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Crime
O código penal dá-nos uma definição de crime. Definição legal: Crime ou delito é o
facto voluntário declarado punível pela lei penal (art. 1 do CP).
O crime é um facto, mas para que esse facto possa qualificar-se como crime é
necessário submetê-lo a uma tríplice ordem de valoração: facto tem de ser típico, tem
de ser ilícito e tem de ser culpável. Verificando-se estes três elementos teremos um
crime ao qual se liga uma consequência, uma pena ou uma medida de segurança
criminal.
Para que se verifique determinado tipo legal crime é necessário que todos os seus
elementos constitutivos estejam reunidos, sejam analisados cumulativamente.
1. Acção
Referimo-nos ao comportamento humano, expresso de forma voluntária e
consciente. A acção pode ser positiva/ facere (actuante) ou negativa/ omittere
(manifestada pela inactividade, a abstenção, a omissão é não fazer) que produz
um resultado (alteração do mundo exterior). Falaremos adiante sobre esta
figura.
1
em cada momento histórico como merecedores de censura, na medida em que violam
valores essenciais da comunidade.
A ACÇÃO
A acção humana é o ponto de partida de todo o direito criminal. Antes que um facto
possa considerar-se típico, ilícito e culposo, ele tem de configurar uma acção. O
pressuposto de todo o crime é a existência de uma acção.
A acção (em sentido lato) consiste na negação de valores ou interesses pelo homem.
Contudo, somente a determinação destes valores como específicos valores juridico-
criminais é que faz penetrar a acção no mundo criminal.
No âmbito do Direito Criminal o conceito de acção abrange não só a acção em sentido
restrito ou positivo (o facere), como também a omissão/ acção negativa (o omittere). E,
como o suporte de valores pode ser não só a actividade ou a omissão, mas também o
resultado por ela produzido, a negação de valores pode traduzir-se em :
1- Acção (em sentido restrito) também designada na expressão latina por facere.
Refere-se àquela em que o agente faz alguma coisa que não deve:
a) Quando não se considera o resultado na negação de valores estamos em
face de uma mera actividade/ crimes formais. Nestes crimes só o evento
jurídico é essencial, esgotando-se com a simples conduta. Ex. Tentativa de
envenenamento.
b) Quando se considera o resultado na negação de valores estamos em face de
acções que produzem resultados ou crimes materiais. Nestes casos é
essencial não só a conduta jurídica mas também a verificação do resultado.
Exemplo : Ofensas corporais.
Nota:
2
A Omissão traduz-se em deixar de fazer alguma coisa, em deixar de se levar a cabo
uma certa actividade que num dado momento se esperava. O fundamento desta
expectativa é a existência de um dever jurídico de actividade dirigido a um sujeito, de
modo que a compreensão da omissão só se alcança graças a compreensão de um
elemento normativo, de um dever ser, isto é, estamos a falar de um elemento
normativo.
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- Os movimentos praticados sob o impulso de forças irresistíveis.
3- O resultado
A acção terá necessariamente de englobar um resultado (por si produzido). Sempre
que o resultado ou a violação do interesse ou bem jurídico se possa imputar a acção
levanta-se a questão do nexo de causalidade (veremos adiante).
Críticas :
1- Resulta de fundamentos metodológicos de que parte da doutrina finalista
procura trazer dados que porventura pertençam as estruturas ontológicas,
isto é, determinados pela lógica das coisas. Todavia, os tratadistas
consideram que a própria ordenação e a estrutura da vida e das coisas criam
já, elas próprias, certas necessidades e impõem certos fins.
2- Esta dá-nos um conceito de acção que se considera estranho ao direito
criminal, pois o dolo integra o conceito de acção e não da culpa, ou seja,
tendo em conta esta teoria não se considera a acção como actividade, mas
sim a sua relação com os fins previamente valorados pela ordem jurídica
como proibidos ou permitidos.
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Nexo de causalidade
A acção ou a conduta do agente pode interessar o resultado decorrente daquele
movimento produzido. Quando da acção resulte um determinado resultado, é
necessário saber se se pode imputar verdadeiramente o resultado ao movimento
corpóreo do agente. Com isto, pretende-se dizer que é preciso investigar se e em que
termos entre eles se pode estabelecer o nexo de causalidade. Para resolver esta
questão tem sido propostas várias teorias.
Crítica :
1ª Ela pode conduzir a exageros : Ao pai deveriam ser imputadas todas as condutas do
filho, porque sem aquele este, e portanto as suas condutas se não poderiam
conceber;
2ª Ela dá lugar a desigualdades (trata de forma desigual situações similares ou iguais);
Por exemplo A e B dão nas mesmas condições uma pancada respectivamente a C e
D. D sofre sem que ninguém saiba de hemofilia e a ferida que lhe causa B
provoca-lhe a morte. Pelo contrário em C, que é pessoa normal, a pancada
produz simplesmente lesões corporais. Assim, a luz desta teoria imputavam-se
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dois resultados inteiramente diferentes a uma actividade perfeitamente igual
(desigualdade de tratamento).
Esta teoria não permite diferenciar as causas relevantes das irrelevantes.
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Ex. A esmaga pedaços de vidro, mistura na comida que serve a B. B vem a perder a
vida.
NB : A acção (negação de valores) não interessa qualquer resultado da actividade
humana, mas só o resultado adequado. A adequação consiste na sua
previsibilidade como consequência normal, típica de uma conduta.
TIPICIDADE E ILICITUDE
A Tipicidade constitui o segundo elemento formal do conceito de infracção criminal.
Tipicidade é a adequação entre o facto praticado pelo homem e a norma descrita na lei
criminal como crime. Portanto, tipicidade é o preenchimento de um tipo legal de crime.
No Tipo legal de crime, o legislador descreve aquelas expressões da vida humana que
reflectem a negação de valores jurídico-criminais, que violam, portanto, bens ou
interesses jurídico-criminais. Neles (tipo legal de crime) o legislador fórmula de maneira
típica a conduta penalmente punível, ou seja, antijuridicidade ou a ilicitude criminal. Ou
seja, a tipicidade é um elemento do facto típico. Se não houver tipicidade o facto será
atípico e, portanto, não haverá crime.
Importa referir que a função punitiva não se contenta apenas com a tipicidade. Um
facto pode ser típico e não ser criminoso ou antijurídico, como veremos de seguida.
Será ilícito um facto definido na lei penal, sempre que não for protegido por causas
justificativas, também previstas na lei. Assim, se um homem mata outro em legítima
defesa, realiza tipicamente um homicídio (art. 155 do CP), porém não há crime, por
inexistir antijuridicidade.
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especiais ou próprios, quem não possuir a característica prevista no tipo só pode
ser co-autor ou cúmplice exigindo-se sempre que haja um agente com a
característica exigida por lei.
O Código Penal utiliza na descrição dos tipos a expressão “aquele que” para
designar que qualquer pessoa pode ser agente do crime, enquanto nos crimes
especiais se refere ao agente pelas suas características especiais.
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Crimes materiais de resultado são aqueles que exigem a verificação do resultado, ou
seja, são aqueles em que o tipo exige a verificação de um evento material, ofensa de
um objecto material. Ex. Homicídio- art 155 do CP, crime de danos- art. do CP)
Crime de dano é aquele que não se consuma apenas com o perigo, é necessário que
se verifique a efectiva lesão do bem jurídico tutelado.
Tipos de Tipicidade
É possível traçar alguns aspectos particulares de certos tipos legais de crime. Nestes
termos, é costume falar-se em tipos plurais, tipos dependentes ou relativos, tipos
independentes ou autónomos, tipos que protegem bens jurídicos eminentemente
pessoais, tipos fundamentais e tipos privilegiados ou qualificados, tipos complexos,
tipos de crimes habituais e tipos de crimes permanentes.
a) Tipos plurais são aqueles em que o legislador ameaça num só preceito com uma
pena, alternativa ou cumulativamente, uma pluralidade de tipos de crimes. Ex.
Trafico de pessoas.
b) Tipos dependentes são aqueles em que pode ser necessário recorrer a cada um
dos tipos descritos na lei (independentes, autónomos) para integrar certas outras
disposições (relativas e independentes) como são as que versam sobre a
tentativa (artigo 14 do CP) ou a participação, originando-se outras tantas figuras
de delitos.
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Há disposições que visam proteger bens eminentemente pessoais tais como a vida, a
integridade física, a honra, a liberdade. Trata-se de bens jurídicos que se não podem
desligar da personalidade, que apenas podem ser violados na pessoa que os cria com
o simples existir. Por isso, o legislador só pode protegê-los individualmente nas
pessoas dos seus portadores.
d) Tipos fundamentais são aqueles que estão na base da parte especial de todos
os sistemas criminais. Existe determinado número fundamental de delitos que
constituem por assim dizer a espinal-medula de determinado sistema: homicídio
(art. 155 do CP); ofensas corporais (art. 170 CP); furto (art. 270 CP); injuria (art.
231 CP).
Partindo destes tipos e acrescentando-lhes circunstâncias modificativas (atenuantes ou
agravantes), que alteram a moldura penal abstracta, o legislador constrói outras figuras
de delitos.
e) Tipos habituais são aqueles que são caracterizados pelo facto da prática
habitual ou profissional da mesma actividade como elemento constitutivo ou
circunstância qualificativa dos respectivos crimes, ou seja, são aqueles que
exigem uma multiplicidade de actos, de modo a levarem a um certa
habitualidade por parte do agente, sem que porém nenhum deles constitua o
crime habitual, pois este é constituído precisamente pela reiteração desses
actos, pela persistência na actuação criminosa, reiteração que revela uma
tendência ou hábito da vontade. Ex. Lenocínio art. 227 do CP.
f) Tipos permanentes são aqueles que o evento se prolonga por mais ou menos
tempo, isto é, é uma situação duradoura, que se arrasta no tempo e que só
termina com a prática de novo facto que restitua a situação. Ex. Cárcere privado
art.200 do CP. Já os crimes instantâneos são aqueles em que a consumação
ocorre em um momento certo (homicídio, furto, etc).
CULPA
A palavra culpa em sentido corrente significa que uma pessoa é responsável por um
acto censurável. Responsabilidade é a capacidade de responder, do homem se
comprometer e responder pelos actos que pratica e pelas suas consequências.
Importa-nos falar da culpa no âmbito do Direito criminal.
A culpa consiste na censura ético-jurídica dirigida a um sujeito por não ter agido de
modo diverso. Isto significa que, a culpa está ligada a liberdade do agente, a aceitação
do seu poder de agir de outra maneira.
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De referir que, a palavra culpa é também usada num sentido mais restrito, como
sinónimo de negligência, contrapondo-se então ao dolo, como uma das modalidades
da culpa.
Gozar das suas plenas faculdades intelectuais significa ter o livre arbítrio, ou seja, a
capacidade de discernir o bem do mal.
Inimputabilidade consiste na falta de censura do agente que não gozando das suas
plenas faculdades intelectuais age de modo contrário a lei.
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Os menores de 16 anos são absolutamente inimputáveis não sendo possível aplicar-
lhes medidas de carácter criminal [cf. alínea a) do art. 46 CP e 135 do CP sobre o
tratamento de menores inimputáveis em razão da idade].
Causas da inimputabilidade
Foi a partir do século XVIII que as anomalias psíquicas passaram a ser consideradas
como uma doença. É inimputável quem por força de anomalia psíquica, for incapaz no
momento da prática dos factos de avaliar a sua ilicitude, ou seja, aquele que sofrer de
qualquer transtorno mental ou intelectual que impeçam o agente de compreender o
carácter ilícito do facto ou de se conduzir de acordo com essa compreensão. As
expressões loucura e demência devem ser entendidas como sinónimas.
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O fundamento para a inimputabilidade em razão da anomalia psíquica encontra-se
consagrada na alínea b) do art. 45 CP e alínea b) do art. 46 CP (Cf. Eduardo Correia
sobre os tipos de anomalia psíquica).
NB: O nosso Código penal refere nos art.53 do CP sob a epígrafe privação voluntária e
acidental da inteligência, a embriaguez. Sobre esta matéria cf. Correia (2010, p.362-
366).
Para que a culpa do agente por um facto exista, não basta aquela capacidade de ser
objecto de censura e a existência de um facto. É necessário que este possa ser
subjectivamente imputado ao agente à título de dolo ou de negligência.
2.1 Dolo traduz-se na vontade por parte do agente de realizar o acto e de obter o seu
resultado conhecendo a sua ilicitude. Na estrutura do dolo pode-se destacar dois
elementos nomeadamente um elemento intelectual e um elemento emocional.
Dolo directo é aquele em que o agente tem como fim, como intenção a realização do
facto criminoso, isto é, o agente quer, deseja o resultado da sua conduta (cf. N°1 do
art.3 do CP).
Ex. A golpeia com uma catana em diferentes partes do corpo de B e, este vem a perder
a vida.
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Dolo necessário é aquele em que o agente tendo porventura outro fim diferente, prevê
o facto criminoso como consequência necessária da sua conduta e, no entanto, não se
abstém da sua prática (Cf. N°2 do Art.3 do CP).
Ex. No caso do homicídio em que o agente não tem o propósito de tirar a vida ao
ofendido, mas 2° as regras da experiência era-lhe fatalmente previsível que com os
factos praticados a morte ocorreria mesmo.
Ex. Tomando o exemplo do homicídio, o agente nesta situação não tem a intenção de
tirar a vida ao ofendido, nem tão pouco prevê que a sua acção possa conduzir
fatalmente a esse resultado. Aqui ele actua com indiferença pelo que possa acontecer,
tanto dando origem a morte como não, e não lhe repugnando se ela vier a ter lugar.
Analisemos o caso do automobilista que passa pelo semáforo vermelho e mata alguém
em resultado de um choque entre carros.
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A questão da negligência revela-se importante pois têm-se multiplicado os tlc’s de
homicídio involuntário e ofensas corporais involuntárias resultantes de acidentes de
rodoviários.
Regra geral, o n°2 do art. 4 estipula que a punição da negligência, nos casos
especialmente determinados na lei, funda-se na omissão voluntária de um dever.
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AS CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO DO FACTO OU DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE
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O fundamento comum a todas as causas de justificação do facto reside na existência
de uma colisão de interesses _ o interesse tutelado pela norma incriminadora e o
tutelado pela norma que estabelece a causa de justificação.
1. LEGITIMA DEFESA
É um conceito tratado com profundidade no Direito Penal e no Direito das obrigações.
É a mais antiga e comum das causas de justificação do facto.
Como dissemos anteriormente, a legítima defesa [prevista na alínea b) do artigo 48 e
no artigo 50 do Código Penal e no artigo 337 do Código Civil] constitui uma causa de
justificação do facto, provando-se a sua verificação, a ilicitude do facto é excluída e,
consequentemente a responsabilização criminal do agente também fica excluída.
Sobre a Legítima defesa José Dias Marques 1 ensina-nos que «por via da legítima
defesa considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer agressão dirigida
contra o agente ou terceiro, desde que na agressão e na defesa se verifiquem os
requisitos de que a lei faz depender aquela justificação.
Exemplo: A pretende apunhalar B, que, com um tiro num braço, o impede que A
prossiga a agressão».
São dois os fundamentos da legítima defesa aceites pela doutrina dominante, por um
lado a necessidade de defesa da ordem jurídica, por outro a necessidade de protecção
dos bens jurídicos individuais ameaçados pela agressão2.
A legítima defesa fundamenta-se, em termos objectivos, na consideração de que o
Direito não deve ter de ceder perante o ilícito e subjectivamente, no reconhecimento
aos cidadãos de um direito de autodefesa dos seus interesses. O agressor viola a paz
jurídica e ameaça bens determinados. O defendente protege o direito objectivo e os
seus interesses3.
A LD não se corporifica em revide ou vingança, mas em defesa. Não constitui desforço
ou retaliação, mas protecção.
Legítima defesa pode ser própria ou alheia
Podemos recorrer a legítima defesa para defender os nossos próprios interesses
(legítima defesa própria) ou para defender interesses doutras pessoas (legítima defesa
alheia).
Requisitos da LD
1
Introdução, pag. 76
2
Figueiredo Dias (2004), Direito penal- Tomo 1, Coimbra Editora.
3
Godinho, Jorge (1993), Legitima defesa.
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1° Agressão e defesa
Um acto de defesa não se pode conceber sem agressão. A agressão e defesa são
conceitos correlativos. O acto de defesa é o acto ou facto de repelir uma agressão.
Agressão deve ser entendida como um comportamento humano a um bem
juridicamente protegido. Agressão é toda a conduta que ataca um bem jurídico. Só as
pessoas humanas, portanto, praticam agressões.
A agressão pode ser dirigida contra um bem jurídico. E este pode ser do próprio
defendente como de terceiro. A defesa pode atingir bens de qualquer natureza do
agressor.
2° Ilicitude da Agressão
É necessário que a agressão seja ilícita. A agressão não deve ser motivada por
provocação, ofensa ou qualquer crime actual praticado pelo que defende/defendente. A
agressão não tem de constituir crime, basta que seja objectivamente ilícita, injusta. A
agressão não carece pois de ser culpável, basta que seja contrária ao direito, que lese
ou ponha em perigo de lesão interesses juridicamente tutelados do defendente ou de
terceiro, sem que o agente tenha o direito ou dever de fazê-lo.
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preparar os meios para afastar uma agressão súbita portando uma arma e se a
agressão ocorrer, ela matar o agressor não se lhe pode imputar uma premeditação
deste homicídio e condená-lo por homicídio qualificado (na falta de facto justificativo da
infracção pode verificar-se uma causa de atenuação da pena : circunstâncias
atenuantes, provocação) ele terá somente, premeditado a sua LD.
4° Necessidade da agressão
Perante uma agressão actual e ilícita não pode reagir-se de qualquer forma, por
quaisquer meios e sem limites; a defesa para ser legítima tem de ser necessária. O
facto para repelir a agressão tem de consistir no meio necessário para repelir a
agressão. A necessidade só se verificará se o facto idóneo para afastar a agressão for
o menos prejudicial entre os meios de defesa possíveis numa situação concreta.
O meio mais prejudicial não é necessário, se outro meio menos prejudicial for
igualmente eficaz. O meio mais grave de entre os adequados a repelir a agressão não
é legítimo porque não é necessário, é abuso da defesa e não exercício legítimo da
defesa.
Tenha-se em conta que a necessidade do meio não é aferida em razão da qualidade
do instrumento, mas do resultado da sua utilização. A necessidade do meio afere-se
em razão dos danos causados e será o meio necessário se entre os igualmente
eficazes for o que causar dano menor. A defesa não necessária constitui abuso do
exercício do direito de defesa, é uma defesa excessiva, logo injusta.
6° Necessidade e racionalidade do meio empregue
Na acção de defesa devem ser usados os meios necessários para repelir a agressão
actual e ilícita. O meio será necessário se for um meio idóneo para deter a agressão e,
caso sejam vários meios adequados de resposta, ele seja o menos gravoso para o
agressor.
Quando estejam disponíveis vários meios para reagir à agressão, o defendente deve
empregar o meio menos gravoso à sua disposição. O meio menos gravoso é aquele
que menos dano causa ao agressor, em condições de razoável indiferença para o
agredido. Pode-se diferenciar entre a espécie do meio (p. ex. é menos gravoso reagir à
paulada do que a tiro) ou a quantidade da lesão (p. ex. é menos gravoso disparar para
o ar do que para as pernas ou para a cabeça). São abrangidos pela legítima defesa as
acções dirigidas ao agressor e aos meios por este empregues na agressão.
Evidentemente que tem de existir certa proporcionalidade pois não se deve conceber
que os meios de defesa empregues sejam susceptíveis de produzir um resultado
desprovido de correlação com o ataque real ou desproporcional relativamente a
gravidade da agressão. Em suma, a resposta deve se proporcional a intensidade do
ataque.
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5° Impossibilidade de recorrer a força pública
7° Animus defendendi
A intenção do defendente deve ser de se defender, de suster a agressão. Este requisito
resulta da doutrina dominante.
A defesa é permitida com vista a parar a agressão. Isto não significa que apenas se
possa rechaçar a agressão mas não já contra-atacar (defesa ofensiva). Pode-se fazer
tudo (e apenas) o que for necessário para parar a agressão. A lesão infligida ao
agressor deve ser o menor possível.
Quid júris relativamente a agressão de inimputáveis? Agressão não precisa ser
culpável, basta que seja objectivamente ilícita. Deste modo há direito de defesa contra
agressão de inimputáveis, contra agressão não intencional ou mesmo não culposa.
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O excesso de legítima defesa é um crime punível, doloso ou negligente, consoante o
caso, aplicando-se, nos termos gerais, a distinção entre dolo e negligência e a regra da
punibilidade dos crimes negligentes a título excepcional.
Caso o excesso de legítima defesa, doloso ou culposo, seja motivado por perturbação
ou medo desculpável o agente não é punido (n° 2 do artigo 48 do CP).
Nota:
José Dias Marques4 ensina-nos que «o que há de característico na legítima defesa é
que ele pressupõe uma agressão ilegal do direito que se defende. Por vezes, porém, o
direito encontra-se numa situação de perigo, resultante de factos stricto sensu e, daí,
insusceptível de configurar-se como resultado de uma agressão determinada por uma
vontade alheia. (…) Em tais casos, para obviar a que se inutilize o interesse
juridicamente protegido, admite a lei, ao lado de um “direito de defesa”, também um
“direito de necessidade”, cujo exercício torne lícitos certos actos que, de outro modo, o
não seriam (artigo 339.º do Código Civil). Exemplo: A utiliza o automóvel de B, sem
autorização deste, para transportar ao hospital um ferido em estado grave; ou invade o
quintal do vizinho para dele retirar seu cavalo que aí caiu em um poço e está em risco
de afogar-se».
2. ESTADO DE NECESSIDADE
O estado de necessidade está consagrado hoje no artigo 49 e alínea a) do n˚ 1 do
art.48 do CP. Constitui uma causa exculpativa a propósito do medo insuperável de mal
igual e maior [alínea b) do n 2 do arti. 48 do CP].
Estado de necessidade constitui causa de exclusão da ilicitude da conduta de quem,
não tendo o dever legal de enfrentar uma situação de perigo actual, a qual não
provocou por sua vontade, sacrifica um bem jurídico ameaçado por esse perigo para
salvar outro, próprio ou alheio, cuja perda não era razoável exigir.
EN é a situação em que determinada pessoa, para salvaguardar um interesse superior,
não dispõe de outros meios senão a violação de um bem jurídico protegido por lei.
Por vezes acontece que uma pessoa tenha necessidade de cometer voluntariamente
uma infracção prejudicial a outrem para escapar à ameaça de um perigo, ou para
salvar uma terceira pessoa da ameaça de um perigo iminente.
Pode-se dar o exemplo de uma mãe desprovida de recursos que rouba alimentos para
alimentar os seus filhos famintos ou que rouba carvão para aquecê-los no inverno.
Um outro exemplo é o do automobilista que decide ir embater contra outra viatura ou
contra um animal para evitar atropelar um peão imprudente.
4
Introdução..., pags. 76/77
21
Fundamento
O Estado de Necessidade pode-se comparar a LD no que diz respeito à necessidade
das infracções cometidas. Aquele que invoca a LD é uma vítima enquanto, o que
invoca o EN é o agressor.
O aborto terapêutico com o objectivo de salvar a vida da mãe pode-se enquadrar no
Estado de Necessidade.
Requisitos do EN
1º Situação de perigo
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Estamos aqui perante a necessidade e proporcionalidade da acção que significa o acto
deve ser proporcional a gravidade do perigo evitado. O que significa que se deve
verificar se com a acção se pretendia proteger um bem de valor superior ou no mínimo
equivalente ao bem jurídico sacrificado; se o agente decide evitar o perigo, não deve
existir outra solução mais apropriada para alcançar o resultado que a prática da
infracção.
23
O n° 2 do artigo 51 do CP estabelece que “o dever de cumprimento de ordens
superiores cessa quando estas conduzem a prática de um crime”.
Estamos perante ordens ilegais. Esta questão é particularmente complexa tanto do
ponto de vista teórico que prático.
Segundo Frederic Desportes5 existem três teorias:
1ª Teoria da obediência passiva que postula que o subordinado deve sempre obedecer
as ordens dos seus superiores, sem colocar questões sobre a sua eventual ilegalidade
e em contrapartida ele é sempre irresponsavel ao executar essas ordens,
independentemente da sua ilegalidade.
2ª Teoria das “baionnettes intelligentes” baionetes inteligentes, diferentemente das
primeiras, estas impõem ao subordinado o dever de assegurar-se da legalidade da
ordem antes de executá-la, esta teoria não admite a declaração de irresponsabilidade
do agente se a ordem cumprida for ilegal.
Segundo o autor as duas teorias apresentam alguns inconvenientes e em decorrência
são impraticáveis. A primeira é criticada pois autoriza os abusos mais graves e a
segunda porque, ao nível das Forças Armadas de Defesa e Segurança impossibilita
todo o comando verdadeiro/legal.
3ª A terceira teoria é mais pragmática e imparcial, esta propõe a distinção segundo o
carácter manifestamente ilegal ou não do acto cuja execução tenha sido ordenada.
Sendo a ordem um facto justificativo somente no segundo caso.
Para aferir se a ordem é manifestamente ilegal deve-se recorrer a dois critérios:
objectivo e subjectivo.
Critério objectivo deve atender a natureza jurídica do acto cuja execução tiver sido
ordenada; A natureza manifestamente ilegal do acto será naturalmente evidente se, no
caso em que a ordem consistir em atentar contra a vida ou a integridade física de
alguma pessoa. E, mais complexa se atentar contra o direito de propriedade (buscas e
apreensões) ou a direitos de personalidade (escutas telefónicas, apreensão de
correspondência), por que são autorizadas sob certas condições previstas na lei,
podem aparentar ser legais.
Critério subjectivo: a qualidade do executante deve igualmente ser tida em conta.
Verificando se se trata de um simples cidadão requerido pela autoridade, de um
funcionário ou de um militar, seu posicionamento hierárquico, seus conhecimentos
jurídicos, etc; darão lugar a respostas diferentes.
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A legitimidade da ordem depende da verificação de pressupostos que usualmente se
distinguem em pressupostos formais e substanciais.
Os pressupostos formais respeitam a legalidade exterior da ordem: a competência para
dar a ordem e a forma ou formalidades que deva revestir ou que a deva acompanha.
Frequentemente quanto a ordens ou instruções de maior importância ou oriundas de
autoridades de maior dignidade, como as judiciais, exige a lei a forma escrita.
Quando a lei não exija forma especial, a ordem pode ser dada verbalmente. Para
determinar as formalidades extrínsecas de uma ordem do superior hierárquico é
preciso atender a regulamentação dos serviços públicos em geral ou em especial.
É necessário aferir a competência material e territorial. A matéria relativamente a qual é
competente um funcionário pode constar de uma enumeração de atribuições materiais
precisas, tal sucede também para as competências de execução. Quanto a
competência territorial pode se limitar aos funcionários subordinados, e pode abranger
a todo o território quanto a alguns funcionários superiores.
Pressupostos substanciais são os que respeitam a legitimidade do conteúdo ou objecto
da própria ordem. Porem, entende-se geralmente que é inconveniente conceder aos
executores um poder de fiscalização da legitimidade da ordem que sem resolver os
conflitos, enfraqueceria a organização e funcionamento da actividade do Estado.
A lei considera que todo o excesso nos actos ou na forma de execução manifestado
pelo agente nao seja susceptível de excluir a justificação do facto [alínea d) do n°1 do
art.48].
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Está claro que o uso dos poderes coercivos contra pessoas e bens previstos no código
de processo penal e demais leis avulsas (nomeadamente a detenção, custódia policial,
buscas, apreensões) não devem constituir infracções criminais (tais como sequestros,
violação de domicílio, atentado a intimidade da vida privada, roubos). Todavia estes
actos devem ser realizados pelas autoridades públicas competentes.
Estas duas causas justificativas, autorização legal e a obediência devida à autoridade
hierárquica legítima apresentam laços estreitos porque verifica-se com frequência, que
a ordem da lei exige a ordem da autoridade hierárquica legítima. Por exemplo o polícia
que realiza uma captura fá-lo primeiro porque o CPP autoriza algumas restrições as
liberdades individuais, mas também porque eles obedecem a ordem do juiz de
instrução criminal (entidade competente para ordenar as prisões fora de flagrante
delito).
A lei considera-se que todo o excesso de zelo na execução da Ordem legal
manifestado pelo agente seja susceptível de excluir a justificação do facto.
A questão que se coloca é quando a ordem da lei tiver sido aplicada espontaneamente,
sem a intervenção da autoridade legítima, e quando os imperativos legais foram
excedidos pelo executante/agente ?
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