

Regime Especial da Insolvência de Pessoas Singulares


Exoneração do passivo restante
Através deste instituto, após a liquidação do património do devedor para pagamento aos
credores, ou decorridos 5 anos após o encerramento do processo
➢ porque é constituído fiduciário para efetuar a cessão do rendimento
disponível do devedor e o repartir pelos credores,
as obrigações que não puderem ser satisfeitas são consideradas extintas - art.235º
Esta situação não representa grande prejuízo para os credores porque, apesar disto implicar a
extinção dos seus créditos, os mesmos já representavam um valor insignificante dada a situação
económica do devedor.

Pressupostos da concessão da exoneração


A exoneração do pedido só é possível em relação a pessoas singulares.
Portanto, os requerentes poderão ser consumidores, comerciantes ou profissionais
independentes, médicos, advogados… etc.
NOTA: as pessoas coletivas não beneficiam deste instituto, nem
necessitam, porque se dissolvem com a declaração de insolvência.
O pedido tem que ser efetuado pelo devedor no requerimento de apresentação à insolvência –
art.236º/1

Apresentado o pedido, os credores e o administrador têm a possibilidade de se pronunciarem na


assembleia de apreciação do relatório
Para que o tribunal conceder a exoneração é preciso que:
i. Não exista motivo para o indeferimento liminar do pedido – art.238.º
ii. Seja efetuada a cessão do rendimento disponível do devedor, nos termos do
art.239.º
iii. Não aprovação e homologação de um plano de insolvência
iv. Tenha decorrido o prazo de 5 anos posterior ao encerramento do processo

Indeferimento liminar do pedido


O art.238º/1 - esta decisão deve ser tomada após audição dos credores e do administrador da
insolvência na assembleia de apreciação do relatório, a menos que o pedido seja apresentado fora
de prazo – art.238º/2.

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Despacho inicial
É proferido despacho inicial na assembleia de apreciação do relatório – 239º/1.
Representa sim a passagem a uma nova fase processual – período de cessão – art.244.º.
Este despacho consolida o direito do devedor a ser sujeito ao período de cessão, impede a
possibilidade do administrador ou do credor manifestar oposição a essa pretensão.

Cessão do rendimento disponível do devedor


Art.239º/2: constitui fiduciário, determinando a cessão do rendimento disponível do devedor
a este
Menezes Leitão: diz que é uma cessão de bens ou créditos futuros
Esta cessão abrange todos os rendimentos disponíveis que advenham a qualquer título ao devedor,
não estando perante rendimentos em sentido técnico – abrange qualquer acréscimo patrimonial
Excluídos desta cessão:
a) 239º/3/a) – exclui os créditos a que se refere o art.115.º cedidos a terceiro
b) 239º/3/b) – todos os montantes que sejam razoavelmente necessários quer para o sus-
tento minimamente digno do devedor e do seu agregado, quer para o exercício pelo
devedor da sua atividade profissional.

Qual a situação jurídica do fiduciário?


Embora adquira a propriedade do rendimento disponível objeto de cessão, o fiduciário é
proprietário a título fiduciário, tendo o dever de o manter separado do seu património pessoal –
art.241º/2.
O fiduciário é remunerado pela sua função.
Tem o dever de notificar a cessão dos rendimentos do devedor àqueles de quem ele tenha
direito a havê-los, afetando os montantes recebidos, no final de cada ano, sucessivamente:
• Ao pagamento das custas do processo de insolvência ainda em dívida
• Ao reembolso ao Cofre Geral dos Tribunais das remunerações e despesas do
administrador da insolvência e do próprio fiduciário
• Ao pagamento da sua própria remuneração já vencida e despesas efetuadas
• À distribuição do remanescente pelos credores da insolvência, nos termos prescritos
para o pagamento aos credores no processo de insolvência – art.241º/1

Situação jurídica do devedor


Durante o período da cessão, o devedor é sujeito às seguintes obrigações – art.239º/4:
1. Não ocultar ou dissimular qualquer rendimento que aufira, por qualquer título, e in-
formar o tribunal e o fiduciário sobre os seus rendimentos

Joana Coelho de Freitas 77


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2. Exercer uma profissão remunerada, não a abandonando sem motivo legítimo e pro-
curar diligentemente tal profissão quando desempregado – depende de circunstancias
pessoais do devedor
3. Entregar imediatamente ao fiduciário a parte dos seus rendimentos objeto de cessão
4. Informar o tribunal e o fiduciário de qualquer mudança de domicilio ou de condições
de emprego
5. Não fazer quaisquer pagamentos aos credores da insolvência a não ser através do
fiduciário e não avantajar qualquer credor
Caso o devedor viole qualquer destas obrigações com dolo ou negligencia grave, poderá ser
requerida por qualquer credor da insolvência, pelo administrador ou pelo fiduciário a cessação
antecipada do procedimento de exoneração. – art.243º/2

Situação jurídica dos credores


A compensação entre dívidas da insolvência e obrigações de um credor sobre a
insolvência apenas é lícita nas condições em que seria admissível durante a pendencia do processo
– art.242º/3
Além disso, não podem executar os bens do devedor enquanto durar a cessão e se a
decisão final for de exoneração, os seus créditos são extintos.
Esta limitação não abrange os novos credores, podendo por isso executar livremente os
bens do devedor.
Esta possibilidade não tem grande efeito prático, uma vez que o devedor não terá bens
penhoráveis – todo o ativo patrimonial é cedido ao fiduciário.
Os credores da insolvência podem controlar os pressupostos da concessão da exoneração do
passivo restante:
manifestando oposição a essa pretensão do devedor – art.238º/2
solicitando a cessação antecipada do procedimento de exoneração –
art.243º
a revogação da exoneração que tenha sido concedida – art.246º

Cessação antecipada do procedimento de exoneração


Verifica-se sempre que o procedimento venha a ser extinto antes de ser concedida ao devedor
a exoneração do passivo restante. Isto pode acontecer:
▪ Logo que se verifique a satisfação integral dos créditos sobre a insolvência – o
devedor deve declarar a cessão antecipada, oficiosamente ou a requerimento do
devedor – art.243º/4

Joana Coelho de Freitas 78


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▪ Sempre que se verifique supervenientemente que o devedor não é digno de obter


a exoneração – nos casos do art.243º/1/a) e 239.º
▪ se se verificar algum dos fundamentos de indeferimento liminar – art.238º/b, e) e
f)
▪ se a decisão do incidente de qualificação de insolvência tiver concluído pela culpa
do devedor -art.243º/1/c

Concessão da exoneração
Terminado o período de cessão do rendimento disponível, o juiz deve, no prazo de 10 dias,
decidir se a exoneração é ou não concedida, após audição do devedor, fiduciário e dos credores
da insolvência.
NOTA: os fundamentos da recusa são os mesmos que podem determinar a cessação antecipada
do procedimento – art.244º/2.
a extinção de todos os créditos:
❖ sem exceção dos que tenham sido reclamados e verificados - art.245º/1
❖ porém, não soa afetados os direitos dos credores contra os codevedores ou os terceiros
garantes – estes perdem sim o direito de regresso perante o devedor.
Porém, alguns créditos não são abrangidos pela exoneração – art.244º/2:
a) Créditos por alimentos
b) Indemnizações devidas por factos ilícitos dolosos praticados pelo devedor,
que hajam sido reclamados nessa qualidade
c) Créditos por multas, coimas e outras sanções pecuniárias por crimes ou con-
traordenações
d) Créditos tributários
Estas exclusões são muito amplas, o que pode diminuir o interesse da exoneração do passivo
restante.

Revogação da exoneração
A lei admite a sua revogação se se provar que o devedor incorreu em alguma das situações
previstas – art. 238º/1/b e ss - que violou dolosamente as suas obrigações durante o período da
cessão e por isso prejudicou a satisfação dos credores – art.246º/1
A revogação só pode ser decretada dentro do ano subsequente ao transito em julgado do
despacho.
Se a mesma for requerida por um credor da insolvência, este tem de provar não ter tido
conhecimento dos fundamentos até ao momento do transito.
Se a exoneração for revogada, reconstituem-se integralmente todos os créditos sobre a
insolvência que tinham sido extintos – art.246º/4

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Plano de pagamento aos credores


Art.249.º e 251ss
O plano de pagamentos deve conduzir a um acordo entre devedor e credores, que passe a
regular em novos termos aquelas obrigações, libertando o devedor das anteriores.

Pressupostos do plano
Depende de o devedor ser uma pessoa singular e ser um não empresário ou um pequeno
empresário.
É considerado não empresário se não tiver sido titular da exploração de qualquer
empresa nos 3 anos anteriores ao processo de insolvência – art.249º/1/a);
será pequeno empresário se, à data do inicio do processo, não tiver dívidas laborais,
possuir um nº de credores inferior a 20 e o seu passivo global não exceder 300.000€.

Apresentação do plano
Verificados os pressupostos, o devedor pode apresentar conjuntamente com o seu pedido de
declaração de insolvência um plano de pagamentos aos credores, devendo ser notificado se o
pedido provier de terceiro e esses pressupostos estiverem preenchidos – art.253.º.
O art.252º/5 estabelece os documentos que devem acompanhar o plano de pagamentos.

1- Conteúdo
Art.252º/1 – Plano de pagamento tem natureza de proposta contratual escrita, devendo ser
formulada pelo devedor em termos que permitam obter o consenso com os seus credores.
O plano de pagamento inclui os seguintes elementos:
a. Reconhecimento dos créditos existentes
a. o devedor deve apresentar uma relação de credores, contendo mon-
tante, natureza e eventuais garantias do crédito (isto equivale como
confissão judicial das dívidas).
b. No entanto, ele pode incluir créditos cuja existência ou montante não
reconheça, com a previsão de que os montantes destinados à sua liqui-
dação serão objeto de depósito junto de intermediário financeira, para
serem entregues aos respetivos titulares depois de dirimida a contro-
vérsia.
b. Indicação do património e rendimentos do devedor:
c. Proposta de satisfação dos direitos dos credores

2- Efeitos da apresentação

Joana Coelho de Freitas 80


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O plano de pagamento envolve como efeito necessário a confissão da insolvência por parte do
devedor (252/4) – mesmo que o plano seja rejeitado, a declaração de insolvência irá sempre ser
proferida pelo juiz.
3- Processamento do plano
É sujeito a apreciação por parte do juiz – art.255º:
Se este achar altamente improvável que o plano seja aprovado, dá por encerrado o
incidente, sem que possa haver recurso e declara a insolvência.
Se achar que o plano é suscetível de obter aprovação, determina a suspensão do
processo de insolvência até à decisão tomada sobre o plano de pagamentos.
Sendo suspenso o processo, os credores são notificados -art.256º/2 - para que estes
contestem
Se os credores contestarem, o devedor é notificado para declarar se modifica ou não a
relação de créditos; se não modificar – art.256º/3-
o se não disser nada, conta como reconhecimento do crédito nos termos da
contestação pelo devedor.

4- Aprovação do plano
Será considerado aprovado se nenhum dos credores o tiver recusado ou se a aprovação de
todos os que se oponham vier a ser objeto de suprimento – art.257º/1.
NOTA: exige-se unanimidade dos credores em relação à aprovação do plano de pagamentos.
O art.257º/2 considera que há sempre oposição ao plano se:
▪ Os credores o tenham recusado expressamente
▪ Quando, por forma não aceite pelo devedor, tenham contestado a natureza, montante
ou outros elementos dos seus créditos relacionados pelo devedor ou invocado a
existência de outros créditos
A oposição de alguns credores pode ser objeto de suprimento judicial – art.258º/1
se tiver sido aceite por credores cujos créditos representem mais de 2/3 do valor
total dos créditos relacionados pelo devedor, pode o tribunal substituir a rejeição dos
demais credores pela aprovação, a requerimento do devedor ou de algum desses credores,
desde que:
֎ Não decorra do plano, para nenhum dos oponentes, uma desvantagem económica superior
à que, mantendo-se idênticas as circunstancias do devedor, resultaria do prosseguimento do
processo com a liquidação da massa e a exoneração.
֎ Que os oponentes não sejam objeto de um tratamento discriminatório injustificado
֎ Que os oponentes não suscitem dúvidas legítimas quanto à veracidade ou completude da
relação de créditos apresentada pelo devedor.
5- Termos subsequentes à aprovação

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Após a aprovação do plano, o juiz procede à homologação. Após o seu trânsito em julgado, o
juiz declara a insolvência do devedor no processo principal, mas consta unicamente as menções
referidas no art.36º/1/a e b).
6- Consequências da não aprovação ou revogação
São logo retomados os termos do processo de insolvência.

7- Consequências do decretamento da insolvência com aprovação do plano


O devedor fica vinculado a cumprir as obrigações constantes do plano e as obrigações
anteriores são extintas ou substituídas por novas.
Além disso, a declaração da insolvência com aprovação do plano reduz o impacto
que a insolvência tem na situação pessoal e patrimonial do devedor. Não há publicidade
à situação de insolvência e o devedor continua a poder administrar e dispor dos seus bens.
No entanto, por aplicação analógica do art.88.º, enquanto vigorar o plano de pagamentos, serão
suspensas todas as execuções por dívidas que hajam sido relacionas e que integrem o mesmo
plano
Os credores incluídos na relação de créditos ficam impedidos de instaurar novos processos de
execução, relativamente a esses créditos – exceção do art. 261º/3.

8- Incumprimento do plano
As consequências do incumprimento podem ser reguladas no próprio plano – art.260.º. Na
ausência da estipulação das partes aplicam-se as regras do art.260º e ss
Assim, é aplicável ao incumprimento o mesmo regime estabelecido no art.218º/1 para o
incumprimento do plano de insolvência – art.261º/1/a

9- Possibilidade de instauração de novos processos de insolvência


Enquanto estiver a decorrer o incidente do plano de pagamentos, a possibilidade de os credores
requererem a insolvência do devedor noutro processo obedece a um regime distinto, consoante se
trate de créditos constantes da relação anexa ao plano de pagamentos ou não.
Se forem de relação anexa, não podem pedir declaração de insolvência (261), exceto:
o No caso de incumprimento do plano de pagamentos (260)
o Provando que os créditos têm um montante + elevado ou características + favo-
ráveis do q as constantes daquela relação
o Por virtude da titularidade de créditos não incluídos na relação e que não se de-
vam ter por perdoados – 256/3
Se não constarem de relação anexa ao plano, podem livremente instaurar o processo.

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Insolvência de ambos os cônjuges


Pressupostos da coligação de cônjuges
a) Ambos os cônjuges devem estar em situação de insolvência
b) Cada um dos cônjuges tem que ver reunidos os requisitos do 249/1 – não
serem empresários
c) O regime de bens não pode ser a separação de bens

Formas de verificação da coligação de cônjuges


A coligação pode ser originária ouu superveniente.
A coligação originária pode ocorrer pela apresentação de ambos os conuges à insolvência ou
pela instaruaçao de processo contra ambos – sendo que ambos são responsáveis perante o
requerente.
A coligação superveniente resulta da posterior apresentação do outro cônjuge à inslvencia em
processo que tenha sido instaurado contra o seu consorte.

Processo de insolvência
No caso da falência jogam interessados legalmente tutelados:
֎ O comerciante falido que quer retardar e evitar a falência;
֎ Os credores que visam a obtenção de um máximo valor
֎ Terceiros que aspiram à normal prossecução da sua atividade
֎ Comunidades e o Estado que pretende que a empresa que está em situação difícil
para tornar a ser produtora de riqueza.
֎ O mercado que pretende afastar o que não for iniciativa viável
Execução universal do património. Há uma recuperação que é o plano de insolvência.
A lei admite como sujeitos passivos de insolvência, todas as entidades mesmo sem personalidade
jurídica – art.2ºCIRE
A herança jacente: o que sucede é que em caso de património autónomo, se ele
tiver insolvente tem a herança aberta. Sendo que o Menezes Leitão diz que não é a herança jacente,
mas sim a herança.

Há entidades que têm processos especiais, que não o de insolvência – que Menezes Leitão diz
serem mais prejudiciais para os credores do que o próprio processo de insolvência.
Banca e seguros
Tem um regime especial em detrimento do sistema comum de recuperação de empresas. Isto
devido à necessidade de proteger o público, prejudicado perante a cessação de atividades de
entidades que atuem em sectores em causa

Insolvência – art.3º
A lei estabelece um caso especial – as pessoas coletivas e patrimónios autónomos são
também considerados insolventes quando o seu passivo seja manifestamente superior ao ativo
Joana Coelho de Freitas 83
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Este processo corre nos tribunais de comercio tem carater urgente – art.9ºCIRE

Como começa?
Se for por terceiro
Se for o devedor, deve requerer a sua situação de insolvência. Se não for empresário, não
tem de se propor como insolvente

A responsabilidade do requerente da insolvência


Tendo em conta que o requerido (art.36ºCIRE):
➢ Fica com o seu “bom nome” em praça pública
➢ Processar-se danos morais
➢ O devedor tem o ónus de se opor
➢ Cabe ao devedor a prova da sua solvência
➢ Podem ser tomadas medidas cautelares
➢ Pode ser nomeado administrador provisório
No caso de haver dolo, haverá então responsabilidade civil – art.483º/1CC
Menezes Cordeiro: diz que o dolo apenas se aplica em relação à indemnização dos
credores e não em relação à indemnização do devedor – art.20ºCIRE

O interessado ao requerer uma insolvência, pode incorrer em venire contra factum proprium, em
tu quoque ou em desequilíbrio
NOTA: tu quoque: aquele que viola a norma jurídica, não pode tirar proveito dessa situação

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A Atividade
Comercial

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Introdução
O Direito Comercial dos contratos é dominado por princípios comuns e em especial pela
autonomia privada.
Clausula de numerus apertus: que o número de atos mercantis é ilimitado

Princípios comerciais materiais


1- Internacionalidade
2- Simplicidade e rapidez
3- Clareza jurídica, a publicidade e a tutela da confiança
4- Onerosidade

Regime especial das obrigações comerciais


Não existe o beneficio da excussão no direito comercial – art.101º CCom – a fiança vai
se referir a uma obrigação mercantil, desde que o fiador seja comerciante, então não
beneficia da excussão
Dividas dos cônjuges
Moratória – já não existe – meação dos bens comuns, só podia executar após a dissolução
do casamento, mas agora há uma norma diferente – art.10º CCom
Tutela dos comerciantes para os atrasos de pagamento – DL 62/2013 – no âmbito do
Direito Comercial, com base de usos comerciais que estabeleciam qual era o prazo para
pagamento, 30 dias.
A comissão europeia mandou tomar medidas contra os atrasos – diretiva de 2011/7UE;
DL 62/2013 :
As obrigações comerciais têm prazo certo – art.4º/3,
o Se a fatura for incerta são 30 dias – art.4º/3/b e c
Taxa de juro, portaria 200/91 de 2001. Taxa de juros comerciais – art.102ºCCom –
portaria
Proibição do anatocismo, não há vencimento de juros sobre juros – art.563º, em certos
atos comerciais podem haver a capitalização de juros
Prescrição presuntiva: art.317º/b)

Contratos mistos
As partes podem juntar num único contrato clausulas provenientes de diferentes tipos contratuais
Podem constituir então tipos comerciais sociais: na medida em constituam uma
determinada estabilidade ditada pela prática mercantil
Temos então:
Contratos típicos – regulamentação geral resulta da lei

Joana Coelho de Freitas 86


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Contratos mistos em sentido estrito – resultam da junção num único instrumento


contratual de clausulas retiradas de vários
Contratos mistos em sentido amplo – a um conjunto de clausulas próprias de tipos
contratuais legais
Contratos atípicos sentido estrito – completamente criação da vontade das partes
Em sentido amplo, todos os contratos mistos serão atípicos
Mas,
Os contratos mistos (sentido estrito) poderão revestir muitas formas, nomeadamente:
a. Múltiplos ou combinados – são aqueles em que as partes estipulam que uma delas deve
realizar prestações correspondentes a dois contratos típicos distintos, enquanto a outra
realiza uma única contraprestação de um único tipo.
b. Duplo ou geminado – uma parte obriga-se a uma prestação típica de um certo tipo
contratual, enquanto que a contraparte se encontra obrigada a uma contraprestação oriunda
de outro tipo contratual.
Ex: arrendar uma casa e a outra parte ficar obrigada a limpá-la
NOTA: não existem situações típicas deste contrato
c. Misto stricto sensu, cumulativos ou indiretos – é utilizada uma estrutura típica de um
tipo contratual para preencher uma função típica de outro tipo contratual.
Ex: vender a casa por 100€, tem cariz de doação e de compra e venda
d. Complementares – adotados os elementos essenciais de um determinado contrato, mas
aparecem simultaneamente como acessórios elementos típicos de outro(s) contrato(s).
Ex: venda do automóvel com a obrigação acessória de manutenção

Como é que é resolvido o problema do regime jurídico?

Teoria da analogia
Teoria da absorção Teoria da combinação
Deve aplicar a não aplicação
Deve-se escolher um Deve ser feita uma aplicação de qualquer um dos regimes,
regime único, aquele que combinada dos dois regimes configura-se assim o
fosse predominante, que contrato misto como um
“absorveria” as regulações contrato integralmente
respeitantes aos outros atípico. Regula-se pela parte
tipos contratuais geral do Direito das
Obrigações, sendo assim, as
suas questões encaram-se
lacunas na lei, devendo-se
recorrer à analogia.

Joana Coelho de Freitas 87


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Galvão Telles: os contratos múltiplos ou combinados e de tipo duplo, devem-se reger pela teoria
da combinação. Já os contratos cumulativos e os complementares devem-se reger pela teoria da
absorção.

Antunes Varela: deve ser ponderado, tendo em conta o caso, o regime aplicável.

Almeida Costa: apela ao recurso a critérios de integração dos negócios jurídicos – art.239ºC.C..
No entanto, deve ser averiguada a possibilidade de aplicação analógica de algum tipo de contrato
típico, teoria da analogia.

Menezes Cordeiro: a aplicação preferencial da teoria da absorção, sendo admitida a


subsidiariedade da teoria da combinação e da teoria da analogia, quando a aplicação daquela
teoria é afastada por uma regra injuntiva, vontade das partes ou quando seja inviável.

Menezes Leitão: afasta a teoria da analogia, pois desvaloriza o contrato misto. Sempre que na
economia de um contrato misto haja uma preponderância dos elementos de um contrato, deverá
ser o regime desse a ser aplicado.

Contratos múltiplos e geminados – teoria da combinação

Contratos cumulativos e complementares – teoria da absorção

Coligação: a relação de subordinação de um contrato a outro, unilateral ou bilateral (quando os


dois estão dependentes do outro); voluntária ou necessária (necessária resulta da lei [finalidade
comum entre os contratos] as partes decidem), genérica ou funcional (genética é no início,
funcional é durante a vida do contrato)

Joana Coelho de Freitas 88


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Contratação Comercial
Culpa in contrahendo
A responsabilização pela culpa durante as negociações, assenta no principio da boa-fé, o que
implica que tenha que haver uma realização deste principio em cada caso concreto.
Tem por base deveres:
➢ Deveres de proteção
➢ Deveres de informação
➢ Deveres de lealdade

A maioria da jurisprudência portuguesa: não há me principio durante as negociações o dever de


celebrar o contrato, mas há um dever de negociar honestamente:
• A parte que não tenciona levar para a frente as negociações, deverá comunica-
lo à contraparte
• A parte que detenha informações vitais para as negociações, deverá comunicar
à outra parte

Quais as consequências?
Menezes Cordeiro: No caso de se encarar que a culpa in contrahendo assenta na
responsabilidade contratual – aplica -se o art.799º/1
Outros: é um caso de responsabilidade extracontratual – art.487º

Negócios preliminares
Em virtude da complexidade de certas situações económicas, existem mais situações de
negócios preliminares, do que no Direito Civil.

Qual o interesse de qualificar o contrato como preliminar ou intercalar?


Para poder situá-lo em união com o contrato definitivo, sendo que a interpretação deve
ser feita com o fim prosseguido pelas partes.
CONCLUSÃO: têm os próprios contratos preliminares natureza comercial.

Contratação mitigada
Menezes Cordeiro: Difere contrato-promessa da contratação mitigada, pois existe uma
verdadeira vinculação ao compromisso.

a) As cartas de intenção: correspondem à expressão da intenção de celebrar um contrato


futuro, sem assunção de uma obrigação nesse sentido.

Joana Coelho de Freitas 89


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b) Acordos de base: as partes referem o acordo existente sobre os pontos essenciais, embora
as negociações prossigam para acertar questões complementares

c) Acordos de negociação: correspondem à definição de parâmetros em que devem decor-


rer as negociações, expressando a intenção de prosseguir.

d) Acordo-quadro: as partes numa negociação que envolve múltiplos contratos estabele-


cem um enquadramento comum a todos eles.

e) Protocolo complementar: celebração de uma convenção acessória de um determinado


contrato, visando a sua completação

Sendo sérias,
As diferentes figuras produzem sempre efeitos jurídicos, apesar de não se tratarem de
contratos, em que celebraram as partes, ou contrato-promessa que apenas vai constituir
determinadas obrigações.

Menezes Cordeiro: Não é uma contratação mais fraca, mas sim uma contratação diferente –
aparecem deveres simples de esforço, procedimento ou de negociação.

A negociação funciona como


um valor comercial
E quais as consequências do incumprimento?
Depende da determinabilidade do contrato definitivo:
1. Se da carta de intenção ou do acordo de princípios estejam
os princípios tão pormenorizados que se consegue retirar o
contrato – execução especifica
2. Quando há uma grande margem de determinação –
indemnização compensatória

Joana Coelho de Freitas 90


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Comércio à distância- Comércio eletrónico


Contratação por computador

Utilizam-se hoje meios eletrónicos na contratação:


1- Preliminar
2- Definitiva
3- Para a execução do contrato
Podem ser, então, concluídos os contratos, através de computadores ou de autómatos
Isto, claro, tendo em conta à ampliação deste tipo de negócios com o avançar das
tecnologias e da maior facilidade de alcança-las
NOTA: apesar de parecer, os autómatos praticam mais que meros atos materiais, verdadeiros atos
de direito

Como é que se explica isto?

Teoria da oferta Teoria da aceitação


automática automática

A simples presença do O simples acionar o


autómato pronto a autómato, não provoca
funcionar, mediante a conclusão do
adequada solicitação, era contrato, tal só se
sinal de uma oferta ao verifica se este não
público estiver vazio

A contratação pode também ser realizada por meios eletrónicos ou por internet…
Não se confunde com a efetuada através de autómato ou de computador – há aqui uma
declaração de vontade, que vai valer como tal, sendo aplicável as regras do dolo e do erro.

É a facilidade que a contratação por internet que obrigou os Estados a apostarem na regulação
destas áreas.
Diretriz nº97/7/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho + DL nº143º/2001, 26 de abril

Contratos à distância e fora do estabelecimento


Estes tipos de contratos não se aplicam a várias áreas do comércio com relevo financeiro
– art.2º/2/a) e art.4º D.L. nº95/2006:
Joana Coelho de Freitas 91
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1- Devem ser dadas ao consumidor as informações relativamente à boa-fé, forma,…


2- É conferido ao consumidor um prazo de 14 dias para que possa resolver (revogar)
o contrato
3- O contrato deve ser executado no prazo de 30 dias
4- O pagamento com cartão de crédito ou de débito faz correr pelo banqueiro o risco
de fraude
5- O ónus da prova, cabe ao vendedor em relação à informação prévia
Devem os contratos celebrados fora de os estabelecimentos ser redigidos – sob pena de nulidade

Vendas automáticas e vendas especiais esporádicas


a. Devem respeitar regras gerais de indicação dos preços, rotulagem,…
b. Uso de equipamentos que permitam a recuperação da importância
introduzida
c. O equipamento deve ter informações
i. Responsabilidade solidária entre o dono da máquina e do dono do
local onde a máquina está
As esporádicas: são aquelas que são realizadas fora do estabelecimento às vezes.
Aplica-se com as devidas alterações, o regime das vendas fora do estabelecimento
comercial – art.25º e 26º
A ASAE pode impor coimas, caso se verifique vendas ligadas, fornecimento de bens não
solicitados ou caso os direitos dos consumidores sejam limitados por clausulas contratuais gerais.

Publicidade não solicitada e venda ambulante


Há uma proibição das comunicações publicitárias não previamente solicitadas – pessoas
singulares
Tem de haver uma prevê recusa da publicidade – pessoas coletivas
Venda ambulante – DL nº42/2008, 10 de março

Documentos eletrónicos e assinatura digital


São documentos eletrónicos aqueles que cujo suporte não seja físico, mas sim eletrónico
A assinatura digital trata-se de um esquema que permite uma entidade dotada de uma
chave, reconhecer e autenticar uma sequencia digital proveniente do autor de uma missiva
eletrónica
DL nº290-D/99, de 2 de agosto

Joana Coelho de Freitas 92


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Faturas e comércio eletrónico

Conclusão
O direito dos contratos está em perfeitas condições para reger o comércio eletrónico.
O e-commerce aparece como uma mera ferramenta para prolongar a mão humana,
facilitando contratações
Em relação à responsabilidade, parece que as regras tradicionais são suficientes para regular esses
casos
No entanto, nem todo o e-commerce é comercial, a capacidade de praticar comércio pela
internet, não impõe que esses atos sejam comerciais

Joana Coelho de Freitas 93


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Títulos de crédito
Documento que incorpora um direito cartular e autónomo destinado à circulação
Documento: suporte físico
Direito cartular: de um direito qualquer, direito subjacente. O que se retira do
documento, é o que resulta deste documento
Autónomo: independentemente de ter origem numa relação subjacente, o documento
vale por si só
Literalidade: ele vale por aquilo que tem la escrito. O que significa que o resto que for
discutido, não tem oponibilidade, nos termos do titulo de crédito, mas poderá haver essa
oponibilidade em relação à própria relação – o que foi convencionado, é balido em relação
à contraparte. Se não está no titulo, não é oponível.
Destinado à circulação

Autonomia e direito subjacente: o titulo de crédito existe por si só, é um negócio jurídico só por
si, não interessa o que as partes convencionam por si, que ele já existe. Vai desempenhar todas as
funções que é suposto desempenhar, e vai andar a “passear por ai”.
A autonomia não se confunde com a abstração – aqui existe um direito subjacente, mas
não há como invocar a causa. A partir do momento em que se transmite o negócio jurídico a causa
fica distante do titulo de crédito, e se não esta no titulo de crédito, não existe.
Os títulos de crédito são perigosos.
Podemos depois discutir isto em relação à relação subjacente nos termos do
enriquecimento sem causa, mas não é fundamento de recusa do pagamento do cheque.
Porquê?
Devido à circulabilidade, porque os títulos são feitos para circular, se fosse oponível cada
vez que se fosse transmitir o titulo, também tinha que ser transmitida a relação base.

Edoso – tem de ser assinado por traz, para poder ser transmitido.
A combinação de tudo isto, são características de:
1- Cheques
2- Letras
3- Livranças
Podem circular todos os títulos de crédito, mesmo os que dizem que não podem ser circular.
Ex: O cheque traçado, só pode ser depositado. Mas isso não implica que
não possa circular, o que acontece é que a pessoa que fez o cheque, não se
responsabiliza pelo não pagamento do cheque.

Ao contrário dos casos normais em que…

Joana Coelho de Freitas 94


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A lei tem de prever que se por acaso haver um problema de falta ou recusa de pagamento
eu possa ir pedir satisfações a quem passou o cheque. Cada um que transmite o cheque tem de se
responsabilizar pelo pagamento.
É por isto que se pode recorrer ao protesto! Tem de ser rápido.
Ex: EPAL vai protestar ao senhorio, e o senhorio vai protestar ao
inquilino.
Como e que se sabe que um titulo de crédito não é transmissível?
Porque não é um titulo de crédito
Ex: bilhetes de metro VIVA. – É um documento, incorpora um direito,
literal, é autónomo, mas não circula. Podem ser transmitidos, mas não são feitos
para a circulação.
O passe, o bilhete de avião – não é autónomo.
Os títulos de credito têm estas características,
Mas a circulação ou o protesto funcionam bem a não ser que haja um problema na cadeia.
Falha na cadeia, mas a pessoa e que fica com a responsabilidade
Ex: o senhorio tinha roubado o cheque à velhota, então o senhorio
não podia ir protestar à velhota.

Formas básicas de transmissibilidade:


1- Edoso – assinatura e endereçar à ordem de alguém ou não
2- Ao portador – basta entregar ao portador

É um ato de comercio objetivo – cheques, letras e livranças. Podem ser subjetivamente


comerciais, mas não é obrigatório.
São sempre atos de comércio abstratos
Atos de comercio em sentido absoluto – não é preciso mais nada nem ninguém para
definir o titulo de credito

Se houver um titulo de crédito anexo ao contrato ou como garantia, pode desaparecer o contrato
que não implica a extinção do titulo – para isso é necessário pedir o título de crédito
Pacto de preenchimento – art.10º e 11º da Lei uniforme
Emissão de um titulo de credito que não esta completo, (ex da garantia), pode a outra
parte a preenche-lo, se não for preciso, nunca o título é feito.
Diz-se que serve como garantia, se eu incumprir pode preencher desta
forma.
O titulo nasce sozinho, e a outra parte pode incumprir o pacto de preenchimento.
Único caso em que é oponível. - Porque as partes são as mesmas,
a parte que beneficia do título de credito e a parte que entrou no contrato
do direito subjacente
a partir do momento em que ele e transmitido deixa de haver a oponibilidade.

Joana Coelho de Freitas 95


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Contratos especiais de comércio


Releva aqui toda a problemática relativa aos atos de comércio. Então temos:
1- Mandato
2- Conta-corrente
3- Transporte
4- Empréstimo
5- Penhor
6- Depósito
7- Depósito de géneros e mercadores nos armazéns gerais
8- Seguros
9- Compra e venda
10- Reporte
11- Escambo ou troca
12- Aluguer
13- Transmissão e reforma de títulos de crédito mercantil

Contratos extravagantes – tipos sociais


Fora do Código Comercial existem:
a. Contrato de associação em participação e o contrato de consórcio – natureza
organizativa.
b. Contratos de mediação
c. Contrato de agência – tem ligação com a ideia de mandato comercial
d. Contrato de locação financeira
e. Contrato de cessão financeira

Sem regulação legal expressa:


i. Contratos de promoção: o patrocínio, a publicidade e certas modalidades de mediação
ii. Contratos de distribuição: a concessão comercial (comprou produto para revender), a
franquia (cada estabelecimento é um igual à mãe), agência (o produtor contrata um agente
para ir ao mercado arranjar clientes)
iii. Contratos de organização: a lojista em centro comercial (MC)- não é a loja que é a
organização, mas sim o centro comercial; a engenharia e certas modalidades de empreitada
– atípicos – consórcio (vários vão participar com alguma coisa) e sócio silencioso

Joana Coelho de Freitas 96


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Os contratos relativos à transmissão ou à


disponibilização de bens:
Contrato de compra e venda
É o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa ou de um direito –
art.874ºCC
O direito é transmitido por mero efeito do contrato – art.879º - em que um fica obrigado
a entregar a coisa e o outro é obrigado a pagar o preço.
Como existem dois tipos de compra e venda: civil e comercial; razão para se ter de limitar o tipo
comercial – art.463º CCom
1. Compra de moveis para revenda ou para aluguer
2. Compra para revenda, de fundos públicos ou de quaisquer títulos de crédito
3. As vendas de móveis, de fundos públicos ou de títulos de crédito, quando
tivessem sido adquiridos com o intuito de revenda
4. As compras, para revenda, de imoveis e a revenda dos imoveis adquiridos
com esse intuito
5. As compras e vendas de partes ou de ações de sociedades comerciais

O CCom separa a compra e venda em:


A compra em si – o sujeito adquire o direito, pagando o preço
A venda em si – pela qual o sujeito arrecada um preço, e abre mão de um direito
Isto deve-se aos atos mercantis unilaterais – art.99ºCCom
Em que medida é que estes dois se encontram?
Na medida da revenda, a aquisição para a revenda

Apesar de ser um ato objetivamente comercial, normalmente é praticada por um comerciante no


exercício da sua profissão – art.464º
Art.463º/5

Modalidades de compra e venda


As mais em uso no comercio e para as quais fica regras supletivas.
É uma área dominada pela autonomia privada.
1- Contrato para pessoa a nomear – art.465ºCCom que utilizam supletivamente as regras do
CC do art.452º a 456º
2- Venda sobre amostra: art.469º feita debaixo de a condição de a coisa ser conforme à
amostra ou à qualidade convencionada.
a. Menezes Cordeiro: deveria ser um regime aplicável às compras e vendas civis

Joana Coelho de Freitas 97


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Caso das vendas que não estão à vista nem se podem designar por um padrão – segunda
modalidade de venda a contento – art.924ºCC. O art.471ºCCom dá o prazo de 8 dias:
Menezes Cordeiro: No caso de haver dolo da parte vendedor, não se aplica o
art.471º, tendo que se aplicar apenas os art.912º e ss CC
3- As coisas que são vendidas tendo em conta o seu peso, conta ou medida, seguem o regime
das obrigações genéricas do CC:
a. A concentração opera a delimitação do risco, a entrega a sua inversão
4- A compra de bens futuros e alheios – art.467ºCCom – a lei comercial parte de uma ideia
da validade destes contratos e determina que o vendedor deve cumprir

A lei comercial compreende certas regras especiais em relação à compra e venda:


O art.466º admite que o preço da coisa só se defina posteriormente.
o Menezes Cordeiro – define que o art.883º protege mais o comércio do
que o preceito do art.466º
A entrega da coisa antes do preço, cessa na hipótese de falência do devedor –
art.468º
O prazo para a entrega da coisa é fixado supletivamente em 24 horas: na falta de
estipulação das partes – art.882ºCC – é necessário recorrer ao artigo 777º/1 do
CC
Compra e venda em feira ou mercado – deverá ser executado no dia a seguir –
art.475º
A falta de pagamento, na lei comercial se o comprador de coisa móvel não
cumprir com aquilo a que for obrigado, pode o vendedor depositar a coisa ou
fazê-la revender – art.474º
o A ultima hipótese envolve a resolução do contrato
o A revenda deve ser feita em hasta pública ou por intermedio de corretor,
salvo se o direito do vendedor ao pagamento da diferença entre o preço
obtido e o estipulado e à indemnização
O vendedor não pode recusar a fatura, com o recibo do preço – art.476º + art
787ºCC
Regime especial da tutela da confiança – art.1301ºCC

Contrato de escambo ou troca


Segue o regime da compra e venda
A interpretação que tem vindo a ser feita é no sentido de ser mercantil a troca feita para revenda

Joana Coelho de Freitas 98


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Locação
Aluguer comercial
Objetivamente comercial está associado à compra e venda, no sentido, que será comercial se a
coisa tiver sido comprada com o fim de ser alugada – art. 481º.
Apenas tem mais um preceito sobre o aluguer comercial que é o caso de fretamentos de
navios que remete para o regime civil

Arrendamento comercial
Art.110º e ss do RAU – arrendamento para o comércio e industria

Empréstimo
O empréstimo está previsto nos arts 394.º CCom; para ser considerado mercantil, a coisa cedida
tem de ser destinada a ato comercial.
Não há muitas especificidades de regime quanto ao mútuo civil, salientando-se apenas:
Caráter oneroso; no entanto, isto não impede as partes de estipular a gratuidade, sendo apenas
uma presunção – ex: art 243.º podem n estipular juros
Os juros comerciais estão sujeitos a uma taxa de 2% sobre a taxa do Banco Europeu
Quanto à forma: no mútuo civil há um formalismo excessivo, mas no mútuo mercantil admite-se
todo o género de forma – 386.º CCom

Reporte
O reporte é constituído pela compra, a dinheiro de contado, de títulos de crédito negociáveis e
pela revenda simultânea de títulos da mesma espécie, sendo a compra e a revenda feita à mesma
pessoa
Ulrich apresenta criticas:
a- A definição legal não indica o fim do contrato
b- Ela não distingue o reporte do deporte
c- Ela não refere o reporte indireto, ou seja, com intervenção de terceiros
d- Ela não faz perder a unidade orgânica da figura
e- Ela não fala na real remuneração do contrato
f- Ela considera a soma dada pelo reportador como um preço, o que seria inexato e
insuficiente
g- Em vez de falar em venda, era preferível falar em transferência de propriedade

Então,
Uma pessoa (o reportado) vai obter a disposição de uma certa soma em dinheiro, com
títulos de que se não pretende, em definitivo desfazer

Joana Coelho de Freitas 99


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Uma outra pessoa (o reportador) vai conseguir a disponibilidade temporária de certos


títulos

Teremos então o reporte em:


Sentido amplo
Sentido estrito – os títulos são mais caros na retransmissão, sendo o reportador
remunerado através da diferença
Deporte – os títulos são mais baratos na retransmissão, cabendo a remuneração ao
reportado

Consoante o critério, o reporte pode ser:


Reporte banca: obter-se dinheiro ou assegurar temporariamente a disponibilidade
de um determinado conjunto de títulos
o Operação financeira

Reporte de bolsa: visa diferir-se uma venda de títulos a prazo, quando na altura,
não vejam realizadas as suas previsões
o Caso do jogo de bolsa
E como é que se caracteriza o reporte?
Contrato consensual – não há exigência de forma
Real quoad constitutionem – resulta da exigência legal expressa – art.477º -
necessária a entrega da coisa para a celebração.
Sinalagmático e bivinculante – implica prestações recíprocas
Oneroso – porquanto ambas as partes são chamadas a efetuar sacrifícios
económicos
Relativo a títulos – o legislador afastou o reporte referente a outros títulos que
não os títulos de crédito negociáveis, apenas sempre admissíveis outros a titulo
da vontade das partes
De dare e de facere – o reporte obriga as partes a entregar e restituir determinados
objetos, surgindo múltiplos deveres de atuação a cargo de ambas
Típico e nominado – tem designação própria da lei e regulação específica

Função e natureza
Qual a função?
Tem função financeira, não de troca, mas sim de crédito aparecendo como
operação garantida.
As partes que recorrem ao reporte não pretendem:
uma transferência de títulos.
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o A titularidade do reportador é efémera


Não é uma transferência definitiva de fundos
o É um mútuo especialmente garantido

A natureza do reporte é unitária ou não?


1- Unitária:
a. O reporte constituiria um tipo negocial autónomo, dotado da sua regulação
2- Não unitária:
a. Deve ser entendido como uma união de contratos ou como um contrato misto
Cunha Gonçalves, Veiga Beirão: é unitária. Defendido pela maioria da doutrina portuguesa.

Podemos aferir isto de:


֎ Não faz sentido atribuir papel autónomo a algumas operações materiais ou
jurídicas que nele se insiram
֎ Não é possível invalidar um dos “negócios” parciais que comporiam o reporte
sem invalidar o conjunto
De qualquer das formas é preciso averiguar se o reporte se pode referir a outro tipo contratual.
Como é que se explica o reporte?
Teria do empréstimo – numa espécie de mutuo o reportado receberia uma coisa fungível
obrigando-se a restituir outro tanto. Receberia títulos que teria de restituir. O reportador
não tem de restituir os títulos que recebeu, mas sim títulos da mesma espécie
o Problema: o regime do reporte com a sua transmissão dupla transmissão e a
particular forma de “calcular” o preço
Teoria do penhor – o reporte aparece como garantia. A entrega de títulos serviria apenas
para assegurar a efetivação da restituição do dinheiro
o Estas teorias aparecem juntamente com as do empréstimo. Há um paralelo entre
o mútuo pignoratício e o reporte.
Teoria da compra e venda – o reporte seria duas compras e vendas simultâneas, uma
imediata e outra diferida, de sinal contrário
o Qualquer contrato que implique a transferência de direitos, mediante dinheiro
têm algo de compra e venda.
Hoje afastamos estas teorias, encarando o reporte como uma categoria própria, autónomo,
típico e sui generis
No reporte a venda e a recompra são simultâneas! – art.477º
Não obriga o reportado a recomprar os títulos nem o reportador a revendê-los, o reporte
vai produzir os seus efeitos sem mais qualquer vontade humana

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Direitos acessórios:
Todas as vantagens que o Direito dá e que caibam aos titulares dos títulos de crédito dados
de reporte.
Normalmente depende do título em jogo
E a quem competem esses direitos durante o reporte?
Como se tratam de duas compras e vendas: reportado, reportador e reportado,
seriam sucessivamente proprietários de direitos
o Rejeitada porque,
▪ O reporte ser referente a compras e vendas não faz sentido,
porque o reporte tem um regime próprio
▪ Em termos de Direito positivo, o reporte é um tipo negocial
próprio e autónomo, não se lhe podem aplicar as regras da
compra e venda sem ver se não há outro regime mais adequado
Na Itália, a doutrina mais antiga imputa estes direitos ao reportador
o Vivante: o reportador tem esses direitos, mas depois na restituição tem
de os creditar ao reportado, tendo que restituir os direitos que recebeu
o Messineo: o reportador deverá pelo menos substituir por títulos
equivalentes, não tendo que ser obrigatoriamente os que recebeu
Em Portugal:
o Deve o reportador restituir com as mesmas qualidades os títulos
o No reporte compra e venda, o reportador é proprietário a termo resolutivo
apenas detém a propriedade gravada
o Há um negócio financeiro e não um esquema aquisitivo, não poderia ser
utilizado para adquirir coisas que não o próprio reporte
o O reporte não é um negócio aleatório, pelo que não abrangeria vantagens
que não fosse parte da vontade inicial
o O reporte sujeita-se aos princípios gerais nomeadamente os que limitam
os juros, a usura,…
Art.477º - permite retirar uma norma supletiva: durante o prazo da convenção, correm a favor do
reportador os prémios – podem as partes por sua vontade fazer imputar esses prémios ao reportado
(p.e. através de contrato antecedente)
Interpretação comedida:
▪ A lei está a camar a atenção para realidades que vencem periodicamente de
modo repetido
▪ Ao restringir a ideia de prémios, tudo quanto for acessório e que não se possa
reconduzir a esta ideia aplicar-se-á as regras gerais que informam e que
determinam, no termo, uma total restituição ao reportado
CONCLUSÃO:
1. Os prémios têm que ser restituídos em termos de igual qualidade
2. Os que não se enquadram como prémios, têm que ser restituídos de forma igual
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Negócios referentes ao estabelecimento


(A cessão da exploração) – NÃO EXISTE HOJE
Há uma cedência temporária da exploração do estabelecimento a qualquer título.
Barbosa de Magalhães: contrato misto
Menezes Cordeiro: necessariamente formal, em abstrato não se consegue esquematizar
um regime para a cessão.
Exclui-se a parte injuntiva da locação
Devido a isto, é necessário fazer uma delimitação de qual o objeto deste negócio:
Antunes Varela:
➢ Inexistência de razões que justificam o protecionismo do inquilinato comercial
ou industrial
➢ O cedente deve ter a iniciativa da criação ou da manutenção do estabelecimento,
em cujo património ele se integra
➢ O facto de o cessionário não ter criado o estabelecimento, limitando-se a fruir o
que temporariamente lhe foi cedido
➢ A assimilação da cessão de exploração ao trespasse, caso tivesse o esquema da
renovação automática estabelecida para o arrendamento
Mesmo assim continua a ser um negócio atípico – cabe as partes definirem o regime aplicável
Menezes Cordeiro: a semelhança com o trespasse apenas ocorre pelo ponto de visa do cedente
Art.1085ºCC.
É necessário um estabelecimento para não estarmos perante um caso de arrendamento
puro
Art.1038º
A cessão deve constar de documento escrito, não tendo de ser escritura pública – art.1068º
Em relação à locação e as diferenças:
Art.1109ºCC
A locação do estabelecimento implica a cessão titulada por um negócio decalcado da locação,
designadamente com uma obrigação periódica de pagamento de retribuição
A situação locaticia é muitas vezes limitativa, nomeadamente as do termo da locação – o
afastamento dessas normas aparece muitas vezes como contra legem, a doutrina tem vindo a
aceitar que a jurisprudência possa agir contra legem neste sentido.

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Trespasse
Estabelecimento pode ser objeto de transmissão definitiva ou temporária.
Trata-se, de resto, do ponto mais significativo do seu regime: a possibilidade da sua negociação
unitária, através de trespasse – se essa transmissão for definitiva – ou cessão de exploração - se a
cedência do estabelecimento for meramente temporária (arts. 1109º e 1112º, nº 1, a) do CC).
Estando em causa um acervo de bens e de direitos, a lei e a prática admitem que a transferência
se faça unitariamente
Abrange mais que as coisas corpóreas articuladas da universalidade, as realidades
envolvidas incluindo o passivo.

Mesmo que seja preciso o


consentimento de um terceiro, continua
a ser uma transferência unitária

O trespasse do estabelecimento que tudo englobe continua a fazer-se por um único negócio, com
todas as facilidades que isso envolve.
O trespasse veio a perder terreno,
O comerciante que venha a fundar estabelecimento constituirá uma sociedade
comercial mais ou menos capitalizada, que irá encabeçar o acervo de bens e de deveres a inserir
no estabelecimento
Quando quiser alienar, basta transferir a sua posição social para
o adquirente
Legalmente atípico e nominado: não tem regime unitário na lei
Socialmente típico: aceite pelos usos comerciais é possível determinar o âmbito
O trespasse para ter eficácia deve: (art.1112º CC a contrarium)
▪ Ser celebrado por forma escrita
▪ Tem de ser estabelecimento efetivo – todos os elementos necessários para funcionar e
que opere em termos comerciais
▪ Tem de ser todo o estabelecimento – até ao limite de o conjunto transmitido ficar de tal
modo descaracterizado que já não se possa considerar um estabelecimento
(estabelecimento incompleto – Oliveira Ascensão)
▪ O estabelecimento deve manter-se como tal – se é restaurante mantém-se como
restaurante, podendo mudar o teor, passar de comida portuguesa para chinesa. Tem de ser
o mesmo ramo de atividade que a perpetuada pelo trespassante
▪ Deve abarcar instalações, utensílios, mercadorias e outros elementos (fatores
incorpóreos)

Que efeitos tem um trespasse em que se inclua o passivo?


Internos: o trespassário adquirente dica adstrito, perante o trespassante, a pagar aos
terceiros o que este lhes devia
Externos: o alienante só ficará liberto se os terceiros, nos termos aplicáveis à assunção de
dividas e à cessão de posição contratual
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O trespasse é uma transmissão definitiva do estabelecimento.


Mas a que título?
Pode operar por contrato típico ou atípico, que assuma eficácia transmissiva – ficando
assim o regime do trespasse dependente do contrato em causa
1- Direito de preferência ao senhorio – no caso de trespasse por venda ou por dação –
art.1112ºCC
a. Não é um direito de resgate da coisa de forma a desmantelar o negócio.
b. Tem de dar as mesmas condições que o outro
c. Terá que manter o estabelecimento em funcionamento – não poderá alterar o
negócio, pode mudar o teor, mas não o tipo de negócio (restaurante português
para italiano,…)
d. Depende do tipo de negócio: se for uma farmácia, o senhorio terá que ser um
farmacêutico
e. Não cabe preferência no caso de estabelecimento integrado em quota social
2- O trespassante poderá ficar investido num dever de não concorrência
a. Exigência da boa-fé
b. Por exemplo um padeiro que fica conhecido pelos bolos, trespassa para outro e
abre uma padaria à frente da antiga
c. Poderá haver deveres de cessar a concorrência indevida e de indemnizar o lesado,
reconstruindo a situação que existiria se não fosse a violação perpetrada
3- NOTA: de facto, se no valor do estabelecimento trespassado se entrou em linha de conta
com o valor da clientela, existe, logo, à partida, uma obrigação implícita dos trespassantes
de não concorrência, pois, caso contrário, iriam beneficiar novamente daquele elemento
que já foi remunerado pelo trespasse celebrado.

4- Aplica-se o regime geral das preferências o que a lei comercial não prescreva diretamente
a. A preferência não funciona quando o estabelecimento seja usado para a
realização de capital social – salvo nos casos de abuso de direito
NOTA: no silêncio das partes, os elementos são transmitidos.

Qual o âmbito do negócio? Tem de ser transmitidos todos os elementos existentes?


Realidade convencional e a realidade legal.
Critério da afetação funcional – aquele estabelecimento que é transmitido tem de ser
transmitido com todos os elementos que após a transmissão o estabelecimento continue
a servir para os mesmos fins que antes.
o Não está desligado do aviamento – não são uma mera soma contabilística em
relação aos elementos do estabelecimento. É esse valor analisado na perspetiva
daquilo que em conjunto faz gerar de receita
o Tem de ter em conta os elementos concretos de cada caso

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A margem de não transmitir coisas está limitada pela aptidão funcional e ainda por razões
legais:
o Art.1112º - norma especial, porque permite a transmissão sem a autorização do
arrendamento – tem que ver com:
▪ Trespasse de estabelecimento industrial
▪ De pessoa que exerça uma profissão liberal no prédio arrendado
o Art.285ºCTrabalho – a preocupação foi assegurar a manutenção de postos de
trabalho nestes negócios
o Art.100º e 145ºCDireitos de Autor
o Art.304º-P/2 CPI – logótipo – é uma realidade que é composta por elementos
gráficos nominativos associada a elementos gráficos figurativos – é transmissível
por trespasse.
Porquê?
A transmissão é encarada como um negocio benéfico para o desenvolvimento da
atividade comercial em geral, porque o trespassante terá interesse em o fazer (reforma do
negociante)
Procurando facilitar a transmissão do estabelecimento em espaço arrendado é introduzida
esta norma.
Art.1112º/2/a) – recorte negativo, “não há trespasse”. Não pode haver um trespasse com base em
apenas no valor económico das instalações e da localização geográfica.

Âmbito de entrega
Fazem parte do âmbito natural de entrega:
Por força legal, incluem-se no âmbito natural os logótipos e marcas (lei supletiva)
Os bens que o compõem, como máquinas, utensílios, mobiliário, matérias-primas,
mercadorias, inventos patenteados, modelos de utilidade, desenhos ou modelos
E os prédios?
o A doutrina entendia que não envolvia a transmissão do prédio;
o Coutinho - não encontra razões para diferenciar o prédio face aos outros
bens que fazem parte do estabelecimento – deve concluir-se que a
propriedade do prédio foi transmitida.
▪ Nos casos em que a instalação física tem de ser elemento
essencial.
▪ Nos termos da interpretação do contrato com as realidades que
estão implícitas no preço que se paga – fácil de aferir, tendo em
conta o valor do prédio!
Quanto aos elementos empresariais na disponibilidade do trespassante a título obrigacional (o
trespassante tem o gozo desses bens por ser titular de direitos de crédito):

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Por força de lei, as prestações laborais a que os trabalhadores subordinados se haviam


obrigado perante o trespassante continuam a contar-se ente os elementos do
estabelecimento trespassado. – 285/1 CT (contratos de trabalho)
1112/1/a): o trespasse não implica necessariamente a transferência do prédio por via da
transmissão da posição do arrendatário;
o mas o trespasse envolve a transmissão da posição do arrendatário?
▪ Coutinho - diz que sim.
O saber-fazer e outras situações de facto com valor económico podem ser elementos de
uma empresa.
o E são objeto de trespasse?
▪ Sim, deve ser transmitido, sendo tal dever um efeito natural.
E posição jurídica de locatário da locação financeira?
o DL 149/95 – art.11º
Cessão de créditos

Quanto ao âmbito convencional incluem-se os elementos empresariais que apenas se transmitem


por mor de estipulação ou convenção entre trespassante e trespassário. Inserem-se:
A firma – pode mencionar a sucessão na firma do anterior titular se este autorizar
Logótipo e marca quando neles figure um nome individual, firma ou denominação do
titular do estabelecimento
Os contratos ligados à exploração da empresa, mas cujos objetos não sejam elementos do
estabelecimento também não devem ser considerados meios empresariais,
o mas podem ser transmitidos juntamente com o estabelecimento trespassado.
o Contudo, estas posições contratuais e débitos não fazem parte de qualquer dos
âmbitos de entrega, nem sequer do âmbito convencional, pois a respetiva
transmissão exige a intervenção de terreiros.
o Assim, para os contratos, valem as regras do 424.ºss – é necessário o acordo do
trespassante, trespassário e o consentimento do contraente cedido.

E a transmissão singular de dívidas, será que é transmitida tendo em conta o conflito entre
interesses?
São aplicáveis, a este caso, as regras gerais do direito civil.
doutrina e jurisprudência dominante: negam a transmissão automática de dívidas, aplica-se o CC.
Os créditos poderão ser livremente cedidos, não implicam em nada o direito do devedor,
apenas tem de ser notificado.

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As dividas já não poderão ser assumidas assim, porque ai poderá interessar ao credor
quem é que lhe pagará a divida. – plano da relação externa e da relação interna
Coutinho de Abreu: parece correto, de acordo com o 595.º a transmissão a título singular de
dívidas referentes a estabelecimento só se pode verificar por acordo entre trespassante e
trespassário, ratificado pelos credores, ou por acordo entre o trespassário e os credores - tem
sempre que haver declaração expressa dos credores.
EXCEÇÃO: o trespassário pode ter de responder por dívidas anteriores ao trespasse – ART.
285º/1 e 2º CT (dívidas aos trabalhadores)
Oliveira Ascensão: há realidades creditícias e obrigacionais que estão ligadas à
exploração do estabelecimento, e o que faz sentido é serem transmitidas com o negócio que
transmite o estabelecimento – dividas exploracionais

Obrigação implícita de não concorrência


A obrigação de não concorrência decorre implicitamente dos negócios de alienação das
empresas, não sendo necessário haver estipulação.
O trespassante fica, à partida, obrigado a num certo espaço e durante certo tempo, não
concorrer com o trespassário e sucessivos adquirentes
nomeadamente, fica vinculado a não iniciar atividade
similar à exercida através do estabelecimento trespassado.
Têm sido avançados vários fundamentos para esta obrigação:
Princípio da boa fé na execução dos contratos
a) Princípio da equidade
b) Usos do comércio
c) Concorrência leal
d) Garantia contra evicção
e) Dever de o alienante entregar a coisa alienada e assegurar o gozo pacífico dela
- parece ser o preferível
O alienante conhece as características organizativas da empresa e as relações pessoais com
financiadores, fornecedores e clientes. Assim, seria perigosa a concorrência por ele exercida.
isso poria em risco a subsistência da empresa alienada,
impedindo uma efetiva entrega da mesma ao adquirente.
NOTA: outras pessoas podem ficar vinculadas a esta obrigação. É o caso:
do cônjuge do trespassante - beneficiaria dos conhecimentos deste relativos à organiza-
ção, clientes, fornecedores, e por isso perigosa para o trespassário.

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Filhos do trespassante, quando com ele tenham colaborado na exploração da empresa


transmitida.
Nos casos em que o trespassante é uma sociedade, ficam vinculados pela obrigação também os
sócios?
Alguns sim, nomeadamente os que possuem conhecimentos relativos à empresa trespassada
indispensáveis a uma concorrência qualificada (porque exercem funções de admn ou porque
detinham participação social dominante).

NOTA: aplica-se ao primeiro trespassário, mas também (enquanto a obrigação durar) os


eventuais sucessivos trespassários.

Esta obrigação tem limites:


justifica-se apenas na medida em que seja necessária para uma entrega efetiva do es-
tabelecimento trespassado.
Tem de ter limites objetivos, espaciais e temporais, sob pena de violação do p da li-
berdade de iniciativa económica e das regras de defesa da concorrência:
o Critério espacial - vale apenas nos lugares delimitados pelo raio de ação do
estabelecimento trespassado
o Critério material
o Critério temporal - durante o tempo suficiente para se consolidarem os valores
de organização e/ou exploração da empresa transmitida na esfera de um ad-
quirente-empresário razoavelmente diligente.
Os sujeitos não ficam proibidos de exercer toda a atividade económica
o não podem é reiniciar o exercício de uma atividade concorrente
com a exercida através da empresa trespassada, de uma atividade económica
no todo ou em parte igual ou sucedânea.
Se os obrigados a não concorrer violarem a obrigação, o trespassário pode exercer os direitos
previstos nas normas respeitantes ao não cumprimento das obrigações:
exigir indemnização por perdas e danos (798º CC),
resolver o contrato (801º/2)
intentar ação de cumprimento (817º)
requerer sanção pecuniária compulsória (829º),
exigir que o novo estabelecimento do obrigado seja encerrado (829º/1).
Esta obrigação pode ser afastada por estipulação contratual – o trespassário pode dispor
livremente dos seus interesses patrimoniais.

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Menezes Cordeiro: existe uma obrigação implícita de não concorrência devido à boa-fé, neste
caso pós factum finitum, para não prejudicar o trespassário
Coutinho de Abreu: tem a mesma ideia que Menezes Cordeiro, mas com base nas leis da locação,
em que não se deverá impedir o locatário de gozar da coisa – art.1031º e 1037º
Estes dois atores vão então limitar esta ideia com três critérios:
1. material
2. geográfico
3. temporal
Critica:
As regras de boa-fé impõe um comportamento negocial honesto, isto sempre tendo em
conta o comportamento exteriorizado, em que medida é que isto prejudicaria o negócio?
• Se o trespassante tivesse dito que ia querer posteriormente abrir um
estabelecimento com as mesmas características que o anterior, o trespassário
quereria que o preço baixasse ou então nem celebraria o trespasse
• Se o trespassário pedisse ao trespassante para adicionar uma clausula de não
concorrência, o trespassante quereria aumentar o preço do trespasse ou nem o
celebraria
A limitação do âmbito tendo em vista os critérios:
Material – ex: restaurante português é trespassado e depois ele abre um chines
Geográfico – se forem bairros diferentes, ainda é o mesmo espaço?
Temporal – 2/3 anos como a doutrina aponta, não são suficientes para repor o investimento
Pedro Pais de Vasconcelos: as partes deveriam ter incluído a clausula no contrato, como faria um
comerciante diligente. Não é uma obrigação, tem de estar previsto no contrato, caso contrário
estaremos a por em causa a concorrência que é um valor jurídico protegido – art.61º/1 CRP e
normas comunitárias
Nuno Aureliano: não existe uma obrigação implícita, o que há é uma lacuna tendo que se fazer
analogia com o regime da agência e com o a lei laboral – art.9º do regime da agencia e normas do
CT – sendo assim, a clausula tem de estar reduzida a escrito
José Estaca: o negócio é feito entre dois profissionais, neste caso comerciantes, nenhum deles está
numa situação de disparidade em relação ao outro, pelo que ambos devem ter a diligência superior
a um bom pai de família – devem ter o padrão de diligencia de um gestor organizado e onerado.
Todo o mundo negocial requere especial cuidado do comerciante, pelo que quando ele não tem
cuidado e abre a possibilidade da clausula, não aparece uma lacuna, mas sim uma mera omissão
intencional (mas não sendo, ninguém é obrigado a conhecer que não é).
Como profissionais na gestão da coisa, devem saber quando recorrer a outros
profissionais quando esteja em causa situações das quais eles desconheçam. Neste caso a um
jurista – com isso a responsabilidade passa a estar na esfera do jurista.

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Trespasse de estabelecimento instalado em prédio arrendado


Em caso de trespasse do estabelecimento instalado em prédio arrendado, o trespassante-
arrendatário pode ceder a sua posição de arrendatário ao trespassário sem necessidade de
autorização do senhorio.
Esta norma tutela a circulação negocial dos estabelecimentos e da própria manutenção deles;
a necessidade de autorização do senhorio quebraria isto.
O 1112º/2 refere situação em que não haja trespasse.
A alínea a) levaria a questionar se o trespasse de um estabelecimento exige a transfe-
rência de todos os seus elementos
o inexistindo trespasse, a cessão da posição de arrendatário seria ilícita sem o
consentimento do senhorio e fundamento de resolução do contrato de arren-
damento.
o não basta que o senhorio prove não ter sido transmitido um ou mais elementos
componentes do estabelecimento para afastar o 1112º/1. Terá de provar que
sem aqueles elementos não subsiste aquele concreto estabelecimento
A alínea b) do nº2 do 1112º – quando no momento do negócio havia intenção não da
continuação do mesmo estabelecimento mas a constituição de estabelecimento novo.
1112º/5 – quando após a transmissão seja dado outro destino ao prédio, o senhorio pode resolver
o contrato.
Defendeu-se que esta norma não cria uma causa autónoma de resolução:
se a mudança de destino significa que não houve trespasse, a situação está pre-
vista 2 alínea b).;
se apesar da mudança, houve trespasse não há fundamento de resolução, salvo se
o contrato de arrendamento não permitia destinar o prédio a outro fim.
Coutinho Abreu: critica a norma, mas entende que cria fundamento autónomo de resolução, não
sendo prejudicada pelo 1112º/2.
O 1112/3 repete que a transmissão da posição do arrendatário, sem dependência de autorização
do senhorio, deve ser comunicada a este. – se não o fizerem, é ineficaz quanto ao senhorio,
podendo resolver o contrato – 1083/2/e).

Locação
Diferencia-se do trespasse por ser temporária, e onerossa (o trespasse é tendencialemtne oneroso)
Art.1109º CC – antes chamada de cessão de exploração:

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Implica a cessão titulada por um negócio tipo a locação, com uma obrigação periódica de
pagamento de retribuição. Reconhece-se assim o estabelecimento comercial como objeto
autónomo
Cedência temporária do estabelecimento como um todo, sem necessidade de
negociar e as realidades que o componham – p.e. a clientela e o aviamento
Possibilidade de atender à verdadeira realidade em jogo no estabelecimento,
afastando normas comuns aplicáveis a outras figuras contratuais
A renda tem em conta a clientela também;
A aproximação do regime ao arrendamento parece aproximar-se demasiado da
transmissão do imóvel.
Art.1109º CC – locação do estabelecimento
Art. 1110º CC – as regras quanto à duração, denúncia e oposição à renovação dos contratos de
arrendamento para fins não habitacionais são livremente estabelecidas pelas partes, aplicando-se,
na sua ausência, o disposto quanto ao arrendamento para habitação.

Assim, as partes estabelecem livremente a duração do contrato:


➢ se nada tiverem estabelecido, não se aplica o estipulado no arrendamento para
habitação (art.1094º/3)
➢ considerando-se o contrato celebrado com prazo certo, por 5 anos (art.1110º/2).

O regime da denúncia do contrato é:


o estabelecido livremente pelas partes na falta de estipulação, aplica-se o disposto para o
arrendamento habitacional – se existir prazo certo;
o assim, vale o previsto no art 1098º/3, 4 e 5 (denúncia pelo locatário), exceto se o prazo
certo da duração do contrato for o supletivo, caso em que o locatário não pode denunciar
o contrato com antecedência inferior a um ano – art.1110º/2;
o se o contrato tiver sido celebrado por duração indeterminada, o regime supletivo da
denuncia será o dos arts1100.º e 1101.º/c).
O 1110 também se refere à oposição à renovação, tendo em vista os contratos com prazo certo.
Isto supõe a possibilidade de prorrogação; quanto a esta possibilidade, a norma
não remete para o 1096.º.
Aplicar-se-á aos arrendamentos para fins não habitacionais o art 1054.º.
Nenhuma destas normas se aplica ao contrato de locação de estabelecimento, que caducará findo
o prazo (1051/a);
➢ porém, as partes podem prever a renovação do contrato. Se não o fizerem,
aplica-se o 1055.º.
A questão das obras de conservação não se aplica a este caso.

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Forma do contrato: sob pena de nulidade, deve ser celebrado por escrito. – art.1112º/3
Aplica-se também o art.1113.º não caduca por morte do locatário.

Âmbitos de entrega
A locação não pode também prescindir dos elementos necessários ou essenciais para a
identificação da empresa objeto do negócio: âmbito mínimo.
os elementos empresariais transferem-se naturalmente para o
locatário – a título temporário.
NOTA: Integra-se no âmbito natural de entrega a generalidade dos meios empresariais
pertencentes em propriedade ao locador.
Quanto aos elementos empresariais que se encontrem na esfera jurídica do locador a título
obrigacional?
a posição de empregador transmite-se para o locador – 285/3 CT;
transmite-se o gozo do prédio (se o estabelecimento funcionar em prédio arrendado);
o mesmo para os bens empresariais detidos pelo locador a título de locação financeira ou
de simples aluguer.
A que título se dá esta transferência?
Deve entender-se que a propriedade dos meios fica com o locador, não se transmitindo para o
locatário; o direito locatício sobre o todo não implica direitos de propriedade.

Então qual o direito para o locatário transformar ou alienar bens constituintes do capital
circulante?
É um poder-dever de exploração do estabelecimento - se o locatário encerrar, total ou
parcialmente, a empresa, viola o contrato de locação e o locador pode requerer resolução – 1047º
CC.

Obrigação de não concorrência


Coutinho de Abreu: pode não ser só do locador, podendo ser estendida ao cônjuge e filhos e no
caso das sociedades. (o que está em causa aqui é o facto de ele ter conhecimentos)
Enquanto durar a locação de estabelecimento, o locador está obrigado a não concorrer num
determinado espaço com o locatário, não podendo iniciar atividade igual ou semelhante à exercida
através do estabelecimento locado – art.1031º/b) e 1037º/1 CC. – consequência 1037º/2
(“esbulho” do lucro) e art.1276º (responsabilidade contratual), art 1054º:

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resolução do contrato
indemnização
encerramento do novo estabelecimento – mais gravosa – retirada art.1276º

E pode o locatário, na vigência do contrato, iniciar o exercício de uma atividade concorrente


com a exercida através da empresa locada e no espaço delimitado pelo raio de ação desta, sem
o consentimento do locador?
Não. Este comportamento provocaria uma diminuição do valor do estabelecimento
locado, violando o dever de manutenção e restituição da coisa a cargo do locatário – 1043.º.

Terminado o contrato, e na ausência de um pacto de não concorrência, o ex-locatário fica


obrigado a não concorrer com o locador?
Gravato Morais: sim, porque o ex-locatário pode aproveitar conhecimentos sobre a
clientela e organização empresarial adquirida durante a locação.
Coutinho Abreu: Não, o ex-locatário fica libre para concorrer – o principio é o da
liberdade de iniciativa económica. Coutinho admite o argumento de Gravato, mas entende que
esse risco deve ser tomado em conta pelo locador.

Será que esta obrigação cessa com o fim do contrato?


Jurisprudência francesa e Coutinho de Abreu: art.136º CT, não há proibição de
concorrência, após o fim do contrato.

Locação de estabelecimento e arrendamento


A locação de estabelecimento, mesmo quando envolve prédio, não é um contrato de
arrendamento. Também não é um contrato misto, associando o arrendamento de prédio e o
aluguer de estabelecimento.
A locação de estabelecimento é sim um negócio unitário com objeto também unitário – o
estabelecimento, feito de vários elementos.
O gozo do prédio é transferido para o locatário a título não autónomo, não
havendo negócio específico sobre o prédio (o prédio não é dado em arrendamento nem
subarrendado.)

O senhorio tem de autorizar a cedência do gozo do prédio aquando da locação de


estabelecimento?
Domina a conceção de que não – consagrada no art 1109/2 NRAUU.

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Mas o locador deve comunicar ao senhorio a cedência?


Deve, no prazo de um mês – 1109/2. Se esta comunicação faltar, a cedência do gozo do prédio
é ineficaz em relação ao senhorio, que poderá resolver o contrato de arrendamento – se se tornar
inexigível ao senhorio a manutenção do arrendamento.

CONCLUSÃO:
➢ Existência de um estabelecimento
➢ Não é necessária a autorização do senhorio, no caso de ser local arrendado
➢ Quando a cessão seja declarada nula, a retribuição acordada é devida pelo
cessionário ao cedente
o É necessária escritura pública
Art.1109º CC – antes chamada de cessão de exploração:
1- no numero 1 – locação de estabelecimento, não diz que o estabelecimento está instalado
em prédio arrendado. Então, o que está em causa é a situação em que o locador do
estabelecimento é proprietário ou usufrutuário do prédio onde se encontra o
estabelecimento
a. evitar que o estabelecimento possa render duas rendas para a mesma pessoa
2- número 2 – instalado em local arrendado – o locador do estabelecimento é
simultaneamente locatário do imóvel. Quando celebra o contrato transmite ao locatário
do estabelecimento, sem necessidade de consentimento do locador do imóvel:
a. DUAS RENDAS: uma ao locador do estabelecimento e a renda que já era paga
pelo locador do estabelecimento ao locador do imóvel
b. O locador não tem um direito de preferência
Diferenças entre a locação e o trespasse:
O trespasse é definitivo e a locação é temporária,
O trespasse é tendencialmente oneroso e a locação é onerosa
O racional económico do contrato traduz-se num elemento de pagamento do preço. Na
locação de estabelecimento é uma prestação continua e é temporária, a propriedade dos
bens nunca sai da esfera jurídica do locador.
o O locatário paga, na renda, a possibilidade de fruir do estabelecimento como
realidade que gera um proveito económico
o A afetação da clientela é mais sensível do que no caso do trespasse – o locatário
paga uma renda para ter ganho depois, daí que o locador não deve praticar atos
que diminuam o valor do estabelecimento

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Penhor de estabelecimento comercial


Pode o estabelecimento comercial dado como garantia.
Pode ser dado em penhor – Menezes Cordeiro: uma mistura de penhor de coisa e penhor
de direitos
É um penhor mercantil, art.398ºCCom sendo necessária a entrega simbólica.
Apesar de ser dado para ser empenhado, o estabelecimento pode manter o seu normal
funcionamento

Pode ainda o estabelecimento ser sujeito a penhora. Não afeta a relação locatícia que nela exista.

Os contratos de intermediação
Mandato
Parece que o CCom optou por uma ideia mais ampla de mandato, que envolve diversas figuras.
No mandato comercial, o mandatário obriga-se a praticar um ou mais atos jurídicos, por
conta de outrem, atos esses que têm natureza comercial.
Características:
Presume-se oneroso – art.232º a remuneração é acordada pelas partes ou pelos usos da
praça onde o mandato foi executado
É contratual, mas também pode ser um negócio unilateral, podendo o “mandatário” no
caso se não quiser recusar, incorrendo nos deveres:
o Comunicar a recusa ao mandante o mais possível
o Praticar as diligencias necessárias para a conservação de quaisquer mercadorias
que lhe hajam sido remetidas, até à recusa
o Deve consignar em depósito tais mercadorias avisando o mandante quando o
fizer
o Deve responder pelo incumprimento de qualquer das enunciadas obrigações
O mandatário deve no âmbito do contrato:
1- Praticar os atos envolvidos de acordo com as instruções recebidas ou segundo os usos
comerciais – art.238º
2- Informar o mandante de todos os factos que o passam levar a modificar ou revogar o
mandato. art.239º
3- Avisar o mandante da execução do mandato, presumindo-se que ele ratifica quando
não responsa imediatamente – art.240º
4- Pagar os juros – art.241º
Podemos seguir todas as obrigações do art.1261º e ss do CC.
O mandatário não fica subordinado ao mandante – pelo que não se pode encarar isto como
uma situação laboral.
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O mandante deve:
a. Fornecer ao mandatário os meios necessários à execução do mandato – art.243º
b. Pagar-lhe os termos ajustados – art.232º/1
c. Reembolsá-lo de despesas e compensá-lo – art. 242º, 243º e 246º

A revogação ou renuncia do mandato sem justa causa dão lugar a indemnização – art.245º
Art.234º e 237º - no caso do mandato envolver remessa.
Caso de pluralidade de mandatários – art.244º - pode ocorrer mandato conjunto não
aprovado por todos.
O art.247º estabelece privilégios creditórios mobiliários especiaos a favor do mandatário
comercial
Maior diferença entre mandato civil e mandato comercial: o mandato civil é no interesse do
mandante, o comercial opera no interesse de ambos.

Gerentes de comércio
Tem mandato geral para tratar do comercio de outrem – art.248º
Tem poderes de representação – art.250º e 251º - cuja limitação é inoponível a terceiros
Acautela a confiança de terceiros e da comunidade em geral. – art.10º/a CRP

Se o gerente contratar em nome próprio, mas em nome do gerente não se aplica o art.252º. Aplica-
se sim o regime do mandato civil sem representação.
O gerente não pode desenvolver atividade com a deste concorrente, caso contrário
responde pelos danos e pode ser negócio faltoso – art.253º
Havendo registo do mandato, o gerente tem legitimidade judicial ativa e passiva como
representante do proponente – art.254º
Aplica-se ainda o art.255º
A morte do proponente não cessa a gerência – art.261º

Auxiliares e caixeiros
distingue-se do gerente, pois este só tem mandato para tratar de algum ou alguns ramos do tráfego
do proponente – art.256º
São representantes – art.258ºCCom
Podem ser “empregados” do comerciante, devidamente mandatados – operando o aspeto laboral
apenas a nível interno, na relação entre o mandante e o mandatário.
Os caixeiros são pessoas mandatadas para vender e cobrar em nome e por conta do
mandante

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Comissão
É um contrato sem representação – art.266º
Aplicam-se as regras gerais, salvo as que respeitam à representação – art.267º e 268º - devendo o
comissário remeter para o mandante ou comitente o que por conta deste tenha adquirido
O comissário apenas responde perante o mandante caso tenha havido um pacto ou uso,
pelo cumprimento de obrigações do terceiro – art.269º
➢ Nesse caso pode: debitar a remuneração ordinária e a convenção del credere a
determinar pelas partes ou pela praça – art.269º/2
➢ As consequências da violação ou excesso dos poderes de comissão correm pelo
comissário – art.270º e 271º
Deverá sempre o comissário agir com prudência – art.272º otimizando os meios que lhe são
dispostos para prosseguir o interesse do mandante.

Mediação
A mediação é o ato ou efeito de aproximar voluntariamente duas ou mais pessoas, de modo, a que
entre elas se estabeleça uma relação de negociação eventualmente conducente à celebração de um
contrato definitivo, sendo que o mediador não poderá tomar nenhuma das partes e não esteja
ligado a nenhuma delas por vínculos de subordinação
Pode ser assumida como objeto de um contrato: contrato de mediação
Mas também pode ocorrer por iniciativa do mediador sem que previamente nada tenha
sido contratado entre ele e qualquer dos intervenientes – mediação liberal

NOTA: pode haver então mediação com ou sem contrato prévio


Então temos:
Mediador ou mediador contratado: a pessoa que subscreva um contrato de mediação,
obrigando-se a promover um ou mais negócios jurídicos
Mediador liberal: aquele que independentemente de qualquer contrato promova a
conclusão de negócios jurídicos
Comitente ou solicitante: aquele que contrate um mediador, através de um contrato de
mediação
Solicitado: aquele junto do qual o mediador vai exercer os seus bons ofícios
Contrato definitivo: o contrato cuja celebração seja prosseguida pelo mediador
Na tradição portuguesa, o mediador era o corretor – mas neste caso era um mediador público,
encartado pelo Estado, para o exercício de determinadas funções
A locução aparece mais a nível do mercado mobiliário: sociedades corretoras e
sociedades financeiras de corretagem

Através de várias disposições legais é nos possível chegar a diferentes tipos de mediação

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➢ Mediadores de seguros – a mediação de seguros ficou reservada aos mediadores inscritos


no ISP:
o Agente de seguros: faz prospeção, visa realizar seguros, presta assistência ao
segurado e pode cobrar prémios
o Angariador: o mesmo, só que é trabalhador de seguros
o Corretor: uma pessoa coletiva devidamente autorizada, e com funções alargadas
Foi vedada a mediação de seguros nos contratos a celebrar com entidades do sector público
Houve várias alterações: criação de um tribunal especializado para a concorrência. A mediação
de seguros é regulada pelo Direito dos Seguros
➢ Mediadores imobiliários: sofreu com a ideia de um mercado único europeu
➢ Mediação mobiliária: art.289º e 351º CCom. Menezes Cordeiro: os deveres consignados
no CCom nos art.64º a 81º continuam a se aplicar aos mediadores que não estejam no
âmbito mobiliário
➢ Mediadores financeiros
➢ Mediadores monetários: (DL nº164º/86, de 26 de junho)
o Exigência de forma de sociedade anónima ou por quotas – art.1º/1
o Incluindo a exclusividade e de exercício por conta de outrem
o Incompatibilidade
o Registo no Banco de Portugal (que tem poderes de fiscalização)
No sector bancário procura-se uma simplificação do regime, ao contrário dos outros sectores
➢ Mediação de jogos sociais do Estado
o Serviços de assistência
o Tem natureza administrativa

Características e natureza
É um contrato oneroso, de prestações de serviços materiais, aleatória e intuitu personae

Dogmática Geral da Mediação


Aceções e modalidades
A mediação assume diversas aceções e modalidades:
Mediação simples – o ato ou o efeito de mediar é levado a cabo por qualquer
pessoa, sem especiais preparações ou condicionalismos, dentro do espaço
jurídico
Mediação profissional – pessoa que de modo organizado lucrativo e
tendencialmente exclusivo, utiliza a mediação como modo de vida.
o É mais eficaz:
▪ pela própria natureza das coisas,

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▪ sobretudo em áreas que impliquem investimentos alargados nos


domínios da prospeção do mercado e do conhecimento das suas
realidades
Ou,
Mediação liberal – o mediador age por si, sem qualquer vínculo: opera como
comerciante autónomo, seja ele uma pessoa singular ou coletiva (mediação
imobiliária: empresa de mediação; mediação de seguros: corretor)
Mediação dependente – o mediador está ligado a uma organização por um
vinculo de prestação de serviços, seja em relação ao mediador propriamente dito
seja em relação à entidade que irá celebrar o contrato final, seja a essa mesma
entidade e a outros mediadores
Mediação oficial – o mediador é designado por um ato administrativo,
encontrando.se em posição funcionalizada pública – caso dos mediadores de
jogos do Estado
Ou,
Mediação espontânea – o mediador põe, por iniciativa sua e sem ninguém lho
tivesse solicitado, duas ou mais pessoas em contacto, promovendo entre elas a
negociação e a conclusão do contrato
Mediação contratada – o mediador celebra, previamente, um contrato com
algum dos envolvidos, promovendo com este a conclusão contratual definitiva:
o Mediação contratada unilateral: quando o mediador tenha celebrado o
contrato de mediação apenas com um dos interessados no negócio final
o Mediação contratada bilateral: quando o tenha feito com ambos os
interessados – frequente no sector imobiliário
Havendo contrato de mediação,
Mediação pura: o mediador obriga-se, simplesmente e numa situação de
independência e de equidistância em relação às partes, a conseguir a celebração
de certo negócio definitivo
Mediação mista ou combinada: o mediador exerce ainda uma atuação por
conta de outrem (mandato), podendo igualmente assumir outros serviços
(publicidade, prestação de apoio jurídico)
o Pode ser de atuação interessada, podendo o mediador estar ligado ao
solicitador por instituição ou por contrato, e por meios de representação
– mediação imprópria

Mediação civil e mediação comercial


(No caso alemão)
Na mediação civil: conter-se-iam as regras gerais
Na mediação comercial: regras especiais referentes ao comércio

Caso dos países latinos:

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Menezes Cordeiro: nada impede, ao abrigo da liberdade contratual, a celebração de um contrato


de mediação meramente civil – traduzindo-se na obrigação de uma das partes encontrar um
interessado para a celebração com o comitente de um contrato definitivo
Seria um contrato preparatório a inserir na sequencia processual, sendo especial apenas
pelo facto de ter um terceiro intrometido – o mediador

Mas normalmente, nos países latinos, apenas temos mediação comercial, por uma de duas vias:
1. Mediador: um comerciante no exercício da sua atividade comercial. Quando o
mediador seja uma sociedade - comercialidade subjetiva (PORQUÊ)
2. Por estar em causa alguma das modalidades de mediação tipificadas em leis comerciais
especiais: mediação mobiliária, dos seguros, imobiliárias, monetária e de câmbios e de
jogos sociais – comercialidade objetiva e subjetiva
a. Remédio Marques: art.230º/3CCom há uma referência à mediação
b. Menezes Cordeiro: não há nenhuma referência à mediação, nem se quer aos
corretores, apenas a outras formas de prestação de serviços

Mediação típica ou atípica


As típicas reportam-se às modalidades que tenham consagração legal – mediações
mobiliárias, de seguros, imobiliária e dos jogos sociais, p.e. – sendo normalmente nominadas
As atípicas serão as restantes
As mediações mais presentes nos tribunais são as mediações imobiliárias – antes eles
proclamavam a mediação como inominada e atípica.
Os tribunais encaram, hoje em dia, como atípicas:
À venda de um automóvel
À aquisição de frascos para produtos farmacêuticos
A encontrar, no mercado, determinados livros
À compra e venda de máquinas industriais têxteis
À contratação de determinado serviço de fornecimento de gás
À colocação de um hotel em mercado

Figuras afins
Normalmente estabelece-se uma linha entre o mandato e a agência com a mediação
A mediação pressupõe a atuação material por parte do obrigado. É um contrato aleatório, só dando
azo à retribuição quando seja realizado com sucesso.
Em relação ao mandato:
O mandato pressupõe uma atuação jurídica por conta do mandante – a mediação
implica a conduta material
O mandatário age por conta do mandante – o mediador atua por conta própria

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O mandato pode ser acompanhado por poderes de representação – a mediação,


se for acompanhada por esses poderes, é uma mediação imprópria
Menezes Cordeiro: sendo, no entanto, uma prestação de serviços – art.1156ºCC

É um contrato inorgânico, não dá azo a nenhuma especial organização, nem pressupõe uma
relação duradoura
Em relação à agência
A agencia pressupõe um quadro de colaboração ou de organização duradouro,
entre o principal e o agente – a mediação assenta num negócio pontual, apenas
eventualmente duradouro
O agente deve agir de modo empenhado, por conta do principal – o mediador
pela pureza do instituto, mantem-se equidistante
A agencia é compatível com poderes de representação – a mediação não
A agencia tem esquemas típicos de retribuição, nomeadamente o agente só é
remunerado quando o contrato definitivo for cumprido – não ocorre na mediação
Podem, no entanto, as duas combinarem
Em relação ao contrato de trabalho:
❖ O trabalhador está dependente do empregador - o mediador é um profissional
independente, não está à direção do comitente.
o No caso do mediador se subordinar ao comitente a nível económico, tem
de privilegiar sempre a vontade das partes contratantes

Natureza e Regime da mediação


Requisitos para haver mediação:
֎ O mediador tem de ter recebido incumbência, expressa ou tácita
֎ É necessário que se tenha chegado a um contrato nesse sentido, sob pena de
existir meras negociações
֎ Pode existir mediação mesmo quando não se alcance o negócio definitivo em
vista
֎ Forma: a mediação enquanto contrato atípico não se sujeita a qualquer forma
especifica
o Mediação imobiliária – forma escrita
▪ A não observância da forma, não pode ser invocada pela
mediadora
▪ A invocação pelo interessado para não pagar comissão é abuso
de direito
▪ Só pode ser invocada pelo cliente do mediador

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▪ Mesmo sendo nula, se tenham obtido com êxito a mediação, terá


que haver sempre o pagamento da remuneração, pois não é
possível restituir os serviços prestados
No caso de um mediador ter contrato com terceiro interessado, não há mediação entre ela e o
vendedor.
Em relação às partes
A exigência de licenciamento ou equivalência, mormente no campo imobiliário, só se
aplica a profissionais (não pode ser mediador espontâneo ou ocasional)
Na hipótese de surgir um “profissional” não autorizado: poderá haver sanções contra este,
mas o contrato de mediação em si é nulo

Clausula típica de boa-fé


Há poucas regras diretamente aplicáveis ao contrato de mediação
A jurisprudência tem então aplicado sucessivamente:
1- Estipulações das partes
2- Normas de aplicação analógica
3- Princípios gerais das obrigações
4- Decisão judicial integradora
Na falta de regras terá que ser aplicado o regime do mandato – art.1156º
A mediação pode ser acompanhada a titulo de clausula típica pela exclusividade – não
poderá o comitente a contratar com mais nenhum mediador.
Pode ser reforçada nos casos em que o comitente se obriga a não
encontrar terceiro interessado
Nada se presume, tem de ser clausulado e em caso de dúvida provado por quem tenha interesse
em fazê-lo.
Presumir-se-á, aquando a existência de clausula de exclusividade, que a atuação do
mediador é para aproximar as partes facilitando o negócio – inversão do ónus da prova – a
presunção pode ser ilidida
No caso de ser celebrado o negócio com clausulas contratuais gerais, deverá o comitente ser
esclarecido sobre a clausula de exclusividade, caso contrário poderá ser dada como não escrita
Deve ter um prazo razoável – caso contrário é denunciável
Deverão então os interessados prever todo o que lhes interesse no contrato.
Dever-se-á observar o principio da boa-fé com todos os deveres acessórios que o acompanham.
֎ Prestar informação pertinente às partes
֎ As partes devem ser leais
֎ A mediação não pode constituir pretexto para desencadear ou potenciar situações
de concorrência
֎ Proteção do terceiro solicitado:

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o O próprio contrato de mediação só se considera cumprido se o contrato


definitivo for regularmente obtido – ou seja, o mediador não pode usar
de dolo
o A lei obriga a esclarecer devidamente os terceiros solicitados, em várias
situações legalmente previstas – caso contrário há responsabilidade civil
– art.485º
o A boa-fé contratual protege, também o próprio terceiro

Retribuição
A mediação é onerosa, devendo as partes prever:
➢ Qual a retribuição devida
➢ Em que circunstancias ela deve ser paga
➢ Em que momento terá lugar a sua satisfação

Muitas vezes a retribuição é uma mera comissão relativa ao negócio celebrado


No caso de falta de convenção das partes, a ponderação jurisprudencial tem ido de encontro com:
A retribuição só é devida com a conclusão do contrato definitivo – não obstando os
esforços nesses sentidos, podendo acontecer que o mediador tenha que ser indemnizado
A atividade do mediador deve ser causa adequada ao fecho do contrato definitivo
A remuneração é devida mesmo que o contrato definitivo não venha a ser cumprido
Na hipótese de só não se ter concluído o negócio definitivo por causa imputável ao
comitente é dada a remuneração ao mediador
A subsequente declaração de nulidade por causa não imputável à mediadora não afeta o
direito à retribuição
Havendo um concurso de causas que conduzam à celebração do negócio pretendido, a
comissão será devida desde que a atuação do mediador também tenha contribuído para o
êxito final
Quando isto suceda, pode o contrato haver-se como apenas parcialmente cumprido,
reduzindo-se a remuneração
O negócio definitivo poderá, na mediação imobiliária, ser um simples contrato promessa
ou antes a escritura final (depende da interpretação do contrato)
Outros aspetos da remuneração
O contrato de mediação pode reportar-se a um negócio definitivo que recaia
sobre coisa futura
O próprio solicitante não cumpre o contrato de mediação se bloquear o contrato
definitivo
Cabe ao mediador fazer a prova de que a conclusão do negócio definitivo
resultou da sua intervenção
Não cumpre o contrato o mediador que, embora tendo desenvolvido uma atuação
útil inicial, venha depois empatar a celebração do contrato definitivo

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A alteração subjetiva de uma das partes no negócio não exclui só por si a


comissão

Cessação
Cessa pelas razões que nele as partes tenham querido inserir. Quando nada digam:
Quando pactuado para um concreto negócio, ele cessa caso esse negócio se
obtenha ou, ainda, na hipótese de ele se tornar definitivo
Independentemente disso, o contrato termina pelo incumprimento definitivo por
qualquer uma das partes
É intuitu personae cessa normalmente pela morte
E no caso de ser uma mediação duradoura?
Menezes Cordeiro:
a. Por via do art.1156ºCC haverá que correr às regras do mandato: o solicitante
poderá revogar o contrato, mas uma vez que ele também foi celebrado no
interesse do mediador terá que haver justa causa para a revogação – leva ao
incumprimento se for indevida
i. qualquer circunstancia ou facto que torne inexigível ao mandante, a
luz da boa-fé, a continuação do contato bem como qualquer facto que
torne inutilizável ou inalcançável o fim que o mandato pressupõe
b. Por aplicação analógica do art.28º D.L. nº178/86, de 3 de julho, relativo à
agencia e ainda a concretização da boa-fé: por denúncia com antecedência aí
indicada

Os contratos de distribuição
Agência
Tem antecedentes em vários métodos de comércio à distância da antiguidade, através de
auxiliares.
O Código Ferreira Borges: versava sobre a figura do feitor – que correspondia em termos muitos
gerais ao gerente de comércio, estando este munido de poderes de representação.
Para além de ser um contrato de distribuição funciona como exemplar de contratos de
distribuição, no sentido que muitos dos princípios que se aplicam à agencia, vão servir para outros
tipos contratuais de distribuição
Características: é um contrato oneroso, de prestação de serviços

Regime legal
D.L. nº178/86, de 3 de julho
É então um contrato de agência:
• Dever de promover, por conta de outrem a celebração de contratos
• Modo autónomo e estável – permite distinguir do contrato de trabalho
• Mediante retribuição

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É uma prestação de serviços mais particularmente uma modalidade de mandato. O agente deverá
acatar as instruções do principal – instruções concretizadoras e não inovadoras
É requerido ao agente investimentos pessoais e por vezes materiais
Não parece estar sujeito a nenhuma forma – art.1º/1 – cada parte pode exigir da outra um
documento escrito, assinado com o conteúdo do contrato (protege-se assim o agente na medida
em que não poderá ser confrontado com a nulidade da forma)
Deverão assumir forma escrita:
A clausula que confira poderes de representação ao agente – art.2º/1
A que lhe permita cobrar créditos – art.3º/1
A que estabeleça a proibição de concorrência pós-eficaz – art.9º
Convenção del credere – art.10º
A cessação por mútuo acordo – art.25º
A declaração de resolução – art.31º
Poderá ser celebrada com ou sem representação – se houver representação, há a presunção que o
agente tem poderes para cobrar créditos – art.3º/2
Cobranças não autorizadas – art.770º e art.3º/2 (representação aparente)
Na agência sem representação:
Ou o agente contrata em nome próprio devendo, depois, retransmitir para o
principal a posição adquirida
Ou o contrato é celebrado pelo cuidado do agente diretamente entre o principal e
o terceiro
Caso nada seja deito no contrato, poderá o agente escolher qualquer uma das opções.
A agência poderá ser celebrada tendo em vista um circulo territorial predeterminado ou
uma delimitação pessoal (para juristas por exemplo)
Poderá estar associada a uma cláusula de não concorrência – art.4º DL
O agente poderá recorrer a auxiliares e a substitutos – art.5ºDL e art.1165ºCC

Posição das partes


1- Obrigações do agente – art.7º
a. Respeitar as instruções do principal que não ponham em causa a sua autonomia
b. Prestar informações pedidas e as necessárias
c. Prestar contas
2- Deveres do agente:
a. Dever de segredo que pode meso ser pós-eficaz
b. Dever de não-concorrência pós-eficaz
c. Dever de garantir o cumprimento das obrigações do terceiro desde que respeitante
ao contrato celebrado (se escrito na convenção del credere)
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d. Dever de avisar de imediato o principal de qualquer impossibilidade sua de


cumprir o contrato
3- Direitos do agente:
a. Direito de receber do principal os elementos necessários ao exercício da sua
atividade – art.1167º/a)CC
b. Direito de receber sem demora a informação da aceitação ou da recusa do contrato
concluído sem poderes
c. O direito de receber periodicamente a relação dos contratos celebrados e das
comissões devidas
d. Direito a uma comissão – art.16º, 13º/f e 18º
i. Adquire o direito à comissão quando ocorra uma das duas
circunstâncias: o principal cumpra ou deva ser cumprido o contrato
ou o terceiro o faça
ii. Tendo o principal executado a sua obrigação tendo o terceiro
cumprido o contrato ou devesse fazê-lo, mesmo nos casos de haver
clausula em contrário
iii. Constituído direito respetivo
iv. Havendo convenção del credere
e. Prestações retributivas: comissão especial relativa à cobrança, pela convenção del
credere, compensação pela cláusula pós-eficaz de não concorrência – art.13º/f e g
f. Direito a ser avisado quando as atividades do principal diminuam – art.14º
Não terá direito ao reembolso pelas despesas, salvo estipulação em contrário

Proteção de terceiros
O terceiro que irá contratar normalmente vai se encontrar numa situação de maior vulnerabilidade,
visto não estar a contratar com o verdadeiro contratante. Mecanismos de proteção do terceiro:
֎ Deve o agente informar os interessados dos poderes que possui – art.21º
֎ Quando não tenha poderes, o agente ou contrata em nome próprio ou proporciona
uma contratação direta com o principal e o terceiro, se o principal não manifestar
no prazo de 5 dias o seu desacordo, fica vinculado – art.22º/1 e 2
֎ Representação aparente – art.23º/1
o O negócio é eficaz

Cessação
Art.24º a 36º
Pode ser:
➢ Acordo das partes – tem de ser por forma escrita – art.25º
➢ Caducidade – na falta de prazo o contrato tem-se celebrado por tempo
indeterminado – art.27º.

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➢ Denúncia – ato unilateral, fazer cessar o contrato de duração indeterminada. Deve


ser comunicada com determinada antecedência – art.28º/1 e 2
o São prazos supletivos e mínimos (não podem ser encurtados pelas partes)
o Deve ser contado o prazo desde de o inicio da agência
o A denuncia sem pré-aviso é eficaz, mas obriga o denunciante a
indemnizar a outra parte
➢ Resolução – tem de ser com justificação – art.30º
o Se a outra parte faltar ao cumprimento das suas obrigações de forma
culposa
o Se ocorrem circunstancias que tornem impossível ou prejudiquem
gravemente o fim contratual
o Deve ser comunicada por escrito num prazo de 1 mês – art.31º

Indemnização de clientela
Os clientes se manterão após a cessação do contrato de agência.
Deverá por isso, ser o agente indemnizado pela clientela que trouxe para o principal – art.33º -
podendo essa indemnização ser exigida pelos herdeiros.
Só não acontecerá se o contrato cessar por culpa do agente ou se este tiver sido cedido a
terceiro
Art.34º - calculo da indemnização de clientela

Concessão
O contrato de concessão apresenta um perfil característico – é atípico
Opera em áreas que exigem investimentos significativos e que o produtor dos bens ou serviços a
distribuir não queira ou não possa ele próprio efetuar.
Quais os parâmetros que norteiam a concessão?
Um comerciante insere-se na rede de distribuição de um produtor
Adquire o produto em jogo junto do produtor e obriga-se a vendê-lo em seu
próprio nome na área do contrato
Estabelece relações duradouras em que o concessionário opera em nome próprio. Pode operar
como promessa genérica de aquisição e de venda de produtos, com diversas prestações de facere
em anexo.
Muitas vezes implica uma distribuição a nível internacional

Figuras afins
Contrato de agência o agente age por conta de outrem, na concessão o
concessionário age em nome próprio

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Contrato de mandato o mandatário age em nome de outro e apenas juridicamente,


enquanto o concessionário age em nome próprio e pode ser a nível material
Contrato de trabalho o trabalhador é a outra pessoa
Contrato de comissão age em nome de outro e apenas juridicamente, enquanto o
concessionário age em nome próprio e pode ser a nível material
Contrato de sociedade há uma atividade comum, enquanto na concessão não
existe bem uma atividade comum, o concessionário age para si e por si
Contrato de consórcio há uma atividade comum de duas partes, na concessão não
é isso que acontece

Regime:
É uma figura assente na autonomia privada. Não está em principio sujeito a nenhuma
forma solene. O regime resulta basicamente da interpretação e da integração do texto subscrito
pelas partes.
No que as partes tenham deixado em aberto parece que se deve recorrer ao regime da
agência – doutrina e jurisprudência – principalmente a nível da clientela
Cláusulas contratuais gerais – regime jurídico geral

Especificidades:
A concessão postula uma relação de confiança – não se deverá aplicar o prazo
admonitório – art.808º/1 CC
O regime da exclusividade não é necessário, devendo para existir de ser acordado entre
as partes
Pode envolver a formação profissional do pessoal do concessionário

A concessão nos seus elementos uteis deve ser provada por quem dela se queira prevalecer.
Duração:
❖ Não havendo prazo, só pode ser denunciada com pré-aviso – caso contrário dá
azo a indemnização
❖ Havendo culpa do concedente na cessação da concessão pode este ser obrigado a
retomar os stocks antes vendidos ao concessionário
❖ A denuncia ilegal é eficaz, mas obriga a indemnizar
Indemnização de clientela:
A doutrina aponta um especial cuidado com o regime da agencia a ser aplicado por
analogia:
A indemnização de clientela é uma compensação prevista, desde que se
verifiquem mais pressupostos da lei
Havendo lei não se aplica o enriquecimento sem causa
Não tem a indemnização prevista na agencia aplicação automática, é preciso
ponderar a analogia
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Franquia (Franchising)
É atípico, dependente da autonomia privada
Uma pessoa franqueador, concede que outra o franqueado dentro de certa área, cumulativamente
ou não:
Utilização de marcas, nomes e insígnias comerciais
Utilização de patentes, técnicas empresariais ou processos de fabrico
Assistência, acompanhamento e determinados serviços
Mercadorias e outros bens para distribuição
Porquê que é um contrato com tanto êxito?
▪ Possibilidades abertas pela publicidade, no tocante à divulgação de marcas e de
estilos de via
▪ À mobilidade crescente dos consumidores, que facilita uma oferta uniforme de
bens
▪ Ao aumento dos seus rendimentos

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Modalidades
֎ Franquia de serviços – o franqueado oferece um serviço sob insígnia, o nome comercial
ou mesmo a marca do franqueador, conformando-se com as diretrizes deste ultimo – Avis
e Hertz
֎ Franquia de produção – pela qual o próprio franqueado fabrica, segundo as indicações do
franqueador, produtos que ele vende sob marca deste – Coca-Cola, Pepsi
֎ Franquia de distribuição – pela qual o franqueado se limita a vender, certos produtos num
armazém, que usa a insígnia do franqueador – Pronuptia

Posição das partes


1- Obrigações do franqueador
a. Faculta ao franqueado o uso da marca, insígnia ou designação comercial na
comercialização de serviços ou produtos por esse adquiridos ou fabricados
b. Auxiliar o franqueado no lançamento e na manutenção de certa atividade
empresarial, munindo-o de conhecimentos técnicos ou produtos necessários
c. Facultar ao fraqueado técnicas ou processos produtivos de que o franqueador
teria o exclusivo
d. Fornecer os bens ou serviços que o franqueado venha a distribuir
2- Direitos do franqueador:
a. Retribuição calculada como percentagem do produto das vendas ou
correspondente produto de certas aquisições do franqueado se obriga a fazer
b. Poderes de fiscalização quanto às especificações e qualidades do produto
c. Poderes de aprovação ou fiscalização no tocante a pontos de venda. Sua
configuração e demais circunstancialismos
d. Poderes no domínio da cessão da posição contratual e da renovação do
contrato
e. Direito de receber a contrapartida dos bens ou serviços que forneça
3- Direitos do franqueado
a. Uso de marcas, insígnias ou nomes comerciais do franqueador
b. A utilização de conhecimentos, técnicas empresariais ou modos de fabrico
pertença ao franqueador
c. Auxilio do franqueador no lançamento, manutenção e desenvolvimento da
sua atividade
d. Fornecimentos acordados
4- Obrigações do franqueado:
a. Pagamento de certas retribuições ou à aquisição junto do franqueador

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b. Ao lançamento e desenvolvimento da sua atividade dentro de certa


circunscrição
c. Manutenção das qualidades dos serviços ou dos produtos franqueados
d. Ao sigilo no tocante a conhecimentos recebidos do franqueador
e. À comparticipação em despesas de publicidade
f. Certas clausulas de não-concorrência

Cessação
Lugar a uma situação duradoura.
Resolução
o Unilateral e justificada
Denúncia
o Unilateral e discricionária
Aplica-se o modelo da agencia com as respetivas adaptações, não podendo a cessação ser
retroativa
Os contratos de franquia são fixados unilateralmente pelo franqueador que recorrem muitas vezes
a clausulas contratuais gerais
Apesar de estar economicamente subordinado, o franqueado é autónomo – não faz sentido
por isso recorrer a uma tutela laboral, recorre-se por isso à tutela do contrato de agencia
diretamente ou por analogia

Problemas de concorrência
Apenas perante contexto económico, contrato a contrato e clausula a clausula, será
possível perante a lei de concorrência formar juízo de licitude
São licitas as clausulas destinadas a evitar que o saber-fazer e a assistência concedidas ao
franqueado, venham a aproveitar a concorrentes
São licitas as clausulas que organizem o contrato e a fiscalização, de modo a preservar a
identidade e a reputação da marca
São restritivas da concorrências as clausulas que impliquem repartições de mercados ou
prefixações de preços

A franquia coloca problemas de interpretação contratual, esta deve constituir uma lógica
empresarial, em termos de funcionalidade de modo a apreender a lógica do grupo onde o
franqueado pretende se integrar
➢ Se houver coordenada societária interpretação do tipo objetivo
➢ Natureza mista permite apelo aos mais diversos contratos
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No período pré-contratual, deverá o franqueado ser informado de todos os aspetos do contrato,


caso contrário o franqueador incorre em culpa in contrahendo
Por base com a analogia com a agencia: aplica-se a indemnização de clientela – quando
o contrato seja ilicitamente interrompido pelo franqueador, deverá a indemnização ponderar todos
os danos ilícitos causados ao franqueado

Os contratos de cooperação empresarial


Consórcio
Já no Direito Romano apareciam referências ao consórcio como forma de organização entre várias
pessoas.
Carnelutti: encarava o consórcio como uma noção ampla de sociedade
Betti: o consórcio era um escopo, em que algumas sociedades podiam o prosseguir
DL. nº231/81, de 28 de julho
Qualquer que seja o objetivo do consórcio é comum ou tem nível comum de integração.
FORMA: O contrato de consórcio deve ter forma escrita – art.3º - sendo que quando
estiverem em causa imóveis, deverá ser celebrado por escritura pública.
As partes têm larga liberdade de estipulação – art.4º + art.405ºCC

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Não está sujeito a registo – pelo art.3ºCRCom


As alteações do contrato que devem adotar a forma inicial, devem ser aceites por todos
os contraentes.

Tipos de consórcio:
Interno – as atividades ou os bens são fornecidos a um dos membros do consorcio e só
este estabelece relações com terceiros ou então tais atividades ou bens são fornecidos
diretamente a terceiros por cada um dos membros do consórcio – os terceiros
desconhecem o consórcio
Externo – as atividades ou bens são fornecidos a terceiros por cada um dos consorciados,
com inovação expressa dessa qualidade – reforço do elemento organizativo – os terceiros
conhecem do consórcio.
o Não implica que o consórcio passe a ter personalidade jurídica
Organização: art.7º, 12º, 13º, 14º, 20º

Deveres dos consorciados – art.8º:


Proibição da concorrência
Prestação de informações
As regras relativas à repartição dos valores recebidos pelas atividades dos consórcios internos –
art.18º
São todos os preceitos supletivos.
Denominação do consórcio externo: art.15º/1 podem os membros juntar as firmas, tendo que
adicionar depois “consórcio de…”.
De qualquer das formas, a responsabilidade recai sobre aquele que assinou o contrato
Menezes Cordeiro: admitir uma denominação que transcenda a soma das denominações das partes
equivale a publicitar uma identidade independente tanto que isso tende a permanecer, por isso o
principio da verdade das firmas deve prevalecer, não podendo isso ocorrer.

Problema da repartição dos ganhos e perdas


As partes concentram-se para desenvolver determinada atividade económica.
O consórcio não tem personalidade jurídica, assim sendo, a contratação com terceiros é
feita em nome de algum ou alguns dos consorciados
Consórcios internos – art.18º
Consórcios externos – art.25º
Será que um consorciado que não contratou diretamente com o terceiro pode ser chamado para
receber os lucros ou suportar prejuízos?
Todos os direitos no consórcio são plenamente disponíveis (estamos no domínio
patrimonial privado).

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Nada proíbe que se estabeleça regime de solidariedade passiva ou ativa. Mas também não
a prescreve, ou seja, continua a estar no âmbito da vontade das partes. Também permitindo a
limitação da responsabilização.
A nível das relações internas, é normal que as partes possam se ajudar mutuamente,
nomeadamente através da repartição de lucros e de prejuízos num negócio em que ambos tenham
entrado
NOTA: isso nada tem que ver com o estabelecimento de uma
pessoa coletiva, é uma situação que se verifica normalmente em casos de
compropriedade.

Não existe personalidade jurídica do consórcio, pois é necessário o reconhecimento jurídico da


mesma, que só surge através de uma determinada organização formal.
A proibição dos fundos comuns – art.20º - não tem que ver com a repartição de lucros ou
prejuízos, apenas pretende facilitar a definição das relações entre as partes, através do regime do
mandato – art.167º/a)CC

Termo do consórcio
O consórcio dá lugar a uma situação jurídica duradoura, tendo por isso que ser fixados esquemas
de cessação sem o que ela tenderia a se eternizar no tempo.
Aplica-se a regra de que, a não ser que a lei o proponha, os contratos não se mantêm para
sempre.
Podem se extinguir por:
Exoneração dos seus membros – art.9º - a uma posição potestativa que o
consorciado tenha de pôr cobro aos seus compromissos, tem de ser justificada:
o Uma impossibilidade superveniente de realizar as suas obrigações a qual
terá de ser liberatória, nos termos gerais (absoluta, objetiva e definitiva)
o Um comportamento de um consorciado que traduza um incumprimento
perante o outro bem como uma impossibilidade em relação, também, a
outro membro, sem que seja possível utilizar o esquema de resolução
Resolução do contrato – art.10º - posição potestativa que o consorciado tenha de
excluir os outros do consórcio, tendo que existir justa causa:
o Subjetiva
o Objetiva
o Exige-se declarações escritas dos outros membros. A jurisprudência
admite que só é necessária declaração oral quando forem só duas.
Extinção do consórcio – art.11º
o Revogação – art.11º/1/a)
o Caducidade – art.11º/1/b), c) e d)
o Impossibilidade – art.11º/1/b)
Natureza: não é obrigatoriamente comercial – art.19º

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Não se presume o regime da solidariedade ativa nem passiva dos membros do consórcio
com terceiros. – ao contrário do regime regra

Associação em participação
Temos uma organização muito elementar que liga uma pessoa a um comerciante: confere-lhe
determinados apoios para o desenvolvimento do seu comércio e em troca recebe parte dos lucros
que ele venha a obter. Toda a atuação é desenvolvida em nome do comerciante.

Nos sistemas apresentados na Alemanha e da França, a associação em participação pode ser


diferenciada dos sistemas chamados comutativos, em que os comutativos a associação é tomada
como um simples contrato entre umas pessoas, pelo qual uma, mediante determinada prestação,
recebe participação em determinados lucros.
DL. 231º/81 – art.32º
Raul Ventura: para haver sociedade neste caso seria necessário o exercício em comum de certa
atividade económica que não fosse de mera fruição. Mas não tem mera natureza comutativa, pois
tem um fim comum.

Regime:
Art.21º - o comerciante é associante e a outra pessoa é o associado
A participação nos lucros é essencial para ser uma associação, mas a participação nas perdas pode
ser dispensada.
No caso, de as partes nada preverem a solução é a da comunhão de lucros e de perdas.
A participação nas perdas, deve ser provada por escrito. devendo ainda resultar de convenção
expressa – art.25º/2
Se existirem vários associados, não se presume a sua solidariedade – art.22º
O contrato é consensual – art.23º/1
O associado obriga-se a uma contribuição de índole patrimonial – art.24º - que pode ser
dispensada do contrato se ele participar das perdas.
A mora prejudica o exercício da sua posição jurídica, mas não impede que a obrigação
seja exigida – art.24º/5
Art.25º/2 e 25º/3
A contribuição das perdas é limitada à contribuição do associado 25º/5

Deveres do associante:
1- Proceder com diligência de um gestor criterioso e ordenado – art.26º/1/a)
2- Conservar as bases essenciais da associação – art.26º/1/b)
3- Não concorrer com a empresa – art.26º/1/c)
4- Prestar todas as informações ao associado – art.26º/1/d)
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5- Colher, quando o contrato o preveja, o prévio acordo do associado – art.26º/2


6- Prestar contas – art.31º
Só o associante atua em termos comerciais, o associado não tem qualquer atividade.
A morte não basta para fazer cessar a associação
Art.27º - causas de cessação
Poderá haver resolução do contrato antecipadamente, por justa causa, civil. – pode concretizar-se
por factos objetivos que tenham a ver com a pura realidade dos negócios, ou subjetivos, ligados
à atuação da parte considerada – art.30º/2
Se for de duração indeterminada, poderá o contrato cessar a todo o tempo, passados 10
anos – art.30º/3

ACE
Agrupamento complementar de empresas – Lei 4/73, de 4 de julho e DL 430/73
Realidade de cooperação entre pessoas. Mas ao contrário do consorcio tem personalidade jurídica,
adquire com a sua inscrição do ato constitutivo no registo
Tem firma de acordo com a base 3, nº2 – tem de ter ACE no fim.
A capacidade jurídica, apesar de ter personalidade, é limitada – art.5º do DL
Pode ou não ter capital, de acordo com o que esta no ato constitutivo
É uma estrutura de cooperação que visa potencializar a realização de lucros na
generalidade dos seus membros, mas não no seu património. Não tem como fim principal
a arrecadação de lucros e distribuição, mas sim o que já foi dito – base 3/1
Pode ter uma administram externa e sistema de fiscalização – base 3/3 e art.6
As deliberações são feitas em assembleia geral sendo o voto por cabeça – art.7º
Nas relações externas o ACE é obrigado por qualquer um dos administradores agindo
nessa qualidade – base 3./4
Podem ser admitidos novos membro s- art10º
como podem ser exonerados os membros – art.12º
como podem acontecer exclusão – art.13º
o Sendo que a parte do agrupado que for exonerado ou excluído – art.1021º CC e
art.14º DL
Art.16º - casos de dissolução do ACE
ART.20º - aplicáveis subsidariamente ao ACE as regras das sociedades em nome coletivo

AEIE
Agrupamento europeu de interesse económico – Regulamento 2137/85 do Conselho de 25/07

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Semelhante ao ACE, mas são constituídos por pelo menos duas sociedades ou entidades
semelhantes em sedes em estados membros diferentes ou duas pessoas singulares com domicilio
em estados membros da EU
Tem por finalidade facilitar a atividade económica dos membros, e melhorar. Não tem
por objetivo realizar lucros próprios – art.3º
Deve ser usada firma de todos os membros agrupados com o AEIE – art.5º/a
Tem estrutura contratual de cooperação e não de direção ou controlo – art.3º
Órgãos: membros agindo colegialmente ou seus gerentes – art.16º/!
Cada membro tem um voto, mas o contrato pode atribuir vários votos dew que não haja
um com maioria
Obriga-se perante 3º através dos seus gerentes – art.20º
o A cessão de posição contratual de cada membro – art.23º
o Os lucros que se apurarem na atividade do agrupamento são considerados lucros
dos seus membros – art.21º e 40º

Exploração de loja em centro comercial


Os contratos de organização podem implicar situações complexas, que envolvem teias de serviços
e o desfrute de bens diversos. Tem de haver uma gestão própria do tipo de lojas que lá estão
Os centros comerciais aparecem como uma boa técnica para comercializar todo o tipo de bens e
de serviços através da alocação de um espaço considerável.
Os lojistas albergam os mais diversos espaços para exercer diferentes formas de
comércio: lojas ancoras (supermercados) e outras lojas nas imediações.

Inaptidão de arrendamento
O lojista recebe o gozo da loja e beneficia de todo o universo disponibilizado pelo promotor –
pois a sua loja nesse universo tem mais chances de ter clientes. Em troca o lojista paga duas
parcelas mensais:
1- Uma quantia fixa
2- Percentagem sobre a faturação bruta que realize
O lojista que não tiver sorte, sai e aparece outro que poderá ter melhor sorte. Para além disso é do
interesse da entidade promotora saber quem são os seus lojistas – evitar situações de crime
organizado.

Não estaremos no âmbito do arrendamento comercial, pois esse teria um regime demasiado
violento para o promotor (a cessação do contrato é complicado nesse caso e o arrendatário poderia
ceder o seu lugar a outro sem necessitar da autorização do promotor)
Sendo que o centro comercial é dotado de uma lógica de escala e gerido como uma grande
empresa – não poderia ficar vinculado a este tipo de situações:
Não se aplica por isso o contrato de locução
A entidade gestora do centro:

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• Agia uma quantia fixa (semelhante à renda) e uma percentagem das receitas
• Assume a obrigação que o lojista vai ter a clientela do centro e que não será
separada

Tipo autónomo:
São então contratos atípicos, e não contratos de arrendamento, recolhendo vários
elementos de vários outros tipos contratuais

Natureza e regime:
É algo completamente atípico, pelo que o recurso à analogia do regime da locação só ocorre na
medida do necessário.
Menezes Cordeiro: o centro comercial é uma teia de serviços organizados. Deveria o contrato de
lojista ser reconduzido à Lei das Clausulas contratuais gerais, tendo como vantagem sublinhar as
obrigações do promotor.
Mas como houve uma solução radical, os lojistas acabaram por ficar sem proteção, nessa
medida, mas permite proteção em relação à facilidade de alcançar mais facilmente clientes, e
tendo horas previstas de fecho e abertura
Os elementos publicitados em brochuras podem ser vinculativos para a entidade
promotora
O lojista pode resolver o contrato, em caso de insucesso do centro comercial
A gestora do centro comercial deve preservar a manutenção do conjunto, concorrendo
para a rentabilização da clientela
Ao contrato de lojista são aplicáveis:
o as respetivas cláusulas
o Regime geral dos contratos
o Regras de arredamento e da prestação de serviços a titulo subsidiário
o Ocorrendo o trespasse de uma loja, a entidade gestora mantém-se vinculada
perante o novo lojista

Contratos de prestação de serviços


Depósito
Depósito mercantil art.403º e ss. A regra que consta do artigo 403º - tem de ser de géneros ou de
mercadorias derivados de ato de comércio.
Neste âmbito o que se prevê quanto ao deposito civil coloca-se em consideração a regra
da remuneração – art.1186º CC – presume-se gratuito. Se o caracter é em principio oneroso –
art.404ºCCom:
• Se a gratificação não tiver sido acorada terá que se recorrer aos usos

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Papeis de crédito que vencem juros: tem o depositário de recorrer à cobrança. O deposito
mercantil de títulos, tem de praticar todas as diligencias, tem de administrar a coisa – ao contrário
do civil
Uso da coisa depositada – art.406ºCCom, deixa de ser de depósito e passa a ser de empréstimo
Regime civil – 1189ºCC

Transporte
É um contrato autónomo, oneroso, de prestação de serviços. Não sujeito a forma especial
O CCom apenas refere quando é que se deve encarar um transporte como mercantil – art.366º.
Mas este tipo de contrato aparece referido noutras disposições:
Art.46º/3CC
Art.755º/1
Art.755º/2
Art.797º
Art.2214º e 2219º
É o contrato pelo qual uma pessoa (transportador) se obriga perante outra (interessado) a
providenciar a deslocação de pessoas ou de bens de um local para o outro. O transportador conclui
a execução do seu contrato com a entrega do bem ao destinatário – relação triangular
Temos então:
o Transporte de mercadorias ou transporte de pessoas
o Transporte aéreo, terrestre e marítimo
o Nacional ou internacional
Às vezes implica uma articulação de esforços, analisando-os em vários contratos. Acontece às
vezes que o transportador entrega a coisa a outro transportador (subtransportador) passando a ser
nesses casos o expedidor.
Assim sendo, o contrato de transporte será o total, incluindo também os subcontratos.
O transportador tem direito a receber o frete
Apesar de se um contrato de prestação de serviços, o que interessa ao interessado é o resultado –
colocação do bem ou pessoa no local da destinação.
É por isso que vai assumir todos os subcontratos que levarão a ser
possível o resultado desejado.
O CCom vai tratar basicamente de:
Escrituração do transportador – art.368º
Guia de transporte – art.369º a 375º
Execução do transporte – art. 378º a 382º
Responsabilidade do transportador – art.376º, 377º, 383º a 386º

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A entrega e as garantias do transportador – art.387º a 392º

O transportador pode:
Rodear dos mais diversos auxiliares com os quais celebre contratos destinados a
assegurar as distintas operações materiais por que se pode repartir um concreto
transporte
As partes no exercício da sua autonomia privada podem concluir contratos
aparentados ao transporte, mas dele distintos

Guia de transporte:
Cada uma das partes tem direito de exigir à outra uma formalização através da guia de
transporte.
É um documento emitido pelo transportador e entregue ao expedidor e do qual consta o essencial
do contrato.
A guia é facultativa – o expedidor poderá exigir a sua entrega quando o transportador
exigir a dupla da guia
Se existir é um elemento do contrato.
A guia pode ser à ordem (indicando o proprietário dos bens transportados) ou ao portador.
A guia serve de meio de prova do contrato, de meio de prova de receção das mercadorias
e de esquema jurídico de circulação dos bens
É possível apontar as características:
Abstração
Literalidade
Legitimação
Menezes Cordeiro: afirma que se trata de um título de crédito

Execução do transporte
Pressupõe entidades profissionais a este destinado.
DL nº370/93 – art.4º/1 – não poderão essas entidades recusar a contratação do serviço para que
sejam solicitadas de forma arbitrária. – regra de não discriminação – art.378º
Tem deveres:
De informação – resultantes da boa-fé – art.762ºCC e 379ºCCom
O expedidor poderá em certos limites alterar unilateralmente o contrato, dando contraordens –
art.380º: não deverá levar ao alongamento do caminho, havendo nesse caso alterações de frete.

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Quando chegue ao destino, o portador da guia cessa a possibilidade de alteração – art.380º


O transportador poderá escolher o caminho que melhor lhe convir, exceto se houver convenção
em sentido contrário- art.381º

Responsabilidade do transportador
Se o transportador aceitar sem reserva os bens a transportador, presume-se que estes não têm vicio
aparentes – nesse caso, como não houve reserva de guia, presume-se que houve má execução pelo
transportador
Implica responsabilidade civil contratual – art.798ºCC
Responde o transportador pelos seus empregados e auxiliares – art.800º e 377ºCCom
Art.383º e 376º -desde de o momento em que receba até ao momento em que entrega se ocorrer
alguma coisa às coisas, é da responsabilidade do transportador. Salvo quando provir de caso
fortuito – opera a presunção de culpa contra este – art.799ºCC
O destinatário poderá saber em que estado está a sua coisa através de expensas suas.
O transportador responde perante o expedidor quando resultar de omissão sua a titulo
fiscal.
Opera esta presunção de culpa a vários níveis do direito internacional – caso dos transportes
ferroviários.
Poderá ainda o transportador provocar danos extra contratuais – responsabilidade aquiliana –
art.498º - prazo curto de prescrição.
Há deveres de segurança derivados da boa-fé e do facto do transportado ter entregue nas
mãos do transportador um bem seu – art.762º/2 CC – nesses casos em que há violação desses
deveres, estamos perante a responsabilidade contratual – art.798º e ss CC
A baldeação e a descarga são ainda riscos do transportador

Entrega e as garantias do transportador


Deve entregar prontamente os objetos transportados ao destinatário, sem mais indagações – art.
387º
Se este não os quiser receber, poderá o transportador consignar em depósito à disposição
do expedidor – art.388º - sendo o destinatário quem constar da guia.
O transportador não é obrigado a fazer entrega quando o destinatário não cumprir as suas
obrigações também. – art.390º
Pode haver retenção ou depósito pela restituição da guia – art.390º
Transporte civil: a retenção da transportadora vai mais longe operando por qualquer crédito
resultante do transporte, inclusive pelo frete – art.755º/1/a)CC
O transportador tem um privilégio mobiliário especial sobre os objetos transportados pelos
créditos resultantes do contrato de transporte
O expedidor tem privilégio pelo valor dos objetos transportados sobre os instrumentos
principais e acessórios que o transportador entregue ao destinatário – art.392º

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Figuras Afins
Transitário
Contrato de expedição ou de trânsito celebrado pelo interessado ou expedidor com um transitário.
DL nº255º/99, de 7 de julho
É uma figura mista, que envolve elementos de organização, de mediação, de agência e de
prestação de serviços
Menezes Cordeiro: é um mandato pelo qual o transitário se obriga a celebrar um ou mais contratos
de transporte por conta do transportador
A utilidade da figura,
Está no interessado em determinado transporte poderá desconhecer os operadores, pelo
que, ao haver a celebração de vários contratos de transporte, o especialista (o transitário) conclua
esses contratos em nome do interessado (mandato)
Todo o sector de transporte acaba por ficar na mão dos transitários, pelo que o Estado
intervém para prevenir que essas atividades não sejam exercidas por empresas especializadas –
alvarás
Pode, no entanto, o contrato especial de expedição ser concluído com ou sem representação

Contrato de reboque, de tração e de fretamento


DL. nº431º/86, de 30 de dezembro – uma das partes se obriga em relação à outra a força motriz
para rebocar.
Pode ter diversas modalidades, mas tem natureza unitária devendo ser entendido como
uma especial prestação de serviços, transcendendo o transporte.
O contrato de tração é um reboque terrestre
O contrato de fretamento – um aluguer de um navio para reboque de barcos.

Seguro
O contrato de seguro uma pessoa transfere para a outra o risco da verificação de um dano, na
esfera própria ou alheia, mediante o pagamento de determinada remuneração, evento aleatório
previsto no contrato
A pessoa que transfere o risco – é o tomador de seguro ou subscritor
A pessoa que recebe o risco – é a entidade seguradora
O dano eventual - é sinistro
A pessoa que fica protegida pelo seguro – é o segurado
A remuneração da seguradora por parte do tomador de seguro – é o prémio
O segurador faz um cálculo, sendo que os seguros cobrem probabilidades de ocorrer os sinistros,
pelo que é assim que se calcula o prémio.

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Se fosse uma pessoa singular ou coletiva com pequenas dimensões, estaríamos perante
uma aposta, mas como é a nível industrial, estamos perante um seguro.
Para conseguir cobrir eventuais sinistros, os seguradores tornam-se detentores de enormes
riquezas.
Os seguros são ativos patrimoniais, encarados por lei como produtos financeiros.

Contratos de crédito
Contrato de mutuo comercial - art.394ºCCom
Tem pouca especialidade em relação ao civil.
O empréstimo mercantil é sempre retribuído, são presuntivamente onerosos. Mas têm taxas
especiais de juros.
O mutuo comercial não tem forma especial – art.397ºCC – estabelece a liberdade de
forma, para facilitar as negociações e por questões de taxas.
Os suprimentos – quando o socio faz empréstimos à sociedade.
É o contrato de credito mais simples.

Locação financeira
Na propriedade permanece numa empresa de leasing e só passa ao utilizador.
A pessoa estabelece um contrato pelo qual uma pessoa precisa de adquirir um
equipamento, e essa pessoa paga a renda que é de valor a cima da renda habitual, porque vai
pagando o valor de aquisição do equipamento e faz com que o valor residual seja muito inferior
– funciona com operação de financiamento – atribui o risco ao consumidor
É uma operação complexa: uma empresa que adquire ao vendedor o bem e depois renda.
Conduz a um empréstimo de dinheiro, garantia não possessória deste direito
Forma escrita e sujeito a registo.
Lease back – o titular já era proprietário do bem, não precisa de adquirir o bem, mas transfere
para uma empresa de leasing e promete ir pagando para poder ir pagando-o. – puro financiamento,
o bem é dado como garantia

Acessão financeira/ Factoring


O esquema de cessão de créditos
Prof. Menezes Cordeiro: a ideia que se julga que isto teria tido origem nas nossas feitorias.
Factoring permitir a alienação de créditos de clientes. Não tem capacidade de pagar determinadas
coisas, mas tem espectativas de receber o pagamento de encomendas então cedem os créditos e
recebem antecipadamente o dinheiro.
As empresas mandam as faturas e diz que foi objeto de factoring, para o devedor saber a
quem deverá pagar.
É regulado DL 171/95

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Consiste na aquisição por um intermediário financeiro, resultante de produtos de vendas e


serviços do mercado interno e externo. É um financiamento a curto prazo. Anteciapaçao dos
fundos
Desempenha uma função de financiemnato de likquidez, outra é a prestação de serviços
(diminuição de custos adminsitrativos), há a gestão dos créditos. Normalmenete uma assunçao de
cobrança do crédito, risco dos devedores do crédito
Só existem no factoring próprio.
Existem modalidades especiais que não se verifica estas situações.
O factoring improprio – assume ou não os riscos de incumprimento por parte do devedor?
Não há esse risco, o que sucede de uma operação com recurso, se não for pago ele devolve
o crédito. Implica uma garantia de cumprimento
Factoring publico e o oculto – a ideia de esconder o factoring para não implicar problemas para o
outro, mas isso implicava um risco para o factoring que podia não ser apgo.
Factoring de vencimento – não é praticada em Portugal, a pessoa não antecipa o cumrpeimtno so
recebe qaudno é pago, so serve para a prestação de servios e a ssunçao do risco.
So transfere o valor
Factoring de serviços próprios – prestação de serviços de financimaneto e del credere.
Factoring de exportação – creditps de devedores estrangeiros.
For facting: negócios de exportação é comum isto, são crédios já existentes
Portugal: tem funções de financiamento e as outras são acessórias – art.8º – é contrato oneroso,
há uma comissão de factoring de, 10% para ir contra os riscos de cobrança
Contrato quadro – art.7º por escrito sendo que a transmissão dos créditos deve ser acompanhada
das facturas. Têm que ser de curto prazo – art.30º,…
Não refere a lei da assunçao de riscos do credito.
Pode ser global ou exclusiva se vier a ser convencioando que todos tem que ser cedidos e se for
proibida a contratação de factoring outra vez.
Não está regulada a extinção a doutrina tem usado analogicamente a prestação de serviços,
nomeadamente do contrato de agencia.
Que tipo de figura é?
É prioritária ou a ideia que tem dois contratos (contrato de factoring e contratos depois)
teoria intermedia (uma cessão global ou um contrato com resultados equivalentes – art.7º parece
que se refere a intermedia)

Contrato de conta corrente


Art.344º CCom
Mera documentação
A ideia é prever que as ações não podem ser automaticamente exigidas – em vez de pagar cada
uma das operações sé pagar o saldo total – art.346º
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A pessoa faz uma operação se tiver um contrato de conta corrente vai para um salvo e não é
automaticamente exigível.
A existência de contrato de conta corrente não exclui – art.348º - enquanto existir o contrato existe
o saldo. Acontece muito nos contratos de agencia, se mantem o saldo respetivo nesse âmbito e só
se reage quando há limites preocupantes
Art.349º e 350º
Insolvência – art.116º - verifica-se a compensação e a conta ´+e encerrada

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