Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TRABALHO
Auditor Fiscal do Trabalho
SUMÁRIO
DIREITO DO TRABALHO ....................................................................................................................................... 5
1. Empregado.......................................................................................................................................................... 5
2. Empregador ...................................................................................................................................................... 23
1
3.4 Classificação .............................................................................................................................................................................54
2
4.5 Estabilidade e Garantias de Emprego: Consequências Jurídicas da Dispensa Irregular .......................76
3
Olá, concurseiros e futuros Auditores Fiscais do Trabalho!
Sabemos que a jornada de preparação na busca pelo cargo dos sonhos não é nada
fácil. Mas preparamos esse super conteúdo para te ajudar a chegar ainda mais forte
nos dias das provas do seu concurso.
Nesse e-book você acessará um Top 5 Temas de Direito do Trabalho, para que você possa
intensificar a sua jornada de estudos para a carreira de Auditor Fiscal do Trabalho.
Os temas foram selecionados com base em uma análise minuciosa das provas dos últimos
concursos para a carreira, realizados em 2010 e 2013.
Um estudo direcionado e assertivo é a chave da sua aprovação. Por isso, preparamos esse
material com muito cuidado, para que a sua jornada seja eficiente e você possa, muito em
breve, comemorar a aprovação no concurso!
4
DIREITO DO TRABALHO
1. Empregado
“CLT, Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza
não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.”
Nota-se, assim, que a própria legislação trabalhista traz o conceito de empregado e delimita
os seus requisitos fundamentais: trabalho prestado por pessoa física, não eventualidade,
subordinação jurídica e onerosidade.
“Empregado é toda pessoa natural que contrate, tácita ou expressamente, a prestação de seus
serviços a um tomador, a este efetuados com pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e
subordinação.”1
Tendo em vista que cada um dos elementos fático-jurídicos da relação de emprego foram
destrinchados anteriormente, passemos ao estudo de outros aspectos sobre o tema
“Empregado”.
1
DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p. 417.
5
1.2 Altos empregados
(...)
Parágrafo único - O regime previsto neste capítulo será aplicável aos empregados
mencionados no inciso II deste artigo, quando o salário do cargo de confiança,
compreendendo a gratificação de função, se houver, for inferior ao valor do respectivo salário
efetivo acrescido de quarenta por cento.”
Aqui se tem o que Alice Monteiro de Barros denomina confiança excepcional, na qual o
empregado possui amplos poderes de gestão2. Tal poder é conferido ao trabalhador que
2
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5 ed. São Paulo: Ltr, 2009. p. 289.
6
substitui o próprio patrão, efetuando contratações e dispensas, contraindo empréstimos em
nome da empresa, etc.
“As disposições deste artigo não se aplicam aos que exercem funções de direção,
gerência, fiscalização, chefia e equivalentes, ou que desempenhem outros cargos de
confiança, desde que o valor da gratificação não seja inferior a um terço do salário
do cargo efetivo.”
7
contrato de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço desse
período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego.”
Conforme visto, a figura do alto empregado possui aspectos peculiares os quais você
deve estar atento para eventuais questões de prova.
3 Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto
não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das
autoridades competentes.
Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A desta
Consolidação, com a mesma eficácia legal e preponderância sobre os instrumentos coletivos, no caso de empregado portador
de diploma de nível superior e que perceba salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do
Regime Geral de Previdência Social.
8
que a LC 150 determinar a sua aplicação e, apenas subsidiariamente, quando houver lacuna na
Lei, desde que os dispositivos da CLT guardem compatibilidade com as peculiaridades do
trabalho doméstico.
11
b) aos trabalhadores rurais, assim considerados aqueles que, exercendo funções
diretamente ligadas à agricultura e à pecuária, não sejam empregados em atividades
que, pelos métodos de execução dos respectivos trabalhos ou pela finalidade de suas
A CLT estendia poucos dispositivos a esses trabalhadores (ex. salário mínimo, férias,
aviso prévio) e, nem mesmo a CF de 1946 (que fortaleceu diversos direitos sociais) conseguiu
alterar esse panorama, pois o art. 157, XII, que garantia estabilidade na empresa e na
exploração rural foi considerado por largo período de tempo como não autoaplicável,
contexto que só restou modificado com em 1963, com o surgimento da Estatuto do
Trabalhador Rural.
A controvérsia, a esse respeito, fora instaurada em virtude da redação do art. 7º, "b" da
CLT, senão vejamos:
13
Pelo texto da CLT acima transcrito, o empregado rural se caracteriza a partir da
atividade por ele desenvolvida junto ao seu empregador. Destarte, da leitura desse dispositivo,
entende-se que o foco caracterizador estaria no empregado, considerada a atividade, o
serviço, por ele prestada em favor do empregador. Nessa esteira de pensamento, se a
atividade é de agricultura e pecuária, e não é comercial ou industrial, ele é empregado rural.
Destaca-se, ainda, a Lei Complementar 11/1961, que previu que é rural aquele que
presta serviço rural ao empregador, o que, mais uma vez, atraiu o foco novamente para o
empregado. Restabelece-se, historicamente, a dúvida.
Ideia trazida pela Lei nº. 4214 de 1963 (art. 2º) e também disposto na Lei nº. 5889 de
1973 (art. 2º), tem por base o segmento da atividade do empregador; assim, será rurícola todo
aquele que estiver vinculado a um empregador rural, vejamos:
O texto da lei especial trouxe um elemento que inovou a controvérsia anterior: o local
de trabalho, que deve ser uma propriedade rural ou prédio rústico. A jurisprudência traz
uma exceção a esse critério, é o caso das empresas florestamento e reflorestamento –
registradas como urbanas, mas cujos empregados serão tidos como rurais.
14
Atenção para a OJ 38 da SDI-1 sobre o tema, cujo conteúdo já foi objeto de questão
em prova.
15
Além disso, a ordem jurídica fixa um segundo critério relevante: o local da prestação
laborativa (é o que ocorre quando a Lei do Trabalhador Rural se refere ao trabalho executado
em imóvel rural ou prédio rústico).
Da leitura do texto internacional, considera-se trabalhador rural não apenas aquele que
seja assalariado (empregado rural), mas também o autônomo e o eventual (boia fria). Houve
extensão do conceito de trabalhador rural pelo diploma internacional ratificado, de forma que
passou a ser enquadrado como tal não apenas os empregados, mas também os trabalhadores
não empregados. Por isso, questiona-se, inicialmente, quem seria o destinatário da legislação
do rural: se qualquer trabalhador rural ou apenas o empregado rural.
2ª corrente: se aplica a qualquer trabalhador rural, ainda que meeiro, parceiro, ou seja,
qualquer tipo de contrato. Não precisa ter subordinação.
16
A presença da subordinação é essencial para que haja a transferência do risco para o
tomador dos serviços (ainda que não necessariamente empregador), hipótese na qual se pode
cogitar da proteção do trabalhador rural.
Diante das divergências decorrentes dos conceitos 2.1. e 2.2. surgiram, então, algumas
correntes acerca do critério a ser adotado:
• 3° corrente (Maurício Godinho Delgado): tem que ter os dois requisitos. É necessário
que o empregador seja rural e que o trabalho seja em área rural.
17
elementos fático-jurídicos especiais os demais elementos comuns a qualquer relação de
trabalho.
Irrelevante o tipo de trabalho prestado ou o método utilizado para tal fim, o que importa
é a vinculação a um empregador rural e o labor executado em espaço rural. A exceção a este
critério é apenas os empregadores que realizam atividade tipicamente rural, em local rural,
mas é enquadrado como urbano, pois esses mesmo assim se enquadram como empregador
rurícola. Nesse sentido, veja a OJ nº. 38 da SDI-I-, TST. Veremos com mais profundidade este
assunto no capítulo relativo ao empregador.
(2016 – FCC - TRT - 1ª REGIÃO - RJ) Juiz do Trabalho Substituto. Em relação às relações
de trabalho rural, conforme previstas na Lei n° 5.889/73, é correto afirmar: a) A indenização
devida ao trabalhador safrista, pelo término normal do contrato, é de uma remuneração
mensal. b) Empregador rural é apenas a pessoa, física ou jurídica, proprietária de terras que
explore atividade agroeconômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por
prepostos. c) O Trabalho noturno na lavoura, permitido apenas aos empregados maiores de
16 anos, é aquele compreendido entre 21 horas de um dia e 5 horas do dia seguinte. d) O
18
adicional noturno será de, pelo menos, 25% sobre a remuneração normal. e) Dadas as
peculiaridades das atividades desenvolvidas, são incompatíveis com o trabalho rural as regras
de equiparação salarial previstas no artigo 461 da CLT. RESPOSTA: LETRA “D”. COMENTÁRIOS:
A questão em tela necessita de conhecimentos prévios sobre a lei 5.889/73 (lei do trabalhador
rural). Alternativa "a": viola o artigo 14 da lei (Expirado normalmente o contrato, a empresa
pagará ao safrista, a título de indenização do tempo de serviço, importância correspondente a
1/12 (um doze avos) do salário mensal, por mês de serviço ou fração superior a 14 (quatorze)
dias"). Alternativa "b": viola o artigo 3º da lei ("Considera-se empregador, rural, para os efeitos
desta Lei, a pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, que explore atividade
agroeconômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e
com auxílio de empregados"). Alternativa "c": viola o artigo 8º da lei ("Ao menor de 18 anos é
vedado o trabalho noturno"). Alternativa "d": está de acordo com o artigo 7º, caput, da lei
("Todo trabalho noturno será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento) sobre a remuneração
normal").
Alternativa "e": viola o artigo 1º da lei ("As relações de trabalho rural serão reguladas por
esta Lei e, no que com ela não colidirem, pelas normas da Consolidação das Leis do Trabalho,
aprovada pelo DL 5.452/43), destacando-se que pela doutrina e jurisprudência (incluindo do
TST) é plenamente cabível a equiparação salarial no trabalho rural.
a) aviso prévio: o trabalhador urbano, quando o aviso prévio for trabalhado, poderá
reduzir 7 dias corridos ou 2 horas a cada dia de trabalho; o rural tem direito à liberação de 1
dia para cada semana de aviso prévio. Note-se que os dois têm direito a aviso prévio,
inclusive o proporcional, sendo que a distinção repousa no exercício do direito.
19
b) Intervalo intrajornada: o intervalo do trabalhador urbano – a ser minuciosamente
estudado mais adiante - é de, no mínimo, 1 e, no máximo, 2 horas, quando a jornada for
superior a seis horas; para as jornadas superiores a 4 horas e inferiores ou iguais a 6 horas,
será de 15 minutos. Para o trabalhador rural, a lei não previu a concessão de intervalo,
quando a jornada fosse igual ou inferior a 6 horas; por outro lado, para as jornadas
superiores, o legislador mencionou que seguirá os usos e costumes da região.
d) Adicional noturno e hora noturna: o trabalhador rural tem adicional noturno de 25%
e não tem direito à redução ficta da hora noturna. Também se diferenciam pelo conceito da
hora noturna. Enquanto, para os urbanos, considera-se hora noturna aquela compreendida
entre as 22h de um dia, e as 05h do dia subsequente; para os rurais, considera-se hora
noturna aquela compreendida entre as 21h às 05h, quando agricultores, ou 20h às 04h,
quando pecuaristas.
Especificamente quanto à moradia, o art. 9°, §3°, da Lei 5.889/73, esclarece que, uma vez
rescindido o contrato, o empregado terá o dever de desocupar a casa no prazo de 30 dias.
Tratando-se de moradia coletiva, o desconto com o salário utilidade será proporcional ao
número de empregados incluídos na moradia.
20
Em qualquer hipótese, é vedada a moradia coletiva de famílias.
Existem os índios isolados, que são aqueles índios que não possuem contato com a
civilização. Ou seja, eles não possuem contato com os demais habitantes do território
nacional. Eles são raros, mas ainda existem, como na região norte do Brasil.
Há os índios via de integração. São índios que já possuem algum contato, mas que não
estão totalmente aculturados.
Veja-se que a lei traz três situações e três efeitos distintos para cada espécie de indígena.
O índio isolado não pode firmar contrato de trabalho, não possui capacidade para tanto. Por
21
essa razão é que eventual contrato de trabalho firmado com um índio isolado será
considerado um contrato de trabalho nulo, inválido, visto que ele não possui capacidade.
Mais adiante, será estudada a teoria das nulidades trabalhistas e considerando essa
teoria, o fato do contrato de trabalho ser nulo, não significa que o índio terá seus direitos
trabalhistas sonegados, não significa que ele deixará de ter e receber os seus direitos
trabalhistas.
Se o índio estiver em vias de integração, mas não estiver totalmente integrado, ele
poderá firma contrato de trabalho, mas necessitará da assistência do órgão de proteção
ao índio, que, no caso, é a FUNAI. Desse modo, pode haver a celebração de contrato, desde
que esteja assistido pela FUNAI.
Por fim, quanto aos índios integrados e totalmente acostumados com a civilização, eles
podem celebrar contrato de trabalho e esse será válido. Inclusive, a lei que trata acerca do
contrato de trabalho dos índios, ela disciplina o contrato de equipe, assevera que se deve
favorecer a contratação dos índios por meio do contrato de equipe, uma vez que esses,
normalmente, são acostumados a desenvolver um trabalho comunitário.
Esses são os aspectos mais importantes, sendo a distinção entre as espécies de indígenas
o mais relevante e provável de ser cobrado no concurso.
22
2. Empregador
Somado a isso, o art. 2º, §1º da CLT apresenta a figura do empregador por
equiparação, assim considerado para efeitos exclusivos da relação de emprego, sendo essa
categoria composta por profissionais liberais, instituições de beneficência, associações
recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como
empregados.
23
A noção jurídica de empregador, como se percebe, é essencialmente relacional à do
empregado: existindo esta última figura no vínculo laboral pactuado por um tomador de
serviços, este assumirá, automaticamente, o caráter de empregador na relação jurídica
consubstanciada.”
A Lei do Trabalho rural refere-se “à pessoa física ou jurídica” enquanto que a CLT faz
referência à empresa, ou seja, à atividade.
• Empresa X Estabelecimento
24
até podem vir a configurar empresa se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa (p. ex., médico que passa a gerir um hospital).
Quando a CLT afirma que o empregador será empresa, não significa que o
empregador será apenas a pessoa jurídica ou física que está contratando, mas a atividade,
de modo que, se ele repassa essa atividade para outra pessoa, essa será considerada
sucessora no âmbito daquela relação de trabalho, subsistindo o contrato. A atividade
empresarial continua.
9.2.1 Fundamentos
Existem várias teorias que tentam legitimar o poder diretivo. Desde a ideia
institucionalista, a ideia de propriedade privada, mas o fundamento que a doutrina
majoritária atualmente aponta reside no contrato de trabalho.
25
Clara é a ideia de autonomia da vontade, de que o Direito do Trabalho caminha como
um ramo do Direito Privado, pois permanece viva a ideia de autonomia da vontade, então
quando pressupõe um contrato de trabalho, pressupõe um encontro de vontades que são
livres e autônomas.
São faces da mesma moeda, pois, da mesma forma que o contrato de trabalho outorga
ao empregador o poder de comandar a prestação de serviços, ele irá impor ao empregado –
porque ele aceita – a subordinação, o dever de obediência do empregado às ordens do
empregador.
É algo que não reside na força, mas na ideia de contratação, de autonomia de vontade.
O contrato confere ao empregador o poder diretivo e confere ao empregado, a subordinação
jurídica – aspectos inerentes à relação de trabalho, onde há alguém que manda e alguém que
obedece. As ordens não podem ultrapassar limites, não podem extrapolar o contrato de
trabalho.
26
Assim como o empregador possui o poder diretivo de comandar, de dar ordens, de
dirigir a prestação de serviços, do ponto de vista do trabalhador, para sua proteção quando o
poder diretivo é utilizado de forma abusiva, extrapolando aquilo que o ordenamento jurídico
permite ao empregador exigir de seu empregado, há o direito de resistência desse último. O
empregado tem o direito de resistir, de descumprir ordens do empregador que sejam, por
exemplo, ilegais, abusivas, em desacordo com o que foi objeto do contrato de trabalho.
Ex.: um médico contratado para fazer cirurgias e o empregador para economizar pede
que o médico realize as cirurgias sem levar em conta alguns procedimentos de segurança.
Nesse caso, o médico pode recusar esse tipo de ordem. É um direito de resistência de
natureza técnica, pois enquanto profissional que tem o conhecimento técnico, pode resistir a
ordens que sejam contrárias às normas técnicas aplicáveis.
O empregado tem direito de resistir a outros comandos, nos casos de situações que no
contrato de trabalho lhes sejam prejudiciais. O direito de resistência existe e pode ser
invocado pelo empregado para resistir ao poder diretivo quando e se ele for utilizado de
forma abusiva por parte do empregador.
A CLT traz alguns mecanismos para garantir o exercício desse direito pelo empregado.
Não são mecanismos tão amplos, de tão fácil utilização por parte do empregado, pois ele não
27
goza de garantia de emprego. Ex.: art. 659, IX e X, da CLT – medidas liminares a serem
aditadas pela Justiça do Trabalho para obstar transferência ilegal e também para reintegração
em caso de estabilidade.
Art. 659 - Competem privativamente aos Presidentes das Juntas, além das que lhes
forem conferidas neste Título e das decorrentes de seu cargo, as seguintes atribuições:
(...)
pelo empregador.
9.2.4 Espécies
28
• Poder disciplinar: concede ao empregador o direito de aplicar sanções ao
trabalhador em caso de insubordinação ou descumprimento de norma do contrato
de trabalho ou da empresa. Caso verificadas, caberão as seguintes penalidades:
• Advertência verbal ou escrita: apesar de não estar prevista na CLT, a
jurisprudência vem aceitando, por ser, dentre as possíveis sanções, a mais
benéfica ao empregado.
• Suspensão disciplinar de, no máximo, 30 dias consecutivos: previsto no art.
474, da CLT.
• Dispensa por justa causa: penalidade mais gravosa, a qual resulta na
extinção do contrato de trabalho. As condutas que ensejadoras da demissão
por justa causa estão previstas no art. 482, da CLT e serão estudadas por nós
mais à frente.
• Espécies Vedadas: Entende-se que, via de regra, se a espécie não está
prevista em lei, não deve ser aplicada pelo empregador.
Há duas figuras que são aplicadas muitas vezes e podem ser anuladas pelo Poder
Judiciário:
1) transferência punitiva;
2) rebaixamento punitivo.
Nada impede que o empregador promova a reversão do empregado para o cargo que
ele anteriormente ocupava. Ex.: exerce a função de confiança de gerente e volta a ser
bancário.
No entanto, quando esses atos são realizados com a finalidade de punir com a
comprovação em processo judicial, o Poder Judiciário pode invalidar o ato, pois terá havido
desvio de finalidade. O empregador sob o pretexto de transferir por um aumento da
necessidade de serviço ou de reverter o empregado a sua função originária, ele está se
utilizando de punições que não são autorizadas pelo ordenamento jurídico.
29
Podem surgir outros exemplos de situações vedadas, de punições que não são
permitidas pelo ordenamento jurídico. Então, para que a punição seja válida, deve tratar-se de
advertência, suspensão ou dispensa por justa causa. O que extrapolar dessas espécies, em
regra, será punição ilícita, inclusive a multa.
O empregado não pode ser responsabilizado por conduta de terceiro, e deve ter agido
com culpa ou dolo. Sendo que há dolo quando há vontade, intenção de praticar o ato ilícito,
e a culpa caracteriza-se pela negligência, imprudência ou imperícia.
30
• Poder de organização: concede a liberdade de escolha ao empregador. Ele é
quem decide a área de atuação da empresa, escolhe o público alvo, planeja e
agenda as atividades da empresa, cria a estrutura e hierarquia da empresa, etc.
Dentro desse poder de organização, existe a possibilidade de o tomador de
serviços expedir ordens gerais por meio do regulamento de empresa. Tal atribuição
deriva do poder regulamentar.
Conforme explica o professor Henrique Correia, o regulamento de empresa ou
regulamento interno é uma “norma interna” da empresa:
“Ela prevê regras ligadas às questões técnicas (forma de desempenar as atividades,
horário de trabalho, utilização de EPIs), disciplinares (hipótese de aplicação de
advertência e suspensão, instauração de inquérito para apuração de falta cometida)
e direitos dos empregados (adicional por produtividade ou tempo de serviço, plano
de cargos e salários, forma da participação nos lucros e resultados da empresa)”.
Sobre o tema, é importante destacar a jurisprudência do TST:
Súmula nº 51 do TST. NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO
NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT.
I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas
anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou
alteração do regulamento.
II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do
empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do
outro.
• Poder de controle: faculdade de supervisionar os trabalhos de seus
subordinados, utilização correta de equipamentos de proteção individual,
assiduidade, dedicação, lealdade, etc.
31
Sobre o poder de controle do empregador, existem dois pontos a serem analisados.
O primeiro, é a questão das revistas íntimas. O artigo 373-A, VI, da CLT veda expressamente
revistas íntimas nas mulheres. Contudo, essa proibição também tem sido aplicada aos
empregados do sexo masculino, com fundamento no princípio da igualdade.
“Art. 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que afetam o
acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos
trabalhistas, é vedado:
VI - proceder o empregador ou preposto a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias.”
O segundo aspecto a ser observado é relativo às revistas pessoais, ou seja, aquelas sem
contato físico, realizadas, por exemplo, em bolsas e pertences, de modo impessoal,
generalizado e não abusivo. Quanto a estas há maior aceitação pela jurisprudência, inclusive,
havendo decisão recente do TST permitindo tal prática, independentemente do sexo do
empregado:
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. REVISTA DE BOLSAS E PERTENCES PESSOAIS.
INDENIZAÇÃO. A Subseção I Especializada em Dissídios Individuais desta Corte tem como
pacificado o entendimento de que a fiscalização do conteúdo de bolsas, mochilas e pertences
pessoais dos empregados, indiscriminadamente e sem qualquer contato físico, não caracteriza
ofensa à honra ou à intimidade do trabalhador, capaz de gerar dano moral passível de
reparação. Na hipótese dos autos, o Regional assevera que o dano decorreu especificamente “
da revista de bolsas e sacolas, realizada sem qualquer abuso” e que recaía apenas sobre os
empregados. Em tal contexto, não se verifica conduta abusiva, ilícita ou excesso perpetrado
pela empregadora, mas sim, ato que decorre do poder diretivo e fiscalizador do empregador,
não havendo falar em danos morais. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido.
(TST - RR: 764220165050311, Relator: Emmanoel Pereira, Data de Julgamento: 27/03/2019, 5ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 29/03/2019) – grifo nosso.
32
São limites ao poder de fiscalização do empregador, que revelam conflitos entre princípios – o
poder de fiscalização do empregador (legitimado por meio do princípio da livre iniciativa, de
proteção à propriedade privada) e a dignidade da pessoa humana – situações em que haverá
relativização de um ou outro princípio:
Embora o empregador tenha o poder de impor metas, essas devem ser factíveis, que
não venham aviltar a condição humana, contribuir para o desrespeito à dignidade da pessoa
humana, devem ser metas possíveis de se realizar mediante um trabalho que não seja
predatório.
O que enseja as discussões de assédio moral é a forma de fiscalização da meta que, por
vezes, pode ser feita de forma abusiva (ex.: gerente de banco que envia mensagens de celular
às 22h ou às 23h, estando a todo momento pressionando o empregado a cumprir metas;
ameaçando o empregado de dispensa pelo descumprimento de metas / ex.: cobrar metas de
forma vexatória; premiações negativas; se vestir de vampiro, por ser o sanguessuga da
empresa).
33
A ideia de metas por si só não é nociva, a questão é a fiscalização que não pode ser feita
de forma abusiva. Assédio moral organizacional ou gestão por stress: a ideia de algumas
empresas de gerir seus recursos humanos através da pressão, da cobrança excessiva de metas,
utilizando o assédio moral como forma de gestão, o que é, evidentemente, inválido e, se ficar
reconhecido pelo juízo, pode ensejar o pagamento de indenização por dano moral.
Deve-se realizar uma distinção entre a revista meramente pessoal (em pertences) da
denominada revista íntima. A revista pessoal ou em pertences é a situação em que o
empregado é revistado em bolsas, sacolas, mochilas, etc., normalmente, realizada quando sai
da empresa. É um procedimento menos invasivo. Também pode ser o caso da revista pessoal
em que o empregado não necessita retirar nenhuma parte de sua roupa ou que não é
apalpável, não há contato físico.
Esse tipo de revista é menos invasiva do que a revista íntima, mas não deixa de ser um
procedimento invasivo. O TST, de forma geral, entende como válida a revista pessoal em
pertences desde que sejam observados alguns elementos:
2) Não deve haver contato físico ou sem que o empregado tenha que se desnudar.
34
3) A revista não pode ser abusiva, de forma a constranger o empregado em frente aos
clientes, etc. A jurisprudência do TST não admite a chamada revista íntima. O ordenamento
jurídico proíbe essa revista íntima para as mulheres, tanto na CLT (Art. 373-A) como em lei
específica (Art. 1º, da Lei 13.271/16) há uma proibição expressa. E a jurisprudência entende
que apesar da previsão legal tratar das mulheres, essa norma pode ser também aplicada
extensivamente aos homens por também serem destinatários dos direitos fundamentais
(direito à intimidade, à honra).
(...)
funcionárias.
A posição do TST é de que é válida, desde que feita sem excessos, a revista em
pertences, mas não é válida a revista íntima. É a posição jurisprudencial predominante no TST.
O MPT em suas atuações, tem como posição institucional, a defesa de que toda e qualquer
revista é inválida, tanto a revista íntima como a pessoal.
35
questão de sentença – TRT da 20ª Região (Ex.: uma construtora instalou uma câmera de vídeo
para fiscalizar a atividade).
Nesse caso específico, a fiscalização é possível, pois o artigo 6º, § único da CLT equipara
os meios telemáticos aos meios pessoais de comando.
Art. 6º. (...) Parágrafo único. Os meios telemáticos e informatizados de comando, controle
Porém, a jurisprudência chama atenção para o fato de que não pode colocar câmeras
de vídeo em locais que violem a intimidade do empregado (Ex.: vestiário, banheiros, toaletes).
Nesse caso, é um abuso da empresa.
Assim, é possível instalação de câmeras de vídeo se ela for colocada de forma genérica
para fiscalizar os trabalhos que estão sendo ali realizados, como forma de fiscalização, neste
ponto é possível. Mas se passa a violar a intimidade do indivíduo, ela não será válida.
Também é possível a situação em que a câmera é colocada de forma a perseguir o
empregado. Ex.: o empregado trabalha em uma sala e em todo o estabelecimento não há
nenhuma câmera, mas na mesa dele foi colocada uma câmera apontada para o empregado,
colocando-o constantemente sob a vigilância do empregador, podendo ser configurada uma
situação de discriminação, de perseguição, podendo ensejar eventual indenização por dano
moral. Depende da finalidade em cada caso, para qual a câmera foi instalada.
36
esses direitos podem ser relativizados, como em algumas situações em que o interesse
público está por trás.
(...)
anos e 6 (seis) meses, podendo ser utilizado para esse fim o exame obrigatório previsto
na Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, desde que
realizado nos últimos 60 (sessenta) dias.
Nesse caso, não seria razoável permitir ao empregador realizar esse teste, não apenas
para resguardar seu patrimônio, mas também à segurança de toda a sociedade? Sim, nesses
casos, é possível. Daí porque alguns doutrinadores advogam que até mesmo a revista íntima,
a depender da situação, poderia ser realizada, havendo uma ponderação. Por exemplo, em
caso de presídios, como ele pode eventualmente estar servindo como transporte, poderia
passar por revistas íntimas.
37
mesmo contrato de trabalho, em decorrência de existir entre esses entes laços de direção ou
coordenação em face de atividades industriais, comerciais, financeiras, agroindustrais ou de
qualquer outra natureza econômica”.
Nesse sentido, pode-se falar em duas classificações: grupo econômico por subordinação
e o grupo econômico por coordenação.
Fala-se em grupo econômico por subordinação (ou grupo vertical) quando há uma
subordinação jurídica entre as empresas, a exemplo da holding, detentora da propriedade e
que controla três empresas de certo grupo.
“Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade
jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo
grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos
da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das
subordinadas”.
Com o advento da nova legislação trabalhista, a redação do artigo 2º, §2º foi alterada,
prevendo expressamente a possibilidade de formação de grupo por coordenação:
“Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade
jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda
38
quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão
responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego.”
Além disso, foram inseridos mais alguns requisitos para que haja a caracterização do
grupo horizontal, quais sejam: demonstração do interesse integrado, efetiva comunhão de
interesses e atuação conjunta das empresas dele integrantes.
É oportuno frisar que o §3º do artigo 2º da CLT passou a prever que não basta a mera
identidade de sócios para se caracterizar grupo econômico, sendo necessário o
preenchimento dos requisitos acima citados.
Quanto à responsabilidade do grupo econômico, a lei prevê que esta será solidária.
39
serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento registrado em
cartório de títulos e documentos.
c) a CTPS do empregado deverá ser anotada por uma das pessoas físicas integrantes do
consórcio, cujo nome será acrescido da expressão “e outros”;
Obs.: não obstante a ausência de previsão legal expressa, nada impede que se formem
consórcios de empregadores urbanos.
40
2.5 Sucessão de empregadores
A sucessão também pode ser observada nos casos em que a empresa sofre fusão, cisão
e incorporação. Tais fatores também não afetarão os contratos de trabalho.
O artigo 448-A da CLT, prevê que tal incumbência será do sucessor. Veja:
41
Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448
desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os
empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor.
Assim, temos que, via de regra, é o sucessor quem responderá pelos débitos
trabalhistas dos contratos em vigor à época da sucessão, até mesmo aqueles contraídos antes
desta.
Por outro lado, é preciso ter atenção para eventual fraude na transferência da
propriedade da empresa. Nesse caso, o parágrafo único do artigo 448-A da CLT determina a
responsabilidade solidária do sucedido:
Parágrafo único, art. 448-A. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora
quando ficar comprovada fraude na transferência.
42
Fique atento ao entendimento do TST disposto na OJ 411, da SDI-1:
Imagine a hipótese de uma empresa adquirir apenas uma das empresas pertencentes a
determinado grupo econômico. Nesse caso, o TST compreende que, em regra, a empresa
adquirente não responderá pelas obrigações trabalhistas das outras empresas do grupo.
Outra novidade trazida pela Lei 13.467/17 (Reforma Trabalhista) foi a previsão da
responsabilidade dos sócios, em relação às dívidas trabalhistas da empresa.
43
Depreende-se da leitura do dispositivo acima que, em regra, a responsabilidade do
chamado sócio retirante é subsidiária. No entanto, essa responsabilidade possui uma limitação
temporal: até 2 anos depois de realizada a averbação da alteração contratual.
Empregador doméstico
O empregador doméstico deve ser uma pessoa natural ou uma entidade familiar. Até
mesmo os entes despersonalizados podem assumir a posição de empregador, a exemplo da
entidade familiar. Qualquer uma das pessoas da família será responsável pelo adimplemento
do crédito trabalhista do empregado doméstico.
44
A pessoa jurídica não pode ser empregadora doméstica. Se uma pessoa jurídica contrata
alguém para realização de trabalho doméstico, o vínculo não será de trabalho doméstico, será
um vínculo urbano normal, regido pela CLT.
Empregador público
Partido Político
O partido político, como pessoa jurídica de direito privado, pode ser empregador e
contratar empregados. Porém, é evidente que os políticos associados ao partido não são
empregados do partido, não têm vínculo de emprego como partido, assim como, o cabo
eleitoral.
A Lei 9.504/97 trata do cabo eleitoral no art. 1002, que é a pessoa responsável por fazer
divulgação, campanha eleitoral em prol de candidatos do partido.
Via de regra, se não houver nenhum desvirtuamento na contratação, o cabo eleitoral não
tem vínculo de emprego. O partido político pode possuir empregados, mas as atividades
políticas relacionadas ao partido político que se relacione com a ideologia política são
assumidas por pessoas que não são empregadas, embora possa haver vínculo de emprego
com outras pessoas que exercem outras funções que não políticas.
45
Edifício de apartamentos - Condomínio
Muito comum nas áreas urbanas são os chamados condomínios edilícios – aquele
condomínio de apartamentos na qual temos diversos apartamentos que se reúnem em um
mesmo prédio.
É interessante porque existe uma lei específica para tratar desse vínculo de emprego (Lei
12.757/56). A importância dessa lei é que ela excluiu do âmbito de aplicação da normatividade
do doméstico esses trabalhadores em condomínio. A tendência é que se imagine que certos
funcionários do condomínio (porteiro, zelador, etc.) estão prestando serviço a diversas famílias
sem finalidade econômica, assemelhando-se à atividade do empregado doméstico, mas a lei
dispõe que esse será um trabalhador urbano normal, regido pela CLT, com vínculo de
emprego comum com o condomínio, sem vínculo de emprego doméstico.
Quanto à figura do síndico eleito entre os condôminos, esse síndico não é considerado
empregado, mas sim, um mero condômino prestando mera atividade, sem vínculo de
emprego. Porém, existem algumas situações em que é comum que o síndico assuma uma
postura profissional. Pode ser, inclusive, alguém que não é condômino e se especializou em
administrar condomínios. Nesse caso, o síndico será contratado para administrar o
condomínio, tendo uma relação de emprego com o condomínio e todos os direitos do vínculo
empregatício.
46
A massa falida, embora figure como ente despersonalizado, ela mantém a possiblidade
de contratar empregados, de ser empregador. A lei traz até privilégios ao empregador que
presta serviço para empresas em falência.
Cartórios
Esse é um dos temas que mais geram dúvidas. Existem dois tipos de cartório: o judicial
(também chamado de serventia judicial) ou o extrajudicial.
Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por
delegação do Poder Público.
§1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários,
dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo
Poder Judiciário.
§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos
47
O serviço realizado por esses cartórios é público, porém delegado pelo Estado para um
particular (o tabelião, o oficial de registro). Atualmente, para exercer o cargo de titular de um
cartório extrajudicial, é preciso submeter-se a um concurso público. Uma vez empossado, o
concursado receberá uma concessão de serviço público.
Embora o titular de cartório esteja exercendo uma concessão de serviço público, essa
atividade é exercida em caráter privado. Ele será responsável por montar a estrutura material e
humana do cartório. Os empregados contratados pelo titular de cartório não serão
empregados do Estado, mas do tabelião ou oficial (e não do cartório), com vínculo regido pela
CLT. Se, eventualmente, vier a ser ajuizada uma ação, essa será em face do tabelião que se
torna titular do tabelionato, quem detém legitimidade para figurar no polo passivo, pois ele é
o empregador.
Para fazer frente à determinação judicial, foi editada uma lei que trata da contratação dos
trabalhadores de cartório: Lei 8.935/943. Leia-se o Informativo nº 11 – SDI 1 do TST, cujo
enunciado diz:
A Lei Magna de 1988 determina que a atividade exercida pelo tabelião será de caráter
privado. De 1988 a 1994 não foi editada nenhuma norma regendo essa atividade privada, até
a promulgação da Lei 8.935/94. O TST entende que, apesar dessa edição e da regulamentação
tardias, o empregado de cartório extrajudicial será celetista, desde a vigência da CF.
48
3. Contrato de trabalho
3.1 Introdução
“(...) é preciso advertir que não há uniformidade na denominação que os juristas dão ao
vínculo jurídico que tem como parte, de um lado, o empregado e, de outro lado, o
empregador. Nem mesmo a nossa lei se definiu, nela sendo encontrada tanto a expressão
contrato individual de trabalho como relação de emprego, no que não está só. (...) Na
verdade, melhor seria, para dar uma ideia precisa da figura que estamos estudando, falar não
em contrato de trabalho, mas em contrato de emprego, como já propôs o jurista José Martins
Catharino(...).”
Sendo assim, para que não haja confusão quanto ao tema, é importante que você saiba
que, ao trazer a nomenclatura “contrato de trabalho”, a legislação refere-se à relação de
emprego.
De acordo com o art. 442 da CLT, “contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou
expresso, correspondente à relação de emprego”.
Logo, as partes envolvidas podem elaborar o contrato da maneira como melhor
entenderem, desde que não desrespeitem a CLT, nem a norma coletiva aplicável.
O art. 442-A da CLT determina que o empregador não exigirá do candidato a emprego
comprovação de experiência prévia por tempo superior a seis meses no mesmo tipo de
49
atividade. É igualmente proibido ato de caráter discriminatório seja por sexo, origem, raça, cor,
estado civil, situação familiar ou idade (excetuando-se, obviamente, a proteção ao menor).
São características do contrato de trabalho:
• Natureza privada: por se tratar de uma relação regida pelo direito privado, o
contrato de trabalho possui natureza também privada. Inclusive, mesmo quando o
Estado for o empregador, permanecerá a condição privada de tal instrumento, uma
vez que, quando atua como tomador de serviços, o ente estatal não possui
prerrogativas especiais.
• Sinalagmático: obrigações recíprocas e contrapostas.
• Consensual: exige-se apenas acordo de vontades, independentemente de
formalismo.
• Intuitu personae: relaciona-se ao elemento fático-jurídico da pessoalidade, que
somente atinge o empregado.
• Trato sucessivo: as obrigações das partes renovam-se no tempo, vigorando a
indeterminação do prazo do contrato de trabalho. Tal ideia está ligada ao já
estudado princípio da continuidade da relação de emprego.
• Contrato de atividade: o contrato de trabalho é uma prestação de fazer (labor do
empregado). Por essa razão, a obrigação do obreiro é dispor de sua força de
trabalho para a realização das atividades designadas pelo empregador.
• Onerosidade: também é elemento de caracterização da relação de emprego. No
contrato de trabalho é necessário que haja a contraprestação pecuniária a cargo do
tomador de serviços.
50
Quanto à validade, aplicam-se os mesmos elementos dos contratos em geral, previstos
no artigo 104, do Código Civil (Lei 10.406/02):
I – agente capaz;
• Agente capaz: para que o empregado seja agente capaz de assumir direitos e
obrigações trabalhistas, devem ser observados os requisitos da CLT. Em relação a
sua idade, é preciso ter em mente o disposto no artigo 7º, inciso XXXIII da
Constituição de 1988:
Sabe-se que a capacidade trabalhista plena tem início aos 18 anos de idade. No
entanto, a partir dos 16 anos, o menor já pode prestar labor, possuindo capacidade
relativa, desde que não seja em horário noturno, de forma perigosa ou insalubre,
conforme disposto na CF/1988. Antes dos 16 anos, o menor só pode trabalhar na
condição especial de aprendiz, tendo como limitação a idade mínima de 14 anos.
“Art. 439 - É lícito ao menor firmar recibo pelo pagamento dos salários. Tratando-se,
porém, de rescisão do contrato de trabalho, é vedado ao menor de 18 (dezoito)
51
anos dar, sem assistência dos seus responsáveis legais, quitação ao empregador
pelo recebimento da indenização que lhe for devida.”
Em suma, o menor poderá, sozinho, firmar recibo pelo pagamento dos salários.
Contudo, não poderá, sem assistência dos seus responsáveis legais, dar quitação ao
tomador de serviços.
Como fica a situação do menor emancipado nos termos do artigo 5º, parágrafo único do
CC/02?
Para efeitos na seara trabalhista, nada muda em relação ao menor antecipado. Ou seja,
continua sendo considerado menor e proibido de exercer trabalho noturno, perigoso e
insalubre.
a) Mãe-social – 25 anos;
c) Vigilante – 21 anos;
e) Doméstico – 18 anos;
52
f) Vendedor de produtos farmacêuticos – 18 anos;
g) Motoboy/mototaxista – 21 anos.
Para que haja validade e proteção do Direito do Trabalho o contrato de emprego não
pode ter como objeto trabalho ilícito.
É preciso que você saiba diferenciar o trabalho ilícito do trabalho proibido, uma vez que
possuem conceitos e consequências distintas.
Entende-se por trabalho ilícito aquele cujo objeto envolve tipo legal penal ou concorre
para este. O jogo do bicho, por exemplo, constitui contravenção penal prevista no artigo 58
Decreto Lei 3.688/41. Logo, caso uma pessoa preste serviços para outra tendo como atividade
a prática de jogos de azar, não haverá que se falar em pacto laboral e, por conseguinte, em
proteção trabalhista.
Por outro lado, trabalho proibido corresponde à atividade irregular, mas que não
constitui tipo penal. Neste caso, apesar da irregularidade, o empregado recebe proteção
trabalhista. Como exemplo, temos o trabalho noturno do menor, cuja proibição é prevista
constitucionalmente.
53
segurança às empresas privadas. Essa prática não é admitida pelo nosso ordenamento jurídico,
razão pela qual poderá haver penalidade administrativa para esses servidores. Contudo, o
trabalho proibido, diferentemente do trabalho ilícito, gera efeitos na esfera trabalhista. Assim,
presentes os requisitos do vínculo de emprego previstos no art. 3º da CLT, serão reconhecidos
para o policial militar todos os direitos inerentes à relação de emprego.
Envolve tipo legal penal ou concorre Envolve atividade irregular, mas que não constitui tipo
para ele. legal penal.
3.4 Classificação
3.4.1 Modalidades
A doutrina possui diversas classificações para o pacto laboral. Para uma abordagem
mais objetiva, trataremos das duas principais para a sua prova: quanto ao consentimento e
quanto à duração.
De acordo com o doutrinador Maurício Godinho Delgado, “pelo ajuste tácito, o contrato
revela-se em face de um conjunto de atos (e certas omissões) coordenados pelas partes,
indicativos da presença de uma pactuação empregatícia entre elas, sem que exista um
instrumento expresso enunciador dessa pactuação”.
55
3.4.1.2 Quanto à duração
Além disso, a CLT estabelece que somente é possível haver contrato por prazo
determinado nos seguintes casos:
56
legitima a celebração de contrato por prazo determinado a título de experiência é a
necessidade de ambas as partes do contrato terem um prazo para testarem e avaliarem, na
prática, as aptidões e qualificações do empregado para a execução dos serviços e as
condições gerais oferecidas pelo empregador para a execução dessas tarefas. Portanto, já
tendo o reclamante prestado serviços para a reclamada na condição de empregado de
empresa de trabalho temporário, é inválida a sua subsequente contratação a título de
experiência, porquanto a prestação de serviços anterior já cumpriu a finalidade para qual fora
instituída essa modalidade de contratação por prazo determinado. Recurso de Embargos de
que se conhece e a que se nega provimento (TST, SDI-I, E-RR-184500-06.2009.5.02.0262, Rel.
Min. João Batista Brito Pereira, DEJT 08.11.2013)
57
Além das modalidades de contrato de trabalho por prazo indeterminado e determinado,
existe a figura do contrato de trabalho intermitente:
CLT, Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou
expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado, ou para
prestação de trabalho intermitente.
O trabalho intermitente configura novidade trazida pela Reforma Trabalhista e
caracteriza-se por ser uma prestação de serviços não contínua, cujo acerto é firmado por
escrito. De acordo com a lei, há neste tipo de pactuação uma alternância de períodos de
prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses, nos termos
do §3º do artigo 443 da CLT:
§ 3 , Art. 443 - Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a
o
58
§4º, Art. 452-A - Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte que
descumprir, sem justo motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50%
(cinquenta por cento) da remuneração que seria devida, permitida a compensação em igual
prazo.
Frise-se que em outros momentos do curso voltaremos a falar sobre outros detalhes
sobre essa modalidade de contrato de trabalho. Por enquanto, é importante que você faça
uma leitura minuciosa do art. 452-A da CLT, que, conforme visto, traz importantes regras
sobre o trabalho intermitente.
É expresso o contrato cuja manifestação volitiva foi externada, seja por escrito, seja
verbalmente, pelos pactuantes.
Por sua vez, é tácito o contrato de trabalho que se forma pela presença dos elementos
caracterizadores da relação de emprego, sem, contudo, que exista uma ação direta dos
contratantes no sentido da expressão do pacto. O contrato se forma, neste caso, pelo
comportamento das partes, seja comissivo ou omissivo, no sentido da vinculação
empregatícia.
à relação de emprego.
(…)
Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou
expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado,
Também é importante ressaltar que, não obstante possa o contrato de trabalho, de fato,
ser pactuado verbalmente, ou até mesmo tacitamente, constitui obrigação administrativa do
empregador a anotação do contrato de trabalho em CTPS (art. 29, caput, da CLT) e o registro
em livro, ficha ou sistema eletrônico competente (art. 41, caput, da CLT).
59
Em 24/08/2022, foi publicada a Lei 14.438, projeto de conversão da Medida Provisória
1.107, de 17/3/2022. Esta lei altera a Lei 8.212, de 24/7/91 (que trata do Plano de Custeio da
Previdência Social), a Lei 11.196, de 21/11/2005 (com relação ao Imposto de Renda Retido na
Fonte), a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei 5.452, de
1/5/43, no que se refere à multa por falta de anotações na carteira de trabalho, e a Lei
8.036, de 11/5/90 (que dispõe sobre o FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), bem
como revoga dispositivo da Lei 8.213, de 24/7/91 (que trata dos Planos de Benefícios da
Previdência Social).
Esta nova lei institui o Programa de Simplificação do Microcrédito Digital para
Empreendedores (SIM Digital), dispondo sobre medidas de estímulo ao empreendedorismo
popular e a formulação de pequenos negócios. Além disso, altera a data de recolhimento do
FGTS do dia 7 para o dia 20 de cada mês e prevê multas por inobservâncias do
empregador quanto a anotações obrigatórias na CTPS.
Sendo assim, o que interessa de fato para este capítulo é a alteração da CLT feita pela
referida lei, no que diz respeito ao art. 29, já que foram modificados os arts. 29-A e 29-B, que
tratam das multas por inobservância do empregador quanto as anotações na CTPS. Vejamos:
Art. 29. O empregador terá o prazo de 5 (cinco) dias úteis para anotar na CTPS, em
2022)
61
O contrato plúrimo (ou por equipe), por sua vez, é o contrato caracterizado pela
presença de um feixe de contratos individuais e independentes entre si, considerados sob
alguns aspectos em conjunto devido às peculiaridades relativas à forma de prestação dos
serviços.
São exemplos típicos de contratos plúrimos ou por equipe os contratos mantidos com
bandas de música, orquestras ou equipes de segurança.
O termo do contrato de safra é incerto porque não se sabe quando irá ocorrer o fim da
safra. Há uma previsão, mas não se sabe quando exatamente - art. 14 da lei 5889/73.
Guarda o contrato de safra as mesmas características do contrato celetista por prazo
determinado, sendo justificado por serviços cuja natureza ou transitoriedade justifique a
predeterminação do prazo (art. 443, § 2°, da CLT).
A lei não mencionou prazo máximo, de sorte que se aplica a regra geral de 2 anos. O art.
14, da Lei 5.889/73, se limitou a mencionar que o contrato de safra ocorrerá por "curto
período", assim compreendido aquele de até 2 meses. Nessas hipóteses, havendo autorização
em norma coletiva e desde que haja contrato escrito em 2 vias, é possível ao empregador não
assinar a carteira de trabalho do empregado, incluindo-o apenas na sua GFIP.
A safra é compreendida entre o preparo do solo e a colheita. O que antecede o preparo
do solo, o que ocorre após a colheita e o que não está relacionado a isso não está submetido
ao contrato de safra.
62
Entende-se, de forma majoritária, que o prazo máximo é de dois anos, admitindo-se uma
única prorrogação, bem como que podem ser firmados vários contratos de obra certa, mesmo
antes de seis meses do término do contrato anterior, tendo em vista que se trata de serviços
especializados.
→ O empregador deve ser um empresário do ramo de construção civil, exercendo suas
atividades permanentemente;
→ A execução de obra ou serviço certo deve sempre justificar a predeterminação do
prazo (seria enquadrado, portanto, na permissão celetista de predeterminação de prazo para “
serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação de prazo”);
→ A Lei prevê uma indenização por ruptura contratual em seu termo final (término da
obra ou serviço), nos seguintes termos:
Política de criação ou incentivo ao novo emprego: Por essa lei, o empregador pode
contratar o empregado por prazo determinado para qualquer função, desde que essa
contratação implique aumento do número de empregados no seu quadro regular efetivo. Para
que seja atendido o requisito legal, a contratação sob essa modalidade deve ser precedida de
autorização em norma coletiva.
O prazo máximo desse contrato é de 2 anos. Dentro dos 2 anos, entretanto, ele pode ser
renovado mais de uma vez.
Durante os 60 primeiros meses de vigência dessa lei, admitia-se o recolhimento do FGTS
com alíquota de apenas 2% ao mês e as contribuições para o SESI eram realizadas no
percentual de 50%.
63
No caso de rescisão antecipada do contrato, seja por iniciativa do empregado ou do
empregador, a indenização devida será aquela prevista na norma coletiva que autorizou a
contratação, afastando-se expressamente os arts. 479 e 480 da CLT – inteligência do art. 1°, §1
°, 1, da Lei 9.601/98.
64
4. Estabilidades e Garantias de Emprego
4.1 Introdução
Há, de um lado, as estabilidades no emprego, cujo mais tradicional exemplo surgiu nos
primórdios da legislação trabalhista no Brasil, ainda antes de 1930, incorporando-se, em 1943,
à Consolidação das Leis do Trabalho: era a estabilidade adquirida pelo obreiro aos 10 anos de
serviço para o respectivo empregador.
Neste capítulo será feito o exame também das possibilidades e limites para a concessão
de estabilidades pelo regulamento da própria entidade empregadora.
65
caput e inciso I, do ADCT); em segundo lugar, a presença da estabilidade no emprego, após
dez anos de serviço junto ao mesmo empregador — prazo que fora jurisprudencialmente
reduzido para efetivos nove anos de serviço (art. 492, CLT; antigo Enunciado 26, TST).
É claro que o antigo modelo não impedia, do ponto de vista estritamente jurídico, o
exercício unilateral, pelo empregador, da faculdade de rompimento injustificado de contratos
inferiores a dez anos (ou nove anos, segundo a jurisprudência). Mas estabelecia significativo
óbice de caráter econômico-financeiro, consubstanciado na crescente indenização por tempo
de serviço, calculada à base da maior remuneração obreira por ano contratual ou fração igual
ou superior a seis meses (antigo art. 477, caput, e 478, caput, da CLT).
Não havia, desse modo, na época, possibilidade jurídica para a denúncia vazia do
contrato, a contar do décimo ano de labor na empresa (ou até menos, nono ano, conforme a
jurisprudência dominante: Enunciado 26, TST).
66
4.2.2 O FGTS e a Liberalização do Mercado de Trabalho
Criado pela Lei n. 5.107/1966 (hoje regido pela Lei n. 8.036/90), o FGTS organizava
sistema alternativo ao modelo celetista, sujeito a uma opção expressa (por escrito) no instante
da celebração do contrato. No modelo do Fundo, o empregado teria direito a depósitos
mensais em sua conta vinculada, no importe de 8% sobre seu complexo salarial mensal,
incluída a média de gorjetas (verbas dos arts. 457 e 458, caput, da CLT, incluída a gratificação
natalina — 13º salário). Inserindo-se, por meio da opção escrita, no FGTS, o empregado estaria
excluído, automaticamente, do sistema de indenização crescente por tempo de serviço
previsto na CLT, não podendo também mais alcançar, em consequência, a clássica estabilidade
no emprego, após nove ou dez anos de tempo de serviço na empresa. Contudo, teria direito
ao saque do Fundo, no caso de sua dispensa desmotivada (denúncia vazia do contrato); a este
saque agregar-se-ia um acréscimo rescisório no importe de 10% sobre o montante total do
FGTS depositado e monetariamente corrigido (acréscimo que passou a 40%, desde a
Constituição de 1988).
67
4.3.1 Estabilidade Celetista
A resolução contratual culposa teria de ser apurada por meio de ação de inquérito
judicial, proposta pelo empregador, cuja sentença é que determinaria o término ou não do
contrato de trabalho (art. 494, in fi ne, CLT).
68
4.3.3 Estabilidade do Art. 41 da Constituição de 1988
A outra situação estabilitária de servidor público civil é regulada pelo art. 41 do Texto
Máximo. A regra original da Constituição referia-se à estabilidade, “após dois anos de efetivo
exercício”, dos “servidores nomeados em virtude de concurso público”. A EC n. 19, de 4.6.1998,
por sua vez, determinou serem “estáveis após 3 (três) anos de efetivo exercício os servidores
nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público” (novo art. 41,
caput, CF/88, desde EC 19/98).
69
4.3.4 Estabilidade Advinda de Ato Empresarial
Na tradição jurídica brasileira, a estabilidade somente tem sido deferida por norma
heterônoma estatal, sejam leis (ou Decretos-leis), sejam regras constitucionais. É o que se
passou com a antiga estabilidade celetista e recentes situações estabilitárias mencionadas pela
Constituição de 1988.
Garantia de emprego, por sua vez, é a vantagem jurídica de caráter transitório deferida
ao empregado em virtude de uma circunstância contratual ou pessoal obreira de caráter
especial, de modo a assegurar a manutenção do vínculo empregatício por um lapso temporal
definido, independentemente da vontade do empregador. Tais garantias têm sido chamadas,
também, de estabilidades temporárias ou estabilidades provisórias (expressões algo
contraditórias, mas que se vêm consagrando).
70
tendência de diversificação nas situações de estabilidade temporária, em especial a contar do
advento da nova Constituição Republicana.
Em coerência com a forte garantia, esclarece a lei que o dirigente de sindicato “perderá
o mandato se a transferência for por ele solicitada ou voluntariamente aceita” (art. 543, § 1º,
CLT). Afinal, para que serve a garantia, que objetiva favorecer a prática da representação
sindical, se o dirigente concorre para sua frustração ou, se injustamente cerceado, não reage
com os instrumentos que a ordem jurídica lhe confere (como a ação judicial do art. 659, IX e
X, por exemplo)?
O art. 10, II, “a”, do ADCT da Constituição confere também estabilidade temporária ao “
empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes,
desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato” (grifos
acrescidos). Tal garantia dirige-se somente aos trabalhado res eleitos representantes dos
empregados na direção da CIPA, titulares e suplentes (Súmula 339, I, TST; ex-OJ 25, SDI-I/TST).
Não abrange, pois, os representantes designados pelo empregador, uma vez que não são
eleitos pelos demais obreiros. Registre-se que a Constituição fala em vedação à “dispensa
arbitrária ou sem justa causa”.
O mesmo art. 10, II, do ADCT da Constituição, em sua alínea “b”, estabelece estabilidade
provisória à “empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o
parto”. Aqui também se fala em vedação à “dispensa arbitrária ou sem justa causa”.
A CLT, referindo-se à proteção conferida aos dirigentes obreiros das comissões internas
de prevenção de acidentes (CIPAs), dispõe que não poderiam sofrer despedida arbitrária, “
entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou
financeiro” (art. 165, caput, CLT). Ou seja, trata-se da dispensa que se baseia em motivo
relevante: este pode ser disciplinar, como ocorre com a dispensa por justa causa, tipificada na
CLT, e enquadrada como resolução contratual. Porém, tal motivo pode ser ainda de caráter
72
técnico, econômico ou financeiro, segundo a Consolidação, casos em que a dispensa se
enquadra como resilição do contrato de trabalho (resilição motivada, é claro).
Já a dispensa não arbitrária mas sem justa causa enquadra-se como resilição contratual,
embora vinculada aos motivos de natureza técnica, econômica ou financeira (denúncia
motivada do contrato). Assim, produz os efeitos rescisórios clássicos da despedida por ato
unilateral do empregador, com o pagamento das verbas rescisórias de aviso-prévio, liberação
do FGTS com 40%, 13º salário e férias proporcionais com 1/3, liberação das guias CD/SD, e
demais parcelas próprias à resilição unilateral. É claro que tais motivos resilitórios têm de ser
efetivos, relevantes e atuais, a ponto de tornar-se imprescindível ao empregador a ruptura do
respectivo contrato; não se pode tratar, pois, de simples conveniência de extirpar empregados
provisoriamente estáveis, mas, sim, de motivos técnicos, econômicos ou financeiros
efetivamente importantes.
Esta particularidade quanto ao empregado eleito dirigente da CIPA não se estende aos
demais empregados com garantia de emprego, uma vez que os diplomas instituidores de suas
garantias não se referem à noção de dispensa arbitrária (dirigente sindical, trabalhador
acidentado, empregado diretor de cooperativa de obreiros, etc.).
73
4.4.2 Estabilidades Provisórias de Origem Legal
Há, por fim, também no campo das regras previdenciárias, a garantia provisória dos três
empregados, e seus suplentes, que representam os trabalhadores em atividade no Conselho
Nacional de Previdência Social (art. 295, II, “b”, Decreto n. 3.048, de 6.5.1999). Tal proteção,
como visto, estende-se desde a “nomeação até um ano após o término do mandato de
representação” (art. 301, Decreto n. 3.048/99 — Regulamento da Previdência Social). Esclareça-
se que o mandato é de dois anos, autorizada uma única imediata recondução (§ 1º do art. 295
do Decreto n. 3.048/99).
A Lei de Cooperativas, por sua vez, estendeu a mesma garantia do dirigente sindical aos
“empregados de empresas que sejam eleitos diretores de sociedades cooperativas pelos
mesmos criadas” (art. 55, Lei n. 5.764, de 1971; OJ 253, SDI-I/TST).
74
Também a Lei das Comissões de Conciliação Prévia (n. 9.958, de 2000) estipulou ser “
vedada a dispensa dos representantes dos empregados”, membros dessas entidades, sejam
titulares ou suplentes, “até um ano após o final do mandato” (art. 625-B, § 1º, CLT, conforme
redação da Lei n. 9.958/00).
75
enfocado por semelhante tutela jurídica uma vez que pode ensejar a nulidade da dispensa e
correspondente reintegração ou indenização compatível.
Existem algumas situações tuteladas pela ordem jurídica a respeito das quais é pacífica,
na jurisprudência, a pertinência da reintegração ao emprego do trabalhador dispensado. Trata-
se das situações contratuais protegidas por estabilidade. Seja a antiga proteção oriunda do art.
492 da CLT (hoje, rara, na prática, conforme visto), sejam as situações de estabilidade
asseguradas pela Constituição de 1988, a todas aplica-se a regra do art. 495 da CLT, que se
refere à reintegração, seguida do pagamento das verbas contratuais relativas ao período de
irregular afastamento (por analogia, nos casos tutelados pela Constituição).
76
que o critério pacificado quanto aos sindicalistas (reintegração) também se aplica ao presente
caso (Súmula 197, STF; art. 543, CLT; ex-OJ 114 e OJ 253, SDI-I/TST).
É evidente que existem situações em que a reintegração não prevalece. A CLT já previa
uma delas, tratando do antigo estável: se a reintegração fosse desaconselhável, em virtude da
incompatibilidade formada entre as partes, caberia sua conversão na respectiva indenização
compensatória (art. 496, CLT). Não existe óbice à interpretação analógica desse preceito para
casos similares, que envolvam as estabilidades temporárias.
77
5. Convenção e Acordo Coletivo
De acordo com Ricardo Resende: A distinção básica entre as duas figuras se refere à
legitimidade das partes, sendo que no acordo coletivo de trabalho o empregador se faz
representar sozinho ou, no máximo, acompanhado por outros empregadores. Na convenção
coletiva de trabalho, por sua vez, há negociação entre sindicatos, estando de um lado o
sindicato representativo dos trabalhadores (categoria profissional) e, de outro, o sindicato
representativo dos empregadores (categoria econômica). Em qualquer caso, é obrigatória a
participação, nas negociações coletivas, do sindicato representativo da categoria
profissional, nos termos do art. 8º, VI, da CFRB. (RESENDE, 2020, p. 1148).
Atenção! Importante destacar que a grande maioria das questões de concurso são sobre a
distinção entre ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) e CCT (Convenção Coletiva de
Trabalho).
78
Art. 620. As condições estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre
prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho (nova redação
dada pela Lei n. 13.467/2017, destaques não constantes do original).
Embora existam debates na doutrina sobre essa questão, o entendimento que prevalece
é o de que os instrumentos coletivos de trabalho são contratos, isto é, negócio jurídico,
criadores de normas jurídicas.
Ainda, é importante salientar que, após a ratificação, pelo Brasil, da Convenção nº 151
da OIT, que normatiza as relações de trabalho com a Administração Pública, inclusive a
negociação coletiva, o TST modificou seu entendimento, e passou a admitir o dissídio coletivo
em face da Administração Pública, desde que limitado a cláusulas de natureza social.
Em face de pessoa jurídica de direito público que mantenha empregados, cabe dissídio
coletivo exclusivamente para apreciação de cláusulas de natureza social. Inteligência da
79
Convenção nº 151 da Organização Internacional do Trabalho, ratificada pelo Decreto
Legislativo nº 206/2010.
Após o depósito do instrumento, este passará a vigorar três dias depois ( conforme §1º
do artigo 614 da CLT).
Acerca do prazo de vigência, é preciso nossa atenção para o que determina o artigo
614 da CLT, em seu parágrafo 3º, com nova redação dada pela reforma trabalhista (lei nº
13.467/2017), que diz que não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou
acordo coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade.
80
podendo ser moratórias, aplicadas em razão da demora no cumprimento das obrigações, ou
compensatórias, exigíveis com o objetivo de compensar a outra parte pelo prejuízo causado
em decorrência da inadimplência ou da infração. (MARTINEZ, 2021, p. 598)
diversos não submete o empregado a ajuizar várias ações, pleiteando em cada uma o
pagamento da multa referente ao descumprimento de obrigações previstas nas cláusulas
respectivas.
Outra importante súmula que deve ser observada é a súmula 277 do TST que passou
expressamente a entender que as vantagens adquiridas por meio de instrumentos coletivos
negociados somente poderão ser modificadas ou excluídas do universo patrimonial operário
por meio de outro instrumento da mesma natureza e que, enquanto isso não ocorrer, as
cláusulas normativas dos acordos e convenções coletivas se manterão integradas aos
contratos individuais de trabalho. Vejamos o que diz a referida súmula:
81
Súmula 277 do TST. CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE
TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno
realizada em 14-9-2012).
82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5ª ed. São Paulo: Ltr, 2009.
CORREIA, Henrique. Súmulas e OJs do TST comentadas e organizadas por assunto. – 7ª ed.– Salvador:
JusPODIVM, 2016.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do trabalho/ Maurício Godinho Delgado. – 17ª ed. rev. atual. e
ampl. – São Paulo: Ltr, 2018.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 37ª ed. São Paulo: LTr, 2012
RENZETTI, Rogério. Direito do Trabalho para Concursos – Teoria e questões práticas. 5ª ed. Método, 2018.
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3ª. ed. atual. São Paulo: LTr, 2000.
ROMAR, Carla Tereza Martins. Direito do Trabalho Esquematizado. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
83