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Como citar este material:

ARRUDA, Pablo Gonçalves; MENDONÇA, Saulo Bichara. Direito societário: sociedade


anônima. Rio de Janeiro: FGV, 2023.

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SUMÁRIO
MÓDULO I – TEORIA GERAL DA SOCIEDADE POR AÇÕES .................................................................. 5

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ................................................................................................................ 5


CLASSIFICAÇÃO: COMPANHIAS DE CAPITAL ABERTO E DE CAPITAL FECHADO ........................ 7
CONSTITUIÇÃO DA COMPANHIA ................................................................................................... 10
Requisitos preliminares .......................................................................................................... 10
Constituição por subscrição pública ..................................................................................... 12
Constituição por subscrição privada ..................................................................................... 15
Formalidades complementares ............................................................................................. 16
COMPANHIA DE MENOR PORTE .................................................................................................... 16
CAPITAL SOCIAL................................................................................................................................ 17
Formação do capital social ..................................................................................................... 18
Aumento do capital social ...................................................................................................... 20
Redução do capital social ....................................................................................................... 22

MÓDULO II – ACIONISTAS................................................................................................................... 23

DEVER ................................................................................................................................................ 23
DIREITOS ESSENCIAIS ...................................................................................................................... 25
VOTO .................................................................................................................................................. 27
Voto múltiplo ............................................................................................................................ 31
Voto plural ................................................................................................................................ 33
ACORDO DE ACIONISTAS ................................................................................................................ 36
REEMBOLSO...................................................................................................................................... 39
RESGATE ............................................................................................................................................ 40
AMORTIZAÇÃO ................................................................................................................................. 41

MÓDULO III – VALORES MOBILIÁRIOS .............................................................................................. 43

AÇÕES ................................................................................................................................................ 43
Valores ....................................................................................................................................... 44
Espécies ..................................................................................................................................... 45
Forma de circulação ................................................................................................................ 47
Classes ....................................................................................................................................... 48
DEBÊNTURES .................................................................................................................................... 49
Espécies ..................................................................................................................................... 49
Garantias ................................................................................................................................... 50
Agente fiduciário debenturista .............................................................................................. 51
BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO ................................................................................................................. 52
PARTES BENEFICIÁRIAS ................................................................................................................... 52
MÓDULO IV – ÓRGÃOS SOCIETÁRIOS ............................................................................................... 55

ASSEMBLEIA GERAL ......................................................................................................................... 55


Assembleia geral ordinária ..................................................................................................... 58
Assembleia geral extraordinária ............................................................................................ 59
Assembleia especial................................................................................................................. 60
Assembleia de constituição .................................................................................................... 61
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................... 61
DIRETORIA ......................................................................................................................................... 64
CONSELHO FISCAL ........................................................................................................................... 64
PUBLICAÇÕES EMPRESARIAIS OBRIGATÓRIAS ............................................................................. 66

MÓDULO V – OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS ........................................................................................... 71

TRANSFORMAÇÃO ........................................................................................................................... 71
GRUPO ECONÔMICO ....................................................................................................................... 73
GRUPO SOCIETÁRIO ........................................................................................................................ 76
CONSÓRCIO ...................................................................................................................................... 79
EXTINÇÃO DA COMPANHIA ............................................................................................................ 81
Dissolução da companhia....................................................................................................... 82
Liquidação da companhia ................................................................................................. 85
Fusão ......................................................................................................................................... 87
Incorporação ............................................................................................................................ 88
Cisão .......................................................................................................................................... 90

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 92

PROFESSORES-AUTORES ..................................................................................................................... 97

PABLO GONÇALVES E ARRUDA ...................................................................................................... 97


Formação acadêmica .............................................................................................................. 97
Experiências profissionais ...................................................................................................... 97
Publicações ............................................................................................................................... 97
SAULO BICHARA MENDONÇA ........................................................................................................ 99
Formação acadêmica .............................................................................................................. 99
Experiências profissionais ...................................................................................................... 99
Publicações ............................................................................................................................... 99
MÓDULO I – TEORIA GERAL DA SOCIEDADE
POR AÇÕES

Caracterizamos as sociedades por ações como instrumentos societários eficientes no sentido


de viabilizar a concentração de recursos financeiros necessários para a concretização de grandes
empreendimentos, sendo esse arrimo do poder na grande empresa que tem na persecução do lucro
a efetiva função social da empresa, 1 assertiva confirmada a partir da leitura de Nelson Eizirik,
segundo o qual: “No direito brasileiro, a sociedade anônima pressupõe sempre a intenção de lucro”. 2

Noções introdutórias
O cerne das sociedades por ações remete à participação da Casa di San Giorgio na República
Gênova na guerra travada contra Veneza, em que a primeira cedia valores à referida instituição que
os convertia em títulos de renda registrados no Banco di San Giorgio.

A Casa di San Giorgio (1407 - 1805), empresa bancária criada no século


XV para o financiamento público do principado de Gênova, viria a se
tornar um agente central na capitalização de empreendimentos comerciais
que caracterizaram uma parte final da primeira fase sistêmica do
desenvolvimento do Capitalismo Mercantil [...]. 3

1
MENDONÇA, Saulo Bichara. Função social da empresa: análise pragmática. Revista de Estudos Jurídicos, a.16, n.23, 2012. Disponível
em: https://ojs.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/view/479/643. Acesso em: mar. 2023.
2
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 34. v. 1.
3
SOUZA, Luiz Eduardo Simões de; MACHADO, Beatriz Lima. A Casa di San Giorgio: notas sobre as instituições e finanças da
fase genovesa do ciclo sistêmico mercantil, a partir do Statuto de 1568. Disponível em: http://www.abphe.org.br/
uploads/ABPHE%202017/1%20A%20Casa%20di%20San%20Giorgio%20notas%20sobre%20as%20institui%C3%A7%C3%B5
es%20e%20finan%C3%A7as%20da%20fase%20genovesa%20do%20ciclo%20sist%C3%AAmico%20mercantil,%20a%20part
ir%20do%20Statuto%20de%201568.pdf. Acesso em: mar. 2023.
A despeito de se verificar a defesa de proposituras doutrinárias 4 no sentido de que a origem das
sociedades por ações remonta ao Direito Romano – quando associações mercantis eram instituídas
com objetivos de praticar o comércio por via terrestre e marítima bem como a compra de terras para
a edificação e o guarnecimento de exércitos, vindo a se aprimorar na Idade Média – boa parte dos
autores 5 adota a premissa de “estudiosos que apontam, como a experiência mais antiga no domínio
das sociedades anônimas, o Banco de S. Jorge, em Gênova, que operou entre 1407 e 1805”. 6
Em solo pátrio, o início do Império registra também o início do desenvolvimento de
atividades comerciais por meio das sociedades de capitais, por exemplo, o Banco do Brasil,
constituído em 1808 mediante alvará subscrito pelo Príncipe Regente D. João VI, segundo consta:
“O capital da instituição seria constituído de 1.200 ações de um conto de réis cada uma. O
lançamento público destinava-se à subscrição por grandes negociantes ou pessoas abastadas”. 7
Posteriormente, um decreto do Imperador instituiu o sistema autorizativo para a instituição
de sociedades por ações, o que foi reproduzido pelo Código Comercial de 1850, mas “em 1882, a
autorização governamental foi abolida, e o direito brasileiro, acompanhando a tendência dos países
centrais do capitalismo, incorporou o sistema de regulamentação”. 8
Em 1965, uma reforma governamental alterou o procedimento do mercado de capitais e
passou a exigir o registro prévio no Banco Central de títulos emitidos por sociedades anônimas,
negociáveis em bolsa de valores. Porém, no início da década de 1970, verificou-se fragilidade desse
sistema de monitoramento governamental, os efeitos do boom de 1971, decorrente da especulação
realizada nas bolsas de valores de São Paulo e Rio de Janeiro.
Os prejuízos financeiros e o descrédito do sistema de investimento foram os pressupostos
materiais para a formalização de um sistema autorizativo mais complexo, instituído com a criação
da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade autárquica em regime especial, vinculada ao
Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade
administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade
dos seus dirigentes, além de autonomia financeira e orçamentária, consoante determina o art. 5º da
Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976.

4
MENDONÇA, José Xavier Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1954. p.
270. v. 3.
5
VALVERDE, Trajano de Miranda. Sociedade por ações. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1953. p. 10. v. 1.

REQUIÃO, Rubens Edmundo. Curso de direito comercial. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 25. v. 2.

BORGES, Eunápio. Curso de direito comercial terrestre. 5. ed. Rio de Janeiro; Forense, 1991. p. 360-361.
6
CORDEIRO, António Menezes. Manual de direito das sociedades. Coimbra: Almedina, 2004, p. 38. v. 1.
7
BANCO DO BRASIL. Relatório Anual Banco do Brasil. 2004.. Disponível em: https://www.bb.com.br/docs/pub/siteEsp/
ri/pt/dce/dwn/RA2004.pdf. Acesso em: mar. 2023.
8
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 87. v. 2.

6
O modelo legal de sociedade anônima foi desenvolvido para conciliar 2
(dois) problemas essenciais na prática dos negócios: o financiamento de
empreendimentos de maior monta; e a participação de um grande número
de investidores cuja responsabilidade é limitada ao preço de emissão das
ações subscritas ou adquiridas. 9

Dessa forma, a Lei nº 6.404/76 regulamenta um tipo societário próprio para grandes
investimentos, detentor de uma estrutura funcional, operacional, apta para desenvolver o objeto social
concomitantemente com um objetivo natural da sua essencial, qual seja, a arrecadação de recursos
financeiros por capitalização e securitização, como se verifica com a leitura do art. 1º da citada lei.

A sociedade anônima pode ser definida como a pessoa jurídica de direito


privado, de natureza empresarial, cujo capital divide-se em ações, em princípio
livremente negociáveis, ficando limitada a responsabilidade de cada um dos
acionistas ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.

O dispositivo menciona as 2 (duas) características essenciais das sociedades


anônimas: (i) o seu capital é dividido em ações; e (ii) a responsabilidade dos
acionistas é limitada ao preço de emissão das ações. 10

Assim, como se verá ainda nesta unidade, as companhias de capital aberto se instituem
mediante ato administrativo de autorização proferido pela CVM, nos termos determinados pela Lei
nº 6.404/76 e pela Lei nº 6.385/76; e as companhias de capital fechado, mediante registro realizado
no Registro Público de Empresas Mercantis (RPEM) a cargo das Juntas Comerciais, nos termos da
Lei nº 8.934, 18 de novembro de 1994.

Classificação: companhias de capital aberto e de capital


fechado
Até o presente momento, utilizamos a expressão sociedade por ações porque as companhias
podem proceder à captação de recursos para a composição do seu capital social por meio de emissão
pública ou privada de valores mobiliários, especificamente as ações, daí a companhia poder ser
classificada como de capital aberto ou de capital fechado, consoante o art. 4º da Lei nº 6.404/76.

9
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 586. v. 1.
10
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 26. v. 1.

7
Assim, tem-se por aberta a companhia que capta recursos financeiros junto ao público,
emitindo publicamente valores mobiliários a serem negociados no mercado de capitais, 11 em bolsa
de valores ou no mercado de balcão, conforme o art. 22 da Lei nº 6.385/76.
A contrario sensu, as companhias de capital fechado negociam os seus valores mobiliários
privativamente, sem utilizar-se de expedientes de publicização das ofertas, deve(m), o(s)
fundador(es) buscar, entre os seus contatos, pretensos investidores ou mesmo ver o capital social
integralmente subscrito pelo grupo que fundou a companhia de capital fechado.
Isso permite constatar uma aproximação sistêmica entre a companhia de capital fechado e as
sociedades limitadas. Por ser pacífico o reconhecimento da affectio societatis nas companhias de
capital fechado, nesse sentido, lê-se Rubens Edmundo Requião 12 e os REsp. nº 111.294/PR 13 e
REsp. nº 507.490/RJ 14, ambos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ou seja, as sociedades
anônimas de capital aberto são caracterizadas pelo seu intuitu pecuniae, inexistindo o intuitu
personae característico das sociedades de pessoas e presente também nas sociedades híbridas, como
as sociedades limitadas.
É o intuitu pecuniae que assegura a livre negociabilidade e circulação dos valores mobiliários,
notadamente das ações, sendo tal característica típica das companhias de capital aberto, podendo
as companhias de capital fechado limitar a livre negociabilidade e circulação das ações, como se
depreende da leitura do art. 36 da Lei nº 6.404/76.
Além disso, tal aproximação se nota pela interpretação das recentes alterações determinadas
pela Instrução Normativa nº 38/2017 do Departamento de Registro Empresarial e Integração
(DREI), 15 atinente à prática registral das sociedades limitadas.
Esse fator diferencial é responsável pela distinção da forma de instituição das companhias
de capital aberto e das de capital fechado, como se fará constatar, bem como justifica a maior
complexidade burocrática imposta às companhias de capital aberto, na sua constituição e no
seu funcionamento.

11
Ressalva-se que mercado de capitais consiste em temática não tratada neste material em razão da extensão e
especificidade do tema que consiste em objeto de disciplina própria. Dessa forma, as menções pontuais realizadas têm
por escopo apenas consolidar raciocínios atinentes à temática das sociedades por ações.
12
REQUIÃO, Rubens Edmundo. Sociedade anônima de capital fechado: dissolução parcial ou mais uma hipótese de direito
retirada. Disponível em: http://www.requiao.adv.br/artigo10.htm. Acesso em: mar. 2023.
13
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 111.294. Relator: Ministro Castro Filho. Paraná, 15 de junho de
2005. In: DJ, 24 de junho de 2005.
14
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 507.490. Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros. Rio de
Janeiro: 19 de setembro de 2006. In: DJ, 13 de novembro de 2006.
15
DEPARTAMENTO DE REGISTRO EMPRESARIAL E INTEGRAÇÃO. Instrução Normativa DREI nº 38, de 2 de março de 2017.
Disponível em: https://www.normasbrasil.com.br/norma/instrucao-normativa-38-2017_338241.html. Acesso em: mar. 2023.

8
A oferta pública de distribuição de valores mobiliários constitui a operação
por meio da qual a companhia ou os titulares de valores mobiliários de sua
emissão realizam, mediante apelo ao público, a colocação de ações ou
outros valores mobiliários no mercado de capitais. Essas ofertas são
usualmente designadas, na prática do mercado, pela sigla IPO – Initial
Public Offer, a qual se refere às ofertas mediante as quais uma companhia
fechada acessa o mercado pela primeira vez, promovendo a distribuição
pública de valores mobiliários de sua emissão; as regras a ela aplicáveis
estendem-se, também, às ofertas realizadas por companhias que já tenham
os valores mobiliários de sua emissão atingidos à negociação no mercado. 16

Na referida oferta de valores mobiliários, notadamente no que tange às ações, verifica-se uma
divisão em dois momentos, o que permite a distinção do referido título por duas perspectivas, a
saber: ações primárias, ou seja, ações novas, recém-emitidas pela companhia com o propósito de
compor ou ampliar o seu capital social; e ações secundárias, ações velhas que consistem em objeto
de revenda que o acionista subscritor desenvolve com novos investidores.
No caso das ações primárias, a relação jurídica se desenvolve entre a companhia emissora do
valor mobiliário e o acionista que será o seu primeiro titular. Já no caso das ações secundárias, a
relação jurídica se desenvolve entre o titular da ação e o novo investidor interessado em adquirir o
valor mobiliário objeto de uma revenda.

As ofertas primárias atendem à principal função econômica do mercado de


valores mobiliários, qual seja, a de permitir o financiamento de médio e longo
prazos das empresas, que poderão direcionar os recursos obtidos, entre outras
aplicações, para a execução de projetos e/ou adequação de seu passivo.
As ofertas secundárias, por sua vez, são aquelas em que os acionistas da
companhia ou os titulares de outros valores mobiliários de sua emissão
vendem no mercado os títulos de sua propriedade já emitidos pela companhia.
Neste caso, os recursos pagos pelos investidores para adquirir as ações ou
outros valores mobiliários ofertados não são destinados à companhia emissora,
mas aos proprietários ofertantes. As ofertas secundárias constituem,
normalmente, a forma utilizada pelos acionistas controladores ou outros
investidores estratégicos para obter retorno financeiro de seus investimentos
e/ou dar liquidez aos títulos de sua propriedade. 17

16
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 55. v. 1.
17
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 55-56. v. 1.

9
Compreendida a distinção formal e material entre as espécies de companhias privadas
regulamentadas pela Lei nº 6.404/76, passa-se à análise da sua estruturação jurídica.

Constituição da companhia
A constituição da companhia, seja de capital aberto ou de capital fechado, demanda atenção
a requisitos burocráticos distintos dos exigíveis às sociedades limitadas e aos demais tipos societários
regulados em lei, considerando a natureza das sociedades por ações (sociedade de capitais) e a maior
quantidade e diferente qualidade de interesses inerentes à sua existência e ao seu funcionamento.
Para a sua constituição, deve-se atentar para os requisitos preliminares determinados pelo art.
80 da Lei nº 6.404/76.

Esses requisitos podem ser atendidos simultaneamente, permitindo a pronta


e imediata constituição da companhia, o que é mais comum quando o
número de sócios é restrito, ou sucessivamente, elemento a elemento o que
é mais comum quando a companhia se constitui pela adesão de investidores
diversos, sem prévio reconhecimento ou ajuste, segundo, aliás, a ideia geral
que norteia o instituto. 18

Depois do atendimento dos requisitos complementares, atentar-se-á às distinções naturais da


constituição por subscrição pública e por subscrição privada de valores mobiliários.

Requisitos preliminares
Independentemente do tipo de companhia, os requisitos preliminares aos atos constitutivos
são os mesmos, consoante se verifica no art. 80 da Lei nº 6.404/76, a saber:

Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento dos


seguintes requisitos preliminares:
I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que
se divide o capital social fixado no estatuto;
II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do
preço de emissão das ações subscritas em dinheiro;

18
MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 311. v. 2.

10
III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento
bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do
capital realizado em dinheiro.
Parágrafo único. O disposto no número II não se aplica às companhias
para as quais a lei exige realização inicial de parte maior do capital social.

Atente-se que, em relação ao primeiro requisito, a determinação legal é no sentido de que


todo o valor do capital social proposto pelos fundadores na minuta do estatuto social seja subscrito
por, pelo menos, duas pessoas.
A exigência é feita nesse sentido em respeito ao princípio da pluralidade societária sobre o
qual se fundamentam as regras societárias pátrias que preveem a unipessoalidade apenas em caráter
excepcional, seja a unipessoalidade incidental, na forma do art. 206, I, d, da Lei nº 6.404/76, ou a
subsidiária incidental, na forma do art. 251 da mesma lei.
Outra razão que justifica a exigência do inc. I do art. 80 citado funda-se na necessidade de
ver o comprometimento de investidores com a integralização do capital social. A integralização
pode ocorrer de forma parcelada, mas a subscrição deve ser imediata, pois o compromisso assumido
com a integralização do capital social representa para o mercado uma espécie de garantia informal
de que o empreendimento será, efetivamente, instituído.
“A insuficiência da subscrição não vincula os subscritores, porquanto a proposição dos
fundadores encontra-se subordinada à condição suspensiva, consiste na subscrição completa do
capital projetado”. 19 Isso porque a sociedade anônima tem prazo para ser regulamente instituída a
partir do depósito realizado nos termos do art. 81 da Lei nº 6.404/76. Caso isso não seja respeitado,
os valores devem ser restituídos aos investidores iniciais.
A exigência constante no inc. II do art. 80 da Lei nº 6.404/76, no sentido de que o capital
social seja realizado com pelo menos 10% em dinheiro, justifica-se pela necessidade de liquidez
mínima da companhia quando do início das suas atividades. Observe que a lei não determina de
que forma os 90% restantes devem ser integralizados, podendo ser em bens ou direitos, conforme
determina o art. 7º da mesma lei. Assim, se os bens destinados à integralização das ações subscritas
forem avaliados em valor menor do que o montante devido, a diferença deverá ser integralizada em
dinheiro e à vista.
Ainda sobre o inc. II, verifica-se a relevância de considerar que, em se tratando de instituições
financeiras privadas, deve-se observar o parágrafo único do mesmo art. 80 da Lei nº 6.404/76.
Neste caso, o capital social precisa ser integralizado na ordem de 50% em dinheiro, em atenção ao
que determina a Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, em cujo art. 27 se lê: “na subscrição do
capital inicial e na de seus aumentos em moeda corrente, será exigida no ato a realização de, pelo
menos 50% (cinquenta por cento) do montante subscrito”.

19
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 98.

11
O inc. III do citado art. 80 da Lei nº 6.404/76 exige que a quantia apurada no inc. II seja
depositada em conta bancária. Observa-se que essa exigência só se justifica nos casos de
integralização de ações primárias emitidas quando da constituição da companhia, sendo
desnecessário o depósito quando a integralização de ações novas se der por ocasião do aumento do
capital social, quando a companhia poderá levantar a importância em seu favor de imediato.
A realização do depósito nos termos do inc. III se deve em razão de a companhia, neste
momento, ainda estar em organização, consoante prescreve o art. 81 do mesmo diploma legal.

Art. 81. O depósito referido no número III do artigo 80 deverá ser feito
pelo fundador, no prazo de 5 (cinco) dias contados do recebimento das
quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade em organização,
que só poderá levantá-lo após haver adquirido personalidade jurídica.
Parágrafo único. Caso a companhia não se constitua dentro de 6 (seis)
meses da data do depósito, o banco restituirá as quantias depositadas
diretamente aos subscritores.

Observe, por oportuno, que o citado dispositivo legal representa exceção flagrante à regra
geral atinente à aquisição da personalidade jurídica pela sociedade descrita no art. 985 do Código
Civil (CC), o qual determina que: “a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no
registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150)”.
Não se questiona ou critica a presente exceção em razão do critério da especificidade
decorrente da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657,
de 4 de setembro de 1942), segundo a qual, em caso de eventual conflito entre lei geral e lei especial,
devem prevalecer as determinações da lei especial (lex specialis derogat legi generali).
Observados e respeitados os requisitos preliminares, passa-se à observação dos requisitos
específicos impostos a cada caso, seja subscrição pública ou subscrição privada de valores mobiliários.

Constituição por subscrição pública


A constituição da companhia por subscrição pública de valores mobiliários depende da
atuação da figura do fundador, que deve contar com o apoio e a responsabilidade solidária de ao
menos uma instituição financeira.

Art. 92. Os fundadores e as instituições financeiras que participarem da


constituição por subscrição pública responderão, no âmbito das respectivas
atribuições, pelos prejuízos resultantes da inobservância de preceitos legais.
Parágrafo único. Os fundadores responderão, solidariamente, pelo prejuízo
decorrente de culpa ou dolo em atos ou operações anteriores à constituição.

12
A presente exigência legal representa garantia de certeza jurídica no aporte de capital realizado
pelos investidores. Considerando que a figura do fundador é caracteristicamente volátil, a
participação de forma solidária da instituição financeira assegura ao investidor o mínimo de certeza
de reaver o montante investido caso a companhia não se constitua dentro de seis meses da data do
depósito, conforme preceitua o parágrafo único do citado art. 81 da Lei nº 6.404/76.

Os fundadores, portanto, promovem a constituição da companhia em seu


nome e risco. Suportam a incerteza do êxito do projeto, sendo de se mencionar
que a assembleia geral dos subscritores pode deliberar pela não criação da
sociedade. Assim sendo, atuam como verdadeiros empreendedores de um
negócio e, com a sua instalação, encontra-se ultimado o seu mister, não tendo
que aderir, como se viu, necessariamente ao projeto criado como acionista.

Em face dos serviços profissionais que realizam, de caráter eminentemente


técnico, por conta e risco, fazem jus, mormente na constituição sucessiva,
a uma correspondente remuneração, sem prejuízo de serem reembolsados,
pela sociedade criada, das despesas suportadas em prol da constituição. 20

A ação conjunta do fundador com a instituição financeira proporcionará a disponibilização


das ações no mercado de capitais, viabilizando a subscrição de títulos que vinculem os investidores
ao capital social a ser integralizado.

A Lei das S.A. determina que os fundadores e as instituições financeiras


intermediárias são responsáveis, de acordo com as respectivas atribuições,
pelos prejuízos resultantes da inobservância dos preceitos legais (art. 92).
A instituição financeira intermediária deverá tomar todas as cautelas,
respondendo pela falta de diligência ou omissão, para assegurar que as
informações constante no estudo de viabilidade econômico-financeira do
empreendimento são corretas, suficientes, verdadeiras e consistentes,
permitindo aos investidores a tomada de decisão fundamentada a respeito
da oferta. 21

O ato de disponibilizar ações junto ao mercado investidor prescinde não apenas de uma ação
conjunta do fundador com uma instituição financeira, mas também do registro prévio dos títulos
em tela na CVM, por força do art. 19 da Lei nº 6.385/76.

20
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 102.
21
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 489. v. 1.

13
Assim, a Lei nº 6.385/76 estabelece normas a serem observadas no momento da negociação
dos referidos valores mobiliários, e a Lei nº 6.404/76 estabelece normas programáticas atinentes à
organização e à constituição da companhia, como se depreende da leitura do art. 82 desta lei.

Art. 82. A constituição de companhia por subscrição pública depende do


prévio registro da emissão na Comissão de Valores Mobiliários, e a
subscrição somente poderá ser efetuada com a intermediação de
instituição financeira.
§ 1º O pedido de registro de emissão obedecerá às normas expedidas pela
Comissão de Valores Mobiliários e será instruído com:
a) o estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento;
b) o projeto do estatuto social;
c) o prospecto, organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição
financeira intermediária.
§ 2º A Comissão de Valores Mobiliários poderá condicionar o registro a
modificações no estatuto ou no prospecto e denegá-lo por inviabilidade ou
temeridade do empreendimento, ou inidoneidade dos fundadores.

Vale ressaltar que a negligência ou a má-fé propriamente dita, por parte do fundador ou dos
representantes legais da instituição financeira, acarreta não apenas responsabilidade civil e
administrativa, mas também responsabilidade criminal, nos termos do art. 177 do Código Penal (CP).
A disponibilização das ações junto ao mercado de capitais realizada pela instituição financeira
que assumir o encargo junto ao fundador de responder solidariamente pelos procedimentos de
constituição da companhia de capital aberto deve ocorrer a partir de um contrato que contenha
cláusulas assecuratórias de um resultado eficiente. Nestes termos assevera Nelson Eizirik:

Os fundadores celebrarão com a instituição financeira intermediária


contrato de distribuição de valores mobiliários, que deverá conter, entre
outras (i) regras sobre as condições de revenda dos valores mobiliários, (ii) a
descrição do procedimento adotado para distribuição; e (iii) menção a
contratos de estabilização de preços e de garantia de liquidez, se houver.
Assim, deverá constar do contrato se a obrigação assumida pela instituição
financeira intermediária é: (i) firme ou com garantia de subscrição total, em
que a instituição financeira compromete-se a subscrever todos os valores
mobiliários emitidos pela companhia para, posteriormente, vendê-los ao
público; (ii) com garantia de sobras, na qual a instituição financeira assume
a obrigação de subscrever as sobras, após a colocação dos títulos no mercado;
ou (iii) de melhor esforço, em que a instituição financeira não garante a

14
subscrição dos títulos emitidos pela companhia, comprometendo-se apenas
a realizar seus melhores esforços para vender os papéis junto ao público, não
sendo obrigada a adquiri-los no caso de insucesso da colocação. 22

Assim, negociados os termos do contrato firmado entre o fundador e a instituição financeira, e


registrados os valores mobiliários na CVM – a qual deve autorizar a sua disponibilização junto ao
mercado de capitais – as subscrições podem ser realizadas, seguidas pelas integralizações equivalentes,
permitindo a vinculação dos investidores, agora acionistas, com a companhia de capital aberto,
tornando-os aptos a comporem a assembleia de constituição a ser estudada.

Constituição por subscrição privada


Na constituição de companhia de capital fechado, não se faz oferta pública de valores mobiliários,
o que torna desnecessário o registro e a autorização da CVM, sendo tais valores subscritos individual e
diretamente pelas pessoas procuradas pelos fundadores, pretensos subscritores.
Assim, o art. 88 da Lei nº 6.404/76 regulamenta a constituição de uma “sociedade anônima
de poucos acionistas, constituída discretamente, sem muita publicidade por não necessitar do
concurso de outro capital a mais que o de seus organizadores”. 23

Art. 88. A constituição da companhia por subscrição particular do capital


pode fazer-se por deliberação dos subscritores em assembleia-geral ou por
escritura pública, considerando-se fundadores todos os subscritores.
§ 1º Se a forma escolhida for a de assembleia-geral, observar-se-á o disposto
nos artigos 86 e 87, devendo ser entregues à assembleia o projeto do
estatuto, assinado em duplicata por todos os subscritores do capital, e as
listas ou boletins de subscrição de todas as ações.
§ 2º Preferida a escritura pública, será ela assinada por todos os
subscritores, e conterá:
a) a qualificação dos subscritores, nos termos do artigo 85;
b) o estatuto da companhia;
c) a relação das ações tomadas pelos subscritores e a importância das
entradas pagas;
d) a transcrição do recibo do depósito referido no número III do artigo 80;
e) a transcrição do laudo de avaliação dos peritos, caso tenha havido
subscrição do capital social em bens (artigo 8°);
f) a nomeação dos primeiros administradores e, quando for o caso, dos fiscais.

22
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 488-489. v. 1.
23
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 1961. p. 115. v. 4.

15
Assim, caberá ao(s) fundador(es) optar pela deliberação dos subscritores em assembleia-geral
ou por escritura pública para a constituição da companhia de capital fechado e tomar as
providencias registrais no RPEM, a cargo das Juntas Comerciais, consoante determinam o art. 32,
II, a, e o art. 41, I, a, ambos da Lei nº 8.934/94.

Formalidades complementares
As formalidades complementares à constituição das companhias são atinentes ao
arquivamento e à publicação dos atos constitutivos, em respeito aos termos do art. 94 da Lei nº
6.404/76, o qual proíbe o funcionamento de companhias que não tenham arquivado e publicado
os seus atos constitutivos, em respeito aos termos do inc. I do art. 1º da Lei nº 8.934/94.

As formalidades complementares à constituição têm por fim atribuir


personalidade jurídica à companhia, dar publicidade dos atos constitutivos a
terceiros, bem como conferir autenticidade, segurança e eficácia a esses atos. 24

Uma vez registrados e arquivados, os atos constitutivos se toram públicos, logo, acessíveis a
quaisquer interessados.
Por essa razão, concluídos os atos constitutivos, os fundadores entregaram aos primeiros
administradores, componentes do Conselho de Administração, se houver, ou Diretoria, os
documentos, livros e todos os papéis atinentes à constituição da companhia ou a ela pertencentes,
para que façam, no prazo de 30 dias, o aludido registro e arquivamento, consoante determina o
art. 98 da Lei nº 6.404/76, prazo igual ao determinado pelo art. 36 da Lei nº 8.934/94.

Companhia de menor porte


A Lei Complementar nº 182/2021, conhecida como marco legal das startups, estabeleceu o
conceito de companhia de menor porte no art. 294-B da Lei nº 6.404/76, como aquela que aufira
receita bruta anual inferior a R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais).
O presente dispositivo legal não deve ser confundido com a definição de pequena empresa25
que se extrai da Lei Complementar nº 123/06, haja vista que o próprio Estatuto da Pequena
Empresa proíbe as companhias de se beneficiarem do tratamento favorecido e diferenciado
destinado às pequenas empresas (art. 3º, § 4º, X, Lei Complementar nº 123/06).

24
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 534. v. 1.
25
A pequena empresa representa o núcleo de um regime de tutela especial instituído para diferenciar, em iguais condições,
os empresários que possuem menor poder econômico, um regime de tratamento que instrumentaliza a isonomia. Por esta
razão, não se pode ler o inciso IX do art. 170 e o art. 179 da Constituição Federal de 1988 sem considerar a necessidade de
um efetivo tratamento favorecido e diferenciado apenas às instituições enquadradas no gênero pequena empresa. O que
se pretende com o referido princípio constitucional é a efetiva tutela de todas as espécies que compõem esse gênero, ou
seja, microempreendedor individual, microempresa e empresa de pequeno porte.

16
A regulamentação contida no art. 294-B da Lei nº 6.404/76 viabiliza o estabelecimento de
procedimentos simplificados aplicáveis pela Comissão de Valores Mobiliários às companhias de
menor porte, notadamente quanto à obtenção de registro de emissor; às distribuições públicas de
valores mobiliários da sua emissão e à elaboração e prestação de informações periódicas e eventuais.
É lícito à Comissão de Valores Mobiliários estabelecer a forma de atualização do valor previsto
no referido dispositivo legal bem como os critérios adicionais para a manutenção da condição de
companhia de menor porte após o seu acesso ao mercado de capitais, disciplinando o tratamento a ser
dispensado às companhias abertas que se caracterizem como de menor porte nos termos da lei societária.
A nova redação atribuída pela Lei Complementar nº 182/21 ao art. 294-A da Lei nº 6.404/76
permite também à Comissão de Valores Mobiliários regulamentar as condições facilitadas para o
acesso de companhias de menor porte ao mercado de capitais, permitindo dispensar ou modular a
observância ao disposto acerca da obrigatoriedade de instalação do conselho fiscal a pedido de
acionistas; a intermediação obrigatória de instituições financeiras nas distribuições públicas de
valores mobiliários; a distribuição e recebimento de dividendos obrigatórios e a forma de realização
das publicações ordenadas pela lei societária.

Capital social
O capital social representa o núcleo do patrimônio da sociedade. Constituído pela soma da
contribuição dos acionistas, o seu valor total é fracionado em ações, títulos conferidos aos sócios,
investidores. O estatuto social deve fixar o número das ações em que se divide o capital social e
estabelecer se as terão, ou não, valor nominal, conforme prescreve o art. 11 da Lei nº 6.404/76.

O estatuto preverá se as ações em que o capital esteja fracionado terão ou


não um número nominal, que é correspondência exata entre o valor total
do capital e o valor total das ações emitidas, mencionado de modo
expresso no estatuto. 26

A despeito de o capital social ser composto da soma da contribuição dos acionistas, pode ser
que essa se dê em um valor maior do que o montante necessário para compor o capital social, valor
representativo do ágio, montante com o qual se constitui a reserva de capital que, segundo o art.
200 da Lei nº 6.404/76, somente poderá ser utilizada para a absorção de prejuízos que
ultrapassarem os lucros acumulados e as reservas de lucros; resgate, reembolso ou compra de ações;
resgate de partes beneficiárias (valor mobiliários emitido apenas por companhias de capital
fechado); incorporação ao capital social (situação na qual o capital social será aumentado sem a
entrada de novos recursos, nos termos do art. 169 da Lei nº 6.404/76); e pagamento de dividendo
a ações preferenciais, quando essa vantagem lhes for assegurada (art. 17, § 5º).

26
BRUSCATO, Wilges. Manual de direito empresarial brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 317. v. 1.

17
Os princípios que norteiam o capital social são: (i) o da unidade, que
significa que o capital social é único, ainda que a companhia tenha diversas
filiais; (ii) o da fixidez, pelo qual, uma vez definido o capital social no
estatuto social, só pode ser alterado nos casos taxativamente previstos na Lei
das S.A. (arts. 166, 168, 169, 170 e 173); (iii) o da realidade, pelo qual o
capital estipulado no estatuto deve ser real, ou seja, efetivamente formado
no ativo da companhia mediante contribuição dos acionistas subscritores
das ações e (iv) o da intangibilidade, segundo o qual os acionistas e
administradores não podem transferir bens do ativo social para o patrimônio
dos sócios caso o montante do capital social aplicado no ativo fique reduzido
a valor inferior ao fixado no estatuto.

No plano econômico, o capital pode ser considerado como o conjunto de


recursos com que conta a companhia para o desenvolvimento de suas
atividades. Sob o aspecto contábil, o capital social é uma conta integrante
do patrimônio líquido; nesse sentido, determina o art. 182 que a conta do
capital social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela
ainda não realizada. 27

A lei não fixa valor mínimo para o capital social, devendo o fundador proceder ao estudo de
viabilidade econômica do negócio e apurar o quanto de investimento se fará necessário para
constituir a companhia de forma eficiente. Ressalta-se que, mesmo não havendo previsão legal sobre
valor mínimo do capital social, sendo a companhia de capital aberto, a CVM poderá impor-lhe
exigências para autorizar o seu registro e funcionamento, nos termos do art. 19, § 6º, da Lei nº
6.385/76, o qual encontra fundamento no interesse público que envolve a atividade empresarial
desenvolvida por companhias.

Formação do capital social


O estatuto social da companhia deve fixar o valor do capital social, expresso em moeda
nacional. A sua formação se dá com contribuições em dinheiro ou em qualquer outra espécie de
bens suscetíveis de avaliação pecuniária, ou seja, bens e direitos, não sendo permitida a constituição
do capital social com serviços.
A sua composição pode ser em espécie, não há maiores detalhes a compreender, basta que o
acionista investidor faça um aporte de capital em favor da companhia, recebendo em troca as ações,
para que a relação jurídica se concretize.

27
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 89-90. v. 1.

18
Em relação à sua composição por direitos, exige-se que os créditos sejam atuais e efetivamente
existentes no momento da sua incorporação ao capital social, ficando o acionista subscritor
solidariamente responsável pela solvência desse crédito, respondendo inclusive por vícios
redibitórios. O crédito ao qual se refere o parágrafo único do art. 10 da Lei nº 6.404/76 pode ser
real, pessoal ou um título de crédito propriamente dito.
Entretanto, no que se refere à integralização com bens, o procedimento é mais detalhista e
exige maior atenção por parte do acionista investidor e da companhia em si.

Os bens que servirão à formação e integralização do capital devem


obrigatoriamente ser avaliados a fim de que os credores da companhia e
aqueles que subscreveram ações em dinheiro recebam garantia adicional
contra eventuais fraudes, evitando a apresentação de bens inúteis ou que
sejam incorporados ao capital por valor superior ao real. A
supervalorização dos bens pode lesar os acionistas ou subscritores que
contribuíram em dinheiro, os investidores e os credores, assim como
prejudicar a continuidade normal da empresa. 28

Neste momento, a leitura do art. 8º da Lei nº 6.404/76 deve considerar os termos do art. 89
da mesma lei (art. 108, CC), o que permite compreender a excepcional forma pela qual a
propriedade é transferida de forma oficial.

Sendo o valor aprovado pelo subscritor e pelos demais sócios em


assembleia, os bens incorporar-se-ão ao patrimônio da sociedade,
competindo aos seus administradores cumprir as formalidades necessárias
à respectiva transmissão, em observância ao que determina os artigos 89 e
98, § 2º da Lei nº 6.404/76 combinado com art. 64 da Lei nº 8.934/94
que atribuem à ata da assembleia societária devidamente registrada na
Junta Comercial a força necessária para comprovar a transferência da
propriedade do bem imóvel, isentando o sócio investidor e a sociedade da
realização da escritura pública de transferência patrimonial. 29

28
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p.104-105. v. 1.
29
MENDONÇA, Saulo Bichara; BARRETO, Ana Carolina Carvalho. A integralidade de capital social com bens imóveis e
inexigibilidade de escritura pública. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; OLIVEIRA, Carla Fernandes (Orgs.). Direito
imobiliário, notarial e registral: perspectivas contemporâneas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. p. 217.

19
Ainda no que tange à transferência de bens para a composição do capital social, observa-se o
art. 156, § 2º, I, da Constituição Federal de 1988 no que alude à imunidade fiscal em relação ao
Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), que, naturalmente, encontra no ato de
transmissão de bens o seu fato gerador.

A imunidade que recai sobre o recolhimento de imposto derivado de


transmissão de bens imóveis por ato oneroso inter vivos, de natureza ou
acessão física, por meio de quaisquer títulos se aplica à transmissão de bens
ou direitos incorporados ao patrimônio de sociedade (pessoas jurídicas, de
forma geral), quando da integralidade do seu capital social.

A imunidade se estende a atos de transmissão de bens ou direitos decorrente


de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica. Verifica-se
exceção nos casos em que a atividade preponderante do adquirente for a
compra e venda de bens ou direitos sobre imóveis, como locação ou
arrendamento mercantil e cessão de direitos relativos à sua aquisição. 30

Uma vez constituído, o capital social poderá ser modificado somente com observância dos
preceitos determinado pela Lei nº 6.404/76, arts. 166 a 174, e do estatuto social.

Aumento do capital social


O aumento do capital social pode ocorrer por meio de subscrição de novas ações,
incorporação de lucros ou reservas (art. 169, Lei nº 6.404/76) ou pela conversão de debêntures e
partes beneficiárias em ações ou pelo exercício do direito decorrente de bônus de subscrição ou
opção de compra de ações.
O aumento do capital social pela capitalização dos lucros ou reservas é classificado por alguns
doutrinadores como aumento gratuito, porque não acarreta aumento direto do patrimônio líquido da
companhia, apenas incorre em uma transferência entre contas do seu ativo, proporcionando o aumento
do capital social a partir de recursos gerados pela própria companhia. 31
Quando a opção para o aumento do capital social for pela subscrição de novas ações, há de
se respeitar o direito de preferência garantido pelos arts. 109, IV, e 171 da Lei nº 6.404/76, quando
o referido direito não for mitigado ou suprimido nos termos do art. 172 do mesmo diploma legal.

30
MENDONÇA, Saulo Bichara; BARRETO, Ana Carolina Carvalho. A integralidade de capital social com bens imóveis e
inexigibilidade de escritura pública. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; OLIVEIRA, Carla Fernandes (Orgs.). Direito
imobiliário, notarial e registral: perspectivas contemporâneas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. p. 225-226. v. 1.
31
GALGANO, Francesco. Trattato di diritto commerciale e di diritto pubblico dell’economia. 2. ed. Padova: CEDAN, 1988. p. 368.

20
O aumento do capital vai se realizar, embora em muitos casos na
subscrição particular se manifestem concomitantemente, em três fases
distintas: deliberação sobre aumento, subscrição integral das ações
emitidas e homologação. Somente após este último ato é que o capital
social estará elevado. Essa homologação, entretanto, é um ato
vinculado, impondo-se sua efetivação quando atendidos os requisitos
legais e estatutários para o aumento. 32

Ressalta-se, por oportuno que, para que se dê o efetivo aumento do capital social não se
exige que este esteja totalmente integralizado, bastando que 3/4 (três quartos) estejam, conforme
se verifica nos termos do art. 170 da Lei nº 6.404/76.
Via de regra, o aumento do capital social exige reforma estatutária aprovada em AGE.
Contudo, o art. 168 da Lei nº 6.404/76 viabiliza a autorização prévia do aumento do capital social,
permitindo que o estatuto social contenha cláusula que autorize o aumento do capital social
independentemente de reforma estatutária, especificando o limite do aumento, em valor do capital
ou em número de ações, conforme o caso, definindo as espécies e classes das ações que poderão ser
emitidas; o órgão competente para deliberar sobre as novas emissões (assembleia geral ou conselho
de administração); eventuais condições ao qual estejam sujeitas as emissões e os casos ou as
condições em que acionistas terão direito de preferência para subscrição, observada a faculdade
proporcionada pelo art. 172 da Lei nº 6.404/76.
O estatuto social ainda poderá prever que a companhia, respeitado o limite de aumento do
capital social autorizado e de acordo com a aprovação de plano de aumento aprovado pela
assembleia geral, outorgue opção de compra de ações aos seus administradores ou empregados, ou
a pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou a sociedade sob o seu controle.

A CVM considera abuso de poder de controle a outorga, em companhias


abertas, de Opção de Compra de Ações que não represente um meio de
efetivo comprometimento dos beneficiários com a obtenção de resultados
da empresa, se houver prejuízo à companhia ou aos minoritários (Inst. 323,
art. 1º, XII). 33

Note-se que a aquisição de ações por administradores ou empregados ou pessoas naturais que
prestem serviços à companhia, por meio da opção de compra, não lhes proporciona ganhos em
decorrência do contrato de trabalho ou prestação de serviços. Eventuais dividendos pagos a esses
acionistas, quando devidos, decorre da valorização dos ativos adquiridos.

32
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 82.
33
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2021. p. 171. v. 2.

21
51. A opção de compra, porém, tem índole distinta: a companhia não
está efetuando nenhum pagamento ao empregado de natureza
retributiva, nem muito menos atribuindo-lhe direito à participação nos
lucros (que até pode ser simultaneamente outorgado, mas não se
confunde com a opção de compra).
52. Ao contrário, a companhia está permitindo, por deliberação
assemblear, que o empregado possa subscrever ações a um preço
preestabelecido, conservando-as ou não em seu patrimônio.
53. Se, eventualmente, decidir aliená-las, o ganho de capital decorrerá de
fato alheio à companhia, sendo pago por terceiros e totalmente desvinculado
do contrato de trabalho.
54. O administrador ou empregador beneficiário do plano de opção de
compra de ações não está, enfim, participando dos lucros da companhia,
como ocorreria se lhe fosse paga uma gratificação.
Está – isto, sim – beneficiando-se da valorização de seu patrimônio
decorrente de elementos alheios à companhia.
55. Entendemos, por tudo isto, que a opção de compra ou, mais
exatamente, os dividendos recebidos e/ou o eventual ganho de capital
decorrente de seu exercício e da venda das ações não têm qualquer
vinculação com o contrato de trabalho. 34

Registra-se, por oportuno, que a nova redação do art. 284 da Lei nº 6.404/76, prevê a
inaplicabilidade às sociedades em comandita por ações do disposto sobre autorização estatutária de
aumento de capital.

Redução do capital social


O capital social pode ser reduzido de forma voluntária ou compulsória. A primeira necessita
de assembleia geral extraordinária e, sendo essa redução uma proposta dos administradores, o ponto
será deliberado em plenária a partir de um parecer do conselho fiscal, se em funcionamento.
Se compulsória, deve-se verificar se a causa decorre do exercício do direito de recesso pelo
acionista, que deverá ser reembolsado nos termos do art. 45, § 6º, da Lei nº 6.404/76, ou se decorre da
extinção de ações de acionista remisso, consoante prescreve o art. 107, § 4º, da mesma lei.

34
ARAGÃO, Paulo Cézar. Opções de compra de ações e bônus de subscrição. Revista dos Tribunais. v. 631, p. 63, maio 1988.
Doutrinas Essenciais de Direito Empresarial. v. 8, p. 281, dez. 2010. Disponível em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/
3259942/mod_resource/content/0/ARAG%C3%83O.%20Op%C3%A7%C3%B5es%20de%20Compra%20de%20A%C3%A7%C
3%B5es%20%281%29%20-%20Aula%204.pdf. Acesso em: mar. 2023.

22
MÓDULO II – ACIONISTAS

Acionistas são os sócios da companhia, os titulares do investimento feito na integralização


de ações, frações do capital social. A responsabilidade patrimonial desses investidores é limitada
ao valor das ações subscritas ou adquiridas, consoante determina o art. 1º da Lei nº 6.404/76.
Em razão do aporte de capital feito pelo acionista, a lei lhe estabelece um dever e direitos
correspondentes, essenciais e não essenciais, como se verá.

Dever
O dever do acionista consiste na integralização das ações que subscreveu. Neste termo, lê-se
o art. 106 da Lei nº 6.404/76.
Sendo o estatuto social e o boletim de subscrição das ações omissos quanto ao valor da
prestação e do prazo para o seu pagamento, exigirá dos órgãos da administração efetuar chamada
de capital por avisos publicados na imprensa por três vezes, no mínimo, estabelecendo prazo, não
inferior a 30 dias, para o acionista adimplir a sua obrigação.
Não realizando o pagamento nas condições estabelecidas no estatuto social, no boletim de
subscrição ou na chamada de capital, o acionista ficará de pleno direito constituído em mora,
sujeitando-se a juros, correção monetária e multa determinada pelo estatuto social, em valor que
não pode ser superior a 10% do valor da prestação devida.
Constatando do contrato ou do boletim discriminados o montante da
obrigação e a data do cumprimento, desde o momento da inadimplência
opera-se a constituição em mora, com a incidência de juros à taxa de doze
por cento ao ano (por aplicação dos arts. 591 e 406 do Código Civil), de
multa de dez por cento e da correção monetária, ficando a sociedade
habilitada para a cobrança ou as providências. Já não aparecendo os
referidos elementos, inicia a mora com o decurso do prazo de trinta dias
das chamadas publicações [...]. 35

Assim, uma vez subscrevendo ações, o acionista deve honrar o compromisso financeiro
assumido; caso contrário, a companhia poderá proceder à chamada de capital. Não sendo esta
eficiente ao fim de ver a obrigação quitada, a companhia poderá valer-se do boletim de subscrição
ou dos termos da chamada de capital como títulos executivos extrajudiciais, permitindo a
fundamentação de ação de execução, uma vez que o crédito fundar-se em título de obrigação certa,
líquida e exigível, conforme exige o art. 783 do Código de Processo Civil (CPC).
Sendo infrutífera a ação de execução, a companhia poderá resgatar as ações subscritas, declará-
las caducas, fazer suas as entradas eventualmente realizadas pelo então investidor e mandar vender
as ações em bolsa de valores por sua conta e risco, integralizando-as com lucros ou reservas, exceto
a legal, se não houver lucros e reservas suficientes.
A companhia terá o prazo de um ano para colocar as ações caídas em comisso, período no
qual as ações ficaram depositadas na tesouraria da companhia. Findo o prazo legal, não tendo sido
encontrado comprador, a assembleia geral deliberará sobre a redução do capital social em
importância correspondente.

A Lei das S.A. não regulou a questão do subscritor que integraliza o valor
de suas ações com bens móveis e não os entrega à sociedade, hipótese em
que não se trata de cobrança do preço das ações – pois o título constitutivo
da propriedade da companhia já se acha formado –, mas de reivindicação
dos bens que já passaram a pertencer à companhia emissora. 36

Verifica-se que as alternativas previstas em lei pretendem evitar a redução do capital social,
considerando que a redução deste pode corresponder a uma mensagem negativa aos investidores no
mercado, haja vista que o capital social representa a solidez do patrimônio societário, muito embora
apenas uma parte dele represente a sua parte nuclear.

35
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 468.
36
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 579. v. 1.

24
Direitos essenciais
Atendida a obrigação perante a companhia, a lei estende ao acionista direitos essenciais nos
termos dos cinco incisos do art. 109 da Lei nº 6.404/76, segundo o qual:

Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia-geral poderão privar o


acionista dos direitos de:
I - participar dos lucros sociais;
II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;
IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis
em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição,
observado o disposto nos artigos 171 e 172;
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.

No que tange ao inc. I, do artigo em tela, observa-se que a assembleia geral pode reter
parcialmente valores classificados como lucro, para fins de reinvestimento na estrutura operacional
da companhia, mas não pode reter todo o valor, como se verifica na leitura do art. 202, § 2º, da Lei
nº 6.404/76. Segundo Rizzardo: “se não resultarem lucros, não há de impor a distribuição de
dividendos por impossibilidade material”. 37
Em relação ao inc. II do mesmo dispositivo legal, verifica-se que, no momento da constituição
da companhia, o investidor converte parte do seu patrimônio pessoal em ações, proporcionando à
companhia liquidez necessária para o desenvolvimento do objeto social. Em contrapartida, sendo
liquidada a companhia, eventual saldo positivo remanescente deverá ser reembolsado aos
investidores de forma proporcional ao investimento realizado.
Em relação ao inc. III, registra-se que a fiscalização, embora direito garantido, não se dá
pessoalmente, mas sim por meio do seu conselho fiscal, objeto do item Conselho fiscal deste estudo.

O exame das contas é garantido pelo art. 122, inc. III, da Lei nº 6.404/76,
pelo qual a administração deve, anualmente, prestar contas e apresentar as
demonstrações financeiras. Nas assembleias-gerais ou extraordinárias
faculta-se o pedido de explicações, assegurado pelo art. 157, § 1º. A
exibição dos livros também está garantida pelo art. 105. 38

37
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 458.
38
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 460.

25
O inc. IV do art. 109 da Lei nº 6.404/76 assegura o direito de preferência na subscrição de
novos valores mobiliários. Contudo, esse direito decai em 30 dias, consoante se verifica pela leitura
do § 4º do art. 171, e pode ser mitigado ou mesmo suprimido, na forma do art. 172, ambos do
mesmo diploma legal.

O direito de retirada apresenta natureza excepcional, uma vez que, (i)


como é a própria companhia que deve arcar com o pagamento do
reembolso devido ao acionista dissidente, o seu exercício pode colocar em
risco a saúde financeira da sociedade, além de impedir ou dificultar
mudanças estruturais necessárias ao desenvolvimento da empresa; (ii)
constitui medida que privilegia o interesse individual do acionista
dissidente em detrimento do interesse social. 39

O exercício do direito de retirada, previsto no inc. V do art. 109 da Lei nº 6.404/76, está
vinculado ao direito ao reembolso das ações integralizadas (art. 45 da mesma lei), despesa esta que deve
ser custeada pela companhia e as situações que autorizam legalmente o exercício desse direito essencial
estão previstos no art. 136, I a IV e IX, no prazo do inc. V do art. 137, ambos da citada lei.

A Lei nº 6.404/76 prevê a possibilidade do exercício do direito de recesso em


hipóteses específicas, tais como aquelas previstas nos artigos 137; 221; 223,
parágrafo 4º; 252; 256 e 264. Caso a matéria deliberada em assembleia geral
dê ensejo a direito de recesso, a companhia deve informar, no mínimo, as
ações e classes às quais se aplica o recesso, a data que será utilizada para
identificar os acionistas que poderão exercer o direito de recesso, o valor do
reembolso por ação e sua forma de cálculo, os prazos e procedimentos que os
acionistas dessa companhia, dissidentes da deliberação da referida Assembleia,
deverão adotar para exercício do direito de recesso, bem como (i) se o exercício
do direito de retirada será, exclusivamente, sobre a totalidade das ações ou se
será permitido, inclusive, o exercício sobre parte das ações possuídas e (ii) se
para o exercício do direito de recesso será necessária a titularidade ininterrupta,
desde a data de identificação dos acionistas com direito a manifestarem sua
dissidência até o dia do exercício de tal direito.
O objetivo da orientação acima é que sejam prestadas todas as informações
necessárias para tomada refletida e informada de decisão pelos investidores,
sem prejuízo da possibilidade de a CVM vir a analisar a regularidade dos
procedimentos adotados pela companhia. 40

39
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 606. v. 1.
40
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: mar. 2023.

26
Observe-se, por fim, que os direitos essenciais são, por natureza, irrenunciáveis. É lícito ao
acionista não o exercer, mas não o renunciar em situação determinada sob pena de proporcionar
repercussão negativa sobre patrimônio de futuro investidor, o que resultaria em uma injustificável
diluição patrimonial de terceiro.
Tais direitos também asseguram proteção ao pequeno investidor, considerando que as
decisões nas assembleias societárias são tomadas pela maioria detentora do capital social.

Os direitos essenciais não se confundem com a tutela dos acionistas


minoritários. Os direitos previstos no dispositivo legal são individuais,
ou seja, de cada um dos acionistas, e não de um grupo minoritário de
acionistas. Dentre os direitos tidos como essenciais, apenas o de fiscalizar
a gestão dos negócios sociais pode, em certas circunstâncias, demandar
um percentual determinado de ações, como ocorre para a eleição de
membro do conselho fiscal ou para requerer a exibição dos livros da
companhia. Todos os demais são atribuídos a cada acionista,
singularmente considerado, independentemente de integrar o grupo
minoritário ou o grupo controlador. 41

A despeito de não ser classificado como essencial, o voto é um direito também e será exercido
de acordo com a espécie de cada ação subscrita ou adquirida.

Voto
O voto do acionista é a forma pela qual ele manifesta a sua vontade de forma plena e
autônoma, segundo Fábio Ulhoa Coelho: “voto do acionista é a manifestação de sua vontade
ou entendimento em assembleia, na fase de tomada de decisão relativa a cada ponto de pauta
da sessão”. 42

Todos os acionistas têm o direito de participar – através do voto – da


direção da companhia, mas muitos não têm condições para exercer esse
direito, e a tendência é a especialização de alguns como participantes na
direção e de outros como aplicadores de capital financeiro. O Princípio do
voto majoritário na Assembleia Geral permite que um acionista (ou grupo
de acionistas) reúna ações em número suficiente para determinar as

41
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 589. v. 1.
42
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 340. v. 2.

27
deliberações da Assembleia Geral, e essa concentração do poder de voto
cria o fenômeno do controle da companhia – o exercício permanente do
poder político por um acionista ou grupo de acionista. 43

Via de regra, cada ação ordinária corresponde a um voto nas deliberações em assembleias,
contudo, o estatuto social pode mitigar esse direito.
No que diz respeito às ações preferenciais, a restrição ao direito de voto decorre da vantagem na
participação sobre os dividendos auferidos pela companhia em decorrência do exercício da empresa.
Esse fato é o que justifica a regra contida no art. 111, §§ 1º, 2º e 3º, da Lei nº 6.404/76 que
excepciona o direito ao voto do preferencialista sempre que se encontrar prejudicado no seu direito
de participação privilegiada dos dividendos por três exercícios sociais seguidos. Há exceção também
no art. 161, § 2º, da mesma lei, a qual autoriza que 5% das ações sem direito a voto solicitem em
assembleia geral o funcionamento do conselho fiscal, quando este não for permanente. O acionista
preferencialista também tem direito ao voto garantido nas assembleias e constituição, nos moldes
do art. 87 da legislação em tela.

A natureza jurídica do direito de voto é objeto de grande discussão


doutrinária: ora é tido como direito próprio do acionista, a ser exercido no
seu direito individual, ora é tido como um direito social, embora exercido
individualmente pelo acionista. Se constituir um direito próprio pode ser
exercido no interesse direto de cada acionista, em seu benefício pessoal e
exclusivo. Tratando-se, por outro lado, de um direito social, deve ser
exercido para beneficiar diretamente a companhia, contribuindo para a
formação da vontade social. 44

Recentemente, o exercício do voto foi dinamizado, passando-se a permitir que se dê


virtualmente e de forma remota, com auxílio de instrumentos tecnológicos, conforme redação do
art. 121, parágrafo único da Lei nº 6.404/76, alterado pela Lei nº 14.030/2020.
Desta forma, a assembleia geral, convocada e instalada nos termos da legislação e do estatuto
social, constitui órgão societário dotado de poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto
da companhia, instância competente para a tomada de resoluções convenientes à sua defesa e
desenvolvimento, podendo os acionistas, das companhias abertas ou fechadas, dela participar e votar
a distância, nos termos do regulamento da Comissão de Valores Mobiliários e do órgão competente
do Poder Executivo federal, respectivamente.

43
LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. A Lei das S.A.: pressupostos, elaboração, aplicação. Rio de Janeiro:
Renovar, 1997. v. 1.
44
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 623. v. 1.

28
Sendo exercido como direito pleno ou excepcional, exige-se que o voto seja manifestado com
responsabilidade, atenção à lei e aos normativos do estatuto social, “o próprio artigo 115 deixa claro
que a abusividade (e ilicitude) do voto prescinde, para sua caracterização, de que efetivamente se
aufira vantagem indevida ou que determine prejuízo para a companhia ou para os acionistas”. 45 Ou
seja, o acionista deve exercer o direito ao voto no estrito e melhor interesse da companhia, tendo
em vista que a lei societária considera como abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à
companhia ou a outros acionistas, ou com o fim de obter, para si ou para outrem, vantagem a que
não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para outros acionistas.
Eventuais infrações aos arts. 115 e 116 da Lei nº 6.404/76 podem ser objeto de ação própria
nos termos dos arts. 158, 159 e 287 da mesma lei. Nesse sentido, considera-se o precedente
jurisprudencial que segue e evidencia a responsabilidade civil dos acionistas controladores da
companhia por danos decorrentes de abuso de poder.

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL.


JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE
DEFESA (CPC, ART. 130). NÃO OCORRÊNCIA. SOCIEDADE
ANÔNIMA. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRA
ADMINISTRADOR (LEI 6.404/76, ART. 159) OU ACIONISTAS
CONTROLADORES (APLICAÇÃO ANALÓGICA): AÇÃO SOCIAL
UT UNIVERSI E AÇÃO SOCIAL UT SINGULI (LEI 6.404/76, ART.
159, § 4º). DANOS CAUSADOS DIRETAMENTE À SOCIEDADE.
AÇÃO INDIVIDUAL (LEI 6.404/76, ART. 159, § 7º).
ILEGITIMIDADE ATIVA DE ACIONISTA. RECURSO PROVIDO.
1. Aplica-se, por analogia, a norma do art. 159 da Lei 6.404/76 (Lei das
Sociedades Anônimas) à ação de responsabilidade civil contra os acionistas
controladores da companhia por danos decorrentes de abuso de poder.
2. Sendo os danos causados diretamente à companhia, são cabíveis as ações
sociais ut universi e ut singuli, esta obedecidos os requisitos exigidos pelos
§§ 3º e 4º do mencionado dispositivo legal da Lei das S/A.
3. Por sua vez, a ação individual, prevista no § 7º do art. 159 da Lei
6.404/76, tem como finalidade reparar o dano experimentado não pela
companhia, mas pelo próprio acionista ou terceiro prejudicado, isto é, o
dano direto causado ao titular de ações societárias ou a terceiro por ato do
administrador ou dos controladores. Não depende a ação individual de
deliberação da assembleia geral para ser proposta.

45
MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 367. v. 2.

29
4. É parte ilegítima para ajuizar a ação individual o acionista que sofre
prejuízos apenas indiretos por atos praticados pelo administrador ou pelos
acionistas controladores da sociedade anônima.
5. Recurso especial provido. 46

A Comissão de Valores Mobiliários estabelece a obrigatoriedade de comunicação imediata


por parte dos controladores e membros dos conselhos de administração e fiscal em caso de ciência
de irregularidades ou ilegalidades praticadas em prejuízo da companhia.

Caso os acionistas controladores, diretores, membros do Conselho de


Administração, do Conselho Fiscal e de quaisquer órgãos com funções
técnicas ou consultivas, criados por disposição estatutária, tenham
conhecimento pessoal de ato ou fato relevante e constatem a omissão do
DRI no cumprimento de seu dever de comunicação e divulgação, inclusive
na hipótese do parágrafo único do artigo 6º da Resolução CVM nº 44/21,
somente se eximirão de responsabilidade caso comuniquem imediatamente
o ato ou fato relevante à CVM, nos termos do artigo 3º, parágrafo 2º da
Resolução CVM nº 44/21. 47

Há, contudo, a possibilidade de adoção da teoria business judgement rule, que garante,
respeitados alguns pressupostos atinentes aos deveres de conduta do administrador, que este não
seja responsabilizado pelo julgador em decorrência de danos causados à companhia em caso de
tomada de decisões ruins para esta ou para os acionistas. Nesse sentido, tem-se o precedente
constante no processo administrativo sancionador CVM nº 19957.009118/2019-41 48.
A lei ainda regulamenta o voto múltiplo, o acordo de acionistas e o voto plural.

46
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 1207956/RJ. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?i=
1&b=ACOR&livre=((%27RESP%27.clas.+e+@num=%271207956%27)+ou+(%27REsp%27+adj+%271207956%27).suce.)&thes
aurus=JURIDICO&fr=veja. Acesso em: mar. 2023.
47
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: mar. 2023.
48
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Processo Administrativo Sancionador CVM nº 19957.009118/2019-41. Disponível em:
https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/sancionadores/sancionador/anexos/2022/SEI_19957009118_2019_41.pdf. Acesso
em: mar. 2023.

30
Voto múltiplo
O voto múltiplo é regulado e garantido pelo art. 141 da Lei nº 6.404/76 que teve a sua
redação alterada pela Lei nº 14.195/21, otimizando o direito previsto na lei das sociedades por ações
no sentido de proporcionar aos acionistas minoritários, titulares de ações preferenciais ou
ordinárias, uma participação mais eficiente no conselho de administração da companhia.

As principais modificações foram as seguintes: (i) permitiu-se aos titulares


de ações com direito de voto de companhia aberta representando pelo
menos 15% (quinze por cento) do capital votante eleger 1 (um) membro
do conselho de administração; (ii) permitiu-se aos titulares de ações
preferenciais da companhia aberta sem direito de voto ou com voto restrito
e sem a prerrogativa estatutária prevista no art. 18, que representem pelo
menos 10% (dez por cento) do capital, elegerem 1 (um) membro do
conselho; (iii) permitiu-se cumulação das ações para apuração do quórum
de 10% (dez por cento), caso nem as ações preferenciais nem as ações com
direito a voto atinjam o percentual necessário para eleger um conselheiro;
(iv) vedou-se a participação do acionista controlador nas votações em
separado antes mencionadas; (v) permitiu-se o exercício dos direitos acima
apenas aos minoritários que comprovarem a titularidade ininterrupta da
participação acionária durante o período de 3 (três) meses, no mínimo,
antes da assembleia geral; e (vi) em contrapartida aos maiores direitos
assegurados aos minoritários, garantiu-se ao acionista controlador o direito
de eleger sempre a maioria dos membros do conselho. 49

Assim, na assembleia em que forem eleitos os conselheiros de administração, será garantido


aos acionistas que representem, no mínimo, 10% do capital social com direito a voto, a despeito de
previsão estatutária, requerer a aplicação do procedimento de voto múltiplo, considerando
atribuído a cada ação o peso equivalente à quantidade de membros a serem eleitos para o referido
conselho, reconhecendo ao acionista o direito de cumular os votos em um só candidato ou distribuí-
los entre vários, como melhor lhe aprouver.

No que tange à votação para a eleição dos membros do conselho de


administração, pode-se adotar o critério majoritário ou o critério
proporcional, cabendo ao estatuto social da companhia a escolha de um deles.

49
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 278. v. 2.

31
No critério majoritário de votação, os acionistas podem votar em chapas
(equipes previamente formadas) ou em cada órgão separadamente (isto
é, realizam-se eleições isoladas, uma para cada cargo do conselho a ser
preenchido), mas em ambas as situações cada ação com direito a voto
corresponderá a um voto, como ocorre normalmente, nos termos do art.
110 da LSA. Perceba-se que, adotando-se o critério majoritário, o
acionista controlador acaba conseguindo eleger, invariavelmente, todos
os membros do conselho de administração.
No critério proporcional de votação, por sua vez, não é possível a formação de
chapas para a disputa dos cargos. Ademais, não são feitas eleições isoladas para
cada cargo do conselho, mas apenas uma, que servirá ao preenchimento de
todo o órgão. Assim, nesse critério são eleitos para os cargos do conselho os
candidatos mais votados, conforme a quantidade de cargos a serem
preenchidos, o que acaba por produzir um órgão provavelmente de
composição heterogênea, com a participação de membros eleitos pelos
controladores e também pelos minoritários, de maneira proporcional. 50

Ressalta-se, por oportuno, que, sempre que a eleição tiver sido realizada valendo-se desse
expediente, a destituição de qualquer membro do conselho de administração importará destituição
dos demais membros, sendo exigível nova eleição.

Recebido pedido de adoção do processo de voto múltiplo e verificado que


ele atende ao disposto no artigo 141 da Lei nº 6.404/76 e na Instrução CVM
nº 165/91, a companhia deve divulgar, por meio do “IPE Online” do
Sistema Empresas.NET, na categoria “Aviso aos Acionistas”, tipo “Adoção
do processo de voto múltiplo”, que a eleição do Conselho de Administração
poderá se dar por esse processo, por ser esta uma informação importante
para instruir a decisão a ser tomada pelos acionistas na assembleia.
Ademais, lembra-se que quanto à adoção do processo de voto múltiplo, as
companhias que adotarem obrigatoriamente ou facultativamente o voto a
distância devem atentar para as disposições a esse respeito trazidas pela
Instrução CVM nº 481/09 [...] 51

Tal procedimento não se confunde com o voto plural, apesar da confusão que pode ser feita
em razão da semelhança da semântica das expressões.

50
CRUZ, André Santa. Manual de Direito Empresarial. Volume único. 12 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora JusPodivm,
2022, p. 499-500.
51
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: mar. 2023.

32
Voto plural
O voto plural, até então, era vedado expressamente e tipificado como atividade ilícita pelo
art. 177, § 2º do Código Penal.
O § 2º do art. 110 da Lei nº 6.404/1976 foi revogado, e a vedação à adoção do voto plural
não mais existe, muito embora a referida tipificação penal subsista.

Fato é que com a permissão de ações com voto plural, o sistema jurídico
brasileiro passa a admitir mais uma forma de concentração de poder nas
mãos de quem não é titular da maioria do capital social da companhia.
Este tipo de estrutura de capital tem especial relevância em alguns setores
como os de tecnologia, moda e mídia.
Esse movimento, contudo, merece reflexão. Além de ser possível
questionar a adoção de tal instrumento via medida provisória (sem ter
havido um amplo debate sobre suas vantagens, desvantagens e justificativas
de suas disposições), sob o ponto de vista teórico, a principal crítica ao voto
plural encontra fundamentos econômicos na teoria da agência. Seriam
altos os custos de agência para incentivar o titular das ações com voto plural
a tomar decisões no interesse da companhia e não para obter benefícios
particulares. Aqui estão em jogo as já bem conhecidas situações de conflito
de interesses e abuso do poder de controle.52

Apesar da possibilidade da adoção do voto plural pelas companhias, o legislador manteve a


vedação do seu uso em relação às empresas públicas e sociedades de economia mista, bem como em
relação às suas subsidiárias e sociedades controladas direta ou indiretamente pelo poder
público. Também não se aplica à sociedade em comandita por ações, conforme vedação expressa
contida no art. 284 da Lei nº 6.404/1976.
A alteração da lei societária exige a revisão do entendimento adotado a partir das ponderações
de Nelson Eizirik53, segundo o qual o voto plural assegurava uma influência preponderante na
direção da companhia, sendo defenestrado pelo seu então caráter antidemocrático.

52
PRADO, Viviane Muller; NANI, Ana Paula Ribeiro. Estamos preparados para o voto plural? O voto plural no contexto
brasileiro de proteção de investidores. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/disclosure/
estamos-preparados-para-o-voto-plural-12082021. Acesso em: mar. 2023.
53
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. v. I – arts. 1º à 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 621.

33
A admissibilidade do voto plural pode ser encontrada em vários países. Entre
eles predomina a plena liberdade para cada companhia estipular eventuais
limitações por regras estatutárias. Considera-se, com toda razão, que, se o
acionista controlador abusar na configuração estatutária do voto plural, ele
irá afugentar os investidores. Confia-se que o mercado precificará para baixo
ações emitidas por companhias, em que o controlador desfruta de direitos
abusivos por meio da atribuição de voto plural às suas ações.
No direito brasileiro, contudo, optou o legislador de 2021 por estabelecer
uma série de limitações ao voto plural, certamente por não confiar
suficiente no funcionamento do mercado de capitais como balizador dos
interesses dos investidores. 54

Com a autorização da criação de classes variadas de ações ordinárias o legislador passou a


permitir que, a elas, seja atribuído o voto plural até o limite de 10 (dez) votos por ação da referida
natureza na companhia de capital fechado e na companhia de capital aberto. Neste último caso, a
criação da classe da ação deve se dar anteriormente à negociação de quaisquer ações ou valores
mobiliários conversíveis em ações da sua emissão no mercado de capitais.
Além da condição posta, a legislação exige que se observe, concomitantemente, os seguintes
pressupostos: voto favorável de acionistas que representem metade, no mínimo, do total de votos
conferidos pelas ações com direito a voto e metade, no mínimo, das ações preferenciais sem direito
a voto ou com voto restrito. Nesse caso, o estatuto social da companhia, de capital aberto ou
fechado, poderá exigir quórum maior.
Com a adoção do voto plural, deverá o estatuto social estipular:
I. o número de ações de cada espécie e classe em que se divide o capital social, indicando o
mínimo do número de votos atribuído por ação de cada classe de ações ordinárias com
direito a voto, não superior a 10 (dez) votos por ação ordinária;
II. o prazo de duração do voto plural, observado o limite de 7 (sete) anos;
III. o quórum qualificado para deliberar sobre as prorrogações, podendo-se exigir um quórum
maior do que o estipulado no § 1º do art. 110-A da Lei nº 6.404/76;
IV. se serão aplicáveis outras hipóteses para verificação do fim da vigência do voto plural
condicionadas a prazo ou eventos, além das previstas no art. 110-A da Lei nº 6.404/76.

54
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2021. p. 307. v. 2.

34
É facultado a indicação no estatuto social de condição ou termo para o uso do voto plural nas
assembleias das companhias, observadas as seguintes condições legais:
I. o voto plural poderá ser atribuído às ações ordinárias no prazo inicial de vigência de até
7 (sete) anos, prorrogável por qualquer prazo, desde que respeitados os pressupostos
para a sua instituição;
II. que os titulares de ações da classe cujo voto plural se pretende prorrogar não
participem das votações e sejam assegurados aos dissidentes o direito constitucional a
retirar-se da companhia.

As ações qualificadas com voto plural perderão a qualificação automaticamente e serão


convertidas em ações ordinárias sem voto plural em caso de transferência a terceiros, a título
gratuito ou oneroso, salvo se o alienante permanecer indiretamente como único titular de tais
ações e no controle dos direitos políticos por elas conferidos, ou o no caso do terceiro ser titular
da mesma classe de ações com voto plural a ele alienadas ou a transferência venha ocorrer no
regime de titularidade fiduciária.
As ações qualificadas com voto plural também irão perder a qualificação nos casos em que o
contrato ou acordo de acionistas, entre titulares de ações com voto plural e acionistas que não sejam
titulares de ações com voto plural, disponham sobre exercício conjunto do direito de voto.
Importante observar que, apesar de o legislador ter regulado o voto plural, ele assegurou aos
acionistas dissidentes o direito de se retirarem da companhia, atentando ao direito constitucional
garantido ao acionista de forma essencial na forma do art. 109, inciso V da Lei nº 6.404/76 que
deve ser interpretado à luz do art. 5º, inciso XX da Constituição Federal de 1988 55.
Naturalmente, o exercício do direito de retirada se dará mediante reembolso do valor das suas
ações nos termos do art. 45 da Lei nº 6.404/76, salvo se a criação da classe de ações ordinárias com
atribuição de voto plural já estiver prevista ou autorizada pelo estatuto social da companhia.
No que tange ao cálculo dos quóruns indicados expressamente pela lei em tela, com base em
percentual de ações ou do capital social, sem menção ao número de votos conferidos pelas ações,
não se poderá considerar a pluralidade de voto.
São vedadas operações de incorporação; de incorporação de ações e de fusão de companhia
aberta que não adote voto plural e cujas ações ou valores mobiliários conversíveis em ações sejam
negociados em mercados organizados, em companhia que adote voto plural; de cisão de companhia
aberta que não adote voto plural e cujas ações ou valores mobiliários conversíveis em ações sejam
negociados em mercados organizados para constituição de nova companhia com adoção do voto
plural; e de incorporação da parcela cindida em companhia que o adote.

55
MENDONÇA, Saulo Bichara; ARRUDA, Pablo Gonçalves. Companhia trans fechada: caso da dissolução parcial da
companhia de capital aberto que atua como se de capital fechada fosse. Revista Jurídica Cesumar, v. 18, n. 1, p. 287-304,
jan./abr. 2018. Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/
bibli_servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-Jur-CESUMAR_v.18_n.01.12.pdf. Acesso em: mar. 2023.

35
Também não será adotado o voto plural nas assembleias que deliberarem sobre a remuneração
dos administradores e a celebração de transações com partes relacionadas que atendam aos critérios
de relevância a serem definidos pela CVM e em “votações da assembleia geral de acionistas que
deliberem sobre transações com partes relacionadas” 56.
A relação de companhias que adotam voto plural bem como a admissão de valores mobiliários
da sua emissão está sujeita às regras editadas pelas respectivas entidades administradoras, que devem
adotar critérios transparentes acerca da condição de tais companhias de capital aberto.
Observa-se que, de acordo com a nova redação do art. 284 da Lei nº 6.404/76, o disposto
sobre voto plural não se aplica à sociedade em comandita por ações.
Iniciada a negociação de ações ou valores mobiliários conversíveis em ações, fica impedida a
alteração das características da classe de ações ordinárias com atribuição de voto plural, salvo se a
proposta for reduzir os respectivos direitos ou vantagens.
Como se vê, os requisitos para adoção do voto plural exigidos pela legislação são tão
complexos e rígidos que, dificilmente, o instrumento será adotado. Nas palavras de Fábio Ulhoa
Coelho, “as travas estabelecidas pela lei ao voto plural são tão drásticas e irrazoáveis que nenhuma
sociedade anônima o adotará” 57.

Acordo de acionistas
Os acordos de acionistas podem ser celebrados tendo como objeto a compra e venda das suas
ações, a preferência para adquiri-las, o exercício do direito a voto ou do poder de controle, tendo
natureza jurídica de “contrato parassocial, acessório e plurilateral”. 58

O acordo de acionistas constitui um contrato celebrado entre acionistas de


determinada companhia visando à composição de seus interesses
individuais e ao estabelecimento de normas de atuação na sociedade,
harmonizando seus interesses próprios ao interesse social.

Embora disciplinado na Lei das S.A., o acordo de acionistas é um contrato,


submetido, assim, às normas comuns de validade dos negócios jurídicos de
direito privado. Como negócio jurídico, requer, para sua validade, agentes
capazes – acionistas de uma mesma companhia –, objeto lícito e forma escrita.

56
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Resolução CVM nº 168, de 20 de setembro de 2022. Disponível em:
https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/resolucoes/resol168.html. Acesso em: mar. 2023.
57
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2021. p. 308. v. 2.
58
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 263.

36
A sua inclusão na disciplina societária objetivou apenas estabelecer os
pressupostos necessários a que tais contratos sejam observados pela companhia
e produzam efeitos perante terceiros. [...]

Os acionistas são inteiramente livres para convencionar ou não o acordo,


assim como para estabelecer o seu conteúdo, uma vez que a Lei das S.A. não
esgota a relação de matérias que dele podem constar, os limites são apenas a
licitude do objeto e a conformidade ao interesse social. O pactuado entre as
partes – e somente entre elas – deve ser fielmente exigido, o que justifica a
previsão legal de sua execução específica. Assim, na interpretação dos
acordos de acionistas devem ser enfatizados (i) o cumprimento das
obrigações pactuadas, já que o foram livremente; e (ii) a aplicação de seus
termos apenas às partes contratantes, exceto no caso do acordo de controle,
que pode gerar efeitos para outras companhias, “em cascata” [...]. 59

Tais acordos devem ser arquivados na sede da companhia e averbados nos livros de registro e
nos certificados das ações, se emitidos, para que sejam observados, exigíveis e oponíveis a terceiros.
Mesmo assim, tais acordos não poderão ser invocados com o fim de eximir o acionista da
responsabilidade pelo exercício do voto ou do poder de controle, quando exercidos abusivamente.
A fim de evitar mal-entendido de qualquer ordem, a companhia poderá solicitar aos membros do
acordo de acionistas esclarecimento sobre as suas cláusulas.
Os acionistas vinculados ao referido acordo deverão indicar, no ato formal de arquivamento,
quem será o representante a comunicar-se com a companhia, autorizado a prestar ou receber
informações, quando solicitadas.
O presidente da assembleia ou do órgão colegiado de deliberação da companhia não poderá
computar voto proferido com infração de acordo de acionistas devidamente arquivado. Da mesma
forma, o não comparecimento à assembleia ou às reuniões dos órgãos de administração da companhia,
as abstenções de voto de qualquer parte de acordo de acionistas, ou de membros do conselho de
administração eleitos nos termos de acordo de acionistas, assegurará à parte prejudicada o direito de
votar com as ações pertencentes ao acionista ausente ou omisso, e, no caso de membro do conselho
de administração, pelo conselheiro eleito com os votos da parte prejudicada.
Os formalismos legais atinentes à celebração do acordo de acionistas devem atentar às
orientações expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, a exemplo do que se extrai do Ofício
Circular/Anual-2022-CVM/SEP.

59
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 702-703. v. 1.

37
Sem prejuízo da divulgação de Fato Relevante acerca da celebração de
acordos de acionistas, nos termos do artigo 2º da Resolução CVM nº
44/21, os emissores registrados na Categoria A deverão encaminhar à
CVM, por meio do “IPE Online” no Sistema Empresas.NET:
a) Acordos de acionistas, seus aditivos e outros pactos societários
arquivados no emissor, em até 7 (sete) dias úteis contados de seu
arquivamento, na categoria “Acordo de Acionistas”;
b) Informações sobre acordos de acionistas dos quais o controlador ou
controladas e coligadas do controlador sejam parte, a respeito do
exercício de direito de voto no emissor ou da transferência dos valores
mobiliários do emissor, contendo, no mínimo, data de assinatura, prazo
de vigência, partes e descrição das disposições relativas ao emissor, em até
7 (sete) dias úteis contados da ciência, pelo emissor, de sua existência, na
categoria “Informações sobre acordo de acionistas previstos no artigo 30,
inciso XIX, da IN nº 480/09”.
Ressalta-se que a alteração de suas cláusulas, sua extinção em função de
termo ou condição resolutiva, ou a celebração de novo acordo de acionistas
implica sua atualização junto à CVM.
Acordos de acionistas que perderem a validade devem ser cancelados por
meio da funcionalidade “Cancelamento de documentos” do Sistema
Empresas.NET, informando no campo “Motivo do cancelamento” que o
referido acordo de acionistas perdeu sua validade. O documento, mesmo
cancelado, continuará disponível para consulta no site da CVM e da B3,
no caso dos emissores lá listados, na condição de documento cancelado e
constará o motivo de seu cancelamento.60

Segundo André Santa Cruz, os acordos de acionistas podem ser classificados em três
modalidades, a saber: os acordos de voto, acordos de controle e acordos de bloqueio.

Nos acordos de voto, os acionistas signatários assumem a obrigação de


exercer o seu direito de voto nos termos que acordaram, geralmente
formando um bloco para atuação conjunta (pooling agreements). Podem-se
dividir esses acordos de voto em acordos de comando (para formar uma
maioria) e acordos de defesa (para fortalecer uma minoria). São exemplos de
acordos de voto: (i) aqueles que estabelecem a necessidade de os signatários
fazerem reunião prévia a qualquer deliberação (da assembleia ou do conselho

60
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: mar. 2023.

38
de administração), a fim de combinarem o exercício do direito de voto em
bloco; (ii) aqueles que conferem direito de veto a acionista ou grupo de
acionistas em determinadas matérias específicas.
Os acordos de bloqueio são os mais comuns, referindo-se à negociação das
ações ou ao exercício do direito de preferência. Por meio desses acordos,
os acionistas signatários tentam manter suas posições acionárias, evitando,
por exemplo, a entrada de terceiros. São exemplos de acordos de bloqueio:
lock up (opção de compra), put option (opção de venda), tag along (venda
conjunta), drag along (direito de arraste) etc.
Outra espécie interessante de acordo de acionista é o shotgun (cláusula de
buy or sell). É usado para solução de impasses societários, isto é, quando
estiver havendo divergências constantes entre acionistas, um deles pode
acionar esse mecanismo e iniciar um procedimento de compra das ações
do outro ou venda de suas ações para ele. Quem inicia o procedimento faz
uma oferta de compra das ações do outro. Este, por sua vez, ou as vende
ou compra as do ofertante. O preço é definido por quem inicia o
procedimento, o que obriga a formular proposta boa. 61

O acordo ainda poderá prever o meio de se promover a execução específica das obrigações
assumidas e somente poderá ser denunciado segundo as suas estipulações, caso o prazo for fixado
em função de termo ou condição resolutiva. Limitará, porém, a negociação das ações averbadas nos
termos do art. 118 da Lei nº 6.404/76, as quais não poderão ser negociadas em bolsa de valores ou
mercado de balcão.

Reembolso
O ato do reembolso, regulado pelo art. 45 da Lei nº 6.404/76, representa operação pela qual
a companhia paga aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia geral o valor das suas
ações, observadas as hipóteses expressamente previstas em lei (art. 136, I a IV e IX, e art. 137 da
Lei nº 6.404/76).

61
CRUZ, André Santa. Manual de Direito Empresarial. Volume único. 12 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora JusPodivm,
2022, p. 477-478.

39
Em regra, consideram-se os valores constantes no último balanço patrimonial aprovado, se
ocorrido há menos de 60 dias. Porém, se já houver ultrapassado mais de 60 dias da aprovação do
último balanço, é lícito ao acionista que requer o reembolso pedir o levantamento de um balanço
especial de verificação. Nesse caso, o citado dispositivo legal determina que a companhia pagará
imediatamente 80% do valor do reembolso calculado com base no último balanço patrimonial e
pagará o saldo remanescente no prazo de 120 dias a contar da data da deliberação da assembleia
geral. “O último balanço aprovado não é o balanço do último exercício, embora na maioria das
vezes, pela prática das sociedades, haja tal identificação”. 62

Resgate
O § 1º do art. 44 da Lei nº 6.404/76 estabelece que o pagamento do valor das ações pela
companhia, para retirá-las definitivamente de circulação, com redução ou não do capital social,
define-se como resgate.
Mantido o mesmo capital, será atribuído, quando for o caso, novo valor nominal às ações
remanescentes, se este for estabelecido no estatuto social (art. 11 da Lei nº 6.404/76).

O resgate voluntário ocorre por decisão da assembleia geral extraordinária


da companhia ou por determinação estatutária que autorize a sociedade a
promovê-lo a qualquer tempo. [...]

O resgate compulsório (sempre do ponto de vista da companhia) é aquele


previsto desde a emissão da ação, que, por esta razão, é conhecida como “ação
resgatável”. No caso a companhia obriga-se a resgatar uma determinada classe
de ação criada com essa fidelidade, dentro das condições estabelecidas no
estatuto. O resgate estipulado no estatuto ao tempo da criação da ação integra
o conjunto de seus direitos e obrigações.63

A lei é omissa quanto ao valor da ação para fim de resgate, contudo, há indicativos64 de que seria
razoável a aplicação do § 1º do art. 170 da Lei nº 6.404/76 de forma análoga, visando a prevenir
prejuízos injustificados aos titulares das ações que representem objeto da presente operação.

62
MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 379. v. 2.
63
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 282-283. v. 1.
64
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 155.

40
Amortização
Segundo se depreende da leitura dos §§ 2º e 3º do art. 44 da Lei nº 6.404/76, a distribuição,
por antecipação aos acionistas, de quantias que lhes seriam devidas em caso de liquidação da
companhia, consiste em amortização. Nesta, porém, não se fala em redução do capital social,
podendo ser integral ou parcial e abranger todas as classes de ações ou só uma delas.
As ações integralmente amortizadas poderão ser substituídas pelas chamadas ações de fruição
(art. 15 da Lei nº 6.404/76), observadas as restrições fixadas pelo estatuto social ou assembleia geral
que deliberar sobre a amortização. “Assim como ocorre no resgate, a amortização poderá, na
constituição da companhia, ser regulada no estatuto, que deverá estabelecer as condições e o modo
de proceder à operação”. 65
Entretanto, ocorrendo liquidação da companhia, as ações amortizadas só concorrerão ao
acervo liquidado depois de assegurado às demais ações, não amortizadas, valor igual ao pago no ato
da amortização, com as devidas correções monetárias.

65
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 293. v. 1.

41
MÓDULO III – VALORES MOBILIÁRIOS

Valores mobiliários são títulos representativos de direitos disponibilizados pelas companhias


em favor dos investidores que os adquirem ou subscrevem e efetivamente os integralizam. Nesse
sentido, lê-se Wilges Bruscato.

Os valores mobiliários cumprem a função de autofinanciamento da empresa,


sendo utilizados para captar recursos em suas modalidades: capitalização,
quando a sociedade anônima emite ações e quem as adquire se torna sócio –
recurso que não precisará ser restituído, exceto na hipótese de dissolução da
companhia –, e securitização, quando se emitem outros tipos de títulos que
conferirão direitos variados contra a companhia: direito de crédito, direito de
participar dos lucros, direito a adquirir ações, entre outros. 66

Apesar de a Lei nº 6.404/76 não definir os valores mobiliários especificamente, a Lei nº


6.385/76, no seu art. 2º, define-os e delimita-os.

Ações
As ações são frações do capital social, títulos de crédito propriamente dito, negociáveis com
o propósito inicial de constituir o capital social da companhia. Em outro momento, a negociação
destes títulos se desvincula das finanças da companhia e se limita à movimentação patrimonial
dos investidores.
Assim, as ações são classificadas por valores, espécies, formas de circulação e classes, que variam
de acordo com a forma como são emitidas e com o momento no qual são negociadas, como se verificará.

66
BRUSCATO, Wilges. Manual de direito empresarial brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 339-340.
Valores
O art. 11 da Lei nº 6.404/76 deixa a cargo do estatuto social determinar se as ações terão ou
não valor nominal, sendo este o resultado da divisão do capital social pelo número de ações emitidas.
Quando o estatuto social não determinar valor nominal para as ações, o resultado dessa divisão será
reconhecido como valor quociente.
A relevância de se definir um valor nominal para as ações no estatuto social reside na
imprescindibilidade de se evitar aos investidores acionistas a diluição da sua participação societária,
conforme os termos do art. 13 da citada lei.
Considerando os termos do aludido dispositivo legal, verifica-se que o estatuto pode
determinar um valor mínimo para a emissão das ações novas, objeto de uma relação jurídica
primária, mas, a contrario sensu, não impõe a limitação ao valor máximo, podendo o preço de emissão
ser superior ao valor nominal (ou valor quociente).
Nesse caso, quando se emite uma ação nova por um valor superior ao resultado da divisão do
capital social pelo número de ações emitidas, a companhia arrecada um montante maior do que o
necessário para a integralização do capital social.
Esse valor excedente é reconhecido como ágio e será destinado à conta reserva de capital
que não sofre a incidência dos princípios tutelares do capital social, tratados no item Capital
social retro, podendo ser utilizados nos termos do art. 200 da Lei nº 6.404/76, conforme
igualmente tratado.
Deixando de ser nova, a ação pode ser objeto de outra relação jurídica, estabelecida entre o
acionista (titular da ação) e novo investidor que se proponha a adquiri-la em segunda mão, sendo
reconhecida como uma ação velha, objeto de uma relação jurídica secundária.
Nesse momento da revenda da ação, o alienante considerará na sua oferta o valor de negociação
alcançado pela aplicação da regra básica a partir da qual os mercados definem valores das
mercadorias, qual seja, a oferta x procura. Contudo, a liberdade das partes de pactuar o valor pelo
qual vai ocorrer a revenda da ação pode ter como base o valor patrimonial dela.
Esse valor é auferido pela análise do patrimônio líquido da companhia, ou seja, considera-se
todo o patrimônio registrado em escrituração contábil, e subtraem-se as despesas para verificar o
patrimônio líquido total da companhia. Dividindo-se este pelo total de ações em circulação, chega-
se ao valor patrimonial de cada ação, que corresponde efetivamente à parte desembaraçada de cada
uma, isto é, o quanto o acionista receberia em caso de dissolução da companhia.
O valor patrimonial pode ser alcançado pelo método histórico, considerando os dados
informados no último balanço patrimonial apresentado em assembleia geral ordinária, quando as
contas apresentadas pelo conselho de administração foram analisadas; ou pode ser alcançado pelo
método atual, segundo o qual se faz um balanço de verificação, considerando as alterações
patrimoniais sofridas pela companhia, a produtividade e os dados registrados a partir da data de
realização do último balanço patrimonial, bem como o dia exato da verificação do patrimônio líquido.

44
Ainda para fins de alcançar um valor de negociação, pode-se considerar também o valor
econômico que prescinde da análise do fluxo de caixa descontado para que se apurem as perspectivas
que se podem nutrir sobre os resultados futuros a serem apresentados pela companhia.
Assim, pode-se compreender o valor de negociação a partir da análise dos dados financeiros
e patrimoniais pretéritos e as perspectivas futuras em relação à companhia.

Espécies
As ações podem ser classificadas em espécies de acordo com os tipos de direitos que conferem
aos seus titulares. Para isso, o art. 15 da Lei nº 6.404/76 as dividiu em três espécies distintas, a saber:
“As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, são
ordinárias, preferenciais, ou de fruição”.
As ações ordinárias, classificadas outrora (Decreto-Lei nº 2.627, 26 de setembro de 1940) como
comuns, atribuem aos seus titulares direito de voto pleno e irrestrito nas assembleias gerais realizadas nas
companhias, de forma que a sua emissão é obrigatória em todos os tipos de companhias.

As ações ordinárias concedem, sempre, ao respectivo titular o direito de


voto na assembleia geral, de modo que o acionista detentor de mais da
metade das ações dessa espécie é controlador da companhia e pode, por
essa razão, eleger os administradores, aprovar a maior parte de alterações
estatutárias, decidir os assuntos de natureza geral do interesse da sociedade
etc. Os ordinarialistas, por isso, podem ser divididos em controlador (ou
controladores), de um lado, e minoritários, de outro. As relações entre os
dois grupos são complexas e muitas vezes conflituosas, representando uma
das mais sérias preocupações do direito societário e compatibilização entre
o exercício do poder de controle e a tutela dos interesses da minoria. 67

Em razão dessas características específicas, o § 2º do citado art. 15 da Lei nº 6.404/76


determina que a quantidade das ações preferenciais – logo, sem direito regular ao voto – não pode
ultrapassar 50% do total das ações emitidas pela companhia, mantendo assim o equilíbrio do poder
de gestão da companhia nas mãos de investidores de uma quantidade considerável de recursos.
As ações preferenciais caracterizam-se por proporcionarem privilégios ou prioridades na
participação dos seus titulares nos dividendos fixos ou mínimos, na prioridade de reembolso de
capital e na acumulação dessas duas preferências.

67
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2021. p. 105. v. 2.

45
Ou seja, o acionista preferencialista deve perceber condição mais vantajosa em relação aos
ordinarialistas e aos detentores de ações de fruição, para privilegiar todas as espécies de ações
previstas em lei. Sejam vantagens financeiras ou políticas, na participação dos dividendos fixos ou
mínimos68, ou no exercício do direito de eleger, em votação em separado, um ou mais membros
dos órgãos de administração (art. 18 da Lei nº 6.404/76).

A ação preferencial é aquela que tem por função principal servir de


instrumento para financiar o capital próprio da companhia, mediante
captação de recursos de pessoas que se dispõem a exercer a função
empresarial apenas no que diz respeito à aplicação de capital de risco, mas
que não desejam interferir na direção da empresa. 69

Consoante recente atualização legislativa decorrente da Lei nº 14.195/2021, as ações


ordinárias e preferenciais deverão ser distribuídas em uma ou mais classes, observado, no caso das
ações ordinárias, o disposto nos arts. 16, 16-A e 110-A da Lei nº 6.404/76, que tratam do voto
plural, conforme estudado, viabilizado aos titulares de ações ordinárias.
A referida atualização legislativa passou a autorizar que as ações ordinárias de companhia
fechada poderão ser de classes diversas, em função da atribuição do voto plural a uma ou mais classes
de ações. Ressalva-se que a necessária alteração do estatuto social, para atualização do texto
constitutivo da sociedade por ações, na parte em que regula a diversidade de classes, quando não for
expressamente prevista e regulada, exigirá a concordância de todos os titulares das ações atingidas.
No que tange à sociedade por ações de capital aberto, tem-se por vedada a manutenção de
mais de uma classe de ações ordinárias, salvo quando houver a adoção do voto plural nos termos e
nas condições dispostos no citado art. 110-A da Lei nº 6.404/76.
Ressalta-se, porém, que a restrição ao direito ao voto imposto aos preferencialistas não é
absoluto, podendo ser excepcionado conforme foi tratado no item Voto deste estudo.
Questão importante em relação às ações preferenciais diz respeito aos termos do art. 17, § 7º,
da Lei nº 6.404/76, que regula a chamada ação golden share, de acordo com o texto legal:

Nas companhias objeto de desestatização poderá ser criada ação preferencial


de classe especial, de propriedade exclusiva do ente desestatizante, à qual o
estatuto social poderá conferir os poderes que especificar, inclusive o poder de
veto às deliberações da assembleia-geral nas matérias que especificar.

68
As ações com direito à participação nos dividendos fixos não participam dos lucros remanescentes, são aqueles cujo valor
encontra-se devidamente quantificado no estatuto social, ao contrário das ações com direito a participação nos dividendos
mínimos, que participam nos lucros distribuídos em igualdade de condições com as ordinárias, se houver sobra nos lucros, o
montante é dividido de maneira proporcional entre os acionistas ordinarialistas e preferencialistas. Ou seja, no caso dos
dividendos fixos, todo o lucro obtido que seja igual ou menor ao determinado será dividido entre os acionistas preferencialistas.
69
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 144. v. 1.

46
O referido parágrafo foi inserido na Lei nº 6.404/76 pela Lei nº 10.303/01 e, segundo Nelson
Eizirik, os direitos conferidos a partir desta ação especial ao ente desestatizante não se restringe ao
direito de veto a ser exercido em assembleias gerais.

A golden share, pode, ainda, conferir ao ente desestatizante não apenas o


direito de veto, no âmbito das deliberações da assembleia geral e do conselho
de administração, mas outros direitos que venham a ser especificados no
estatuto, em conformidade com o previsto no edital de privatização
respectivo, tais como: (i) indicar membros para órgãos de administração da
companhia; (ii) subordinar ao voto favorável do ente público, titular da
golden share: (a) a mudança da sede social; (b) a alteração do objeto social da
companhia; (c) a alteração da composição do conselho de administração; (d)
a transferência do controle acionário; (e) a realização de oferta pública; (f) a
liquidação da companhia; (g) o encerramento de atividades, etc. 70

Em razão da sua especificidade, a golden share não poderá ser transferida a terceiros particulares
ou a outros entes federativos de qualquer ordem, devendo a sua propriedade permanecer sob a
titularidade do ente desestatizante para que este se imponha sempre que registrar perigo de
monopolização ou cartelização de determinado segmento das atividades econômicas empresariais.
Por fim, tem-se a ação de fruição, fruto da amortização, tratada no item Amortização, a qual
representa um título distribuído ao acionista titular de ações ordinárias e preferenciais que venham
amortizar os seus investimentos, sem que se registre a efetiva redução do capital social “ou seja, quando
a sociedade distribui aos acionistas importâncias que eles teriam direito a receber na liquidação da
sociedade, o que somente pode ocorrer à conta de lucros ou reservas disponíveis”.71
Importante frisar que os titulares de ações dessa natureza continuam ostentando a qualidade de
acionistas da companhia, detentores dos mesmos direitos que lhes eram assegurados antes da
amortização, com exceção ao direito de participar no acervo da companhia em eventual liquidação.

Forma de circulação
A forma de circulação das ações se restringe às ações nominativas e escriturais, consoante se
verifica nos arts. 31 e 34 da Lei nº 6.404/76, tendo as ações endossáveis e ao portador sido revogadas
pela Lei nº 8.021, de 12 de abril de 1990.
As ações nominativas são aquelas que têm o nome do seu titular inscrito no Livro de Registro
de Ações Nominativas, nos termos do art. 100, I, da Lei nº 6.404/76.

70
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 170. v. 1.
71
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 147. v. 1.

47
A inscrição do nome do subscritor no aludido livro é o marco que registra a aquisição da
propriedade dessa ação, sendo irrelevante a emissão de certificados e a posse “tendo em vista o
modo como se prova a propriedade da ação nominativa e opera-se a sua transferência, não é
necessária a emissão de certificado, o qual é irrelevante ao titular da ação nominativa para o
exercício de seus direitos”. 72
As ações escriturais representam uma variação da ação nominativa, constituindo-se em forma
mais simples de registro de transferência da propriedade do referido título.
Essa espécie de ação foi criada com o propósito de “conciliar a segurança das ações
nominativas com a facilidade de circulação, proporcionada pela transferência mediante ordem à
instituição financeira e mero registro contábil”. 73

Classes
A divisão das ações em classes proporciona a reunião de acionistas que detenham os mesmos
direitos e restrições em razão da natureza do título adquirido. Nesses termos, o art. 15, § 1º, da Lei
nº 6.404/76 determina que poderão ser de uma ou mais classes as ações ordinárias da companhia
fechada e as ações preferenciais da companhia aberta e fechada. Ou seja, as ações ordinárias de
companhias abertas serão de classe única.

Em regra, as ações ordinárias conferem iguais direitos a todos os acionistas,


no entanto, a Lei das S.A. admite que as ações ordinárias da companhia
fechada possam ser de classes diversas, conferindo direitos desiguais, em
função, exclusivamente, de (i) conversibilidade em ações preferenciais; (ii)
exigência de nacionalidade brasileira do acionista; ou (iii) direito de voto
em separado para o preenchimento de determinados cargos de órgãos
administrativos (artigo 16). Na companhia aberta, em que a divisão em
classes não é permitida, todas as ações ordinárias conferem os mesmos
direitos aos seus titulares. 74

A divisão das ações em classes é o que proporciona a criação, por exemplo, das ações
preferenciais especiais golden share, tratadas no item Espécies.

72
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 221. v. 1.
73
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 228. v. 1.
74
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 143. v. 1.

48
Debêntures
Conforme se mencionou nos itens Noções introdutórias e Valores mobiliários deste estudo, a
companhia pode captar recursos junto ao mercado investidor por meio da capitalização – como se
verificou no estudo do capital social e das ações – e da securitização, que corresponde à captação de
recursos por meio da negociação de outros valores mobiliários como as debêntures, cujo estudo ora
se inicia, e os demais valores mobiliários a serem verificados nos itens Bônus de subscrição e Partes
beneficiárias, respectivamente.
Consoante se depreende da leitura do art. 52 da Lei nº 6.404/76, resta autorizada à
companhia a emissão de debêntures, títulos que conferirem aos seus titulares um direito de crédito
contra a própria companhia, atentando aos termos das condições verificadas na escritura de emissão
e do certificado, se houver.
Tanto as companhias de capital aberto quanto as de capital fechado podem emitir o título
em tela, sendo reconhecida à assembleia geral a competência para a sua emissão, conforme
entendimento do STJ 75.

Espécies
As debêntures podem ser classificadas em três espécies. A primeira delas pode ser chamada de
debênture ordinária, representativa de empréstimos feitos à companhia em troca de um título de
crédito que assegura ao credor direito de participação em dividendos, juros fixos ou variáveis e
prêmio de reembolso, conforme ajustado na escritura de emissão e do certificado, se houver.
A segunda espécie é a debênture perpétua, cujo vencimento só ocorrerá em casos de
inadimplência da obrigação contratual de honrar os valores evidenciados no art. 58 da Lei
nº 6.404/76, em caso da dissolução da companhia, ou de outras condições eventualmente previstas
no título, consoante se lê no § 4º do art. 55 da mesma lei.

Esta (a emissora) poderá, na escritura de emissão, reservar-se o direito de resgatar


parcialmente ou totalmente debêntures, se for de seu interesse e, nestes casos, é
comum estabelecer um prêmio de reembolso para o debenturista. A
consequência lógica é que o subscritor de debêntures perpétuas só pode realizar
seu crédito vendendo os títulos no mercado, para outros interessados, sem
envolver a emissora nesse tipo de transação. Na perspectiva da emissora, os
recursos captados via debêntures perpétuas se assemelham muito aos oriundos
da venda de ações preferenciais: são inexigíveis, têm uma previsão de
rendimento e não interferem na gestão da empresa.76

75
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial. nº 784.881. Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.
Brasília, 4 de maio de 2006. In: DJU, de 18 de dezembro de 2006. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/
9018740/recurso-especial-resp-784881-ce-2005-0161178-0/inteiro-teor-14192148?ref=juris-tabs. Acesso em: mar. 2023.
76
OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Tratado de direito empresarial brasileiro. São Paulo: LZN, 2004. p. 589.

49
A derradeira espécie é a debênture conversível em ações, na forma do art. 57 da Lei nº 6.404/76,
que pode representar forma de aumento do capital social sem o ingresso de novos recursos,
combinando os arts. 166 com 169, bem como pode servir de instrumento para a concretização do
aumento do capital social autorizado, nos termos do art. 168, todos da mesma lei.
Ressalta-se que a emissão dessa espécie de debênture exige “previsão no estatuto social. A
omissão torna-se suprível pela deliberação da assembleia. Do contrário, ou na falta de cláusula a
respeito, não é admitida a transformação”. 77

Garantias
As garantias asseguradas no art. 58 da Lei nº 6.404/76 guardam relação direta com o art. 83
da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas – LFRE),
sobretudo após a alteração pela Lei nº 14.112/202078.

77
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 371.
78
“Art. 83
I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles
decorrentes de acidentes de trabalho;
II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado;
III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de constituição, exceto os créditos
extraconcursais e as multas tributárias;
IV - (revogado);
a) (revogada);
b) (revogada);
c) (revogada);
d) (revogada);
V - (revogado);
a) (revogada);
b) (revogada);
c) (revogada);
VI - os créditos quirografários, a saber:
...
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; e
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste
artigo;
VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, incluídas as multas
tributárias;
VIII - os créditos subordinados, a saber:
a) os previstos em lei ou em contrato; e
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as
condições estritamente comutativas e as práticas de mercado; e
IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei.
...
§ 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer título manterão sua natureza e classificação.
§ 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de privilégio especial ou geral em outras normas
integrarão a classe dos créditos quirografários.” (NR)

50
Considerando que as garantias creditícias são exigíveis e oponíveis especificamente nos
momentos em que os compromissos financeiros deixam de ser honrados por parte dos devedores
a recente alteração da lei falimentar acabou por aproximá-la do conteúdo da lei societária que em
seu Art. 58.
Os termos do referido dispositivo da lei societária que determina que a debênture poderá ter
garantia real, garantia flutuante, não gozar de garantias ou ser subordinada aos demais credores da
companhia ficou formalmente melhor amoldado aos termos do dispositivo da lei falimentar.
Desta forma, o credor de debênture emitida por companhia que tenha falência decretada será
alocado no concurso de credores na falência nos termos do Art. 83 da Lei nº 11.101/2005, nos
incisos II, VI ou VIII, respectivamente, tendo em vista que os créditos com privilégio geral (que
eram previstos no agora revogado inciso IV do Art. 83 da Lei 11.101/05) passaram a ser equiparados
aos créditos quirografários.
Importante considerar que a garantia flutuante concedida ao credor debenturista lhe garante
um privilégio geral sobre o ativo da companhia, a despeito de não impedir a negociação dos bens
que compõem esse ativo.
Tais garantias não excluem a possibilidade da constituição de outras legalmente
regulamentadas, como a fidejussória ou a constituição do fundo de reserva 79, podendo as garantias
serem constituídas cumulativamente.

Agente fiduciário debenturista


Debêntures emitidas por meio da escritura de emissão, seja por instrumento público ou
instrumento particular, distribuídas ou admitidas à negociação no mercado de capitais, terão
obrigatoriamente a intervenção de agente fiduciário dos debenturistas, consoante se depreende da
leitura do § 1º do art. 61 da Lei nº 6.404/76.
Se pessoa física, exercerá o encargo desde que atenda aos requisitos impostos para exercer
cargo ou órgão de administração de companhias; se pessoa jurídica (instituição financeira), deve ser
especialmente autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.
A sua função se reconhece na necessidade de promover a comunhão do investidor
debenturista para com a companhia emissora, devendo exercer os seus deveres estipulados no art.
68 da Lei nº 6.404/76, sendo-lhe, porém, proibido modificar as cláusulas e condições da emissão
do título em tela, muito embora a substituição de bens dados em garantia do investidor dependerá
da concordância do agente fiduciário, se houver autorização na escritura de emissão, conforme se
verifica no art. 70 do mesmo diploma legal. 80

79
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 373.
80
MAMEDE, Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 347. v. 2.

51
Bônus de subscrição
O art. 75 da Lei nº 6.404/76 regulamenta os bônus de subscrição, título que confere ao seu
titular direito de subscrever com preferência ações novas, emitidas pela companhia em
cumprimento dos preceitos necessários para instrumentalização do aumento do capital social
autorizado, conforme regulamenta o art. 168 do mesmo diploma legal.

O grande atrativo desse título, do ponto de vista do investidor, está no fato de


ele conferir o direito de subscrever ações a um preço previamente estabelecido.
Assim, ao subscrever o bônus, o investidor tem a expectativa de que, no
momento do seu exercício, as ações de emissão da companhia estarão sendo
negociadas por valor superior ao preço de exercício fixado no ato de missão
do bônus. Caso tal expectativa não se confirme, o direito conferido pelo bônus
não será exercido, pois o investidor poderá adquirir, no mercado, ações de
emissão da companhia a preços inferiores. É da natureza do título que a
subscrição de ações a que ele dá direito seja feita por preço inferior ao valor de
mercado da ação no momento do exercício.81

Observe que a aquisição do bônus de subscrição não concede direito de abatimento no valor
da subscrição das ações, apenas garante o direito de subscrever ações novas com preferência, mas
pelo preço de emissão indicado pela companhia no momento em que estas forem disponibilizadas.
Registra-se, por oportuno, que a nova redação do art. 284 da Lei nº 6.404/76 prevê a
inaplicabilidade às sociedades em comandita por ações do disposto sobre emissão de bônus de
subscrição.

Partes beneficiárias
As partes beneficiárias são títulos emitidos exclusivamente pelas companhias de capital
fechado. Em razão da vedação contida no parágrafo único do art. 47 da Lei nº 6.404/76, o presente
título conferirá aos seus beneficiários direito de crédito eventual contra a companhia, consistente
na participação nos lucros anuais em valor não superior a 10% do lucro eventualmente apurado no
exercício social.

81
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 455. v. 1.

52
Os seus titulares podem ser fundadores, acionistas ou terceiros, que receberam as referidas
partes beneficiárias como compensação por serviços que tenham sido prestados à companhia.
Observe-se que, apesar de a lei fazer menção à expressão remuneração, entende-se que esta não é
a mais adequada para conceituar o direito que se confere ao seu titular, visto que remuneração é uma
expressão que representa a soma do salário com as verbas remuneratórias, devida aos empregados em
razão da relação jurídica de emprego, que não se verifica no caso em tela.

53
MÓDULO IV – ÓRGÃOS SOCIETÁRIOS

As atividades desenvolvidas pelas companhias exigem a sua divisão em órgãos aos quais são
delegadas funções destinadas a atender às demandas administrativas e jurídicas. As primeiras atraem
a atenção dos estudiosos da Administração, sendo correlatas à forma de divisão dos trabalhos,
racionalidade e fluxo de dados que permitem a gestão do negócio; as outras são foco dos estudiosos
do Direito, preocupados com as formalidades burocráticas destinadas a assegurar a validade e
eficácia dos negócios jurídicos praticados com a participação dos agentes societários. Eis a razão pela
qual a lei regulamenta a estrutura administrativa da parte superior da escala hierárquica das
companhias: órgãos deliberativos, executivos e fiscais, como se verificará.

Assembleia geral
As assembleias são órgãos deliberativos de onde emana a vontade da companhia de forma
autônoma, respeitadas as funções privativas e as competências de cada uma das assembleias a
serem verificadas.

Órgãos da sociedade, ou seja, de pessoa jurídica. Sua função é, se não a de


falar em nome dela ou de lhe dizer a vontade, a de traçar o roteiro de seu
destino. Para a consecução desse alvo, ela é soberana: livremente toma as
decisões condizentes com o interesse social; e sua decisão se impõe,
definitivamente, a quantos por qualquer título, se dediquem ao seu serviço.
Merece, por isso, o qualificado de órgão supremo da sociedade, como tal
soberano, título com que a têm honrado algumas leis. 82

82
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 1961. p. 364. v. 4.
A convocação e a instalação das assembleias, bem como a deliberação sobre os pontos da sua
pauta, têm na lei e no estatuto social das companhias as suas regras funcionais, focadas na garantia
da manifestação da vontade dos acionistas de forma autônoma, respeitadas as exigências no sentido
de que as decisões sejam tomadas em atenção aos melhores interesses da companhia, sobrepondo-
se, inclusive, sobre as pretensões pessoais dos acionistas.
Importante observar que o art. 124 da Lei nº 6.404/76, que regulamenta a forma de
convocação das assembleias, foi alterado pela Lei nº 14.030/2020, passando a permitir que as
companhias, abertas e fechadas, realizem assembleia de forma virtual.

Além disso, nos editais de convocação deve constar, obrigatoriamente:


a) nas assembleias destinadas à eleição de membros do Conselho de
Administração, o percentual mínimo de participação no capital votante
necessário à requisição da adoção de voto múltiplo;
b) caso, por motivo de força maior, a assembleia não seja realizada no
edifício onde a companhia tem sede, o local em que a assembleia será
realizada, que deverá ser no mesmo Município da sede;
c) caso seja admitida a participação a distância por meio de sistema
eletrônico, nos termos do artigo 21-C, parágrafo 2º, inciso II, da Instrução
CVM nº 481/09, informações detalhando as regras e os procedimentos
sobre como os acionistas podem participar e votar a distância na
assembleia, incluindo informações necessárias e suficientes para acesso e
utilização do sistema pelos acionistas, e se a assembleia será realizada parcial
ou exclusivamente de modo digital. 83

Pode-se dizer que a assembleia digital tem, como marco, o Processo CVM nº
RJ2008/1794 84 que, desde 2008, registra a ausência de impedimento legal à transmissão ao vivo
dos trabalhos da assembleia geral; com a condição de que o seu acesso seja restrito aos titulares
de ações nominativas, aos titulares de ações escriturais ou em custódia, aos titulares de ações ao
portador, que devem exibir os respectivos certificados ou documento de depósito, e aos titulares
de ações escriturais ou em custódia.
Em 2011, a Lei das Sociedades por Ações foi alterada, passando a permitir, expressamente,
que, nas companhias de capital aberto, os acionistas pudessem participar das assembleias, exercendo
voz e voto à distância.

83
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: mar. 2023.
84
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Processo CVM nº RJ2008/1794. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/decisoes/anexos/0004/5973-1.pdf. Acesso em: mar. 2023.

56
Além disso, recentemente, em 2020, a Lei nº 14.030 alterou mais uma vez o parágrafo único
do art. 121 da Lei nº 6.404/76, ampliando o direito já concedido às companhias de capital aberto
às de capital fechado, permitindo que todos os acionistas possam participar e votar a distância em
assembleia geral.

O órgão competente para proceder a convocação é que irá definir, ao


realizá-la, se a assembleia geral será presencial, semipresencial ou remota.
Em situações excepcionais, como a de uma epidemia no local da sede da
companhia, optar pela assembleia geral presencial pode configurar abuso
de poder econômico. Mas, em situações normais, quem tem competência
para convocar a assembleia tem também para livremente estabelecer se ela
será presencial, semipresencial ou remota.
Mas, em qualquer uma das hipóteses, é direito do acionista antecipar o seu
voto por meio de um boletim eletrônico. Se a companhia negligenciou em
disponibilizar, a tempo, um sistema eletrônico para o preenchimento do
boletim de voto, o acionista pode enviá-lo por escrito (mensagem de e-
mail, notificação extrajudicial, etc.).85

Deve a assembleia digital atentar aos termos da Instrução CVM nº 622 e Instrução DREI nº 81.
Ainda no que tange à visão geral da assembleia geral, é importante observar que os incisos VIII,
IX e X, e o parágrafo único do art. 122 da Lei nº 6.404/76 foram alterados pela Lei nº 14.195/21.
Entre esses dispositivos, observa-se a determinação no sentido de que o pedido de autofalência ou de
recuperação judicial deve ser previamente autorizado pelos administradores, podendo,
excepcionalmente, ser formulado pelos administradores, com anuência do acionista controlador,
desde que a assembleia geral seja convocada imediatamente para deliberar sobre a questão.
Verifica-se que a lei buscou assento junto aos precedentes jurisprudenciais, segundo os quais:

Com efeito, informam os dados do Registro Público de Empresas que a


Autora é constituída sob a forma de sociedade anônima e, neste caso, exige
a Lei 6.404/76, autorização, em assembleia geral, convocada e instalada de
acordo com a lei e o estatuto, para autorizar os administradores a confessar
falência ou a pedir concordata (art. 122, IX).
Sintetizando, não conta o requerimento inicial com autorização regular de
acionistas para o pleito colimado, agindo os seus administradores de forma
contrária ao disposto na legislação vigente.

85
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. rev. atual., São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2021. p. 201. v. 2.

57
O vício é insanável, faltando condição indispensável ao regular
prosseguimento da ação, matéria que pode e deve ser conhecida de ofício,
em qualquer tempo e grau de jurisdição. 86

Agravo. Recuperação judicial. Recurso interposto por acionistas


minoritários de companhia que integra o 'Grupo Daslu', inconformados
com a concessão da recuperação judicial. Alegação de violação ao direito
de veto à transferência da 'Marca Daslu', direito previsto em acordo de
acionistas, violando o art. 53, III, da LRF, artigos 104, 106 e 187 do CC.
Os acionistas, minoritários ou majoritários, não podem impedir a
concessão de recuperação judicial derivada da aprovação do plano pela
assembleia-geral de credores. As querelas intrassocietárias deverão ser
dirimidas no palco judicial adequado e não nos lindes do processo de
recuperação judicial. Os interesses dos acionistas não se sobrepõem ao
princípio da preservação da empresa e de sua função social, nem aos
interesses da comunidade de credores. Ausência de interesse e legitimidade
recursal. Recurso não conhecido (fls. 582-583 e-STJ). 87

Como se verifica, a jurisprudência posta tem encontrado o asseio do legislador na pacificação


dos requisitos formais.

Assembleia geral ordinária


A assembleia geral ordinária (AGO) deve ser realizada, em regra, anualmente, sempre até o fim
do quarto mês seguinte ao término do exercício social, tendo como pauta: (i) a tomada de contas dos
administradores, momento em que estas devem ser examinadas, discutidas e votadas, considerando as
demonstrações financeiras; (ii) a deliberação sobre a destinação da aplicabilidade do lucro líquido do
exercício e a distribuição de dividendos auferidos; (iii) a eleição dos administradores e dos membros do
conselho fiscal, observadas as regras legais; e (iv) a aprovação da correção da expressão monetária do
capital social, considerando os termos do art. 167 da Lei nº 6.404/76.
A competência para a convocação recai sobre o conselho de administração, se houver, ou à
diretoria, na inexistência do primeiro (art. 138, § 2º, Lei nº 6.404/76).

86
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 691.912, 1ª Turma, Min. Teori Zawaski, j. 7.4.2005. D.J.U. 9.5.05, p. 311.
Disponível em: https://www.mpam.mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/civel/artigos/fundacoes-e-massas-falidas/
2693-necessidade-de-deliberacao-social-acerca-do-pedido-de-recuperacao-judicial-ou-de-autofalencia. Acesso em:
mar. 2023.
87
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RECURSO ESPECIAL Nº 1.539.445-SP (2015/0045669-6). Disponível em:
https://www.conjur.com.br/dl/acionistas-nao-impedir-recuperacao.pdf. Acesso em: mar. 2023.

58
A AGO poderá, porém, ser convocada pelo conselho fiscal se os órgãos da administração
retardarem por mais de um mês a convocação no prazo estipulado pelo art. 132 da Lei nº 6.404/76. A
lei ainda assegura o direito de qualquer acionista a convocar, se os administradores forem omissos na
sua responsabilidade legal e retardarem por mais de 60 dias a sua convocação. Nesses termos, a lei
protege acionistas minoritários que representem 5%, no mínimo, do capital social (votante ou não
votante), sempre que os administradores, no prazo de oito dias, não atenderem ao pedido de convocação
da AGO apresentado de forma fundamentado e nos termos da lei.
Em decorrência da recente atualização da Lei nº 6.404/76, a convocação da AGO será
feita mediante anúncio publicado por três vezes, no mínimo, informando o local, a data e a
hora da assembleia, além da ordem do dia e, no caso de reforma do estatuto, da indicação da
matéria a ser revisitada.
A primeira convocação da AGO deverá ser feita com vinte e um dias de antecedência, e a segunda
convocação, com oito dias de antecedência, em se tratando de companhia aberta. Na companhia
fechada, a convocação deverá ser realizada com oito dias de antecedência, no mínimo; não se realizando
a assembleia, deve ser publicado novo anúncio com antecedência mínima de cinco dias.
A Comissão de Valores Mobiliários tem legitimidade para determinar, fundamentadamente,
o adiamento de assembleia geral por até 30 (trinta) dias, verificada a insuficiência de informações
necessárias para a deliberação. A decisão será tomada a critério da CVM por decisão fundamentada
do seu colegiado, atendendo a pedido de qualquer acionista, realizando oitiva da companhia.
A assembleia geral deverá ser instalada, em primeira convocação, com a presença de acionistas
que representem, no mínimo, 1/4 (um quarto) do total de votos conferidos pelas ações com direito
a voto e, em segunda convocação, com qualquer número. É lícito aos acionistas sem direito de voto
comparecerem à assembleia geral e discutir a matéria submetida à deliberação, devendo eximirem-
se de votar, salvo nas exceções legais.
As deliberações serão tomadas por maioria absoluta de votos, desconsiderando-se os votos
em branco.
É lícito que o estatuto da companhia de capital fechado estipule o aumento do quórum a ser
exigido para determinadas deliberações, devendo nesses casos especificar as matérias.
Em casos de empate, caso o estatuto não estabeleça procedimento de arbitragem e não
contenha norma diversa, convocar-se-á nova assembleia com intervalo mínimo de dois meses, para
deliberação sobre o ponto em controverso. Mantendo-se o empate, pode-se relegar a decisão a um
terceiro ou submeter a questão ao crivo do Poder Judiciário.

Assembleia geral extraordinária


A pauta da assembleia geral extraordinária (AGE) é definida por lei e por exclusão, ou seja, o
que não for de competência da AGO, em regra, será da AGE, salvo o que for de competência da
assembleia de constituição e da assembleia especial que têm propósitos específicos. Por exemplo,
será objeto da AGE a reforma do estatuto.

59
A lei não define objetivamente a competência para a convocação da AGE, de forma que a
competência precípua será do conselho de administração, cabendo essa competência ao conselho
fiscal sempre que ocorrerem motivos graves ou urgentes, conforme se verifica na parte final do inc.
V do art. 163, da Lei nº 6.404/76.
A AGE se instalará, em primeira convocação, com a presença de acionistas que representem,
no mínimo, 2/3 (dois terços) dos acionistas ordinarialistas e, em segunda convocação, com
qualquer número.
É imprescindível a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, do total dos
votos dos acionistas ordinarialistas, salvo se maior quórum for exigido pelo estatuto social da
companhia de capital aberto.
A Comissão de Valores Mobiliários tem legitimidade para autorizar a redução do quórum
previsto no art. 136 da Lei nº 6.404/76, atentando aos termos do § 2º do referido dispositivo legal.
Nesse caso, a autorização da Comissão de Valores Mobiliários deverá constar nos avisos de
convocação e a deliberação com quórum reduzido somente poderá ser adotada em terceira
convocação. Essa exceção é aplicável também às assembleias especiais de acionistas preferenciais de
que trata o § 1º do referido art. 136.
A lei ainda garante ao acionista o direito de recessão (art. 109, V, da Lei nº 6.404/76)
mediante reembolso das suas ações, conforme estudado no item Reembolso deste estudo, quando se
verificar a aprovação das matérias previstas nos incs. I a VI e IX do art. 136 da Lei nº 6.404/76.

Assembleia especial
As assembleias especiais são destinadas ao atendimento de demandas de acionistas que sejam
titulares de determinada classe ou espécie de ação, bem como as demandas de investidores que sejam
detentores de títulos emitidos pela companhia, como debêntures ou partes beneficiárias.
Este tipo de assembleia será instituída com pauta específica sempre que tais agentes
econômicos precisem deliberar sobre assuntos do seu interesse, a saber:

(i) assembleia especial de acionistas titulares de ações em circulação no


mercado (artigo 4º-A); (ii) assembleia especial de acionistas titulares de
ações de classe atingida por resgate (artigo 44, § 6º); (iii) assembleia
especial dos titulares de partes beneficiárias (artigos 51 e 57, § 2º); (iv)
assembleia especial de debenturistas (artigos 71 e 174, § 3º; e (v)
assembleia especial de preferencialistas (artigos 18 e 136, §§ 1º e 4º). 88

88
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 29. v. 2.

60
No que tange à convocação destas assembleias, está representa, igualmente um dever do
conselho de administração ou de quaisquer legitimados para exercer o ato convocatório, restando
pacífico que a sua configuração se dá pelo ato formal da reunião de acionistas, debenturistas ou
portadores de partes beneficiárias, conforme o teor da pauta, com o propósito específico de deliberar
sobre matérias determinadas atinentes ao interesse societário.

Assembleia de constituição
A assembleia de constituição, definida no art. 87 da Lei nº 6.404/76, instalar-se-á, em
primeira convocação, com a presença de acionistas subscritores que representem, no mínimo,
metade do capital social, independentemente da espécie ou classe das ações, e, em segunda
convocação, com qualquer número.
Cada ação, nesta assembleia especificamente, independentemente da sua espécie ou classe, dá
direito a um voto, sendo que a maioria não tem poder para alterar o projeto de estatuto.
Esta assembleia será presidida por um dos fundadores e secretariada por um acionista
subscritor, quando será lido o recibo de depósito de que trata o inc. III do art. 80, bem como
discutido e votado o projeto de estatuto que passará a vigorar.
Assim, ao término desta assembleia, ter-se-ão eleitos os primeiros administradores e
registrados os atos constitutivos em ata a ser encaminhada para o RPEM a cargo das juntas
comerciais para conclusão dos procedimentos de constituição da companhia, consoante se verificou
no item Constituição da companhia deste estudo.

Conselho de administração
O conselho de administração é o órgão executivo da companhia, juntamente com a diretoria,
que poderá atuar em conjunto ou fará dela as funções deste quando se verificarem condições que
autorizem a sua não composição, conforme se verifica no § 2º do art. 138 da Lei nº 6.404/76.
Assim, o conselho de administração representa um órgão de deliberação colegiada, cabendo
privativamente à diretoria a apresentação 89 da companhia.

89
Neste momento, vale uma ressalva, considerando que, comumente, verificam-se assertivas no sentido de que à diretoria
cabe a representação da companhia, mas entende-se que mais técnico seria falar em presentação, considerando que: (i) a
representação é função desenvolvida em atenção aos interesses dos incapazes na forma do art. 3º do CC, tão somente; e
(ii) a companhia, tão logo seja constituída de forma regular, adquire capacidade jurídica, autonomia patrimonial e
legitimidade processual. Portanto, não seria correto atribuir-lhe um representante, visto que, como se disse, essa função é
desenvolvida em atenção aos interesses dos incapazes, o que não é o caso. Logo, os que emprestam a sua voz às
companhias (pessoas jurídicas regulamente constituídas, de forma geral) são em verdade os seus presentantes, pois
apenas a tornam presentes, devendo, inclusive responder quando agirem como dolo em desrespeito à lei ou ao estatuto
social, ignorando, mesmo que de boa-fé os melhores interesses da companhia.

61
Destarte, atentando aos termos do estatuto social, a administração da companhia será
desenvolvida pelo conselho de administração e pela diretoria, ou somente pela diretoria, sendo
vedada, às companhias de capital aberto, a acumulação do cargo de presidente do conselho de
administração e do cargo de diretor-presidente ou de principal executivo da companhia.
A presente vedação pode ser excepcionada pela Comissão de Valores Mobiliários, por meio
de ato normativo expedido em favor das companhias de menor porte, assim definidas pelo art. 294-
B da Lei nº 6.404/76.
O conselho de administração deve ser constituído por, no mínimo, 3 (três) membros, eleitos
pela assembleia geral para um mandado de três anos, permitida a reeleição. Observa-se, contudo,
que os conselheiros de administração podem ser destituíveis a qualquer tempo, de forma motivada
ou não, pela assembleia geral.
A Lei nº 14.195/21 alterou a Lei nº 6.404/76 e passou a permitir que o estatuto social
autorize a participação no referido conselho de representantes dos empregados. Nesse caso, estes
devem ser escolhidos por meio de voto dos próprios empregados, em uma eleição direta, organizada
pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representam.
A alteração legal também passou a determinar, como obrigatório que, na composição do conselho
de administração das companhias de capital aberto, haja participação de conselheiros independentes,
atentando aos termos e prazos a serem definidos pela Comissão de Valores Mobiliários.
Caberá ao estatuto devendo o estatuto estabelecer: (i) a quantidade de conselheiros, indicando
o número máximo e mínimo, bem como o processo de escolha e substituição do presidente do
conselho, se se dará pela assembleia ou pelo próprio conselho; (ii) a forma de substituição dos
conselheiros; (iii) o prazo do mandato de gestão, limitado a três anos, sendo válida a reeleição; e (iv)
as normas sobre convocação, instalação e funcionamento do conselho, registrando que este deliberará
sempre por maioria de votos, sendo permitido ao estatuto social estipular quórum qualificado para
determinados pontos de deliberação, sendo imprescindível que sejam especificadas as matérias.
O estatuto social poderá prever a participação de representantes dos empregados no
conselho de administração. Neste caso, serão escolhidos pelo voto dos empregados, em eleição
direta, organizada pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representem. Esta
pode ser uma das formas de se promover a recuperação da empresa, por exemplo, considerando
os termos do art. 50, V, X e XIV da Lei nº 11.101/05 (que também sofreu pequena alteração pela
Lei nº 14.112/2020 90).

90
“Art. 50. ...

XVII - conversão de dívida em capital social;

XVIII - venda integral da devedora, desde que garantidas aos credores não submetidos ou não aderentes condições, no
mínimo, equivalentes àquelas que teriam na falência, hipótese em que será, para todos os fins, considerada unidade
produtiva isolada.

...

62
Na composição do conselho de administração, a lei autoriza a eleição de pessoas naturais e
exige que os diretores sejam residentes no País (considerando alteração pela Lei nº 12.431, de 24
de junho de 2011).
Apenas pessoas naturais podem ser eleitas como membros dos órgãos de administração das
sociedades por ações. É vedada, contudo, a acumulação do cargo de presidente do conselho de
administração e do cargo de diretor-presidente ou principal executivo da companhia, salvo se a
companhia tiver auferido receita bruta consolidada inferior a R$ 500.000.000,00 (quinhentos
milhões de reais), nos termos do art. 294-B da Lei 6.404/76 (art. 4º, Resolução CVM nº 168, de
20 de setembro de 2022).
Recentes alterações realizadas pela Lei nº 14.195/21 ainda determinam que a posse de
administrador residente ou domiciliado no exterior deve ser condicionada à constituição de
representante residente no País. Tal representante deve ter mandato com poderes para até três anos
após o término do prazo de gestão do administrador, no mínimo, devendo poder receber citações
em processos movidos contra ele e propostos com base na legislação societária e citações e
intimações em processos administrativos, instaurados pela Comissão de Valores Mobiliários, no
caso de exercício de cargo de administração em companhia aberta.
Como se verificou no item Voto múltiplo, a eleição dos membros do conselho de administração
pode ocorrer pelo expediente do voto múltiplo, otimizando o voto dos acionistas minoritários.
Depois da eleição, a ata da AGO ou da reunião do conselho de administração onde for
registrada a eleição dos administradores deverá ainda indicar a qualificação destes e o prazo de
duração do período de gestão pelo qual ficaram empossados no cargo, devendo, assim, ser arquivada
na junta comercial à margem da inscrição da companhia e publicada, tornando-se oponível a
terceiros de boa-fé.
Ressalta-se, por oportuno, que em razão da nova redação atribuída ao art. 284 da Lei nº
6.404/76 pela Lei nº 14.195/21, não se aplica à sociedade em comandita por ações o disposto sobre
conselho de administração.

§ 3º Não haverá sucessão ou responsabilidade por dívidas de qualquer natureza a terceiro credor, investidor ou novo
administrador em decorrência, respectivamente, da mera conversão de dívida em capital, de aporte de novos recursos na
devedora ou de substituição dos administradores desta.

§ 4º O imposto sobre a renda e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) incidentes sobre o ganho de capital
resultante da alienação de bens ou direitos pela pessoa jurídica em recuperação judicial poderão ser parcelados, com
atualização monetária das parcelas, observado o seguinte:

I - o disposto na Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; e

II - a utilização, como limite, da mediana de alongamento no plano de recuperação judicial em relação aos créditos a ele
sujeitos.

§ 5º O limite de alongamento de prazo a que se refere o inciso II do § 4º deste artigo será readequado na hipótese de
alteração superveniente do plano de recuperação judicial.” (NR)

63
Diretoria
À diretoria, como dito no item Conselho de administração, cabe apresentação da companhia.
Assim, sendo silente o estatuto social e inexistindo deliberação do conselho de administração na forma
do art. 142, II e parágrafo único da Lei nº 6.404/76, qualquer diretor poderá presentar a companhia
praticando os atos imprescindíveis e necessários ao desenvolvimento regular da atividade empresária.
Dessa forma, verifica-se que a legislação societária brasileira adota o modelo dualista de
administração para sociedades por ações.
A diretoria deve ser composta por um ou mais membros eleitos e destituíveis a qualquer
tempo pelo conselho de administração ou pela assembleia geral, se inexistente o conselho de
administração, atentando às diretrizes do estatuto social.
Os diretores, para tanto, poderão constituir mandatários, especificando no instrumento
próprio os atos ou as operações que lhes serão autorizados praticar e o tempo de duração do
mandato, podendo o mandato judicial perdurar por prazo indeterminado, consoante se depreende
da leitura do art. 144 e do parágrafo único da Lei nº 6.404/76.
A diretoria será composta de, no mínimo, dois diretores, que devem ser eleitos e podem ser
destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração; ou, se inexistente, como permite o
§ 2º do art. 138 da Lei nº 6.404/76, pela assembleia.
“Os diretores compõem órgão da companhia, decorrendo suas atribuições das normas legais
e estatutárias, não de mandato, contrato de trabalho ou de prestação de serviços”. 91 Considerando
esse fato, o estatuto social deverá estabelecer: (i) o número mínimo e máximo de diretores
permitidos; (ii) a forma da sua substituição; (iii) o prazo de duração do seu mandato de gestão, não
superior a três anos, sendo lícita a sua reeleição; e (iv) as atribuições e os poderes de cada diretor
especificamente, conforme se verifica na leitura do art. 143 da Lei nº 6.404/76.
As companhias de capital aberto e as de capital autorizado, que terão conselho de
administração, obrigatoriamente, poderão ter, até o máximo de 1/3 (um terço) dos seus membros
eleitos para cargos de diretores.

Conselho fiscal
O conselho fiscal é um órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento permanente
ou facultativo, devendo o estatuto social dispor sobre a forma da sua atuação nos exercícios sociais
em que for instalado a pedido de acionistas.

91
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 297. v. 2.

64
Quando o seu funcionamento for eventual, deverá ser instalado pela assembleia, atendendo
ao pedido de acionistas que representem, no mínimo, 10 % do total das ações com direito ao voto,
ou 5% das ações sem direito ao voto.

Chama-se a atenção para a possibilidade de acionistas minoritários


alcançarem o quórum para a instalação do Conselho Fiscal, e, no entanto,
não atingirem o percentual exigido, nos termos do artigo 161, parágrafo 4º,
Lei nº 6.404/76, para a eleição de um candidato. Nesses casos, conforme
decisão do Colegiado da CVM, se o quórum previsto no dispositivo
mencionado não for atingido, o acionista controlador não é obrigado a
participar da eleição dos membros do Conselho Fiscal, estando tal eleição a
cargo dos acionistas presentes, qualquer que seja a sua participação
(Processos RJ2007/3246 e RJ2006/5701, Reg. 5489/07, Rel. Presidente
Marcelo Fernandes Trindade, j. 10.7.200749). 92

Na composição do conselho fiscal, serão observadas as seguintes normas: (i) os titulares de


ações sem direito a voto terão direito de eleger um membro e o respectivo suplente, por votação em
separado; o mesmo direito alcança os acionistas minoritários que representem, mesmo que em
conjunto, 10% ou mais das ações com direito ao voto; (ii) os demais acionistas com direito a voto
poderão eleger membros efetivos e suplentes em quantidade igual à dos eleitos na primeira
condição, acrescida de um membro efetivo e um suplente.
Acionado, o conselho fiscal permanecerá em funcionamento até a primeira AGO depois
da sua instalação.

O conselho fiscal pode ser qualificado como órgão, dada a forma de


eleição, substituição e destituição de seus integrantes, bem como por suas
deliberações serem tomadas mediante voto; ademais, nele vige o princípio
majoritário, o qual é temperado pela possibilidade de atuação individual
dos conselheiros, nos casos previstos na Lei das S.A. 93

A assembleia elegerá o mínimo de três e o máximo de cinco membros, acionistas ou não, para
compor o conselho fiscal, com o mesmo número de suplentes, sendo essa função indelegável.

92
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: mar. 2023.
93
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 427. v. 2.

65
Trata-se o conselho fiscal de um órgão colegiado, a deliberação segundo
princípios majoritários, o qual é “temperado” mediante previsão da
atuação individual de seus membros. Com efeito, a existência de poderes
individuais dos conselheiros visa a impedir que algum acionista
controlador, que pode eleger a maioria dos membros do conselho fiscal,
eventualmente frustre a atuação fiscalizadora do conselho fiscal para
acobertar a atuação dos administradores.

A composição heterogênea do conselho fiscal, que se manifesta na origem


de seus membros, apenas faz sentido se for conferida a cada um deles a
possibilidade de atuar individualmente. Se o órgão apresentasse uma feição
puramente colegiada, decidindo sempre pela maioria e sem a possibilidade
de atuação singular de seus membros, os conselheiros não poderiam, em
alguns casos, exercer as funções para as quais foram eleitos, já que sempre
prevaleceria a vontade dos controladores. 94

A competência do conselho fiscal alcança atos de: (i) fiscalização dos atos dos administradores;
(ii) emissão de parecer sobre o relatório anual da administração a ser considerado pela AGO na
tomada das contas; (iii) opinião sobre propostas apresentadas por órgãos da administração
submetidas à assembleia, que versem sobre modificação do capital social, emissão de debêntures ou
bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos,
transformação, incorporação, fusão ou cisão; (iv) denúncia aos órgãos de administração e à
assembleia, em caso de omissão dos primeiros, erros, fraudes ou crimes, bem como sugestão de
providências; (v) convocação da AGO em caso de omissão dos órgãos da administração que sejam
flagrantemente omissos mediante determinação do art. 123 da Lei nº 6.404/76; (vi) convocação da
AGE quando verificarem motivos graves ou urgentes; (vii) análise de demonstrações financeiras
elaboradas periodicamente pela companhia; (viii) emissão de parecer opinativo sobre demonstrações
financeiras do exercício social examinadas; (ix) exercício de todas essas atribuições durante o
procedimento de liquidação.

Publicações empresariais obrigatórias


As publicações dos atos e dos resultados proporcionados pela companhia tem os seus prazos
e formas regulamentados pela Lei nº 6.404/76, que determina que as publicações sejam feitas no
órgão oficial do lugar em que esteja situada a sede da companhia e em outro jornal de grande
circulação editado na localidade em que está situada a sede da companhia.

94
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 121 a 188. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 445. v. 2.

66
Frisa-se que a divulgação de informações pelas companhias abertas, seja com base em dados
contábeis, seja em dados não contábeis, demanda cuidados que devem ser observados pelos seus
administradores, visando à preservação da qualidade das informações que são dirigidas aos
investidores no mercado de capitais.
A relevância desse tema está atrelada ao fato de que as informações atinentes à gestão da
companhia influenciam as decisões econômicas dos investidores.

As medições e informações não contábeis compreendem todas as informações


que não sejam uma representação estruturada da informação contábil prevista
nos Pronunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis
– CPC e aprovados pela Comissão de Valores Mobiliários, mas que
competem com os mesmos propósitos das chamadas demonstrações contábeis
de propósito geral, nos termos do item 9 do Pronunciamento Técnico CPC
26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis. [...]
Um exemplo dessas informações é a relativa ao lucro antes dos juros,
imposto de renda, depreciação e amortização – LAJIDA (EBITDA –
earnings before interest, taxes, depreciation and amortization) e ao lucro antes
dos juros e imposto de renda – LAJIR (EBIT – earnings before interest and
tax). A menção a esses conceitos pode ocorrer nos comentários dos
diretores no formulário de referência (Resolução CVM nº 80/22), no
relatório da administração, em prospectos, press releases, comunicados ou
outros documentos públicos.
A divulgação dessas informações não contábeis, para que seja preservada a
qualidade da informação dirigida ao público, deve merecer o mesmo
tratamento e cuidado despendidos às informações contábeis. Nesse
sentido, observou-se à época da emissão da Instrução CVM nº 527/12 que
a informação do LAJIDA e do LAJIR estava sendo elaborada e divulgada
de forma muito particular pelas companhias abertas e divergente entre elas.
Essa situação pode tornar difícil a compreensão tanto da formação do
número apresentado quanto da sua integração ou conciliação com os
outros números da demonstração do resultado. Em muitos casos, é
relevante observar que os números informados não são comparáveis com
as informações prestadas por outras companhias abertas.

67
Dessa forma, a preocupação da CVM à época, que motivou a emissão da
Instrução CVM nº 527, hoje Resolução CVM nº 156/22, pautou-se na
compreensibilidade e comparabilidade do indicador divulgado ao
mercado, cujos principais comandos pretende-se esmiuçar nesta Nota
Explicativa, para a sua melhor compreensão e aplicação. 95

A Medida Provisória nº 892, de 5 de agosto de 2019, alterou a redação do art. 289 da lei
em tela, passando a determinar que as publicações necessárias nos termos da Lei das Sociedades
por Ações passassem a ser feitas nos sítios eletrônicos da Comissão de Valores Mobiliários e da
entidade administradora do mercado em que os valores mobiliários da companhia estiverem
admitidos à negociação.
Entende-se que a MPV em tela possuía respaldo no princípio da instrumentalidade das formas
e da economicidade, visto que tornava desnecessária que as publicações ordenadas pela Lei em tela
fossem feitas no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal e em outro jornal de
grande circulação editado onde for sediada a companhia. Neste sentido, verifica-se a exposição de
motivos apresentada como fundamento a alteração pretendida pela referida MPV nº 892/2019.

A necessidade de publicação em jornais exigida pelo art. 289 da Lei nº


6.404/1976 representa um custo de observância imposto às companhias
que não mais se justifica nos dias de hoje, dado o avanço tecnológico
ocorrido desde a publicação da Lei. Na verdade, a obrigação contida na
Lei para que todas as companhias publiquem seus atos societários em
jornais representa uma barreira de entrada ao mercado de capitais e,
adicionalmente, a maior adoção do tipo S/A por empresas de menor porte,
dado o elevado custo dessas publicações. 96

Um embate jurídico se desenrolou, como se verifica na Ação Direta de Inconstitucionalidade


(ADI) 6215, proposta pelo partido Rede Sustentabilidade, onde questionou-se a eficácia da referida
MPV em juízo alegando, dentre outros pontos, que a sua edição deu-se como mera forma de
represália a setores da imprensa, o que poderia caracterizar desvio de finalidade da MPV e que, de
acordo com a Lei nº 13.818/2019, a partir de janeiro de 2022 as empresas passariam a publicar os
seus balanços de modo resumido em veículos impressos e na integralidade nas versões digitais dos
jornais, fato que, segundo consta, não permitiria que se verificasse a urgência que deve justificar a
edição de uma MPV sobre o tema.

95
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Nota Explicativa à Resolução CVM nº 156, de 23 de junho de 2022. Disponível em:
https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/notas-explicativas/nota_resol156.html. Acesso em: mar. 2023.
96
BRASIL, MEDIDA PROVISÓRIA Nº 892, DE 5 DE AGOSTO DE 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv892.htm. Acesso em: mar. 2023.

68
A proposta da MPV nº 892/2019 não subsistiu, não se dando a sua conversão em lei. A redação
do Art. 289 da Lei nº 6.404/76 permaneceu nos termos determinados pela Lei nº 13.818/19.
Contudo, posteriormente, a Lei nº 14.195/21 promoveu alterações nos arts. 289 e 294 da
Lei nº 6.404/76, viabilizando que as publicações ordenadas pela lei societária sejam efetuadas em
jornal de grande circulação, editado na localidade em que esteja situada a sede da companhia, de
forma resumida e com divulgação simultânea da íntegra dos documentos na página do mesmo
jornal na internet, que deverá providenciar certificação digital da autenticidade dos documentos
mantidos na página própria, emitida por autoridade certificadora credenciada no âmbito da
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras (ICP-Brasil).
Resta lícito à companhia de capital fechado, com receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00
(setenta e oito milhões de reais) realizar as publicações ordenadas pela lei societária de forma
eletrônica, substituindo os livros de que trata o art. 100 da Lei nº 6.404/76 por registros
mecanizados ou eletrônicos.
Visando à desburocratização do procedimento, o Ministério da Economia publicou a Portaria
ME nº 10.031, de 22 de novembro de 2022, que retira a obrigatoriedade de que empresas de capital
fechado com receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais) realizem
as suas publicações e divulgações no seu próprio sítio eletrônico. As publicações obrigatórias
continuarão a ser feitas na Central de Balanços do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped).

O SPED é um sistema público, gratuito, que fornece ampla publicidade e


transparência, por meio de acesso rápido e fácil via internet.
...
A consulta no sistema pode ser feita de forma simples através de parâmetros
como o número do CNPJ ou o nome empresarial, ano e tipo de publicação,
em uma base de dados unificada nacional, disponível a qualquer cidadão. 97

Destarte, a alteração tutela a transparência das informações e, ao mesmo tempo, reduz custos
operacionais das companhias que não possuem interesse na manutenção de sítios eletrônicos próprios.

97
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Companhias menores não precisam fazer publicações obrigatórias em site próprio. Disponível em:
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2022/novembro/companhias-menores-nao-precisam-fazer-publicacoes-
obrigatorias-em-site-proprio. Acesso em: mar. 2023.

69
MÓDULO V – OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS

Nesta última unidade deste material didático, vamos nos dedicar às operações societárias
destinadas à composição de interesses voltados à transformação e extinção das companhias, bem
como outras destinadas à composição de interesses econômicos empresariais que demandem uma
constituição de consórcios ou grupos econômicos ou societários que viabilizem a consolidação de
negócios jurídicos de cunho empresarial.
Ressaltamos que o objetivo deste estudo é direcionar o estudante aos critérios jurídicos
formais próprios da realização eficiente dessas operações societárias.

Transformação
A transformação da companhia é regulada pelos arts. 220 a 222 da Lei nº 6.404/76 e
representa uma operação pela qual a companhia passa de um tipo societário para outro,
independentemente de dissolução e liquidação, observando os preceitos legais que regulam a
constituição e o registro do tipo societário a ser adotado.

A transformação é um negócio jurídico unilateral, pois para sua realização


exige-se apenas a declaração unilateral de vontade da sociedade, que migrará
para outro sistema normativo de organização societária. Mas a vontade social
deve ser, em princípio, unanimemente declarada pelos acionistas. 98

98
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 408.
Nesse sentido, a companhia pode passar de capital fechado para capital aberto, bastando
atentar, no que for preciso, aos termos legais que regulamentam a constituição das companhias por
subscrição pública, conforme estudado no item Constituição por subscrição pública deste estudo.
Poderá também proceder ao inverso, convertendo as companhias de capital aberto em capital
fechado, atentando ao determinado no § 4º do art. 4º da Lei nº 6.404/76, acrescido pela Lei
nº 10.303/01, segundo o qual o registro de companhia aberta poderá ser cancelado se a companhia,
o acionista controlador ou a sociedade controladora, direta ou indiretamente, proceder à oferta
pública para aquisição da totalidade das ações em circulação no mercado de capitais, por um valor
plausível, apurado com base nos critérios que considerem o patrimônio líquido contábil, o
patrimônio líquido avaliado e o fluxo de caixa descontado, ou ainda com base em outro critério,
desde que aceito previamente pela CVM.
Na mesma linha de raciocínio, outro tipo societário pode converter-se em companhia e vice-
versa, em atenção ao art. 1.113 do CC.

Do ponto de vista formal, importa a transformação em novo ato


constitutivo, extinguindo-se os anteriores, dada a alteração do tipo
societário. Assim, devem ser obedecidas as regras reguladoras da constituição
e do registro da nova forma societária a ser adotada: a Lei das S.A. para as
companhias e sociedades em comandita por ações e o Código Civil para
todos os demais tipos societários. 99

Exige-se, porém, o consentimento unânime de todos os sócios ou acionistas, se não houver


previsão estatutária ou contratual prévia, situação na qual eventual acionista ou sócio dissidente poderá
exercer o seu direito de retirar-se da sociedade, sendo reembolsado pelo valor líquido das suas ações.
No que tange aos credores, frisa-se que a transformação não prejudicará os direitos adquiridos
dos credores; estes continuarão, até o pagamento total dos seus créditos, de posse das mesmas
garantias constituídas no ato de celebração dos negócios jurídicos com a companhia,
independentemente de qual seja o tipo anterior pelo qual a sociedade se apresentava.
Tanto assim que, em caso de falência da companhia depois da sua transformação, os efeitos
desta só se estenderão aos sócios se, no tipo anterior à transformação, eles ostentavam a condição
de sócios com responsabilidade ilimitada, solidária ou subsidiária à sociedade. Além disso, só
beneficiará os credores que possuíam direitos de exigir-lhes satisfação dos direitos em razão de uma
dessas responsabilidades, devido ao momento de celebração do negócio jurídico, respeitando a
integridade do art. 81 da Lei nº 11.101/05 (sem alteração pela Lei nº 14.112/2020).

99
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 201. v. 3.

72
Grupo econômico
Os grupos econômicos são compostos de sociedades coligadas, controladoras e controladas.
Constituem-se em razão da necessidade naturalmente constata nas economias de escala de aprimorar
os processos produtivos. O seu foco encontra-se na otimização e eficiência dos processos produtivos
e operacionais tecnológicos.

Conforme destacado na Exposição de Motivos nº 196, de 24.06.1976, as


grandes empresas, em seus processos de expansão, têm levado à criação de
verdadeiras constelações de sociedades, coligadas, controladoras e controladas,
o que demanda a existência de normas específicas que redefinam, no interior
do grupo, os direitos das minorias, as responsabilidades dos administradores,
as garantias dos credores, assim como as suas demonstrações contábeis.100

Esse fenômeno não se confunde com as operações societárias de fusão e incorporação, pois
nos grupos econômicos e societários – este será mais bem estudado no item 5.3 – as sociedades
coligadas, controladoras e controladas mantêm intactas a personalidade jurídica, a capacidade
negocial, a autonomia patrimonial e a legitimidade processual. Com isso, elas representam, nas
palavras de Rubens Requião, um “arranjo da administração comum”, 101 mas não se confundem
com uma espécie de supersociedade. Nesse sentido, lê-se Fábio Konder Comparato:

Não há negar entretanto que os grupos econômicos foram criados,


exatamente, para racionalizar a exploração empresarial, harmonizando e
mesmo unificando as atividades das várias empresas que os compõem. É
graças a essa racionalização administrativa que o lucro marginal é elevado, com
a baixa do custo unitário de produção. Eles propiciam a criação de “economias
internas de escala”, já assinaladas pelos economistas desde o fim do século
XIX. Todos os sistemas econômicos, qualquer que seja o regime político que
os acompanha, tendem a esse mesmo objetivo de argumentos e coordenação
empresarial. A empresa isolada é, atualmente, uma realidade condenada, em
todos os setores, máxime naqueles em que o progresso está intimamente
ligado à pesquisa tecnológica. A chamada empresa multinacional nada mais é
do que uma constelação de empresas, operando em vários países, sob
legislações diversas, mas perseguindo, sempre, uma única política global. 102

100
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 327. v. 3.
101
REQUIÃO, Rubens Edmundo. Curso de direito comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 234. v. 1.
102
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. p. 355-356.

73
Contudo, a despeito da manutenção da integridade da autonomia de cada sociedade
participante do grupo em tela, o entendimento jurisprudencial é no sentido de que os componentes
do grupo detêm, entre si, responsabilidade solidária em obrigações assumidas perante terceiros, em
especial no que tange às obrigações trabalhistas, como se vê:

RECURSO DE REVISTA – GRUPO ECONÔMICO.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. A decisão foi proferida nos termos
do artigo 2°, § 2°, da CLT, reconhecendo o Regional a responsabilidade
solidária entre as demandadas, uma vez que restou comprovada a
hipótese de grupo econômico. Recurso de Revista não conhecido. AJUDA
DE CUSTO. INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO. NATUREZA
SALARIAL. Incólume o artigo 457, § 2º, da CLT, na medida em que a
concessão de ajuda de custo, segundo o Tribunal Regional, era salário
dissimulado, visando, na verdade, ao pagamento de serviço. Recurso de
Revista não conhecido. DIREITO DE IMAGEM. INTEGRAÇÃO AO
SALÁRIO. NATUREZA SALARIAL. O Tribunal Regional, apesar de
consignar a existência de norma coletiva que estabelece a natureza
indenizatória da verba "direito de imagem", considerou o caráter salarial
da parcela, pois demonstrado que ela se destinava à contraprestação dos
serviços. Portanto, não há falar em violação do artigo 7º, XXVI, da
Constituição da República. Recurso de Revista não conhecido. 103

Nesse sentido, nos termos do art. 243 da Lei nº 6.404/76, temos sociedades coligadas em
situações nas quais uma, investidora, detém influência significativa sobre outra; a controlada é a
sociedade sobre a qual a controladora, diretamente ou valendo-se de outras sociedades controladas,
detém a titularidade de direitos comuns aos sócios, sendo-lhe assegurado, permanentemente,
preponderância nas deliberações societárias bem como o poder de eleger a maioria dos administradores.

São reconhecidas tradicionalmente as seguintes modalidades de grupos, do


ponto de vista econômico: (i) horizontal, quando as sociedades integrantes
atual no mesmo setor ou mercado; e (ii) vertical, quando as sociedades
desempenham atividades complementares, mas em setores diversos, uma
fornecendo a matéria-prima, por exemplo, e outra a industrializando.104

103
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. RR 11345920105040201. Relator Márcio Eurico Vitral Amaro. 8ª Turma. Julgamento
em 16 de março de 2016. In: DEJT, 22 de março de 2016. Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/
322767571/recurso-de-revista-rr-11345920105040201. Acesso em: mar. 2023.
104
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 328. v. 3.
A legislação pátria só admite coligação direta, como ressalva Sérgio Campinho, sendo esta a
modalidade de coligação que estipula uma relação direta de investimento de uma sociedade em
outra. O citado autor exemplifica:

Se uma companhia X investe no capital da companhia Y, tendo sobre ela


influência significativa, e a companhia Y investe no capital da companhia
Z, também tendo sobre a investida influência significativa, haverá
coligação, pois no nosso Direito não se admite a coligação indireta.105

Embora haja grandes números de grupos de sociedades, não se verificam no Brasil muitos
registros, país onde há pouco uso da disciplina legal atinente ao tema, sendo raros os casos de
empresas que estabelecem grupos mediante convenções regulamentares.
A Lei nº 14.195/21 alterou a redação do § 5º do art. 243 da Lei nº 6.404/76, reconhecendo
como presumida a influência significativa quando a companhia investidora for titular de 20%
(vinte por cento) ou mais dos votos conferidos pelo capital social da companhia investida, sem,
contudo, controlá-la.
A Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, que instituiu a declaração de direitos de
liberdade econômica, regulamenta o funcionamento de um importante instrumento de garantia à
livre iniciativa. Nos termos da norma em tela, constitui dever da Administração Pública e de outras
entidades vinculadas a regulamentação de norma pública pertencente a leis correlatas, salvo se
instituídas em estrito cumprimento a previsão explícita em lei, visando a evitar o abuso do poder
regulatório, de maneira a, indevidamente, proporcionar reserva de mercado que favoreça grupo
econômico ou profissional em prejuízo de concorrentes.
Essa recente legislação corrobora as alterações introduzidas na CLT pela Lei nº 13.467, de
13 de julho de 2017, que colaboraram para a padronização do conceito de grupo econômico,
superando a antiga dicotomia sobre o tema, verificada a partir das interpretações das normas de
Direito Societário e de Direito Trabalhista.
Inobstante outras críticas que se possam tecer em relação à chamada Lei da Liberdade
Econômica 106, sobretudo no que tange a eventuais e hipotéticas possibilidades de burla aos
direitos trabalhistas, é importante ressaltar que a interpretação das normas vigentes deve sempre
ser direcionada ao rumo do que os contratantes efetivamente acordaram na celebração do negócio
jurídico, haja vista que a forma como os signatários de contratos se comportam depois da sua
celebração denota um rumo. A interpretação do negócio jurídico em si, em caso de conflitos
comportamentais, eventualmente poderá ensejar um litígio.

105
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 425.
106
OAB/PR. Análise dos impactos da Lei nº 13.874/19 sobre o direito do trabalho encerra primeiro dia do Congresso da
Liberdade Econômica. Disponível em: https://www.oabpr.org.br/analise-dos-impactos-da-lei-1387419-sobre-o-direito-do-
trabalho-encerra-programacao-do-congresso-da-liberdade-economica/. Acesso em: mar. 2023.

75
Outro ponto em defesa da integridade dos grupos econômicos, instituído pela chamada
Declaração de Direitos de Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/19), verifica-se no § 4º, acrescido
ao art. 50 do Código Civil, que determina que a simples existência de um grupo dessa natureza,
sem a presença dos requisitos exigidos no caput do referido artigo, não autoriza a incidência da
desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
O dispositivo legal em tela encontrou respaldo nos primeiros a se pronunciarem sobre a
norma, no sentido de que

[...] foi positivada, portanto, a viabilidade jurídica do uso da


desconsideração da personalidade jurídica para atingir outra pessoa
jurídica, o que se denomina como desconsideração econômica, indireta ou
sucessão entre empresas 107

Dessa forma, a tutela aos grupos econômicos vem consolidando-se no sistema jurídico por
meio de normas pragmáticas instituídas sob fundamentos econômicos e voltadas ao fomento da
livre iniciativa.

Grupo societário
No que tange aos grupos societários, insta observar que as relações entre as sociedades, a sua
estrutura administrativa gerencial enquanto grupo, a coordenação dos trabalhos e as relações de
subordinação dos administradores das sociedades envolvidas devem ser estabelecidas no ato em que
for registrada a convenção do grupo societário, ressalvando que cada sociedade deve conservar a
integridade da sua personalidade jurídica e da sua autonomia patrimonial.
Nesse sentido, verifica-se a leitura do art. 265 da Lei nº 6.404/76, que regulamenta a
constituição dos grupos societários por meio de instrumentos que vinculem as sociedades na
combinação de recursos ou esforços voltados para a execução de determinados objetos, como a
participação em atividades ou empreendimentos em comum.
Exige-se, porém, que a sociedade controladora do grupo seja brasileira, ou seja, tenha no Brasil a
sua sede, consoante determina o art. 1.126 do CC, e exerçam, direta ou indiretamente, de forma
permanente, o controle das sociedades controladas, seja como titular de valores mobiliários que lhes
confira direitos de sócios ou acionistas seja mediante acordo celebrado com outros sócios ou acionistas.

107
TARTUCE, Flávio. A “lei da liberdade econômica” (lei 13.874/19) e os seus principais impactos para o Direito Civil. Primeira
parte. Disponível em: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei-13874-
2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i. Acesso em: mar. 2023.
Essa relação de controle exercida por uma sociedade de comando representa a configuração
exigida tanto aos grupos de fato quanto aos grupos de direito.

O grupo de fato é aquele integrado por sociedades relacionadas tão


somente por meio de participação acionária, sem que haja entre elas uma
organização formal ou obrigacional. As relações jurídicas mantidas entre as
sociedades que integram o grupo devem ser fundamentadas nos princípios
e nas regras que regem as relações entre companhias isoladas.

Isso significa que os atos praticados pelos administradores da sociedade


participante do grupo de fato, bem como todas as decisões tomadas pelos
acionistas ou sociedades controladoras, devem ter por objeto, exclusivamente,
a consecução do interesse específico de tal companhia. [...]

A configuração de um grupo de direito pressupõe, assim como ocorre nos


grupos de fato, a existência de relações de controle entre uma das sociedades,
denominada “sociedade de comando”, e as demais participantes do grupo,
que são as “filiadas” (as sociedades controladas). Com efeito, consta do caput
que a sociedade controladora e suas controladas podem constituir grupo de
sociedades; e do § 1º que a sociedade controladora ou de comando do
grupo, a que tem que ser necessariamente brasileira, deve exercer, direta ou
indiretamente, e de modo permanente, o controle das sociedades filiadas.

Nos grupos de direito, a influência exercida pela sociedade de comando


sobre as atividades de suas controladas não se limita ao fato de ela eleger a
maioria dos administradores e tomar as decisões nas assembleias gerais,
sendo forçada pela existência de uma relação de natureza contratual,
consubstanciada na convenção de grupo, que vincula a atuação das
controladas a um fim comum. 108

108
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 515-516 e 521. v. 3.

77
O grupo de direito será constituído na forma da lei e se apresentará mediante designação da
expressão grupo de sociedades ou apenas grupo. Sendo composto de companhias que prescindam de
autorização para funcionar, só poderão participar do grupo se obtiverem aprovação da respectiva
convenção autoridade competente que tenha legitimidade para aprovar as suas alterações estatutárias.
Assim, constituído o grupo de sociedades por convenção, esta deverá apresentar: (i) a designação
do grupo; (ii) a indicação da sociedade de comando e das controladas; (iii) as condições impostas à
participação das diversas sociedades; (iv) o prazo de duração do grupo, se houver, e as respectivas
condições da sua extinção; (v) as condições para a admissão e retirada de sociedades; (vi) os órgãos e
cargos da administração do grupo com as respectivas atribuições e as formas pelas quais as relações
entre a estrutura administrativa do grupo e as das sociedades que o componham se darão; (vii) a
declaração da nacionalidade do controle do grupo; e (viii) as condições para a alteração da convenção.

No grupo de sociedades, é possível que exista a controladora, ou a


sociedade que é a holding relativamente às demais, das quais participa como
acionista. Todavia apenas admite-se a existência de uma holding, centrada
na companhia que controla as outras, e que alguns equivocadamente a
tipificam como sociedade simples, por não apresentar atividade econômica
organizada de produção ou circulação de bens ou serviços no mercado.
Acontece que, controlando sociedades empresárias, naturalmente sua
função é econômica, e daí decorrendo a natureza econômica da atividade.

No entanto, pode o grupo organizar-se também para uma atividade sem


que se crie uma sociedade de controle às demais, ou que dirija o conjunto
delas, realidade que afasta a equivalência de uma holding.

Decorrem, pois, dois tipos de grupo: um no sentido de haver uma holding,


com o controle sobre as demais; e outro sem essa característica, mas
formado pela mera união de sociedades.109

O grupo de sociedades considerar-se-á sob controle pátrio se a sua sociedade de controle


estiver sob o comando de pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil ou pessoas jurídicas
de direito público interno ou sociedade ou sociedades brasileiras que, direta ou indiretamente,
estejam sob o controle de pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil ou pessoas jurídicas
de direito público interno.
É vedada a participação recíproca entre a companhia e as suas coligadas ou controladas,
observado o disposto no art. 244 da Lei nº 6.404/76.

109
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 712.
Consórcio
O consórcio é um tipo de operação intersocietária distinta dos grupos. Neste caso, as
relações se dão entre as sociedades, podendo ou não estar subordinadas umas às outras, em uma
relação de cooperação, colaboração, atuando as consorciadas de forma coordenada, visando à
consecução de um fim comum pretendido por todas, constituindo essa reunião de interesses uma
forma especial de concentração.

Quanto à joint venture, há a coligação de duas ou mais empresas (empresas


sociedades ou empresários individuais), visando à consecução de uma
tarefa, ou de um empreendimento, ou do projeto comum, que exige um
volumoso investimento, ou a conjugação de recursos. Forma-se uma
convenção com a finalidade de realizar uma obra, ou atuar em um setor da
atividade humana. Cria-se uma associação de empresas para conseguir
maior capacidade na exploração de um setor da construção civil, ou da
fabricação de certos produtos, ou da prestação de serviços. Celebra-se um
acordo entre empresas visando um melhor, mais rápido e eficiente
resultado no empreendimento. 110

Conforme se depreende dos arts. 278 e 279 da Lei nº 6.404/76, o consórcio se constitui
por contrato que deve ser aprovado pelo órgão da sociedade que tenha legitimidade para autorizar
a alienação de bens do ativo não circulante. Desse instrumento de ajuste de vontades deve constar:
(i) a designação do consórcio, se houver; (ii) o empreendimento representativo do objeto do
consórcio; (iii) o tempo de duração, o endereço e o foro competente eleito pelos signatários; (iv)
a definição das obrigações e responsabilidade de cada instituição consorciada e as respectivas
prestações; (v) as regras determinadas pelos signatários acerca do recebimento de receitas e a
consequente partilha dos resultados auferidos; (vi) as regras que os signatários entenderem
eficientes sobre administração do consórcio, contabilidade das finanças e custos, se houver; (vii)
a forma pela qual deliberarão sobre pontos de interesse comum, estipulando o peso dos votos de
cada consorciado; e (viii) o quantum com que cada consorciado contribuirá para o custeio das
despesas comuns, se houver.

110
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 712.

79
O consórcio apresenta a natureza de um contrato plurilateral, visto que as
consorciadas, embora independentes, conjugam esforços e recursos,
temporariamente, com o objetivo de alcançar um fim comum. Os interesses
das partes, no contrato plurilateral, são unificados por meio de uma finalidade
comum; cada consorciada obriga-se para com todas as outras e diante de todas
elas adquire direitos, coordenados em torno do escopo comum.111

O presente contrato bem como as suas alterações, se houver, devem ser arquivados no RPEM,
a cargo das juntas comerciais, nos termos da Lei nº 8.934/94, procedendo-se à publicação da
certidão de arquivamento, em tributo ao princípio da publicidade.

O consórcio caracteriza-se, à luz de sua moldura legal, como um contrato


entre sociedades, de tipos iguais ou diferentes, sob o mesmo controle ou
não, visando à conjugação de esforços e recursos para a execução de
determinado empreendimento, mantendo cada consorciada a sua
autonomia jurídica e empresarial.

O consórcio não tem personalidade jurídica sendo, portanto, desprovido


de patrimônio. As consorciadas – que, enfatiza-se, podem ser companhias
ou quaisquer outras sociedades e que não necessitam estar ligadas por
relações de participação – somente se obrigam nas condições previstas no
respectivo contrato, respondendo, assim, cada um por suas obrigações, sem
presunção de solidariedade. Nada impede, entretanto, que o contrato
disponha sobre a solidariedade. Nada impede, entretanto, que o contrato
disponha sobre a solidariedade entre as consorciadas ou apenas algumas
delas, seja assim para todas as obrigações ou apenas para algumas
expressamente determinadas. 112

Como se verifica, é lícito às companhias bem como a quaisquer outras sociedades, sob o
mesmo controle ou não, constituir consórcio para executar empreendimentos determinados,
mesmo não tendo o consórcio personalidade própria ou solidariedade presumida entre as
sociedades, cabendo a cada instituição responder pelos atos que praticar, obrigando-se somente nas
condições previstas no contrato celebrado.

111
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 555. v. 3.
112
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 447.
Embora o consórcio se assemelhe à sociedade empresária em diversos aspectos,
com ela não se confunde: na sociedade, a causa de sua constituição é o
exercício de determinada atividade por ente distinto do sócio, dotado de
personalidade jurídica e capaz de direitos e obrigações; já no consórcio, a
atividade é exercida diretamente pelas partes consorciadas, as quais assumem
direitos e obrigações em nome próprio, nos termos do contrato. Ademais, o
consórcio constitui uma alternativa mais flexível do que a sociedade; quando
2 (duas) ou mais empresas desejam levar adiante, em conjunto, determinado
empreendimento, o consórcio pode ser mais adequado do que a constituição
de uma nova sociedade.113

Tanto assim que eventual falência de uma consorciada não gera, via de regra, efeitos patrimoniais
sobre as demais, salvo situações excepcionais decorrentes de contratos específicos distintos do consórcio,
de forma que subsistirá o consórcio com os demais contratantes, e os créditos que porventura tiver a
falida serão apurados e pagos na forma prevista no contrato de consórcio.

Extinção da companhia
Segundo o art. 219 da Lei nº 6.404/76, a extinção da companhia pode ocorrer por duas
formas, a saber: pela liquidação, nos termos do art. 207, ou pela incorporação, fusão ou cisão, nas
formas respectivamente dos arts. 227, 228 e 229, todos da mesma lei.

A companhia se extingue pelo encerramento da liquidação, preceitua o


art. 219, em seu inciso I. Mas essa extinção não prescinde do
“cancelamento” do registro da companhia no Registro Público de
Empresas Mercantis. Assim é que se mostra, na liquidação extrajudicial,
como providência indispensável para a regularidade material e formal da
extinção de um último ato: o arquivamento e a publicação da ata da
assembleia geral que houver encerrado a liquidação, providência essa que,
em princípio, cabe ao liquidante (art. 210, IX), mas pode ter sua eventual
falta suprida por qualquer interessado. Na liquidação judicial, esse ato se
materializa por ofício do juízo dirigido à Junta Comercial, incumbida do
prefalado registro. A partir de sua realização, o processo de extinção da
companhia estará aperfeiçoado e dotado de eficácia plena, desaparecendo
a personalidade jurídica da sociedade. 114

113
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 557-558. v. 3.
114
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 404.

81
No que tange ao citado art. 207, registra-se que a responsabilidade pelas demandas em
andamento deve seguir em face dos então acionistas e liquidantes, tidos como sucessores da
companhia extinta.

A existência de ações judiciais em curso não impede a extinção da companhia


nem o arquivamento da ata da assembleia que aprovou o encerramento da
liquidação, não se podendo pretender que persista a personalidade jurídica
enquanto houver lide, cabendo aos credores prosseguir contra os acionistas,
sucessores da pessoa jurídica e o liquidante. 115

A partir dessas noções introdutórias acerca da extinção da companhia, passa-se ao estudo dos
atos dissolutivos e liquidatários que antecedem a sua extinção de pleno direito.

Dissolução da companhia
A circulação de capitais que caracteriza a economia de mercado exige que haja meios, como
os determinados no art. 206 da Lei nº 6.404/76, de permitir que os patrimônios se desvinculem de
empreendimentos improdutivos, esterilizando a força que busca a geração de lucros.

A Lei das S.A., no presente dispositivo, divide as hipóteses de dissolução


em duas categorias: (i) de pleno direito; e (ii) dependente de decisão
judicial ou administrativa. A dissolução de pleno direito, que não carece
de qualquer manifestação de autoridade administrativa, sendo, portanto,
seu resultado automático, verifica-se quando: (i) termina o prazo de
duração da companhia; (ii) ocorre um dos casos previstos no estatuto, (iii)
há deliberação da assembleia geral; (iv) ocorre a unipessoalidade por prazo
superior ao legal; e (v) extingue-se a autorização para funcionamento. É
necessária a decisão judicial nos casos de: (i) anulação da constituição da
companhia; (ii) impossibilidade de atingir a companhia o seu o fim; e (iii)
falência. Também pode ser dissolvida a companhia por decisão da
autoridade administrativa, nas hipóteses expressamente previstas em lei
especial. O Código Civil também distingue as causas de dissolução de
pleno direito daquelas que dependem de decisão judicial. 116

115
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 198. v. 3.
116
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 143-144. v. 3.
Nas companhias de capital aberto, o investidor insatisfeito com os rumos da gestão dos
negócios pode, a qualquer momento, vender os seus títulos no mercado pelo valor que melhor lhe
aprouver; mas, nos casos das companhias de capital fechado, essa alternativa, em regra, é mais difícil,
restando-lhe a alternativa da dissolução em exercício do seu direito de recesso.
Não é, contudo, proibido às companhias de capital aberto dissolver-se, mesmo que
parcialmente, sendo esta alternativa empregada para a correção de erros estruturais que engessam
investimentos alheios. Nesse sentido, tem-se um precedente jurisprudencial o qual reconhece que
a companhia foi constituída por subscrição pública dos seus valores mobiliários, mas se porta como
sendo uma companhia de capital fechado.
Analogamente, poderia ser reconhecida como uma companhia trans fechada, constituída
por subscrição pública de valores. Assim se apresenta, mas interage no mercado como sendo uma
companhia de capital fechado com a qual se identifica em verdade, conforme se verifica na
jurisprudência que segue.

APELAÇÃO CÍVEL. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE.


COMPANHIA DE SOCIEDADE ANÔNIMA DE CAPITAL
ABERTO, QUE ATUA NO MERCADO, ENTRETANTO, COMO
SE FOSSE DE CAPITAL FECHADO. Há a possibilidade de dissolução
parcial da Companhia ré, pois ela não se caracteriza de fato como uma
sociedade anônima aberta, pois embora esteja apta a negociar ações no
balcão de mercado não organizado, tal não ocorreu, tirando assim a
liquidez das ações, tal como uma sociedade anônima fechada. Na verdade
se trata de sociedade formada em caráter familiar e pessoal, na qual o
intuitu personae prevalece sobre o intuitu pecuniae, sendo possível a sua
dissolução parcial e a apuração de haveres com base no seu balanço
especial, como determina o art. 1.031 do CC e a súmula 265 do STF. Por
isso correta a sentença ao permitir a dissolução parcial da sociedade, pois,
na verdade, ela opera como se de capital fechado fosse, uma vez que suas
ações se mantém eternamente ilíquidas e, na saída de sócio, congeladas
quanto ao seu valor. 117

117
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Apelação Cível nº 70071296446, CNJ: 0339838-08.2016.8.21.7000.
Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/acordao-tj-rs-confirma-sentenca-acolheu.pdf. Acesso em: mar. 2023.

83
Em sentido próximo, conhecem-se estudos que consideram as inovações no procedimento
liquidatário impostas pelo CPC de 2015.

Inicialmente, destaca-se que o CPC/15 traz a expressão “dissolução parcial


de sociedade”, colocando em xeque o argumento esposado no sentido de
que tal dicção seria a técnica após a entrada em vigor do Código Civil de
2002, que nominou o instituto de “resolução da sociedade em relação a
um sócio” [...]. 118

Dessa forma, sugere-se a leitura do art. 206 da Lei nº 6.404/76 com ressalva ao entendimento,
até então consolidado, no sentido de que companhias de capital aberto não sofreriam dissolução
parcial, tendo na jurisprudência reproduzida um precedente a ser respeitável.

A enumeração das causas de dissolução é taxativa, não exemplificativa. Assim,


as causas são aquelas previstas em lei ou no estatuto, não se admitindo
interpretação análoga ou extensiva. As hipóteses de dissolução de pleno direito
são apenas aquelas especificadas nas alíneas do inciso I, não cabendo ao
intérprete adicionar outras. A dissolução por decisão judicial deve fundar-se
em alguma das situações previstas no inciso II, não podendo o juiz decretá-las
com base em causa diversa. Da mesma forma, a dissolução por decisão da
autoridade administrativa é vinculada à situação prevista em lei, que constitui
o pressuposto da legitimidade do ato. 119

Decidida ou determinada a forma de dissolução, passa-se aos procedimentos liquidatários, a saber.

118
ARRUDA, Pablo Gonçalves; MENDONÇA, Saulo Bichara. Dissolução societária à luz do novo código de processo civil
brasileiro: hermenêutica pragmática da norma protetiva do investimento privado. IV Congresso Internacional de Direito do
UBM. Direito, Desenvolvimento e Cidadania. Barra Mansa, RJ, Brasil. 24, 25 e 26 de agosto de 2016. Anais... Barra Mansa,
2016. GT II: Direito ao Desenvolvimento Socioeconômico, Integração Econômica e Direito Empresarial.
119
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 144. v. 3.
Liquidação da companhia
O procedimento de liquidação sucede à dissolução e antecede a extinção da companhia,
compreende uma série de atos interligados atinentes à apuração de haveres que corresponde ao
levantamento do patrimônio, ao saneamento das obrigações financeiras e à partilha do patrimônio
líquido remanescente, se houver, proporcionalmente à participação de cada acionista no capital social.
Não sendo uma liquidação judicial, os acionistas podem deliberar sobre a forma pela qual
os procedimentos liquidatários serão realizados, bem como nomear o agente liquidante que
deve proceder de forma diligente, eficaz, visando à redução de custos e ao atendimento dos
interesses envolvidos.

O liquidante constitui órgão de gestão e de representação da companhia, em


substituição aos diretores, que deve exercer suas funções durante todo o
período de liquidação. Trata-se de função remunerada; cabe à assembleia
geral estabelecer o valor de seus honorários e a forma de pagamento, anual
ou mensal, tendo em conta suas responsabilidades, o tempo dedicado às
funções, sua competência e o valor de seus serviços no mercado (artigo 152,
caput). Nada impede que se atribua ao liquidante, além da remuneração fixa,
um prêmio, caso logre êxito em suas atribuições, calculado sobre o saldo a
ser pago aos acionistas. 120

A liquidação se dará em decorrência da dissolução de pleno direito, por decisão judicial ou


por decisão da autoridade administrativa.
Na liquidação de pleno direito, observa-se o art. 208 da Lei nº 6.404/76, que atribui à assembleia
ou ao estatuto a legitimidade para determinar o procedimento liquidatário e a nomeação do liquidante,
determinado ainda que o conselho fiscal funcione durante o período de liquidação.
A liquidação judicial decorrerá dos casos de dissolução judicial, observado os arts. 206, II, e
209 da Lei nº 6.404/76, podendo ocorrer em atenção a pedido de qualquer acionista ou a
requerimento do Ministério Público, respeitados os pressupostos legais, sendo o liquidante
nomeado pelo juiz.
O parágrafo único do art. 209 retro aludido determina que, nesse tipo de liquidação, observe-
se o disposto na lei processual civil.

Destarte, a dissolução total de sociedade, quando judicializada, passará a


observar o procedimento comum previsto na Lei nº 13.105/15, não mais
se aplicando o procedimento especial previsto no CPC/39. Soma-se, ainda,

120
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 167. v. 3.

85
o fato de que o artigo 1.049 da referida Nova Lei Processual afirma que
“sempre que a lei remeter a procedimento previsto na lei processual sem
especificá-lo, será observado o procedimento comum previsto neste
Código”, e o artigo 1.111 do Código Civil e artigo 209, parágrafo único
da Lei nº 6.404/76 fazem essa exata referência. Por outro lado, a resolução
judicial da sociedade em relação a um sócio passa a ter procedimento
especial na Nova Lei Processual que disponibiliza onze dispositivos legais
para tratar a matéria (artigos 599 a 609). 121

No caso da liquidação decorrente da dissolução prevista no art. 206, II, c, da Lei nº 6.404/76,
observar-se-ão os procedimentos próprios da Lei nº 11.101/05, que reconhece ao administrador
judicial a responsabilidade pelos procedimentos liquidatários, consoante se verifica na leitura do
art. 22, I e III, da LFRE.
Uma vez que a assembleia geral delibere pelo rateio, entre os acionistas, da proporção que for
apurando nos haveres sociais, estes devem ser verificados antes do encerramento da liquidação e
pagos aos acionistas depois que todos os credores forem pagos.
Entre as alterações promovidas pela Lei nº 14.195/21, tem-se a faculdade constante no § 1º
do art. 215 da Lei nº 6.404/76, que autoriza à assembleia geral aprovar, pelo voto de acionistas que
representem, no mínimo, 90% (noventa por cento) dos ordinarialistas, condições especiais para a
partilha do ativo remanescente, com a atribuição de bens aos sócios, pelo valor contábil ou outro
por ela fixado. Tal partilha deve ser realizada depois de pagos ou caucionados os credores da
sociedade em liquidação.
Encerrada a liquidação, tem-se a extinção da companhia, conforme determina o art. 219,
I, da Lei nº 6.404/76, “mas essa extinção não prescinde do ‘cancelamento’ do registro da
companhia no Registro Público de Empresas Mercantis”. 122 Cabe ainda ao liquidante arquivar e
publicar a ata da assembleia geral na qual se registrou o encerramento da liquidação,
comprovando assim que se deu de forma regular a sua prestação de contas com a consequente
aprovação, bem como indicando aquele que tenha ficado com a posse e a guarda dos livros
contábeis e dos memoriais da companhia agora extinta.
O citado art. 219 ainda determina que a companhia pode ser extinta em decorrência da sua
participação em outras operações societárias, a saber.

ARRUDA, Pablo Gonçalves; MENDONÇA, Saulo Bichara. Dissolução societária à luz do novo código de processo civil
121

brasileiro: hermenêutica pragmática da norma protetiva do investimento privado. IV Congresso Internacional de Direito do
UBM. Direito, Desenvolvimento e Cidadania. Barra Mansa, RJ, Brasil. 24, 25 e 26 de agosto de 2016. Anais... Barra Mansa,
2016. GT II: Direito ao Desenvolvimento Socioeconômico, Integração Econômica e Direito Empresarial.
122
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 404.
Fusão
A fusão representa operação societária que acarreta a extinção das companhias envolvidas, “a
fusão leva à formação de uma personalidade jurídica nova, a qual resulta da combinação de
personalidades jurídicas distintas”. 123

Na prática, a fusão é muito pouco utilizada, uma vez que, mediante a


incorporação, obtém-se a unificação de 2 (duas) ou mais sociedades, com
o aproveitamento de vantagens fiscais e sem a necessidade de formar uma
nova sociedade, como todos os ônus decorrentes de tal procedimento. De
fato, não há qualquer argumento racional para se preferir a fusão à
incorporação. Eventualmente, em sociedades de pessoas, nas quais não
existam prejuízos fiscais a serem aproveitados, podem seus sócios escolher
a fusão, ao invés da incorporação, por razões de ordem puramente
psicológicas, para que uns não se sintam “engolidos” pelos outros. 124

Consoante prescreve o art. 228 da Lei nº 6.404/76, a nova companhia, formada pela união
das personalidades jurídicas fundidas, sucederá todos os direitos e as obrigações daquelas extintas.
Ainda nos termos da lei, caberá a cada companhia deliberar em assembleia sobre o modelo
de protocolo e a nomeação de peritos que deverão avaliar os bens componentes dos patrimônios
líquidos de titularidades das companhias fundidas.
Os laudos apresentados aos administradores prescindirão da convocação dos acionistas das
sociedades a serem extintas para a assembleia em que lhes será dada a ciência dos valores envolvidos,
permitindo-lhes decidir sobre a fusão e a consequente constituição definitiva da nova personalidade
jurídica. Ser-lhes-á, porém, vedado votar sobre o conteúdo do laudo de avaliação do patrimônio
líquido da sociedade de que fazem parte.
Aprovados os procedimentos e constituída a nova personalidade jurídica na forma de
companhia, caberá aos primeiros administradores nomeados promover o arquivamento e a
publicação dos atos da fusão, semelhante aos procedimentos complementares decorrente da
constituição de companhia.

123
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 1006.
124
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 252-253. v. 3.

87
Incorporação
A incorporação representa operação societária na qual uma vai absorver o patrimônio de
outra(s) integralmente, representando um “negócio jurídico plurilateral pelo qual se integram
patrimônios societários de duas ou mais sociedades”. 125

A grande vantagem da incorporação sobre a fusão é que na primeira a


incorporadora sobrevive, enquanto na segunda todas as sociedades
envolvidas desaparecem, sendo criada uma nova sociedade, com todas as
dificuldades inerentes ao processo, como novo registro no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ/MF, alvará de localização, inscrição
estadual, municipal e etc. Ademais, a legislação tributária permite um
melhor aproveitamento de prejuízos fiscais na incorporação, enquanto na
fusão há perda total dos prejuízos. 126

A companhia incorporadora não precisa ser nova, mas o ato da incorporação acarretará
extinção das incorporadas, conforme se depreende da leitura do art. 227 da Lei nº 6.404/76.

A incorporação apresenta necessariamente 3 (três) características: (i) a


passagem forçada dos acionistas da sociedade incorporada para a
incorporadora, exceto daqueles que exercerem o direito de recesso; (ii) a
transmissão total do patrimônio da incorporada para a incorporadora, que
a sucede em todos os seus direitos e obrigações; e (iii) a extinção, não a
dissolução, da sociedade incorporada. 127

A lei ainda exige que o protocolo da operação seja objeto de deliberação em assembleia e, se
aprovado, o mesmo órgão deliberativo deverá autorizar o aumento do capital social que será
subscrito e integralizado pelo patrimônio advindo da sociedade incorporada que converterá todo o
seu patrimônio líquido para a incorporadora.
Para tanto, deverão ser nomeados peritos que procederão à avaliação dos bens e apresentarão
laudos fundamentados à assembleia.

125
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 991.
126
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 242. v. 3.
127
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 242. v. 3.
A incorporação é tida como “horizontal” quando os acionistas de uma
sociedade são diferentes dos acionistas ou sócios de outra, caso em que
todo o patrimônio da incorporada é transferido à incorporadora a título
de aumento do capital. Já a incorporação “vertical” é aquela que todas as
ações de uma companhia, a subsidiária integral, são detidas por outra, a
controladora total, hipótese em que as ações da incorporada serão extintas
ou substituídas por ações em tesouraria da incorporadora. A incorporação
pode ainda apresentar uma feição híbrida, quando a incorporadora detém
apenas parte das ações da incorporada. 128

No que tange à incorporação vertical, citada pelo autor, cumpre observar que o art. 253 da Lei
nº 6.404/76 determina que, na proporção das ações que possuírem no capital da companhia, os
acionistas terão direito de preferência na aquisição das ações do capital da subsidiária integral, conforme
decisão da companhia em aliená-las no todo ou em parte, podendo ainda subscrever no aumento de
capital social da subsidiária integral, se a companhia decidir admitir outros acionistas.

O Colegiado da CVM, nas reuniões realizadas em 29.03.2011 e


16.08.2016 (Processo CVM nº RJ2010/13425 e Processo CVM nº
19957.003452/2016-48)72, entendeu que o disposto neste artigo apenas
se aplica às companhias convertidas em subsidiárias integrais em razão de
operação de incorporação de ações (artigo 252 da Lei nº 6.404/76).
Adicionalmente, na referida reunião de 29.03.2011, o Colegiado da CVM
concluiu que, nos casos em que o capital social da subsidiária é distribuído
entre dois ou mais acionistas, o regime próprio das subsidiárias integrais,
previsto no artigo 253, somente seria aplicável caso ficasse evidenciado que
a estrutura acionária foi constituída para fraudar a lei. 129

A companhia a ser incorporada, ao aprovar o protocolo da operação em tela, e registrará na


mesma ata de assembleia a autorização para que os seus administradores pratiquem os atos necessários
à incorporação, inclusive a subscrição do aumento de capital da companhia incorporadora.

128
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 242-243. v. 3.
129
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Ofício Circular/Anual-2022-CVM/SEP. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/
export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sep/anexos/oc-anual-sep-2022.pdf. Acesso em: mar. 2023.

89
Os acionistas da incorporadora, salvo os que exercerem o direito de recesso,
têm passagem forçada para a incorporadora, recebendo as novas ações de
emissão da incorporadora, correspondentes ao aumento do capital
verificado pela absorção do patrimônio líquido da incorporada.
O direito de recesso acima aduzido, entretanto, não tocará aos titulares de
ações da incorporada de espécie ou classe que tenham liquidez e dispersão
no mercado (art. 137, II). Os acionistas da incorporadora, por falta de
previsão legal, não fazem jus à retirada. 130

Quando o laudo de avaliação e a incorporação forem aprovados em assembleia realizada pelos


acionistas da companhia incorporadora, extinguir-se-á a incorporada, cabendo à primeira proceder ao
arquivamento e à publicação dos atos da incorporação, em tributo ao princípio da publicidade.

Cisão
A cisão é a operação societária pela qual uma companhia transfere total ou parcialmente o
seu patrimônio para uma ou mais companhias constituídas para esse fim ou pré-existentes.
Extinguir-se-á a companhia cindida se houver transferência total do seu patrimônio; sendo parcial,
dividir-se-á o seu capital social.

Não obstante essa feição de desconcentração que lhe é marcante, pode a


cisão ser usada como instrumento de concentração, através da combinação
de operações em que o patrimônio da sociedade é cindido como etapa
preparatória à incorporação da sucessora de parte desse patrimônio para
outra sociedade.131

De acordo com os termos do art. 229 da Lei nº 6.404/76, a sociedade que absorver
parcialmente o patrimônio da companhia cindida lhe sucederá em direitos e obrigações,
especificamente relacionados no ato formal da cisão.
Em caso de cisão com conversão total de patrimônio, aquelas sociedades que absorverem
parcelas do patrimônio da companhia cindida lhes sucederão proporcionalmente ao montante do
patrimônio líquido transferido a cada uma, mantendo a integridade dos direitos e das obrigações
relacionados e pré-constituídos, respeitando a natureza desta operação societária.

130
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 412.
131
CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 414.
A cisão tem raízes na prática empresarial, obedecendo, na maioria dos casos,
aos objetivos da racionalização e reorganização de estruturas empresariais
existentes, permitindo que a finalidade lucrativa do empreendimento seja
alcançada de forma diversa da original, mediante a realocação de seu
patrimônio. Daí a sua caracterização como uma “modificação estrutural da
sociedade”; trata-se de instrumento jurídico que possibilita à empresa,
organizada sob a forma de sociedade, adequar a sua estrutura às exigências
do desenvolvimento de negócios. 132

Igualmente, as demais operações societárias que podem acarretar extinção de personalidade


jurídica. Na cisão, os bens que compõem o patrimônio das companhias envolvidas deverão ser
avaliados por peritos nomeados que deverão apresentar os seus pareceres e laudos à assembleia para
aprovação. O mesmo órgão deliberativo deverá registrar as considerações sobre o protocolo,
conforme os arts. 224 e 225, respectivamente, ambos da Lei nº 6.404/76.
Observe que a cisão com versão parcial de patrimônio em sociedade já existente muito se
assemelha à incorporação, tanto que o § 3º do art. 229 da lei em tela determina que, neste caso,
observar-se-ão as disposições atinentes à incorporação, nos termos tratados no item Incorporação
deste estudo.
A cisão total exigirá dos administradores da(s) companhia(s) que absorverem o patrimônio
que procedam ao arquivamento e à publicação dos atos pertinentes à operação societária em tela.
Em caso de cisão parcial, essa obrigação recairá sobre os ambos os administradores, os da companhia
cindida e os da companhia que absorver parcialmente o patrimônio.
Ainda como consequência do procedimento de cisão, a substituição dos valores mobiliários
de titularidade dos acionistas será imprescindível para atualizar a participação societária de cada um.
Assim, as ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida deverão ser
atribuídas aos seus titulares, em substituição às ações emitidas pela(s) companhia(s) extinta(s),
respeitadas as proporções que cada investidor possuir, evitando diluição da participação societária,
enriquecimento sem causa ou empobrecimento injustificado.
A legislação não nega, porém, o direito de se proceder à atribuição desproporcional. Porém,
neste caso, dever-se-á registrar em ata de assembleia a aprovação de todos os titulares, inclusive os
titulares de ações sem direito a voto (preferenciais).

132
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada: arts. 189 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 256. v. 3.

91
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VALVERDE, Trajano de Miranda. Sociedade por ações. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1953. v. 1.
PROFESSORES-AUTORES
Pablo Gonçalves e Arruda
Formação acadêmica
 Advogado.
 Pós-graduado em Direito do Consumidor pela PUC-RJ.
 Mestrando em Direito pela Universidade Veiga de Almeida.

Experiências profissionais
 Coordenador do Núcleo de Direito Empresarial do Instituto Brasileiro de Direito dos
Negócios.
 Expositor da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, Escola de Magistratura
Federal do Paraná, Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro,
Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e Fundação Escola
Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.
 Pesquisador do Grupo de Pesquisa Direito e Sustentabilidade Econômica.

Publicações
Autor de diversas publicações, entre elas:
 ARRUDA, Pablo G.; MENDONCA, S. B. A inobservância dos termos fundamentais da
teoria da empresa por normas positivadas: estudo de caso da Eireli constituída para fins
não empresariais. Revista Jurídica (FIC), v. 4, p. 586-608, 2016.
 MENDONCA, S. B.; ARRUDA, Pablo G. O microempreendedor individual à luz da teoria
poliédrica de Alberto Asquini. Revista Brasileira de Direito Empresarial, v. 2, n. 1, 2016.
 MENDONCA, S. B.; ARRUDA, Pablo G. O microempreendedor individual à luz da
teoria poliédrica de Alberto Asquini. In: TOMAZ, Carlos Alberto Simões de; RIBEIRO,
Maria de Fatima; SOUZA, Roney José Lemos Rodrigues (Orgs.). Direito Empresarial. 1.
ed. v. 1. Florianópolis: Conpedi, 2016. p. 428-444.
 ARRUDA, Pablo G.; MADURO, M. O novo investidor anjo nas startups a partir da LC
155/16 (parte 1). Migalhas, 24 jul. 2017. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/
depeso/262391/o-novo-investidor-anjo-nas-startups-a-partir-da-lc-155-16-parte-1.
Acesso em: mar. 2023.

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 ARRUDA, Pablo G.; SOARES, N. M. A natureza jurídica da incorporação de ações segundo
a doutrina. Migalhas, 26 jun. 2017. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/
depeso/260875/a-natureza-juridica-da-incorporacao-de-acoes-segundo-a-doutrina.
Acesso em: mar. 2023.
 ARRUDA, Pablo G.; SOARES, N. M. As novas instruções normativas DREI. Migalhas,,
3 abr. 2017. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/256660/as-novas-
instrucoes-normativas-drei. Acesso em: mar. 2023.
 ARRUDA, Pablo G. A dissolução (total e parcial) de sociedade no novo CPC. Migalhas,
1 mar. 2016. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/234881/a-dissolucao-
total-e-parcial-de-sociedade-no-novo-cpc . Acesso em: mar. 2023.
Saulo Bichara Mendonça
Formação acadêmica
 Pós-doutorado em Direito pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro.
 Doutor em Direito pela Universidade Veiga de Almeida.
 Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho.
 Especialista em Direito Público e Relações Privadas e especialista
em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito de Campos.

Experiências profissionais
 Coordenador do Grupo de Pesquisa Direito e Sustentabilidade Econômica.

Publicações
Autor de diversas publicações, entre elas:
 MENDONÇA, S. B. Empresa: atividade econômica organizada. 1. ed. v. 1. Rio de
Janeiro: Multifoco, 2017. 219 p.
 MENDONÇA, S. B. Empresário individual de responsabilidade limitada: limites e
possibilidades como fomento à microempresa. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2014. 226 p.
 MENDONÇA, S. B. Recuperação judicial das microempresas e empresas de
pequeno porte: visão constitucionalizada do plano especial de recuperação. 1. ed. Rio de
Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2011. 191 p.
 MENDONÇA, S. B.; SOUZA, H. A. Isonomia nas contratações de microempresas. In:
ASENSI, Felipei; SOUZA JÚNIOR, Arthur Bezerra de (Orgs.). Microempresa: gestão
inovadora e direito. 1 ed. Rio de Janeiro: Multifoco Ágora, 2015. p. 1-10.
 MENDONÇA, S. B.; BARRETO, A. C. C. A integralidade do capital social com bens
imóveis e inexigibilidade de escritura pública. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira
da; OLIVEIRA, Carla Fernandes de (Orgs.). Direito Imobiliário, Notarial e Registral:
perspectivas contemporâneas. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. p. 1-270.
 MENDONÇA, S. B. Justiça e gestão na área de petróleo e gás. In: TAVEIRA, Izabela
Maria Rezende; MACIEL, Fabianne Manhães; SOARES JÚNIOR, Roberto Pires;
SOUZA, Heron Abdon (Orgs.). Eficiência dos contratos a partir da boa-fé. 1.
ed.Curitiba: CRV, 2015. p. 1-342.
 MENDONÇA, S. B.; ARRUDA, P. G. E. A inobservância dos termos fundamentais da
teoria da empresa por normas positivadas: estudo de caso da Eireli constituída para fins
não empresariais. Revista Jurídica (FIC) , v. 4, p. 586-608, 2017.
 MENDONÇA, S. B. ; ARRUDA, P. G. E. O microempreendedor individual à luz da teoria
poliédrica de Alberto Asquini. Revista Brasileira de Direito Empresarial, v. 2, n. 1, 2016.

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