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G4 - Ilicitude
97. Introdução
O conceito de ilicitude material foi uma
conquista dos neoclássicos que
também analisaram quais eram as
consequências relevantes da distinção
entre ilicitude material e ilicitude
formal.
Nomeadamente a partir dum conceito
de ilicitude material permita-se uma
graduação do conceito de ilicitude, ao
mesmo tempo que permitia descobrir
novas causas de justificação e aderir à
chamada justificação supra legal.
Quanto ao conceito de ilicitude pessoal
e o contributo dado para esta categoria
pelos finalistas.
Uma acção é penalmente relevante,
essa acção pode ser subsumível aos
termos gerais e abstractos dum tipo
legal de crime.
Se a tipicidade objectiva e subjectiva
estiver preenchida, tem-se que o tipo
indicia a ilicitude.
A um facto típico está indiciado um
juízo de ilicitude, ilicitude formal, no
sentido de que aquilo que se fez é algo
que contraria a ordem jurídica na sua
globalidade, é algo que é contrário à lei.
Mas este juízo de ilicitude indiciado
pela tipicidade pode ser excluído, e é
excluído pela intervenção relevante das
chamadas causas de exclusão da
ilicitude ou causas de justificação.
Estas são causas, que visam excluir a
ilicitude do facto típico; visam dizer
que aquele facto, que é típico, é
aprovado pela ordem jurídica porque é
um facto que está justificado.
Mas um facto justificado[38], não deixa
por esse facto de ser um facto típico.
Portanto um facto justificado
permanece típico – tão só se exclui a
ilicitude.
Um facto, ainda que justificado, não
deixa de ser típico, porque os factos,
ainda que aprovados pela ordem
jurídica (factos cuja ilicitude esteja
excluída) não são valorativamente
neutros.
A própria função que o tipo deve
desempenhar inculca a que se faça uma
análise tripartida do facto punível, com
as categorias da tipicidade, de ilicitude
e da culpa. E isto porque o juízo que é
dado sobre a tipicidade de um facto que
acaba por ser justificado é um juízo que
não volta atrás: o tipo tem uma função
de apelo, desde logo pelos fins das
penas, visível em cada tipo legal de
crime, quer-se dizer com isto que o
legislador quando tipifica
comportamentos o faz com uma
determinada intenção.
Portanto, o tipo tem uma certa função
de apelo:
- No sentidonodeaplicativo
Siga-nos que as pessoas não
devem empreender essas condutas que
a lei considera proibidas;
- Ou no sentido de fazer com que as
pessoas adoptem determinadas
condutas que a lei exige.
Esta função de apelo inerente aos tipos
só se satisfaz se ainda que o facto esteja
justificado, o tipo permanecer intacto:
em princípio não se deve matar, no
entanto aprova-se que alguém mate
outrem em legítima defesa.
a) Legítima defesa
100. Introdução
A legítima defesa assenta precisamente
numa reacção a uma agressão actual e
ilícita que ameaça interesses
juridicamente protegidos do
defendente ou terceiro. Essa reacção
trem de ser uma reacção adequada,
necessária a afastar ou repelir a
agressão actual e ilícita.
Existe doutrinas que fundamentam a
existência da legítima defesa, como
causa de justificação: a doutrina
monista e a pluralista.
a) Doutrina monista
Para esta doutrina todas as causas de
justificação se filiam numa ideia
comum; a noção de ideia comum é que
varia de autor para autor.
Poder-se-á dizer que inerente a todas
as causas de justificação existe uma
ideia de ponderação de interesses: do
interesse a salvaguardar do interesse
ameaçado. Portanto, uma ideia de
ponderação de interesses.
b) Doutrina pluralista
Há quem considere diferenciadamente,
para cada uma das diferentes causas de
justificação, diferentes fundamentos.
b) Direito de necessidade
108. Fundamentos
Esta causa de justificação vem prevista
no art. 34º CP funcionando
relevantemente, afastar a ilicitude do
facto punível.
Quanto ao seu fundamento, assenta já
numa ideia de ponderação de
interesses entre o bem jurídico ou
interesse ameaçado por um perigo e o
bem jurídico ou interesse que se
sacrifica para afastar esse perigo.
Note-se que o interesse ou bem jurídico
cujo perigo se afasta tem de ser
superior ao interesse sacrificado.
O estado de necessidade ora reveste a
natureza de um verdadeiro direito de
necessidade, e então é uma causa de
exclusão da ilicitude, ora tem a
natureza de causa de exclusão de culpa.
O Código Civil clarificou de algum
modo a questão, admitindo no seu art.
339º CC um verdadeiro direito de
necessidade, por consagrar ser lícita a
acção daquele que destruir ou danificar
coisa alheia com o fim de remover o
perigo actual de um dano
manifestamente superior, quer do
agente quer de terceiro.
Mas por esta via continuaram sem
solução os casos de identidade de
valoração de bens jurídicos e aqueles
em o sacrificado tem maior valoração
que não cabiam nem cabem
manifestamente no direito de
necessidade.
Por isso, a partir da vigência do Código
Civil cimentou-se a teoria diferenciada
do estado de necessidade, segundo a
qual esse estado abrange casos de
exclusão da ilicitude (havendo então
um verdadeiro direito de necessidade)
e de exclusão de culpa.
Nessa linha de orientação se integrou
também o Código Penal ao estabelecer
no art. 34º casos de direito de
necessidade e no art. 35º de estado de
necessidade desculpante.
O direito de necessidade torna a
conduta lícita, dai a imposição feita no
art. 34º-b CP quanto à superioridade
do bem ou interesse jurídico a
salvaguardar. Daí também que o art.
34º CP tenha que se conjugado com o
art. 35º CP, particularmente com o seu
n.º 1, e que uma vida nunca possa ser
sacrificado no exercício de um direito
de necessidade, já que, sendo o bem
jurídico de maior valoração, nunca
qualquer outro lhe pode ser superior.
Segundo a jurisprudência:
- O estado de necessidade surge
quando o agente é colocado perante a
alternativa de ter de escolher entre
cometer o crime ou deixar que, como
consequência necessária de o não
cometer, ocorra outro mal maior ou
pelo menos igual ao do crime. Depende
ainda da verificação de outros
requisitos, como a falta de outro meio
menos prejudicial do que o facto
praticado e probabilidade de eficácia
do meio empregado.
115. Consentimento
O consentimento do ofendido está
previsto, como causa de exclusão da
ilicitude no art. 38º CP. Importa
distinguir:
- Por vezes, o consentimento é uma
causa de exclusão da ilicitude;
- Noutros casos, o consentimento já
não faz parte da ilicitude, não íntegra
uma causa de justificação, mas é um
elemento do tipo ou da tipicidade,
podendo ser um elemento positivo ou
um elemento negativo do tipo.
Existem determinados tipos legais que
só estão preenchidos por exemplo sem
o consentimento do agente, neste caso
o consentimento não é uma causa de
exclusão da ilicitude, mas um elemento
negativo do tipo, tem que se verificar a
ausência do consentimento para que a
tipicidade esteja preenchida.
Noutras vezes o consentimento é
também um elemento do tipo, mas um
elemento positivo, nestes casos, para
que o tipo esteja preenchido é
necessário que a vítima de alguma
forma dê um certo consentimento à
conduta desenvolvida pelo agente.
Quando o consentimento é um
elemento do tipo e ele não está
presente, o tipo está logo afastado; já
não se vai ver se o comportamento do
agente é ilícito ou não.
Quando o consentimento não for um
elemento do tipo, mas uma causa de
justificação, então é que se tem de
verificar se o comportamento típico do
agente está ou não justificado pelo art.
38º CP.
Desde logo são de referir as
características da pessoa que dá o
consentimento, não é qualquer pessoa
que pode validamente prestar o
consentimento: a lei indica desde logo
no art. 38º/3 CP: só maiores de
quatorze anos podem, validamente
consentir.
Por outro lado, tem de ser um
consentimento actual (art. 38º/2 CP).
E só se admite o consentimento para
justificar lesões a bens jurídicos que
sejam livremente disponíveis pelo seu
titular.
A integridade corporal é um bem
jurídico que pode ser de alguma forma
disponível. Portanto, há que adequar
um pouco a motivação que leva ao
consentimento da lesão e também a
relevância em termos de
reversibilidade ou irreversibilidade da
lesão.
Quanto ao elemento subjectivo desta
causa de justificação, é ele o
conhecimento do consentimento. No
art. 38º/4 CP prevê-se a punibilidade
para o agente que actua perante uma
situação objectiva de justificação, mas
com a falta do elemento subjectivo da
causa de justificação, ou seja, no art.
38º/4 CP prevê-se a punibilidade por
facto tentado para quem lesar um bem
jurídico livremente disponível pelo seu
titular, desconhecendo que o seu titular
consentia a lesão.
Consentimento presumido: vem
previsto no art. 39º CP; neste há uma
situação em que se permite a lesão de
determinados bens jurídicos, tendo em
conta que se o titular desses bens
tivesses conhecimento das
circunstâncias em que a lesão ocorre,
teria consentido essa mesma lesão.