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Sumário
AULA 1 ...........................................................................................................6
Recuperação Judicial – Parte I (Conceitos, Sujeitos e Classificações dos
Créditos) .........................................................................................................6
1. Crise na empresa .....................................................................................6
2. Princípios da execução concursal ............................................................7
2.1. Universalidade do juízo ........................................................................7
2.2. Igualdade entre os credores .................................................................8
2.3. Preservação da empresa .....................................................................9
2.4. Proteção aos trabalhadores ...............................................................10
3. Execução concursal no processo do trabalho ........................................11
3.1. Reunião de execuções .......................................................................11
3.2. Procedimento de Reunião de Execuções – PRE ...............................12
3.3. Regime especial de execução forçada – REEF .................................18
3.4. Plano especial de pagamento trabalhista – PEPT .............................22
3.5. Do Regime Centralizado de Execução – RCE ...................................28
4. Disposições gerais .................................................................................29
4.1. Conceito e objetivo da recuperação judicial .......................................29
4.2. Beneficiários da recuperação judicial .................................................30
4.3. Pessoas jurídicas excluídas da recuperação judicial .........................32
4.4. Representação processual do devedor ..............................................34
5. Créditos sujeitos à recuperação judicial .................................................36
6. Créditos excluídos da recuperação judicial ............................................40
6.1. Crédito fiscal tributário........................................................................40
6.1.1. Imposto de renda incidente sobre créditos do trabalhador...............40
6.1.2. Contribuição previdenciária decorrente de condenação trabalhista .42
6.2. Crédito fiscal não tributário .................................................................45
6.2.1. Custas processuais ..........................................................................45
6.2.2. Multas impostas pela fiscalização do trabalho .................................47
6.3. Outros créditos ...................................................................................47

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AULA 2 .........................................................................................................53
Recuperação Judicial – Parte II (Pedido e Processamento da Recuperação
Judicial).........................................................................................................53
7. O pedido e o processamento da recuperação judicial ............................53
7.1. Efeitos do processamento ..................................................................53
7.1.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas ..........................54
7.1.2. Suspensão da prescrição .................................................................60
7.2. Verificação e habilitação dos créditos na recuperação judicial ..........61
7.2.1. Juros e correção monetária na recuperação judicial ........................65
7.2.2. Liberação dos depósitos judiciais .....................................................66
7.2.3. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista .......................69
7.2.4. Reserva de crédito ...........................................................................72
7.3. Classificação dos créditos sujeitos à recuperação judicial .................73
7.4. Conciliação e mediação na recuperação judicial ...............................74
Resumo da aula 2 .........................................................................................77

AULA 3 .........................................................................................................79
Recuperação Judicial – Parte III (Plano de Recuperação Judicial e
Responsabilidades na Recuperação Judicial) ..............................................79
8. O plano de recuperação judicial .............................................................79
8.1. Apresentação do plano ......................................................................79
8.1.1. Prazos para o pagamento de credores trabalhistas e acidentários ..80
8.2. Assembleia geral de credores ............................................................82
8.3. Aprovação do plano e concessão da recuperação judicial .................84
8.3.1. Efeitos da concessão da recuperação judicial .................................85
8.3.2. Encerramento da recuperação judicial .............................................88
8.4. Rejeição do plano de recuperação judicial .........................................88
8.5. Convolação da recuperação judicial em falência ...............................89
9. Alienação dos ativos da recuperanda .....................................................90
10. Recuperação judicial de microempresas e empresas de pequeno porte94
11. Responsabilidade secundária na recuperação judicial ...........................96
11.1. Responsabilidade do devedor constante no título executivo ..............98
11.2. Responsabilidade do devedor não constante no título executivo .....100
11.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da recuperanda .......102

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12. Efeitos da recuperação judicial sobre os contratos de trabalho ativos .105
Resumo da aula 3 .......................................................................................106

AULA 4 .......................................................................................................109
Falência - Parte I (Conceitos, Sujeitos, Competência e Classificações dos
Créditos) .....................................................................................................109
13. Disposições gerais ...............................................................................109
13.1. Conceito e objetivo da falência ........................................................109
13.2. Pessoas sujeitas à falência ..............................................................110
13.3. Pessoas excluídas da falência .........................................................111
13.4. Competência indivisível e universal do Juízo falimentar ..................112
13.5. Representação processual da massa falida .....................................113
14. Créditos sujeitos à falência ...................................................................114
14.1. Classificação dos créditos na falência..............................................114
14.1.1. Pedidos de restituição ....................................................................114
14.1.2. Créditos extraconcursais ................................................................117
14.1.3. Créditos concursais ........................................................................120
15. Créditos excluídos da falência ..............................................................128
Resumo da aula 4 .......................................................................................129

AULA 5 .......................................................................................................131
Falência – Parte II (Procedimento da Falência e Responsabilidades na
Falência) .....................................................................................................131
16. O procedimento para a decretação de falência ....................................131
16.1. Requisitos para requerer a falência..................................................131
16.2. Defesa do devedor ...........................................................................133
16.3. Efeitos da decretação de falência ....................................................134
16.3.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas ........................134
16.3.2. Suspensão da prescrição ...............................................................136
16.4. Verificação e habilitação dos créditos na falência ............................137
16.4.1. Liberação dos depósitos judiciais ...................................................140
16.4.2. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista .....................140
16.4.3. Reserva de crédito .........................................................................142
17. Arrecadação e realização dos ativos da massa falida ..........................144

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17.1. Arrecadação dos bens .....................................................................144
17.2. Realização dos ativos ......................................................................144
18. Pagamento aos credores .....................................................................147
19. Encerramento da falência .....................................................................148
20. Responsabilidade secundária na falência ............................................151
20.1. Responsabilidade do devedor constante no título executivo ............151
20.2. Responsabilidade do devedor não constante no título executivo .....152
20.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da falida ..................153
21. Efeitos da falência sobre os contratos de trabalho ativos .....................154
Resumo da aula 5 .......................................................................................156

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................157

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AULA 1
Recuperação Judicial – Parte I (Conceitos,
Sujeitos e Classificações dos Créditos)

1. Crise na empresa

Todos aqueles que empreendem se encontram naturalmente sujeitos a


acontecimentos que podem romper com a normalidade das empresas que
gerem. Desde uma grave conjuntura econômica desfavorável até erros
menores de precificação de produtos e serviços, são inúmeros os eventos que
criam dificuldades no dia a dia dos negócios que, se não administrados
corretamente, têm a capacidade de gerar crises, com prejuízos aos
empresários e, nas situações mais graves, a todos os que se relacionam com a
empresa, como fornecedores e trabalhadores.

Conforme a sua origem, as crises podem ser econômicas, estruturais,


financeiras, patrimoniais ou de gestão, normalmente umas desencadeando
outras. De forma simplificada e exemplificativa, podemos dizer que uma crise
econômica ocorre quando há retração dos negócios. Há crise estrutural no
momento em que essa retração ocorre não só na empresa, mas em todo o seu
setor de atuação. Há crise financeira, sempre que o fluxo de caixa ou o capital
de giro não são suficientes para equilibrar as contas. E a crise patrimonial
ocorre quando os ativos não cobrem os passivos, e a de gestão, toda a vez
que os métodos de gerenciamento são equivocados.

Nesse curso não há objetivo na imersão dos porquês das variadas


adversidades, uma vez que tais matérias são mais afetas à Economia que ao
Direito. Aqui objetiva-se o exame dos principais institutos jurídicos criados para
racionalizar a atuação do Poder Judiciário frente às situações ocorridas. Os
objetivos dos institutos jurídicos tanto podem se dirigir a proteção temporária
da empresa com a moratória e a organização dos credores, como a decretar o
seu colapso, quando a crise for intransponível.

Especialmente voltados para os cenários em que os trabalhadores são


credores dessas empresas em situações de crise, serão tratadas nos próximos
tópicos as espécies de execução concursal mais comumente vistas no dia a
dia dos Foros, algumas delas dentro do próprio Poder Judiciário do Trabalho e
outras na Justiça dos Estados, porém sempre com sérias repercussões nas
reclamatórias trabalhistas.

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2. Princípios da execução concursal

2.1. Universalidade do juízo

Ao contrário das regras, os princípios normalmente não possuem


hipóteses normativas concretas e não determinam prévia e categoricamente as
condutas. Eles são normas que orientam procedimentos de maneira finalística
e que, assim, podem ser satisfeitas em graus variados nos casos concretos.

Nesse contexto, o princípio da universalidade representa a pretensão


de que, nas execuções concursais, respeitadas certas regras de distribuição de
competência, o maior número possível de ações e execuções referentes a
bens e interesses do devedor tramite perante um único Juízo, de forma a
prevenir decisões conflitantes e otimizar a atuação do Poder Judiciário.

Por exemplo, nas execuções concursais promovidas na Justiça do


Trabalho, representadas pelos chamados procedimentos de reunião de
execuções (PRE), do art. 149 da Consolidação dos Provimentos da
Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019 conforme redação de 19 de
agosto de 2022, força normativa do princípio da universalidade está setorizada
e relativizada. Setorizada porque aplicável apenas a poucas classes de
credores do devedor. Relativizada porque a atuação do órgão de centralização
de execuções dos Tribunais Regionais está mais ou menos limitada pelos
Juízos de origem desses créditos.

Art. 149. A reunião de processos em fase de execução definitiva, em relação


ao(s) mesmo(s) devedor(es), poderá ser processada em órgãos de
centralização de execuções (juízos centralizadores de execução), criados
conforme organização de cada Tribunal Regional e observados os
parâmetros estabelecidos nesta Consolidação.

Parágrafo único. Ressalvados os casos de PEPT, RCE e REEF, que


obrigatoriamente serão processados perante o juízo centralizador de
execução, a previsão do caput não prejudica a reunião de processos em fase
de execução definitiva em Varas do Trabalho, mediante cooperação
judiciária.

Na recuperação judicial, distintamente, o grau de intensidade do


princípio da universalidade é mais significativo. Um grupo maior de credores da
empresa está sujeito à execução concursal e é o Juízo da Vara Empresarial
que limita a atuação dos demais, e não o contrário.

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Na falência, encontramos a máxima atuação do supra mencionado
princípio. A previsão do art. 76 da Lei nº 11.101/05 conforma a vis atractiva do
juízo universal falimentar.

Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as


ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas
trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar
como autor ou litisconsorte ativo.

A recuperação judicial e a falência são processadas e julgadas


em Varas comuns ou especializadas, conforme fixado pelas
normas de organização judiciária dos Estados. Essas mesmas
regras estabelecem várias nomenclaturas para as Varas
Especializadas, a depender do Estado da Federação. De modo a
garantir a melhor compreensão serão tratadas pela
denominação de “Vara Empresarial”.

2.2. Igualdade entre os credores

Outro princípio basilar nas execuções concursais é o da igualdade


entre os credores, também conhecido pela expressão par conditio creditorum.
A premissa do referido princípio é que, nas execuções concursais, os credores
devem ter direitos iguais e paritários sobre os bens do devedor comum.

Entretanto, além dessa premissa, o princípio da igualdade entre os


credores é também orientado por uma análise valorativa de certos créditos,
baseada em sua relevância socioeconômica. Em outras palavras, a igualdade
é também reproduzida em seu aspecto material, resultando na segunda
premissa, a de que existem créditos juridicamente mais importantes que outros
e que, por consequência, devem ter um tratamento jurídico privilegiado e,
portanto, devem ser pagos primeiro.

Disso resulta basicamente que a par conditio creditorum prevista,


dentre outros, no art. 126 da Lei nº 11.101/05, é a igualdade de condições em
concurso entre credores com privilégio idêntico.

Art. 126. Nas relações patrimoniais não reguladas expressamente nesta Lei,
o juiz decidirá o caso atendendo à unidade, à universalidade do concurso e à
igualdade de tratamento dos credores, observado o disposto no art. 75 desta
Lei.

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O art. 148-A, inciso VI, da Consolidação dos Provimentos da
Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019 com a
redação Provimento n. 1/CGJT, de 19 de agosto de 2022
também dá destaque à par conditio creditorum, estabelecendo
a diretriz de pagamento equânime dos créditos, observadas as
particularidades do caso concreto. A saber:

VI – a premência do crédito trabalhista, haja vista seu caráter


alimentar;

Importante destacar que a igualdade entre credores se apresenta em


oposição ao princípio do prior in tempore, potior in jure, que orienta as
execuções singulares e significa que o credor que se antecipa em executar o
devedor e penhorar seus bens recebe um tratamento preferencial em relação
aos demais, tal como previsto no art. 797 do CPC/15.

Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o


concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que
adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados.

2.3. Preservação da empresa

O terceiro princípio que orienta as execuções concursais é aquele que


concebe a empresa como fonte geradora de riquezas, não só para o
empresário ou para a sociedade empresária que a administram, mas também
para todos os que com ela mantêm relações, sejam estas trabalhistas,
comerciais, consumeristas, civis ou tributárias (trabalhadores, fisco,
fornecedores, contratantes e consumidores, v.g.)

Em sendo um importante agente de desenvolvimento econômico e


social, o objetivo do princípio explicitado exemplificativamente no art. 47 da Lei
nº 11.101/05, a Lei de Recuperações e Falências, é preservar a empresa em
crise, garantindo que ela cumpra seus compromissos com credores e, ao
mesmo tempo, siga gerando riquezas.

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da


situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.

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A partir de agora, a Lei nº 11.101/05, também conhecida como
a Lei de Recuperações e Falências, será referida pela sigla
“LRF”.

Evidentemente, a orientação finalística de tal princípio não é


salvaguardar todas as empresas a todo o custo. Existem situações em que a
crise simplesmente não consegue ser superada, seja porque a empresa é
tecnologicamente atrasada, seja porque está completamente descapitalizada,
ou seja porque possui organização administrativa precária. São atividades
econômicas que podemos dizer inviabilizadas.

Nessas atividades econômicas inviabilizadas, a exclusão empresarial


do mercado não será um mal ou uma desconexão com o princípio da
preservação, mas sim uma proteção do sistema econômico-produtivo como um
todo. A axiologia do princípio da preservação deve ser realizada considerando
a recuperação das empresas viáveis e a liquidação das inviabilizadas.

A necessidade da preservação da função social da empresa


também consta como diretriz dos procedimentos de reunião de
execuções trabalhistas, conforme o art. 148-A, inciso VII, da
CPCG-JT - Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral
da Justiça do Trabalho.

2.4. Proteção aos trabalhadores

Dentro dos três fatores clássicos de produção, é o trabalho o único


humanizado – os demais são a propriedade imobiliária e o capital – como
também o mais frágil. Desta feita, a proteção aos trabalhadores dentro das
execuções concursais é outro axioma a ser observado.

Várias normas jurídicas, aqui representadas pelo art. 83, inciso I, da


LRF e pelo inciso VI do art. 148-A da Consolidação dos Provimentos da
Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho - CPCG-JT, outorgam certos
privilégios concursais aos credores cujos créditos são derivados da legislação
trabalhista e aos créditos decorrentes de acidentes de trabalho, estabelecendo
que eles estarão entre os primeiros a receber, tanto no que diz respeito à

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hierarquia entre os credores, quanto no que toca ao tempo do seu
recebimento.

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e


cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes
de trabalho; (…)

Art. 148-A. (...)O PRE, em todas as suas modalidades, observará, dentre


outros princípios e diretrizes (…):

VI – a premência do crédito trabalhista, haja vista seu caráter alimentar; (...)

O art. 83, inciso I, da LRF restringe a garantia do créditos derivados da


legislação trabalhista ao limite de 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por
credor, o que, por opção do legislador ordinário, restringiu a preferência do
referido crédito. Ademais, existem situações específicas em que outros tipos de
créditos preferirão aos trabalhistas tanto na recuperação judicial, quanto na
falência, como será abordado posteriormente.

3. Execução concursal no processo do trabalho

3.1. Reunião de execuções

A execução trabalhista contra devedor solvente quase sempre se


processa de forma singular, isto é, um único trabalhador pratica atos individuais
contra um ou mais devedores, com o objetivo da satisfação do seu crédito.

Entretanto, não é incomum haver em uma mesma Vara do Trabalho ou


em um mesmo Foro Trabalhista dezenas de reclamatórias trabalhistas movidas
por trabalhadores representados por diferentes advogados contra o mesmo ou
mesmos devedores.

Nesse caso, a reunião de todas ou algumas das execuções em um


único processo, tal como autorizado pelo art. 28 da Lei nº 6.830/80 é uma
medida de conveniência da unidade da garantia da execução e que melhor
atende os princípios de celeridade e eficiência processual, além da economia
de energia de trabalho nas unidades judiciárias, a saber:

Art. 28. O Juiz, a requerimento das partes, poderá, por conveniência da


unidade da garantia da execução, ordenar a reunião de processos contra o
mesmo devedor.

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Parágrafo Único - Na hipótese deste artigo, os processos serão redistribuídos
ao Juízo da primeira distribuição.

Importante dizer que o procedimento de reunião de execuções em algo


se assemelha ao juízo universal, razão pela qual deve que ser regido pelas
regras de natureza concursal previstas no art. 126 da LRF e, principalmente,
pelo princípio da par conditio creditorum, que estabelece o pagamento
equânime dos créditos de uma mesma classe e a perda do direito individual de
preferência sobre os bens penhorados pelos trabalhadores nos processos de
origem, com o afastamento da regra do art. 797 do CPC/15.

Importante: os processos aptos a esse tipo de reunião local de


execuções são somente aqueles com a decisão de liquidação de
sentença estabilizada, ou seja, em execução definitiva. Muitas
vezes, para os fins do art. 884 da CLT, é preciso considerar o
juízo fictamente garantido para permitir ao devedor a oposição
de embargos à execução, sob pena de paralisação do processo
antes da estabilização.

3.2. Procedimento de Reunião de Execuções – PRE

O tema relativo à “reunião de execuções” foi expressivamente


regulamentado pelo Provimento CGJT no 01, de 19 de agosto de 2022 que
alterou os termos da Seção X, do Capítulo VI, da Consolidação dos
Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho - CPCG-JT.

Dentre os importantes considerandos para assim agir o Exmo. Sr.


Ministro Corregedor, no uso das suas atribuições legais e regimentais,
destacou:

1) o princípio da efetividade da execução e a existência de grandes


devedores com processos em fase de execução definitiva em mais de um
Tribunal Regional;

2) que a execução deve se dar pelo meio menos gravoso para o executado,
reputando-se menos gravosa a solução mediante adoção de atos executivos
que sejam mais eficazes e menos onerosos;

3) o advento da Lei nº 14.193/2021 (Lei da Sociedade Anônima do Futebol –


SAF), que instituiu prazos para quitação de dívidas trabalhistas mais dilatados
que os previstos no Procedimento de Reunião das Execuções – PRE,

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constante da Seção X, do Capítulo VI, da Consolidação dos Provimentos da
Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, bem como instituiu modalidade
própria de Regime Centralizado de Execução – RCE;

4) o princípio da Função Social da Empresa e das Entidades de Prática


Desportiva, bem como a necessidade de sua preservação como fontes de
emprego, renda, lazer, entretenimento e cultura

5) a necessidade de uniformização nos Tribunais Regionais quanto à


aplicação do Procedimento de Reunião de Execuções – PRE, inclusive
quanto ao Regime Centralizado de Execução – RCE instituído pela Lei n.º
14.193/2021

6) o princípio da Cooperação Judiciária.

A Subseção I da Seção V – CPCG-JT trata do procedimento de


Reunião de Execuções (PRE) em seu art. 148. Referido procedimento é
destinado às obrigações de pagar e regulado pela referida Consolidação no
âmbito da Corregedoria- Geral da Justiça do Trabalho.

O Procedimento de Reunião de Execuções é constituído pelo:

I - Plano Especial de Pagamento Trabalhista - PEPT, cujo objetivo é o


pagamento parcelado do débito reunido;

II - Regime Centralizado de Execução - RCE, instituído pela Lei n.º


14.193/2021 (Lei da Sociedade Anônima do Futebol – SAF); e,

III - Regime Especial de Execução Forçada - REEF, voltado para os atos de


execução forçada, inclusive de expropriação do patrimônio dos devedores em
prol da coletividade dos credores.

As siglas (ou abreviaturas) acima negritadas o foram de forma


proposital. Busca-se, com tal recurso, chamar atenção de forma inequívoca
para as nomenclaturas instituídas pela Corregedoria-Geral da Justiça do
Trabalho. Tanto PETP, como RCE e REEF serão siglas utilizadas de forma
corrente neste trabalho.

O procedimento PRE, em todas as suas modalidades constitutivas,


observará, dentre outros princípios e diretrizes, segundo o art. 148 da
Consolidação dos Provimentos supra referida:

I – a cooperação judiciária;

II - a essência conciliatória da Justiça do Trabalho como instrumento de


pacificação social;

III – o direito fundamental à razoável duração do processo (artigo 5º, LXXVIII,


da Constituição da República) em benefício do credor;

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IV – os princípios da eficiência administrativa (art. 37, caput, da Constituição
da República), bem como da economia processual;

V – o pagamento equânime dos créditos, observadas as particularidades do


caso concreto;

VI – a premência do crédito trabalhista, haja vista seu caráter alimentar;

VII – a necessidade da preservação da função social da empresa e das


entidades de prática desportiva;

VIII – a estrita observância da Lei nº 14.193/2021 em relação às entidades de


prática desportiva, indicadas no art. 2º da Lei da Sociedade Anônima do
Futebol.

A reunião de processos em fase de execução definitiva, em relação


ao(s) mesmo(s) devedor(es), poderá ser processada em órgãos de
centralização de execuções (juízos centralizadores de execução), criados
conforme organização de cada Tribunal Regional e observados os parâmetros
supra mencionados e estabelecidos na Consolidação de Provimentos da
Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho (CPCG-JT). Tal previsão não
prejudica a reunião de processos em fase de execução definitiva em Varas do
Trabalho, mediante cooperação judiciária. Entretanto, os casos de PEPT, RCE
e REEF serão obrigatoriamente processados perante o juízo centralizador de
execução.

Mediante cooperação judiciária, processos que estejam aptos a serem


reunidos, mas estiverem em diferentes unidades judiciárias, poderão ser
reunidos mediante ajuste entre os Juízes do Trabalho titulares da competência
funcional para a sua execução. A realização de acordos de cooperação nos
Foros Trabalhista para reunião de execuções é uma boa prática a ser seguida.

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No TRT da 4ª Região, houve regulamentação da reunião local de
execuções na Resolução Administrativa nº 28/2022 e a reunião
se dá por meio de requisição das unidades judiciárias de 1º e 2º
graus do Regional. O § 2º do art. 17 do normativo estabelece
que “ em caso de requisição pelas unidades judiciárias, deverá ser
observado o número mínimo de 100 inclusões do devedor no
BNDT, podendo o JAE, de ofício ou a requerimento, avaliar a
conveniência de manutenção de tais critérios, por decisão
fundamentada, se constatada relevância econômica, social e/ou
jurídica”.

No TRT da 12a Região a regulamentação da reunião de execuções


ocorreu por meio da Portaria SEAP/SECOR nº 19/2023. Prevê a
referida Portaria que o REEF poderá ser instaurado por solicitação
de unidades judiciárias de 1o e 2o graus do TRT 12. E, para
tanto, estabelece no § 1º do artigo 17 que “a solicitação pelas
Unidades Judiciárias deverá vir acompanhada de certidão
comprobatória da utilização, sem sucesso, das ferramentas
básicas de pesquisa patrimonial (Sisbajud, Renajud, CNIB e
Infojud), nos 3 (três) meses anteriores à requisição, e do
protesto do devedor, conforme os arts. 883-A da CLT e 517 do
CPC, além do número mínimo de 15 inscrições no Banco Nacional
de Devedores Trabalhistas – BNDT“.

O juízo centralizador de execução tem como atribuições, segundo o


art. 149 da CPCG-JT:

I – acompanhar e exarar parecer relativo ao processamento do PRE,


mantendo comunicação com os demais órgãos partícipes da gestão do
procedimento, conforme definido pela organização administrativa do Tribunal
Regional ou pela Lei nº 14.193/2021;

II – promover, de ofício, a identificação dos grandes devedores e, se for o


caso, dos respectivos grupos econômicos, no âmbito do Tribunal Regional,
cujas execuções poderão ser reunidas para processamento conjunto atráves
da instauração do REEF, utilizando-se de todas as ferramentas eletrônicas de
investigação patrimonial disponíveis por meio de processo piloto indicado
pelo juízo centralizador de execução.

III – coordenar ações e programas que visem à efetividade da execução.

Importante destacar que no PRE – Procedimento de Reunião de


Execuções todos os esforços devem ser envidados no sentido de solver as

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execuções por pagamento integral ou com o uso das técnicas, aplicáveis, de
conciliação e mediação, observando-se, em cada modalidade de pagamento, a
atenção às preferências legais, conforme disciplinado pelo Tribunal Regional
respectivo.

Ressalva-se, por oportuno, a ordem de preferência para o RCE –


Regime Centralizado de Execução (Lei 14.193/21 – Lei de Sociedade Anônima
do Futebol – SAF), que é a seguinte, segundo o seu artigo 17:

Art. 17. No Regime Centralizado de Execuções, consideram-se credores


preferenciais, para ordenação do pagamento:

I - idosos, nos termos da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do


Idoso);

II - pessoas com doenças graves;

III - pessoas cujos créditos de natureza salarial sejam inferiores a 60


(sessenta) salários-mínimos;

IV - gestantes;

V - pessoas vítimas de acidente de trabalho oriundo da relação de trabalho


com o clube ou pessoa jurídica original;

VI - credores com os quais haja acordo que preveja redução da dívida original
em pelo menos 30% (trinta por cento).

Parágrafo único. Na hipótese de concorrência entre os créditos, os processos


mais antigos terão preferência.

Nas hipóteses de PEPT e REEF, caso haja omissão do Tribunal


Regional em regulamentar a matéria relativa à ordem de pagamento e, desde
que, observados os princípios da razoabilidade, equidade e proporcionalidade,
o Juízo centralizador de execução, após ouvidos os credores, poderá limitar,
inverter referida ordem de pagamento dentro da mesma classe, incluir
preferências definidas na CPCG-JT ou fixar teto de valores para os credores
preferenciais, visando possibilitar o pagamento, ainda que parcial a um maior
número de credores (art. 150 da CPCG-JT).

Considerando a necessidade de estabelecer a transição para o novo


regime consolidado, o art. 160 da CPCG-JT determinou que o juízo
centralizador de execução notificará os devedores dos PEPTs vigentes e que
ainda se encontrem desarmônicos com a Consolidação de Provimentos da
Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, para a readequação conforme as
disposições desta Consolidação no prazo de até 180 (cento e oitenta) dias, e
serão submetidos a exame na forma do art. 152, sob pena de presunção de
desistência do PRE. A inclusão deste artigo ocorreu em face do Provimento 1

16
da CGJT de 19 de agosto de 2022 e o prazo máximo de 180 dias equivale ao
dia 19 de fevereiro de 2023.

Os planos aprovados com os benefícios do RCE previstos na Lei nº


14.193/2021, para entidade desportiva que não se enquadre na regra do art.
153 desta Consolidação, deverão ser apresentados na forma de pedido de
instauração de PEPT, no prazo de 90 dias, sob pena de se presumir o
desinteresse no procedimento de reunião de execuções para pagamento
parcelado do passivo trabalhista. Previsão do § 1º do o art. 160 da CPCG-JT.
A inclusão deste parágrafo ocorreu em face do Provimento 1 da CGJT de 19
de agosto de 2022 e o prazo máximo de 90 dias equivale ao dia 19 de
novembro de 2022.

O Ato Trabalhista previsto no art. 50 da Lei nº 13.155/2015 passará a


observar a regulamentação implementada por esta Consolidação no que se
refere ao PEPT, ressalvados os planos já em vigor, vedada a renovação sem a
devida readequação, consoante § 2º do o art. 160 da CPCG-JT.

Prevê o art. 50 da Lei 13.155/15:

Art. 50. Ficam os Tribunais Regionais do Trabalho, ou outro órgão definido


por determinação dos próprios Tribunais, autorizados a instaurar o Regime
Centralizado de Execução (Ato Trabalhista) para as entidades desportivas de
que trata o § 10 do art. 27 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 .

Os planos já aprovados de acordo com a regulamentação anterior


em que não seja necessária readequação poderão ser revistos a qualquer
tempo, a requerimento do devedor, competindo ao Tribunal Pleno ou Órgão
Especial deliberar acerca do acolhimento, ou não, do pleito de revisão.
Previsão do § 3º do o art. 160 da CPCG-JT.

Eventuais casos omissos na presente Consolidação, inclusive a


disposição do concurso de credores para implementação do RCE previsto no
art. 13, I, da Lei nº 14.193/2021, deverão ser objeto de regulamentação em
cada Tribunal Regional, segundo o § 4º do art. 160 da CPCG-JT.

A saber:

Art. 13. O clube ou pessoa jurídica original poderá efetuar o pagamento das
obrigações diretamente aos seus credores, ou a seu exclusivo critério:

I - pelo concurso de credores, por intermédio do Regime Centralizado de


Execuções previsto nesta Lei; (...)

17
Art. 161. Até que seja desenvolvido fluxo específico no Sistema PJe em uso
na Justiça do Trabalho, a execução provisória tramitará na classe
Cumprimento Provisório de Sentença “CumPrSe” (157).

Havendo trânsito em julgado da decisão exequenda, a Secretaria da


Vara do Trabalho anexará, aos autos do processo autuado na classe
Cumprimento Provisório de Sentença (CumPrSe) ou nos remanescentes de
Execução Provisória em Autos Suplementares (ExProvAS), os arquivos
eletrônicos relativos às peças inéditas dos autos principais para o
processamento da execução definitiva, retificando-se a autuação para classe
processual Cumprimento de Sentença “CumSen” (156) e registrando-se o
movimento “50072 - Convertida a execução provisória em definitiva”. Nesta
hipótese deve haver arquivamento definitivo do processo “principal”, tudo
conforme art. 162 e seu parágrafo único da CPCG-JT.

3.3. Regime especial de execução forçada – REEF

Quando as execuções trabalhistas processadas de modo singular


contra o mesmo ou os mesmos devedores se avolumam e transbordam os
limites de uma Vara ou Foro Trabalhista, a Consolidação dos Provimentos da

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Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho – CPCG-JT prevê a possibilidade
de instauração do regime especial de execução forçada (REEF).

Esse procedimento regional de reunião de execuções está previsto no


art. 148, III e 154 da CPCG-JT é coordenado e executado pelo órgão
centralizador de execuções do Tribunal Regional. Ele pode ser iniciado por
esse próprio órgão, em decorrência da frustração de um plano especial de
pagamento trabalhista ou a pedido de uma ou mais unidades judiciárias.

Art. 154. O REEF consiste no procedimento unificado de busca, constrição e


expropriação, com vistas ao adimplemento da dívida consolidada de devedor
com relevante número de processos em fase de execução, como medida de
otimização das diligências executórias, doravante realizadas de forma
convergente, mediante a utilização de processo piloto.

§1º O REEF poderá originar-se:

I – do insucesso do Plano Especial de Pagamento Trabalhista (PEPT);

II – do insucesso do RCE previsto na Lei n. 14.193/2021, observado o


disposto no artigo 24 desta lei;

III – por meio de requisição das Unidades Judiciárias de 1º e 2º graus do


Tribunal Regional; e

IV – por iniciativa do órgão centralizador de execuções no Tribunal Regional.

§2º A solicitação pelas unidades judiciárias, deverá vir acompanhada de


certidão comprobatória da utilização, sem sucesso, das ferramentas básicas
de pesquisa patrimonial, nos 3 (três) meses anteriores à requisição, e do
protesto do devedor conforme os arts. 883-A da CLT e 517 do CPC/15.

§3º Poderá o juiz da Vara do Trabalho de origem recusar a habilitação de


créditos na execução reunida, caso já existam bens penhorados na data da
instauração do REEF, sem prejuízo da solicitação a outra Vara do Trabalho,
de processo em fase de execução definitiva em face do mesmo devedor.

§ 4º A instauração do REEF determinada por ato do juízo centralizador de


execução importará a suspensão das medidas constritivas em face do
devedor, salvo em relação ao processo objeto de recusa na forma do
parágrafo anterior.

§ 5º Ocorrendo conciliação ou pagamento, ainda que parcial, em processo


em fase de execução definitiva não submetido ao REEF, o juízo deverá
comunicar o fato ao juízo centralizador de execução, cabendo igual obrigação
às partes.

§ 6º Os Tribunais Regionais desenvolverão solução de tecnologia da


informação para cadastramento dos créditos habilitados nos processos do
REEF pelas unidades judiciárias originárias, com a discriminação da natureza
da dívida e dotado de atualização automática.

19
É importante destacar que o Juiz do Trabalho, caso já existam bens
penhorados na data da instauração do REEF, poderá recusar a habilitação de
créditos na execução reunida, sem prejuízo da solicitação a outra Vara do
Trabalho, de processo em fase de execução definitiva em face do mesmo
devedor (art. 154, §3º, da CPCG-JT).

E isto se dá em respeito às regras de competência funcional do


magistrado. O REEF é um procedimento de adesão facultativa por parte dos
juízos, ou seja, se determinado Juízo de Vara do Trabalho desejar não remeter
processo de sua competência à execução reunida, não estará obrigado a tanto,
desde que, no processo em questão, já exista penhora. Veja-se o art. 154, §3º,
da Consolidação.

Art. 154. (...)

§3º Poderá o juiz da Vara do Trabalho de origem recusar a habilitação de


créditos na execução reunida, caso já existam bens penhorados na data da
instauração do REEF, sem prejuízo da solicitação a outra Vara do Trabalho,
de processo em fase de execução definitiva em face do mesmo devedor.

Conforme o art. 154, §4º, da CPCG-JT, a instauração do REEF


determinada por ato do juízo centralizador de execução importará a suspensão
das medidas executivas em face do devedor, provocando a suspensão das
execuções singulares que a ele aderiram, na medida em que o seu art. 155
positiva que os atos executórios e o pagamento da dívida consolidada do
devedor são feitos nos autos do processo que encabeça a execução,
denominado de processo piloto, observada a par conditio creditorum prevista
no art. 148-A, inciso V, da CPCG-JT.

Art. 154. (...)

§4º A instauração do REEF determinada por ato do juízo centralizador de


execução importará a suspensão das medidas constritivas em face do
devedor, salvo em relação ao processo objeto de recusa na forma do
parágrafo anterior.

O art. 155 da CPCG-JT determina que, no curso do REEF, os atos


executórios buscando o pagamento da dívida consolidada do executado serão
realizados nos autos do processo piloto, ressalvada, na hipótese do § 3º do artigo 154,
a atuação executória da vara recusante.

A definição dos autos a serem qualificados como processo piloto


caberá ao juízo centralizador de execução do Tribunal Regional. (§ 1º do art.
155 da CPCG-JT).

Os juízes que atuam no juízo centralizador de execução resolverão os


incidentes e ações incidentais referentes exclusivamente ao processo piloto e

20
apenas quanto aos atos praticados durante o REEF (§ 2º do art. 155 da CPCG-
JT).

Localizados bens do executado, será ordenada sua alienação pelo


juízo centralizador de execução (§ 3º do art. 155 da CPCG-JT).

O pagamento integral do processo piloto importará na extinção da


referida execução, cabendo ao juízo centralizador de execução a adoção das
seguintes providências (§ 4º do art. 155 da CPCG-JT):

I – eleição de novo processo piloto;

II – lavratura de certidão circunstanciada dos fatos e atos relevantes


praticados nos autos do processo piloto, trasladando-se peças, se
necessário, para o novo processo piloto;

III – certificação nos autos do processo piloto extinto sobre a necessidade de


sua preservação e guarda íntegra até a solução definitiva dos processos em
fase de execução definitiva reunidos na forma disciplinada nesta Seção, o
que deverá ser observado pela vara de origem.

Dentre os princípios e diretrizes que deverão ser observados em todas


as modalidades de PRE está o pagamento equânime dos créditos (art. 148-A,
V, da CPCG-JT), com a observância das particularidades do caso concreto.
Ao seu turno o art. 154, §2º, da CPCG-JT prevê que caso ocorra a conciliação
ou pagamento, ainda que parcial, em processo em fase de execução definitiva
não submetido ao REEF, o juízo deverá comunicar o fato ao juízo centralizador
de execução, cabendo igual obrigação às partes.

Como o §2º do art. 156 da CPCG-JT foi suprimido, além do fato de que
hodiernamente a previsão de pagamento parcial ou conciliação dizer respeito a
processo em face de execução definitiva não submetido ao REEF, a crítica que
existia em face da possibilidade de desrespeito ao princípio da par conditio
creditorum não mais se sustenta.

A consolidação da dívida do executado, no caso do REEF, será feita


pelo juízo centralizador de execução, que oficiará as Varas do Trabalho para
que informem o montante da dívida do executado, nos processos em fase de
execução definitiva, no prazo de 30 (trinta) dias (art. 156 da CPCG-JT).

Na prestação de informações pelas Varas do Trabalho deverá ser


discriminada a natureza dos créditos, bem como a respectiva atualização e
incidência de juros de mora, sendo vedada a inclusão de valores referentes a
processos com pendência de homologação de cálculos (parágrafo único do art.
156 da CPCG-JT).

Emulando o art. 83 da LRF na organização de uma ordem dos


pagamentos entre as classes de credores submetidas ao REEF, o art. 157 da
Consolidação estabelece que primeiro serão adimplidos os créditos

21
trabalhistas, aqui incluídos os típicos e os decorrentes de acidente de trabalho
e, na sequência, o imposto de renda, a contribuição previdenciária, as multas
administrativas impostas pelos órgãos de fiscalização do trabalho e as custas
processuais.

Art. 157. Os créditos da União Federal, referentes às contribuições


previdenciárias e fiscais decorrentes das decisões desta Justiça
Especializada, aqueles oriundos de multas administrativas impostas pelos
órgãos de fiscalização do trabalho, nos termos do artigo 114, VII e VIII,
respectivamente, da Constituição da República, assim como as custas
processuais, serão pagos após a quitação preferencial dos créditos
trabalhistas.

Expropriados todos os bens e efetuados os pagamentos possíveis,


havendo crédito remanescente, as Varas do Trabalho da Região e as
Corregedorias das demais Regiões serão oficiadas, comunicando a existência
do saldo, aguardando a requisição de valores no prazo de 30 (trinta) dias e
devolvendo ao executado o saldo existente após os repasses solicitados (art.
158 da da CPCG-JT).

Esgotados os meios executórios, ainda que remanesçam débitos, o


REEF será extinto, sendo os autos do processo piloto devolvidos ao juízo de
origem para providências cabíveis, comunicando-se as Varas do Trabalho do
Tribunal Regional (parágrafo único do art. 158 da da CPCG-JT).

3.4. Plano especial de pagamento trabalhista – PEPT

A segunda modalidade de execução concursal dentro da competência


da Justiça do Trabalho é o plano especial de pagamento trabalhista (PEPT),
previsto no art. 151 da CPCG-JT.

Para a apreciação preliminar do pedido de instauração do PEPT, o


interessado deverá atender aos requisitos determinados no art. 151 já referido.

O primeiro requisito é o de especificar o valor total da dívida, instruindo


o pedido com a relação de processos em fase de execução definitiva, com
valores liquidados, organizados pela data de ajuizamento da ação; a(s) vara(s)
de origem; os nomes dos credores e respectivos procuradores; as garantias
existentes nesses processos, inclusive ordens de bloqueio e restrições; as
fases em que se encontram os processos; os valores e a natureza dos
respectivos débitos, devidamente atualizados, consolidando esses relatórios
por Tribunal Regional, quando for o caso (inciso I do art. 151 da CPCG-JT).

O segundo requisito é o de apresentar o plano de pagamento do débito


trabalhista consolidado, incluída a estimativa de juros e de correção monetária

22
até seu integral cumprimento, podendo o pagamento ser fixado em período e
montante variáveis, respeitado o prazo máximo de seis anos para a quitação
integral da dívida (inciso II do art. 151 da CPCG-JT).

O terceiro requisito é o de assumir, por declaração de vontade


expressa e inequívoca, o compromisso de cumprir regularmente as obrigações
trabalhistas dos contratos em curso, inclusive as decorrentes de verbas
rescisórias devidas aos empregados dispensados ou que se demitirem (inciso
III do art. 151 da CPCG-JT).

Como quarto requisito, o art. 151 estabelece que o devedor deverá


relacionar, documentalmente, as empresas integrantes do grupo econômico, as
quais assumem responsabilidade solidária pelo adimplemento das obrigações
relativas ao montante global obtido na reunião dos processos em fase de
execução definitiva perante o Tribunal Regional, independentemente de, em
qualquer fase dos processos, terem figurado no polo passivo (inciso IV do art.
151 da CPCG-JT).

É importante destacar tal requisito, pois trata-se de importante garantia


aos credores, uma vez que ao devedor é exigida uma relação de eventuais
outras empresas integrantes do seu grupo econômico e dos seus sócios, todos
cientes de que serão responsabilizados solidariamente pelo adimplemento das
obrigações relativas ao montante global, independentemente de, em qualquer
fase dos processos, terem figurado no polo passivo.

O quinto requisito é o de ofertar garantia patrimonial suficiente ao


atendimento das condições estabelecidas, a critério de cada Tribunal Regional,
podendo recair em carta de fiança bancária ou seguro-garantia, bem como em
bens próprios ou de terceiros – desde que devidamente autorizados pelos
proprietários legais, hipótese em que deverão ser apresentadas provas de
ausência de impedimento ou oneração dos bens, cujas alterações na situação
jurídica deverão ser comunicadas pelo interessado de imediato, sob pena de
cancelamento do plano e impossibilidade de novo requerimento de
parcelamento pelo prazo de 2 (dois) anos (inciso V do art. 151 da CPCG-JT).

A apresentação de balanço contábil, devidamente certificado por


contador, bem como declaração de imposto de renda, em que se comprove a
incapacidade financeira de arcar com a dívida consolidada, com efetivo
comprometimento da continuidade da atividade econômica é o sexto requisito
(inciso VI do art. 151 da CPCG-JT).

E, por último, deverá apresentar renúncia, condicionada à aprovação


do PEPT, de toda e qualquer impugnação, recurso, ação rescisória ou
incidente quanto aos processos envolvidos no plano (inciso VII do art. 151 da
CPCG-JT). Cumpridos os sete requisitos supra elencados, o pedido de

23
instauração do PEPT poderá ser apreciado de forma preliminar (art. 151 da
CPCG-JT).

Os requisitos acima elencados para a apreciação do PEPT, em


especial a renúncia a todos os recursos, impugnações ou incidentes nos
processos incluídos no plano, a oferta de garantia patrimonial suficiente ao
atendimento das condições estabelecidas e a apresentação de balanço
contábil e declaração de imposto de renda atestando a incapacidade da
empresa de arcar com a dívida sem comprometimento da continuidade da
atividade econômica externam uma situação econômica/financeira que justifica
a análise do PEPT e sua possível instauração. Em contrapartida, o devedor
obtém a suspensão dos atos constritivos nos processos.

Diferentemente do REEF, que é uma modalidade de execução


concursal forçada, o PEPT se assemelha mais a um modelo de recuperação
judicial trabalhista, com a diferença que aqui não há possibilidade de deságio
ou carência.

Importante: se antes o devedor podia eleger quais os processos contra


si em fase de execução definitiva que desejasse participar do programa de
parcelamento da dívida, hoje tal eleição não é mais prevista diante da
revogação do §1º do art. 151 da CPCG-JT.

Segundo o previsto no art. 151-A da Consolidação, o PEPT alcançará


todos os processos em fase de execução definitiva relacionados no ato de
apresentação do requerimento e deverá englobar a dívida total consolidada do
devedor naquela data.

Está permitido, consoante o § 1º do art. 151-A da CPCG-JT, mediante


requerimento do devedor, a inclusão de processos em fase de execução
definitiva que tenham sido iniciados posteriormente ao deferimento do PEPT,
desde que sejam atendidos os seguintes requisitos:

I – o plano original esteja com os pagamentos regulares;

II – a repactuação da dívida consolidada permita a quitação dos


processos incluídos no prazo do deferimento original do PEPT, salvo a
exceção prevista no § 2º;

III – haja, caso necessário, complemento da garantia, de modo a


abranger a dívida consolidada atualizada objeto de repactuação.

A exceção do § 2º do art. 151-A da CPCG-JT prevê que a


Corregedoria Regional poderá, mediante requerimento do devedor e ouvido o
juízo centralizador de execução, deferir acréscimo de prazo ao originariamente
fixado para o plano de pagamento, desde que respeitado o máximo de seis
anos estabelecido no art. 151, II, desta Consolidação, bem como haja

24
demonstração pelo devedor da sua incapacidade financeira de arcar com o
acréscimo de novos processos em fase de execução definitiva no prazo
originariamente assinalado.

O inadimplemento de quaisquer das condições estabelecidas implicará


a revogação do PEPT, a proibição de obter novo plano pelo prazo de dois anos
e a instauração de REEF em face do devedor (art. 151-A, § 3º, da CPCG-JT).

Se o pedido de instauração do PEPT tiver como objetivo o


parcelamento de débito referente a processos em fase de execução definitiva,
em curso no âmbito de um único Tribunal Regional, deverá ser apresentado ao
Corregedor Regional respectivo, em classe processual própria (art. 152 da
CPCG-JT).

A decisão do Corregedor Regional deverá ser referendada pelo Órgão


Especial, se houver, ou pelo Tribunal Pleno, sempre em decisão fundamentada
e observados os parâmetros estipulados nesta Seção (art. 152, § 1º, da CPCG-
JT).

Antes da decisão do Corregedor Regional, o juízo centralizador de


execução deverá exarar parecer fundamentado quanto ao atendimento dos
requisitos exigidos pelo art. 151 desta Consolidação (art. 152, § 2º, da CPCG-
JT).

A decisão do Corregedor Regional, assim como a do Órgão Especial,


se houver, ou do Tribunal Pleno, não estarão vinculadas ao referido parecer
(art. 152, § 3º, da CPCG-JT).

É possível a instauração de PEPT no âmbito de mais de um Tribunal


Regional. A regulamentação se encontra no art. 152-A da CPCG-JT. Neste
caso, o pedido de instauração do PEPT com o objetivo de parcelamento do
débito referente a processos em fase de execução definitiva deverá ser
apresentado ao Corregedor do Tribunal Regional com maior número de
processos em fase de execução definitiva deste devedor, cabendo lhe atender,
além do exigido no art. 151 desta Consolidação, os seguintes requisitos:

a) especificar os Tribunais Regionais onde se localizam os processos;

b) apresentar os documentos de que trata o art. 151, I, desta


Consolidação em relações individualizadas referentes a cada um dos Tribunais
Regionais onde se processem as execuções que se pretende parcelar por
meio do PEPT, assim como resumo global da dívida consolidada.

A centralização de execuções, no âmbito de mais de um Tribunal


Regional, dependerá de termo de cooperação judiciária firmado entre os
Tribunais Regionais que possuam processos em fase de execução definitiva do

25
devedor requerente, devendo observar as diretrizes constantes nesta
Consolidação (§ 1º do art. 152-A da CPCG-JT).

A decisão do Corregedor Regional que aderir à execução reunida em


mais de um Tribunal Regional deverá ser referendada pelo respectivo Órgão
Especial, se houver, ou pelo Tribunal Pleno (§ 2º do art. 152-A da CPCG-JT).

O insucesso do PEPT que tramitar no âmbito de mais de um Tribunal


Regional acarretará a extinção do termo de cooperação judiciária, devendo os
REEFs serem processados regionalmente, a cargo de cada juízo centralizador
de execução local, observando-se os processos em fase de execução definitiva
da competência de seu Tribunal Regional (§ 3º do art. 152-A da CPCG-JT).

O termo de cooperação judiciária firmado pelos Tribunais Regionais


deverá ser explícito em relação à periodicidade de pagamentos e aos critérios
de repasse aos juízos centralizadores de execução dos Tribunais Regionais
envolvidos (§ 4 do art. 152-A da CPCG-JT).

O acréscimo de processos de que trata o § 1º do art. 151-A desta


Consolidação, assim como a alteração de prazos do PEPT que resultar no
parcelamento de débito referente a processos em fase de execução definitiva
em curso no âmbito de mais de um Tribunal Regional, dependerá da
observância dos incisos I a III do dispositivo acima mencionado, além da
anuência dos demais Tribunais Regionais aderentes (§ 5º do art. 152-A da
CPCG-JT).

O termo de cooperação judiciária definirá o juízo centralizador de


execução do PEPT no âmbito de mais de um Tribunal Regional. A recusa do
procedimento em um dos Tribunais Regionais não impede que o pleito do
devedor seja processado nos Tribunais Regionais onde houver a aprovação
(§s 6º e 7º do art. 152-A da CPCG-JT).

Durante a análise do requerimento do devedor, o juízo centralizador de


execução poderá, a qualquer tempo, formular sugestões de alteração,
acréscimo ou supressão de cláusulas, exigir a apresentação de novos
documentos, determinar diligências, bem como adotar quaisquer outras
medidas que contribuam para a elaboração de proposta de plano de
pagamento com melhor exequibilidade (art. 152-B da CPCG-JT).

Instaurado o procedimento e concluída a proposta do devedor, o


Corregedor Regional deverá submeter sua decisão sobre a matéria ao Tribunal
Pleno ou Órgão Especial, a quem competirá:

I – avaliar o atendimento dos requisitos exigidos para a instauração do PEPT;

II – fixar o prazo de duração, observado o disposto no inciso II do art. 151 e


no § 2º do art. 151 – A desta Consolidação, e o valor a ser pago

26
periodicamente, considerando, nos dois casos, o montante da dívida total
consolidada, bem como os correspondentes créditos previdenciários e fiscais;

III – prever a distribuição dos valores arrecadados, observado o disposto nos


arts. 148-A, V, e 150-A, caput, e parágrafo único, da presente Consolidação;

IV – acolher o processo judicial que servirá como piloto, indicado pelo juízo
centralizador de execução, para a prática dos atos jurisdicionais posteriores à
aprovação do PEPT, no qual serão concentrados todos os atos referentes ao
cumprimento do plano;

V – referendar, ou não, após votação do órgão colegiado competente, a


decisão do Corregedor Regional acerca do procedimento de instauração do
PEPT. (art. 152-C e seus parágrafos da CPCG-JT).

Sempre que, por circunstâncias imprevistas e não imputáveis ao


devedor, o plano inicialmente aprovado se revelar inexequível, o devedor
poderá apresentar novo plano, atendidos os requisitos do art. 151 da
Consolidação, o qual deverá vir acompanhado de provas das circunstâncias
supervenientes, e será objeto de nova decisão pelo órgão colegiado
competente, igualmente segundo critérios de conveniência e oportunidade,
observado o disposto no art. 152 da Consolidação. Caso o novo plano seja
rejeitado ou se revele inviável, seguir-se-á a instauração de REEF em face do
devedor (art. 152-D e seu parágrafo da CPCG-JT).

Ficam suspensas as medidas constritivas nos processos em fase de


execução definitiva relacionados no requerimento do PEPT a partir da sua
aprovação pelo Tribunal Pleno ou Órgão Especial. A fluência do prazo
prescricional intercorrente dos processos em fase de execução definitiva
incluídos no PEPT suspende-se durante sua vigência (art. 152-E e seu
parágrafo da CPCG-JT).

Prevê o art.152-F que os recursos informados no plano apresentado


pelo devedor e destinados para o PEPT, ou em caso de REEF, poderão
observar as seguintes disposições, se outras não forem estipuladas pelos
Tribunais Regionais:

I – a limitação de 50% do montante mensal repassado pelo devedor para fins


de conciliação; (Incluído pelo Provimento n. 1/CGJT, de 19 de agosto de
2022)

II – caso seja aplicado deságio de no mínimo 30% do valor da dívida original


acrescida de juros e correção monetária, para efeitos de conciliação, o
respectivo processo será elegível para pagamento dentro da ordem de
preferência estipulada pelo Tribunal Regional;

III – os valores destinados à conciliação deverão ser ofertados de forma


isonômica para os credores;

IV – os valores destinados à conciliação e não utilizados no mês serão


destinados, no mês subsequente, ao pagamento dos demais créditos do

27
PEPT ou REEF não elegíveis na ordem de preferência ou que não sejam
objeto de acordo;

Parágrafo único. Observado o regramento deste artigo, deverá ser obedecida


a ordem de pagamento, iniciando-se pelo processo mais antigo.

O PEPT será revisado pelo juízo centralizador de execução a cada 12


(doze) meses, se outro período inferior não houver sido fixado por ocasião do
deferimento do plano. O devedor e as empresas integrantes de seu grupo
econômico ficam impedidos de requerer novo PEPT pelo prazo de 24 (vinte e
quatro) meses após a extinção do PEPT anterior, mesmo que este tenha sido
cumprido, parcial ou integralmente, ou convolado em REEF, ressalvados casos
excepcionais, a critério do órgão colegiado competente. Consoante arts. 152-G
e 152-H da CPCG-JT.

A Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da


Justiça do Trabalho autoriza que os Tribunais Regionais
regulamentem de forma mais minuciosa o REEF e o PEPT. Aqui
trazemos os normativos de alguns deles, bastando clicar sobre
eles se quiser conhecê-los melhor.

TRT da 1ª Região

TRT da 4ª Região

TRT da 5ª Região

3.5. Do Regime Centralizado de Execução – RCE

O RCE foi disciplinado pela Lei nº 14.193/2021 e destina-se única e


exclusivamente às entidades de prática desportiva definidas nos incisos I e II
do § 1º do art. 1º e que tenham dado origem à constituição de Sociedade
Anônima de Futebol na forma do art. 2º, II, da referida lei.

A Sociedade Anônima do Futebol que tenha interesse na elaboração e


execução de plano para pagamento do passivo trabalhista observará a
disciplina de procedimento de reunião de execuções prevista para os demais
devedores (PEPT), sendo vedada a utilização das regras previstas nesta
Subseção, independentemente de os clubes ou pessoas jurídicas originárias
serem beneficiados, ou não, pelo regime de RCE.

28
Quando se tratar de entidade de prática desportiva constituída nos
termos do art. 2º, II, da Lei nº 14.193/2021, para efeitos de PRE, deverá ser
apresentado o fluxo de caixa e a sua previsão por 3 anos, bem como indicadas
as receitas ordinárias e extraordinárias, incluindo todas as formas de ganho de
capital.

O plano de concurso de credores do clube ou pessoa jurídica original,


mencionados no caput deste artigo e que tenham optado pelo RCE do art. 13,
I, da Lei nº 14.193/2021, deverá apresentar, como condição para aprovação,
pagamentos mensais, nos termos dos arts. 10, I, e 15, § 2o, da citada lei, sem
prejuízo de outras rendas próprias.

Nos termos da Lei nº 14.193/2021, não haverá responsabilidade


jurídica da SAF em relação às obrigações do clube ou pessoa jurídica original
que a tiver constituído, sejam elas anteriores ou posteriores à data da sua
constituição, salvo quanto às atividades específicas do seu objeto social,
respondendo pelas obrigações a ela transferidas na forma do § 2º do art. 2º da
aludida lei, hipótese em que os pagamentos observarão o disposto nos arts. 10
e 24 da referida lei. Previsões constantes no art. 153 da CPCG-JT e seus
quatro parágrafos.

O RCE é incompatível com o regime de Recuperação Judicial ou


Extrajudicial, sendo que, constatado requerimento nesse sentido, anterior ou
posterior ao RCE trabalhista, este último não será deferido ou será extinto
perante o respectivo Tribunal Regional (art. 153-A da CPCG-JT).

4. Disposições gerais

4.1. Conceito e objetivo da recuperação judicial

O art. 47 da LRF nos apresenta o conceito e o propósito da


recuperação judicial, prevendo que ela tem o intento de ser um mecanismo de,
como o próprio nome diz, recuperação de empresas viáveis, mas em crise
econômico-financeira, voltado a superar esse momento de dificuldade, de
maneira a preservar a atividade empresarial e, consequentemente, os
empregos dos trabalhadores, a circulação de bens e serviços, a geração de
riquezas, o recolhimento de tributos e os demais benefícios econômicos e
sociais que decorrem da atividade empresarial.

29
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da
situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.

Se dissociarmos os elementos mais relevantes desse dispositivo legal,


vê-se que o legislador pretendeu, com uma série de limitações ou travas aos
comportamentos dos credores, a serem por nós examinadas nos próximos
tópicos, proteger de modo temporário a empresa em crise econômico-
financeira e, por consequência, seus trabalhadores, credores e, em última ratio,
a atividade econômica como um todo.

Relembre-se: a crise econômico-financeira se caracteriza quando o


devedor temporariamente não tem recursos disponíveis para satisfazer
obrigações vencidas ou a vencer, mesmo que seus ativos permanentes sejam
suficientes para a satisfação de todo o passivo.

Estando nesta situação de dificuldades e ciente dos macrointeresses


sociais de proteção da sua atividade econômica, o devedor pode então buscar
o auxílio do Estado-Juiz para, primeiro, decretar a moratória de boa parte das
suas dívidas e, segundo, criar um ambiente institucional propício para a
negociação com os credores por ela atingidos, com o objetivo da melhor
solução comum a todos, especialmente aos trabalhadores envolvidos.

4.2. Beneficiários da recuperação judicial

A recuperação judicial não é uma prerrogativa aberta a todas as


pessoas naturais e jurídicas. Ao contrário, de acordo com o art. 1º da LRF, as
disposições recuperacionais aplicam-se apenas àquelas que detenham a
chamada natureza empresarial, isto é, exerçam, conforme o art. 966 do Código
Civil, atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens
ou de serviços e estejam devidamente registrados nas Juntas Comerciais.

Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e


a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor.

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão


intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso
de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.

30
São eles os empresários individuais e as sociedades empresárias, nas
suas diversas formas jurídicas, como, por exemplo, o microempreendedor
individual, o empresário individual, a sociedade limitada unipessoal, a
sociedade por quotas de responsabilidade limitada e a sociedade por ações.

As antigas empresas individuais de responsabilidade limitada


(EIRELI) foram extintas e convertidas automaticamente em
sociedades limitadas unipessoais (SLU) pelo art. 41 da Lei nº
14.195/21.

A saber:

Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada


existentes na data da entrada em vigor desta Lei serão
transformadas em sociedades limitadas unipessoais
independentemente de qualquer alteração em seu ato
constitutivo.

Além da natureza empresarial e do registro nas Juntas Comerciais, o


art. 48 da LRF estabelece três outros requisitos que precisam ser
simultaneamente atendidos para que os empresários individuais e as
sociedades empresárias possam ingressar em recuperação judicial. São eles o
exercício regular da atividade por, pelo menos, dois anos, a ausência de
recuperação judicial nos últimos cinco anos e a ausência de condenação por
crime falimentar, inclusive na condição de sócio.

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do


pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:

I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença


transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação


judicial;

III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação


judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio


controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge


sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente,
consoante previsto no § 1º do art. 48 da LRF.

31
Somam-se a todos os empresários e sociedades empresárias citados
acima os produtores rurais com registro nas Juntas Comerciais. Dada a
incipiência da atividade rural como uma ocupação empresária, o art. 971 do
Código Civil facultou ao ruralista que atua na agropecuária ou no extrativismo
de maneira profissional e habitual a possibilidade de optar pelo tratamento
como empresário. Se ele quiser se inscrever no registro mercantil e atender os
demais requisitos do art. 48 da LRF, poderá requerer recuperação judicial.
Caso contrário, não.

No mesmo sentido e com a mesma possibilidade de opção pelo regime


comercial estão os clubes de futebol constituídos sob a forma de associações.
A recente Lei nº 14.193/21, que criou as sociedades anônimas do futebol,
incluiu um parágrafo único no art. 971 do Código Civil fixando que, se as atuais
associações futebolísticas, mesmo não alterando a sua natureza jurídica para
sociedades anônimas, quiserem escolher pelo regime empresarial e ter
acesso, por exemplo, à recuperação judicial, basta fazer o registro nas Juntas
Comerciais.

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão,
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus
parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para
todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo à associação que


desenvolva atividade futebolística em caráter habitual e profissional, caso em
que, com a inscrição, será considerada empresária, para todos os efeitos.

4.3. Pessoas jurídicas excluídas da recuperação judicial

Por motivos de interesse público relacionado às atividades


desenvolvidas por certas sociedades, o art. 2º da LRF e alguns dispositivos da
legislação esparsa preveem que algumas pessoas jurídicas, ainda que sejam
caracterizadas como empresárias, não possuem acesso à recuperação judicial.

Art. 2º Esta Lei não se aplica a:

I – empresa pública e sociedade de economia mista;

II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio,


entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de
assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e
outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

32
Assim é que no rol das pessoas excluídas da recuperação judicial
temos primeiro as empresas públicas e sociedades de economia mista,
valendo ressaltar que está sob julgamento no STF o RE nº 1.249.945/MG, com
repercussão geral reconhecida (Tema de Repercussão Geral nº 1101), que
trata da possibilidade excepcional de aplicação do regime de falência e
recuperação judicial às empresas estatais que exploram atividade econômica
de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, na
maneira do art. 173, § 1º, inciso II, da Constituição Federal.

Além delas, também estão excluídas as instituições financeiras, as


cooperativas de crédito, as operadoras de consórcios, as entidades de
previdência complementar, as sociedades operadoras de planos de assistência
à saúde, as sociedades seguradoras e as sociedades de capitalização.

A Lei nº 14.112/20, conhecida como lei da reforma


recuperacional e falimentar, incluiu o §13 ao art. 6º da LRF,
estendendo a recuperação judicial às sociedades operadoras de
planos de assistência à saúde quando forem cooperativas
médicas. Esse dispositivo foi vetado pelo Presidente da
República, mas o veto restou derrubado pelo Congresso
Nacional.

A saber:

§ 13. Não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial os


contratos e obrigações decorrentes dos atos cooperativos
praticados pelas sociedades cooperativas com seus cooperados,
na forma do art. 79 da Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de
1971, consequentemente, não se aplicando a vedação contida
no inciso II do art. 2º quando a sociedade operadora de plano
de assistência à saúde for cooperativa médica. (NR)

Nada obstante, a tramitação confusa da sua redação final fez


com que ela não fosse aprovada nas duas casas legislativas,
padecendo de problemas de inconstitucionalidade formal.

Já na legislação esparsa, completam o rol as cooperativas em geral, de


acordo com o art. 980 do Código Civil, os produtores rurais sem registro na
Junta Comercial, conforme art. 971 do Código Civil e as concessionárias de
energia elétrica, nos termos do art. 18 da Lei nº 12.767/12.

Além delas, certas pessoas naturais e jurídicas, embora sejam agentes


econômicos, não são consideradas empresárias por força do art. 966,

33
parágrafo único, do Código Civil (já acima transcrito, inclusive), e também não
podem se valer das regras de proteção da recuperação judicial. São os
chamados profissionais intelectuais, tenham ou não empregados, e estejam ou
não organizados em sociedades, como é o caso dos profissionais liberais,
artistas, escritores e técnicos com alguma formação profissional.

Art. 966. (...) Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa.

Conforme pacificado na jurisprudência do STJ (REsp nº


1.227.240/SP, 4ª Turma, julgado em 18/06/2015), as
sociedades de advogados sempre serão consideradas simples e
não podem se beneficiar da recuperação judicial.

4.4. Representação processual do devedor

Ao deferir o processamento da recuperação, o art. 52, inciso I, da LRF


estabelece que o Juiz da Vara Empresarial nomeie um administrador judicial,
que pode ser pessoa natural ou jurídica, e cujos encargos e atribuições estão
no art. 22, incisos I e II, da LRF.

Nada obstante, temos que ter em mente que essa nomeação não
altera a representação do devedor em Juízo, o qual normalmente segue na
condução da atividade empresarial e continua com legitimidade para defender
seus interesses. Ou seja, ao contrário do que ocorre na quebra, o
administrador da recuperação não tem a atribuição de assumir a representação
judicial do devedor.

Todavia, existem as hipóteses de afastamento do devedor da gestão


do negócio, previstas no art. 64 da LRF. Exemplificativamente, isso pode
ocorrer quando o empresário individual ou o sócio, acionista ou administrador
de sociedade empresária tiver praticado crimes falimentares, agido com dolo,
simulação ou fraude contra os seus credores, descapitalizado
injustificadamente a empresa, ou efetuar gastos pessoais excessivos em
relação a sua situação patrimonial.

Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus


administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob

34
fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se
qualquer deles:

I – houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por


crime cometido em recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime
contra o patrimônio, a economia popular ou a ordem econômica previstos na
legislação vigente;

II – houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei;

III – houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus
credores;

IV – houver praticado qualquer das seguintes condutas:

a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua


situação patrimonial;

b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao


capital ou gênero do negócio, ao movimento das operações e a outras
circunstâncias análogas;

c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações


prejudiciais ao seu funcionamento regular;

d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III


do caput do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo de
decisão judicial;

V – negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou


pelos demais membros do Comitê;

VI – tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial

Parágrafo único. Verificada qualquer das hipóteses do caput deste artigo, o


juiz destituirá o administrador, que será substituído na forma prevista nos atos
constitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial.

Nessa situação excepcional, o devedor será afastado e substituído não


pelo administrador judicial antes nomeado pelo Juiz da Vara Empresarial, mas
por um gestor judicial eleito pela assembleia geral de credores, o qual, este
sim, na forma do caput do art. 65 da LRF, assumirá a administração das
atividades empresariais e, por consequência, a representação do devedor em
Juízo.

Art. 65. Quando do afastamento do devedor, nas hipóteses previstas no art.


64 desta Lei, o juiz convocará a assembleia-geral de credores para deliberar
sobre o nome do gestor judicial que assumirá a administração das atividades
do devedor, aplicando-se-lhe, no que couber, todas as normas sobre deveres,
impedimentos e remuneração do administrador judicial.

35
5. Créditos sujeitos à recuperação judicial

O caput do art. 49 da LRF consagra a regra geral a de que são apenas


os créditos existentes ou já constituídos por ocasião da distribuição do pedido
de recuperação judicial que a ela se submetem, sejam eles vencidos ou
vincendos. E salientemos que existência e constituição do crédito são
conceitos de direito material desvinculados de marcos processuais como o
ajuizamento da reclamatória trabalhista, o trânsito em julgado da sentença ou a
sua liquidação.

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na


data do pedido, ainda que não vencidos.

Um crédito existe e é constituído a partir da data de ocorrência do seu


fato gerador, não obstante só venha a ser reconhecido por sentença
posteriormente. Salvo uma ou outra exceção, a decisão judicial condenatória
somente reconhece o crédito, mas não o constitui.

Assim é que créditos decorrentes de prestação de trabalho anterior ao


pedido de recuperação judicial, mas cuja reclamatória trabalhista tenha sido
ajuizada depois dele, ou mesmo cuja sentença tenha transitado em julgado ou
sido liquidada após, submetem-se normalmente aos efeitos da recuperação. E
aqui também se incluem alguns créditos acessórios, como os honorários
advocatícios de sucumbência e os honorários, emolumentos, etc. dos
auxiliares do Juízo.

A natureza alimentar dos honorários de advogado foi


consagrada pela Súmula Vinculante nº 47 do STF e,
posteriormente, pelo art. 85, §14, do CPC. A 3ª Turma do STJ,
no REsp nº 1.722.673/SP, julgado em 13/03/2018, já estendeu
essa mesma natureza aos honorários periciais estipulados em
ações judiciais.

Esta, aliás, é a jurisprudência vinculante do STJ fixada no REsp nº


1.843.332/RS, julgado em 09/12/2020 (Tema nº 1.051 da tabela de recursos
repetitivos do STJ), o qual se aplica não somente para os créditos trabalhistas,
honorários advocatícios, créditos dos auxiliares do Juízo, etc., mas também
para todos os demais créditos, com origem judicial ou não, que se submetem à
recuperação judicial.

Tema Repetitivo nº 1051 do STJ. Para o fim de submissão aos efeitos da


recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é determinada
pela data em que ocorreu o seu fato gerador.

36
Dito isso, a conclusão é de que o trabalhador que, ao tempo do pedido
de recuperação judicial do devedor, não possui créditos líquidos, deve ter em
mente que pode prosseguir normalmente com sua reclamatória trabalhista,
pois, como veremos logo adiante, ela não é atingida pela ordem de suspensão
de ações e execuções dada pelo Juízo da Vara Empresarial quando do
processamento da recuperação judicial, no modo do art. 52, inciso III, da LRF.

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o


juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...)

III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o


devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos
no Juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1º, 2º e
7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º
e 4º do art. 49 desta Lei;

A Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso I, da Seção


Especializada em Execução do TRT da 9ª Região e a Tese
Jurídica nº 02 do TRT da 12ª Região vão ao encontro desse
entendimento, fixando que a execução contra a massa falida ou
empresa em processo de recuperação judicial é de competência
da Justiça do Trabalho apenas até a fixação dos valores como
incontroversos e a expedição da certidão de habilitação do
crédito.

Outrossim, esse trabalhador pode requerer ao Juiz do Trabalho que


solicite ao Juízo da Vara Empresarial a reserva dos valores que forem
estimados como devidos na reclamatória trabalhista até a liquidação do crédito,
de acordo com o art. 6º, §3º, da LRF, com as finalidades de inclusão na lista ou
no quadro geral de credores e de garantia de voto na assembleia geral de
credores.

Art. 6º. (...)

§ 1º Terá prosseguimento no Juízo no qual estiver se processando a ação


que demandar quantia ilíquida.

§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação,


exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas
as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o
art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a
apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores
pelo valor determinado em sentença.

§ 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo


poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na

37
recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito,
será o crédito incluído na classe própria.

Neste ponto, a atual LRF modificou disposição da antiga legislação


falimentar, qual seja, o art. 24, §3º do Decreto nº 7.661/45 (revogada,
inclusive), que previa que era o próprio credor trabalhista que devia
encaminhar seu pedido de reserva diretamente ao Juízo da Vara Empresarial.
Na regra atual, tal determinação de reserva deve ser feita pelo Magistrado do
Trabalho, a requerimento do interessado, mediante a expedição de ofício.
Todavia, caso as partes não estejam representadas por advogados o
Magistrado deverá expedir o ofício por sua iniciativa consoante art.878 da CLT.

Por outro lado, créditos trabalhistas e decorrentes de acidente de


trabalho constituídos posteriormente ao ajuizamento da recuperação são
considerados extraconcursais e, além de não se submeterem automaticamente
às regras de eventual plano de recuperação judicial, seguem sendo
executados na Justiça do Trabalho, nos autos da reclamatória trabalhista, salvo
ajuste diverso entre o reclamante e a empresa recuperanda.

Atenção especial às reclamatórias trabalhistas ajuizadas depois


da distribuição do pedido de recuperação judicial, pois podem
conter créditos trabalhistas híbridos, ou seja, créditos que se
sujeitam à recuperação e créditos que não se sujeitam a ela,
conforme a sua data de constituição.

Em acréscimo, ainda gozam de privilégio especial em eventual


falência, na medida em que o art. 67 da LRF os considera extraconcursais
também neste procedimento, o que significa que serão pagos antes dos
credores concursais relacionados na ordem hierárquica do art. 83 da LRF, a
ser examinado mais para a frente.

Art. 67. Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor


durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com
fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados
extraconcursais, em caso de decretação de falência, respeitada, no que
couber, a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

Entretanto, existem problemas extras para os credores


extraconcursais. A manutenção da competência trabalhista nessas situações
acarreta prós e contras para a parte reclamante, que precisam ser sopesados
quando da atuação concreta e que podem ou não levar à conveniência de
ajuste individual quanto à sua inclusão retardatária no plano de recuperação
judicial.

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Por um lado, não há dúvida alguma de que o prosseguimento da
execução na Justiça do Trabalho entrega ao reclamante titular de crédito
extraconcursal um arsenal de ferramentas jurídicas voltadas para a sua
satisfação mais célere, que vão desde a simples penhora online até a
desconsideração da personalidade jurídica da parte em recuperação judicial.

Por outro, em face de esta atuação na reclamatória trabalhista por


vezes atingir bens de capital afetados pela recuperação judicial, não é
incomum haver conflitos de competência com o Juízo da Vara Empresarial,
provocando a paralisação das execuções singulares.

Verdade seja dita, tão frequentes eram esses conflitos de competência


que a lei da reforma recuperacional e falimentar, acompanhando jurisprudência
firme do STJ (AgRg no CC nº 119.203/SP, julgado em 26/03/2014), incluiu os
§§7º-B e 11 no art. 6º da LRF, estabelecendo que o Juiz da Vara Empresarial
pode obstar certas constrições feitas pela Justiça do Trabalho e, em um juízo
de menor onerosidade ao devedor, determinar a sua substituição, quando
recaírem sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade
empresarial.

Art. 6º. (...)

§7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às
execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do Juízo da recuperação
judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam
sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até
o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante
a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805
do referido Código.

§11. O disposto no § 7º-B deste artigo aplica-se, no que couber, às


execuções fiscais e às execuções de ofício que se enquadrem
respectivamente nos incisos VII e VIII do caput do art. 114 da Constituição
Federal, vedados a expedição de certidão de crédito e o arquivamento das
execuções para efeito de habilitação na recuperação judicial ou na falência.

Bens de capital, também conhecidos como bens de produção, são


ativos que as empresas possuem com o objetivo de fabricar bens de consumo
ou executar serviços para seus clientes. Eles são divididos em matérias-primas
e nos chamados bens intermediários, estando nesta categoria unidades fabris,
máquinas, motores e ferramentas de modo geral, caminhões, etc.

Não é muito fácil se estabelecer aprioristicamente quais são os bens


de capital essenciais à manutenção da atividade. De maneira conceitual, serão
incluídos nesta categoria os que, se removidos da empresa, interrompem a
produção ou inviabilizam o empreendimento. Contudo, como a casuística

39
guarda muita subjetividade sobre tal conceito e como a decisão final sobre a
essencialidade de um bem de capital da recuperanda cabe ao Juiz da Vara
Empresarial, as decisões são variadas e voltadas ao caso concreto.

Para fechar, vale dizer que, embora originalmente os §§7º-B e 11 do


art. 6º da LRF tenham sido endereçados às execuções de multas impostas
pela fiscalização do trabalho e de contribuição previdenciária decorrente de
condenações trabalhistas, com muita tranquilidade hermenêutica é possível
dizer que se aplicam analogicamente à execução de créditos extraconcursais.

6. Créditos excluídos da recuperação judicial

Foi examinado no item anterior um primeiro grupo de credores que não


se submetem à recuperação judicial: aqueles cujos créditos,
independentemente da sua natureza, foram constituídos depois do dia em que
o devedor ingressou em Juízo com o pedido de recuperação judicial. Neste
momento, a lista será complementada com a identificação de outras situações
de créditos extraconcursais, em especial as mais relevantes para os processos
trabalhistas.

Como a sujeição de um crédito à recuperação judicial depende


da data da sua constituição, é necessário saber qual é o
momento de constituição dos honorários advocatícios de
sucumbência e periciais. Quanto aos advocatícios, o art. 85 do
CPC deixa claro que eles se constituem no momento da sua
fixação, ou seja, na sentença. Pensamos que o mesmo caminho
seguem os honorários periciais.

6.1. Crédito fiscal tributário


6.1.1. Imposto de renda incidente sobre créditos do trabalhador

Por força do art. 187 do Código Tributário Nacional (CTN), sabemos


que o crédito fiscal em geral não se sujeita à habilitação em recuperação
judicial. Essa mesma norma, embora com diferente dicção, vem repetida no
art. 5º da Lei nº 6.830/80 e no art. 6º, §7º-B da LRF, que estabelecem que a

40
suspensão das ações e execuções decorrentes da decisão que defere o
processamento da recuperação judicial não atinge as execuções fiscais.

Art. 5º. A competência para processar e julgar a execução da Dívida Ativa da


Fazenda Pública exclui a de qualquer outro Juízo, inclusive o da falência, da
concordata, da liquidação, da insolvência ou do inventário.

A dúvida neste tópico é saber se o imposto de renda incidente sobre os


créditos tributáveis do trabalhador reconhecidos em reclamatória trabalhista
pode ou não ser enquadrado na exceção acima e, por conseguinte, ser
excluído da recuperação judicial. Além disso, em sendo a resposta positiva,
saber então se a sua execução prosseguiria na Justiça do Trabalho, nos
próprios autos da ação, ou se seria dirigida para a Justiça Federal, mediante
prévia expedição de certidão de crédito, lançamento de dívida ativa e ingresso
de ação própria pela Fazenda Pública.

A resposta deve ser iniciada pelo final, pois, embora até pareça
engenhoso entender pelo prosseguimento da execução nos próprios autos da
reclamatória trabalhista, por conta da natureza fiscal tributária do imposto de
renda, esta talvez seja a solução hermeneuticamente menos adequada.

O ponto é que há uma óbvia relação de interdependência e


acessoriedade entre o pagamento do crédito trabalhista e o imposto de renda,
pelo que, a despeito de o tributo já estar previamente calculado na reclamatória
trabalhista, seu fato gerador efetivamente ocorrerá quando houver a aquisição
de disponibilidade econômica de renda, nos termos do art. 43 do CTN.

Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de


qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica:

I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da


combinação de ambos;

Em outras palavras, um ponto é a apuração dos valores devidos a


título de imposto de renda sobre os rendimentos pagos em cumprimento de
decisão judicial e recebidos acumuladamente, que deve observar o regime de
caixa híbrido fixado no art. 12-A da Lei nº 7.713/88, mediante a utilização de
tabela progressiva, conforme nos explica a Súmula nº 368, inciso VI, do TST.
Outro ponto é a ocorrência do seu fato gerador, que só se configura na medida
em que os rendimentos forem percebidos.

Súmula nº 368 do TST. (...) VI – O imposto de renda decorrente de crédito do


empregado recebido acumuladamente deve ser calculado sobre o montante
dos rendimentos pagos, mediante a utilização de tabela progressiva
resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram os
rendimentos pelos valores constantes da tabela progressiva mensal
correspondente ao mês do recebimento ou crédito, nos termos do art. 12-A
da Lei nº 7.713, de 22/12/1988, com a redação conferida pela Lei nº

41
13.149/2015, observado o procedimento previsto nas Instruções Normativas
da Receita Federal do Brasil.

Sujeitar o crédito trabalhista principal à recuperação judicial e


prosseguir na Justiça do Trabalho com a execução do imposto de renda
acessório criaria, além de problemas quanto à inexigibilidade desta parcela
antes do recebimento daquela, uma verdadeira incoerência sistêmica, a qual
aparece também e pelos mesmos motivos na segunda opção de resposta ao
problema, a de expedição de certidão de crédito, lançamento de dívida ativa e
ingresso de ação própria pela Fazenda Pública, na Justiça Federal.

Por isso, pondera-se que a opção mais adequada para o imposto de


renda incidente sobre os créditos tributáveis do trabalhador reconhecidos em
Juízo é a sua submissão ao Juízo da recuperação judicial, acompanhado do
crédito principal, para que também se atenda o art. 46 da Lei nº 8.541/92, que
positiva que o imposto de renda incidente sobre rendimentos pagos em
cumprimento de decisão judicial será retido na fonte pela pessoa física ou
jurídica obrigada ao pagamento, no momento em que o rendimento se torne
disponível para o beneficiário.

Art. 46. O imposto sobre a renda incidente sobre os rendimentos pagos em


cumprimento de decisão judicial será retido na fonte pela pessoa física ou
jurídica obrigada ao pagamento, no momento em que, por qualquer forma, o
rendimento se torne disponível para o beneficiário.

Disso resulta, que o melhor procedimento quando da expedição de


certidão de crédito ao trabalhador é nela informar tanto o crédito bruto, quanto
o crédito líquido que forem apurados em liquidação de sentença, com ordem
de retenção e recolhimento do imposto de renda pela recuperanda quando
efetivamente ocorrerem os pagamentos perante o Juízo da Vara Empresarial.
O tema será retomado adiante.

6.1.2. Contribuição previdenciária decorrente de condenação


trabalhista

A despeito de o art. 51 da Lei nº 8.212/91 positivar de longa data que


as contribuições previdenciárias são equiparadas ao crédito fiscal tributário e
que, consequentemente, não se sujeitam à recuperação judicial, e da
jurisprudência do STJ favorável ao prosseguimento das execuções do crédito
previdenciário na Justiça do Trabalho (CC nº 107.213/SP, julgado em
30/09/2009), a verdade é que não é tão difícil encontrar atos processuais ou
mesmo jurisprudência rejeitando o prosseguimento da execução na
Especializada. Isto ocorre, em especial, pelos potenciais, ou melhor, inevitáveis
conflitos de competência com o Juízo da Vara Empresarial na fase de

42
constrição e alienação de bens (AgRg no CC nº 122.412/RJ, julgado em
16/10/2013).

Art. 51. O crédito relativo a contribuições, cotas e respectivos adicionais ou


acréscimos de qualquer natureza arrecadados pelos órgãos competentes,
bem como a atualização monetária e os juros de mora, estão sujeitos, nos
processos de falência, concordata ou concurso de credores, às disposições
atinentes aos créditos da União, aos quais são equiparados.

Assim, expedia-se a certidão de crédito previdenciário e o


arquivamento, mesmo que provisório, da reclamatória trabalhista. Entretanto, a
recente lei da reforma recuperacional e falimentar passou a proibir
expressamente este procedimento.

A Lei nº 14.112/20 incluiu o §11 no art. 6º da LRF, que estipula que a


execução de ofício da contribuição previdenciária decorrente de condenação
trabalhista não se suspende pelo deferimento da recuperação judicial e que
deve prosseguir nos próprios autos da reclamatória trabalhista, vedados a
expedição de certidão de crédito e o arquivamento das execuções para efeito
de habilitação na recuperação judicial.

Art. 6º. (...)

§11. O disposto no § 7º-B deste artigo aplica-se, no que couber, às


execuções fiscais e às execuções de ofício que se enquadrem
respectivamente nos incisos VII e VIII do caput do art. 114 da Constituição
Federal, vedados a expedição de certidão de crédito e o arquivamento das
execuções para efeito de habilitação na recuperação judicial ou na falência.

Com isso, caem em definitivo entendimentos, como o da


Orientação Jurisprudencial nº 50 da Seção Especializada em
Execução do TRT da 4ª Região, que concluíam pela inviabilidade
do prosseguimento do processo de execução trabalhista para
cobrança da parcela acessória da contribuição previdenciária de
empresa sujeita a processo falimentar ou recuperação judicial.

Além disso, como foi visto no tópico dos credores sujeitos à


recuperação, tal dispositivo faz remissão ao art. 6º, §7º-B, da LRF, fixando que,
em que pese a Justiça do Trabalho prosseguir com a competência material
para a execução da contribuição previdenciária decorrente de condenação
trabalhista, o Juiz da Vara Empresarial pode obstar certas constrições feitas
pela Especializada e, em um juízo de menor onerosidade ao devedor,
determinar a sua substituição, quando recaírem sobre bens de capital
essenciais à manutenção da atividade empresarial.

43
Art. 6º. (...)

§7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às
execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do Juízo da recuperação
judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam
sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até
o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante
a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805
do referido Código.

Logo, não há alternativa que não seja o prosseguimento da execução


desses créditos na Justiça do Trabalho, com a sugestão de que, à luz do art.
6º, §7º-B, da LRF, sejam buscadas soluções cooperativas e em diálogo com o
Juiz da Vara Empresarial por meio dos acordos de cooperação previstos no art.
69 do Código de Processo Civil.

O novo art. 68 da LRF garantiu melhores prazos para


parcelamento dos créditos fiscais tributários para empresas em
recuperação judicial.

44
6.2. Crédito fiscal não tributário

6.2.1. Custas processuais

Crédito de natureza fiscal não é sinônimo de crédito com origem


tributária. Esses conceitos guardam entre si uma relação de continente para
conteúdo, posto que, ademais dos tributos, outras prestações devidas à
Fazenda Pública e descoladas do conceito previsto no art. 3º do CTN também
são entendidas como crédito fiscal.

O art. 39, §2º, da Lei nº 4.320/64 traz alguns exemplos de crédito fiscal
não tributário, elencando como tais empréstimos compulsórios, preços de
serviços públicos, indenizações, foros, laudêmios, alugueis, taxas de ocupação
e, no que mais nos interessa aqui, as custas processuais.

Art. 39. (...)

§2º. Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa natureza,


proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e
multas, e Dívida Ativa não Tributária são os demais créditos da Fazenda
Pública, tais como os provenientes de empréstimos compulsórios,
contribuições estabelecidas em lei, multa de qualquer origem ou natureza,
exceto as tributárias, foros, laudêmios, alugueis ou taxas de ocupação, custas
processuais, preços de serviços prestados por estabelecimentos públicos,
indenizações, reposições, restituições, alcances dos responsáveis
definitivamente julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações
em moeda estrangeira, de sub-rogação de hipoteca, fiança, aval ou outra
garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais.

Custas processuais, por conseguinte, são espécie de crédito fiscal não


tributário e devem ser analisadas de forma apartada porque a solução a ser
dada a elas na recuperação judicial é diferente daquela referente ao imposto
de renda incidente sobre os créditos tributáveis do trabalhador.

E assim se diz porque, para as custas processuais de reclamatórias


trabalhistas, avalia-se que o melhor caminho é o da exegese direta do art. 5º
da Lei nº 6.830/80 e do art. 6º, §7º-B da LRF, que estabelecem que todo o
crédito fiscal, independentemente da sua origem tributária ou não, não se
sujeita à recuperação judicial.

Essa tese preliminar conduz a duas possibilidades.

A primeira é a do prosseguimento da execução na Justiça do Trabalho,


nos próprios autos da reclamatória trabalhista e a segunda é a da expedição de
certidão de crédito à Fazenda Pública, para lançamento de dívida ativa e
ingresso de ação própria na Justiça Federal.

45
Embora a adoção de imediato da segunda conclusão possa ser
pensada a princípio, não há muito sentido prático e jurídico por três razões.

Razão 1: a Justiça do Trabalho tem competência material para


executar as custas processuais decorrentes das ações que nela tramitam nos
próprios autos destas, não exigindo o art. 6º, §7º-B, ou qualquer outro da LRF,
para que se opere a exclusão de crédito fiscal da recuperação judicial, que se
esteja no cenário de uma ação de execução fiscal típica, aquela baseada em
certidão de dívida ativa em que a Fazenda Pública é a autora.

Como a segregação do crédito fiscal da recuperação é regra de direito


material, irrelevante a natureza da ação onde ele esteja sendo executado, se
reclamatória trabalhista ou execução fiscal típica, pois, quanto às custas
processuais, nenhuma delas sofre os efeitos dos três incisos do caput do art.
6º da LRF.

Razão 2: como as custas processuais são crédito fiscal previamente


lançado de ofício pelos Juízes do Trabalho, a expedição de certidão de crédito
à Fazenda Pública também ocasionaria um segundo e desnecessário
lançamento e, pior, com inscrição em dívida ativa condicionada à consolidação
de valores de, no mínimo, mil reais, conforme art. 1º, inciso I, da Portaria nº
75/12, do Ministério da Fazenda.

O Ministro de Estado da Fazenda, no uso da atribuição que lhe confere o


parágrafo único, inciso II, do art. 87 da Constituição da República Federativa
do Brasil e tendo em vista o disposto (...), resolve:

Art. 1º Determinar:

I - a não inscrição na Dívida Ativa da União de débito de um mesmo devedor


com a Fazenda Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$ 1.000,00
(mil reais);

Razão 3: é que não há sequer grande benefício estatístico em


proceder na expedição de certidão de crédito à Fazenda Pública, visto que,
desde 19 de dezembro de 2019, o art. 114 da Consolidação de Provimentos da
Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho veda o arquivamento definitivo de
ações com certidões de crédito expedidas, devendo elas serem suspensas e
arquivadas provisoriamente.

Art. 114. Os juízes do trabalho manterão os processos em arquivo provisório


até o encerramento da Recuperação Judicial ou da falência que ela
eventualmente tenha sido convolada (artigo 156 e seguintes da Lei n.º
11.101/2005).

Assim, em especial nas ações que também contemplam contribuição


previdenciária decorrente de condenações trabalhistas, em relação a qual está
vedada a expedição de certidão de crédito, a solução mais razoável é a do
prosseguimento da execução das custas processuais na Justiça do Trabalho,

46
nos próprios autos da reclamatória trabalhista, o que, a propósito, é admitido
pela Jurisprudência do STJ, conforme CC nº 116.594/GO, julgado em
19/03/2012.

Embora o art. 899, §10, da CLT isente as empresas em


recuperação judicial do depósito recursal, elas devem
comprovar o recolhimento de custas para recorrer, na forma da
Súmula nº 86 do TST.

6.2.2. Multas impostas pela fiscalização do trabalho

Tudo o quanto foi dito acima sobre o prosseguimento da execução da


contribuição previdenciária também vale para as ações e execuções relativas
às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de
fiscalização das relações de trabalho, pois o art. 6º, §11, da LRF dá o mesmo
tratamento a este tipo de crédito fiscal não tributário.

Em resumo, a execução das multas administrativas não se suspende


pelo deferimento da recuperação judicial e deve prosseguir nos próprios autos
da ação de execução fiscal que tramita na Justiça do Trabalho, vedada a
expedição de certidão de crédito e o seu arquivamento.

6.3. Outros créditos

Primeiro, o art. 5º da LRF prevê que não podem ser demandados na


recuperação judicial os créditos decorrentes de obrigações a título gratuito,
vale dizer, os decorrentes de negócios jurídicos unilaterais, como eventual
fiança, aval, hipoteca ou penhor prestados gratuitamente a terceiro pela
recuperanda.

Segundo, esse mesmo dispositivo legal veta a inclusão na recuperação


de despesas que os credores fizerem para tomar parte nela, salvo as despesas
judiciais decorrentes de litígio com o devedor necessário para reconhecer seu
crédito. Assim sendo, os honorários advocatícios de sucumbência decorrentes
de reclamatória trabalhista ajuizada para reconhecer créditos do trabalhador
estão incluídos no processo de recuperação judicial. Honorários advocatícios
contratados, por outro lado, não estão incluídos.

47
Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:

I – as obrigações a título gratuito;

II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação


judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o
devedor.

Terceiro, o art. 49, §3º, da LRF ainda exclui da recuperação judicial um


significativo número de créditos garantidos pela entrega do direito resolúvel de
propriedade dos bens do devedor ao credor. Aqui estão elencados os créditos
do proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis e os do arrendador
mercantil, modalidades contratuais normalmente utilizadas em empréstimos e
financiamentos bancários.

Art. 49. (...)

§3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens


móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente
vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias,
ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito
não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os
direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a
legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada
do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua
atividade empresarial.

Sem embargo, não é demais memorar que a exclusão desses créditos


da recuperação judicial só ocorre em relação ao bem sobre o qual foi
transferida a propriedade.

Em outras palavras, o que se garante ao credor é o direito de retomada


do móvel ou imóvel para fins de liquidação de créditos não adimplidos pela
recuperanda, mas não a possibilidade de promover execução extraconcursal
de eventual saldo devedor não coberto pelo bem alienado fiduciariamente.
Eventual crédito remanescente se sujeita aos efeitos da recuperação judicial
como quirografário, caso não possua outra garantia.

Quarto, o art. 49, §3º, da LRF também isola da recuperação judicial os


créditos do proprietário de imóvel vendido para a recuperanda, esteja ele na
condição de promitente vendedor ou de vendedor com reserva de domínio,
inclusive em incorporações imobiliárias, desde que os contratos contenham
cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade.

De novo, o que se garante é o direito à propriedade de bens de credor,


os quais não integram o patrimônio da recuperanda. Como consequência, aqui
também a exclusão está ligada exclusivamente ao direito de retomada, sendo

48
que eventual crédito excedente se sujeita aos efeitos da recuperação judicial
como quirografário, caso não possua outra garantia.

Nas duas situações acima descritas, o art. 49, §3º, da LRF ainda
determina que, caso o bem alienado fiduciariamente, arrendado ou vendido à
recuperanda seja bem de capital imprescindível à manutenção da atividade
empresarial, não poderá ser retomado ou retirado do seu estabelecimento
durante o chamado stay period, o período de suspensão das ações e
execuções, que será abordado adiante.

A quinta espécie de crédito é a prevista no art. 49, §4º, e art. 86, inciso
II, ambos da LRF. São os valores entregues ao devedor em decorrência de
adiantamento de contrato de câmbio para exportação.

Art. 49. (...)

§4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que


se refere o inciso II do art. 86 desta Lei.

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro: (...)

II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional,


decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma
do art. 75, §§ 3º e 4º, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o
prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o
previsto nas normas específicas da autoridade competente;

Na exportação de mercadorias, o exportador precisa se socorrer de um


contrato de câmbio para internalizar os recursos recebidos ela exportação.
Para que não fique sem capital de giro enquanto a exportação não é paga, é
possível celebrar com uma instituição financeira um adiantamento desse
contrato de câmbio, com características próprias de empréstimo bancário, sem
que, todavia, o montante emprestado integre juridicamente o patrimônio do
devedor, segundo jurisprudência do STJ (CC nº 108.536/SP, julgado em
18/12/2009).

Mais uma vez, é a proteção ao sistema financeiro o bem jurídico


tutelado: a exclusão desse tipo de crédito da recuperação judicial reduz para os
bancos os riscos do inadimplemento do contrato e, por consequência, estes
teoricamente diminuem o spread dos juros e acabam fomentando a
exportação.

Em sexto lugar, elenca-se duas categorias de créditos concedidos para


o produtor rural que foram introduzidos pelos §§6º a 9º do art. 49 da LRF.
Referidos parágrafos excluem da recuperação judicial o crédito concedido para
aquisição de propriedades rurais nos três anos imediatamente anteriores ao
pedido de recuperação e os empréstimos rurais oficiais que já tiverem sido

49
objeto de renegociação entre a instituição financeira e o produtor rural antes da
recuperação.

Art. 49. (...)

§6º Nas hipóteses de que tratam os §§ 2º e 3º do art. 48 desta Lei, somente


estarão sujeitos à recuperação judicial os créditos que decorram
exclusivamente da atividade rural e estejam discriminados nos documentos a
que se referem os citados parágrafos, ainda que não vencidos.

§7º Não se sujeitarão aos efeitos da recuperação judicial os recursos


controlados e abrangidos nos termos dos arts. 14 e 21 da Lei nº 4.829, de 5
de novembro de 1965. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

§8º Estarão sujeitos à recuperação judicial os recursos de que trata o § 7º


deste artigo que não tenham sido objeto de renegociação entre o devedor e a
instituição financeira antes do pedido de recuperação judicial, na forma de ato
do Poder Executivo.

§9º Não se enquadrará nos créditos referidos no caput deste artigo aquele
relativo à dívida constituída nos 3 (três) últimos anos anteriores ao pedido de
recuperação judicial, que tenha sido contraída com a finalidade de aquisição
de propriedades rurais, bem como as respectivas garantias.

Na exclusão dos empréstimos para a aquisição de propriedades rurais,


novamente buscou-se evitar a majoração do risco de crédito e propiciar a
diminuição dos juros ao produtor rural. Na retirada dos empréstimos rurais
renegociados, a explicação oficial foi de assegurar que a instituição financeira
que já aceitou a repactuação do seu crédito não seja submetida a uma nova
negociação, agora coletiva, na recuperação judicial.

Finaliza-se a listagem meramente exemplificativa com a hipótese


prevista no art. 6º, §13, da LRF: não se sujeitam à recuperação judicial os
créditos decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades
cooperativas com seus associados.

Art. 6º. (...)

§13. Não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial os contratos e


obrigações decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades
cooperativas com seus cooperados, na forma do art. 79 da Lei nº 5.764, de
16 de dezembro de 1971, consequentemente, não se aplicando a vedação
contida no inciso II do art. 2º quando a sociedade operadora de plano de
assistência à saúde for cooperativa médica.

O chamado ato cooperativo, que está conceituado no caput do art. 79


da Lei nº 5.764/71 pode ser qualquer ato entre a cooperativa e seus
cooperados que for destinado à consecução dos objetivos sociais daquela, o
que inclui, por exemplo, os contratos de empréstimo a estes.

50
Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas
e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si
quando associados, para a consecução dos objetivos sociais.

Portanto, a exclusão de crédito decorrente de empréstimo a associado


objetiva proteger a saúde financeira da cooperativa, pois, ainda que esta não
esteja autorizada a requerer recuperação judicial, os seus associados, se
detiverem a condição de empresários ou sociedades empresárias, estão.
Assim, caso algum cooperado peça recuperação judicial, não poderá nela
incluir crédito devido a cooperativa, independentemente da sua natureza.

Com o término da exposição dessas sete categorias, acredita-se ter


cumprido o objetivo de apresentar, de jeito simplificado, as principais exclusões
da recuperação judicial de créditos não ligados a pessoa do trabalhador ou às
reclamatórias trabalhistas, incluindo algumas novidades da lei da reforma
recuperacional e falimentar.

Não obstante, é preciso ressaltarmos que ainda existem diversos


outros créditos que, total ou parcialmente, também gozam da prerrogativa de
blindagem recuperacional. Como, todavia, nenhum deles faz parte da nossa
realidade trabalhista e, mais, alguns se encontram sujeitos a divergência
jurisprudencial, opta-se por não os arrolar aqui face às especificidades,
inclusive regionais.

Resumo da Aula 1

Nesta aula, viu-se que as execuções concursais existem tanto no


âmbito da Justiça do Trabalho, quanto no domínio de outros ramos do Poder
Judiciário, tendo entre si como ponto comum a orientação por um mesmo
grupo de princípios. Analisou-se o PRE, bem como as figuras constitutivas
REEF, PEPT e ECE consoante Consolidação dos Provimentos da
Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho.

Averiguou-se ainda que aquelas que pertencem à competência


material da Justiça do Trabalho podem se tornar um importante instrumento de

51
gerenciamento de execuções, com economia e racionalidade de atos
processuais, além de segurança jurídica para as partes envolvidas.

Também iniciou-se o estudo da recuperação judicial, com o


apontamento do seu objetivo, beneficiários e a identificação dos créditos
sujeitos a esse procedimento.

Descobriu-se que o marco que define tal sujeição é a distribuição do


pedido de recuperação e que por créditos constituídos até data deve-se
entender aqueles cujos fatos geradores tenham ocorrido até então, o que, no
caso dos créditos trabalhistas, é representado pela data da prestação de
serviço.

Em face disso, evidenciou-se que é possível que tenha-se, em numa


mesma ação, créditos trabalhistas submetidos e não submetidos à
recuperação judicial, o que gerará implicações no momento de se emitir
certidões de crédito ou de se prosseguir a execução nos próprios autos da
reclamatória.

Além do mais, apurou-se que existem certos créditos que


frequentemente estão presentes nas ações trabalhistas que jamais irão se
submeter à recuperação judicial e que não sofrem seus efeitos, como a
contribuição previdenciária e as custas processuais, além das multas impostas
pela fiscalização do trabalho.

Na próxima aula, dentre outros temas, será analisada a execução


trabalhista e os créditos aqui estudados.

Esperamos todos lá!

52
AULA 2
Recuperação Judicial – Parte II (Pedido e
Processamento da Recuperação Judicial)

7. O pedido e o processamento da recuperação


judicial

7.1. Efeitos do processamento

Uma vez distribuída a petição inicial da recuperação judicial e estando


atendidos todos os requisitos específicos que o art. 51 da LRF exige para esta
peça, inclusive a comprovação da “crise de insolvência, caracterizada pela
insuficiência de recursos financeiros ou patrimoniais com liquidez suficiente
para saldar suas dívidas.”, o Juiz da Vara Empresarial deferirá o
processamento da recuperação do devedor (art. 52 da LRF) .

A decisão interlocutória que defere o processamento da recuperação


judicial vem acompanhada de uma série de efeitos jurídicos e determinações
obrigatórias arroladas no art. 6º e art. 52 da LRF, dentre os quais os mais
relevantes para a Justiça do Trabalho são a suspensão das execuções,
incluindo suas medidas constritivas, promovidas por esses mesmos credores e
a suspensão da fluência do prazo prescricional em face dos credores
impactados pela recuperação judicial.

Os dois efeitos serão agora examinados.

A suspensão das execuções só irá ocorrer quando da decisão


que deferir o processamento da recuperação judicial, não sendo
um efeito do simples ajuizamento da ação. Todavia, estando
presentes os requisitos da tutela provisória de urgência, o art.
6º, §12 da LRF autoriza que o Juiz da Vara Empresarial antecipe
os efeitos do seu processamento.

53
7.1.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas

De acordo com o art. 6º, inciso II, e com o art. 52, inciso III, da LRF, o
deferimento do processamento da recuperação judicial implica, no tocante aos
créditos a ela submetidos, na suspensão das execuções que tramitam contra o
devedor, a qual deverá ser comunicada por ele próprio aos Juízos em que ditas
demandas se encontram, por força do art. 52, §3º, da LRF.

Art. 6º. A decretação da falência ou o deferimento do processamento da


recuperação judicial implica: (...)

II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas


dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações
sujeitos à recuperação judicial ou à falência; (...)

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o


juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...)

III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o


devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos
no Juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1º , 2º e
7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º
e 4º do art. 49 desta Lei;

Outrossim, como consequência da suspensão das execuções, o art. 6º,


inciso III, da LRF, estabelece, em relação a esses mesmos créditos, a
proibição de qualquer meio de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e
apreensão e constrição sobre os bens do devedor.

Art. 6º. (...)

III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro,


busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do
devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou
obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência.

Note-se aqui que, embora duras, especialmente para as pessoas


trabalhadoras, ditas regras de paralisação das execuções singulares são
motivadas pela tentativa de se criar um ambiente institucional e adequado para
a negociação entre as pessoas credoras e a pessoa do devedor.

Não fosse a suspensão das execuções, muito provavelmente haveria


uma corrida judicial desenfreada das pessoas credoras sujeitas à recuperação
judicial pelo patrimônio do devedor, com a expropriação o mais rápido possível
de bens que podem ser imprescindíveis para a reestruturação da atividade e a
saída da crise econômico-financeira pela qual passa a empresa, e sem
interesse algum na busca da melhor solução comum a todos.

54
Em resumo, ao impor moratória legal aos credores e trancar medidas
judiciais de constrição patrimonial, o Juiz da Vara Empresarial protege de modo
temporário a empresa em crise, permite ao devedor uma certa reorganização
negocial e obriga certos credores a ingressarem em processo concursal para
negociar coletivamente com aquele a melhor alternativa para a satisfação dos
seus créditos.

A suspensão das execuções e medidas constritivas é conhecida no


meio recuperacional como stay period e, na redação original do art. 6º, §4º,
da LRF, em hipótese nenhuma deveria exceder o prazo improrrogável de cento
e oitenta dias corridos, contado do deferimento do processamento da
recuperação, findo o qual se retomava o direito dos credores de prosseguir
com suas execuções singulares, independentemente de pronunciamento do
Juízo da Vara Empresarial.

De acordo com a jurisprudência do STJ (REsp nº 1.698.283/GO,


julgado em 21/05/2019), o prazo de suspensão, assim como os
demais prazos da LRF, deve ser sempre contado em dias
corridos, e não em dias úteis.

A despeito da expressa disposição legal, o prazo revelou-se curto na


prática e a jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de prorrogar a
suspensão sempre que a demora na negociação do plano de recuperação
judicial não pudesse ser imputada à empresa recuperanda (AgIntAgr no REsp
nº 443.665/RS, julgado em 15/09/2016), como ocorre na demora de
publicação de editais pelo cartório, no atraso da apresentação da lista de
credores pelo administrador judicial, em suspensões reiteradas das sessões da
assembleia geral de credores, etc.

De outra parte, na jurisprudência trabalhista chegou a se formar algum


entendimento quanto à possibilidade de retomada automática da execução na
reclamatória singular quando do término desse prazo, o que podemos ver na
Tese Jurídica Prevalecente nº 9 do TRT da 3ª Região.

Tese Jurídica Prevalecente nº 9 do TRT da 3ª Região. Recuperação judicial.


Ultrapassagem do prazo de 180 dias. Efeitos. Ultrapassado o prazo de
suspensão de 180 dias previsto no § 4º do art. 6º da Lei n. 11.101/2005,
restabelece-se para o credor o direito de prosseguir na execução na Justiça
do Trabalho, ainda que o crédito trabalhista já esteja inscrito no quadro geral
de credores. (Oriunda do julgamento do IUJ suscitado nos autos do processo
AP 0010557-26.2014.5.03.0041. RA 103/2016, disponibilização: DEJT/TRT-
MG/Cad. Jud. 19, 20 e 23/05/2016)

Ao fim, o entendimento jurisprudencial firmado na tese prevalecente n.


9 está superado face a da reforma recuperacional e falimentar, que modificou o

55
art. 6º, §4º, da LRF. O dispositivo agora, além de não contar mais com as
expressões peremptórias de impossibilidade de dilação dos cento e oitenta
dias, passou a autorizar uma única prorrogação desse prazo por outros cento e
oitenta, desde que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso
temporal inicial.

Art. 6º. (...)

§4º Na recuperação judicial, as suspensões e a proibição de que tratam os


incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão pelo prazo de 180 (cento e
oitenta) dias, contado do deferimento do processamento da recuperação,
prorrogável por igual período, uma única vez, em caráter excepcional, desde
que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso temporal.

Ainda não há jurisprudência sobre o novo prazo ser peremptório


ou dilatório, mas, a observar o ocorrido no regime legal
anterior, a tendência é de, excepcionalmente, serem admitidas
prorrogações adicionais.

Dentro desse interregno de até trezentos e sessenta dias, além das


providências do art. 52 da LRF e da formação da lista e do quadro geral de
credores poderão existir objeções ao plano de recuperação judicial
apresentado pelo devedor. Esse tema será retomado adiante.

Neste caso, a assembleia geral de credores será convocada para


deliberar sobre o plano e, em caso de aprovação, as reclamatórias trabalhistas
em fase de execução e outras execuções singulares de créditos sujeitos à
recuperação permanecerão suspensas até o término do período de dois anos
de fiscalização judicial previsto no art. 61 da LRF, caso o Juiz da Vara
Empresarial o entenda necessário.

Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá
determinar a manutenção do devedor em recuperação judicial até que sejam
cumpridas todas as obrigações previstas no plano que vencerem até, no
máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial,
independentemente do eventual período de carência.

Já na eventualidade de rejeição do plano de recuperação judicial do


devedor, os “até trezentos e sessenta dias de suspensão já deferidos” poderão
ser adicionados de “até outros cento e oitenta”, caso a assembleia geral de
credores resolva apresentar plano de recuperação judicial alternativo, segundo
os ditames do art. 6º, §4º-A, inciso II, e do art. 56, §4º, ambos da LRF.

Art. 6º. (...)

56
II - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput
deste artigo perdurarão por 180 (cento e oitenta) dias contados do final do
prazo referido no §4º deste artigo, ou da realização da assembleia-geral de
credores referida no §4º do art. 56 desta Lei, caso os credores apresentem
plano alternativo no prazo referido no inciso I deste parágrafo ou no prazo
referido no §4º do art. 56 desta Lei.

Art. 56. (...)

§4º Rejeitado o plano de recuperação judicial, o administrador judicial


submeterá, no ato, à votação da assembleia-geral de credores a concessão
de prazo de 30 (trinta) dias para que seja apresentado plano de recuperação
judicial pelos credores.

A despeito da hipótese de rejeição do plano do credor, note-se que a


suspensão das execuções singulares prosseguirá, agora indefinidamente,
mesmo se a assembleia geral concluir por não apresentar plano alternativo,
pois, nesse caso, o §8º do art. 56 da LRF estabelece a convolação da
recuperação judicial em falência.

Finalmente, na contingência de o plano do credor ainda não ter sido


apreciado ao final dos trezentos e sessenta dias de suspensão, o art. 6º, §4º-A,
tal como na sua rejeição, faculta aos credores a apresentação de plano de
recuperação judicial alternativo, circunstância que também pode levar ao prazo
adicional previsto de até cento e oitenta dias acima tratado.

Art. 6º. (...)

§4º-A. O decurso do prazo previsto no § 4º deste artigo sem a deliberação a


respeito do plano de recuperação judicial proposto pelo devedor faculta aos
credores a propositura de plano alternativo, na forma dos §§ 4º, 5º, 6º e 7º do
art. 56 desta Lei, observado o seguinte (...)

57
7.1.1.1. Exceções à suspensão das execuções e medidas
constritivas

Sobre as exceções à suspensão das execuções e medidas constritivas


é de ser mencionado que não são afetadas pelos efeitos da ordem de
suspensão processual e das medidas constritivas as execuções decorrentes
dos créditos não sujeitos à recuperação judicial, já examinados previamente.

Assim é que prosseguem normalmente na Justiça do Trabalho as


execuções de contribuição previdenciária decorrente de condenação
trabalhista, de custas processuais, de multas administrativas impostas pela
fiscalização do trabalho e de trabalhadores cujos créditos foram constituídos
depois do dia em que o devedor ingressou em Juízo com o pedido de
recuperação judicial, observado, quanto às medidas constritivas adotadas o já
mencionado art. 6º, §7º-B, da LRF.

Também deve ser realçado que o stay period não paralisa eventual
pretensão do credor trabalhista de imputar responsabilidade secundária a
terceiro responsável solidária ou subsidiariamente. Portanto, como veremos
adiante, é possível o prosseguimento normal das execuções trabalhistas em
face do tomador de serviços, de empresas integrantes do grupo econômico,
dos sucessores trabalhistas, dos sócios, etc., conforme decidido há tempo pelo
STJ no REsp nº 1.333.349/SP, julgado em 26/11/2014 (Tema nº 885 da
tabela de recursos repetitivos do STJ).

Tema Repetitivo nº 885 do STJ. A recuperação judicial do devedor principal


não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou
extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou
coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se
lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a
novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, §
1º, todos da Lei n. 11.101/2005.

Deve ser mencionado também, forte no disposto nos §§1º e 2º do art.


6º da LRF, que continuam sem qualquer pausa também as ações que
demandem quantia ilíquida, incluídas as reclamatórias trabalhistas e ações de
indenização por acidente de trabalho que tramitam na Justiça do Trabalho em
fase de conhecimento ou em fase de liquidação de sentença, até a
estabilização da decisão que homologou os cálculos contendo o crédito do
trabalhador.

Art. 6º. (...)

§ 1º Terá prosseguimento no Juízo no qual estiver se processando a ação


que demandar quantia ilíquida.

58
§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação,
exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas
as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o
art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a
apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores
pelo valor determinado em sentença.

A estabilização supramencionada se dará pela não oposição de


embargos à execução ou impugnação à decisão de liquidação de sentença, ou
pelo trânsito em julgado da sentença que julga esses incidentes.

O que ocorre é que, no acaso de a recuperanda pretender opor


embargos à execução, o art. 884 da CLT exige a garantia do juízo com
depósito ou penhora de bens, o que pode fomentar os conhecidos embates de
ordem operacional em face do Juízo da Vara Empresarial quanto às medidas
constritivas adotadas pela Justiça do Trabalho e, por que não, conflitos
hermenêuticos com a própria lógica de blindagem patrimonial da recuperação
judicial e os princípios do Direito e do Processo do Trabalho.

O art. 899, §10, da CLT isenta as empresas em recuperação


judicial do depósito recursal, mas o art. 884 da CLT é silente
quanto à isenção da garantia do juízo para a oposição de
embargos, dispensando apenas as entidades filantrópicas e os
diretores dessas instituições do encargo.

A despeito destes conflitos, encontramos na jurisprudência trabalhista


certo desacordo quanto a exigir-se ou não da recuperanda a garantia do juízo
como requisito de admissibilidade dos embargos à execução.

A jurisprudência majoritária e não sumulada do TST segue o caminho


oposto, no sentido de se exigir a garantia do juízo para a oposição de
embargos à execução. Ao menos seis Turmas do Tribunal Superior já têm
julgamentos recentes nesse caminho (exemplificativamente, a 2ª Turma, no
Ag-AIRR nº 773400-42.2008.5.09.0004, julgado em 20/08/2021. Em sentido
contrário, a 8ª Turma, no AIRR nº 461300-26.2000.5.12.0037, julgado em
03/02/2021).

De um lado, o TRT da 6ª Região possui tese jurídica em incidente de


resolução de demandas repetitivas (IRDR nº 0000186-
98.2021.5.06.0000, julgado em 14/09/2021) que isenta as empresas em
recuperação judicial da garantia do juízo prevista no art. 884 CLT, em
interpretação analógica do art. 899, §10, da CLT e com suporte nas garantias
constitucionais de acesso à Justiça, do contraditório e ampla defesa.

59
Este Tribunal Regional é exemplificativamente acompanhado pela
jurisprudência não sumulada da Seção Especializada em Execução do TRT da
4ª Região (AP nº 0001369-86.2013.5.04.0341, julgado em 19/05/2022) e
por vários acórdãos de Câmaras do TRT da 12ª Região (por todas, a 6ª
Câmara, AP nº 0084700-39.2000.5.12.0004, julgado em 03/02/2022).

Outros defendem que a solução tecnicamente correta, porém por


demais complexa e engenhosa para a realidade das reclamatórias trabalhistas,
seria a de se demandar garantia do juízo ao menos dos créditos cuja execução
não se suspende com o deferimento do processamento da recuperação
judicial, como a contribuição previdenciária e as custas processuais.

Já para aqueles em que há a suspensão da execução, como o crédito


trabalhista em geral, honorários advocatícios e honorários e emolumentos dos
auxiliares do Juízo, a dispensa de garantia seria a medida a se impor, por força
do art. 6º, inciso III, da LRF, no tocante à proibição de penhora de bens da
recuperanda.

Todavia, reconhecemos que essa segmentação de garantia do juízo


pela natureza do crédito dentro de uma reclamatória trabalhista com
multiplicidade de credores mais atrapalha do que ajuda, principalmente quando
o objetivo do principal credor nesta fase processual é simplesmente a
estabilização mais rápida possível do valor que lhe é devido.

Por isso, com evidente pragmatismo jurídico, as decisões dos


Regionais que dispensam a garantia do juízo para a oposição dos embargos à
execução pela recuperanda, deixando para realizar medidas constritivas
relativas aos créditos não sujeitos à recuperação em momento posterior à
estabilização da decisão de liquidação de sentença gera a estabilização de
forma teoricamente mais rápida.

Mesmo os que assim entendem fazem a seguinte ressalva a esse


pensamento, que é a da execução de multas administrativas impostas pela
fiscalização do trabalho, na qual os embargos à execução só devem ser
recebidos com garantia do juízo.

7.1.2. Suspensão da prescrição

A suspensão dos prazos prescricionais que correm em favor da


recuperanda é outro efeito decorrente do deferimento do processamento da
recuperação judicial, no tocante aos créditos a ela submetidos, tal como
previsto no art. 6º, inciso I, da LRF. Como resultado, a prescrição trabalhista
prevista no art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal resta também

60
suspensa a partir do marco acima, retomando o seu curso ao final do prazo de
suspensão positivado no art. 6º, §§4º e 4º-A, da LRF, independentemente de
pronunciamento judicial.

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da


recuperação judicial implica:

I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao


regime desta Lei;

7.2. Verificação e habilitação dos créditos na


recuperação judicial

Quando o devedor ingressa com o pedido de recuperação judicial, um


dos requisitos específicos da petição inicial previsto no art. 51, inciso III, da
LRF, é apresentação da lista dos seus credores, estejam sujeitos ou não à
recuperação judicial, com a indicação do valor atualizado do crédito e
discriminação de sua origem. Também deve apresentar a relação de todas as
ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza
trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados (art. 51,
inciso IX, da LRF).

Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: (...)

III - a relação nominal completa dos credores, sujeitos ou não à recuperação


judicial, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação
do endereço físico e eletrônico de cada um, a natureza, conforme
estabelecido nos arts. 83 e 84 desta Lei, e o valor atualizado do crédito, com
a discriminação de sua origem, e o regime dos vencimentos; (...)

IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais e


procedimentos arbitrais em que este figure como parte, inclusive as de
natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados;

Imediatamente após ser deferido o processamento da recuperação


judicial, essa listagem preliminar de credores torna-se objeto de edital a ser
publicado pela Vara Empresarial, nos termos do art. 52, §1º, incisos II e III, da
LRF, bem como de conferência e revisão permanente por parte do
administrador judicial, forte no art. 7º da LRF, o qual ainda assume o dever de
enviar correspondência aos credores, comunicando a data do pedido de
recuperação judicial, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito,
tudo conforme o art. 22, inciso I, alínea “a”, da LRF.

Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial,


com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor
e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo
contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.

61
Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do
Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:

I – na recuperação judicial e na falência:

a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o


inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do
caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação
judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação
dada ao crédito;

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o


juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...)

§ 1º O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial,


que conterá: (...)

II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e


a classificação de cada crédito;

III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma
do art. 7º, § 1º, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao
plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55
desta Lei.

Evidentemente, não é raro haver ausência de credores ou equívocos


de valores na listagem preliminar elaborada pelo devedor, razão pela qual o
edital de quinze dias, publicado pela Vara Empresarial e as correspondências
enviadas pelo administrador judicial aos credores têm como objetivo fazer com
que eles, discordando da sua ausência ou de quaisquer elementos lançados,
possam promover sua habilitação e lançar as suas divergências, com o fito de
se chegar a uma segunda lista apresentada pelo administrador e ao quadro
geral de credores, no prazo do art. 7º, §2º, da LRF, isto é, 45 (quarenta e
cinco) dias, contados do término do edital de 15 (quinze) dias.

Art. 7º. (...)

§2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos


colhidos na forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital
contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias,
contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o
horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei
terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa
relação.

Ainda que a LRF não vede a habilitação de crédito trabalhista ou


acidentário simplesmente com base nos livros contábeis do devedor, por certo,
a maneira mais fácil e juridicamente adequada da pessoa trabalhadora que já
tenha reclamatória trabalhista ajuizada verificar a correção do seu crédito ou se
habilitar na recuperação é a certidão de crédito emitida pela Justiça do
Trabalho.

62
É por isso que para nós um dos efeitos anexos ao processamento da
recuperação judicial é, quase sempre, a expedição de certidão de crédito a
pessoa trabalhadora e aos demais credores sujeitos à recuperação, como
advogados, pelos seus honorários sucumbenciais, e auxiliares do Juízo, pelos
seus honorários periciais, emolumentos, despesas, etc.

De acordo com o art. 9º da LRF, a certidão deve conter, além dos


dados identificadores do processo e das partes, preferencialmente com
endereço físico e eletrônico, também a natureza e o valor atualizado do crédito,
com discriminação dos valores bruto e líquido devidos para o trabalhador,
acrescidos de juros e correção monetária até a data do pedido de recuperação
judicial, cabendo ao administrador judicial e, em última instância, ao próprio
Juiz da Vara Empresarial, a definição quanto à classificação deste crédito.

Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, §
1º, desta Lei deverá conter:

I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá


comunicação de qualquer ato do processo;

II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do


pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação;

III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais


provas a serem produzidas;

IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo


instrumento;

V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.

Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão


ser exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em
outro processo.

De modo muito semelhante, a Consolidação de Provimentos da


Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho reprisa esses elementos
obrigatórios da certidão de crédito no seu art. 112, §2º.

Art. 112. Deferida a recuperação judicial ou a falência, caberá ao juiz do


trabalho determinar a expedição de Certidão de Habilitação de Crédito para
ser submetida à apreciação do administrador judicial.

§1º Terão prosseguimento na Justiça do Trabalho as ações que demandarem


quantia ilíquida, até a apuração do respectivo crédito e a expedição de
certidão de habilitação do crédito.

§2º Da Certidão de Habilitação de Crédito deverá constar:

I – nome do exequente, data da distribuição da reclamação trabalhista, da


sentença condenatória e a de seu trânsito em julgado;

63
II – a especificação dos títulos e valores integrantes da sanção jurídica, das
multas, dos encargos fiscais e sociais (imposto de renda e contribuição
previdenciária), dos honorários advocatícios e periciais, se houver, e demais
despesas processuais;

III – data da decisão homologatória dos cálculos e do seu trânsito em julgado;

IV – o nome do advogado que o exequente tiver constituído, seu endereço,


para eventual intimação, e número de telefone a fim de facilitar possível
contato direto pelo administrador judicial.

Contudo, ressalte-se que, frente ao que foi visto quanto aos créditos
excluídos da recuperação judicial, o normativo poderia ser atualizado no inciso
II do §2º, quando se considera que a execução da contribuição previdenciária e
das custas processuais não é afetada pela recuperação judicial e, portanto,
não deveria constar da certidão de créditos. Todavia, como peça executória a
especificar todos os títulos e valores integrantes da ação trabalhista a certidão
na forma como prevista não impede ou mesmo prejudica a créditos que não
foram afetados pela recuperação judicial.

Atenção especial às reclamatórias trabalhistas ajuizadas depois


da distribuição do pedido de recuperação judicial, pois podem
conter créditos trabalhistas híbridos, ou seja, créditos que se
sujeitam à recuperação e créditos que não se sujeitam a ela,
conforme a sua data de constituição.

Via de regra, as certidões não precisam ser encaminhadas pela Justiça


do Trabalho ao Juízo da Vara Empresarial por meio de ofício ou
assemelhados, visto que a incumbência cabe aos próprios credores.
Entrementes, por conta dos princípios que norteiam a cooperação judicial, não
deixa de ser medida de assertividade e mesmo pragmática o encaminhamento
da certidão diretamente àquele Juízo, com intimação dos credores na
reclamatória trabalhista.

64
7.2.1. Juros e correção monetária na recuperação judicial

Questão recorrente nos embargos à execução e nas impugnações à


sentença de liquidação e à certidão de créditos diz respeito à inclusão ou não
de juros e correção monetária sobre os créditos do trabalhador quando o
devedor ingressa em recuperação judicial, muito por uma leitura errada do
caput do art. 124 da LRF.

Esse artigo, que prevê que contra a massa falida não são exigíveis
juros vencidos após a decretação da quebra, se o ativo não bastar para o
pagamento dos credores subordinados, não tem nenhuma aplicação na
recuperação judicial.

Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a
decretação da falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado
não bastar para o pagamento dos credores subordinados.

No procedimento recuperacional, os juros e a correção monetária são


parte integrante do crédito do trabalhador, ao menos até a aprovação do plano
de recuperação judicial, dado que nele a novação do crédito aprovada poderá
prever, por exemplo, deságio, exclusão ou substituição dos juros e da correção
monetária.

O fenômeno da novação será tratado mais adiante. Por enquanto,


fique-se com a ideia de que não há nenhuma previsão na LRF de cessação

65
automática de juros e correção monetária na recuperação e que o seu art. 9º,
inciso II, que estabelece que a certidão de habilitação de crédito deve estar
atualizada até a data da distribuição da petição inicial da recuperação é regra
de natureza meramente procedimental.

Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, §1º
, desta Lei deverá conter: (...)

II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do


pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação;

Nesse sentido, aliás, é a Súmula nº 50 do TRT da 10ª Região:

Súmula nº 50 do TRT da 10ª Região Empresa em recuperação judicial.


Crédito trabalhista. Juros e correção monetária. O art. 9º, inciso II, da Lei n.º
11.101/2005, é regra de natureza operacional, não impedindo a incidência de
juros de mora e correção monetária até a integral e efetiva satisfação do
crédito trabalhista.

7.2.2. Liberação dos depósitos judiciais

Outro tema polêmico quando da emissão de certidão de créditos toca à


possibilidade ou não da liberação e abatimento do saldo devedor de depósitos
judiciais realizados na reclamatória trabalhista pela recuperanda antes do
processamento da recuperação judicial, em especial do depósito recursal, a
pessoa do trabalhador.

66
O centro jurídico da discussão se situa na natureza jurídica do depósito
recursal, se apenas de garantia de futura execução, ou se de antecipação do
valor de condenação vindoura.

Concluindo pela primeira tese, dir-se-ia que o montante, em que pese


estar à disposição do Juízo trabalhista para os fins do art. 899, §1º, parte
final, da CLT, segue juridicamente pertencendo ao patrimônio do devedor e é
afetado pela ordem de suspensão das execuções, devendo ser liberado
apenas ao Juízo recuperacional para o cumprimento do plano de recuperação.

Art. 899. (...) §1º Sendo a condenação de valor até 10 (dez) vezes o salário-
mínimo regional, nos dissídios individuais, só será admitido o recurso
inclusive o extraordinário, mediante prévio depósito da respectiva
importância. Transitada em julgado a decisão recorrida, ordenar-se-á o
levantamento imediato da importância de depósito, em favor da parte
vencedora, por simples despacho do juiz.

Já a opção pela segunda proposta leva ao corolário de que valores


apreendidos na reclamatória trabalhista antes do deferimento da recuperação
judicial deixam de integrar o patrimônio do devedor, podendo ser liberados ao
trabalhador antes de expedirmos a sua certidão de crédito, com abatimento do
valor que lhe deve ser pago na recuperação.

Em defesa da tese de entrega dos depósitos judiciais ao Juízo


recuperacional estão a jurisprudência do STF (CC nº 8.143/SP, julgado em
03/08/2021), a jurisprudência do STJ (CC nº 162.769/SP, julgado em
30/06/2020), a amplamente majoritária da SDI-2 do TST (RO nº 5659-
84.2019.5.15.0000, julgado em 15/12/2020) e a de vários Tribunais
Regionais do Trabalho, aqui representados pela Súmula nº 43 do TRT da 6ª
Região.

Súmula nº 43 do TRT da 6ª Região. Empresa em recuperação judicial.


Liberação de depósito recursal pelo Juízo da execução. Vedação. O Juízo da
execução trabalhista não deve determinar a liberação do depósito recursal
realizado por empresa em recuperação judicial, para satisfação da execução
trabalhista, ainda que o depósito tenha sido realizado anteriormente à
decretação da recuperação judicial, tendo em vista que não subsiste a
competência desta Justiça Especializada, a teor da Lei n. 11.101/2005.

Pela liberação imediata ao trabalhador se posiciona de modo uniforme


a Seção Especializada em Execução do TRT da 4ª Região, na Orientação
Jurisprudencial nº 84, e parte da jurisprudência de um ou outro Tribunal
Regional, com o registro de que esta mesma Seção do TRT da 4ª Região
compreende, na sua Orientação Jurisprudencial nº 91, que eventual saldo do
depósito recursal, após quitado o débito da reclamatória trabalhista ao qual
vinculado, não pode ser transferido para o pagamento de outro trabalhador e
deve ser colocado à disposição do Juízo recuperacional.

67
Orientação Jurisprudencial nº 84 da SEEx do TRT da 4ª Região. Liberação de
valores depositados. Massa falida. Empresa em recuperação judicial. Os
valores apreendidos judicialmente na reclamatória trabalhista antes da
decretação da falência ou do deferimento do pedido de recuperação judicial,
deixam de integrar o patrimônio da empresa ou da massa falida, sendo
cabível a sua liberação ao credor.

Orientação Jurisprudencial nº 91 da SEEx do TRT4. Recuperação judicial ou


falência. Saldo de depósitos. Juízo universal. Eventual saldo de depósitos na
execução trabalhista, após quitado o débito processual, deve ser colocado à
disposição do Juízo Universal da Recuperação Judicial ou Falência.

Por fim, em posição híbrida frente aos efeitos da recuperação sobre o


patrimônio do devedor e a suspensão da execução, está a Orientação
Jurisprudencial nº 28, inciso IV da Seção Especializada em Execução do TRT
da 9ª Região, que entende pela liberação do depósito recursal ao trabalhador,
desde que esgotado o prazo de suspensão a que se refere o art. 6º, §4º, da
LRF.

Orientação Jurisprudencial nº 28 da SEEx do TRT da 9ª Região. (...) IV -


Falência e Recuperação Judicial. Liberação de depósito recursal. O depósito
recursal efetuado antes da decretação da falência pode ser liberado ao
exequente, para a quitação de valores incontroversos. Na hipótese de
recuperação judicial, o depósito recursal efetuado antes do deferimento da
recuperação judicial pode ser liberado ao exequente, desde que esgotado o
prazo de suspensão a que se refere a Lei 11.101/2005, artigo 6º, § 4º. O
depósito recursal realizado após o deferimento da recuperação judicial deve
permanecer à disposição do Juízo Falimentar.

O dilema representado pelas posições antagônicas acima é justificado.


Ao se levar em consideração os princípios do Direito e Processo do Trabalho,
bem como as razões socioeconômicas subjacentes à motivação jurídica da
decisão de entrega dos depósitos judiciais ao trabalhador a opção pela entrega
os valores do depósito recursal é aquela a que se filia observados o conjunto
de situações e fatos processuais.

Primeiro, porque se criou uma justa expectativa de sua parte quanto ao


futuro recebimento daquele valor em espécie. Segundo, porque sabe-se que
esse montante, ao ser devolvido à recuperanda, muito dificilmente servirá ao
pagamento de créditos dos trabalhadores. Com efeito, é lei de mercado a de
que os recursos em caixa das empresas em crise econômico-financeira quase
sempre são destinados aos seus fornecedores e financiadores e quase nunca
às pessoas trabalhadoras.

Todavia, em que pese o dilema socioeconômico pelo qual passamos


neste e em outros momentos da recuperação judicial e da falência, ele não tem
o condão de alterar as normas jurídicas que incidem ao caso. O depósito
recursal não é antecipação de condenação vindoura ou meio de transferência
de propriedade, mas sim de garantia de futura e eventual execução.

68
Outrossim, os princípios da par conditio creditorum e da preservação
da empresa nos mostram em caráter finalístico que não podemos nos prender
à miopia da resolução de uma única reclamatória trabalhista, em detrimento do
restante do grave cenário. Ademais, o pagamento de um trabalhador pode ter o
efeito colateral da inadimplência em relação aos demais. A negativa de liberar
o depósito para o caixa da empresa pode levar à quebra e ao prejuízo da
coletividade. Por isso, entende-se ser mais adequada a jurisprudência dos
Tribunais Superiores, que entendem pela liberação dos depósitos à
recuperanda.

Antes da liberação dos depósitos judiciais, deve ser verificado


se não há créditos não sujeitos à recuperação judicial, como
créditos trabalhistas constituídos após o pedido de recuperação,
contribuição previdenciária e custas processuais, pois, em
havendo, tais depósitos devem ser utilizados prioritariamente
para quitar essas rubricas.

7.2.3. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista

Expedidas as certidões aos credores, e não havendo créditos


extraconcursais não suspensos pelo processamento da recuperação judicial
que ensejem a manutenção do processo de execução, o art. 114 da

69
Consolidação de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho
estipula que devemos suspender e arquivar provisoriamente a reclamatória
trabalhista ou ação de indenização por acidente de trabalho até o
encerramento da recuperação ou da falência em que ela eventualmente tenha
sido convolada. É o que ocorrerá, por exemplo, logo depois da expedição das
certidões de créditos, com as ações que resultaram em acordos sem
contribuição previdenciária e com dispensa de custas processuais.

Art. 114. Os juízes do trabalho manterão os processos em arquivo provisório


até o encerramento da Recuperação Judicial ou da falência que ela
eventualmente tenha sido convolada (artigo 156 e seguintes da Lei n.º
11.101/2005).

Parágrafo único. Os processos suspensos por Recuperação Judicial ou


Falência deverão ser sinalizados com marcador correspondente no Sistema
PJe.

A dúvida que pode causar esse artigo diz respeito aos processos
arquivados provisoriamente e que poderão ter sua execução extinta e ser
encaminhados em definitivo ao arquivo. Referido artigo parece sugerir que isso
se dará com o encerramento da recuperação judicial ou da falência caso tenha
ocorrido a convolação, mas esses termos guardam, no primeiro caso, certa
imprecisão.

Com efeito, a recuperação judicial pode ser encerrada de maneira


positiva, com o cumprimento das obrigações previstas no plano e vencidas
durante o período de fiscalização de até dois anos do art. 63 da LRF, ou de
forma negativa, com a rejeição do plano prevista no art. 56 da LRF ou o seu
descumprimento no prazo acima, hipóteses em que será convolada em
falência.

Contudo, como a lei de reforma recuperacional e falimentar modificou o


art. 54, §2º, da LRF e passou a permitir que os créditos trabalhistas e os
decorrentes de acidentes de trabalho possam ser adimplidos, respeitadas
certas condições, em até três anos, não será incomum ocorrer um
descompasso entre o efetivo término do pagamento dos créditos trabalhistas e
assemelhados e a sentença de encerramento da recuperação judicial, a qual,
diga-se de passagem, tem um caráter meramente terminativo.

Portanto, a compreensão do artigo em exame é que, o encerramento


positivo da recuperação judicial é o término do pagamento dos créditos
trabalhistas e assemelhados e esse término é que poderá autorizar o
arquivamento definitivo da reclamatória trabalhista, e não a sentença de
encerramento da recuperação.

70
Lembrando que o arquivamento definitivo da reclamatória
trabalhista ainda está condicionado ao efetivo pagamento, na
recuperação judicial, de outros créditos oriundos da nossa ação,
bem como à quitação, em nossos próprios autos, dos créditos
não sujeitos ao processo recuperacional.

Existem mais algumas considerações a serem feitas acerca do


arquivamento definitivo nos casos de encerramento negativo da recuperação
judicial e sua convolação em quebra, mas como a argumentação aqui depende
de conhecimentos que somente serão debatidos mais adiante, o tema será
retomado no capítulo da falência.

De qualquer modo, como é absolutamente impossível prever a priori


quando se dará o término do pagamento dos créditos trabalhistas e
equiparados, o encerramento da recuperação ou sua eventual convolação em
falência, deixa-se a sugestão da inserção de marcador de controle de prazo no
GIGS do PJE para que, decorrido um período de cerca de cinco anos a contar
da expedição da certidão de crédito, surja um alerta de prazo vencido no
sistema.

A partir daí, poder-se-á notificar os credores sujeitos à recuperação


judicial para que informem se seus créditos já foram ou não satisfeitos, se já
houve o encerramento da recuperação ou sua eventual convolação em
falência.

Não é demais lembrar que o arquivamento provisório da reclamatória


trabalhista por conta de recuperação judicial do devedor não implica na
extinção ou desfazimento dos chamados meios de proteção da execução e
indução ao pagamento, tais como hipoteca judiciária, averbação premonitória,
indisponibilidade de bens, protesto extrajudicial, inscrição em órgãos de
proteção de crédito, inscrição no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas,
etc.

Sugerimos que o processo seja arquivado com todos esses gravames


e também com as penhoras eventualmente realizadas, cabendo ao Juízo da
Vara Empresarial solicitar casuisticamente a sua liberação, caso os bens
constritos pela Justiça do Trabalho sejam incluídos no plano de recuperação
judicial como objeto de alienação.

71
7.2.4. Reserva de crédito

É muito comum que, ao tempo do processamento da recuperação


judicial, haja reclamatórias trabalhistas tramitando em face do devedor, porém
ainda em fase de conhecimento ou liquidação de sentença.

Nesta situação, o trabalhador ou os demais credores sujeitos à


recuperação não poderão proceder de imediato sua habilitação no processo de
recuperação, por faltar liquidez aos seus créditos.

Como se viu anteriormente, eles não são afetados pela ordem de


suspensão das execuções e devem prosseguir normalmente com suas
demandas até a estabilização da decisão de liquidação de sentença, sendo
que, conforme determinar o plano de recuperação judicial, normalmente
créditos ilíquidos só participam dos rateios somente após tal liquidação e
inclusão na lista de credores.

Para que não fiquem prejudicados, de fora da lista ou quadro geral de


credores, e para que possam votar na assembleia geral, o previamente
transcrito art. 6º, §3º, da LRF permitiu que tais credores peçam a Justiça do
Trabalho o encaminhamento de determinação de reserva da importância que
se estimar devida na reclamatória trabalhista.

Ressaltamos novamente que a atual LRF modificou disposição da


antiga legislação, qual seja, o art. 24, §3º do Decreto 7.661/45, que previa que
era o próprio credor trabalhista que devia encaminhar seu pedido de reserva
diretamente ao Juízo da Vara Empresarial. Na regra atual, tal determinação
deve ser feita pela Justiça do Trabalho, a requerimento do interessado,
mediante a expedição de ofício.

Arrematando o tema, informe-se que o pedido de reserva na


recuperação judicial, ao contrário do que ocorre na quebra, não tem a
finalidade de preservar o direito do credor à participação em rateios. Segundo o
art. 10, §1º, da LRF, a reserva aqui vale apenas para garantir o direito a voto
nas deliberações da assembleia geral de credores, regra que eventualmente
pode sequer ser a eles aplicável, caso a liquidação do seu crédito no Juízo
Trabalhista ocorra até a data de realização da assembleia geral.

Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7º, § 1º, desta Lei, as
habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias.

§ 1º Na recuperação judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados


os titulares de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a
voto nas deliberações da assembleia-geral de credores.

72
7.3. Classificação dos créditos sujeitos à recuperação
judicial

O tema referente a classificação dos créditos sujeitos à recuperação


judicial muitas vezes acaba por gerar certa dúvida, porque uma primeira visão
que se pode ter é aquela que diz respeito é a da hierarquização dos créditos na
falência, prevista no art. 83 da LRF. Referido dispositivo legal estabelece uma
ordem de pagamento, primeiro para os créditos decorrentes de acidente de
trabalho e para os trabalhistas, estes limitados a cento e cinquenta salários
mínimos, em seguida para os créditos gravados com direito real de garantia,
até o limite do valor do bem gravado, terceiro para os créditos tributários e
assim por diante.

Todavia, a ideia de hierarquização deve ser afastada por completo na


recuperação judicial, porque a hierarquização dos créditos que existe na
falência não guarda nenhuma pertinência com o procedimento de recuperação
judicial. No procedimento recuperacional, não existe ordenação de créditos por
hierarquia. O que há, tal como nos mostra o art. 41 da LRF, é tão somente um
agrupamento dos créditos em quatro diferentes classes, para fins de votação
na assembleia geral de credores.

Em outras palavras, embora seja comum também na recuperação


judicial o pagamento dos trabalhadores e dos acidentados no trabalho em
primeiro lugar, tal se dá porque o art. 54 da LRF estipula para eles um prazo
máximo para pagamento, deixando livre a negociação para as demais classes
de credores, e não porque eles estariam no topo de uma pirâmide na
recuperação judicial.

A título de exemplo, se um hipotético plano de recuperação judicial


fixar que os créditos trabalhistas e acidentários serão pagos em doze parcelas
mensais e que, ao mesmo tempo e no mesmo número de parcelas, serão
adimplidos débitos em atraso com os credores quirografários fornecedores de
insumos da empresa, não há equívoco nesse arranjo com pagamentos
simultâneos a classes diversas. A Lei autoriza que a assembleia geral de
credores assim vote e aprove.

Portanto, na recuperação judicial, a classificação dos créditos serve


somente ao propósito de melhor organizar o peso dos votos na assembleia
geral de credores.

Feito o esclarecimento, o art. 41 da LRF separa os credores sujeitos à


recuperação judicial em quatro grupos.

No primeiro, estão os créditos derivados da legislação do trabalho ou


decorrentes de acidentes de trabalho; no segundo, os créditos com garantia

73
real; no terceiro, os quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral
ou subordinados e; no quarto, os pertencentes a microempresa ou empresa de
pequeno porte.

Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de


credores:

I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de


acidentes de trabalho;

II – titulares de créditos com garantia real;

III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio


geral ou subordinados.

IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de


pequeno porte.

Os quóruns de votação na assembleia geral e os prazos de


pagamento aos trabalhadores veremos logo adiante, em tópicos
específicos.

7.4. Conciliação e mediação na recuperação judicial

Os procedimentos de mediação e conciliação foram uma das


possibilidades introduzidas pela lei da reforma recuperacional e falimentar -
LRF para reduzir o número de processos de recuperação judicial, eliminar
conflitos parciais entre os credores e paralelos entre os sócios da recuperanda,
bem como aumentar o apoio dos credores ao plano de recuperação elaborado
pelo devedor.

Para chegar a esses objetivos, foram introduzidos quatro artigos na


LRF voltados a disciplinar os procedimentos e seus limites. Os procedimentos
de mediação e de conciliação podem contar com mediadores ou conciliadores
judiciais ou extrajudiciais, e podem ocorrer em caráter antecedente ou
incidental ao processo de recuperação judicial.

De todas as novidades, certamente a mais interessante e que tem o


condão de impactar no trâmite das execuções na Justiça do Trabalho é a
mediação em caráter antecedente ao ajuizamento do pedido de recuperação
judicial.

Previsto no art. 20-B, inciso IV, da LRF, esse procedimento cria para o
devedor a possibilidade de negociar com seus credores, inclusive trabalhistas,
ou até mesmo com grupos ou classes deles, soluções de curto prazo para a
crise econômico-financeira da empresa, evitando a iminente judicialização da
recuperação judicial.

74
Art. 20-B. Serão admitidas conciliações e mediações antecedentes ou
incidentais aos processos de recuperação judicial, notadamente: (...)

IV - na hipótese de negociação de dívidas e respectivas formas de


pagamento entre a empresa em dificuldade e seus credores, em caráter
antecedente ao ajuizamento de pedido de recuperação judicial.

Ademais, o art. 20-B, §1º, da LRF estatui que, em o devedor optando


pela mediação judicial, sua porta de entrada no Poder Judiciário será o
procedimento de mediação pré-processual, a ser instaurado junto aos
CEJUSCS empresariais criados pela Recomendação nº 71/20 do CNJ, isso
nos Tribunais onde estiverem implementados, ou em qualquer outro órgão
judicial voltado à conciliação, nos Foros e Tribunais em que isso ainda não tiver
ocorrido.

Art. 20-B. (...)

§1º Na hipótese prevista no inciso IV do caput deste artigo, será facultado às


empresas em dificuldade que preencham os requisitos legais para requerer
recuperação judicial obter tutela de urgência cautelar, nos termos do art. 305
e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil), a fim de que sejam suspensas as execuções contra elas propostas pelo
prazo de até 60 (sessenta) dias, para tentativa de composição com seus
credores, em procedimento de mediação ou conciliação já instaurado perante
o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) do tribunal
competente ou da câmara especializada, observados, no que couber, os arts.
16 e 17 da Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015.

Nessa hipótese de mediação judicial, o dispositivo em questão abre


para o devedor a possibilidade de ajuizamento, concomitante com a
instauração do procedimento de mediação pré-processual, de pedido de tutela
de urgência cautelar antecedente para que as execuções contra ele propostas
sejam suspensas pelo prazo de até sessenta dias, para evitar medidas
constritivas e expropriatórias dos seus bens durante a tentativa de composição
com os credores.

Caso não haja composição, e venha a ser ajuizado o pedido de


recuperação judicial, o art. 20-B, §3º, da LRF prevê que o período de
suspensão de até sessenta dias deverá ser deduzido do stay period do art.
6º, §4º, da LRF, se deferido futuramente o processamento da recuperação.

Art. 20-B. (...)

§ 3º Se houver pedido de recuperação judicial ou extrajudicial, observados os


critérios desta Lei, o período de suspensão previsto no § 1º deste artigo será
deduzido do período de suspensão previsto no art. 6º desta Lei.

Importante notar que essa tutela cautelar antecedente, se porventura


deferida pelo Juiz da Vara Empresarial, impacta diretamente sobre as
execuções trabalhistas de credores que estão sujeitos à recuperação judicial, o

75
que deve ser comunicado pelo devedor nas reclamatórias trabalhistas nesta
fase e observado pela Justiça do Trabalho.

Outra informação importante é a de que o parágrafo único do art. 20-C


da LRF estipula que, se for requerida a recuperação judicial no prazo de até
trezentos e sessenta dias contados de eventual acordo firmado em mediação
pré-processual, os credores terão reconstituídos seus créditos no estado em
que se encontravam antes dele, deduzidos os valores eventualmente pagos.

Art. 20-C. O acordo obtido por meio de conciliação ou de mediação com


fundamento nesta Seção deverá ser homologado pelo juiz competente
conforme o disposto no art. 3º desta Lei.

Parágrafo único. Requerida a recuperação judicial ou extrajudicial em até 360


(trezentos e sessenta) dias contados do acordo firmado durante o período da
conciliação ou de mediação pré-processual, o credor terá reconstituídos seus
direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os
valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados
no âmbito dos procedimentos previstos nesta Seção.

Por último, e para fins de registro, vale mencionar que, logo depois da
publicação da lei da reforma recuperacional e falimentar, houve uma incipiente
dúvida hermenêutica na doutrina trabalhista sobre eventual competência dos
CEJUSCS da Justiça do Trabalho para dito procedimento de mediação pré-
processual, quando envolvesse créditos dos trabalhadores.

Todavia, a incerteza logo se desfez, seja em razão de art. 20-C da LRF


positivar que eventual acordo entre o devedor e seus credores deva ser
homologado pelo Juízo competente para deferir o processamento da
recuperação judicial, isto é, o da Vara Empresarial, seja por conta de o art. 1º
da Recomendação nº 71/20 do CNJ prever posteriormente que são os
CEJUSCS empresariais o Foro adequado para tal procedimento de mediação
pré-processual.

Art. 1º. Recomendar aos tribunais brasileiros a implementação de Centros


Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania Empresariais (Cejusc
Empresarial), para o tratamento adequado de conflitos envolvendo matérias
empresariais de qualquer natureza e valor, inclusive aquelas decorrentes da
crise da pandemia de Covid-19, na fase pré-processual ou em demandas já
ajuizadas, bem como no procedimento previsto no art. 20-B, §1º da Lei n.
11.101/2005.

Todavia, em regime de acordo de cooperação judicial, o que é muito


interessante e proveitoso do ponto de vista institucional da Justiça do Trabalho,
o CEJUSC trabalhista pode se tornar competente para a mediação/conciliação
pré-processuais em contexto de recuperação judicial.

76
Resumo da aula 2

Nesta aula, verificou-se que o principal efeito da decisão que defere o


processamento da recuperação judicial é a suspensão das execuções e
medidas constritivas singulares contra a recuperanda durante o stay period,
desde que os créditos demandados nessas execuções estejam sujeitos à
recuperação.

Por conta disso, averiguou-se que não ocorre o efeito paralisador em


relação à cobrança da contribuição previdenciária e das custas processuais,
além das multas impostas pela fiscalização do trabalho, fato que, em face da
corriqueira presença dessas rubricas, autoriza o prosseguimento de inúmeras
execuções trabalhistas mesmo durante o stay period, pelo menos em relação a
tais parcelas.

77
Notou-se ainda que, nessas situações, há de se dar especial atenção
aos bens constritos, os quais não podem ser bens de capital essenciais à
continuidade da atividade econômica da recuperanda e que, se assim o forem,
podem ser objeto de comando de substituição pelo Juiz da Vara Empresarial.

Também concluiu-se que o stay period não paralisa eventual pretensão


do credor trabalhista de imputar responsabilidade secundária a terceiro
responsável solidária ou subsidiariamente e que não afeta em nada as
reclamatórias trabalhistas ilíquidas, que prosseguem até a estabilização da
decisão de liquidação de sentença, com dispensa de garantia do juízo para a
oposição dos embargos à execução pela recuperanda e possibilidade de
pedido de reserva para garantir o direito a voto na assembleia geral de
credores.

Avaliou-se que os créditos sujeitos à recuperação precisam ser nela


habilitados por meio de certidões emitidas pela Justiça do Trabalho,
contemplando juros e correção monetária até a data do pedido de recuperação
judicial, mas sem significar que essas verbas acessórias não sigam correndo
durante o processo recuperacional, pois tudo dependerá de como o plano de
recuperação irá tratá-las. Viu-se, também, que, depois da expedição de
certidões, caso não restem créditos executáveis na Justiça do Trabalho, o
processo deve ser arquivado provisoriamente.

Finalmente, compreendeu-se que, embora com algum dissenso


jurisprudencial, os depósitos judiciais feitos pela empresa antes da
recuperação judicial a ela pertencem e devem ser liberados não ao trabalhador
da execução singular, mas ao Juízo da Vara Empresarial.

Até a próxima aula!

78
AULA 3
Recuperação Judicial – Parte III (Plano de
Recuperação Judicial e Responsabilidades na
Recuperação Judicial)

8. O plano de recuperação judicial

8.1. Apresentação do plano

A contar da publicação da decisão que defere o processamento da


recuperação, o art. 53 da LRF marca para a recuperanda o início de um prazo
de sessenta dias para a apresentação do plano de recuperação judicial, o qual
deverá discriminar de forma pormenorizada os meios de recuperação a ser
empregados, incluindo as datas de pagamento às classes de credores, tudo
conforme o art. 50 da LRF, demonstrar a viabilidade econômica da empresa e
ser acompanhado de um laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens
e ativos, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa
especializada.

Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em Juízo no


prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que
deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em
falência, e deverá conter (...)

A falta de apresentação do plano no prazo leva à convolação em


falência.

Já a sua apresentação faz com que o Juízo da Vara Empresarial, em


conformidade com o art. 53, parágrafo único, da LRF, ordene a publicação de
um edital, com dois objetivos: o primeiro é dar notícia aos credores sobre o
recebimento do plano e o segundo é abrir o prazo de trinta dias consoante o
art. 55 da LRF, para os credores manifestarem, querendo, eventual objeção ao
plano.

Art. 53. (...)

Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos


credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo
para a manifestação de eventuais objeções, observado o art. 55 desta Lei.

79
Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de
recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação da
relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei.

8.1.1. Prazos para o pagamento de credores trabalhistas e


acidentários

O art. 50 da LRF prevê uma série de possibilidades para o devedor


adotar em seu plano de recuperação judicial, que vão desde a venda de ativos
e a alteração do controle societário da empresa, até a solicitação de prazos e
condições especiais para o pagamento dos credores de todas as classes.

Isso quer dizer que não há vedação legal para que o plano preveja a
novação e o parcelamento dos créditos trabalhistas, o que pode incluir deságio,
antecipação de parcelas com descontos, exclusão ou substituição dos índices
de juros e correção monetária, realização de leilões reversos quando houver
saldo no fluxo de caixa, etc.

Leilão reverso é uma modalidade de deságio em que os credores


interessados em participar e que concederem os maiores
descontos terão seus créditos satisfeitos antes dos demais.

Nada obstante essa liberdade que a recuperanda tem na apresentação


dos meios de recuperação judicial, o art. 54 da LRF fixa termos finais para o
pagamento dos créditos trabalhistas e decorrentes de acidente do trabalho, os
quais são inegociáveis.

Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1
(um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de
recuperação judicial.

§ 1º. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para
o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos
créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses
anteriores ao pedido de recuperação judicial.

§ 2º O prazo estabelecido no caput deste artigo poderá ser estendido em até


2 (dois) anos, se o plano de recuperação judicial atender aos seguintes
requisitos, cumulativamente:

I - apresentação de garantias julgadas suficientes pelo juiz;

80
II - aprovação pelos credores titulares de créditos derivados da legislação
trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho, na forma do § 2º do art.
45 desta Lei; e

III - garantia da integralidade do pagamento dos créditos trabalhistas.

Por conseguinte, o plano de recuperação judicial não poderá prever


prazo superior a um ano para pagamento com algum tipo de deságio dos
créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho, a contar da
decisão que homologar a aprovação do plano pela assembleia geral de
credores e conceder a recuperação judicial, marco inicial este fixado pela
jurisprudência do STJ (REsp nº 1.924.164/SP, julgado em 15/06/2021).

Ademais, para os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial


vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial,
limitados a cinco salários-mínimos por trabalhador, o plano não poderá prever
prazo de pagamento superior a trinta dias, também contados da decisão que
homologar a aprovação do plano pela assembleia geral de credores.

Agora, em novidade trazida pela lei da reforma recuperacional e


falimentar, caso o devedor opte por não aplicar qualquer deságio aos créditos
trabalhistas e apresente garantias julgadas suficientes pelo Juiz da Vara
Empresarial, o art. 54, §2º, da LRF lhe concede outros dois anos adicionais
para o seu pagamento, num total de três, desde que, obviamente essa
proposta seja aprovada pelos trabalhadores dessa classe, no quórum de
maioria simples entre os presentes na assembleia geral, independentemente
do valor do crédito, conforme o art. 45, §2º, da LRF, como será abordado em
seguida.

Ressalte-se aqui que os créditos decorrentes de acidentes de trabalho


são levados a reboque pelos créditos trabalhistas para o prazo total de três
anos para pagamento, mas a eles não é garantida a integralidade do
pagamento, como podemos observar no silêncio eloquente do inciso III do §2º
do art. 54 da LRF.

O art. 54, §2º, III, da LRF demanda a integralidade do


pagamento dos créditos trabalhistas, o que, a título de
lembrança, envolve também os juros e a correção monetária
incidentes após o ajuizamento da recuperação judicial.

81
8.2. Assembleia geral de credores

Em conjunto com o administrador judicial, o gestor judicial e o comitê


de credores, a assembleia geral integra os órgãos da recuperação judicial.
Suas atribuições estão no art. 35 da LRF e uma das mais relevantes é a
deliberação acerca do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor,
sempre que houver objeções por parte de algum credor.

Com efeito, não existindo oposição por parte de nenhum deles, resta
esvaziada a atribuição da assembleia geral de apreciação do plano e, em
conformidade com o art. 58 da LRF, cabe ao Juiz da Vara Empresarial
homologá-lo diretamente, concedendo a recuperação judicial.

Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação


judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos
do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de
credores na forma dos arts. 45 ou 56-A desta Lei.

Sem embargo, como essa aquiescência integral é raríssima de se ver


na prática, a normalidade dos processos conduz à necessidade de convocação
da assembleia geral de credores para deliberar acerca do plano de
recuperação judicial, o que é feito pelo Juízo da Vara Empresarial através da
publicação de edital com antecedência de quinze dias e cuja data de realização

82
não deve ultrapassar os cento e cinquenta dias contados do deferimento de
processamento da recuperação judicial, como manda o §1º do art. 56 da LRF.

Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação


judicial, o juiz convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre
o plano de recuperação.

§1º A data designada para a realização da assembleia-geral não excederá


150 (cento e cinquenta) dias contados do deferimento do processamento da
recuperação judicial.

O quórum de instalação ou deliberação da assembleia geral de


credores está no art. 37, §2º, da LRF e, em primeira convocação, é atingido
com a presença dos credores titulares de mais da metade dos créditos de cada
uma das quatro classes, ou seja, trata-se de quórum per creditum, e não per
capita. Não obtido este quórum, ela pode ser instalada em segunda
convocação, com qualquer número.

Art. 37. (...)

§2º A assembleia instalar-se-á, em 1ª (primeira) convocação, com a presença


de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe,
computados pelo valor, e, em 2ª (segunda) convocação, com qualquer
número.

Questão interessante é a de que os §§5º e 6º do art. 37 da LRF


autorizam que os trabalhadores que assim o desejarem sejam representados
por procurador ou por seu sindicato de classe, bastando, neste segundo caso,
que a entidade sindical apresente ao administrador judicial, ao menos dez dias
antes da assembleia, a relação dos trabalhadores que pretende representar.

Art. 37. (...)

§ 5º Os sindicatos de trabalhadores poderão representar seus associados


titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de
acidente de trabalho que não comparecerem, pessoalmente ou por
procurador, à assembleia.

§ 6º Para exercer a prerrogativa prevista no § 5º deste artigo, o sindicato


deverá:

I – apresentar ao administrador judicial, até 10 (dez) dias antes da


assembleia, a relação dos associados que pretende representar, e o
trabalhador que conste da relação de mais de um sindicato deverá
esclarecer, até 24 (vinte e quatro) horas antes da assembleia, qual sindicato o
representa, sob pena de não ser representado em assembleia por nenhum
deles;

83
IMPORTANTE:

O art. 37, §6º, inciso I, da LRF limita a representação do


sindicato aos seus associados, mas sabemos que, à luz do art.
8º, inciso III, da Constituição Federal, e do julgado em
18/06/2015 pelo STF no RE nº 883.642/AL, com repercussão
geral, eles representam todos os membros da categoria.

8.3. Aprovação do plano e concessão da recuperação


judicial

Uma vez instalada a assembleia geral para deliberar sobre o plano de


recuperação judicial apresentado pelo devedor, o plano será aprovado se
atendidos os quóruns do art. 45 da LRF.

Segundo este dispositivo, as quatro classes de credores deverão


aprovar o plano, sendo que nas classes I e IV, isto é, as classes das pessoas
trabalhadoras e acidentadas no trabalho e micro e pequenos empresários/as, o
quórum de aprovação é pela maioria simples dos credores presentes,
independentemente do valor do seu crédito.

Já nas classes II e III, os credores com garantia real e os credores


quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados,
esse quórum passa por dupla verificação: só será aprovado o plano se
confirmado por mais da metade do valor total dos créditos presentes à
assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.

Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as


classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a
proposta.

§ 1º Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta
Lei, a proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da
metade do valor total dos créditos presentes à assembleia e,
cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.

§ 2º Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta


deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes,
independentemente do valor de seu crédito.

O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de
verificação de quórum de deliberação se o plano de recuperação judicial não

84
alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito (§ 3º do
art. 45 da LRF).

Buscando diminuir as burocracias do procedimento assemblear, a lei


da reforma recuperacional e falimentar inseriu o art. 56-A na LRF, permitindo a
substituição da assembleia geral por comprovantes de adesão dos credores
que representem mais da metade do valor dos créditos sujeitos à recuperação
judicial, observados ainda os quóruns específicos de deliberação do art. 45 da
LRF.

Art. 56-A. Até 5 (cinco) dias antes da data de realização da assembleia-geral


de credores convocada para deliberar sobre o plano, o devedor poderá
comprovar a aprovação dos credores por meio de termo de adesão,
observado o quórum previsto no art. 45 desta Lei, e requerer a sua
homologação judicial.

Se esses comprovantes forem apresentados ao Juízo da Vara


Empresarial até cinco dias antes da realização da assembleia geral, a
realização da assembleia é dispensada, o plano é homologado e a
recuperação judicial é concedida, gerando certos efeitos, alguns dos quais
veremos a seguir.

Diante de condições bem específicas previstas no §1º do art. 58


da LRF, o plano de recuperação judicial pode ser homologado
pelo Juiz da Vara Empresarial mesmo contra a vontade da
assembleia geral. Essa decisão é chamada de cram down.

Após aprovado o plano de recuperação judicial, o art. 57 da LRF


exige que o devedor apresente certidões negativas de débitos
tributários, as quais são obtidas com o efetivo pagamento dos
tributos, algo raríssimo de acontecer neste cenário, ou com o
parcelamento da dívida fiscal, na forma do art. 68 da LRF.

8.3.1. Efeitos da concessão da recuperação judicial

O primeiro efeito da concessão da recuperação judicial está


determinado no art. 59 da LRF e é a vinculação do devedor e de todos os

85
credores sujeitos à recuperação judicial às estipulações do plano aprovado,
tendo sido vencedores ou vencidos na assembleia geral.

O segundo é a novação dos créditos submetidos à recuperação


judicial. O crédito que existia antes do pedido de recuperação é extinto e, em
seu lugar, surge um novo crédito de mesma natureza jurídica, porém nas
condições e modo estabelecidos pelo plano. Em outras palavras, os créditos
trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho continuam mantendo a
natureza alimentar do que lhes precedeu, mas seu valor, vencimento e índices
de atualização e juros são substituídos por aqueles aprovados pela assembleia
geral.

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos


anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos,
sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.

Além disso, é importante ressaltar que são afetados pela novação


todos os créditos constituídos antes do pedido, mesmo que ainda não tenham
sido habilitados na recuperação judicial, seja por desídia do credor, seja pelo
fato de sua demanda judicial contra o credor ainda não estar liquidada e não
ter havido pedido de reserva.

A sujeição independentemente de habilitação ocorre porque, se é


dever da recuperanda informar na petição inicial quem são os seus credores,
também é ônus imposto a estes o de se habilitarem ou impugnarem a lista do
administrador que não os incluiu. Se assim não o fosse, muitos credores
certamente prefeririam ficar de fora do quadro geral, para buscar algum tipo de
tratamento diferenciado na sua ação individual.

Outro aspecto significativo é que a novação dos créditos está sujeita a


um termo resolutivo, consistente no cumprimento do plano de recuperação pelo
período de fiscalização judicial, que pode durar até dois anos, conforme fixar o
Juiz da Vara Empresarial. De acordo com as disposições do art. 61 da LRF na
contingência de as obrigações do plano não serem satisfeitas nesse interregno,
a recuperação judicial será convolada em falência, inclusive de ofício, e os
credores terão seus direitos reconstituídos nas condições originalmente
previstas, abatidos possíveis valores pagos.

Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá
determinar a manutenção do devedor em recuperação judicial até que sejam
cumpridas todas as obrigações previstas no plano que vencerem até, no
máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial,
independentemente do eventual período de carência.

§1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento


de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da
recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei.

86
§2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e
garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores
eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no
âmbito da recuperação judicial.

O prazo de até dois anos e a discricionariedade do Juiz da Vara


Empresarial para escolher o tempo de fiscalização judicial da
recuperação são novidades da lei da reforma recuperacional e
falimentar. Antes dela, o caput do art. 61 da LRF fixava um
prazo imutável de dois anos para a fiscalização.

Por outro lado, o art. 62 da LRF estipula que, decorrido o interregno de


fiscalização judicial, a novação dos créditos se estabiliza em definitivo e, na
hipótese de descumprimento do plano, cabe ao credor lesado ou retomar a sua
execução singular, porém com base no crédito novado, ou requerer a quebra
do devedor, com fundamento no art. 94, inciso III, alínea “g”, da LRF.

Art. 62. Após o período previsto no art. 61 desta Lei, no caso de


descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano de recuperação
judicial, qualquer credor poderá requerer a execução específica ou a falência
com base no art. 94 desta Lei.

Em virtude dos efeitos do termo resolutivo da novação, também


não é permitido a um trabalhador que recebeu seus créditos
com deságio na recuperação judicial retornar posteriormente à
reclamatória trabalhista de origem e postular a diferença entre
os valores originários e os efetivamente recebidos.

Essa situação muito eventualmente pode acontecer em uma


reclamatória trabalhista. Isso porque outro efeito da concessão da recuperação
judicial é a manutenção da suspensão das execuções de créditos trabalhistas
ou acidentários durante todo o período de fiscalização judicial, com
arquivamento provisório caso não haja, nos mesmos autos, outros créditos não
sujeitos à recuperação, como o previdenciário e as custas processuais.

É possível que um plano de recuperação preveja três anos para o


pagamento de créditos trabalhistas ou acidentários e seja descumprido
somente depois do final do período de fiscalização judicial. Diante disso, a
pessoa trabalhadora prejudicada, em vez de buscar a falência do devedor,
pode talvez preferir voltar à sua reclamatória trabalhista originária e buscar a
execução do saldo devedor do seu crédito novado.

87
Nada obstante, essa hipótese é muito rara de ocorrer na prática, tendo
em vista que provavelmente outros credores buscarão o caminho da falência,
mantendo ou fazendo que se retome a suspensão da execução nas
reclamatórias trabalhistas em geral.

8.3.2. Encerramento da recuperação judicial

O devedor ficará sob fiscalização judicial pelo interregno de até dois


anos após a concessão da recuperação. Conforme o art. 63 da LRF, se no
período de fiscalização tiverem sido cumpridas todas as obrigações vencidas e
previstas no plano, o Juiz da Vara Empresarial declarará por sentença a
extinção do processo de recuperação judicial, ainda que remanesçam
obrigações a serem vencidas e que eventualmente não tenham sido
consolidadas no quadro geral de credores.

Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art.


61 desta Lei, o juiz decretará por sentença o encerramento da recuperação
judicial e determinará: (...)

8.4. Rejeição do plano de recuperação judicial

Pode ocorrer do plano de recuperação judicial não ser aprovado pela


assembleia geral de credores e de não haver quórum para o cram down.
Nessa contingência, a lei da reforma recuperacional e falimentar modificou o

88
art. 56, §4º, e o art. 73, inciso III, da LRF, e não mais permite a convolação
automática em falência.

Art. 56. (...)

§4º Rejeitado o plano de recuperação judicial, o administrador judicial


submeterá, no ato, à votação da assembleia-geral de credores a concessão
de prazo de 30 (trinta) dias para que seja apresentado plano de recuperação
judicial pelos credores.

Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação


judicial: (...)

III - quando não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º do art. 56 desta Lei, ou
rejeitado o plano de recuperação judicial proposto pelos credores, nos termos
do § 7º do art. 56 e do art. 58-A desta Lei;

No regime atual, o administrador judicial precisa submeter à apreciação


imediata da assembleia geral a concessão ou não de um prazo de trinta dias
para que seja apresentado o plano de recuperação judicial alternativo pelos
credores, o qual deve observar uma série de requisitos previstos no §6º do art.
56 da LRF e, por óbvio, contar com a aquiescência do devedor.

Rejeitada na assembleia geral a concessão desse prazo por mais da


metade dos créditos presentes, ou ainda, não apresentado plano alternativo
pelos credores até o seu final, o Juiz da Vara Empresarial convolará a
recuperação judicial em quebra.

Essa convolação em falência também ocorrerá caso o devedor ou a


assembleia geral, em sessão futura, rejeitarem o plano alternativo proposto
pelos credores, tudo na forma do §8º do art. 56 da LRF.

Art. 56. (...)

§8º Não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º deste artigo, ou rejeitado o


plano de recuperação judicial proposto pelos credores, o juiz convolará a
recuperação judicial em falência.

8.5. Convolação da recuperação judicial em falência

Tanto as situações acima descritas, como outras previstas no art. 73


da LRF, também podem levar à convolação da recuperação judicial em
falência. São elas a falta de apresentação do plano no prazo de até sessenta
dias do processamento da recuperação judicial, o descumprimento do plano
durante a sua execução, o descumprimento de eventual parcelamento de
créditos fiscais e a prática de atos de esvaziamento patrimonial do devedor que
inviabilizem o cumprimento das suas obrigações. A saber:

89
Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação
judicial:

I – por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42


desta Lei;

II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo


do art. 53 desta Lei;

III - quando não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º do art. 56 desta Lei, ou
rejeitado o plano de recuperação judicial proposto pelos credores, nos termos
do § 7º do art. 56 e do art. 58-A desta Lei;

IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de


recuperação, na forma do § 1º do art. 61 desta Lei.

V - por descumprimento dos parcelamentos referidos no art. 68 desta Lei ou


da transação prevista no art. 10-C da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; e

VI - quando identificado o esvaziamento patrimonial da devedora que


implique liquidação substancial da empresa, em prejuízo de credores não
sujeitos à recuperação judicial, inclusive as Fazendas Públicas. (...)

9. Alienação dos ativos da recuperanda

Depois de ajuizada a ação de recuperação judicial, o devedor passa a


sofrer limitações quanto à disponibilidade sobre os bens de seu ativo não
circulante. Conforme o art. 66 da LRF, somente poderá haver a alienação ou
a oneração desses bens se houver previsão no plano de recuperação judicial
aprovado pela assembleia geral, ou se o Juiz da Vara Empresarial permitir,
depois de ouvido o comitê de credores ou, excepcionalmente, a assembleia.

De acordo com o art. 142, §8º, da LRF, a venda de ativos da


recuperanda por qualquer modalidade que seja feita é sempre considerada
uma alienação judicial e, por força do parágrafo único do art. 60 e do §3º do
art. 66 da LRF, os bens comercializados, inclusive se compuserem unidade
produtiva isolada, são entregues ao adquirente livres de quaisquer ônus, não
havendo possibilidade de sucessão deste em obrigações do devedor, inclusive
de natureza trabalhista, salvo fraude (art. 9 da CLT).

90
Ativo circulante são bens que podem ser convertidos em
dinheiro em curto espaço de tempo e que normalmente são
destinados à comercialização pelo empresário, no
desenvolvimento da sua atividade econômica. São exemplos as
matérias-primas e as mercadorias. Já o ativo não circulante
representa o contrário: bens que não podem transformados em
dinheiro em curto espaço e que normalmente são destinados à
produção. São, dentre outros, as unidades produtivas isoladas,
os demais bens de capital e a propriedade intelectual.

Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação


judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz
ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei.

Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não


haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor de qualquer
natureza, incluídas, mas não exclusivamente, as de natureza ambiental,
regulatória, administrativa, penal, anticorrupção, tributária e trabalhista,
observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.

Na sua redação original, o parágrafo único do art. 60 da LRF foi


declarado constitucional pelo STF na ADI nº 3.934/DF.

A lei da reforma recuperacional e falimentar trouxe apenas


aperfeiçoamento de redação ao dispositivo.

Unidade produtiva isolada é um conceito trazido pelo art. 60 e pelo


art. 60-A da LRF que se assemelha à nossa concepção trabalhista de
estabelecimento ou até de filial. Embora seja uma das preferidas pelo art. 140
da LRF para a realização de ativos no processo falimentar, na recuperação
judicial é uma modalidade sensível de alienação, pois pode tornar inviável o
desenvolvimento da atividade empresarial e comprometer a própria
recuperação.

É por isso que há atenção destacada do legislador em relação às


unidades produtivas isoladas e à fraude em sua aquisição.

Art. 60-A. A unidade produtiva isolada de que trata o art. 60 desta Lei poderá
abranger bens, direitos ou ativos de qualquer natureza, tangíveis ou
intangíveis, isolados ou em conjunto, incluídas participações dos sócios.

91
Falando em fraude na alienação de unidade produtiva isolada, vale
registrar acórdão da 7ª Turma do TST (RR nº 2383-89.2010.5.02.0075,
julgado em 20/4/2022), em que houve o reconhecimento de fraude e, por
conseguinte, de sucessão trabalhista da adquirente, por conta da transferência
de todos os ativos da recuperanda para ela, subvertendo a lógica do processo
de recuperação judicial.

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RÉ . LEI Nº 13.467/2017.


FASE DE EXECUÇÃO . TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA DA CAUSA
RECONHECIDA . Constata-se que há transcendência jurídica da causa,
considerando o debate em torno de direitos e garantias constitucionais de
especial relevância, com a possibilidade de reconhecimento de afronta direta
a dispositivo da Lei Maior, a justificar que se prossiga no exame do apelo.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. MANIFESTAÇÃO DA
CORTE DE ORIGEM SOBRE QUESTÃO SUFICIENTE À MANUTENÇÃO DA
DECISÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. O exame dos autos revela que a Corte a
quo proferiu decisão completa, válida e devidamente fundamentada, razão
pela qual não prospera a alegada negativa de prestação jurisdicional.
Constata-se do acórdão recorrido que foi levada em consideração, no
deslinde da controvérsia, a circunstância da homologação judicial do plano de
recuperação judicial, consoante acima destacado . Outrossim, os argumentos
expostos pelo Tribunal Regional, ainda que de forma implícita, revelam que ,
não obstante a aprovação da assembleia geral de credores e a chancela do
Judiciário, a inobservância de premissas básicas acerca da transação
realizada, a exemplo da transferência de todo ativo da empresa recuperanda,
é suficiente para conclusão do afastamento da blindagem prevista na Lei nº
11.101/2005. Isso retira qualquer utilidade no provimento em questão
(acolhimento da negativa), uma vez que, mesmo com eventual manifestação
expressa sobre os pontos ventilados pela empresa na preliminar de nulidade,
subsistirá fundamento bastante, por si só, para manutenção do desfecho
adotado na origem. Recurso de revista não conhecido . SUCESSÃO
TRABALHISTA. AQUISIÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS DA EMPRESA
RECUPERANDA. TRANSFERÊNCIA TOTAL DOS ATIVOS. LEI DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AFASTAMENTO DA BLINDAGEM PREVISTA
NO ARTIGO 60, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 11.101/2005.
DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS NÃO VIOLADOS. HOMOLOGAÇÃO
DO PLANO EM DATA ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI Nº 14.112/2020. De
início, é preciso esclarecer que o artigo 50, XVIII, incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020, o qual possibilitou a venda integral da devedora como um dos meios
de recuperação judicial, não se aplica à hipótese, uma vez que a
homologação do plano ocorreu em data anterior à vigência da referida norma
(7/2/2009), quando ausente tal previsão. Assim, a apreciação da controvérsia,
no particular, tomará por base o ordenamento jurídico vigente à época dos
fatos. Dito isso, prossegue-se na análise do caso concreto . O TRT, com base
no conjunto fático-probatório, em especial no parecer coligido aos autos,
afastou a norma prevista no artigo 60, parágrafo único, da Lei nº 11.101/2005
e reconheceu a sucessão da recorrente nas obrigações trabalhistas da
empresa Independência S/A, fundamentalmente, por dois argumentos: a)
transferência de todo o ativo desta para a adquirente; e b) ausência de hasta
pública para venda das unidades produtivas da recuperanda. Embora a
alienação de ativos sem a realização de hasta pública possa ser validada por
posterior homologação judicial, como decidido pelo Pleno desta Corte
Superior, no julgamento do IRR nº 69700-28.2008.5.04.0008, em 22/5/2017,

92
a aquisição de todos os estabelecimentos da primeira ré (premissa
insuscetível de modificação nesta seara, pelo óbice da Súmula nº 126 do
TST), subverte toda lógica contida no mencionado dispositivo legal e na
operação que ele representa . No bojo do julgamento da ADI nº 3.934/DF, em
que foi declarada a constitucionalidade do artigo 60, parágrafo único, da Lei
nº 11.101/2005, o Supremo Tribunal Federal esclareceu: "Do ponto de vista
teleológico, salta à vista que o referido diploma legal buscou, antes de tudo,
garantir a sobrevivência das empresas em dificuldades - não raras vezes
derivadas das vicissitudes por que passa a econômica globalizada -,
autorizando a alienação de seus ativos, tendo em conta, sobretudo, a função
social que tais complexos patrimoniais exercem , a teor do disposto no art.
170, III, da Lei Maior. (...) O referido processo tem em mira não somente
contribuir para que a empresa vergastada por uma crise econômica ou
financeira possa superá-la, eventualmente, mas também busca preservar, o
mais possível, os vínculos trabalhistas e a cadeia de fornecedores com os
quais ela guarda verdadeira relação simbiótica ." (ADI 3934, Relator(a):
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2009, DJe-208
DIVULG 05-11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381-02 PP-00374
RTJ VOL-00216-01 PP-00227) (grifo nosso). Em interpretação dos aludidos
fundamentos, não é crível, portanto, que os efeitos da blindagem possam
alcançar situações em que houve a transmissão de todos os bens da
empresa em recuperação judicial para a adquirente, a fulminar a continuidade
de suas atividades. Por isso, a compreensão literal, mais adequada ao caso,
revela que esse resultado - afastamento de eventual sucessão do
arrematante nas obrigações anteriores do devedor - só acontecerá quando a
aquisição se referir a filiais ou unidades produtivas isoladas , pois, somente
assim, restaria garantido o princípio da preservação da empresa, em exata
aplicação do artigo 47 da Lei de Recuperação Judicial. Embora o conceito de
UPI seja indeterminado - diferente do relacionado à filial, amplamente tratado
como o estabelecimento secundário que possui relação de dependência e
subordinação com a matriz - é certo que ele também está atrelado ao
destacamento de parcela do patrimônio do devedor com destinação
produtiva. Nesse contexto, não se amolda à hipótese normativa a situação
dos autos; neles, demonstrou-se que "a Independência S/A alienou todos os
estabelecimentos que possuía para a agravante, menos um (o de Santana de
Parnaíba que, posteriormente, acabou sendo arrendado para a agravante),
resultando a transação, então, na completa transferência de todo o ativo para
a recorrente ". Ressalte-se que não se trata, aqui, de perscrutar acerca da
validade do plano de recuperação judicial, que, como visto, já foi homologado
pela autoridade competente, mas, apenas, de aferir a possibilidade de
incidência da exceção legal prevista em lei, em face do descumprimento das
condições necessárias para tanto (obtenção do regular enquadramento
jurídico). Por coerência, então, com os conceitos legais e doutrinários
declinados, é impossível determinar a blindagem patrimonial do adquirente,
pelas obrigações trabalhistas anteriores à alienação, quando comprovado o
esvaziamento patrimonial da empresa recuperanda, em prejuízo do que
prescreve o artigo 60, parágrafo único, da Lei nº 11.101/2005. Não socorre à
ré, ainda, a alegação da necessidade de interpretação conjunta desse
dispositivo com o artigo 141, caput e II, do mesmo arcabouço legal, tendo em
vista que o último se aplica, unicamente, no âmbito da falência. Logo, deve
prevalecer, no presente caso, a regra geral prevista nos artigos 10 e 448 da
CLT, com o reconhecimento da sucessão empresarial . Saliente-se, por fim,
que esta Corte Superior já firmou posicionamento no sentido de que somente
a inequívoca dissonância entre a decisão transitada em julgado e aquela
proferida em sede de execução, caracteriza afronta à coisa julgada

93
(Orientação Jurisprudencial nº 123 da SbDI-II do TST), o que não é a ocasião
dos autos. Incólumes os demais artigos indicados pela parte. Por todo o
exposto, deve ser mantida a decisão regional. Recurso de revista não
conhecido" (RR-2383-89.2010.5.02.0075, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio
Mascarenhas Brandao, DEJT 13/05/2022).

Por outro lado, no nacionalmente conhecido caso Varig, por entender


pela não ocorrência de fraude na alienação de unidade produtiva isolada, o
TRT da 2ª Região editou a Súmula nº 37, não reconhecendo a existência de
sucessão trabalhista.

Súmula nº 37 do TRT da 2ª Região. Varig. Sucessão trabalhista. Não


ocorrência. Ao julgar a ADI 3934/DF o E. STF declarou constitucionais os
arts. 60, parágrafo único e 141, II da lei 11.101/2005, que preconizam a
ausência de sucessão no caso de alienação judicial em processo de
recuperação judicial e ou falência. O objeto da alienação efetuada em plano
de recuperação judicial está livre de quaisquer ônus, não se caracterizando a
sucessão empresarial do arrematante adquirente, isento das dívidas e
obrigações contraídas pelo devedor, inclusive quanto aos créditos de
natureza trabalhista.

Nada obstante os entendimentos das Cortes trabalhistas, o STJ


entende que é o Juízo da Vara Empresarial o competente para avaliar a
existência de sucessão, inclusive trabalhista, quando da alienação dos ativos
da recuperanda no processo de recuperação judicial, não podendo tal decisão
ser questionada na Justiça do Trabalho, sob pena de invasão da competência
daquele e insegurança jurídica para o adquirente (CC nº 118.183/MG,
julgado em 09/11/2011).

10. Recuperação judicial de microempresas e


empresas de pequeno porte

Em virtude do alto custo e da complexidade ínsitos ao processo de


recuperação judicial, o §1º do art. 70 da LRF outorga ao devedor enquadrado
no conceito de microempresa ou empresa de pequeno porte a faculdade de
optar por um procedimento simplificado, caso assim o desejem, chamado plano
especial de recuperação judicial. Outrossim, a lei da reforma recuperacional e
falimentar – Lei 14.112/20 - inseriu na LRF o art. 70-A e também estendeu
referido procedimento ao produtor rural com reduzido endividamento, desde
que o montante dos créditos sujeitos à recuperação não exceda a 4,8 milhões
de reais.

Art. 70. (...)

94
§1º As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas
em lei, poderão apresentar plano especial de recuperação judicial, desde que
afirmem sua intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o art. 51 desta
Lei.

Nos termos do art. 3º da Lei Complementar nº 123/06, são


consideradas microempresas e empresas de pequeno porte o
empresário individual, a sociedade limitada unipessoal e a
sociedade por quotas de responsabilidade limitada cuja receita
bruta anual não ultrapassar 360 mil reais para a microempresa
e 4,8 milhões de reais para a empresa de pequeno porte (os
valores estão atualizados pela Lei Complementar nº 155/16).

O plano especial de recuperação judicial possui limitações quanto ao


período de carência e ao parcelamento dos créditos quando comparado com o
plano tradicional. Os credores, independentemente de sua classe, devem ser
satisfeitos em, no máximo, trinta e seis parcelas mensais, iguais e sucessivas,
atualizadas pela SELIC, e o pagamento da primeira parcela deverá ocorrer no
prazo máximo de cento e oitenta dias, contados da distribuição da petição
inicial.

O art. 71, inciso III, da LRF, além disso, permite ao devedor a


apresentação de proposta de deságio ou abatimento do valor das dívidas, mas
precisa ficar atento ao quórum de objeções dos credores, como veremos nos
próximos parágrafos.

Art. 71. O plano especial de recuperação judicial será apresentado no prazo


previsto no art. 53 desta Lei e limitar-se á às seguintes condições:

I - abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não


vencidos, excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os
fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49;

II - preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e


sucessivas, acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de
Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter ainda a proposta de
abatimento do valor das dívidas;

III – preverá o pagamento da 1ª (primeira) parcela no prazo máximo de 180


(cento e oitenta) dias, contado da distribuição do pedido de recuperação
judicial; (...)

Deferido o processamento da recuperação judicial e apresentado o


plano em até sessenta dias, o Juiz da Vara Empresarial concederá prazo de
trinta dias para os credores apresentarem as suas objeções, tal como no
procedimento tradicional. Nada obstante, não haverá assembleia geral e o
plano especial será aprovado e a recuperação concedida se as objeções não

95
ultrapassarem os quóruns do art. 45 da LRF, contados por cada uma das
quatro classes.

De outra parte, se as objeções dos credores extrapolarem esses


limites, o Juiz da Vara Empresarial deve julgar improcedente o pedido de
recuperação e decretar a falência do microempresário, da empresa de
pequeno porte ou do produtor rural com pequeno endividamento.

De resto, as outras características desse procedimento, como os


créditos abrangidos, o stay period e o período de fiscalização, são idênticos
aos da recuperação judicial tradicional.

11. Responsabilidade secundária na


recuperação judicial

Como regra geral, a responsabilidade patrimonial pelo adimplemento


da execução pertence ao devedor que consta no título executivo, de acordo
com o art. 779 do CPC. Entretanto, existem situações nas quais essa
responsabilidade pode recair sobre terceiros que constam ou não
originariamente em tal título.

É a chamada responsabilidade patrimonial secundária, derivada ou de


terceiros, que está elencada exemplificativamente no art. 790 do CPC, no
art. 2º, §2º, da CLT, no art. 448-A da CLT, no art. 455 da CLT, e no art.
5º-A, §5º, da Lei nº 6.019/74, dispositivos que, como premissa geral,
estabelecem que terceiros que não são originalmente os titulares da obrigação
podem eventualmente ser chamados a responder por elas.

Se nas reclamatórias trabalhistas singulares em face de devedor


solvente não há muita dúvida acerca da possibilidade de aplicação destes
dispositivos, inclusive com o chamamento de terceiros ao processo já em fase
de execução quando ausentes no título executivo, o debate ganha outros
contornos na ocasião em que estamos diante de empresas em recuperação
judicial.

Neste cenário, o nosso objetivo de pagamento ao credor trabalhista


pode vir a conflitar com princípios e regras da legislação recuperacional, como
os princípios da universalidade do Juízo da recuperação judicial e da par
conditio creditorum e regras como a do art. 6-C da LRF, introduzido pela lei da
reforma recuperacional e falimentar, o qual veda a atribuição de
responsabilidade a terceiros em decorrência do mero inadimplemento de
obrigações do devedor em recuperação judicial.

96
Art. 6º-C. É vedada atribuição de responsabilidade a terceiros em decorrência
do mero inadimplemento de obrigações do devedor falido ou em recuperação
judicial, ressalvadas as garantias reais e fidejussórias, bem como as demais
hipóteses reguladas por esta Lei.

Na Justiça do Trabalho, o entendimento que se tem visto é no sentido


de superar o conflito normativo sobrepujando a norma recuperacional
limitadora e fazendo a execução trabalhista singular prosseguir seu curso.

Todavia, é preciso ter a consciência de que, ao decidir de tal forma,


estamos flexionando em algum grau os dois princípios antes mencionados e
criando efeitos colaterais no sistema, dado que alguns trabalhadores irão
fatalmente receber seus créditos antes ou, quiçá, em detrimento de outros.

Portanto, especialmente nas situações de responsabilidade secundária


de terceiro que ainda não consta no título executivo, o redirecionamento da
execução trabalhista deve ser encarado como exceção a ser analisada à luz de
métodos hermenêuticos de superação de antinomias, e não como regra.

Feita a ressalva quanto aos princípios da universalidade do Juízo


recuperacional e da par conditio creditorum, regras como a do art. 6-C da LRF
impressionam menos, pois são fáceis de ser rechaçadas pela Justiça do
Trabalho.

Isso porque basta a compreensão de que esse dispositivo cria um ônus


argumentativo endereçado somente ao Juiz da Vara Empresarial: seu
comando é que, no âmbito de um processo de recuperação judicial, o
Magistrado da Vara Empresarial não pode imputar responsabilidade a terceiros
somente pelo inadimplemento do devedor. A Vara deverá ir mais longe na
argumentação, enfrentando, exemplificativamente, as premissas do art. 50 do
Código Civil, se a hipótese for de responsabilidade dos sócios, ou do art. 792
do CPC, se for de fraude à execução.

Todavia, essa mesma regra não pode ser imposta aos Juízos de
origem dos credores que se sujeitam à recuperação judicial, mas que, por
algum motivo particular, pretendem também seguir com a discussão da
responsabilidade de terceiros nesses Juízos.

Assim é que, numa execução singular em que, após a expedição da


certidão de crédito trabalhista, persista a pretensão do trabalhador em debater
nos próprios autos a responsabilidade solidária de empresa supostamente
integrante do grupo econômico da recuperanda, a apreciação a ser feita pela
Justiça do Trabalho o será à luz do art. 2º, §2º, da CLT, e não do art. 6-C da
LRF, pois possuímos um microssistema especial de normas de
responsabilidade secundária que não é derrogado pela lei recuperacional.

97
O mesmo podemos afirmar quando a pretensão for de imputação de
responsabilidade aos sócios da recuperanda: caso entendamos pela aplicação
da chamada teoria menor ou objetiva da desconsideração da personalidade
jurídica da recuperanda, o art. 6-C da LRF não representa óbice à utilização do
art. 28, §5º, do Código de Defesa do Consumidor.

Nessas situações, não há proibição legal para que o trabalhador


habilite seu crédito na recuperação judicial e proceda, ao
mesmo tempo, na sua execução perante o Juízo trabalhista,
compensando os valores que receber primeiro. Ao contrário,
interpretação analógica do art. 127 da LRF autoriza essa
conclusão.

11.1. Responsabilidade do devedor constante no título


executivo

A primeira modalidade de responsabilidade secundária objeto de


debate nas reclamatórias trabalhistas em que o devedor principal é empresa
recuperanda é a do devedor que já consta no título executivo, ou por ter
participado do processo desde a fase de conhecimento, ou pela ordem de
suspensão das execuções singulares ter sido dada pelo Juízo da Vara
Empresarial depois do trânsito em julgado da nossa decisão que o chamou ao
processo em fase de execução.

À vista disso, é preciso atenção para o fato de que não se está sequer
diante de terceiro no sentido processual, mas sim de verdadeira parte, razão

98
porque, também por esse argumento, o art. 6-C da LRF anteriormente
examinado não encontra qualquer campo de aplicação nestes casos.

O primeiro passo é classificar o devedor conforme o tipo de


responsabilidade que lhe foi imputada no título executivo, se solidária ou
subsidiária.

Caso seja da primeira espécie, não há qualquer controvérsia quanto à


possibilidade de habilitação do crédito na recuperação judicial, na forma do
art. 49, §1º, da LRF, e o prosseguimento imediato e simultâneo da execução
trabalhista contra o solidariamente coobrigado, inclusive sem o efeito de
suspensão das execuções previsto no art. 6º da LRF, consoante a Súmula nº
581 do STJ.

Súmula nº 581 do STJ. A recuperação judicial do devedor principal não


impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros
devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou
fidejussória.

No cenário de responsabilidade solidária normalmente encontramos,


por força do art. 2º, §2º, da CLT, as empresas integrantes de grupo
econômico e, com alguma divergência na jurisprudência trabalhista quanto ao
tipo de responsabilidade, os empreiteiros, subempreiteiros e donos de obra, em
razão do art. 455 da CLT, da Orientação Jurisprudencial nº 191 da SDI-1
do TST e do IRR nº 190-53.2015.5.03.0090, julgado em 11/05/2017
(Tema nº 06 da tabela de recursos de revista repetitivos do TST), desde que,
reforçamos, já constem do título executivo.

Caso se esteja diante de responsabilidade subsidiária, o benefício de


ordem de que goza esse tipo de devedor já provocou controvérsia na
jurisprudência trabalhista quanto à necessidade ou não de se aguardar o
encerramento da recuperação judicial para se redirecionar a execução
trabalhista contra ele.

Todavia, essa questão já se encontra pacificada, com muitos Tribunais


Regionais tendo emitido entendimentos uniformes sobre a possibilidade de
prosseguimento imediato e simultâneo da execução trabalhista contra o
subsidiariamente coobrigado, seja na recuperação judicial, seja na quebra,
como podemos ver na Súmula nº 20 do TRT da 1ª Região, na Súmula nº 54,
inciso I, do TRT da 3ª Região, na Orientação Jurisprudencial nº 07 da Seção
Especializada em Execução do TRT da 4ª Região, na Orientação
Jurisprudencial nº 28, inciso VII, da Seção Especializada do TRT da 9ª Região
e na Súmula nº 28 do TRT da 12ª Região.

Súmula nº 20 do TRT da 1ª Região. Responsabilidade subsidiária. Falência


do devedor principal. Continuação da execução trabalhista em face dos
devedores subsidiários. Possibilidade. A falência do devedor principal não

99
impede o prosseguimento da execução trabalhista contra os devedores
subsidiários.

Súmula nº 54 do TRT da 3ª Região. I – Deferido o processamento da


recuperação judicial ao devedor principal, cabe redirecionar, de imediato, a
execução trabalhista em face do devedor subsidiário, ainda que ente público.
Inteligência do § 1º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005.

Orientação Jurisprudencial nº 07 da Seção Especializada em Execução do


TRT da 4ª Região. Redirecionamento da execução contra devedor
subsidiário. Falência do devedor principal. A decretação da falência do
devedor principal induz presunção de insolvência e autoriza o
redirecionamento imediato da execução contra o devedor subsidiário.

Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada do TRT da 9ª


Região. (...) VII - Falência. Recuperação Judicial. Sócios responsabilizáveis e
responsáveis subsidiários. Execução imediata na Justiça do Trabalho.
Decretada a falência ou iniciado o processo de recuperação judicial, e
havendo sócios responsabilizáveis ou responsáveis subsidiários, a execução
pode ser imediatamente direcionada a estes, independentemente do
desfecho do processo falimentar. Eventual direito de regresso ou
ressarcimento destes responsabilizados deve ser discutido no Juízo
Falimentar ou da Recuperação Judicial.

Súmula nº 28 do TRT da 12ª Região. Falência ou recuperação judicial.


Responsabilidade subsidiária. Dado o caráter alimentar das verbas
trabalhistas, decretada a falência ou a recuperação judicial do devedor
principal, a execução pode voltar-se imediatamente contra devedor
subsidiário.”

Mais recentemente, por ocasião da tramitação do projeto de lei da


reforma recuperacional e falimentar, o legislador buscou retomar a tese de que
o benefício de ordem justificaria a suspensão das execuções singulares até,
pelo menos, a homologação do plano de recuperação judicial ou sua
convolação em falência, inserindo um §10 com esse texto no art. 6º da LRF.
Entretanto, o dispositivo foi vetado.

No contexto de responsabilidade subsidiária tradicionalmente estão,


por conta da Súmula nº 331, inciso IV, do TST e do art. 5º-A, §5º, da Lei nº
6.019/74, os tomadores de serviço em terceirizações, em face do art. 448-A
da CLT, os sucessores trabalhistas e, em razão do art. 50 do Código Civil ou
do art. 28, §5º, do Código de Defesa do Consumidor, os sócios e
administradores de empresas, desde que já constem do título executivo
quando do ajuizamento da recuperação judicial.

11.2. Responsabilidade do devedor não constante no


título executivo

100
A segunda possibilidade de redirecionamento da execução trabalhista
contra terceiros quando a devedora é recuperanda ocorre nas situações em
que esses terceiros ainda não constam no título executivo por ocasião da
decisão de suspensão das execuções pelo Juízo da Vara Empresarial.

Primeiro é necessário uma decisão da Justiça do Trabalho que,


baseada em um juízo provisório de verossimilhança, permita o contraditório e
determine a inclusão do terceiro no polo passivo da reclamatória trabalhista na
qualidade de corresponsável. Cabe a Justiça do Trabalho, em procedimento
não previsto em lei, mas jurisprudencialmente consagrado, determinar a
reautuação do processo e a citação do terceiro que passará a responder pelo
débito trabalhista, para que pague ou garanta a execução, sob pena de
penhora.

Segundo jurisprudência do TST, não há necessidade de instauração de


incidente de desconsideração da personalidade jurídica nessa modalidade de
chamamento ao processo (AgAIRR nº 856-80.2015.5.03.0146, julgado em
06/11/2019), como também não há impedimento para que o trabalhador, ao
mesmo tempo habilite seu crédito na recuperação judicial e persiga na
reclamatória trabalhista a responsabilização de terceiro.

Com o cancelamento da Súmula nº 205 do TST, há muito tempo se


incluem nessa conjectura as empresas integrantes de grupo econômico, não
obstante a decisão do STF no ARE nº 1.160.361/SP, julgado em
14/09/2021, mas sem efeito vinculante, que determinou à 4ª Turma do TST
revisão de julgado que havia admitido a inclusão de empresa integrante de
grupo econômico em fase de execução sem análise de constitucionalidade do
art. 513, §5º, do CPC, e com violação da Súmula Vinculante nº 10 do
STF. A 4ª Turma do TST realizou tal revisão e, no RR nº 68600-
43.2008.5.02.0089, julgado em 13/05/2022, afastou a admissão de terceiros
em fase de execução.

Será necessário acompanhar a jurisprudência do Supremo para


verificar o deslinde dessa delicada questão, que afeta não só as situações de
recuperação judicial, como as de execução trabalhista contra devedor solvente,
e pode resvalar em casos como o dos sucessores trabalhistas do art. 448-A
da CLT, dado que o encaixe jurídico é o mesmo.

De qualquer modo, ultrapassada essa questão, o próprio STJ, na sua


Súmula nº 480, surgida a partir do julgamento de diversos conflitos com os
Juízos de Varas Empresariais, reconhece a competência material da Justiça do
Trabalho para decidir sobre a execução de patrimônio de terceiros previamente
incluídos ou não no título executivo, pois estabelece que o Juízo da
recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens

101
que não estiverem abrangidos pelo plano de recuperação, que é o caso dos
bens dos devedores coobrigados.

Súmula nº 480 do STJ. O Juízo da recuperação judicial não é competente


para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de
recuperação da empresa.

A confirmar essa tese especificamente no caso de grupo


econômico, temos o AgInt nos EDcl no CC nº 150.661/SP,
julgado em 28/02/2018, em que o STJ afirmou não caracterizar
conflito de competência a ordem de Juiz do Trabalho que
determina a constrição de bens pertencentes à empresa
componente do mesmo grupo econômico da recuperanda,
porém não abrangida pelo processo de recuperação.

11.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da


recuperanda

Deixamos para análise em separado da responsabilidade do sócio da


recuperanda ainda não incluído no título executivo por ocasião da decisão de
suspensão das execuções dada pelo Juízo da Vara Empresarial primeiro
porque, em face da previsão no incidente de desconsideração da
personalidade jurídica de regras próprias conforme o art. 855-A da CLT, ele
não é afetado pela lógica jurídica do STF no ARE nº 1.160.361/SP e,
segundo porque o art. 82-A, parágrafo único, da LRF aparentemente levanta
outra barreira a esse tipo de responsabilização.

O art. 82-A da LRF está geograficamente situado em capítulo legal que


se dedica à falência e, mais do que isso, faz referência expressa à quebra, e
não à recuperação judicial, quando trata da proibição de extensão dos seus
efeitos aos sócios e administradores da falida, admitida a desconsideração da
personalidade jurídica com base no art. 50 do Código Civil.

Art. 82-A. É vedada a extensão da falência ou de seus efeitos, no todo ou em


parte, aos sócios de responsabilidade limitada, aos controladores e aos
administradores da sociedade falida, admitida, contudo, a desconsideração
da personalidade jurídica.

Parágrafo único. A desconsideração da personalidade jurídica da sociedade


falida, para fins de responsabilização de terceiros, grupo, sócio ou
administrador por obrigação desta, somente pode ser decretada pelo Juízo
falimentar com a observância do art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil) e dos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de

102
16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), não aplicada a suspensão
de que trata o § 3º do art. 134 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil).

Por conseguinte, a forma mais simples de ultrapassar esse obstáculo


na recuperação judicial é afastar a sua hipótese de incidência para este
procedimento. Todavia, também não se exige qualquer malabarismo jurídico
para obstar sua aplicação na própria falência.

Com efeito, a construção jurídica é a mesma exposta anteriormente, no


sentido de que art. 82-A da LRF e seu parágrafo único estão endereçados
apenas ao Juiz da Vara Empresarial e não impedem que a Justiça do Trabalho
conheça e julgue procedente o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica nos autos da própria reclamatória trabalhista e a ela, querendo,
aplique-se as regras próprias de microssistema especial de normas de
responsabilidade dos quotistas de sociedades de responsabilidade limitada,
leia-se o art. 28, §5º, do Código de Defesa do Consumidor.

Para os administradores de sociedades anônimas, por força do


artigo 158 da Lei nº 6.404/76, a jurisprudência trabalhista
normalmente adota a teoria maior ou subjetiva do art. 50 do
Código Civil. Nesse sentido, a Orientação Jurisprudencial nº 31
da Seção Especializada do TRT da 4ª Região consolidou
entendimento de que “é viável o redirecionamento da execução
contra sócios-controladores, administradores ou gestores de
sociedade anônima quando caracterizado abuso de poder,
gestão temerária ou encerramento irregular das atividades
empresariais”.

E aqui essa hermenêutica fica ainda mais clara quando o artigo de lei
afirma textualmente que a desconsideração da personalidade jurídica só pode
ser decretada pelo Juízo falimentar se estiverem presentes os elementos do
art. 50 do Código Civil: é um comando dirigido ao Juiz da Vara Empresarial,
que não embaraça, por si só, a atuação da Justiça do Trabalho nas
reclamatórias trabalhistas singulares.

Portanto, o artigo introduzido pela lei da reforma recuperacional e


falimentar, até por representar apenas uma melhora de redação de dispositivo
cuja inclusão se tentou fazer na Medida Provisória nº 881/19, não altera a
jurisprudência laboral que autoriza a desconsideração da personalidade
jurídica nos próprios autos da reclamatória trabalhista quando a devedora
principal é recuperanda ou falida.

103
Essa compreensão podemos ver na Súmula nº 54, inciso II, do TRT da
3ª Região e na Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso VII, da Seção
Especializada do TRT da 9ª Região, bem como no entendimento atual de
várias Turmas do TST, a exemplo da 3ª Turma, no acórdão do AIRR nº 3-
47.2017.5.02.0011, julgado em 16.10.2019, e da 7ª Turma, no acórdão do
RR nº 550-76.2014.5.02.0081, julgado em 16/2/2022.

Súmula nº 54 do TRT da 3ª Região. (...) II - O deferimento da recuperação


judicial ao devedor principal não exclui a competência da Justiça do Trabalho
para o prosseguimento da execução em relação aos sócios, sucessores
(excetuadas as hipóteses do art. 60 da Lei n. 11.101/2005) e integrantes do
mesmo grupo econômico, no que respeita, entretanto, a bens não abrangidos
pelo plano de recuperação da empresa.

Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada do TRT da 9ª


Região. (...) VII - Falência. Recuperação Judicial. Sócios responsabilizáveis e
responsáveis subsidiários. Execução imediata na Justiça do Trabalho.
Decretada a falência ou iniciado o processo de recuperação judicial, e
havendo sócios responsabilizáveis ou responsáveis subsidiários, a execução
pode ser imediatamente direcionada a estes, independentemente do
desfecho do processo falimentar. Eventual direito de regresso ou
ressarcimento destes responsabilizados deve ser discutido no Juízo
Falimentar ou da Recuperação Judicial.

De maneira muito semelhante, a jurisprudência do STJ, aqui


representada tanto pelo AgInt nos EDcl no CC nº 155.003/RS, julgado em
22/02/2018, quanto pelo CC nº 185.612/SP, julgado em 07/02/2022, na esteira
da antes citada Súmula nº 480 do mesmo Tribunal, maciçamente não
reconhece conflito de competência quando a recuperanda pretende obstar a
instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica contra
os seus sócios em reclamatória trabalhista movida contra ela.

104
12. Efeitos da recuperação judicial sobre os
contratos de trabalho ativos

A regra da legislação recuperacional é a de que a recuperação judicial


não ocasiona efeitos resilitórios automáticos em relação aos contratos
bilaterais e onerosos da recuperanda, pois existe a continuidade dos seus
negócios. Por dita razão, e ainda, por incidência do art. 449 da CLT, os
contratos de trabalho seguem ativos e inalterados.

Art. 449. Os direitos oriundos da existência do contrato de trabalho subsistirão


em caso de falência, concordata ou dissolução da empresa.

Nada obstante, eventualmente, em certos planos de recuperação


judicial existem propostas de alterações contratuais trabalhistas envolvendo
redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, dado que o
art. 50, inciso VIII, da LRF, sugere esse meio como um dos que se pode lançar
mão para a saída da crise econômico-financeira. Só não há problemas nesse
modelo de gestão se, além da aprovação do plano e da concessão da
recuperação judicial, também haja negociação coletiva com o sindicato da
categoria.

Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação


pertinente a cada caso, dentre outros: (...)

VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada,


mediante acordo ou convenção coletiva;

105
Na hipótese de haver resilição contratual motivada pela vontade da
recuperanda ou do trabalhador, todos os direitos decorrentes da modalidade de
extinção são devidos, incluindo a multa do art. 477, §8º, da CLT, em caso de
atraso no pagamento. Ao contrário da quebra, em que essa multa não é devida
por conta de a massa falida não poder dispor de nenhuma parte do seu
patrimônio, na recuperação judicial há a incidência de tal penalidade, conforme
podemos notar na Súmula nº 33 do TRT da 1ª Região e na Súmula nº 26 do
TRT da 17ª Região.

Súmula nº 33 do TRT da 1ª Região. Empresa em recuperação judicial. Art.


477, §8º, da CLT. O deferimento da recuperação judicial não desonera a
empresa do pagamento das verbas trabalhistas dentro do prazo legal. O
atraso na quitação das parcelas da rescisão sujeita o empregador à
cominação estabelecida no art. 477, §8º, da CLT.

Súmula nº 26 do TRT da 17ª Região. Empresa em recuperação judicial. Art.


477, §8º, da CLT. O deferimento da recuperação judicial não desonera a
empresa do pagamento das verbas trabalhistas dentro do prazo legal. O
atraso na quitação das parcelas da rescisão sujeita o empregador à
cominação estabelecida no art. 477, §8º, da CLT.

Seguindo lógica idêntica, o TRT da 1ª Região também tem


entendimento uniforme consubstanciado na sua Súmula nº 40,
no sentido de que é aplicável a multa processual do art. 467 da
CLT à empresa que, em processo de recuperação judicial, não
quitar as parcelas incontroversas na audiência inaugural.

Lembre-se de que as parcelas rescisórias decorrentes de resilição


contratual ocorrida depois do pedido de recuperação judicial são consideradas
extraconcursais e executadas normalmente perante a Justiça do Trabalho,
dado que os créditos constituídos depois da distribuição da ação
recuperacional não se submetem ao stay period e aos outros efeitos da LRF.

Por conta disso, não é incomum vermos empresas em situação pré-


recuperacional promoverem a despedida de má-fé de vários dos seus
empregados, sem pagamento de parcelas rescisórias, dias antes de
ingressarem com pedido de recuperação judicial.

Resumo da aula 3

106
Nesta aula, estudou-se algumas características do plano de
recuperação judicial, principalmente os prazos para pagamento dos
trabalhadores e o deságio que ele pode prever para esses créditos, caso a
proposta para o seu adimplemento ocorra em até um ano da data da decisão
que conceder a recuperação.

Estudou-se também que, para ser homologado pelo Juiz da Vara


Empresarial e posto em execução, o plano precisa ser aprovado pelas quatro
classes de credores reunidas na assembleia geral, sendo que os trabalhistas e
decorrentes de acidente do trabalho pertencem à classe I e votam per capita, e
não pelo valor do seu crédito.

Averiguou-se ainda que a rejeição do plano sem a apresentação de


alternativas pelos credores, ou rejeitadas estas pelo devedor, leva à
convolação da recuperação judicial em falência.

Também estudou-se que a concessão da recuperação mantém as


execuções trabalhistas singulares suspensas e que todos os créditos
submetidos ao procedimento são novados, novação esta que se torna definitiva
e imutável, se o plano for cumprido até o término da fiscalização judicial, o que
normalmente ocorre em dois anos.

Depois de restar evidenciada que a alienação judicial de bens no


processo recuperacional não acarreta em sucessão trabalhista do adquirente,
salvo as hipóteses de fraude, passou-se para o exame das possibilidades de
responsabilidade secundária na recuperação judicial.

Aqui descobriu-se que, embora a Lei nº 14.112/20 tenha incluído na


LRF artigos como o 6º-C e o 82-A, destinados a blindar esses terceiros, eles
em nada modificam a jurisprudência anterior, inclusive do STJ, que entendia
pela possibilidade da sua eventual responsabilização nos autos da própria
reclamatória trabalhista, estejam eles ou não no título executivo, sejam eles
sócios, administradores, sucessores ou integrantes de um mesmo grupo
econômico da recuperanda.

Para fechar, apurou-se que a recuperação judicial em absolutamente


nada afeta os contratos de trabalho e que eventuais resilições serão
consideradas despedidas sem justa causa, gerando o pagamento de todas as
parcelas rescisórias inerentes a esta modalidade de extinção contratual,
inclusive a multa decorrente do seu atraso.

107
Até a próxima aula!

108
AULA 4
Falência - Parte I (Conceitos, Sujeitos,
Competência e Classificações dos Créditos)

13. Disposições gerais

13.1. Conceito e objetivo da falência

Há crises econômico-financeiras que simplesmente não conseguem


ser superadas pelas empresas, ou porque elas são tecnologicamente
atrasadas, porque estão completamente descapitalizadas ou porque possuem
organização administrativa precária. Nessas atividades econômicas
inviabilizadas, a exclusão empresarial do mercado por meio da falência não é
um mal, mas sim uma proteção do sistema econômico-produtivo como um
todo, incluindo trabalhadores e demais credores.

Considerando que a recuperação judicial não deve ser perseguida a


qualquer custo e de que atividades econômicas inviabilizadas devem mesmo
quebrar para não prejudicar as demais, o art. 75 da LRF estabelece o conceito
da falência como o encerramento judicial dessas empresas, com a liquidação
forçada dos ativos do devedor para assegurar o pagamento aos credores,
conforme a ordem hierárquica estabelecida por lei e a par conditio creditorum.

Os objetivos da falência estão estampados nos incisos e parágrafos


deste artigo de lei e vão desde a liquidação célere acima mencionada até o
fomento do empreendedorismo, passando pela preservação e otimização dos
bens e recursos produtivos da empresa falida, com a sua realocação para
outros agentes econômicos.

Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas


atividades, visa a:

I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos


recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa;

II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à


realocação eficiente de recursos na economia; e

III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do


retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica.

109
§ 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da
economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos
demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil).

§ 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e


sociais decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata
do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia.

13.2. Pessoas sujeitas à falência

De acordo com o art. 1º da LRF, as disposições falimentares aplicam-


se a todas as pessoas naturais e jurídicas que exerçam atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, conforme
os conceitos de empresário e sociedade empresária já estudados quando do
exame da recuperação judicial.

Assim, a primeira conclusão é a de que todas as pessoas que são


beneficiárias da recuperação judicial também podem falir, incluindo o
microempreendedor individual, o empresário individual, a sociedade limitada
unipessoal, a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, a sociedade
por ações, os produtores rurais e as associações futebolísticas com registro
nas Juntas Comerciais.

Mas não são só estas formas jurídicas empresariais que estão sujeitas
à quebra.

Diferentemente da recuperação judicial, que é um benefício legal ao


empresário e às sociedades empresárias, a quebra é um mecanismo de
exclusão jurídica de empresas inviabilizadas, de maneira que certas formas
empresariais privadas da recuperação estão sujeitas à falência.

Portanto, aqui encontramos as sociedades empresárias irregulares,


também conhecidas como em comum ou de fato que, a despeito de não
possuírem personalidade, estão submetidas ao regime falimentar por força de
interpretação do art. 105, inciso IV, da LRF, na parte em que este dispositivo
autoriza o pedido de autofalência mesmo diante da ausência de contrato social
ou estatuto em vigor.

Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender


aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao Juízo
sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da
atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos: (...)

IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor


ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a
relação de seus bens pessoais;

110
13.3. Pessoas excluídas da falência

Do mesmo modo que da recuperação judicial, estão excluídas do


regime falimentar as sociedades elencadas no art. 2º da LRF e em alguns
dispositivos da legislação esparsa, o qual contempla primeiro as empresas
públicas e sociedades de economia mista e depois as instituições financeiras,
as cooperativas de crédito, as operadoras de consórcios, as entidades de
previdência complementar, as sociedades operadoras de planos de assistência
à saúde, as sociedades seguradoras e as sociedades de capitalização.

Excepcionalmente, as instituições financeiras e as cooperativas de


crédito podem ter sua falência declarada. Mas isso somente ocorre quando
falharem as tentativas de administração especial temporária e intervenção do
seu órgão regulador, o Banco Central do Brasil, e este entender pela
inconveniência da liquidação extrajudicial. Além disso, o art. 12 e o art. 21,
alínea “b”, da Lei nº 6.024/74 também permitem ao Banco Central do Brasil
autorizar o pedido de quebra das instituições financeiras e das cooperativas de
crédito quando seu ativo não for suficiente para cobrir sequer metade do valor
dos créditos quirografários ou quando houver indícios de crimes falimentares.

No mesmo regime de liquidação extrajudicial seguido de excepcional


falência entram as operadoras de consórcio, dado que o art. 39 da Lei nº
11.795/08 estipula que a administração especial e a liquidação extrajudicial a
serem decretadas pelo seu órgão regulador, o Banco Central do Brasil, são
regidas pela mesma legislação aplicável às instituições financeiras.

As entidades de previdência complementar que são reguladas pela Lei


Complementar nº 109/01 estão sujeitas à intervenção do seu órgão regulador,
a Superintendência de Seguros Privados para as companhias abertas ou o
Conselho Nacional de Previdência Complementar para as fechadas, que na
hipótese de inviabilidade econômica ou ausência de condições de
funcionamento, poderá decretar a sua liquidação extrajudicial e, se constatada
a insuficiência de ativos para cobrir sequer metade do valor dos créditos
quirografários, ou indícios de crimes falimentares, poderá requerer a sua
quebra, na forma do art. 73 da Lei Complementar nº 109/01.

As sociedades seguradoras regidas pelo Decreto-lei nº 73/66, as


sociedades de capitalização regulamentadas pelo Decreto-lei nº 261/67 e
as sociedades operadoras de planos de assistência à saúde seguem idênticas
regras relativas às entidades de previdência complementar quanto às situações
de intervenção, liquidação extrajudicial e excepcional falência, com a única

111
exceção que órgão regulador destas últimas é a Agência Nacional de Saúde
Suplementar.

Dos agentes econômicos não empresários, temos que as sociedades


cooperativas em geral estão submetidas apenas ao regime da liquidação
extrajudicial e os demais agentes, como as organizações religiosas, os partidos
políticos, as sociedades simples, os produtores rurais sem registro na Junta
Comercial e os chamados profissionais intelectuais do art. 966 do Código
Civil, ficam subordinados exclusivamente às regras de insolvência civil.

13.4. Competência indivisível e universal do Juízo


falimentar

De acordo com o art. 76 da LRF, após a decretação da falência, o


Juízo da Vara Empresarial adquire a denominada competência universal para
processar e julgar todas as ações contra o falido, o que significa dizer primeiro
que todos os titulares de pretensões em face do devedor deverão dirigir suas
ações para este Juízo, salvo as demandas que postularem quantias ilíquidas,
até que haja a sua liquidação, incluídas nelas as reclamatórias trabalhistas,
tudo em conformidade com o art. 99, inciso V, da LRF, além das execuções
fiscais.

Art. 76. O Juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as


ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas
trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar
como autor ou litisconsorte ativo.

Parágrafo único. Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste


artigo, terão prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser
intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo.

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações: (...)

V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido,


ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei;

Ademais, por universalidade, deve-se entender que o Juízo da Vara


Empresarial passa a ser o único competente para arrecadar todos os bens e
apreciar todas as questões voltadas à liquidação do patrimônio da massa
falida, bem como será o único competente para realizar o pagamento da
coletividade de credores. Finalmente, a universalidade ainda significa que os
ativos da massa falida não poderão ser atingidos por decisões proferidas por
Juízo diverso do Juízo falimentar, na forma da jurisprudência do STJ (CC nº
130.994/SP, julgado em 13/08/2014).

112
Quanto à indivisibilidade, apenas um alerta. As ações promovidas pelo
falido, isto é, aquelas demandas em que ele figure no polo ativo processual,
seguirão tramitando sem qualquer suspensão ou modificação de competência
nos respectivos Juízos de origem, salvo se forem disciplinadas pela lei
falimentar. As novas ações movidas pela massa falida contra terceiros também
seguem a mesma regra de distribuição processual, o que significa dizer apenas
as ações promovidas por terceiros em face da massa falida é que são atraídas
para o Juízo da Vara Empresarial.

13.5. Representação processual da massa falida

Enquanto na recuperação judicial o próprio devedor segue com


legitimidade processual para defender seus interesses, na falência há o seu
afastamento das atividades e a sua substituição pelo administrador judicial da
massa falida, que passa a representá-la perante terceiros, inclusive em Juízo,
tudo de acordo com o art. 22, inciso III, e com o antes transcrito art. 76,
parágrafo único, ambos da LRF.

Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do


Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: (...)

III – na falência: (...)

c) relacionar os processos e assumir a representação judicial e extrajudicial,


incluídos os processos arbitrais, da massa falida; (...)

n) representar a massa falida em Juízo, contratando, se necessário,


advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo
Comitê de Credores;

Embora o falido perca o direito de representar a empresa e de


dispor dos bens dela, o art. 103 da LRF autoriza que ele fiscalize
a administração da falência, requeira as providências
necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens
arrecadados e intervenha nos processos em que a massa falida
seja parte ou interessada.

Destarte, é preciso ter cuidado especial para evitar nulidades nas


reclamatórias trabalhistas em que há notícia de decretação de quebra da
empresa reclamada, dado que a procuração anteriormente outorgada pelo
agora falido ao seu advogado deixa imediatamente de ter valor.

113
14. Créditos sujeitos à falência

A falência é um procedimento mais amplo e universal que o da


recuperação judicial. Por isso, como regra, temos a de que não apenas os
créditos que se subordinam ao processo recuperacional, mas todos os créditos
existentes contra o devedor estão submetidos à falência, salvo uma ou outra
exceção legal.

Outra diferença é que, enquanto na recuperação judicial a ordem


cronológica de pagamento dos créditos a ela sujeitos é definida pelo próprio
plano de recuperação, com algumas limitações no art. 54 da LRF quanto aos
créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho, no regime
falimentar essa ordem é fixa e definida pela lei, a qual estabelece uma
conformação hierárquica para todos eles, a ser objeto de estudo a seguir.

14.1. Classificação dos créditos na falência

Embora comumente responda-se que os créditos trabalhistas, limitados


a cento e cinquenta salários-mínimos, e os créditos decorrentes de acidentes
de trabalho, sem qualquer limite, estão no topo da pirâmide hierárquica dos
créditos a serem pagos na falência, não é bem verdade que isso ocorra. Eles
se situam em primeiro lugar na ordem de pagamento dos chamados créditos
concursais, mas antes deles estão os créditos extraconcursais e, em
primeiríssimo lugar, os pedidos de restituição.

14.1.1. Pedidos de restituição

O art. 108 da LRF ordena que uma das primeiras tarefas do


administrador judicial após a decretação da falência é proceder na arrecadação
de todos os bens que estejam na posse do falido, para evitar que desapareçam
ou sejam deteriorados. Evidentemente, dentro de todo esse patrimônio, poderá
haver móveis e imóveis que estavam na posse do falido, mas que não eram da
sua propriedade, como bens dos quais ele era apenas locatário, depositário,
comodatário, devedor fiduciário, etc.

Para evitar que esses bens sejam liquidados e que seu produto seja
utilizado para satisfazer os credores da massa, os seus terceiros proprietários
estão autorizados pelo caput do art. 85 da LRF a apresentarem pedido de

114
restituição perante o Juízo da Vara Empresarial, para discutir a titularidade dos
ativos e retomar-lhes a posse.

Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se


encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá
pedir sua restituição.

Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a


crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao
requerimento de sua falência, se ainda não alienada.

Tecnicamente, saliente-se que os proprietários de bens arrecadados


pelo administrador judicial sequer poderiam ser chamados de credores da
massa falida, ao menos quanto aos referidos bens, posto que eles estão
somente a retomar a posse de coisas que já lhes pertenciam, através do
exercício do direito de sequela decorrente da propriedade. Por isso, aliás, é
que eles não se sujeitam à habilitação no procedimento de verificação de
créditos e têm um procedimento próprio de restituição.

Todavia, prefere-se incluí-los por aqui, uma vez que, dentre eles, há
sim uma série de verdadeiros credores do falido, com a única diferença de que
os seus créditos estão garantidos pela propriedade resolúvel de certos bens,
como já foi tratado no tópico dos créditos excluídos da recuperação judicial.

Assim é que são restituídos com prioridade em relação ao pagamento


de quaisquer outros credores, inclusive os extraconcursais, os bens do
proprietário fiduciário de móveis ou imóveis, os do arrendante mercantil e os do
proprietário de imóvel vendido para o falido, esteja ele na condição de
promitente vendedor ou de vendedor com reserva de domínio, inclusive em
incorporações imobiliárias.

Na mesma situação, não propriamente pelo exercício de um direito de


propriedade, mas por uma equiparação legal a ele que protege o sistema
financeiro, estão os valores entregues ao falido em decorrência de
adiantamento do contrato de câmbio para exportação previsto no art. 75, §3º,
da Lei nº 4.728/65. Esse credor financeiro, que está arrolado inciso II do art.
86 da LRF, por motivos óbvios terá seu direito à restituição exercido sobre o
dinheiro da massa falida antes de qualquer crédito, como consta há muito na
Súmula nº 307 do STJ.

Súmula nº 307 do STJ. A restituição de adiantamento de contrato de câmbio,


na falência, deve ser atendida antes de qualquer crédito.

O art. 86 da LRF também elenca outras situações em que a restituição


deve ser procedida em numerário, como quando o bem de terceiro foi alienado
ou perdido antes do pedido de restituição, quando um contrato celebrado antes
da decretação de quebra é considerado ineficaz por estarem presentes
quaisquer situações do art. 129 da LRF, mas o terceiro contratante estava de

115
boa-fé, e quando estivermos diante de tributos passíveis de retenção na fonte,
como é o caso do imposto de renda e da contribuição previdenciária incidente
sobre salários pagos aos trabalhadores e retidos pelo devedor, sem repasse à
Fazenda Pública.

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:

I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em


que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter
ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor
atualizado;

II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional,


decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma
do art. 75, §§ 3º e 4º, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o
prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o
previsto nas normas específicas da autoridade competente;

III – dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese


de revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta
Lei.

IV - às Fazendas Públicas, relativamente a tributos passíveis de retenção na


fonte, de descontos de terceiros ou de sub-rogação e a valores recebidos
pelos agentes arrecadadores e não recolhidos aos cofres públicos.

Quando o empresário é obrigado a fazer a retenção na fonte de


tributos devidos por terceiros, como seus empregados e
prestadores de serviço, ele se torna possuidor de recursos
pecuniários que não lhe pertencem e sobre os quais ele não tem
disponibilidade. Por isso, na forma da Súmula nº 417 do STF,
esses valores podem ser objeto de restituição na falência.

Há, entretanto, um importante detalhe quanto à restituição em dinheiro,


trazido pela lei da reforma recuperacional e falimentar. Ainda que se trate de
pedido de restituição, o art. 86, inciso I-C, da LRF, que será examinado,
determinou que o dinheiro seja restituído somente depois do pagamento das
despesas indispensáveis à administração da falência e dos créditos
trabalhistas de natureza salarial vencidos nos últimos três meses, bem como
dos financiadores da recuperação judicial.

O último beneficiário de pedido de restituição encontra-se no parágrafo


único do art. 85 da LRF, antes transcrito. É o titular de coisas vendidas a
crédito e entregues ao devedor nos quinze dias anteriores à decretação da sua
quebra. Aqui a lei procura proteger o vendedor da má-fé do adquirente, que
presumidamente já tinha ciência da crise econômico-financeira que motivaria a
iminente decretação da sua falência.

116
14.1.2. Créditos extraconcursais

Esses créditos são também conhecidos como os pertencentes não aos


credores do falido, mas aos credores da massa falida. Em outras palavras, são
as dívidas que a massa contrai durante a falência tanto para remunerar os
próprios agentes necessários para o desenvolvimento do processo, quanto em
face de obrigações assumidas perante terceiros após a decretação da quebra.
Outrossim, o art. 84 da LRF, alterado pela lei da reforma recuperacional e
falimentar, também cataloga nesta categoria os créditos constituídos frente ao
devedor durante o procedimento de recuperação judicial que veio a se convolar
em falência.

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com


precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir,
aqueles relativos:

I – (revogado);

I-A - às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei;

I-B - ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo


financiador, em conformidade com o disposto na Seção IV-A do Capítulo III
desta Lei;

I-C - aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no art.


86 desta Lei;

I-D - às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares,


aos reembolsos devidos a membros do Comitê de Credores, e aos créditos
derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho
relativos a serviços prestados após a decretação da falência;

I-E - às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a


recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação
da falência;

II - às quantias fornecidas à massa falida pelos credores;

III - às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo,


distribuição do seu produto e custas do processo de falência;

IV - às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa


falida tenha sido vencida;

V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da


falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

§1º As despesas referidas no inciso I-A do caput deste artigo serão pagas
pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.

§2º O disposto neste artigo não afasta a hipótese prevista no art. 122 desta
Lei.

117
Como é fácil perceber, os incisos do art. 84 da LRF estão distribuídos
em ordem de precedência, o que significa que os créditos previstos no inciso I-
A devem ser pagos antes dos positivados no I-B, que são pagos com
preferência sobre os do I-C e assim por diante.

Falando no inciso I-A do art. 84 da LRF, ele trata de uma hipótese


muito cara aos trabalhadores que prestaram serviços à empresa nos três
meses anteriores à decretação de falência. Conforme este dispositivo, que faz
referência ao art. 151 da LRF, os créditos de natureza estritamente salarial
desses trabalhadores, até o limite de cinco salários mínimos per capita, serão
pagos com o dinheiro que estiver em caixa, logo após a restituição de bens de
terceiros.

Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos


nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5
(cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja
disponibilidade em caixa.

Em concurso dentro da mesma ordem de precedência do inciso I-A do


art. 84 da LRF estão as despesas previstas no art. 150 da LRF, quais sejam
aquelas urgentes, cujo pagamento é indispensável à administração da falência.
Dentre elas se incluem os gastos necessários a uma eventual continuação
provisória da atividade empresarial pela massa falida, como, por exemplo, as
despesas com insumos, energia elétrica, água, condomínio e eventual locação.
Não estão dentro dessa classe, todavia, os gastos com o pagamento de
salários aos trabalhadores que seguirem prestando suas atividades. Esses
créditos estão situados alguns incisos abaixo.

Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à


administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória
das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei, serão
pagas pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.

Após a satisfação integral dos créditos prioritários e dos trabalhistas


devidos nos últimos três meses, o segundo bloco de credores a ser atendido é
o dos chamados financiadores da recuperação judicial, ou seja, daqueles
créditos decorrentes de contratos de mútuo celebrados depois da concessão
da recuperação, conquanto efetivamente liberados ao agora falido.

Normalmente esses financiamentos serão garantidos por propriedade


fiduciária, o que lhes coloca, pelo menos até o limite do valor do bem, na
categoria dos pedidos de restituição. Nada obstante, se houver saldo devedor
que ultrapasse o valor da garantia, seu pagamento ocorrerá na classe dos
extraconcursais do inciso I-B do art. 84 da LRF.

Em terceiro lugar estão os pedidos de restituição em dinheiro acima


tratados (14.1.1.) e, em quarto, os créditos trabalhistas e decorrentes de
acidentes de trabalho constituídos após a declaração da quebra, em

118
tratamento paritário com a remuneração do administrador judicial e auxiliares e
os reembolsos aos membros do comitê de credores.

Isso quer dizer que nessa classe estão os salários e indenizações


relativos a serviços prestados pelos empregados da massa falida após a
declaração da falência, o que ocorre naquelas situações em que o
administrador judicial opta pela continuação provisória da atividade empresarial
pela massa falida, com o objetivo de minimizar os prejuízos da coletividade de
credores.

Os créditos relativos a serviços prestados pelos empregados da


massa falida após a declaração da falência restaram
significativamente prejudicados pela lei da reforma
recuperacional e falimentar, pois caíram do primeiro para o
quarto lugar nos créditos extraconcursais.

No quinto posto estão os créditos previstos no art. 67 da LRF, quais


sejam, os resultantes de obrigações validamente contraídas durante a
recuperação judicial. Aqui se inserem os créditos trabalhistas e os decorrentes
de acidente de trabalho constituídos posteriormente ao ajuizamento da
recuperação judicial, vale lembrar, que a ela não se sujeitaram. Além deles e,
em concurso, situam-se neste mesmo posto outras obrigações contraídas pela
massa falida que não detiverem o caráter de indispensabilidade à
administração da falência previsto no inciso I-A do art. 84 da LRF.

Na sequência, a sexta colocação é das quantias emprestadas pelos


credores à massa falida para que o procedimento falimentar possa se
desenvolver regularmente, o que pode ocorrer quando a massa não possui
liquidez para arcar com despesas imprescindíveis para a arrecadação ou a
liquidação de bens. Logo depois, em sétimo, as quantias emprestadas pelo
próprio administrador judicial à massa, nessas mesmas circunstâncias.

O oitavo lugar pertence às custas judiciais dos processos que a massa


falida for sucumbente, compreendendo as custas das reclamatórias
trabalhistas ajuizadas após a decretação da quebra, e o nono posto, aos
tributos federais, estaduais e municipais, nessa ordem, cujo fato gerador tiver
ocorrido após a decretação da falência.

119
14.1.3. Créditos concursais

Quitada a totalidade dos chamados credores da massa, o art. 149 da


LRF determina que o administrador judicial passe então ao adimplemento dos
credores do falido, que são os detentores dos créditos concursais previstos no
art. 83 da LRF, recentemente modificado pela lei da reforma recuperacional e
falimentar, a qual basicamente agrupou com os quirografários os credores com
privilégios especiais ou gerais, permitiu a cessão de créditos sem a alteração
da sua natureza e trouxe algumas melhoras de redação. A saber:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e


cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes
de trabalho;

II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do


bem gravado;

III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo


de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias;

IV - (revogado);

V - (revogado);

VI - os créditos quirografários, a saber:

a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens
vinculados ao seu pagamento; e

c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o


limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;

VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais
ou administrativas, incluídas as multas tributárias;

VIII - os créditos subordinados, a saber:

a) os previstos em lei ou em contrato; e

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício


cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas
e as práticas de mercado;

IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no


art. 124 desta Lei.

A ordem de pagamentos dos credores concursais começa com os


créditos trabalhistas e com os créditos decorrentes de acidentes de trabalho

120
constituídos antes da decretação de quebra ou antes da distribuição do pedido
da recuperação judicial, se esta tiver sido convolada em falência, concorrendo
em paridade entre si e também com outros créditos equiparados aos
trabalhistas por força de entendimentos jurisprudenciais e legislações
especiais.

Os créditos decorrentes de acidentes de trabalho e doenças


ocupacionais concorrem na primeira classe por sua integralidade,
independentemente do valor. Já os trabalhistas e equiparados concorrem nesta
classe prioritária apenas até o limite de cento e cinquenta salários-mínimos,
sendo que eventual remanescente é reclassificado como quirografário.

O STF declarou constitucional a limitação de prioridade de


pagamento dos créditos trabalhistas a cento e cinquenta
salários mínimos na ADI nº 3.934/DF, julgada em 27/05/2009.

Quanto às parcelas integrantes do gênero créditos trabalhistas, devem


ser entendidas no sentido mais amplo possível, abarcando não apenas as
verbas de natureza estritamente salarial, como o salário básico, o adicional de
insalubridade, as horas extras e 13º salários, mas também parcelas não
remuneratórias em geral, o que inclui indenizações, FGTS e multas
trabalhistas.

A propósito do FGTS, até algum tempo atrás controverteu-se a Justiça


Comum a respeito da sua natureza para fins de classificação na quebra, se
tributária ou trabalhista. A tese vencedora no julgamento do ARE nº
709.212/DF pelo STF, ocorrido em 13/11/2014, foi a de que a titularidade dos
depósitos de FGTS é do próprio empregado, de modo que o crédito tem sim
natureza trabalhista.

Situação jurisprudencial semelhante ocorreu com a


classificação da multa do art. 467 da CLT e da multa do art. 477,
§8º, da CLT, tendo a 3ª Turma do STJ definido por sua inclusão
na mesma classe dos demais créditos trabalhistas no REsp nº
1.395.298/SP, julgado em 11/03/2014.

Fechando a primeira classe, estão equiparados aos créditos


trabalhistas os honorários advocatícios, os honorários periciais decorrentes de
processos judiciais e, mais recentemente, as remunerações devidas ao
representante comercial.

121
A natureza alimentar dos honorários de advogado foi consagrada pelo
STF na sua Súmula Vinculante nº 47 e, posteriormente, pelo CPC, no seu
art. 85, §14. À luz desse entendimento do Supremo, o STJ pacificou a matéria
quanto à classificação dos honorários advocatícios na falência, estabelecendo
no REsp Repetitivo nº 1.152.218/RS, julgado em 07/05/2014, que eles
devem ser ranqueados no inciso I do art. 83 da LRF. Por conseguinte,
compreende-se que esses créditos estão igualmente sujeitos à limitação de
cento e cinquenta salários mínimos, posição esta que foi avalizada pela 3ª
Turma do STJ no REsp nº 1.649.774/SP, julgado em 12/02/2019.

Art. 85. (...)

§14 Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar,


com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho,
sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.

Os honorários periciais estipulados em ações judiciais seguem essa


mesma lógica de crédito alimentar em face do art. 833, §2º, do CPC e, por
consequência, também estão equiparados aos créditos trabalhistas para
efeitos de habilitação no processo de falência. No sentido de reconhecê-los
como alimentares, temos decisão da 3ª Turma do STJ no REsp nº
1.722.673/SP, julgado em 13/03/2018. Essa mesma Turma, mais
recentemente, também os classificou no inciso I do art. 83 da LRF no REsp
1.851.770/SC, julgado em 18/02/2020.

122
Concorrem em condições de igualdade com os trabalhadores, os
representantes comerciais, por força de alteração na redação do art. 44 da Lei
nº 4.886/65, pela Lei nº 14.195/21.

Art. 44. No caso de falência ou de recuperação judicial do representado, as


importâncias por ele devidas ao representante comercial, relacionadas com a
representação, inclusive comissões vencidas e vincendas, indenização e
aviso prévio, e qualquer outra verba devida ao representante oriunda da
relação estabelecida com base nesta Lei, serão consideradas créditos da
mesma natureza dos créditos trabalhistas para fins de inclusão no pedido de
falência ou plano de recuperação judicial.

No segundo grupo dos concursais estão os créditos garantidos por


penhor, hipoteca ou anticrese, até o valor do móvel ou imóvel gravado,
considerado como tal a importância efetivamente arrecadada pela massa falida
com a sua venda judicial ou o valor de avaliação na venda em bloco, de acordo
com o art. 83, §1º, da LRF. O saldo remanescente, se houver, é reclassificado
como crédito quirografário.

Art. 83. (...)

§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como


valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada
com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do
bem individualmente considerado.

Os créditos fiscais de natureza tributária e não tributária, salvo as


multas tributárias e os créditos tributários previamente catalogados como
extraconcursais pelo art. 84, inciso V, da LRF, com o reforço do art. 186,
parágrafo único, inciso I, do CTN, estão no terceiro lugar dos créditos
concursais.

Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua
natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes
da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.

Parágrafo único. Na falência:

I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às


importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos
créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado;

123
Dentro da classe dos créditos tributários, os incisos do art. 187
do CTN e os incisos do parágrafo único do art. 29 da Lei nº
6.830/80 ordenavam que se pagasse primeiro os créditos da
União, depois e em concurso os créditos dos Estados e Distrito
Federal e, finalmente e pro rata, os créditos dos municípios.
Todavia no julgamento da ADPF nº 357, ocorrido em
24/06/2021, o STF julgou inconstitucionais esses dispositivos.

A maior dúvida quanto aos créditos fiscais, incluídos aqui a


contribuição previdenciária e o imposto de renda a incidir sobre as
condenações trabalhistas, é saber se estão ou não sujeitos à quebra. Há uma
certa antinomia entre os dispositivos da LRF e o art. 187 do CTN que, junto
com o art. 5º da Lei nº 6.830/80, prevê que a cobrança judicial do crédito
tributário não se sujeita à habilitação em falência.

Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de


credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata,
inventário ou arrolamento.

No capítulo em que foi tratado do status dos créditos tributários na


recuperação judicial, viu-se que a solução dada foi pela sua exclusão do
procedimento recuperacional e a possibilidade de prosseguimento das ações
de execução fiscal, tal como o art. 187 do CTN prevê.

Naquela ocasião, observou-se também que, em que pese a exclusão


dos créditos tributários da recuperação e a possibilidade de prosseguimento da
sua execução nos Juízos de origem, incluindo o trabalhista, se for o caso, o art.
6º, §7º-B, da LRF condicionou a prática de atos de constrição a uma certa
supervisão do Juiz da Vara Empresarial, que pode determinar a sua
substituição, quando recaírem sobre bens de capital essenciais à manutenção
da atividade empresarial.

Na falência, contudo, as soluções para os créditos fiscais sempre


foram um pouco diferentes, ao menos na prática forense. Embora não se
sujeitem ao processo falimentar, eles têm seu adimplemento subordinado à
quitação de outros créditos que lhe preferem, como os trabalhistas e
decorrentes de acidentes de trabalho. Além disso, quem autoriza esse
pagamento é o Juiz da Vara Empresarial, e não o da Fazenda Pública ou
mesmo o Juiz do Trabalho, se estivermos tratando da contribuição
previdenciária do art. 114, inciso VIII, da Constituição Federal, posto que o
art. 6º, §7º-B, da LRF não se aplica à falência.

Art. 6º. (...)

124
O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às
execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do Juízo da recuperação
judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam
sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até
o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante
a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805
do referido Código.

Tudo isso sempre causou embaraços de ordem prática à execução dos


créditos tributários fora do Juízo da quebra, tanto que, para obedecer ao art.
187 do CTN, o padrão de comportamento dos Juízos em que os créditos
tributários são executados foi o de simplesmente realizar a penhora no rosto
dos autos da ação falimentar, cabendo ao Juízo da Vara Empresarial efetuar o
cumprimento dessa ordem de penhora e disponibilizar valores para o
pagamento dos créditos tributários quando os ativos da massa falida
alcançassem as classes do art. 84, inciso V, ou do art. 83, inciso III, da LRF,
tudo conforme a antiquíssima Súmula nº 44 do extinto TFR.

Súmula nº 44 do TFR. Ajuizada a execução fiscal anteriormente à falência,


com penhora realizada antes desta, não ficam os bens penhorados sujeitos à
arrecadação no Juízo falimentar; proposta a execução fiscal contra a massa
falida, a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo da quebra, citando-
se o síndico.

A penhora de créditos tributários no rosto dos autos da ação falimentar


sempre foi endossada pelo STJ (AgRg no CC nº 108.465/RJ, julgado em
26/05/2010) e já há algum tempo a própria Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional passou a orientar seus Procuradores a adotarem esse mesmo
procedimento nas reclamatórias trabalhistas com créditos previdenciários e
multas administrativas a executar, como podemos observar no Parecer
Conjunto PGFN/CDA/CRJ nº 08/2016.

Por outro lado, o que muitos observaram é que o efeito prático-


finalístico dessa penhora no rosto dos autos era exatamente o mesmo de uma
habilitação do crédito fiscal no processo falimentar, não havendo vantagem
alguma em não o sujeitar à falência. Ao contrário, neste modo de ver as coisas,
a obediência cega à regra do art. 187 do CTN só levava a atos processuais
adicionais.

Por isso, alguns Procuradores da Fazenda Nacional passaram a


experimentar diretamente a habilitação dos créditos fiscais no procedimento
falimentar, procedimento que, depois de algum debate jurisprudencial, foi
avalizado primeiro pelo STJ no REsp nº 1.872.759/SP, julgado em 18/11/2021
(Tema nº 1.092 da tabela de recursos repetitivos do STJ), e depois pela lei da
reforma recuperacional e falimentar, que inseriu o art. 7º-A na LRF.

Tema repetitivo nº 1092 do STJ. É possível a Fazenda Pública habilitar em


processo de falência crédito objeto de execução fiscal em curso, mesmo

125
antes da vigência da Lei n. 14.112/2020, e desde que não haja pedido de
constrição no Juízo executivo.

O novo dispositivo da LRF cria o denominado incidente de


classificação do crédito público, que podemos entender como uma espécie de
habilitação do crédito fiscal na falência, pois prevê sua inserção no quadro
geral de credores e suspende as execuções fiscais. Registre-se que essa nova
sistemática nos é de especial importância porque, como prevê o art. 7º-A, §6º,
da LRF, afeta diretamente o modo de se tratar as reclamatórias trabalhistas
com créditos previdenciários a executar na quebra. O exame do tema será
realizado mais adiante.

Art. 7º-A. Na falência, após realizadas as intimações e publicado o edital,


conforme previsto, respectivamente, no inciso XIII do caput e no § 1º do art.
99 desta Lei, o juiz instaurará, de ofício, para cada Fazenda Pública credora,
incidente de classificação de crédito público e determinará a sua intimação
eletrônica para que, no prazo de 30 (trinta) dias, apresente diretamente ao
administrador judicial ou em Juízo, a depender do momento processual, a
relação completa de seus créditos inscritos em dívida ativa, acompanhada
dos cálculos, da classificação e das informações sobre a situação atual.

(...)

§ 4º Com relação à aplicação do disposto neste artigo, serão observadas as


seguintes disposições:

I - a decisão sobre os cálculos e a classificação dos créditos para os fins do


disposto nesta Lei, bem como sobre a arrecadação dos bens, a realização do
ativo e o pagamento aos credores, competirá ao Juízo falimentar;

(...)

V - as execuções fiscais permanecerão suspensas até o encerramento da


falência, sem preJuízo da possibilidade de prosseguimento contra os
corresponsáveis;

(...)

§ 6º As disposições deste artigo aplicam-se, no que couber, às execuções


fiscais e às execuções de ofício que se enquadrem no disposto nos incisos
VII e VIII do caput do art. 114 da Constituição Federal.

A quarta posição na ordem de pagamento dos créditos concursais está


reservada aos quirografários, créditos tradicionalmente conhecidos por não
serem detentores de privilégios ou preferências e para onde acabam sendo
desclassificados os saldos dos créditos trabalhistas excedentes de cento e
cinquenta salários-mínimos e os saldos dos créditos não cobertos pelo produto
da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento.

Depois da lei da reforma recuperacional e falimentar, por força da


inclusão do §6º no art. 83 da LRF, na classe dos quirografários também se
encontram os créditos com privilégio especial e privilégio geral, os quais

126
passam a disputar, em concurso e pro rata com os créditos que elencamos no
parágrafo anterior, o produto da venda dos ativos da massa falida.

Multas decorrentes do descumprimento de obrigações e penas


pecuniárias impostas em razão de infrações penais, administrativas ou
tributárias posicionam-se no quinto posto de adimplemento dos créditos
concursais. Aqui, como pode-se notar, é o lugar em que ficam classificadas as
multas administrativas impostas pela fiscalização do trabalho aos
empregadores.

O sexto grupo é o dos créditos subordinados, onde estão valores a


serem recebidos pelos sócios e administradores sem vínculo empregatício do
falido, cuja contratação não tenha observado os parâmetros do mercado, e os
créditos definidos por lei ou contrato como tais, caso de debêntures sem
garantia e com cláusula de subordinação, na forma do art. 58, §4º, da Lei nº
6.404/76.

Difícil é precisar o que são os corretos parâmetros de mercado para


fins de contratação de administradores. De qualquer modo, caso a contratação
tenha obedecido a esses padrões, os créditos dos administradores saltam para
a classe dos quirografários.

Em sétimo lugar, fechando a lista, estão os juros vencidos após a


decretação da falência, regra que vale para quase todos os créditos antes
arrolados, incluindo os trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho. Os
únicos excluídos, nos termos do parágrafo único do art. 124 da LRF são os
juros das debêntures e os dos créditos com garantia real, limitados estes ao
produto do bem que constitui sua garantia.

Para finalizar, importa ressaltar que, não representando a correção


monetária nenhum acréscimo real ao montante dos créditos, vez que ela
apenas atualiza a expressão do valor em moeda, a ela não se aplica a regra
dos juros. Em outras palavras, a correção monetária será sempre integral,
devendo ser adimplida junto com o principal, o que pode trazer problemas à
satisfação dos créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho, por
força do decidido pelo STF na ADC nº 58 e correlatas.

Com efeito, na medida em que a SELIC é um índice indissociável que


contempla juros e correção monetária, é possível prever complicações para a
atualização monetária dos créditos trabalhistas na quebra. A solução do Juízo
da Vara Empresarial pode ser, como alguns Tribunais Regionais do Trabalho já
têm feito, entender pela natureza preponderante de juros da SELIC e, não sem
algum malabarismo jurídico, impor outro índice de atualização a esses créditos,
como o IGP-M ou o IPCA-E.

127
14.1.3.1. Cessão de crédito

A regra geral prevista no art. 287 e no art. 349 do Código Civil é a de


que a cessão de crédito resulta na transferência ao cessionário de todas as
preferências do crédito cedido. Não obstante, o art. 83, §4º, da LRF vedava
esse efeito na falência para os créditos trabalhistas cedidos, determinando que
a sua transferência a terceiros os transformaria em quirografários.

A lei da reforma recuperacional e falimentar revogou esse dispositivo e


inseriu um §5º ao art. 83 da LRF, fixando agora que não só os créditos
trabalhistas, mas todos os que forem cedidos a terceiros a qualquer título,
manterão a sua natureza e classificação dentro da falência.

15. Créditos excluídos da falência

O art. 5º da LRF prevê que estão excluídos da falência os créditos


decorrentes de obrigações a título gratuito, vale dizer, os decorrentes de
negócios jurídicos unilaterais, como eventual fiança, aval, hipoteca ou penhor
prestados gratuitamente a terceiro pelo falido. Esse mesmo dispositivo legal, já
analisado no tópico da recuperação judicial, veta a inclusão na quebra de
eventuais despesas que os credores fizerem para tomar parte nela, salvo as

128
judiciais decorrentes de litígio com o devedor necessário para reconhecer seu
crédito.

Além desses dois, como adiantou-se em item anterior, os créditos


fiscais também estavam excluídos da falência, por disposição do art. 187 do
CTN e do art. 5º da Lei nº 6.830/80. Nada obstante, por força do art. 7º-A da
LRF, essa afirmação não é mais verdadeira, a não ser que tal dispositivo seja
futuramente tido por inconstitucional.

Boa parte da doutrina acusa esse artigo de


inconstitucionalidade formal, por violar o art. 187 do CTN, lei
recepcionada pela atual Constituição Federal com calibre
complementar.

Resumo da aula 4

Nesta aula, iniciou-se o estudo da falência com o apontamento do seu


objetivo, beneficiários e, o mais importante de tudo, com a identificação dos
créditos sujeitos a esse procedimento.

Aqui viu-se que é uma falácia dizer que os créditos trabalhistas e


decorrentes de acidentes de trabalho são os primeiros a serem pagos nos
procedimentos falimentares, pois ficam atrás de todos os pedidos de restituição
de bens em espécie, os quais normalmente são realizados pelas instituições
financeiras, e de vários créditos extraconcursais, muitos deles também ligados
ao mercado financeiro.

Aliás, averiguou-se que também não é correto estabelecer uma única


classificação para os créditos dos trabalhadores na falência, pois eles se
encontram distribuídos em várias posições na hierarquia dos créditos
concursais e extraconcursais, conforme a sua data de constituição e o seu
valor.

Por exemplo, apontou-se que, no grupo dos extraconcursais, entram


primeiro os de natureza salarial vencidos nos três meses anteriores à

129
decretação de falência, limitados a cinco salários-mínimos por trabalhador.
Mais abaixo, depois dos financiadores de eventual recuperação judicial
antecedente e dos pedidos de restituição em dinheiro, estão os créditos dos
trabalhadores constituídos depois da decretação da falência.

Logo depois, mas ainda dentro dos extraconcursais, evidenciou-se


que estão os créditos dos trabalhadores constituídos depois do ajuizamento da
recuperação judicial, mas antes da decretação da falência.

Já dentre os concursais, apurou-se que estão em primeiro lugar os


créditos decorrentes de acidentes de trabalho e os trabalhistas, estes limitados
a cento e cinquenta salários mínimos, sendo que o excesso a esse limite cai lá
para a classe dos quirografários, que são pagos somente depois dos credores
com garantia real e dos tributários.

Também foi trazida uma palavrinha sobre a cessão de crédito


trabalhista e também acerca da difícil compreensão a respeito da sujeição ou
não dos créditos tributários à falência.

Até a próxima aula!

130
AULA 5
Falência – Parte II (Procedimento da Falência e
Responsabilidades na Falência)

16. O procedimento para a decretação de


falência

16.1. Requisitos para requerer a falência

O art. 94 da LRF autoriza os credores do empresário ou da sociedade


empresária requererem judicialmente a sua falência quando ele pratica ou
deixa de praticar certos atos que juridicamente conduzem à presunção da sua
insolvência. São eles, resumidamente, o não pagamento de obrigações
líquidas e vencidas, a falta de pagamento, depósito ou nomeação de bens à
penhora em execução judicial de título líquido e a prática de atos falimentares.

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação


líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma
ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido
de falência;

II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não
nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio


ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou
da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento


de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu
passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de


burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

131
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem
ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes


para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de
seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de


recuperação judicial.

O art. 94, inciso I, da LRF identifica a primeira modalidade de


presunção de insolvência: a impontualidade injustificada. O empresário ou
sociedade empresária que não paga, de modo injustificado, obrigação líquida e
vencida, materializada em título executivo protestado e de valor superior a
quarenta salários mínimos, deverá ter sua quebra decretada.

O protesto extrajudicial do título é exigência do §3º do art. 94 da LRF,


que tem como objetivo demonstrar a impontualidade do devedor, não sendo
demandado o chamado protesto especial para requerer falência. Segundo a
Súmula nº 41 do TJSP, o protesto comum dispensa o especial para a
instrução da petição inicial no Juízo falimentar.

A exigência de, pelo menos, quarenta salários-mínimos para que o


título se preste ao pedido de falência vem no sentido de evitar que dívidas
menores convertam-se em potenciais instrumentos falimentares, ainda que o
§1º do art. 94 da LRF autorize que pequenos credores possam reunir-se em
litisconsórcio para alcançar esse limite mínimo.

A segunda variante de presunção de insolvência está no art. 94, inciso


II, da LRF e se trata da execução frustrada. Se, depois de citado em processo
judicial em fase de execução para a cobrança de título líquido e exigível, o
devedor não paga, não efetua depósito ou nomeia bens à penhora, seu credor
poderá solicitar certidão à Secretaria ou Cartório do Juízo onde se processa a
execução e, com ela, instruir o pedido de quebra.

Nesta modalidade de pedido de falência com base em execução


frustrada, a Súmula nº 39 do TJSP entende irrelevante o valor da obrigação
não satisfeita, se inferior ou superior a quarenta salário mínimos, e a Súmula nº
50 deste mesmo Tribunal de Justiça dispensa o protesto extrajudicial do título.

Não é demais destacar que aqui se situam os trabalhadores titulares


de créditos em reclamatórias trabalhistas, os quais, embora não seja comum,
estão plenamente autorizados a requerer a falência do seu empregador ou ex-
empregador inadimplente.

Finalmente, a terceira categoria de presunção de insolvência é a


prática de algum dos atos falimentares elencados pelo art. 94, inciso III, da
LRF, dentre os quais podemos destacar o descumprimento de obrigações

132
previstas no plano de recuperação judicial durante o período de fiscalização
que, como vimos anteriormente, pode durar até dois anos contados da
concessão da recuperação, na forma do art. 61 da LRF. Passados esses dois
anos, o descumprimento do plano não motivará a convolação da recuperação
judicial em falência, mas permitirá que o credor, já com o crédito novado,
apresente pedido falimentar autônomo.

16.2. Defesa do devedor

Uma vez citado, o parágrafo único do art. 98 da LRF autoriza que o


devedor que teve sua quebra requerida com base na impontualidade
injustificada ou na execução judicial frustrada faça, no prazo de dez dias que
lhe é deferido para apresentar a sua contestação, um depósito elisivo no valor
do título, acrescido de juros, correção monetária e honorários advocatícios de
sucumbência. Nessa hipótese, a falência não será decretada e, caso o pedido
seja julgado procedente, o Juízo da Vara Empresarial autorizará o
levantamento do depósito elisivo pelo credor.

Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10


(dez) dias.

Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94


desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor
correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e
honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e,
caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento
do valor pelo autor.

Outra variante de defesa é a do art. 95 da LRF, que permite que o


devedor, no prazo de contestação, requeira a sua recuperação judicial em um
processo autônomo. Neste caso, atendidos os requisitos da petição inicial do
art. 51 da LRF, o Juiz da Vara Empresarial proferirá decisão autorizando o
processamento da recuperação judicial, cujos efeitos por nós conhecidos
envolvem a imediata suspensão das execuções singulares. Por conseguinte, o
processo falimentar ficará suspenso até, ao menos, a decisão de concessão da
recuperação.

Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua


recuperação judicial.

Por fim, a terceira possibilidade para o devedor é a defesa de


mérito.

133
16.3. Efeitos da decretação de falência

Apresentada a contestação e concluída a instrução com eventual


dilação probatória, o Juiz da Vara Empresarial então proferirá a sentença. Se
for de procedência do pedido, ela decretará a falência do devedor e virá
acompanhada de uma série de efeitos jurídicos e determinações obrigatórias
arroladas no art. 99 da LRF. Destes, os mais relevantes para nós são a
suspensão das execuções, incluindo suas medidas constritivas, promovidas
por esses mesmos credores e a suspensão da fluência do prazo prescricional
em face dos credores impactados pela quebra.

Os dois supra mencionados efeitos serão analisados a seguir.

16.3.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas

De modo até mais intenso ao que ocorre quando do deferimento do


processamento da recuperação judicial, a decretação de falência também
implica na suspensão das execuções que tramitam contra o devedor, bem
como a proibição de qualquer forma de arresto, penhora, sequestro, busca e
apreensão e constrição sobre os seus bens, tal como previsto no art. 6º,
incisos II e III, da LRF. A comunicação de tal suspensão a nós e aos demais
Juízos em que ditas demandas se encontram é encargo do administrador
judicial deduzido da leitura do anteriormente transcrito art. 22, inciso III,
alíneas “c” e “n”, da LRF.

Art. 6º. A decretação da falência ou o deferimento do processamento da


recuperação judicial implica: (...)

II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas


dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações
sujeitos à recuperação judicial ou à falência;

III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro,


busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do
devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou
obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência.

Excepcionalmente e como medida de economia processual, o Juiz da


Vara Empresarial pode determinar na sentença que não se suspendam as
execuções singulares com alienação judicial já designada e permitir que elas
sejam realizadas nos Juízos de origem. Nessas situações, contudo, a própria
sentença de decretação de quebra determinará que o produto de eventual
venda não vai ser levantado pelo exequente, mas entregue à massa falida. O
credor que move a execução singular deverá habilitar o seu crédito na falência,

134
tudo de acordo com jurisprudência do STF (AgRr no CC nº 95.001/BA,
julgado em 29/04/2009).

Ainda, em conformidade com a jurisprudência do STJ (CC nº


146.657/SP, julgado em 26/10/2016), idêntico destino deve ter o produto de
alienação judicial já realizada na data da decretação da falência. Neste ponto,
todavia, discorda-se do Tribunal Superior mencionado. É que estas execuções
singulares não são afetadas pela suspensão porque o tecnicamente o bem do
falido já foi liquidado e o processo singular já atingiu seu objetivo antes da
decretação da quebra. Aqui, depois de pagas todas as rubricas da execução
individual, entende-se que apenas o saldo da venda, se existente, deveria ser
remetido à massa, tal como o era no regime do art. 24, §1º do revogado
Decreto-lei nº 7.661/45.

Dito isso, ainda é importante ressaltarmos dois pontos.

O primeiro é que existem duas diferenças de intensidade entre as


ordens de suspensão processual e das medidas constritivas dadas na
recuperação judicial e na falência. Aqui não temos o chamado stay period do
art. 6º, §4º, da LRF, sendo a suspensão das execuções singulares definitiva,
até o encerramento do processo.

Além disso, com todas as ressalvas que foram feitas quando se tratou
da classificação dos créditos na falência, aqui também acabam sendo afetadas
as execuções de contribuição previdenciária decorrente de condenação
trabalhista, de custas processuais e de multas administrativas impostas pela
fiscalização do trabalho. Esses créditos fiscais e outros de mesma natureza,
por ordem do art. 7º-A da LRF, estarão sujeitos ao incidente de classificação
do crédito público, o qual também provoca o efeito da suspensão.

O segundo é que, forte o disposto nos §§1º e 2º do art. 6º e no art. 99,


inciso V, da LRF, continuam sem qualquer pausa as ações que demandem
quantia ilíquida contra a massa falida, incluídas as reclamatórias trabalhistas e
ações de indenização por acidente de trabalho que tramitam na Justiça do
Trabalho em fase de conhecimento ou em fase de liquidação de sentença, até
a estabilização da decisão que homologou os cálculos contendo o crédito do
trabalhador.

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações: (...)

V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido,


ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei;

Como já foi visto no tópico da recuperação judicial, essa estabilização


ocorrerá pela não oposição de embargos à execução ou impugnação à decisão
de liquidação de sentença, ou pelo trânsito em julgado da sentença que julga

135
esses incidentes. Para chegar a essa etapa processual, nunca é demais
lembrar, a massa falida está dispensada pela Súmula nº 86 do TST do
recolhimento de custas e do depósito recursal, bem como da garantia do juízo
demandada pelo art. 884 da CLT, esta por força de jurisprudência unânime
em todos os Tribunais trabalhistas.

Súmula nº 86 do TST. Deserção. Massa falida. Empresa em liquidação


extrajudicial. Não ocorre deserção de recurso da massa falida por falta de
pagamento de custas ou de depósito do valor da condenação. Esse privilégio,
todavia, não se aplica à empresa em liquidação extrajudicial.

16.3.2. Suspensão da prescrição

Outro efeito decorrente da decisão de decretação de quebra é a


suspensão dos prazos prescricionais que correm em favor do falido, tal como
previsto no art. 6º, inciso I, da LRF. Como resultado, a prescrição trabalhista
posta no art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal é também suspensa a
partir do marco acima, mas com um importante detalhe.

De acordo com o art. 157 da LRF, esse prazo prescricional retomava


o seu curso no dia em que transitasse em julgado a sentença de encerramento
da falência, devendo o falido aguardar de cinco a dez anos para postular a
declaração judicial de extinção de suas obrigações, a depender se ele
houvesse sido condenado por crimes falimentares.

Todavia, esse artigo foi revogado pela lei de reforma recuperacional e


falimentar, a qual passou a prever no inciso VI do art. 158 da LRF que o
trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência acarreta na
extinção das obrigações do falido, salvo, por força do art. 191 do CTN, as
fiscais de natureza tributária.

Art. 158. Extingue as obrigações do falido: (...)

VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei.

Adentrar-se-á, oportunamente, nesses novos efeitos da sentença de


encerramento da quebra. Por ora, é necessário que fique claro que nova
legislação leva à conclusão de que os prazos prescricionais em favor do falido
ficam suspensos da data da decretação da falência até a do trânsito em
julgado, quando as obrigações trabalhistas se extinguem. Outrossim, também é
necessária muita atenção ao prazo decadencial de três anos para habilitação
dos créditos, prevista no art. 10, §10, da LRF, por nós antes transcrito.

136
16.4. Verificação e habilitação dos créditos na falência

Uma das determinações do Juiz da Vara Empresarial quando decreta a


falência é dirigida ao falido. Segundo o art. 99, inciso III, da LRF, aquele
ordenará que este apresente, em até cinco dias e sob pena de desobediência,
a relação dos nomes e endereços dos seus credores e a classificação dos
seus créditos.

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações: (...)

III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias,


relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e
classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos,
sob pena de desobediência;

Essa listagem preliminar de credores torna-se objeto de edital com


prazo de quinze dias, a ser publicado pela Vara Empresarial, nos termos do art.
99, §1º, da LRF, bem como de conferência e revisão permanente por parte do
administrador judicial, forte no art. 7º da LRF, o qual ainda assume o dever de
enviar correspondência aos credores, comunicando a data da decretação da
quebra, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito, tudo conforme o
art. 22, inciso I, alínea “a”, da LRF.

Como já examinado no capítulo da recuperação judicial, não é raro


haver ausência de credores ou equívocos de valores na listagem preliminar
elaborada pelo devedor, razão pela qual o edital de quinze dias publicado pela
Vara Empresarial e as correspondências enviadas pelo administrador judicial
aos credores têm como objetivo fazer com que eles, discordando da sua
ausência ou de quaisquer elementos lançados, possam promover sua
habilitação e lançar as suas divergências, com o fito de se chegar a uma
segunda lista apresentada pelo administrador e ao quadro geral de credores,
no prazo do art. 7º, §2º, da LRF, isto é, quarenta e cinco dias, contados do
término do edital de quinze.

É por isso que, nas reclamatórias trabalhistas, um dos efeitos da


ciência da decretação da quebra é a expedição de certidão de crédito ao
trabalhador e a todos os demais credores, como advogados, pelos seus
honorários sucumbenciais, auxiliares do Juízo, pelos seus honorários periciais,
emolumentos despesas, etc. e União, pelos seus créditos previdenciários e
custas processuais.

De acordo com o art. 9º da LRF, a certidão deve conter, além dos


dados identificadores do processo e das partes, preferencialmente com
endereço físico e eletrônico, também a natureza e o valor atualizado do crédito,
com discriminação dos valores bruto e líquido devidos para o trabalhador, para

137
fins de apuração e futuro recolhimento de imposto de renda, tudo isso
acrescido de correção monetária e juros, estes somente até a data da
decretação da falência. De forma muito semelhante, a Consolidação de
Provimentos de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho
reprisa tais elementos obrigatórios no seu art. 112, §2º.

Como dissemos quando da classificação dos créditos na


falência, o decidido pelo STF na ADC nº 58 e correlatas vai levar
a certos malabarismos jurídicos, em face de a SELIC ser um
índice indissociável que contempla juros e correção monetária.
A sugestão que damos é realizar a aplicação da SELIC apenas
até a decretação da quebra e informar expressamente na
certidão que os créditos se encontram atualizados
monetariamente somente até essa data, deixando para o Juízo
da Vara Empresarial eventualmente adotar outro índice de
atualização a esses créditos, como o IGP-M ou o IPCA-E.

As certidões não precisam ser encaminhadas pela Justiça do Trabalho


ao Juízo da Vara Empresarial por meio de ofício ou assemelhados, visto que a
incumbência cabe aos próprios credores. Entrementes, por conta dos
princípios que norteiam a cooperação judicial e também em razão de eventuais
objeções da União ao novo procedimento do art. 7º-A da LRF, não deixa de
ser pragmático o encaminhamento da certidão diretamente àquele Juízo, com
intimação dos credores na reclamatória trabalhista.

Aliás, em relação à contribuição previdenciária incidente sobre


condenações trabalhistas, o art. 165 da Consolidação dos Provimentos da
Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019 estabelece justamente
esse procedimento, de remessa da certidão por ofício, com ciência à
Procuradoria da Fazenda Nacional.

Art. 165. A certidão de habilitação de crédito previdenciário e os documentos


que a instruem serão enviados, por ofício, ao administrador judicial do
processo de falência, dando-se ciência do ato ao representante judicial da
União.

A Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do


Trabalho ainda estabelece em seus arts. 163 164 os elementos que deve
conter a certidão de crédito previdenciário, bem como os documentos que
devem ser anexados, tudo em consonância com o anteriormente transcrito art.
9º da LRF.

138
Art. 163. Nas reclamações trabalhistas ajuizadas contra massa falida,
apurados os valores devidos a título de contribuições sociais, será expedida
certidão de habilitação de crédito previdenciário, que deverá conter:

I - indicação da vara do trabalho;

II - número do processo;

III - identificação das partes, com a informação dos números do CPF e CNPJ;

IV - valores devidos a título de contribuições sociais, discriminandose os


relativos à cota do empregado e do empregador;

V - data de atualização dos cálculos;

VI - indicação da vara em que tramita o processo alimentar;

VII - número do processo falimentar;

VIII - identificação e endereço do síndico ou administrador judicial.

Art. 164. À certidão de que trata o artigo anterior será anexada cópia dos
seguintes documentos:

I - petição inicial;

II - acordo ou sentença e decisão proferida pelo Tribunal Regional do


Trabalho ou pelo Tribunal Superior do Trabalho;

III - certidão de trânsito em julgado ou do decurso do prazo para recurso;

IV - cálculos de liquidação da sentença homologados pelo juiz do trabalho;

V - decisão homologatória dos cálculos de liquidação da sentença;

VI - outros que o juiz do trabalho considerar necessários. Parágrafo único. As


cópias serão autenticadas pelas secretarias das varas do trabalho, sem
prejuízo do que autoriza o artigo 830 da CLT.

Atenção especial às reclamatórias trabalhistas ajuizadas depois


da distribuição de pedido de recuperação judicial que foi
convolado em falência, pois podem conter créditos trabalhistas
híbridos, ou seja, créditos que estão em classes diferentes,
conforme a sua data de constituição. Nesse caso, é interessante
deixar essas situações claras na certidão.

Por fim, é necessário registrar que a lei da reforma recuperacional e


falimentar acrescentou o §10 ao art. 10 da LRF, o qual passou a prever um

139
prazo decadencial de três anos para a habilitação do crédito na falência,
bastante relevante aos credores trabalhistas.

Art. 10. (...)

§10. O credor deverá apresentar pedido de habilitação ou de reserva de


crédito em, no máximo, 3 (três) anos, contados da data de publicação da
sentença que decretar a falência, sob pena de decadência.

16.4.1. Liberação dos depósitos judiciais

Assim como vimos na recuperação judicial, aqui também nos


deparamos com o problema da liberação ou não ao trabalhador de depósitos
judiciais realizados na reclamatória trabalhista pelo falido antes da decretação
da quebra, em especial do depósito recursal. Dado que os argumentos são
exatamente os mesmos aos empregados naquela ocasião, apenas reforçados
aqui pela universalidade do Juízo falimentar, remetemos à leitura daquele
capítulo, ressaltando a conclusão pela necessária liberação dos depósitos
apenas ao Juízo falimentar.

16.4.2. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista

Expedidas as certidões aos credores, o art. 114 da Consolidação de


Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho estipula que
devemos suspender e arquivar provisoriamente a reclamatória trabalhista ou
ação de indenização por acidente de trabalho até o encerramento da falência.

Art. 114. Os juízes do trabalho manterão os processos em arquivo provisório


até o encerramento da Recuperação Judicial ou da falência que ela
eventualmente tenha sido convolada (artigo 156 e seguintes da Lei n.º
11.101/2005).

Parágrafo único. Os processos suspensos por Recuperação Judicial ou


Falência deverão ser sinalizados com marcador correspondente no Sistema
PJe.

Questão importante a tratar aqui é a de que, até a lei da reforma


recuperacional e falimentar, o encerramento da quebra por sentença não
extinguia as obrigações do falido, tanto que o revogado art. 157 da LRF
previa que o prazo prescricional relativo a essas obrigações recomeçava a
correr tão logo houvesse o trânsito em julgado de tal decisão.

140
Tratava-se de sentença de caráter meramente terminativo, que não
impedia que o credor não atendido na falência retornasse para a sua execução
singular originária para prosseguir com atos expropriatórios contra o falido ou
eventuais terceiros responsáveis.

Contudo, essa realidade quanto ao tratamento conferido às obrigações


do falido restou alterada. A partir da inclusão do inciso VI ao art. 158 da LRF, é
consequência direta da sentença de encerramento de falência a extinção das
obrigações demandadas ou não no processo falimentar.

Art. 158. Extingue as obrigações do falido: (...)

VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei.

Acrescente-se com tranquilidade que estão excepcionadas


também as situações em que o credor buscou, no seu processo
de origem, a responsabilidade secundária de terceiro, solidária
ou subsidiária.

A ressalva ao efeito de extinção automática das obrigações diz respeito


aos créditos fiscais de natureza tributária que, por conta de disposição
expressa do art. 191 do CTN, lei com força complementar, precisam ser
necessariamente quitados para serem extintos, não sendo atingidos pelo art.
158 da LRF, lei de caráter ordinário.

Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de


todos os tributos.

Adentrar-se-á em outros aspectos do art. 158 da LRF por ocasião do


tópico Encerramento da falência. Por ora, fique-se com a ideia de que a
sentença que extingue o processo falimentar passou a ter o efeito de abolir
todas as obrigações contra o falido, salvo as de caráter fiscal tributário.

Nas reclamatórias trabalhistas, isso significa para nós que estarão


extintas todas as dívidas do empresário ou sociedade empresária, seja pelo
efetivo pagamento no processo falimentar, seja pela hipótese do art. 924,
inciso III, do CPC, situação que, finalmente, leva-nos ao arquivamento
definitivo da ação, na forma do art. 119 da Consolidação de Provimentos da
Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019.

Art. 924. Extingue-se a execução quando: (...)

III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida;

Art. 119. O arquivamento definitivo do processo de execução, no âmbito da


Justiça do Trabalho, decorre da declaração, por sentença, da extinção da

141
execução, pela verificação de uma das hipóteses contempladas nos incisos II,
III, IV e V do artigo 924 do CPC, por se achar exaurida a prestação
jurisdicional.

Parágrafo único. É vedado o arquivamento com baixa definitiva do processo


de execução em qualquer situação não prevista no caput, inclusive em
processos reunidos em razão de centralização de execuções, processos
sobrestados ou arquivados provisoriamente.

A bem da verdade, o único crédito que poderia impedir esse


arquivamento definitivo é a contribuição previdenciária incidente sobre
condenações trabalhistas que eventualmente não tenha sido satisfeita no
procedimento falimentar pela falta de ativos da massa. Porém, esse crédito se
encontra em uma posição delicada quanto à sua satisfação, dado que não há
mais patrimônio do devedor para solvê-lo.

Assim, entende-se que o melhor caminho seja verificar a incidência ou


não da aplicação da prescrição intercorrente em relação a esse crédito,
intimando a União para impulsionar o processo, tal como previsto no art. 11-
A, §1º, da CLT, e, no silêncio, suspender o curso da execução por ano, no
modo do art. 40 da Lei nº 6.830/80, antes de iniciar a contagem do prazo
prescricional de dois anos.

De qualquer modo, como é absolutamente impossível prever a priori


quando se dará o encerramento da falência, sugere-se a inserção de marcador
de controle de prazo no GIGS do PJE para que, decorrido um período de cerca
de cinco anos a contar da expedição da certidão de crédito, surja um alerta de
prazo vencido no sistema. A partir daí, pode-se notificar os credores para que
nos informem se seus créditos já foram ou não satisfeitos ou se já houve o
encerramento falência.

Outra medida interessante de cooperação judicial que pode ser


realizada nesse caso são os Tribunais Regionais do Trabalho firmarem
convênios com os Tribunais de Justiça para que a Justiça do Trabalho seja
informada sempre que houver o trânsito em julgado de sentenças de
encerramento de quebra.

16.4.3. Reserva de crédito

Se, na recuperação judicial, vimos que a reserva de créditos vale


basicamente para garantir o direito a voto nas deliberações da assembleia
geral de credores, no procedimento falimentar esse instituto adquire
importância muito maior, posto que, além desse efeito, ele serve para prevenir
que o credor retardatário, ou seja, aquele que ainda não tem título executivo
quando da decretação da falência, fique de fora de rateios realizados antes da

142
sua habilitação e ainda tenha que pagar custas, de acordo com o art. 10, §§3º
e 4º, da LRF.

Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7º, §1º, desta Lei, as
habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias. (...)

§3º Na falência, os créditos retardatários perderão o direito a rateios


eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao pagamento de custas, não se
computando os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data
do pedido de habilitação.

§4º Na hipótese prevista no §3º deste artigo, o credor poderá requerer a


reserva de valor para satisfação de seu crédito.

Nesse sentido, é importante que o trabalhador e os demais credores de


reclamatórias trabalhistas em fase de conhecimento ou liquidação de sentença
dirijam à Justiça do Trabalho os seus pedidos de reserva, para que, na maneira
do art. 6º, §3º, da LRF, possam ser encaminhados por meio de ofício ao Juízo
da Vara Empresarial ou, em não tendo sido feito, o habilitem como crédito
retardatário o mais rápido possível naquele juízo, em razão do prazo
decadencial de três anos inserido no art. 10, §10, da LRF.

A partir da lei da reforma recuperacional e falimentar, a


habilitação de crédito retardatário gera automaticamente a
reserva do valor para a sua satisfação, conforme o §8º do art.
da LRF.

Entretanto, em especial na fase de conhecimento, há que se ter certa


contenção nas ordens de reserva de créditos que ainda são meramente
estimados. De acordo com o art. 149, §1º, da LRF, os valores ficarão
bloqueados e a classe dos trabalhadores é prioritária dentro dos credores
concursais. Assim sendo, reservas de quantias elevadas que não se confirmem
em liquidação de sentença poderão impedir o pagamento de credores das
classes subsequentes, além de distorcer as deliberações da assembleia geral.

Art. 149. (...)

§1º Havendo reserva de importâncias, os valores a ela relativos ficarão


depositados até o julgamento definitivo do crédito e, no caso de não ser este
finalmente reconhecido, no todo ou em parte, os recursos depositados serão
objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes.

Essa parcimônia, aliás, é a recomendação inserta na Orientação


Jurisprudencial nº 28, inciso III, da Seção Especializada em Execução do TRT
da 9ª Região.

143
Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada em Execução do
TRT da 9ª Região. (...) III - Falência e Recuperação Judicial. Reserva de
crédito. Valor estimado. A reserva de crédito na recuperação judicial ou na
falência (artigo 6º, § 3º, da Lei 11.101/2005) exige a presença de requisitos
que justifiquem o exercício do poder de cautela do juiz, sendo prescindível
decisão com trânsito em julgado.

17. Arrecadação e realização dos ativos da


massa falida

17.1. Arrecadação dos bens

Após assinar o termo de compromisso, o art. 108 da LRF fixa que a


primeira tarefa do administrador judicial é efetuar a arrecadação dos
documentos e de todos os bens que estejam na posse do falido, sejam ou não
de sua propriedade, e fazer a sua avaliação em até trinta dias, autorizando,
ainda, o art. 109 da LRF que ele solicite ao Juízo da Vara Empresarial o lacre
do estabelecimento quando houver, por exemplo, receio acerca da
preservação dos bens.

Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador


judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos
bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem,
requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias.

§ 1º Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou


de pessoa por ele escolhida, sob responsabilidade daquele, podendo o falido
ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens.

§ 2º O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avaliação. (...)

Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a
execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da
massa falida ou dos interesses dos credores.

17.2. Realização dos ativos

Uma vez arrecadados os bens e independentemente da formação do


quadro geral de credores, o art. 139 da LRF autoriza que o administrador
judicial comece a alienação dos ativos da massa falida, dando sempre
preferência para a venda da integralidade da empresa ou de suas filiais ou
unidades produtivas isoladas. Caso tal não seja possível, o art. 140 da LRF

144
recomenda a alienação em bloco dos móveis e imóveis e, só em último caso, a
venda de cada um deles individualmente.

Art. 139. Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo
auto ao processo de falência, será iniciada a realização do ativo.

Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas,
observada a seguinte ordem de preferência:

I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;

II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas


isoladamente;

III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos


estabelecimentos do devedor;

IV – alienação dos bens individualmente considerados.

§ 1º Se convier à realização do ativo, ou em razão de oportunidade, podem


ser adotadas mais de uma forma de alienação.

§ 2º A realização do ativo terá início independentemente da formação do


quadro-geral de credores. (...)

Durante o procedimento de arrecadação dos bens, não é incomum o


administrador judicial encontrar bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à
depreciação rápida ou de conservação arriscada ou dispendiosa. Para essas
situações, não é necessário aguardar o término do processo de arrecadação,
pois o art. 113 da LRF autoriza a venda antecipada desses bens.

Art. 113. Os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável


desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa,
poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação,
mediante autorização judicial, ouvidos o Comitê e o falido no prazo de 48
(quarenta e oito) horas.

Outra situação comum durante esta fase do processo falimentar é


surgirem interessados não na aquisição da empresa ou de unidades produtivas
isoladas, mas na sua locação. Para esses casos, o art. 114 da LRF autoriza
que o administrador judicial, autorizado pelo comitê de credores e com o
objetivo de produzir renda para a massa falida, celebre contratos de locação ou
arrendamento com terceiros.

Art. 114. O administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contrato


referente aos bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a
massa falida, mediante autorização do Comitê.

Nesses casos, especialmente quando a locação é do bloco empresarial


como um todo ou de alguma de suas filiais ou unidades produtivas isoladas, é
preciso alguma atenção à ocorrência de sucessão trabalhista.

145
Assim como mencionamos no capítulo da recuperação judicial, o art.
141, inciso II, da LRF protege expressamente apenas quem arremata sem
fraude os ativos da massa falida, inclusive afirmando o seu §2º que os
empregados do falido que forem por ele contratados o serão mediante novos
contratos de trabalho, sem o advento da sucessão trabalhista. Porém, em
nenhuma passagem da LRF há previsão semelhante para o locatário ou
arrendatário.

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa


ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata o art.
142:

I – todos os credores, observada a ordem de preferência definida no art. 83


desta Lei, sub-rogam-se no produto da realização do ativo;

II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá


sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de
natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes
de acidentes de trabalho.

§1º O disposto no inciso II do caput deste artigo não se aplica quando o


arrematante for:

I – sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada pelo falido;

II – parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consanguíneo


ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou

III – identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão.

§2º Empregados do devedor contratados pelo arrematante serão admitidos


mediante novos contratos de trabalho e o arrematante não responde por
obrigações decorrentes do contrato anterior.

Essa ausência de blindagem legal sujeita o locatário ou arrendatário à


jurisprudência trabalhista, que majoritariamente vincula os contratos de
trabalho à unidade econômica e entende caracterizada a sucessão de
empregadores na empresa, ainda que esta seja transferida apenas
provisoriamente, como são os casos de locação e arrendamento. Nesse
sentido é o acórdão da 2ª Turma do TST, no AIRR nº 1024-
30.2015.5.09.0562, julgado em 02/08/2017.

Para finalizar, questão interessante que foi introduzida no art. 142, §2º-
A, da LRF pela lei da reforma recuperacional e falimentar é a de que a
alienação dos ativos da massa falida deve ser feita independentemente de a
conjuntura do mercado no momento da venda ser favorável ou desfavorável,
dado o caráter forçado da venda, e não estará sujeita à aplicação do conceito
de preço vil.

146
18. Pagamento aos credores

Preconiza o art. 149 da LRF, tal como antecipamos quando do exame


da classificação dos créditos na falência, que os pedidos de restituições serão
os primeiros a serem atendidos pelo administrador judicial, salvo a situação
especial das restituições em dinheiro, seguidos dos créditos extraconcursais,
na ordem do art. 84 da LRF, e dos concursais, segundo a hierarquia do art.
83 da LRF, sempre respeitados os pedidos de reserva de cada um desses
créditos.

Os credores devem fazer o levantamento dos seus valores no prazo de


até sessenta dias da sua intimação para tanto, sob pena de o montante ser
destinado para rateio dos credores remanescentes.

Art. 149. Realizadas as restituições, pagos os créditos extraconcursais, na


forma do art. 84 desta Lei, e consolidado o quadro-geral de credores, as
importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao
pagamento dos credores, atendendo à classificação prevista no art. 83 desta
Lei, respeitados os demais dispositivos desta Lei e as decisões judiciais que
determinam reserva de importâncias.

§ 1º Havendo reserva de importâncias, os valores a ela relativos ficarão


depositados até o julgamento definitivo do crédito e, no caso de não ser este
finalmente reconhecido, no todo ou em parte, os recursos depositados serão
objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes.

§ 2º Os credores que não procederem, no prazo fixado pelo juiz, ao


levantamento dos valores que lhes couberam em rateio serão intimados a
fazê-lo no prazo de 60 (sessenta) dias, após o qual os recursos serão objeto
de rateio suplementar entre os credores remanescentes.

Especificamente em relação à ordem de pagamento dos credores


trabalhistas, é possível elaborar o seguinte resumo, conforme a natureza e a
data da constituição do crédito, além do seu valor máximo.

Logo depois dos pedidos de restituição, são pagos imediatamente, com


o dinheiro disponível em caixa os trabalhadores que prestaram serviços ao
falido nos três meses anteriores à decretação de quebra, isso nos seus
créditos de natureza estritamente salarial, até o limite de cinco salários
mínimos per capita. São os créditos de natureza extraconcursal do inciso I-A
do art. 84 da LRF.

Logo adiante, na quarta posição dos extraconcursais, estão os créditos


trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho que tiverem sido
constituídos após a declaração da falência, vale dizer, dos trabalhadores que
seguiram trabalhando após esse marco, nas situações de continuação

147
provisória das atividades do falido. Eles estão elencados no inciso I-D do art.
84 da LRF.

Em seguida, no quinto posto e fechando as classes trabalhistas dentro


do grupo dos extraconcursais, situam-se os créditos dos trabalhadores e os
decorrentes de acidente de trabalho que tiverem sido constituídos
posteriormente ao ajuizamento de eventual recuperação judicial que precedeu
à falência e que, consequentemente, a ela não se sujeitaram. Eles estão
arrolados no art. 84, inciso I-D, da LRF.

Já no grupo dos concursais, a ordem de pagamentos começa no inciso


I do art. 83 da LRF com os créditos trabalhistas, limitados a cento e cinquenta
salários-mínimos, e com os créditos decorrentes de acidentes de trabalho
constituídos antes da decretação de quebra, ou antes da distribuição do pedido
da recuperação judicial, se esta tiver sido convolada em quebra.

O que ultrapassar cento e cinquenta salários-mínimos cai para a quarta


classe dos créditos concursais, sendo pago junto com os demais créditos
quirografários, conforme o art. 83, inciso IV, da LRF, logo depois dos créditos
fiscais.

Em recente acórdão envolvendo a liquidação extrajudicial de


instituição financeira, a 3ª Turma do STJ entendeu no REsp nº
1.981.314/CE, julgado em 15/03/2022, que, para o cálculo do
teto de cento e cinquenta salários mínimos, deveriam ser
acrescidos os créditos recebidos previamente pelo empregado
no procedimento de liquidação extrajudicial.

Finalmente, se ainda houver algum produto de ativos na massa falida,


os juros pós quebra de todos esses créditos acima, bem como de os demais
credores, são os últimos a serem pagos pelo administrador judicial, na forma
do inciso IX do art. 83 da LRF.

19. Encerramento da falência

Depois de esgotados os ativos da massa falida, tenham sido ou não


atendidos os credores de todas as classes, o administrador apresentará suas
contas que, após julgadas e aprovadas, gerarão um relatório final com o
montante dos ativos e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o

148
dos pagamentos feitos aos credores, e as responsabilidades com que
continuará o falido, tudo no modo do art. 155 da LRF.

Art. 155. Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o


relatório final da falência no prazo de 10 (dez) dias, indicando o valor do ativo
e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos pagamentos
feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com
que continuará o falido.

De posse desse relatório, o art. 156 da LRF prevê que o Juiz da Vara
Empresarial então proferirá a sentença de encerramento da falência, com
publicação de edital e intimação das Fazendas Públicas, além de determinação
de baixa do CNPJ do falido junto à Receita Federal do Brasil.

Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença
e ordenará a intimação eletrônica às Fazendas Públicas federal e de todos os
Estados, Distrito Federal e Municípios em que o devedor tiver
estabelecimento e determinará a baixa da falida no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica (CNPJ), expedido pela Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil.

Questão importante a tratar aqui é a de que, até a lei da reforma


recuperacional e falimentar, o encerramento da quebra por sentença não
extinguia as obrigações do falido, tanto que o revogado art. 157 da LRF
previa que o prazo prescricional relativo a essas obrigações recomeçava a
correr tão logo houvesse o trânsito em julgado de tal decisão.

Tratava-se de sentença de caráter meramente terminativo.

Contudo, essa realidade quanto ao tratamento conferido às obrigações


do falido restou alterada. A partir da inclusão do inciso VI ao art. 158 da LRF, é
consequência direta da sentença de encerramento de falência a extinção
dessas obrigações, isso se esta for proferida em prazo inferior a três anos da
decretação da quebra, porque, sim, o também recém-incluído inciso V do art.
158 da LRF prevê que essa mesma extinção ocorre decorrido o prazo de três
anos da data de decretação da falência, ressalvada a apuração de ativos e o
pagamento aos credores habilitados ou com pedido de reserva no processo
falimentar em andamento.

Art. 158. Extingue as obrigações do falido:

I – o pagamento de todos os créditos;

II - o pagamento, após realizado todo o ativo, de mais de 25% (vinte e cinco


por cento) dos créditos quirografários, facultado ao falido o depósito da
quantia necessária para atingir a referida porcentagem se para isso não tiver
sido suficiente a integral liquidação do ativo;

III - (revogado);

IV - (revogado);

149
V - o decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da falência,
ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão
destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou com
pedido de reserva realizado;

VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei.

Esse preceito também traz outras duas modalidades de extinção das


obrigações do falido, quais sejam o pagamento de todos os créditos e o
pagamento de mais de vinte e cinco por cento da classe dos quirografários. A
primeira hipótese normativa já existia antes da lei da reforma recuperacional e
falimentar e a segunda foi reduzida de cinquenta para vinte e cinco por cento
dos quirografários.

Tudo isso quer dizer que, se durante o curso do processo falimentar,


ocorrer o pagamento de todos os créditos ou de mais de vinte e cinco por cento
dos quirografários, dá-se o efeito inerente de extinção das obrigações do falido,
ressalvadas, é claro, aquelas habilitadas ou com pedido de reserva nesse
processo, cujos ativos da massa falida sejam suficientes para cobrir.

Ademais, se passarem três anos da data da decretação da falência,


independentemente das classes de credores já pagos, também ocorre o efeito
automático de extinção das obrigações do falido, ressalvadas aquelas
habilitadas ou com pedido de reserva no processo falimentar, cujos ativos da
massa falida sejam suficientes para cobrir. Esse período é comumente
apelidado de fresh start.

Finalmente, se esse processo tramitar muito rapidamente e a sentença


de encerramento de falência transitar em julgado antes de três anos, a extinção
das obrigações será consequência direta dessa decisão, impedindo que
credores eventualmente não atendidos na quebra retornem aos seus
processos de origem para buscar algum tipo de responsabilização residual em
face do falido.

A extinção das obrigações do falido em decorrência da sentença


de encerramento da falência aplica-se imediatamente aos
processos falimentares em andamento, pois o art. 5º, §5º, da lei
da reforma recuperacional e falimentar positiva que “o disposto
no inciso VI do caput do art. 158 terá aplicação imediata,
inclusive às falências regidas pelo Decreto-Lei nº 7.661, de 21
de junho de 1945”.

A única ressalva ao efeito de extinção automática das obrigações diz


respeito aos créditos fiscais de natureza tributária que, por conta de disposição

150
expressa do art. 191 do CTN, lei com força complementar, precisam ser
necessariamente quitados para serem extintos, não sendo atingidos pelo art.
158 da LRF, lei de caráter ordinário.

Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de


todos os tributos.

20. Responsabilidade secundária na falência

Muito do que foi estudado no capítulo da recuperação judicial acerca


da responsabilidade secundária também guarda idêntica aplicação no processo
falimentar, de modo que, para uma visão geral do tema, remete-se à leitura do
tópico supra mencionado. Aqui serão tratados os pontos mais importantes e as
situações particulares da falência, destacadas.

Atenção especial aqui ao prazo de três anos, contados da data


de decretação da falência (art. 158 da LRF), que extingue as
obrigações do falido e, caso ainda não tenha havido o
redirecionamento da execução, da responsabilidade secundária
de terceiro solidária ou subsidiariamente responsável.

20.1. Responsabilidade do devedor constante no título


executivo

A primeira modalidade de responsabilidade secundária objeto de


debate nas reclamatórias trabalhistas em que o devedor principal é empresa
falida é a do devedor que já consta no título executivo, ou por ter participado do
processo desde a fase de conhecimento, ou pela ordem de suspensão das
execuções singulares ter sido dada pelo Juízo da Vara Empresarial depois do
trânsito em julgado da nossa decisão que o chamou ao processo em fase de
execução.

Se ao devedor tiver sido imputada a responsabilidade solidária, como


nos casos de grupo econômico constante do título, não há nenhuma
controvérsia quanto à possibilidade de habilitação do crédito no processo
falimentar e o prosseguimento imediato e simultâneo da execução trabalhista

151
contra o solidariamente coobrigado, até por força de interpretação analógica do
art. 127 da LRF.

Art. 127. O credor de coobrigados solidários cujas falências sejam decretadas


tem o direito de concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito,
até recebê-lo por inteiro, quando então comunicará ao juízo.

Cenário idêntico encontra-se nos casos de responsabilidade


subsidiária, como a terceirização de serviços, pois se entende na
jurisprudência trabalhista que o benefício de ordem a ele entregue se esvai
simplesmente com o inadimplemento do devedor principal, tal como consta na
Súmula nº 331, inciso IV, do TST.

Como pôde ser inferido previamente no capítulo da recuperação


judicial, adotam esse entendimento pelo menos cinco súmulas ou orientações
jurisprudenciais de Tribunais Regionais, cabendo aqui apenas adicionar o
interessante e compreendido como correto entendimento da Orientação
Jurisprudencial nº 28, inciso VI, da Seção Especializada do TRT da 9ª Região,
acerca da possibilidade de incidência de juros moratórios em face do devedor
subsidiário, após a decretação da falência do principal.

Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada do TRT da 9ª


Região. (...) VI - Falência. Juros de mora. Responsabilidade subsidiária. Se a
execução for dirigida diretamente contra o responsável subsidiário (empresa
não falida), incidem juros de mora nos termos do artigo 883 da CLT e 39 da
Lei 8.177/91. Os juros são exigíveis do devedor subsidiário ainda que a
massa falida satisfaça o principal, parte deste ou parte dos juros.

20.2. Responsabilidade do devedor não constante no


título executivo

A segunda possibilidade de redirecionamento da execução trabalhista


contra terceiros quando o devedor é falido se dá nas situações em que esses
terceiros ainda não constam no título executivo por ocasião da decisão de
decretação de quebra e suspensão das execuções dada pelo Juiz da Vara
Empresarial.

Aqui será necessário primeiro uma decisão da Justiça do Trabalho que


permita o contraditório e determine a inclusão do terceiro no polo passivo da
reclamatória trabalhista na qualidade de corresponsável. Depois do trânsito em
julgado dessa decisão, pode-se prosseguir tal como no item anterior, conforme
jurisprudência amplamente majoritária do TST, aqui representada por acórdão
da sua 3ª Turma no AgAIRR nº 550-76.2014.5.02.0081, julgado em
25/02/2022.

152
A legitimidade da execução na Justiça do Trabalho de bens que,
a despeito de não integrarem a massa falida, pertencem a
pessoa jurídica do mesmo grupo econômico de sociedade
submetida a procedimento falimentar era objeto do Tema de
Repercussão Geral nº 878 do STF. Entretanto, em 18/03/2016 o
Supremo entendeu ser de natureza infraconstitucional a
controvérsia e desafetou a repercussão geral dessa temática.

20.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da falida

Concluiu-se, quando da responsabilidade do sócio da recuperanda,


que o novo art. 82-A da LRF, que trata da proibição de extensão dos efeitos da
falência aos sócios e administradores da falida, salvo na desconsideração da
personalidade jurídica com base no art. 50 do Código Civil, não é direcionado à
Justiça do Trabalho.

Com efeito, seu endereço é apenas ao Juiz da Vara Empresarial, de


maneira que ele não impede que façamos a desconsideração da personalidade
jurídica nos autos da própria reclamatória trabalhista e a ela, querendo,
apliquemos regras próprias de microssistema especial de normas de

153
responsabilidade dos sócios, leia-se o art. 28, §5º do Código de Defesa do
Consumidor.

Para os administradores de sociedades anônimas, por força do


art. 158 da Lei nº 6.404/76, a jurisprudência trabalhista
normalmente adota a teoria maior ou subjetiva do art. 50 do
Código Civil. Nesse sentido, a Orientação Jurisprudencial nº 31
da Seção Especializada do TRT da 4ª Região consolidou
entendimento de que “é viável o redirecionamento da execução
contra sócios-controladores, administradores ou gestores de
sociedade anônima quando caracterizado abuso de poder,
gestão temerária ou encerramento irregular das atividades
empresariais”.

Portanto, o artigo introduzido pela lei da reforma recuperacional e


falimentar não altera em nada a jurisprudência trabalhista que autoriza a
desconsideração da personalidade jurídica nos próprios autos da reclamatória
trabalhista quando a devedora principal é falida, como já pudemos ver em ao
menos duas orientações jurisprudenciais de Tribunais Regionais, em várias
Turmas do TST e nas duas Turmas que compõem a Seção de Direito Privado
do STJ.

21. Efeitos da falência sobre os contratos de


trabalho ativos

A regra constante no art. 117 da LRF é a de que os contratos


bilaterais do falido não se extinguem com a decretação da falência, podendo
haver a sua continuação ou resilição, conforme decidir o Juiz da Vara
Empresarial. Com efeito, é possível que a continuação provisória autorizada
pelo art. 99, inciso XI, da LRF seja a melhor alternativa para maximizar o valor
dos ativos da massa e pagar o maior número possível de credores.

Nessa continuação provisória da atividade empresarial, a gestão do


negócio será realizada pelo administrador judicial, a quem cabe decidir sobre o
futuro dos contratos de trabalho ativos por ocasião da decretação da quebra.
Ele pode manter os trabalhadores existentes, reduzir o quadro de empregados
ou até fazer novas contratações, sempre lembrando que os direitos oriundos

154
dos contratos de trabalho subsistem sem qualquer alteração mesmo no caso
de falência, na forma do art. 449 da CLT.

Portanto, eventuais reduções do quadro serão entendidas como


resilição unilateral sem justa causa (dispensa sem justa causa), gerando aos
trabalhadores dispensados todos os direitos resilitórios que dela normalmente
decorrem, exceto a multa do art. 477, §8º, da CLT em eventual atraso no
pagamento das parcelas rescisórias, como será analisado abaixo.

No cenário de continuidade das atividades empresariais, pode-se


enxergar, igualmente, o seu prosseguimento não pelo administrador judicial,
mas por terceiros locatários, arrendatários e adquirentes do bloco empresarial
ou de unidades produtivas isoladas, com a manutenção dos empregados do
falido.

Nestas situações, aos adquirentes em alienação judicial é assegurada


a blindagem contra a sucessão trabalhista, extinguindo-se os contratos de
trabalho anteriores e formando-se novos, por força do art. 141, inciso II e §2º,
da LRF. Já aos locatários e arrendatários não existe tal privilégio na lei, ficando
sujeitos à jurisprudência trabalhista, que muitas vezes entende pela ocorrência
de unicidade contratual e de sucessão trabalhista.

A outra face da moeda é a determinação de cessação imediata das


atividades do falido pelo Juízo da Vara Empresarial. Essa decisão, tal como as
reduções de quadro vistas no parágrafo acima, provocará o rompimento
imotivado dos contratos de trabalho ativos na data da decretação da falência,
gerando aos trabalhadores dispensados todos os direitos resilitórios
decorrentes da dispensa sem justa causa, exceto a multa do art. 477, §8º, da
CLT.

Essa multa e também a do art. 467 da CLT não são devidas pela
massa falida, por força da conhecida Súmula nº 388 do TST.

Súmula nº 388 do TST. Massa falida. Arts. 467 e 477 da CLT.


Inaplicabilidade. A Massa Falida não se sujeita à penalidade do art. 467 e
nem à multa do § 8º do art. 477, ambos da CLT.

Entretanto, para que tal entendimento jurisprudencial tenha campo de


aplicação, é preciso que a data do pagamento das rescisórias ou a da
audiência em que se deveriam pagar as parcelas rescisórias incontroversas
estejam situadas após a data de decretação da quebra, pois é só após a
quebra que o falido perde a disponibilidade sobre seus bens. Nesse sentido, a
Súmula nº 21 do TRT da 15ª Região.

Súmula nº 21 do TRT da 15ª Região. Falência. Cabimento da dobra prevista


no art. 467, da CLT. É cabível a aplicação da dobra prevista no art. 467, da
CLT, quando a decretação da falência é posterior à realização da primeira
audiência.

155
Resumo da aula 5

Nesta última aula do curso, seguiu-se no estudo da falência,


detalhando o seu procedimento e observando que a massa falida será
representada extra e judicialmente por seu administrador judicial, passando a
contar com alguns privilégios nas reclamatórias trabalhistas, como dispensa de
custas, depósitos recursais e de garantia do juízo para embargar a execução.

Aprendeu-se também que a quebra, tal como a recuperação judicial,


gera o efeito suspensivo das execuções e medidas constritivas singulares a
partir da decisão que a decreta, com possibilidade de prosseguimento apenas
das reclamatórias trabalhistas ilíquidas, que vão até a estabilização da decisão
de liquidação de sentença e com possibilidade de pedido de reserva, para não
se perderem os rateios.

Também concluiu-se, tal como na recuperação judicial, que a falência


não paralisa eventual pretensão do credor trabalhista de imputar
responsabilidade secundária a terceiro responsável solidária ou
subsidiariamente, e que as regras aplicáveis lá aqui também valem.

Descobriu-se, além disso, que os créditos serão habilitados na quebra


por meio de certidões emitidas pela Justiça do Trabalho, contemplando juros e
correção monetária até a data do pedido de falência e lembrou-se que os juros
posteriores a essa data dificilmente serão pagos no procedimento falimentar,
por estarem em último lugar dentre os créditos concursais.

Viu-se que, depois da expedição de certidões, o processo deve ser


arquivado, apenas provisoriamente, até a extinção da falência, quando então,
não obstante possa ainda haver a inadimplência de contribuição previdenciária,
poderá ser arquivado em definitivo.

Para fechar, apurou-se que a falência em absolutamente nada afeta os


contratos de trabalho e que eventuais resilições serão consideradas dispensas
sem justa causa, gerando o pagamento de todas as parcelas rescisórias
inerentes a esta modalidade de extinção contratual, exceto a multa decorrente
do seu atraso.

Espera-se que o curso tenha sido proveitoso e que ele seja um auxílio
na prática jurisdicional diária.

156
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