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1 – Paradigmaticamente, uma proibição é uma proibição de uma ação e uma obrigação é uma
obrigação de uma ação. Mas há que fazer três ressalvas quanto a isso. Estas ressalvas são o
objeto deste texto.
2 – A primeira ressalva consiste no seguinte. Uma proibição também pode ser vista como
uma obrigação: obrigação de uma omissão. Portanto, e falando em ‘dever’ em vez de
‘obrigação’, há que distinguir os deveres de ação (obrigações) dos deveres de omissão
(proibições).
Quando se trata da violação de cada um desses deveres e da correspondente punição, há
que fazer a seguinte inversão: a violação de um dever de ação (de uma obrigação) consiste
numa omissão, pelo que se será punido por essa omissão; a violação de um dever de omissão
(de uma proibição) consiste numa ação, pelo que se será punido por essa ação.
Assim, quando se diz que, em Direito Penal, são punidas primordialmente ações, isso
significa que são punidas primordialmente as violações de deveres de omissão (proibições).
E, quando se diz que, em Direito Penal, são punidas fragmentariamente omissões, isso
significa que são punidas fragmentariamente as violações de deveres de ação (obrigações).
Portanto: responsabilidade por ação = incumprimento de uma proibição; responsabilidade
por omissão = incumprimento de uma obrigação.
3 – A segunda ressalva prende-se com o facto de ter falado em ações e omissões quando as
obrigações e proibições penais se estendem muito para além do âmbito das ações e omissões.
Cada etapa da imputação do facto ao agente tem o par proibição-obrigação respetivo,
intimamente ligado ao par controlo-evitabilidade (proibição quanto ao controlo, obrigação
quanto à evitabilidade).
Para a voluntariedade, teremos algo como ser proibido que o João queira disparar sobre a
Maria (ou ser um dever que não o queira) – dever de ausência de volição – e ser obrigatório que
o João bloqueie o impulso nervoso de disparar sobre a Maria (tendo capacidade de volição,
parte do encéfalo encarre de tal a funcionar) – dever de volição.
Para a tipicidade subjetiva, teremos algo como ser proibido que o João queira
conscientemente disparar sobre a Maria (ou ser um dever que isso não aconteça) – dever de
ausência de dolo – e ser obrigatório que o João frustre, ao tomar consciência, o querer disparar
sobre a Maria (tendo capacidade de se informar) – dever de diligência.
Para o conhecimento da proibição, teremos algo como ser proibido que o João queira
conscientemente disparar sobre a Maria sabendo que tal é proibido (ou ser um dever que isso
não aconteça) – dever de ausência de dolo da norma – e ser obrigatório que o João frustre, ao saber
que é proibido disparar sobre a Maria, o querer conscientemente fazer isso (tendo capacidade
para se informar sobre a proibição) – dever de diligência da norma.
Para a culpa, teremos algo como ser proibido que o João decida livremente disparar sobre
a Maria (ou ser um dever que isso não aconteça) – dever de ausência de livre volição – e ser
obrigatório que o João resista à compulsão de disparar sobre a Maria (tendo capacidade de
decisão) – dever de livre volição.