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Há um pormenor da CRP ainda de 1933 que nos importa, que foi o aditamento do n.º 21 ao artigo
8.º da CRP onde se consagrava o chamado direito fundamental ao recurso contencioso de anulação
que, no fundo, permite ao particular que é notificado de um ato administrativo desfavorável a
apresentar em Tribunal uma ação para reivindicar esse ato. Era uma ação chamada recurso porque
aquilo a que se chamava o recurso contencioso de anulação era a apresentação de uma ação junto
de um Tribunal Administrativo para sindicar a validade de um determinado ato administrativo e,
portanto, não era um recurso, mas sim uma ação (pedido que se sujeita à apreciação do Juiz para
que ele aplique o Direito ao caso concreto), mas no antecedente falava-se em recorrer das decisões
administrativas para o Tribunal porque não se fazia uma distinção entre o procedimento (termina
com a notificação de determinada decisão particular, seja ela favorável ou desfavorável; com a
elaboração de uma norma ou regulamento; reclamação graciosa ou recurso hierárquico) e o
processo (se o particular continua insatisfeito pode apresentar em Tribunal uma ação para sindicar a
validade do ato) e, antes de 2002/2004 chamava-se recurso contencioso da relação daí ter sido
aditado o n.º 21 do artigo 8.º da CRP (tutela jurisdicional que existia na CRP antes de 1976 nas
relações entre os administrados e a Administração).
Com a entrada em vigor da CRP de 1976 as coisas foram mudando, as Leis que temos em vigor são
do século XXI (2002/2004) e, sendo a CRP de 1976, foi preciso esperar quarenta anos para termos
um contencioso administrativo verdadeiramente pleno e efetivo, pois nos primeiros anos da CRP de
1976 isso não foi assim.
Em 1976 o constituinte pretendeu consagrar o mesmo direito – direito o recurso de anulação – e o
artigo 269.º da CRP, na versão de 1976 (hoje é o artigo 268.º da CRP) veio consagrar o mesmo que o
artigo 8.º, n.º 21 da anterior da CRP não se falando de tutela cautelar, não se falava de nada além de
atos esquecendo que existe uma atuação administrativa além do ato administrativo, não se fazia
nenhuma referência ao contencioso que não fosse um mero contencioso cassatório, ou seja, de
mera anulação, assim a CRP não reconhecia ao Juiz a possibilidade de dirigir quaisquer injunções à
Administração, o Juiz só podia apagar os efeitos de um ato, não podendo devolver à Administração a
tarefa de elaborar um novo ato já com a matriz de legalidade que ignorou num primeiro momento.
Por outro lado, os Tribunais Administrativos não eram referidos como de existência obrigatória na
versão inicial da CRP de 1976, mas houve um passo importante nesta CRP que foi o facto de
reconhecer a independência de todos os Tribunais e, por isso, estendendo-se aos Administrativos.
No antigo regime, o executivo tinha os Juízes na mão porque os nomeava e os destituía, logo, o Juiz
não iria querer ditar Sentenças contrárias ao poder instituído porque se o fizesse tinha sérias
problemas de ser despedido.
O DL 256-A/77 ajuda a perceber o que temos hoje pois visava introduzir um processo executivo nos
Tribunais Administrativos que era uma ideia de injunção do Juiz relativamente à Administração, mas
este DL vinha consagrar que a partir do momento em que existia uma Sentença declarativa a
Administração tinha um prazo para cumprir e se não o cumprisse iríamos ao DL para a obrigar a
cumprir só que este DL o que dizia era que chegado a este momento o que Juiz ia fazer era explicar à
Administração o que é que tinha que fazer não passando, no fundo, de um momento pedagógico
pois não havia sanções compulsórias, logo, não havia forma de compelir a Administração a
efetivamente cumprir a Sentença e, por isso, embora tenha sido um passo gigante não veio resolver
a questão do incumprimento das Sentenças por parte da Administração. Neste DL também era
consagrado um dever de fundamentação dos atos administrativos (Direito de o particular ver a sua
decisão devidamente fundamentada) e, esse dever de fundamentação dos atos administrativos,
passou para o artigo 269.º da CRP revista em 1982.
Além deste dever de fundamentação, a CRP de 1982, introduziu uma novidade a par do direito ao
recurso contencioso de anulação que foi o direito a obter o reconhecimento de uma situação
jurídica por parte do Tribunal Administrativo, abrindo a porta a um pedido simples apreciação. Esta
alteração do artigo 269.º da CRP é importante para perceber a regulação desta ação na Lei de
processo dos Tribunais Administrativos que entra em vigor em 1985 havendo uma reforma do
contencioso administrativo em 1984/1985, o ETAF é de 1984 e a LPTA é de 1985 e aqui além de
estar o recurso contencioso de anulação passa a existir esta ação para reconhecimento de um direito
legalmente protegido com eixo na CRP, sendo um primeiro passo na ultrapassagem de um modelo
totalmente cassatório em que o Juiz se limitava a anular ou declarar nulos os atos. No entanto, ainda
não estamos numa ação condenatória porque o Juiz continua a apreciar ainda não condenando e
assim continuamos até à seguinte revisão constitucional.
Na LPTA de 1985, surgem ainda dois outros meios que hoje ainda ecoam na lei vigente: a intimação
para a prestação de informações e a passar certidões (uma informação não é um ato administrativo
e, por isso, não acrescenta nada aos poderes do Juiz porque não existe aqui uma relação de
imperatividade) e a intimação para comportamento que só pode ser dirigida contra particulares e
concessionários (excluindo-se a Administração em sentido orgânico).
O ETAF de 1984 passou a existir o Tribunal Administrativo de Coimbra, além do de Lisboa e Porto e, a
par destes Tribunais de círculo (Tribunais de comarca), existia o STA para gerir a litigância entre a
Administração e os particulares. Existiam poucos Tribunais de comarca porque o STA era um
Tribunal de 1.ª instância para os atos do Governo, ou seja, tudo o que eram atos de Ministros e
Secretários de Estado do Conselho de Ministros iam para o STA (decidia-se em secção e depois
recorria-se para o plenário). Quando o STA começou a perder competências de 1.ª instância, elas
tinham que ir para algum lado e foi aí que se começou a abrir para os Tribunais de comarca.
O ETAF de 1984 ainda trouxe a criação do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais.
Na segunda revisão constitucional, que ocorreu em 1989, surgiram vários passos importantes como
a garantia constitucional da existência da jurisdição administrativa (os Tribunais Administrativos
passaram a ser obrigatórios) – atual artigo 209.º, n.º 1, alínea b) da CRP – logo, hoje em dia, não se
pode acabar com a jurisdição administrativa sem existir uma revisão constitucional e aparece um
critério de atribuição de jurisdição a esta jurisdição que agora passa a ser obrigatório pois a partir do
momento em que o legislador torna obrigatória a jurisdição administrativa temos que saber o que
cabe à cível e o que cabe à administrativa – atual artigo 212.º, n.º 3 da CRP – estabelecendo o
critério da relação jurídica administrativa que, no caso de atos ou normas, é relativamente simples
de descodificar, mas quando desformalizamos termos que olhar para o contexto.
Em 1989 o artigo 268.º da CRP sofre uma evolução significativa entrando a importante noção de ato
lesivo que será a justificação para uma ação num Tribunal Administrativo e, até então, vigorava a
teoria da tripla definitividade tendo que estar as três porque senão não havia caso: vertical (relações
hierárquicas – recurso hierárquico necessário e só se verificava quando o superior respondesse),
horizontal (ato final do procedimental) e material (lesão na esfera jurídica) – ainda existem
resquícios desta ideia no artigo 51.º, n.º 2 e 3 do CPTA (o ato tem que ser o final do procedimento e
isto era a definitividade horizontal); no artigo 59.º do CPTA (definitividade vertical).
Em 1989 também surgiu o artigo 52.º, n.º 3, alínea a) da CRP que trata da ação popular que vem
permitir que pessoas, sem ganharem nada com isso, possam recorrer aos Tribunais para defender
interesses meta-individuais ou de grupo incluindo um elemento objetivista de controlo da legalidade
meta-individual, embora não seja um controlo de legalidade estrito.
A alteração legislativa que ocorreu em 1996, DL 229/96, criou o primeiro Tribunal Central
Administrativo, em Lisboa, que serviu, essencialmente, para desafogar o STA numa visão mais
especializada porque servia para responder, em 1.ª instância, tudo o que se prendia com o
funcionalismo público.
Na revisão constitucional de 1997, cujo quadro ainda se mantém, o artigo central é 268.º da CRP que
fala dos direitos e garantias dos administrados, sobretudo o n.º 4 e 5, não podendo nunca esquecer
o artigo 20.º da CRP que fala do direito de acesso à justiça e que, nesta revisão, viu nascer o seu n.º 5
que fala da intimação para proteção de direitos, liberdades e garantia (artigo 109.º a 111.º do CPTA).
Nesta revisão, com o n.º 4 do artigo 268.º da CRP temos a tutela jurisdicional efetiva (artigo 2.º do
CPTA e 20.º, n.º 4 da CRP) que se traduz no direito de obter, em prazo razoável, e mediante um
processo equitativo, uma decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, cada pretensão
regularmente deduzida em juízo (tutela declarativa), bem como a possibilidade de a fazer executar
(tutela executiva) e de obter as providências cautelares (tutela urgente), antecipatórias ou
conservatórias, destinadas a assegurar o efeito útil da decisão e este artigo ao dizer
“designadamente” no n.º 2 significa que podem existir mais situações.
Artigo 2.º
Tutela jurisdicional efetiva
1 - O princípio da tutela jurisdicional efetiva compreende o direito de obter, em prazo razoável, e
mediante um processo equitativo, uma decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, cada
pretensão regularmente deduzida em juízo, bem como a possibilidade de a fazer executar e de obter
as providências cautelares, antecipatórias ou conservatórias, destinadas a assegurar o efeito útil da
decisão.
2 - A todo o direito ou interesse legalmente protegido corresponde a tutela adequada junto dos
tribunais administrativos, designadamente para o efeito de obter:
a) A anulação ou a declaração de nulidade ou de inexistência de atos administrativos – artigo 37.º,
n.º 1, alínea a) do CPTA pedidos impugnatórios;
b) A condenação à prática de atos devidos, nos termos da lei ou de vínculo contratualmente
assumido – artigo 37.º, n.º 1, alínea b) do CPTA pedidos de condenação;
c) A condenação à não emissão de atos administrativos, nas condições admitidas neste Código;
d) A declaração de ilegalidade de normas emitidas ao abrigo de disposições de direito
administrativo;
e) A condenação à emissão de normas devidas ao abrigo de disposições de direito administrativo;
f) O reconhecimento de situações jurídicas subjetivas diretamente decorrentes de normas jurídico-
administrativas ou de atos jurídicos praticados ao abrigo de disposições de direito administrativo;
g) O reconhecimento de qualidades ou do preenchimento de condições;
h) A condenação à adoção ou abstenção de comportamentos, pela Administração Pública ou por
particulares;
i) A condenação da Administração à adoção das condutas necessárias ao restabelecimento de
direitos ou interesses violados, incluindo em situações de via de facto, desprovidas de título que as
legitime;
j) A condenação da Administração ao cumprimento de deveres de prestar que diretamente
decorram de normas jurídico-administrativas e não envolvam a emissão de um ato administrativo
impugnável, ou que tenham sido constituídos por atos jurídicos praticados ao abrigo de disposições
de direito administrativo, e que podem ter objeto o pagamento de uma quantia, a entrega de uma
coisa ou a prestação de um facto;
k) A condenação à reparação de danos causados por pessoas coletivas e pelos titulares dos seus
órgãos ou respetivos trabalhadores em funções públicas;
l) A apreciação de questões relativas à interpretação, validade ou execução de contratos;
m) A restituição do enriquecimento sem causa, incluindo a repetição do indevido;
n) A intimação da Administração a prestar informações, permitir a consulta de documentos ou
passar certidões;
o) A intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias;
p) A extensão dos efeitos de julgados;
q) A adoção das providências cautelares adequadas para assegurar o efeito útil das decisões a
proferir em processo declarativo.
Voltando ao artigo 268.º da CRP nos direitos ou interesses legalmente protegidos inclui-se o
reconhecimento desses direitos ou interesses, que vem da revisão constitucional de 1982 só que
agora já não é uma simples apreciação podendo ser uma condenação e, se forem atos
tendencialmente vinculados, a Sentença até se pode fazer substituir ao ato administrativo porque a
Administração tem pouca margem de conformação da relação jurídica porque já resulta da Lei, mas
a regra é a Administração ter liberdade de conformação e, nessa situação, aparece a
discricionariedade e aqui o Juiz vai apresentar balizas à Administração de reconfirmação do ato
sendo particularmente evidente no artigo 71.º do CPTA, logo, não pode determinar o conteúdo do
ato praticado (porque não administra), mas deve explicitar as vinculações a observar pela
Administração na emissão do ato devido. Esta ideia de tutela plena envolve ainda a adoção de
medidas cautelares adequadas (artigo 112.º do CPTA) e o n.º 5 do artigo 268.º da CRP refere a
reação a normas (contencioso pleno não existindo distinções entre autores nem formas de conduta).
A revisão de 1997, de onde resultou o n.º 4 e 5 do artigo 268.º da CRP, sempre acompanhado do
artigo 20.º da CRP serviu de matriz para a alteração legislativa administrativa de 2002/2004 que
trouxe bastantes modificações: alargou-se muito a jurisdição dos Tribunais Administrativos (sempre
tendo em mente o critério da relação jurídica administrativa) tendo em atenção o artigo 212.º, n.º 3
da CRP que não é uma reserva absoluta, mas sim uma reserva relativa porque há exceções (artigo
4.º do ETAF); introdução das alçadas com três patamares passando a existir a necessidade de atribuir
o valor às causas (artigo 6.º do ETAF); alteraram-se as competências do STA (artigo 11.º e seguintes
do ETAF) – o artigo 24.º do ETAF regula a secção de contencioso administrativo em que o STA ainda
decide causas em 1.ª instância (os TCAS surgem no artigo 31.º e seguintes do ETAF e os TAFS surgem
no artigo 39.º e seguintes do ETAF) – sendo hoje, essencialmente, um Tribunal de revista (artigo
150.º e 151.º do CPTA); o surgimento da ação administrativa (artigo 37.º do CPTA – é um artigo
exemplificativo dos pedidos não urgentes o artigo 36.º do CPTA diz-nos os processos urgentes);
livre cumulação de pedidos (o particular pode cumular variadíssimos pedidos no mesmo processo);
alargamento da legitimidade nos contratos administrativos (artigo 77.º-A do CPTA); possibilidade de
providências cautelares (artigo 112.º do CPTA); intimação para a defesa de Direitos fundamentais
(concretização do artigo 20.º, n.º 5 da CRP – artigo 109.º a 111.º do CPTA); introdução do processo
executivo (artigo 157.º e seguintes do CPTA); a arbitrariedade em alguns pedidos do contencioso
administrativo (artigo 180.º Do CPTA); criação do SITAF (que, por força da revisão de 2019, passou a
ser praticamente indispensável a quem litigue nos Tribunais Administrativos – artigo 24.º do CPTA).
Relativamente à reforma de 2015 existiu uma alteração da regra dos Tribunais coletivos (nos TAFS)
para se passar à regra do Juiz singular o que foi muito contestado entre os Juízes, mas basicamente
serviu para dar vasão a mais processos; acabou-se a distinção entre ação comum e especial,
passando-se a falar em ação não urgente e urgente e houve uma grande aproximação ao CPC
devido, basicamente, ao princípio de gestão processual (artigo 7.º do CPTA) e o CPC é grande muleta
do CPTA (artigo 1.º do CPTA); alterou-se a matéria das providências cautelares tentando-se fechar
um pouco a porta para a proposição destes processos tendo o autor que provar a urgência e o
fumus boni iuris (artigo 120.º do CPTA).
A matriz fundamental do contencioso administrativo português é a CRP, mas não é a única existindo
uma influência importante, no contencioso pré-contratual, das Diretivas da UE aplicáveis em sede de
contratos públicos enunciados no artigo 100.º do CPTA.
Jurisdição
Leitura do texto da autoria do Dr. Carlos Carvalho “O Estatuto dos Tribunais Administrativos e
Fiscais: evolução contextual e aspetos problemáticos” nos Comentários à Legislação Processual
Administrativa - Volume I
Leitura do texto da autoria do Dr. Jorge Pação “O âmbito da jurisdição administrativa: considerações
renovadas sobre as alíneas i), l) e n) do n.º 1 do artigo 4.º do ETAF” nos Comentários à Legislação
Processual Administrativa - Volume I
Leitura do texto da autoria da Dra. Fernanda Esteves “A propósito da especialização dos Tribunais
Administrativos e Fiscais - Fernanda Esteves” nos Comentários à Legislação Processual
Administrativa - Volume I
O artigo 209.º, n.º 1, alínea b) da CRP é o ponto de partida ao dizer que devem existir Tribunais
Administrativos e o artigo 212.º, n.º 3 da CRP que tem o critério da relação jurídica administrativa, é
uma reserva tendencial, relativa, não sendo uma reserva absoluta.
O artigo 1.º do ETAF é um artigo que espelha o artigo 212.º da CRP que tem o critério de entrada a
jurisdição administrativa e voltou em 2019, pois tinha desparecido em 2015, pois o Professor Pedro
Delgado Alves fez pressão para este critério da relação jurídica administrativa voltar para o n.º 1
deste artigo e o artigo 4.º, alínea o) do ETAF explica-se pela retirada em 2015, agora depois de voltar
esta alínea já não se justificaria. O n.º 2 determina a competência para desaplicar as normas que
julguem inconstitucionais.
Há uma norma importantíssima da CRP que estabelece o critério de delimitação da jurisdição
administrativa artigo 212.º, n.º 3 que depende a delimitação dos Tribunais Administrativos
com um critério chave que é a relação jurídica administrativa.
Em teoria, genericamente, temos três critérios para densificar o conceito de relação jurídica
administrativa:
1. Subjetivo – tem a ver com o critério de se considerar uma relação jurídica administrativa
quando, pelo menos uma das partes, é uma entidade integrante da Administração Pública
em sentido orgânico
2. Objetivo – é uma relação regulada pelo Direito Administrativo, ou seja, regulada pelas
disposições normativas jurídico-administrativas
3. Funcional – estamos perante uma relação em que, pelo menos uma das partes, é uma
entidade que exerce função administrativa independentemente da sua integração na
Administração Pública em sentido orgânico
É verdade que a CRP no artigo 212.º, n.º 3 estabelece como critério de delimitação da jurisdição dos
Tribunais Administrativos a relação jurídica administrativa, mas a Doutrina e o próprio legislador
ordinário entende que isto não elimina a liberdade de conformação do legislador ordinário no
sentido de, consoante o juízo justificado do próprio legislador, é possível alargar ou restringir este
âmbito, por exemplo, o artigo 212.º, n.º 3 da CRP não elimina a liberdade de conformação do
legislador no sentido que desde que haja fundamentos atendíveis o legislador pode 1. simplesmente
concretizar o conceito de relação jurídica administrativa (incluir um litígio respeitando a relação
jurídica administrativa no âmbito da jurisdição dos Tribunais Administrativos) simples
concretização do conceito à luz dos critérios subjetivo, objetivo e funcional; 2. excluir da jurisdição
administrativa determinados litígios respeitantes à jurisdição jurídica administrativa (situação em
que mesmo que esteja em causa uma relação jurídica administrativa, por opção legislativa, está fora
– liberdade de conformação do legislador) exclusão pontual e justificada de alguns litígios
relativos à relação jurídica administrativa e 3. O legislador pode, por opção legislativa e
fundamentadamente, incluir na jurisdição administrativa pontualmente alguns litígios que não têm a
ver com a relação jurídica administrativa incluir, pontualmente e justificado, algo que não é uma
relação jurídica administrativa.
No artigo 4.º do ETAF temos a forma como o legislador usou a sua liberdade de conformação
referida em cima. Este artigo não é a única norma onde se encontra este exercício de liberdade de
conformação do legislador, ou seja, para saber se um litígio é jurisdição dos Tribunais
Administrativos, ou não, o artigo 4.º do ETAF não é exclusivo para fazer esta análise porque no CPTA
e na legislação avulsa também existem critérios adicionais que delimitam a jurisdição administrativa.
NOTA: iremos analisar as alíneas do artigo 4.º do ETAF para verificarmos se é uma concretização,
restrição ou extensão, mas não vai ser necessário para resolver casos práticos sendo relevante,
sobretudo, para ajudar a entrar no mundo do contencioso administrativo pois iremos perceber
melhor a racio de cada uma das alíneas e depois perceberemos quais as matérias de Direito
substantivo que ainda teremos que revisitar.
No artigo 14.º do CPTA (competência material) serve duas situações: 1. Situação de incompetência
territorial dentro da jurisdição administração (n.º 1) e 2. fora da jurisdição (n.º 2) e para ambas as
situações a solução é a remessa para o Tribunal competente e, havendo falta de jurisdição, aplica-se
o n.º 2 e a declaração de incompetência é, simultaneamente, uma absolvição da instância porque a
exceção da incompetência do tribunal é uma exceção dilatória (artigo 89.º, n.º 2 e n.º 4, alínea a) do
CPTA), assim, depende muito do momento em que esta exceção dilatória é reconhecida, se for algo
de evidente, faz-se a remessa para outro Tribunal e nem se avança no conhecimento da causa, mas
se o Juiz só se aperceber no despacho saneador ou no despacho pré-saneador há a absolvição da
instância e terá que se começar tudo do zero.
Temos que questionar, em primeiro lugar, se há prática ou omissão de atos jurídicos ou normas e,
depois, devemos saber quem é que os praticou porque, por exemplo, se foi uma autarquia local
cabe no artigo 20.º, n.º 1 do CPTA, mas se foi um ato de um Ministro já se aplica o artigo 16.º do
CPTA.
O contencioso eleitoral não é muito comum (artigo 20.º, n.º 2 do CPTA); os pedidos de intimação
(artigo 20.º, n.º 3 do CPTA) cabem nos processos urgentes (artigo 104.º a 108.º do CPTA) e também
têm esta regra especial; o artigo 20.º, n.º 5 do CPTA serve para os demais processos de intimação
conexos com direitos, liberdades e garantias; os pedidos de providências cautelares (artigo 20.º, n.º
6 do CPTA) têm de seguir a ação principal e será competente o mesmo Tribunal para julgar a ação
principal e como a providência cautelar pode ser apresentada antes da ação principal temos de fazer
um raciocínio de prognose pois esta providência cautelar vai atrelada, antecipando este pedido e,
por isso, deverá ser interposta onde deva ser julgado o pedido da ação principal.
Os atos que envolvam imóveis e não envolva atos jurídicos praticados sobre imóveis que possam ser
capturados pelo artigo 20.º do CPTA porque este irá aplicar-se sempre em primeiro lugar.
No caso dos contratos, temos que atentar no artigo 19.º, n.º 2 do CPTA devendo-se atender ao
convencionado pelas partes devido à autonomia contratual.
No caso da cumulação de pedidos (artigo 21.º do CPTA) vigora o princípio da livre cumulação de
pedidos (artigo 4.º do CPTA) podendo existir pedidos sobre diversas matérias e aí: 1. se houver
cumulações em que um dos pedidos pertence a um Tribunal superior, vai para o Tribunal superior
(artigo 21.º, n.º 1 do CPTA), mas 2. se não houver essa relação hierárquica aplica-se o n.º 2.
O artigo 22.º do CPTA trata da competência supletiva, por exemplo, quando o SEF existia praticava
atos relacionados com a impossibilidade de entrada num país e a pessoa queria impugnar esse ato,
mas o problema é que o SEF não cabe no artigo 20.º do CPTA nem no artigo 16.º do CPTA porque a
pessoa está a entrar em Portugal e, por isso, não tem residência, logo, aplica-se este artigo 22.º do
CPTA pois não há mais nenhuma norma que cubra esta situação.
Aplicados estes critérios, depois vamos ao mapa, mas o legislador, em 2019, ainda acrescentou os
Juízes especializados.
Artigo 4.º
Âmbito da jurisdição
1 - Compete aos tribunais da jurisdição administrativa e fiscal a apreciação de litígios que tenham
por objeto questões relativas a:
a) Tutela de direitos fundamentais e outros direitos e interesses legalmente protegidos, no âmbito
de relações jurídicas administrativas e fiscais – esta alínea tutela os direitos fundamentais, mas
desde que estejamos no contexto de uma relação jurídica administrativa (artigo 1.º do ETAF)
porque se estivermos perante uma situação entre dois particulares não são os Tribunais
Administrativos os Tribunais competentes a não ser que verifique determinado circunstancialismo
que se encontra no artigo 37.º, n.º 3 do CPTA como, por exemplo, A tem um apartamento na linha
da costa e alguém constrói uma barraca colada, aí o A põe a ação no tribunal comum, mas por
vezes o A pode denunciar a situação, por exemplo, à Câmara Municipal e ela nada faz, e aí embora
seja uma relação privada, mas chamou-se uma autoridade pública que omitiu um dever legal de
fiscalização, podendo configurar uma relação jurídica administrativa de correlação já podendo
interpor a ação nos Tribunais Administrativos. - repetição do artigo 212.º, n.º 3 da CRP porque a
tutela é no âmbito das relações jurídicas administrativas porque densificar significa dar sentido às
relações jurídicas administrativas e aqui não deu esse sentido e, por isso, não exerceu a liberdade
de conformação porque não concretizou, restringiu ou alargou porque simplesmente repete a
palavra-chave “relação jurídica administrativa” não acrescentando nenhuma palavra. O nosso
sistema de justiça administrativa é um sistema com caraterísticas subjetivistas significando que a
justiça é pensada para tutelar posições jurídicas e o início desta norma concretiza essa
caraterística subjetivista quando diz “tutela de direitos e interesses”.;
b) Fiscalização da legalidade das normas e demais atos jurídicos emanados por órgãos da
Administração Pública, ao abrigo de disposições de direito administrativo ou fiscal – é a alínea mais
pacífica e trata-se do núcleo da jurisdição administrativa e inclui a omissão de atos e normas. -
neste caso, é usado o critério subjetivo para densificar o conceito de relação jurídica
administrativa pois trata-se de normas e atos jurídicos emanados por órgãos da Administração
Pública existindo uma concretização à luz do critério objetivo pois diz “ao abrigo do Direito
Administrativo” e aqui a tónica já não se encontra na tutela de posições jurídicas, mas sim na
legalidade administrativa e, por isso, enquanto a alínea a) é subjetivista, esta alínea é objetivista.
O nosso sistema é misto não sendo totalmente subjetivista nem objetivista, sendo certo que há
ações mais subjetivistas do que outras e vice-versa, por exemplo, a ação condenatória é mais
subjetivista enquanto a ação impugnatória é mais objetivista tendo impacto no seu regime,
sobretudo a nível da legitimidade. Há situações em que uma ilegalidade administrativa não viola
nenhum Direito violando sim, por exemplo, a forma exigida e se a ação intentada for,
carateristicamente, mais subjetivista será, tendencialmente, improcedente porque a ação é
subjetivista, mas a ilegalidade em causa não viola Direitos. Se a ação intentada for mais objetivista
será, tendencialmente, precedente.;
c) Fiscalização da legalidade de atos administrativos praticados por quaisquer órgãos do Estado ou
das Regiões Autónomas não integrados na Administração Pública – podem existir situações em que
há entidades a colaborar com a Administração Pública em sentido orgânico, mas que não são eles
próprios Administração Pública participando na função administrativa sem o ser, mas como
também podem praticar atos administrativos, também os seus atos estão sob o escrutínio dos
Tribunais administrativos. - se for o critério subjetivo estamos perante um alargamento. Os órgãos
do Estado não integrados na Administração Pública que podem praticar atos administrativos são a
Assembleia da República (função legislativa), o Presidente da República (função política) e os
Tribunais (função jurisdicional) designando-se por atos materialmente administrativos porque não
são praticados por um órgão que é pensado para exercer função administrativa e, por isso, é um
critério objetivo, mas, sobretudo, um critério funcional porque estamos perante órgãos que
exercem, a titulo ocasional, funções administrativas e por causa desse exercício ocasional leva-nos
à existência de uma relação jurídica administrativa levando-nos a ter esta alínea. Sendo o critério
funcional estamos perante a concretização desse critério, ou seja, uma das partes exerce função
administrativa nem que seja a título ocasional.;
d) Fiscalização da legalidade das normas e demais atos jurídicos praticados por quaisquer entidades,
independentemente da sua natureza, no exercício de poderes públicos – corrobora a ideia de que o
maior universo possível de atos e normas da função administrativa cabem na jurisdição dos
Tribunais administrativos. - o legislador não dá relevância ao critério subjetivo porque não lhe
interessa a natureza da pessoa; existem dúvidas se o legislador usou, ou não, o critério objetivo e,
quanto ao critério funcional, é legítimo entender que ao falar no exercício de poderes públicos
está a falar do exercício da função administrativa (IUS IMPERI) e, por isso, é uma concretização do
critério funcional porque ainda conseguimos ver um indício do critério funcional quando fala nos
exercício dos poderes públicos.;
e) Validade de atos pré-contratuais e interpretação, validade e execução de contratos
administrativos ou de quaisquer outros contratos celebrados nos termos da legislação sobre
contratação pública, por pessoas coletivas de direito público ou outras entidades adjudicantes –
contencioso pré-contratual e contratual. - esta alínea tem duas partes que devem ser distinguidas
porque correspondem a ações diferentes: a primeira parte é a validade de atos pré-contratuais e a
segunda parte é tudo o resto. A primeira parte é pré-contratual (estamos a falar de atos praticados
no âmbito de um procedimento tendente à celebração de um contrato, ou seja, nesta fase ainda
não temos contrato tendo os seus próprios regimes) e a segunda é contratual (pressupõe que já
existe um contrato formado e temos ações só para contratos). Em regra, o critério objetivo estará
preenchido porque, em regra, quer a fase pré-contratual, quer a fase de execução do contrato são
regulados por algumas normas de Direito Público (sobretudo o CCP); o critério subjetivo é mais
duvidoso porque, sobretudo, a parte final diz “outras entidades adjudicantes” que tem a sua
noção fixada no artigo 2.º e 7.º do CCP que integram também entidades que não fazem parte da
Administração Pública em sentido orgânico. Nesta alínea temos que ter em atenção que contratos
administrativos (conceito substancial porque tem a ver com qualificar o contrato para aplicação do
regime de execução e não tem a ver com o procedimento de formação e os critérios de
administratividade de um contrato, ou seja, para saber se um contrato é, ou não, administrativo
temos que ir ver os critérios do artigo 280.º do CCP) não são sinónimos de contratação pública (é
um conceito procedimental no sentido de que é um contrato público o contratos cuja formação
obedecem um procedimento pré-contratual fixado no CCP – critério procedimental).;
f) Responsabilidade civil extracontratual das pessoas coletivas de direito público, incluindo por danos
resultantes do exercício das funções política, legislativa e jurisdicional, sem prejuízo do disposto na
alínea a) do n.º 4 do presente artigo – temos situações das funções política, legislativa e
jurisdicional e não a administrativa e, por isso, estará implícita porque evidentemente que cabe na
jurisdição administrativa. - se adotarmos o critério funcional será uma extensão porque vai além
da função administrativa; quanto ao critério objetivo (regulado por disposições de Direito
Administrativo) aplica-se o artigo 501.º do CC que serve para responsabilidade por atos de gestão
privada e a Lei 67/2007 que se aplica à gestão pública não havendo consenso na Doutrina sore os
critérios que se devem usar para distinguir as duas categorias de gestão. Esta distinção foi aplicada
no caso paradigmático dos hospitais para sabermos se quando um médico dá uma consulta, por
ser funcionário de um serviço da Administração Central, estamos perante uma gestão pública
(aplica-se a Lei 67/2007) ou privada (artigo 501.º do CC). Há quem defenda que será uma gestão
privada porque a forma como o médico vai atuar será igual quer seja num hospital público ou
privado e há quem defenda que devemos olhar para a entidade maior e, por isso, estamos perante
uma entidade pública (hospital) não adotando o critério da materialidade do ato. O legislador não
define o que é gestão pública nem privada continuando a associar esta última ao artigo 501.º do
CC, mas já não o faz relativamente à gestão pública com a Lei 67/2007 existindo um conjunto de
discussões Doutrinárias o que significa que se estiver em causa uma questão de responsabilidade
temos que ver bem se estamos perante uma gestão pública ou privada. Se for um concessionário e
for gestão privada aplica-se a alínea f) e o artigo 483.º do CC não estando na jurisdição dos
Tribunais Administrativas, mas sim nos Tribunais Comuns porque não se aplica a alínea h)
Bibliografia adicional: Revista de Direito Administrativo número especial 1 – artigo do Professor
Domingos Soares Farinho “A barreira Invisível: a dicotomia gestão pública/gestão privada e os
regimes de responsabilidade civil extracontratual aplicáveis ao Estado – Anotação ao Acórdão do
Supremo Tribunal Administrativo de 23 de abril de 2020, Processo n.º 02431/09.1BELSB” e artigo da
Professora Ana Raquel Moniz “De Novo… A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e o
Âmbito da Justiça Administrativa – Anotação ao Acórdão do Tribunal dos Conflitos, de 15 de março
de 2018, Processo n.º 062/17”;
g) Responsabilidade civil extracontratual dos titulares de órgãos, funcionários, agentes,
trabalhadores e demais servidores públicos, incluindo ações de regresso – os réus podem ser
pessoas coletivas públicas, mas também pessoas como nós, se formos funcionários e tivermos
agido com zelo manifestamente inferir aquele que seria devido no exercício dessas funções e,
portanto, podemos ser chamados ao Tribunal pelo particular que foi destinatário do ato que lhe
causou lesão. Estes não têm que ser réus, mas o lesado pode escolher colocá-los também. - fala de
ações de regresso, ou seja, casos em que se demanda a pessoa coletiva que, depois, descobre que
é o trabalhador que tem culpa e exerce o Direito de regresso contra o trabalhador, assim, o Estado
consoante, sobretudo, o nível de culpa do funcionário pode fazer o Direito de regresso contra o
funcionário sobretudo no caso em que não haja solidariedade passiva entre o Estado e o
funcionário porque se existir esta solidariedade passiva um dos dois fica desonerado o que
significa que o particular pode demandar um ou outro ou os dois no Tribunal.;
h) Responsabilidade civil extracontratual dos demais sujeitos aos quais seja aplicável o regime
específico da responsabilidade do Estado e demais pessoas coletivas de direito público – há mais
pessoas coletivas do que as pessoas integradas na Administração em sentido orgânico a praticar
atos de função administrativa, ou seja, há pessoas privadas a colaborar com a Administração e a
essas pessoas também se aplica o regime do DL 67/2007 (aplica-se à Administração Pública em
sentido orgânico; aos funcionários dessa Administração; às pessoas coletivas privadas que
colaboram com a Administração Pública e aos funcionários dessas pessoas privadas). - Um
exemplo de uma pessoa coletiva que não é de Direito Público, mas exerce funções administrativas
são os concessionários que se inserem no artigo 4.º, alínea h) do ETAF. Os concessionários só
entram se estiverem preenchidos os pressupostos de aplicação do regime. Esta alínea é regulada
por normas do Direito Administrativo por causa do regime da Lei 67/2007 que para a Doutrina é
um regime do Direito Administrativo sendo, por isso, um critério objetivo.;
i) Condenação à remoção de situações constituídas em via de facto, sem título que as legitime –
entrou no ETAF em 2015 e serve para atos manifestamente ilegais que nem são reconhecíveis
como vias de direito, sendo vias de facto e, portanto, são totalmente destituídos de suporte
jurídico. Se a via não é de Direito, então também não devem ser os Tribunais Administrativos com
o foro competente porque são especializados no Direito Administrativo e, se a administração não
o usou, também não deverão reivindicar esta ação, mas levanta-se a questão de não deixarem de
ser situações exercidas por entidades administrativas, por exemplo, um emigrante compra umas
terras em Portugal para construir uma casa, mas que ainda se encontravam desocupadas e,
perante, a ausência do proprietário a Câmara decidiu fazer uma extensão do caminho municipal e,
quando o proprietário chega a Portugal depara-se com as escavadoras nunca tendo sido notificado
de tal situação e, neste caso, temos a Câmara a atuar em via de facto totalmente à margem da Lei
contra a qual o particular se tem que defender e o legislador em 2015 decidiu clarificar que esta
não deveria ser interposta nos Tribunais Administrativos porque os Advogados desconheciam que
estas situações deveriam ser reivindicadas junto dos Tribunais Administrativos e, por isso, iam
para os Tribunais comuns que não sabem lidar com isto e davam razão à Administração e, por
vezes, os Advogados apresentavam estas ações nos Tribunais Administrativos reivindicando a
propriedade, mas o reconhecimento do Direito de propriedade não é competência dos Tribunais
Administrativos e, por isso, diziam-se incompetentes devendo a ação ser interposta nos Tribunais
comuns, assim, o objeto deste processo tem de ser configurado numa relação jurídico-
administrativa tendo-se que solicitar o Juiz que condene à abstenção da continuação dos trabalhos
e condenação da reposição do terreno da situação em que estava antes da ocupação ilegal. Para a
nossa Regente esta alínea não precisava de existir porque o critério da relação jurídica
administrativa era suficiente para justificar que estas causas fossem apresentadas nos Tribunais
Administrativos e, por isso, esta alínea é retórica. - não existe ato administrativo pois a
Administração não praticou o ato como, por exemplo, uma expropriação ilícita (ocupação sem
título legítimo, logo nem sequer existe um ato para impugnar) sendo bastante semelhante às
situações de quando só existe uma aparência de funcionário, mas ainda não tem verdadeiramente
um estatuto de funcionário e, por isso, o ato que ele pratica não pode ser imputável à
Administração e, neste caso, temos uma situação de inexistência de ato administrativo. Na
prática, olhando para a realidade, os particulares têm duas vias diferentes de reação: 1.
Condenação à remoção das situações constituídas em via de facto, sem título que as legitime
(pede ao Tribunal para que retirem os equipamentos pois existe uma invasão sem que exista uma
expropriação, restituindo a situação anterior, sem prejuízo de cumulação com responsabilidade)
via Direito Administrativo intentando uma ação para que a Administração adote uma operação
material para limpar o terreno e reconstitua a situação anterior (conduta – artigo 37.º, alínea i) do
CPTA) e 2. Pedir ao Tribunal que se reconheça a propriedade privada intentando uma ação de
reivindicação ou ação possessória com competência dos Tribunais comuns.;
j) Relações jurídicas entre pessoas coletivas de direito público ou entre órgãos públicos, reguladas
por disposições de direito administrativo ou fiscal – por exemplo, litígios entre Municípios e o
Estado. - é uma concretização à luz do critério funcional, subjetivo e objetivo. As relações inter-
administrativas existem entre duas pessoas coletivas diferentes e intra-administrativas surgem
dentro da mesma pessoa coletiva. Os órgãos não tendo personalidade jurídica podem existir ações
entre dois órgãos porque a lei consagra um regime especial e, por isso, estamos perante uma
relação especial do Direito Administrativo em que na relação intra-administrativa estamos
perante dois entes sem personalidade jurídica, mas por força do regime especial permitido pelo
legislador pode ter personalidade judiciária neste sentido para disputar no Tribunal e este litígio é
especial porque, hoje em dia, há cada vez mais diversificação dentro da mesma pessoa coletiva e
todos os órgãos têm o mesmo objetivo e defendem os mesmos interesses podendo acontecer que
um órgão defenda um certo interesse conflituante com o interesse tutelado por outro órgão e
pode não existir resolução interna por não ter tutela. Hoje em dia, por causa da diversificação dos
interesses dentro da mesma pessoa coletiva (intra) pode acontecer que um órgão para praticar um
ato necessite da autorização de outro órgão e se este órgão não der essa autorização o outro não
pode fazer nada podendo ir a Tribunal para que condene o órgão a emitir um ato (autorização) e,
neste caso, em que é interposta uma ação de condenação para a prática de um ato devemos ir ao
artigo 68.º, n.º 1, alínea d) do CPTA.;
k) Prevenção, cessação e reparação de violações a valores e bens constitucionalmente protegidos,
em matéria de saúde pública, habitação, educação, ambiente, ordenamento do território,
urbanismo, qualidade de vida, património cultural e bens do Estado, quando cometidas por
entidades públicas – defesa de interesse difusos. - tem importância para questões ambientais
(protege interesses difusos – interesses de facto que não pertencem a ninguém ≠ paisagem de um
bairro que já é um direito individual homogéneo) e é uma concretização, sobretudo, do critério
subjetivo e funcional porque diz expressamente “quando cometidas pelas entidades públicas”
estando limitado ao ilícito cometido por entidades públicas (pelo menos uma das partes é uma
entidade pública), ou seja, se for um particular a violar esta alínea não será resolvido no Tribunal
Administrativo, mas sim nos Tribunais comuns. A Doutrina defende que esta alínea não tem
grande utilidade, para além de realçar a importância dos interesses difusos, porque se estiver
causa um ato administrativo ilegal que viole o ambiente, este pedido pode ser abrangido pelas
alíneas a), b), c) e d), mas não é totalmente verdade porque esta alínea também poderá ter
relevância complementar no sentido de abranger também as operações materiais porque estas
não se encontram nas alíneas mencionadas acima porque se referem a atos e normas. Nem todos
os valores elencados nesta alínea são interesses difusos, tendo que verificar caso a caso e há
discussão Doutrinária sobre se a lista elencada nesta alínea é taxativa ou exemplificativa.;
l) Impugnações judiciais de decisões da Administração Pública que apliquem coimas no âmbito do
ilícito de mera ordenação social por violação de normas de direito administrativo em matéria de
urbanismo e do ilícito de mera ordenação social por violação de normas tributárias – entrou em
2015 e diz respeito às contraordenações urbanísticas e às tributárias, tudo o resto vai para os
Tribunais comuns. - esta alínea versa apenas em matérias de urbanismo e tributárias restringindo
o resto das matérias. Os motivos para esta limitação devem-se a: 1. Antigamente a
contraordenação estava considerada como Direito Penal e, segundo esta posição, era uma matéria
dos Tribunais comuns; 2. Antigamente os Tribunais Administrativos não tinham poderes de
instrução completos e precisavam disso para poder julgar estas situações e 3. Os Tribunais
Administrativos ainda são muito recentes e na altura achava-se que não estavam preparados para
este tipo de litígios. Com esta alínea arranjou-se uma situação transitória – um meio termo em
que recebem alguma matéria de sancionamento. A Doutrina discute se as contraordenações
ambientais se enquadram dentro da matéria de urbanismo ou não, havendo quem defenda que se
enquadram e que essa interpretação é admissível e existindo quem defenda que não é possível.
Na opinião da Regente e do Assistente considerando o reporte do Direito do ambiente, este não
deve ser incluído no urbanismo. Por exemplo, se saímos da FDUL e temos uma coima da EMEL
devemos impugnar para o Tribunal comum pois essa matéria não se encontra delimitada nesta
alínea, contudo existe Doutrina que defende que se pode enquadrar esta situação na alínea a), b)
ou o) do artigo 4.º, n.º 1 do ETAF, no entanto, se o legislador não quis integrar essas situações na
alínea l) então é porque não as devemos incluir na jurisdição dos Tribunais Administrativos por
essas vias e a alínea l) é uma norma especial que vai derrogar as normas gerais não se podendo
aplicar as alíneas a), b) ou o) nestas situações.;
m) Contencioso eleitoral relativo a órgãos de pessoas coletivas de direito público para que não seja
competente outro tribunal – alínea residual que contém algum contencioso eleitoral. - nesta alínea
estamos perante uma competência supletiva relevância residual. Um exemplo de aplicação
desta alínea é a impugnação de eleições da Faculdade. O regime processual especial encontra-se
regulado nos artigos 36.º e 98.º do CPTA (contencioso de matéria urgente) e é importante por
causa do prazo. A natureza desta urgência vem da própria natureza da decisão pois o resultado
das eleições não pode ser colocado em causa por causa da demora dos processos em Tribunal.;
n) Execução da satisfação de obrigações ou respeito por limitações decorrentes de atos
administrativos que não possam ser impostos coercivamente pela Administração – esta alínea tem
uma história ligada ao CPA de 2015 que tinha uma norma que praticamente vinha destituir a
Administração Pública dos seus poderes de execução coerciva e praticamente toda a Doutrina se
manifestou contra a entrada em vigor desta norma porque significava que quando a
Administração se dirigisse aos particulares com atos impositivos desfavoráveis ficava
impossibilitada de impor o seu cumprimento caso o particular não o fizesse voluntariamente e,
portanto, o legislador voltou atrás, mas o legislador do CPTA que achou que esta alínea iria para a
frente colocou esta alínea, logo, esta norma não tem utilidade porque continuamos com o sistema
em que a Administração tem poderes para executar coercivamente os atos. - estamos perante um
ato não executório, ou seja, a Administração Pública não pode executar. É uma alínea especial
onde se encontra uma ação executiva (as restantes alíneas são de ação declarativa). Nesta
situação a Administração Pública é o Autor e o particular é o Réu pois é a Administração Pública
que coloca o particular em Tribunal por não ter cumprido determinado ato (o ato será título
executivo). Outro caso em que a ação não é interposta por um particular é a alínea j) pois estão
em causa duas pessoas coletivas (litígio inter-administrativo ou intra-administrativo).;
o) Relações jurídicas administrativas e fiscais que não digam respeito às matérias previstas nas
alíneas anteriores – foi criada esta norma quando o legislador retirou o artigo o 1.º, n.º 1 do ETAF e
quando se voltou a introduzir essa matéria esta alínea não foi retirada. – Existe uma densificação
do artigo da CRP.
2 - Pertence à jurisdição administrativa e fiscal a competência para dirimir os litígios nos quais devam
ser conjuntamente demandadas entidades públicas e particulares entre si ligados por vínculos
jurídicos de solidariedade, designadamente por terem concorrido em conjunto para a produção dos
mesmos danos ou por terem celebrado entre si contrato de seguro de responsabilidade – Em 2015 o
legislador insere esta norma pacificadora porque estas soluções já estavam a ser usadas pela
Jurisprudência, mas ainda existiam dúvidas e, por isso, o legislador decidiu explicar que pode
haver situações em que há pessoa coletiva pública e um ente privado. Esta solidariedade é
diferente da responsabilidade dos agentes públicos, pois esta norma está pensada para pessoas
privadas que respondem solidariamente com as entidades públicas. – Esta é uma das situações
excecionais em que, tanto no lado do Réu como no lado do Autor, temos um particular. Existe um
vínculo jurídico de solidariedade e quando aqui se fala em solidariedade parece que o legislador
quer que exista apenas litisconsórcio voluntário. Litisconsórcio necessário (é o que parece que se
retira da leitura – elemento literal). É uma situação especial pois temos um particular versus um
particular e Administração Pública (é parcialmente entre particulares) razão da especialidade
do artigo 4.º, n.º 2 da ETAF. Situações em que isto pode acontecer: 1. Responsabilidade civil do
Estado (pois o funcionário pode estar incluído); 2. Artigo 37.º, n.º 3 do CPTA e 3. Artigo 109.º, n.º 2
do CPTA (é uma intimação e não uma ação – existe diferença na terminologia) a intimação está
inserida nos processos urgentes, o que faz desta um processo urgente, contudo, não está presente
no artigo 36.º do CPTA e, por isso, não é uma ação urgente. São processos urgentes: 1. Ação
administrativa urgente e 2. Intimação isto é importante para o que vem indicado nas normas
para a distinção de regimes.
3 - Está nomeadamente excluída do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal a apreciação de
litígios que tenham por objeto a impugnação de (neste número e no seguinte encontram-se as
exclusões da jurisdição administrativa):
a) Atos praticados no exercício da função política e legislativa - esta competência pertence ao
Tribunal Constitucional. Podemos impugnar uma Lei nos Tribunais Administrativos? Não. E um DL?
Sim, se a forma não corresponder ao conteúdo (artigo 52.º do CPTA);
b) Decisões jurisdicionais proferidas por tribunais não integrados na jurisdição administrativa e fiscal
- tem a ver com os Recursos proferidos nos Tribunais comuns que serão enviados para o Tribunal
da Relação;
c) Atos relativos ao inquérito e instrução criminais, ao exercício da ação penal e à execução das
respetivas decisões – muitas vezes, estes atos pertencem ao Ministério Público ou Órgãos de
Polícia Criminal que são, por sua, vez atos administrativos no sentido material porque os OPC
pertencem à Administração Público estando na tutela do Ministério da Justiça só que estes atos
estão tão inerentes à ação penal que se justifica que sejam analisados à luz desse Direito.
4 - Estão igualmente excluídas do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal:
a) A apreciação das ações de responsabilidade por erro judiciário cometido por tribunais
pertencentes a outras ordens de jurisdição, assim como das correspondentes ações de regresso -
tem a ver com a alínea e) do n.º 1 sendo uma exceção, ou seja, mesmo que materialmente
estejamos perante uma matéria de Direito Administrativo regulada pelo Direito Administrativo,
pela Lei 67/2007, é mais uma ideia de solidariedade colegial sendo melhor ser julgado pelos
Tribunais comuns;
b) A apreciação de litígios decorrentes de contratos de trabalho, ainda que uma das partes seja uma
pessoa coletiva de direito público, com exceção dos litígios emergentes do vínculo de emprego
público - tem a ver com a matéria laboral, onde se distingue entre contratos de Direito Público e
Direito Privado e o emprego de vínculo público;
c) A apreciação de atos materialmente administrativos praticados pelo Conselho Superior da
Magistratura e seu Presidente - tem uma certa incompatibilidade aparente entre o n.º 1, alínea f) e
n.º 4, alínea d) porque se estivermos perante uma razão de responsabilidade pelos danos
decorrentes de um ato materialmente administrativo do Presidente do STJ (artigo 15.º do CPTA –
tem o prazo de dois meses, enquanto o artigo 92.º do CPC tem o prazo de um mês);
d) A fiscalização de atos materialmente administrativos praticados pelo Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça - esta alínea (exclusão) é articulada com o artigo 4.º, n.º 1, alínea f) do mesmo
artigo (inclusão). Se estivermos perante uma ação de responsabilidade decorrente da prática
materialmente administrativa do Presidente do STJ, em que um dos pressupostos desta ação de
responsabilidade é a ilicitude, e para sabermos se há ilicitude temos que olhar para a ilegalidade
do ato, a lei diz-nos que os Tribunais Administrativos não podem apreciar a ilegalidade. A questão
subjacente tem a ver com a ver com a responsabilidade civil extracontratual provocados pelo
Estado decorrentes da prática de um ato materialmente administrativo praticado pelo Presidente
do STJ e a responsabilidade tem vários requisitos: ilicitude objetiva ou subjetiva; culpa; dano; ação
ou omissão e a questão que se coloca é se estando esta responsabilidade incluída na jurisdição
administrativa por força do artigo 4.º, n.º 1, alínea f) do ETAF e quando se trata de uma ilegalidade
de um ato materialmente administrativo do Presidente do STJ está excluída por força desta alínea,
ou seja, enquanto a ação encarada na sua globalidade está incluída na alínea f) do n.º 1 esta
questão específica de ilicitude objetiva está excluída por força desta alínea. Para apurarmos se
estamos perante uma situação de responsabilidade temos que averiguar previamente as questões
prejudiciais (verificar se todos os requisitos estão preenchidos) sendo uma delas a ilicitude
objetiva (que está fora da justiça administrativa) e no contencioso administrativo temos um
mecanismo para resolver questões prejudiciais no artigo 15.º, n.º 1, 1.ª parte do CPTA, assim, o
Juiz do Tribunal Administrativo quando receber a ação remete para o Tribunal comum para
averiguar apenas esta questão prejudicial. Existe Doutrina que defende que há uma obrigação do
Juiz em remeter para o Tribunal comum e existe Doutrina que defende que como a norma diz
“pode” não existe uma obrigatoriedade. Se o Tribunal optar por remeter para o Tribunal comum,
suspende-se a instância, este apreciará e remeterá a pronúncia sobre a ilegalidade para o Tribunal
Administrativo. Se o Tribunal comum nada disser pode o Tribunal Administrativo chamar a
questão para si, decorridos 2 meses, nos termos do n.º 2 e 3. A importância de apreciar a
ilegalidade do ato tem a ver com o preenchimento do pressuposto de responsabilidade. Se a ação
for julgada procedente temos dois tipos de invalidade: nulidade e anulabilidade. Se o Tribunal
comum se pronunciar pela ilegalidade, remete a decisão ao Tribunal Administrativo e se a ação for
julgada precedente o ato será eliminado da ordem jurídica ação de anulação. Se o Tribunal
comum se pronunciar pela legalidade, remete a decisão ao Tribunal Administrativo e este terá que
julgar improcedente a ação. Se o Tribunal Administrativo não reenviar a questão para os Tribunais
comuns e decidir resolver logo, a decisão terá efeito limitado ao próprio processo não violando
esta alínea porque não vai anular o ato, ou seja, apenas se pronuncia para efeito do
preenchimento do requisito e o mesmo acontece no caso em que os Tribunais comuns não se
pronunciem no prazo de 2 meses e o Tribunal Administrativo decida ele próprio a questão parte
final do n.º 3, do artigo 15.º do CPTA. Concluindo, esta alínea diz que o Tribunal Administrativo
não pode apreciar a questão da fiscalização de um ato materialmente administrativo do
Presidente do STJ e para compatibilizar o mecanismo da questão prejudicial o Tribunal
administrativo pode apreciar a ilegalidade, mas não é ma espécie de fiscalização porque se assim
fosse não seria competente por força desta alínea e, assim, vai-se pronunciar mas só para
reencher o pressuposto da ilicitude objetiva não fiscalizando em sentido próprio, vendo apenas se
existe ilicitude ou não;
e) A apreciação de litígios emergentes das relações de consumo relativas à prestação de serviços
públicos essenciais, incluindo a respetiva cobrança coerciva – alínea acrescentada na última
reforma para resolver a questão de saber se a cobrança coerciva do valor devido pelos
consumidores para a utilização dos serviços públicos essenciais deve ter lugar nos Tribunais
Administrativos ou os Tribunais Comuns, por exemplo, os serviços da luz e água são prestados,
normalmente, por uma empresa pública, serviço municipalizado ou concessionária e, se o
particular incumprisse, dependendo da natureza do valor em dívida será interposta ação no
Tribunal Administrativo ou Tribunal Comum. Se o valor assumisse a natureza do preço do contrato
iria para o Tribunal Comum, mas se fosse uma taxa já seria uma matéria de natureza tributária.
Agora o legislador decidiu que irá tudo para os Tribunais Comuns.
O artigo 4.º do ETAF não é suficiente para saber se um litígio pertence à jurisdição dos Tribunais
administrativos existindo outras normas como, por exemplo, o artigo 38.º e 84.º do Código das
Expropriações que determinam que a fixação do montante de indemnização referente à
expropriação à jurisdição do Tribunal Comum, por exemplo, se alguém quer impugnar um ato de
expropriação por achar que é ilegal deverá ir para o Tribunal Administrativo; se quiser impugnar o
montante relativo à indemnização da expropriação já deverá recorrer aos Tribunais Comuns.
Outro exemplo, encontra-se no artigo 92.º da Lei da Concorrência (Lei 19/2012, de 8 de maio) em
que, segundo este artigo, a impugnação das decisões da Autoridade da Concorrência (autoridade
administrativa) proferidos em processo de contraordenação num procedimento administrativo
respeitantes à matéria de concorrência, sobretudo em matérias sobre operações de concentração
da empresa, será submetida no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão sendo tramitada
como uma ação administrativa especial pois estamos a impugnar um ato de uma entidade
administrativa, embora não seja o Tribunal Administrativo que irá apreciar a questão indo ao
encontro do artigo 4.º, n.º 1, alínea l) do ETAF que só inclui os casos de urbanismo e tributários.
Um ato pode ser impugnado nos termos das alíneas b), c) e d), do artigo 4.º, n.º 1 do ETAF.
O artigo 109.º, n.º 2 do CPTA é uma norma encontrada num tipo de ação que se chama intimação
para proteção de direitos, liberdades e garantias tratando-se de um processo urgente porque o
artigo está inserido no título III que diz respeito aos processos urgentes, constando no artigo 36.º,
n.º 1, alínea e) do CPTA e no próprio artigo 110.º, n.º 1 do CPTA diz que «o processo é concluso ao
juiz com a maior urgência», no entanto, não é uma ação administrativa urgente. O artigo 4.º, n.º 3
do CPTA corresponde a uma das formas de ação administrativa urgente e subsumível a esta norma a
intimação não é uma ação administrativa urgente.
Se quisermos impugnar um ato do IMT não devemos aplicar o artigo 20.º, n.º 1 do CPTA porque não
cai no seu âmbito subjetivo.
O artigo 17.º do CPTA indica-nos os processos relacionados com bens imóveis ou Direitos a eles
referentes são intentados no tribunal da situação dos bens (por exemplo, Direito de Propriedade;
posse; usufruto; servidão; Direitos pessoais de gozo)
NOTA: A usucapião e a expropriação não são um Direito, mas sim um instituto que servem para
constituir Direitos.
O artigo 18.º do CPTA diz-nos a competência em razão da responsabilidade civil e enquanto o n.º 1 é
geral, já o n.º 2 é especial e, por isso, devemos verificar primeiro os pressupostos de aplicação
especial e só depois confirmar a aplicação do regime geral, por exemplo, se pretendermos intentar
uma ação decorrente das operações de fiscalização realizadas pela EMEL é uma operação material,
não se tratando de um ato administrativo, logo, cabe no artigo 18.º, n.º 1 do CPTA devendo ser
deduzida no tribunal do lugar em que se deu o facto constitutivo da responsabilidade. Outro
exemplo, é pedirmos à UL (Administração indireta ou autónoma – dependendo da Doutrina) uma
bolsa que é rejeitada e querermos intentar uma ação de responsabilidade civil e aí já será remetido
para o artigo 18.º, n.º 2 conjugado com o artigo 16.º, n.º 1 do CPTA. Se for contra o IGF aplica-se o
artigo 18.º, n.º 2 conjugado com o artigo 16.º, n.º 1 do CPTA. Se for contra a Brisa porque se
esqueceu de tapar um buraco aplica-se o artigo 19.º do CPTA por não se tratar de um ato ou norma,
mas sim uma operação material.
NOTA: se estivermos perante uma situação que caiba tanto no artigo 19.º como no artigo 20.º do
CPTA, o artigo 19.º é especial relativamente ao artigo 20.º, n.º 1 do CPTA porque é relativo à matéria
dos contratos (parte contratual do artigo 4.º, n.º 1, alínea e) do ETAF), logo, aplicar-se-á o artigo 19.º
do CPTA. Durante a execução do contrato a Administração pode praticar um ato administrativo
contratual que se destina à execução do contrato como aplicação de sanções para cumprimento do
contrato sendo simultaneamente uma questão de cumprimento de contrato e um processo
respeitante à prática de uma norma, neste caso, estamos perante o artigo 19.º do CPTA por se tratar
uma questão respeitante a execução do contrato, especificamente à aplicação de sanções ou
estamos perante o artigo 20.º, n.º 1 do CPTA por se tratar de um ato administrativo praticado pelo
Município? Não há uma resposta clara na Lei e, por isso, aplica-se a regra geral de interpretação das
normas legais admitindo-se que será uma resposta razoável entender que o artigo 19.º do CPTA é
especial face ao artigo 20.º, n.º 1 do CPTA e, por isso, pode ser intentada no Tribunal
territorialmente competente à luz do artigo 19.º do CPTA. Se estivermos perante um contencioso
pré-contratual já não se coloca esta questão de conflitos porque o artigo 19.º do CPTA não se aplica
a esta matéria, aplicando-se apenas ao contencioso de contratos.
O artigo 22.º do CPTA tem uma regra supletiva que se aplica quando não seja possível determinar a
competência à luz das regras anteriores, sendo competente o TAC de Lisboa, por exemplo, uma
situação do artigo 16.º, n.º 1 do CPTA, mas tratando-se de uma pessoa estrangeira ou quando se
aplica o artigo 16.º, n.º 1 do CPTA que nos envia para um local onde não tem Tribunal
Administrativo.
A matéria relativa à responsabilidade civil extracontratual por um ato tributário não existe na lista
consagrada no artigo 49.º do ETAF e, por isso, será relevante a questão de saber se a lista é taxativa
ou não porque se for taxativa será da competência do tribunal administrativo, enquanto se for
exemplificativa poderá ainda entrar no artigo 49.º do ETAF respeitante ao Tribunal Tributário.
A formação alargada é uma exceção às decisões singulares dos TAFS e deve ser articulada com o
artigo 41.º do ETAF que, por sua vez, se articula com o artigo 93.º do CPTA.
O artigo 48.º, n.º 8 do CPTA é outra exceção às decisões com Juiz singular e este mecanismo nem
sempre foi assim e consiste em acelerar a justiça em casos de contencioso volumoso (há muitas
causas idênticas, mas com nomes diferentes) podendo-se fazer apensação de processos, desde que
estejam no mesmo Juiz e, portanto, o Código tentou arranjar uma solução de que criar eficiência no
julgamento destas questões, influenciado pela Lei espanhola, e a PI mais bem construída e a que
levanta mais questões dá origem ao processo piloto que espelha todos os outros, separando-se dos
outros que ficam suspensos e este anda em modo de urgência e, assim que o piloto esteja decidido,
a solução pode ser projetada para os outros e aqui a formação alargada entra na parte final do artigo
ao dizer que decidirá o Juiz do processo e os dois Juízes mais antigos do Tribunal (antes era igual ao
artigo 93.º do CPTA em que para decidir o processo piloto tinham de ser todos os Juízes do TAF, mas
complicava a aplicação deste artigo e o legislador teve de reformular).
Conflitos de jurisdição
Podem ter, em regra, duas situações:
- Conflitos de jurisdição positivo
- Conflitos de jurisdição negativo (é o mais comum): por exemplo, propõe-se uma ação no Tribunal
Administrativo, mas não é da competência desse devendo declarar que não é competente em
termos da jurisdição, absolvendo a instância, não existindo remissão oficiosa pois a incompetência é
em razão da jurisdição dando lugar a um conflito de jurisdição negativo (artigo 14.º, n.º 2 do CPTA)
ao contrário da incompetência em sentido estrito (artigo 14.º, n.º 1 do CPTA). Mesmo que não seja
levantada pelas partes, o Tribunal pode reconhecer a incompetência porque é uma questão de
ordem pública (artigo 13.º do CPTA) e, por isso, o Tribunal não for competente em razão da
jurisdição não deverá analisar qualquer questão do processo, reconhecendo apenas a questão de
incompetência em razão da jurisdição emitindo uma Sentença que declare a incompetência, sem
prejuízo de o particular poder, ao abrigo do artigo 14.º, n.º 2 do CPTA, nos 30 dias subsequentes a
contar do trânsito da decisão requer a remessa para o Tribunal competente com o benefício do
prazo (artigo 14.º, n.º 3 do CPTA) pois correria o risco de quando a ação chegue ao Tribunal
competente já estaria ultrapassado o prazo caducando o Direito de ação.
A Lei 91/2019 regula a matéria relativa ao Tribunal de Conflitos e o artigo 3.º prevê os tipos de
processos ou incidentes que podem ocorrer nos Tribunais de Conflitos. A alínea a) tem a ver com
questões de conflitos de jurisdição; a alínea b) tem uma natureza preventiva e a alínea c) tem um
contexto especial para a sua ocorrência porque tem a ver com Recursos:
Artigo 3.º
Competência do Tribunal dos Conflitos
Compete ao Tribunal dos Conflitos conhecer:
a) Dos pedidos de resolução de conflitos de jurisdição formulados nos termos dos artigos 9.º e
10.º da presente lei;
b) Das consultas prejudiciais sobre questões de jurisdição submetidas nos termos do artigo 15.º
da presente lei;
c) Dos recursos previstos no n.º 2 do artigo 101.º do Código de Processo Civil, os quais podem
também ser interpostos nos casos em que um Tribunal Central Administrativo julgue
incompetente um tribunal administrativo de círculo ou um tribunal tributário por a causa
pertencer ao âmbito de jurisdição dos tribunais judiciais.
Recurso
Está previsto no artigo 3.º, alínea c) que recorre ao artigo 101.º, n.º 2 do CPC, mas no CPTA não
temos uma norma equivalente ou que nos remeta para o CPC daí a importância da segunda parte do
artigo da Lei 91/2019 que prevê a possibilidade de recurso no caso de um Tribunal Central
Administrativo julgue incompetente um tribunal administrativo de círculo ou um tribunal tributário
por a causa pertencer ao âmbito de jurisdição dos tribunais judiciais porque para estarmos perante
conflitos de decisão temos que estar perante uma decisão de exceção dilatória existindo
oportunidade de recurso e, por exemplo, se o Tribunal Administrativo de 1.ª instância se julga
competente para apreciar a questão e uma das partes não concorda e recorre para o Tribunal
Central Administrativo dizendo que há uma exceção dilatória que impediria o conhecimento de
causa faltando competência em razão da jurisdição e o TCA vem-se pronunciar pela incompetência
do Tribunal Administrativo e a outra parte, não concordando, também pode recorrer para o Tribunal
de Conflitos e não para o STA por ser uma questão de jurisdição.
Legitimidade
Leitura do texto da autoria do Dr. Francisco Paes Marques “A legitimidade processual activa no
Contencioso Administrativo” nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume I
Leitura do texto da autoria do Dr. Domingos Soares Farinho “A legitimidade popular no contencioso
administrativo português” nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume I
Leitura do texto da autoria do Dr. Ricardo Pedro “A representação do Estado pelo Ministério
Público” nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume I
Leitura do texto da autoria do Dr. Paulo Dias Neves “A defesa da legalidade pelo Ministério Público”
nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume I
Falamos de legitimidade ativa (artigo 9.º do CPTA) quando alguém pode ser parte na relação
material controvertida par afazer valer uma posição jurídica e de legitimidade passiva (artigo 10.º do
CPTA) pode ser réu é poder ser parte na relação material controvertida, mas para contradizer a
posição do autor. Quando impugnamos um ato ou uma norma, o réu é o autor do ato ou da norma,
mas esse ato regula muitas vezes uma relação poligonal ou multipolar na qual intervêm não só a
Administração que emana o ato e o autor destinatário do ato, mas também pessoas com interesses
contrapostos aos do autor – os contrainteressados – porque há um ato multilateral, por exemplo, a
posse global em que a relação dos contrainteressados é particularmente evidente ou alguém
constrói algo que me tapa a vista para o mar, a pessoa que tem a licença de construção é titular de
um interesse da manutenção desse ato, quem emanou esse ato poderá vir ser chamado a juízo e
quem vai pôr a ação é a pessoa que tem o apartamento cuja vista vai ficar tapada, logo, temos três
polos: autor (dono do apartamento), réu (quem emite a licença) e o dono da nova construção. Este
último pode e deve intervir no ato porque ele quer manter o ato que o outro quer destruir, este
vértice vai gerar um autor, um réu e um contrainteressado (artigo 10.º, n.º 1 do CPTA) que vai estar
do lado da Administração ré, mas não será o réu principal pois não foi ele que emitiu o ato
administrativo porque o objeto do processo é o ato administrativo.
Sem legitimidade não há causa da parte do autor, nem condenação do réu sendo, por isso, uma
exceção dilatória designadamente a falta de identificação dos contrainteressados (artigo 89.º, n.º 4,
alínea e) CPTA), gerando a absolvição da instância.
Há várias situações no CPTA que são especiais em sede de legitimidade ativa que prevalecem sobre o
artigo 9.º e 10.º do CPTA como, por exemplo, nos pedidos sobre atos e nos pedidos de condenação
na prática de ato há normas especiais, já nos pedidos sobre comportamentos (ações ou omissões)
não há nada no CPTA que nos diga qual a parte legítima para propor essa ação sendo de aplicar o
artigo 9.º, n.º 1 do CPTA.
Interesse em agir
A Regente diz que há estaticidade na legitimidade e dinâmica no interesse em agir.
O interesse em agir tem a ver com uma certa utilidade no acesso à justiça, ou seja, tem de ser uma
utilidade atual e direta que o acesso à justiça pode remeter.
Enquanto a legitimidade tem a haver com uma certa posição da parte perante a relação material
controvertida e no acesso à lide, já o interesse em agir tem a ver com a utilidade ao acesso à justiça
A Regente diz que no artigo 89.º do CPTA, nas exceções dilatórias, não autonomiza o interesse em
agir, mas devemos ter legitimidade e interesse em agir. Se faltar interesse em agir, mas não faltar a
legitimidade, pode-se considerar in totum que a legitimidade não está preenchida e pode haver
absolvição do réu da instância.
Na prática, pode haver legitimidade e ainda não haver interesse atual e o Juiz considera que a ação
deve, ou não, proceder (artigo 54.º do CPTA). Os atos administrativos só podem ser impugnados a
partir do momento em que produzam efeitos e a notificação é condição de eficácia para os atos em
concreto (a publicação para as normas e deliberações gerais e abstratas) e enquanto um ato não for
eficaz ninguém será obrigado ao seu cumprimento e, por isso, ninguém tem interesse em impugnar
um ato se ainda não é eficaz pois ainda não está a criar lesão, porém o n.º 2, alínea a) vem precaver
as situações em que a Administração não notificou o ato ao particular, mas foi logo executá-lo, logo,
a relação já existe (há legitimidade, aparentemente não há interesse em agir pois não há efeitos
jurídicos a serem produzidos, mas há efeitos materiais e, portanto, podem ser admitidos a juízo,
logo, a condição da legitimidade que deve ser associada à utilidade (n.º 1) pode ter exceções (n.º 2).
No artigo 54.º do CPTA ainda não há interesse, mas se formos ao artigo 56.º do CPTA há uma
situação em que já não há interesse pois a pessoa foi notificada, continua a ser parte na relação, mas
não tem interesse pois renunciou à litigância aceitando o ato, no entanto, só vale para atos
anuláveis, não nulos pois são tao radicalmente ilegais que a sua invalidade pode desencadear por
qualquer pessoa ou entidade e, portanto, não há maneira de o aceitar.
Quando é que nunca há interesse nos termos de utilidade para uma determinada esfera jurídica?
Na ação pública, pois, o MP não tem nenhum proveito no interesse porque é uma instituição e não
um polo de direitos e deveres, tal como na legitimidade popular (artigo 55.º, n.º 2 do CPTA que tem
uma projeção no artigo 73.º, n.º 1, alínea b) do CPTA) pois quer para atos quer para normas pode
haver legitimidade pública autárquica. Na legitimidade pública não tem que haver interesse só tendo
que haver esta ideia de ser parte numa relação material ou numa posição controvertida e também
não tem que existir essa utilidade no caso de autocontrolo da legalidade promovido pelos
presidentes dos órgãos colegiais (artigo 55.º, n.º 1, alínea e) e 73.º, n.º 1, alínea c) do CPTA) pois esta
pessoas não têm nenhuma utilidade ou proveito, agem si em defesa da legalidade.
Legitimidade popular
É uma legitimidade alargada e abrange os interesses meta individuais (particularidade do objeto), o
que a Doutrina chama de interesses difusos, e de bens do Estado atuando em ações urgentes ou não
urgentes, quer em via declarativa ou executiva e quer em via principal ou em via cautelar.
O artigo 9.º, n.º 2 do CPTA tem filiação no artigo 52.º, n.º 3, alínea a) da CRP. A alínea a) e b)
aparecem aqui associadas tendo uma ideia de legitimidade alargada porque o autor não tem de
demonstrar que tem interesse pessoal naquela demanda pois não é exclusivo da sua esfera pessoal,
ou seja, tem que demonstrar que tem interesse, mas não é o pessoal.
O artigo 9.º, n.º 2 do CPTA também tem uma remissão para a Lei de Ação Popular (Lei 83/95, de 31
de agosto que surgiu na sequência da revisão constitucional de 1989) e esta lei abarca vários
fenómenos, desde logo, na legitimidade porque o que está em causa são interesses idênticos, mas
não tem SÓ a ver com interesses difusos pois é uma legitimidade alargada de autores que estão a
defender determinados interesses, mas em alguns verifica-se a legitimidade alargada pois não há um
interesse direito, mas há outros interesses defensáveis por esta lei que, em contrapartida, são
interesses individuais ou coletivos, mas que se defendem nesta Lei por razões de eficiência do
processo.
Os interesses difusos são os que se encontram no artigo 1.º, n.º 2 da LAP que é uma dimensão da
legitimidade popular e ela tem de ser popular porque estes interesses são meta-individuais, mas há
realidades que não sendo interesses difusos, são direitos individuais homogéneas que podem ser
direitos de personalidade ou direitos patrimoniais e esta ideia de direitos individuais homogéneos
tem que ver com a proteção da saúde ou com a tutela do consumidor e movimentam-se no âmbito
desta lei as pessoas são afetadas por consequências decorrentes pela mesma fonte de risco e isso
identifica-as, por exemplo, alguém pega na causa da saúde pública, mas sobretudo a saúde de
centenas de pessoas que ficaram doentes porque beberam água de uns lenções freáticos, portanto,
havia centenas de km de contaminação e os detritos vinham de uma bacia de lançamento de
detritos tóxicos de uma fábrica que fechou e não selou o curso de água e estas pessoas,
remotamente teriam interesses meta-individuais, mas estavam em primeira linha a defender o seu
direito à saúde sendo direitos individuais homogéneos porque a lesão provém da mesma fonte de
risco não sendo defesa do ambiente enquanto interesse meta-individual porque os resultados desta
ação vão-se refletir diretamente em cada uma das esferas jurídicas de cada uma daquelas pessoas
representadas pelo mesmo Advogado.
Uma das dificuldades desta Lei é que quis abarcar as duas situações (interesses difusos e
homogéneos) quando eles são diferentes (duas posições jurídicas a serem defendidas pelo mesmo
instituto) porque se um autor intentar uma ação para defender um interesse difuso a indemnização
é da coletividade, mas se um autor popular for defender um direito homogéneo irá provar o seu
dano e será ressarcido com uma indemnização, logo, do ponto de vista da ação parece idêntico, mas
o resultado já não é, sobretudo se existir indemnização e o artigo 15.º e 19.º da LAP só fazem
sentido para os direitos individuais homogéneos, já os outros aplicam-se aos interesses difusos e,
porventura, aos direitos individuais homogéneos.
A segunda dificuldade tem a ver com a ausência do MP, pois vemos o MP no artigo 9.º, n.º 2 do
CPTA, mas não na LAP a não ser no artigo 16.º sob uma legitimidade derivada (quando o autor quiser
desistir e pretender assumir a posição do autor) pois como o MP não participa nos procedimentos
administrativos, mas sim em ações judiciais, faz sentido que o MP intervenha em defesa de
interesses meta-individuais que são públicos e coletivos em simultâneo, mas já não faz sentido que o
MP coloque ações para defesa de direitos individuais homogéneos.
Quais são os artigos que se interessam particularmente para a tutela de interesses difusos?
Há artigos específicos para a tutela de interesses difusos como o artigo 13.º da LAP e, ultimamente,
já há grupos de pessoas que põem ações populares no âmbito do petróleo, lítio, carvão. O artigo
13.º da LAP é uma batalha de contenção no que toca à defesa de interesses difusos, entrando
também a ideia de interesse, não de interesse direto porque nunca vai haver, mas sim um interesse
meta-individual atual e, na caraterização de atual, os Juízes têm sido bastante exigentes exigindo
que a pessoa seja cidadã, que a pessoa caracterize o interesse que está a reivindicar e que caraterize
a lesão atual ou iminente porque como a porta da justiça está muito aberta tem que existir medidas
de contenção para este acesso devendo ser consistente não podendo ser uma litigância abusiva.
Outro exemplo que se explica por força da natureza do objeto nos interesses difusos tem a ver com
os poderes inquisitórios do Juiz (artigo 17.º da LAP) cabendo ao Juiz a iniciativa própria em matéria
de recolha de prova podendo fazendo diligências de prova mesmo que as partes não requeiram
podendo desequilibrar a posição do autor que está a representar o interesse e, portanto, acaba por
não existir um desequilíbrio porque o autor está em defesa de uma coletividade (interesse meta-
individuais). Outro exemplo é o artigo 18.º da LAP que serve para evitar a lesão do interesse meta-
individual no caso do recurso.
Estas três normas não se podem perceber sem se ler o artigo 14.º da LAP que tem um regime
especial de representação processual que é uma representação atípica tratando-se de uma pessoa
que fala por um conjunto de pessoas cujos nomes podem, ou não, estar indicados na PI, por
exemplo, há 1000 lesados e podem-se indicar só 20, mas esses 20 estão a falar pelos outros e o
advogado não tem de estar revestido por uma procuração de cada um dos 1000, nem dos 20, tem
de estar a falar pelas pessoas com base no artigo 14.º da LAP e serão os 1000 que já foram lesados e
todos os outros que poderem vir a ser.
Ação pública
O artigo 9.º, n.º 2 do CPTA, além da legitimidade popular para defesa de interesses difusos, fala
também do exercício da ação pública, ou seja, o MP que é a única entidade que não tem de
caracterizar um interesse atual quando vai à lide em defesa de interesses difusos, isto porque ele
atua em defesa da autoridade porque o interesse dele é a defesa da legalidade.
O MP tem, no contencioso administrativo, esta primeira dimensão que dá ao contencioso
administrativo uma feição demarcadamente objetivista que é a ideia de que o MP
independentemente de ter interesse, independentemente de ter pessoas a concordar ou a discordar
com ele, independentemente da sua atuação poder beneficiar 100, 200 ou 1000 ou ninguém, pode
defender a legalidade nos Tribunais Administrativos (caraterística puramente objetivista do sistema),
mas o sistema não deixa de ter querelas subjetivistas, como o artigo 9.º, n.º 1 do CPTA.
O MP, a par do artigo 9.º, n.º 2 do CPTA, aparece em inúmeras disposições como o artigo 55.º, n.º 1,
alínea b); 68.º, n.º 1, alínea b); 73.º, n.º 1, alínea b), 77.º, n.º 1, alínea b) do CPTA, etc.
Assim, o artigo 62.º do CPTA vale para a substituição do autor pelo MP em caso de impugnação de
atos; no caso de impugnação de normas e, portanto, o MP tem ação pública originária e tem ação
pública superveniente no contencioso administrativo.
Também tem em sede de providências cautelares (artigo 122.º, n.º 1 do CPTA), tem também em
sede de processo executivo de recurso em variadíssimas disposições como o artigo 164.º, n.º 1 do
CPTA para a ação executivo ou 141.º, n.º 1 do CPTA em sede de recurso jurisdicional quando não
seja autor na decisão proferida porque quando é autor obviamente que tem legitimidade para
recorrer.
Legitimidade plural
O CPTA não é eloquente em determinadas figuras, por exemplo, não ouvimos falar de litisconsórcio
no CPTA tendo que ir buscar esta ideia ao CPC (artigo 1.º do CPTA e 32.º e 33.º do CPC).
É normal que o CPC ajude os “outros processos” quando necessitem. Pode existir litisconsórcio
necessário ou voluntário, ativo (os autores reúnem-se com um mesmo pedido) ou passivo (os réus
são demandados em função do mesmo pedido).
Litisconsórcio ativo – há várias pessoas abrangidas por um mesmo ato podendo haver um autor a
representar os demais ou vários autores, mas o pedido é o mesmo porque é, por exemplo, a
declaração da invalidade de determinado ato que tem ramificações para várias pessoas.
Litisconsórcio passivo – é o mesmo pedido, mas vários demandados, por exemplo, os atos
complexos como um parecer vinculativo em que devem estar em juízo os autores da decisão e do
parecer vinculativo podendo ser da mesma pessoa coletiva ou de pessoas coletivas distintas.
Existe ainda a figura de intervenção de terceiros (artigo 1.º, n.º 1 e 10.º, n.º 10 do CPTA e 311.º e
seguintes do CPC articulando-se com o artigo 4.º, n.º 2 do ETAF (vínculos de solidariedade, contratos
de seguro) em que existe outra entidade pública que intervém ou por interesse direto do autor ou
mesmo no interesse do réu.
Há três tipos de pedidos possíveis sobre atos e a referência inicial é a do artigo 37.º, n.º 1, alínea a),
b), c) do CPTA:
O pedido condenatório;
O pedido de condenação à não emissão do ato;
O pedido condenatório à emissão do ato.
A regra do artigo 58.º do CPTA é o prazo de três meses para os autores singulares, para os autores
populares e pessoas coletivas privadas ou públicas e de um ano se for promovido pelo MP (o MP
pode mover uma ação pública de um ato anulável até um ano após a sua notificação aos
destinatários ou publicação). O que significa que há uma precariedade do sujeito a quem é dirigido
um ato administrativo anulável se o ato for favorável pois a invalidade do ato pode ser arguida até
um ano pelo MP e esta norma casa com a norma do CPA que determina a anulabilidade dos atos
pela administração (artigo 161.º do CPA), portanto, quando é a Administração a anular atos poderá
fazê-lo até um ano que é o mesmo prazo que o MP tem para os impugnar em juízo, mas os
interessados deverão apresentar esta ação num prazo de três meses (artigo 58.º do CPTA).
A partir de quando?
O artigo 59.º do CPTA diz-nos que começa a partir da data da notificação ao interessado ou ao seu
mandatário, quando este tenha sido como tal constituído no procedimento, ou da data da
notificação efetuada em último lugar caso ambos tenham sido notificados
O n.º 3 do artigo 58.º do CPTA abre algumas situações especiais ao n.º 1 do mesmo artigo em que,
na verdade, não podemos contar apenas com três meses podendo dar-se alguma circunstância
particular que estenda o prazo para além dos 3 meses:
Justo impedimento, nos termos previstos na lei processual civil – sendo necessário
demonstrar ao Juiz que o pedido tem de ser apresentado além do prazo regra da alínea b);
No prazo de três meses contado da data da cessação do erro quando se demonstre no caso
concreto que não era exigível a um cidadão normalmente diligente, portanto, o cidadão
destinatário do ato foi induzido em erro pela Administração, mas, entretanto, apercebe-se
de que está ali um ato que ele deve contestar judicialmente e, uma vez demonstrado que foi
induzido em erro pela Administração ao Juiz, pode estender-se além do prazo de três meses
sendo necessário provar que a pessoa foi induzida em erro pela Administração e, por isso,
deixou passar o prazo;
Quando ainda não tendo decorrido um ano sobre a data da prática do ato e o atraso seja
considerado desculpável e aqui não se trata de o cidadão ter sido induzido em erro pela
Administração, mas ele estar em erro desculpável relativamente ao prazo de apresentação
do pedido impugnatório.
NOTA: todas estas alíneas têm pressupostos particulares sendo certo que a que mais
flagrantemente quebra o prazo de estabilidade do ato é a alínea b) pois o particular pode demorar
mais de um ano a perceber que estava em erro significando que fica para adiante, tendo que ser
demonstrado na PI porque senão o Juiz considera que caducou o direito de ação (artigo 89.º do
CPTA).
Há um quarto pressuposto processual relativamente ao pedido impugnatório que tem que ver com
a impugnabilidade do ato (artigo 89.º, alínea i) do CPTA), ou seja, o ato tem de ser suscetível de ser
apreciado pelo Tribunal e esta ideia é aferível de acordo com uma pauta que decorre de vários
artigos como o artigo 50.º; 51.º; 52.º (artigo 268.º, n.º 4 da CRP – irrelevância da forma do ato não
interessando o que a Administração chama ao ato pois o que interessa é o conteúdo regulatório do
ato); 53.º; 54.º (é diferente falar de legitimidade e falar de interesse – quando se aceita o ato deixa
de haver interesse embora se continue a ser parte legítima e, neste artigo, ainda não há interesse
porque o ato ainda não foi notificado e, por isso, supostamente ainda não é eficaz) e 56.º do CPTA.
Parece ser o artigo 51.º do CPTA a dar-nos todas as respostas (este repercute o artigo 148.º do CPA)
pois um ato administrativo é um ato emitido no exercício de poderes jurídico-administrativos que
visa produzir efeitos externos numa situação individual e concreta e um ato impugnável tem estas
características produzindo efeitos jurídicos porque é suscetível de produzir lesão.
O artigo 51.º, n.º 2 e 3 do CPTA diz-nos que as decisões administrativas impugnáveis são as decisões
que definem a situação jurídica do particular em face da Administração como última palavra, ou
seja, não interessa estar a impugnar um parecer vinculante sem a sua homologação pois é essa que
vai ser notificada ao particular e é a partir daí que se sentem os efeitos, assim, o particular tem de
esperar que seja notificado o ato pois só aí é que se começam a sentir os efeitos lesivos.
Por outro lado, há atos que não são atos finais do procedimento, mas revelam-se atos finais para
determinados componentes que são aqueles atos que decidem se a pessoa entidade é, ou não,
admitida ao concurso (critérios de exclusão) e essas exclusões não são os atos finais do
procedimento, mas para as pessoas que ficaram pelo caminho esses atos são os finais (atos
destacáveis) havendo uma situação diversa, pois só será um ato final para certas pessoas podendo
impugnar esse atos e o n.º 2 e 3 do artigo 51.º do CPTA admitem estas exceções sendo necessário
demonstrar em Tribunal o porquê de se estar a impugnar um ato que ainda aterá desenvolvimentos.
O artigo 51.º, n.º 4 do CPTA confronta-se com o artigo 66.º, n.º 2 do CPTA que são um espelho
porque antigamente o contencioso era puramente cassatório (antes desta Lei, a única coisa que os
particulares podiam pedir ao Juiz era que anulasse o ato). Quando passámos para o contencioso
condenatório as coisas mudam de figura, pois o particular passa a poder exigir da Administração que
esta pratique um determinado ato devido. O artigo 13.º do CPTA e 266.º da CRP fala do princípio da
decisão – a Administração existe para servir o interesse público dos particulares, existe para exercer
a autotutela declarativa, para confirmar posições jurídicas.
Estes artigos (51.º, n.º 4 do CPTA e 66.º, n.º 2 do CPTA) aproximam-se, pois, quando fazemos um
pedido queremos que o Juiz administrativo anule um ato, mas obrigue a Administração a pôr lá
aquele que consideramos que é devido, podendo acontecer que a Administração não se tenha
pronunciado, mas também pode acontecer que ela nos diga “não” mesmo sendo um “não” inválido
e, então, temos de conseguir eliminar o “não” e pedir ao Juiz que elimine essa decisão e ponha o
que achamos que é mais compatível com a legalidade.
Também podem existir situações em que pretendemos que a Administração retire o ato que
praticou, ou seja, que retire em vez de o substituir e o artigo 51.º, n.º 4 do CPTA leva-nos para essa
ideia, ou seja, convida o autor a substituir a petição se for do seu interesse porque o interesse do
autor pode ser anulatório e não de substituição e trata-se de um convite à substituição, não é uma
obrigação. Isto liga-se ao artigo 66.º, n.º 2 do CPTA porque se há um ato de indeferimento e o autor
não quer a sua anulação, mas vai diretamente ao pedido condenatório, esse pedido de anulação do
ato de indeferimento é implícito porque ele só pode pedir a condenação quando for removido o ato
de indeferimento, mas se ele não pede expressamente o ato de indeferimento é como se pedisse,
porque para obter a condenação, implicitamente ele tem de remover o que está no lugar do ato que
ele entende ter direito, logo, nesta perspetiva a ideia é o outro lado do espelho porque enquanto no
artigo 51.º, n.º 4 do CPTA se só se pediu a anulação o Juiz vem perguntar se realmente é só a
anulação que se pretende, já no artigo 66.º, n.º 2 do CPTA a anulação é implícita ao pedido da
condenação.
Quando se faz um pedido anulatório pode querer-se a substituição, mas pode não ser o caso pois
não é obrigatório.
A impugnabilidade dos atos, a propósito do artigo 53.º do CPTA, pretende evitar fraudes ao
pressuposto da tempestividade da apresentação das ações, por exemplo, um ato através do qual se
impõe ao particular que haja a demolição de um muro que ele construiu já em propriedade pública,
ou seja, a CM diz que ele tem de demolir o muro e notifica o particular desta situação dando trinta
dias para o fazer, mas ele não o faz e a Administração volta a dirigir o mesmo ato dando mais quinze
dias.
Qual é o ato impugnável?
Se o particular quiser sindicar a validade da ordem de demolição é o primeiro ato e, portanto, são
três meses após a notificação do primeiro ato que ele deve ter em consideração pois o segundo ato
é reiterativo ou confirmativo como diz o artigo 53.º do CPTA porque o ato diz exatamente o mesmo,
logo, se não for nesses três meses caduca o direito de ação.
Pedidos de condenação à prática de atos devidos (artigo 37.º, n.º 1, alínea b) do CPTA)
Este artigo tem um radical no artigo 268.º, n.º 4 da CRP
O artigo 66.º, n.º 2 e 51.º do CPTA têm uma relação pois o autor quer que a Administração pratique
um ato lícito (e não o ato de indeferimento). Quando há um ato de indeferimento tem de ser
removido, mas o pedido principal é a condenação à prática de um novo ato (lícito), logo, pode
deduzir o pedido anulatório, assim, esta ação de condenação à pratica de ato devido, muitas vezes,
tem um pedido implícito e o que este artigo 66.º, n.º 2 do CPTA refere é que o autor quer
diretamente a condenação à prática do ato devido, mas há que remover o obstáculo que é o ato de
indeferimento e o silêncio que se interpôs havendo um pedido anulatório implícito aos pedidos
condenatórios.
O artigo 66.º, n.º 1 do CPTA diz-nos que esta ação serve para condenar a prática do ato (a ação é
sempre a mesma, administrativa, os pedidos é que podem ser de ordem diversa) e obter um ato que
foi expressamente recusado ou tacitamente recusado caso não se obtenha resposta.
Esta ação relembra um artigo do CPA anterior que é o símbolo do indeferimento tácito, era uma
ficção criada pelos franceses, e o que agora temos no CPA é um dever de decidir. Quando a
Administração é solicitada a responder a uma pretensão do particular e não o faz não se forma uma
ficção de ato negativo, cria-se um incumprimento do dever de decidir e combate-se com este artigo,
por isso é que até ao surgimento do CPA de 2015 se dizia que essa norma do CPA anterior tinha sido
tacitamente revogada (a norma do indeferimento tácito) porque não era necessária, não era preciso
ficcionar-se o ato a partir do silêncio, por ser uma inação da Administração, ou seja, trata-se de um
dever que a Administração tem nos termos da CRP e do artigo 13.º, n.º 2 do CPA visando evitar que
uma pretensão seja enviada pelo mesmo particular sob a mesma matéria quadro jurídico até ao
espaço temporal de dois anos (o primeiro pedido é indeferido tendo a Administração o dever de
responder e, neste caso respondeu “não”, mas se o particular no dia seguinte voltar a apresentar o
mesmo pedido, ela deixa de ter o dever legal de decidir).
A prorrogação do silêncio já não existe, ou seja, se a solução da Lei for a valoração positiva do
silêncio não há tecnicamente um incumprimento do dever legal de decidir sendo diferentes as
opções do particular perante uma situação de silêncio que não tem nenhuma valoração positiva
evitando-se que se peça ao Juiz para condenar a Administração a tomar uma posição diferente,
usando-se esta ação.
Outra coisa, é se da Lei resultar a valoração positiva do silêncio, por exemplo, no Direito do
Ambiente, se for pedida a declaração de impacto ambiental e passar o prazo é como se fosse
emitida pois existe um diferimento tácito da declaração do impacto, mas contra isso o particular não
tem interesse em manifestar-se pois uma valoração positiva é sempre uma vantagem para o
particular, para o seu destinatário, embora as associações ambientalistas não achem piada. Aqui não
se interpõe uma ação de condenação à prática do ato pois este já existe, então, para se reagir tem
que se impugnar.
A Administração não decide, pois, a Lei dá a benesse de ela não decidir e a Lei dizer sim, assim, o
destinatário do ato tem uma vantagem e a relação jurídica fica conformada, logo, o interesse não é
do destinatário pois ele esta confortável, mas sim dos autores que se querem opor, não indo pela
condenação à prática, mas sim pela impugnação (é um verdadeiro pedido impugnatório).
Os particulares têm um mecanismo que obriga a que o processo feito pela Administração seja
mostrado ao juiz, “mostrar o jogo”.
O incumprimento do dever de decidir gera um pedido condenatório e a emissão de um ato tácito de
diferimento gera um pedido impugnatório.
O artigo 66.º, n.º 3 do CPTA diz-nos que um ato pode ter um conteúdo misto podendo o particular
pedir três coisas e, se forem concedidas apenas duas, e o particular quiser obter a terceira pode
interpor uma ação para a condenação à prática de ato devido, pois, o artigo 66.º, n.º 1 do CPTA diz
que é possível e o artigo 66.º, n.º 3 do CPTA diz que se o interessado quiser também pode impugnar
a situação (os pedidos impugnatórios aparecem aqui implicitamente). O artigo 66.º, n.º 3 do CPTA
tem a pequena nuance de que se há alguma para pedir, também se pode impugnar pois não foi
aquilo exatamente que pediu o particular.
A intenção da reforma 2002/2004 foi assegurar a tutela jurisdicional efetiva e para toda a pretensão
corresponde uma via especial.
O particular é que tem de pedir a condenação à prática de ato devido pois ele é que entende ser
devedor dele, ou seja, sem pedido prévio, não se realiza podendo acontecer uma, de três situações,
podendo-se apresentar este pedido mediante o Tribunal Administrativo.:
Não tenha sido proferida a decisão dentro do prazo (vazio);
Quando existir indeferimento (posição expressa contrária);
Prática de um ato positivo, mas que não seja exatamente o que o interessado pretende .
O artigo 67.º, n.º 4 do CPTA refere que pode haver condenação sem que tenha sido apresentado
requerimento, excecionando o n.º 1:
a) Não tenha sido cumprido o dever de emitir um ato administrativo que resultava diretamente
da lei – a Regente refere que esta alínea é deficitária porque cumpre aqui fazer uma
precisão pois fala-se de ato quase totalmente vinculado, resulta da Lei, ou seja, o sentido do
ato decorre da Lei, mas também tem de decorrer da Lei o prazo para a prática do ato e, se
não decorrer, tem de convocar a Administração, mas se a Lei diz o prazo e ele não aparece, o
particular teria de convocar a Administração para que ela praticasse o ato. O ato tem de
resultar da Lei, ele não tem de apresentar requerimento só tem de dizer ao Juiz que o prazo
é X e pedir que se convoque a Administração tendo o particular que esperar que a
Administração “entre em mora”;
b) Se pretenda obter a substituição de um ato administrativo de conteúdo positivo – o
requerimento já foi apresentado e o ato já foi praticado, mas não foi o desejado e, por isso,
não é preciso um novo pois ele já existe tendo sido praticado um ato positivo, mas apenas
parcialmente positivo.
O artigo 69.º do CPTA articula-se muito com o artigo 67.º do CPTA pois, para as situações que
resultam do artigo 67.º, n.º 1, alínea a) e b) do CPTA, há silêncio ou indeferimento expresso e na
alínea c) há um ato que não é pleno na situação do particular e o artigo 69.º do CPTA fala disso e, a
partir daí, aplicam-se os artigos 58.º, 59.º e 60.º do CPTA em caso de impugnação da situação
imperfeita (três meses após a notificação com regra).
O artigo 69.º, n.º 1 do CPTA que refere o prazo de um ano liga ao artigo 67.º, n.º 1, alínea a) do
CPTA. O artigo 69.º, n.º 2 do CPTA liga ao artigo 67.º, n.º 1, alínea b) e c) do CPTA e, em última
análise, há atos e temos de respeitar os prazos do artigo 58.º do CPTA (quanto à tempestividade).
Relativamente à legitimidade, o artigo 68.º do CPTA é parecido com o artigo 55.º do CPTA, só se
afastando quando se fala em MP.
O artigo 68.º do CPTA qualifica as situações em que o MP pode efetivamente intervir e legitimidade
na competência funcional do MP para deduzir pedidos difere dos pedidos impugnatórios para os
pedidos condenatórios, pois no pedido condenatório é mais subjetivista (alguém que apresenta o
requerimento e tem um interesse perante a Administração querendo a ajuda do Juiz) enquanto no
pedido impugnatório é algo que surge no ordenamento jurídico e o MP pode erradicar o
ordenamento sendo mais amplo o seu poder aqui.
O artigo 71.º do CPTA fala do terceiro pedido e relaciona-se com o artigo 37.º, n.º 1, alínea c) do
CPTA (condenação à não emissão de ato) e, tendo a Administração o dever legal de decidir,
compreende-se isto por ser uma inovação do Código com base na Lei processual alemã.
Não tendo o legislador regulado os requisitos, quanto aos pressupostos, temos que ir buscar as
disposições genéricas quando pensamos na parte legítima (artigo 9.º e 10.º do CPTA).
Quanto à competência do Tribunal será o mesmo Tribunal que cria competência para ajuizar do
mesmo ato administrativo (artigo 16.º ou 20.º do CPTA).
Relativamente à tempestividade só há interesse em acionar um pedido destes quando a
Administração ainda não se pronunciou e, na verdade, estes pedidos não têm prazo podendo a ação
ser proposta a todo o tempo enquanto haja interesse (artigo 41.º do CPTA) e são os pressupostos
que clarificam o interesse do autor, por um lado, é provável a emissão de atos devidos de direitos ou
interesses legalmente protegidos e, por outro, a via seja imprescindível. A Administração prepara-se
para um ato que vai causar lesão e a utilização desta via é excecional, ou seja, só se recorrer a ele se
não houver outro no Código.
As situações em que ocorre são nos atos em massa e o artigo 48.º do CPTA esclarece que se prende
com a emissão de atos baseados na mesma norma, ou seja, o mesmo quadro dirigido a 30,800 ou
10000 pessoas tendo destinatários diferentes. A e B recebem a notificação e são lesados e K, U, M
ficam receosos de serem afetados pois estão numa situação igual. Assim, é uma situação que se
pode qualificar o interesse pelo artigo 39.º, n.º 2 do CPTA existindo um juízo de prognose
relativamente à atuação da Administração até aí (podendo dar-se por efeito da Lei ou da norma),
por exemplo, podem ser destinatários de atos em execução de uma determinada norma
administrativa, mas não é a Lei e sim uma norma.
É preciso demonstrar ao Juiz com base de argumentos de evidência para este pedido.
O artigo 60.º do CPTA aplica-se quando há notificação de um ato, mas é uma notificação vazia
porque o destinatário não percebe o que está a ser decidido, ou seja, não se percebe como o órgão
chega à decisão, podendo existir um défice de fundamentação da qual o particular não entende o
porquê da notificação.
O particular está despossuído da base essencial de pedir o que quer que seja ao Tribunal, logo, o
particular tem de ter tempo de pedir informação necessária para intentar a ação e o artigo 60.º, n.º
2 do CPTA diz isto mesmo existindo duas fases: 1. Se a Administração notificou deficientemente a
primeira pessoa, a quem o particular se dirige é a Administração; 2. Se a Administração continua a
não fornecer os elementos pode recorrer à via judicial através das intimações.
Os três meses do artigo 60.º, n.º 3 do CPTA que o particular teria a contar contra si a partir da
notificação não contam e a diferença para o artigo 50.º, n.º 5 do CPTA é que o prazo não se
suspende, mas sim interrompe-se, logo, não corre.
O artigo 62.º do CPTA menciona uma ação pública substitutiva de um autor que tenha desistido
porque tem de ser prosseguida a ação, nos termos do interesse público.
O artigo 63.º do CPTA remete para o artigo 70.º do CPTA (alteração da instância) que ocorre quando
se tem determinado objeto, mas com o tempo, vai-se transformando objetivamente/ampliando
podendo a Administração anular parte do ato e pedir a anulação do resto amplia-se o objeto
porque há atos subsequentes, ou seja, reduz o pedido, mas amplia-se o objeto (cadência de atos) e,
muitos desses atos, vêm descritos nos artigos 64.º e 65.º do CPTA. O artigo 64.º do CPTA relaciona-
se com o artigo 167.º e 168.º CPA, mas este é de efeitos retroativos e o artigo 65.º do CPTA fala em
efeitos não retroativos.
Se há atos com efeitos retroativos, o segundo ato (o ato secundário (o revogatório)) vai lá atrás ao
tempo da prática do ato podendo-o apagar e, ao apagar, o particular pode ficar sem interesse pois a
Administração diz uma coisa e depois com os efeitos retroativos diz outra, tirando o tapete ao
particular e podendo haver responsabilidade por danos, pois, o efeito jurídico desaparece, mas os
danos não e pode haver interesse em prosseguir a ação.
No artigo 65.º do CPTA vale a pena levar o ato secundário em diante, pois o ato é sanado daí para a
frente, mas para trás continuar a produzir efeitos, logo, a ação tem de continuar.
O artigo 71.º do CPTA explica-se na ação condenatória e o Tribunal não pode descrever o sentido e
conteúdo do ato, ou seja, não pode haver discricionariedade.
Está consagrado nos artigos 72.º e seguintes do CPTA e da mesma maneira que o artigo 148.º do
CPA está para os pedidos sobre atos (definição de ato administrativo), aqui enquadra-se o artigo
135.º do CPA (noção de norma) e, embora no caso dos atos se consiga lidar bem apenas com o
artigo 148.º do CPA, já nos caso das normas o CPTA decidiu introduzir mais desdobramentos e o
artigo 135.º do CPA é apenas um ponto de partida porque depois o artigo 73.º do CPTA vem
estabelecer várias diferenças, nem todas atendentes ao mesmo critério.
A ideia de norma tem subjacente o substrato genérico e abstrato que se aplica (tem vocação
aplicativa) num número indeterminável de sujeitos e é isso que caracteriza a generalidade, até pode
haver uma concretização da situação a que a norma se aplica, mas os seus destinatários têm de ser
indeterminados e indetermináveis pois, para haver generalidade, tem que haver indeterminalidade
dos destinatários pois se os destinatários forem conhecidos, determinados ou determináveis são
atos e se forem indetermináveis são normas.
No sentido da ressalva prevista no início da redação do artigo 73.º, n.º 2 do CPTA referente,
expressamente, às normas imediatamente operativas devemos ler o Acórdão do processo 01743/06
do Tribunal Central Administrativo Sul, de 16.10.2008 onde se refere que “decorre do artigo 73.º, n.º
1 e 2 do CPTA que, para obter a declaração de ilegalidade da norma com força obrigatória geral
independentemente de se tratar de normas imediatamente operativas ou de normas mediatamente
operativas, é necessário preencher o pressuposto estabelecido na parte final do n.º 1, ou seja, que a
aplicação da norma em questão tenha sido recusada em três casos concretos por um qualquer
tribunal.
Estas diferenças têm a ver com os efeitos, mas também com a legitimidade de quem as apresenta ao
Juiz administrativo.
O artigo 73.º, n.º 4, 1.ª parte do CPTA impõe ao MP um dever de pedir a declaração de força
obrigatória geral e estamos sempre a pensar em ilegalidade simples devido à não invasão das
competências do Tribunal Constitucional e só pode referir-se a normas não imediatamente
exequíveis pois as normas imediatamente exequíveis ficam declaradas ilegais à primeira Sentença
com força obrigatória geral (artigo 73.º, n.º 1 do CPTA) e se isso resulta logo da primeira Sentença, o
MP não tem nenhum dever é não é circunscrita ao caso porque essas são as do artigo 73.º, n.º 2 do
CPTA.
Na segunda parte do n.º 4 o MP já está no âmbito de normas imediatamente exequíveis e o sentido
deste excerto da norma é um sistema mais lógico do que o contencioso das normas junto do
Tribunal Constitucional porque, ao nível do Tribunal Constitucional, as pronúncias de
inconstitucionalidade da fiscalização sucessiva concreta nunca podem gerar uma irradicação da
norma porque temos de esperar pela terceira para se pedir a desaplicação com força obrigatória
geral, mas no contencioso administrativo a primeira pronúncia de ilegalidade pode erradicar a
norma efetivamente.
Quem julga estes pedidos é o TAF e a preocupação do legislador é promover um recurso obrigatório
para um Tribunal superior coletivo (TCA) para que se confirme ou infirme (válvula de segurança do
sistema) pois, por um lado, o Juiz de comarca pode erradicar, mas o MP tem de recorrer para o TCA
confirmar se esta norma sai ou não de cena havendo aqui um poder muito importante do MP de
gestão deste sistema e tem haver com a norma ser ou não ser imediatamente operativa.
O momento em que se começa a contar o prazo para impugnação de normas não tem a ver só com a
publicação, mas quando a vacatio legis não corresponde à publicação a partir do momento em que a
norma entra em vigor porque se a lesão é condição de impugnação então temos de ter a norma
publicada e a vacatio cumprida. No entanto, como falámos a propósito dos atos e do interesse em
agir, há atos que podem ser ineficazes do ponto de vista jurídico, mas já estão a ser executados e
nessas situações pode-se impugnar o ato ainda que este não produza efeitos jurídicos, pois produz
efeitos de facto. No caso das normas, pode haver o caso em que esta é publicada, tem uma vacatio
de três meses, numa lógica de impugnação preventiva se a norma vai produzir efeitos e se é ilegal,
demonstrando o interesse processual qualificado, pode-se impugnar a norma preventivamente.
O artigo 37.º, n.º 1, alínea e) do CPTA vai ligar-se ao artigo 77.º do CPTA e, enquanto a propósito da
impugnação temos uma série de artigos, já na condenação e emissão temos um artigo.
Nos pedidos sobre atos temos o pedido impugnatório, o pedido condenatório à emissão e a
condenação à não emissão de atos, mas não encontramos nada semelhante no que subjaz à
categoria das normas. O que existe nas normas é a impugnação, como pedir a declaração de
nulidade de uma determinada norma ou um conjunto de normas ou pedir a condenação à emissão
dessas normas.
Ao contrário no que vimos do artigo 67.º do CPTA em que só se pode propor uma ação para
reclamação de emissão à prática de ato devido depois de apresentar o requerimento e de esse não
ter sido indeferido ou não ter sido dada nenhuma resposta sendo imprescindível a apresentação da
ação para condenação à prática de ato, nas normas não é necessário a apresentação prévia de um
pedido de emissão do regulamento e isso decorre do artigo 137.º, n.º 2 do CPA.
O regulamento tem de ser devido e tem de ser devido de forma expressa ou implícita (a norma
legislativa pode ter um artigo que diz que o órgão X deverá regulamentar esta lei no prazo de X dias
ou sem prazo, ou pode depreender-se do seu articulado que ela não se pode aplicar sem normas
administrativas de aplicação e se não fixar prazo e se não resultar expressamente da Lei, pode
resultar de forma implícita) exigibilidade da emissão da norma seja expressa ou tácita.
Verificado este défice há que encontrar as pessoas que podem apresentar este pedido cujo objeto
foi o vencimento pela condenação à emissão de uma norma legalmente devida nos termos do artigo
137.º do CPA e 77.º do CPTA que, no fundo, terminam com a mesma deixa “é uma norma que seja
necessária para dar exequibilidade a atos administrativos” estando em harmonia. Os sujeitos
também estão aqui identificados tendo, fundamentalmente, as mesmas soluções do artigo 73.º, n.º
1 do CPTA só que condensadas num artigo e não dispersas pelas alíneas:
MP em defesa da legalidade;
As demais pessoas e entidades defensoras dos interesses referidos no n.º 2 do artigo 9.º
autores populares, nomeadamente na defesa de interesses difusos;
Os presidentes de órgãos colegiais, em relação a normas omitidas pelos respetivos órgãos
controlo da legalidade;
Quem alegue um prejuízo diretamente resultante da situação de omissão
Enquanto o artigo 137.º do CPA só fala nos interessados diretamente prejudicados pela situação, o
CPTA elenca mais sujeitos e faz sentido que o MP esteja aqui, mas relativamente ao artigo 137.º do
CPA há uma omissão relativamente a não falar de sujeitos populares no procedimento porque, nos
termos do artigo 68.º do CPA, há legitimidade popular para interesses difusos, portanto, da mesma
maneira que o há também deveria existir.
Estando a legitimidade ativa elencada nos artigos não precisamos de recorrer ao artigo 9.º do CPTA,
quanto à legitimidade passiva será necessário recorrer ao artigo 10.º do CPTA que será o órgão de
competência para a emissão da norma e contrainteressados que possam ficar prejudicados com a
emissão dessa norma e serão chamados ao processo.
No ponto de vista da competência do Tribunal, o Tribunal competente para avaliar a legalidade da
norma omitida será o tribunal competente para avaliar a ilegalidade da norma omitida, tendo a
aferição da legitimidade nos termos dos artigo 16.º e seguintes do CPTA e temos que olhar,
fundamentalmente, para o artigo 16.º ou para o artigo 20.º do CPTA (o artigo 20.º do CPTA tem a ver
com a prática ou omissão de normas e atos administrativos e se não for nenhuma destas entidades,
vamos para o critério geral do artigo 16.º do CPTA).
Assumindo que estamos no âmbito dos TAF´s porque não há omissão de norma por parte de
nenhuma das entidades que está prevista ser sindicada junto do STA (artigo 24.º do ETAF) e não
sendo o artigo 24.º do ETAF será o artigo 44.º do ETAS e temos de aferir a competência territorial.
Relativamente à emissão de normas o artigo 74.º do CPTA diz-nos que o prazo normal é 6 meses
após a data de publicação ou início da vigência da norma, mas aqui não há prazos e, não havendo
prazos, aplicamos o artigo 41.º, n.º 1 do CPTA sendo “a todo o tempo”, mas com prudências, ou seja,
até a norma ser emitida, no momento em que a norma é emitida perde-se o interesse, perdendo-se
o objeto da ação e, sendo verdade que os sujeitos não têm de apresentar requerimento prévio, na
verdade o artigo 77.º do CPTA pressupõe a mora da entidade, ou seja, da mesma maneira que
relativamente à emissão de ato devido pode não ser necessário requerimento se a data de emissão
do ato estiver prescrita na Lei e a partir do momento em que se vence essa data e o ato não aparece,
o sujeito pode pedir à Administração a emissão desse ato, aqui também precisamos de deixar que a
Administração exerça o seu poder regulamentar no prazo, prazo esse que ou está fixado na Lei ou
decorre supletivamente do artigo 137.º, n.º 1 do CPA que são os 90 dias. Assim, o momento pelo
qual se pode apresentar esta ação é depois de a norma existir, ou seja, no dia seguinte ao
vencimento do prazo porque antes de correr os dias é evidente que a Administração não está em
falta, não podendo ser condenada à emissão se não está em falta.
Se a Administração não emite a norma no prazo devido, o particular pode pedir a emissão dessa
norma, mas a norma cuja emissão se está a pedir ao Tribunal que condene a Administração a
proceder, esta norma está ancorada num ato legislativo que deve manter a sua vigência até à
Sentença final porque imaginando que há uma norma legislativa que prevê a emissão de uma norma
administrativa, a norma é emitida pela Administração e, por exemplo, o MP pede ao Tribunal que
condene a Administração à emissão dessa norma, mas o legislador revoga o ato legislativo e ao
revogar é evidente que o objeto da ação de condenação à emissão de norma desaparece porque
não se pode pedir a condenação à emissão de uma norma que tinha a sua raiz numa ato legislativo
que entretanto foi revogado e, nessas situações, o Juiz administrativo não pode condenar a essa
emissão porque falhou o ato que construía a sua emissão. Este é o mecanismo previsto no artigo
45.º do CPTA (modificação do objeto do processo) em que, por exemplo, os sujeitos pediram a
emissão de uma norma administrativa de forma a concretizar os pressupostos de subida na sua
carreira profissional e fizeram investimentos de formação pensando nessa promoção pois a norma é
devida e acordo com o ato legislativo e, depois, o legislador volta atrás e eles ficam com as despesas,
têm prejuízos e podem pedir o ressarcimento dos seus prejuízos. Modifica-se o objeto do processo
porque era um pedido à emissão de normas e se as normas deixam de ser devidas porque
desaparece o ato para essa emissão, o particular fica com os tais danos e, por isso, transforma-se o
objeto do processo num pedido indemnizatório não existindo uma pura e simples inutilidade
superveniente da lide.
Ainda a propósito do artigo 77.º, n.º 2 do CPTA não é, ao contrário do que acontecia antes de 2015,
uma mera Sentença certificativa de apreciação, mas sim uma Sentença condenatória pois o Tribunal
condena a entidade competente à emissão do regulamento e das duas uma: 1. Ou o conteúdo do
regulamento está claramente contido na Lei, no sentido dos atos de execução e, portanto, a
Administração tem uma discricionariedade altamente reduzida, ou seja, há predominância de
vinculação, portanto, não só tem um prazo para dar execução à norma legislativa como tem um
conteúdo típico já determinado no ato legislativo e aí dir-se-ia que a própria Sentença pode
substituir-se à norma devida porque tudo resulta da Lei (hipóteses menos habituais 2. Ou haverá
discricionariedade quanto ao conteúdo e a Administração tem possibilidade de escolher, por
exemplo, os meios através dos quais vai dar execução à Lei e, nesse caso, esta Sentença a que se
refere o artigo 77.º, n.º 2 do CPTA terá de observar os parâmetros a propósito da condenação à
emissão de ato devido do artigo 71.º do CPTA.
Este artigo 77.º, n.º 2 do CPTA não fixa prazo, mas para se chegar aqui a Administração já incumpriu
o primeiro prazo, que pode ser o prazo supletivo dos 90 dias ou pode ser um fixado na Lei, e aqui o
Juiz, na opinião da Regente, não deve fixar um prazo superior do que aquele que resulta do artigo
137.º, n.º 1 do CPA porque a Administração já incumpriu um prazo, seja o supletivo do artigo 137.º,
n.º 1 do CPA ou aquele que é fixado pelo legislador, já tendo tido a sua oportunidade.
A Regente diz ainda que aqui vale ainda a pena introduzir um elemento de flexibilização que decorre
do artigo 95.º, n.º 4 do CPTA que vem acrescentar o elemento de flexibilização dizendo que quando
o Tribunal fixe prazo, em casos justificados o prazo pode ser prolongado (a Administração pode
explicar porque não consegue cumprir), mas por outro lado vem uma referência castigadora de
punição/castigo porque o não cumprimento deste prazo pode levar ao pagamento de sanções
pecuniárias compulsórias nos termos do artigo 169.º do CPTA.
Esta referência cruzada do artigo 77.º, n.º 2 do CPTA com o artigo 95.º, n.º 4 do CPTA ajuda a
compreender e a vencer algumas das opiniões que a Doutrina tinha quanto à formulação do artigo
em 2002/2004.
Não há na Lei o pedido de condenação à não emissão de normas porque ele é excecional e não cabe
aqui, mas a Regente identifica, pelo menos, uma situação em que poderia fazer sentido apresentar
esse pedido que tem a ver com o facto de estarmos a falar de atos legislativos, logo podem conter
normas que são declaradas inconstitucionais, em fiscalização sucessiva concreta e, por exemplo, se
uma norma for julgada inconstitucional em fiscalização sucessiva concreta pode acontecer que o MP
ou qualquer Juiz do Tribunal Constitucional possa promover um pedido de declaração de
inconstitucionalidade com força obrigatória geral, mas enquanto isso não acontece a norma vigora e
surtindo efeitos e aqui faria sentido pedir a não emissão das normas que concretizam essa norma já
julgada inconstitucional num processo destes por três vezes para evitar a multiplicação das situações
ilegais no ordenamento porque se, entretanto, surge a norma administrativa de concretização, os
momentos de aplicação desta multiplicam-se, mas o legislador afastou a hipótese. Já a ideia de que
este pedido só é gerido a propósito de atos legislativos que carecem de normas administrativas de
execução e um défice muito grande porque há muitas normas administrativas que elas mesmas
necessitam de execução e os particulares não têm nenhum meio ao seu dispor para promover essa
condenação.
Pedidos sobre comportamentos omissivos e comissivos (artigo 37.º, n.º 1, alínea h) do CPTA)
Leitura do texto da autoria da Dra. Fernanda Paula Oliveira “A ação sobre (alguns) comportamentos”
nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume II
Aqui cabem Réus de duas naturezas diferentes: a maioria das situações será a Administração, mas
podem existir particulares condenados pelos Tribunais Administrativos em situações de fazer ou
omitir. Não é a única norma do artigo 37.º, n.º 1 do CPTA que fala na condenação à abstenção ou
atuação de comportamentos, já falámos no artigo 4.º do ETAF a propósito da via de facto na alínea i)
e, do ponto de vista da Regente, esta alínea é meramente aclaratória, não vai acrescentar nada ao
que já resultava da alínea h).
Há alíneas que são reconduzíveis às alíneas principais e o legislador fez isso porque quando esta Lei
surgiu em 2002/2004 não havia muita informação e o Código teve que ser explicativo, logo, o
legislador teve que dizer o que tínhamos de fazer redundantemente, ou seja, a partir da alínea h)
estamos a ser redundantes em relação às alíneas anteriores.
Estas ações podem ser deduzidas contra a Administração e contra particulares, nos termos do artigo
37.º, n.º 3 do CPTA, pois os particulares podem ser colaboradores da Administração ou pessoas
comuns. Este artigo vem introduzir no contencioso administrativo a possibilidade de existirem ações
sob pessoas comuns/particulares desde que reunidos os pressupostos descritos. Estando reunidos
os pressupostos, o particular com interesse pode apresentar esta ação nos Tribunais Administrativos
podendo abranger ações a fazer algo ou deixar de fazer qualquer coisa e, portanto, a ligação a estes
particulares a que se refere a alínea h) passam pelo artigo 37.º do CPTA (o alvo a abater é o privado).
O que acontece no artigo 37.º, n.º 3 do CPTA será o litisconsórcio passivo em que o réu principal é o
particular (condenado a fazer ou deixar de fazer) e a Administração aparece ao lado (a Regente diz
que em litisconsórcio voluntário) para obrigar a fazer, mas faz sentido que de um ponto de vista
prático ela lá esteja (para o obrigar) porque se não o Juiz corre o risco de emitir condenação, mas o
caso não ficará resolvido se a Administração não tiver um papel de vigilância, assim, os particulares
apareçam na alínea h) para concretizar este artigo 37.º, n.º 3 do CPTA.
Quanto aos Tribunais competentes para apreciar estes pedidos, a Regente refere que não temos de
nos preocupar com outro artigo que não o artigo 16.º do CPTA porque não havendo atos nem
normas, nada puxa para o artigo 20.º do CPTA (pode existir na responsabilidade), mas se for sobre
comportamentos e se forem os pedidos principais vamos aplicar o artigo 16.º, n.º 1 do CPTA.
Relativamente ao prazo para um sujeito que peça um fazer ou não fazer estes pedidos não estão
disciplinados e, por isso, temos de ir aos critérios gerais e quando pede a condenação para não fazer
pressupõe-se que a Administração está em condição e a partir do momento em que faça deixa de
existir interesse em apresentar este pedido e, por isso, temos de cruzar o prazo de todo o tempo
com o interesse processual.
Quanto à legitimidade ativa encontra-se no artigo 9.º, n.º 2 do CPTA e a legitimidade passiva está
no artigo 10.º do CPTA porque não se encontra no artigo 53.º, 55.º, 68.º, 77.º, 77.º-A do CPTA, logo,
temos de ir à legitimidade geral.
Numa segunda situação a figura a que se refere o artigo 134.º, n.º 1 do CPA não depende da emissão
de um ato administrativo procedimentalizado, estas situações de mera comunicação prévia, o
particular irá inscrever-se numa plataforma dizendo que irá começar a fazer algo e a Administração a
única coisa que faz é tomar nota, havendo uma desadministração porque a Administração lava as
mãos daquela situação não investindo o seu poder administrativo, logo, não há ato administrativo e
se não há ato, não há ato para impugnar e, para se reagir, a Administração não autoriza, deixando na
iniciativa privada, mas fica vigilante e vai fiscalizar (de forma oficiosa ou através de queixa),
portanto, a partir do momento em que deve fiscalizar é evidente que já se pode levar como uma
condenação a fazer levando a cabo uma operação inspetiva. Este pedido de condenação ao
comportamento pode vir na sequência de uma mera comunicação prévia em que não há ato para
impugnar, mas há um comportamento para condenar a fazer porque há perigo para a saúde pública.
Já o artigo 134.º, n.º 2 do CPA vem trazer uma situação de comunicação prévia com prazo que, na
verdade, é uma bifurcação porque nestas situações a Lei prepara o terreno para que a
Administração perante um pedido deste género nada diga, mas pode considerar que se exige o
poder inspetivo, portanto, a desadministração não é evidente nem imediata, podendo gerar-se uma
situação idêntica e não há ato administrativo ou ao contrário pode dizer que resulta procedimento
administrativo e sai um ato administrativo. Se não existir um ato administrativo não há nada para
impugnar e o legislador no artigo 134.º, n.º 3 do CPTA disse isto de forma não totalmente clara, mas
que se percebe existindo a ideia de que a Administração pode obstar ou não e a ausência de
pronúncia do órgão competente não dá origem ao indeferimento tácito, quando ela não diz nada
podendo fazê-lo, não é indeferimento tácito e, portanto, não há nada para impugnar, no fundo, a
comunicação prévia ou dá origem a um procedimento autorizativo e daí resulta um ato ou não dá
aso a nada, nem diferimento tácito, apenas sendo possível a vertente controlo/fiscalização.
As informações não são atos administrativos e quando um particular precisa de uma informação que
não lhe é facultada voluntariamente consegue-o através de ações de impugnação para consulta de
informações.
Os atos informais são atos da Administração que não têm imperatividade como, por exemplo,
recomendações, advertências ou avisos não conformam uma relação jurídica de forma imperativa e
o particular não fica obrigado a cumprir, mas produzem surtir efeitos jurídicos (por exemplo, perante
numa ameaça de gripe suína a DGS emitiu uma advertência e, como consequência, os produtores de
carne de porco ficam logo sem vender e o que podem fazer é utilizar estes pedidos sobre
comportamentos porque este aviso não é um ato administrativo, nem uma norma, logo, não tem
efeito vinculativo).
Contencioso pré-contratual
Leitura do texto da autoria do Dr. Pedro Costa Gonçalves “Contencioso pré-contratual não urgente”
nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume II
Existem dois regimes processuais: 1. Contencioso pré-contratual urgente que segue a forma urgente
e está previsto nos artigos 100.º a 103.º-B do CPTA que abrange os litígios que subjazem a
procedimentos tendentes à formação de contratos de empreitada de obras públicas, concessões e
de serviços públicos, aquisição de bens moveis e aquisição de serviços (contratos que quer pela
frequência e número, quer pelo respetivo valor são mais relevantes) e 2. Contencioso pré-contratual
normal/não urgente que está excluído dos artigos anteriores e, para a ação principal, aplica-se o
artigo 37.º, 51.º e seguintes do CPTA como ação administrativa normal dirigida à formação de atos
praticados no âmbito de um procedimento pré-contratual, ou seja, na sequência de um
procedimento administrativo que se destinava à celebração de um contrato e, quanto ao
contencioso cautelar pré-contratual fora do artigo 100.º e seguintes do CPTA, aplica-se o artigo
132.º do CPTA o principal contencioso pré-contratual tanto numa perspetiva económica como
numa perspetiva da litigância cai nos artigos 100.º e 103.º do CPTA.
O legislador agora reservou a suspensão automática para os contratos mais importantes, ou seja, de
maior valor que são aqueles que no âmbito procedimental têm de ser celebrados na sequência de
procedimentos com publicidade internacional, ou seja, quanto maior é o valor do contrato mais
concorrencial terá que ser o procedimento para a sua celebração e, nesses casos, o CCP estabelece o
período de stand still (período depois da adjudicação dentro do qual não se pode celebrar o contrato
para evitar a corrida às assinaturas do contrato) e o legislador de 2019 vem dizer que o prazo para
impugnação continua a ser um mês, mas em geral não há efeito suspensivo automático, só existindo
quando (requisitos cumulativos):
O litígio diga respeito a um contrato celebrado através de procedimento com publicidade
internacional – anúncio no Jornal oficial da UE;
Se a ação der entrada no prazo de stand still (10 dias úteis).
NOTA: há uma dupla distinção pois é só para aqueles contratos e só quando a ação dá entrada nos
10 dias úteis, portanto, perante estes contratos existem duas hipóteses: 1. Para se beneficiar da
suspensão automática (artigo 103.º-A do CPTA) tem que se intentar a ação no prazo de 10 dias uteis
ou 2. Intentar a ação no prazo de um mês, mas não terá efeito suspensivo automático. Se o
procedimento não tiver publicidade internacional existe o prazo de um mês para intentar a ação e
nunca existe o efeito suspensivo automático podendo lançar mão de uma medida provisória (artigo
103.º-B do CPTA).
Ainda relativamente à execução ou validade, relativamente ao artigo 77.º-A, n.º 1, alínea g) do CPTA
e ao artigo 9.º, n.º 2 da LAP, discute-se se a ação popular pré-contratual segue o regime do artigo
100.º e seguintes do CPTA, mas no contencioso dos contratos já celebrados e em execução que,
normalmente, está pensado para as partes ou quem podia ter sido parte, mas não ganhou, detém
mais casos além desses como, por exemplo, se no caderno de encargos de uma concessão de obras
públicas para a construção de um autoestrada que passa perto de uma vila se prevê- que o
concessionário deve colocar barreiras acústicas para proteger o som e este não coloca as tais
barreiras e as pessoas ficam sujeitas ao som dos carros e essas pessoas não são parte do contrato,
mas são parte interessada no integral cumprimento do contrato porque a instalação das barreiras
acústicas visam proteger terceiros (direito ao descanso das pessoas).
Articulados
Petição inicial
É o ato que inicia o processo, ato que institui a instância que se trata de uma relação triangular,
dinâmica criada com a PI, entre as duas partes e o Tribunal tendo uma relação jurídica processual.
Estrutura da PI
Normalmente a PI tem duas partes: 1. Parte de facto (factos essenciais) e 2. Parte de Direito
(alegar os vícios como, por exemplo, pode haver uma subparte na parte de Direito sobre a
violação do Direito à audiência prévia ou um despacho mal fundamentado podendo dizer-se
que é inexistente, obscura, etc.);
O ato impugnado deve ser sempre junto com a PI;
Indicar o valor da causa;
Pagamento da taxa de justiça;
Indicação dos contrainteressados, mas o autor pode não saber nome, morada, etc. e, para
isso, releva o artigo 78º-A do CPTA.
Atribuição do caso/distribuição
Muitas vezes não se entende que esta fase ocorre, mas basicamente o processo é distribuído
aleatoriamente (se não o for é porque há um grande problema no sistema) e o Juiz só vai intervir
mais à frente porque, por exemplo, se a PI vier toda em inglês, a secretaria vai mandar para trás e
pedir para alterar para português (no sistema é obrigatório ser em português). Pode dizer-se que
vem mal escrito (recusa de recebimento pela secretaria – recusa pelo juiz artigo 80.º, n.º 2 do
CPTA com remissão para o artigo 559.º, n.º 1 do CPC)
Citação
É o momento da chamada dos “demais intervenientes”, nomeadamente a entidade demandada e os
contrainteressados e a secretaria, além de remeter a citação, remete também a PI e os documentos
nos quais o autor fala dos factos e dos direitos (artigo 85.º, n.º 1 do CPTA).
É um ato único, a citação só acontece uma vez e, uma vez citado, passa a fazer parte do processo
podendo haver mais do que uma notificação, o que não invalida que seja apenas uma citação e essa
diferença é relevante para contagem de prazos.
Efeitos da citação
Efeitos subjetivos e objetivos na instância: as partes e o objeto, em princípio, são os
mesmos, mas se houver alterações existem regras específicas que se aplicam do CPTA como,
por exemplo, na impugnação de atos administrativos e, não havendo regra, aplica-se o CPC;
Efeito inibitório: a entidade demandada e contrainteressados não podem colocar contra-
acções ou ações com o mesmo objeto pois praticar-se-ia uma exceção de litispendência.
NOTA: na realidade pode não acontecer tão rápido como pode parecer pois, por exemplo, numa
ação com 80 contrainteressados em que quando se consegue citar todos, morre alguém tendo-se
que citar de novo e, muitas vezes, anda-se 10 anos.
Contestação
É momento onde se verifica o princípio do contraditório pois é aqui que a entidade demandada e os
contrainteressados vão exercer a sua defesa que pode ser:
Por impugnação (de facto ou de direito)
Por exceção (dilatória ou perentória)
Por reconvenção
Se a entidade demandada não apresentar qualquer defesa (não contestar) pode beneficiar do
artigo 83.º, n.º 4 do CPTA?
Não, há sempre um ónus de contestação apesar de não haver um ónus de impugnação justificada.
Reconvenção
Está previsto no artigo 83.º-A do CPTA e estabelecem-se requisitos quanto à forma da
reconvenção;
A reconvenção é um contra pedido ao que o autor fez e, por isso, há requisitos materiais e
alguns autores defendem que para os sabermos temos que recorrer ao CPC;
Quem pode apresentar a reconvenção é tipicamente a entidade demandada (a
Administração não propõe ações contra particulares), logo, o processo está pensado para
um particular contra uma entidade demandada (Administração) e coloca-se a questão de
saber se a entidade demandada se, querendo, pode fazer algo contra particular;
Também se questiona se os contrainteressados podem apresentar pedidos reconvencionais
e esta questão pressupõe o estatuto dos contrainteressados e alguma Jurisprudência
defende que o estatuto está subordinado à Administração e, portanto, não pode propor
ação contra a Administração;
Temos sempre de articular a reconvenção com a citação existindo um efeito inibitório de
apresentar pedidos, mas depois a reconvenção vem dizer que contrainteressado está
libertado de atuação existindo uma violação do artigo 20.º da CRP.
O MP tem aqui uma atuação específica que é o dever de ofício que acaba por ser um parecer formal
e é bastante relevante. Mas o MP pode não o apresentar e estabelecem-se três limites, quanto ao
âmbito da pronúncia, no artigo 85.º CPTA:
Artigo 85.º, n.º 2 do CPTA – não é em todas as situações que o MP se pode pronunciar;
O MP só se pode pronunciar sobre o mérito da causa, não pode falar em exceções dilatórias
ou nulidades processuais, mas na prática, refere que não pode fazer e depois faz;
Limite temporais – tudo dentro dos prazos e juntando o processo administrativo e as
invalidades são articuladas com o artigo 95.º, n.º 3 do CPTA.
Réplica
A Réplica no processo civil é apenas contra a reconvenção e ações negativas, já no processo
administrativo é um articulado não eventual/comum sendo o momento em que o autor responde às
exceções invocadas. A réplica é como se fosse a contestação da reconvenção.
Tréplica
Para haver tréplica tem de haver reconvenção e tem de haver invocação de exceções quanto ao
pedido. A tréplica seria a réplica da réplica.
Articulados supervenientes
São no fundo todos os factos supervenientes objetivamente posteriormente à tréplica.
Saneamento
Despacho pré-saneador
Tem duas funções: 1. suprir exceções dilatórias e 2. providenciar aperfeiçoamento de articulados e é
praticado quando PI não está muito bem-feita (factos pouco densificados, não se entende ou tem
vícios, etc.).
O Juiz tem o ónus de convidar o particular a suprir irregularidades, se não o fizer o particular
aproveita do disposto no artigo 87.º, n.º 8 do CPTA. Contudo, estas exceções dilatórias têm de ser
supríveis, pois existem vários casos de exceções insupríveis como, por exemplo, se for um ato
inimpugnável ou se já tiver passado o prazo.
Havendo lugar ao aperfeiçoamento dos articulados (pequenos pormenores) não se podem alegar
factos novos, nem faria sentido pois este despacho serve para pequenas irregularidades e, nessas
circunstâncias o CPC diz que se há falta de pedido ou causa de pedir isso não é suprível e temos uma
ineptidão da PI que é uma nulidade processual de conhecimento oficioso.
Os novos factos invocados levam a uma convolação do objeto inicialmente verificado e tem de se ter
cautela porque tem de haver limites por não ser uma nova contestação.
Audiência prévia
Pode ser dispensada, mas em princípio acontece e tem funções semelhantes às do processo
civil;
Para existir uma tentativa de conciliação o objeto tem de ser disponível (artigo 87.º-A do
CPTA);
Facultar às partes a discussão de facto e de direito;
A prova documental é a prova mor que se usa nos processos administrativos e, muitas vezes,
não é preciso inquirição de peritos ou outro tipo de prova;
Nesta audiência o Juiz pode já estar em condições de decidir a ação;
Discussão das partes para delimitar objeto;
Pode ser proferido o despacho saneador simplificando o litígio e os meios de prova
determinando os atos seguintes.
Despacho saneador
Pode ser logo proferido na audiência prévia e pode ter vários conteúdos:
Conhece as exceções dilatórias e, uma vez conhecendo-as, não podem ser conhecidas mais à
frente, por exemplo, se o Juiz se pronuncia sobre competência já não pode voltar a
pronunciar-se sobre esta questão mais à frente (artigo 88.º do CPTA);
Função eventual – se o Juiz já tiver todos os elementos e não for preciso mais provas pode
decidir proferindo Sentença sem haver audiência final fazendo caso julgado formal e não
podendo voltar a ser posto em causa;
Função de identificar objeto do litígio e temas da prova;
NOTA: pode haver uma fase instrutória em que, por exemplo, o Juiz vai à farmácia ver se está na
distância mínima certa da anterior.
Audiência final
Pode não acontecer e existem três hipóteses:
Pode-se determinar no despacho saneador a Sentença e, por isso, não existirá audiência
final;
Se houver posteriores alegacões escritas (artigo 91.º-A CPTA);
Audição de testemunhas – ainda há audiência final.
NOTA: no artigo 91.º, n.º 3 do CPTA temos a ordem típica de atos a realizar.
Julgamento e sentença
Pode ser um Tribunal superior ou um Tribunal singular a decidir, o que vai ter diferentes
consequências. Se for um Juiz singular, em princípio, toma a decisão sozinho, contudo, há outras
situações que podem ocorrer (pouco exploradas), designadamente o julgamento em formação
alargada (artigo 93.º do CPTA) e a consulta ou envio prejudicial em que se coloca a questão ao STA
tendo requisitos são apertados.
Sentença
Tem três partes:
Relatório – identificação das partes, o objeto, o pedido, o Direito e as questões sobre as
quais se vai decidir;
Fundamentação – factos provados e não provados, análise da prova, interpretação e
aplicação de normas aplicáveis;
Decisão – posição sobre litígio e condenação de custas.
Agilização processual no contencioso administrativo
Leitura do texto da autoria da Dra. Carla Amado Gomes com Dr. Diogo Calado sobre o artigo 48.º do
CPTA nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume I
Leitura do texto da autoria da Dra. Carla Amado Gomes sobre o artigo 99.º CPTA (processos em
massa) nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume II
Leitura do texto da autoria da Dra. Carla Amado Gomes com o Dr. Hong sobre o artigo 93.º do CPTA
(reenvio prejudicial) nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume II
Leitura do texto da autoria do Dr. Tiago Silveira na parte geral do livro sobre os meios de agilização
processual nos Comentários à Legislação Processual Administrativa - Volume I
Mecanismos de agilização
1. Extensão dos efeitos do caso julgado
a) Artigo 48.º do CPTA
b) Artigo 19.º da Lei da Ação Popular (nº1)
c) Artigo 161.º do CPTA
2. Contencioso de Procedimentos de Massa – Artigo 99.º do CPTA
3. Harmonização preventiva de jurisprudência – Artigo 93.º do CPTA conteúdo da Sentença
(Artigo 94.º, n.º 5 do CPTA)
4. Inversão do contencioso – Artigo 121.º do CPTA
Observações gerais:
Estes mecanismos têm importância porque visam a tutela jurisdicional efetiva, visando
promover uma tutela o mais rápido e próxima possível da averiguação da verdade material e
tirando o máximo partido dos meios do sistema judiciário, portanto, estes mecanismos estão
associados a uma ideia de eficiência;
Os três do primeiro grupo têm a vantagem de uma sentença poder resolver imensos casos
estendendo os seus efeitos;
A ideia aqui não é totalmente uma maior velocidade do processo (acontece no artigo 48.º do
CPTA, mas não acontece na LAP nem no artigo 161.º do CPTA), mas sim uma maior eficiência
dos meios da justiça.
E se os processos forem para vários Tribunais devido ao artigo 6.º e 20.º do CPTA?
O regime do artigo 48.º do CPTA não dá resposta e a Regente conclui que esta iniciativa, de dar a
conhecer ao Presidente do Tribunal todos estes casos, deverá ser proporcionada pela entidade ré,
porque é sempre a mesma entidade administrativa e, portanto, é citada para contestar em todos
eles tendo o domínio do conhecimento.
Estes processos deverão ser dados a conhecer ao Presidente de qual Tribunal se os processos
estão em vários tribunais?
A lei também não responde a esta questão porque antes de 2015 só se podia utilizar este
mecanismo em relação a processos do mesmo Tribunal e após 2015 o legislador não contemplou
esta solução e a Regente defende que deverá ser ao Tribunal onde se encontrem mais processos.
O Presidente do Tribunal deverá fazer esta seleção, podendo ser um ou mais processos, porque
podem existir processos com uma PI melhor e, se houver mais do que um processo, devem ser
apensados num único (artigo 48.º, n.º 4 do CPTA) e não é só o Juiz a quem foi distribuído que julga o
ou os processos selecionados, mas sim um coletivo de 3 Juízes (artigo 48.º, n.º 8 do CPTA). Este n.º 8
também levanta a dúvida nos processos de vários Tribunais, que serão apensados num único, qual
será o Juiz que irá julgar e a Regente não entende o racional do legislador ao decidir que será
decidido por 3 Juízes de entre os mais antigos dos diferentes tribunais excluindo-se o Juiz a quem foi
distribuído o processo.
Assim, há um processo piloto, ou mais em apensação, nos termos do n.º 4 e todos os outros ficam
suspensos. As partes podem não gostar disto e, mesmo sendo ouvidas, podem reagir tendo direito
ao recurso nos termos do n.º 5 no prazo de 15 dias.
Admitindo que é interposto recurso, existirá uma seleção, houve recurso com efeito devolutivo (o
coletivo começa a apreciar), como têm tramitação urgente, provavelmente, vai existir Sentença
antes do recurso ser decidido e se, depois da Sentença, existir decisão do recurso que determine que
não deveria ter existido a apensação só que, entretanto, já se formou caso julgado podendo surgir
situações muito complicadas.
Admitindo que corre tudo bem o processo piloto é analisado, existe uma decisão e forma caso
julgado e no artigo 48.º do CPTA fala-se de Sentença, mas é um Acórdão porque é um Tribunal
Coletivo.
O n.º 9 diz que a decisão emitida no processo ou nos processos selecionados é notificada às partes
nos processos suspensos para, no prazo de 30 dias, o autor nestes processos desistir do pedido
(processos suspensos) OU qualquer das partes (processos suspensos, processo piloto,
contrainteressados e MP) recorrer da sentença proferida no processo ou nos processos selecionados
e o n.º 10 vem dizer que os efeitos da Sentença só se estendem passados os 30 dias porque antes é
um mero anúncio e, por isso, a Regente não concorda com esta legitimidade dos suspensos quando
ainda não lhes foi estendido o efeito da Sentença para recorrer e se for o autor do processo piloto a
recorrer ainda é pior porque não há maneira de estender os efeitos enquanto não houver uma
estabilização do caso julgado final.
No n.º 11 temos que quando mereça provimento, o recurso previsto no n.º 9 produz efeitos apenas
na esfera jurídica do recorrente, mas se isto for do autor do processo piloto não pode ser assim
porque é essa decisão que se vai estender, logo vai afetar todos os outros. A Regente defende que
estes recursos deveriam ser todos apensados pois tendo-se optado por esta ideia de ação prioritário
do processo piloto, devem recorrer todos ao mesmo tempo e a decisão abarca todos os outros. Isto
está feito para a Sentença agradar a toda a gente, mas quando assim não é o mecanismo do recurso
pode afetar a utilidade deste meio.
Este mecanismo, quando acionado, pode ser destabilizador porque pode levar a que um conjunto
significativo de atos administrativos seja anulado muito depois do momento da sua aplicação
afrontando a ideia da segurança jurídica e da estabilização do caso decidido daí existirem muitos
pressupostos para a sua aplicação.
As alíneas do n.º 2 são gravosas porque colocam em causa a segurança jurídica inviabilizando muito
as situações de utilização deste dispositivo dado o tempo que demora a preencher os requisitos
existindo aqui pressupostos positivos e negativos:
Tem de haver, pelo menos, 5 sentenças de Tribunais Superiores (TCA ou STA) ou 3 no âmbito
do artigo 48.º do CPTA (pressuposto positivo);
É preciso que não tenha havido número superior (6 Sentenças que não tenham “salvo” o
ato) de decisões em sentido contrário dos Tribunais Superiores;
Esta solução não pode ir contra um Acórdão uniformizador (artigo 152.º do CPTA);
Ainda é preciso ter cuidado com o n.º 5 do artigo 161.º do CPTA (existência de
contrainteressados) a situação da pessoa que pretende utilizar este mecanismo tem de
ser uma relação puramente bilateral (entre ela e a Administração) porque se houver alguém
que tem interesse em que o ato se mantenha noutro processo em que o ato tenha sido
avaliado a pessoa só pode pedir a extensão dos efeitos se já estiver em Tribunal, ainda não
tenha a Sentença transitada em julgado e que o processo ainda esteja num estádio em que
se possa promover a citação dos contrainteressados.
Admitindo que todos os pressupostos estão preenchidos, que é um ato puramente bilateral e não
existem contrainteressados, soube da quinta Sentença e quer pedir a extensão dos seus efeitos
tendo um ano para apresentar um requerimento à Administração (artigo 161.º, n.º 3 do CPTA) após
a data da Sentença transitada em julgado (Sentença do TAF que sobrevem a uma situação em que já
se conseguiam contar 5 Sentenças no TCA nesse sentido e ainda não havia 6 Sentenças em sentido
contrário) e como a Administração pode indeferir ou não responder voltamos a entrar na via
contenciosa (artigo 161.º, n.º 4 do CPTA) prazo de dois meses (execução da Sentença – artigo
173.º e seguintes do CPTA).
O interessado tem um ano, desde o momento da Sentença, para pedir a extensão dos efeitos e se
no espaço desse ano ele se confronta com 5 sentenças a favor e, entretanto, surge a 6.ª contra (no
momento da pretensão), a data que se conta é a aquela em que a Sentença que interessava
transitou em julgado e só havia 5 contra e não 6 ou no momento em que ele apresenta a
pretensão e aí já existiam 6?
Para a Regente, é no momento em que a Sentença do TAF é emitida e existiam 5 a seu favor e o
interessado podia exercer o seu direito, mas se o objetivo do legislador é pacificar uma situação que
está estabilizada nos Tribunais, a verdade é que está tudo menos estabilizada nos Tribunais e a
verdade é que outras pessoas a quem surja o problema já serão confrontadas com a sexta e já não
conseguem fazê-lo.
Consequências da necessidade de cumprir estes ónus do n.º 2 (um mês e no mesmo Tribunal)
Os prazos supostamente são reduzidos para que este artigo 99.º do CPTA, nos termos do artigo 36.º
do CPTA, seja um processo urgente, mas o n.º 5 do artigo 99.º do CPTA estabelece prazos especiais,
portanto, não são os prazos gerais reduzidos a metade, são estes prazos não deixando de ter
prioridade sobre os demais e de correr em férias, mas basicamente só é reduzido o prazo da
Contestação para 10 dias.
NOTA: estamos perante uma falsa ideia numérica pois é exigido que existam mais de 50
participantes que no final podem ser apenas 10 devido às exclusões e basta que haja uma pessoa a
emperrar o resultado final do concurso para o procedimento não se estabilizar.
Intimações
Processos urgentes (título III)
Ação administrativa urgente (capítulo I):
- Contencioso eleitoral
- Contencioso dos procedimentos de massa
- Contencioso pré-contratual
Observações gerais
A urgência não tem de ser demonstrada;
Esta intimação pode estar funcionalizada ao exercício do Direito da ação (artigo 104.º, n.º 2
do CPTA artigo 60.º, n.º 2 do CPTA) ou pode ser autónoma;
Quando alguém é notificado de um ato administrativo ao qual falte um elemento essencial,
fundamentação ou algo absolutamente imprescindível para se saber ao que está obrigado e
o que vai impugnar não tem ainda a correr contra si o prazo de impugnação porque a
notificação não foi completa daí existir uma interrupção do prazo (artigo 60.º, n.º 2 do CPTA)
e não de suspensão do prazo e, uma vez esclarecido, o prazo começa a contar desde o início;
O artigo 104.º, n.º 2, 2.ª parte do CPTA pode fazer confusão com o artigo 60.º, n.º 2 do CPTA
(extensão do artigo 219.º da CRP que fala do MP) se olharmos para o artigo 8.º, n.º 5 do
CPTA (pois, embora seja mais amplo, diz a mesma coisa) que dá uma certa vantagem ao MP
relativamente a todas as entidades públicas e privadas porque ele defende a legalidade e,
por isso, todas as entidades públicas e privadas devem colaborar quando ele se prepara para
defender a legalidade. Tendo o artigo 8.º, n.º 5 do CPTA apenas surgido em 2015, manteve-
se o artigo 104.º, n.º 2, 2.ª parte do CPTA porque a cominação do incumprimento do dever
de colaboração nos termos do artigo 8.º, n.º 5 do CPTA remete para o CPC em que a
cominação é uma multa aplicada a estas entidades que, tendencialmente, não poderá ser
uma quantia significativa, enquanto no artigo 104.º, n.º 2 do CPTA, caso alguma entidade
pública a quem é solicitada a informação não a preste, a consequência será as do artigo
108.º, n.º 2 do CPTA que se traduz em sanções pecuniárias acessórias diárias por cada dia de
incumprimento não existindo apenas uma multa. Assim, existindo uma ação de intimação
funcionalizada relativamente à necessidade de instruir uma PI aplica-se o artigo 104.º, n.º 2
do CPTA;
Tratando-se de uma intimação autónoma existe um desdobramento podendo acontecer a
dois títulos, não se aplicando o artigo 104.º, n.º 1 do CPTA a: 1. pedidos formulados no
exercício do direito à informação procedimental (remete-nos para o artigo 82.º e seguintes
do CPA) ou do direito de acesso aos arquivos e registos administrativos (ideia da
transparência artigo 288.º da CRP aplicando-se a Lei de acesso à documentação
administrativa (Lei 26/2016, de 22 de agosto);
A principal diferença entre estas duas situações é que se a Administração recusar o direito à
informação terá que ser intimada através do artigo 104.º do CPTA, mas quando se trata de
acesso a informação não procedimental temos uma via intermédia, não obrigatória, que é a
Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos: CADA (funciona no seio da Lei
26/2016) pois até relativamente aos prazos é o mesmo
Pressupostos e prazos da utilização desta intimação de forma autónoma (artigo 105.º do CPTA)
Legitimidade ativa (artigo 104.º, n.º 1 do CPTA) quem não vê preenchido um direito de
acesso a determinados elementos na mão da administração e aquele que tiver apresentado
determinada pretensão e tenha visto decorrer o prazo legalmente estabelecido sem que a
entidade requerida satisfaça o pedido, quando a entidade o indeferiu ou quando o satisfez
parcialmente (artigo 104.º, n.º 1 e 105.º, n.º 2 do CPTA pois o interesse do requerente tem a
ver com uma recusa ou omissão;
Legitimidade passiva (artigo 10.º, n.º 2 e 105.º, n.º 1 do CPTA) podendo também existir
contrainteressados e isso decorre do artigo 107.º do CPTA;
Tribunal competente (regra de competência territorial específica do artigo 20.º, n.º 4 do
CPTA) critério especial do artigo 16.º do CPTA;
Prazo para interpor este meio de forma autónoma (artigo 105.º do CPTA que liga aos
artigos 82.º e seguintes do CPTA e à Lei 26/2016, nomeadamente o artigo 15.º e 16.º porque
diz-nos o que é que a entidade pode fazer depois de ter sido solicitada para prestar a
informação e alínea c) vem regulada no artigo 16.º em estreita articulação com o artigo
104.º e seguintes do CPTA) os 20 dias contam-se da verificação de qualquer dos seguintes
factos: o interessado não viu satisfeito o seu pedido, quando a entidade o indeferiu ou
quando o satisfez parcialmente
Prazo para interpor este meio funcionalizado (artigo 60.º, n.º 2 do CPTA conjugado com os
prazos de direito de ação que só começa a correr após estar devidamente preenchido o
pressuposto do pedido);
A CADA é um meio gratuito, não envolve a constituição de Advogado, é um meio intra-
administrativo, não implica sanções pecuniárias compulsórias nem Sentença com força de
caso julgado;
A apresentação de queixa interrompe o prazo para introdução da intimação para prestação
de informações, consulta de processo ou passagem de certidões e, portanto, os 20 dias se o
requerente optar por consultar primeiramente a CADA ficam interrompidos e só pode
interpor quando a entidade faltosa volte a não querer cumprir a recomendação da CADA;
Não é obrigatório o recurso à CADA e nada inviabiliza o uso simultâneo do meio
administrativo e judicial, caso o meio administrativo seja resolvido mais rápido (que é o mais
comum) e a entidade cumpra o solicitado, a intimação caduca por inutilidade superveniente;
Pressupostos de caracterização do interesse (artigo 105.º, n.º 2, alínea a), b), c) do CPTA);
Deferimentos tácitos formam-se por mera força da lei e decurso do tempo, mas há
situações em que isso não basta ao titular do Direito, logo a Administração não emite o ato
constitutivo do Direito, mas deve admitir a certificação desse ato.
Observações gerais
Este meio é urgente e é uma tradução livre do artigo 20.º, n.º 5 da CRP devido à ausência
destes meios pois apenas existia a suspensão da eficácia do ato que era uma providência
cautelar que nem podia ser utilizada contra normas;
É preciso uma decisão judicial final célere quanto ao mérito (que nos indica que é sumário);
Esta decisão de mérito deve impor a adoção de uma conduta que pode ser uma ação ou
omissão e pode ser de caracter jurídico ou material;
Pode ser dirimido contra a Administração ou contra particulares, nomeadamente
concessionários;
Para assegurar o exercício em tempo útil do direito, liberdade ou garantia e que se revele
indispensável que tem a ver com o facto de o decretamento de uma providência cautelar
não ser suficiente, devido à irreversibilidade de certas situações e devido à pacificação social
do exercício do Direito;
A filiação deste meio processual é o artigo 20.º, n.º 5 da CRP;
Qualquer direito, liberdade ou garantia pessoal, de participação política ou dos
trabalhadores podem caber dentro do n.º 1 do artigo 109.º do CPTA:
Cláusula de fundamentalidade do artigo 17.º do CRP que reconhece determinada
fundamentalidade fora do catálogo respeitante aos direitos, liberdades e garantias
e, portanto, esses também devem ser considerados no artigo 109.º, n.º 1 do CPTA;
Também é preciso ter em consideração novos direitos que possam surgir fora do
catálogo, nomeadamente por lei ou introduzidos pelo Direito internacional –
cláusula aberta de direitos fundamentais do artigo 16.º, n.º 1 do CRP;
Cláusula geral de personalidade que pode fazer acrescer ao que entra no artigo 16.º
e 17.º da CRP – artigo 26.º, n.º 1 da CRP
NOTA: O STA, num primeiro momento – Acórdão de 2004, fala numa interpretação demasiado
conforme da CRP do artigo 109.º, n.º 1 do CPTA onde estava em causa a defesa de um direito de
natureza análogo (direito de propriedade – artigo 62.º do CPTA) e não só é um Direito fora do
catálogo como nem sequer é um Direito pessoal e o STA disse que o artigo 109.º, n.º 1 do CPTA
apenas abrange direitos pessoais. Em 2014 o STA mudou radicalmente de posição e praticamente
desqualificou a posição jurídica a defender através do artigo 109.º, n.º 1 do CPTA, desde que se trate
de um direito, só não entram direitos que pela sua diminuta relevância pessoal, social ou patrimonial
devam ser descartados o que significa que entram todos menos os direitos diminutos
independentemente de revista deixando de ser essencial qualificar o direito como um direito,
liberdade ou garantia havendo um pressuposto literal que “cai” sendo necessário que o requerente
queira defender determinada posição jurídica contra uma ação ou omissão da Administração, mas
não é essencial que essa posição seja um direito, liberdade ou garantia.
Quando falamos em qualquer posição jurídica ou qualquer direito, será que os interesses de facto
são defensáveis através deste meio processual, sobretudo os interesses difusos?
A nossa Regente tem dúvidas porque são posições fora do catálogo, mas poderiam ser por extensão,
no entanto, a Regente tende a não aceitar a inclusão destas situações na intimação pois, apesar de o
STA ter mostrado uma grande flexibilidade, sempre será necessário que esteja aqui em causa a
defesa de uma situação individualizada relativamente a um bem jurídico individualizado. A Regente
também defende esta posição devido ao artigo 109.º do CPTA dizer “exercício, em tempo útil, de um
direito, liberdade ou garantia” e esta expressão leva ao caso de alguém estar a exercer ou a não
poder exercer uma posição jurídica individualizada que depende apenas de si próprio e tem reflexo
apenas na sua esfera jurídica, não “casando” muito bem com a ideia de exercer um interesse difuso
pois não se exerce um interesse, mas sim um direito. No entanto, há Doutrina que entende que
engloba os interesses difusos.
O que significa “a célere emissão de uma decisão de mérito que imponha à Administração a
adoção de uma conduta positiva ou negativa” do artigo 109.º, n.º 1 do CPTA?
O termo “conduta” é muito aberto, quer quanto a atuações ou omissões jurídicas, quer para
atuações ou omissões materiais e o n.º 3 do artigo 109.º do CPTA permite colocar a intimação a
promover a condenação da emissão de um ato devido e este devido só pode ser um ato
jurídico/administrativo e, portanto, é o próprio n.º 3 que aceita que a intimação se dirige à
condenação da Administração à prática de um ato devido, porém, no Supremo há secções que
entendem que a intimação não pode ser usada para sindicar a legalidade de atos jurídicos e que
seria um meio usado apenas contra comportamentos materiais (ativos e omissivos),
fundamentalmente, porque como não se refere qualquer prazo há uma tendência a associar-se este
meio à utilização a todo o tempo, copulativamente, há atos jurídicos no CPTA que se impõe prazo
para apresentação de pedidos que tenham a ver com condutas jurídicas da Administração como, por
exemplo, o artigo 58.º, 69.º 74.º e 77.º e como a intimação não impõe serão atos materiais e,
portanto, seria só para condenar a Administração a uma ação ou omissão material. A nossa Regente
não concorda com esta posição a partir do momento em que o artigo comporta a condenação de
atos jurídicos, mas não se pode usar a intimação para defraudar o prazo de apresentação de um
determinado meio processual se ele fosse um meio não urgente, ou seja, se aquilo que o particular
pretende através da intimação é promover a anulação de um ato administrativo não pode fazê-lo
passado o prazo que teria no pedido não urgente (3 meses), assim, a intimação pode ser utilizada
para comportamentos jurídicos e materiais e se for direcionada para comportamentos jurídicos tem
que observar os prazos.
Quanto ao n.º 2 do artigo 109.º do CPTA podem ser concessionários os requeridos desta intimação e
através do n.º 3 pode-se utilizar a intimação para se pedir a reclamação à prática de ato devido
desde que observados os pressupostos do artigo 67.º do CPTA.
E se o Juiz receber um pedido de intimação, mas considerar que a providência cautelar e ação
principal é suficiente?
O artigo 110.º-A do CPTA permite ao Juiz deferir ao autor a possibilidade de transformar o pedido da
intimação num pedido de providência cautelar que irá aparecer de modo prévio a uma ação
principal que vai ser proposta posteriormente.
E se alguém pedir uma providência cautelar pode ver o pedido convolado em intimação porque o
Juiz julga que o pedido da pretensão se possa subsumir ao artigo 109.º, n.º 1 do CPTA?
O artigo 110.º-A do CPTA não permite essa convolação, mas antes de 2015 existiram processos que
viram a sua PI convolada em intimação pelo Juiz e, por isso, a nossa Regente entende que se era
possível no direito anterior em que nem sequer existiam este artigo, por maioria da razão, é possível
agora em homenagem ao princípio da tutela jurisdicional efetiva desde que ouvido o requerente
pois há necessidade de respeitar a iniciativa.
Prazos
Relativamente aos prazos em que esta decisão pode surgir existem quatro graus de urgência
relativamente à intimação que são: 1. Artigo 110.º, n.º 1 do CPTA (urgência normal de tramitação
acelerada que a intimação vai seguir); 2. Artigo 110.º, n.º 2 do CPTA (urgência menos acentuada em
que pedimos no pedido principal que corresponderia aquela intimação e reduzir os prazos a
metade); 3. Artigo 110.º, n.º 3, alínea a) do CPTA (mais urgência em que o prazo do requerido (7
dias) pode ser reduzido pelo Juiz) e 4. Artigo 110.º, n.º 3, alínea c) do CPTA (prazo urgentíssimo)
Recurso
Artigos 142.º, n.º 3, alínea a) do CPTA – quem veja o seu pedido improcedente tem sempre o direito
a recorrer dessa decisão
Artigo 143.º, n.º 2 do CPTA – O direito ao recurso é confirmado no artigo 142.º do CPTA e os efeitos
do recurso estão neste artigo
Providências cautelares
Leitura do texto da autoria do Dr. Tiago Amorim nos Comentários à Legislação Processual
Administrativa - Volume II sobre Providências cautelares
A maior parte dos processos começam com uma providência cautelar que podem ser apresentadas
antes da apresentação do pedido principal e podem antecipar justiça relativamente à justiça final.
Artigo 112.º
Providências cautelares
1 - Quem possua legitimidade para intentar um processo junto dos tribunais administrativos pode
solicitar a adoção da providência ou das providências cautelares, antecipatórias ou conservatórias,
que se mostrem adequadas a assegurar a utilidade da sentença a proferir nesse processo.
2 - As providências cautelares regem-se pela tramitação e são adotadas segundo os critérios
previstos no presente título, podendo consistir designadamente em (podendo haver providências
que estão fora desta listagem – cláusula aberta):
a) Suspensão da eficácia de um ato administrativo (artigo 128.º do CPTA – providência nominada e
especificada) ou de uma norma (artigo 130.º do CPTA – providência nominada e especificada);
b) Admissão provisória em concursos e exames (providência nominada e não especificada porque
não tem regime tendo que ser construído a partir do pedido da parte);
c) Atribuição provisória da disponibilidade de um bem (providência nominada e não especificada);
d) Autorização provisória ao interessado para iniciar ou prosseguir uma atividade ou adotar uma
conduta (providência nominada e não especificada);
e) Regulação provisória de uma situação jurídica, designadamente através da imposição à
Administração do pagamento de uma quantia por conta de prestações alegadamente devidas ou a
título de reparação provisória (artigo 133.º do CPTA – providência nominada e especificada);
f) Arresto (providência nominada e especificada no CPC o artigo 1.º do CPTA remete-nos para o
CPC em tudo o que o CPTA não for suficiente);
g) Embargo de obra nova (providência nominada e especificada no CPC);
h) Arrolamento (providência nominada e especificada no CPC);
i) Intimação para adoção ou abstenção de uma conduta por parte da Administração ou de um
particular por alegada violação ou fundado receio de violação do direito administrativo nacional ou
do direito da União Europeia (providência nominada e não especificada).
Artigo 128.º do CPTA (suspensão da eficácia do ato administrativo) versus artigo 131.º do CPTA
(quando este tenha a ver com o decretamento provisório da providência de suspensão eficácia do
ato administrativo)
Artigo 130.º do CPTA – suspensão da eficácia de normas em que a suspensão é ope legis, mas os
efeitos da suspensão variam de acordo com a qualidade do requente (este artigo deve ser conjugado
com o artigo 73.º do CPTA):
N.º 1 – a suspensão opera ope legis e os seus efeitos de suspensão são circunscritos ao caso,
portanto, só deles usufrui o requerente e não a coletividade em geral
N.º 2 – força obrigatória geral, desde que o requerente seja o MP e as pessoas e entidades referidas
no n.º 2 do artigo 9.º
Nos termos do artigo 124.º do CPTA, através de uma alteração das circunstâncias de facto o
requerente, já depois de ter falhado a suspensão provisória do artigo 128.º do CPTA e reposta a
eficácia pelo Juiz a requerimento da Administração, pode invocar uma situação de especial urgência
e requerer outra vez o decretamento provisório da providência.
Anteriormente bastava ter uma providência cautelar para sumarizar o processo, mas depois de 2015
não basta a providência cautelar sendo também necessário que já se tenha apresentado o meio
principal para o Juiz emitir a decisão sumária nos termos do artigo 121.º do CPTA.
O artigo 133.º do CPTA foi influenciado pelo CPC introduzindo-se uma providência que liga à alínea
e), do n.º 2, do artigo 112.º do CPTA, mas é questionável se tudo o que está nesta alínea
corresponde ao artigo 133.º do CPTA porque este artigo tem a ver com a regulação provisória do
pagamento de quantias como, por exemplo, prestações existenciais e alínea e) fala também de
“título de reparação provisória” em que, por exemplo, o requerente litiga com a Administração para
pagamento de indemnização e o artigo 133.º do CPTA não falando nestes casos é sempre necessário
que o requerente alegue e prove os pressupostos do artigo: 1. Grave carência económica; 2. Alegar e
provar especificadamente a carência económica atual e futura com tendência a agravar e 3. Seja
provável que a pretensão formulada ou a formular nesse processo venha a ser julgada procedente.
Estes três requisitos já resultam do artigo 120.º, n.º 1 do CPTA que são o periculum in mora (alínea
b)) e o fumus boni iuris (alínea c)) querendo o legislador reforçar que este adiantamento de quantias
que são dinheiros públicos os pressupostos apertados aditando a alínea a). A providência cautelar
não pode consumir a decisão principal (n.º 3) existindo uma tentativa de conter o efeito
antecipatório daquilo que seria o limite que o requerente iria receber na ação principal que tem
forçosamente que apresentar.
Distinção entre o artigo 128.º e 131.º do CPTA
O artigo 128.º do CPTA é automático permitindo a proibição da execução do ato
administrativo que funciona quase como uma pré-providência e a sua natureza tem alguma
semelhança com o artigo 131.º do CPTA porque também é uma pé-providência por ser um
decretamento provisório da providência (tutela cautelar dentro da tutela cautelar porque
está a acautelar o periclum in mora num processo cautelar enquanto as providências
cautelares gerais acautelam o periclum in mora decorrente da demora do processo principal)
daí a semelhança entre estes dois artigos porque estão a acautelar a utilidade da providência
cautelar;
O artigo 128.º é automático por efeito da citação (efeito que a Lei atribui à citação)
enquanto o artigo 131.º do CPTA necessita do preenchimento dos requisitos de situação de
especial urgência necessitando de um juízo do Tribunal (requerimento de partes ou ofício);
O artigo 128.º do CPTA é só para acautelar uma providência cautelar especial que é a
suspensão da eficácia do ato (artigo 129.º do CPTA) enquanto o artigo 131.º do CPTA é de
aplicação universal;
O artigo 128.º do CPTA, porque não pressupõe intervenção do Tribunal, é mais agressivo
para a entidade requerida e, por isso, o legislador reconheceu à entidade requerida a figura
da resolução fundamentada (autotutela da entidade requerida) e a remessa desta resolução
fundamentada (baseada no interesse público) ao Tribunal desonera a Administração ficando
habilitada para voltar a exercitar e a intervenção de controlo do Tribunal vem apenas
posteriormente se o particular achar que a resolução fundamentada não está bem
fundamentada, podendo pedir o incidente de suspensão da eficácia (n.º 4 e 5);
A resolução fundamentada apenas pode ser apresentada pela entidade requerida, não
existindo essa possibilidade para os contrainteressados porque estes não defendem o
interesse público e, por isso, é um sistema injusto para os contrainteressados;
O artigo 128.º, n.º 3 do CPTA é uma norma de consequência e se alguém quiser concretizar
essa consequência terá que requerer o incidente da declaração de ineficácia dos atos de
execução indevida;
O artigo 128.º do CPTA é aplicado após a citação, enquanto o artigo 131.º do CPTA o
momento mais cedo possível para a sua aplicação é após o despacho liminar pois o Juiz vai
analisar a aplicabilidade do artigo cujo critério é a verificação de uma situação de especial
urgência podendo: 1. Considerar que existe uma situação especial de urgência e irá decretar
a providência provisoriamente ou 2. Rejeitar o pedido de decretamento provisório e se a
providência requerida for a suspensão de eficácia do ato, neste caso, depois do despacho
liminar, existirá a citação e, segundo a Doutrina que defende a aplicação cumulativa, já pode
haver lugar à proibição de execução do artigo 128.º do CPTA, assim, segundo esta Doutrina
pode aplicar-se cumulativamente os dois artigos (existindo, assim, um certo equilíbrio
porque o artigo 131.º do CPTA é mais exigente quanto à aplicabilidade também é mais
garantístico quanto à sua vigência, enquanto o artigo 128.º do CPTA é menos exigente, mas
é mais fácil ser afastado por causa da figura da resolução fundamentada). Também existe
outra corrente Doutrinária que defende que se o Juiz se pronunciar no despacho liminar no
sentido de que não é aplicável o artigo 128.º do CPTA, este despacho liminar bloqueia a
aplicação do artigo 131.º do CPTA argumentando que não faz sentido dar uma dupla
garantia aos requerentes porque se o Juiz já considerou que não há uma situação de
especial urgência não fará sentido aplicar uma pré-providência para um requerente
simplesmente por se tratar da suspensão de eficácia do ato pois, para esta Doutrina, a racio
(algo que não está na Lei, mas sim no espírito e quando isto acontece dá sempre origem a
discussão Doutrinária) do artigo 128.º do CPTA é a proteção do requerente contra o
periclum in mora contra o próprio processo cautelar e, se não existir uma situação de
especial urgência, a racio deixa de existir;
Teoricamente podemos pensar se no artigo 128.º do CPTA existe uma certa presunção de
urgência especial e depois podemos pensar se essa presunção implícita é ilidível ou inilidível
e para quem considere que existe uma mera presunção ilidível da situação de especial
urgência (a presunção não tem que ser provada) a contraprova do despacho liminar irá ilidir
esta presunção implícita, mas tudo depende da leitura de cada um porque o legislador não
disse nada a este respeito, assim, depende da interpretação da Doutrina. A Jurisprudência
tem seguido mais a Doutrina que permite a aplicação cumulativa porque, no plano prático, a
Doutrina contrária é mais difícil ser aplicada porque a citação tem um efeito automático à
proibição e se o Juiz se limitar a pronunciar-se no despacho liminar no sentido de não
decretar provisoriamente a providência vai ter que citar também a entidade demandada,
assim, esta irá ficar numa situação de incerteza porque vai receber a citação que ativa o
artigo 128.º do CPTA, mas ao mesmo tempo recebe o despacho liminar no sentido de não
existência de uma situação de especial urgência, salvo quando no próprio despacho liminar
o Juiz diga expressamente que o artigo 128.º do CPTA fica bloqueado por causa do
despacho.
NOTA: Em qualquer questão sobre um pedido urgente temos que ter um pensamento dual, ou seja,
temos que pensar na tutela cautelar e na tutela principal e a tutela principal urgente é vista no artigo
36.º do CPTA que remeterá para os artigos subsequentes e, por isso, a segunda tarefa será encontrar
o processo aplicável (três ações e duas intimações), não esquecendo que em legislação avulsa
podem existir processos urgentes especiais.
No nosso caso, não se trata de contencioso eleitoral, de procedimento de massa (só se aplica às
situações tipificadas no artigo 99.º, n.º 1 do CPTA), nem de contencioso pré-contratual porque não
estão qualquer atividade contratuais em causa nem pré-contratuais. Também não se trata de
prestação de informações, consulta de documentos ou passagem de certidões.
Quanto à defesa de direitos, liberdades e garantias temos que analisar os requisitos cumulativos da
intimação e o seu requisito fundamental para aplicar este meio excecional urgente consiste na
indispensabilidade, ou seja, implica um juízo de comparação tendo como referência os diferentes
níveis de urgência:
O nível de urgência associado à intimação é o topo, por isso, só se os outros níveis inferiores
de urgência não forem suficientes é que se aplica a intimação;
Em teoria, sobretudo considerando a existência de legislação especial, pode haver processo
principal urgente aplicável ao caso sem necessidade de recorrer à intimação;
O nível 1 de urgência é aquele que pode ser acautelado por uma ação principal não urgente
acompanhado de uma providência cautelar e se o nível 1 for suficiente para o caso não há
indispensabilidade, ou seja, a urgência é assegurada por um processo provisório;
O nível 2 é o artigo 131.º do CPTA porque há uma mega urgência provisória, mas é uma
mega urgência que ainda é acautelada pelo próprio mecanismo cautelar, logo, é superior ao
nível 1, mas ainda é assegurado pelo processo cautelar;
O nível 3 assegura a urgência pela ação principal, logo, a urgência leva consigo a
sumariedade o que significa que o Tribunal não tem tanto tempo para apreciar o mérito em
causa e, por isso, há mais risco judiciário, daí o legislador tentar marginalizar uma ação
principal urgente à ação de intimação pois só é possível caso seja necessário uma decisão
final definitiva de uma ação principal par acautelar a situação no sentido de não chegar os
níveis inferiores de urgência assegurados pelo processo cautelar e o exemplo clássico
paradigmático é o de reação perante indeferimento de um requerimento de manifestação
porque uma manifestação não pode ser realizada provisoriamente necessitando de uma
decisão definitiva e urgente da situação
Para a nossa Regente só os Direitos, liberdades e garantias individuais é que podem legitimar
o recurso à intimação, os interesses difusos não podem merecer a tutela da intimação
existindo outra Doutrina que defende que a intimação também ser utilizada nos interesses
meta-individuais;
O artigo 110.º-A do CPTA é uma das normas que justifica que o nível abaixo da intimação é o
decretamento provisório do artigo 131.º do CPTA porque diz que se não existir a
indispensabilidade o Juiz irá ponderar a convolação do nível 3 (intimação) para o nível 2
(artigo 131.º do CPTA)
Voltando ao nosso caso, para o Assistente, o nível 1 é suficiente porque Armando ainda está numa
situação sem ato podendo depois de ter o ato praticado impugná-lo, mas o requerimento de
suspensão de eficácia junto com o artigo 128.º ou 131.º do CPTA é suficiente para acautelar a não
realização ou consumação de prejuízo no Direito de propriedade do Armando porque com a
suspensão da eficácia do ato, o Armando já pode continuar a usufruir do seu Airbnb sem
necessidade da competência a um ato com eficácia suspensa.
Se a Administração invocar uma causa legítima de inexecução e o exequente não concordar com a
legitimidade dessa causa quanto ao grave prejuízo para o interesse público
1. O Juiz manda citar o executado principal que é a Administração e os executados
secundários, se houver, que são os contrainteressados para deduzirem oposição à execução
(se a Administração não tiver invocado causa legítima de inexecução é também nesta altura
que o poderá fazer) e aqui o Juiz é que será o avaliador da causa legítima de inexecução
(artigo 165.º, n.º 2 do CPTA);
1.1.Se o Juiz concordar com a Administração, passa-se para a fixação do valor da
indemnização (artigo 166.º, n.º 1 do CPTA)
1.2.Se o Juiz não der razão à Administração, manda executar a Sentença do processo
declarativo que deu origem ao processo executivo (artigo 167.º do CPTA)
NOTA: O artigo 167.º, n.º 5 e 6 do CPTA aludem a duas situações: 1. se for prestação de facto pode
ser prestação de facto fungível ou entrega de coisa e, se assim for, é substituível (n.º 6), mas se for
uma prestação infungível o Tribunal não pode obrigar o cumprimento saltando-se para o artigo
168.º do CPTA mandando indemnizar fixando a indemnização por não cumprimento de prestação de
facto infungível e se a Administração não pagar vai ter que se mover um processo executivo par
apagamento de quantia certa.
Quando o Juiz condena a Administração a cumprir pode fixar um prazo de cumprimento e, nessa
situação, se os sujeitos incumbidos do dever de executar (funcionários) não o fizerem podem ser
alvo de sanções pecuniárias compulsórias (artigo 169.º do CPTA). No caso dos órgãos colegiais, os
sujeitos não podem cumprir a execução sozinhos pois estão dependentes da vontade dos órgãos e
poderão eximir-se destas sanções pecuniárias compulsórias manifestando um voto favorável à
execução ou, não estando presentes na votação, comuniquem por escrito ao presidente a sua
vontade de executar a sentença (n.º 3).
Há normas que se repetem relativamente a dois tipos de execução de dois substratos diversos
Disposições gerais sobre a execução de anulação ou declaração de nulidade de atos e normas
(artigo 173.º e seguintes do CPTA)
Parece estarmos sempre a falar de substratos de conteúdo infungível pois não se pode
demandar um terceiro a praticar um ato administrativo que foi anulado e que agora é
preciso praticar novamente sem irregularidades, mas existe uma dimensão de fungibilidade
nesta zona relativamente aos atos de conteúdo predominantemente vinculado em que o
Juiz pode emitir Sentença com conteúdo idêntico ao do ato que a Administração praticaria
se estivesse de boa vontade e que não quer praticar (embora estas hipóteses sejam raras),
assim, por norma, a Administração ou cumpre voluntariamente quando é executada ou vai
ser necessário condená-la ao pagamento de quantia certa porque não há pagamento
voluntário;
O artigo 173.º do CPTA é um artigo bastante explicativo pois o legislador do CPTA teve
necessidade de ensinar aos profissionais como é que iria ser este contencioso totalmente
reformado após 2002/2004 pois a Lei anterior era bastante minimalista, logo, em certa
medida parece ecoar a necessidade de explicar ao Juiz até onde é que podia ir na emissão de
injunções, relativamente à Administração, para explicar o que é que ela tinha de fazer para
cumprir as Sentenças de anulação de que era notificada, ou seja, explica o que é que um
exequente pretende ao mover um processo executivo contra a Administração neste âmbito;
O artigo 173.º, n.º 2 do CPTA explica que a Administração vai ter que reconstituir a situação,
indo atras repor jurídica e materialmente a situação que devia existir caso o ato não tivesse
sido praticado com aquele conteúdo, mas sim com um conteúdo legal, desde que não
envolva imposição de deveres, encargos, ónus ou sujeições a aplicação de sanções ou a
restrição de direitos ou interesses legalmente protegidos (eco constitucional das normas do
contencioso constitucional em que não se pode impor sanções retroativamente) assim como
no dever de anular, reformar ou substituir os atos consequentes, sem dependência de prazo,
e alterar as situações de facto entretanto constituídas, cuja manutenção seja incompatível
com a execução da sentença de anulação;
No n.º 1 e 2 do artigo 173.º do CPTA está condensado tudo aquilo que o Juiz pode fazer
relativamente ao direcionar do dever de executar atos administrativos ou Sentenças de
anulação de atos administrativos;
O legislador escolheu dois casos paradigmáticos para ser especialmente explicativo (n.º 3 e 4
do artigo 173.º do CPTA):
O n.º 3 vem introduzir uma causa legítima de inexecução que pode não ser vista de
interesse público, mas sim de interesse privado trazendo uma originalidade, por
exemplo, uma licença de loteamento concedida por uma Câmara Municipal e o
operador que faz o loteamento usou falsas premissas para obter a licença, mas
depois veio-se a descobrir que o licenciamento não se pode manter porque aquele
procedimento tem ilegalidades que, no máximo, até podem ser sanáveis, mas existiu
uma impugnação do MP do loteamento e o ato é anulado só que, entretanto, o
loteador já vendeu frações que obtiveram licença de utilização da Câmara Municipal
antes de se descobrir as ilegalidades que o loteador cometeu. Assim há o ato de
licenciamento de loteamento que vai gerar atos consequentes que são os atos de
licenciamento de construção e licenças de utilização das frações e essas pessoas
destinatárias desses atos são terceiros de boa-fé porque não faziam a menor ideia
que o loteador tinha usado má-fé e artifícios para obter aquela licença da
Administração e, caindo o ato de loteamento, cairiam os atos consequentes e estas
pessoas com investimento de confiança vão ter direito a ser indemnizados na
sequência da anulação, mas a sua situação jurídica não pode ser posta em causa se
esses danos forem de difícil ou impossível reparação e for manifesta a desproporção
existente entre o seu interesse na manutenção da situação e o interesse na
execução da sentença anulatória podendo estar, por exemplo, em jogo uma
situação de segurança do edifício pois se o problema não colocar em causa a
segurança do edifício a sua situação jurídica não pode ser posta em causa e, em
ultima análise, estes atos consequentes não podem ser anulados tendo que ser
mantidos apesar do loteamento ser ilegal (excecional prejuízo para interesses
privados). Se a Sentença anulatória tiver a ver, por exemplo, com a segurança dos
terceiros de boa-fé e terceiros essas pessoas não poderão conservar as licenças de
utilização tendo, também, que ser anuladas e serão indemnizadas pelas expetativas
criadas (desde que ocorridas há mais de um ano, porque se for há menos de um ano
o legislador presume que não existe expetativa a tutelar porque os atos são
intrinsecamente precários podendo ainda ser anulados). Estas pessoas serão
indemnizadas por existir uma causa legítima de inexecução que vai ser
consensualizada e a Administração vai pagar para não executar a Sentença, mas o
operador também poderá ser chamado noutro processo a indemnizar essas pessoas;
O n.º 4 ecoa uma solução que o Professor Freitas do Amaral recolheu na legislação
francesa quando fez a sua tese de Doutoramento e, por ser uma situação muito
comum, o legislador decidiu padronizá-la e explicar o que se faz neste tipo de
situações que são as situações em que um funcionário, na sequência de um
procedimento disciplinar, é exonerado ilicitamente, mas vai impugnar esse ato e
ganha e como os processos nos Tribunais Administrativos demoram algum tempo e,
nessa situação, quando vier a ter razão podem já ter passados alguns anos e já
existir alguém a ocupar o seu lugar e essa pessoa não tem culpa de o primitivo
funcionário ter sido dispensado ilegalmente e coloca-se a questão de saber como é
que se reconstituir a situação, como ela deveria existir, caso não tivesse sido
praticado o ato ilegal. Assim, o Juiz terá que analisar, desde logo, se o despedimento
ocorreu há mais, ou menos de um ano, se for há mais de um ano e se o lugar não
está vago o trabalhador despedido ilicitamente vai ter que ser integrado em lugar
vago ou em lugar a criar e o terceiro de boa-fé continua a exercer as suas funções.
Se não tiver decorrido mais de um ano entre o despedimento e a Sentença de
anulação, o terceiro de boa-fé será dispensado e o funcionário despedido irá
reintegrar o seu lugar. Este iato temporal de um ano tem a ver com o facto de os
atos administrativos ilegais poderem ser impugnados pelo MP no prazo de um ano e
a Administração pode anular um ato ilegal até um ano depois da sua notificação e,
portanto, este ano é um tempo de precariedade em que o legislador está presumido
que se o terceiro tinha expetativas em investir ainda não passou o momento em que
a sua posição ficaria consolidada.
O artigo 177.º do CPTA quando fala da apresentação da Petição tem uma tutela dos
contrainteressados, tal como na oposição à execução do artigo 165.º, n.º 1 do CPTA,
existindo uma notificação às entidades obrigadas para em 20 dias executarem a Sentença
podendo existir contrainteressados como pessoas que pugnaram ao lado da Administração
pela manutenção do ato (contraditório que abarca a fase declarativa e executiva);
O artigo 179.º do CPTA menciona a decisão judicial e o n.º 5 e 6 tratam da fungibilidade
neste processo de execução quando estiverem em causa atos de conteúdo vinculado;
A tramitação é muito similar ao processo anteriormente visto;
O prazo para a Administração cumprir voluntariamente esta Sentença é 90 dias (artigo 175.º,
n.º 1 do CPTA) e, também, pode existir invocação de causa legítima de inexecução (artigo
175.º, n.º 2 do CPTA), salvo quando a execução da Sentença consista no pagamento de
quantia pecuniária devendo o pagamento ser realizado no prazo procedimental de 30 dias
(artigo 175.º, n.º 3 do CPTA);
Assim, quando tivermos chegado ao fim da linha das hipóteses, ou seja, quando a
Administração não tenha invocado causa legítima de inexecução, quando não tenha dado
cumprimento à Sentença e quando já se tenham esgotado todas as vias para a fazer cumprir
ela não o faça e, portanto, move-se pagamento para quantia certa, nessa altura, não existe a
possibilidade de invocar causa legítima de inexecução, ou seja, a Administração pode invocar
o tal prejuízo para o interesse público em todas as situações com que for confrontada menos
quando se trate de pagamento.
Disposições gerais sobre a execução para pagamento de quantia certa (artigo 170.º a 172.º do
CPTA)
Podemos ser confrontados com a necessidade de mover este processo contra a
Administração quando: 1. Um particular concorda com a causa legítima da inexecução e
pede a fixação de uma compensação (esta indemnização não será por facto ilícito, mas sim
uma compensação por facto lícito pois a Administração tem uma desculpa ratificada pelo
Juiz em como a causa invocada é legítima e, portanto, não há uma inexecução por não
aceitação de uma causa legítima de inexecução, mas sim uma compensação ao particular
por ele ter razão e não a poder exercer); 2. A Administração não cumpre e não tem direito a
não cumprir porque a causa legítima que invocou não é legítima, mas sim ilegítima e,
portanto, há um incumprimento indevido de uma obrigação de execução de uma Sentença
(neste caso já se trata de uma indemnização por facto ilícito pois a Administração praticou
duas ilegalidades: recusou-se a desenvolver uma atuação de forma ilícita e, depois de ser
condenada a fazê-lo, continua a não cumprir); 3. A Administração é condenada em
responsabilidade civil, por exemplo, uma Câmara Municipal, através de uma empresa
municipal, desenvolve uma obra para trocar a canalização da via pública, fura
indevidamente um deles causando imensos prejuízos nas casas à volta e, portanto, é
possível pagar às pessoas pelos danos que sofreram, mas a Administração não pagou. Pode
haver execução para pagamento de quantia certa fora de um processo executivo bem ou
mal resolvido;
A Administração tem 30 dias para efetuar o pagamento (artigo 170.º, n.º 1 do CPTA) e se
pagar o assunto fica resolvido;
Se a Administração não pagar:
Neste processo, pode pedir a compensação de créditos que ocorre quando o
particular que pede a quantia lhe deve alguma coisa existindo um encontro de
contas (artigo 170.º, n.º 1 do CPTA, alínea a) do CPTA);
Não existindo compensação de créditos (situação mais usual) e se a Administração
continuar a não pagar teremos que ir para o artigo 171.º do CPTA, ou seja, move-se
um processo executivo em que a Administração pode vir responder como executada
invocando razões que permitam furtar-se a esta obrigação que lhe está a ser
imposta pelo particular, mas nunca pode existir uma causa legítima de inexecução;
Admitindo que o Tribunal não fica convencido com as razões apresentadas pela
Administração, dará razão ao exequente condenando a Administração a pagar e irá fixar o
montante estabelecendo o prazo para a Administração pagar essa quantia:
Quando a Administração é notificada da decisão e pagar o assunto fica resolvido;
Quando a Administração é notificada da decisão não poderá alegar que não tem
cabimento orçamental a fim de ficar exonerada do pagamento, sem prejuízo de
poder ser causa de exclusão da ilicitude da inexecução espontânea da sentença
(artigo 171.º, n.º 5 do CPTA), no entanto, não existindo cabimento orçamental,
tenta-se chegar a um acordo de pagamento em suaves prestações (artigo 171.º, n.º
6 do CPTA);
Se não existir acordo para o pagamento escalonado, passamos para o artigo 172.º, n.º 3 a 9
do CPTA, o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais será informado para
saber se dentro da verba anual que é inscrita em seu nome, para fazer face a estas
situações, ainda há dinheiro para pagar aquela pessoa:
Se existir dinheiro para esse particular a situação fica resolvida;
Se não existir essa pessoa terá que aguardar que, em nova colocação em anos
posteriores, possa vir a ser ressarcido o seu crédito devendo ser imediatamente
notificado da situação de insuficiência da dotação para tomar uma decisão:
o Requerer ao Tribunal Administrativo para prosseguir a execução aplicando-
se o CPC (leva-nos à penhora de bem da entidade que está obrigada ao
cumprimento desta obrigação pecuniária, mas os bens das pessoas
coletivas, em grande parte, por estarem afetos realização de tarefas de
interesse público são impenhoráveis e, portanto, há um conjunto muito
significativo de bens que não podem ser objeto de penhora e há outros que
podem ser, mas que vão ser leiloadas em hasta pública e até haver algum
dinheiro demora muito tempo) ou;
o Requerer a fixação à entidade obrigada de um prazo limite para proceder ao
pagamento, com imposição de uma sanção pecuniária compulsória aos
titulares do órgão competente para determinar tal pagamento (neste caso,
serão pessoas como nós que irão efetuar o pagamento através dos seus
salários – artigo 169.º do CPTA – estas sanções compulsórias não são pagas
ao exequente, mas sim à ordem do Tribunal porque não é isso que vai
ressarcir o particular que quer a indemnização)
CONCLUSÃO: não é nada bom quando a Administração não cumpre os seus pagamentos e, por isso,
para a Regente o melhor ainda é aceitar o pagamento em prestações.
Arbitragem administrativa
Leitura do texto da autoria do Dr. Tiago Serrão “A arbitragem no CPTA” nos Comentários à
Legislação Processual Administrativa – Volume II
Disposições gerais
No contencioso administrativo, até agora, o foco foi colocado nos Tribunais Administrativos,
na organização da jurisdição administrativa e no funcionamento propriamente dito desses
Tribunais e os Tribunais arbitrais são uma alternativa aos Tribunais do Estado e as principais
vantagens passam pela maior celeridade e uma maior especialização e o legislador tem tido
necessidade de apostar na arbitragem administrativa para responder às dificuldades que o
sistema público tem na resolução massificada de litígios;
Estes Tribunais são privados, mesmo quando resolvem litígios jurídico-administrativos;
São órgãos jurisdicionais com assento constitucional e, por isso, são verdadeiros Tribunais,
embora não sejam órgãos de soberania por não serem Tribunais do Estado (artigo 209.º, n.º
2 da CRP);
O artigo 212.º, n.º 3 da CRP não prevê uma reserva material absoluta, ou seja, o legislador
admite que outros Tribunais que não os Administrativos resolvam litígios Administrativos
incluindo, não só, os Tribunais comuns como os Tribunais arbitrais (artigo 209.º da CRP);
Na versão base do CPTA, a arbitragem já era prevista no artigo 180.º e seguintes, mas ao
longo do tempo, sobretudo de 2015 a 2019, existiu um conjunto de alterações a este
regime;
Quando o CPTA surgiu, em 2002, o legislador deu atenção a este instituto porque ele já tinha
raízes normativas e práticas, essencialmente, em matéria contratual;
A aposta do legislador na arbitragem administrativa prende-se com o DL 10/2011, de 20 de
janeiro que aprovou o regime jurídico da arbitragem em matéria tributária e a partir do
momento em que o legislador “abriu a porta” à arbitragem em matéria de atos tributários
passámos a ter uma porta “entreaberta” no que toca à arbitragem administrativa,
nomeadamente, atos administrativos;
Até 2015, a arbitragem administrativa, quanto a atos administrativos, não tinha um espaço
muito dilatado na Lei e foi precisamente o DL 10/2011 que veio permitir a alteração de 2015
de modo a abrir a porta, em termos amplos, à arbitragem administrativa nos termos do
artigo 180.º, n.º 1, alínea c) do CPTA. Este artigo deixa algumas questões que são
rapidamente resolvidas:
Esta alteração é conforme a CRP pois os Tribunais arbitrais podem dirimir litígios
jurídico-administrativos porque são verdadeiros Tribunais à luz da CRP não existindo
sequer uma descaraterização do sistema de justiça público;
Não há razões para distinguir entre atos discricionários e vinculados pois o legislador
não faz essa distinção no artigo 180.º, n.º 1, alínea c) do CPTA e, por isso, podem ser
constituídos os Tribunais arbitrais administrativos para dirimir questões respeitantes
à validade de atos administrativos sejam eles discricionários ou vinculados;
Podem ser formulados, junto dos Tribunais arbitrais administrativos, pedidos de
condenação à prática de ato devido existindo um paralelismo com os Tribunais
estaduais
Na alínea a) e b) do artigo 180.º, n.º 1 do CPTA começa-se por referir os domínios clássicos
onde começou a existir arbitragem administrativa e o domínio mais relevante a esse nível é
o domínio contratual, disposto na alínea a), com questões respeitantes a contratos e o
legislador inclui aqui questões atinentes a atos de execução contratual, portanto, não são só
as questões contratuais em si, mas também questões atinentes a atos administrativos
relativos à execução contratual, por exemplo, um ato de aplicação de multa contratual;
Na letra do artigo 180.º, n.º 1, alínea a) do CPTA refere-se apenas à formulação e declaração
de nulidade desses atos, mas os atos administrativos também podem ser inexistentes e
apesar de o legislador não o dizer de modo expresso não existe nada que diga que o Tribunal
arbitral não pode intervir nesses casos;
No artigo 180.º, n.º 1, alínea b) do CPTA incluem-se as questões respeitantes a
responsabilidade civil extracontratual administrativa (decorrente da função administrativa)
porque o legislador no artigo 185.º, n.º 1 do CPTA optou por excluir a responsabilidade civil
no exercício da função jurisdicional e política e legislativa tendo sido uma opção do
legislador pois a CRP não impedia que estes litígios fossem dirimidos nos Tribunais arbitrais
administrativos. O artigo 180.º, n.º 1, alínea b) do CPTA alude também à efetivação do
Direito de regresso e, desde 2015, indemnizações devidas nos termos da lei, no âmbito das
relações jurídicas administrativas;
Em matéria de atos administrativos, apesar de o legislador consagrar a alínea c) do artigo
180.º, n.º 1 do CPTA com uma base normativa geral existe um tipo particular de ato
administrativo que conta, desde 2015, com uma atenção particular do legislador que são os
atos pré-contratuais (artigo 180.º, n.º 3 do CPTA);
A redação do artigo 180.º, n.º 3 do CPTA é evolutiva porque entre 2015 e 2019 houve outra
revisão de outro diploma que releva para esta norma que o CCP, que foi alterado em 2017, e
um diploma de cariz substantivo contem uma norma de cariz processual (artigo 476.º do
CCP) e a redação do artigo 180.º, n.º 3 do CPTA que surgiu em 2015 e o preceito surgido no
CCP em 2017 gerava várias dificuldades de conjugação e em 2019 surgiu a nova redação do
CPTA em que o legislador tentou uniformizar esta matéria remetendo para o artigo 476.º do
CCP, embora preveja as especialidades da alínea a) e b) do artigo 180.º, n.º 3 do CPTA.
Limites da arbitragem
No artigo 185.º, n.º 2 do CPTA temos dois limites: 1. Os Tribunais arbitrais administrativos,
tal como os Tribunais estaduais administrativos, não podem administrar por via do princípio
constitucional da separação de poderes e 2. Só o Direito constituído pode servir de
parâmetro de controlo das atuações (surgiu em 2015 como resposto a abusos existentes no
uso da equidade).
Impugnação e recurso das decisões arbitrais
No artigo 185.º-A do CPTA cabem as Sentenças (um árbitro) e os Acórdãos arbitrais (colégio
de árbitros) e também se adota aqui duas expressões: 1. Impugnação (n.º 1 – meio
específico de reação apelidado por pedido de anulação ou ação de anulação – artigo 46.º da
LAV – meio cassatório) e 2. Recurso (n.º 2 e 3 – a regulação exaustiva em matéria de
recursos tem a ver com o facto de o legislador, apesar de apostar da arbitragem, desconfia
da arbitragem, tal como acontece na comunidade extrajurídica e na política, e, por isso, quer
que decisões arbitrais administrativas sejam controladas pelos Tribunais estaduais);
Olhando para o n.º 2 e 3 do artigo 185.º-A do CPTA percebemos que há um controlo de larga
escala pelos Tribunais estaduais tendo surgido em 2019, por opção parlamentar, estando
inclusivamente consagrado o Recurso de revista (n.º 3, alínea a)) e isso não faz sentido pois
devia vigorar o princípio da autorresponsabilização das partes porque trata-se do regime
geral da arbitragem administrativa voluntária, ou seja, são as partes que escolhem dirimir o
litigio no Tribunal arbitral que se distingue da arbitragem necessária em que o legislador
impõe a resolução do litigio pela via arbitral, logo, ao existir este cruzamento excessivo irá
descaraterizar a arbitragem eliminando, desde logo, uma das vantagens da arbitragem que é
a celeridade
Publicidade
Regulada no artigo 185.º-B do CPTA é um fator de caraterização da arbitragem e até 2015
não existia nenhuma disposição normativa sobre a publicidade. Em 2015 surgiu o n.º 1 do
artigo existindo uma obrigatoriedade da publicidade, mas só existindo essa norma não se
efetivou o que a Lei exigia e, em 2019, surgiu o n.º 2 que determina que para a decisão
arbitral constituir título executivo nos Tribunais do Estado é necessário que seja depositada
pelo Tribunal arbitral e o MJ tem que promover a sua publicação (apenas a decisão da
Sentença/Acórdão e não as peças do processo) e só depois deste passo de 2019 é que surgiu
a Portaria 165/2020, de 7 de julho.
Centros de arbitragem
No artigo 187.º do CPTA temos a arbitragem institucionalizada (os Tribunais arbitrais são
constituídos no seio de uma estrutura pré-existente como, por exemplo, centro de
arbitragem administrativa; centro de arbitragem para a construção, etc. tendo vantagens
como a gestão do secretariado) que se distingue da arbitragem ad hoc (decorre de forma
autónoma, existindo um Tribunal que pode escolher o local onde vai funcionar e tem o seu
secretariado, não existindo uma estrutura de suporte para aquele Tribunal).
NOTA: o facto de as normas estarem excluídas do artigo 180.º do CPTA pode dever-se ao passado
em que existia uma equiparação das normas administrativas a comandos legais e o legislador não
terá querido trazer as normas administrativas para a arbitragem. Outra possibilidade poderá ter a
ver com a legitimidade dos Juízes árbitros em relação à legitimidade do Juiz estatal porque o facto de
serem Tribunais, mas não serem órgãos de soberania e como a norma provoca mais resistência, do
ponto de vista de uma atuação, o facto de ser feita por um Juiz que não é órgão de soberania,
mesmo sendo Juiz único, pode gerar ainda alguma desconfiança daí o legislador optar por não
entregar esse poder a um Juiz que não é um órgão de soberania.
Recursos
Os recursos têm a finalidade de permitir que as decisões sejam revistas por Tribunais superiores
Os Tribunais de segunda instância ao aprovarem ou revogarem a decisão de primeira instância
conhecem o mérito da causa.
Decisões irrecorríveis
Decisões proferidas no exercício de dever de gestão processual, salvo se estiver em
causa o princípio do contraditório ou igualdade, a aquisição processual de factos ou
admissibilidade de meios de prova (artigo 7.º-A do CPTA);
Decisão de convite ao suprimento de irregularidades, insuficiências ou imprecisões
dos articulados (artigo 87.º, n.º 6 do CPTA);
Decisão (inicial) de decretamento provisório de providência cautelar (artigo 131.º,
n.º 4 do CPTA);
Decisão proferida em processo de conflitos (artigo 135.º, n.º 1, alínea e) do CPTA)
Dependendo dos vícios, pode-se recorrer de uma decisão de ato anulado pela Administração que o
próprio impugnou:
Vícios procedimentais – vícios que ocorrem no procedimento, por exemplo, falta de
fundamentação podendo ter que ser repetido. Este tipo de vícios não impedem a renovação
do ato, ou seja, por exemplo, na falta de audiência esta pode ser “repetida”;
Vícios formais – estes vícios impedem a renovação do ato
Vícios de substância – estes vícios impedem a renovação do ato
Assim, ao impugnarmos uma ação com base num vício em que o ato possa voltar a ser repetido não
será suficiente porque se trata de um vício procedimental, por exemplo, falta de audiência.
Portanto, apenas podemos recorrer com base na existência de outros vícios que impedem a
renovação do ato, por ser devido e formado em caso julgado como, por exemplo, falta de norma ou
poder para atribuir licença. Assim, temos que ter sempre em conta o tipo de vício (artigo 95.º, n.º 3
do CPTA).
Os vícios alegados são os que serão discutidos, ou seja, não podem vir a ser alegados posteriormente
salvo se se tratarem de factos supervenientes, objetivos ou subjetivos.
Processo instrutor – conjunto de documentos apresentados pelas partes para a prática do ato como,
por exemplo, informações e provas. Quando alguém demanda existe a necessidade de apresentar o
processo instrutor, daí que o próprio Tribunal se possa perceber de outros vícios que, nesse
momento, podem ser alegados (artigo 84.º e 86.º, n.º 2 do CPTA – podem existir factos
superveniente que podem invocar novos vícios).
Tipos de recurso
Recurso de apelação – o Tribunal toma conhecimento da matéria de facto que foi discutida
na primeira instância
Recurso de revista – apreciação de uma mesma decisão por um Tribunal Superior. É um
recurso de carater discricionário porque não é imposto pela Lei, mas sim se o STA entender
que se justifica, desde que enquadre uma das três opções referidas no artigo 150.º do CPTA.
NOTAS
Recurso (reexame e substitutivo) de apelação (artigo 149.º do CPTA):
Declarada a nulidade (processual) da sentença recorrida, o tribunal de recurso deve
apreciar o mérito;
Revogada a decisão de mérito da primeira instância, o tribunal de recurso deve
pronunciar-se sobre questões não apreciadas anteriormente;
Revogada a decisão que não se pronúncia sobre o mérito, o tribunal de recurso deve
conhecer do pedido;
A possibilidade de produção de prova em sede de recurso: tramitação processual
(artigo 149.º, n.º 4 e 5 do CPTA);
A possibilidade de conhecimento de questões novas não suscitadas em primeira
instância: o limite do pedido
Recurso de revista (artigo 150.º do CPTA):
Manutenção dos pressupostos de admissão (discricionária) do recurso: (a) a
importância fundamental da questão, em função da sua relevância jurídica ou social,
ou (b) a necessidade de melhor aplicação do direito;
Admissibilidade da revista em sede de providência cautelar e com pronúncia de
mérito em sede de recurso;
Simplificação do recurso per saltum: questões de direito e causa de valor
indeterminado ou superior a € 500.000,00.
A Lei 67/2007, de 31 de dezembro é uma Lei substantiva e aprova o regime da Responsabilidade civil
extracontratual do estado e pessoas coletivas de direito público.
Nesta matéria importa, também, o artigo 4.º, n.º 1 do ETAF, especialmente as alíneas f), g) e h) que
correspondem às funções politicas, legislativas, jurisdicional e administrativa, embora esta última
não seja mencionada na alínea f) também está incluída.
A alínea h) do artigo 4.º, n.º 1 do ETAF remete-nos, desde logo, para o artigo 1.º da Lei 67/2007.
O artigo 22.º e 271.º da CRP também têm relevância para esta matéria e o n.º 4 do artigo 271.º da
CRP refere-se a um Direito de regresso das entidades públicas contra os titulares dos seus órgãos,
funcionários e agentes que cometam faltas porque atuam com zelo manifestamente inferior ao que
estão obrigadas ou com dolo e, por isso, devem reembolsar as pessoas coletivas que pagaram por
eles, sendo eles os principais responsáveis por essa atuação estando, esta norma, pressuposta no
artigo 22.º da CRP porque este fala na forma solidária, cuja solidariedade implica uma atuação com
algum grau de culpa e a solidariedade significa que qualquer devedor pode pagar toda a dívida, mas
depois há um encontro de contas entre eles que remete para o artigo 271.º, n.º 4 da CRP.
Este regime, aprovado em 2007, sucedeu-se a um regime que esteve em vigor desde 1967, durante
40 anos, e nesse regime apenas se regulava a responsabilidade da função administrativa e, portanto,
esta é uma das grandes diferenças sendo o regime atual muito mais abrangente na sua regulação,
no entanto, a função jurisdicional e legislativa oferecem particulares dificuldades no campo de
imputação de danos porque, no caso da função jurisdicional aparece no capitulo III da Lei (artigo
12.º, 13.º e 14.º) que estabelecem um regime que, fundamentalmente, passam pela verificação de
pressupostos relativamente apertados tendo sempre que haver uma decisão de um Tribunal que
confirme que a primeira decisão para fundamentar o pedido de responsabilidade, ou seja, tem
sempre que existir uma confirmação de que alguém errou dentro da sua função e isto nem sempre é
possível, por exemplo, quando os Tribunais Superiores erram não temos como recorrer ou nas
decisões que não são recorríveis porque ficam abaixo da alçada de recurso (podendo-se estar a falar
em danos não patrimoniais e, por isso, danos consideráveis) e o artigo 14.º ainda nos diz que os
magistrados judiciais e do Ministério Público não podem ser diretamente responsabilizados pelos
danos decorrentes dos atos que pratiquem no exercício das respetivas funções, assim, o particular
imputa a responsabilidade ao Estado e depois de o Conselho Superior de Magistratura decidir
autorizar que haja regresso do Estado contra o Magistrado é que haverá uma responsabilização de ir
“ao bolso” do Juiz em causa devemos ter em conta que esta responsabilidade civil não tem nada
a ver com a responsabilidade disciplinar pois os funcionários podem ser alvo de procedimentos
disciplinares e a que é de difícil imputação é a responsabilidade civil, quer pelos pressupostos, quer
pelo mecanismo do artigo 14.º.
No caso de se tratar do legislador vigora o artigo 15.º que reduz os danos ressarcíveis aos danos
anormais (artigo 2.º da Lei 67/2007) e, portanto, não são quaisquer danos e, além disso, este artigo
faz depender a imputação de danos provocados por facto da função legislativa, por ação ou omissão,
a uma prévia decisão de inconstitucionalidade tendo logo um problema no caso de omissão porque
ninguém irá aceder à jurisdição constitucional no caso de omissões constitucionais e, portanto, se o
dano se dever à omissão de norma não há como imputar porque não se pode pedir ao Tribunal
Constitucional nem a fiscalização difusa nem a pronúncia de omissão legislativa e, por outro lado, é
necessária uma decisão de aplicação de norma cuja inconstitucionalidade, ilegalidade ou
desconformidade com convenção internacional haja sido suscitada durante o processo que é
pressuposto de uma ação por responsabilidade por facto e função legislativa. As condicionantes
decorrentes do n.º 4 e 5 também não trazem grandes resultados práticos para os particulares que se
sintam lesados em função desta função (no caso do Aquapark, os pais exigiram responsabilidade ao
dono do parque (privado) e ao Estado (porque não existia legislação que regulamentasse estes
parques e o Estado também foi condenado a pagar uma indemnização aos pais da criança sugada na
piscina, hoje em dia, os pais não conseguiriam essa indemnização por parte do Estado porque faltava
a prévia decisão de inconstitucionalidade).
Este regime é geral, não afastando a convocação de regimes especiais que possam existir (artigo 1.º,
n.º 1 da Lei 67/2007), aplicando-se a toda a atividade administrativa que resulte do exercício de
prerrogativas de poder público ou regulada por disposições ou princípios de Direito Administrativo
(artigo 1.º, n.º 2 da Lei 67/2007). Este artigo 1.º, n.º 5 da Lei 67/2007 vem puxar para o âmbito desta
Lei pessoas coletivas de direito privado e respetivos trabalhadores, titulares de órgãos sociais,
representantes legais ou auxiliares, por ações ou omissões que adotem no exercício de prerrogativas
de poder público ou que sejam reguladas por disposições ou princípios de direito administrativo.
Parece um regime muito abrangente, mas o artigo 22.º da CRP quando diz “por ações ou omissões
praticadas no exercício das suas funções e por causa desse exercício” serve para distinguir os atos
funcionais (praticados no exercício das funções e por causa delas) dos atos pessoais (atos praticados,
até durante o exercício das funções, mas não por causa delas ou, fora das funções, mas
aparentemente em funções sendo imputados os atos a título pessoal e, nos ordenamentos jurídicos,
existem respostas diferentes a estes caso por causa da teoria colaboradores benévolos que nasceu
na Jurisprudência do Conselho de Estado Francês e, por exemplo, um polícia é um colaborador
benévolo porque não tem que exercer tarefas de proteção fora das suas funções e, para evitar, que
se contenham de intervir por saberem que serão eles os responsáveis, o que pode originar a mais
assaltos, por exemplo, a Jurisprudência tende a aplicar as mesmas regras da responsabilidade da
função administrativa, muitas vezes, até a responsabilidade pelo risco por existir uma margem de
risco ao impedir um assalto para incentivar estes colaboradores benévolos que estão a agir em prol
do bem comum dando uma resposta diferente e faz-se como se tivesse sido praticado por um órgão
da Administração nas suas funções. Em Portugal, a teoria do colaborador benévolo nunca foi
aplicada, por isso, desconhece-se como seria decidido um caso destes).
O artigo 4.º do ETAF deve-se cruzar com este regime, ou seja, quando sejam factos pessoais não se
trata de jurisdição administrativa, sendo os Tribunais comuns, assim, só quando é um facto ou
omissão é que entramos nos Tribunais Administrativos, normalmente, pela alínea f).
O artigo 37.º, n.º 1, alínea k) do CPTA refere-se a trabalhadores em funções públicas fazendo sentido
que o Estado exerça o Direito de regresso porque o que o Estado paga será através dos
Contribuintes e se forem pessoas coletivas privadas é o património desta que responde, já não
sendo o Estado a pagar, mas se existir falha do seu colaborador fará sentido continuar a falar o
regresso, podendo-se questionar se há um dever, ou não, por já não serem dinheiros públicos em
causa, mas o regresso contra servidores da entidade privada não é exercido nos Tribunais
Administrativos (artigo 4.º, n.º 4, alínea b) do ETAF) pois se não há um vinculo de Direito público,
não cabe na jurisdição dos Tribunais Administrativos.
Pressupostos processuais
Relativamente à competência do Tribunal temos jurisdição, mas existem questões de
competência territorial resolvidos no âmbito dos artigos 16.º e seguintes do CPTA devendo
ter em consideração que, em muitas situações, o pedido de responsabilidade civil vai estar
cumulado com o pedido de anulação do ato; anulação de norma; condenação à emissão de
um ato; condenação à emissão de norma e, portanto, é um pedido complementar do pedido
principal ao abrigo do artigo 4.º, n.º 2, alínea f) do CPTA (cumulação de pedidos) o que
consumirá grande parte das situações significando que se aplica o artigo 21.º, n.º 2 do CPTA
porque o artigo 18.º só vale para as situações em que a Administração praticou um dano
independentemente de um ato ou de uma norma, por exemplo, a Câmara Municipal
mandou desbravar um terreno particular porque queria aumentar o terreno público
causando um dano ao particular (operação material) e o que titular do terreno pretende é
que a Administração lhe devolva o terreno tal e qual como estava devendo interpor uma
ação para reposição do statu quo ante que é uma ação ressarcitória e só se não for possível
essa reposição é que se passa para uma compensação pecuniária. Assim, se existir uma
cumulação com um pedido principal deve ser aplicado o artigo 21.º, n.º 2 do CPTA, se
estivermos somente perante uma ação de responsabilidade civil aplicamos o artigo 18.º do
CPTA. Se existir uma cumulação de um pedido de responsabilidade civil pela prática de um
ato praticado por um Município deve-se aplicar sempre o artigo 20.º do CPTA, enquanto se
for uma cumulação com um pedido de anulação de um ato de um Instituto Público já será
aplicado o artigo 21.º do CPTA;
Quanto ao prazo, estas ações, teoricamente, teriam o prazo do artigo 41.º do CPTA (a todo o
tempo), mas este artigo só se aplica caso não exista disposição em Lei substantiva e, neste
caso, o artigo 5.º da Lei 67/2007 remete-nos para o artigo 498.º do CPC que serão três anos
sobre a prática do facto lesivo ou três anos sobre a data do conhecimento desse facto lesivo
pelo lesivo (três anos para a ação de efetivação da responsabilidade e três anos para a ação
de regresso – conta-se os três anos após o pagamento efetivo a pessoa coletiva é
condenada, paga e, depois, tem três anos para acionar o funcionário para o reembolso do
montante devido);
Quanto à legitimidade podemos ter pessoas coletivas a exigir responsabilidade de outras
pessoas coletivas, mas o quadro mais habitual será um particular sofrer danos em virtude da
prática de um ato; emissão de uma norma; etc. e, portanto, temos a legitimidade formada a
partir do artigo 9.º, n.º 1 do CPTA e temos a legitimidade passiva nos termos do artigo 10.º
do CPTA. Estas ações não têm contrainteressados pois não há ninguém que tenha interesse
na não interposição de indemnização, mas esta é uma das situações em que o autor público
pode não estra sozinho e até pode não ser um autor público sendo necessário verificar o
artigo 7.º, 8.º, 11.º e 16.º (se considerarmos este uma forma de responsabilidade civil,
embora a Regente o desconsidere, maioria da Doutrina em Portugal ainda o considera como
tal) da Lei 67/2007:
O artigo 7.º e 8.º da Lei 67/2007 tratam de responsabilidade por facto ilícito e são o
grosso das atuações;
O artigo 11.º da Lei 67/2007 trata de responsabilidade pelo risco onde se
enquadram, tipicamente, as atuações policiais e exercícios militares;
O artigo 16.º da Lei 67/2007 trata de indemnização por sacrifício que são as típicas
situações de expropriação por utilidade pública em que se vai indemnizar um
particular que sofra um dano especial e anormal a bem do bem comum;
O artigo 8.º, n.º 4 da Lei 67/2007 vem estabelecer um regime estranho em que
quando alguém quiser imputar responsabilidade à pessoa coletiva deverá fazê-lo,
mas se esta quiser colocar o funcionário poderá fazê-lo e, terminada a primeira ação
em que a vítima agiu contra a pessoa coletiva, esta ação irá continuar assumindo o
réu a posição de autor e alguém que nem sequer estava na ação a posição de réu,
portanto, continua a ação para, depois, a pessoa coletiva exercer o regresso porque
já foi condenada e pagará (o objeto e as partes são diferentes na primeira e segunda
ação e ainda se coloca o problema de se esgotar o poder jurisdicional e existir
trânsito em julgado e, por isso, esta norma não é exequível e existe porque no
regime anterior existiram umas cinco de ações de regresso e o legislador colocou
esta norma para facilitar o regresso pois o que interessa é acautelar o direito da
vítima, mas acautela um esquema para regresso, mas isto não funciona porque a
pessoa coletiva já tem um caso julgado contra si que é por culpa leve, se não existir
outro grau de culpa, paga e, depois, até poderá exigir ao funcionário, mas já não
será um regresso e sim um novo apuramento de responsabilidade porque, nessa
segunda ação, em que o funcionário se pode defender o julgador pode concluir que
não houve culpa do funcionário ou que, efetivamente, este agiu com falta grave
existindo razão para o reembolso, mas não é uma ação de regresso propriamente
dita);
Nos casos de atuação com culpa leve, culpa anónima (culpa do serviço como, por
exemplo, alguém que foi para o hospital e saiu de lá com uma infeção em que não
existiu responsabilidade de nenhum profissional), de responsabilidade pelo risco e
de compensação pelo sacrifício (artigo 7.º, n.º 1, 3 e 4; 11.º e 16.º da Lei 67/2007) a
responsabilidade é apenas da pessoa coletiva;
Nos casos em que um funcionário pratica um facto pessoal será apenas a
legitimidade do funcionário que está em juízo, logo, será resolvido nos Tribunais
comuns;
As situações mais complexas serão aqueles em que o funcionário atua com
diligência inferior à devida porque aí a CRP determina que existe uma
responsabilidade solidária e, nessa situação, a legitimidade passiva pode-se fazer de
três formas diferentes dependendo do que o lesado pretende:
o Pode estar apenas a pessoa coletiva;
o Pode estar apenas o funcionário;
o Podem estar ambos
NOTA: na opinião da Regente, como a responsabilidade, hoje em dia, é imputada por falta leve à
pessoa coletiva, o lesado não tem que se preocupar em caraterizar a falta grave chamando a pessoa
coletiva imputando-lhe tudo e a pessoa coletiva, se tiver interesse, é que irá chamar o funcionário à
demanda passando a existir dois réus no lado passivo, assim, este diploma permite à vítima colocar
só a pessoa coletiva, mas na verdade, a pessoa coletiva se quiser exercer o regresso tem todo o
interesse em que o funcionário figure na ação declarativa porque só aí é que pode imputar a sua
culpa, se deixar passar será imputada por culpa leve e responde sozinha.
Embora o artigo 6.º da Lei 67/2007 diga que o exercício do direito de regresso é um dever, o nosso
grande problema continua a ser o facto de ele não estar a acontecer.
Contratação pública
É algo que tem a ver com o modo de satisfação das necessidades aquisitivas do Estado porque com o
retrocesso do Estado social, hoje em dia, temos uma figura que se chama Estado regulador, ou seja,
o estado já não presta todos os serviços existindo uma certa parte que está a ter a colaboração do
privado. Assim, a necessidade da contratação pública surge porque o Estado não produz todos os
bens e serviços necessários para manter o funcionamento dos seus órgãos essenciais, por exemplo,
quando o Estado precisa de uma nova sede para construir um edifício ou autoestradas tem de
contratar um empreiteiro ou até poderá ser algo de uma dimensão mais pequena como, por
exemplo, na FDUL existem lâmpadas, papel higiénico, etc. que são bens adquiridos pela Faculdade
entrando na necessidade aquisitiva da Faculdade tendo que ir ao mercado para contratar um
operador económico para aceder a estes bens.
O Estado e a Administração quando agem estão vinculados aos princípios jurídicos (legalidade,
igualdade, proporcionalidade, transparência, boa-fé, etc.) e é devido a esta vinculação do Estado que
nasce a necessidade de regular o ramo da contratação pública porque o Estado quando compra
injeta dinheiro no mercado porque implica uma atribuição de uma vantagem económica à pessoa
que recebe o contrato com o Estado, logo, temos uma questão de princípio de igualdade e
transparência porque, por exemplo, se o Estado contratar sempre a mesma empresa significa que
está a conceder uma vantagem concorrencial para essa empresa gerando uma questão de
desigualdade devido aos concorrentes do mercado.
Além disso, do ponto de vista dos Contribuintes, temos a questão da gestão do dinheiro público
porque se comprar sempre à mesma empresa pode não estar a adquirir os serviços ao melhor
operador por estar a cobrar preços altos ou a qualidade não ser a melhor.
Por isso, existem duas grandes preocupações, por um lado, garantir o funcionamento normal da
concorrência e quando o Estado intervir na aquisição no mercado não está a perturbar o
funcionamento normal do mercado e, depois, garantir que o dinheiro público seja bem utilizado
significando que a contratação pública tem uma finalidade primordial para garantir a concorrência e
a gestão eficiente do dinheiro público, logo, a contratação pública tem como seu principio
fundamental a concorrência e, por isso, o Estado quando quiser realizar compras tem que lançar um
procedimento concorrencial e o Estado analisará todas as propostas, escolhendo a melhor e
adjudicando a proposta.
O CCP tem várias partes e os essenciais são a segunda e terceira parte. A primeira parte diz respeito
ao âmbito subjetivo e objetivo e, ao nível de aplicação subjetivo, podem aparecer não só entidades
administrativas, mas também entidades privadas com alguma ligação com a Administração e, por
isso, não abrange apenas a Administração em sentido orgânico, estando sobretudo no artigo 2.º do
CCP e a ideia geral é que o âmbito de aplicação objetivo incide sobre os contratos cujas prestações
são suscetíveis de gerar interesses concorrenciais. A segunda parte diz respeito à contratação
pública que regula o procedimento de necessidades aquisitivas da administração e, por isso, esta
parte é de regulação procedimental para sabermos quais são os procedimentos pré-contratuais
necessários para satisfazer as necessidades aquisitivas e, por isso, quando falamos em contencioso
pré-contratual estamos, muitas vezes, da segunda parte do CCP, logo, o fundamento da PI que é a
ilegalidade de um procedimento pré-contratual, em regra, consiste na violação de algumas normas
da segunda parte do CCP. A terceira parte diz respeito à regulação de contratos administrativos
regulando a execução dos contratos administrativos, por isso, a sua relevância está mais virada para
o contencioso contratual. No entanto, não existe uma fronteira rígida entre a segunda e a terceira
parte e, por isso, às vezes, consoante a circunstância, algumas normas da terceira parte também
podem ser relevantes no plano substancial para o efeito do contencioso pré-contratual. A nível da
terminologia, os contratos públicos e contratação pública tem a ver com um contrato que está, ou
não, sujeito à segunda parte do CCP, por isso, é um conceito procedimental enquanto um contrato
administrativo depende da satisfação de um dos requisitos do artigo 280.º, n.º 1 do CCP e o conceito
de contrato administrativo tem a relevância de delimitar o âmbito de aplicação da terceira parte do
CCP. Esta distinção é relevante porque um contrato público pode não ser, necessariamente, um
contrato administrativo, enquanto um contrato administrativo, em teoria, também pode não ser
necessariamente um contrato público o que significa que em relação à formação e execução de um
contrato pode não ser aplicável, simultaneamente, a segunda e terceira parte do CCP.
Além destes dois procedimentos, existem tipos concorrenciais que são diferentes por terem fases
procedimentais diferentes podendo ter um procedimento concorrencial unifásico, bifásico e
multifásico que são procedimentos complexos porque implicam um conjunto de prática de atos
administrativos pré-contratuais durante o procedimento como, por exemplo:
Concurso público – tem abertura concorrencial
Concurso limitado por prévia qualificação – tem abertura concorrencial, mas tem mais uma
fase do que o concurso público
Concurso público
O artigo 100.º do CPTA diz que “o contencioso pré-contratual compreende as ações de impugnação
ou de condenação à prática de atos administrativos relativos à formação de contratos de empreitada
de obras públicas, de concessão de obras públicas, de concessão de serviços públicos, de aquisição
ou locação de bens móveis e de aquisição de serviços” e “são considerados atos administrativos os
atos praticados por quaisquer entidades adjudicantes ao abrigo de regras de contratação pública”,
logo, compreende-se que o procedimento pré-contratual é um procedimento que implica aprática
de um conjunto de atos administrativos ao longo do procedimento coincidindo com a ideia do artigo
100.º do CPTA.
Para iniciar um procedimento pré-contratual, a entidade adjudicante tem que praticar um conjunto
de decisões preparatórias como, por exemplo, a decisão de contratar (artigo 36.º do CCP) que
consiste na decisão através da qual a entidade adjudicante vai justificar a sua necessidade para
aquisição, mas não basta uma decisão de contratar para iniciar um procedimento pré-contratual
sendo preciso, ainda, a adoção de um conjunto de decisões preparatórias como, por exemplo,
decisão de autorização de despesas porque o Estado, muitas vezes, tem que utilizar dinheiro público
e, para isso, tem o seu próprio subprocedimento para autorizar a utilização do dinheiro devido às
regras de Finanças Públicas. Além disto, ainda tem que adotar uma decisão justificada da adoção do
tipo procedimental que está, por exemplo, no artigo 38.º do CCP. Existe ainda a decisão de
aprovação das peças do procedimento que é muito importante encontrando-se no artigo 40.º e
seguintes do CCP e corresponde ao conjunto de regras que regulam peças do procedimento e tem
de se adotar uma decisão de aprovação das peças e o artigo 40.º, n.º 1, alínea c) do CCP diz-nos que
as peças são o anúncio, o programa do procedimento e o caderno de encargos e, comparando com a
alínea a) e b), não se encontram o anúncio porque o concurso público, sendo público, tem de se
publicitar um anúncio, enquanto no ajuste direto e consulta prévia não existe concorrência aberta,
logo, não há anúncio pois não se vai publicitar a pretensão do Estado. O programa de procedimento,
embora não se encontre na alínea a) e b), tem a sua função cumprida nessas alíneas pelo convite.
O anúncio consiste na publicitação da pretensão aquisitiva do Estado dando informação básica sobre
o procedimento sendo publicado no DR (https://dre.pt/dre/detalhe/anuncio-procedimento/1237-
2022-178583787) um conjunto de informações básicas sobre o que a entidade pretende adquirir e
todos os operadores sabem o que o Estado pretende e avaliam se irão apresentar proposta ou não.
O caderno de encargos é uma pré-minuta da futura minuta do contrato (artigo 42.º, n.º 1 do CCP)
percebendo-se o conteúdo do contrato existindo cláusulas técnicas (por exemplo, regras de
qualidade do produto a fornecer) e cláusulas jurídicas (por exemplo, forma de resolução de litígio).
Assim, tanto o programa de procedimento como o caderno de encargos, têm a função de conformar
o procedimento e esta ideia ajuda-nos a perceber qual é o alcance do artigo 103.º do CPTA pois os
documentos conformadores do procedimento, no caso de um concurso público, são o programa de
procedimento e o caderno de encargos, assim, se alguém quiser impugnar o programa de
procedimento ou o caderno de encargos será esta regra a aplicar e poderá existir interesse em
impugnar quando, por exemplo, o prazo mínimo previsto para a apresentação das propostas viola o
limite legal (artigo 135.º e 136.º do CCP) existindo uma ilegalidade. na parte final do artigo 103.º do
CPTA temos a possibilidade de impugnar um documento conformador do procedimento com
fundamento na ilegalidade das especificações técnicas.
Se não for aplicável o pré-contratual urgente, delimitado no artigo 100.º do CPTA, e se quisermos
impugnar um programa de procedimento, em regra, devemos utilizar os meios gerais (artigo 37.º do
CPTA) e, sendo o programa de procedimento um regulamento, teremos que recorrer à impugnação
de normas.
Depois deste conjunto de decisões preparatórias, o anúncio será publicitado e começará a contar o
prazo para apresentação das propostas e durante esse tempo podem acontecer várias situações,
tanto do lado da entidade adjudicante como do lado dos concorrentes.
Para existir um concurso tem que haver um júri (órgão da entidade adjudicante) que irá conduzir o
procedimento e durante o prazo para apresentação das propostas os concorrentes podem, por
exemplo, ter dúvidas sobre as peças porque podem não estar muito claras ou até podem ter erros e,
por isso, durante o prazo para a apresentação das propostas existe um prazo para os concorrentes
pedirem esclarecimentos e depois o júri vai apreciar os pedidos de esclarecimentos ou erros e
omissões e dará resposta dentro do prazo e se se atrasar o prazo para apresentação de propostas
será prolongado, por exemplo, se inicialmente for um mês pode ser prolongado por mais uma
semana. Também pode acontecer que a entidade adjudicante detete algumas falhas nas peças
podendo aproveitar este prazo para retificar ou alterar as peças e a alteração das peças pode
justificar também a prorrogação do prazo (artigo 50.º e 64.º do CCP).
Depois de tudo isto, existirá a apresentação de propostas até à data-limite e, quando a data-limite
chegar, o concurso será fechado, o júri irá abrir as propostas apresentadas e irá analisar (verificar se
as propostas têm alguma irregularidade e se tiverem serão excluídas e verificar se existem
impedimentos – artigo 55.º do CCP) e avaliar as propostas admitidas (aplicação do critério de
adjudicação às propostas admitidas).
O júri após a análise e avaliação das propostas vai submeter o seu relatório preliminar (artigo 146.º
do CCP – não é um ato administrativo porque não tem conteúdo vinculativo) para pronúncia dos
concorrentes em sede de audiência prévia podendo não concordar com a exclusão da sua proposta
ou com a avaliação da sua proposta ou dizer que existem concorrentes que deveriam ter outra
avaliação, etc.
Depois da audiência prévia, o júri vai apreciar as pronúncias remetidas pelos concorrentes e, depois,
o júri vai emitir um relatório final (artigo 148.º, n.º 4 do CCP) submetido a apreciação da entidade
adjudicante que poderá decidir homologar, ou não, o relatório final, assim, a entidade adjudicante
se homologar o relatório final irá praticar o ato de adjudicação (ato final da fase adjudicatória do
procedimento pré-contratual) e, em simultâneo, alguns atos de exclusão de algumas propostas
(artigo 103.º-A do CPTA) porque todos os atos praticados até agora pelo júri são projetos de decisão
para a entidade adjudicante e o que será praticado, a final, como ato administrativo é pela entidade
adjudicante.
Depois da adjudicação irá iniciar-se um conjunto de fases que o adjudicatário terá que cumprir
como, por exemplo, prestação de caução, apresentar documentos de habilitação e, depois, será
elaborada a minuta do contrato com base na pré-minuta plasmada no caderno de encargos e só
depois o adjudicatário será convidado a assinar o contrato.
Resumindo, o concurso público tem as decisões preparatórias; início do concurso; abertura das
propostas; relatório preliminar do júri; audiência prévia e pronúncias; relatório final; homologação,
ou não, pela entidade adjudicante e ato de adjudicação.
Na fase inicial também tem que se tomar as decisões preparatórias, decisão de contratar, decisão de
autorização de despesa, decisão da escolha de procedimento, decisão de aprovação de despesas,
etc.
Depois, inicia-se um prazo para apresentação não das propostas, mas sim das candidaturas (primeira
fase) que também são reguladas pelo programa de procedimento e esta fase tem como finalidade
verificar se os candidatos satisfazem, ou não, os requisitos da capacidade profissional e financeira,
ou seja, na candidatura os candidatos interessados vão justificar às entidades adjudicantes que têm
experiência que preenche os requisitos mínimos de capacidade técnica e/ou requisitos da
capacidade financeira.
Após a apresentação das candidaturas começa o júri a ter intervenção pois irá apreciar as
candidaturas, analisá-las, classificá-las e emitir um relatório preliminar de qualificação (artigo 184.º a
186.º do CCP) permitindo que os candidatos se possam pronunciar sobre o relatório preliminar.
Depois emitirá o relatório final e, depois, será adotada a decisão de qualificação pela entidade
adjudicante, assim, chegamos ao fim da fase da qualificação com a decisão da qualificação que
coincide, também, com a decisão de não qualificação de alguns candidatos. Se alguém não
qualificado quiser impugnar o ato de não qualificação não poderá aplicar o artigo 103.º-A do CPTA
porque não está em causa um ato de adjudicação pois o que é adjudicado é a proposta e a
qualificação é referente a uma candidatura, por isso, sendo o ato de qualificação um ato que aplica o
programa de procedimento se alguém quiser impugnar um ato de não qualificação num
procedimento de aquisição de papel higiénico trata-se de uma aquisição de bem móvel e o âmbito
de aplicação praticado pela entidade adjudicante é um ato administrativo, logo, cabe no contencioso
pré-contratual urgente (artigo 100.º do CPTA) existindo o ónus de impugnar logo porque não podem
passar à fase seguinte (artigo 103.º, n.º 3 do CPTA).
Depois da fase de qualificação, os candidatos qualificados recebem um convite para apresentar as
propostas e inicia-se a fase de apresentação das propostas sendo, daí para a frente, igual ao
concurso público.
O prazo stand still (artigo 103.º-A, n.º 1, parte final do CPTA – 10 dias úteis depois da adjudicação)
ocorre na fase pós-adjudicatória.
Resumindo, no concurso limitado por prévia qualificação temos a fase de candidaturas (primeira
fase); fase de apresentação de propostas que vai terminar no ato de adjudicação; depois inicia-se a
fase pós-adjudicatória e, no final da fase pós-adjudicatória, temos a celebração do contrato e,
depois, a execução e, neste tipo de procedimento, há diferentes atos administrativos que podem ser
praticados ao longo do procedimento e, por isso, o artigo 100.º do CPTA fala de atos administrativos
porque podem existir vários atos administrativos praticados por quaisquer entidades adjudicantes
ao abrigo da contratação pública (artigo 100.º, n.º 2 do CPTA) que podem ser, por exemplo, o ato de
desqualificação de um dos candidatos e o ato de adjudicação sendo relevante distinguir entre o ato
administrativo ser de qualificação ou de adjudicação porque o artigo 103.º-A do CPTA só se aplica no
caso de impugnação de um ato de adjudicação e durante o procedimento podem existir não só atos
administrativos como também documentos conformadores do procedimento (artigo 103.º do CPTA).
O procedimento pré-contratual, consoante o tipo procedimental em causa, pode ser mais ou menos
complexo, mas temos sempre a fase adjudicatória e a fase pós-adjudicatória que terminará na
celebração do contrato e só depois temos a execução.
Se se pretender impugnar um ato de não adjudicação não urgente segue-se a impugnação de atos
administrativos.
No artigo 100.º do CPTA cabem os casos de não qualificação de um candidato porque é um ato
administrativo praticado por quaisquer entidades adjudicantes ao abrigo das regras de contratação
pública não cabendo no artigo 103.º do CPTA que nos diz que podemos impugnar durante toda a
pendência do procedimento, mas essa possibilidade de impugnar as peças não prejudica o ónus de
impugnar o ato de aplicação, quando aplicável, por exemplo no caso de qualificação ou não
qualificação se não for logo impugnado o ato de não qualificação já não podem ficar para a próxima
fase e, por isso, existe um ónus de impugnação autónoma (artigo 51.º, n.º 3 do CPTA conjugado com
o artigo 103.º, n.º 3 do CPTA porque se estiver em causa um ato que determina a exclusão do
interessado do procedimento ele terá que impugnar o ato – ónus de impugnação autónoma – no
prazo de um mês (artigo 101.º do CPTA)).
Casos práticos
Distinção do âmbito de aplicação de impugnação e condenação
A impugnação tem como objeto de processo a invalidade de um ato (objetivista) e na condenação o
objeto do processo é a pretensão do autor (artigo 66.º do CPTA). No caso da impugnação temos um
ato e na condenação podemos, ou não, ter um ato porque no caso da impugnação estará sempre
em causa um ato e, no caso da condenação, podemos estar perante quatro situações diferentes: 1.
Recusa da apreciação do pedido (não temos ato); 2. Inércia/omissão (não temos ato); 3.
Indeferimento (ato com conteúdo negativo) ou 4. Diferimento parcial (ato parcialmente negativo
porque não satisfaz totalmente a pretensão). Nas duas primeiras situações não temos ato e, por isso,
pretende-se condenar a Administração a regular e, nas duas últimas situações, já temos algo, mas o
artigo 66.º, n.º 2 do CPTA diz que o objeto do processo é a pretensão, ou seja, aqui mesmo que já
exista ato a pretensão não será avaliação da legalidade do ato, mas sim se a pretensão que será ter o
diferimento total tem viabilidade jurídica ou não e, se tiver, condenar a Administração.
No artigo 51.º, n.º 4 do CPTA o legislador vem dizer que não é pertinente impugnar um
indeferimento (ato negativo) porque o objeto do processo tem que ser a pretensão e não
imediatamente a ilegalidade do ato e, por isso, o processo mais correto seria de natureza
condenatória.
O artigo 68.º, n.º 1, alínea a) do CPTA diz que o objeto de apreciação é a pretensão o que significa
que a pretensão deve estar baseada ou num direito ou num interesse legalmente protegido e nas
quatro situações a pretensão não está satisfeita e, por isso, o interesse e direito subjacente à
aplicação está lesada, por isso, não é a questão de sabermos se o artigo 55.º, n.º 1, alínea a) do CPTA
menciona “lesado” e o artigo 68.º, n.º 1, alínea a) do CPTA não menciona “lesado” que faz a
diferença porque em ambas as situações o Direito está prejudicado, logo, esta não será uma
diferença real entre o artigo 55.º e 68.º do CPTA.
A diferença real está no facto de o artigo 68.º do CPTA falar só e exclusivamente à não satisfação do
interesse e direito subjacente à pretensão (direito e interesse legalmente protegido) e o artigo 55.º
do CPTA ser apenas um exemplo porque diz “designadamente”, logo, o artigo 68.º do CPTA é mais
limitado o que significa que o artigo 55.º, n.º 1, alínea a) do CPTA temos mais coisas que os direitos e
interesses e, por isso, o artigo 55.º do CPTA é mais amplo porque os “direitos ou interesses
legalmente protegidos” referidos no artigo 68.º do CPTA são uma subcategoria do “interesse direto
e pessoal” referido no artigo 55.º do CPTA.
Distinção entre uma posição jurídica subjetiva ativa e posição de facto subjetiva ativa
Exemplo 1
Um Município emitiu um ato de demolição de um edifício de construção legal, mas estão lá a viver
sem-abrigo e estes não têm direitos subjetivos sobre o edifício porque não tem arrendamento,
usufruto, etc., e, neste caso, estando a falar de uma demolição será regulada por normas
urbanísticas que não têm nenhuma finalidade de proteger sem-abrigos e, por isso, também não têm
um interesse legalmente protegido, no entanto, têm um interesse de facto porque vivem lá, logo,
não será uma posição jurídica, mas é uma posição de facto porque já estão lá a viver e assim temos
de saber se é um interesse direto (significa que é atual e imediato, não sendo eventual, hipotético
nem meramente reflexivo pois tem impacto direto na esfera) e pessoal (se releva para mim próprio,
ou seja, não será um interesse difuso, mas sim um interesse individual) e, neste caso, para os sem-
abrigo existe um interesse pessoal e direto porque a demolição significa imediatamente que as
pessoas não terão lugar para a estadia, assim, não estamos perante um interesse legalmente
protegido, mas é um interesse direto e pessoal que legitima os sem-abrigo a impugnar o ato de
demolição.
Exemplo 2
No Direito Urbanístico existe uma figura que se refere à legalização das obras ilegais, ou seja, serve
para legalizar o que é ilegal e, neste caso, os sem-abrigo já não podem condenar a Administração à
prática de um ato de legalização da construção ilegal porque não têm um interesse legalmente
protegido pois a condenação tem uma natureza subjetivista e protege as posições jurídicas
subjetivas e não qualquer uma posição, enquanto a impugnação é objetivista e, por isso, alarga a
possibilidade de fiscalizar a legalidade daí não interessar muito se a pessoa tem uma pretensão
subjetiva jurídica ou não.
Jurisdição
O critério de entrada na jurisdição administrativa é o da relação jurídico-administrativa presente no
artigo 212.º, n.º 3 da CRP e 1.º, n.º 1 do ETAF e, neste caso, estamos a falar de uma matéria relativa
a normas e de um órgão da Administração Pública, portanto, caberia no artigo 4.º, n.º 1, alínea b) do
ETAF.
Território
Neste caso, o artigo 17.º, 18.º, 19.º e 20.º do CPTA não se aplicam devendo ser aplicado o artigo 16.º
do CPTA que nos remete para a residência do autor e, sendo Cascais, o mapa diz-nos que o Tribunal
será o TAF de Sintra.
Matéria
Quanto à matéria, neste caso, estamos perante uma matéria enquadrável no artigo 44.º do ETAF
sendo matéria administrativa na vertente macro. Quanto ao segundo nível devemos analisar as
normas relativas à especialização administrativa (artigo 9.º, n.º 5 e 44.º-A do ETAF; DL 174/2019 e
Portaria 121/2020) sendo possível verificar que já se encontra em funcionamento o Tribunal de
Sintra, nos termos da alínea h) do artigo 1.º do DL 174/2019 sendo da competência do Juízo
administrativo comum, segundo o artigo 44.º-A, n.º 1, alínea a) do ETAF.
2. B., residente em Aveiro, mas de passagem por Lisboa, pretende propor uma ação de
responsabilidade civil extracontratual contra a Onibus, S.A., empresa responsável pela exploração
do serviço público de transporte rodoviário de passageiros na Área Metropolitana de Lisboa, em
virtude dos danos que sofreu depois de ter sido atropelado por um autocarro em serviço.
Partes
1. Cabe no artigo 4.º, n.º 1, alínea h) do ETAF considerando que estamos perante uma ação
intentada contra uma entidade privada que exerce funções administrativas, o que na prática
significa que será uma concessionária
2. Também podemos considerar que pertence ao sector empresarial do Estado –
Administração indireta – e, por isso, uma empresa pública sob a forma de sociedade
comercial
3. A terceira hipótese possível é considerarmos que é um particular mero prestador de serviços
Jurisdição
1. No caso de consideramos que a Onibus é uma concessionária, a alínea h) remete-nos para a
Lei 67/2007 e, nos termos do artigo 1.º, n.º 5, o diploma aplica-se também à
responsabilidade civil de pessoas coletivas de direito privado e respetivos trabalhadores no
exercício de prerrogativas de poder público e, neste caso, por ser um serviço público de
transportes encontrava-se abrangido por esta norma, logo, seria jurisdição dos TAF. A alínea
h) refere-se apenas a atos de gestão pública, ao contrário da alínea f) que abrange gestão
privada (artigo 501.º do CC) cuja jurisdição pertenceria aos Tribunais comuns e não dos
Tribunais Administrativos daí a importância de sabermos se estamos perante uma gestão
pública ou privada e, neste caso, considerando que a entidade é uma concessionária irá
aplicar-se a alínea h) e não a f). A relação entre o Estado e funcionário já cabe na alínea g).
2. Se a Onibus for uma pessoa coletiva de Direito Público, apesar de ter personalidade jurídica
privada, aplica-se o artigo 4.º, n.º 1, alínea f) do ETAF.
3. Se a Onibus for um prestador de serviços, B pode intentar uma ação de responsabilidade
civil extracontratual contra o Município, nos termos do artigo 4.º, n.º 1, alínea f) do ETAF e,
ao mesmo tempo, pode intentar contra o particular Onibus nos termos do artigo 4.º, n.º 2
do ETAF que não é muito claro em relação à sua aplicação apenas ao litisconsórcio passivo
necessário ou também a voluntário. Assim, sendo um prestador de serviço, não pode
intentar uma ação de responsabilidade civil extracontratual contra o particular porque o n.º
1 não tem uma alínea para este efeito porque não é uma entidade privada que exerça
função administrativa, mas aqui por detrás do particular temos um Município (AML) que é o
dono do serviço e, por isso, tem a possibilidade de intentar uma ação contra a AML nos
termos da alínea f), do n.º 1 do artigo 4.º do ETAF e, ao mesmo tempo, aplicando o artigo
4.º, n.º 2 do ETAF pode também chamar para a ação o particular.
Território
Olhando para as regras especiais em primeiro lugar, aplica-se o artigo 18.º, n.º 1 do CPTA por se
tratar de matéria de responsabilidade civil e de uma operação material e, por isso, teria que ser
deduzida no Tribunal do lugar em que se deu o facto constitutivo da responsabilidade. De acordo
com o mapa pertence ao Tribunal de Lisboa e no DL 174/2019 verificamos que tem o Juízo comum
identificado e pela Portaria 121/2020, artigo 1.º, alínea a) conseguimos saber que já se encontra em
funcionamento.
Matéria
Em termos da competência em função da matéria pertence ao Juízo administrativo, nos termos do
artigo 44.º do ETAF e, em particular, trata-se da competência residual do Juízo administrativo
comum por não caber em nenhum dos Juízos especializados do artigo 44.º-A do ETAF.
Assim, deverá ser realizado no Juízo Administrativo comum do TAC de Lisboa (segundo o artigo 9.º,
n.º 2 do ETAF os Tribunais Administrativos e Fiscais podem funcionar de forma agregada e no artigo
2.º e 3.º do DL 174/2019 verifica-se que em Lisboa temos o Tribunal de Círculo de Lisboa e o Tribunal
Tributário o que significa que não funcionam agregadamente)
3. C., empresa com sede na Amadora, pretende impugnar a validade do ato de adjudicação
relativo a um procedimento pré-contratual promovido pelo Município do Porto.
Rever a resolução
Imaginando que este contrato não tem natureza de proteção social, tirando do cenário a questão
do Juízo Administrativo Social, cabe ou não ao Juízo dos contratos públicos?
Estaríamos perante um potencial conflito entre o Juízo administrativo comum e o Juízo de contratos
públicos. Quando estamos perante um contrato que não tem interesse concorrencial, à partida, este
contrato está excluído do CCP e a Doutrina e a Jurisprudência são confrontadas com a questão de
saber se a especialidade do Juízo dos contratos públicos serve apenas para a matéria de contratos
com interesse concorrencial ou se está dedicada a quaisquer contratos celebrados pela
Administração Pública. Se a tese adotada for a primeira, o contrato de subvenção não tem qualquer
interesse concorrencial sendo competente o Juízo administrativo comum. Se, pelo contrário,
adotarmos a tese contrária a especialidade dos Juízos dos contratos públicos seria mais abrangente
e, nesse caso, o conflito já seria resolvido a favor do Juízo dos contratos públicos, mas o artigo 44.º-A
do ETAF não é muito claro para percebermos a abrangência. Em princípio, caberia ao Presidente do
Tribunal Central Administrativo resolver este litígio, nos termos do artigo 36.º, n.º 1, alínea t) do
ETAF.
NOTA: O artigo 22.º e 36.º do ETAF resolvem conflitos de competência em razão territorial e da
matéria que não devem ser confundidos com os conflitos de jurisdição. Quanto à resolução dos
conflitos em razão da hierarquia os artigos correspondentes são o 5.º, n.º 2 (prevalece sempre o
Tribunal superior) e 23.º, n.º 2, alínea d) (conflitos entre o primeiro e o segundo nível faltando os
conflitos entre o STA e TAF e entre o STA e TCA tendo que recorrer ao artigo 5.º, n.º 2) do ETAF e,
por isso, podemos entender que o artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do ETAF (introduzido com a Lei
114/2019) é especial em relação ao artigo 5.º, n.º 2 do ETAF, assim se o conflito de competência em
razão de hierarquia for entre TCA e TAF devemos recorrer ao artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do ETAF.
4. D., residente em Beja, pretende impugnar o ato de aplicação de uma coima praticado pela
Divisão de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, por violação de normas urbanísticas.
Partes
A Câmara Municipal de Lisboa é uma autarquia local.
Jurisdição
Por falar na violação de normas urbanísticas aplica-se o artigo 4.º, n.º 1, alínea l) do ETAF.
Território
Aplica-se o artigo 20.º, n.º 1 do CPTA por se tratar de atos de uma autarquia local e o elemento de
conexão é a área da sede da entidade demandada que, neste caso, seria Lisboa. Nos termos do
artigo 2.º, n.º 1 do DL 174/2019 o Tribunal de Lisboa tem competência especializada e já entrou em
funcionamento, conforme artigo 1.º, alínea a) da Portaria 121/2020.
Matéria
Em termos da competência em função da matéria pertence ao Juízo administrativo, nos termos do
artigo 44.º do ETAF e, em particular, trata-se da competência residual do Juízo administrativo
comum por não caber em nenhum dos Juízos especializados do artigo 44.º-A do ETAF – não foi
criada um Juízo com competência especializada de urbanismo, artigo 2.º, n.º 1 do DL 174/2019.
5. E. pretende impugnar o ato de aplicação de uma coima praticado pela Inspeção-Geral dos
Ministérios do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia e da Agricultura e do Mar
(IGAMAOT), por violação de normas ambientais.
Aqui não caberia no artigo 4.º, n.º 1, alínea l) do ETAF porque é a estatuição da alínea à contrari,
apesar de existir Doutrina que entende que, no caso de cumulação de um pedido de violação de
normas urbanísticas com normas ambientais, poderiam ser avaliados ambos os pedidos entrando
pelo artigo 4.º, n.º 1, alínea l) do ETAF. Existe outra Doutrina que tem um entendimento mais lato
acerca do urbanismo, aplicando a alínea l), pois considera que já detém o ordenamento do ambiente
e, às vezes, as normas ambientais têm finalidades de tutela urbanística e, se for o caso, é
simultaneamente uma norma urbanística e também entrará pela alínea l).
6. F., residente em Leiria, pretende impugnar o ato de declaração de utilidade pública (inserido
num procedimento de expropriação) praticado pelo Município de Viseu em relação a um imóvel aí
sito.
Partes
Estamos perante um ato de um órgão da Administração Pública, artigo 4.º, n.º 1, alínea a) (Direito de
propriedade privada) ou d) do ETAF.
Território
Estando perante uma autarquia local e trata-se de uma situação de um bem imóvel aplica-se o artigo
17.º do CPTA e o elemento de conexão é a área da situação do bem e, neste caso, seria Viseu. Nos
termos do DL 174/2019 verificamos que não existem Juízos especializados em Viseu e, por isso, será
o Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu.
Matéria
Não se encontrando esta matéria numa das alíneas do artigo 49.º do ETAF, estamos perante
jurisdição dos Tribunais Administrativos.
Jurisdição
A ação de reconhecimento da existência de um contrato de trabalho entre um privado e um
Instituto Público cabe na jurisdição administrativa dependendo se se trata de um contrato de
trabalho privado porque, neste caso, seria excluído nos termos do artigo 4.º, n.º 4, alínea b) do ETAF
ou, então, de um vínculo de emprego público que, neste caso, caberia na jurisdição administrativa
ao abrigo do artigo 4.º, n.º 1, alínea e) e 4.º, n.º 4, alínea b) do ETAF à contrari.
Território
Estando em causa uma ação que tem por objeto um litígio emergente do vínculo de emprego
público intentada pelo trabalhador contra o empregador, nos termos do artigo 19.º, n.º 3 do CPTA, é
competente o Tribunal do lugar da prestação de trabalho ou do domicílio do autor. Não sabendo
onde é que o autor tem o seu domicílio, presumimos que ser em Lisboa por ser o local onde está
sediado o Instituto Público e, de acordo com o mapa, o Município de Lisboa pertence ao Tribunal de
Círculo de Lisboa.
Matéria
Não se encontrando esta matéria numa das alíneas do artigo 49.º do ETAF, estamos perante
jurisdição dos Tribunais Administrativos nos termos do artigo 44.º do ETAF. Incidindo sobre a
matéria micro, existe um Juízo especializado administrativo social, nos termos do artigo 9.º, n.º 5,
alínea b) e 44.º-A, n.º 1, alínea b) do ETAF, mas conjugado com o artigo 2.º, n.º 1, alínea b) DL
174/2019 vimos que existe um desdobramento e assim sendo concluímos que é competente o Juízo
Administrativo social do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.
8. H. pretende propor uma ação de responsabilidade civil extracontratual por ato jurisdicional
contrário ao Direito da União Europeia em virtude de uma decisão do Tribunal Central
Administrativo Sul transitada em julgado.
Rever a resolução
Aplica-se o artigo 4.º, n.º 1, alínea f) do ETAF e, sendo uma decisão do TCA Sul pertence à jurisdição
administrativa.
Relativamente à hierarquia faz parte das competências do STA, nos termos do artigo 24.º, n.º 1,
alínea a), subalínea v) do ETAF.
Em relação ao território será em Lisboa.
Deverá ser remetida para o STA, secção de contencioso administrativo.
9. I., residente em Faro, pretende consultar os arquivos administrativos relativos ao seu percurso
académico na Faculdade de Direito da Universidade do Porto, que lhe negou esse acesso.
Existe a dúvida se a alínea k) do artigo 4.º, n.º 1 do ETAF está pensada só para interesses difusos e,
neste caso, como a informação é para efeito pessoal e não para proteção de Direitos e interesses
difusos não seria aplicável a alínea k), mas sim a alínea a). Existe discussão na Doutrina sobre se o
modo de satisfazer o pedido de acesso a informação jurídica é através de ato administrativo ou
através de um mero ato jurídico. Assim, deveria ser para o Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto
(artigo 20.º, n.º 4 do CPTA).
10. J., empresa com sede em Braga e vencida num procedimento pré-contratual promovido pelo
Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E., pretende propor uma ação de anulação do contrato de
aquisição de material médico destinado ao Hospital de Santa Maria celebrado por esta entidade e
a empresa adjudicatária.
Aplica-se o artigo 19.º, n.º 1 do CPTA porque estamos perante um contencioso contratual (validade
do contrato – artigo 4.º, n.º 1, alínea e) do ETAF) e, por isso, deveria ser intentada no Juízo de
contratos públicos do Tribunal Administrativo de Lisboa (artigo 2.º, n.º 1 do DL 174/2019 e artigo 1.º,
alínea a) da Portaria 121/2020). A linha Jurisprudencial é de que a dedicação destes Juízos ser em
contratos com interesse concorrencial e, neste caso, o contrato teria interesse contratual.
11. K., funcionária dos serviços da Assembleia da República e residente em Sintra, pretende
impugnar as normas constantes do regulamento interno que regulam os horários de tais serviços,
aprovadas pela Presidente da Assembleia da República.
Aqui a pretensão não é pedir responsabilidade, mas sim invalidar as normas (que não são atos
administrativos) e a Assembleia da República é uma entidade que pressupõe personalidade jurídica
e, por isso, aparentemente, não encaixa na alínea c), do n.º 1 do artigo 4.º do ETAF. A alínea d) foi
criada para casos de entidades, sobretudo de natureza privada, que não façam parte da
Administração Pública em sentido orgânico o que não se verifica no nosso caso. O caso não suscita
grandes dúvidas quanto ao facto de ser uma matéria que envolva relações jurídicas administrativas
e, por isso, poderíamos aplicar a alínea o) conjugado com o artigo 212.º, n.º 3 da CRP. Assim, a ação
deveria ser intentada na Secção de Contencioso Administrativo do Supremo Tribunal Administrativo
(artigo 24.º, n.º 1, alínea a), subalínea ii) do ETAF).
12. L. Lda., com sede no Porto, pretende pedir uma indemnização ao Estado pelos danos sofridos
em resultado de um ato ilegal de liquidação adicional do IRC (judicialmente anulado) praticado
pela Direção-Geral dos Impostos, tendo proposto a respetiva ação junto do Tribunal
Administrativo de Círculo de Lisboa.
A ação consiste num pedido de responsabilidade e, por isso, deveria ser intentada no Juízo
Administrativo comum do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto (artigo 44.º do ETAF se
considerarmos que o artigo 49.º do ETAF é taxativo).
Escuteiros
O grupo de escuteiros não tem personalidade judiciária porque não tem personalidade jurídica, mas
analisando a coligação (várias relações jurídicas que por algumas razões estão unidas no litígio) que
tem os seus pressupostos de admissão no artigo 12.º, n.º 1 (geral) e n.º 2 (especial) do CPTA
verificamos que o n.º 2 não será aplicável ao nosso caso porque não se trata de uma impugnação,
mas o n.º 1, alínea a), 1.ª parte é possível de aplicar, logo, em vez de termos um único grupo de
autor (grupo de escuteiros) que não teriam personalidade, temos uma pluralidade de autores; a
capacidade judiciária pressupõe, regra geral, que tenha capacidade jurídica e, em Portugal, por
norma, os escuteiros são menores e não têm capacidade de exercício de Direitos e, por isso, em
princípio não terão capacidade judiciária só podendo ir a Tribunal se estiverem representados pelo
representante legal sendo aplicável ao processo administrativo o regime de suprimento da
incapacidade previsto na lei processual civil, conforme o artigo 8.º-A, n.º 2, parte final do CPTA e se
não for suprida dá origem a uma exceção dilatória – absolvição da instância (se forem escuteiros
adultos não existirá esta incapacidade judiciária).
NOTA: no artigo 10.º, n.º 2 do CPTA há situações em que a parte demandada é o Estado e não o
Ministério como os casos de responsabilidade civil extracontratual porque não é uma ação ou
omissão do Ministério e nos casos de contencioso contratual. Antigamente existiam ações
administrativas comuns (servia para os contratos, ação civil de responsabilidade extracontratual,
etc.) e especiais (quando a entidade administrativa exerce o poder de autoridade quando a
Administração praticava atos administrativos ou normas administrativas) e no artigo 10.º, n.º 2 do
CPTA continuamos a ver resquícios históricos quando temos o Estado a continuar a ser a parte
legítima nas ações que antigamente eram entendidas como comuns enquanto os Ministérios
continuam a ser parte legítima nas ações que antigamente eram definidas como especiais. Quem
representa a parte demandada nos Tribunais encontra-se no artigo 11.º do CPTA e quando a parte
legítima são os Tribunais será o Ministério Público enquanto quando estamos perante os Ministérios
já não será obrigatório ser o Ministério Público e aparentemente a Doutrina defende que a parte
final do n.º 1, do artigo 11.º do CPTA é ilegal porque a ideia de “sem prejuízo da possibilidade de
representação do Estado pelo Ministério Público” não é compatível com o artigo 51.º do ETAF e com
a CRP que atribui esta competência da representação do Estado ao Ministério Público e aqui parece
que o Estado pode renunciar a esta competência do Ministério Público que não é o regime da CRP
que diz que esta é competência do Ministério Público existe muita Jurisprudência que explica esta
situação e distingue entre a representação orgânica e a representação legal e o facto de o Ministério
Público representar o Estado nos Tribunais não significando que deva ser o órgão a ser citado para o
efeito pois se a citação tiver defeitos dará lugar a uma exceção dilatória.
O pedido, do caso prático, consiste a condenação desta entidade na aplicação de coimas aos
caçadores ilegais de águias no Parque Nacional da Peneda-Gerês
Neste caso estamos perante uma coima que, à partida, não caberia na jurisdição administrativa
conforme artigo 4.º, n.º 1, alínea l) à contrari do ETAF, sendo uma matéria do Tribunal comum só
podendo enquadrar-se nesta alínea se víssemos o conceito de urbanismo extensivamente
abrangendo o ambiente e o ordenamento do território ou se existisse cumulação de pedido do
ambiente com outra situação e, neste caso, não se verificando nenhuma dessas situações o Tribunal
competente seria o Tribunal comum e não o Tribunal Administrativo. Temos também que analisar a
letra da lei da alínea l) que fala apenas em impugnações judiciais e, neste caso, estamos perante
uma condenação e se defendermos que não se aplica esta alínea teríamos que ver outra alínea para
enquadrar o caso como, por exemplo, a alínea b), k) ou o) e se não existir uma norma especial que
exclua será matéria dos Tribunais Administrativos e, por isso, esta interpretação formal da alínea l)
gera discrepância no tratamento do processo impugnatório relativamente ao processo
condenatório. Se não estivéssemos perante um interesse difuso não existiria legitimidade ativa pelo
particular, por isso, esta situação não é muito comum. Se a condenação for mais subjetivista não
basta o justo receio tendo sempre que existir um interesse pessoal em causa; se for mais objetivista
mesmo que não haja um interesse pessoalíssimo em risco ainda existe algum mecanismo para
justificar a legitimidade.
Ministério Público
Confrontando a redação do artigo 55.º, n.º 1, alínea b) (impugnação) e 68.º, n.º 1, alínea b)
(condenação) do CPTA percebe-se que a legitimidade ativa é mais limitada no artigo 68.º, n.º 1,
alínea b) do CPTA porque o Ministério Público só intervém se cumprir certos requisitos, enquanto no
artigo 55.º, n.º 1, alínea b) do CPTA existe uma certa liberdade do Ministério Público. Comparando a
impugnação com a condenação, teoricamente, a impugnação é mais objetivista (a causa de pedir é
apreciar a legalidade de um ato) e a condenação é mais subjetivista (a causa de pedir é a pretensão
do interessado e não o ato de indeferimento – artigo 66.º, n.º 2 do CPTA), mas não podemos que é
totalmente objetivista ou subjetivista porque o nosso sistema é misto, no entanto, o nível de
intervenção destes dois pendores são diferentes consoante o tipo de processo e isso é relevante
para percebermos porque é que a legitimidade do Ministério Público é diferente na impugnação e
na condenação pois, uma vez que o Ministério Público é o maior defensor da legalidade, é normal
que tenha maior poder na impugnação existindo uma harmonia normativa entre a finalidade
principal do processo (que é a fiscalização da legalidade) e o estatuto do Ministério Público
(defensor da legalidade). No artigo 68.º, n.º 1, alínea b) do CPTA a condição de legitimidade é, em
geral, a existência de uma ilegalidade qualificada o que não existe em relação ao artigo 55.º n.º 1,
alínea b) do CPTA e, mesmo sendo uma legitimidade mais limitada, é um traço do objetivismo e, por
isso, existem aqui duas observações: 1. Para a Doutrina que considera que a condenação é
puramente subjetivista ou deveria ser totalmente subjetivista esta norma não faria sentido porque o
Ministério Público não vai defender a pretensão interessada porque o objeto do processo é a
pretensão do interessado e, por isso, não faz sentido que seja o Ministério Público a intervir num
processo em que o objeto é a pretensão do interessado; 2. Isto justifica-se porque o sistema, mesmo
para a condenação, não é totalmente subjetivista tendo sempre uma certa infiltração do objetivismo
no subjetivismo e vice-versa sendo este um dos casos em que existe uma compatibilização entre o
tendencial subjetivismo inerente ao processo condenatório com o estatuto do Ministério Público,
que é defensor da legalidade, e, por isso, independentemente do tipo de processo tem de cumprir a
sua missão de tutelar a legalidade existindo aqui um equilíbrio porque enquanto na impugnação
poderá intervir em qualquer situação aqui o Ministério Público ainda pode intervir como defensor da
legalidade de interesse público, mas só quando esteja em causa uma situação de legalidade
qualificada em sentido amplo.
Assim, no nosso prático, sendo uma ação de condenação temos a questão de admissibilidade
analogia da aplicação do artigo 62.º, n.º 1, alínea b) e 16.º do CPTA por se tratar de uma ação
popular e não se perceber se o artigo 16.º do CPTA é imediatamente operativo ou se pressupõe
outra Lei que consagre este regime de intervenção e o artigo 62.º do CPTA dá uma certa
concretização a esta lei da ação popular.
Os contrainteressados (artigo 10.º e 57.º do CPTA – existe Doutrina que suscita dúvidas quanto à
definição dos contrainteressados abranger os cointeressados e, embora a definição de
contrainteressados só esteja densificada no artigo 57.º do CPTA, que se circunscreve aos processos
impugnatórios, o n.º 1 do artigo 10.º do CPTA leva-nos a crer que o seu conceito é universal a todos
os processos) são parte principal do processo podendo intervir e estarão do lado da entidade
demandada porque têm o mesmo interesse da Administração por quererem manter o ato pois o
efeito da Sentença pode afetar a esfera jurídica dos contrainteressados (vertente subjetivista) e
também porque numa relação poligonal todos são partes de maneira igual, não havendo uma parte
mais importante do que outra, e, em regra, num processo a decisão judicial tem efeitos interpartes
(existem casos em que a Sentença tem efeito erga omnes) e se os contrainteressados não forem
citados, se o autor conseguir invalidar um ato e for uma Sentença interpartes, o ato vai ser inválido e
válido ao mesmo tempo existindo aqui uma preocupação com a ordem jurídica e não com os
contrainteressados (vertente objetivista). O recurso extraordinário (recurso de revisão) do artigo
154.º e 155.º, n.º 2 do CPTA pressupõe uma Sentença transitada em julgado e mostra-nos a
gravidade de os contrainteressados não serem citados.
Ministério Público
O MP tem uma multiplicidade de funções no processo administrativo:
Legitimidade ativa – devemos comparar duas legitimidades do MP, a do processo de
impugnação (artigo 55.º, n.º 1, alínea b) do CPTA – processo mais objetivista pois o Estatuto
do MP diz que este é um defensor da legalidade daí ser uma natureza mais objetivista visto
que este processo visa sobretudo fiscalizar a legalidade e, por isso, existe coerência pois o
MP não tem condições para exercer a legitimidade ativa) e a do processo de condenação
(artigo 68.º, n.º 1, alínea b) do CPTA). A legitimidade do MP no artigo 55.º do CPTA é mais
ampla do que a do artigo 68.º do CPTA. O MP também tem legitimidade para interpor
providências cautelares nos termos do artigo 112.º, n.º 1 do CPTA;
Representação do Estado (artigo 11.º do CPTA);
Pode intervir durante o decurso de uma ação (artigo 62.º do CPTA), ou seja, o MP não
intervém no início do processo, mas sim só no meio assumindo a posição do autor mesmo
que este desista ou a ação seja julgada improcedente ou extinta devido a exceções
dilatórias. Este artigo está inserido no capítulo de impugnação de atos e, por isso, suscita-se
a questão de saber se esta norma também vale para outros processos. Na letra da Lei esta
norma limitada para os processos de impugnação, contudo não parece lógica a restrição
deste artigo para os processos de impugnação de atos, logo, há Doutrina que defende que
devemos aplicar com as devidas adaptações esta possibilidade de intervenção do MP para
outros processos, designadamente de natureza condenatória e processos que não incidem
sobre atos, por exemplo, sobre normas, no entanto, este artigo deve ser alargado com as
devidas adaptações e não por analogia porque ele está pensado apenas para os processos
de impugnação e diz “no exercício da ação pública” que remete para o artigo 55.º, n.º 1,
alínea b) do CPTA sobre a legitimidade e, por isso, quando quisermos aplicar este artigo a
outros processos deverá ser com as devidas adaptações, por exemplo, num processo de
natureza condenatória não devemos aplicar o artigo 55.º, n.º 1, alínea b) do CPTA, mas sim o
artigo 68.º, n.º 1, alínea b) do CPTA porque as condições previstas neste artigo servem para
restringir a intervenção do MP num processo condenatório que tem natureza menos
objetivista do que um processo impugnatório.
Assim, quando o caso prático 2 do livro diz “O Ministério Público, no entanto, substitui-se aos
escuteiros e requer o prosseguimento dos autos”, estando em causa uma condenação à prática de
ato devido (ação de condenação) aplica-se o artigo 68.º, n.º 1, alínea b) do CPTA, logo, esta
legitimidade pública tem que resultar diretamente da Lei e esteja em causa a ofensa de direitos
fundamentais, a defesa de interesses públicos especialmente relevantes ou de qualquer dos valores
e bens referidos no n.º 2 do artigo 9.º do CPTA existindo a necessidade de aplicar o artigo 62.º do
CPTA porque o MP está a dar prossecução à ação depois de a entidade demandada ser absolvida da
instância. Se defendermos que o artigo 62.º do CPTA se aplica a processos fora dos de impugnação
temos que aplicá-lo com a devida correção e, neste caso, temos de adaptá-lo em conformidade com
o artigo 68.º, n.º 1, alínea b) do CPTA. Mesmo assim, o artigo 62.º do CPTA só pode ser aplicado
quando se trata de uma desistência da ação do pedido do autor ou outras circunstâncias próprias do
autor (este conceito não é muito claro – por exemplo, ilegitimidade ativa e intempestividade). No
nosso caso o que deu origem à absolvição da instância foi a falta de indicação de contrainteressados
e aqui já se coloca a questão de saber se se inclui numa circunstância própria do autor que deu lugar
à absolvição do réu, por isso, além da aplicabilidade do artigo 62.º do CPTA ao nosso caso por ser
condenatório e não impugnatório, também se coloca a questão de saber se estão preenchidas as
condições de aplicação do artigo 62.º do CPTA, além disto, na nossa situação está em causa a defesa
de interesses difusos chamando à colação o artigo 16.º, n.º 1 da LAP que tem condições de aplicação
diferentes do artigo 62.º do CPTA e isto pode gerar dúvidas relativamente à compatibilidade dos dois
artigos e o artigo 16.º da LAP, aparentemente, não é uma norma imediatamente aplicável porque se
diz que é precisa uma Lei para concretizar a estatuição do artigo e essa concretização dá-se com o
artigo 62.º do CPTA quando esteja em causa a defesa de interesses difusos, assim, coloca-se a
questão de saber se esta concretização do artigo 16.º da LAP através do artigo 62.º do CPTA, no caso
de interesses difusos, está em conformidade com o artigo 16.º da LAP porque, além de não limitar a
sua aplicação à impugnação, em condições aplicativas diferentes. Assim, quando respondermos a
este parágrafo deste caso temos que colocar um conjunto de questões: 1. Aplicabilidade por
extensão ou por correção do artigo 62.º do CPTA; 2. Como se corrige ou adapta o artigo 62.º do
CPTA a um processo condenatório tendo que ver o artigo 68.º, n.º 1, alínea b) do CPTA e 3.
Tratando-se de proteção de interesses difusos vai-nos levar para a LAP e o seu artigo 16.º fala da
possibilidade de intervenção superveniente do MP sendo certo que este artigo, mesmo que não seja
imediatamente operativo porque precisa de uma Lei posterior para concretizar a aplicação da sua
estatuição, podemos colocar a questão de saber se o artigo 62.º do CPTA, quando se tratar de
proteção de interesses difusos, deve ser interpretado em conformidade com o artigo 16.º da LAP
que não restringe a sua aplicação ao processo impugnatório e tem condições aplicativas não
totalmente coincidentes com a parte final do artigo 62.º, n.º 1 do CPTA.
Contrainteressados
A primeira parte do segundo parágrafo deste caso já tem a ver com outra figura especial do
contencioso administrativo que são os contrainteressados.
O artigo 57.º do CPTA está previsto só para a impugnação de atos administrativos, ou seja, é uma
norma com definição especial para impugnação sendo certo que, no nosso caso, se trata de uma
condenação e, por isso, este artigo não será diretamente aplicável, assim, no nosso caso, aplica-se o
artigo 68.º, n.º 2 do CPTA. Estes dois artigos são uma concretização da norma geral (artigo 10.º, n.º
1, 2.ª parte do CPTA) e, assim, o contrainteressado está do lado da entidade demanda, logo, tem o
mesmo interesse da entidade demandada e, por isso, tem interesse contraposto ao autor
diferentemente do cointeressado que já se trata de um sujeito com interesse idêntico do autor.
No nosso caso não foram indicados contrainteressados e o Tribunal recusou a PI e absolveu o réu do
pedido e no artigo 80.º do CPTA temos as recusas pela Secretaria, tratando-se de um ato meramente
formal, enquanto no caso do artigo 89.º do CPTA trata-se de um juízo de Direito do Juiz e podemos
distinguir melhor as duas situações porque enquanto no primeiro caso estamos perante uma
situação, por exemplo, em que o autor referiu ele próprio que existem contrainteressados, mas não
disse quem são e a Secretaria, olhando para estas questões formais, consegue perceber que algo
está em falta; já no segundo caso estamos perante uma situação, por exemplo, em que o autor
refere que existem três contrainteressados e indicou os três, mas existem mais do que três e, por
isso, como a Secretaria não pode exercer qualquer juízo de Direito para saber se existem realmente
só três contrainteressados ou não terá que ser um juízo a exercer pelo Tribunal ou, outro exemplo,
se o autor não referir a existência de contrainteressados a Secretaria irá passar o processo para
afrente porque não tem qualquer competência para saber se está correto ou não, ao abrigo do
Direito, porque é uma competência do Juiz, logo, se o autor, por lapso, não indicar que existem
contrainteressados, mas o Juiz, pegando no processo, reparar que existem contrainteressados ou
mais do que os que foram identificados pelo contrainteressados não se irá logo aplicar o artigo 89.º
do CPTA (exceção dilatória absolvendo o réu da instância) devendo o Juiz dar oportunidade ao autor
para suprir a irregularidade.
Exemplo
Imaginando que todos os licenciados deste ano concorrem para uma única vaga aberta para
assessor jurídico de uma Câmara Municipal em que A ganhou o concurso e B, que fica no quarto
lugar, não concordando com a decisão do júri pretende impugná-la, assim, B deve indicar como
contrainteressado A, que ganhou o concurso, e todos os outros participantes do concurso, embora
seja um tema muito debatido na pática, sobretudo, na Jurisprudência, mas esta tem sido a posição
Doutrinária mais pragmática e isto deve-se ao facto de no artigo 99.º, n.º 2 do CPTA referir que
existe o prazo de um mês para a propositura da ação e, se não se aplicasse este artigo, mas sim uma
impugnação não urgente, o prazo seria de três meses (artigo 58.º, n.º 1, alínea b) do CPTA) e
imaginando que B interpôs uma ação e, chegando ao momento da citação dos contrainteressados,
normalmente, já deve ter passado um mês ou até três meses porque, por um lado, B pode não
intentar a ação logo no primeiro dia do prazo e intente, por exemplo, no último dia do prazo,
significando que não há mais prazo para alguém impugnar o ato e, neste caso, se todos estiverem
todos citados como contrainteressados para contestar: 1. Se todos tiverem o mesmo interesse em
manter o ato irão contestar; 2. Os candidatos que não tiverem interesse em manter o ato não farão
nada. Se não existir interesse em manter o ato ou se existir interesse em eliminar o ato o que
deveriam intentar uma ação de impugnação dentro do prazo (após citação), assim, todos os
participantes estarão sempre envolvidos no processo pois esta Jurisprudência permite que todos os
participantes terão sempre a oportunidade de participar no processo de impugnação porque, antes
de tudo, se alguém quiser impugnar o ato pode sempre intentar uma ação autónoma de
impugnação do mesmo ato dentro do prazo ou coligar-se com B. Deixando passar o prazo já não
pode intervir no processo como cointeressado no sentido de coautor ou parte principal do processo
ao lado de B porque o prazo já foi ultrapassado e, nesta situação, sendo a pessoa citada como
contrainteressado não irá contestar porque é algo contra o seu interesse, mas será citado porque
assim terá, em abstrato, a oportunidade de participar neste processo. Já quanto aos outros
participantes que tiverem interesses em manter o ato não irão impugnar o ato e, no momento da
citação dos contrainteressados, irão adotar uma postura que é como contrainteressado a sua
contestação. Assim, esta posição Jurisprudencial permite envolver todos os participantes no
processo porque se se adotasse uma posição em que não se citava nenhum dos participantes já não
teriam oportunidade de intervir no processo podendo existir o risco de alguém conseguir justificar
que tem interesse em manter o ato existiria um problema de ilegitimidade do processo porque
deveria se deveria citar C, mas ao adotar esta posição não foi citado e o C tem interesse em recorrer
da Sentença dizendo que esta decisão não o deveria vincular porque não foi citado e não teve
oportunidade de contestar, mas tem interesse em manter o ato.
Concluindo, o melhor processo a adotar é a citação de todos para que todos tenham a oportunidade
de se pronunciar sobre o processo e, assim, já se vai evitar a aplicação do artigo 155.º do CPTA
porque todos já tiveram a oportunidade de participar.
Neste caso, a nível processual aplicável, no contencioso relativo aos processos urgentes, seria o
contencioso dos procedimentos em massa (artigo 99.º, n.º 1, alínea a) do CPTA conjugado com o
artigo 97.º, n.º 1, alínea b) e 36.º, n.º 1, alínea b) do CPTA) admitindo que existiam mais do que 50
participantes e não o contencioso pré-contratual (artigo 100.º do CPTA) pois não se aplica a
contratação de emprego público.
NOTA: citar os contrainteressados tem uma função subjetivista porque é para proteger a esfera
jurídica, ou seja, o interesse das pessoas em manter o ato no caso do processo impugnatório pois
esses contrainteressados são partes reais e substanciais de uma relação jurídica administrativa (a
relação jurídica administrativa, hoje em dia, muitas vezes, já não é bilateral, mas sim poligonal).
Quanto à função objetivista, serve para acautelar a segurança jurídica e a unidade do ordenamento
jurídico porque, em regra, uma Sentença tem efeitos interpartes, salvo o contencioso com efeito
erga omnes que tem a ver com o contencioso das normas pois a questão da legalidade de normas
pode, consoante a situação, ter eficácia geral e, assim, se não se citar os contrainteressados corre-se
o risco de um ato ser válido para alguns, mas inválido para o resto e isto não é compatível com a
unidade do ordenamento jurídico porque um mesmo que, neste caso, será a decisão do Júri não
pode ser simultaneamente válido para uma pessoa e inválido para outra pessoa e, por isso, tudo isto
justifica a necessidade de o nosso sistema de contencioso administrativo estar a exigir a citação dos
contrainteressados (Ler texto do Professor Paulo Otero em “Estudos em Homenagem ao Prof.
Doutor Rogério Soares – Os contrainteressados em contencioso administrativo: fundamento, função
e determinação do universo em recurso contencioso de ato final de procedimento concursal”).
Tendo esta via uma ideia de última racio só deverá ser utilizada se se mostrar imprescindível para
proteger o interesse e Direitos subjetivos do autor, ou seja, só se deverá recorrer a esta via se não
existir outro processo adequado para acautelar a situação subjetiva (traço subjetivo pois trata-se de
um ato lesivo de Direitos (ação para proteger Direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos)
e não um ato lesivo de ordenamento jurídico) tendo que se fazer um juízo para esta condição
aplicativa para ver se no caso de não se reconhecer ao autor este meio processual se a sua esfera
jurídica estará colocada em causa, ou não, ou seja, se numa situação em que não se reconheça
legitimidade ou interesse em agir ao autor na condenação da Administração na omissão da prática
do ato administrativo mesmo assim não vai prejudicar imediatamente a esfera jurídica do autor
podendo não justificar a utilização deste meio de última racio (Leitura do texto da autoria do Dr. Rui
Lanceiro “A condenação à não prática de atos administrativos” nos Comentários à Legislação
Processual Administrativa - Volume II). Por exemplo, imaginando que há possibilidade de deixar a
Administração emitir o ato em causa o que o autor deverá fazer é impugnar o ato e a questão que se
coloca é se é mesmo necessário impedir a administração à prática do ato para, assim, proteger a
esfera jurídica do autor e verificando-se que não é razoável aguardar a emissão do ato impugnado
depois, o autor, o ato emitido, assim, o juízo será comparatista entre prevenção e reação, isto é,
olhando para a via preventiva que é a condenação à não prática do ato e depois a via reativa, que
pressupõe a existência de um ato que lese o interesse do autor.
Existe a possibilidade de existir uma situação em que o ato está praticado, mas que ainda não
produz efeitos lesivos imediatamente na esfera jurídica do autor sobretudo temos na situação em
que o ato precisa de execução, portanto, pode acontecer que o ato produza só efeitos jurídicos e
para a sua consumação ainda necessite de algumas operações materiais por parte da Administração
e, neste caso, poderá não existir a imprescindibilidade de pedir logo a ação preventiva , ou seja, não
é imprescindível para evitar a lesão através da via preventiva, mas sim através da via reativa. Assim,
a situação em que é necessário evitar logo, por ser imprescindível, porque no momento da prática
do ato já vai causar lesões de modo imediato na esfera jurídica do autor é, por exemplo, o caso de
uma sanção disciplinar pois pode produzir efeitos jurídicos imediatos na esfera jurídica do autor
independentemente da sua execução porque o mero facto de se ter emitido uma sanção disciplinar
já pode constituir um impedimento ao autor para se candidatar, por exemplo, a determinadas vagas
ou de ser promovido independentemente da execução desta sanção disciplinar. Assim, consoante a
circunstância concreta, porque para ver se é imprescindível não basta um juízo abstrato sendo
sempre necessário um juízo circunstancializado.
A consequência de ser um processo de última instância está sobretudo, mas não exclusivamente, a
exigir uma comparação entre a necessidade desta via preventiva e a pertinência de uma via reativa
que pressupõe a emissão do ato e, para ver se é o meio mais adequado, temos de ver o modo de
produção dos efeitos lesivos deste ato pois se tivermos perante uma situação em que no momento
da emissão do ato, este produza logo efeitos lesivos independentemente de qualquer ato material
de execução por parte da Administração, à partida, estamos perante uma situação em que podemos
justificar a via preventiva face à via reativa. O artigo 39.º, n.º 2 do CPTA serve para evitar os efeitos
lesivos provenientes imediatamente do ato a praticar neste procedimento.
Num contencioso administrativo, no modelo padrão, o Tribunal está a julgar a Administração
colocando-se uma questão fundamental sobre o princípio constitucional relativo à separação de
poderes que nos diz que o Juiz quando julgar a Administração tem o impedimento de não poder
administrar (artigo 3.º, n.º 1 do CPTA – quando diz “…não da conveniência ou oportunidade da sua
atuação” tem a ver com mérito que diz respeito o espaço de discricionariedade administrativa) e isso
vai-nos ajudar o artigo 39.º do CPTA que pressupõe que o ato ainda não está emitido e, por isso,
ainda há oportunidade para a Administração emitir um ato não lesivo e ao permitir o Tribunal de
intervir ainda na fase constitutiva do ato é uma fase em que a Administração vai exercer a sua
função de discricionariedade implicando que, estruturalmente, este tipo de ação implica a
intervenção do Tribunal ainda na fase constitutiva do procedimento causando mais desafio para a
garantia do princípio da separação de poderes, sobretudo, a garantia de integridade da função
administrativa e é daqui que provém a racio da imprescindibilidade.
NOTA 1: num procedimento administrativo temos várias fases para a produção de um ato
administrativo (iniciativa particular ou oficiosa; instrução; audiência dos interessados e decisão
faz constitutiva do ato num procedimento; depois da fase constitutiva temos a fase integrativa de
eficácia que pressupõe que o ato já está constituído e, consoante a situação, o ato pode não
produzir logo os seus efeitos, por exemplo, a sua eficácia pode depender da publicação no Jornal e,
nessas situações, o ato já está constituído (emitido) faltando a eficácia não se aplicando o artigo
39.º, n.º 2 do CPTA porque esta norma pressupõe que ainda não esteja concluída a fase constitutiva
porque a partir do momento da conclusão da fase constitutiva já temos um ato e já não se pode
pedir a condenação da Administração a não praticar um ato que já está praticado. Já numa situação
de impugnar um ato administrativo ineficaz é uma possibilidade que se aplica na fase pós-
constitutiva, mas durante a fase integrativa de eficácia aplicando-se o artigo 54.º, n.º 2 do CPTA).
Distinguir a fase constitutiva da fase integrativa tem relevância pois se houver vícios ou
irregularidade na fase integrativa da eficácia do ato não afeta a essência do ato, logo, não afeta a sua
validade, mas sim a sua eficácia, enquanto a impugnação tem a ver com os vícios de invalidade
(nulidade ou anulabilidade) que são vícios cometidos só na fase constitutiva porque a invalidade tem
a ver com o valor do ato e não com a sua eficácia (vícios ocorridos na fase de constituição de um ato,
por exemplo, falta de audiência prévia, falta de momentos instrutórios obrigatórios ou aplicar mal a
Lei na fase da decisão) e, nos termos do artigo 50.º, n.º 1 do CPTA o ato é impugnado devido à sua
nulidade, anulabilidade ou inexistência e não por causa da sua ineficácia. A questão da ineficácia, à
luz do artigo 54.º do CPTA, é o momento oportuno para impugnar um ato com vícios de invalidade e
não a possibilidade de impugnar um ato só com problemas na fase integrativa de eficácia.
Resumindo, temos a fase constitutiva e a fase integrativa de eficácia e se os vícios ocorrerem na fase
constitutiva a consequência, em regra, será uma questão de invalidade, enquanto que se os vícios
cometidos forem na fase integrativa de eficácia será uma questão de eficácia e, por isso,
distinguimos o vício em função do momento da sua comissão. O artigo 50.º, n.º 1 do CPTA diz que a
impugnação de atos visa a anulação ou declaração de nulidade do ato, por isso, diz que o processo
de impugnação de um ato tem a ver com uma questão de invalidade e não com a ineficácia, ou seja,
só se pode impugnar um ato com base nos vícios de invalidade e, por isso, não é possível impugnar
um ato só com fundamento num vício cometido apenas na fase integrativa de eficácia. O artigo 54.º
do CPTA não altera esta observação, ou seja, não vem permitir que um ato ineficaz seja impugnado
com base na sua ineficácia, vem sim permitir que um ato, ainda que ineficaz, possa se impugnado
com vícios de invalidade e, por isso, está a antecipar o momento de impugnação porque, em regra,
segundo, sobretudo, o artigo 51.º do CPTA um ato impugnável, em princípio, pressupõe que já esteja
a produzir efeitos.
Ao condenar a Administração à omissão de prática de um ato pressupõe que exista um ato, mas no
nosso caso prático estamos perante um caso de mera comunicação prévia (artigo 134.º, n.º 1 do
CPA) e, no nosso caso, porque está em causa uma situação atual é aplicável o regime da mera
comunicação prévia não existindo qualquer procedimentalização na emissão de ato porque o efeito
constitutivo resulta da simples comunicação e o controlo da administração irá ser sucessivo, ou seja,
a Administração não irá controlar previamente e o interessado, desde que bem feita a comunicação,
pode exercer logo a atividade e depois a administração irá controlar através de uma fiscalização
sucessiva e, no nosso caso, como depende de prática de ato não se deverá condenar a administração
à não prática de um ato pois não se pode condenar a Administração a algo que ela não precisa de
praticar.
NOTA 2: enquanto o artigo 134.º, n.º 1 do CPTA diz respeito à mera comunicação prévia, já o n.º 2 é
relativo à comunicação prévia com prazo e aqui a Administração ainda tem oportunidade de um
controlo prévio porque o particular, depois de ter submetido a comunicação, não agir logo tendo
que acordar um prazo de stand still, por exemplo, num prazo de 15 dias é o prazo que a
Administração tem para fazer o seu juízo de controlo prévio e, se decorrido o prazo, a Administração
nada fizesse aplica-se o n.º 3 do mesmo artigo em que o silêncio não equivale a um tácito, logo,
neste caso, também não há um ato e, por isso, também não faz sentido o contencioso de
condenação à não prática de um ato porque aqui também não um ato pois o silêncio mantém-se
como silêncio mesmo que tenha um efeito constitutivo.
Olhando, novamente para o caso, aparentemente o processo principal não é viável porque não há
um ato a emitir e a repercussão na providência cautelar será um despacho limiar com rejeição
liminar do requerimento, nos termos do artigo 116.º, n.º 2 alínea a) e f) do CPTA, no entanto, no
artigo 114.º, n.º 3, alínea i) do CPTA indica que deve ser identificado o tipo de processo principal e,
neste caso, o autor não conseguiu identificar o processo principal sendo a recusa liminar prevista no
artigo 116.º, n.º 2 alínea a) do CPTA ou, mesmo que consiga indicar que será a condenação a não
prática de ato devido, o Juiz também terá argumento para rejeitar liminarmente o requerimento
através do artigo 116.º, n.º 2 alínea f) do CPTA porque, neste caso, manifestamente o processo
principal artigo 116.º, n.º 2 alínea a) e f) do CPTA não tem objeto.
Requisitos das providências cautelares (periclum in mora; fumus boni iuris e proporcionalidade)
Os requisitos gerais são periclum in mora; fumus boni iuris e proporcionalidade, mas o n.º 6
consagra um regime especial dispensando o preenchimento integral destes três requisitos
existindo, ainda, disposições particulares a partir do artigo 128.º do CPTA com regimes
especiais sobre o modo de densificação destes três requisitos e, em alguns casos pode existir
dispensa de alguns destes requisitos. O artigo 128.º e seguintes do CPTA não preveem todas
as disposições particulares das providências cautelares como, por exemplo, o pré-contratual
tem disposições sobre providências cautelares que não se encontram nestes artigos.
NOTA: Leitura do artigo do Assistente sobre periculum in mora no processo administrativo
disponível em
http://www.icjp.pt/sites/default/files/publicacoes/files/ebook_danoecologico_22jul2019_0.pdf
Tribunal competente
Aplicar-se-ia o artigo 20.º, n.º 1 do CPTA e, por isso, seria o tribunal da área da sede da entidade
demandada (TAC de Lisboa).
Legitimidade
Ativa
Para sabermos se Armando tem legitimidade ativa temos que recorrer ao artigo 9.º, n.º 1 do CPTA
pois o autor, sendo na relação material controvertida, é considerado parte legítima no processo.
Passiva
Para aferir a legitimidade passiva devemos verificar o artigo 10.º, n.º 2 do CPTA que nos diz que a
ação deve ser intentada contra a Câmara Municipal de Lisboa devendo-se incluir os
contrainteressados (neste caso não existiam porque os refugiados ainda não estão em Portugal, não
se sabe quando virão, não têm residência e, sobretudo não têm uma posição jurídica consistente
com a posição de contrainteressados pois não têm o direito a ocupar um imóvel de carater privado).
Prazo
Nos termos do artigo 41.º, n.º 1 do CPTA a ação administrativa pode ser proposta a todo o tempo
(quando o ato surja perde-se o interesse).
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Armando
O Armando pretende evitar a notificação que, rigorosamente, é uma forma de comunicação
(comportamento/conduta), mas o que pretende realmente é que não exista a aplicação da
deliberação e, por isso, o que pretende não é apenas a abstenção de uma conduta, mas sim a não
emissão de um ato administrativo de aplicação da deliberação, logo, será a condenação à não
prática de um ato (artigo 37.º, n.º 1, alínea c) e 39.º, n.º 2 do CPTA).
Bruna
A pretensão da Bruna está dirigida à deliberação e como tem natureza normativa significa que se
aplicará o contencioso de normas e, neste caso, trata-se de uma impugnação aplicando-se o artigo
37.º, n.º 1, alínea d) do CPTA concretizado no artigo 72.º a 76.º do CPTA.
Na impugnação de normas temos três institutos com natureza diferente (artigo 73.º do CPTA):
Dentro destas três temos duas ações principais e um incidente;
Como ações principais de normas temos o n.º 1 que tem força obrigatória geral e o n.º 2
com efeito circunscrito ao caso e têm como objeto imediato a norma (a norma é apreciada a
título principal nestas duas ações);
O incidente não é uma ação principal porque é um incidente dentro de uma outra ação
principal que não é sobre a normas, mas sobre o ato de aplicação e o incidente é a
apreciação incidental da norma porque, numa ação de impugnação de ato administrativo, o
fundamento é a invalidade e, neste caso, a invalidade encontra-se na ilegalidade da norma e,
por isso, o que se realiza neste caso é uma ação de impugnação do ato, tratando-se de um
ato de aplicação de uma norma, e o que o autor argumenta é que o ato de aplicação da
norma é ilegal porque a norma objeto de aplicação é ilegal e a ilegalidade da norma
contamina a validade do ato e, por isso, pede para ser analisada a legalidade da norma para
o efeito da anulação do ato, logo, a apreciação da norma será incidental porque tem uma
finalidade dirigida a apreciar a pretensão de impugnação do ato;
Existem normas imediatamente operativas (n.º 1 – ação principal com força obrigatória
geral; n.º 2 – ação principal com efeito circunscrito ao caso e n.º 4), por exemplo, uma
norma de proibição e normas mediatamente operativas (n.º 3, alínea a) – ação incidental
inserido numa ação principal de atos; n.º 3, alínea b) – ação principal com força obrigatória
geral e n.º 4), por exemplo, uma norma de sanção associada à norma de proibição não
sendo a sanção imediatamente operativa porque pressupõe um ato de aplicação da sanção
e esta distinção irá ter disposições diferentes de aplicação;
Devido ao artigo 72.º, n.º 2 do CPTA, o artigo 73.º, n.º 1 do CPTA nunca pode ter
fundamento no artigo 281.º, n.º 1 da CRP (vício de inconstitucionalidade) o que significa que
esta ação só pode ter como fundamento de invalidade de norma um vício de ilegalidade
simples. O artigo 73.º, n.º 2 do CPTA só se pode aplicar quando esteja em causa em um vício
de inconstitucionalidade;
A inconstitucionalidade só se aplica ao n.º 2 porque se trata de uma matéria do Tribunal
Constitucional e se assim não fosse estaríamos perante uma usurpação de poderes.
No nosso caso, estando perante uma norma trata-se de uma norma mediatamente operativa porque
pressupõe a notificação e tendo em conta que Bruna pretende atacar a deliberação com uma ação
principal aplicando-se o artigo 72.º, n.º 3, alínea b) do CPTA que se trata de uma disposição
referente a legitimidade ativa que cabe ao MP e, não sendo Bruna o MP, não tem legitimidade. Este
artigo também permite que um sujeito requeira ao MP que este exerça a sua legitimidade ativa, mas
esta faculdade está reservada aos autores populares e Bruna não está a defender um interesse
difuso, mas sim um interesse particular.
Olhando para o artigo 73.º, n.º 1, alínea d) do CPTA remete-nos para o artigo 55.º, n.º 2 do CPTA
(ação popular autárquica – permite a eleitores das autarquias locais impugnar deliberações das
autarquias locais independentemente do interesse difuso porque o critério é autárquico) e como no
artigo 73.º, n.º 2 do CPTA não se encontra esta alínea, existe Doutrina que questiona se se pode
aplicar por analogia para incluir criativamente o artigo 55.º, n.º 2 do CPTA no artigo 72.º, n.º 3,
alínea b) do CPTA.
Neste caso, seria irrelevante a posição Doutrinária porque a Bruna é do Porto e a deliberação é de
Lisboa e como a ação popular autárquica só é permitido aos eleitores com eleição naquele
Município, Bruna não poderia impugnar.
ALP
A sua pretensão é impugnar a deliberação e, mais uma vez, será aplicável o contencioso de normas
e, por isso, a resposta será a mesma que foi dada em relação a Bruna não tendo legitimidade ativa
porque não é o MP nem figura nas situações do artigo 9.º, n.º 2 do CPTA porque não está a defender
interesse difuso, mas sim um interesse individual homogéneo dos seus associados. Os seus
associados já poderiam optar por uma ação popular autárquica.
A ALP invoca uma inconstitucionalidade e, devido ao artigo 72.º, n.º 2 do CPTA, não poderia intentar
a ação pretendida por não ter legitimidade, mas também devido a esta disposição.
Para a ALP conseguir reagir teria de aguardar a emissão do ato, impugnando-o nos termos do artigo
55.º, n.º 1, alínea c) do CPTA, aplicando-se, depois, o artigo 73.º, n.º 3, alínea a) do CPTA.
Tribunal competente
Aplica-se o artigo 20.º, n.º 1 do CPTA porque existe Doutrina que defende que o artigo 17.º do CPTA
aplica-se a atos materiais e não atos administrativos e normas e, no caso do Armando, nem sequer
existia qualquer ato sobre o imóvel, portanto, nesse caso, não se poderia mesmo aplicar o artigo
17.º do CPTA.
c) Haveria algum pedido urgente especialmente apto a evitar os prejuízos para os sujeitos
indicados?
O artigo 36.º do CPTA fala dos pedidos urgente, mas não é taxativo pois, por exemplo, o artigo 48.º
do CPTA também é um pedido urgente e não está mencionado no artigo 36.º do CPTA.
Quanto ao artigo 36.º do CPTA temos a tutela cautelar e a tutela principal, tendo sempre que
identificar a providência cautelar concretamente aplicada porque, em função da providência
cautelar, podem existir regimes diferentes.
Para Armando, não sendo o artigo 112.º do CPTA taxativo, poder-se-ia optar por uma providência
cautelar não especificada baseada numa suspensão de procedimento à prática do ato e, assim, iria
suspender-se aquele procedimento administrativo travando o andamento do mesmo e aqui
aplicava-se o regime geral porque não existe nenhuma norma que regule esta providência.
Caso Bruna tivesse legitimidade iria aplicar-se a suspensão da eficácia da norma (artigo 130.º do
CPTA).
Para a situação eventual da ALP vista anteriormente, seria a suspensão da eficácia do ato já
executado (artigo 129.º do CPTA) e, devido ao requerimento da suspensão da eficácia do ato, existe
uma pré-providência aplicando-se, posteriormente, o artigo 128.º do CPTA.
Caso prático
Várias pessoas, em conjunto, ganharam o euro milhões e querem formar uma sociedade comercial
e requerer a construção de um centro comercial na freguesia de Arroios.
O processo de licenciamento da abertura do estabelecimento é da competência do Município, mas
o Município só poderá emitir a decisão final após consulta da Direção Geral das Atividades
Económicas.
Foi dada entrada do procedimento, entregue o requerimento e as pessoas foram notificadas da
pronúncia da Direção Geral que é desfavorável ao licenciamento. Esta pronúncia pode ser
impugnada?
O parecer é obrigatório por ser exigido por Lei e, segundo o artigo 91.º, n.º 2 do CPA, os pareceres
legalmente previstos consideram-se obrigatórios e não vinculativos, no entanto, o facto de o parecer
não ser um ato final não é decisivo para esta questão porque não são só os atos finais que podem
ser impugnados, os atos destacáveis também podem ser. Olhando para o artigo 51.º, n.º 1 do CPTA
já é decisivo porque o parecer jurídico não tem eficácia externa pois não produz efeitos na esfera
jurídica dos particulares e, segundo o artigo 55.º, n.º 1, alínea a) do CPTA só tem legitimidade q uem
alegue ser titular de um interesse direto e pessoal, designadamente por ter sido lesado e aqui não
existe lesão proveniente deste parecer.
E se a Lei referente ao processo de licenciamento (foi inventada pelo Assistente) fosse alterada e
passasse a estipular que a pronúncia, além de obrigatória, seria vinculativa?
Há várias Doutrinas estando cada vez mais abertas para a impugnabilidade deste tipo de pré-
decisões (antecipação do momento da decisão), mas o que interessa do ponto de vista do
contencioso é que o parecer tem como destinatário o Município e, por isso, tem como incidência
subjetiva o Município e não o particular e o facto de ser dado conhecimento do parecer, não
significa que tenha como destinatário o particular porque a função do parecer é emitir uma opinião
para a entidade administrativa sendo vinculativa, mas apenas para a entidade que pediu o parecer e,
por isso, mesmo que o parecer seja vinculativo não produz efeitos externos para o particular pois o
que irá produzir esses efeitos externos é a decisão da Câmara, logo, o parecer não pode ser
impugnado, mas sim a decisão da Câmara pois, mesmo que o parece seja vinculativo, a Câmara pode
recusar o parecer com fundamento na ilegalidade do parecer, logo, nada garante que a decisão da
Câmara irá de encontro à posição do parecer (devido ao princípio da legalidade administrativa, o
Município tem o dever de rejeitar os pareceres ilegais mesmo que sejam vinculativos), por isso, em
teoria, ainda há a possibilidade de não coincidência da decisão final com o parecer.
Nem todos os atos administrativos são impugnáveis nos termos do CPTA.
Quem tem legitimidade para impugnar uma pronúncia, mesmo que seja vinculativa, será o
Município (artigo 55.º, n.º 1, alínea c) do CPTA) e este litígio terá uma natureza especial atendendo
aos sujeitos em causa (interadministrativa) pois tem o Município como destinatário tendo um efeito
externo no sentido de não estar dentro da mesma pessoa coletiva, mas ainda dentro da
Administração. Temos ainda que saber se o Município tem um interesse em agir, ou seja, se a
impugnação da pronúncia tem utilidade ou não (se é útil utilizar a via contenciosa) e, neste caso, o
Município pretende saber se pode, ou não, ignorar o parecer, por exemplo, no caso de ser ilegal, ou
seja, se o Município tem ele próprio competência para afastar o parecer com fundamento na
ilegalidade, existindo Doutrina que impõe condições exigentes para o exercício desta competência
de afastar um parecer vinculativo ilegal e outra Doutrina mais flexível quanto a esta possibilidade e,
para esta última, o Município não terá interesse em agir porque ele próprio através da sua
competência pode alcançar o mesmo efeito que teria indo a Tribunal.
Após a construção do centro comercial o dono, ao passear na rua, verifica que existem uns
panfletos da freguesia a solicitar o apoio do comércio local e a incentivar que se visite certas lojas
onde não consta o centro comercial. É possível o dono do centro comercial fazer algo a nível do
contencioso?
O artigo 37.º do CPTA diz-nos como reagir no contencioso e para encontrar o meio certo o primeiro
passo é sabermos a natureza dos panfletos e as principais formas de atividade administrativa são
através de atos, normas e contratos existindo, eventualmente, operações materiais e atos jurídicos
que não são atos administrativos como, por exemplo, um parecer não vinculativo. No nosso caso,
não é um ato administrativo, norma, nem um contrato, assim, sendo uma operação material, o
artigo 37.º do CPTA dá-nos um meio na alínea i) primeira parte e, o próximo passo, será encontrar o
regime. Se fosse impugnação do ato teríamos o regime do artigo 50.º e seguintes do CPTA e, neste
caso, será aplicável o regime geral estando o prazo previsto no artigo 41.º do CPTA (todo o tempo) e
a legitimidade encontra-se no artigo 9.º, n.º 1 do CPTA.